FLG 1254 - Pedologia Propriedades físicas e químicas do solo Componentes do solo • O solo é constituído de quatro elementos principais: partículas minerais, materiais orgânicos, água e ar. • Fase sólida: partículas minerais e orgânicas. • A água e o ar ocupam o espaço poroso (‘vazios’). Fonte: Lepsch, 2002. • De modo geral, as partículas maiores do solo são constituídas de minerais primários e sua forma tende a ser esférica e cúbica. As partículas menores são constituídas geralmente de minerais secundários e sua forma tende a ser placas, fibras ou folhas. • Quanto à constituição da fase sólida, o solo pode ser denominado orgânico e mineral. • a) Solo orgânico: quando apresenta mais de 20% de matéria orgânica, isto é, mais de 11,5% de carbono total; • b) Solo mineral: quando apresenta menos de 20% de matéria orgânica, isto é, menos de 11,5% de carbono total. Constituintes minerais • As partículas minerais do solo podem ser classificadas tanto quanto seu tamanho quanto a sua origem e composição. • Origem: a) os remanescentes da rocha que deu origem ao solo; b) os produtos secundários, decompostos e/ou recompostos depois da intemperização dos minerais da rocha-mãe. • Os primeiros são chamados minerais primários ou originais, os segundos minerais secundários ou pedogênicos argilas. • Os minerais do solo podem ser classificados quanto ao tamanho em areia, silte e argila, conforme a dimensão das partículas análise granulométrica. Fonte: Lepsch, 2002. Minerais primários e secundários • Esqueleto mineral do solo: fração cascalho e areia minerais primários, sendo o quartzo o mais comum. Outros: mica, zircão, turmalina, magnetita, feldspatos etc. • Entre os minerais secundários que podem ocorrer na fração areia, estão as concreções ou nódulos muito endurecidos de óxidos de ferro e algumas partículas de sílica. • A argila é quimicamente muito ativa pequeno tamanho de suas partículas propriedades coloidais. As argilas • A mais importante propriedade coloidal da argila é a afinidade pela água e por elementos químicos nela dissolvidos vasta superfície específica (alto grau de subdivisão) e existência de cargas elétricas nessa superfície. • Partículas de argila são tão pequenas que só podem ser vistas com microscópio eletrônico. São plaquetas compostas de lâminas extremamente finas. • Seriam necessárias 10.000 partículas amontoadas para preencher o espaço de 1cm. Partículas de argila caulinítica sob microscópio eletrônico. A escala representa 1 micrômetro que é a milésima parte do milímetro. Foto: Pérsio Arida. Fonte: Lepsch, 2002. • Essas lâminas formam pequenos conjuntos destacáveis, como acontece com as micas. • Quando estão fortemente ligadas superfície quimicamente ativa na parte exterior (superfície externa), ficando inativa a superfície interna existente entre as lâminas a superfície específica aumenta propriedades coloidais são ressaltadas. Fonte: Lepsch, 2002. • A caulinita, por exemplo, é um tipo de argila cujas partículas só possuem superfície externa exposta menos ativa que a montmotilonita ou a vermiculita, que têm superfícies internas ativas em adição à externa. • Argilominerais com estrutura de camadas do tipo 1:1 ou simplesmente argilominerais 1:1 Caulinitas • Argilominerais com estrutura de camadas do tipo 2:1, ou argilominerais 2:1 Montmorilonitas • As argilas com grande superfície interna possuem a propriedade de se expandir muito quando umedecidas, por terem a capacidade de adsorver grande quantidade de moléculas de água e de cátions trocáveis entre suas finas lâminas argilas expansíveis ou argilas de alta atividade. FILOSSILICATOS • Caulinita: grupo de argilominerais do tipo 1:1, com estrutura de filossilicato, formados pelo empilhamento regular de folhas silicato tetraédricas e folhas hidróxido octaédricas. Fazem parte deste grupo, que têm fórmula estrutural Al4Si4O10(OH)8, os seguintes argilominerais: caulinita, haloisita, nacrita e diquita. • É um mineral comum em solos, sendo o mineral predominante da fração argila da maioria dos solos em estágio de intemperismo avançado. Pode-se dizer que a caulinita é o mineral de mais ampla ocorrência em solos de regiões tropicais úmidas e subúmidas. Suas propriedades, juntamente com as propriedades dos óxidos secundários de Fe e Al, são em grande parte responsáveis pelo comportamento da fração argila desses solos. • A caulinita pode ter grande influência nas propriedades físicas dos solos. Devido à disposição planar dos argilominerais, seus cristais (placas) apresentam ajustes face a face, formando, como conseqüência, macroestrutura em blocos. Este arranjo macroestrutural seria responsável por maiores valores de densidade do