5 Atuação do enfermeiro do Programa de Saúde da Família

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relatos de pesquisa
ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO DO
PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
FRENTE AO INDIVÍDUO PORTADOR DE
TRANSTORNO MENTAL
Luana Araújo dos Reis*
Flávia Rocha Brito**
Vanessa dos Santos Moreira***
Aline Cristiane de Sousa Azevedo Aguiar****
RESUMO
O presente artigo discute sobre a atuação do
enfermeiro no Programa de Saúde da Família
(PSF) junto a portadores de transtorno mental. Os
dados apresentados são resultantes de uma
pesquisa qualitativa, descritiva, exploratória,
desenvolvida com 09 enfermeiros que atuam no
PSF em uma cidade do estado da Bahia. As
informações
foram
coletadas
através
do
questionário semiestruturado aplicados no período
de Novembro de 2010. Os dados coletados foram
analisados através da Análise de Conteúdo
Temática Categorial de Bardin. A partir dos
resultados
obtidos
identificou-se
que
os
enfermeiros conhecem a proposta da reforma
psiquiátrica, embora não realizem um trabalho
efetivo ligado ao portador de transtorno mental,
realizando apenas encaminhamentos para os
serviços de referência.
Palavras-chave: Programa de Saúde da Família. Saúde
Mental. Cuidados de Enfermagem.
*Enfermeira.
Doutoranda
em
Enfermagem
pela
Universidade
Federal da Bahia - UFBA. E-mail:
[email protected]
Endereço
para
correspondência:
Av.
Centenário, 33, APTO 304, CEP
40.155-150 Salvador, Bahia, Brasil.
Telefone: (71) 9284-3044
**Enfermeira no Programa de Saúde
da Família em Pau-a-pique, Bahia,
Brasil.
E-mail:
[email protected]
***Enfermeira.
Mestre
em
Enfermagem
pela
Universidade
Federal da Bahia - UFBA. Salvador,
Bahia,
Brasil.
E-mail:
[email protected]
****Enfermeira.
Doutoranda
em
Enfermagem
pela
Universidade
Federal da Bahia - UFBA. E-mail:
[email protected]
1 INTRODUÇÃO
A história da doença mental é
relatada
desde
os
primórdios
da
civilização, onde a pessoa considerada
anormal era abandonada à sua própria
sorte, para morrer de fome ou por ataque
de animais (RODRIGUES, 2001).
Saindo
dos
primórdios
e
se
tratando da atualidade a doença mental
tem como causas fatores psicológicos,
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p.175-187, jul./dez. 2013
175
Luana A. Reis, Flávia R. Brito, Vanessa S. Moreira, Aline C. S. A. Aguiar
biológicos e sociais, necessitando assim
da Família (PSF) se torna um elo
de uma assistência e apoio adequado
importante
para o indivíduo portador de transtorno
acompanhamento de alguns casos em
mental.
que o sofrimento mental está presente.
A assistência em saúde mental tem
na
identificação
Considera-se
que
a
e
atenção
passado, no Brasil, por um processo de
básica/saúde da família é a porta de
grande mudança, movido principalmente
entrada preferencial de todo o Sistema de
pela reforma psiquiátrica que teve como
Saúde, inclusive no que diz respeito às
objetivo a mudança efetiva de concepção
necessidades
da sociedade com relação à loucura.
usuários. Assim deve fazer uma busca e
Até
bem
assistência
pouco
ao
tempo,
doente
de
saúde
mental
dos
a
resgatar cada usuário que sofre de
mental
transtorno mental, investindo no seu
apresentava-se centrada nos hospitais
comprometimento
com
o
tratamento
psiquiátricos, onde o paciente era apenas
(SILVA; FUREGATO; LOBO, 2003).
submetido à internação e à medicalização
O PSF constitui uma estratégia
dos sintomas demonstrados, fazendo com
adequada para trabalhar a saúde mental,
que o paciente ficasse excluído do
pois
convívio familiar e social (COLVERO,
engajadas no dia-a-dia da comunidade,
2002).
com
Após
a
década
de
1990,
a
suas
a
equipes
perspectiva
condições
de
apresentam-se
de
vida
da
as
população,
implantação da reforma se intensificou e
incorporando
incorporou
educação para a saúde (ROSA; LABATE,
novas
estratégias
para
o
atendimento de doença mental como o
atendimento ambulatorial, a proposta de
criação
dos
Centros
de
ações
melhorar
de
promoção
e
2003).
