Cancro - uma patologia tão antiga quanto o homem.

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Cancro - uma patologia
tão antiga quanto o homem.
PAULA S. BRANCO
Resumo
uma visão geral sobre o cancro, sendo apresentada e dis-
0 desenvolvimento de um tumor é um processo em vá-
cutida um selecção de dados estatísticos sobre as cau-
rias etapas, que ainda não está suficientemente com-
sas,principalmente ambientais, que estão na origem da
preendido para permitir o desenvolvimento de tratamentos que possam aumentar significativamente a
esperança de cura. Sabe-se hoje que o passo inicial no
desenvolvimento da doença é uma lesão que ocorre no
doença. São também apresentados dois outros artigos
mais específicos, o primeiro sobre o poder cancerígeno
das aminas aromáticas, em relação às quais há uma sig-
ADN, podendo por isso afirmar-se que qualquer agente
nificativa exposição humana através do fumo do cigarro,
capaz de modificar quimicamente o ADN das células
e um segundo artigo sobre o uso de complexos metálicos
pode ser cancerígeno. Com este artigo pretende-se dar
no tratamento do cancro.
Ambiente e cancro
Cancro é o nome atribuido a mais de
duas centenas de doenças que se ca-
dos envolvendo um aumento intencio-
doenças por cancro semelhante aos
nal de exposição são eticamente inacei-
americanos com um aumento do can-
táveis.
cro da mama e intestino quando comparado com os japoneses do continente
racterizam por um crescimento anormal
Alguns cancerígenos ambientais deri-
das células provocado por alterações no
vam de escolhas individuais como são
seu material genético. A ideia de que o
exemplo o tabaco, o álcool e até mesmo
cancro é uma doença a ser evitada é
asiático, onde é alta a incidência de
cancro do estômago.
a exposição solar. Outros há, que nos
A quantidade de químicos em uso nos
agora universialmente aceite e poucos
são impostos pela sociedade em que vi-
dias de hoje é assustadora: há cerca de
podem negar que é possível reduzir ris-
vemos tais como, os poluentes do ar e
1.500 pesticidas activos, 4.000 ingre-
cos específicos principalmente associa-
da água, as drogas, os aditivos alimen-
dientes activos de drogas terapêuticas,
dos à meia idade e velhice. Tal redução
tares, certos insecticidas entre muitos
2.000 estabilizantes alimentares, 2.500
advem da modificação de comporta-
outros. Segundo diversos autores, o es-
aditivos com valor alimentar, 3.000 adi-
mentos pessoais, do controlo do balan-
tilo de vida incluindo os hábitos alimen-
tivos alimentares para prolongar o
ço hormonal e da prevenção de infec-
tares e o fumo do tabaco são os princi-
tempo de validade dos produtos e cerca
ções virais. No entanto, a exposição a
pais responsáveis pela incidência de
de 50.000 químicos de uso comum. Vá-
factores ambientais é mais difícil de
cancro no homem.
rias experiências mostraram que alguns
causas ambientais, com ou sem predis-
O cancro afecta todos os grupos popu-
tóxicos salvo ao serem ingeridos em
posição genética é responsável por 60 a
lacionais sem excepção, embora de
grandes quantidades, podem ser can-
90% de todos os tipos de cancros. Das
forma desigual, surgindo diferenças de
cerígenos e mutagénicos como resulta-
centenas de compostos químicos que
incidência dos vários tipos de cancro
do da exposição crónica a doses míni-
se verificou em experiências laborato-
entre países ou mesmo dentro destes,
mas. Para proteger a saúde humana é
riais serem capazes de provocarem esta
entre sexos, raças ou etnias. As popula-
necessário determinar se os compostos
doença, apenas ca de 20 são hoje, in-
ções migrantes são de especial interes-
aos quais as pessoas estão expostas
dubitavelmente considerados cancerí-
se. Por exemplo, a incidência de cancro
diariamente ou periodicamente (tais
genos no Homem. Isto é o resultado da
na população negra dos Estados Unidos
como cosméticos, alimentos e pestici-
grande dificuldade que existe na quan-
é comparável à da população branca,
das) não causam cancro após exposi-
tificação da dose mínima a partir da
mas completamente diferente dos ne-
ção por longos períodos de tempo. O
qual há um risco sério de se provocar
gros de África. Também, muitos japone-
poder cancerígeno de alguns químicos
uma lesão no ADN (ácido desoxirribonu-
ses, que emigraram para os Estados
foi estabelecido através de estudos epi-
cleico) do ser humano, visto que estu-
Unidos, apresentam um padrão de
demiológicos. No entanto, devido ao
desses químicos, apesar de não serem
controlar e o cancro atribuído a estas
I
50 QUÍMICA
longo período de latência do cancro,
reram nos hospitcis mais de 6500 por-
cancro da mama liderou a taxa de mor-
estes estudos exigem anos para serem
tugueses que sofriam de patologias do
talidade nas mulheres devida a neopla-
conclusivos. Outro método que pode ser
aparelho respiratório, nomeadamente
sias malignas (Figura 1). Em segundo e
usado é o de bio-ensaios com animais.
