LEQUE FLUVIAL DO RIO TABOCO NA BORDA SUDESTE DA BACIA DO PANTANAL (MS) Edna Maria Facincani1 [email protected] Edson Pereira de Souza2 Universidade Federal de Mato Grosso do Sul [email protected] RESUMO: Objetivou-se a caracterização da geomorfologia e geologia do Quaternário do leque do Taboco, com ênfase nos processos que atuaram na origem e evolução deste trato de sistemas deposicionais de origem fluvial, desde o final do Pleistoceno até o Holoceno. Procurou-se estabelecer um quadro mais detalhado da evolução paleogeográfica e paleoidrológica da depressão do Taboco-Negro, que possibilitou a reconstrução da história evolutiva quaternária da área. Para esta pesquisa diversos conceitos relativos a Geomorfologia e Geologia (origem e evolução da paisagem no Quaternário), foram empregados. Para atingir o objetivo proposto, foram utilizadas as cartas SF 21-X-A e SE 21-Z-C na escala de 1:250.000, mapa geológico do Brasil de 1:5.000.000, fotografias aéreas na escala 1:60.000, USAF, 1965, 1966 e 1969, imagem mosaico NASA GeoCover Landsat TM, 1987/1993, composição 7R4G2B além das aferições in loco, realizou-se um sobrevôo na área, buscando uma visão geral do leque, procurando identificar as feições geomorfológicas e geológicas. O rio Taboco no planalto, em seu curso superior para oeste, é um rio encaixado na sua planície fluvial, formando um grande anfiteatro de erosão, circundado por terras altas sustentada por rochas paleozóicas e pré-cambrianas do Grupo Cuiabá. Na planície é iniciado o desconfinamento do canal, predominando sistema do tipo distributário. A jusante da fazenda Taboco, o rio é fracamente encaixado e formam terraços marginais em torno de 1,0m, contornada por superfície constituída de lagoas e cortadas por vazantes orientadas, sentido NNW-SSE. Assim, o rio Taboco corre no sentido inverso da inclinação de camadas paleozóicas da Bacia do Paraná e desenvolve na bacia de drenagem um grande anfiteatro de erosão no Planalto de Maracaju-Campo Grande. Os sedimentos erodidos no planalto são transportados para a planície da borda sudeste do Pantanal Matogrossense, aonde o rio Taboco vem construindo um grande leque fluvial holocênico. Palavras-chave: Geomorfologia, Leque fluvial e Rio Taboco. ABSTRACT: The objective is to characterize the geomorphology and Quaternary geology of the range of Taboco river, with emphasis on the processes that acted on the origin and development of this tract of depositional systems from rivers, from the end of the Pleistocene to the Holocene. We sought to establish a more detailed paleogeográfica the development of depression and paleoidrológica of Taboco-Black, which allowed the reconstruction of the Quaternary evolutionary history of the area. For this study various concepts of the Geology and Geomorphology (origin and evolution of the landscape in the Quaternary), were employed. To achieve the proposed objective, we used the letters SF 21-X and SE 21-ZC on the scale of 1:250.000, geological map of Brazil to 1:5.000.000, aerial photographs in scale 1:60.000, USAF, 1965, 1966 and 1969, Landsat image mosaic GeoCover NASA TM, 1987/1993, composition 7R4G2B than the measurements in situ, there was an overflight in 1 Professora Pós-Doutora do Departamento de Geociências do Campus de Aquidauana. Acadêmico do 4º ano do curso de Geografia-Bacharelado pelo Campus de Aquidauana e Bolsista de Iniciação Cientifica – PIBIC/CNPQ – 2008-2009. 