Esta Estratégia possui algumas
Atenção
características que possibilitam a inserção
Psicossocial (CAPS) e a idéia de envolver
das ações de saúde mental, isto é, a
a rede de atenção básica na assistência à
equipe de saúde da família atua na
saúde mental (VASCONCELOS, 1997).
comunidade;
Com a alternativa da implantação
da
atenção
básica
ao
portador
de
transtorno mental, o Programa de Saúde
176
descentraliza
a
relação
médico-paciente para a relação usuárioequipe;
aperfeiçoa
a
cobertura
e
conquista a universalidade - atende por
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 175-187, jul./dez. 2013
Atuação do enfermeiro do programa de saúde da família frente ao indivíduo portador
de transtorno mental
necessidade e não por demanda –
atuação do enfermeiro da Unidade de
contribui
Saúde da Família frente a uma pessoa
para
a
participação
da
comunidade nas ações de saúde e
finalmente
acolhe
e
escuta
portadora de transtorno mental?
No intuito de obter respostas para
as
necessidades do usuário (LANCETTI,
tal
2001).
objetivos do presente estudo: conhecer a
Os profissionais de enfermagem do
PSF
precisam
então,
conhecer
e
questionamento
elegemos
atuação do enfermeiro no Programa de
Saúde da Família junto a portadores de
compreender todo este contexto em que
transtorno
se insere o doente, oferecer apoio e
concepções
do
orientações
enfermagem
acerca
necessárias
e
ajudar
o
como
mental,
identificar
as
profissional
de
da
reforma
portador a ser participante ativo do
psiquiátrica, caracterizar as ações que
processo terapêutico. É preciso trabalhar
este profissional realiza com pessoas com
junto ao doente e também seus familiares
este tipo de sofrimento na comunidade,
na compreensão da doença, para que a
bem
partir
concepções atribuídas pelos enfermeiros
disso,
aconteça
realmente
a
A formação específica voltada para
área de saúde mental pode proporcionar
uma ampliação de horizontes, conduzirem
reflexão
humanização,
sobre
o
respeito,
processo
conhecer
e
analisar
as
de um PSF ao acolhimento e trabalho,
melhoria na qualidade de vida de todos.
a
como
de
compromisso,
com vistas à produção do cuidado em
saúde mental.
Acredita-se na relevância teórica e
social deste estudo tendo em vista que o
mesmo
busca
relacionar
informações
aceitação, responsabilidade que devem
sobre a atuação dos profissionais de
permear o que preconiza a Reforma
enfermagem no contexto da saúde mental
Psiquiátrica,
ao
no PSF. Além de poder contribuir para
saúde
que a assistência de enfermagem ao
atendimento
que
é
estendida
básico
de
(VENTURINE, 2001).
Considerando
portador
o
exposto,
o
de
transtorno
mental
seja
inserida em PSF e de forma totalmente
presente estudo buscou responder a
qualificada.
seguinte questão: Como tem sido a
oferecer
Neste
subsídios
contexto,
aos
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 175-187, jul./dez. 2013
busca-se
acadêmicos,
177
Luana A. Reis, Flávia R. Brito, Vanessa S. Moreira, Aline C. S. A. Aguiar
profissionais de enfermagem e de saúde
Colpocitologia
Oncótico
de
atualização,
Planejamento
Familiar,
ações
em
Adulto/Idoso (Hipertensão e Diabetes),
prestada
ao
Imunização (Administração de vacinas),
forma
geral
direcionamento,
relação
à
para
de
a
suas
assistência
portador de transtorno mental.