solo, menor estabilidade de agregados em água, menor macroporosidade e menor permeabilidade. Representação estrutural da caulinita • Esmectita: grupo de argilominerais com estrutura de filossilicato, com fórmula teórica Al4Si8O20(OH)4nH2O, constituído de duas folhas silicato tetraédricas separadas por uma folha hidróxido octaédrica. A forte ligação entre si é feita por oxigênio comum aos dois tipos de folhas, constituindo um grupo de argilominerais do tipo 2:1, cujas camadas sucessivas estão ligadas frouxamente, possibilitando a penetração de camadas de água. As esmectitas ocorrem predominantemente na fração argila de solos em estágio intermediário de intemperização. Representação estrutural da vermiculita e da esmectita. • Sua identificação pode ser feita com o uso de difratometria de raios-X. Talvez a propriedade mais marcante das esmectitas seja sua capacidade de expansão e contração com a variação do conteúdo de água do solo, propriedade essa atribuída aos pequenos tamanhos de partícula em que ocorre, sua grande superfície específica e capacidade de troca catiônica relativamente elevada. • Essas características de contração e expansão das esmectitas podem também influenciar a permeabilidade do solo. O movimento de água em solos esmectíticos se dá principalmente através de rachaduras e macroporos. Assim, a permeabilidade desses solos se reduz com o aumento do conteúdo de água devido à expansão do solo, que fecha as rachaduras, reduz a porosidade total e aumenta a razão microporosidade/macroporosidade. Rastejamento do solo Superfície Específica • As propriedades físico-químicas de um solo são grandemente influenciadas pela extensão da área superficial de seus constituintes. • A superfície específica varia com: a) textura; b) tipo de minerais de argila; c) teor de matéria orgânica dos solos. • A textura indica qual a proporção existente no solo de frações compreendidas entre determinados limites de tamanhos. A área é tanto maior quanto menor forem as partículas, por isso, a fração argila contribui com a maior superfície específica. • A caulinita apresenta 20m2/g de superfície específica, enquanto a montmorilonita (ou esmectita) apresenta 800m2/g de superfície específica. Esta diferença ocorre devido às superfícies internas, que aparecem na montmorilonita e não na caulinita. • A matéria-orgânica contribui no valor da superfície específica devido seu alto grau de subdivisão. ÁGUA NO SOLO • Sua importância começa na origem do solo, por destruir e desagregar minerais e rochas. • O fornecimento natural dessa água é feito através da chuva, que ao se precipitar, escoa ou infiltra no solo: a água que escoa vai abastecer os rios, lagos e mares e da água que infiltra, parte percola, alimentando o lençol freático e parte fica retida no solo. • A água retida será evaporada para a atmosfera, absorvida pelas plantas e mantida no solo. Classificação da água no solo • A água retida no solo pode ser classificada como água gravitacional, água capilar e água higroscópica. • Água gravitacional: localizada nos macroporos, permanência efêmera no solo, removida facilmente pela drenagem, provoca lixiviação do solo; • Água capilar: localizada nos microporos, parcialmente permanente no solo, não removida pela drenagem, atua como solução do solo; • Água higroscópica: localizada próxima da superfície das partículas do solo, permanente no solo, removida apenas no estado de vapor. Umidade higroscópica • É a máxima quantidade de água, expressa em porcentagem, que o solo é capaz de absorver da atmosfera, em forma de vapor e manter em equilíbrio com o ambiente. • É uma característica relacionada com atividade de superfície, sendo elevada nos solos argilosos e orgânicos e baixa nos arenosos. • Sua determinação é feita pela pesagem do solo antes e depois da secagem em estufa a 110ºC. Capacidade de campo • É a máxima quantidade de água que um solo é capaz de reter em condições normais de campo. • Sua verificação é determinada pela textura, estrutura, profundidade e uniformidade do solo, pela presença de camadas impermeáveis, proximidade do lençol freático e temperatura ambiente. Assim, os solos mais argilosos atingem sua capacidade de campo mais rapidamente que solos arenosos. TEMPERATURA DO SOLO • A superfície do solo atua como um corpo intermediário através do qual se desenvolvem fluxos de energia térmica, sendo aquecido durante o dia pela radiação solar e aquecendo a atmosfera à noite. • A microclimatologia procura estudar esses efeitos até a altura de dois metros. Acima disso, a influência da temperatura do solo vai se reduzindo. • A temperatura é importante fator de crescimento, multiplicação e atividade de