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Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014
V Enebio e II Erebio Regional 1
O ENSINO DE BIOLOGIA NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO POPULAR:
RELATOS E REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA DOCENTE EM UM PRÉVESTIBULAR POPULAR DE PORTO ALEGRE
Letícia Tramontini (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense;
Resgate Pré-Vestibular Popular)
Guilherme Bertuzzi (Centro Estadual de Formação de Professores General Flores da
Cunha; Resgate Pré-Vestibular Popular)
RESUMO
Os pré-vestibulares populares surgem no Brasil em um contexto de desvalorização da
Educação Básica e de busca pela democratização do acesso ao Ensino Superior público. O
pré-vestibular Resgate há mais de dez anos atua na área da Educação Popular, atendendo
alunos egressos de escolas públicas, de classes populares. Atuando na instituição como
docentes desde 2011, observamos grandes dificuldades na construção de uma
aprendizagem efetiva na disciplina de Biologia. O principal obstáculo que os alunos
enfrentam é o fato de o programa do Vestibular apresentar conteúdos distantes da realidade
discente. Então, buscamos desenvolver práticas que facilitem o entendimento dos conceitos
e processos biológicos, simplificando-os e, quando possível, relacionando-os aos
conhecimentos prévios dos alunos.
Palavras-chave: Educação Popular, Vestibular, Universidade Pública
INTRODUÇÃO
A ascensão dos movimentos sociais e de luta por igualdade no Brasil reflete a busca
de um setor da população por uma sociedade mais justa. De modo geral, os movimentos
sociais têm suas ações voltadas para “lutas por melhoria na qualidade de vida e reivindicam
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mudanças estruturais na sociedade” (OLIVEIRA, 2001). Dentro desse contexto de
mobilização social revolucionária, no início da década de 1960, surge no Brasil a Educação
Popular.
A Educação Popular se caracteriza por desenvolver práticas educativas que
estimulam a construção de sujeitos coletivos e populares, capazes de constituírem-se em
protagonistas das necessárias mudanças sociais e políticas a favor da justiça e da igualdade
requeridos por nossas sociedades (GARCÉS, 2006). No Brasil e na América Latina, o
movimento de Educação Popular foi desenvolvido como “um importante referencial teórico
e instrumental para o fortalecimento de diversos atores sociais e políticos (sobretudo
movimentos sociais) no terreno da sociedade civil, o que tem contribuído para a busca de
uma nova qualidade da relação destes com o Estado” (PONTUAL, 2006).
A publicação da Pedagogia do Oprimido por Paulo Freire, em 1970, constitui um
marco para a educação popular brasileira por propagar o ideal de uma educação libertária.
Hoje, vivemos um momento bastante crítico para o ensino no Brasil, visto as desigualdades
existentes entre a escola básica pública e as instituições privadas de ensino. Uma das
consequências dessa desigualdade é a dificuldade de acesso dos egressos das escolas
públicas ao Ensino Superior, principalmente a Universidades públicas.
A política do neoliberalismo, desenvolvida no Brasil a partir dos anos 90, gerou
uma nova forma de opressão, caracterizada pela exclusão social e pela desigualdade na
distribuição da riqueza, do poder e do conhecimento (NAHMÍAS, 2006). A educação
passou a ser vista como uma mercadoria e impulsionou o crescimento das instituições
privadas de ensino. Uma pequena parcela da população detentora do capital teve acesso a
uma forma de ensino diferenciada, e a entrada na Universadade pública por meio de
concurso Vestibular acabou por privilegiar essa pequena parcela. Assim, o Ensino Superior
em instituição pública se transformou em um mérito dos egressos do ensino privado e não
em um direito a todos os estudantes, independente de sua classe social.