pneumonias e cancro do pulmão, e
terceiro lugar e, com muito menor inci-
No entanto é um método muito dispen-
prevê-se nos próximos anos um aumen-
dência, aparece o cancro do estômago e
dioso em termos de tempo e dinheiro
to da mortalidade provocada por estas
intestino, seguidos pelo cancro do pul-
para ser considerado em larga escala.
doenças. Isto é devido sobretudo à pro-
mão. A região do mundo onde, para as
Por esta razão ensaios não dispendiosos
pagação da infecção pelo virus HIV e ao
mulheres, o risco de se morrer de can-
e de tempo curto são necessários e ur-
aumento da moralidade por doenças
cro é maior situa-se no Norte da Europa
gentes para a avaliação primária de po-
relacionadas com o consumo do tabaco,
(125,4 mortes por 100.000 habitantes)
tenciais cancerígenos e mutagénicos.
como o cancro do pulmão e a bronquite
seguida pela América do Norte, África
crónica. O cancro do pulmão é de resto
do Sul e América Tropical. A média
A tabela 1 lista alguns cancerígenos ambientais não radioactivos e o tipo de
cancro a que dão origem. Foram excluídos aqueles cuja evidência possa ser
a causa de morte mais comum de can-
mundial para as mulheres é de 90 mor-
cro em todo o mundo com cerca de
tes por 100.000 habitantes.
900.000 mortes por ano, seguido do
questionada.
cancro gástrico com cerca de 600.000
De acordo com dados da Organização
tal com cerca de 400.000 mortes cada.
Mundial de Saúde, em Portugal, na últi-
Prevê-se também que o número de
mortes e do cancro do fígado e colorec-
ma década, o tipo de cancro que mais
mortes provocou em indivíduos do sexo
masculino com idades compreendidas
entre os 35 e 70 anos foi o cancro do pulmão (apenas ultrapassado pelo cancro
da próstata a partir desta idade), seguido
pelo cancro do estômago, intestino, da
cavidade bocal e faringe (figura 1).
mortes por cancro relacionadas com o
consumo de álcool e tabaco vá aumentar drasticamente em vários países da
Europa Central nos próximos dez anos.
Isto não é de estranhar tendo em conta
que o hábito de fumar está bastante enraizado em vários países do Leste da Europa, regiões onde o consumo do taba-
Este resultado não é supreendente,
co é ainda bastante elevado nos dias de
tendo em conta que o cancro poderá ter
hoje. É de salientar que o risco de se
um período de latência de 20 anos ou
morrer de cancro é mais elevado na Eu-
superior, e que, por esta razão, o au-
ropa de Leste, com cerca de 205 mortes
mento de mortalidade devido aos pro-
por 100.000 habtantes, quando com-
dutos existentes no fumo de tabaco apa-
parado com a taxa das regiões mais de-
reça em indivíduos com idade superior
senvolvidas que rodam as 108 mortes
a 45 anos. Por exemplo, em 1999, mor-
por 100.000 habitantes. Em Portugal o
Os constituintes do tabaco e do fumo do
tabaco têm sido estudados com pormenor. Cerca de 3800 compostos estão
presentes no fumo, incluindo muitos
cancerígenos conhecidos de várias classes de compostos químicos. Alguns, tais
como as nitrosoaminas, estão presentes
em grandes concentrações no fumo
emitido da ponta incandescente do cigarro (corrente secundária) comparativamente com as concentrações na corrente primária inalada pelos fumadores.
