iii UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE ANÁLISE DO USO DE MEDICAMENTOS PARA HEPATITE C MARCOS CARDOSO RIOS São Cristóvão (SE) 2017 iv UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE ANÁLISE DO USO DE MEDICAMENTOS PARA HEPATITE C MARCOS CARDOSO RIOS Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Sergipe como requisito para obtenção do título de Doutor em Ciências da Saúde. Orientador: Prof. Dr. Ângelo Roberto Antoniolli Co-Orientador: Prof. Dr. Divaldo Pereira de Lyra Júnior SÃO CRISTÓVÃO– SE 2017 v Ficha Catalográfica Elaborada pela Biblioteca Central Universidade Federal de Sergipe Rios, Marcos Cardoso R586a Análise do uso de medicamentos para hepatite C / Marcos Cardoso Rios : orientador Ângelo Roberto Antoniolli. – São Cristovão, 2017. 230 f.:il. Tese (doutorado em Ciências da Saúde) – Universidade Federal de Sergipe, 2017. 1. Hepatite C. 2. Medicamentos – Utilização. 3. Pacientes – Medidas de Segurança. 4. Medicamentos – Efeitos Colaterais. 5. Farmacêuticos. I. Antoniolli, Ângelo Roberto, orint. II. Título. CDU 615.244:616.36-002 iii MARCOS CARDOSO RIOS ANÁLISE DO USO DE MEDICAMENTOS PARA HEPATITE C Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Sergipe como requisito para obtenção do título de Doutor em Ciências da Saúde. Aprovado em: _____/______/______. ________________________________ Orientador: Prof. Dr. Ângelo Roberto Antoniolli __________________________________ Co-Orientador: Prof. Dr. Divaldo Pereira de Lyra Junior ________________________________ Examinador 1: Prof. Drª. Francilene Amaral da Silva __________________________________ Examinador 2: Prof. Drª. Grace Anne Azevedo Dória ________________________________ Examinador 3: Prof. Drª. Mairim Russo Serafini ________________________________ Examinador 4: Prof. Drª. Patrícia Melo Aguiar PARECER _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ iv Não ensine apenas o que conhece. É preciso estudar, porque o que sabemos, muitas vezes, é estatisticamente insiginificante (LYRA Jr, 2017). v RESUMO Rios, M.C. ANÁLISE DO USO DE MEDICAMENTOS PARA HEPATITE C. Tese de Doutorado em Ciências da Saúde, Universidade Federal de Sergipe, 2017. 230p. Introdução: A dinâmica no desenvolvimento e uso de medicamentos, como parte essencial no processo de cuidado ao paciente com hepatite C, exige igual dinâmica na avaliação de sua utilização, como forma de melhorar a oferta de assistência ao paciente. Objetivo: Avaliar o perfil de uso, efetividade e segurança dos medicamentos para o tratamento da hepatite C. Materiais e Métodos: A tese foi dividida em quatro capítulos que buscaram responder aos objetivos específicos da pesquisa. Para tanto: 1- foi realizada uma revisão transversal dos prontuários de todos os pacientes com hepatite C que receberam terapia antiviral com interferon/peginterferon e ribavirina entre os anos de 2002 e 2012; 2-. foram analisados os prontuários de todos os pacientes com hepatite C, tratados com boceprevir ou telaprevir em associação com peginterferon e ribavirina, entre os anos de 2013 a 2015; 3- uma revisão sistemática foi realizada a fim de avaliar a incidência de reações adversas associadas às farmacoterapias; 4- analisou-se a percepção de um grupo de pacientes tratados ou em tratamento com um dos esquemas terapêuticos para hepatite C sobre o impacto das reações adversas. Resultados: no artigo 1 foram analisados 298 tratamentos da hepatite C com interferon/peginterferon, sendo que a resposta sustentada variou de 40,8% a 58,3% entre os pacientes não tratados e previamente tratados com doença recorrente. Quanto ao artigo 2 foram analisados 48 tratamentos que associaram o uso do telaprevir ou boceprevir com peginterferon e ribavirina, apresentando taxas de resposta sustentada que variaram de 61,5% associados ao telaprevir e 50% ao boceprevir. As taxas de resposta diminuíram para 22,8% com telaprevir e 15,4% com boceprevir, quando consideradas as intenções em tratar. No artigo 3 foram selecionados 13 estudos que incluíram 8.221 pacientes e destacaram 4.801 relatos de reações adversas com 41 manifestações diferentes. O ranking de seleção mostra preferências para o uso de antivirais de ação direta e menor recomendação dos inibidores de protease. A análise das percepções de pacientes (artigo 4) mostraram que as experiências negativas associadas à farmacoterapia estão entre as principais barreiras no tratamento. Conclusões: a maior coorte dos universos analisados indica que a principal farmacoterapia para hepatite C entre os anos de 2002 a 2015 foi a associação com peginterferon e ribavirina, permanecendo como imunomodualdores e virustáticos usados em associação com os inibidores de proteases. A utilização das associações com boceprevir ou telaprevir não se mostraram satisfatórias e devem ser evitadas. A terapia clássica com peginterferon e ribavirina deve ser preferida em relação à terapia agregativa com inibidores de protease, uma vez que nestas, as reações são mais insidiosas e de difícil manejo. Os antivirais de ação direta são mais seguros, embora as evidências sejam menos robustas. As reações adversas provocadas pelos medicamentos afetam o cotidiano e a maneira como os pacientes se relacionam com a doença e o tratamento, na percepção de um grupo de pacientes. As análises dos resultados contribuem para a base médico-social e econômica das atividades de regulamentação e outras decisões no campo da política de medicamentos e tratamento da hepatite C. Palavras-Chave: Hepatite C. Estudos de utilização de medicamentos. Reações adversas aos medicamentos. Segurança do paciente. Farmacêutico. vi ABSTRACT Rios, M.C. ANALYSIS OF THE USE OF DRUGS FOR HEPATITIS C. Doctoral Thesis in Health Sciences, Federal University of Sergipe, 2017. 230 p. Introduction: The dynamics in the development and use of drugs, as an essential part of the care process for patients with hepatitis C, requires equal dynamics in the evaluation of their use, as a way to improve the offer of patient care. Objective: To evaluate the profile of use, effectiveness and safety of medications for the treatment of hepatitis C. Materials and Methods: The thesis was divided into four chapters that sought to respond to the specific objectives of the research. To do so: 1 - a transverse review of the medical records of all patients with hepatitis C who received antiviral therapy with interferon / peginterferon and ribavirin between 2002 and 2012; 2-. The charts of all patients with hepatitis C treated with boceprevir or telaprevir in combination with peginterferon and ribavirin between the years of 2013 and 2015 were analyzed; 3 - a systematic review was conducted to assess the incidence of adverse reactions associated with pharmacotherapies; 4- the perception of a group of patients treated or under treatment with one of the therapeutic regimens for hepatitis C on the impact of adverse reactions was analyzed. Results: In article 1, 298 treatments of hepatitis C with interferon / peginterferon were analyzed, and the sustained response ranged from 40.8% to 58.3% among untreated and previously treated patients with recurrent disease. Regarding article 2, 48 treatments were analyzed that associated the use of telaprevir or boceprevir with peginterferon and ribavirin, presenting sustained response rates ranging from 61.5% associated with telaprevir to 50% to boceprevir. Response rates decreased to 22.8% with telaprevir and 15.4% with boceprevir, when considering the intentions to be treated. In article 3, 13 studies were selected that included 8,221 patients and highlighted 4,801 reports of adverse reactions with 41 different manifestations. The selection ranking shows preferences for the use of direct-acting antivirals and lower recommendation of protease inhibitors. The analysis of patient perceptions (article 4) showed that negative experiences associated with pharmacotherapy are among the main barriers in treatment. Conclusions: The largest cohort of the analyzed universes indicates that the main pharmacotherapy for hepatitis C between the years 2002 and 2015 was the association with peginterferon and ribavirin, remaining as immunomodulants and virustatics used in association with protease inhibitors. The use of combinations with boceprevir or telaprevir has not been shown to be satisfactory and should be avoided. Classical therapy with peginterferon and ribavirin should be preferred over aggregative therapy with protease inhibitors, since the reactions are more insidious and difficult to treat. Directacting antivirals are safer, although the evidence is less robust. Adverse drug reactions affect the daily and the way patients relate to disease and treatment in the perception of a group of patients. Analyzes of the results contribute to the medico-social and economic basis of regulatory activities and other decisions in the field of medication policy and treatment of hepatitis C. Keywords: Hepatitis C. Studies of drug use. Adverse drug reactions. Patient safety. Pharmaceutical. vii AGRADECIMENTOS Aos meus pais Joedson (in memorian) e Maria Rios, que me deram muito além da vida e da saúde, oportunizaram-me dignidade e uma excelente educação. Não fizeram disto uma obrigação, mas uma forma de dar-me maiores expectativas, cabendo a mim as decisões. Minha eterna dedicação em busca do conhecimento e crescimento são as formas que busco para agradecer todo esforço, carinho e amor. Aos meus irmãos maravilhosos: Luciana (in memorian), Fabiane, Júnior e Fabrício, dos quais carrego as lembranças felizes de nosso convívio e os ensinamentos que muitas vezes me prestaram, sem mesmo entender que eram meus professores. À Priscila dedico todo o meu respeito, amor e agradecimentos. Nesta recente trajetória fomos cúmplices de momentos importantes, dividimos a alegria e as dificuldades, mas sempre mantivemos a calma e serenidade para seguir. Em períodos grandes como este, diversas amizades e redes de contatos são formdas, e são, subjetivamente, essenciais. Agradeço a todos aqueles que me ajudaram a pensar e a não pensar em minha tese. Não lista-los é uma forma de garantir que algum deles possa não ser citado. À Molly, pelo companheirismo e desafogo. Obrigado a todos! . Nesta caminhada pude compreender melhor a afirmativa de Ralph Waldo Emerson de que “cada homem que encontro é superior a mim em alguma coisa; e nisto posso aprender dele”. Aos professores doutores Ângelo Roberto Antoniolli, Alex Vianey Callado França e Divaldo Pereira de Lyra Jr., obrigado pelos ensinamentos. Em seus exemplos, elevei minha capacidade emocional, competitiva, argumentativa e criadora. Aos muitos colegas do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Farmácia Social-LEPFS. Obrigado pela oportunidade de ter convivido com pessoas inteligentes em colaboração comigo. Aos pacientes que foram atendidos no Programa de Cuidados Farmacêuticos, obrigado por compartilharem suas histórias. Agradeço imensamente a oportunidade que eles me deram de conhecê-los. A Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da UFS em nome do Prof. Dra. Amélia Maria Ribeiro de Jesus, Presidente da Comissão Coordenadora, agradeço a oportunidade proporcionada na realização do curso de doutorado. Ao LEPFS, em nome do Prof. Dr. Divaldo Lyra Jr., por me oferecer recursos humanos e materiais necessários à condução das pesquisas. Ao Corpo Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde – minha gratidão pelos ensinamentos e convívio. Aos funcionários da Secretaria de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, pelo respeito e disponibilidade no convívio. viii SUMÁRIO ÍNDICE DE FIGURAS ..................................................................................................... x ÍNDICE DE TABELAS .................................................................................................... xii ÍNDICE DE QUADROS.................................................................................................... xiv 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 15 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................... 19 2.1 A doença......................................................................................................................... 20 2.1.1 O vírus da hepatite C................................................................................................... 20 2.1.2 Epidemiologia............................................................................................................. 22 2.1.2.1 Projeções epidemiológicas....................................................................................... 27 2.1.2.2 Fatores de risco, transmissão e prevenção da doença.............................................. 30 2.1.3 História Natural da Doença......................................................................................... 31 2.1.3.1 Apresentação Clínica e Laboratorial....................................................................... 31 2.1.3.2 Avaliação histopatológica........................................................................................ 36 2.1.3.3 Complicações........................................................................................................... 37 2.1.3.4 Manifestações extra-hepáticas.................................................................................. 39 2.2 Farmacoterapia............................................................................................................... 39 2.2.1 Medicamentos............................................................................................................. 39 2.2.1.1 Manejo da farmacoterapia........................................................................................ 42 2.2.1.2 Monitoramento......................................................................................................... 46 2.2.1.3 Barreiras do tratamento............................................................................................ 47 2.2.1.4 Reações adversas associadas aos medicamentos..................................................... 55 2.3 Aplicação dos Estudos de Utilização de Medicamentos para hepatite C....................... 59 2.3.1 O Serviço de Cuidados Farmacêuticos, o Laboratório de Ensino e Pesquisa em Farmácia Social (LEPFS) e a promoção da Assistência Farmacêutica................................ 62 3. OBJETIVOS .................................................................................................................. 81 3.1 Objetivo geral ............................................................................................................... 82 3.2 Objetivos específicos .................................................................................................... 82 ix 4. CAPÍTULO 1 - Interferon and ribavirin for chronic hepatitis c: should it be administered in the new treatment era? ............................................................................... 83 5. CAPÍTULO 2 - Treatment of hepatitis C with first generation protease inhibitors....... 115 6. CAPÍTULO 3- Reações adversas dos medicamentos utilizados no tratamento da hepatite c: uma revisão sistemática...................................................................................... 146 7. CAPÍTULO 4 - Hepatite C: o impacto das reações adversas segundo a percepção dos pacientes........................................................................................................................ 190 8. CONCLUSÃO GERAL ................................................................................................ 225 9. ANEXOS......................................................................................................................... 227 x ÍNDICE DE FIGURAS FUNDAMENTAÇÃO TÉORICA Figura 1: Organização genômica da poliproteína do vírus da hepatite C....................................... 20 Figura 2: Distribuição global dos genótipos do vírus da hepatite C............................................... 24 Figura 3: Casos confirmados de hepatite C por região brasileira, de 1996 a 2012........................ 25 Figura 4: Casos confirmados de hepatite C distribuídos por gênero, no Brasil, região Nordeste e em Sergipe, de 1996 a 2012............................................................................................................ 26 Figura 5: Distribuição por faixa etária dos casos confirmados de Hepatite C, de 1996 a 2012..... 26 Figura 6: Estimativas do ano de casos prevalentes já infectados com hepatite C crônica e cirrose.............................................................................................................................................. 28 Figura 7: Distribuição de estágios histológicos de fibrose por ano em pessoas com hepatite C crônica............................................................................................................................................. 28 Figura 8: Populações previstas de infectados pelo vírus da hepatite C no Brasil........................... 29 Figura 9: Investigação Laboratorial da hepatite C.......................................................................... 33 Figura 10: Marcadores da evolução da hepatite C.......................................................................... 34 Figura 11: Curso Natural da hepatite C.......................................................................................... 35 Figura 12: Organização genômica do vírus da hepatite C e alvos de medicamentos..................... 41 Figura 13: Farmacoterapias implementadas e incorporadas no Sistema de Saúde do Brasil entre os anos de 2011 a 2015 ................................................................................................................. 42 Figura 14: Fases de desenvolvimento terapêutico para o tratamento de vírus da hepatite C infectados e a complexidade associada de gestão clínica............................................................... 43 Figura 15: Monitoramento da farmacoterapia em pontos específicos............................................ 46 Figura 16: Estimativa entre tratamentos e número de tratados para hepatite C............................. 48 Figura 17: Barreiras no tratamento da hepatite C, nas regiões globais.......................................... 48 xi Figura 18: Avaliação das barreiras do tratamento da hepatite C à partir do seguimento dos pacientes desde o diagnóstico ao tratamento.................................................................................. 51 Figura 19: Abordagem Multidisciplinar dos Estudos de Utilização de Medicamentos.................. 60 CAPÍTULO I Figure 1: Frequency of side effects associated with drug therapy for hepatitis C in patients treatedat University Hospital of Sergipe in Northeast Brazil from 2002–2012………………... Figure 2: Sustained virologic response according to genotype, medication, and clinical outcomes of treatment in patients with hepatitis C at University Hospital of Sergipe in Northeast Brazil, from 2002–2012. ………………………………………………..................... 113 114 CAPÍTULO II Figure 1: SVR for patients presenting different degree of fibrosis, and treated with TVR or BOC………………………………………………………………………………………………. 140 Figure 2: SVR in patients presenting different treatment condition, and treated with TVR or BOC………………………………………………………………………………………………. 141 Figure 3: Frequency of the main adverse effects of triple therapy for hepatitis C……………….. 142 CAPÍTULO III Figura 1: Processo de Seleção dos Estudos................................................................................... 155 Figura 2: Relação entre reações adversas e esquema terapêutico, segundo o network 164 model........................................................................................................................................... Figura 4: Ranking de escolha do regime de tratamento para a hepatite C, segundo incidência de reações adversas e complexidade do manejo da farmacoterapia.............................................. 166 CAPÍTULO IV Figura 1: Organização sistemática das percepções dos entrevistados, segundo as categorias empíricas, seguidas ordenadamente pelas sub-categorias e núcleos de sentido............................ 198 xii ÍNDICE DE TABELAS FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Tabela 1: Soroprevalência global do vírus da hepatite C por região........................................... 22 Tabela 2: Populações infectadas pelo vírus da hepatite C projetado para o Brasil..................... 29 Tabela 3: Classificações anatomopatológicas para estadiamento e graduação das hepatites crônicas........................................................................................................................................ 37 CAPÍTULO I Table 1: Socio-demographic characteristics of patients treated for hepatitis C at University 108 Hospital of Sergipe in Northeast Brazil from 2002–2012……………………………………. Table 2: Histopathological examination of biopsied tissue specimens from patients treated for hepatitis Cat University Hospital of Sergipe in Northeast Brazil based on METAVIR classification……………………………………………………………………………………. 111 . Table 3: Clinical outcomes of treatment for hepatitis C at University Hospital of Sergipe in Northeast Brazil between 2002 and 2012……………………………………………………… 112 CAPÍTULO II Table 1: Baseline characteristics of the study………………………………………………… 143 Table 2: Characteristics evaluated after the beginning of treatment………………… 144 CAPÍTULO III Tabela 1: Estratégias de pesquisa para a revisão sistemática................................................. 152 Tabela 2: Impacto das reações adversas associadas à farmacoterapia da hepatite C nos preditores de RVS.................................................................................................................. 157 xiii Tabela 3: Impacto das reações adversas na adesão e manejo da farmacoterapia......................................................................................................................... 165 xiv ÍNDICE DE QUADROS FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 5 Quadro 1: Reações adversas no tratamento da hepatite C com interferon, peginterferon e ribavirina.............................................................................................................................. 57 CAPÍTULO III Quadro 1: Ranking de escolha do regime de tratamento para a hepatite C, segundo incidência de reações adversas e complexidade do manejo da farmacoterapia........ 166 16 INTRODUÇÃO 17 I. INTRODUÇÃO Desde a identificação de seu agente causal em 1989, a hepatite C tem sido reconhecida como um dos principais problemas em saúde pública, com grande impacto econômico e na qualidade de vida das populações (CHOO et at., 1989; PERET, 2006). Calcula-se que a prevalência global de portadores do vírus da hepatite C seja de 123 a 170 milhões de pessoas o que representa números em torno de 2 a 3% da população mundial, sendo considerada uma endemia mundial de elevado grau de variação geográfica em sua distribuição (LIM et al., 2012; GOWER et al., 2104). A prevalência entre os países mais desenvolvidos varia: Itália (2,0%), Alemanha (0,6%), França (0,4-1,1%), Japão (0,5-2,2%), Estados Unidos (1,3%), Canadá (1,1%). Na América do Sul, Argentina (1,5%) e Brasil (1,6%) mostram índices de prevalência similares (GOWER et al., 2014). Mundialmente, os genótipos predominantes são 1a e 1b (ALTER et al., 2007; SY e JAMAL, 2006). No Brasil, os genótipos 1 e 3 são os mais frequentemente encontrados, destacando o primeiro como o de mais alta freqüência (64%) (GOWER et al., 2014). Martins et al. (2010) ressaltam que a metodologia para estudo da prevalência da doença no Brasil não é a mais adequada, visto que em se tratando de um país com grandes variações demográficas, sociais e culturais, o levantamento epidemiológico a partir do soro, a prevalência em doadores de sangue pode subestimar os números. De acordo com esses autores, o inquérito realizado pela Sociedade Brasileira de Hepatologia apontou que dos 1.143.406 doadores de sangue analisados, 14.527 (1,23%) foram reativos ao anti-HCV. A taxa de incidência na região Nordeste foi de 1,19% da população. Apesar de estudos recentes apontarem estabilização, seguida de uma ligeira queda no número de infectados, há expectativas do aumento de morbimortalidade associada a progressão da doença e diminuição do acesso às farmacoterapias (KERSHENOBICH et al., 2011; DORE at al., 2014). A oferta e disponibilidade de medicamentos para o tratamento da doença não tem sido traduzida em utilização, refletindo a falta de políticas públicas e o poder dos laboratórios produtores dos medicamentos (EMMERICK et al., 2013; EDWARD et al., 2015). Os medicamentos, ao lado dos recursos diagnóstico e terapêutico, são a face mais visível da relação entre a saúde das pessoas e o Estado e representam parte importante do custo dos serviços de saúde. Ainda que disponível pelo Estado, a própria definição da utilização de medicamento como “a prescrição, distribuição, administração e ingestão do medicamento”; 18 deixa evidente a inexistência de um "padrão ouro" de utilização de medicamentos- o caráter multifatorial do tema é, por si, complexo e exige a ação de diversas instâncias. Além disso, a evolução das ciências, o desenvolvimento de medicamentos e a coexistência de terapias múltiplas é um desafio para a consecução deste ideal (TRUTER, 2008; LONDEIX, 2014). A relação entre o desenvolvimento, incorporação e disponibilização de medicamentos sugere a necessidade de constantes estudos de utilização de medicamentos para avaliação dos resultados dos processos e políticas adotadas à luz da otimização dos resultados clínicos, humanísticos e econômicos da farmacoterapia escolhida. Estudos têm mostrado que as análises de utilização de medicamentos podem ser vitais no processo de tomada de decisões farmacoterapêuticas, minimização dos riscos de erros de medicação e gastos para o sistema de saúde (ALMEIDA, 2010; MOTA, 2003). Para Truter (2008) tais estudos podem descrever padrões de uso da farmacoterapia, constatação de variações nos perfis terapêuticos no curso do tempo, estimativa das necessidades e do número de indivíduos expostos a medicamentos, maluso, entre outros. Apesar da importância do tema, no Brasil existem poucos estudos que avaliam a utilização das terapêuticas para hepatite C (ROSA et al., 2010; NOGUEIRA et al., 2012; BLATT et al., 2013). Nos últimos anos, o país tem seguido as principais agências reguladoras nacionais e internacionais, além da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias que definiu os parâmetros de utilização dos medicamentos para o tratatamento da hepatite C. Desde então, a oferta dos novos medicamentos indicaram mudança na escolha, no manejo do tratamento e nos resultados clínicos. No entanto, entende-se que na Medicina os critérios de elegibilidade e obsolescência são de definição complexa, podendo coexistir antigas e novas tecnologias, no tempo e no espaço, o que aumenta a necessidade de se determinar o perfil farmacoterapêutico e uma mudança na postura dos profissionais envolvidos. Neste contexto, o farmacêutico que sempre esteve envolvido na provisão dos medicamentos tem despertado para a necessidade de avaliar o impacto dos tratamentos disponíveis e acompanhar o seu uso. Por isso, fica evidenciada a necessidade de análises dos tratamentos, com dados que reflitam a realidade, à luz do papel colaborativo do farmacêutico, bem como a formação de pessoal para a realização de pesquisa na área de segurança ao paciente. Para tanto, é preciso investir em pesquisas que avaliem o impacto do tratamento nas condições reais dos pacientes com hepatite C, possibilitanto o planejamento de intervenções farmacêuticas efetivas. Frente ao exposto, esta tese está organizada na forma de capítulos e tem como eixo central Estudos de Utilização de Medicamentos (EUM) para hepatite C (Figura 1). 19 Figura 1: Organização Sistemática dos Capítulos da Tese. O primeiro artigo, intitulado “Interferon and ribavirin for chronic hepatitis C: should it be administered in the new treatment era?” retrata o uso da associação peginterferon e ribavirina em pacientes tratados no Estado de Sergipe entre os anos de 2002 a 2012. O estudo foi desenvolvido a partir da análise de prontuários médicos arquivados no hospital de referência no Estado para o tratamento da hepatite C. O segundo artigo, intitulado “Treatment of hepatitis C with first generation protease inhibitors”, destaca a efetividade e segurança da associação peginterferon, ribavirina e inibidores de proteases de primeira geração em pacientes tratados no centro de referência de Sergipe. O terceiro artigo, intitulado “Revisão sistemática e análise de rede para comparar as reações adversas associadas aos tratamentos de hepatite C” é uma revisão sistemática cujo objetivo é identificar as principais reações adversas aos tratamentos da hepatite C. Esse trabalho buscou responder a seguinte pergunta: quais as principais reações adversas associadas ao tratamento da hepatite C? O quarto artigo, intitulado “Hepatite C: compreendendo o efeito das reações adversas segundo a percepção dos pacientes” visou identificar a percepção dos pacientes em tratamento da hepatite C sobre as reações adversas e o impacto nas atividades cotidianas. 20 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 21 1. A DOENÇA 1.1 O vírus da hepatite C O vírus da hepatite C pertence à família Flaviviridae, gênero Hepaciviruse, tendo o homem como o único portador infectado de importância epidemiológica (STRAUSS, 2001). Foi identificado por Choo e colaboradores em 1989, nos Estados Unidos, e desde então tem ganhado relevância entre as principais causas de doença hepática crônica no mundo (BRASIL, 2008; BRASIL, 2011; MARTINS et al., 2011). O vírus da hepatite C é uma partícula esférica com aproximadamente 50 – 60 nm de diâmetro, formada por um envelope nucleocapsídeo, cujo genoma viral é constituído por RNA fita simples, apresentando aproximadamente 9.600 kilobases, com duas extremidades não codificantes 3´NC e 5´NC, e uma região aberta de leitura (open reading frame – ORF), responsável pela codificação de uma proteína viral de pouco mais de 3.000 aminoácidos (Figura 1). Esta é clivada por proteases celulares e virais, resultando nas proteínas estruturais [proteína do core (núcleo) e do envelope, E1 e E2)] e não estruturais (p7, NS2, NS3, NS4A, NS4B, NS5A e NS5B) do vírus da hepatite C (SHARMA, 2010). Figura 1: Organização genômica da poliproteína do vírus da hepatite C. O genomado vírus (cerca de 9000 nucleotídeos) é traduzido em um polipeptideo de 3000 aminoácidos. Em seguida, o polipeptídeo é clivado para produzir dez proteínas cuja função é descrita na figura. Durante um processamento alternativo no interior do núcleo, uma nova proteína (proteína F) pode ser produzida (este não representada). Fonte: Lauer; Walker, 2001; Poordad e Dieterich, 2012. Fonte: Poordad e Dieterich., 2012. 22 O vírus apresenta taxa de replicação estimada em 10¹² vírions por dia, com meia-vida viral de duas a três horas (NEUMANN et al., 1998). O genoma deste vírus sofre mutações frequentes, que estão relacionadas à rapidez de replicação e à falta de verificação de erro da polimerase viral. Dessa forma, o vírus da hepatite C circula não como uma espécie única, mas como uma população de “quasiespécies”, com genomas virais individuais, diferindo em 1-5% na sequência de nucleotídeos (HOOFNAGLE, 2002). A produção de novos vírus é contrabalanceada com a destruição das células infectadas no tecido ou por degradação no sangue periférico. Estudos experimentais têm mostrado que as proteínas NS3 e NS5, alvos de medicamentos, induzem a apoptose em hepatócitos contaminados. A inibição da apoptose pode representar a principal estratégia empregada pelo vírus para se manter no hospedeiro, e que, posteriormente, contribui para o desenvolvimento do carcinoma hepatocelular. A persistência do vírus e a progressão do dano hepático está relacionada também à perda da reatividade específica dos linfócitos TCD4+ (GERLACH et al., 1999) – a quantidade de quasiespécies formada dribla a resposta humoral (HERZER et al., 2007; PAWLOTSKY, 2004) – e à imunotolerância ou a exaustão da resposta dos LTCD8+ a alta carga viral do vírus (CERNY e CHISARI, 2000). Com o tempo, o processo de seleção e adaptação levou à evolução para distintos genótipos. A classificação genotípica mais utilizada foi proposta por Simmonds e colaboradores (1994; 2005) e se baseia na similaridade da sequência de nucleotídeos. Um recente estudo revelou a presença de pelo menos sete diferentes genótipos, numerados de um a sete; e 67 subtipos – identificados por letras (SMITH, 2014). Genótipos e subtipos se diferem cerca de 30% e 20% das suas sequências genéticas, respectivamente. No entanto, devido ao rápido crescimento do seu genoma, estima-se que esse número logo aumentará (MAUSS et al., 2014a). Importante destacar que alguns indivíduos infectados apresentam mistura de genótipos, sendo a mais comum 1a e 1b. Outros têm genótipo indefinido, pois pode se tratar de uma nova categoria, carga viral muito baixa para caracterização por meio do teste de genotipagem, problemas na amplificação do polimerase em cadeia ou maior variabilidade no genoma viral (GERMER et al., 1999; HOOFNAGLE, 2002; GHANY et al., 2009). 23 1.2 Epidemiologia A hepatite C é uma doença de distribuição mundial, sendo estimada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que mais de 185 milhões de pessoas em todo o mundo estejam infectadas pelo vírus da hepatite C, dos quais 350.000 morrem a cada ano (MOHD HANAFIAH et al., 2013; WHO, 2014). Constitui importante problema de saúde pública, liderando as causas de doenças hepáticas crônicas (WILLIAMS, 2006; GHANY et al., 2009). Os locais de maior prevalência são a região central e o leste da Ásia (área de elevada densidade populacional) e nas regiões do Norte da África/ Oriente Médio (Tabela 1) (WHO, 2014). Para os Estados Unidos e a Europa, a hepatite C representa a doença hepática crônica mais comum, sendo responsável pela maioria dos transplantes hepáticos (GHANY et al., 2009; HIGHLEYMAN, 2011; MAUSS et al., 2014). O mesmo se aplica para o mundo ocidental, em que a infecção pelo vírus da hepatite C é a principal responsável por cirrose e transplante hepático (BRASIL, 2008). Em pessoas infectadas, estima-se que este vírus seja responsável por 27% dos casos de cirrose e 25% dos hepatocarcinomas (ALTER, 2007). Tabela 1: Soroprevalência global do HCV por região. Região Prevalência (%) Número estimado de pessoas infectadas Ásia-Pacífico 1,4 >2,4 milhões Ásia Central 3,8 >2,9 milhões Leste da Ásia 3,7 >50 milhões Sul da Ásia 3,4 >50 milhões Sudeste da Ásia 2,0 > 11 milhões Australásia 2,7 > 0,6 milhão Caribe 2,1 > 0,7 milhão Europa Central 2,4 >2,9 milhões Europa Oriental 2,9 >6,2 milhões Europa Ocidental 2,4 > 10 milhões 24 Tabela 1: Soroprevalência global do HCV por região (continuação). Número estimado de Região Prevalência (%) América Latina Andina 2,0 > 1,0 milhão Centro da América Latina 1,6 > 3,4 milhões Sul da América Latina 1,6 > 0,9 milhão América Latina Tropical 1,2 > 2,3 milhões Norte da África/Oriente Médio 3,6 > 15 milhões América do Norte 1,3 > 4,4 milhões Oceania 2,6 > 0,2 milhão Centro da África Subsaariana 2,3 > 1,9 milhões Leste da África Subsaariana 2,0 > 6,1 milhões Sul da África Subsaariana 2,1 > 1,4 milhões Oeste da África Subsaariana 2,8 > 8,4 milhões pessoas infectadas Fonte: WHO, GUIDELINES, 2014. A Figura 2 apresenta a distribuição global dos genótipos do vírus da hepatite C. O protótipo 1a é o mais comum nos Estados Unidos e Norte da Europa. O 1b apresenta distribuição mundial, sendo o mais comum dos genótipos. Os genótipos 2a e 2b também são distribuídos mundialmente e representam 10% a 30% dos tipos de vírus da hepatite C, particularmente comuns no Japão e Norte da Itália. O genótipo 3 é mais frequente na Índia subcontinental; e o 4 na África e Oriente Médio. Quanto aos genótipos 5 e 6, estes são raros, localizados em áreas isoladas no Sul da África (genótipo 5) e Hong Kong e Sudeste da Ásia (genótipo 6) (HOOFNAGLE, 2002). De acordo com estes autores, independentemente do 25 genótipo a infecção pelo vírus da hepatite C pode levar à cirrose, estágio final da doença hepática e carcinoma hepatocelular, mas defini-lo é importante para instituição da farmacoterapia, pois alguns subtipos são mais fáceis de tratar. Figura 2: Distribuição global dos genótipos do vírus da hepatite C. Fonte: adaptado de Gower et al., 2014. No Brasil, em 2010, excluídos os casos com campo ignorado/em branco (53,6%), o genótipo 1 representou a maioria dos casos notificados (67,7%), seguido pelos genótipos 3 (25,9%) e 2 (5,7%) (BRASIL, 2012). A doença foi incluída na Lista de Doenças de Notificação Compulsória no ano de 1996. Desde então as taxas de detecção da hepatite C no país apresentaram crescimento ascendente, sendo de 0,1 por 100.000 habitantes em 1999, 5,0 em 2006 e 5,4 em 2010 (BRASIL, 2011; BRASIL, 2012). De acordo com dados do DATASUS-SINAN (2012), de 1996 a 2012, foram confirmados 94.323 casos de hepatite C no Brasil. Destes, a maioria se encontrava na Região Sudeste (56,35%), conforme ilustra a Figura 3. A prevalência no Nordeste é de 7,19%, sendo a distribuição maior na Bahia (34,43%), seguido do Pernambuco (16,06%), Maranhão (15,03%), Ceará (10,75%), Rio Grande do Norte (7,11%), Alagoas (5,34%), Sergipe (4,87%), Paraíba (4,72%) e Piauí (1,70%) (DATASUS-SINAN, 2012). 