Adoração na igreja contemporânea

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Adoração na igreja contemporânea
Escrito por Osmar Ludovico da Silva
Ter, 08 de Setembro de 2009 09:05 - Última atualização Sex, 20 de Novembro de 2009 08:51
Há dois tipos de música, a boa e a ruim — seja ela erudita, MPB, sertaneja, reggae, rap, rock
ou
gospel
. O que me surpreende é a capacidade de o mercado absorver a música ruim. Com a
proliferação de compositores, intérpretes, bandas e gravadoras, o cenário evangélico não
poderia ser diferente. Tem música boa, mas também tem muita música ruim. Passamos séculos louvando a Deus com hinos históricos da Reforma. Bastava um hinário, e
tínhamos músicas com letras densas, boa teologia e linha melódica harmoniosa. Nos últimos anos surgiu o que chamamos de louvorzão. Jogamos fora os hinários, a liturgia,
aposentamos o piano e o coral e introduzimos a guitarra, a bateria, o data-show, as
coreografias e a aeróbica. Surgiu também a figura do dirigente de louvor, responsável por
animar a congregação. Daí para a frente há muito barulho, muitas palmas, muitas mãos
levantadas, muitos abraços, muitas caretas e cenho franzido. Mas a pergunta que fica é: temos
adoração? O lado positivo do louvorzão é o interesse e a integração na igreja de milhares de jovens.
Trata-se de uma oportunidade única para ensinar estes jovens, através do exemplo e da
Palavra, o caminho do discipulado de Cristo. Mas fica a pergunta: estarão estes jovens
crescendo na santidade e no serviço? Alguns cultos se tornaram verdadeiras produções dignas da Broadway. Músicos profissionais,
cenários, bailarinos e iluminação. Mas fica uma pergunta: toda esta parafernália cênica tem
levado o povo de Deus a uma genuína adoração? A história da Igreja é rica em manifestações artísticas. Ao longo do tempo o louvor foi expresso
através de várias expressões musicais. O canto gregoriano, o barroco, os hinos da Reforma, o
negro espiritual e os cânticos contemporâneos deixaram sua contribuição à boa música ao
longo destes últimos séculos. Trata-se, portanto, de um equívoco jogar fora toda a herança histórica e achar que esta
geração descobriu a forma certa de louvar. Se olharmos do ponto de vista musical veremos
que a história nos legou uma herança preciosa. Na cultura gospel do louvorzão tem muita
música ruim, muita letra questionável e muito dirigente de louvor que mais parece um animador
de auditório. A igreja pode ser a ponte entre as gerações, entre o antigo e o novo e integrar na adoração
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Adoração na igreja contemporânea
Escrito por Osmar Ludovico da Silva
Ter, 08 de Setembro de 2009 09:05 - Última atualização Sex, 20 de Novembro de 2009 08:51
tudo o que há de bom na sua herança histórica. Tem muita gente cansada do louvorzão
barulhento de letras rasas, de bandas que tocam no último volume, de coreografias
esvoaçantes e de ordens do dirigente para abraçar o irmão da frente, de trás e do lado dizendo
que o amamos. É constrangedor abraçar alguém e dizer que o amamos quando nem sequer o
conhecemos. A igreja perde quando a ênfase do louvor se desloca da congregação para o palco. Com raras
exceções a música é ruim, a letra não tem nada a ver com a realidade do cotidiano ou a
teologia reformada e a performance no palco é apelativa. A igreja perde quando se torna parecida com um programa de auditório e já não cultiva a boa
música com cordas, sopros, bons arranjos, corais, quartetos. E perde muito mais quando a
adoração se torna um evento estimulado sensorialmente e não uma melodia que emerge de
um coração quebrantado e temente a Deus. Adoração é sempre uma resposta humilde, alegre,
reverente àquilo que Deus é e faz. Adoramos porque algo aconteceu, algo nos foi revelado, e
não o contrário, como pensam alguns, que recebemos a revelação e as coisas acontecem
porque adoramos. A igreja perde quando não há reverência ou temor. O que resta é euforia, excitação e
sensações prazerosas. O que é bom em si mesmo, mas não é necessariamente adoração. É um equívoco pensar que Deus se impressiona com nossos cultos de domingo. Antes, ele
acolhe muito mais nossos gestos simples do cotidiano, fruto de um coração humilde e
quebrantado, que busca se desprender de ambições e serve ao próximo com alegria. Adoração
não é um evento domingueiro bem produzido, mas um estilo de vida que glorifica ao Senhor. Durante séculos a arquitetura das igrejas e das catedrais destinou o balcão posterior ao coro,
ao órgão e à orquestra. Na igreja da Reforma os músicos e o coro se posicionavam na parte da
frente da nave, mas sempre ao lado. Mesmo o púlpito não estava no centro, mas ao lado. No
centro havia, quando muito, alguns símbolos da fé, que ajudam a despertar a consciência para
a experiência do sagrado, com destaque para a mesa do Senhor. A congregação ficava em
face ao altar de Deus, sem que nada se interpusesse entre a Santa Presença e a congregação.
Este lugar só pode ser ocupado por Jesus Cristo. Ele é o único mediador, ele é o único que
pode dirigir o louvor. Hoje o que se vê é o apóstolo, o bispo, o pastor, o dirigente de louvor e a banda ocupando este
lugar, nos levando de volta à Antiga Aliança, quando sacerdotes e levitas eram mediadores
entre Deus e os homens. A conseqüência é uma geração de crentes que dependem de
homens, coreografias e data-shows para adorar e para ouvir a voz de Deus. O verdadeiro pastoreio consiste em ajudar homens e mulheres a dependerem do Espírito
Santo para seguirem a Cristo, que os leva ao seio do Pai. Ajudar homens e mulheres a
crescerem e amadurecerem na fé, na esperança e no amor, integrando adoração, oração e
leitura das Escrituras no seu cotidiano. A contextualização se tornou uma armadilha na qual a igreja caiu. Na tentativa de se identificar
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Escrito por Osmar Ludovico da Silva
Ter, 08 de Setembro de 2009 09:05 - Última atualização Sex, 20 de Novembro de 2009 08:51
com o mundo ela ficou cada vez mais parecida com ele. A cultura gospel é autocentrada,
materialista, acha-se dona da verdade, tornou-se uma religião que nos faz prosperar, que não
nos pede para renunciar a nada e que resolve todos os nossos problemas. Há um abismo
colossal entre a cultura gospel e o evangelho de Jesus Cristo, que nos chama a amar
sacrificalmente o nosso próximo, a cultivar um estilo de vida simples, a integrar o sofrimento na
experiência existencial e a ter a humildade de ser um eterno aprendiz. Estas reflexões já estavam fervilhando no meu coração há algum tempo. Pensei que estas
coisas só aconteciam em certas igrejas, mas o que me motivou mesmo a colocá-las no papel
foi ter participado de um culto numa Igreja Batista da Convenção. • Osmar Ludovico da Silva é pastor da Igreja Evangélica Comunidade de Cristo em
Cabedelo, PB. Ministra cursos de espiritualidade cristã, formação de líderes e restauração para
missionários.
Fonte: ultimato.com.br
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