DESMISTIFICANDO O HIV: Intervenção no Ensino Médio de uma Escola Pública do Distrito Federal Paula dos Reis Chaves Roriz1 Rayssa Nayara dos Santos2 Denise Fernanda Rodrigues da Silva3 Thaís Aparecida Caixeta4 Warley Borges Ferreira5 Alessandra Martino Ramos de Medeiros6 Eixo Temático: Educação, Diversidade e Inclusão social Agência Financiadora: CAPES-PIBID Resumo A adolescência é um momento de diversas transformações sociais, emocionais, corporais, cognitivas e de desenvolvimento humano no qual a maioria dos jovens inicia sua vida sexual (OLIVEIRA, 2009). O início das práticas sexuais em adolescentes vem acontecendo cada vez mais cedo, indicando maior exposição e vulnerabilidade desta parcela da população às doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) (CAMARGO, 2006). Concomitantemente a isso, houve, nos últimos anos, um aumento no diagnóstico de DSTs e AIDS entre jovens de 13 a 19 anos, como mostra o Boletim Epidemiológico de AIDS de 2015 (Brasil, 2015). Apesar das campanhas e da divulgação, a AIDS continua a se espalhar entre adolescentes de todo Brasil. (Brasil, 2012). Na década de 80, o HIV era bastante associado a grupos específicos de pessoas, como homossexuais, prostitutas e usuários de drogas injetáveis (ALMEIDA; LAMBRONICI, 2007); no entanto, atualmente, observa-se a heterossexualização e feminilização dos portadores do vírus HIV (RUA; ABRAMOVAY, 2001). Desta forma, fazse necessário a abordagem da desmistificação do HIV para adolescentes, analisando como o contexto do HIV insere-se no dia-a-dia desses jovens. Diante deste quadro, realizamos uma intervenção com 38 alunos do ensino médio, com idade entre 14 a 18 anos, na qual se foi analisado, através de um questionário, os conhecimentos prévios dos alunos a respeito do HIV, seus comportamentos e posturas com relação ao uso de preservativos, bem como a aferição dos preconceitos quanto a pessoas portadoras do vírus. Posteriormente, foi exibido o filme “Clube de Compras Dallas” (BORTEN, 2013), seguido de um debate, conduzido pelos bolsistas do PIBID, que sintetizou as formas de contagio, prevenção e a desmistificação do HIV/AIDS, principalmente no que diz respeito à relação entre o HIV e a homossexualidade. Depois disso, foi passado um vídeo de uma entrevista com uma pessoa soropositiva e aplicado outro questionário ao mesmo grupo a fim de avaliar o efeito desta atividade. A partir das respostas, observou-se a maioria dos alunos tinham 14 e 15 anos, com prevalência de meninas e que 31% destas e 41% dos meninos já tiveram relação sexual. Quando indagados se já fizeram algum exame de DST, 87% dos alunos responderam que não. Isso pode ser explicado pelo dado de que 67% dos alunos não 1 UCB, [email protected]. UCB, [email protected]. 3 UCB, [email protected]. 4 I UCB, [email protected]. 5 UCB, [email protected]. 6 UCB, [email protected]. 2 tiveram relação sexual e, dos que tiveram, 70% alegaram usar camisinha. Porém, constatou-se que, após a intervenção, 97% dos alunos afirmaram que se conscientizaram quanto à importância da realização de exames de detecção do HIV caso vivenciem situações de risco. Quando questionados se usam preservativo em relações sexuais durante um relacionamento sério, 20% dos alunos responderam negativamente. Já, após a intervenção, apenas 5% disseram que deixariam de usar o preservativo. Contudo, isto não necessariamente condiz com a realidade, uma vez que à medida que o relacionamento se estabiliza acaba-se substituindo a camisinha como método contraceptivo, evidenciando uma maior preocupação por parte dos adolescentes com relação à gravidez do que com DSTs (WIESE, 2011). Com relação às formas de contágio, existiram algumas incertezas, como se somente através da prática do sexo anal sem camisinha haveria risco de contágio. Durante a marcação dessa afirmação, na qual 27% concordaram plenamente, foi perceptível a inquietação dos alunos. Todavia, o contágio via sexo vaginal sem proteção e por compartilhamento de seringas se mostrou esclarecido. Isto pode ser justificado pela evidência que campanhas de