Por isso se usa muito hoje em dia a designação de fumador passivo para o indivíduo que não sendo ele próprio fumador acaba, por razões ambientais,
por inalar o fumo do cigarro em atmosferas carregadas de fumo. Vários estudos têm indicado um aumento de infecções respiratórias neste grupo de
pessoas. Apesar de nos países desenvolvidos o consumo do tabaco estar a di-
Tabela 1. Químicos ambientas que são conhecidos por provocar cancro no homem
minuir, há uma grande preocupação
com os países em desenvolvimento
Tipo de cancro produzido
onde o fumar está a ser bastante pro-
Arsénio
Pele, pulmão
tado em média 21 % anualmente. São
Asbestos
Pulmão, pleura
Químicos
movido, e onde o consumo tem aumenpor isso alarmantes as implicações que
se esperam a médio prazo a nível da
Benzeno
Leucemia
Éter bisclorometílico
Pulmão
Crómio
Pulmão
Erionite
Pleura
2-Naftilamina
Bexiga
Cloreto de vinilo
Fígado (angiosarcoma)
saúde pública nestes países.
Estudos epidemiológicos mostraram que
dietas ricas em gorduras associam-se ao
cancro da mama, colorectal e próstata.
A razão pela qual o cancro da mama
está associado à gordura está ainda um
pouco obscura mas pode estar relacionado com o equilíbrio do balanço hor-
Produtos de combustão do carvão
Produtos de combustão do tabaco
Pele, pulmão, bexiga
Pulmão, boca, faringe, laringe,
esófago, pancreas_, bexiga, fígado
monal. As elevadas taxas de cancro do
estômago que se verificam em países
tais como o Japão, têm sido associadas
com o consumo regular de comida pre-
QUÍMICA
riche (o or 100 •00 bob.)
piada ou transcrita para a cadeia do
ácido ribonucleico mensageiro (m-ARN)
o qual dirige a síntese de proteínas.
Sempre que uma célula se divide, as
duas cadeias do ADN actuam como
templato a pa rt ir das quais novas cadeias complementares são copiadas. O
mecanismo molecular de replicação,
pelo qual uma cadeia de ADN actua
como templato para dirigir a síntese de
uma nova cadeia foi determinado em
1953 por Crick e Watson. Neste modelo
as duas cadeias de ADN possuem polaridade oposta e são mantidas unidas por
1S
1955
1170
1980
1075
1980
1995
1399
Ano
•
.
Mama
guanina com a citosina). Esta associa-
Intestinos homem
▪
▪
ligações de hidrogénio entre as bases
(adenina emparelha com a timina e a
ção não é no entanto suficientemente
Intestinos mulher
Pulrrlão homem
forte para manter a integridade genéti-
Pulmão nu lher
ca. Este processo de replicação não é
Próstata
perfeito. O genoma humano tem aproxi-
▪
Estômago homem
▪
Estómago mulher
madamente 3x10 9 pares de bases. O
copiar de tal quantidade enorme de in-
Figura 1 Portugal, dados referentes a mortalidade por cancro em homens e mulheres com idade
formação é uma tarefa gigantesca e ine-
superior a 35 anos.
vitavelmente alguns erros podem ocorrer. Uma mutação simples (figura 2)
servada em sal. Ao provocar atrasos na
No ano de 1975 Ames e colaboradores
renovação do epitélio do estômago, o sal
desenvolveram um teste que permite
em excesso pode promover os efeitos
detectar a actividade mutagénica de
cancerígenos de, por exemplo, forma-
compostos, tendo sido posteriormente
ção de compostos do tipo nitrosamida,
utilizado por vários autores para de-
pela interação de constituintes da comi-
monstrar a presença dessa actividade
da com os nitritos derivados de nitratos
nas pa rt es queimadas de carne e peixe.
que altere um tripleto de informação codificando um aminoácido levará a uma
proteína contendo um outro aminoácido
incorrecto. Algumas alterações de aminoácidos não afectam a função da proteína enquanto que outras há que poderão levar a proteínas com actividade
reduzida, à mo rt e da célula, a doenças
presentes no sal. Também no nosso país
Desde então tem sido identificada e iso-
se observa uma elevada taxa de cancro
lada uma variedade enorme de compos-
do estômago, cólon e intestino, o que
tos denominados por aminas aromáti-
Sabe-se hoje que esta primeira lesão
cas heterocíclicas, resultantes da
que ocorre no ADN é o passo inicial da
está essencialmente associado aos hábitos alimentares.