26 5% 3% 7% Norte 29% Nordeste Sudeste 56% Sul Centro-Oeste Figura 3: Casos confirmados de hepatite C por região brasileira, de 1996 a 2012. Fonte: DATASUS-SINAN, 2012. Ao considerar apenas as capitais brasileiras, foi observado resultado igual a 1,38% para a prevalência da hepatite C. A região que apresentou maior prevalência foi a Norte (2,10%), seguida da Centro-Oeste (1,32%), Sudeste (1,27%), Sul (1,19%), Distrito Federal (0,85%) e Nordeste (0,68%) (BRASIL, 2010). Entre as capitais Nordestinas, Aracaju/SE (5,4), São Luís/MA (4,4) e Salvador/BA (4,0) obtiveram as maiores taxas de detecção de casos de hepatite C por 100.000 habitantes (BRASIL, 2012). No que se refere à distribuição da hepatite C no Brasil segundo o gênero, dados do DATASUS-SINAN (2012) mostraram que 57,52 % (54.253) dos infectados do país eram do gênero masculino e 42,47% (40.056) do feminino. A razão homem/mulher infectados foi de 1,35. Esse valor apresentou redução com o passar do tempo, em intervalos irregulares, sendo a maior razão correspondente ao ano de 1997 (2,78), e a menor razão em 2012 (1,20). Na região Nordeste, 59,24% (4.017) dos infectados eram do gênero masculino e 40,75% (2.763) do feminino, correspondendo a razão de 1,45, sendo a maior razão encontrada no ano de 1998, 3,75, e as menores razões encontradas em 2012, 1,34 e em 1999, 1,1. Em Sergipe, 60,61% (200) dos infectados foram do gênero masculino, enquanto que 39,39% (130) eram do feminino. A razão foi de 1,54, sendo 2,37 o maior valor encontrado, no ano de 2011, e 0,5 a menor razão encontrada, em 2005 (DATASUS-SINAN, 2012). A Figura 4 mostra a prevalência da doença comparando os dados do País com as regiões Nordeste e o estado de Sergipe. 27 70,00% 60,00% 50,00% 40,00% Brasil 30,00% Nordeste 20,00% Sergipe 10,00% 0,00% Mulheres Homens Figura 4: Casos confirmados de hepatite C distribuídos por gênero, no Brasil, região Nordeste e em Sergipe, 1996 a 2012. Fonte: DATASUS-SINAN, 2012. Segundo a distribuição por faixa etária (Figura 5) foi observado que 54,08% (51.014) dos casos confirmados de hepatite C no país, de 1996 e 2012, encontram-se entre 40 – 59 anos, seguido de 26,32% (24.823) na faixa etária entre 20 – 39 anos, 7,83% (7.386) entre 60 – 64 anos, 4,82% (4.545) entre 65 – 68 anos, 3,94% (3.719) entre 70 – 79 anos, 1,02% (960) entre 15 – 19 anos, sendo a porcentagem das demais faixas etárias menores que 1%. No estado de Sergipe foi observado o mesmo padrão nacional, sendo 52,73% (174) dos casos confirmados correspondente à faixa etária entre 40 – 59 anos, seguido de 24,24% (80) entre 20 – 39 anos, 8,18% (27) entre 60 – 64 anos, 7,58% (25) entre 65 – 69 anos, 4,24% (14) entre 70 – 79 anos, sendo a porcentagem das demais faixas etárias inferiores a 1% (DATASUSSINAN, 2012). 60,00% 50,00% 40,00% 30,00% 20,00% 10,00% 0,00% <1 Ano 1-4 5-9 10-14 15-19 Brasil 20-39 40-59 60-64 65-69 70-79 80 e + Sergipe Figura 5: Distribuição por faixa etária dos casos confirmados de Hepatite C, de 1996 a 2012. Fonte: DATASUS-SINAN, 2012. 28 No que tange à etnia, foi analisado que 58,16% (54.862) dos casos confirmados no Brasil eram de pessoas de cor branca, seguidos de 20,33% (19.174) de cor parda, 13,58% (12.805) ignorado, 7% (6.600) de cor negra, 0,71% (668) de cor amarela e 0,23% (214) indígena. Dados referentes ao estado de Sergipe mostraram que, 60,91% (201) dos casos confirmados correspondem a indivíduos pardos, 23,64% (78) foram ignorados, 10,30% (34) eram brancos, 4,85% (16) eram negros e 0,30% (1) eram amarelos (DATASUS-SINAN, 2012). O preenchimento adequado desse campo melhorou progressivamente com os anos. Em 1999, 69,1% dos dados eram ignorados; em 2010, esse valor foi reduzido para 11,8% (BRASIL, 2012). 1.1.2.1- Projeções Epidemiológicas Diversos estudos têm mostrado a tendência na diminuição de novos casos da doença (DAVIS et al., 2010; KERSHENOBICH et al., 2011; HATZAKIS et al., 2015). No entanto, modelos baseados em dados epidemiológicos e a evolução da infecção crônica sugerem que a cirrose relacionada com o vírus da hepatite C e a morte por carcinoma hepatocelular é susceptível de aumentar nas próximas décadas refletindo o crescimento da incidência de infecção pelo vírus da hepatite C nos anos 1970 e 1980 (PAPATHEODORIDIS et al., 2012). A progressão da doença entre os anos 2013-2030 foi estimada por Hatzakis et al. (2015). Estes autores simularam a progressão da doença por meio da multiplicação do número total de casos em um determinado estágio da doença por uma taxa de progressão para a fase seguinte, considerando que os níveis de tratamento foram mantidos constantes. O cálculo envolveu a progressão epidemiológica em 16 países (África do Sul, Argentina, Finlândia, Grécia, Holanda, India, Irlanda, Israel, Luxemburgo, México, Mongólia, Noruega, Nova Zelândia, Polônia, República Eslovaca e Rússia) e os resultados mostraram que: 1) o número total de infecções por vírus da hepatite C deverá diminuir ou se manter constante em muitos países, exceto para a Rússia, onde é previsto aumento de aproximadamente 35% em 2030 no número de infecções, causada pelo alto consumo de drogas injetáveis e transfusões de sangue; 2) a morbidade relacionada com o vírus da hepatite C deve aumentar em populações mais velhas com evolução para doenças hepáticas mais avançadas (aumento médio previsto de 29 15% com exceção da Holanda, com redução estimada de 40%, e África do Sul, no qual é esperado se manter estável) e 3) mortalidade (HATZAKIS et al., 2015). Nos Estados Unidos foi previsto que a prevalência global do vírus da hepatite C vai diminuir nas próximas duas décadas (KERSHENOBICH et al., 2011), contudo, os cuidados de saúde associados com o avançar da doença hepática continuarão crescendo (DAVIS et al., 2010; Figuras 6 e 7). De acordo com estes autores, estima-se que até 2030, a proporção de indivíduos com vírus da hepatite C crônica que têm cirrose vai se aproximar de 50%. Figura 6: Estimativas por ano de casos prevalentes de infectados com hepatite C crônica e cirrose. Infecções agudas atingiram o pico entre 1970 e 1990. O pico da prevalência de hepatite crônica foi 2001, enquanto a maior prevalência de cirrose é projetada para ser entre 2010 e 2030, cerca de 40 anos após o pico de infecções agudas. Fonte: adaptado de Davis et al., 2010. Figura 7: Distribuição de estágios histológicos de fibrose por ano em pessoas com hepatite C crônica. Fonte: adaptado de Davis et al., 2010. No Brasil, apesar da maioria dos estudos de prevalência focar em subconjuntos específicos da população, não adequados para fins extrapolativos, os resultados se mostraram consistentes com dados do Ministério da Saúde. As projeções epidemiológicas prevêem ligeira queda na taxa de prevalência, apesar do aumento no número de infectados e mortalidades causadas por problemas associados à doença (KERSHENOBICH et al., 2011). Estes autores resumiram as populações-chave infectadas, conforme tabela Tabela 2 e projetaram a progressão da doença, mostrado na Figura 8. 30 Tabela 2: Populações infectadas pelo vírus da hepatite C projetada para o Brasil. 2004 2007 2021 Taxa de Prevalência (%) 1,5 1,5 1,46 Prevalência Global 2.764,400 2.875,500 3.230,700 Incidência da Viremia 65.400 71.748 103.500 Mortalidade por Viremia (todos os casos) 40.700 50.100 99.900 Pacientes tratados 4.100 22.700 Taxa de Tratamento 0,15 0,79 Fonte: adaptado de Kershernobich et al., 2011. Figura 8: Populações previstas de infectados pelo vírus da hepatite C no Brasil. Fonte: adaptado de Kershernobich et al., 2011. Embora se possa prever que a incidência da infecção por vírus da hepatite C decline em muitos países em 2030, a morbidade e mortalidade continuarão a crescer de forma constante e exigir sistemas de vigilância (GONÇALVES e DAVIS, 2012). Todavia, em regiões onde a doença é endêmica, os países devem desenvolver suas próprias políticas para detectar, diagnosticar novos casos e fornecer medicamentos. O atual aumento da imigração dissemina a hepatite a diversos locais geográficos (YLMAZ, 2016). 31 1.1.2.2 Fatores de risco, Transmissão e Prevenção O uso de drogas injetáveis, especialmente as ilícitas, tem sido reportado como o principal fator de risco para a contaminação pelo vírus da hepatite C, com prevalência de 67% (MARTINS et al., 2011; WHO, 2014). Outro fator que parece estar associado à infecção pelo vírus da hepatite C em usuários de drogas injetáveis é a história prévia de encarceramento, constituindo fator de vulnerabilidade para esse grupo de pacientes (BRASIL, 2011). A transmissão sexual ocorre em menos de 1% em parceiros estáveis, sendo agravada a transmissão em situações de prática sexual de risco (sem uso de preservativo), indivíduos com múltiplos parceiros ou ainda portadores de alguma doença sexualmente transmissível associada como tricomoníase, HIV/AIDS, sífilis e infecção por Clamídia (STRAUSS, 2001; AIROLDI e BERGHELLA, 2006; BRASIL, 2011; MARTINS et al., 2011). Indivíduos infectados pelo HIV, principalmente homens que fazem sexo com homens apresentam maior risco de infecção pelo vírus da hepatite C, tendo em vista o aumento da infectividade de ambos os vírus. Isto ocorre devido a sua elevada carga viral no sangue e sêmen e prejuízo do sistema imunológico proporcionado pelo HIV, facilitando, assim, a transmissão sexual com práticas desprotegidas (URBANUS et al., 2009; TOHME e HOLMBERG, 2010; WHO, 2014). Embora a transmissão vertical seja pouco significativa na hepatite C, quando comparada à hepatite B, sabe-se que bebês nascidos de mães com carga viral elevada de hepatite C apresentam transmissão vertical em cerca de 5% (carga viral de HCV > 105 cópias/mL aumentam essas chances) (AIROLDI e BERGHELLA, 2006; BRASIL, 2008; BRASIL, 2011). Elevada carga viral da mãe, trabalho de parto prolongado, monitoração fetal interna e coinfecção HIV/hepatite C são os principais fatores de risco relacionados à transmissão vertical (MARTINS et al., 2011). Em relação aos riscos de coinfecção, este é de quatro vezes maiores se essas gestantes forem coinfectadas pelo HIV, devido à elevação da carga viral determinada pela imunodeficiência (WHO, 2014). Mães portadoras de vírus da hepatite C sem infecção pelo HIV apresentam risco de transmissão estimado em 4-8%, enquanto que aquelas com coinfecção HIV/hepatite C esse risco é em torno de 17-25% (PAPPALARDO, 2003; COELHO, 2008; BRASIL, 2011). Para Airoldi e Berghella (2006), se a coinfecção for com vírus da hepatite B (VHB), o risco de transmissão é de cerca de 20%. Vale ressaltar ainda que o vírus da hepatite C pode ser encontrado no colostro, mas não existem dados suficientes que apontem a amamentação como contra-indicada. Contudo, a 32 presença de fissuras, rachaduras, ou sangramento nos mamilos tornam esse tipo de alimentação insegura (AIROLDI e BERGHELLA, 2006; MARTINS, et al., 2011; BRASIL, 2011). Até o momento não existem recomendações específicas para redução do risco de transmissão vertical do vírus da hepatite C. As gestantes portadoras de hepatite C não devem ser tratadas durante a gestação, uma vez que o uso do interferon está associado à possibilidade de aborto e a ribavirina apresenta potencial para teratogenicidade (BRASIL, 2011). Diante do exposto, o Ministério da Saúde estabelece como populações de risco aumentado para infecção pelo vírus da hepatite C (BRASIL, 2008; GHANY et al., 2009; BRASIL, 2011; WHO, 2014): pessoas que receberam transfusão de sangue e/ou hemoderivados antes de1993; crianças nascidas de mães infectadas pelo vírus da hepatite C; usuários de drogas injetáveis (anabolizantes e complexos vitamínicos), inaláveis (cocaína) ou “pipadas” (crack) que compartilham os equipamentos de uso, como agulhas, seringas, canudos e cachimbos; pessoas que compartilham equipamentos não esterilizados ao frequentar pedicures, manicures e podólogos; indivíduos que se submetem a procedimentos para colocação de piercing e confecção de tatuagens; Ainda não existe vacina específica para prevenção da hepatite C; a principal profilaxia da doença é evitar sua transmissão, por meio da não exposição aos fatores de risco, desenvolvimento de atitudes e práticas seguras, como por exemplo, uso adequado de preservativo e o não compartilhamento de instrumentos perfurocortantes e objetos de higiene pessoal, entre outros fatores (BRASIL, 2011). 1.1.3 História Natural da Doença 1.1.3.1 Apresentação Clínica e Laboratorial A suspeita do diagnóstico de infeção por vírus da hepatite C surge eventualmente, tendo em vista a acentuada tendência à evolução oligo ou assintomática da doença. Os sintomas de infecção aguda podem ter início em cerca de seis a 12 semanas após a exposição ao vírus da hepatite C. Durante essa fase sintomática pode acontecer a soroconversão em 20% 33 dos casos, ocorrendo raramente após seis meses (BRASIL, 2011). Entre duas e oito semanas após a exposição ao vírus da hepatite C, pode haver aumento das enzimas hepáticas, que pode atingir valores superiores a dez vezes o limite superior de normalidade (CHEN e MORGAN, 2006). As transaminases processam os aminoácidos no fígado e surge em maiores concentrações no sanue quando o órgão está inflamado. Níveis das transaminases ALT (alanina aminotransferase) e AST (aspartato aminotransferase) acima dos normais indicam algum dano hepático (MAIDA et al., 2006). Alanina aminotransferase e aspartato aminotransferase são enzimas que ficam nas células do fígado e penetram na circulação sangüínea quando as células estão lesadas. A alanina aminotransferase é o indicador mais específico de inflamação no fígado, pois o aspartato aminotransferase pode ser elevado em função de doenças de outros órgãos, como doenças do coração ou doenças nos músculos (MAIDA et al., 2006; BRASIL, 2011; SETTE e ALMEIDA LOPES, 2014). Segundo o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para o tratamento da hepatite C (BRASIL, 2011) estas duas enzimas são usadas para monitorar o curso de hepatite crônica e a resposta a tratamentos. Em pessoas na fase aguda da doença, as transaminases baixam na medida em que o fígado se recupera; nos casos de hepatite C crônica, as transaminases podem flutuar ou permanecer constantemente elevadas (BRASIL, 2011). Como o fígado exerce função primordial no processamento de muitas substâncias, alterações no seu funcionamento podem ser detectadas mediante diversos exames sanguíneos (SETTE e LOPES, 2014). Os valores da fosfatase alcalina e do gama glutamil transpeptidase aumentam em um número grande de desordens que afetam a drenagem de bile. O gama glutamil transpeptidase é utilizado como um teste adicional para determinar a procedência da inflamação, uma vez que o nível de Fosfatase alcalina no sangue pode se elevar em doenças de osso, placenta, ou intestino. Níveis elevados de bilirrubina e de fosfatase alcalina, em geral indicam algum dano hepático, assim como um baixo nível de albumina (proteína do sangue). Níveis altos e constantes de protombina, processo responsável pela coagulação, também podem ser um sinal de dano hepático severo (MINCIS e MINCIS, 2006). Antígenos e anticorpos produzidos a partir da exposição ao vírus da hepatite C podem ser detectados pelo teste imunoenzimático. Materiais genéticos do vírus da hepatite (DNA ou RNA) são detectados pela reação da polimerase em cadeia (PCR), sendo este mesmo exame usado para determinar a carga viral (BRASIL, 2011). A Figura 9 apresenta as etapas de investigação laboratorial: 34 Figura 9: Investigação laboratorial da hepatite C. Fonte: Brasil, Ministério da Saúde (2008). Para o diagnóstico da infecção aguda, apenas o teste sorológico (Anti-HCV) não é suficiente, uma vez que os anticorpos podem se desenvolver mais tardiamente à exposição ao vírus da hepatite C. Além disso, pacientes imunossuprimidos podem apresentar Anti-HCV não reagente, devido à diminuição ou ausência de produção de anticorpos. Nesses casos, os testes moleculares devem ser utilizados, pois detectam o RNA viral em poucos dias da infecção, sendo mandatório no diagnóstico da hepatite C aguda e fundamental para o diagnóstico de imunossuprimidos (GHANY, 2009; BRASIL, 2011; MAUSS et al., 2014). Para a hepatite C crônica, o diagnóstico é estabelecido na presença de Anti-HCV reagente por mais de seis meses e HCV-RNA detectável (BRASIL, 2011). A quantificação da carga viral por meio do teste de quantificação do RNA viral pode ser detectada no soro entre uma e duas semanas após exposição; apresenta aumento progressivo inicialmente, atingindo picos entre 10 5 e 107, imediatamente antes do pico da alanina aminotransferase e do início dos sintomas (CHEN e MORGAN, 2006; BRASIL, 2011) (Figura 10). A infecção pode ser autolimitada, com redução dos sintomas associada à diminuição dos níveis de alanina aminotransferase e da carga viral, não mais detectada após seis meses (CHEN; MORGAN, 2006; BRASIL, 2011; FARCI et al., 1996). 35 Figura 10: Marcadores da evolução da hepatite C Fonte: Brasil, 2011. A eliminação espontânea do vírus da hepatite C ocorre em 15-45% dos indivíduos infectados, na ausência de tratamento (WHO, 2014). Alguns fatores do hospedeiro podem estar envolvidos na capacidade de eliminação, como por exemplo, resposta do vírus da hepatite C específica das células T-CD4, altos títulos de anticorpos contra as proteínas estruturais de hepatite C e polimorfismo no gen IL-28B (RAUCH et al., 2010; MAUSS et al., 2014). Na maioria dos casos, a infecção não se resolve naturalmente e 55-85% dos portadores de hepatite C evoluirão para doença crônica, se não tratados, apresentando baixa taxa de eliminação espontânea (HOOFNAGLE, 2002; VON HAHN et al., 2007; SHARMA, 2010; WHO, 2014; MAUSS et al., 2014). Para Chen (2006), a competência da resposta imune tem um significante papel no desenvolvimento da forma crônica. A falta de uma resposta vigorosa de linfócitos T e a elevada propensão do vírus para sofrer mutações parece promover elevadas taxas de cronificação (NATIONAL INSTITUTES OF HEALTH, 2002). A Figura 11 apresenta a substituição do tecido hepático normal por fibrose difusa. A fibrose, ou cicatriz, do fígado é uma resposta genérica à cicatrização de feridas hepáticas crônicas, independentemente da etiologia. De acordo com Issa et al. (2004) e Andrade (2005), a fibrose pode ser degradada e eliminada até determinado estágio, enquanto não há um maior comprometimento vascular e regeneração nodular do parênquema. A fibrose progressiva eventualmente evolui para cirrose, com bandas fibróticas, nódulos parenquimatosos e 36 distorção vascular levando a disfunção hepática, hipertensão portal, carcinoma hepatocelular e morte prematura (FALLOWFIELD e HAYES, 2011). Figura 11: Curso da evolução do dano hepático secundário à hepatite C. Fonte: adaptado de French, 1994; Scheurer, 2003, Moradpour et al., 2001; Davis et al., 2010; Londeix e Forette, 2014. De acordo com o estudo de Issa et al. (2004) a fibrose do fígado varia de reversibilidade de acordo com a duração, composição, distribuição espacial e celularidade da cicatriz. Áreas de fibrose que não estão completamente degradadas são relativamente acelulares, ricas em elastina e extensivamente reticuladas, sugerindo que a reticulação da matriz extracelular pode representar um "ponto de não retorno" na fibrose. O grau em que a regressão da fibrose parcial ou completa restaura o fluxo sanguíneo portal normal é incerto, uma vez a distorção vascular, angiogênese e manobra das células tumorais (à formação de vasos sanguíneos capazes de nutrí-las), que caracteriza a cirrose pode não ser reversível (ISSA et al., 2004; ANDRADE, 2005). Segundo Fallowfield e Hayes (2011) a análise detalhada dos mecanismos celulares e moleculares que medeiam a fibrose hepática forneceu uma estrutura para abordagens terapêuticas para prevenir, retardar ou mesmo reverter a fibrose ou cirrose. O objetivo dos tratamentos é a estase ou regressão de fibrose aos estágios pré-cirróticos para prevenir o desenvolvimento de insuficiência hepática, hepatocarcinoma e/ou reduzir a hipertensão portal e suas complicações como hemorragia de varizes, ascite e encefalopatia. 37 1.1.3.2. Avaliação histopatológica e escores semiquantitativos O exame anatomo-patológico fornece informações sobre o estado de lesão hepática, pode evidenciar fibrose avançada e cirrose e alerta a vigilância para hepatocarcinoma e varizes, além de definir necessidade de tratamento (GHANY et al., 2009; BRASIL, 2011). De acordo com Burt et al. (2007), os achados histopatológicos característicos das hepatites crônicas virais constituem uma combinação de infiltração por células inflamatórias, morte hepatocitária, atrofia, regeneração e fibrose. A necessidade de fornecer relatos anatomopatológicos com uma terminologia sistematizada, visando substituir ou complementar os relatos subjetivos e fornecer dados numericamente reprodutíveis, levou um grupo de patologistas hepáticos liderados por Knodell a elaborar um índice de atividade histológica, que relaciona alterações morfológicas baseadas no estudo do infiltrado inflamatório, no grau de lesão hepatocitária e de fibrose hepática (KNODELL et al., 1981). De acordo com estes autores, as alterações histopatológicas são acessadas separadamente e recebem valores numéricos individuais, sendo o Índice de Atividade Histológica a soma final destes valores numéricos. Este foi o primeiro sistema semiquantitativo a ser desenvolvido para o estudo de biópsias hepáticas de pacientes portadores de hepatite crônica viral. Com o aumento do conhecimento dos mecanismos fisiopatológicos envolvidos nas hepatites crônicas virais, os conceitos de graduação e estadiamento passaram a ser utilizados. O escore de Ishak, ou “escore modificado de Knodell” associa os conceitos de graduação (descreve a intensidade da atividade necroinflamatória) e estadiamento (denota a medida do grau de fibrose e alterações arquiteturais da amostra) (ISHAK, 1994; ISHAK et al., 1995). Posteriormente, novas classificações e escores foram elaborados. Dentre estes, a Classificação METAVIR, desenvolvido por um grupo de pesquisadores franceses. Este sistema provê avaliação da fibrose em termos de alterações arquiteturais e atividade inflamatória, com excelente reprodutibilidade intra e interobservador (FRENCH, 1994; BEDOSSA e POYNARD, 1996; SCHEURER, 2003). Na classificação brasileira, seguindo a tradição dos anatomopatologistas semiquantificarem lesões histológicas e várias doenças, a graduação das variáveis é padronizada de zero a quatro, tanto para o estadiamento como para a avaliação da atividade necroinflamatória (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PATOLOGIA, 2000). Os sistemas de classificação para graduação e estadiamento das hepatites crônicas recomendados pelo Ministério da Saúde são o da Sociedade Brasileira de Patologia (2000), o METAVIR (1996) ou o ISHAK (1995). São similares, apresentam os mesmos aspectos 38 histológicos básicos (atividade periportal, lobular e fibrose) e correspondência anatomopatológica aproximada, conforme consta na Tabela 3 (GAYOTO et al., 2000; BRASIL, 2011). Tabela 3: Classificações anatomopatológicas para estadiamento e graduação das hepatites crônicas. Alteração Arquitetural (Fibrose) Atividade Inflamatória SBP*, 2000 e ISHAK, 1995 METAVIR SBP* METAVIR ISHAK Atividade Atividade A Periportal Parenquimatosa 0 0 0 ou 1 0 0 0 1 1 ou 2 0 ou 1 1 ou 2 1 1 2 3 2 0–1 1 2 3 4 ou 5 2 2 2 3 4 6 2 3–4 3 4 3 0–2 2 3 3–4 3 4 0-4 3 Fonte: BRASIL, PCDT, 2011. Legenda: * Sociedade Brasileira de Patologia O tratamento da hepatite C segundo o PCDT de 2011 está indicado para pacientes que apresentem, segundo as recomendações do Ministério da Saúde, biópsia hepática evidenciando fibrose ≥ 2 (pela classificação Metavir ou da SBP ou ≥ 3 para ISHAK), independentemente da atividade inflamatória) ou atividade inflamatória ≥ 2 (de acordo com METAVIR, SBP ou ISHAK) com presença de fibrose ≥ F1 (para METAVIR, SBP ou ISHAK) (BRASIL, 2011). 1.1.3.3. Complicações Os riscos de complicações, que aparecem, em média, entre 20 e 30 anos após o contato com o vírus, ocorrem quase exclusivamente em indivíduos que desenvolveram cirrose (10% a 20% dos pacientes), cuja progressão depende da presença de cofatores capazes de acelerar o processo fibrótico (KVITKO, 2013), dentre as quais: a idade da infecção, o tabagismo, o consumo crônico de álcool, o uso diário de maconha, a obesidade, a esteatose hepática, entre outros (POYNARD et al., 2001; VENTO e CAINELLI, 2002; CHOLET et al., 2004 ELZAYADI, 2006; MALLAT et al., 2008). Alguns autores evidenciaram que as mulheres têm 39 menos alterações em testes bioquímicos hepáticos e menores taxas de progressão da fibrose, além de menor risco de desenvolver carcinoma hepato celular que homens (POYNARD et al., 2001; TANAKA et al., 2003; NARCISO-SCHIAVON et al., 2008). Acredita-se que tudo isso esteja relacionado aos efeitos protetores do estrógeno (DI MARTINO et al., 2004). A cirrose hepática pode ser classificada clinicamente. As características da cirrose descompensada incluem o desenvolvimento de ascite, hemorragia digestiva alta secundária a varizes ou gastropatia hipertensiva portal, peritonite bacteriana espontânea, síndrome hepatorrenal e encefalopatia hepática (CHEN, 2006). A ascite relacionada à hipertensão do portal causada pela infecção viral, por sua vez, produz redução da albumina do soro e retenção renal de sódio. O fluido da ascite pode se acumular no escroto e na cavidade de tórax onde sua presença, combinada com a pressão superior no diafragma do fluido abdominal, pode afetar a respiração e o apetite, reduzido pela distensão abdominal (AL-BUSAFI et al., 2012; MOORE e THIEL, 2013). A pressão aumentada causa varizes, ou alongamento das veias que conduzem a veia portal. Quando estas varizes ficam situadas em tecidos superficiais, estes podem romper e podem sangrar (AL-BUSAFI et al., 2012; COELHO et al., 2014). O carcinoma hepatocelular é uma ocorrência relativamente freqüente em pacientes com cirrose pelo vírus C (SANYAL et al., 2010). Desta forma, é necessária a monitoração destes pacientes com determinação dos níveis séricos de alfa-feto proteína (BRASIL, 2011). A encefalopatia hepática pode se apresentar com uma ampla gama de anormalidades neuropsiquiátricas de gravidade variável, como resultado de insuficiência hepática por insuficiência hepática aguda ou cirrose, ou de alteração no sistema porta, mesmo na ausência de doença hepática intrínseca. Substâncas nitrogenadas, especialmente a amônia, derivada do intestino afetam negativamente a função cerebral. Estes compostos ganham a circulação sistêmica em função da diminuição do metabolismo hepático. Uma vez no tecido cerebral, produzem alterações de neurotransmissão que podem afetar a consciência e o comportamento; a ingestão de proteína invariavelmente agrava estes sintomas (BLEI et al., 2001). Os escores MELD (Model for End-Stage Liver Disease) e Child-Pugh são usados para estagiar a doença e para avaliar o prognóstico (MAUSS et al., 2014a). Apresentam valor preditivo razoavelmente confiável de sobrevida e antecipa a probabilidade de complicações importantes (MELLO et al., 2011). Por exemplo, se descompensado (Child C), a chance de o paciente sobreviver em cinco anos é próxima a 50% (PLANAS et al., 2004). 40 1.1.3.4. Manifestações Extra-hepáticas Muitas manifestações extra-hepáticas relacionadas à infecção ou ao tratamento antiviral com o interferon têm sido reportadas. Estas podem envolver múltiplos sistemas de órgãos, incluindo o renal, o dermatológico, o hematológico e o reumatológico (EL-SERAG et al., 2002). Dados apontam que de 40-74% dos pacientes infectados desenvolvem pelo menos uma manifestação extra-hepática ao longo da vida (GALOSSI, 2007). Além disso, estas frequentemente são o primeiro e único sinal clínico da hepatite C. As principais são a crioglobulinemia mista, as alterações do metabolismo da glicose e as lesões dermatológicas (MAUSS et al., 2014a). A crioglobulinemia se refere à presença de imunoglobulinas anormais no sangue. Estas podem ser encontradas em 50% dos pacientes com infecção crônica (CHEN, 2006). As manifestações da crioglobulinemia mista incluem vasculite, púrpura, fadiga, artralgia e mialgia, síndrome sicca, neuropatia, complicações renais, tais como a glomerulonefrite membranoproliferativa e os linfomas (não Hodgkin). As lesões dermatológicas mais importantes, não associadas à crioglobulinemia mista, são o líquen plano, a porfiria cutânea tardia e a psoríase. Condições trombocitopênicas também são observadas e resultam principalmente da fibrose hepática avançada e da cirrose (WANG, 2004). 2 FARMACOTERAPIA 2.1 Medicamentos A hepatite C, desde 1989, vem desafiando cientistas na descoberta de medicamentos seguros e efetivos. Em menos de duas décadas, 12 novos medicamentos foram aprovados pela Food and Drug Administration (FDA), surgidos após 77 medicamentos experimentais que falharam em ensaios clínicos (CHOO et al., 1989; LONDEIX e FORETTE, 2014). O interferon alfa é um imunomodulador biológico (citocina) que compõe a resposta inata do hospedeiro humano e apresenta efeito antiviral e antiproliferativo (HOFMANN et al., 2008). Em meados de 1990, a monoterapia com interferon estava associada a menores taxas de resposta virológica sustentada, quando comparada à terapia combinada, adicionada a ribavirina (REICHARD et al., 1998; McHUTCHISON et al., 1998). A ribavina é um análogo 41 de guanosina sintético, que apresenta atividade antiviral contra uma ampla variedade de vírus, inclusive o vírus da hepatite C. Entretanto, usada isoladamente não apresenta efeito significativo na redução da morbimortalidade hepática e não promove resposta ao final do tratamento, nem resposta virológica sustentada (BODENHEIMER et al., 1997; BROK et al., 2005; HOFMANN et al., 2008; BRASIL, 2011). Quando associada ao interferon, apresenta efeito sinérgico, oferecendo aumento do potencial da terapia combinada e melhora histológica hepática; entretanto também possibilita aumento das reações adversas associadas à terapia (BODENHEIMER et al., 1997; McHUTCHISON et al., 1998; REDDY et al., 2001; BROK et al., 2005). Ao inteferon foi adicionado polietilenoglicol, a fim de aumentar a meia-vida desse medicamento, prolongando sua ação e aumentando o intervalo entre as aplicações, reduzindo também o clearance do interferon; o que resultou em melhores respostas à terapia (REDDY et al., 2000; KIM e SAAB, 2005; BRASIL, 2011). Assim, como o interferon convencional, o interferon peguilado (PEG-IFN) está indicado no tratamento da hepatite C em associação com a ribavirina, sendo considerado por muito tempo a terapia-ouro, em diversos países (NICE, 2006; GHANY et al., 2009; DIAGO et al., 2010). Manns et al. (2001), Reddy et al. (2001), Zeuzem et al. (2002) e Fried et al. (2002), em seus trabalhos, compararam o tratamento com peginterferon e ribavirina versus interferon e ribavirina em relação às taxas de resposta virológica sustentada, sendo a primeira associação mais efetiva. McHutchinson et al. (2009) avaliou a taxa de resposta sustentada em pacientes tratados com os dois tipos de peginterferon, o PEGIFN alfa-2a e PEGIFN alfa-2b, associados à ribaviriva e não foram encontradas diferenças significativas entre os valores de resposta virológica sustentada para esses dois medicamentos. A primeira geração de inibidores de protease incluem o boceprevir (Victrelis® Merck Sharp & Dohme) e telaprevir (Incivek®/ Incivo® - Janssen Cilag) que são derivados da α-cetoamida e tem como alvo as proteases serina NS3/4 do vírus da hepatite C. Estes apresentam o propósito principal de inibir a clivagem dessas proteases em suas formas maduras (NS4A, NS4B, NS5A e NS5B) e, assim, evitam que o vírus libere as suas proteínas não estruturais durante a replicação viral (BERSUSA et al., 2012) (Figura 12). A inibição farmacológica da NS3 pode provocar ainda o clearance viral por restaurar a resposta imune inata do indivíduo (SARRAZIN et al., 2007). 42 Figura 12: Organização genômica do vírus da hepatite C e alvos de medicamentos. Fonte: Poordad e Dieterich, 2012. A segunda geração de inibidores de proteases para o tratamento da hepatite C inclui o Simeprevir, Sofobusvir e Daclatasvir. Estes medicamentos foram incorporados no Sistema de Saúde do Brasil no ano de 2015 (Brasil, 2015). O simeprevir (Olysio®/ Janssen-Cilag Farmacêutica Ltda.®) é um antiviral de ação direta e uma segunda geração de NS3/ 4A do inibidor de serina-protease. In vitro, é ativo contra todos os seis genótipos (com menor eficácia contra o genótipo 3a), devido a sua ligação não covalente a protease de vírus da hepatite C, com associação rápida e velocidade de dissociação lenta (GOTTWEIN et al., 2011; VAIDYA e PERRY, 2013). Simeprevir provou ter várias vantagens, tais como a sua elevada eficácia, a duração do tratamento curto (12-24 semanas), melhor perfil de segurança do que os medicamentos de primeira geração e o esquema posológico - número de comprimidos diminuiu para uma vez por dia (ASSELAH e MARCELIN, 2014). Sofosbuvir (Sovaldi ®/ Gilead Sciences Farmacêutica do Brasil Ltda ®) é um prófármaco de 20-desoxi-20-fluoro-20-C-metiluridina monofosfato. É um inibidor análogo de nucleotídeo específico da atuação da polimerase NS5B do vírus da hepatite Ccom ampla atividade antiviral contra todos os genótipos do vírus da hepatite C (ELBAZ et al., 2015). Quanto ao daclatasvir (Daklinza®/ Bristol-Myers Squibb Farmacêutica S.A.®), este inibe a NS5A e apresenta resposta rápida (declínio do RNA HCV), sem reações adversas significativas, altamente eficaz contra genótipos 1-4 (ELBAZ et al., 2015). 43 A Figura 13 retrata as farmacoterapias implementadas e incorporadas no Sistema de Saúde do Brasil, segundo os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para hepatite C neste País. Figura 13: Farmacoterapias implementadas e incorporadas no Sistema de Saúde do Brasil entre os anos de 2011 a 2015. Em linhas tracejadas são apresentadas farmacoterapias desconituadas a partir do PCDT 2015. Fonte: Brasil, 2011; 2013; 2015. A partir da Portaria nº 20 da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, de 24 de maio de 2016, os medicamentos boceprevir e telaprevir foram excluídos das listas de medicamentos disponíveis para o tratamento da hepatite C, tendo em vista a alta complexidade da farmacoterapia, incluindo maiores taxas de reações adversas. Estes medicamentos deveriam ser continuados apenas aos pacientes já em tratamento, sendo os novos casos tratados a partir do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para o tratamento da hepatite C de 2015 (BRASIL, 2015). 44 2.1.1 Manejo da Farmacoterapia Os recentes avanços tecnológicos têm aumentado o arsenal terapêutico e alterado a farmacoterapia. Mesmo terapias recém-lançadas podem rapidamente ser substituídas (GERBELLY et al., 2013). Estes autores previam mudanças no panorama de tratamento, seguindo a tendência de mercado: após aprovação dos inibidores de primeira geração (telaprevir e boceprevir), a terapia tripla passou a ser eleita. No entanto, um rápido declínio, decorrente da complexidade e toxicidade era prevista, quando, então, associações dos inibidores de proteases de segunda geração (sofosbuvir, daclastacvir, simeprevir, entre outros) começam a ser eleitos, devido à toxicidade reduzida, durações de tratamentos mais curtos e esquemas de dosagem e monitoramento de horários (Figura 14). Figura 14: Fases de desenvolvimento terapêutico para o tratamento de vírus da hepatite C infectados e a complexidade associada de gestão clínica. Fonte: adaptado de Gerbelly et al. (2013). O desenvolvimento de fármacos e diminuição da complexidade da farmacoterapia observado nos últimos anos, no entanto, não tem elevado a taxa de tratamentos (GERBELLY et al., 2013). Thomas et al. (2011) ressaltam que o impacto global nas taxas de tratamento é insignificante; as estimativas da Europa e dos Estados Unidos sugerem que somente 3% dos pacientes tinham recebido tratamento,com o aumento na captação de tratamento de apenas 0,5% ao ano. Mesmo as novas terapias são a combinação de dois ou mais fármacos: para melhorar a efetividade e diminuir os riscos de resistência, os medicamentos nunca são utilizados isolados (SHERMAN et al., 2011; SCHNEIDER e SARRAZIN, 2014; EASL, 2015). 