Capítulo 3-Potencial eletrico CAPÍTULO 3 POTENCIAL ELÉTRICO Introdução Sabemos que é possível introduzir o conceito de energia potencial gravitacional porque a força gravitacional é conservativa. A Lei de Gravitação Universal de Newton e a Lei de Coulomb são muito parecidas. FE m -FG m 1 FG 2 q2 -FE ^r q1 r Gm1m2 FG = rˆ r2 ^r r kq q FE = − 12 2 rˆ r Figura 32- Lei da gravitação Universal de Newton e Lei de Coulomb. Mostraremos que a força elétrica também é conservativa. Por isso, é possível definir o conceito de energia potencial elétrica e de potencial elétrico. C C 1 F F dr1 A dr B dr2 C B A 2 dr F F Figura 33- Trabalho de uma força conservativa. Uma força é dita conservativa quando o trabalho realizado por ela independe da trajetória: r r r r • = F d r F 1 ∫ ∫ • dr2 . C1 C2 Uma manipulação simples da expressão anterior permite definir uma força conservativa como aquela cujo trabalho em uma trajetória fechada é nula: r r r r r r r r • = • ⇒ • − F d r F d r F d r F 1 2 1 ∫ ∫ ∫ ∫ • dr2 C1 C2 C1 C2 r r r r ⇒ ∫ F • dr1 + ∫ F • dr3 =0 ⇒ C1 C3 r r ∫ F • dr = 0. C Maria Antonieta Teixeira de Almeida pág. 29 Capítulo 3-Potencial eletrico r r r onde dr3 = dr = −dr2 são deslocamentos sobre a trajetória C3 - que tem a forma da trajetória C2, mas com deslocamentos em em sentido oposto. Demonstraremos conservativa. geometricamente que a força elétrica Fo é B rA A dr q o rB q Figura 34- Trabalho em trajetória radial O trabalho realizado pela força eletrostática que atua em uma carga pontual qo quando ela se desloca radialmente é B r qq o qq o 1 1 W A→ B ( Fo ) = ∫ dr = − ( − ). 2 4πε o rB rA 4πε o r A rA A q Fo B q o dr rB dr rC C Fo Figura 35- Trabalho em uma trajetória do tipo degrau A trajetória da Figura 35 é constituída por uma parte radial e outra com forma de arco de círculo.Denominaremos essa trajetória degrau. O trabalho realizado pela força elétrica em uma trajetória degrau é r r r W A→C ( Fo ) = W A→ B ( Fo ) + WB →C ( Fo ) = B C qq o o dr + ∫A 4πε o r 2 ∫B Fo dr cos(90 ) = = kqq o ( 1 1 1 1 − ) = kqq o ( − ). rB rA rC r A Denominaremos escada a trajetória formada por vários degraus. A Figura 36 mostra uma escada com dois degraus. B C D A E Figura 36- trajetória do tipo escada. O Maria Antonieta Teixeira de Almeida pág. 30 Capítulo 3-Potencial eletrico Provaremos por indução que o trabalho realizado pela força elétrica em uma trajetória com N degraus é dado por r qq o 1 1 Wi → f ( Fo ) = ( − ), 4πε o ri r f onde ri e rf são os raios do ponto inicial e do ponto final da escada. Na Figura 36, ri e rf seriam os raios dos pontos A e do ponto E. Vamos supor que o trabalho realizado em uma escada com N-1 degraus é dada pela expressão anterior: r qq o 1 1 Wi → N −1 ( Fo ) = ( − ), 4πε o ri rN −1 onde ri é o raio do ponto inicial da escada e rN-1 é o raio do penúltimo degrau da escada. Na Figura 36 , ri seria o raio do ponto A e rN-1 seria o raio do ponto C. O trabalho da força elétrica na escada com N degraus é dado por 1 1 1 1 1 1 + kqqo Wi → N = Wi → N −1 + W N −1→ N = kqqo − − = kqqo − r −1 r r r f f ri rN −1 N i Portanto, acabamos de provar que o trabalho realizado pela força elétrica, em uma trajetória do tipo escada, não depende do número de escadas e é dado pela seguinte expressão: 1 1 Wi → N = kqqo − . r r f i c Fo qo dr B B A A q Figura 37- trabalho em uma trajetória qualquer. r O trabalho realizado pela força elétrica Fo na trajetória C é r r r WC ( Fo ) = ∫ Fo • dr . C A Figura 37 mostra uma trajetória do tipo escada cujo início coincide com o ponto A e o final com o ponto B. O trabalho realizado pela r força Fo nessa trajetória é Maria Antonieta Teixeira de Almeida pág. 31 Capítulo 3-Potencial eletrico 1 1 W A→ B = kqqo − . rA rB O trabalho realizado pela força elétrica na trajetória escada e na trajetória C são diferentes porque as trajetórias são diferentes. O trabalho realizado pela força elétrica na