São várias as origens dos compostos
cancerígenos que se podem encontrar
numa dieta normal, desde plantas que
genéticas ou à carcinogénese.
pirólise de aminoácidos e proteínas.
carcinogénese e, deste modo, pode ser
Sabe-se hoje que uma dieta rica em fi-
dito que qualquer agente capaz de mo-
bras pode proteger contra o cancro do
dificar quimicamente o ADN das células
cólon e intestino devido à possibilidade
pode ser cancerígeno. Em particular,
que as fibras têm de absorver os cance-
pensa-se que danificações em genes
rigénos diminuindo assim a sua acção.
que têm um papel maior no desenvolvi-
que frequentemente são utilizados nos
Está provado que cerca de 20% de
supressores de tumor) provocam altera-
contêm cancerígenos nos seus constituintes naturais, passando pelos aditivos
mento do cancro (i.é.oncogenes e genes
produtos alimentares para os preserva-
todos os cancros (aproximadamete 1 mi-
ções no processo que regula a divisão
rem, até aos compostos cancerígenos
lhão/ano) podem ser prevenidos pela eli-
celular e o crescimento dos tecidos.
que se formam como resultado da con-
minação do fumo de tabaco. Já os agen-
fecção dos alimentos. O cancro do cólon
tes infecciosos são responsáveis por
e intestino está essencialmente associa-
cerca de 16% das mo rt es por cancro.
do a uma dieta rica em fritos, grelhados
e assados na brasa, da qual os protu-
Adutos de ADN e carcinogénese
A carcinogénese química foi reconheci-
Lesões mutagénicas
da no Homem há mais de 2 séculos
O ácido desoxirribonucleico (ADN) é o
quando observou o aumento de inci-
queimadas dos alimentos assim confec-
"armazém" molecular da informação
dência de polipos nasais e cancro após
cionados.
genética. Esta informação deve ser co-
prolongada inalação de tabaco.
gueses são grandes adeptos, e onde o
principal responsável são as partes mais
pelas descobertas de Hill em 1761
51
52
QUÍMICA
H3Ç
H
N
CH3
^,
^
teriormente transmitidas às células des-
,( H —^
N
N
d R^
N \
\dR
^
H
\dR
//
velocidade de divisão celular diferente
CH3
J
I
o.
CH3
H
N^
N—
=(
N—H dR
par de bases Adenina -Timina
da célula normal. Com esta mutação há
também perda total ou parcial de fun-
CH3
ções específicas da célula, podendo
ainda ocorrer migração da célula para
N—H
—(^
d
N
O
célula cancerosa formada possui uma
O
par de bases 0 6 -Melilguanina -Timina
par de bases Guanina - Citosina
H\
cendentes das inicialmente alteradas. A
N
N—H I
H
N—H
^
N
^N
/
N—
dR
trutura molecular do ADN, que são pos-
N
Ì
`N—H
O
0
HN
//
O
outros orgãos (metástese).
\dR
H
par de bases O ° Metiltimina - Guanina
Iniciação e promoção
bases pelo modelo de Watson-Crick e emparelhamento
errado causado pela formação de 0 6 -metilguanina e 0 4 -metiltimina. A metilação na posição 0 6 da
guanina e 0 4 da timina resulta na formação de um tautómero enol em oposição ã forma normal,
cetónica.
Figura 2 Emparelhamento normal das
Estudos laboratoriais levaram ao desenvolvimento do presente conceito de iniciação e promoção do cancro. A iniciação é causada pela interação do
composto genotóxico (são designados
Muitos cancerígenos não são biologica-
estarão disponíveis para análise. Para a
genotóxicos porque têm a capacidade
mente activos como tal, mas requerem
elucidação estrutural destes adutos
de alterar o código genético) com o ADN
activação metabólica a uma forma mais
pelos métodos disponíveis (ensaios imu-
celular. Desde que esta lesão, que ocor-
reactiva (cancerígeno final). Esta activa-
nológicos, técnicas de fluorescência, es-
reu no ADN, não seja reparada, a célula
ção metabólica pode levar a produtos de
pectrometria de massa e marcação iso-
está permanentemente alterada. Esta
destoxificação inactivos, assim como a
tópica) é de crucial importância a
célula pré-maligna latente pode ficar no
espécies electrófilas altamente reactivas,
disponibilização de padrões representa-
animal durante quase toda a sua vida
capazes de se ligarem covalentemente
tivos de diferentes classes de compos-
sem nunca dar origem ao crescimento
ao ADN. A elucidação estrutural da
tos químicos, os quais são obtidos por-
do tumor. No Homem o período de la-
forma activa do cancerígeno e do aduto
reacções in vitro entre o cancerígeno
tência pode ser de 20 anos ou mais. A
ADN-cancerígeno, mais precisamente, o
final e o ADN.