2 the area, looking for an overview of the range, trying to identify the geomorphological and geological features. Taboco river on plateau in their university to the west, a river is embedded in its floodplain river, forming a vast amphitheater of erosion, land surrounded by high and sustained by pre-Paleozoic rocks of the Cambrian Group Cuiabá. In plain starts desconfinamento of the channel, mainly distributary system of the type. Downstream of Taboco farm, the river is weakly embedded and marginal terraces formed around 1.0 m, bypassed the area consists of lakes and cut by vazantes oriented, NNW-SSE direction. Thus, the Taboco river runs in the opposite direction of the inclination of layers of the Paleozoic Paraná Basin and the drainage basin is in a great amphitheater of erosion on the Plateau of Maracaju-Campo Grande. The eroded sediments are transported on the plateau to the plains of southeastern edge of the Pantanal Matogrossense, where the Taboco river is building a wide range holocenic river. Keywords: Geomorphology, Fluvial fan and Taboco river. 1 INTRODUÇÃO O Pantanal sul-mato-grossense é uma área mundialmente conhecida como um importante ecossistema, rico pela sua complexa biodiversidade, onde a ocupação humana é ainda de baixa densidade e as atividades econômicas são pecuária e turismo. O pantanal é uma bacia sedimentar tectonicamente ativa, caracterizada por uma dinâmica sedimentar que produz mudanças constantes na paisagem. Muitas das feições morfológicas existentes são formas reliquiares de uma evolução paleogeográfica condicionada por mudanças climáticas e tectônicas que vêm ocorrendo desde o final do Pleistoceno (ASSINE, 2003). A palavra “pantanal” é derivada da palavra pântano, mas não é um grande pântano, na verdade é uma planície alagável – wetland – que experimenta extensa e prolongada inundação sazonal (ASSINE, 2003, p. 06), que se estende de janeiro a junho, mas com pontos de inundação máxima em meses distintos em diferentes compartimentos geográficos da planície pantaneira. A Bacia do Pantanal é a maior bacia sedimentar interior ativa do Brasil entre os paralelos 15º e 20º S e os meridianos 55º e 59º W. Localizada no oeste do Brasil, com maior área nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, mas adentrando terras do Paraguai e da Bolívia. Corresponde a uma bacia sedimentar quaternária embutida em uma grande feição geomorfológica denominada Bacia do Alto Paraguai (BAP). O preenchimento sedimentar vem sendo realizado por um trato de sistemas aluviais, sendo o rio Paraguai a drenagem principal, coletora das águas de diversos leques aluviais (ASSINE, 2003). Os depósitos aluviais constituem um dos mais importantes componentes do registro geológico e permite a caracterização dos processos hidrodinâmicos e de compreensão da evolução sedimentar e geomorfológica, bem como a reconstrução da evolução tectonosedimentar de uma bacia. A construção dos leques fluviais se processa através de um canal principal e de numerosos canais distributários. A evolução quaternária dos sistemas deposicionais do Pantanal é ainda muito pouco compreendida, principalmente no que se referem à sua borda sul e sudeste (FACINCANI, 2007). Neste trabalho foi utilizada a terminologia leque fluvial ao invés de leque aluvial, justificada pela predominância de processos associados aos canais fluviais, na origem e evolução dos leques nesta bacia sedimentar. Este estudo visou estabelecer um quadro mais detalhado da evolução paleogeográfica e paleoidrológica da depressão do Aquidauana-Miranda, na porção sudeste da Bacia do Pantanal de Mato Grosso do Sul, entre as coordenadas 19°30’ e 22°35’S e 57°00’ e 55º00’ W (Figura 1). Destaque foi dado ao leque do Taboco, e a reconstrução da história evolutiva quaternária da área, uma vez que os modelos deposicionais para leques fluviais de climas úmidos ainda são incipientes na literatura, enfatizando os eventos e processos que atuaram na configuração da paisagem, do final do Pleistoceno até o presente, e na compartimentação atual do rio. Figura 1: Mapa da Bacia do Alto Paraguai – BAP. A área estudada está indicada pelo retângulo vermelho. 