45 O objetivo do tratamento da fase aguda da hepatite C é reduzir as chances de evolução para doença crônica (JAECKEL et al., 2001; WEDEMEYER et al., 2004). Quanto mais precocemente for iniciada a terapia, maiores são as taxas de resposta virológica sustentada encontradas, ou seja, carga viral indetectável na 12ª a 24ª semana de seguimento, após o término do tratamento (BRASIL, 2011; BRASIL, 2013). A terapia recomendada pelo Ministério da Saúde para infecção aguda, independentemente do genótipo, é a monoterapia com interferon convencional (fase de indução com alfa-2a na dose de 6 MUI ou alfa-2b na dose de 5 MUI, diários, por quatro semanas; seguido de 3MUI, três vezes por semana, por 20 semanas) ou interferon convencional alfa-2a ou alfa-2b, 3MUI, três vezes por semana, associado à ribavirina 15 mg/kg/dia, por 24 semanas (BRASIL, 2011). Para hepatite C crônica, o objetivo da terapia é controlar a progressão da doença hepática, inibindo a replicação viral, promovendo com isso: resposta viral sustentada, aumento da expectativa de vida e melhora da qualidade de vida, redução da probabilidade de evolução para insuficiência hepática terminal e diminuição do risco de transmissão da doença (BRASIL, 2011). A associação de peginterferon (alfa-2a, 180 mcg, uma vez por semana ou alfa-2b, 1,5 mcg/kg, uma vez por semana) e ribavirina (15 mg/kg/dia) esteve como o tratamento de primeira escolha pelo Ministério da Saúde do Brasil até a incorporação dos inibidores de proteases de pimeira geração. O curso do tratamento dura de 48 a 72 semanas e atua sobre os genótipos 1, 4 e 5 (BRASIL, 2011). Como o sucesso da terapia depende da cinética viral durante o tratamento, em casos de respondedores lentos, com boa adesão e tolerância à terapia, o tratamento pode ser estendido a duração do tratamento para 72 semanas (BERG et al., 2006; FARNIK et al., 2010; BRASIL, 2011). Os genótipos 2 e 3 apresentam maiores taxas de resposta virológica sustentada quando comparados ao genótipo 1 (HADZIYANNIS et al., 2004; JACOBSON et al., 2007; DIAGO et al., 2010; BRASIL, 2011). Segundo o Ministério da Saúde, os esquemas terapêuticos podem ser compostos de: interferon convencional alfa-2a ou alfa-2b, 3 MUI, três vezes por semana associado à ribavirina, 15 mg/kg/dia. Caso o paciente apresente fatores preditores de baixa resposta sustentada, como Metavir ≥F3, manifestações clínicas de cirrose hepática e/ou carga viral ≥ 600.000 UI/mL, o mesmo deve receber tratamento com peginterferon alfa-2a ou alfa-2b, uma vez por semana, associado à ribavirina 15 mg/kg/dia, durante 24 – 48 semanas. O tratamento deve ser estendido para respondedores lentos, com boa adesão e tolerabilidade à terapia (BRASIL, 2011). O boceprevir e/ou telaprevir compõem a terapia tripla, associados ao peginterferon e ribavirina, e apresentam melhores taxas de resposta virológica sustentada quando comparada 46 à terapia dupla (peginterferon e ribavirina): 75,0% vs. 44,0% (JACOBSON et al., 2011) e 67,0% vs. 41,0%, respectivamente (McHUTCHISON et al., 2009). A recomendação do Ministério da Saúde para o telaprevir e boceprevir determina seu uso para indivíduos monoinfectados pelo genótipo 1 do vírus da hepatite C e com fibrose avançada (Metavir F3 e F4) ou cirrose hepática compensada (Child-Pugh ≤ 6, escore utilizado para avaliar o grau de deterioração da função hepática, além de ser marcador prognóstico), sem tratamento prévio com inibidores de proteases. Por causa da toxicidade observada durante o uso destes medicamentos, estes foram suspensos pelo Ministério da Saúde para o tratamento da hepatite C (BRASIL, 2013). Os antivirais de ação direta- Simeprevir, Sofosbuvir e Daclatasvir foram recentemente incorporadas ao Sistema Único de Saúde. Tais medicamentos estão associados ao aumento nos índices de resposta sustentada, apresentando ainda tolerabilidade favorável, menor duração de tratamento, potente atividade antiviral e ampla cobertura genotípica (SULKOWSKI et al., 2014; ASSELAH, 2014; JACOBSON et al., 2014). A dose recomendada de simeprevir é 150 mg uma vez ao dia, durante 12 semanas, administrada com a refeição. O esquema de administração em associação a sofosbuvir é o seguinte: 12 semanas de simeprevir com sofosbuvir (com ou sem ribavirina) (BRASIL, 2015). Estudo recente realizado por Kumada et al. (2014), o CONCERTO-4, encontraram altas taxas de resposta virológica sustentada em pacientes virgens de tratamento (91,7%) e não recidivantes (100%) tratados por 12 semanas, enquanto os não-respondedores anteriores apresentaram taxas de 38,5%, apenas (ASSELAH e MARCELIN, 2014). Diversos estudos analisaram regimes que envolveram sofosbuvir: sofosbuvir associado ao interferon, sofosbuvir mais ribavirina, sofosbuvir além de outro antiviral de ação direta ou sofosbuvir mais outro antiviral de ação direta e ribavirina para diferentes durações do tratamento (8-24 semanas). O estudo NEUTRINO, por exemplo, avaliou a associação do sofobusvir + peginterferon + ribavirina em pacientes com genótipos 1, 4, 5 e 6, apontando taxas de resposta sustentada entre 89,0-100% (LAWITZ et al., 2013). Estudos que testaram sofosbuvir no genótipo 1 (QUANTUM e ELECTRON) mostraram taxas de resposta virológica sustentada de 56% e 88%, respectivamente, em tratamentos de 12 semanas (LALEZARI et al., 2013; GANE et al., 2013). Nenhuma melhoria significativa na taxa de resposta sustentada foi observada quando a duração do tratamento foi prolongada até 24 semanas em um subgrupo de pacientes no estudo QUANTUM. Resultados do ensaio que usou a mesma duração (24 semanas) em genótipos 2 e 3 levou a melhora significativa de resposta virológica sustentada de 56,0% para 73,0% (JACOBSON et al.,2013; 47 ELBAZ et al., 2015). Assim, o tempo de tratamento varia de acordo com o genótipo e da associação utilizada, sendo que a dose recomendada é de 400 mg, administrado por via oral, uma vez ao dia com ou sem alimentos (BRASIL, 2015). Em comparação com um grupo placebo, Daclatasvir foi testado em concentrações de 10 e 60 mg, durante 24 semanas, com taxas de resposta sustentada entre 66,7 (10mg) - 90,0% (60mg) contra 62,5% no grupo placebo (SUZUKI et al., 2014). Comparando a resposta do tratamento em pacientes virgens de tratamento e aqueles que haviam sido tratados para a doença anteriormente, Izumi et al. (2014), observaram taxas de resposta virológica sustentada entre 89-100% em pacientes näive em comparação ao grupo de pacientes que não responderam a tratamentos anteriores (50-78%). Sulkowski et al. (2014) avaliaram a combinação do daclatasvir com sofosbuvir, em genótipos 1, 2 e 3: os melhores resultados foram obtidos com pacientes do genótipo 1 tratados por 12 semanas (taxa de 98,0% de resposta virológica sustentada, tanto em pacientes virgens de tratamento quanto em pacientes com resposta nula em tratamentos anteriores). Para os genótipos 2 e 3, a resposta virológica sustentada foi obtida em 92% e 89% dos doentes, respectivamente. As respostas às taxas foram semelhantes se os pacientes estavam tomando ribavirina ou não. 2.1.2 Monitoramento O monitoramento da efetividade do tratamento é baseado em medições repetidas de níveis de RNA do vírus da hepatite C em pontos de tempo específicos (Figura 15). O mesmo ensaio, de preferência do mesmo laboratório a fim de assegurar a consistência dos resultados. Além disso, as medições devem ser feitas para avaliar a adesão do paciente à terapia (CHEVALIER et al., 2007; VERMEHREN et al., 2008). Figura 15: Monitoramento da Farmacoterapia em pontos de tempo específicos. Fonte: Adaptado de Brasil, 2011; 2013; 2015. 48 Nota: 1- indicado em alguns regimes terapêuticos Para alguns regimes de tratamento, os resultados dos níveis de RNA viral obtidos podem determinar se o tratamento deve ser suspenso ou abreviado. Em todos os casos, monitoramento do nível de RNA indica se o tratamento tem sido bem-sucedido (no curso do tratamento, final do tratamento e pós-tratamento para avaliação da resposta virológica sustentada) (EASL, 2015). Entre os exames periódicos estão: hemograma, creatinina, aspartato aminotransferase, alanina aminotransferase, gama glutamil transpeptidase, bilirrubinas, albumina, fosfatase alcalina, tempo de protrombina, ácido úrico, glicemia, avaliação do hormônio estimulante da tireóide, avaliação da gonadotrofina coriônica humanaBeta HCG (BRASIL, 2011). A periodicidade e a extensão do monitoramento laboratorial são determinadas pela escolha da farmacoterapia e da Terapia Guiada pela Resposta (TGR) (BRASIL, 2011; 2013; 2015). 2.1.3 Barreiras para o tratamento Apesar da efetividade da terapia antiviral nos últimos anos a grande morbidade e mortalidade de doenças do fígado ainda estão associadas ao não tratamento da hepatite C. Dados recentes sugerem que relativamente poucos pacientes estão sendo tratados (AVERHOFF et al., 2012; DORE et al., 2014; EDWARD et al., 2015; FORD et al., 2015). Na Europa, apenas 3,5% dos indivíduos com hepatite C receberam terapia antiviral até o final de 2005, com taxas de tratamento que variam de 16% na França e de 1% em países como a Polônia (VOLK, 2010; DORE et al., 2014). Uma relação entre o número total de tratados e a taxa de tratamento mostrou que o Egito (65.000 por ano), em números absolutos apresentou dado superior a de países desenvolvidos como França ou Alemanha. Apesar da grande prevalência do vírus da hepatite C crônica, este representa apenas 1,1% tratados por ano (Figura 16). No Brasil apenas 0,6% dos pacientes estão sendo tratados anualmente (DORE et al., 2014). 49 Figura 16: Estimativa entre tratamentos e número de tratados para hepatite C. Fonte: adaptado de Dore et al., 2012. De acordo com McGowan et al. (2012) o acesso ao tratamento pode ser afetado por diferentes fatores, não percebidos igualmente entre as regiões globais. A Figura 17 retrata os principais fatores percebidos nas diferentes regiões globais. Figura 17: Barreiras no tratamento da hepatite C, nas regiões globais. Fonte: adaptado de Gowan et al., 2012. * Cada barreira foi classificada em uma escala de Likert de 10 pontos, entre 0 "a não barreira" a 10 "barreira grande". De acordo com o estudo de McGowan et al. (2013), alguns dos fatores associados aos pacientes estão o medo de reações adversas, dificuldade com a administração, duração do 50 tratamento, baixa taxa de sucesso de tratamento, além do desejo de esperar por novas terapias. No que se refere aos fatores associados ao governo estão a restrição e a falta de promoção para o tratamento. O reembolso insuficiente para médicos, a falta de preparo da gestão do tratamento e a falta de encaminhamento estão entre as principais barreiras relacionadas aos provedores. Os problemas relacionados aos pagadores estão as despesas elevadas, a falta de cobertura dos planos de saúde aos exames moleculares e dos marcadores séricos de fibrose e não cobertura de terapias sinérgicas para o tratamento de reações adversas. Volk (2010) percorreu os caminhos dos pacientes, desde o diagnóstico até encaminhamento para tratamento, identificando múltiplas barreiras que existem ao longo do percurso (Figura 18). Aproximadamente, 25% das barreiras ocorrem entre a infecção e o diagnóstico; aproximadamente 50% esta na falta de diagnóstico diferencial, feita por especialistas; e pouco menos de 30% está entre o encaminhamento pelo especialista e o início do tratamento (McGOWAN et al., 2012). Anteriormente, Volk et al. (2009) avaliaram que apenas 49% dos indivíduos com hepatite C crônica estão cientes de que são infectados. A falta de diagnóstico pode estar na desvalorização dos sinais e sintomas da doença durante o atendimento primário. Ainda segundo esses autores, os clínicos responsáveis pelos cuidados primários não estão preparados para rastrear de forma ativa a doença em pacientes com fatores de risco. Um levantamento realizado por Shehab et al. (2001) com médicos de cuidados primários, 72% não encaminharia um paciente com enzimas hepáticas normais para tratamento, apesar das evidências de que tais pacientes podem desenvolver doença progressiva. Para Volk (2010) a não identificação e/ou desvalorização dos achados clínicos diminuem as chances de tratamento e cura, constituindo uma importante barreira para o tratamento da hepatite. 51 Figura 18: Avaliação das barreiras do tratamento da hepatite C à partir do seguimento dos pacientes desde o diagnóstico ao tratamento. Linhas contínuas indicam a via de tratamento que os pacientes devem seguir, enquanto que as linhas tracejadas indicam barreiras ao tratamento. Fonte: Adaptado de Volk (2010) e McGowan et al. (2012). A escassez de especialistas interessados no tratamento para a hepatite C é um problema adicional, uma vez que o tratamento com medicamentos antivirais, como é o caso do uso com interferon, é um trabalho intensivo e as taxas de reembolso são relativamente baixas (SCHIFMANN, 2007; VOLK, 2010; GREBELLY et al., 2015). Países de baixa e média renda carecem de médicos hepatologistas (LEMOINE et al., 2013). Em muitos casos, os pacientes têm que percorrer longas distâncias para o tratamento com especialistas (McGOWAN et al., 2013; WEI et al., 2016). Mesmo entre os pacientes que procuram um especialista para discutir a terapia antiviral, menos de um terço recebem tratamento (KANWALL et al., 2007). Em uma coorte de 5701 pacientes HCV, 3743 (65%) foram vistos por um especialista e 894 (15,7%) receberam tratamento. Outro fator decisivo é a experiência dos provedores de saúde em tratar pacientes com hepatite C. Foi observado que os provedores menos experientes (tratamentos/pacientes com hepatite C/ano) estão menos dispostos a cobrir os custos do tratamento em relação aos provedores de saúde mais experientes neste tipo de tratamento (McGOWAN et al., 2013). De acordo com estes autores, as chances em ser tratado por meio de provedores menos experientes eram 77% menores. Além disso, dada as preocupações 52 sobre a segurança e adesão ao tratamento, muitos provedores de saúde não gostariam de tratar pacientes que muitas vezes são usuários de substâncias ativas. Para McGowan et al. (2013), os pacientes também influenciam a decisão de empreender a terapia antiviral. De acordo com Wei et al. (2016), embora muitos pacientes sejam excessivamente preocupados com a sua doença e estão dispostos a assumir quase todas as medidas para erradicar o vírus, um número igual de pacientes é bastante resistente a ser tratado. Segundo estes autores, numerosos equívocos dos pacientes e polarizações cognitivas podem contribuir para a resistência a se tratar. Por exemplo, muitos pacientes que, devido à falta de sintomatologia, consideram que não precisam ser tratados (WEI et al., 2016). Outros pacientes expressam preocupação excessiva sobre os as reações adversas; destacam a necessidade de realizar biópsia e a preocupação com a não resposta (MANNS et al., 2001; FRIED et al., 2002; McGOWAN et al., 2013). A manifestação de reações adversas, comuns na prática geral e mesmo em ensaios clínicos (15%), é uma das principais causas de descontinuação do tratamento (WEI et al., 2016). Este medo não é descabido, uma vez que quase todos os pacientes apresentam, pelo menos, uma reação adversa relacionada com o tratamento e, de 10% a 14% dos pacientes tem que interromper o tratamento (MANNS et al., 2001; FRIED et al., 2002). Tais situações podem afetar a adesão do paciente a farmacoterapia. McHuntinson et al. (2002) preconizam que a regra 80/80/80 (administração de 80% da ribavirina e 80% do interferon em 80% do tempo prescrito do tratamento) está associada a maior efetividade (63% vs. 34%, com p=0,008). No entanto, reduções de doses costumam ser necessárias durante a farmacoterapia e uma barreira ao tratamento, especialmente nas primeiras 12 semanas (Ferenci et al., 2005). Os custos de monitoramento e dos medicamentos são também um problema. De acordo com McGowan et al. (2012), em estudo transversal de pacientes com hepatite C encaminhados para um centro terciário, metade dos pacientes citou a falta de recursos financeiros pessoais como barreira, destacando como fonte de acesso, provedores e o governo (McGOWAN et al., 2012; WHO, 2014). De acordo com Ylmaz et al. (2016), os custos de monitoramento incluem os testes de vírus da hepatite C, o teste de carga viral e a genotipagem. Como muitos países não oferecem os exames bioquímicos e hormonais e os testes carga virais, que são utilizados para avaliar a segurança e a efetividade do tratamento, estes devem ser pagos pelos pacientes (WHO, 2014). De acordo com o relatório da Organização Mundial de Saúde (2014), enquanto os países desenvolvidos não experimentam problemas para executar a medição de testes de RNA utilizados no diagnóstico e monitoramento, os países em desenvolvimento podem ter 53 problemas devido à falta de recursos. Dosagens sorológicas e teste do RNA viral, por exemplo, pode variar entre US$ 24 a US$ 45-76, respectivamente (REIN et al., 2015). Apesar de mais barato, o teste de imunodetecção do antigênio anticore por meio do ensaio de imunoadsorvente ligado a enzima (ELISA), utilizado para a detecção e quantificação total do Ag-HCV no sangue periférico de pacientes infectados com hepatite C, possui baixa sensibilidade, especialmente com cargas virais de menos de 20000 IU/mL (BOUVIERALIAS et al., 2002). A escolha pela farmacoterapia também deve considerar os custos do monitoramento (REIN et al., 2015; YLMAZ et al., 2016). Testes de carga viral, por exemplo, são menos requeridos quando se opta pela combinação sofosbuvir/ ledipasvir em relação às terapias que utilizem o telaprevir e o boceprevir (REIN et al., 2015). Para Ylmaz et al. (2016), o uso do telaprevir e do boceprevir não são adequados em países de baixa renda, porque são caros e exigem constante vigilância das reações adversas. Além disso, os exames para monitoramento são de pouco ou nenhum acesso. O custo ao longo da vida de uma infecção por hepatite C crônica é $ 64.694 dólares canadenses ($CAD), variando de $CAD 51.946 para um paciente sem fibrose (F0) até $CAD 327.608 para um paciente que necessita de transplante de fígado, não incluindo o custo do tratamento (MYERS et al., 2014). Em seu estudo, Rein et al. (2015) estimaram os custos associados aos diferentes regimes terapêuticos, que variaram quanto a escolha dos medicamentos, ao tempo de tratamento e ao genótipo do vírus: tratamentos que utilizaram peginterferon e ribavirina variaram entre US$ 30.612 para o tratamento do genótipo 2, por 24 semanas, a US$ 61.224, genótipos 1 e 4, por 48 semanas. Os tratamentos com inibidores de proteases de primeira geração (telaprevir ou boceprevir) associados ao peginterferon e ribavirina foram estimados em US$ 78.812, enquanto que a combinação de dois antivirais de ação direta (Sofosbuvir + Simeprevir) chegam a custar US$ 150.360, por 12 semanas. O tratamento de um único medicamento durante 84 dias chega a custar US$ 84.000 (SUTHAR e HARRIES, 2015). No Brasil, seguindo a perspectiva do Sistema Único de Saúde, o tratamento com peginterferon e ribavirina, por 48 semanas, custa entre US$10.658 a US$12.597 (BLATT et al., 2012). A participação do Estado na promoção do acesso é importante para melhorar as taxas de pacientes tratados e diminuir os custos junto às indústrias; na Lituânia, por exemplo, onde o custo do tratamento é coberto por um sistema nacional de seguro, o custo de peginterferon é 10% menor do que na Rússia e no Cazaquistão (OCHERET et al., 2013). De acordo com estes autores, outros países buscaram ajudas financeiras para serem capazes de cobrir o custo 54 elevado do tratamento. Nesses países, o custo de um curso de 48 semanas de peginterferon é US$ 14.500. Na Índia, desde 2015 as pessoas têm acesso ao peginterferon e ribavirina, o custo de um curso de 24 semanas é de 140.000 INR (rúpia indiana) (SOLOMON et al., 2015), enquanto na Ásia, o custo de um curso de 48 semanas de peginterferon e ribavirina varia de US$ 12.000 no Vietnã e US$ 18.500 na Indonésia (WHO, 2014). Na Ucrânia, em que 4,4 milhões de pessoas estão infectadas, até o ano de 2013, quando o governo começou a disponiblizar à parte dos pacientes o peginterferon, os pacientes tinham que pagar de US$ 10,000-18,000 por seu próprio tratamento. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a revolução no tratamento neste país possivelmente se deve à ajuda do Fundo Global, que reduziu o custo de um curso de 48 semanas de peginterferon e ribavirina de US$ 13.200 para US$ 5.000 (WHO, 2014). Em alguns países, o Estado disponibiliza os medicamentos a grupos de pessoas ou subsidia apenas parte do tratamento. Na Rússia, o estado cobre testes e tratamento apenas para pacientes co-infectados com HIV/ vírus da hepatite C; na Georgia, o tratamento peginterferon e ribavirina é coberto pelo governo apenas para presidiários. Na Tailândia, o tratamento padrão peginterferon e ribavirina está em uma lista de medicamentos essenciais, no qual o governo cobre US$ 4.800,00; neste país, para os genótipos 2 e 3, o tratamento é limitado a 24 semanas e os pacientes têm de arcar o restante do custo e o custo associados aos tratamentos dos eventos adversos (WHO, 2014; KAPLAN et al., 2015; YLMAZ et al., 2016). Os custos são ainda maiores em terapias agregativas, como observaram Brennan e Shrank (2014). Estes autores avaliaram o custo do curso de 24 semanas da terapia pegintereron, ribavirina e telaprevir (US$ 111.606,00) e da mesma terapia com 48 semanas (US$ 143.827,00). Para Lemoine e Thursz (2014) e Ylmaz et al. (2016), essas discrepâncias entre os preços dos vários medicamentos no mercado permitem selecionar terapias conforme a disponibilidade de recursos. Estes são problemas, sobretudo, relacionados com as limitações da disponibilidade dos medicamentos e critérios de elegibilidade (BRASIL, 2015; EDWARD et al., 2015; FORD et al., 2015). De acordo com Suthar e Harries (2015) e Edward et al. (2015) as barreiras legais e financeiras impõem um obstáculo significativo no licenciamento e fornecimento dos antivirais de ação direta em países de baixa e média renda. Algumas opções políticas para expandir o acesso ao tratamento por meio da redução de custo são: (1) licenciamento voluntário (detentores de patentes voluntariamente licenciam a fabricação de genéricos e combinações de doses fixas em territórios definidos), (2) preços diferenciados (detentores de patentes que desenvolvem preços diferentes com base na capacidade de pagamento), (3) oposição pré e 55 pós-outorga (terceiros contestando a validade de patentes depositadas em países que implementaram acordos de flexibilidades sobre os Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual relacionados com o Comércio), ou (4) Licenças (países que importam ou produzem localmente os medicamentos por Implementação do acordo de flexibilidade sobre os Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual relacionados com o Comércio). Para Edwards et al. (2015), o impacto positivo da concorrência dos fabricantes de medicamentos genéricos foi amplamente demonstrado no contexto dos tratamentos de HIV (o preço médio de um regime anti-retroviral adulto de primeira linha caiu de US$ 414,00 por pessoa por ano em 2003 para US$ 74,00 em 2008). Na falta de redução de preços, os antivirais de ação direta podem não ser uma opção de tratamento custo-efetiva para peginterferon e ribavirina, particularmente para genótipos mais fáceis de tratar. Em países mais pobres, tratamentos alternativos, ainda que menos seguros, devem estar disponíveis (YLMAZ et al., 2016). Os países também precisarão de sistemas centrais de aquisição e gestão da cadeia de abastecimento que abrangem o registo do antiviral, previsão, aquisição, armazenamento e distribuição para evitar rupturas de estoque e reduzir custos (SUTHAR e HARRIES, 2015). De acordo com Pawlotsky (2012), grande parte dos indivíduos portadores vive em áreas onde o trinômio screnning/ acesso/financiamento ainda não está disponível de forma adequada. Enquanto isso, os envolvidos no atendimento de pacientes com hepatite C devem continuar a educar os médicos solicitantes e o público em geral sobre a disponibilidade e eficácia da terapia antiviral. Para Volk (2010), campanhas de rastreio podem aumentar as taxas de diagnóstico e ajudar na decisão do paciente para superar algumas barreiras. Segundo Mohammad et al. (2014), a participação de outros profissionais pode otimizar a utilização dos recursos dirigidos contra o vírus da hepatite C. O envolvimento de outros profissionais de saúde, como o farmacêutico, pode melhorar o manejo dos impactos subjetivos, visto que se ampliam as possibilidades de detectar a necessidade da terapia sinérgica, avaliar interações medicamentosas, entre outros. Além disso, pode prever desordens hematológicas e auxiliar no manejo da ribavirina a partir da competência na interpretação de exames laboratoriais (SPONNER, 2009; NOGUEIRA et al., 2012; MOHAMMAD et al., 2014). 56 2.1.4 Reações adversas à farmacoterapia De acordo com Manns et al. (2001), Fried et al. (2002) e Ghany et al. (2009), a maioria dos pacientes tratados com peginterferon e ribavirina experimentam reações adversas à farmacoterapia, sendo esta uma causa importante de não adesão ao tratamento ou interrupção do mesmo, evidenciando a necessidade de suporte multiprofissional e acompanhamento clínico e laboratorial rigoroso durante o tratamento. Em geral, as anormalidades laboratoriais são a principal causa de redução da dose dos medicamentos (GHANY et al., 2009). Os eventos hematológicos associados à terapia da hepatite C podem levar à diminuição da efetividade do tratamento e comprometer a segurança dos pacientes (SULKOWSKI, 2005). De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a anemia é definida pela diminuição de massa eritrocitária total, com hemoglobina < 12 g/dl em mulheres ou < 13 g/ dL em homens. Constitui importante reação adversa da terapia da hepatite C, ocorrendo em aproximadamente 10% a 30% dos casos, devido à supressão medular causada pelo interferon e hemólise dos glóbulos vermelhos provocada pela ribavirina. Com isso, os níveis séricos de hemoglobina decrescem 2 a 3 g/dL. A redução precoce da ribavirina para controle da anemia pode provocar diminuição das taxas de resposta virológica sustentada. Dessa forma, a eritropoetina recombinante estaria indicada, permitindo o uso de pelo menos 80% da dose preconizada de ribavirina e melhorando a qualidade de vida dos pacientes (TORTORICE etal., 2007; BRASIL, 2011). De acordo com European Association for the Study of the Liver (2015), se a anemia for identificada antes da 12ª semana de tratamento, deve ser iniciada eritropoetina. Caso não haja resposta adequada a essa medida, há indicação de redução da dose da ribavirina. Caso a anemia se desenvolva após a 12ª semana, deve ser realizada a redução da dose da ribavirina, seguido do uso de eritropoetina recombinante se a primeira medida não surtir efeito. Tem indicação de uso de eritropoietina os pacientes anêmicos sintomáticos, com hemoglobina atual menor que 10g/dL ou queda > 3,0g/dL em relação ao nível pré-tratamento. A dose de ribavirina deve ser reduzida para 500 a 750 mg/dia com níveis de hemoglina < 10g/dL e interrompida com níveis < 8,5g/dL (BRASIL, 2011; EASL, 2015). Outra reação adversa comum à terapia da hepatite C é a neutropenia, definida pela contagem de neutrófilos < 1500/mm3 (GHANY et al., 2009). Está presente em 20% dos pacientes tratados com peginterferon, devido à supressão medular, que resulta em níveis de neutrófilos < 750/mm3. Como a redução de menos que 60% do peginterferon pode diminuir 57 as taxas de resposta virológica sustentada, pode-se requerer o uso de fator estimulador de colônias de granulócitos, Filgrastim, mantendo assim as doses desse medicamento, reduzindo também o risco de infecção e hospitalização (TORTORICE et al., 2007). Para a neutropenia identificada antes da 12ª semana de tratamento, deve ser iniciada Filgrastim. Se não houver resposta adequada a essa medida, há indicação de redução da dose do interferon. Para a leucopenia desenvolvida após a 12ª semana deve ser realizada a redução da dose do interferón, seguido do uso de Filgrastim, se a primeira medida não apresentar efeito. Tem indicação de Filgrastima pacientes com neutrófilos < 500/mm³ ou < 750/mm³ (para cirróticos, transplantados ou coinfectados pelo HIV) (BRASIL, 2011). A trombocitopenia é caracterizada pela contagem de plaquetas < 150.000/mm3 (AFDHAL et al., 2008). A dose de interferon deve ser reduzida a 50% em pacientes que apresentem plaquetas < 50.000/mm³ e suspensa naqueles com plaquetas < 25.000/mm³ (BRASIL, 2011). Agentes que estimulam o fator de crescimento da trombopoetina e aumentam os níveis plaquetários estão em desenvolvimento, podendo promover tratamento da trombocitopenia, reduzindo a necessidade de transfusões e facilitando a terapia antiviral (AFDHAL et al., 2008). O Quadro 1 mostra as principais reações adversas associadas ao tratamento com interferon, peginterferon e ribavirina. Quadro 1: Reações adversas no tratamento da hepatite C com interferon, peginterferon e ribavirina. Terapias Reações Adversas Interferon e Peginterferon Alopecia, anemia, trombocitopenia, neutropenia, depressão ou transtornos do humor, distúrbios auto-imunes, diarreia, sintomas semelhantes ao da gripe (dor de cabeça, fadiga, febre e mialgia), dor ou eritema no local da injeção, retinopatia, transtornos do sono, distúrbios da tireoide, perda de peso. Ribavirina Anemia hemolítica, tosse, dispneia, gota, náusea, erupções cutâneas e teratogenicidade. Fonte: BRASIL, 2011. As reações adversas mais comuns do boceprevir utilizado em terapia tripla são aqueles tipicamente associados com peginterferon e ribavirina, como sintomas gripais, fadiga e 58 náuseas (JAZWINSKI e MUIR, 2011). Todavia, no estudo SPRINT-2, a anemia foi mais comum entre os grupos de tratamento de 24 e 48 semanas que receberam boceprevir (ambos com 49,0%) em comparação com o grupo que recebeu tratamento padrão com peginterferon e ribavirina (29,0%). O uso da eritropoietina também foi maior entre os pacientes que utilizaram boceprevir (43,0% vs. 24,0%) (POORDAD et al., 2011). No geral, a interrupção do tratamento foi maior, variando de 9,0% para 19,0% nos grupos que receberam o boceprevir versus 8,0% no grupo controle (KWO et al., 2010). Tal como acontece com tratamentos com boceprevir, regimes baseados em telaprevir devem incluir pegintereferon e ribavirina, a fim de prevenir a resistência e permitir a conclusão bem-sucedida do tratamento. Reações adversas do esquema que inclui o telaprevir também estão associadas com a anemia; estudo de McHutchison et al. (2009a) observaram que pacientes que recebem telaprevir podem apresentar redução média da hemoglobina 0,51,0 g / dL em relação ao grupo controle. Taxas mais elevada de exantema, prurido, náuseas e diarreia também são vistos no tratamento com telaprevir (HEZODE et al., 2009; McHUTCHISON et al., 2009b). De acordo com McHutchison et al., (2009a), o aumento da atenção para a erupção cutânea associada ao tratamento com telaprevir tem proporcionado uma visão sobre a sua frequência em pacientes recebendo a terapia com peginterferon e ribavirina. No estudo PROVE 1, erupção cutânea moderada e grave eram presentes em 15% e 7% dos pacientes que receberam telaprevir, respectivamente, em comparação com 8% e 1%, respectivamente, dos pacientes que receberam peginterferon e ribavirina. A incidência de erupção cutânea levou à descontinuação do tratamento em 7% dos pacientes nos tratamentos com telaprevir em comparação com 1% de pacientes na terapia padrão (McHUTCHISON et al., 2009a). Mais de 90% das reações dermatológicas associadas ao telaprevir são leves ou moderadas (Grau 1/Grau 2). De acordo com Vilani et al. (2013), mesmo que apenas 2% sejam graves, quase todos os pacientes tratados com boceprevir ou telaprevir apresentam reações adversas. Estudo de Fontaine e Pol (2011) apontaram que 47,1% dos tratamentos com telaprevir e em 42,1% dos tratamentos com boceprevir foram suspensos pelo surgimento de reações adversas. O tratamento de reações cutâneas induzidas pelo tratamento da hepatite C inclui ações farmacológicas e não farmacológicas. Deve-se optar por cremes emolientes e loções ricas em lipídios, em vez de loções aquosas ou pomadas. Os sedativos anti-histamínicos (por exemplo, hidroxizina) são mais úteis ao deitar, enquanto sedativos anti-histamínicos (por exemplo, a fexofenadina) podem ser administrados diariamente durante toda a duração da erupção, 59 conforme necessário para coceira (CACOUB et al., 2012; DRUYTS et al., 2013; TORII et al., 2013; TURAL e PLANAS, 2013). As recomendações profiláticas do tratamento basal da pele incluem a hidratação, imediatamente depois do banho, começando com as mãos, pés, e a pele em torno das grandes articulações, seguido por as grandes superfícies da pele do tronco e extremidades, e no final com o pescoço, face e dobras da pele. Além disso, os pacientes são recomendados a limitar a exposição a sol/calor e usar roupas folgadas (FRIED, 2002; GAETANO et al., 2012; TORII et al., 2013). Mais complexo, o tratamento triplo com peginterferon, ribavirina e um dos inibidores de proteases de primeira geração, exigem conhecimento específico, inclusive as regras de parada. De acordo com Tural e Planas (2013), as regras de parada do telaprevir e boceprevir em pacientes que não respondem ao tratamento devem avaliar o custo, a exposição do paciente as possíveis reações adversas sem aumentar possibilidades de atingir resposta virológica sustentada e, especialmente, o risco de desenvolvimento de cepas virais resistentes. Há em todos os infectados a produção de aproximadamente dez vírus por dia e um erro gerado por cada novo vírus; é bem possível que as cepas virais resistentes se replicam e se tornam as espécies dominantes às sensíveis aos inibidores de protease, com consequência inevitável de recorrência viral. A resistência antiviral está diretamente relacionada à resposta sustentada e, um dos fatores que podem diminuir os riscos de surgimento de cepas resistentes é a resposta ao tratamento anterior (SHERMAN et al., 2011; SCHNEIDER e SARRAZIN, 2014). Se pacientes tem a resposta ruim ao peginterferon e ribavirina, o risco de desenvolver resistência é alto. O declínio pequeno na carga viral durante a terapia tripla também está associado ao maior risco. Consequentemente, o surgimento de variantes virais resistentes é observado em um número significante de pacientes com resposta parcial ou nula ao tratamento prévio com peginterferon e ribavirina, em pacientes com declínio limitado da carga viral durante o leadin, e em populações difíceis de curar como os negros ou pacientes com fibrose avançada. Além disso, ambos inibidores de proteases ainda requerem sempre a combinação com peginterferon e ribavirina (SARRAZIN, 2007; SHERMAN et al., 2011; SCHNEIDER e SARRAZIN, 2014). Estudos em que os doentes receberam monoterapia com boceprevir ou telaprevir desenvolveram resistência dentro de poucos dias (SARRAZIN, 2007). A resistência foi associada, na verdade, a qualquer inibidor do vírus da hepatite C em monoterapia, por se acreditar na existência de variantes resistentes antes mesmo do tratamento (SOCIEDADE 60 BRASILEIRA DE INFECTOLOGIA, 2008; CUNNINGHAM e FOSTER, 2012). Devido ao perfil de resistência sobreposta, um inibidor de proteases não pode substituir o outro em caso de falha terapêutica, nem a combinação de dois inibidores de proteases funciona. Segundo Wu (2013), o genótipo 1a do vírus da hepatite C é mais resistente aos inibidores de proteases que o genótipo 1b. Piccoli et al. (2011) sugerem que a esteatose pode induzir um mecanismo de resistência à terapia antiviral, independentemente dos outros fatores. Os antivirais de ação direta (Sofobusvir e Daclatasvir) apresentam como reações adversas mais comumente reportadas àquelas relativas aos medicamentos aos quais estão associados. Em associação com ribavirina, os eventos associados ao sofobusvir são a cefaleia e a fadiga. Em associação com alfapeguinterferona ocorre insônia e anemia. Em associação com alfapeguinterferona e ribavirina, o tratamento com Daclatasvir pode desencadear: erupção cutânea, fotossensibilidade, prurido e náuseas (BRASIL, 2015). Recomenda-se ao paciente que evite exposição solar excessiva durante a administração dos fármacos de nova geração (EASL, 2015). 3. APLICAÇÃO DOS ESTUDOS DE UTILIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS (EUM) PARA HEPATITE C Os EUM podem ser de grande valia na compreensão do acesso, acessibilidade e barreiras à sua utilização, mas também essenciais na descrição dos padrões de uso de medicamentos, constatação de variações nos perfis terapêuticos no curso do tempo, estimativa das necessidades de medicamentos de uma sociedade, entre outros (BERTOLDI et al., 2008; TRUTER, 2008). Estes estudos cumprem o papel vigilante da utilização de medicamentos em condições reais nas sociedades, aludindo o grau de variabilidade de utilização ao qual se submete o medicamento em diferentes países, culturas e práticas médicas. As informações geradas devem dimensionar a realidade observada, sem a qual as informações coletadas não teriam utilidade prática. Para Barros (1995), pode-se obter mais e melhores informações sobre o papel desempenhado pelos medicamentos na sociedade a partir dos EUM, formando assim, uma "base médico-social e econômica para as atividades de regulamentação e outras decisões no campo da política de medicamentos". 61 Em linhas gerais, os EUM aliam áreas de conhecimentos (Figura 19) como Epidemiologia (necessária para compreender a extensão e padrão de uso de medicamentos, e como tal uso realmente contribui para a saúde da população), Ciências Sociais (necessária para explicar como as percepções dos indivíduos, bem como o ambiente social e cultural pode afetar o uso de medicamentos) e Farmacologia Clínica (necessária para investigar a efetividade e a segurança dos medicamentos) (HAAIJER-RUSKAMP e HEMMINK, 1996). Figura 19: Abordagem Multidisciplinar dos Estudos de Utilização de Medicamentos Fonte: adaptado de Haaijer-Ruskamp e Hemmink, 1996. Outra abordagem importante é a qualidade da assistência. Para Castro (2000) o desenvolvimento de EUM em unidades e sistemas de saúde tem o papel de majorar a qualidade da assistência. Para isso, usa o pressuposto de Donabedian (1986), segundo o qual, a qualidade dos resultados é proveniente de processos adequados, para propor que os EUM devem ser capazes de detectar e propor reformulações no processo (CASTRO, 2000). A avaliação destes estudos deve ser valorizada por governos e instituições de saúde e estratégico para execução de políticas de medicamentos essenciais (FABRICANT e HIRCHHORN, 1987). Países em desenvolvimento, como o Brasil, gastam em torno de 30% de todos os recursos em saúde com medicamentos, exigindo que se estabeleçam prioridades no processo de escolha de medicamentos, optando-se por medicamentos efetivos e seguros que atendam às necessidades em saúde de um maior número da população (BRASIL, 2006). No Brasil, os medicamentos incluídos no tratamento da hepatite C se encontram no Componente Especializado de Assistência Farmacêutica e seu fornecimento está normatizado pelo Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Hepatite C e Coinfecções, do Ministério 62 da Saúde, que é atualizado conforme a disponibilidade de novos tratamentos (BRASIL, 2015). Em menos de cinco anos, foram incorporados no Sistema Único de Saúde, duas novas tecnologias, os inibidores de proteases de primeira geração e de segunda geração, representados por cinco novos fármacos (boceprevir, telaprevir, sofosbuvir, daclastavir e simpeprevir) e a combinação de diversos esquemas terapêuticos (boceprevir + peginterferon + ribavirina; telaprevir + peginterferon + ribavirina; sofosbuvir + daclastavir; sofobusvir + simeprevir; sofobusvir + ribavirina; sofosbuvir + peginterferon + ribavirina; daclatasvir + peginterferon + ribavirina). O impacto da repercussão foi realizado pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS: o custo do tratamento com telaprevir (12 semanas) é de R$ 48.798,57 e o de boceprevir de R$ 52.639,74. O impacto orçamentário com o tratamento dos antivirais de ação direta foi calculado com base populacional de 15.000 indivíduos infectados no horizonte temporal de um ano, estimando valores entre R$ 578 milhões a R$ 671 milhões (CONITEC, 2012; 2015). A dinâmica no desenvolvimento e uso de medicamentos, como parte essencial no processo de cuidado ao paciente com hepatite C, exige igual dinâmica na avaliação de sua utilização, como forma de melhorar a oferta de assistência ao paciente. Estas pesquisas devem se basear nos diversos aspectos populacionais, e discutidas à luz da realidade socioeconômica da população, apresentando consistência entre o perfil de morbidade e consumo de medicamentos, a fim de garantir o acesso, a efetividade e a segurança e destes medicamentos (HAAIJER-RUSKAMP e HEMMINK, 1996; LOYOLA FILHO, 2006). No Brasil, os principais temas associados à avaliação do processo de uso da farmacoterapia da hepatite C, são a avaliação da dispensação (VENÂNCIO et al., 2014), da resposta terapêutica (ALVES et al., 2003; ACRÁS et al., 2004), da adesão ao tratamento (CUNHA et al., 2009), dos custos do tratamento (BLATT et al., 2012), da percepção sobre a doença (COELHO et al., 2011) e das intervenções da farmacoterapia (ROSA et al., 2010; NOGUEIRA et al., 2012). Em Sergipe, apenas uma pesquisa retratou o tratamento da doença, não sendo possível constatar variações nos perfis terapêuticos no curso do tempo (NOGUEIRA et al., 2012). Os EUM aplicados à farmacoterapia da hepatite C podem, como um promissor campo de investigação, responder às carências de dados na abordagem epidemiológica da avaliação dos fármacos (TOGNONI e LUNDE, 1993). EUM são metodologicamente aplicáveis para doenças que apresentam fatores específicos, como a hepatite C, visto que o tratamento é principalmente medicamentoso. Os fármacos prescritos são administrados de forma regular e 63 o acompanhamento definido em protocolos específicos assim como, são menos dispendiosos e rápidos. 