exposição desta célula maligna a um
local específico de reacção destes compostos químicos no ADN é de extrema
importância para compreender, em termos moléculares, como é que este tipo
de compostos são capazes de exercer os
seus efeitos biológicos. Ce rtas substituições são muito mais prováveis de resultarem em codificações erradas do que
outras. Para além disso, bases substituídas em determinados locais do ADN são
mais rapidamente excisadas do que são
essas mesmas bases substituídas nou-
Estas 3 últimas décadas de estudos intensivos quer in vitro quer in vivo levaram à identificação de compostos químicos, ligados a locais específicos do
ADN, tais como 4-aminobifenilo e
benzo[a]pireno os quais são actualmente, e sem margem para dúvidas, com-
promotor, mesmo com um atraso de um
ou mais anos, converte a célula a um
estado maligno irreversível, isto é, a célula cancerosa. A promoção é um processo lento, e a exposição ao promotor
deverá ser mantida durante um ce rt o
período de tempo (figura 4).
postos cancerígenos conhecidos do
Isto explica o facto de o risco de contrair
fumo do tabaco e da combustão incom-
cancro diminuir rapidamente quando se
pleta de combustíveis fósseis (petróleo e
deixa de fumar, dado que tanto o inicia-
carvão).
dor como o promotor parecerem estar
ambos presentes no fumo do tabaco. Al-
tros locais. No ADN as bases guanina
Deste acontecimento inicial na indução
são os locais preferenciais de ataque por
da neoplasia (formação da lesão primá-
cancerígenos. Em que posição da guani-
ria no ADN) resultam alterações na es-
guns promotores foram já extensivamente estudados como é o caso dos és-
na é que um cancerígeno se ligará, é ditado essencialmente pela sua natureza
química (figura 3).
Figura 3 Local preferencial de ligação na guanina de várias classes de compostos químicos
O isolamento e identificação dos produ-
Agentes alquilantes
tos obtidos na reacção de um cancerígeno activado com uma molécula nu^
cleófila complexa, tal como o ADN, é um
0
desafio enorme. Os adutos que se for-
H N !^N
Am nas aromáticas
mam estão presentes em muito pequenas quantidades (1 em 10 5 -10 6 pares
H Z N N ^\
ADN
de bases) de tal modo que apenas
quantidades picomolares de material
Hidrocarbonetos aromáticos
policíclicos
QUÍMICA 53
dado, se vê que há ainda um longo ca-
Pró-cancerígeno
minho a percorrer na procura de novas
Metabolitos
não-electrófilos
drogas para o tratamento desta doença.
Na comunicação social somos de vez em
Cancerígeno final
(iniciador)
quando ale rt ados para o aparecimento
de novas drogas, desenvolvidas para o
electrófilo, mutagénico
tratamento destas doenças, sem que verlocais nucleofilos em macromoléculas celulares
átomos de N.O,S,C
resíduo cancerígeno ligado covalentemente a macromoléculas
(ADN, ARN, proteínas) - ADUTOS
INICIAÇÃO
A mudança de muitos dos nosso hábitos
assim como o diagnóstico precoce, pa-
II
alterações específicas em macromoléculas
recem ser neste momento os meios
mais importantes para o combate a esta
11
11
doença que, detectada no seu início,
pode ser em muitos controlada, se não
Informação alterada
PROMOÇÃO
dadeiras curas estejam já disponíveis.
mesmo curada.
IÍ
Clones celulares
Leitura recomendada
Tumor
S.F. Zakrzewski, "Principles of Environmental
Figura 4 Uma cisão simplificada dos acontecimentos moléculares e celulares na carcinogénese
química
Toxicology". Ed. ACS, Am. Chem. Soc.,
1991. 67 e 270.