1.1 Leques Aluviais De acordo com Zani (2008) o termo “leque aluvial” surgiu na literatura geológica no final do séc. XIX, quando Drew (1873, apud Blair & McPherson, 1994a) identificou depósitos coalescentes de sedimentos clásticos na porção superior da Bacia do rio Indo, com pequena extensão (~1km2), alto gradiente topográfico e predominância de granulação grossa. Quando vistos em planta, tais depósitos possuem geometria semi-cônica, semelhante a um leque (Figura 2). A sistematização do conceito ocorreu a partir de trabalhos efetuados no Vale da Morte na Califórnia. Na planície do vale, no sopé das escarpas dos planaltos circundantes, depósitos em forma de leque constituem as feições geomórficas mais recentes da paisagem. Diversos pesquisadores (e.g. BULL, 1963; DENNY, 1967; BULL, 1977) descreveram detalhadamente as fácies sedimentares, relações entre a área de captação de drenagem com a superfície do leque, assim como os processos envolvidos na sua dinâmica sedimentar dos leques aluviais do Vale da Morte (ZANI, 2008). Para Zani (2008) na busca de uma classificação que abrigasse os diferentes tipos de leques observados, Galloway & Hobday (1983) propuseram a distinção entre leques de clima árido/semi-árido e leques de clima úmido (Figura 3). Consideraram que o clima é fator determinante, caracterizando-se os leques de clima árido/semi-árido por progradação sedimentar restrita e pequena extensão superficial. Figura 2: Depósito em forma de leque aluvial nas margens do rio Indo – Índia (Google Earth, 2008). Figura 3: Classificação de leques aluviais conforme o clima. (ZANI, 2008 apud Galloway & Hobday, 1983). 1.2 Leques Fluviais Zani (2008 apud ASSINE, 2003) diz que muitos dos leques dominados por rios constituem megaleques fluviais. Distinguem-se por serem dominados quase que exclusivamente por processos fluviais, terem alto suprimento sedimentar e apresentam extensões superficiais que superam 1000km2 (HORTON & DECELLES, 2001). Sua dinâmica deposicional é controlada por um sistema fluvial de grande mobilidade lateral, sendo os e depósitos de fluxo de gravidade restritos ao sopé das escarpas (DECELLES & CAVAZZA, 1999). O gradiente topográfico é baixo, oscilando entre 0.1º e 0.01º (LEIER et al., 2005). 2 MATERIAIS E MÉTODOS No desenvolvimento desta pesquisa diversos conceitos, métodos, técnicas e procedimentos de caráter multidisciplinar, sobretudo relativos à Geomorfologia e Geologia (origem e evolução da paisagem no Quaternário), foram empregados. Para atingir os objetivos propostos, foram utilizados os seguintes meios, procedimentos metodológicos e forma de interpretação de dados: Leitura e análise de trabalhos pertinentes ao tema, apresentados em forma de livros, artigos, dissertações, teses, relatórios e materiais cartográficos; Projeto RADAMBRASIL- Cartas SF 21-X-A e SE 21-Z-C. Ministério da Minas e Energia – Departamento Nacional de Produção Nacional. 1:250.000. 1976; Cartas temáticas do Plano de Conservação da Bacia do Alto Paraguai -PCBAP, Escala 1:500.000 (MMA-SEMADES/MS). 1997; Mapas Temáticos do Projeto RADAMBRASIL, Escala 1.1000.000. 1982; Mapa integrado do Projeto Bodoquena, Escala 1.500.000. 1979; Mapas Temáticos do Atlas Multirreferencial do Mato Grosso do Sul (MS), Escala 1:500.000 (SEPLAN, 1989); Mapa Geológico do Brasil. 1: 5.000.000. CPRM. 2001Carta Geológica do Brasil ao Milionésimo, Folhas Corumbá-SE.21 e Campo Grande SF.21, CPRM, escala 1:1.000.000. 