Pré-Vestibulares Populares e o surgimento do Centro de Educação e Cultura PréVestibular Resgate
Visando reduzir o acesso desigual ao ensino superior e a democratização do ensino,
nos anos 1990, foi desenvolvido no Brasil uma nova forma de Educação Popular: os Cursos
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Pré-Vestibulares Populares. De acordo com Rockenbach (2010), esse movimento é
caracterizado pela preparação de seus alunos ao Concurso Vestibular, e também pela
formação de um pensamento crítico e questionador de seus estudantes. Ademais, o espaço é
visto como “um local para que o cidadão excluído socialmente (...) possa manifestar-se
ativamente, possa trazer sua experiência e seu conhecimento (…) onde ele possa vencer a
insegurança e a desconfiança sobre seus conhecimentos prévios, atribuindo valor às suas
histórias de vida e desmanchando, passo a passo, a lógica excludente e preconceituosa da
nossa sociedade (…)” (ROCKENBACH, 2010).
Em 2002, um grupo de ex-alunos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), fundou na cidade de Porto Alegre o Centro de Educação e Cultura pré-vestibular
Resgate. O objetivo do curso é contemplar alunos populares e, por isso, a seleção tem como
critério principal a renda e a situação social dos candidatos. De acordo com o Estatuto que
rege a instituição, a principal finalidade do Centro é “defender o direito de acesso à
educação – bem como de sua mantença – de qualidade e pública, em todos os níveis, a toda
a população.” A instituição é registrada como uma Organização Não-governamental e
funciona atualmente em salas de aula cedidas pela UFRGS, localizadas na Faculdade de
Biblioteconomia e Comunicação Social (FABICO). Mesmo sem apresentar vínculo formal
com a Universidade, o curso conta com o apoio da instituição desde 2006, a partir do uso
de salas de aula em diferentes unidades acadêmicas. O corpo docente é formado
majoritariamente por alunos e ex-alunos da UFRGS que atuam de forma voluntária. Apesar
da existência de uma Direção, eleita anualmente em Assembleia Geral, a gestão do curso é
compartilhada entre os professores e colaboradores, através de Assembleias Mensais com
participação ativa de todo o corpo docente e representantes discentes.
A proposta do Resgate é trabalhar com turmas pequenas, pois assim há maior
contato entre professor e aluno. Assim, o processo de aprendizagem se torna mais
significativo para ambos, já que a aproximação entre os envolvidos possibilita aos docentes
conhecerem melhor as necessidades individuais dos estudantes. O contato da instituição
com o aluno permite o entendimento de suas histórias e contextos particulares de vida, o
que faz com que eles tenham um nome, com identidade inscrita no grupo, e que sejam
sujeitos da sua própria construção (ROCKENBACH, 2010).
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A Biologia no Concurso Vestibular da UFRGS
Até o processo seletivo do ano de 2014, a forma de ingresso na UFRGS era
exclusivamente o Concurso Vestibular (CV). A partir do concurso de 2015, 30 % das vagas
serão destinadas aos alunos que prestarem o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM)
(AÇÕES AFIRMATIVAS, 2014).
Desde o ano de 2008, a UFRGS conta com um Programa de Ações Afirmativas que
desenvolve o programa de Cotas. Os estudantes de escola pública e os estudantes
autodeclarados negros de escola pública passaram a ter a possibilidade de concorrer no
Vestibular, disputando 30% das vagas em todos os cursos da Universidade. Além disso,
anualmente dez novas vagas são destinadas a estudantes indígenas. Mesmo com o
desenvolvimento do programa de Cotas pelo Ações Afirmativas, a realidade do vestibular é
de mais 42 mil estudantes disputando cerca de 5 mil vagas.
