relatos de pesquisa ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO DO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA FRENTE AO INDIVÍDUO PORTADOR DE TRANSTORNO MENTAL Luana Araújo dos Reis* Flávia Rocha Brito** Vanessa dos Santos Moreira*** Aline Cristiane de Sousa Azevedo Aguiar**** RESUMO O presente artigo discute sobre a atuação do enfermeiro no Programa de Saúde da Família (PSF) junto a portadores de transtorno mental. Os dados apresentados são resultantes de uma pesquisa qualitativa, descritiva, exploratória, desenvolvida com 09 enfermeiros que atuam no PSF em uma cidade do estado da Bahia. As informações foram coletadas através do questionário semiestruturado aplicados no período de Novembro de 2010. Os dados coletados foram analisados através da Análise de Conteúdo Temática Categorial de Bardin. A partir dos resultados obtidos identificou-se que os enfermeiros conhecem a proposta da reforma psiquiátrica, embora não realizem um trabalho efetivo ligado ao portador de transtorno mental, realizando apenas encaminhamentos para os serviços de referência. Palavras-chave: Programa de Saúde da Família. Saúde Mental. Cuidados de Enfermagem. *Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem pela Universidade Federal da Bahia - UFBA. E-mail: [email protected] Endereço para correspondência: Av. Centenário, 33, APTO 304, CEP 40.155-150 Salvador, Bahia, Brasil. Telefone: (71) 9284-3044 **Enfermeira no Programa de Saúde da Família em Pau-a-pique, Bahia, Brasil. E-mail: [email protected] ***Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal da Bahia - UFBA. Salvador, Bahia, Brasil. E-mail: [email protected] ****Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem pela Universidade Federal da Bahia - UFBA. E-mail: [email protected] 1 INTRODUÇÃO A história da doença mental é relatada desde os primórdios da civilização, onde a pessoa considerada anormal era abandonada à sua própria sorte, para morrer de fome ou por ataque de animais (RODRIGUES, 2001). Saindo dos primórdios e se tratando da atualidade a doença mental tem como causas fatores psicológicos, C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p.175-187, jul./dez. 2013 175 Luana A. Reis, Flávia R. Brito, Vanessa S. Moreira, Aline C. S. A. Aguiar biológicos e sociais, necessitando assim da Família (PSF) se torna um elo de uma assistência e apoio adequado importante para o indivíduo portador de transtorno acompanhamento de alguns casos em mental. que o sofrimento mental está presente. A assistência em saúde mental tem na identificação Considera-se que a e atenção passado, no Brasil, por um processo de básica/saúde da família é a porta de grande mudança, movido principalmente entrada preferencial de todo o Sistema de pela reforma psiquiátrica que teve como Saúde, inclusive no que diz respeito às objetivo a mudança efetiva de concepção necessidades da sociedade com relação à loucura. usuários. Assim deve fazer uma busca e Até bem assistência pouco ao tempo, doente de saúde mental dos a resgatar cada usuário que sofre de mental transtorno mental, investindo no seu apresentava-se centrada nos hospitais comprometimento com o tratamento psiquiátricos, onde o paciente era apenas (SILVA; FUREGATO; LOBO, 2003). submetido à internação e à medicalização O PSF constitui uma estratégia dos sintomas demonstrados, fazendo com adequada para trabalhar a saúde mental, que o paciente ficasse excluído do pois convívio familiar e social (COLVERO, engajadas no dia-a-dia da comunidade, 2002). com Após a década de 1990, a suas a equipes perspectiva condições de apresentam-se de vida da as população, implantação da reforma se intensificou e incorporando incorporou educação para a saúde (ROSA; LABATE, novas estratégias para o atendimento de doença mental como o atendimento ambulatorial, a proposta de criação dos Centros de ações melhorar de promoção e 2003). Esta Estratégia possui algumas Atenção características que possibilitam a inserção Psicossocial (CAPS) e a idéia de envolver das ações de saúde mental, isto é, a a rede de atenção básica na assistência à equipe de saúde da família atua na saúde mental (VASCONCELOS, 1997). comunidade; Com a alternativa da implantação da atenção básica ao portador de transtorno mental, o Programa de Saúde 176 descentraliza