2004; CPRM – Geologia e recursos naturais do Estado de Mato Grosso do Sul. Escala 1:1.000.000, 2006; Fotografias aéreas na escala 1: 60.000, USAF, 1965,1966 e 1969; Imagem Mosaico NASA GeoCover Landsat TM, 1987/1993, composição 7R4G2B). Os mapas e cartas serviram como base para a elaboração dos seguintes mapas: geológico, geomorfológico e compartimentação geomorfológica (anomalias de relevo e drenagem). Foi utilizado processamento digital de imagens orbitais e operações de geoprocessamento, visando a compartimentação das formas de relevo e drenagem e confecção do Modelo Digital de Terreno (MDT), na área estudada. O mapa geomorfológico foi elaborado com base na interpretação de imagens de satélite foram dados destaque a drenagem atual, paleocanais e diques marginais presentes no leque do Taboco. As interpretações geomorfológicas e geológicas foram baseadas nos métodos e técnicas na extração de informações da rede de drenagem e relevo, conforme preceituam os autores que se seguem: Denny (1967), Miall, (1985, 1987, 1996), Rachocki (1981) e Assine (2003). A elaboração do mapa geológico da área foi realizada em duas etapas: 1) compilação dos mapas preexistentes como os levantamentos geológicos em escala regional, destacando-se os do projeto RADAMBRASIL em escala 1.1000.000. (1982), Bodoquena, escala 1:500.000 (1979) e CPRM (2006); 2) atividades de foto-interpretação e campanhas de campo nos meses de julho a novembro de 2006, durante as quais foram descritos afloramentos e coletadas amostras de sedimentos. Como a topografia é plana, sem exposições em grande parte da área, descrições ao longo dos terraços marginais e barras ao longo do rio Taboco. Para discriminar diferentes compartimentos na planície fluvial do rio Taboco foram cartografadas e delineadas as planícies fluviais, buscando-se verificar a presença de terraços marginais mais antigos sendo o elemento fundamental para a reconstituição de eventos de erosão e agradação fluvial ao longo do tempo geológico, além de critérios de relevo para discriminar segmentos onde a planície é confinada ou não, destacando a presença de formas deposicionais (canais ativos, barras em pontal, depósitos de diques marginais, paleocanais, e lagoa em meandros) e a identificação de pontos de perda de água por rompimento dos diques marginais e extravasamento. A tentativa de individualização de diferentes lobos dentro do leque do Taboco e a definição de sua cronologia relativa foram feitas através de critérios geomorfológicos, utilizando para tal finalidade as imagens de sensores remotos (Imagem Mosaico NASA GeoCover Landsat TM, 1987/1993, composição 7R4G2B) e fotos aéreas da área. Os lobos antigos foram caracterizados a partir da identificação de diferentes padrões e da disposição espacial das paleodrenagens (atuais e relictos). 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1 Leque do Taboco O leque fluvial do Taboco limita-se a norte pelo megaleque do Taquari e noroeste pelo leque do Aquidauana, sendo separado a norte pela planície fluvial do rio Negro (Figura 4). Na sua porção leste é bordejado pela Serra de Maracaju-Campo Grande (circundado por escarpa de erosão e por blocos soerguidos), separados por uma faixa de 4km de direção NNE-SSW, de pequenos Leques Dominado por Fluxo Gravitacional (LDFG) (FACINCANI, 2007). Figura 4: Modelo digital de terreno (MDT), destaque para o leque fluvial do Taboco, a leste a presença da Serra de Maracaju-Campo Grande, caracterizada pela sua retilineidade, segundo NE-SW, e a norte e oeste pelos leques do Taquari e Aquidauana (FACINCANI, 2007). O leque fluvial do Taboco está embutido na depressão do Taboco-Negro, pertencente a Bacia do Alto Paraguai (BAP). Apresenta geometria triangular no seu ápice a SE e espraiamento para NNW (Figuras 5 e 6). O planalto é constituído de rochas metamórficas do Grupo Cuiabá na sua porção basal e por rochas sedimentares da Bacia do Paraná. Após a fazenda Taboco há uma diminuição drástica no gradiente topográfico compondo com a planície fluvial do Taboco uma paisagem dominada por sistema fluvio-lacustre, sazonalmente inundável e de canais e paleocanais distributários, típica da depressão Taboco-Negro e as altitudes do leque variam entre 140m no seu ápice até 105m na sua base (Figura 7). O rio Taboco possui sua nascente na Serra de Maracaju-Campo Grande em torno