3.1 Antecedentes da Tese. O professor Dr. Ângelo Antoniolli tem desenvolvido estudos na área de Assistência Farmacêutica desde 2008 em colaboração com o professor Dr. Divaldo Pereira de Lyra Junior. Sob orientação dos dois foram formadas três mestrandas (Ana Patrícia Alves Lima Santos; Jullyana de Souza Siqueira Quintans; Tássia Oliva de Souza) trazendo contribuições à comunidade científica e sociedade civil. Assim, a população e grupos específicos de pacientes se beneficiaram diretamente dos resultados das pesquisas promovidas por esta parceria. O professor Dr. Divaldo, desde o ano de 2007, lidera o Laboratório de Ensino e Pesquisa em Farmácia Social (LEPFS), da Universidade Federal de Sergipe que trabalha com temas associados aos cuidados farmacêuticos A implantação e avaliação da qualidade dos serviços servem de indicadores e são temas norteadores de pesquisas do LEPFS (Marques, 2011; Onozato, 2014; Santos- Junior, 2014; Silvestre, 2014; Cunha, 2016). Neste sentido, a revisão e acompanhamento da farmacoterapia é especialidade do grupo (Balisa-Rocha, 2010; Aguiar, 2010; 2014; Souza, 2011; Andrade, 2011; Rabelo, 2012; Brito, 2012; Silva, 2012; Silvestre, 2014; Cunha, 2016; Boaventura, 2016). Os resultados obtidos pelo grupo creditam as pesquisas e ampliam a visibilidade da profissão, explorando áreas, até então, de pouca ocupação. O Serviço de Cuidados Farmacêuticos (SCF) é um projeto do LEPFS voltado ao trabalho multiprofissional, junto a médicos e estudantes de Medicina, com melhora da efetividade e segurança da farmacoterapia. Os trabalhos do SCF iniciaram com o atendimento de pacientes atendidos na clínica médica do Hospital Universitário da UFS (HU/UFS) e serviram como base para a tese de doutoramento da aluna Tatiane Cristina Marques, no ano de 2015. No mesmo ano, o serviço foi ampliado com atendimento de paciente ligados ao Serviço de Doenças do Fígado do HU/UFS que é coordenado pelo professor Dr. Alex Vianey Franca Callado. O professor Dr. Alex Callado, que é Hepatologista, tornou-se parceiro do professor Ângelo e do professor Divaldo nos estudos de utilização de medicamentos no HU. Neste sentido, em 2013, o pesquisador Marcos Cardoso Rios iniciou o primeiro doutorado desta parceria com a caracterização da farmacoterapia dos pacientes atendidos no único centro de referência para o tratamento da doença no Estado de Sergipe. Neste ano, 64 foram incluídos os inibidores de proteases de primeira geração (Telaprevir e Boceprevir) utilizados em associação do pegintereferon e ribavirina. Posteriormente, a disponibilidade de novos medicamentos para o tratamento da doença fez com que os pesquisadores optassem pelo acompanhamento dos pacientes e observação dos achados médicos. Os maus resultados na taxa de cura e reações adversas confirmaram a decisão do Ministério da Saúde de suspender o uso do tratamento com inibidores de proteases de primeira geração. A incorporação dos antivirais de ação direta, em 2015, indica que o cenário é dinâmico e que a coexistência de diferentes medicamentos exige a revisão dos processos de utilização e das atividades de regulamentação. Portanto, foi preciso realizar estudos que mostrassem o perfil do uso de medicamentos direcionados ao tratamento da hepatite C, sua efetividade e segurança em condições de uso real no ambulotório do HU e na literatura mundial, podendo servir de complemento às pesquisas biomédicas e a consolidação de serviços clínicos farmacêuticos no cuidado a pacientes acometidos de doenças hepáticas. 65 4 REFERÊNCIAS 1. Acras RN, Pedroso MLA, Caum LC, Pisani J, Amarante HMBS, Carmes ER. A taxa de resposta sustentada da hepatite C crônica ao tratamento com os diversos interferons-alfa e ribavirinas distribuídos pelo governo brasileiro é semelhante à da literatura mundial. Arq Gastroenterol. 2004; 41 (1): 3-9. 2. Afdhal N, McHutchison J, Brown R, Jacobson I, Manns M, Poordad F., et al. Thrombocytopenia associated with chronic liver disease. J Hepatol. 2008; 48: 1000– 1007. 3. Airoldi J, Berghella V. Hepatitis C and pregnancy. Obstet Gynecol Surv. 2006; 61 (10): 666-672. 4. 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OBJETIVOS ESPECÍFICOS Caracterizar o tratamento da hepatite C à partir da associação de peginterferon e ribavirina, em pacientes tratados em um centro de referência no Nordeste do Brasil; Descrever o tratamento da hepatite C usando a primeira geração de inibidores de proteases associados ao peginterferon e ribavirina, em pacientes tratados em um centro de referência no Nordeste do Brasil; Identificar as principais reações adversas associadas aos tratamentos da hepatite C; Compreender o efeito dos tratamentos da hepatite C segundo as percepções de pacientes tratados em um centro de referência no Nordeste do Brasil. 84 CAPITULO 1 85 CAPÍTULO I ARTIGO I: INTERFERON AND RIBAVIRIN FOR CHRONIC HEPATITIS C: SHOULD IT BE ADMINISTERED IN THE NEW TREATMENT ERA? publicado na Acta Gastroenterologica Latinoamericana). Acta Gastroenterol Latinoam 2017; 47:14-22 (Artigo 86 INTERFERON AND RIBAVIRIN FOR CHRONIC HEPATITIS C: SHOULD IT BE ADMINISTERED IN THE NEW TREATMENT ERA? Interferón y Ribavirina para la Hepatitis C crónica: ¿deben ser administrados en la nueva era de tratamiento? Abbreviated Title: Pharmacotherapy hepatitis C using interferon and ribavirin Título corto en Castellano: Farmacoterapia de la hepatitis C utilizando interferón y ribavirina Marcos Cardoso Rios1*, Layana Tyara Sandes Fraga2, Tereza Virginia Silva Bezerra do Nascimento3, Ângelo Roberto Antoniolli4, Divaldo Pereira de Lyra Júnior5, Alex França6 1 Department of Pharmacy, Laboratory for Teaching and Research in Social Pharmacy, Federal University of Sergipe-UFS, São Cristóvão, SE, Brazil. 2 Department of Medicine, Federal University of Sergipe - UFS, São Cristóvão, SE, Brazil 3 Department of Medicine, Federal University of Sergipe - UFS, São Cristóvão, SE, Brazil 4 Department of Physiology, Federal University of Sergipe - UFS, São Cristóvão, SE, Brazil 5 Department of Pharmacy, Laboratory for Teaching and Research in Social Pharmacy, Federal University of Sergipe - UFS, São Cristóvão, SE, Brazil 6 Department of Medicine, Federal University of Sergipe– UFS, São Cristóvão, SE, Brazil 87 *Details of corresponding author: Marcos Cardoso Rios Laboratory of Research and Teaching in Social Pharmacy, Department of Physiology, Federal University of Sergipe, Av. Marechal Rondon, s/n, Jardim Rosa Elze,49100-000, São Cristóvão, Sergipe, Brazil Phone/Fax: +5507988084488. E-mail: [email protected] 88 LIST OF ABBREVIATIONS IFN Interferon RBV Ribavirin PEG-IFN Peginterferon SVR Sustained Virologic Response RNA Ribonucleic Acid IP protease inhibitor RVR Rapid Virologic Response ETR Virologic Response at End of Treatment Rel Relapse 89 ABSTRACT Recently, pharmacotherapy has been increasingly effective in chronic hepatitis C due to improved medication and optimized treatment duration. Nevertheless, hepatitis C treatment in the state of Sergipe mainly consists of dual therapy with interferon (IFN) and ribavirin (RBV) and few studies have evaluated hepatitis C treatment in Brazil. Thus, the epidemiological profile and treatment response of patients with chronic hepatitis C treated with IFN and RBV at the University Hospital of Sergipe were evaluated. The medical records of all patients with hepatitis C who underwent antiviral therapy with IFN and RBV between 2002 and 2012 were reviewed retrospectively. A total of 244 records were analyzed, representing 298 courses of hepatitis C treatment. On average, 27 patients were treated annually, with a ratio of 1.8:1 men for women, being the patients predominantly infected with genotype 1virus (82.0%). Only 6.9% of patients were treated with conventional IFN (3MIU), while 60.3% were treated with alfapeginterferon-2a and 31.0% were treated with alfapeginterferon-2b. Sustained virologic response (SVR) was observed in 38.1% of patients and 36.8% of patients who were PCRnegative at the end of treatment relapsed. SVR rates ranged from 40.8% for naïve patients to 58.3% for previously treated patients with recurrent disease. SVR was higher among noncirrhotic patients (77.8%) compared with cirrhotic patients (22.2%). The highest SVR rate (83%) was found for naïve, non-cirrhotic patients. Although SVR rates were lower than those found for newer medications, dual therapy with IFN and RBV may be reasonably used to treat chronic Hepatitis C when newer drugs are not available and in special cases. KEYWORDS Hepatitis C, Pharmacotherapy, Interferon, Ribavirin, Treatment. 90 RESUMEN Recientemente, la farmacoterapia ha sido cada vez más eficaz en la hepatitis C crónica debido a la mejora de la medicación y la duración del tratamiento optimizado. Sin embargo, el tratamiento de la hepatitis C en el estado de Sergipe consiste principalmente en la terapia dual con interferón (IFN) y ribavirina (RBV) y pocos estudios han evaluado el tratamiento de la hepatitis C en Brasil. Así, se evaluaron el perfil epidemiológico y la respuesta al tratamiento de los pacientes con hepatitis C crónica tratados con IFN y RBV en el Hospital Universitario de Sergipe. Se revisaron retrospectivamente las historias clínicas de todos los pacientes con hepatitis C que se sometieron a la terapia antiviral con IFN y RBV entre 2002 y 2012. En total, se analizaron 244 registros que representan 298 cursos de tratamiento de la hepatitis C. En media, 27 pacientes fueron tratados al año, con una razón de 1,8 hombres para una mujer siendo que los pacientes fueron predominantemente infectados con el genotipo 1virus (82,0%). Sólo el 6,9% de los pacientes fueron tratados con IFN convencional (3MIU), mientras que el 60,3% fueron tratados con alfapeginterferon-2a y el 31,0% fueron tratados con alfapeginterferon-2b. Se observó una respuesta virológica sostenida (RVS) en el 38,1% de los pacientes y el 36,8% de los pacientes que fueron PCR-negativos al final del tratamiento presentaron una recaída. Las tasas de RVS oscilaron del 40,8% para los pacientes vírgenes para el 58,3% para los pacientes tratados previamente con enfermedad recurrente. La RVS fue mayor entre los pacientes no cirróticos (77,8%) en comparación con los pacientes cirróticos (22,2%). La tasa RVS más alta (83%) se encontró en los pacientes no tratados previamente, no cirróticos. Aunque las tasas de RVS fueron inferiores a las encontradas para nuevos medicamentos, la terapia dual con IFN y RBV puede usarse razonablemente para tratar la hepatitis C crónica cuando los medicamentos más nuevos no están disponibles y en casos especiales. 91 PALABRAS CLAVES Hepatitis C, Farmacoterapia, Interferòn, Ribavirina, Tratamiento. INTRODUCTION Hepatitis C is regarded as a public health problem, with an estimated 185 million people diagnosed with the virus, and a further 3 million who are unaware they are infected 1,2 . Approximately 80–85% of cases become chronic, with important clinical consequences such as increased risk of cirrhosis and hepatocellular carcinoma. Thus, adequate and uninterrupted treatment should be carefully administered3. The aim of drug therapy is eliminate the virus and prevent disease progression. Currently, the best indicator of effective treatment is sustained virologic response (SVR), defined as the absence of detectable viral RNA in serum 12–24 weeks after the end of treatment 4,5 . In recent years, drug therapy inpatients with chronic hepatitis C has achieved increasingly effective results due to improvements in medication and optimized treatment duration. Drug therapy for hepatitis C initially consisted of interferon (IFN) monotherapy; however, the rates of SVR achieved were lower than those with subsequent combination therapy with IFN and ribavirin (RBV): 6% versus 31% for a 24-week treatment period and 13% versus 38% for a 48-week treatment period, respectively6 RBV monotherapy does not result in a satisfactory end of treatment response or SVR 4,7,8. 92 The addition of polyethyleneglycol to the IFN moiety (known as peginterferon) increased the half-life of this drug leading, to prolonged activity and allowing a longer interval between doses. This resulted in improved response to therapy 4,9,10 . Compared with conventional IFN, peginterferon is associated with a higher response rate in patients, with up to 69% achieving SVR11. There are two types of peginterferon, alfa2a and alfa2b, which have similar therapeutic efficacy 4,12. Furthermore, a number of novel protease inhibitors (IPs) have recently been introduced including the first generation IPs Telaprevir and Boceprevir, and second generation IPs Simeprevir, Sofosbuvir, nucleotide analogue HCV NS5B polymerase inhibitor, and Daclatasvir HCV NS5A replication complex inhibitor 1,13. In Brazil, where the prevalence of hepatitis C is 1.38%14, IFNs (standard and pegylated), RBV, and first-generation IPs are available in the public health system. However, despite access to new drugs, the majority of patients with hepatitis C receive dual therapy with IFN and RBV. In this study we evaluate the epidemiology, therapy profile, and treatment response of patients with chronic hepatitis C treated with IFN and RBV in a hospital in Northeast Brazil. MATERIALS AND METHODS A cross-sectional review was conducted of the medical records of all hepatitis C patients who received antiviral therapy with IFN and RBV between the years 2002 and 2012 from the Hepatology Service at the University Hospital of Sergipe in Northeast Brazil. The work was approved by the Research Ethics Committee of the Federal University of Sergipe. The study population included outpatients with chronic hepatitis C, regardless of sex or race, who began treatment with IFN (conventional or pegylated) and RBV during the study period. 93 The following epidemiological variables were included: sex, age, skin color, place of residence, profession, comorbidities, disease progression, and possible contagion. To characterize drug therapy, the following data were collected: genotype, histologic evaluation (based on METAVIR classification), medical condition and duration of treatment, antiviral drugs received, changes during drug therapy, adverse reactions, and medications used to treat adverse reactions. Antiviral therapy was assigned in accordance with Clinical Protocols and Therapeutic Guidelines for viral hepatitis C and co-infections from the Brazilian Ministry of Health. The medications administered during treatment were classified according to the Brazilian Common Denomination. Patients with hepatitis B and HIV were excluded from the treatment response analysis. Patient response to antiviral treatment was categorized based on the following outcomes defined by the Ministry of Health4,5: Rapid Virologic Response (RVR; PCR-negative at week 4); Virologic Response at End of Treatment (ETR; PCR-negative at end of treatment); Sustained Virologic Response (SVR; PCR-negative 6 months post treatment); Relapse (Rel; viral breakthrough). Data were analyzed using descriptive statistics with SPSS version 20. SVR and medication type were analyzed using the Chi-square test and Pearson's correlation coefficient. It was considered 95% confidence interval and a value of p <0.05 was considered significant. Following analysis, the results were expressed as text, graphics, and tables using Microsoft Excel 2010. 94 RESULTS Overall 279 patients were identified, 14 of whom were excluded due to co-existing hepatitis B infection, three cases where it was not used RBV due to chronic renal failure and 21 were excluded as their records could not be found. Thus, 241 patients undergoing a total of 294 courses of treatment from 2002–2012 were analyzed, with an average of 1.2 courses of treatment per patient. An average of 27 patients were treated annually, with the highest numbers treated in 2012 (n = 37) and the lowest in 2009 (n = 19). The ratio of males: females was 1.8:1. Table 1 shows socio-demographic characteristics. The majority of patients (72.8%) lived in Aracaju, the capital of Sergipe, and the most common occupations were trader and retiree (13.8% each). The main causes of infection by hepatitis C were (n = 158): history of blood transfusion (44.3% [70]); year of receipt unspecified in most medical records), sexual activity without a condom (43.0 % [68]), intravenous drug use (30.4% [48]), tattoos (15.2% [24]), more than three sexual partners per year(12.7% [20]), health professionals (8.9 % [14]), acupuncture (3.2% [5]), and piercings (1.3% [2]). These data were not available in 86 cases (35.3%). Among the patients treated, 91% (193/212) had comorbidities. Alcohol consumption was the most common (46.7% [99]), followed by arterial hypertension (28.3% [60]), smoking (18.9% [40]), type 2 diabetes mellitus (15.1% [32]), hepatitis B infection (8% [17]), mental health issues (6.1% [13]), HIV infection (6.1% [13]), thyroid disease (3.3% [7]) and coagulopathy (0.5% [1]). 95 The most common viral genotype in this study was 1B, with a prevalence of 46.6% (102), followed by 1A (32%; 70), and 3A (16.5%; 36). A total of 238 biopsies were analyzed, with inflammatory activity detected in 211 cases and fibrosis in 228. According to METAVIR classification, the prevalence of advanced fibrosis was 35.1% (80/228 patients), F3 distributed fibrosis was 25.9%, and F4 fibrosis was 9.2%. The results of patients’ pathological examinations are shown in Table 2. In 6 patients out of a total of 27 patients with cirrhosis, cirrhosis was established by clinical, laboratory, endoscopic, or diagnostic imaging. On average, each cirrhotic patient received 2.03 courses of treatment, with 55 courses of treatment received overall. The majority of patients treated (80% [221/276]) were non-cirrhotic. Notably, in 7.4% (22/298) of the charts these data were missing. In addition, 3.6% (8/222) of patients were diagnosed with hepatocellular carcinoma and 4.0% (9/222) died during the study period. In relation to IFN, 6.9% (19/271) patients received conventional IFN (3MUI) and 93.1% (252/271) received pegIFN, of these 60.3% (152/252) received alfa-2a, 31.0% (78/252) received alfa-2b, and data were missing for 8.7% (22/252). Since RBV was used in all cases in which the information was consistent (278/278). The previous viral load to treatment was analyzed in 210 records, averaging 1.200.000 IU / mL and 5.9 log. The duration of antiviral treatment was 48 weeks in 60.4% (174/288) of cases, 24 weeks in 10.4% (30/288) of cases, and 72 weeks in 4.5% (13/288) of cases. The duration of other treatment courses varied: in 11.3% of the cases the treatment duration was 2–23 weeks, in 10.4% 26–46 weeks, and in 1.0% 51–52 weeks. These data were missing for 2.43% cases (7/288). In a number of cases, doses were modified and/or treatment was interrupted. RBV dosage was modified in 18.4% (45/245) of treatment courses and IFN dosage was modified in 96 6.7% (17/253). RBV treatment was interrupted temporarily in 13.7% (35/256) of cases and IFN was interrupted temporarily in 18.8% (33/165). Of the IFN dose interruptions, 45.5% (15/33) were for alfa-2a, 30.3% (10/33) to alfa-2b, 12.1% (4/33) for unspecified peginterferon, 6.1% (2/33) for standard IFN, and 6.1% (2/33) to unspecified IFN. Treatment was stopped completely in 24.7% (72/291) of cases. In a number of cases the reasons for treatment discontinuation were reported, these included lack of response to medication, adverse reactions, and non-compliance. Overall, 11.4% (25/219) of the treatment courses were discontinued due to adverse reactions and only 1.6% (4/243) of cases reported no adverse reactions in response to medication. The average number of adverse events was 6.7/treatment course and the range was 0–29. The most common adverse reactions was asthenia (8.6%). Adverse reactions were reported in 167 cases with a total of 1501 events, these are summarized in Figure 1. The number of adverse reactions caused by pegylated versus conventional IFNs were compared, with the average frequency/treatment course of 7.7 for peginterferon alpha-2b and RBV, 6.5 for conventional IFN and RBV, and 5.8 for peginterferon alpha-2a and RBV. Neutropenia was observed during treatment in 55.1% (134/243) of cases, of these 63.4% (85/134) were associated with peginterferon alpha-2a, 23.1% (31/134) with peginterferon alpha-2b, and 1.5% (2/134) with conventional IFN; in 8.2% (11/134) of cases the type of pegIFN administered was not specified, and in 3.7% (5/134) drug data were not available. Filgrastim was administered in 25.4% (34/134) of cases. In 10.5% (14) of cases the dose of IFN was interrupted, and in 17.2% (23) of cases all treatment was interrupted. Anemia was observed in 40.7% (99/243) of the cases. In 31.3% of these cases (31/99) erythropoietin administration was required, in 34.3% (34/99) there was no change in RBV dosage, and in 22.2% (22/99) treatment was discontinued. 97 Some medications were administered to reduce the effects of adverse reactions in patients receiving antiviral therapy. Overall, 93 different drugs were administered, with an average of 1.47 received per patient. The most frequently administered were: paracetamol (19.8% [45]), loratadine (7.0% [16]), paroxetine (5.7% [13]), vitamin complexes (5.7% [13]), omeprazole (4.8% [11]), diazepam (3.9% [9]), folic acid (3.1% [7]), and scopolamine (2.6% [6]). In 49.3% of treatment courses (112/227) medication was not required for adverse reactions; and in 23.8% (71/298) of cases these data were not available. In the majority of cases the patients were treatment-naïve (72.7% [205/282]), for the remainder, 22.7% (64/282) were receiving treatment for the second time, 4.25% (12/282) for the third time, and 0.7% (2/282) for the fourth time; data were not available in 12 cases. In 109 cases the clinical outcome was inconclusive. In the 189 cases in which clinical outcome could be evaluated, 38.1% (72/189) achieved SVR. Of the114 patients who were ETR, 63.2% (72) achieved SVR and 36.8% (42) relapsed. The main for patients not achieving ETR were: suspension of treatment due to adverse reactions (33.3% [25]), lack of response to medication (60% [45]; partial response, null, or breakthrough), and avoidance/other [6.7% (5)]. Among these non-responders, 61% (54/89) had advanced fibrosis, with 63% of these having F4 fibrosis and 37% F3 fibrosis. Regarding the type of peginterferon, the SVR rate was 47% (47/100) in patients who used alpha-2a and 29.8% (17/57) associated with alpha-2b (p = 0.031). The SVR rate was 40.8% (56/137) in treatment-naïve patients and 58.3% (7/12) in patients who had relapsed following prior treatment. Among the patients achieving SVR, 87.5% (63/72) were treatmentnaïve or had relapsed previously. In 81% of cases (52/64) it was SVR can relate to the type of liver fibrosis. The proportion of patients achieving SVR was higher for those non-cirrhotic (88.5% [46/52]) compared with cirrhotic patients (11.5% [6/52]), with overall rates of 71.8% 98 and 9.4%, respectively. We found that the best outcomes were achieved for treatment-naïve patients who were non-cirrhotic; in these patients the SVR rate was 83% (39/47). Table 3 and Figure 2 summarize results according to the degree of fibrosis, hepatitis c virus genotype, and medication received. DISCUSSION We found that the prevalence of hepatitis C in males in this study was similar to values cited in the literature4,15-17. This may be associated with a higher exposure of males to risk factors. The age group with the highest prevalence of hepatitis C in this study was also similar to values cited in the international literature18,19. Applying the standard prevalence for anti-HCV positivity during the exposure period, as per Martins et al. 16, the research results, it is suggested that infection has occurred in the distant past. Advanced age has been highlighted as one of the most important reasons for failing to achieve SVR. This is because a low glomerular filtration rate can result in low renal clearance of RBV and subsequently high systemic exposure, leading to drastic reductions in dosage, or even discontinuation, of RBV. The identification of patients at a higher risk of developing RBV-associated anemia can also help with patient selection and management 20. The highest prevalence of hepatitis C here was in mixed-race patients, in contrast to Smith et al. 18, this may be due to regional differences. There was a low proportion of black patients in this study and they had a lower probability of achieving SVR 21. Among the comorbidities identified in this study, alcoholism can contribute to the pathogenesis of this disease, since alcohol consumption affects certain components of the 99 immune response and can alter the inflammatory response of cytokines, leading to increased viremia22,23. Hypertension, diabetes mellitus, and HIV were also found to be associated with hepatitis C. According to McGowan et al. 24, these comorbidities can have a negative impact on treatment outcomes. Nogueira et al.25 showed that about 20% of patients treated with IFN and RBV are also treated for hypertension, with 45% of these treatments resulting in severe drug interactions that required intervention. This shows that drug-drug interactions should be monitored carefully by healthcare practitioners to ensure patient safety. Patient exposure to pharmacotherapy should be limited if there is a low likelihood of achieving SVR versus a high likelihood of adverse reactions. The management of adverse reactions is essential for patient compliance with treatment. Adverse reactions have been shown to account for up to 42.8% of cases involving discontinuation of treatment 26-28 . The literature shows that changes in hematological parameters are the most commonly reported adverse reactions associated with hepatitis C treatment 29. In this study, the rate of anemia was twice as high as that in a study by McHutchison et al. 11, at 40.7% versus 22%. In addition, the level of neutropenia was slightly higher than that seen by Nogueira et al. 25, at 55.1% versus 48.0%. The appearance of these conditions led to dose modifications for RBV(18.4%) and IFN (6.7%), or dose delays (33.7%), consistent with findings in the literature 28-32. In this study SVR rate varied according to disease stage, treatment conditions, and medication administered, with better results seen in patients without fibrosis, in those that were treatment-naïve, and in those receiving peginterferon and RBV. These results were expected and are consistent with the literature, although it should be stressed that for the other 100 scenarios treatment with peginterferon and RBV can be difficult. In previously untreated patients, the SVR rates in this study (40.8%) were slightly higher than for other studies: in a meta-analysis by Kjaergard et al.32 SVR was 37%, and in a study by Andriulli et al. 34 the rate was 39.6%. However in patients who had relapsed following previous treatment, the SVR rate was similar to other studies35,36 supporting our conclusion that this is an ideal subgroup of patients for re-treatment37. Cirrhotic patients and previously treated patients may have lower rates of SVR than patients with low levels of fibrosis and those who are treatment-naïve34. Our findings show that, despite being effective and well tolerated, dual therapy results in lower rates of SVR in cirrhotic patients compared with patients without fibrosis. In ad-dition, the viral load found in this study was much higher than supported by McHutchison11 as good predictor of SVR, which may have contributed to low response rate presented in this study. Despite differences in SVR rates with different types of IFNs, Acras et al. 38 have shown that the SVR rates with the various interferons distributed by the Brazilian Government, regardless of their origin, are similar to those found globally for treatment-naïve patients. Nevertheless, the pace of evaluation and uptake of new medications has been slow. During the research period, only first generation IPs are available through the National Health System: boceprevir or telaprevir are used in triple therapy with peginterferon and RBV in patients with genotype 1 virus and show substantially better SVR rates compared with dual therapy with peginterferon and RBV, at 75% versus 44% 39 and 67% versus 41%12, respectively. Importantly, genotype 2, regarded as one of the most favorable responders to interferon was not evaluated due to no prevalence in the research study region. This genotype is more prevalent in European countries such as Sweden and Italy and Latin American 101 countries such as Argentina and Venezuela40,41, places where such drugs may be more effective. In addition, the patients studied were not tested for IL28B rs12979860 polymorphism, SVR predictor. Like interferons, IL-28 cytokines are induced by infection and play antiviral role: CC patients for the IL28B polymorphism are three times more likely to eliminate the HCV compared to CT and TT genotype patients42. The relationship between genotypes and RVR and SVR with this suggested that genetic evaluation IL28B can be useful for predicting the response in patients treated with PEG-IFN and RBV42. According to these authors, the PEG-IFN and ribavirin combination is useful, among other cases, in HCV-2 to obtain a RVR patients in the absence of cirrhosis. Since the direct antiviral action (DAAs), potentially active against this genotype, should be explored to increase without RVR patients whose response SVR rates remain unsatisfactory with the combination of PEG-IFN / ribavirin. The use of such a combination may be even more effective in cases where the viral load is below 600.00 IU / ml11. The DAAs, these drugs are often indicated for patients with advanced fibrosis (F3 and F4) or non-responders to previous treatment 4. In Brazil, simeprevir, sofosbuvir, and daclatasvir have recently become available from the National Health System; however, due to access issues, the transition to these drugs has been gradual, with traditional therapies remaining the treatment of choice in less severe cases. Sofosbuvir and daclatasvir are associated with increased SVR rates, favorable tolerability, powerful antiviral activity, broad genotypic coverage, and shorter treatment duration 13,43. 102 CONCLUSION This study shows that treatment of hepatitis C disease with dual therapy results in a low response rate high likelihood of complications. Adverse reactions are common in response to treatment, with at least five clinical reactions occurring per patient, including major hematologic complications such as anemia and neutropenia. Pharmacotherapy needed adjustments, requiring rearrangement in IFN and RBV doses and the temporary suspension of treatment. These conditions raise the need for multidisciplinary care. The future treatment of hepatitis C looks promising, with SVR likely to reach close to 100% and a reduction in side effects associated with treatment; Therefore, treatment with pegIFN and RBV is not justified in certain cases, such as advanced fibrosis and nonresponders to previous treatments, but they are reasonably applied in patients with genetic characteristics and stage of the disease the more favorable RVS (METAVIR F0-F2) and in countries where patients have restricted access to new drugs. STUDY LIMITATIONS AND FUTURE PROSPECTS The study has some limitations, such as selection bias. As this was not a prospective, randomized, controlled trial, but a retrospective analysis of the medical records of patients who received drugs to treat Hepatitis C, there is the likelihood that information will have been lost, which will affect the results. 103 We would like to emphasize that the use of Boceprevir and Telaprevir was not investigated in this study because data were not available; this was due to the cutoff date of the study. More recent therapies need to be investigated. CONFLICTS OF INTEREST The authors declare no conflicts of interest. REFERENCES 1. World Health Organization (WHO). Guidelines for the screening, care and treatment of persons with hepatitis C infection. Geneva: WHO; 2014. (acesso em: 2014 jun 20) Disponível emhttp://www.who.int/hiv/pub/hepatitis/hepatitis-c-guidelines/en/. 2. Péret LA. Manifestações dermatológicas durante o tratamento para hepatite C crônica com interferon alfa peguilado e ribavirina. 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N Engl J Med. 2011; 364 (25): 2405. 110 TABLES Table 1: Socio-demographic characteristics of patients treated for hepatitis C at University Hospital of Sergipe in Northeast Brazil from 2002–2012. Variables n % Total 241 100 Male 154 63.9 Female 87 36.1 Total 221 100 1 181 82 1A 72 32.2 1B 101 46.0 1A/1B 4 1.8 1unspecified 4 1.8 2B 1 0.4 3A 36 16.5 3unspecified 2 0.9 4A 1 0.4 Age Mean± standard deviation (years) 51.2 ± 10.5 Minimum 21 Maximum 72 Sex Genotype 111 Table 1: Socio-demographic characteristics of patients treated for hepatitis C at University Hospital of Sergipe in Northeast Brazil from 2002–2012. (Continuação). Variables n % Total 161 100 White 31 19.3 Mixed 116 62.0 Black 14 8.7 Total 235 100 Capital (Aracaju) 171 72.8 City 64 27.8 Nossa Senhora do Socorro 16 6.8 Própria 14 5.9 Estância 8 3.4 Itabaiana 6 2.6 Lagarto 5 2.1 Other 15 6.4 Total 167 100 Merchant 23 13.8 Retired 23 13.8 Race Resides Occupation 112 Table 1: Socio-demographic characteristics of patients treated for hepatitis C at University Hospital of Sergipe in Northeast Brazil from 2002–2012. (Continuação). Variables n % Healthcareworker 11 6.6 Teacher 11 6.6 Formerathlete 10 9.6 Driver 7 4.2 Other 67 40.1 113 Table 2: Histopathological examination of biopsied tissue specimens from patients treated for hepatitis C at University Hospital of Sergipe in Northeast Brazil based on METAVIR classification. METAVIR Classification Inflammatory 0 1 2 3 4 2 (0.9%) 58 (27.5%) 84 (40.0%) 65 (30.8%) 2 (0.9%) 12 (5.2%) 60 (26.3%) 76 (33.4%) 59 (25.9%) 21 (9.2%) Activity (n=211) Fibrosis (n=228) 114 Table 3: Clinical outcomes of treatment for hepatitis C at University Hospital of Sergipe in Northeast Brazil between 2002 and 2012. Variable SVR n/N (%) Susp. E.C n/N (%) 0 7/12 (58.3) 0/25 (0) 1–2 28/40 (70) 8/42 (19) 3 11/33 (33.4) 4/28 (14.5) 4 6/27 (22.2) 8/11 (73) 1A 16/42 (38.1) 8/58 (13.8) 1A/1B 2/6 (33.3) 0 (0) 1B 34/89 (38.2) 11/80 (13.8) 3A 18/48 (37.5) 5/36 (13.9) PEG-2A 47/100 (47.0) 11/100 (11.0) PEG-2B 17/57 (29.8) 10/57 (17.5) Fibrosis Genotype Medications Legend: SVR: sustained virologic response; Susp. E.C.: suspended for side effects; PEG2a: peginterferonalfa-2a; PEG-2b: peginterferonalfa-2b. 115 Side Effects FIGURES skin lesions Nausea Irritability Anxiety disorders Depressive symptoms Dizziness Loss of appetite Itching Bodied Fever Emaciation Myalgia Anemia Neutropenia Asthenia 0 2 4 6 Frequency (%) 8 10 Figure 1. Frequency of side effects associated with drug therapy for hepatitis C in patients treated at University Hospital of Sergipe in Northeast Brazil from 2002– 2012. 60 50 40 30 20 10 0 Clinical outocomes of treatment SVR (%) 116 70 60 50 40 30 20 10 0 RVR Genotypes ETR SVR Rel. Number Cases (%) Figures 2 and 3. Sustained virologic response according to genotype, medication, and clinical outcomes of treatment in patients with hepatitis C at University Hospital of Sergipe in Northeast Brazil, from 2002–2012. Rapid Virologic Response (RVR); Virologic Response to the End of Treatment (ETR); Sustained Virologic Response (SVR); Relapse (Rel.). Genotype 1 (G1); Genotype 1A (1A); Genotype 1B (1B); Genotype 1A/1B (1A/1B); Genotype 3A (3A). 