a relação médico-paciente para a relação usuárioequipe; aperfeiçoa a cobertura e conquista a universalidade - atende por C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 175-187, jul./dez. 2013 Atuação do enfermeiro do programa de saúde da família frente ao indivíduo portador de transtorno mental necessidade e não por demanda – atuação do enfermeiro da Unidade de contribui Saúde da Família frente a uma pessoa para a participação da comunidade nas ações de saúde e finalmente acolhe e escuta portadora de transtorno mental? No intuito de obter respostas para as necessidades do usuário (LANCETTI, tal 2001). objetivos do presente estudo: conhecer a Os profissionais de enfermagem do PSF precisam então, conhecer e questionamento elegemos atuação do enfermeiro no Programa de Saúde da Família junto a portadores de compreender todo este contexto em que transtorno se insere o doente, oferecer apoio e concepções do orientações enfermagem acerca necessárias e ajudar o como mental, identificar as profissional de da reforma portador a ser participante ativo do psiquiátrica, caracterizar as ações que processo terapêutico. É preciso trabalhar este profissional realiza com pessoas com junto ao doente e também seus familiares este tipo de sofrimento na comunidade, na compreensão da doença, para que a bem partir concepções atribuídas pelos enfermeiros disso, aconteça realmente a A formação específica voltada para área de saúde mental pode proporcionar uma ampliação de horizontes, conduzirem reflexão humanização, sobre o respeito, processo conhecer e analisar as de um PSF ao acolhimento e trabalho, melhoria na qualidade de vida de todos. a como de compromisso, com vistas à produção do cuidado em saúde mental. Acredita-se na relevância teórica e social deste estudo tendo em vista que o mesmo busca relacionar informações aceitação, responsabilidade que devem sobre a atuação dos profissionais de permear o que preconiza a Reforma enfermagem no contexto da saúde mental Psiquiátrica, ao no PSF. Além de poder contribuir para saúde que a assistência de enfermagem ao atendimento que é estendida básico de (VENTURINE, 2001). Considerando portador o exposto, o de transtorno mental seja inserida em PSF e de forma totalmente presente estudo buscou responder a qualificada. seguinte questão: Como tem sido a oferecer Neste subsídios contexto, aos C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 175-187, jul./dez. 2013 busca-se acadêmicos, 177 Luana A. Reis, Flávia R. Brito, Vanessa S. Moreira, Aline C. S. A. Aguiar profissionais de enfermagem e de saúde Colpocitologia Oncótico de atualização, Planejamento Familiar, ações em Adulto/Idoso (Hipertensão e Diabetes), prestada ao Imunização (Administração de vacinas), forma geral direcionamento, relação à para de a suas assistência portador de transtorno mental. (Preventivo); Atenção ao distribuição de medicamentos através da farmácia básica, marcação de consultas 2 MATERIAIS E MÉTODOS com os profissionais citados anteriormente, realização de curativos, Para viabilizar objetivos o propostos alcance nebulização. estudo, Fizeram parte da pesquisa 09 o enfermeiros que atuam nas referidas USF desenvolvimento de um estudo descritivo escolhidos aleatoriamente, entre homens seguindo a metodologia de pesquisa e mulheres. Adotou-se como técnica para qualitativa, porque valoriza a presença do coleta dos dados o questionário semi- entrevistado, as estruturado, que pode ser definido como o “uma técnica de investigação composta informante alvo alcance a liberdade e a por um número mais ou menos elevado espontaneidade de questões apresentadas por escrita às considerou-se perspectivas pelo dos pertinente oferecendo possíveis todas para que necessárias, enriquecendo a investigação. pessoas, O campo de estudo para a coleta tendo conhecimento de por objetivo opiniões, o crenças, dos dados corresponde a 09 Unidades de sentimentos, Saúde da Família (USF), situadas numa situações vivenciadas etc” (GIL, 1999). cidade do estado da Bahia e escolhidas O interesses, questionário expectativas, semi-estruturado aleatoriamente. São unidades compostas contou com duas partes. A primeira por correspondeu enfermeiro, médico, agente a caracterização dos comunitário de saúde, funcionário de informantes serviço aos