R. Doll, Chem. in Brit., 1987, 847.
teres forbol contidos no óleo de cróton.
se, a cólera, a difeteria e o tifo foram
F. A. Beland, M. C. Poirier, DNA Adducts
O álcool também actua como um pro-
controladas, com a mudança de hábitos
and Carcinogenesis em. The Pathobiology of
motor em pessoas expostas aos cance-
higiénicos, sem na verdade estarem
Neoplasia (Ed. Sirica, A. E.), 1989, 57, Ple-
completamente compreendidas.
num Publishing Corp., New York.
rígenos presentes no fumo do tabaco.
Os fumadores raramente desenvolvem
cancro no tracto gastrointestinal superior ou na cavidade bocal. No entanto,
fumadores que também bebam álcool,
C. E. Searle, O. J. Teale, Occupational carci-
Não restam dúvidas de que uma grande
nogens. Handbook of Experimental Pharma-
variedade de doenças, onde se inclui o
cology Chemical Carcinogenesis and Muta-
cancro, derivam directa ou indirecta-
genesis (Ed. C. S. Cooper, e P. L. Grover)
mente de fumar e hábitos dietéticos.
1990, Vol. 94/I, 103, Springer-Verlag, Hei-
Estes hábitos, bastante enraizados nas
delberg, Germany.
populações, podem ser muito difíceis de
B. N. Ames, J. McCann, E. Yamasaki, Mutat.
A prudência sugere que deverá ser evi-
mudar, mas antes de se reclamar por
Res., 1975, 31, 347.
tado o contacto com um composto quí-
mais investigação sobre as causas de
R. Doll, Cancer Res., 1992,
mico o qual demonstre ter actividade
cancro há um passo a tomar que é ac-
Fred. F. Kadlubar, Nature, 1992.
cancerígena. No entanto em alguns
tuar para prevenir esta patologia, alte-
casos, onde não há substituto adequado
rando este tipo de comportamento.
desenvolvem frequentemente este tipo
de patologia.
disponível, os benefícios do uso podem
ultrapassar o risco de aparecimento de
cancro uma década ou mais depois. O
uso de agentes quimioterapêuticos poderá ser um exemplo. O tamoxifen é um
anti-estrogéneo não esteroidal, utilizado
na quimioterapia do cancro da mama. É
actualmente a droga mais prescrita no
mundo, estando a ser testado como
agente profilático. No entanto, é grande
a controvérsia, visto que parece aumentar significativamente o risco de cancro
do endométrio.
360, 189.
E. C. Miller, James A. Miller, Cancer, 1981,
2327.
A disponibilização de padrões de adutos
Organização Mundial de Saúde. Dados dis-
de ADN-cancerígenos e a procura inten-
poníveis em http://www -depdb.iarc.fr/who/
siva que se verifica nos dias de hoje por
menu.htm. em 15-5-2002.
um método experimental extremamente
C. E. Searle, Chem. in Brit.. 1986, 211.
sensível que nos permita a monotoriza-
T. Sugimura, Science, 1986, 233, 312.
ção
da formação de adutos in vivo no
homem, poderá num futuro próximo
prever o risco humano de contrair a
doença. Esta é uma nova aproximação à
monotorização do risco humano baseado em adutos ADN-cancerígenos como
biomarcadores moleculares.
Sabe-se hoje em dia que aproximada-
Conclusões
52, 2024.
B. Ames, Science, 1983. 221, 1256.
J. D. Watson, F. H. Crick, Nature, 1953,
171, 737.
J. D. Watson, F. H. Crick, Nature, 1953,
171, 964.
S.F. Zakrzewski, "Principles of Environmental
Toxicology". Ed. ACS, Am. Chem. Soc.,
1991. 270.
mente 50% de todos cancros podem ser
IARC monographs on the evaluation of carci-
curados: 35% por cirurgia, 10% por ra-
nogenic risks to humans. Antioestrogenic
No século passado doenças infecciosas
dioterapia e 5% envolvendo tratamentos
bastantes graves tais como a tuberculo-
quimioterapêuticos. Com este último
compounds. Tamoxifen. 1996, Vol 66, 253,
International Agency for Research on Cancer, Lyon.
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