117 CAPITULO 2 118 CAPÍTULO II ARTIGO II: TREATMENT OF HEPATITIS C WITH FIRST GENERATION PROTEASE INHIBITORS (Publicado na Advances in Pharmacoepidemiology and Drug Safety) Adv Pharmacoepidemiol Drug Saf. 2016, 5(6):1-7. 119 TREATMENT OF HEPATITIS C WITH FIRST GENERATION PROTEASE INHIBITORS Marcos Cardoso Riosa*, Evelyne de Andrade Motab, Saulo Makerran Araújo Loureiro b, Layana Tyara Sandes Fragab, Angelo Roberto Antoniollic, Divaldo Pereira de Lyra Junior a, Tereza Virgínia Silva Bezerra do Nascimento b, Alex Francab a Department of Pharmacy, Laboratory for Teaching and Research in Social Pharmacy, Federal University of Sergipe-UFS, São Cristóvão, SE, Brazil. b Liver Unit, Department of Medicine, Federal University of Sergipe - UFS, São Cristóvão, SE, Brazil c Department of Physiology, Federal University of Sergipe - UFS, São Cristóvão, SE, Brazil *Details of corresponding author: Marcos Cardoso Rios Laboratory of Research and Teaching in Social Pharmacy, Department of Pharmacy, Federal University of Sergipe, Av. Marechal Rondon, s/n, Jardim Rosa Elze, 49100-000, São Cristóvão, Sergipe, Brazil. Phone/Fax: +5507988084488. E-mail: [email protected]; [email protected]; [email protected] 120 ABSTRACT Recent changes in the treatment of hepatitis C have increased the demands for medical care and pharmacovigilance. The aim of this study was to evaluate the epidemiological profile, drug therapy, and response to treatment of chronic hepatitis C patients treated with interferon plus ribavirin in combination with telaprevir (TVR) or boceprevir (BOC), in an outpatient hospital in Northeast Brazil. A retrospective review of patient records archived at the Hepatology Unit of the University Hospital of the Federal University of Sergipe was conducted. A total of 48 treatments were analyzed, with TVR (35) being the most used antiviral drug. The overall sustained virologic response (SVR) rate after a 48-week treatment course was 61.5% among patients who received TVR and 50% among patients who received BOC. However, the SVR rate was lower when intention-to-treat was considered, decreasing to 22.8% for TVR treatment, and 15.4% for BOC treatment. Cirrhosis was one of the main characteristics of patients with suspension of treatment due to adverse reactions associated with TVR use. During combination drug treatment, adverse reactions caused by the different drugs are cumulative, creating a scenario that is difficult to control. These findings indicate the need for multidisciplinary care, and for review of therapeutic indications or even evaluating the anticipation of treatment of chronic carriers of hepatitis C, in order to achieve better results. The availability of new direct antiviral drugs will negate the need for a therapy associated with significant adverse reactions and low therapeutic response. KEYWORDS Hepatitis C; Pharmacotherapy; Drug Safety; Protease inhibitors; Telaprevir; Boceprevir. 121 1. Introduction The treatment of hepatitis C has advanced considerably in recent decades. The discovery of protease inhibitors (PIs), the first direct acting antivirals (DAAs), was promising as these drugs were able to dramatically decrease the viral load (VL) (1, 2). In 2011, the first generation of DAAs, telaprevir (TVR) and boceprevir (BOC), was released for use against infection with hepatitis C virus (HCV) genotype 1, and triple therapy was subsequently considered the standard therapy (3,4). In Brazil, the Ministry of Health began to provide these drugs in 2012 for patients with advanced fibrosis (F3 and F4) and/or for patients not responding to previous treatment (5). The proposed treatment includes the elimination of the virus and a decrease in the progression of liver disease. The inclusion of PIs in association with pegylated interferon (PEG-IFN) and ribavirin (RBV) increased the sustained virologic response (SVR) rate, defined as the absence of detectable viral RNA in serum 3–6 months after the end of therapy; SVR is the best indicator of effective treatment (6,7). The SVR to triple therapy can reach up to 83%, higher than the SVR to drug regimens with PEGIFN and RBV (8). In addition, triple therapy has been very effective in both treatmentnaïve patients and in treatment-experienced patients, including the null response (9, 10). Treatment of hepatitis C is associated with increased medical demands due to increased costs and adverse reactions (8,11). According to Kiser et al. (12), the correct use of TVR and BOC requires careful observation because there is clinical evidence of adverse reactions and more frequent drug interactions. Moreover, the long period of treatment and the negative experience associated with pharmacotherapy may contribute to an adverse clinical outcome (13-15). 122 Surveillance measures are essential for the collection and detection of data on adverse effects of drugs and for developing protocols for guidance on the use of medicines, risk minimization and prevention of adverse reactions (16). Moreover, the use of PIs in Brazil is recent and there are not many studies evaluating the reactions of these drugs in our country. In the state of Sergipe, for example, to date there are no studies assessing the impact of implementation of these technologies. The aim of this study was to evaluate the epidemiological profile, drug therapy, and response to treatment of patients with chronic hepatitis C treated with interferon plus ribavirin and TVR or BOC in an outpatient hospital in Northeastern Brazil. 2. Material and Methods A cross-sectional review was conducted of the medical records of all hepatitis C patients treated with BOC or TVR in combination with the alfa peginterferon 2a or 2b and ribavirin, between January 2013 and October 2015, as part of the Hepatology Service at the University Hospital of Sergipe in Northeast Brazil. The work was approved by the Research Ethics Committee of the Federal University of Sergipe. The study population included outpatients with chronic hepatitis C, regardless of sex or race, commencing treatment with triple therapy during the study period. To characterize drug therapy, the following data were collected: genotype, histologic evaluation (based on METAVIR classification), medical condition, and duration of treatment, antiviral drugs administered, changes during drug therapy, adverse reactions, and medication used to treat adverse reactions. Antiviral therapy was assigned in accordance with the Clinical Protocols and Therapeutic Guidelines for viral hepatitis C and co-infections, issued by the Brazilian Ministry of Health. The 123 medications administered were classified according to the Brazilian Common Denomination. Patients with hepatitis B and HIV infection were excluded from the treatment response analysis. Patient response to antiviral treatment was categorized according to the Ministry of Health protocol (4, 5): rapid virologic response (RVR); extended rapid virologic response (eRVR); virologic response at the end of treatment (ETR); SVR; viral breakthrough. The evolution of the VL and manifestation of adverse reactions were monitored at weeks 4, 8, 12, 24 and 48 of treatment. By intention-to-treat, all patients who started treatment were considered. Completion of treatment excluded patients who did not complete the proposed treatment. SVR and medication type were analyzed using the Chi-square test and Fisher's exact test (Graph Pad Prism version 6.01®). The 95% confidence interval was calculated and a value of p <0.05 was considered significant. Following analysis, the results were expressed as text, graphics, and tables, using Microsoft Excel 2010. 3. Results Records from 57 patients with clinical indication for triple-drug treatment with first generation PIs for treatment of chronic hepatitis C genotype 1, between January 2013 and October 2015, were selected from the archives of the Hepatology and Liver Diseases Sector. Six patients were excluded because they did not use the PIs: 2 used a single dose of PEG-IFN and RBV, 2 did not present VL decline >1 log after lead-in, 1 developed decompensated cirrhosis during the double-drug treatment, and one evaded treatment after the third week of treatment. For 3 further patients, no information was recorded regarding the reason for premature interruption of therapy. 124 According to the METAVIR classification, 15 patients presented with F4 fibrosis (31.9%), diagnosed by hepatic biopsy (8) and non-invasive methods, as elastography (7) (Table 1). One transplanted patient presented with F1 fibrosis. Table 1 The degree of fibrosis in patients receiving treatment for chronic hepatitis C, and treated with different PIs, is presented on Figure 1 and 2. A survey of the pharmacotherapeutic profile showed that 37.5% (18/48) of the patients were hepatitis C treatment-naive. The remaining 61.7% (30/48) did not respond to previous therapy with PEG-IFN+RBV, of which 46.6% (14/30) were relapsing, 6.6% (2/30) experienced virological breakthrough, 23.4% (7/30) were partial responders, and 23.4% (7/30) were null responders. The TVR treatment was suspended in 48.6% of patients (17/35), 18.0% (3/17) did not complete the first 4 weeks of treatment, 2 patients (12%; 2/17) suspended treatment on week 10, and 2 (12.0%; 2/17) suspended treatment between week 12 and 24. Treatment suspension (53.0%; 9/17) was the main adverse reactions, and was more common in patients with advanced fibrosis (89.0%; 8/9). The reasons for treatment suspension included virological breakthrough (35.3%; 6/17), observed on week 4 (1/6), 12 (2/6) and 24 (3/6); and non-response (partial and null) (11.7%; 2/17). For patients treatment with BOC, treatment suspension occurred in 54% (7/13) of patients, due to the following: the presence of one or more adverse reactions (71.4%; 5/7), which was more common in cirrhotic patients (60.0%; 3/5); virological breakthrough in 1 case (14.3%); failure to respond to treatment in 1 patient (14.3%). 125 Virological breakthrough occurred between week 24 and 48, and the reactions that determined treatment suspension were observed between week 4 and 12. Table 2 The association between SVR and lead-in was shown to be statistically significant for treatment with TVR (p = 0.0238) and non-signficant for BOC (p> 0.05). The SVR and RVR associations were not significant for both drugs. The SVR for patients with different degrees of fibrosis and treatment conditions are presented in Figure 1 and 2. Figures 1 and 2 Nearly 60 different types of adverse reactions were described, with a higher average frequency in patients using the IFN+RBV+BOC combination than in patients receiving the IFN+RBV+TVR combination. It should be noted that, because all patients received IFN+RBV+IP, the adverse reactions observed in the present study were associated with the triple-drug combination. Symptoms of depression, including irritability, insomnia, and despondency, which may be characteristic of the use of IFN, were therefore considered to be associated with the use of PIs (Figure 3). For patients receiving TVR, the following complaints were reported: weight loss (42.8%; 15/35), body itching (62.8%; 22/35), skin rash (32.0%; 11/35), anal discomfort and/or itching (28%; 10/35), and lower limb pain (23.0%; 8/35). For patients receiving BOC, the following complaints were reported: weight loss (46.1%; 5/13), body itching (38.0%; 5/13), and skin rash (15.4%; 2/13). These symptoms were prevalent in 46.1% (6/13) of patients treated with BOC, and 14.3% (5/35) of patients treated with TVR. Figure 3 126 Discussion A close association was observed between the predictive factors for response to treatment and the factors referred to in the literature as barriers to successful treatment. The higher prevalence of chronic hepatitis C observed for men, which was even higher than the reported hepatitis C prevalence for men in Brazil (5), indicate a greater exposure of men to risk factors and an increased concern with their health. In addition, the prognosis of treatment outcome is worse for men than for women (17), making treatment more difficult. According to literature (18-20), women have not only fewer changes in liver biochemical tests, but also lower rates of fibrosis progression, and a lower risk of developing hepatocellular carcinoma than men. It is believed that all of that is related to the protective effects of estrogen (21). Regarding the election criteria adopted by the Brazilian guidelines, most patients presented advanced hepatic fibrosis (METAVIR F3 and F4), and hepatic fibrosis was detected in almost 71% of patients receiving TVR. These drugs were first available in 2013 to patients monoinfected with genotype 1 and with advanced fibrosis (Metavir F3 and F4) or compensated hepatic cirrhosis (Child-Pugh ≤ 6) (6). The degree of liver fibrosis, particularly the presence of cirrhosis, is directly related to response to treatment (22). Patients with F3 and, particularly, F4 fibrosis, usually present lower SVR rates. However, the success of treatment in these patients is essential to avoid complications, such as hepatocellular carcinoma, liver transplant, decompensation, and death (23). The observed higher overall SVR rate in relapsing patients corroborates the findings by Mchutchison et al.(24) and Krawitt et al.(25), who observed that relapsing patients represented the group that best responded to retreatment. Null-responders are usually the most difficult group to retreat, because their VL never becomes negative, 127 either during treatment or at the end of treatment (26). The average pre-treatment VL (>600,000 IU/ml) observed in the present study was higher than the levels observed by McHutchison et al. (24) as good predictors of SVR. This may have contributed to the low response rate observed. Out of the 64% (28/44) of patients presenting with VL decline ≥1 log during the lead-in period, only 35.7% (10/28) achieved SVR; none of the patients with no VL decline ≥1 log during the lead-in period achieved SVR. This is in accordance with previous reports (28,29). Despite being a good predictor of response to PI treatment (27), the lead-in SVR rates presented by this study were low and showed a significant association only for the treatments with TVR (p <0.05), in that the lead-in scheme is not mandatory. Nevertheless, SVR rates from the lead-in were low. According to Poordad (28), the lead-in is based upon the premise that if the viral load decreases in this 4-week period, relapse rates and treatment resistance may be reduced, while the no reduction of the viral load during this period requires more frequent viral load monitoring due to the increased risk of developing resistance. Furthermore, in the lead-in period is possible to test adherence to pharmacotherapy and tolerance to pegIFN plus ribavirin before initiating the use of boceprevir, and patients who do not tolerate dual therapy should not be treated with the IP (28). For patients treated with TVR, only 1 patient who achieved SVR (3.2%; 1/31) presented no prior positive RVR. For patients treated with BOC, all patients who achieved SVR previously, had a RVR. However, only a small proportion of patients who had a RVR achieved SVR, specifically, 26% (7/27) of patients treated with TVR, and 15.4% (2/13) treated with BOC. Although the RVR / SVR associations were not significant in the present study, other studies highlight the predictive value of these variables (30, 31). 128 As observed, patients that do not respond quickly to treatment (non-RVR) have decreased chances of achieving SVR. This indicates that the treatment for these patients should be reevaluated and, in selected cases, the period of treatment should be shortened to 24 weeks for TVR and 28 weeks for BOC, avoiding adverse reactions, for treatments with no prospect of cure. The imposition of response-guided therapy (RGT) for the treatment with these drugs has already been highlighted in the literature, showing that it is possible to reduce the treatment time of certain patients within 24 weeks with peg IFN + RBV, without affecting SVR that is, in these cases the patient will not benefit from the 48-week treatment (28, 32). In this way, RGT is essential to patient safety. Adverse reactions were some of the causes for suspending treatment (24/48), and were slightly more frequent among cirrhotic patients (52.9% (9/17)) just as Vierling et al. (29). The frequency of adverse reactions was considered serious in 41.4% (12/29) of patients with hepatic cirrhosis, and was even higher in the Model for End-stage Liver Disease (MELD) subgroup, when compared to patients without complications (33). The main adverse reactions associated with treatment of the subjects were similar to those found in previous studies using PI (34). However, the average frequency of side effects was higher than previously reported. Colombo et al. (35) described an average of two to four adverse reactions experienced by patients receiving TVR, leading to suspension of treatment in 16% of cases. The average reported rate of treatment suspension due to adverse reactions during triple-drug therapy is 12.5% (24, 27, 31, 36-37), lower than in the present study. However, Hezode et al. (38) highlighted the high incidence of adverse reactions associated with cirrhosis, including death and serious complications. The high incidence of adverse reactions observed in the present study were probably related to the severity of the hepatic disease, as most patients (62.5%; 30/48) presented with a high degree of fibrosis (F3, F4). 129 Anemia was more often prevalent with BOC than with TVR treatments, which is in agreement with the Comparative Assessment of Effectiveness of Antiviral Therapies in Hepatitis C (CMPASS) (39). Anemia was the main adverse reaction associated with the use of BOC. The frequency of anemia in the present study was considerably higher than in previous studies and this is likely to be due to the higher proportion of cirrhotic patients. Hezode et al. (38) reported a frequency of anemia of approximately 50% for triple therapy with BOC, and 40% with TVR, lower than observed in the present study. The impact of anemia on SVR does not seem to be important in treatment-naive patients treated with TVR. However, it may have a negative impact in patients treated with BOC (38). In the present study, no patients presenting with anemia during treatment with BOC achieved SVR. The indication for EPO in patients treated with BOC was higher than in previous studies, with a reported variation of up to 46% (27-28, 40). This supports the conclusions of Hezode et al. (38) that the use of EPO does not seem to have a positive effect on SVR rates in studies with BOC. Blood transfusions were performed in 5% of patients, similar to previously reported rates (3-5%) (31-31,34,37). It should be highlighted that in cirrhotic patients, in addition to the difficulty of managing anemia, the use of EPO (50.7%) and transfusions (12.1%) are more frequent (34). Neutropenia occurrence was also higher than previously reported for both drug combinations. Although it is associated with the use of PEG-IFN (41), studies of treatments with BOC and TVR reported lower neutropenia values, approximately 25% for INF+RBV+BOC (40) and 37% for TVR (37). The use of TVR caused anal discomfort and/or itching in 28% of patients, much higher than the 6% reported in the studies for drug approval (31,42). In the present study, no causality was observed between anal itching and BOC, in accordance with 130 previous reports. The following adverse reactions were observed, with lower occurrence than previously reported: dysgeusia (27-28,42), body itching in patients receiving TVR (31,42), skin lesions or rash (24,31,40), headaches (31,40), and depression and/or depressive symptoms (43). It should be highlighted that the presence of neuropsychiatric symptoms is quite common during interferon treatment. Similar to in the present study, the psychiatric adverse reactions more often reported by patients are fatigue and sleep disturbance (43). Because it is a combined drug treatment, the adverse reactions for each drug are cumulative and this is clinically challenging. Some of these reactions are quite significant, and may determine continuity of treatment, whereas others may affect the quality of life of patients. Fagundes et al. (44) reported that the transient decrease in quality of life in patients treated with TVR or BOC was higher than in patients treated with IFN+RBV double treatment. The authors highlighted that even subjective adverse reactions, such as fatigue, have a direct impact on patient quality of life, and decrease the chances of achieving SVR. In addition to adverse reactions, the chances of achieving SVR may be lower in clinical practice and depend on several factors (45, 46). El-Zayadi (47), Loannou et al. (48) observed that a high percentage of patients with cirrhosis and comorbidities did not achieve SVR. Kim (49) suggested that medical conditions, such as diabetes, blood pressure, or thyroid diseases, should be optimized before commencing treatment. Namely, a careful selection of the individuals to be treated is crucial, particularly in patients presenting with advanced liver disease (50). In a multidisciplinary context, studies have shown that the collaborative work of other professionals, such as the pharmacist, may prevent adverse reactions and improve the provision of adequate information associated with medications and pharmacotherapeutic management. Some 131 of the pharmaceutical interventions with the prescriber included changes in pharmacotherapy due to potentially dangerous interactions with other drugs, or even in referral to other professionals (eg nutritionists, psychiatrists, dermatologists), which may have contributed to a greater adhesion and SVR (11,51, 52). Differences in population characteristics may also account for the lower SVR rates observed among patients receiving BOC, compared to those of subjects involved in studies for drug registration. Sample selection is a weak point of randomized clinical assays, where samples are generally composed of white patients, presenting absent or minimal hepatic fibrosis, and include few null-responders to prior treatment. For example, in the REALIZE study (37), the percentage of white individuals was 93.5%. Fried et al. (17) indicated afro-descendant ethnicity as a predictor of bad prognosis. In ADVANCE (31), only 6% of patients were cirrhotic, comparable to the studies with BOC, where 11% of patients were METAVIR F3 or F4 (28) and 10% were cirrhotic (29). These values were much higher in the present study (48%). All these factors may have contributed to the different clinical outcomes observed in the large randomized studies used to define guidelines, and should be analyzed and considered in future drug therapy adjustments and individualization. The high incidence of adverse reactions and low SVR rate observed in the present study indicates that the processes of identification of the clinical indication for treatment and treatment monitoring should be reevaluated, particularly in eligible patients, and included in specific protocols. Silva et al. (53) noted that, for non-urgent patients, it is prudent to wait for the inclusion of new treatment options into a single health system. Studies have shown that direct-acting antivirals have better cure rates, together with a reduction in the complexity of pharmacotherapy (e.g. reduction in the number of drugs, time of 132 treatment, need for tests to monitor viral load, and incidence of adverse reactions) (54, 55). Although the results are expected, the data presented is relevant, and it does bring a great novelty to the evaluation of these treatments from the perspective of Brazil, thereby contributing to support and complement biomedical research and decisions in the field of hepatitis C drug policy. 4. Conclusion The present results show that the treatment of chronic hepatitis C using triple therapy is not satisfactory, due to high rates of treatment suspension and several complications. These findings indicate the need for multidisciplinary care, and for review of therapeutic indications or even evaluating the anticipation of treatment of chronic carriers of hepatitis C, in order to achieve better results. The availability of new direct antiviral drugs will negate the need for a therapy associated with significant adverse reactions and low therapeutic response. Study limitations and future prospects The study has some limitations, such as selection bias. This is not a prospective, randomized, controlled study, but a retrospective analysis of the results observed in the medical records of patients treated for hepatitis C. Single-centered research and the small sample size are also limiting. Therefore, loss of information will likely result in extrapolation of data. However, this is a real life study that has allowed the evaluation 133 of the use of medicines in various limiting conditions, such as biopsychosocial characteristics, encompassing all patients treated in the state, contributing to the medico-social and economic basis of regulatory activities and other decisions in the field of medication policy and treatment of hepatitis C. Acknowledgements The authors wish to acknowledge Fundação de Apoio à Pesquisa e Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe (FAPITEC) for supporting funds- Grant Number 01920301343/2013-9. 134 References 1. 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Itching Weight loss Skin lesions/skin rash Weakness Neutropenia Lower limb pain Anal discomfort/itching Anemia Asthenia Fever Nausea Headache Influenza-like symptoms Body pain Thrombocytopenia Leukopenia Anorexia/hyperemia Tiredness Vertigo Abdominal pain/distension Dyspepsia Vomiting Anxiety Depressive symptoms Dry cough Diarrhea Fatigue Cramps Other Prevalence 143 140,00% 120,00% 100,00% 80,00% 60,00% 40,00% 20,00% TVR 0,00% BOC Adverse reactions Figure 3: Frequency of the main adverse reactions of triple therapy for hepatitis C. 144 Table 1: Baseline characteristics of the study. Variables Patients selected for Antiviral Treatment All patients Patient number (n/%) 48 Mean Age ± SD (years) 55,2± 16 BOC TVR 13/48 (27,1) 35/48 (72,9) Gender (n/%) Male 36/48 (75) 9/36 (25) 27/36 (75) Female 12/48 (25) 3/12 (25) 9/12 (75) 1A 20/48 (40,4) 10/20 (50) 10/20 (50) 1B 25/48 (51,1) 3/25 (12) 22/25 (88) 3/48 (8,5) - 3/3 (100) HCV genotype (n/%) 1 not specified Treatment experienced (n/%) Yes 30/48 (62,5) No 18/48 (37,5) Fibrosis Stage (n/%) F1 5/48 (10,4) 2/5 (40) 3/5 (60) F2 13/48 (27,1) 5/13 (38,4) 8/13 (61,6) F3 15/48 (31,25) 4/15 (26,6) 11/15 (73,4) F4 15/48 (31,25) 2/15 (13,3) Viral Charge 1.000.000 log 6,0 13/15 (86,7) 630.957 log 5,8 145 Table 2: Characteristics evaluated after the beginning of treatment. Variables Patients selected for Antiviral Treatment All patients BOC TVR Effectiveness Variables Lead-in Patients number (n/%) 44/48 (91,6) 13/13 (100%) 31/35 (88,6) Reduction of ≥1 log (n/%) 28/44 (64) 12/13 (90%) 16/27 (59,5) 2,9 1,9 32/48 (66,6) 5/13 (38,5)1 27/35 (77,1)2 Related to Lead-in (n/%) 10/31 (32,25) 2/12 (16,6) 8/16 (50) Related to RVR (n/%) 9/31 (29) 2/4 (50) 7/27 (25,9) Global (n/%) 10/17 (58,8) 2/4 (50) 8/13 (61,5) Intention-to-treat (n/%) 10/43 (23,25) 2/13 (15,4) 8/35 (22,8) Breaktrough (n/%) 7/24 (29,2) 1/7 (14,3) 6/17 (35,3) No answer (n/%) 3/24 (12,5) 1/7 (14,3) 2/17 (11,7) Withdrawal due to adverse 14/24 (58,3) 5/7 (71,4) 9/17 (53) Incidence of adverse reactions 314/48 104/13 210/35 (n/average per patient) (6,5/patient) (8/patient) (6/patient) Average log reduction (n/%) RVR Rates (n/%) SVR Other Outcomes reactions (n/%) Security Variables 146 Table 2: Characteristics evaluated after the beginning of treatment (Continuation). Variables Patients selected for Antiviral Treatment All patients BOC TVR Anemia 28/48 (58,3) 8/13 (61,5) 20/35 (57,1) Modification of dosage (n/%) 14/48 (29,2) 2/13 (15,4) 12/35 (34,3) Use of erythropoietin (EPO) (n/%) 13/48 (27,1) 2/13 (15,4) 11/13 (84,6) Use of packed red blood cells 1/48 (2) -- 1/20 (5) Leukopenia (n/%) 30/48 (62,5) 5/13 (38,5) 25/35 (72) Neutropenia (n/%) 20/48 (41,6) 7/13 (54) 13/35 (13) Use of Filgastrima (n/%) 15/33 (45,5) 5/15 (33,3) 10/15 (66,7) (n/%) Note: 1-Week 8 of BOC treatment; 2-Week 4 of TVR treatment 147 CAPITULO 3 148 CAPITULO III ARTIGO IIII: REVISÃO SISTEMÁTICA E ANÁLISE DE REDE PARA COMPARAR AS REAÇÕES ADVERSAS ASSOCIADAS AOS TRATAMENTOS DE HEPATITE C (A ser enviado para publicação). Systematic review and network analysis to compare the adverse reactions associated with hepatitis c treatments Marcos Cardoso Rios 1, Genival Araújo dos Santos Junior 1, Bárbara Manuella Sodré Alves2, Alfredo Dias de Oliveira Filho3, Ângelo Roberto Antoniolli4, Alex Franca5, Divaldo Pereira de Lyra Júnior6 1 Doutorando em Ciências da Saúde. Departamento de Farmácia, Laboratório de Ensino e Pesquisa em Farmácia Social, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, SE, Brasil. 2 Mestranda em Ciências Farmacêuticas. Departamento de Farmácia, Laboratório de Ensino e Pesquisa em Farmácia Social, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, SE, Brasil. 3 Doutor, Professor Adjunto. Departamento de Farmácia, Universidade Federal de Alagoas, Macéio, AL, Brasil. 4 Doutor, Professor Associado. Departamento de Fisiologia, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, SE, Brasil. 5 Doutor, Professor Associado e Chefe do Serviço de Hepatologia. Departamento de Medicina Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, SE, Brasil. 6 Doutor, Professor Associado. Departamento de Farmácia, Laboratório de Ensino e Pesquisa em Farmácia Social, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, SE, Brasil. 149 *Autor correspondente: Marcos Cardoso Rios. Departamento de Farmácia, Laboratório de Ensino e Pesquisa em Farmácia Social, Universidade Federal de Sergipe, Av. Marechal Rondon, s/n, Jardim Rosa Elze, Zip Code: 49100-000, São Cristóvão, Sergipe, Brazil, Phone/Fax: +5507988084488. Endereço eletrônico: [email protected] (M.C.Rios). 150 RESUMO INTRODUÇÃO: O manejo da hepatite C tem sido centrado na farmacoterapia. Atualmente, pelo menos três classes terapêuticas de medicamentos em diferentes associações têm sido utilizadas com diferentes perfis de segurança, o que aumenta a necessidade de se determinar e/ou atualizar o perfil de segurança das farmacoterapias disponíveis e responder às questões clínicas importantes, tais como quais as principais reações adversas associadas ao tratamento da hepatite C. OBJETIVOS: Avaliar as principais reações adversas associadas ao tratamento da hepatite C, determinando o regime mais seguro. ESTRATÉGIA DE PESQUISA: Foi realizada uma revisão sistemática de acordo com a seleção dos estudos a partir de diferentes combinações dos descritores [(Hepatitis C AND (Drug-Related Side-Effects OR Adverse Reactions OR Drug Utilization)] nas bases de dados Scopus, Pubmed e Lilacs. A qualidade das evidências foi analisada pelo método Grading of Recomendations Assessment, Developing and Evaluation, utilizando como ponto de partida a apreciação do delineamento da pesquisa. Os dados da meta-análise em rede foram analisados utilizando o software R. A sugestão do ranking considerou a qualidade das evidências e o grau de recomendação se baseou na segurança dos tratamentos. COLETA E ANÁLISE DE DADOS: Foi Analisada a causalidade de reações adversas aos regimes de tratamento para hepatite C, à partir da descrição do fenômeno nos estudos analisados. Os dados coletados foram analisados quanto à incidência das reações adversas e o impacto auto-descrito nos preditores de resposta viral sustentada (manejo da farmacoterapia, morbidade relacionada à problemas hepáticos, alterações nas transaminases, retirada por reações adversas, qualidade de vida e satisfação do paciente). PRINCIPAIS RESULTADOS: Os 13 estudos selecionados incluíram 8.221 pacientes e destacaram 4.801 relatos de reações adversas, 41 manifestações diferentes, destacando as reações hematológicas em todos os regimes de tratamento. As reações adversas 151 afetam diretamente os preditores de resposta virológica. A principal consequência das reações é a alteração da dose ou interrupção da terapêutica. A anemia é a principal reação adversa decorrente de esquemas terapêuticos que empregam ribavirina. As principais reações cutâneas foram de maior intensidade quando foi utilizado os inibidores de protease. O ranking de seleção mostra preferências para o uso de antivirais de ação direta e não-uso de inibidores de protease. CONCLUSÕES: Os avanços no tratamento da hepatite C incluíram a redução das reações adversas, mas a incidência de alguns destes é preocupante para a equipe de saúde. Nesse sentido, sugere-se que as terapias que envolvem os antivirais de ação direta sejam escolhidas sempre que houver indicação clínica e acesso. 152 INTRODUÇÃO A hepatite C é uma doença hepática crônica que atinge mais de 185 milhões de pessoas em todo o mundo sendo que mais de 350.000 morrem a cada ano (WHO, Guidelines, 2014; Mohd Hanafiah et al., 2013). Além da inflamação hepática, a doença apresenta muitas manifestações extra-hepáticas, tais como fadiga, anorexia, mialgia, artralgia, entre outros, com considerável impacto humanístico, uma vez que normalmente afeta a produtividade do trabalho, níveis de atividade e saúde relacionados com qualidade de vida (Vietri et al., 2013; Tang et al., 2016). O manejo da hepatite C tem sido centrado na farmacoterapia (Mohammad et al., 2014). Assim, pelo menos três esquemas terapêuticos diferentes têm sido utilizados (Yilmaz et al., 2016; Phelan, Cook, 2014; Londeix e Forette, 2014), com impacto nos resultados clínicos (50%-95%) e nos domínios de qualidade de vida relacionado à saúde (capacidade funcional, aspectos físicos, dor, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental) (Fagundes et al., 2015). Por conseguinte, problemas de segurança continuam sendo determinantes no manejo da farmacoterapia e na adesão ao tratamento, consequentemente, na resposta virológica (Sulkowski et al., 2014; Quigley et al., 2015; Nakamura et al., 2016). A melhora nas respostas terapêuticas e diminuição da complexidade da farmacoterapia observada nos últimos anos não têm tido impacto global significante uma vez que o acesso é limitado (Thomas et al., 2011). Outra variável importante é que mesmo as novas terapias são a combinação de dois ou mais fármacos, que costumam incluir tecnologias antigas, que podem potencializar reações subjacentes (Sulkowski et al., 2014; Lawitz et al., 2014). Assim, embora cada esquema terapêutico apresente diferente perfil, é o mercado que define quais e onde as terapias estarão disponíveis, o que aumenta a necessidade de se determinar e/ou atualizar o perfil de segurança dos esquemas terapêuticos. Este perfil está diretamente ligado à coleta e divulgação da observação das reações adversas aos medicamentos (Lobo et al., 2013; Londeix, 2014; Shareef et al., 2015; Yilmaz et al., 2016; Edward et al., 2015; Ford et al., 2015). Neste contexto, futuras publicações não devem estar limitadas aos novos medicamentos ou avanços terapêuticos, mas contemplar o perfil de segurança 153 disponível e responder às questões clínicas importantes: quais as principais reações adversas associadas ao tratamento da hepatite C? Portanto, o objetivo do presente estudo foi determinar as principais reações adversas associadas ao tratamento da hepatite C e determinar qual o esquema terapêutico mais seguro. MÉTODOS Foi realizada uma revisão sistemática da literatura para identificar estudos envolvendo as reações adversas da farmacoterapia da hepatite C. As bases de dados LILACS, PubMed e Scopus foram revisadas (estudos publicados até 01 de janeiro de 2017 foram incluídos), sendo que as estratégias de busca foram implementadas de acordo com os protocolos de cada banco de dados. Os termos utilizados foram definidos a partir de consultas no National Thesaurus vocabulário controlado Library of Medicine (MeSH) (Tabela 1). Tabela 1. Estratégias de pesquisa para a revisão sistemática. Grupo Descritores Pesquisados Significado do Agrupamento 1 2 3 (Hepatitis C (MeSH—exploded) OR Viral HepatitisC (MeSH— Palavras relacionadas à exploded)) doença (Drug-Related Side-Effects* (MeSH—exploded) OR Adverse Reactions* (MeSH—exploded) OR Drug Utilization (MeSH— exploded) (editorial (tw) OR review (tw) OR news (tw)) Palavras relacionadas ao efeito Tipos de estudos excluídos na análise NOTA. O asterisco (*) indica descritores truncados. Os quatro grupos de pesquisa foram combinados da seguinte forma: (1 AND 2 AND 3 NOT 4). O delineamento do estudo seguiu as diretrizes dos itens de relatório preferidos para revisões sistemáticas e meta-análises (PRISMA). A coleta dos artigos e o processo subsequente de triagem foram realizados em três etapas (triagem de título, resumo e texto completo) por dois avaliadores (M.C.R.; G.A.S.Jr.). Quando houve desacordos na avaliação, um terceiro revisor (D.P.L.Jr) analisou e julgou a discrepância. O índice Kappa Cohen (k) foi calculado como uma medida de concordância entre os dois avaliadores com intervalo de confiança de 95%. Os títulos e resumos foram comparados com os seguintes critérios de inclusão pré-definidos para determinar a relevância do artigo: (i) o estudo envolveu o uso de farmacoterapia para a hepatite C; e (ii) o estudo 154 abordou a relação causal entre os medicamentos utilizados para hepatite C e as reações adversas associadas. Os dados coletados foram analisados quanto à incidência das reações adversas e o impacto nos preditores de resposta viral sustentada (manejo da farmacoterapia, morbidade relacionada a problemas hepáticos, alterações nas transaminases, retirada por reações adversas, qualidade de vida e satisfação do paciente) descrito pelos autores. Os critérios de exclusão foram: (i) o estudo foi uma revisão ou editorial; (ii) o estudo não foi escrito em espanhol, inglês ou português; (iii) o texto completo do estudo não estava disponível; e (iv) o estudo avaliou comorbidades. Os documentos que preencheram os critérios de inclusão para extração de dados foram cuidadosamente examinados para determinar as reações adversas associadas ao tratamento da hepatite C. Foram incluídos estudos observacionais e de intervenção, que destacaram pelo menos uma reação adversa associada a uma das farmacoterapias para a hepatite C. Como o foco estava relação causa-efeito, ou seja, a farmacoterapia era a causa da manifestação adversa, pragmaticamente foram excluídos os estudos que tratavam cormobidades como hepatite B e HIV. A qualidade das evidências foi analisada pelo método Grading of Recomendations Assessment, Developing and Evaluation (GRADE). Por meio deste processo, fatores como limitações do estudo entre as quais a randomização, tipo de alocação, inconsistência de resultados, evidência indireta (diferenças na população, intervenção, comparação ou desfechos entre os estudos incluídos e a pergunta de interesse da revisão) e viés de publicação, foram avaliados. O ponto de partida da avaliação foi a apreciação do delineamento da pesquisa. Desfechos provenientes de ensaios clínicos randomizados iniciaram a avaliação com pontuação de alta qualidade (4 pontos), enquanto aqueles gerados por estudos observacionais começaram como baixa qualidade (2 pontos). Em seguida, foi utilizado um sistema de ponderação para diminuir ou aumentar a qualidade da evidência. A relação de causalidade adicionou um ponto à evidência. O processo de classificação foi feito por um revisor (MCR). Os graus de qualidade das evidências, segundo o GRADE, refletem a confiança no tamanho estimado do efeito, assim classificados em: Alto = há forte confiança de que o verdadeiro efeito está próximo da estimativa do efeito. Moderado = há moderada confiança na estimativa de efeito, ou seja, o efeito verdadeiro provavelmente estará próximo da estimativa do efeito, mas existe a possibilidade de que seja 155 substancialmente diferente. Baixo = A confiança na estimativa do efeito é limitada, ou seja, o efeito verdadeiro pode ser substancialmente diferente da estimativa do efeito. Muito baixo = há pouca confiança na estimativa de efeito, ou seja, o efeito verdadeiro é susceptível de ser substancialmente diferente da estimativa de efeito. A análise entre os tratamentos múltiplos foi realizada em rede (network metaanalysis) utilizando o software R (R Language and Environment for Statistical Computing) na versão 3.1.2., conforme Neupane et al. (2014). O package “GeMTC” (disponível no site online: http://CRAN.R-project.org/package=gemtc) foi utilizado para realizar os modelos de simulações de consistência e inconsistência, usando o método MCMC (Markov chain Monte Carlo methods). A meta-análise de network foi realizada dentro de um modelo Bayesian, assumindo um parâmetro de heterogeneidade igual t em todas as comparações, induzindo correlações por estudos em multibraço. A análise network ou análise de múltiplos tratamentos é fundamental para o desenvolvimento de diretrizes porque, na ausência de evidências robustas como àquelas dos ensaios clínicos, as diretrizes dependem da opinião de especialistas, estando entre os métodos recomendados pela Organização Mundial de Saúde e Cochrane Library (Kanters et al., 2016). O ranking considerou a qualidade das evidências e as opções terapêuticas foram hierarquizadas considerando a análise comparativa da incidência média de reações adversas, gravidade auto-descrita e complexidade do manejo, incluindo o manejo das reações adversas e suspensão do tratamento devido às reações adversas. O ranking ainda considerou a análise dos estudos em rede e indicou o padrão de reações adversas mais frequentes associadas às farmacoterapias. RESULTADOS Seleção dos Estudos A Figura 1 mostra a seleção progressiva, o número de artigos e as razões para exclusão em cada passo. O grau de concordância entre os dois avaliadores foi substancial para os títulos de estudo (K = 0,705) e os resumos (K = 0,697). Em todas as fases, a intervenção de um terceiro avaliador foi necessária para resolver os desacordos entre os dois avaliadores primários. 