(Preventivo);
Atenção
ao
distribuição de medicamentos através da
farmácia básica, marcação de consultas
2 MATERIAIS E MÉTODOS
com
os
profissionais
citados
anteriormente, realização de curativos,
Para
viabilizar
objetivos
o
propostos
alcance
nebulização.
estudo,
Fizeram parte da pesquisa 09
o
enfermeiros que atuam nas referidas USF
desenvolvimento de um estudo descritivo
escolhidos aleatoriamente, entre homens
seguindo a metodologia de pesquisa
e mulheres. Adotou-se como técnica para
qualitativa, porque valoriza a presença do
coleta dos dados o questionário semi-
entrevistado,
as
estruturado, que pode ser definido como
o
“uma técnica de investigação composta
informante alvo alcance a liberdade e a
por um número mais ou menos elevado
espontaneidade
de questões apresentadas por escrita às
considerou-se
perspectivas
pelo
dos
pertinente
oferecendo
possíveis
todas
para
que
necessárias,
enriquecendo a investigação.
pessoas,
O campo de estudo para a coleta
tendo
conhecimento
de
por
objetivo
opiniões,
o
crenças,
dos dados corresponde a 09 Unidades de
sentimentos,
Saúde da Família (USF), situadas numa
situações vivenciadas etc” (GIL, 1999).
cidade do estado da Bahia e escolhidas
O
interesses,
questionário
expectativas,
semi-estruturado
aleatoriamente. São unidades compostas
contou com duas partes. A primeira
por
correspondeu
enfermeiro,
médico,
agente
a
caracterização
dos
comunitário de saúde, funcionário de
informantes
serviço
aos
formação, pós-graduação e tempo de
moradores de sua área de abrangência,
serviço na instituição. A segunda parte do
os
e
questionário contou com perguntas 04
Desenvolvimento (CD) em atenção à
perguntas no intuito de responder os
criança, Atenção a Mulher (Pré-Natal);
objetivos
178
geral,
serviços
vigilante.
de:
Oferece
Crescimento
da
como
sexo,
pesquisa,
tempo
como:
de
Você
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 175-187, jul./dez. 2013
Atuação do enfermeiro do programa de saúde da família frente ao indivíduo portador
de transtorno mental
conhece a Reforma Psiquiátrica? São
relacionado-os
oferecidos para a profissional capacitação
propostos e com instrumento de coleta
para atuar com portadores de transtorno
dos
mental? Quais as ações voltadas para o
categorias, buscando embasamento na
portador
fundamentação teórico-metodológica que
de
transtorno
mental
desenvolvidas na USF? Você se sente
dados,
com
os
construindo
objetivos
assim
as
contextualiza o objeto de estudo.
preparado para cuidar de um paciente
com transtorno mental?
Após a coleta, as informações
foram
minuciosamente
Categoria 1 – Conhecimento acerca da
Reforma Psiquiátrica
analisadas
A categoria “Conhecimento acerca
utilizando-se a técnica de Análise de
da Reforma Psiquiátrica” serviu como
Conteúdo Temática Categorial de Bardin.
base para análise de questões que
Todo o processo de tratamento das
envolvem exatamente o conhecimento
informações foi realizado considerando os
que os enfermeiros possuem sobre saúde
significados nas falas de informantes
mental.
individualmente, referentes à atuação do
Um dos principais objetivos da
enfermeiro do PSF frente a um indivíduo
Reforma Psiquiátrica, foi reduzir leitos e
portador de transtorno mental.
superar
Os procedimentos de coleta de
informações
foram
instituídos
após
a
condução
cronificante
de
“moradores dentro do hospital”, com esse
novo conceito surgiu à formação de novas
aprovação pela Comissão de Ética da
alternativas
Faculdade de Tecnologia e Ciências -
portadores
FTC,
garantindo assim uma permanência fora
sob
obedecendo
parecer
à
Nº
187/2010,
resolução196/96
do
Conselho Nacional de Saúde.