de 700m de altitude, fluindo de leste para oeste, o rio percorre uma extensão de 250km até sua confluência com o rio Negro. A bacia de drenagem do Taboco esta entalhada em rochas précambrianas do Grupo Cuiabá e intrusivas pelo Granito Taboco e paleozóicas da bacia sedimentar do Paraná, percorrendo nesse compartimento 150km Figura 5: Modelo digital de Terreno do leque do Taboco. Os Leques Dominados por Fluxos Gravitacionais (LDFG), ocorrem como rampas no sopé das escarpas dos planaltos situados a leste (Planalto de Maracaju-Campo Grande) (FACINCANI, 2007). Figura 6: Leque do Taboco (Mosaico NASA GeoCover Landsat TM, 1987/1993, composição 7R4G2B) (FACINCANI, 2007). Figura 7: Mapa geomorfológico do Leque do Taboco. O Taboco no planalto em seu curso para oeste é um rio que vem construindo uma planície fluvial de agradação, predominantemente meandrante embutida em depósitos fluviais, possuindo uma extensão de 120km. Destacam-se unidades morfológicas como diques e terraços marginais e barras arenosas com presença de estruturas sedimentares (Figuras 8, 9, 10, 11, 12 e 13). Em Cipolândia é notável a largura da planície do Taboco com 833m, sendo que a média é 100m na bacia de drenagem. Figura 8: Bacia de drenagem do rio Taboco e a formação do anfiteatro de erosão. Figura 9: Rio Taboco próximo à sua entrada no Pantanal, ainda no planalto, nota-se a presença da planície fluvial encaixada e o desenvolvimento de canal anastomosado, a montante da fazenda Taboco; circundado por terras altas constituídas por rochas précambrianas do Grupo Cuiabá. A linha verde delimita a planície fluvial do rio Taboco. Fonte: foto aérea, 1965. Figura 10: Planície fluvial na bacia de drenagem no rio Taboco. Distrito de Cipolândia,. (UTM7773859/0667315). Figura 11: Rio Taboco a montante do distrito de Cipolândia, o canal apresenta-se caudaloso e largo. Nota-se a presença de terraço marginal e a planície fluvial ao fundo. Local: Ponte de Madeira (UTM: 7787210/ 672882). Janeiro de 2007. Figura 12: Planície fluvial do rio Taboco posicionado a norte do distrito de Cipolândia. Local: Ponte de Madeira (UTM-21K 0672882/ 7787210). Janeiro de 2007. Figura 13: Meandro abandonado na planície do rio Taboco. Local: Ponte de Madeira (UTM-21K 0672882/ 7787210). Janeiro de 2007. Próximo à sua entrada no Pantanal, ainda no planalto, o rio Taboco, em seu curso para oeste, é um rio encaixado na sua planície fluvial. A montante da fazenda Taboco é iniciada o desconfinamento e a planície é alargada, predomina neste setor o sistema anastomosado, circundado por terras altas sustentada por rochas do pré-cambriano do Grupo Cuiabá. Os Leques Dominados por Fluxos Gravitacionais (LDFG), ocorrem como rampas no sopé da escarpa do planalto de Maracaju-Campo Grande, situados à leste com largura em torno de 4km, formados pela interação de processos gravitacionais e fluviais (Figura 14). A vazante Alegria esta situada a leste do leque do Taboco e separa os vários leques de diferentes tamanhos, dominados por fluxos gravitacionais (LDFG). que ocorrem como rampas no sopé da escarpa. Figura 14: Leques Dominados por Fluxos Gravitacionais (LDFG):A) matriz arenoargilosa, com fragmentos de quartzo, filito e canga laterítica esparsos, subangulosos a subarredondados, sem estrutura sedimentar; B) Conglomerados mal selecionados sustentados pela matriz, constituído por seixos de quartzo, filitos e fragmentos de canga laterítica de tamanhos variados, subangulosos a subarredondados, praticamente sem ordenação preferencial produzidos por fluxos de detritos e C) Grupo Cuiabá subjacente, constituído por filito e veios de quartzo. Local: Estrada BR 419. Afloramento 127 (UTM7753115/630636). 