formação, pós-graduação e tempo de moradores de sua área de abrangência, serviço na instituição. A segunda parte do os e questionário contou com perguntas 04 Desenvolvimento (CD) em atenção à perguntas no intuito de responder os criança, Atenção a Mulher (Pré-Natal); objetivos 178 geral, serviços vigilante. de: Oferece Crescimento da como sexo, pesquisa, tempo como: de Você C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 175-187, jul./dez. 2013 Atuação do enfermeiro do programa de saúde da família frente ao indivíduo portador de transtorno mental conhece a Reforma Psiquiátrica? São relacionado-os oferecidos para a profissional capacitação propostos e com instrumento de coleta para atuar com portadores de transtorno dos mental? Quais as ações voltadas para o categorias, buscando embasamento na portador fundamentação teórico-metodológica que de transtorno mental desenvolvidas na USF? Você se sente dados, com os construindo objetivos assim as contextualiza o objeto de estudo. preparado para cuidar de um paciente com transtorno mental? Após a coleta, as informações foram minuciosamente Categoria 1 – Conhecimento acerca da Reforma Psiquiátrica analisadas A categoria “Conhecimento acerca utilizando-se a técnica de Análise de da Reforma Psiquiátrica” serviu como Conteúdo Temática Categorial de Bardin. base para análise de questões que Todo o processo de tratamento das envolvem exatamente o conhecimento informações foi realizado considerando os que os enfermeiros possuem sobre saúde significados nas falas de informantes mental. individualmente, referentes à atuação do Um dos principais objetivos da enfermeiro do PSF frente a um indivíduo Reforma Psiquiátrica, foi reduzir leitos e portador de transtorno mental. superar Os procedimentos de coleta de informações foram instituídos após a condução cronificante de “moradores dentro do hospital”, com esse novo conceito surgiu à formação de novas aprovação pela Comissão de Ética da alternativas Faculdade de Tecnologia e Ciências - portadores FTC, garantindo assim uma permanência fora sob obedecendo parecer à Nº 187/2010, resolução196/96 do Conselho Nacional de Saúde. ANÁLISE E DISCUSSÃO RESULTADOS de tratamentos transtorno para mental, do hospital (FURTADO, 2006). A Figura 1 mostra que ao serem questionados 3 de DOS Psiquiátrica, acerca 100% da dos Reforma informantes afirmaram possuir conhecimento. Esta fase foi desenvolvida a partir dos campos semânticos estabelecidos, C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 175-187, jul./dez. 2013 179 Luana A. Reis, Flávia R. Brito, Vanessa S. Moreira, Aline C. S. A. Aguiar Figura 1 – Conhecimento acerca da Reforma Psiquiátrica. Jequié/BA, 2010. ao mesmo tempo ouvindo e auxiliando na sua reabilitação, construindo uma melhor 10 qualidade de vida (VILLELA; SCATENA, 8 6 Possuem conhecimento. 4 Não possuem conhecimento. 2004). Desde a década de 90, do século 2 XX, a atenção 0 enfermagem direciona direcionou a de novas diferenciadas ao os tratamento, que se respeito e dignidade para com o enfermo, pretende com a Reforma Psiquiátrica, estimulando-o sempre no autocuidado e venham novas na sua reinserção em grupos sociais e alternativas e com isso beneficiar os comunitários (VILLELA; SCATENA, 2004). portadores espera-se atividades que enfermeiros isso profissional formas em cuidar do doente mental, pois Fonte: Dados da Pesquisa (2013) Com se do conhecendo implantar de o essas deficiência implicando atitudes de mental inserindo-os na comunidade. Retirar esses pacientes de dentro Categoria 2 - Capacitação oferecida aos profissionais do hospital, não significa apenas curá-los, A Figura 2 traz informações ou deixarem isolados na sociedade, mas referentes sim realizar ações que possam integrá-lo capacitação dada aos profissionais que novamente ao convívio social, adaptando atuam nos Programas de Saúde da em grupos para está se inter-relacionando Família para atender aos portadores de (TENÓRIO, 2002). transtorno mental. Essa com des-hospitalização uma perspectiva de ocorre acolher o indivíduo, auxiliando-o em uma história de vida em um contexto social e psicossocial e tendo o profissional de enfermagem um papel importante para essa atuação, à existência ou não de Figura 2 - Capacitação oferecida aos profissionais. Jequié/BA, 2010 8 6 4 2 Afirmam ter recebido capacitação. Afirmam não ter recebido capacitação. 