A PERIFERIAÇÃO NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE: NARRATIVAS SOBRE A FORMAÇÃO DO BAIRRO ESTRELA D’ALVA MARCO ANTÔNIO COUTO MARINHO Pesquisador da Rede Observatório das Metrópoles, Graduação em Geografia, Mestre e Doutor em Ciências Sociais, Email: [email protected] Resumo O presente trabalho resulta de etnografia realizada no bairro Estrela D’alva ao longo dos anos de 2012 a 2014, é excerto de minha tese de doutorado em Ciências Sociais a partir da qual busquei narrativas sobre o processo de ocupação da referida área. O objetivo foi de levantar junto aos moradores pioneiros da referida área, com quem tive oportunidade de realizar entrevistas, aspectos marcantes da vida no lugar desde o período de sua ocupação inicial. O período no qual o Estrela D’alva foi ocupado data do final da década de 1970 até o início da década de 1990, segundo os entrevistados, período de consolidação demográfica e urbana das principais regiões metropolitanas brasileiras. O bairro fica situado no município de Contagem, próximo à entrada do Portão 2 do Jardim Zoológico, região da Pampulha. O Estrela D’alva como muitas outras classificáveis como periferia no contexto da região metropolitana de Belo Horizonte- RMBH, foi habitada antes de haver instalada a infraestrutura e os serviços urbanos básicos tais como, por exemplo, os destinados à saúde pública e à educação escolar de crianças e adolescentes. A respeito do processo de urbanização do espaço, ele consolidou-se somente nos anos 2000. Por quase três décadas, desde o início do adensamento demográfico decorrente da metropolização, o bairro permaneceu sem estrutura urbana consolidada. A morosidade na construção do asfaltamento e dos sistemas de esgotamento e de escoamento de água, associado ao fato dos loteamentos terem sido feitos de forma clandestina sem planejamento urbanístico, geraram problemas graves para os habitantes locais. Dentre estes problemas destacam-se o da ausência de titularidade do imóvel e a erosão do solo que deu origem a uma cratera popularmente conhecida como “buracão”. Esta última, uma enorme voçoroca que se formou no terreno ao decorrer da década de 1990, foi responsável por tragédias como o soterramento de casas e a morte de pessoas. As narrativas indicaram que a urbanização não se estabeleceu como um direito, tal como prescrito na oitava e última Constituição Federal do país, a de 1988, e sim resultado de disputas de cunho político-eleitoral, ou seja, por práticas de clientelismo em torno da troca dos votos. De um modo geral, a literatura produzida sobre a expansão metropolitana de Belo Horizonte defendeu que a periferização implicou em constrangimentos sociais de várias ordens que aprofundou e reconfigurou a desigualdade social brasileira a partir da segregação dos grupos no espaço urbano. Essa reconfiguração pode ser notada no modo como a paisagem urbana da periferia se consolidou, a partir de processos de autoconstrução e políticas urbanas vinculadas às disputas eleitorais. Na RMBH as periferias foram e ainda são os espaços onde os conflitos sociais emergiram com mais força na virada do século XXI, onde os homicídios contra crianças, adolescentes e jovens atingiram taxas mais elevadas neste período. A história social do bairro Estrela D’alva constitui um narrativa privilegiada sobre o processo de periferização da RMBH. As periferias são espaços sociais em constante processo de transformação, espaços relativamente heterogêneos, onde a presença de populações em situação de pobreza se mescla com a presença de grupos sociais em situação distinta, que convivem como vizinhos em um mesmo ambiente social. Não se trata aqui de querer mitificar a origem das periferias no contexto metropolitano, e sim de lançar luz sobre conceitos como o de periferização tão utilizado para o entendimento da expansão metropolitana brasileira. Por fim, a etnografia apresentou a periferia como um espaço de crise permanente, e que ao longo do tempo tais crises agravaram-se. Se, na década de 1980 e 1990 os problemas de ausência de infraestrutura e serviços urbanos básicos caracterizavam-se como os principais problemas do lugar, na primeira década de 2000 eram a violência e a criminalidade instalada no território local. Palavras Chave: Etnografia, Periferização; Metropolização; Desigualdade; Segregação.