3.2. Lobo distributário atual O rio Taboco adentra na depressão Taboco-Negro e desenvolve uma planície de canais distributários (próximo à sede da fazenda Taboco (Figura 15). Após 5km a jusante da fazenda Taboco, o rio é fracamente encaixado e formam terraços marginais em torno de 1,0m (trecho entre as fazendas Taboco jusante e Iguaçu), contornada por superfície constituída por um sistema flúvio-lacustre e cortadas por vazantes orientadas, segundo NNW-SSE. A paisagem é caracterizada pela existência de centenas de pequenas lagoas em meio á trama de paleocanais distributários. As lagoas são facilmente reconhecidas nas imagens de satélites e fotos aéreas, possuindo formas as mais diversas (circulares, elípticas, piriformes, crescentiformes e irregulares (Figura 16). Figura 15: O compartimento II é marcado a partir da Fazenda Taboco, neste ponto o canal adquire padrão distributário, perdendo água para a planície (lobo distributário proximal holocênico do Taboco). Foto aérea 1965. Figura 16: Leque distributário do Taboco, região a jusante da fazenda Taboco, com a típica paisagem de lagoas e paleocanais superimpostos. A seta da direita indica a planície e da esquerda indica segmentos onde rio Taboco perde água para a planície e extravasamento . Fonte: Foto aérea 1965. Vazantes expressivas como Mangabal e Alegria entalham em sedimentos do leque, com padrão do tipo distributário e drenam suas águas para o rio Negro. O rio Taboco desenvolve no leque atual padrão de drenagem do tipo distributária, marcado por complexo de paleocanais, ponto de extravasamento, crevasses splays e diques marginais (Figuras 17 e 18). Na foz do rio Taboco na porção oeste estão sendo expostos paleocanais distributários do leque do Aquidauana, o próprio rio Taboco na sua foz utiliza-se desses paleocanais para desaguar no Negro. Figura 17: Padrão de drenagem distributária presença de paleocanais e crevasse splays, porção distal do lobo do Taboco. Fonte: Foto aérea 1965. Figura 18: Rio Taboco perde água para a planície. A seta da esquerda indica o ponto de extravasamento e a seta da direita o fluxo principal do canal. Local: Montante da fazenda Iguaçu (1km). Janeiro de 2007. 3.3. Geomorfologia fluvial do leque do rio Taboco O rio Taboco corre no sentido inverso da inclinação de camadas paleozóicas da Bacia do Paraná e desenvolve na bacia de drenagem um grande anfiteatro de erosão no Planalto de Maracaju-Campo Grande. Os sedimentos erodidos no planalto são transportados para a planície da borda sul do Pantanal Matogrossense (depressão do Taboco-Negro), onde o rio Taboco vem construindo um grande leque fluvial holocênico. O curso do rio Taboco foi compartimentado de montante para jusante de uma divisão geomorfológica de segmentos tripartite, com características geomorfológicas distintas e de processos fluviais atuantes diferentes, denominados I a III de leste para oeste (Figura 19). Figura 19: Compartimentação geomorfológica do rio Taboco: I a III (Mosaico NASA GeoCover Landsat TM, 1987/1993, composição 7R4G2B). O compartimento I faz parte integrante da bacia de drenagem do rio Taboco, possui extensão de 150km, é caracterizado pela presença de uma planície fluvial meandrante, situada no planalto, de largura média 100m; porém segmentos, como nas adjacências do distrito de Cipolândia a planície pode atingir até 800m de largura e índice de sinuosidade 1,5. Tanto a planície como o canal encontram-se condicionados por estruturas rúpteis de direções preferenciais NE-SW e NW-SE e E-W, são desenvolvidos cotovelos, marcados por mudanças abruptas de direção do canal. Ao adentrar na planície na depressão Taboco-Negro, o rio Taboco continua a meandrar, com índices de sinuosidade menos expressivas, numa planície com cerca de 30m de largura e marcada por trechos descontínuos possuindo extensão de 30km fracamente encaixados e perde água para a planície. Na jusante da fazenda Taboco são desenvolvidas complexo de paleocanais e crevasse splays, na porção lobo distributário