0 oferecendo assim uma intervenção terapêutica de qualidade ao paciente, e 180 Fonte: Dados da Pesquisa (2013) C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 175-187, jul./dez. 2013 Atuação do enfermeiro do programa de saúde da família frente ao indivíduo portador de transtorno mental 90% dos entrevistados afirmaram não haver reconheçam capacitação, a embora importância do deveriam treinar os funcionários, oferecendo a estes oportunidades de conhecimentos que respondesse às exercício exigências do setor saúde. Com isso profissional. E 10% afirmaram terem podemos observar que o profissional se recebido sente conhecimento, para capacitação o através de mais estimulado para está realizando novas práticas em saúde, além seminários e palestras. A falta de formação específica pode ser considerada uma dificuldade do paciente também ser beneficiado (KURCGANT, 1991). a As instituições são responsáveis implantação de novas práticas de saúde, pela educação de seus funcionários, principalmente no que diz respeito ao que acreditando se refere como novo (VANDERLEI, 2005). funcionários no local de trabalho auxilia É importante que na atualidade, na resolução de conflitos, e na mudança profissionais de saúde, estejam inseridos de comportamento de seus trabalhadores, num arrojado processo de atualizações favorecendo o alcance dos objetivos permanente. A capacitação no PSF é institucionais (KURCGANT, 1991). formando uma barreira para que a educação dos necessária, para que o enfermeiro possa Quando concordamos em ressaltar administrar com competência todos os a importância da qualificação é porque processos que compreendam a gestão do acreditamos que a pessoa com esse cuidado em saúde e acompanhar as conhecimento, procura transformar sua mudanças no sistema de saúde (BRASIL, realidade, e fazer transformações. Se 2003). todas as enfermeiras tivessem de conhecimento sobre a implantação de profissionais capacitados para o alcance saúde mental na atenção básica ficaria das suas metas e objetivos. Para tal se mais fácil está realizando esse processo, faz necessário um trabalho contínuo com mesmo com as limitações vigentes, afinal os funcionários, tendo como estratégia a dificilmente se encontra condições ideais capacitação do mesmo no seu local de de trabalho. As organizações precisam trabalho. Desse modo, as organizações C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 175-187, jul./dez. 2013 181 Luana A. Reis, Flávia R. Brito, Vanessa S. Moreira, Aline C. S. A. Aguiar Categoria 3 - Ações desenvolvidas na USF Diante das ações prestadas pelos enfermeiros deste setor, uma pequena parcela (10%) não portadores de transtornos mentais; uma parcela demonstra destes atitudes correspondendo a 70% parcela profissionais pró-ativas, dos casos recebidos, nos quais, são prontamente, Conforme pode ser enfermeiros estes pacientes (10%) para o médico. A intervenção conjunta da equipe em saúde mental e o PSF têm como estratégia atingir a meta de substituição do confinamento nos hospitais psiquiátricos pelo cuidado comunitário das pessoas que sofrem com transtornos mentais (SOUZA, 2006). As encaminhados aos Centros de Atenção Psicossocial. dos encaminhou desenvolve procedimentos voltados para os pacientes grande Neste ponto em especial apenas uma unidades básicas sejam capazes de resolver 85% dos problemas de saúde em suas comunidades, cabe observado na Figura 3. aos profissionais prestar atendimento de Figura 3 - Ações desenvolvidas pelos profissionais na USF. Jequié/BA, 2010. Entrega de medicamentos 6 Consultas individualizada s. 4 2 Encaminhamen tos ao CAPS. 0 Visitas Fonte: Dados da Pesquisa (2013) qualidade, com isso evitar internações desnecessárias que venha prejudicar o tratamento do paciente, mas sim melhorar a qualidade do portador de transtorno mental e da sua família (COSTA; CARBONE, 2004). Os profissionais envolvidos no cumprimento destas ações devem ser “pessoas corajosas com vontade de Após a identificação do paciente experimentar, pois vão atuar diretamente ocorre o encaminhamento para o médico com a loucura, com a violência, sem da Unidade de Saúde da Família, onde proteção, sem muros, apenas com o serão avaliados os prontuários e