trajetória escada e na trajetória C tornam-se mais parecidos se utilizarmos escadas com um número muito grande de escadas. Por isso, podemos calcular o trabalho r realizado pela força Fo na trajetória da seguinte forma: r WC ( Fo ) = lim N →∞ Wescada . r Vimos que o trabalho realizado pela força Fo em uma escada só depende dos pontos inicial e final da escada. Como esses pontos não mudam no processo de limite, o trabalho na escada permanece constante e igual a 1 1 Wescada = kqqo − . rA rB r Conseqüentemente o trabalho realizado pela força Fo na trajetória C é dado por: r 1 1 WC ( Fo ) = kqq o − . rA rB A expressão anterior mostra que o trabalho devido à força elétrica que o campo elétrico de uma carga pontual exerce outra carga pontual não depende da forma da trajetória, só depende do seu ponto final e do seu ponto inicial. Logo, a força elétrica é conservativa. Nesse caso, podemos definir uma energia potencial elétrica associada à carga elétrica qo da seguinte forma: B r 1 r 1 U B = − ∫ Fo • dr = kqq o − , o rB ro onde ponto o ponto O é escolhido arbitrariamente e é denominado origem da energia potencial elétrica. A expressão anterior mostra que a energia potencial do ponto O é nula. Também é nítido que a energia potencial definida dessa forma depende da coordenada do ponto que é escolhido como origem do potencial. Quando o ponto o estiver no infinito a energia potencial UB da kqqo carga elétrica qo é U B = . rB Quando o ponto o estiver a um metro da carga elétrica q a nova expressão U´B da energia potencial da carga elétrica se reduz a U ´B = kqqo − kqqo . rB Maria Antonieta Teixeira de Almeida pág. 32 Capítulo 3-Potencial eletrico A observação das expressões UB e U´B nos permite tirar as seguintes conclusões. Escolhas diferentes da origem da energia potencial dão origem à constantes diferentes nas expressões dessa energia. U (r ) = onde C = − kqqo +C, r kqqo . ro No caso em que a origem é escolhida no infinito a constante é nula; no caso em que a origem foi escolhida em 1 a constante é kqqo. A diferença da energia potencial entre dois pontos não depende da escolha da energia potencial, uma vez que UB −U A = kqqo kqq o kqq o kqqo − − − rB ro ro rA kqqo kqqo = − . rB rA A força elétrica exercida por várias cargas elétricas pontuais sobre uma carga elétrica qo também é conservativa uma vez que N r r 1 r N Br r N 1 F = F • d r = F • d r = ∑ kqi q o − . ∑ ∑ ∑ oi oi oi ∫ ∫ A C C i =1 i =1 i i =1 riA riA r r ∫ Fo • dr = ∫ C N A generalização da expressão anterior para uma distribuição contínua de carga é imediata. Portanto, a energia potencial elétrica de uma carga elétrica qo na presença de uma distribuição de carga elétrica qualquer r r B r B r é dada por U B = − ∫ Fo • dr = − ∫ q o E • dr . o o A energia potencial elétrica por unidade de carga elétrica é denominada potencial elétrico. VB = B r UB r = − ∫ E • dr . o qo A expressão anterior mostra que o potencial elétrico só depende do ponto e do campo elétrico. Ele não depende da carga de prova. Por isso, dizemos que o potencial elétrico é uma propriedade do campo elétrico. O potencial elétrico também depende da escolha da origem e potencial. Todavia a diferença de potencial independe da posição da origem da energia potencial (origem do potencial). O potencial elétrico associado ao campo elétrico de uma da carga elétrica pontual q é dado por: VB = 1 UB 1 = kq − , qo rB ro No caso em que a origem do potencial elétrico é colocada no infinito a expressão anterior se reduz a Maria Antonieta Teixeira de Almeida pág. 33 Capítulo 3-Potencial eletrico VB = kq . r Essa expressão mostra que todos os pontos das superfícies esféricas com centro na carga elétrica q têm o mesmo valor do potencial elétrico. Por isso, elas são denominadas superfícies equipotenciais. V1 V1 V2 V2 q q q> 0 q< 0 Figura 38-Linhas de campo e eqüipotenciais de cargas pontuais positivas e negativas. Na Figura 