156 Inicialmente, 489 artigos foram encontrados dos quais 346 foram excluídos durante a análise dos títulos. Após etapas consecutivas de triagem 13 artigos atenderam aos critérios específicos (Figura 1). Figura 1: Processo de Seleção dos Estudos. Características dos achados Os 13 estudos selecionados incluíram 8.221 pacientes [(4.784 em uso de peginterferon + ribavirina); (2.173 em uso dos esquemas com peginterferon + ribavirina + teleprevir ou boceprevir); (1.264 em uso dos esquemas com antivirais de ação direta)] e apresentaram 4.838 relatos de reações adversas, sendo 41 manifestações diferentes, 157 destacando as reações hematológicas em todos os esquemas terapêuticos. A terapia dupla que envolve os medicamentos peginterferon + ribavirina foi reportada em 77% (10) dos estudos, representado 58,2% da amostra total investigada. As reações com inibidores de proteases de primeira geração (telaprevir ou boceprevir) tiveram uma média de 1,3 relatos de reações adversas/ pacientes analisados (2.813/2.173), destacando-se como a farmacoterapia com maior incidência de anormalidades hematológicas e bioquímicas (1.402/2.083; 67,2%) e manifestações cutâneas (792/1.448; 54,7%). Os antivirais de ação direta foram investigados em quatro estudos e representaram 16,7% da amostra total analisada, com média de 0,7 relatos de reações adversas/ pacientes analisados (858/1.264). A ribavirina esteve presente em 98% das farmacoterapias. Os efeitos pseudogripais que compreendem a tríade de sintomas- dor (mialgia e dor de cabeça), nasofaringe e febre- representaram 6,3% das reações adversas apontadas nos estudos, sendo 45,6% das reações associadas ao esquema peginterferon + ribavirina, 22,45% associados ao esquema peginterferon + ribavirina + inibidor de protease e 31,95% a associação que envolve pelo menos um dos antivirais de ação direta. A Tabela 2 apresenta os principais achados dos estudos selecionados quanto à incidência das reações adversas e o impacto descrito pelos autores nos desfechos clínicos e preditores de resposta viral sustentada, como manejo da farmacoterapia, morbidade relacionada a problemas hepáticos, alterações nas transaminases, retirada por reações adversas, qualidade de vida e satisfação do paciente. 158 Tabela 2: Impacto das reações adversas associadas à farmacoterapia da hepatite C nos preditores de RVS*. Estudo Características Tecnologia Características da Principais impactos das reações analisada amostra Dereure et al., 2002. Reações dermatológicas peginterferon + ribavirina Características diversas; Amostra: 20 pacientes Ridruejo et al., 2010. Reações diversas peginterferon + ribavirina Características diversas; Amostra: 235 pacientes Huang et al., 2010. Reações diversas peginterferon + ribavirina Categorizados por faixas etárias. Grupo de pacientes com idade ≥ 65 anos= 70 Grupo de pacientes com idade entre 50-64 anos= 140 Total: 210 pacientes Jacobson et al., 2011. Reações diversas Peginterferon + ribavirina + telaprevir Categorizados por regime terapêutico. Grupo A [(peginterferon+ ribavirina/24s.) + telaprevir/12s.] = 363 Grupo B[(peginterferon+ ribavirina/ 24s.) + telaprevir/8s.] = 364 50% dos pacientes interromperam o tratamento devido a lesões cutâneas. 15% dos pacientes que tiveram o tratamento interrompido retomaram a terapia. 67% dos pacientes apresentaram lesões recorrentes. 7,6% dos pacientes tiveram o tratamento suspenso devido às reações adversas. 3,2% dos pacientes abandonaram a terapia. 10,2% dos pacientes tiveram o tratamento suspenso devido à falta de resposta precoce. 21% dos pacientes com idade ≥ 65 anos tiveram o tratamento descontinuado (13% devido às reações adversas e 9% devido anormalidades laboratoriais); 6% dos pacientes com idade entre 50-64 anos descontinuaram o tratamento, sendo que 5% se deveram as reações adversas. 66% dos pacientes com idade ≥ 65 anos tiveram a dose de pelo menos um medicamento modificado; 51% dos pacientes com idade entre 50-64 anos tiveram a dose de pelo menos um medicamento modificado. 22,1% dos pacientes com idade ≥ 65 anos utilizaram a eritropoietina; 18,6% dos pacientes com idade entre 50-64 anos utilizaram a eritropoietina. 10% dos pacientes em uso do peginterferon + ribavirina/24semanas + telaprevir/12 semanas interromperam o tratamento. 7% dos pacientes em uso do peginterferon + ribavirina/24 semanas + telaprevir/ 8 semanas interromperam o tratamento. Anemia, efeitos gastrointestinais, e erupção cutânea ocorreram com uma incidência maior entre os pacientes que receberam telaprevir do que entre aqueles que receberam peginterferon+ ribavirina. 159 Tabela 2: Impacto das reações adversas associadas à farmacoterapia da hepatite C nos preditores de RVS. Continuação. Estudo Características Tecnologia Características da Principais impactos das reações analisada amostra Kumada et al., 2012. Reações diversas Peginterferon + ribavirina + telaprevir Grupo C (tratados com peginterferon + ribavirina) = 361 Total: 1088 pacientes Categorizados por regime terapêutico. Grupo A [(peginterferon + ribavirina/24s.) + telaprevir/12s.]= 126 Grupo B (peginterferon + ribavirina /48s.)= 63 Total: 189 pacientes 16,7% dos pacientes em uso do peginterferon + ribavirina/24 semanas + telaprevir/12 semanas interromperam o tratamento. 22,2%dos pacientes em uso do peginterferon + ribavirina/48 semanas interromperam o tratamento. 19% dos pacientes em uso do peginterferon + ribavirina/24 semanas + telaprevir/12semanas tiveram a suspensão isolada do telaprevir. 38,1% das desordens hematológicas associadas uso do peginterferon + ribavirina/24 semanas + telaprevir/12 semanas foram consideradas de moderado a grave (< 9,5g/dL). 17,5%das desordens hematológicas associadas uso do peginterferon + ribavirina/48semanas foram consideradas de moderado a grave (< 9,5g/dL). 46,8% dos casos de doenças de pele associadas uso do peginterferon + ribavirina/24 semanas + telaprevir/12 semanas foram consideradas de graus 2-4. 23,8% dos casos de doenças de pele associadas uso do peginterferon + ribavirina/48semanas foram considerados de graus 2-4. 73% doa pacientes em uso do peginterferon + ribavirina/24 semanas + telaprevir/12 semanas obtiveram resposta viral sustentada. 49,2% dos pacientes em uso do peginterferon + ribavirina/48 semanas obtiveram resposta viral sustentada. 16,7% dos tratamentos com peginterferon + ribavirina/24 semanas + telaprevir/12 semanas apresentaram recidiva. 16,7% dos tratamentos com peginterferon + ribavirina/48 semanas 160 Tabela 2: Impacto das reações adversas associadas à farmacoterapia da hepatite C nos preditores de RVS. Continuação. Estudo Características Tecnologia Características da Principais impactos das reações analisada amostra Ogawa et al., 2012. Reações diversas Peginterferon + ribavirina Características diversas; Amostra: 2871 pacientes Nogueira et al., 2012 Reações diversas Peginterferon + ribavirina Características diversas; Amostra: 46 pacientes Belperio et al., 2013 Reações hematológicas Peginterferon + ribavirina + telaprevir; Peginterferon + ribavirina + boceprevir Categorizados por regime terapêutico. Grupo TVR (peginterferon + ribavirina + telaprevir tratados com) = 198 apresentaram recidiva. 10,4%dos pacientes interromperam o tratamento devido às reações adversas. 30,8% das interrupções foram causadas por sintomas neurovegetativos. 18,4% das interrupções foram causadas por sintomas depressivos. 16,4% das interrupções foram causadas por sintomas hematológicos. 0,8% das interrupções foram causadas por efeitos dermatológicos. 23,6% das interrupções estavam associados a problemas diversos. 33% dos pacientes em uso do peginterferon + ribavirina interromperam pelo menos um dos fármacos. 20% dos tratamentos exigiram a diminuição da dose da ribavirina. 95% das reações adversas foram consideradas de gravidade levenão afetam substancialmente a vida dos pacientes (p. ex. pele seca, textura do cabelo). 5% das reações adversas foram consideradas de gravidade moderada- mais afetaram as tarefas diárias do paciente, como fadiga. 0,4% das reações adversas foram consideradas graves e levaram a hospitalização do paciente. 77% dos manejos adotados incluíram a interrupção temporária de pelo menos um dos fármacos. 14% dos pacientes tratados com boceprevir interromperam o tratamento antes de 24 semanas. 19% dos pacientes tratados com telaprevir interromperam o tratamento antes de 24 semanas. 32% dos pacientes tratados com boceprevir apresentaram graus 3-4 de neutropenia. 21% dos pacientes tratados com telaprevir apresentaram graus 3-4. 161 Tabela 2: Impacto das reações adversas associadas à farmacoterapia da hepatite C nos preditores de RVS. Continuação. Estudo Características Tecnologia Características da Principais impactos das reações Analisada amostra de neutropenia. Grupo BOC (tratados 14%dos pacientes tratados com boceprevir tiveram a redução da com peginterferon + dose de peginterferon; 9% dos casos foram utilizados o fator de ribavirina + estimulação de granulócitos. boceprevir) = 661 Borroni et al., 2013. Reações hematológicas Peginterferon + ribavirina Total: 859 pacientes Categorizados por faixa etária Grupo Idosos mais velhos (≥ 60 anos) = 97 Grupo Idosos mais jovens (< 60 anos) = 251 Total: 348 pacientes Torii et al., 2013. Reações dermatológicas peginterferon + ribavirina + telaprevir Categorizados por regime terapêutico Grupo T12/PR24 (tratados com telaprevir/12 semanas + peginterferon + ribavirina /24 semanas) = 267 13%dos pacientes tratados com telaprevir tiveram a redução da dose de peginterferon; 2% dos casos foram utilizados o fator de estimulação de granulócitos. 14,4% dos pacientes interromperam o tratamento prematuramente. 35,1% dos pacientes ≥ 60 anos tiveram a dose de ribavirina reduzida ou suspensa 23,5% dos pacientes <60 anos tiveram a dose de ribavirina reduzida ou suspensa 73,2% foi a taxa de resposta virológica sustentada, entre pacientes que reduziram a dose de ribavirina. 64,3% foi a taxa de resposta virológica sustentada, entre pacientes que reduziram a dose de peginterferon. 69% foi a taxa de resposta virológica sustentada, entre pacientes que reduziram a dose de ambos os fármacos. 72,4% foi a taxa de resposta virológica sustentada, entre pacientes que completaram o tratamento, sem qualquer modificação dos fármacos. 8,6% dos tratamentos tiveram a interrupção de pelo menos um dos fármacos, sendo que em 4,1% apenas o telaprevir foi suspenso e, em 4,5%, todo o tratamento foi suspenso. 1,5% dos tratamentos foi necessário reduzir a dose do peginterferon ou ribavirina. 7% das reações dermatológicas requereram descontinuação do fármaco. 37,2% das reações dermatológicas associadas ao uso de telaprevir/12 semanas + peginterferon + ribavirina/24 semanas se 162 Tabela 2: Impacto das reações adversas associadas à farmacoterapia da hepatite C nos preditores de RVS. Continuação. Estudo Características Tecnologia Características da Principais impactos das reações analisada amostra resolveram após a conclusão ou interrupção de todos os pacientes medicamentos. Grupo PR48 (tratados 59% das reações dermatológicas associadas ao uso de peginterferon com peginterferon + + ribavirina/48 semanas se resolveram após a conclusão ou ribavirina /48 interrupção de todos os medicamentos. semanas) = 63 17,9% dos tratamentos requereram terapia sinérgica com pacientes corticosteróides tópicos. Total: 330 pacientes Roujeau et al., 2013. Reações dermatológicas Peginterferon + ribavirina + telaprevir Categorizados por regime terapêutico. Grupo TVR (tratados com peginterferon + ribavirina + telaprevir) Grupo Placebo (tratados com peginterferon + ribavirina) Total: 221 pacientes Manns et al., 2015. Reações diversas Peginterferon + ribavirina + simeprevir Categorizados por regime terapêutico. Grupo SIME (tratados com peginterferon + ribavirina + simeprevir)= 924 Grupo Placebo (tratados com 44,4% dos tratamentos requereram anti-histamínicos orais. 21% das reações foram resolvidos sem tratamento. 0,8% dos tratamentos com peginterferon + ribavirina foram interrompidos. 0,8% dos tratamentos com peginterferon + ribavirina + telaprevir foram interrompidos. 56% dos tratamentos com peginterferon + ribavirina + telaprevir apresentaram reações dermatológicas. 27% dos tratamentos com peginterferon + ribavirina apresentaram reações dermatológicas. 3,7% das reações cutâneas associadas ao peginterferon + ribavirina + telaprevir foram consideradas graves. 0,4%das reações cutâneas associadas ao peginterferon + ribavirina foram consideradas graves. 2,2%dos pacientes em uso do peginterferon + ribavirina + simeprevir e peginterferon + ribavirina interromperam o tratamento devido as reações adversas. 23,8% dos tratamentos com peginterferon + ribavirina + simeprevir apresentaram prurido; 17,4% dos tratamentos com peginterferon + ribavirina apresentaram prurido. 22,9% dos tratamentos com peginterferon + ribavirina + simeprevir apresentaram exantema; 163 Tabela 2: Impacto das reações adversas associadas à farmacoterapia da hepatite C nos preditores de RVS. Continuação. Estudo Características Tecnologia Características da Principais impactos das reações analisada amostra 16,7% dos tratamentos com peginterferon + ribavirina apresentaram peginterferon + prurido. ribavirina)=540 Total: 1464 pacientes Mizokami et al., 2015. Reações diversas Ledipasvir + sofosbuvir; Ledipasvir + sofosbuvir + ribavirina Categorizados por regime terapêutico. Grupo ledipasvir + sofosbuvir (tratados com ledipasvir+ sofosbuvir) = 171 Grupo ledipasvir + sofosbuvir + 3,2% dos tratamentos com peginterferon + ribavirina + simeprevir apresentaram fotossensibilidade; 0,6% dos tratamentos com peginterferon + ribavirina apresentaram fotossensibilidade. 17,3% dos tratamentos com peginterferon + ribavirina + simeprevir apresentaram neutrproneia; 15,7% dos tratamentos com peginterferon + ribavirina apresentaram neutropenia. 13,2% dos tratamentos com peginterferon + ribavirina + simeprevir apresentaram anemia; 10,9% dos tratamentos com peginterferon + ribavirina apresentaram anemia. 8,4% dos tratamentos com peginterferon+ ribavirina +simeprevir apresentaram aumento da bilirrubina; 2,8% dos tratamentos com peginterferon + ribavirina apresentaram aumento da bilirrubina. 2,1% das reações adversas associadas ao peginterferon + ribavirina + simeprevir foram consideradas graves; 3,0% das reações adversas associadas ao peginterferon + ribavirina + simeprevir foram consideradas graves. 29,2% dos tratamentos com ledipasvir + sofosbuvir apresentaram nasofaringite; 23,5% dos tratamentos com ledipasvir + sofosbuvir+ ribavirina apresentaram nasofaringite. 7% dos tratamentos com ledipasvir + sofosbuvir apresentaram cefaléia; 8,8% dos tratamentos com ledipasvir + sofosbuvir+ ribavirina apresentaram cefaléia. 164 Tabela 2: Impacto das reações adversas associadas à farmacoterapia da hepatite C nos preditores de RVS. Continuação. Estudo Características Tecnologia Características da Principais impactos das reações analisada amostra 5,3% dos tratamentos com ledipasvir + sofosbuvir apresentaram ribavirina (tratados mal-estar. com ledipasvir+ 13,5% dos tratamentos com ledipasvir + sofosbuvir + ribavirina sofosbuvir + apresentaram anemia. ribavirina) = 170 Total: 341 pacientes *Nota: Preditores de RVS (manejo da farmacoterapia, morbidade relacionada a problemas hepáticos, alterações nas transaminases, retirada por reações adversas, qualidade de vida, satisfação do paciente) 165 Os vários esquemas terapêuticos e número de estudos que destacam as reações adversas incluídas na rede de análise são mostrados na Figura 3. Figura 3: Relação entre reações adversas e esquema terapêutico, segundo o network model. Legenda: PR= peginterferon + ribavirina; TVR= peginterferon + ribavirina + telaprevir; BOC= peginterferon + ribavirina + boceprevir; LS= ledipasvir + simeprevir; LSR= ledipasvir + sofosbuvir + ribavirina; SIR= simeprevir + peginterferon + ribavirina. A relação direta entre o tamanho do nó ao número de nós daquela comunidade e o grau dos nós de saída (PR= 21; TVR= 21; BOC= 7; SIR=10; LS= 3; LSR= 2) evidenciam as terapias mais clássicas como àquelas de maiores incidências de reações adversas. Neste estudo foi possível observar que as anormalidades hematológicas e bioquímicas estiveram entre os principais destaques na literatura, sendo a anemia abordada em 85% (11/13) dos estudos. A Tabela 3 mostra a adesão ao tratamento, indicada pela taxa média entre os estudos da parada da farmacoterapia decorrente de reações adversas e o manejo da farmacoterapia, indicado pela necessidade de alteração de doses e terapias sinérgicas, observado entre os estudos. A ribavirina foi a principal causa de anemia, levando à 166 necessidade de manejo da farmacoterapia (18,2%). A incidência de neutropenia, ocorrida em 12% dos pacientes analisados nos estudos exigiu o uso de fatores de estimulação de granulócitos (11%) e redução de dose do peginterferon (14%). Os problemas de pele, com incidência em 11% dos pacientes analisados, foram responsáveis pela suspensão de um ou mais dos fármacos relacionados, em 18% dos casos. Entre os medicamentos utilizados na terapia sinérgica estavam a eritropoetina (21%), fator estimulador de granulócitos (16%), corticosteróides tópicos (44,4%), antihistamínicos orais (17,9%), corticosteróides sistêmicos (4,6%). Tabela 3: Impacto das reações adversas na adesão e manejo da farmacoterapia. Preditor de resposta virológica Esquema terapêutico Retirada devido às reações adversas Peginterferon + Ribavirina1,2,3,4,5,6,7 Manejo da farmacoterapia 12,3% 22,8% 14,25% 30,2% Peginterferon + Ribavirina + Boceprevir8 14% 14% Simeprevir + Peginterferon + Ribavirina10 NR NR Ledipasvir + Sofosbuvir 11 2,2% NR Ledipasvir + Sofosbuvir + Ribavirina11 2,2% NR Peginterferon + Ribavirina + Telaprevir 3,6,8,9 NR= Não Relatado 1- Borroni et at., 2013; 2- Huang et al., 2010; 3- Kumada et al., 2012; 4- Nogueira et al., 2012; 5Ridruejo et al., 2010; 6- Torii et al., 2013; 7- Dereure et al., 2002; 8- Belperio et al., 2010; 9- Ogawa et al., 2012; 10- Manns et al., 2015; 11- Mizokami et al., 2015. Quanto aos profissionais de saúde mais referidos, três estudos destacaram a participação de médicos dermatologistas, enquanto que somente um estudo citou a presença do farmacêutico. Os estudos incluídos nesta pesquisa não avaliaram o impacto das reações adversas na qualidade de vida e satisfação dos pacientes. O método Grading of Recomendations Assessment, Developing and Evaluation (GRADE) foi utilizado para avaliar a força da evidência e propor recomendação. Os estudos observacionais foram os principais delineamentos metodológicos (61,5%), seguidos de ensaios clínicos randomizados. Entre as principais limitações apresentadas pelos estudos observacionais estavam a ausência de mascaramento, enquanto entre os ensaios clínicos, um não apresentou adequado sigilo de alocação e cegamento dos 167 avaliadores. A observação do efeito conforme a exposição foi o principal fator que aumentou a força da evidência dos estudos. As limitações leves dos ensaios clínicos e os achados consistentes de estudos observacionais bem delineados elevam o nível da presente revisão à moderado, sugerindo que estes resultados são confiáveis até que outros estudos possam modificar a confiança na estimativa de efeito. A partir destas evidências e a incidência média das reações adversas e complexidade dos manejos das farmacoterapias foi elaborado um ranking para escolha do esquema terapêutico da hepatite C, com o objetivo de apresentar o esquema de eleição e auxiliar no juízo de valor, em casos em que seja possível indicação e haja acesso às farmacoterapias (Quadro 1). Quadro 1: Ranking de escolha do regime de tratamento para a hepatite C, segundo incidência de reações adversas e complexidade do manejo da farmacoterapia. Classe Terapêutica Terapias analisadas Grau de Evidência Opção Sugerida Segurança Imunomodulador + Peginterferon + Ribavirina + Virustático + Boceprevir8 Moderado + ------ Inibidores de Peginterferon + Ribavirina + Proteases Telaprevir3,6,8,9 Moderado ++ ----- Imunomodulador + Peginterferon + Moderado +++ ---- Alto ++++ --- Alto +++++ -- Alto ++++++ - 1,2,3,4,5,6,7 Virustático Ribavirina Imunomodulador + Simeprevir + Peginterferon + Virustático + Ribavirina 10 Antiviral de Ação Direta Antiviral de Ação Direta Ledipasvir + Sofosbuvir + Ribavirina 11 Ledipasvir + Simeprevir11 Legenda: O número de cruzes (+) indica o nível hierárquico da escolha. O sinal de menos (-) indica o nível de segurança. 1- Borroni et at., 2013; 2- Huang et al., 2010; 3- Kumada et al., 2012; 4- Nogueira et al., 2012; 5- Ridruejo et al., 2010; 6- Torii et al., 2013; 7- Dereure et al., 2002; 8- Belperio et al., 2010; 9Ogawa et al., 2012; 10- Manns et al., 2015; 11- Mizokami et al., 2015. 168 DISCUSSÃO Assim que entram no mercado os fármacos passam a ser alvo de pesquisas de acompanhamento e avaliação de uso das farmacoterapias, em condições reais de uso. De acordo com Castro (2000), inicialmente, estas pesquisas costumam ser realizadas pelos fabricantes e servem para identificar, especialmente, reações adversas graves ou mortais, de óbvia detecção, ou de reações que se desenvolvem em curto prazo. Ainda segundo estes autores, os estudos iniciais, pós-comercialização, são úteis na medida em que tentam esclarecer os efeitos de uso nas condições clínicas, mas deixam muitas incertezas em relação à segurança efetiva do medicamento. Além disso, são efetuados apenas para os produtos novos. As investigações sobre os efeitos adversos dos medicamentos têm que ser recorrentes e considerar o grau de variabilidade de sua utilização para elucidar a incidência e gravidade. O perfil de segurança evolui à medida que se ampliam as publicações de evidências. Este estudo identificou na literatura os estudos sobre as reações adversas dos tratamentos da hepatite C e elaborou um ranking de escolha baseado na segurança dos tratamentos. O ranking apresentado na presente pesquisa classifica, com base nas evidências científicas, as farmacoterapias mais seguras (menor incidência de reações adversas/gravidade/facilidade de manejo) sugerindo a escolha, em caso de disponibilidade e indicação clínica. Além disso, o ranking considerou a análise dos estudos em rede e indicou o padrão de reações adversas mais frequentes associados às farmacoterapias. Baseando-se na análise comparativa da incidência, gravidade autodescrita e manejo das reações adversas, as associações com antivirais de ação direta devem ser preferenciadas sempre que possível. A menor incidência de reações adversas pode ser explicada pela ação direta sobre regiões gênicas responsáveis por transcrever proteínas não estruturais envolvidas em funções do ciclo de vida do vírus, como integridade da membrana, formação de complexos de replicação, proteína de resistência ao interferon, RNA polimerase, enquanto que outros fármacos, como o interferon, atuam no sistema imunológico do hospedeiro favorecendo a resposta imunológica (Theofilopoulos et al., 2005; Perales et al., 2015). A administração do interferon exógeno age via receptores específicos das células, ativando determinados sistemas que propagam sinais ao núcleo e induzem a expressão dos genes que codificam várias proteínas que promovem as ações defensivas 169 (Samuel, 2001). Em geral, a inespecificidade dos agentes em relação às células alvo, é a maior responsável pelas reações adversas advindas do uso de fármacos. A anemia foi à reação adversa mais observada nos estudos e, na maioria dos casos, está associada ao uso da ribavirina, escolhido devido a sua importante ação virustática na promoção da sustentação da resposta terapêutica (Kumada et al., 2012; Sulkowski et al., 2014; Parker, 2005). A taxa de anemia variou conforme a associação da ribavirina: peginterferon (28,9%), peginterferon + simeprevir (13,2%), ledipasvir + sofosbuvir (13,5%), peginterferon + telaprevir (48,5%), peginterferon + boceprevir (66%). A acentuação da anemia em pacientes em uso de esquemas que envolvem os inibidores de proteases, telaprevir e boceprevir, observado nos estudos analisados, é efeito da adição sinérgica dos fármacos e das suas reações adversas, uma vez que a ação destes na supressão da medula óssea é relatada na literatura (Rosa, 2011). Dados do presente estudo mostraram que em 21% dos casos em que a anemia foi detectada houve intervenção com eritropoetina, indicada para manter a taxa de hemoglobina entre 10 a 12g/dL (Rosa, 2011). Para Dieterich et al. (2003) a eritropoietina humana recombinante é ainda uma estratégia efetiva para aliviar anemia sem expor o paciente a sangue alogênico e os riscos inerentes. Bruchfeld et al. (2003), Crespo e Lens (2012), recomendam acompanhar periodicamente a taxa de hemoglobina e avaliar a redução da dose ou o tratamento profilático com eritropoetina. De acordo com Borroni et al. (2013), tal recomendação é, especialmente, feita a pacientes com idade igual ou superior a 60 anos, evitando assim, a redução mais drástica de doses ou ainda a sua interrupção ao longo do tratamento (Borroni et al., 2013). A neutropenia está especialmente associada ao peginterferon e associada ao uso sinérgico de filgrastrim. De acordo com Sharvadze et al. (2009), este fármaco tem sido efetivo para prevenir neutropenia e infecções bacterianas em pacientes com hepatite C com a terapêutica antiviral combinada, possibilitando manter a dose de interferon durante o tratamento. Não foram encontrados estudos que relacionem o uso da eritropoetina e filgrastim e a resposta viral sustentada, porém, esses dois medicamentos atuam como “coadjuvantes”, fazendo com que os pacientes tolerem o tratamento (Rosa, 2009). O mecanismo que deflagra reações cutâneas induzidas pelo tratamento da hepatite C pode ser relacionado à ação de qualquer um dos fármacos envolvidos ou mesmo da ação conjunta destes fármacos, exacerbando os efeitos, confluindo para lesões uniformes ou multiformes, podendo haver infiltração sistêmica e presença de 170 eosinófilos e linfócitos, conforme aponta os estudos analisados (Torri et al., 2013; Partk et al., 2014). Em alguns casos, tais reações podem acontecer nas primeiras horas da exposição ao interferon e o desaparecimento da lesão após a interrupção do tratamento confirma o nexo causal. A observação de maiores taxas associadas ao uso do peginterferon + ribavirina + telaprevir (54,7%) é reflexo da adição de reações adversas isoladas. Em diversos casos é importante que os médicos acionem especialistas, como dermatologistas, a fim de realizar o diagnóstico diferencial de reações cutâneas graves o mais cedo possível (Vásquez-Lopes, 2004; Cacoub et al., 2012). De acordo Partk et al. (2014), pacientes tratados por 48 semanas têm quase oito vezes mais chances de desenvolver uma reação cutânea em comparação com aqueles cuja terapia durou 24 semanas. Além disso, cada ano adicional em termos de idade aumenta 9% às chances para o desenvolvimento de reações cutâneas. O manejo de reações cutâneas induzidas pelo tratamento da hepatite C inclui ações farmacológicas e não farmacológicas. Entre as opções terapêuticas, os clínicos devem optar por cremes emolientes e loções ricas em lipídios, em vez de loções aquosas ou pomadas. Sedativos anti-histamínicos, como hidroxizina, são úteis na hora de dormir, enquanto a fexofenadina, por exemplo, podem ser administrados diariamente durante toda a duração da erupção, conforme necessário para coceira (Cacoub et al., 2012; Druyts et al., 2013; Torii et al., 2013; Tural e Planas, 2013). Ao variar com índices de 4,5% a 22,5%, nas terapias simeprevir + peginterferon + ribavirina e peginterferon + ribavirina, a depressão esteve como um dos principais sintomas psiquiátricos decorrentes da utilização de uma das farmacoterapias para hepatite C, podendo ainda exacerbar quadros subjacentes. Por isso, é preciso avaliar a presença ou ausência de depressão subjacente e outra doença psiquiátrica prévia ao tratamento antiviral. Ressalta-se que, algumas vezes, pacientes são considerados não elegíveis para tratamento da hepatite C, devido entre outras causas, a suposta contraindicação de doenças psiquiátricas ou ênfase indevida sobre a potencialidade de tais efeitos (Rowan et al., 2004; McGowan et al., 2013). Além disso, o impacto da doença sobre a pele pode desencadear e/ou potencializar atitudes de isolamento, apatia e inibição (Hoffmann et al., 2005). Por tais condições, médicos assistentes e psiquiatras devem ser alertados para o caso de doenças psiquiátricas subjacentes e da necessidade de adicionar fármacos sinérgicos. Ogawa et al., (2012) relataram que o tratamento antidepressivo pode otimizar o resultado do tratamento da hepatite C, sendo os 171 inibidores seletivos da recaptação da serotonina elegíveis no tratamento da depressão associada com o tratamento com interferon (Chapman et. al., 2011). A fadiga está, especialmente, associada ao tratamento com ribavirina (Dieterich et al., 2003). Os números analisados na presente pesquisa mostram uma diminuição na incidência de fadiga com o uso dos antivirais de ação direta, mas ainda aspira cuidados. Isso porque a ribavirina continua fazendo parte da maioria dos esquemas terapêuticos. Ressalta-se que a fadiga pode levar a perda da capacidade funcional e prejuízo cognitivo, com impacto na qualidade de vida e na economia, entendendo poder ser causa de absentismo e prejuízo funcional global no trabalho (Vietri et al., 2013; Foster, 2009; Fábregas et al., 2013; Fagundes et al., 2015). A tríade, reação- mialgia/dor de cabeça, febre e sintomas nasofaringes foi destacada em todas as farmacoterapias. Trata-se de sintomas obtidos, em sua maior parte, por meio de auto-relatos, o que pode ser causa de desvalorização clínica ou por se tratar de condições de fácil manejo para equipe de saúde. De acordo com Marques e Pieró (2006) esses sintomas podem ser prevenidos, em parte, pela introdução de outros fármacos, como o paracetamol. É importante destacar que reações adversas subjetivas, como a fadiga, dor de cabeça, sintomas nasofaringes, entre outros, estão diretamente associadas a redução transitória na qualidade de vida (Fagundes et al., 2015). Não foram encontrados estudos que tratam da avaliação da qualidade de vida, por outro lado, pesquisas têm mostrado o impacto de algumas das farmacoterapias nos domínios de qualidade de vida relacionado à saúde. Fagundes et al. (2015) retratam que a diminuição na qualidade de vida pode ser maior quando do uso de novas tecnologias. Estes autores avaliaram a qualidade de vida em pacientes em uso da associação peginterferon + ribavirina e peginterferon + ribavirina + telaprevir/boceprevir, sendo estas últimas associadas a um maior impacto na qualidade de vida. Esses resultados podem ser entendidos como o efeito combinado das reações adversas associadas aos inibidores de proteases. Gao et al. (2012), Larrey et al. (2014), Mohammad et al. (2014) destacam que os profissionais envolvidos na farmacoterapia, incluindo os farmacêuticos, devem identificar as reações que interferem na qualidade de vida e satisfação com o tratamento para direcionar ações de manejo e evitar a descontinuação da farmacoterapia. A taxa de interrupção das farmacoterapias que envolvem os antivirais de ação direta é de seis a sete vezes menor que as demais terapias. Analisando os resultados de Mizokami et al. (2015), a ausência na terapia de fármacos como o peginterferon e 172 ribavirina parece mudar o foco da gestão de cuidados, uma vez que as reações adversas são subjetivas, obtidas de auto-relatos. Scott et al. (2015) acrescentam que a duração das reações obtidos por meio de auto-relatos, como fadiga, são mais curtos, mostrando maior tolerabilidade. As taxas de modificação de doses variaram de 14% a 30,2% nos estudos analisados. Vale ressaltar que em alguns casos a redução de doses não interfere na efetividade da farmacoterapia utilizada, mas na segurança do paciente. Borroni et al. (2013), por exemplo, observaram que houve diminuição na frequência de reações adversas, sem que houvesse diferença nas taxas de resposta viral sustentada entre pacientes que completaram o tratamento. Apesar de incluídos nos protocolos clínicos de alguns países, como o Brasil, não foram encontrados na literatura estudos que avaliem o impacto das reações adversas à utilização da associação sofobusvir + daclatasvir ou sofobusvir + simeprevir; isto pode ter ocorrido devido ao pouco tempo de mercado e a farmacovigilância destes novos fármacos. Tais motivos ensejam a investigação da utilização destas farmacoterapias nas diferentes sociedades como complemento necessário das investigações das temáticas biomédicas e clínica e aumentando a robustez das evidências. A maior quantidade de estudos que destaca o esquema peginterferon + ribavirina era esperada, dado ao maior tempo de mercado e as ações de farmacovigilância em relação às terapias envolvendo os inibidores de proteases de primeira geração e os antivirais de ação direta (Phrma, 2014; Phelan e Cook, 2014; Tang et al., 2016). PONTOS FORTES E LIMITAÇÕES A presente análise considerou algumas das várias abordagens que determinam a provável associação causa-efeito, como a relação entre o aparecimento das reações adversas e a administração do medicamento, a plausibilidade médica ou farmacológica (sinais e sintomas, testes laboratoriais) e a probabilidade ou exclusão de outras causas. Ademais, reúne o conjunto de publicações que retratam as reações adversas associadas aos esquemas terapêuticos, direcionando a escolha da farmacoterapia para a mais segura. A associação da hepatite C com outras doenças, utilizados no estudo, também pode ter excluído relevantes estudos. A recente incorporação dos novos tratamentos 173 analisados pode ser um viés, pois limita o tempo de publicação de achados em condições não experimentais, que consideram fatores inerentes ao usuário e as práticas médicas. O ranking apresentado no estudo indica que um esquema é mais seguro, mas não quer dizer que os outros não são, exigindo que os resultados devam ser interpretados com cautela, e em conjugação com as literaturas e revisões. CONCLUSÃO As associações com os antivirais de ação direta reduzem o aparecimento de reações adversas, embora a evidência seja menos robusta, devido às poucas publicações. A associação de peginterferon e ribavirina apresenta importantes reações adversas e, apesar de clássica, deve ser preferida em relação à terapia combinada com os inibidores de protease, uma vez que as reações são mais insidiosas e de difícil manejo. A proposição do ranking de seleção do esquema terapêutico pode auxiliar o gestor em saúde na escolha da farmacoterapia mais segura, baseando-se nos estudos selecionados. O baixo número ou falta de estudos que avalie a associação das reações adversas com outros desfechos clínicos, de morbimortalidade e humanísticos impedem extrapolar a relação entre as variáveis. CONFLITO DE INTERESSES Nenhum conflito de interesses foi declarado. 