aviados corpo e a inteligência” (LANCETTI, 2001). os medicamentos, para os pacientes que O enfermeiro de PSF deve estar já são tratados a nível hospitalar ou no preparado para o atendimento básico de Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). saúde ao portador de transtorno mental, 182 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 175-187, jul./dez. 2013 Atuação do enfermeiro do programa de saúde da família frente ao indivíduo portador de transtorno mental reduzindo os danos aos envolvidos e uma preparados e 60% afirmaram não estar possível hospitalização do paciente. preparados para atuar no setor de saúde Após a análise bibliográfica, mental, considerando, necessário a percebemos que há a necessidade de atualização em forma de capacitação para pensarmos a atuação dos profissionais mediante sobre as ações de enfermagem psiquiátrica na atualidade e pacientes com distúrbios mentais. sobre o desafio de cuidar. No procedimento descrito acima Figura 4 - Capacidade para cuidar de um portador de transtorno mental. Jequié/BA, 2010 podemos observar que os usuários são encaminhados especializados para e os serviços enfermeiros 5 Afirmam estar preparados para cuidar. 4 3 reconhecem apenas como ações de saúde mental o controle da medicação psiquiátrica e as orientações que realizam Afirmam não estar preparados para cuidar. 2 1 0 raramente. Os enfermeiros referem que não Fonte: Dados da Pesquisa (2013) existe um atendimento específico em saúde mental; as atividades se restringem ao encaminhamento ao serviço especializado em saúde mental, ou a um aconselhamento realizado diante de uma crise. Cabe ao profissional de saúde está realizando novas práticas e não somente fazer o encaminhamento, para locais de Há anos observa-se o aumento de clientes com transtorno mental, e os mesmos ou a família acaba recorrendo aos diversos serviços de saúde, e muitas vezes não recebem a devida atenção profissional. Observa-se a atenção ausente ou inadequada ao portador de transtorno mental em PSF. referência. Categoria 4 - Capacidade para cuidar de um portador de transtorno mental Alguns fatores são responsáveis pela deficiência na identificação e no manejo dos portadores de transtornos Na Figura 4 pode-se verificar que ao abordarmos a capacidade dos mentais: falta de conhecimento do profissional de enfermagem, limitação no enfermeiros, 40% destes afirmaram estar C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 175-187, jul./dez. 2013 183 Luana A. Reis, Flávia R. Brito, Vanessa S. Moreira, Aline C. S. A. Aguiar tempo da consulta para escutar o cliente, identificar, cuidar e orientar o portador de falta de apoio especializado para o transtorno mental, pois nunca se sabe manejo e referência de pacientes com quando esses pacientes vêm à procura esses problemas (OPAS, 1999). desses serviços e não podemos deixar Verificamos que os profissionais, na Unidade de Saúde da Família, nem que os mesmos voltem sem o devido atendimento. sempre estão preparados para cuidar de O enfermeiro de Unidade de Saúde um portador de transtorno mental e sua da Família é o profissional que com maior sintomatologia. freqüência entra em contato com o cliente A prevalência dos transtornos no atendimento primário de saúde (OPAS, mentais e a procura por esses locais de 1991). atendimento equipe enfermeiros, em atividade na rede básica extrema de saúde (atenção primária), não estão importância e que precisa de atenção preparados para dar a devida atenção ao extrema. portador de transtorno mental, apesar de tornam reconheça a A que doença equipe a se de saúde deve Entretanto, observou-se desenvolver ações de identificação e apresentarem intervenção voltadas para este tipo de teórico sobre a doença. O paciente. médio enfermeiro que conhecimento é um dos esteve profissionais da saúde que tem contato pessoas direto, prolongado e constante com os doentes. As pessoas que sofrem precisam clientes da Unidade de Saúde da Família. de alguém que lhes dê os cuidados Está necessários para aliviar tal sofrimento pacientes com transtorno mental, fazer o (FUREGATO, 1999). levantamento das possíveis dificuldades A ligada enfermagem ao O sofrimento portador de sempre das doença mental desse em posição portador, de identificar realizar e os os devidos sempre esteve