A prova de Biologia do Vestibular da UFRGS é tida como uma das provas em que
os estudantes apresentam alto grau de dificuldade. No Manual do Candidato do CV 2014,
em que são apresentados os programas de todas as provas realizadas no concurso, para a
prova de Biologia, encontram-se os seguintes objetivos:
“Espera-se que o candidato possua um conhecimento abrangente e
integrado dos fenômenos que compõem o mundo biológico, tendo
condições de: a) caracterizar fenômenos e processos biológicos; b)
estabelecer relações entre diferentes conceitos, processos, fenômenos e
modelos que fazem parte do campo de conhecimento da Biologia; c)
analisar/interpretar experimentos, esquemas, gráficos, tabelas, situações e
simulações propostas; d) aplicar os conhecimentos adquiridos na
resolução de situações-problema, na análise de fatos e informações
veiculadas pelos diferentes meios de informação. A prova procurará
enfatizar as abordagens evolutiva e ecológica dos diferentes temas,
buscando analisar e interpretar o mundo biológico no contexto da vida
cotidiana.” (COPERSE, 2014, p.32).
Entretanto, apesar da adequação teórica desses objetivos, na prática o que se vê é
um predomínio de questões que abordam a Biologia de uma forma altamente conceitual e
descritiva. Dessa forma, exige-se do candidato que, basicamente, tenha acumulado alguns
conteúdos, na forma de conceitos que nem sempre são realmente compreendidos em sua
totalidade. A média de acertos da prova oscila em torno de 9 acertos (dados disponíveis em
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www.ufrgs.br/vestibular), de um total de 25 questões objetivas de escolha múltipla.
Elaborada como é, seguindo uma tradição conteudista que valoriza conceitos
prontos e muita nomenclatura, a prova de Biologia do CV UFRGS parece não apresentar
relação com a realidade e cotidiano do candidato. Além disso, esse excesso de exigência no
que diz respeito a termos e descrições altamente detalhada de processos biológicos, não está
de acordo com a prática no Ensino de Ciências que é desenvolvida pela Educação Básica.
Apesar de algumas instituições privadas de Ensino Médio terem como principal objetivo a
formação para a realização do Vestibular, essa não é a prática mais comum nas instituições
públicas de ensino regular e, menos ainda, nas instituições responsáveis pela Educação de
Jovens e Adultos.
RELATO
A turma e os discentes
O pré-vestibular Resgate, desde sua fundação, já passou por diferentes sedes. A sede
atual, nas dependências da FABICO, tem por objetivo a localização do curso em uma área
central da cidade, para, dessa forma, facilitar o acesso dos alunos, já que o centro é o local
de trabalho da maior parte da classe popular (ROCKENBACH, 2010). O funcionamento do
curso se dá no período noturno, para contemplar os trabalhadores.
Os estudantes do Resgate são, em sua maioria, pessoas que terminaram o Ensino
Médio há algum tempo, ou então, alunos evasivos do Ensino Básico. A Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Brasileira (Lei 9394/96) determina obrigatoriedade da oferta da
educação escolar para jovens e adultos (EJA) que não puderam efetuar os estudos na idade
regular,
assegurando
oportunidades
educacionais
apropriadas,
consideradas
as
características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, garantindo
ainda, condições de acesso e permanência na escola. Parte dos alunos que compõem as
turmas do Resgate têm sua formação básica concluída em instituições de Educação de
Jovens e Adultos; entretanto, a partir da possibilidade de conclusão do ensino médio para
alunos maiores de 18 anos por meio do ENEM (art. 38 da LDB), muitos dos nossos alunos
buscam também um diploma de conclusão da Educação Básica. Assim, a média de idade
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dos alunos da turma é bastante elevada e os locais e momentos de formação anterior são
altamente diversificados. Apesar disso, todos os discentes que constituem o Resgate têm
como objetivo maior a entrada em uma instituição de Ensino Superior Pública e de
Qualidade.
Os docentes
Formados em instituições de ensino privadas durante toda a Educação Básica, e
tendo sido aluno de pré-vestibulares privados antes do ingresso na Universidade Pública,
nos tornamos graduandos do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, na UFRGS, no
ano de 2006. Nossa atuação como docentes no Resgate iniciou após ambos já termos
concluído a graduação, em 2011, e estarmos cursando mestrado acadêmico em diferentes
áreas da Biologia na mesma instituição. A vontade de participar do Resgate, no entanto, já
vinha de anos anteriores, a partir de relatos de colegas que atuavam no curso.