174 REFERÊNCIAS Belpério, P.S., Hwang, E.W., Thomas, I.C., Mole, L.A., Cheung, R.C. and Backus, L.I. (2013). Early virologic responses and hematologic safety of direct-acting antiviral therapies in veterans with chronic hepatitis C. Clin Gastroenterol Hepatol. 11(8):10217. Borroni, G., Cazzaniga, M., Andreoletti, M., Ceriani, R., Guerzoni, P., Omazzi, B., et al. (2013). Low glomerular filtration rate is a risk factor for ribavirin-associated anaemia in old patients with chronic hepatitis C.J Viral Hepat. 20(4): 90-5. Brunton, L.L., Goodman and Gilman. (2012). 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Correspondence and online submission All correspondence, including notification of the Editor's decision and requests for revisions, will be by e-mail. All manuscript submissions should be made online at the journal’s respective SAGEtrack website: Therapeutic Advances in Drug Safety - If you have not used the site before, please click the 'Create Account' link and follow the on-screen instructions. - If you have previously used the journal’s SAGEtrack site, either as an author or a referee, please use your existing login details. If you do not know your login details, simply enter your email address in the 'Forgot your password' box and you will receive instructions on how to log in right away. Once you have logged in to the site, please select 'Author Center', then 'Click here to submit a manuscript'. 2. Publication categories The Therapeutic Advances journals consider the following kinds of article for publication: 1. Original Reseach Articles, describing new experimental findings, or analyses (e.g. posthoc, subgroup, meta-analysis where an overall statistic is derived). 2. Review Articles. The Editors wish to encourage the following types of review, but request that authors contact them in advance: (a) general reviews that provide a synthesis of an area that fits within the aims and scope of the journal; (b) perspectives - brief overviews, which are 6-8 printed pages in length including references, that address important new areas of general interest; (c) critiques - focused and provocative reviews that are followed by a number of invited commentaries, with a concluding reply from the main author; (d) structured case reports - outlining an interesting case, and including a full review of the pertinent literature and a section on implications for clinical care; (e) case series studies or clinical series – descriptive study of a small group of patients (with the same disease or receiving the same treatment) including a full review of the pertinent literature and a section on implications for clinical care; 184 3. Letters to the Editor; these also include brief case reports. These should be as concise as possible and up to 1000 words. 3. Writing your manuscript The Therapeutic Advances series subscribes predominantly to the editorial preferences expressed in the Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals [ICMJE, 2007] issued by the International Committee of Medical Journal Editors. Each page should be numbered and identified with a shortened version of the title. Abstract - The abstract should accurately and concisely reflect the content of the article, and should be limited to 300 words. Original research articles should include structured abstracts, using the four headings Objectives, Methods, Results, and Conclusions. Please avoid reference citations and undefined abbreviations in the abstract. Review articles do not require structured abstracts. Key words (or key word phrases) 2-8 to accompany the abstract. They should, if possible, be drawn from the MeSH list of Index Medicus and be chosen with a view to useful cross-indexing of the article. Main text - Subdivide your article with appropriate headings. Use no more than two levels of subheading. Acknowledgements - Between the end of the main text and the start of the references section, please acknowledge sources of financial and material support, and those who have contributed intellectually, with their consent. See guidelines for: Funding Acknowledgement Tables must all be cited in the text, carry brief but complete titles, and be numbered consecutively with Arabic numerals. Keep rules (horizontal only) to a minimum. Figures should be supplied as vector-based, separate .eps files (not as .tiff files, and not only inserted in the Word or pdf file), with a resolution of 300dpi (dots per inch). They should be used with discretion to clarify (not duplicate) the text. They should be cited in the text, using arabic numerals, and their approximate location in the paper clearly indicated [Figure 1 near here]. They should, for preference, be supplied at reproduction size (single- or double-column width), and lettering should be no smaller than 8pt type. Legends should be explanatory but succinct. They should carry the arabic numerals applicable to the figures, and be provided as a separate typed list at the end of the paper, along with the figures themselves. Units of measurement should be expressed in SI and metric units; older conventional units may be added in parentheses. Nomenclature: Use the generic or chemical name of any drug, in lower case; the specific trade name (capitalized) may be given in parentheses after the first text reference. 185 Standard Abbreviations and symbols should be used, then defined in full in the first instance unless they are standard units of measurement. Avoid any use of abbreviations in the article title and abstract. 4. Reference Style The Therapeutic Advances series uses a modified Harvard reference style whereby we cite the first 6 authors in the reference section (examples below). If you use Endnote, you may download plug-ins (see below) so that you can format your references correctly. EndNote Users: Click here to download the journal's style file (.ens). In the main text, place each author in square parentheses, throughout the text, tables, and legends: [Author A, 2004]; [Author A and Author B, 2006]; [Author et al. 2007] In the reference list, all references appear alphabetically. Please list up to 6 authors, or 6 authors followed by et al Authors: List each author's last name and initials; full first names are not included. For books with chapters written by individual authors, list the authors of the chapter first, then the chapter title, followed by 'In', the editors' names, and the book title, the publisher, and the location. Book titles, chapter titles: Capitalize the first letter of the first word in the title. The rest of the title is in lower-case, with the exception of proper names (see example 3 below). Do not underline the title; do not use italics. Example - Journal citations Abduljawad, K.A.J. and Langley, R.W. (2001) Article title here. J Psychopharmacol 15: 237-242. Smith, H., Miller, M., Agarwal, S., Sinetti, M., Yan, C., Long, T. et al. (2000) Article title here. J Psychopharmacol 15: 237-242. Example - Book citations Lader, M. (1977) Effects of psychotropic drugs on auditory evoked potentials in man. In Desmedt, J.E. (ed), Auditory evoked potentials in man: psychopharmacology correlates of evoked potentials, Karger: Basel. 4.1 Corresponding Author Contact details Provide full contact details for the corresponding author including email, mailing address and telephone numbers. Academic affiliations are required for all co-authors. These details should be presented separately to the main text of the article to facilitate anonymous peer review. Please also provide the email addresses for ALL authors. 186 5. Research Ethics When reporting experiments on human subjects, indicate whether the procedures followed were in accordance with the ethical standards of the responsible committee on human experimentation (institutional or regional) or with the Declaration of Helsinki 1975, revised Hong Kong 1989. Do not use patients' names, initials or hospital numbers, especially in illustrative material. When reporting experiments on animals, indicate whether the institution's or the National Research Council's guide for, or any national law on, the care and use of laboratory animals was followed. 6. Publication Statement Papers submitted to this Journal for publication are considered on condition that they have been neither submitted elsewhere, nor published elsewhere other than in abstract form. The Editors do not enter into correspondence about papers considered unsuitable for publication; their decision is final. Requirements for publication in the Journal are in accordance with the International Committee of Medical Journal Editors' Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals [ICMJE, 2007]. 7. Peer review statement The Therapeutic Advances series adheres to a blinded peer review process in which the reviewers' names are routinely withheld from the author unless a reviewer requests a preference for his or her identity to be revealed. Authors are invited to suggest the names, affiliations and contact information of up to six individuals who may be suitable to serve as referees, but the Editors are under no obligation to use all or any of these individuals as reviewers. Recommended reviewers should be experts in their fields and should be able to provide an objective assessment of the manuscript. Please be aware of any conflicts of interest when recommending reviewers. Examples of conflicts of interest include (but are not limited to) the below: The reviewer should have no prior knowledge of your submission The reviewer should not have recently collaborated with any of the authors Reviewer nominees from the same institution as any of the authors are not permitted All manuscripts are reviewed initially by the Editors and only those papers that meet the scientific and editorial standards of the journal, and fit within the aims and scope of the journal, will be sent for outside review. Each research article and review manuscript is reviewed by at least two referees. All manuscripts are reviewed as rapidly as possible, and a first editorial decision is generally reached within 3 weeks of submission. 8. Journal contributor’s publishing agreement Before publication SAGE requires the author as the rights holder to sign a Journal Contributor’s Publishing Agreement. SAGE’s Journal Contributor’s Publishing 187 Agreement is an exclusive licence agreement which means that the author retains copyright in the work but grants SAGE the sole and exclusive right and licence to publish for the full legal term of copyright. Exceptions may exist where an assignment of copyright is required or preferred by a proprietor other than SAGE. In this case copyright in the work will be assigned from the author to the society. For more information please visit our Frequently Asked Questions on the SAGE Journal Author Gateway. 9. Declaration of conflicting interests Within your Journal Contributor’s Publishing Agreement you will be required to make a certification with respect to a declaration of conflicting interests. It is the policy of the Therapeutic Advancesseries to require a declaration of conflicting interests from all authors enabling a statement to be carried within the paginated pages of all published articles. Please include any declaration at the end of your manuscript after any acknowledgements and prior to the references, under a heading ‘Declaration of Conflicting Interests’. If no declaration is made the following will be printed under this heading in your article: ‘None Declared’. Alternatively, you may wish to state that ‘The Author(s) declare(s) that there is no conflict of interest’. When making a declaration the disclosure information must be specific and include any financial relationship that all authors of the article has with any sponsoring organization and the for-profit interests the organization represents, and with any for-profit product discussed or implied in the text of the article. Any commercial or financial involvements that might represent an appearance of a conflict of interest need to be additionally disclosed in the covering letter accompanying your article to assist the Editor in evaluating whether sufficient disclosure has been made within the Declaration of Conflicting Interests provided in the article. For more information please visit the SAGE Journal Author Gateway. 10. Authorship Papers should only be submitted for consideration once consent is given by all contributing authors. Those submitting papers should carefully check that all those whose work contributed to the paper are acknowledged as contributing authors. The list of authors should include all those who can legitimately claim authorship. This is all those who: (i) Made a substantial contribution to the concept or design of the work; or acqusition, analysis or interpretation of data, (ii) Drafted the article or revised it critically for important intellectual content, (iii) Approved the version to be published, 188 (iv) Each author should have participated sufficiently in the work to take public responsibility for appropriate portions of the content. Authors shoudl meet the conditions of all of the points above. When a large, multicentre group has conducted the work, the group should identify the individuals who accept direct responsibility for the manuscript. These individuals should fully meet the criteria for authorship. Acquistion of funding, collection of data, or general supervision of the research group alone does not consitute authorship, although all contributors who do not meet the criteria for authorship should be listed in the Acknowledgements section. Please refer to the International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE) authorship guidelines for more information. 11. Plagiarism Policy Therapeutic Advances in Drug Safety and SAGE take issues of copyright infringement, plagiarism or other breaches of best practice in publication very seriously. We seek to protect the rights of our authors and we always investigate claims of plagiarism or misuse of published articles. Equally, we seek to protect the reputation of the journal against malpractice. Submitted articles may be checked with duplication-checking software. Where an article, for example, is found to have plagiarised other work or included third-party copyright material without permission or with insufficient acknowledgement, or where the authorship of the article is contested, we reserve the right to take action including, but not limited to: publishing an erratum or corrigendum (correction); retracting the article; taking up the matter with the head of department or dean of the author's institution and/or relevant academic bodies or societies; or taking appropriate legal action. 12. Writing Assistance Individuals who provided writing assistance, e.g. from a specialist communications company, do not qualify as authors and so should be included in the Acknowledgements section. Authors must disclose any writing assistance - including the individual's name, company and level of input - and identify the entity that paid for this assistance. It is not necessary to disclose use of language polishing services. 13. Funding Acknowledgement To comply with the guidance for Research Funders, Authors and Publishers issued by the Research Information Network (RIN), the Therapeutic Advances series additionally requires all Authors to acknowledge their funding in a consistent fashion under a separate heading. All research articles should have a funding acknowledgement in the form of a sentence as follows, with the funding agency written out in full, followed by the grant number in square brackets: 189 This work was supported by the Medical Research Council [grant number xxx]. Multiple grant numbers should be separated by comma and space. Where the research was supported by more than one agency, the different agencies should be separated by semi-colon, with “and” before the final funder. Thus: This work was supported by the Wellcome Trust [grant numbers xxxx, yyyy]; the Natural Environment Research Council [grant number zzzz]; and the Economic and Social Research Council [grant number aaaa]. In some cases, research is not funded by a specific project grant, but rather from the block grant and other resources available to a university, college or other research institution. Where no specific funding has been provided for the research we ask that corresponding authors use the following sentence: This research received no specific grant from any funding agency in the public, commercial, or not-for-profit sectors. Please include this information under a separate heading entitled “Funding” directly after any other Acknowledgements prior to your “Declaration of Conflicting Interests” (if applicable), any Notes and your References. Important note: If you have any concerns that the provision of this information may compromise your anonymity dependent on the peer review policy of this journal outlined above, you can withhold this information until final accepted manuscript. For more information on the guidance for Research Funders, Authors and Publishers, please visit: http://www.rin.ac.uk/funders-acknowledgement 14. Informed Consent Authors are required to ensure the following guidelines are followed, as recommended by the International Committee of Medical Journal Editors, Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals. Patients have a right to privacy that should not be infringed without informed consent. Identifying information, including patients' names, initials, or hospital numbers, should not be published in written descriptions, photographs, and pedigrees unless the information is essential for scientific purposes and the patient (or parent or guardian) gives written informed consent for publication. Informed consent for this purpose requires that a patient who is identifiable be shown the manuscript to be published. Authors should identify Individuals who provide writing assistance and disclose the funding source for this assistance. Identifying details should be omitted if they are not essential. Complete anonymity is difficult to achieve, however, and informed consent should be obtained if there is any doubt. For example, masking the eye region in photographs of patients is inadequate protection of anonymity. If identifying characteristics are altered to protect anonymity, such as in genetic pedigrees, authors should provide assurance that alterations do not distort scientific meaning and editors should so note. When informed consent has been obtained it should be indicated in the submitted article. 190 15. Permissions Authors are responsible for obtaining permission from copyright holders for reproducing any illustrations, tables, figures or lengthy quotations previously published elsewhere. For further information including guidance on fair dealing for criticism and review, please visit our Frequently Asked Questions on the SAGE Journal Author Gateway. 16. After acceptance 16.1 Proofs We will email a PDF of the proofs to the corresponding author. 16.2 E-Prints and Complimentary Copies SAGE provides authors with access to a PDF of their final article. For further information please visit http://www.sagepub.co.uk/authors/journal/reprint.sp. We additionally provide the corresponding author with a complimentary copy of the print issue in which the article appears up to a maximum of 5 copies for onward supply by the corresponding author to co-authors. 16.3 SAGE Production At SAGE we place an extremely strong emphasis on the highest production standards possible. We attach high importance to our quality service levels in copy-editing, typesetting, printing, and online publication (http://online.sagepub.com/). We also seek to uphold excellent author relations throughout the publication process. We value your feedback to ensure we continue to improve our author service levels. On publication all corresponding authors will receive a brief survey questionnaire on your experience of publishing with SAGE. 16.4 OnlineFirst Publication The Therapeutic Advances series benefits from OnlineFirst, a feature offered through SAGE’s electronic journal platform, SAGE Journals Online. It allows final revision articles (completed articles in queue for assignment to an upcoming issue) to be hosted online prior to their inclusion in a final print and online journal issue which significantly reduces the lead time between submission and publication. For more information please visit our OnlineFirst Fact Sheet 16.5 SAGE Choice If you would like your article to be freely available online immediately upon publication (as some funding bodies now require), you can opt for it to be published under the SAGE Choice Scheme on payment of a publication fee. Please contact [email protected] to request a SAGE Choice License Agreement. For more information on SAGE Choice options please visit http://www.uk.sagepub.com/sagechoice/faq.sp. 191 CAPITULO 4 192 CAPÍTULO IV ARTIGO IV: HEPATITE C: COMPREENDENDO O EFEITO DAS REAÇÕES ADVERSAS SEGUNDO A PERCEPÇÃO DOS PACIENTES (A ser enviado para publicação). Marcos Cardoso Rios1, Aline Santana Dósea2, Ângelo Roberto Antoniolli3, Alex Franca4, Deborah Pimentel5, Divaldo Pereira de Lyra Junior6 1 Doutorando em Ciências da Saúde. Departamento de Farmácia, Laboratório de Ensino e Pesquisa em Farmácia Social, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, SE, Brasil. 2 Mestre em Ciências Farmacêuticas. Departamento de Farmácia, Laboratório de Ensino e Pesquisa em Farmácia Social, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, SE, Brasil. 3 Doutor, Professor Associado. Departamento de Fisiologia, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, SE, Brasil. 4 Doutor, Professor Associado e Chefe do Serviço de Hepatologia. Departamento de Medicina Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, SE, Brasil. 5 Doutor, Professor Adjunto. Departamento de Medicina, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, SE, Brasil. 6 Doutor, Professor Associado. Departamento de Farmácia, Laboratório de Ensino e Pesquisa em Farmácia Social, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, SE, Brasil. *Autor correspondente: Marcos Cardoso Rios. Departamento de Farmácia, Laboratório de Ensino e Pesquisa em Farmácia Social, Universidade Federal de Sergipe, Av. Marechal Rondon, s/n, Jardim Rosa Elze, Zip Code: 49100-000, São Cristóvão, Sergipe, Brazil, Phone/Fax: +5507988084488. Endereço eletrônico: [email protected], [email protected] 193 ABSTRACT: A hepatite C e o tratamento da doença costumam estar associados com um considerável impacto humanístico, afetando a produtividade do trabalho, níveis de atividade e saúde relacionados com a qualidade de vida. O objetivo do presente estudo é analisar a percepção dos pacientes em tratamento da hepatite C atendidos na unidade de doenças do Fígado de um Hospital no Nordeste do Brasil sobre as reações adversas e o impacto nas atividades cotidianas. Para tanto, foram realizadas entrevistas audiogravadas e as transcrições das falas foram submetidas a análise de conteúdo. O impacto da descoberta, a perda de autonomia em função das consequências da doença e do tratamento e as experiências negativas associadas à farmacoterapia foram percebidos como barreiras ao tratamento. Sintomas ansiosos ou depressivos, dor de cabeça e anemia foram as principais preocupações tácitas nas falas. As atividades diárias no trabalho e afazeres, atividade social e atividades físicas e de lazer foram os problemas cotidianos mais recorrentes. Diante dos relatos apresentados, recomenda-se que os profissionais de saúde, como o farmacêutico, possam escutar ativamente o paciente durante o processo de atendimento, no sentindo de minimizar o impacto das reações adversas associadas ao tratamento da hepatite C, possibilitando melhorar a adesão e as chances de cura em um tratamento mais humanizado. KEWORDS: Hepatite C; Reações Adversas ao Tratamento; Análise Qualitativa; Farmacêutico. 194 INTRODUÇÃO A infecção com o vírus da hepatite C (HCV) é uma das principais causas de doença hepática crônica e está associada a um alto risco de desenvolver cirrose e hepatocarcinoma (Gower et al., 2014; Hatzaksi et al., 2015). De acordo com projeções de Hatzakis et al. (2015), o número total de infecções por HCV deverá diminuir ou manter-se constante em muitos países, já a morbidade relacionada com o HCV deve aumentar em populações mais velhas com evolução para doenças hepáticas mais avançadas (Hatzakis et al., 2015). No Brasil, as projeções epidemiológicas preveem queda na taxa de prevalência, apesar do aumento no número de infectados e mortalidades causadas por problemas associados à doença (Kershenobich et al., 2011). As constantes mudanças na farmacoterapia observadas nos últimos anos têm alterado o perfil de segurança e o padrão de uso dos medicamentos, influenciando a disposição do paciente em se tratar (Vietri et al., 2013; Londeix e Forette, 2014; Yilmaz et al., 2016). Segundo Schoemarker e Oliveira (2008) as experiências dos pacientes com os seus medicamentos e os efeitos sobre o seu corpo podem ser fundamentais em suas decisões sobre a farmacoterapia. De acordo com McGowan (2012) os fatores relacionados ao paciente são uma fonte comum de adiamento do tratamento e baixa adesão às recomendações médicas. Embora o diagnóstico da doença possa representar a maior barreira no início do tratamento (24% a 57% não são avaliados por especialistas), os pacientes diagnosticados têm faltado às consultas médicas e não apresentam uma adesão adequada à farmacoterapia. Russo e Fried (2003) e McGowan et al. (2012), destacam que alguns motivos relacionados ao paciente não são descabidos, mas eles podem ser controlados 195 pela educação e orientação adequadas ao paciente. Neste sentido é preciso compreender as percepções do paciente sobre seus medicamentos, visto que refletem os aspectos positivos e negativos que o mesmo vivencia ou vivenciou durante a sua farmacoterapia e afetam a adesão ao tratamento (Kauf et al., 2012). Dados de uma pesquisa realizada no Nordeste de Sergipe mostram uma incidência média de 15,5 reações adversas por paciente tratado para a hepatite C, algumas das quais alteraram as atividades diárias dos pacientes e outras foram consideradas graves, exigindo o manejo de doses e mesmo a suspensão de alguns tratamentos (Nogueira et al., 2012). Apesar da importância do tema, poucos estudos avaliaram a percepção dos pacientes sobre a farmacoterapia (Groessl et al., 2008). Dessa forma, o objetivo do presente estudo é analisar a percepção de um grupo de pacientes em tratamento da hepatite C, atendidos na unidade de doenças do Fígado de um Hospital no Nordeste do Brasil, sobre as reações adversas e o seu impacto nas atividades cotidianas. MATERIAIS E CASUÍSTICA Trata-se de um estudo descritivo de abordagem qualitativa. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com pacientes portadores da Hepatite C como forma de apreender a experiência do sujeito e sua doença. A amostragem foi não-probabilística e por conveniência, sendo o número de participantes definidos conforme Fontanella (2008), que sugere o tamanho da amostra ao esgotamento de determinado tema. Foi utilizada a técnica de análise de conteúdo temático que permitiu fazer inferências a partir da codificação e categorização do 196 conteúdo das mensagens (Bardin, 2007). A codificação e categorização das falas foram feitas por dois pesquisadores (M.C.R e D.P). O roteiro trazia pontos de abordagem acerca da percepção do paciente sobre a doença, sobre as reações adversas e o impacto destas nas atividades cotidianas e na produtividade. Além disso, foi perguntado ao paciente se gostaria de acrescentar alguma outra fala sobre o tratamento. Dessa forma, para compor a pesquisa e entender o impacto da hepatite C na vida do paciente, foram convidados nove pacientes atendidos na unidade de doenças do Fígado de um Hospital no Nordeste do Brasil. Foram selecionados pacientes que apresentaram pelo menos uma reação adversa associada à farmacoterapia da hepatite C (outrora reconhecido nas evidências científicas) e estavam em diferentes estágios do tratamento (inicio/fim do tratamento/retratamento), aceitando participar da entrevista e concordando com os termos do Comitê de Ética em Pesquisa (Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde). Os pacientes entrevistados foram informados de todo o processo e que a não aceitação dos termos da pesquisa não acarretaria prejuízo à prestação dos serviços clínicos. RESULTADOS Caracterização dos Sujeitos da Pesquisa Entre os entrevistados, cinco eram do gênero masculino e quatro eram do gênero feminino. A idade média dos entrevistados foi de 56 anos, com intervalo entre 48 e 66 anos. Os genótipos do vírus prevalentes entre os pacientes foram: 1A (n=4), 1B (n=3), 197 3A (n=1). Um paciente não tinha o subtipo do genótipo 1 definido. A média de comorbidade foi de 1,4 doença/paciente. A cirrose e o diabetes mellitus foram mais prevalentes (n=4), seguidos de vasculite (n=2), hipertensão arterial (n=1), ascite (n=1), varizes esofágicas (n=1) e HIV (n=1). Em relação ao estadiamento anatomopatológico, seis pacientes apresentaram fibrose avançada, sendo que quatro pacientes apresentavam estadiamento F4 e dois F3. Um paciente tinha fibrose de grau dois e dois pacientes era grau um. No que se refere à farmacoterapia, apenas um paciente era virgem de tratamento, sendo que seis pacientes já haviam sido tratados com interferon/peginterferon associados à ribavirina e dois pacientes com peginterferon com ribavirina associados ao telaprevir (1) ou boceprevir (1). A suspensão devido às reações adversas foi o principal desfecho clínico dos tratamentos anteriores, em ambos os esquemas terapêuticos (75%). Outros desfechos foram o breaktrough (falha no tratamento, em virtude da irresponsividade caracterizada pelo aumento no nível do RNA do vírus, após resposta virológica, enquanto o paciente ainda está sob tratamento) nos pacientes tratados com interferon/peginterferon associados à ribavirina (25%) e não resposta (isto é, não obtenção de níveis de RNA do vírus indetectáveis durante ou no final da terapia) ao tratamento com peginterferon com ribavirina associados ao telaprevir (25%). Categorização dos Temas Os temas foram classificados em categorias empíricas, tais como: descoberta da doença, perda da autonomia, experiência negativa associada à farmacoterapia, impacto nas atividades cotidianas. Além disso, a categoria condução do tratamento surgiu 198 espontaneamente. A análise da temática permitiu dar significado às experiências dos pacientes relativas à doença e seus medicamentos. Subordinada às categorias estão às subcategorias e os núcleos de sentido (Figura 1). 199 Figura 1: Organização sistemática das percepções dos entrevistados, segundo as categorias empíricas (em negrito), seguidas ordenadamente pelas sub-categorias e núcleos de sentido. 199 A descoberta da infecção por HCV e perda da autonomia O diagnóstico da hepatite C ocorre quase casualmente e costuma estar carregado de significados. Uma das grandes preocupações dos pacientes está relacionada ao sofrimento causado por temer a perda de sua autonomia, devido às consequências à saúde trazidas pela doença e reações adversas ao tratamento: [...] às vezes eu não entendo, porque eu tenho um fígado tão bom, uma carga viral tão baixa e ter tantas reações. [...] sou acostumado a dar aula, fazer um risco perfeito no quadro, mas quando a gente não consegue, você começa a ficar um pouco inseguro; fiz doutorado e pretendia continuar a dar aula, fazendo aquilo para a qual me preparei. Apenas um paciente entrevistado não havia sido tratado anteriormente. Os demais pacientes (8/9) haviam sido tratados com a terapia interferon/peginterferon associados à ribavirina (50%) e peginterferon com ribavirina associados ao telaprevir ou boceprevir (50%). Essa informação é importante, pois a partir da experiência prévia do sujeito com o seu medicamento, os pacientes utilizam da racionalidade objetiva própria para tomar decisões sobre a farmacoterapia, ensejando atitudes que podem influenciar na adesão, conforme retratam algumas das falas: [...] no primeiro tratamento tive reações terríveis que cheguei a pensar em parar o tratamento. Agora, costumo usar outros medicamentos para combater as reações. Não sei se fiquei mais tolerante ou se foi os medicamentos, mas as reações estão mais suportáveis. 200 [...] estava com uma viagem marcada e por isso deixei para começar o tratamento depois que eu voltasse. [...] me programo contando o tempo de reação: se eu tiver que sair de manhã, tenho que acordar mais cedo, tomar café, tomar o medicamento e esperar a reação para ir no banheiro. [...] no quarto dia depois que comecei a tomar os medicamentos, eu senti uma onda de reações; acordei de madrugada com o coração acelerado, com pressão alta, tonto. Aí resolvi parar de tomar esse medicamento. Experiência negativa associada à farmacoterapia e impacto nas atividades cotidianas Para alguns pacientes da presente pesquisa, a farmacoterapia é considerada como terrível e a incidência de reações adversas a fazem pior que outras doenças: [...] O tratamento é uma fase dramática. [...] as reações destes tratamentos são piores do que as do HIV. As reações adversas mais citadas foram: alopecia, anemia, distúrbios gastrointestinais, dor de cabeça, emagrecimento, hiperglicemia, inapetência, manifestações cutâneas, problemas dentários, sintomas de ansiedade, sintomas de depressão e tosse. Outrossim, dá-se destaque a disfunção sexual, que nem sempre é admitida: [...] senti impotência e falta de desejo sexual. Se o camarada não tiver uma mulher firme, não é fácil. [...] existe nessa coisa toda que eu chamo de perigo moral: você faz uma entrevista tentando que a pessoa fale a verdade, mas ele não fala, talvez, porque não acha importante. Outra coisa é o homem: esse medicamento afeta o desempenho sexual. Está acontecendo 201 comigo. Mas se me perguntarem, eu vou dizer que não! É do homem não falar sobre isso. Foi observado que muitas das reações apresentadas podem ter relação sobre o humor ou, ainda, este influenciar como o paciente percebe a doença e as reações adversas. Assim, o humor depressivo foi considerado como reação adversa e categorizado como experiência negativa associada à farmacoterapia: [...] fiquei um pouco triste; me fechei um pouco, fiquei reservado, não gostava de falar com gente, as pessoas próximas estranharam. [...] tive depressão profunda, fiquei sensível e comecei a sentir tudo mais forte, as reações ficaram insuportáveis [...]. Parei o tratamento da hepatite, para tratar da depressão. Entre as falas analisadas, observou-se que reações adversas associadas à farmacoterapia da hepatite C requerem múltiplas adaptações para o ajustamento à condição de estar doente e em tratamento. Essa adaptação pode estar condicionada à limitação física, que afeta a produtividade, e as limitações sociais: [...] antes eu conseguia dar quatro horas de aula. Hoje só aguento duas horas [...]