ANÁLISE E DISCUSSÃO
RESULTADOS
de
tratamentos
transtorno
para
mental,
do hospital (FURTADO, 2006).
A Figura 1 mostra que ao serem
questionados
3
de
DOS
Psiquiátrica,
acerca
100%
da
dos
Reforma
informantes
afirmaram possuir conhecimento.
Esta fase foi desenvolvida a partir
dos campos semânticos estabelecidos,
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 175-187, jul./dez. 2013
179
Luana A. Reis, Flávia R. Brito, Vanessa S. Moreira, Aline C. S. A. Aguiar
Figura 1 – Conhecimento acerca da Reforma
Psiquiátrica. Jequié/BA, 2010.
ao mesmo tempo ouvindo e auxiliando na
sua reabilitação, construindo uma melhor
10
qualidade de vida (VILLELA; SCATENA,
8
6
Possuem
conhecimento.
4
Não possuem
conhecimento.
2004).
Desde a década de 90, do século
2
XX,
a
atenção
0
enfermagem
direciona
direcionou
a
de
novas
diferenciadas
ao
os
tratamento,
que
se
respeito e dignidade para com o enfermo,
pretende com a Reforma Psiquiátrica,
estimulando-o sempre no autocuidado e
venham
novas
na sua reinserção em grupos sociais e
alternativas e com isso beneficiar os
comunitários (VILLELA; SCATENA, 2004).
portadores
espera-se
atividades
que
enfermeiros
isso
profissional
formas em cuidar do doente mental, pois
Fonte: Dados da Pesquisa (2013)
Com
se
do
conhecendo
implantar
de
o
essas
deficiência
implicando
atitudes
de
mental
inserindo-os na comunidade.
Retirar esses pacientes de dentro
Categoria 2 - Capacitação oferecida
aos profissionais
do hospital, não significa apenas curá-los,
A
Figura
2
traz
informações
ou deixarem isolados na sociedade, mas
referentes
sim realizar ações que possam integrá-lo
capacitação dada aos profissionais que
novamente ao convívio social, adaptando
atuam nos Programas de Saúde da
em grupos para está se inter-relacionando
Família para atender aos portadores de
(TENÓRIO, 2002).
transtorno mental.
Essa
com
des-hospitalização
uma perspectiva de
ocorre
acolher
o
indivíduo, auxiliando-o em uma história de
vida em um contexto social e psicossocial
e tendo o profissional de enfermagem um
papel importante para essa atuação,
à
existência
ou
não
de
Figura 2 - Capacitação oferecida aos
profissionais. Jequié/BA, 2010
8
6
4
2
Afirmam ter
recebido
capacitação.
Afirmam não
ter recebido
capacitação.
0
oferecendo
assim
uma
intervenção
terapêutica de qualidade ao paciente, e
180
Fonte: Dados da Pesquisa (2013)
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 175-187, jul./dez. 2013
Atuação do enfermeiro do programa de saúde da família frente ao indivíduo portador
de transtorno mental
90% dos entrevistados afirmaram
não
haver
reconheçam
capacitação,
a
embora
importância
do
deveriam
treinar
os
funcionários,
oferecendo a estes oportunidades de
conhecimentos
que
respondesse
às
exercício
exigências do setor saúde. Com isso
profissional. E 10% afirmaram terem
podemos observar que o profissional se
recebido
sente
conhecimento,
para
capacitação
o
através
de
mais
estimulado
para
está
realizando novas práticas em saúde, além
seminários e palestras.