atual. Neste trecho o rio Taboco é circundado por campo de lagoas e vazantes. Este segmento termina nas adjacências da sede da Fazenda Iguaçu é classificado como pertencente ao compartimento II (Figura 20). A partir da fazenda Iguaçu o rio adentra no “Brejão do Taboco”, predominam canais e paleocanais do tipo distributários, a sinuosidade do rio diminui e presença de poucos diques marginais, constituindo o III e último compartimento reconhecido possuindo extensão de 70km. A planície nesta área permanece quase que permanentemente inundada devido à perda de água para a planície. O rio Taboco na sua confluência no Negro aproveita paleocanais e entalha seu canal em sedimentos antigos do leque do Aquidauana. A porção leste do leque do Aquidauana está atualmente sendo sobreposta por canais distributários mais jovens do leque do Taboco, que truncam os paleocanais do leque do Aquidauana. Os sedimentos antigos do leque do Aquidauana estão expostos e sulcados pelo rio Taboco na sua foz. A existência dessa complexa rede de canais e paleocanais distributários e lagoas, região freqüentemente inundada, composta pelos compartimentos I a, III, sugerem, que esta área pode ser considerada um notável lobo distributário ativo de sedimentação holocênica, denominado leque do Taboco. Assim, o Rio Taboco atravessa dois domínios geológicos e geomorfológicos distintos, a bacia de drenagem é entalhada em rochas pré-cambrianas e fanerozóicas (planalto) e a depressão pantaneira (planície). No Planalto os rios Aquidauana e Taboco formam dois grandes anfiteatros de erosão, entalhando o Planalto de MaracajuCampo Grande. Os sedimentos erodidos no planalto são transportados para a planície e depositados. Figura 20: Rio Taboco trecho de arrombamento de dique marginal no compartimento II, canal principal perde água para a planície. Local: 3km a montante da fazenda Iguaçu. Janeiro de 2007. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A superfície do leque fluvial do Taboco é caracterizada pela presença de lagoas e de inúmeros paleocanais distributários, provavelmente de idade pleistocênica. Sedimentação atual ocorre principalmente no lobo distributário atual (holocênico) na parte distal do leque. Em função de diferenças morfológicas, a planície atual do rio foi compartimentada em três zonas com características distintas. Na parte superior do leque, o rio Taboco corre entre lagoas entre as fazendas Taboco e Iguaçu, numa planície de meandros embutida em um vale pouco entrincheirado. Para montante, em direção à bacia de drenagem no Planalto de Maracaju-Campo Grande, a planície se alarga e o rio passa a ter caráter deposicional. Os processos autogênicos e alogênicos promovem mudanças no nível de base, que por sua vez, altera gradientes hidráulicos, promovendo mudanças nos sítios onde ocorrem processos de erosão, transporte e sedimentação. Os sedimentos erodidos nos planaltos são transportados para a planície aonde o rio Taboco vem construindo um leque dominado por rios situado na depressão Taboco-Negro. As principais feições geomorfológicas de relevo e drenagem da planície fluvial do rio Taboco são marcadas pelos paleocanais e canais atuais, diques marginais, crevasses splays e terraços marginais. Em termos metodológicos, destaca-se que, para estudar áreas de sedimentação atual, como os leques fluviais do Pantanal Mato-Grossense, é fundamental a utilização de imagens de satélite na compartimentação geomorfológica, bem como na identificação dos principais elementos da paisagem. REFERÊNCIAS Assine, M. L. Sedimentação na bacia do pantanal mato-grossense, centro oeste do Brasil. Rio Claro, SP. Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Tese de Livre Docência, Rio Claro, 2003, p.105. Assine, M. L. A bacia sedimentar do Pantanal Mato-Grossense. 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