presente no cotidiano encaminhamentos atuar profissional do enfermeiro. Embora se terapeuticamente sempre que estiver em reconheça que o enfermeiro da área de interação com o paciente. psiquiatria tenha mais experiência, nem A adoção de uma prática que não por isso os profissionais de outras áreas exclua ações promotoras da saúde mental não precisam estar preparados para e atendimento aos casos psiquiátricos 184 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 175-187, jul./dez. 2013 Atuação do enfermeiro do programa de saúde da família frente ao indivíduo portador de transtorno mental precisa estar fundamentado na formação pacientes que requerem uma maior básica do enfermeiro, o que remete à atenção não só com eles, mas com toda a necessidade de coerência entre ensino e família. Os serviços de enfermagem no prática, contribuindo para a conquista do espaço profissional do enfermeiro e para PSF ainda estão um desempenho de melhor qualidade programas já implantados neste serviço, (SOUZA, 2006). orientados para voltados as para os necessidades individuais de cada paciente seja para o 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS programa de hiperdia ou pré-natal, centrado apenas nos mesmos. Intencionou-se com esta pesquisa Entendemos que é um desafio para não apenas abordar a teoria que deve ser os profissionais de saúde é a construção seguida de dessas novas práticas capaz de realizar enfermagem no Programa de Saúde da mudanças e gerar impacto. E para que Família, mas principalmente que existem estas diversas formas de inserir o paciente que vontade e força para novas mudanças em sofre de transtorno mental no serviço de toda a equipe. Isoladamente não se atenção básica. conseguirá mudar, nem mesmo crescer pelos profissionais Foi apresentado com mais ênfase mudanças ocorram é preciso enquanto profissão. neste estudo as vantagens que o PSF Mostramos também a necessidade possui para realizar um trabalho com o das capacitações, isto é, as ações que portador envolvem de transtorno, visto que o o treinamento, formação profissional de enfermagem possui um continuada para manter os profissionais contato habilitados e atualizados, favorecendo a maior com a comunidade, conhecendo seus membros de forma mais competência profissional. contato A partir de então reconhecemos a diariamente com o mesmo. Mas o que necessidade que os enfermeiros do PSF gostaríamos que ficasse como reflexão é tem para implantar essas novas práticas a importância das ações dos enfermeiros de serviço na Unidade e preparar toda a para o cuidado humanizado a esses sua equipe para o desenvolvimento da profunda, pois tem um C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 175-187, jul./dez. 2013 185 Luana A. Reis, Flávia R. Brito, Vanessa S. Moreira, Aline C. S. A. Aguiar mesma. Sabemos que é difícil Concluindo, faz-se necessário desenvolver tantos papéis que vão desde sensibilizar o profissional assistencial e o a assistência ao gerenciamento, ambos docente de fundamental importância, pois afinal implementação de ações específicas no estão inter-relacionados, um depende do cuidado de enfermagem ao portador de outro para sua eficácia e eficiência. transtorno mental em todos os tipos e sobre a importância da níveis de assistência. NURSING ACTION IN FAMILY HEALTH PROGRAM DEALING WITH INDIVIDUALS WITH MENTAL DISORDERS ABSTRACT This article discusses nursing action in a Family Health Program (FHP) for patients with mental disorders. Data presented results from qualitative, descriptive and exploratory research carried out on 09 nurses on duty in a FHP in a town in the state of Bahia. Information was collected using a partially structured questionnaire during the period of November 2010. Data collected was analyzed employing Bardin Thematic Content Analysis (TCA). Based on the results obtained we identified that whilst nurses are aware of the proposal of psychiatric reform, they however do not perform an effective job in relation to patients with mental disorders, merely forwarding these to reference services Keywords: Family Health Program. Mental Health. Nursing Care. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Mental na Atenção Básica: o vínculo e o diálogo necessários. 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