A falta de formação específica
pode ser considerada uma dificuldade
do paciente também ser beneficiado
(KURCGANT, 1991).
a
As instituições são responsáveis
implantação de novas práticas de saúde,
pela educação de seus funcionários,
principalmente no que diz respeito ao que
acreditando
se refere como novo (VANDERLEI, 2005).
funcionários no local de trabalho auxilia
É importante que na atualidade,
na resolução de conflitos, e na mudança
profissionais de saúde, estejam inseridos
de comportamento de seus trabalhadores,
num arrojado processo de atualizações
favorecendo o alcance dos objetivos
permanente. A capacitação no PSF é
institucionais (KURCGANT, 1991).
formando
uma
barreira
para
que
a
educação
dos
necessária, para que o enfermeiro possa
Quando concordamos em ressaltar
administrar com competência todos os
a importância da qualificação é porque
processos que compreendam a gestão do
acreditamos que a pessoa com esse
cuidado em saúde e acompanhar as
conhecimento, procura transformar sua
mudanças no sistema de saúde (BRASIL,
realidade, e fazer transformações. Se
2003).
todas
as
enfermeiras
tivessem
de
conhecimento sobre a implantação de
profissionais capacitados para o alcance
saúde mental na atenção básica ficaria
das suas metas e objetivos. Para tal se
mais fácil está realizando esse processo,
faz necessário um trabalho contínuo com
mesmo com as limitações vigentes, afinal
os funcionários, tendo como estratégia a
dificilmente se encontra condições ideais
capacitação do mesmo no seu local de
de trabalho.
As
organizações
precisam
trabalho. Desse modo, as organizações
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 175-187, jul./dez. 2013
181
Luana A. Reis, Flávia R. Brito, Vanessa S. Moreira, Aline C. S. A. Aguiar
Categoria 3 - Ações desenvolvidas na
USF
Diante das ações prestadas pelos
enfermeiros deste setor, uma pequena
parcela
(10%)
não
portadores de transtornos mentais; uma
parcela
demonstra
destes
atitudes
correspondendo
a
70%
parcela
profissionais
pró-ativas,
dos
casos
recebidos, nos quais, são prontamente,
Conforme
pode
ser
enfermeiros
estes
pacientes
(10%)
para
o
médico.
A intervenção conjunta da equipe
em saúde mental e o PSF têm como
estratégia atingir a meta de substituição
do
confinamento
nos
hospitais
psiquiátricos pelo cuidado comunitário das
pessoas que sofrem com transtornos
mentais (SOUZA, 2006).
As
encaminhados aos Centros de Atenção
Psicossocial.
dos
encaminhou
desenvolve
procedimentos voltados para os pacientes
grande
Neste ponto em especial apenas uma
unidades
básicas
sejam
capazes de resolver 85% dos problemas
de saúde em suas comunidades, cabe
observado na Figura 3.
aos profissionais prestar atendimento de
Figura 3 - Ações desenvolvidas pelos profissionais
na USF. Jequié/BA, 2010.
Entrega de
medicamentos
6
Consultas
individualizada
s.
4
2
Encaminhamen
tos ao CAPS.
0
Visitas
Fonte: Dados da Pesquisa (2013)
qualidade, com isso evitar internações
desnecessárias que venha prejudicar o
tratamento do paciente, mas sim melhorar
a qualidade do portador de transtorno
mental
e
da
sua
família
(COSTA;
CARBONE, 2004).
Os
profissionais
envolvidos
no
cumprimento destas ações devem ser
“pessoas
corajosas
com
vontade
de
Após a identificação do paciente
experimentar, pois vão atuar diretamente
ocorre o encaminhamento para o médico
com a loucura, com a violência, sem
da Unidade de Saúde da Família, onde
proteção, sem muros, apenas com o
serão avaliados os prontuários e aviados
corpo e a inteligência” (LANCETTI, 2001).
os medicamentos, para os pacientes que
O enfermeiro de PSF deve estar
já são tratados a nível hospitalar ou no
preparado para o atendimento básico de
Centro de Atenção Psicossocial (CAPS).
saúde ao portador de transtorno mental,
182
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 175-187, jul./dez. 2013
Atuação do enfermeiro do programa de saúde da família frente ao indivíduo portador
de transtorno mental
reduzindo os danos aos envolvidos e uma
preparados e 60% afirmaram não estar
possível hospitalização do paciente.
preparados para atuar no setor de saúde
Após
a
análise
bibliográfica,
mental,
considerando,
necessário
a
percebemos que há a necessidade de
atualização em forma de capacitação para
pensarmos
a atuação dos profissionais mediante
sobre
as
ações
de
enfermagem psiquiátrica na atualidade e
pacientes com distúrbios mentais.
sobre o desafio de cuidar.