. Fisicamente, houve uma queda muito brusca. [...] me sentia sem ânimo, não gostava de estar com muita gente. Não ia a ambiente cheio ou com barulho. [...] meus amigos me chamavam para ir na casa deles, era uma forma que eles tinham de me tirar de casa, mas não entendiam que não era porque eu não queria ir. Era porque eu não me sentia bem em ir. Não era nada contra eles, era eu. [...] desde que eu soube da doença, deixei de frequentar salões de beleza para fazer unhas; imagino que eu tenha contaminado algumas 202 pessoas, ainda que sem querer e saber, mas com certeza o fiz, uma vez que, por vezes, a manicure já me feriu. [...] busquei me afastar de algumas pessoas, talvez, com medo de saber como me receberiam. Condução do Tratamento A categoria intitulada condução do tratamento, surgida espontaneamente durante a entrevista, ressalta que as percepções sobre as responsabilidades compartilhadas favorecem a motivação pelo auto-cuidado: [...] quero viver muito. Penso que você tem duas opções: morrer ou se jogar para começar e enfrentar o tratamento. [...] coloquei na minha cabeça: mesmo que eu não queira, eu vou querer. [...] não adianta a pessoa transferir a responsabilidade para o médico e aos medicamentos, é preciso fazer a parte do paciente, seguir o tratamento direito, tomar na hora certa, ter cuidado com a comida. Não pode beber. Para alguns dos entrevistados, essa motivação parece ser um misto de otimismo e fé aliados à disciplina. [...] penso que vai dar certo: vai ser lindo o final. [...] eu tenho fé em Deus e nos doutores que vou ficar bem! [...] a pessoa tem que entrar em um tratamento como este como se fosse uma pós-graduação: você começa o curso e você sabe tudo aquilo que está sendo dito, afinal você experimenta muitas das 203 reações ao longo do tratamento e pensa: isso eu já sei. Muita gente não tem paciência e começa a relaxar, faltar aula. Ás vezes na última aula é tanta informação que valeu todo o curso. Quem teve paciência de acompanhar vai aproveitar muito. Têm que ter paciência e fazer direito. Analisou-se, entre os entrevistados, a aceitação da responsabilidade nos quais os pacientes se viram ativo no processo de uso da farmacoterapia. Neste contexto, o medicamento é o recurso de meio e que pode levar ao sucesso no final do tratamento, mas que depende de fatores intrínsecos e extrínsecos, reconhecidos em algumas falas: [...] eu tenho a clareza que a coisa é probabilística. Existe a possibilidade de não dar certo. Eu tenho a consciência disso e não vou chegar aqui e dizer: foi fulano. Porque a coisa é científica, estatística. [...] quando a gente fala que o tratamento é de quase um ano, as pessoas falam: ‘mas meu Deus do Céu, como é que você aguenta?’. Têm que aguentar. A formação de uma equipe multiprofissional, com a presença do farmacêutico no processo de cuidado foi destacada como uma medida para aumentar a efetividade e segurança: [...] a expectativa que eu encontrei com o serviço de farmácia foi acima do que achei que encontraria. Em uma equipe, com a participação destes profissionais, as chances de cura aumentam. [...] vocês trabalham em rede e isso funciona. Acho que os resultados são bem melhores e mais eficientes. Dá segurança a gente e aos médicos. 204 Observou-se ainda que, na percepção dos entrevistados, os farmacêuticos podem auxiliá-los a resolver transtornos menores na sua prescrição de cuidados de maneira interdependente, além de reforçar as informações médicas ou sugerir mudanças na farmacoterapia. [...] desde que o farmacêutico me indicou usar o paracetamol um pouco antes das injeções, diminuíram as dores. [...] dias atrás liguei para o farmacêutico para reclamar de uma coceira [...] o meu médico estava viajando. [...] o médico já havia falado, mas parei de usar. Depois, conversando com o farmacêutico ele me lembrou e voltei a utilizar o medicamento. [...] certa vez, o farmacêutico percebeu que alguma coisa estava errada com os meus medicamentos [...] a carta que ele me deu repassei ao médico e fez com que ele mudasse o medicamento indicado para diabetes. DISCUSSÃO Os resultados da presente pesquisa elevam a importância da escuta ativa para o processo de intervenções efetivas, uma vez que o prontuário do paciente utilizado para acompanhar a evolução e direcionar o manejo da doença e farmacoterapia costuma não retratar as percepções do paciente. Assim, a análise do discurso do paciente deve ser associada aos dados objetivos para aumentar o conjunto de informações e assertividade das intervenções. 205 No presente estudo observou-se que a doença traz aspectos psicológicos e comportamentais importantes e, esse encontro do paciente com o diagnóstico e a indicação de uso do medicamento pode estar carregado de significado, como o impacto emocional do diagnóstico que gera incertezas sobre o futuro e a perda da sua autonomia. A geração de incertezas ocasionadas pelas experiências negativas da farmacoterapia faz sentido na percepção do paciente, uma vez que este sofre a manifestação indesejada, e pela qual, ainda repercute as consequências, envolto às emoções (Schoemarker e Oliveira, 2008, Lima et al., 2011). Outra consequência da relação do paciente com a doença e o tratamento é a experiência negativa associada à farmacoterapia, com destaque para a incidência de reações adversas. A presença de reações indesejadas associadas aos tratamentos da hepatite C tem sido alvo de pesquisas, onde a literatura tem demonstrado que a maioria dos pacientes submetidos à farmacoterapia experimenta alguma reação adversa (Garcia et al., 2012; McGowan e Fried, 2012). Para Lira et al. (2003), Castaño e Barco (2010) e Schoemarker e Oliveira (2008) a análise do impacto destas reações, geralmente expressas nas emoções e condutas das pessoas, possibilita um entendimento em maior profundidade da realidade vivida pelo mesmo. A percepção na atual pesquisa sobre a incidência das reações adversas como experiência relacionada à farmacoterapia foi considerada terrível. Essa repercussão e os equívocos dos pacientes em relação à doença e o tratamento da hepatite C geram polarizações cognitivas que podem contribuir para a resistência ao tratamento (Lima et al., 2011; Wei et al., 2016). Para Khokhar e Lewis (2007) e Lima et al. (2011) a natureza assintomática da doença, que o torna, algumas vezes, um achado espontâneo e incompreensível com a realidade da gravidade, o reconhecimento de estar doente, a manifestação e o medo das reações adversas estão entre as principais barreiras do tratamento. 206 Segundo Werlle (2003) e Butt et al. (2008), o medo inclui o indesejável prospecto de sofrer; ou seja, é a possibilidade de padecer a aflição física que torna o evento tão aversivo. No tratamento da hepatite C, além do medo da evolução da doença, está o medo das reações associadas ao tratamento (McGowan e Fried, 2012). O humor depressivo foi sub-categorizado como experiência negativa associada à farmacoterapia. Para Furlanetto e Brasil (2006) a doença clínica e a depressão são experiências comuns na vida de muitas pessoas, mas caso coexistiam, é preciso analisar se o estado apresentado pelo paciente é decorrente de uma depressão subjacente ou ao estado mental associado à doença clínica. Segundo Robinson e Robins (1989) e Furlanetto e Brasil (2006), o humor deprimido é uma resposta humana normal ao sentimento de dano, perda, incerteza e vulnerabilidade que pode acompanhar as doenças clínicas graves. Na maioria dos casos, os sintomas depressivos não persistem e a remissão dos sintomas ocorre assim que há tempo suficiente para a adaptação àquela situação. Contudo, o desconforto, o comprometimento da aparência física, a incapacidade e a mudança de vida associados à doença clínica são fatores de risco para depressão, particularmente em indivíduos com história familiar dessa doença. Ressalta-se que, algumas vezes, pacientes são considerados não elegíveis para tratamento da hepatite C, devido entre outras causas, a suposta contra-indicação de doenças psiquiátricas ou ênfase indevida sobre a potencialidade de tais efeitos (Rowan et al., 2004; McGowan et al., 2013). Por tais condições, médicos assistentes e psiquiatras devem ser alertados para o caso de doenças psiquiátricas subjacentes e da necessidade de adicionar fármacos sinérgicos. Chapman et. al., (2011) e Ogawa et al., (2012) relataram que o tratamento antidepressivo pode otimizar o resultado do tratamento da hepatite C. A disfunção sexual foi tratada como um tabu, reforçando o fato de que, assuntos sobre sexualidade podem se constituir em uma resistência do paciente em assumir o aparecimento 207 de reações associadas. Tais situações pode levar o afastamento entre ele e o cuidador, ou fazêlo faltar com a verdade ou ignorá-la. Para tanto, é preciso estar atento ao que foi colocado por um dos entrevistados como perigo moral, entendendo que a comunicação da verdade é uma responsabilidade do paciente na condução do tratamento. Na categoria intitulada ‘impacto sobre as atividades cotidianas’, observou-se que a doença e a farmacoterapia costumam causar limitações nos âmbitos sociais e econômicos, e, requerem ajustamento. De acordo com McNulty et al., (2004), o desafio do ajustamento a uma doença crônica é mais do que uma simples adaptação biofísica ao processo de doença, é uma experiência vivida que requer múltiplas adaptações. Essa adaptação pode estar condicionada à limitação física e afeta, entre outros fatores, a produtividade. A diminuição da produtividade não é descabida, uma vez que muitos pacientes apresentam anemia, principal causa de fadiga associada ao tratamento da hepatite C, que pode levar a perda da capacidade funcional e prejuízo cognitivo, com impacto na qualidade de vida e na economia, entendendo poder ser causa de absenteísmo e prejuízo funcional global no trabalho (Vietri et al., 2013; Foster, 2009; Fábregas et al., 2013; Fagundes et al., 2015). As limitações, no entanto, não afetam somente a produtividade, mas também há uma limitação social, como isolamento, distanciamento das amizades e deixar de frequentar determinados locais. De acordo com Brito (2008), na realidade cotidiana, a condição crônica de saúde pode levar o paciente ao comprometimento da qualidade de vida e a rever hábitos de vida, com receio de ser estigmatizado por ser portador de doença infecto-contagiosa, ou mesmo como medida protetiva. A categoria qualificada como condução do tratamento, surgida espontaneamente durante a entrevista, ressalta que as percepções sobre as responsabilidades compartilhadas favorecem a motivação pelo auto-cuidado. Apóstolo et al. (2007) associam a motivação intrínseca e o menor grau de incerteza como fatores essenciais ao cumprimento do tratamento. 208 No que tange a condução da terapia, a fé costuma ser uma importante aliada no processo de enfrentamento de situações-limite, podendo auxiliar o indivíduo a obter ou conservar a esperança (Faria e Seidl, 2006). A persistência e a disciplina também são fundamentais ao seguimento da farmacoterapia. Entre as falas analisadas, observou-se que o curso de tempo do tratamento e a incidência de reações adversas surgidas ao longo do tempo, podem ser um fator limitante a adesão, corroborando achados da literatura (Fried et al., 2002; McGowan e Fried, 2012). Para Apóstolo et al. (2007) e Garcia et al. (2012), neste sentido, é preciso conjeturar estratégias de enfrentamento, conduzindo um aumento da motivação direcionada para a adesão. No contexto do cuidado ao paciente em tratamento da hepatite C, a responsabilidade passa a ser entendida como uma questão de igualdade entre as partes envolvidas. Imputa-se, dessa forma, a responsabilidade do paciente em seguir as orientações médicas e, conforme retratam as percepções de alguns entrevistados, é preciso seguir uma dieta e evitar a ingestão de bebidas alcoólicas. Em relação aos profissionais de saúde, é preciso que o trabalho da equipe multiprofissional seja voltado para a análise da experiência do paciente com hepatite C com os seus medicamentos, discutindo e propondo as melhores alternativas sobre a farmacoterapia. A escuta precisa ser um processo ativo e exigirá cuidados aos sentimentos do paciente, voltada à obtenção de um maior conjunto de informações que tenham veracidade. Fontanella et al. (2006) destacaram que a equipe de saúde atua como uma rede de apoio que deve estar mobilizada para preparar e acompanhar este paciente na etapa de convívio com a doença e de tratamento. Segundo Mohammad et al. (2014) a participação de outros profissionais pode otimizar a utilização dos recursos dirigidos contra o vírus da hepatite C. O envolvimento de outros profissionais de saúde, como o farmacêutico, pode melhorar o manejo dos impactos 209 subjetivos, visto que se ampliam as possibilidades de se detectar a necessidade da terapia sinérgica, avaliar interações medicamentosas, entre outros (Sponner, 2009; Nogueira et al., 2012; Mohammad et al., 2014). Na visão dos entrevistados, as participações de outros profissionais podem otimizar o trabalho médico e são vistos como elo na relação entre médico e paciente. Além disso, de maneira interdependente, podem ser capazes de resolver transtornos menores na sua prescrição de cuidados. A participação direta do farmacêutico atuando colaborativamente com o médico na gestão de cuidados a pacientes com hepatite C tende a ser mais necessária, uma vez que com as constantes inovações que têm simplificado o tratamento (diminuição do número de medicamentos, do tempo de tratamento, da necessidade de exames para acompanhamento da carga viral, e da incidência de reações adversas), a farmacoterapia poderá ser acompanhada, futuramente, por profissionais especializados da atenção primária (Londeix e Forette, 2014; Suthar e Harries, 2015). Tais situações aumentam a necessidade de se determinar o perfil farmacoterapêutico e a subjetividade como bases para intervenções. CONCLUSÃO A partir dos dados expostos foi possível inferir que desde o diagnóstico da hepatite C, tratamento e a manifestação das reações adversas há um impacto físico, emocional e social, que podem interferir nas atividades cotidianas, nas relações afetivas e sexuais e, por conseguinte, na qualidade de vida destes pacientes tratados, além de ter repercussões na adesão e desfechos clínicos. Os dados da presente pesquisa permitiram compreender que o 210 sujeito, quando está inserido nas discussões relativas à farmacoterapia, se coloca ativo nas decisões sobre a mesma e externa suas experiências e aflições. Diante dos relatos apresentados, recomenda-se que os profissionais de saúde, como o farmacêutico, possam escutar ativamente o paciente durante todo o processo de atendimento, no sentindo de minimizar o impacto emocional e físico das reações adversas associadas ao tratamento da hepatite C, possibilitando melhorar a adesão e as chances de cura em um tratamento mais humanizado. PERSPECTIVAS E LIMITES DA PESQUISA. Este estudo possibilitou compreender o impacto das reações adversas associadas aos tratamentos da hepatite C, mas foi além, pois apontou que a participação do farmacêutico, envolvido no processo de cuidado, pode aumentar a confiança do paciente em relação ao tratamento e colaborar com o médico no manejo da farmacoterapia. Entre as limitações do presente estudo, estão àquelas relacionadas às pesquisas qualitativas, as quais buscam generalizar o comportamento humano, o que nem sempre é desejável uma vez que cada ser humano possui determinado comportamento em diferentes situações e, dependendo também da variável tempo, o indivíduo pode apresentar diferentes comportamentos diante da mesma situação devido sua capacidade de adaptação e aprendizagem. Pacientes retratados podem não ter se lembrado de experiências anteriores ou mesmo a intensidade das reações pode ter sido menos valorizada. 211 REFERÊNCIAS Apóstolo, J.L.A., Viveiros, C.S.C., Nunes, H.I.R. & Domingues, H.R.F. (2007). Illness uncertainty and treatment motivation in type 2 diabetes patients. Revista Latino-Americana de Enfermagem. 15(4): 575-82. Bardin, L. (2007). Análise de conteúdo. 3. ed. Lisboa: Edição 70. Brito, D.M.S. (2008). Qualidade de vida e percepção da doença entre portadores de hipertensão arterial. Cadernos de Saúde Pública. 24 (4): 933-940. Butt, G., Paterson, B. & Mcguiness, L.K. (2008). Living with yhe stigma of hepatitis C. Western Jounal of Nursing Research. 30, 2: 204-222. Castaño, E.F. & Barco, B.L. (2010). Estrategias de afrontamiento del estrés y estilos de conducta interpersonal. International Journal of Psychology and Psychological Therapy. 10, 2: 245-257. Chapman, J., Oser, M., Hockemeyer, J., Weitlauf, J., Jones, S. & Cheung, R. (2011). 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Do not send query letters regarding article fit. • Read the Mission Statement on main QHR webpage. • Search the QHR journal for articles that address your topic. Do we publish in your area of expertise? • Ask these questions: Does it make a meaningful and strong contribution to qualitative health research literature? Is it original? Relevant? In depth? Insightful? Significant? Is it useful to reader and/or practitioner? • Note the sections: General articles, critical reviews, articles addressing qualitative methods, commentaries on conceptual, theoretical, methodological, and ethical issues pertaining to qualitative inquiry. • QHR accepts qualitative methods and qualitatively-driven mixed-methods, qualitative meta analyses, and articles addressing all qualitative methods. • QHR is a multi-disciplinary journal and accepts articles written from a variety of perspectives including: cross-cultural health, family medicine, health psychology, health social work, medical anthropology, medical sociology, nursing, pediatric health, physical education, public health, and rehabilitation. • Articles in QHR provide an array of timely topics such as: experiencing illness, giving care, institutionalization, substance abuse, food, feeding and nutrition, living with disabilities, milestones and maturation, monitoring health, and children's perspectives on health and illness. Look Out for These Regular Special Features Pearls, Pith and Provocation: This section fosters debate about significant issues, enhances communication of methodological advances and encouragesthe discussion of provocative ideas. Book Review Section: Qualitative Health Research includes a book review section helping readers determine which publications will be most useful to them in practice, teaching and research. 217 Mixed Methods: This section includes qualitatively-driven mixed-methodsresearch, and qualitative contributionsto quantitative research. Advancing Qualitative Methods: Qualitative inquiry that has used qualitative methodsin an innovative way. Evidence of Practice: Theoretical or empirical articles addressing research integration and the translation of qualitatively derived insightsinto clinical decision-making and health service policy planning. Ethics: Quandaries or issues that are particular to qualitative inquiry are discussed. Teaching Matters: Articlesthat promote and discuss issues related to the teaching of qualitative methods and methodology. 2. Editorial policies 2.1 Peer review policy QHR strongly endorsesthe value and importance of peer review in scholarly journals publishing. All papers submitted to the journal will be subject to comment and external review. All manuscripts are initially reviewed by the Editors and only those papers that meet the scientific and editorialstandards of the journal, and fit within the aims and scope of the journal, will be sent for outside review. QHR adheresto a rigorous double-blind reviewing policy in which the identity of both the reviewer and author are always concealed from both parties. Ensure your manuscript does not contain any author identifying information. Please refer to the editorial on blinding found in the Nov 2014 issue: http://qhr.sagepub.com/content/24/11/1467.full. QHR maintains a transparent review system, meaning that all reviews, once received, are then forwarded to the author(s) as well as to ALL reviewers. Peer review takes an average of 6–8 weeks, depending on reviewer response. 2.2 Authorship Papers should only be submitted for consideration once consent is given by all contributing authors. Those submitting papersshould carefully check that all those whose work contributed to the paper are acknowledged as contributing authors. The list of authors should include all those who can legitimately claim authorship. This is all authors who: (i) (ii) (iii) Made a substantial contribution to the concept and design, acquisition of data or analysis and interpretation of data, Drafted the article or revised it critically for important intellectual content, Approved the version to be published. 218 Authors should meet the conditions of all of the points above. Each author should have participated sufficiently in the work to take public responsibility for appropriate portions of the content. When a large, multicenter group has conducted the work, the group should identify the individuals who accept direct responsibility for the manuscript. These individuals should fully meet the criteria for authorship. Acquisition of funding, collection of data, or general supervision of the research group alone does not constitute authorship, although all contributors who do not meet the criteria for authorship should be listed in the Acknowledgments section. Please refer to the International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE) authorship guidelines for more information on authorship. 2.4 Funding QHR requires all authorsto acknowledge their funding in a consistent fashion under a separate heading. Please visit the Funding Acknowledgements page to confirm the format of the acknowledgement text in the event of funding. Otherwise, state that: This research received no specific grant from any funding agency in the public, commercial, or not-for profit sectors. 2.5 Declaration of conflicting interests It is the policy of QHR to require a declaration of conflicting interests from all authors enabling a statement to be carried within the paginated pages of all published articles. Please ensure that a “‘Declaration of Conflicting Interests” statement is included at the end of your manuscript, after any acknowledgements and prior to the references. If no conflict exists, please state that “The Author(s) declare(s) that there is no conflict of interest.” For guidance on conflict of interest statements, please see the ICMJE recommendations here. 2.6 Research ethics and patient consent Medical research involving human subjects must be conducted according to the World Medical Association Declaration of Helsinki. Submitted manuscripts should conform to the ICMJE Recommend ations for the Conduct, Reporting, Editing, and Publication of Scholarly Work in Medical Journals, and all papers reporting animal and/or human studies must state in the methods section that the relevant Ethics Committee or Institutional Review Board provided (or waived) approval. Please ensure that you have provided the full name and institution of the review committee, in addition to the approval number. For research articles, authors are also required to state in the methods section whether participants provided informed consent and whether the consent was written or verbal. 219 In terms of patient privacy, authors are required to follow the ICMJE Recommendations for the Protection of Research Participants. Patients have a right to privacy that should not be infringed without informed consent. Identifying information, including patients' names, initials, or hospital numbers, should not be published in written descriptions, photographs, and pedigrees unless the information is essential for scientific purposes and the patient (or parent or guardian) gives written informed consent for publication. Informed consent for this purpose requires that a patient who is identifiable be shown the manuscript to be published. Participant descriptors should not be listed individually. Because qualitative research is descriptive, it is recommended that participant quotations not be linked to identifiers in the manuscript. 2.7 Clinical trials QHR conforms to the ICMJE requirement that clinical trials are registered in a WHOapproved public trials registry at or before the time of first patient enrolment as a condition of consideration for publication. The trial registry name and URL, and registration number must be included at the end of the abstract. 2.8 Reporting guidelines The relevant EQUATOR Network reporting guidelines hould be followed depending on the type of study. For example, all randomized controlled trials submitted for publication should include a completed Consolidated Standards of Reporting Trials(CONSORT) flow chart as a cited figure, and a completed CONSORT checklist as a supplementary file. Other resources can be found at NLM’s Research Reporting Guidelines and Initiatives 2.9 Data SAGE acknowledges the importance of research data availability as an integral part of the research and verification process for academic journal articles. QHR requests all authors submitting any primary data used in their research articles alongside their article submissions to be published in the online version of the journal, or provide detailed information in their articles on how the data can be obtained. This information should include links to third-party data repositories or detailed contact information for third party data sources. Data available only on an author-maintained website will need to be loaded onto either the journal’s platform or a third-party platform to ensure continuing accessibility. Examples of data types include but are not limited to statistical data files, replication code, text files, audio files, images, videos, appendices, and additional charts and graphs necessary to understand the original research. [The editor(s) may consider limited embargoes on proprietary data.] The editor(s) [can/will] also grant exceptionsfor data that cannot legally or ethically be released. All data submitted should comply with Institutional or 220 Ethical Review Board requirements and applicable government regulations. For further information, please contact the editorial office at [email protected]. 3. Publishing Policies 3.1 Publication ethics SAGE is committed to upholding the integrity of the academic record. We encourage authors to refer to the Committee on Publication Ethics’ International Standardsfor Authors and view the Publication Ethics page on the SAGE Author Gateway. 3.1.1 Plagiarism QHR and SAGE take issues of copyright infringement, plagiarism or other breaches of best practice in publication very seriously. We seek to protect the rights of our authors and we always investigate claims of plagiarism or misuse of articles published in the journal. Equally, we seek to protect the reputation of the journal against malpractice. Submitted articles may be checked using duplication-checking software. Where an article is found to have plagiarized other work, or included third-party copyright material without permission, or with insufficient acknowledgement, or where authorship of the article is contested, we reserve the right to take action including, but not limited to: publishing an erratum or corrigendum (correction); retracting the article (removing it from the journal); taking up the matter with the head of department or dean of the author’s institution and/or relevant academic bodies or societies; banning the author from publication in the journal or all SAGE journals, or appropriate legal action. 3.2 Contributor’s publishing agreement Before publication, SAGE requires the author as the rights holder to sign a Journal Contributor’s Publishing Agreement. SAGE’s Journal Contributor’s Publishing Agreement is an exclusive license agreement which means that the author retains copyright in the work but grants SAGE the sole and exclusive right and license to publish for the full legal term of copyright. Exceptions may exist where an assignment of copyright is required or preferred by a proprietor other than SAGE. In this case copyright in the work will be assigned from the author to the society. For more information please visit our Frequently Asked Questions on the SAGE Journal Author Gateway. 3.3 Open access and author archiving QHR offers optional open access publishing via the SAGE Choice program. For more information please visit the SAGE Choice website. For information on funding body compliance, and depositing your article in repositories, please visit SAGE Publishing Policies on our Journal Author Gateway. 3.4 Permissions 221 Authors are responsible for obtaining permission from copyright holders for reproducing any illustrations, tables, figures or lengthy quotations previously published elsewhere. For further information including guidance on fair dealing for criticism and review, please visit our Frequently Asked Questions on the SAGE Journal Author Gateway. 4. Preparing your manuscript 4.1 Article Format (see previously published articles in QHR for style): Title page: Title should be succinct; list all authors and their affiliation; keywords. Please upload the title page separately from the main document. Blinding: Do not include any author identifying information in your manuscript, including author’s own citations. Do not include acknowledgements until your article is accepted and unblinded. Abstract: Unstructured, 150 words. This should be the first page of the main manuscript, and it should be on its own page. Length: QHR does not have a word or page count limit. Manuscripts should be as tight as possible, preferably less than 30 pages including references. Longer manuscripts, if exceptional, will be considered. Methods: QHR readership is sophisticated; excessive details not required. Ethics: Include a statement of IRB approval and participant consent. Present demographics as a group, not listed as individuals. Do not link quotations to particular individuals unless essential (as in case studies) as this threatens anonymity. Results: Rich and descriptive; theoretical; linked to practice if possible. Discussion: Link your findings with research and theory in literature, including other geographical areas and quantitative research. References: APA format. Use pertinent references only. References should be on a separate page. Additional Editor’s Preferences: Please do not refer to your manuscript as a “paper;” you are submitting an “article.” The word “data” is plural. 4.2 Word processing formats 222 Preferred formats for the text and tables of your manuscript are Word DOC or PDF. The text should be double-spaced throughout with standard 1 inch margins (APA formatting). Text should be standard font (i.e., Times New Roman) 12 point. 4.3 Artwork, figures and other graphics Figures: Should clarify text. Include figures, charts, and tables created in MS Word in the main text rather than at the end of the document. Figures, tables, and other files created outside of Word should be submitted separately. Indicate where table should be inserted within manuscript (i.e., INSERT TABLE 1 HERE). Photographs: Should have permission to reprint and faces should be concealed using mosaic patches – unless permission has been given by the individual to use their identity. This permission must be forwarded to QHR’s Managing Editor. TIFF, JPED, or common picture formats accepted. The preferred format for graphs and line art is EPS. Resolution: Rasterized based files (i.e. with .tiff or .jpeg extension) require a resolution of at least 300 dpi (dots per inch). Line art should be supplied with a minimum resolution of 800 dpi. Dimension: Check that the artworks supplied match or exceed the dimensions of the journal. Images cannot be scaled up after origination. Figures supplied in color will appear in color online regardless of whether or not these illustrations are reproduced in color in the printed version. For specifically requested color reproduction in print, you will receive information regarding the costs from SAGE after receipt of your accepted article. 4.4 Supplementary material This journal is able to host additional materials online (e.g., datasets, podcasts, videos, images, etc.) alongside the full-text of the article. These will be subjected to peer-review alongside the article. Supplementary files will be uploaded as supplied. They will not be checked for accuracy, copyedited, typeset or proofread. The responsibility for scientific accuracy and file functionality remains with the author(s). SAGE will only publish supplementary material subject to full copyright clearance. This means that if the content of the file is not original to the author, then the author will be responsible for clearing all permissions prior to publication. The author will be required to provide copies of permissions and details of the correct copyright acknowledgement. 223 4.5 Journal layout In general, QHR adheres to the guidelines contained in the Publication Manual of the American Psychological Association [“APA”], 6th edition (ISBN 10:1-4338-05618,softcover; ISBN 10:1-4338-0559-6, hardcover; 10:1-4338-0562,spiral bound), with regard to manuscript preparation and formatting. These guidelines are referred to as the APA Publication Manual, or just APA. Additional help may be found online at http://www.apa.org/, or search the Internet for “APA format.” 4.6 Reference style QHR adheres to the APA reference style. Click here to review the guidelines on APA to ensure your manuscript conforms to this reference style. 4.7 English language editing services Articles must be professionally edited; this is the responsibility of the author. Authors seeking assistance with English language editing, translation, or figure and manuscript formatting to fit the journal’s specifications should consider using SAGE’s Language Services. 5. Submitting your manuscript 5.1 How to submit your manuscript QHR is hosted on SAGE Track, a web-based online submission and peer review system powered by Scholar One Manuscripts.™ Visit http://mc.manuscriptcentral.com/qhr to login and submit your article online. Each component of the manuscript is uploaded separately: Title page, main document, tables, figures, supplemental material. IMPORTANT: Please check whether you already have an account in the system before trying to create a new one. If you have reviewed or authored for the journal in the past year it is likely that you will have had an account created. For further guidance on submitting your manuscript online please visit Scholar One. 5.2 Title, keywords and abstracts Please supply a title, short title, an abstract and keywords to accompany your article. The title, keywords and abstract are key to ensuring readers find your article online through online search engines such as Google. Please refer to the information and guidance on How to Help Readers Find Your Article in the SAGE Journal Author Gateway on how best to title your article, write your abstract and select your keywords. 5.3 Corresponding author contact details Provide full contact details of the corresponding author including email, mailing address and phone number. Academic affiliations are required for all co-authors. Present these details on the title page, separate from the article main text, to facilitate anonymous peer review. 224 6. On acceptance and publication 6.1 Fees There are no fees to submit or publish, unless an author chooses to publish with open access. See “Open Access and SAGE Choice” below. Fees for color reproduction of figures in print may also apply. 6.2 SAGE Production Your SAGE Production Editor will keep you informed as to your article’s progress throughout the production process. Proofs will be sent by PDF to the corresponding author to make final corrections and should be returned promptly. 6.3 Access to your published article SAGE provides authors with online access to their final article. There is no set time frame when an article will be assigned to an issue. 6.4 Online First publication Online First allows final revision articles (completed article in queue for assignment to an upcoming issue) to be published online prior to their inclusion in a final print journal issue, which significantly reduces the lead time between submission and publication. Articles published Online First are assigned a DOI number, but no volume/issue/page number information. Articles will be searchable in PubMed but the citation will not appear with volume/page number information until officially published in an issue. For more information, please visit our Online First Fact Sheet. 6.5 Open Access and SAGE Choice Articles accepted in QHR have the option to be published as open access after payment of an article processing charge (APC) paid by either the funder or author. Authors wishing to publish open access should contact [email protected] to make the request. Read SAGE Choice FAQs here. 7. Further information Any correspondence, queries or additional requests for information on the manuscript submission process should be sent to the QHR editorial office as follows: Vanessa Shannon, Managing Editor, [email protected] 225 CONCLUSÕES GERAIS 226 5. CONCLUSÕES GERAIS A maior coorte dos universos analisados indica que a principal farmacoterapia para hepatite C entre os anos de 2002 a 2015 foi a associação com peginterferon e ribavirina, permanecendo como os imunomodualdores e virustáticos usados em associação com os inibidores de proteases. A terapia dupla com peginterferon e ribavirina apresentou efetividade limitada, que o faz ser indicada apenas à pacientes que apresentem características genéticas e estágios mais favoráveis à resposta virológica. As reações adversas devem ser monitoradas a fim de promover intervenções e garantir a adesão. A utilização das associações com boceprevir ou telaprevir não se mostraram satisfatórias e devem ser evitadas. A terapia clássica com peginterferon e ribavirina deve ser preferida em relação à terapia agregativa com inibidores de protease, uma vez que nestas, as reações são mais insidiosas e de difícil manejo. Os antivirais de ação direta são mais seguros, embora as evidências sejam menos robustas. As reações adversas provocadas pelos medicamentos afetam o cotidiano e a maneira como os pacientes se relacionam com a doença e o tratamento, na percepção de um grupo de pacientes. Esses resultados são essenciais descrever o padrão de uso e variações nos perfis terapêuticos no curso dos últimos anos, sendo útil na estimativa das necessidades de medicamentos na sociedade e na compreensão do acesso, acessibilidade e barreiras à sua utilização. As conclusões alcançadas contribuem para a base médico-social e econômica das atividades de regulamentação e outras decisões no campo da política de medicamentos e tratamento da hepatite C. 227 ANEXOS 228 229 230