prevenção fazem para estes meios de adquirir o vírus (CEZAR, 2014). Foi constatado que alguns mitos em relação à forma de contrair o HIV ainda existem: 20% dos alunos concordam plenamente que se sentiriam vulneráveis em entrar na mesma piscina que um portador do vírus, 63% alegaram preferir não compartilhar copos e talheres com pessoas soropositivas, e quanto ao compartilhamento de roupas, 33% assumem não se sentir tranquilas. Após o debate e a fala explícita sobre essas situações não apresentarem nenhum risco, estes números reduziram para 5%, 19% e 26%, respectivamente. Este desconforto contínuo evidencia o preconceito arraigado com relação aos soropositivos. Outro preconceito evidente é em relação à maior propensão de pessoas homossexuais contraírem HIV; cerca de 49% concordam plenamente ou em partes com esta afirmação. Mesmo após o debate, 32% dos alunos permaneceram com esta concepção. Isto versa com estudos que discutem o longo processo de construção social acerca da AIDS baseada na opinião pública de preceitos familiares e concepções religiosas (ALMEIDA; LAMBRONICI, 2007). No entanto, algumas percepções mostraram-se positivas mesmo antes do debate, como em relação à contração do vírus não estar diretamente relacionada ao comportamento promíscuo e à aparência frágil dos soropositivos. Outro ponto positivo foi como o debate se desenvolveu. A linguagem e a desenvoltura informal dos bolsistas contribuíram positivamente para a recepção do tema pelos alunos. Porém foi percebido o cansaço dos alunos devido ao longo período de exibição do filme e, portanto, sugere-se como estratégia de abordagem mais efetiva a utilização de vídeos mais descontraídos e de curta duração. Desta forma, podem ser usados no cotidiano da sala de aula e não como uma atividade extracurricular no turno contrário, atingindo assim, um público maior. Por fim, constatou-se que, após o cine-debate, os alunos enriqueceram o conhecimento acerca do assunto. Entretanto, alguns tabus ainda vigoram devido a preconceitos enraizados socialmente, sugerindo que é necessário o diálogo constante e aberto sobre este tema para a desconstrução destes paradigmas. Palavras-chave: Sexualidade, HIV, AIDS, adolescência, prevenção, preconceito. Referências: ALMEIDA, M.R.C.B; LAMBRONICI, L.M. A trajetória silenciosa de pessoas portadoras do HIV contada pela história oral. Ciênc. Saúde Coletiva, V.12, n.1, p.1-4, 2007. BRASIL. Boletim Epidemiológico AIDS e DST. Brasília: Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, PN de DST e AIDS, Ano IV, n. 01, 27ª à 53ª semanas epidemiológicas, jul./dez. 2014, 01ª à 26ª semanas epidemiológicas, jan./jun. 2015. Disponível em: <http://www.aids.gov.br/sites/default/files/anexos/publicacao/2015/58534/boletim_aids_11_2 015_web_pdf_19105.pdf> Acesso em: 14 out. 2016. BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. A Aids no Brasil. Brasília, DF, 2012. Disponível em: <http://www.aids.gov.br/pagina/dst-no-brasil> Acesso em: 14 out. 2016. BORTEN, C; WALLACK, M. Clube de Compras Dallas. [Filme]. Produção de Rachel Rothman, direção de Jean-Marc Vallée. EUA, 2013. 117min. CAMARGO, B.V.; BERTOLDO, R. B. Comparação da vulnerabilidade de estudantes da escola pública e particular em relação ao HIV. Estudos de Psicologia, Campinas, v. 23, n. 4, p. 369-379, 2006. CEZAR, V. DRAGANOV,P. A História e as Políticas Públicas do HIV no Brasil sob uma visão Bioética. Ensaios e Ciência: Ciências Biológica, Agrárias e da Saúde. Campo Grande, Brasil. v.18, n.3, pp. 151-156, 2014. OLIVEIRA, D.E. et al. Conhecimentos e Práticas de adolescentes acerca das DST/HIV/AIDS em duas Escolas Públicas Municipais do Rio de Janeiro. Esc Anna Neri Rev Enferm. 13 (4): 833-41, 2009 out-dez. RUA, M. G., & ABRAMOVAY, M. (2001). Avaliação das ações de prevenção às DST/AIDS e uso indevido de drogas nas escolas de ensino fundamental e médio em capitais brasileiras. Brasília: Unesco. WIESE, I. SALDANHA, A. Vulnerabilidade dos Adolescentes às DST/AIDS: ainda uma questão de gênero? Psicologia, Saúde e Doença. João Pessoa, Brasil. v.12, n.1, 2011.