No procedimento descrito acima
Figura 4 - Capacidade para cuidar de um portador
de transtorno mental. Jequié/BA, 2010
podemos observar que os usuários são
encaminhados
especializados
para
e
os
serviços
enfermeiros
5
Afirmam estar
preparados
para cuidar.
4
3
reconhecem apenas como ações de
saúde mental o controle da medicação
psiquiátrica e as orientações que realizam
Afirmam não
estar
preparados
para cuidar.
2
1
0
raramente.
Os enfermeiros referem que não
Fonte: Dados da Pesquisa (2013)
existe um atendimento específico em
saúde mental; as atividades se restringem
ao
encaminhamento
ao
serviço
especializado em saúde mental, ou a um
aconselhamento realizado diante de uma
crise. Cabe ao profissional de saúde está
realizando novas práticas e não somente
fazer o encaminhamento, para locais de
Há anos observa-se o aumento de
clientes com transtorno mental, e os
mesmos ou a família acaba recorrendo
aos diversos serviços de saúde, e muitas
vezes não recebem a devida atenção
profissional.
Observa-se
a
atenção
ausente ou inadequada ao portador de
transtorno mental em PSF.
referência.
Categoria 4 - Capacidade para cuidar
de um portador de transtorno mental
Alguns fatores são responsáveis
pela deficiência na identificação e no
manejo dos portadores de transtornos
Na Figura 4 pode-se verificar que
ao
abordarmos
a
capacidade
dos
mentais:
falta
de
conhecimento
do
profissional de enfermagem, limitação no
enfermeiros, 40% destes afirmaram estar
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 175-187, jul./dez. 2013
183
Luana A. Reis, Flávia R. Brito, Vanessa S. Moreira, Aline C. S. A. Aguiar
tempo da consulta para escutar o cliente,
identificar, cuidar e orientar o portador de
falta de apoio especializado para o
transtorno mental, pois nunca se sabe
manejo e referência de pacientes com
quando esses pacientes vêm à procura
esses problemas (OPAS, 1999).
desses serviços e não podemos deixar
Verificamos que os profissionais,
na Unidade de Saúde da Família, nem
que os mesmos voltem sem o devido
atendimento.
sempre estão preparados para cuidar de
O enfermeiro de Unidade de Saúde
um portador de transtorno mental e sua
da Família é o profissional que com maior
sintomatologia.
freqüência entra em contato com o cliente
A
prevalência
dos
transtornos
no atendimento primário de saúde (OPAS,
mentais e a procura por esses locais de
1991).
atendimento
equipe
enfermeiros, em atividade na rede básica
extrema
de saúde (atenção primária), não estão
importância e que precisa de atenção
preparados para dar a devida atenção ao
extrema.
portador de transtorno mental, apesar de
tornam
reconheça
a
A
que
doença
equipe
a
se
de
saúde
deve
Entretanto,
observou-se
desenvolver ações de identificação e
apresentarem
intervenção voltadas para este tipo de
teórico sobre a doença.
O
paciente.
médio
enfermeiro
que
conhecimento
é
um
dos
esteve
profissionais da saúde que tem contato
pessoas
direto, prolongado e constante com os
doentes. As pessoas que sofrem precisam
clientes da Unidade de Saúde da Família.
de alguém que lhes dê os cuidados
Está
necessários para aliviar tal sofrimento
pacientes com transtorno mental, fazer o
(FUREGATO, 1999).
levantamento das possíveis dificuldades
A
ligada
enfermagem
ao
O
sofrimento
portador
de
sempre
das
doença
mental
desse
em
posição
portador,
de
identificar
realizar
e
os
os
devidos
sempre esteve presente no cotidiano
encaminhamentos
atuar
profissional do enfermeiro. Embora se
terapeuticamente sempre que estiver em
reconheça que o enfermeiro da área de
interação com o paciente.