Apesar de experiências anteriores em salas de aula de outras instituições
(principalmente de Educação Básica regular), o Resgate se constitui no nosso primeiro
contato com a Educação Popular e, desde os primeiros momentos como professores do
Curso, nos envolvemos diretamente nas questões administrativas e pedagógicas trazidas às
Assembleias Gerais. Dessa forma, fomos nos construindo como professores de Educação
Popular, a partir da vivência e atuação no Resgate. Atualmente, apesar da atuação em
outras instituições (privadas e públicas) de Educação Básica, permanecemos no Resgate,
colaborando com as atividades desenvolvidas em sala de aula e na gestão e organização do
Curso.
As práticas
Inicialmente, as práticas a serem desenvolvidas na sala de aula do Resgate eram
pensadas de modo semelhante às de pré-vestibulares privados, com uma abordagem que
não costuma ter um olhar sobre o aprendizado do aluno. Isso porque nos acostumamos a
pensar o ensino em pré-vestibular dessa maneira, em função da realidade vivida durante
nossa formação. Contudo, um aprendizado desenvolvido a partir das vivências dos estágios
curriculares foi a aplicação de uma sondagem inicial às turmas, a fim de conhecer seus
saberes prévios. A aplicação e análise desse material nas turmas do Resgate nos fez
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repensar nossas práticas; foi possível observar que as dificuldades dos nossos alunos
começavam nos conteúdos mais básicos da Biologia, como por exemplo, saber o que é uma
célula, ou onde podemos encontrar um organismo heterotrófico.
No Resgate, a disciplina de Biologia é dividida em três frentes, ministradas por
diferentes professores, como ocorre normalmente nos cursos pré-vestibulares de Porto
Alegre. No entanto, as primeiras aulas são desenvolvidas de forma conjunta pelos
professores, que abordam conceitos básicos de biologia, como a diferença de unicelular e
pluricelular, procarionte e eucarionte, dentre outros. Além desses conceitos gerais, também
é trabalhado em um primeiro momento de forma conjunta assuntos que permeiam
diferentes conteúdos, como por exemplo, biomoléculas.
No início de cada ano, os professores elaboram um cronograma programático das
suas aulas. Contudo, o rítmo de cada aula é ditado pelas turmas. Um dos aspectos
importantes que procuramos desenvolver em nossos alunos é o de solucionar suas dúvidas
no momento em que elas surgem, mesmo que sua intervenção interrompa a aula. O
incentivo a sanar suas dúvidas, além de contribuir para o andamento da aula, também tem
por finalidade promover a participação e atuação do aluno na construção das aulas. Assim,
se constroi um espaço onde são valorizados seus conhecimentos prévios, e, dessa forma, se
desenvolve um momento onde o aluno vence sua insegurança e melhora sua autoestima.
Outra prática que diferencia o trabalho de um professor de Biologia em cursos prévestibulares populares, quando comparados aos de cursos privados, é a maneira com que
determinados temas são abordados. Enquanto nos cursos privados procura-se trabalhar os
conteúdos na sua forma mais completa, valorizando nomenclatura e detalhes dos processos,
nos cursos populares, geralmente os assuntos mais complexos - como bioenergética ou
síntese proteica, por exemplo - são trabalhados de uma forma simplificada. Tal abordagem
visa facilitar o entendimento do aluno, já que são temas de difícil associação com seu
cotidiano.