38 observamos que 1. as linhas de campo e o campo elétrico perpendiculares às superfícies eqüipotenciais; são 2. o campo elétrico aponta para as regiões onde o potencial elétrico está diminuindo; 3. a força elétrica exercida pelo campo elétrico em uma carga de prova positiva qo tem a direção e o sentido do campo elétrico. Por isso, as cargas elétricas positivas se deslocam espontaneamente para as regiões onde o potencial elétrico é menor; 4. a força elétrica exercida pelo campo elétrico em uma carga de prova negativa qo tem a direção do campo elétrico e o sentido contrário. Por isso, as cargas elétricas negativas se deslocam espontaneamente para as regiões onde o potencial elétrico é maior. O potencial elétrico associado a N cargas elétricas pontuais reduz-se a N B r r N kq VB = ∑ ∫ Ei • dr = ∑ i . o i =1 i =1 riB Maria Antonieta Teixeira de Almeida pág. 34 Capítulo 3-Potencial eletrico Exemplo 1: A Figura 39 mostra um dipolo elétrico localizado no eixo OX. Y B h A d q M -q X 2d Figura 39- Potencial de um dipolo elétrico A distância entre as cargas elétrica é 2d. Calcule o potencial 1. no ponto A que dista x da origem do eixo OX; 2. no ponto B sobre a reta paralela ao eixo OY que passa pelo ponto médio da distância entre as cargas elétricas.A distância do ponto B ao eixo OX é h. Resolução: O potencial elétrico no ponto A é VA = kq kq 1 d 1 . − = kq − = − kq x x−d x x−d x(( x − d ) ) O potencial elétrico no ponto B é VA = kq kq − = 0. r+ B r− B Observe na Figura que r+ B e r− B são iguais. Exemplo 2: Calcule o potencial de um ponto localizado no eixo que é perpendicular ao plano do anel e passa pelo seu centro. A carga elétrica total do anel q está uniformemente distribuída no anel. Y Y q q dq R d X A r d X A Figura 40- Potencial no eixo de simetria do anel Maria Antonieta Teixeira de Almeida pág. 35 Capítulo 3-Potencial eletrico Resolução: Para calcular o potencial criado pelo anel vamos dividir o anel em cargas elétricas quase pontuais. O potencial elétrico do anel pode ser calculado somando-se os potenciais das cargas quase pontuais do anel. Como a distribuição de cargas elétrica é contínua, essa soma é uma integral. VA = ∫ kdq k kq = ∫ dq = = r r r kq d 2 + R2 . Exemplo3: Calcule o potencial elétrico de um campo elétrico constante e igual a r E = Eo iˆ , onde iˆ é o vetor unitários da direção do eixo OX. Desenhe as superfícies eqüipotenciais associadas a esse campo elétrico. E Y Y X O V2 V1 E X O Figura 41- Eqüipolências e linhas de campo de um campo elétrico constante. Resolução: O potencial elétrico é dado por: B r B r r VB = − E • dr = − Eo iˆ • dr = − ∫ o ∫ o ∫ B o E o dx = − E o ∫ dx = − E o ( x B − xo ) B o Se escolhermos a origem do potencial elétrico na origem vemos que o potencial elétrico do campo elétrico constante se reduz a V ( x) = − Eo x . A expressão anterior mostra que as superfícies eqüipotenciais são planos perpendiculares ao eixo OX. Na Figura 41 observamos os que as linhas de campo e o campo elétrico são perpendiculares às superfícies eqüipotenciais; 1. o campo elétrico aponta para as regiões onde o potencial elétrico está diminuindo. 2. a força elétrica exercida pelo campo elétrico em uma carga de prova positiva qo tem a direção e o sentido do campo elétrico. Por isso, as cargas elétricas positivas se deslocam espontaneamente para as regiões onde o potencial elétrico é menor; 3. a força elétrica exercida pelo campo elétrico em uma carga de prova negativa qo tem a direção do campo elétrico e o sentido contrário. Por isso, as cargas elétricas negativas se deslocam espontaneamente para as regiões onde o potencial elétrico é maior. Maria Antonieta Teixeira de Almeida pág. 36 Capítulo 3-Potencial eletrico As propriedades 2 e 3 valem sempre e estão relacionadas à definição do campo elétrico. As propriedades 1 é geral e pode ser demonstrada: a variação de potencial é B A r r VB − VA = ∫ dV = − ∫ E • dr . A A A expressão anterior permite escrever a diferencial do potencial r r elétrico: dV = − E • dr . r Quando o deslocamento dr é paralelo ao campo elétrico a variação de potencial é dV = − E dr < 0 . Por isso o campo elétrico aponta da direção em o potencial elétrico diminui. Quando o deslocamento é perpendicular ao campo elétrico a variação de potencial elétrico é nula. Por isso, o campo elétrico é perpendicular às superfícies eqüipotenciais. A expressão da diferencial do potencial permite calcular o campo elétrico a partir da expressão do potencial elétrico. Quando o deslocamento ocorre na direção do eixo OX, o vetor r deslocamento é dr = dx iˆ . Nesse caso, a variação do potencial é dV = − E x dx . Portanto a componente do campo elétrico na direção o eixo dV OX é E x = − . Como a variação do potencial elétrico foi realizada na dx direção do eixo OX, as coordenadas y e z permaneceram constante. Por isso, a derivada que aparece na expressão do campo elétrico é uma derivada ∂V . parcial: E x = − ∂x Deslocamentos na direção do eixo OY e OZ fornecem para as componentes do campo elétrico nessa direção as expressões Ey = − ∂V ∂y e Ez = − ∂V . ∂z 1. A diferença de potencial é VB = B r UB r = − ∫ E • dr . o qo 2. O potencial elétrico de uma carga elétrica pontual é VB = kq + C . A constante C é r determinada pela posição da origem o do potencial elétrico. 3. Vale o princípio da superposição para o potencial elétrico, isto é, N VB = ∑ i =1 kqi +C . riB 4. A relação entre o campo elétrico e o potencial elétrico é ∂V E = − ∂V ∂V Ex = − Ez = − y ∂y e ∂x , ∂z . Maria Antonieta Teixeira de Almeida pág. 37 Capítulo 3-Potencial eletrico Questionário 3 1. Qual energia potencial elétrica associada a uma carga elétrica localizada em uma região do espaço onde existe um campo elétrico constante? 2. A energia potencial elétrica associada a um campo elétrico tem alguma arbitrariedade na sua definição? Qual? 3. Qual o valor da energia potencial elétrica no ponto que é escolhido como a origem da energia potencial elétrica? 4. A energia potencial elétrica muda quando a sua origem é deslocada para outro ponto? E a diferença de energia potencial elétrica? 5. O que é potencial elétrico? 6. Qual a expressão do potencial elétrico criado por um campo elétrico constante? Ele tem alguma arbitrariedade na sua definição? 7. O que é origem do potencial? 8. O potencial elétrico muda quando a origem do potencial elétrico é deslocada para outro ponto? E a diferença de potencial? 9. Marque a alternativa correta: ( ) As cargas elétricas positivas e negativas se deslocam espontaneamente para as regiões em que o potencial elétrico é menor. ( ) As cargas elétricas positivas se deslocam espontaneamente para as regiões em que o potencial elétrico é menor, e as cargas elétricas negativas se deslocam espontaneamente para regiões em que o potencial elétrico é maior. 10. O que é uma superfície equipotencial? 11. Qual a direção do campo elétrico na superfície equipotencial? 12. É possível calcular o campo elétrico quando se conhece o potencial elétrico em todo o espaço? De que forma? Maria Antonieta Teixeira de Almeida pág. 38 Capítulo 3-Potencial eletrico Exercício 5 Escreva a expressão do potencial elétrico associada ao um campo elétrico constante E=1000V/m representado na figura abaixo nos seguintes casos: a) A origem do potencial elétrico está em y= 0 m. b) A origem do potencial elétrico está em y=1 m. Figura 42- Exercício 5 Exercício 6 Na fotografia abaixo, sementes de grama foram colocadas sobre óleo na presença de dois terminais carregados com cargas opostas. Um dos terminais é um disco com raio pequeno e o outro é uma coroa circular(não aparece na fotografia). O centro do disco coincide com o centro da coroa circular. Desenhe uma linha equipotencial. Justifique a sua resposta. Figura 43 – Linhas de força Maria Antonieta Teixeira de Almeida pág. 39