psiquiatria tenha mais experiência, nem
A adoção de uma prática que não
por isso os profissionais de outras áreas
exclua ações promotoras da saúde mental
não precisam estar preparados para
e atendimento aos casos psiquiátricos
184
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 175-187, jul./dez. 2013
Atuação do enfermeiro do programa de saúde da família frente ao indivíduo portador
de transtorno mental
precisa estar fundamentado na formação
pacientes
que
requerem
uma
maior
básica do enfermeiro, o que remete à
atenção não só com eles, mas com toda a
necessidade de coerência entre ensino e
família.
Os serviços de enfermagem no
prática, contribuindo para a conquista do
espaço profissional do enfermeiro e para
PSF
ainda
estão
um desempenho de melhor qualidade
programas já implantados neste serviço,
(SOUZA, 2006).
orientados
para
voltados
as
para
os
necessidades
individuais de cada paciente seja para o
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
programa
de
hiperdia
ou
pré-natal,
centrado apenas nos mesmos.
Intencionou-se com esta pesquisa
Entendemos que é um desafio para
não apenas abordar a teoria que deve ser
os profissionais de saúde é a construção
seguida
de
dessas novas práticas capaz de realizar
enfermagem no Programa de Saúde da
mudanças e gerar impacto. E para que
Família, mas principalmente que existem
estas
diversas formas de inserir o paciente que
vontade e força para novas mudanças em
sofre de transtorno mental no serviço de
toda a equipe. Isoladamente não se
atenção básica.
conseguirá mudar, nem mesmo crescer
pelos
profissionais
Foi apresentado com mais ênfase
mudanças
ocorram
é
preciso
enquanto profissão.
neste estudo as vantagens que o PSF
Mostramos também a necessidade
possui para realizar um trabalho com o
das capacitações, isto é, as ações que
portador
envolvem
de transtorno, visto que o
o
treinamento,
formação
profissional de enfermagem possui um
continuada para manter os profissionais
contato
habilitados e atualizados, favorecendo a
maior
com
a
comunidade,
conhecendo seus membros de forma mais
competência profissional.
contato
A partir de então reconhecemos a
diariamente com o mesmo. Mas o que
necessidade que os enfermeiros do PSF
gostaríamos que ficasse como reflexão é
tem para implantar essas novas práticas
a importância das ações dos enfermeiros
de serviço na Unidade e preparar toda a
para o cuidado humanizado a esses
sua equipe para o desenvolvimento da
profunda,
pois
tem
um
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185
Luana A. Reis, Flávia R. Brito, Vanessa S. Moreira, Aline C. S. A. Aguiar
mesma.
Sabemos
que
é
difícil
Concluindo,
faz-se
necessário
desenvolver tantos papéis que vão desde
sensibilizar o profissional assistencial e o
a assistência ao gerenciamento, ambos
docente
de fundamental importância, pois afinal
implementação de ações específicas no
estão inter-relacionados, um depende do
cuidado de enfermagem ao portador de
outro para sua eficácia e eficiência.
transtorno mental em todos os tipos e
sobre
a
importância
da
níveis de assistência.
NURSING ACTION IN FAMILY HEALTH PROGRAM DEALING WITH
INDIVIDUALS WITH MENTAL DISORDERS
ABSTRACT
This article discusses nursing action in a Family Health Program
(FHP) for patients with mental disorders. Data presented results
from qualitative, descriptive and exploratory research carried out on
09 nurses on duty in a FHP in a town in the state of Bahia.
Information was collected using a partially structured questionnaire
during the period of November 2010. Data collected was analyzed
employing Bardin Thematic Content Analysis (TCA). Based on the
results obtained we identified that whilst nurses are aware of the
proposal of psychiatric reform, they however do not perform an
effective job in relation to patients with mental disorders, merely
forwarding these to reference services
Keywords:
Family Health Program. Mental Health. Nursing Care.
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