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REFLEXÕES
Dificuldade de acompanhamento dos conteúdos
A partir de nossa prática no Resgate, percebemos que a grande dificuldade
apresentada pelos alunos é durante o acompanhamento dos conteúdos, sendo esse o
principal motivo de evasão do curso. Quando trabalhamos com Ensino Médio e
Fundamental regular, as dificuldades são também refletidas devido à falta de interesse e ao
descomprometimento dos alunos. Contudo, os alunos do Resgate são interessados e
comprometidos. Grande parte deles está presente em todas as aulas, mesmo após uma longa
jornada de trabalho. A partir de seus relatos, é possível relacionar tal dificuldade ao tempo
em que ficaram sem estudar, considerando os alunos de mais idade, ou ainda, à qualidade
do ensino.
Na realidade, consideramos que o principal obstáculo em relação ao aprendizado é o
fato de os conteúdos presentes no programa do Vestibular serem extremamente distantes da
realidade discente. Por que estudar detalhadamente mitose e meiose? Não basta saber pra
que servem esses processos e quando ocorre cada um deles? A proposta de mudança dessa
prática está presente em diferentes documentos que norteiam a prática na Educação Básica,
como os Parâmetros Curriculares Nacionais e suas orientações:
“Mais do que fornecer informações, é fundamental que o ensino de
Biologia se volte ao desenvolvimento de competências que permitam ao
aluno lidar com as informações, (...) compreender o mundo e nele agir
com autonomia, fazendo uso dos conhecimentos adquiridos da Biologia e
da tecnologia.” (BRASIL, 1997, p. 19).
Mesmo constando no PCN, o Vestibular da UFRGS mantém, ano após ano, as
características conteudistas e conceituais em detrimento de buscar valorizar a capacidade
interpretativa e de pensamento científico. Essa prática não promove um aprendizado
efetivo. Com a prova nos moldes em que é construída, apenas as cotas são suficientes para
que o acesso à universidade seja democratizado. Alunos cuja realidade é trabalhar desde os
16 anos (ou antes) para ajudar na renda familiar, advindos de um ensino público realizado
nas periferias das grandes cidades não têm condições justas de competir por essas vagas.
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Importância da Educação Popular na constituição do aluno e do professor
A relação do docente com a instituição e com os alunos do Resgate ultrapassa os
limites da sala de aula. Conhecer a história de cada aluno, sua luta cotidiana para poder
estudar e assim almejar uma vida melhor, desenvolve em cada professor e colaborador do
curso, um sentimento de responsabilidade e comprometimento por estarem lidando com os
sonhos de cada um dos estudantes. A cada nova turma que se constitui, com novos sonhos,
o vínculo docente-estudante-instituição se fortalece, gerando significativas modificações
nos sujeitos que atuam dentro do processo da sala de aula.
Os professores que vivenciam a experiência da Educação Popular certamente
desenvolvem uma maior capacidade de reconhecer o seu educando enquanto protagonista
dos processos de aprendizagem. Ainda há uma forte influência dos espaços escolares
formais na constituição das práticas docentes no Resgate: o problema relacionado à
significância dos conteúdos, a falta de proximidade desses com as realidades discentes e o
fato de as aulas normalmente seguirem uma organização (física e metodológica) típica da
escola tradicional são exemplos dessa influência. Contudo, na reconstrução teórica e
pedagógica dos docentes, certamente a prática em pré-vestibulares populares tem papel
fundamental. No Resgate, desenvolve-se com o aluno uma relação altamente colaborativa,
em que o professor se coloca praticamente como um facilitador da aprendizagem. Dessa
forma, além da mera aquisição de conceitos e conteúdos, o espaço permite também o
desenvolvimento de uma nova visão de mundo pelos que nele estão envolvidos.
O Resgate tem por objetivo auxiliar na constituição de sujeitos politicamente ativos,
seja na Universidade ou nas comunidades em que vivem; a vivência nesse espaço permite
afirmar que esse objetivo é alcançado. A relação desenvolvida entre os alunos é
extremamente colaborativa e, ao mesmo tempo, autônoma, o que vai de acordo com os
ideais da instituição. A partir da prática do Pré-Vestibular popular, então, a instituição
busca promover a democratização do ensino superior; afinal, o acesso à universidade
pública é um direito de todos.
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