microorganismos do solo. A grande maioria se desenvolve melhor entre 10 e 40ºC. • A germinação e o desenvolvimento das plantas são igualmente afetados pela temperatura do solo. Fatores que condicionam a temperatura do solo • Climáticos: a radiação solar é o que mais afeta o regime térmico do solo. • Microclimáticos: está relacionado ao tipo de revestimento da superfície: a) cobertura vegetal- tem efeito moderador sobre as variações próximas à superfície, interceptando a radiação solar; b) cobertura morta- atua como camada semi-isolante térmica, com efeitos semelhantes à vegetação rasteira e c) solo nu- o solo fica sujeito a intensas variações térmicas. • Topoclimáticos: estão relacionados ao relevo, a orientação e a inclinação da superfície. Terrenos inclinados com exposição norte e oeste são mais quentes no hemisfério sul. POROSIDADE • As partículas do solo variam em tamanho e forma e seu arranjo produz poros que diferem grandemente entre si pela forma e dimensões. • Porosidade não capilar (macroporosidade), porosidade capilar (microporosidade). • É importante no estudo da estrutura do solo, na investigação do armazenamento e movimento da água e de gases, no estudo sobre a resistência mecânica apresentada pelo seu manejo. COMPACIDADE • Arranjamento ou agrupamento das partículas que um solo apresenta. • Num perfil de solo podem aparecer camadas com graus diferentes de compactação: camadas adensadas – aquelas em que a sua compacidade é devida a processos pedogenéticos; camadas compactadas – aquelas em que sua compacidade é devida ao manejo do solo. ESTRUTURA • Refere-se ao arranjo das partículas primárias do solo em agregados. • O mecanismo pelo qual a estrutura se desenvolve não é totalmente conhecido, mas supõe-se que ela se forme pela agregação das partículas unitárias ou pelo quebramento gradual do material maciço por contração e expansão. • A estrutura pode ser considerada como estágio intermediário entre uma condição em que o material do solo é constituído de grãos simples, como nas areias, onde ocorre ausência de coesão entre as partículas e outra denominada maciça onde ocorre coesão uniforme das partículas, não ocorrendo a formação de agregados sem estrutura. Fatores que favorecem o desenvolvimento da estrutura • A grande contribuição da matéria-orgânica em solos sob florestas promove a formação de estrutura; • Ação mecânica do sistema radicular, que divide a massa do solo em fragmentos de tamanhos e formas variados; • Ação biológica produzida por microorganismos (minhocas, formigas, cupins), que agregam os materiais do solo após a ingestão e excreção; • Alternância de gelo e degelo nas regiões frias. ALGUNS ATRIBUTOS DIAGNÓSTICOS pH do solo • A alcalinidade ocorre quando a pluviosidade é baixa e acumulam-se sais de cálcio, magnésio, potássio e carbonato de sódio. Solos alcalinos são característicos de regiões áridas e semiáridas. • A acidez do solo desenvolve-se devido a remoção de bases pelas plantas e pela água, permitindo que o hidrogênio (H+) tome os lugares das bases. Quando o acúmulo de hidrogênio chega a certas concentrações, ocorre a alteração espontânea da argila, libertando Al3+. • • • • • • • Interpretação do pH: Acidez elevada abaixo de 5,0 Acidez média 5,0-6,0 Acidez fraca 6,0-7,0 Neutro 7,0 Alcalinidade fraca 7,0-7,8 Alcalinidade acima de 7,8 Soma de bases • S: Soma de bases (cátions básicos trocáveis). Corresponde a: • S=Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+ • Geralmente expressa em meq/100g. • Critérios de avaliação recomendados pelo IAC: S– Abaixo de 2,62 BAIXO De 2,62 a 6,30 MÉDIO Acima de 6,30 ALTO Capacidade de troca catiônica (CTC) • Soma total de cátions trocáveis que um solo, ou algum de seus constituintes, pode adsorver a um pH específico. É geralmente expressa em meq/100g de material adsorvente e em condições de pH 7,0. • Baixa capacidade de troca. (Valor T ou CTC). • Solos que possuem baixa capacidade de troca de cátions apresentam necessariamente baixos valores de Ca2+, Mg2+ e K elementos tidos como maiores na alimentação das plantas. É importante atentar contudo, que tais solos necessitam de pequenas doses de insumos para atingir o nível de saturação por bases desejável para a cultura. Critérios de avaliação recomendados pelo IAC: • CTC- Abaixo de 4,62 BAIXO De 4,62 a 11,30 MÉDIO Acima de 11,30 ALTO Saturação por bases • V(%): Símbolo utilizado para representar a saturação por bases. Calculado pela fórmula V(%)=(100.S)/CTC, onde S: soma de bases (cátions básicos trocáveis)→ S=Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+ e CTC: capacidade de troca catiônica → Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+ + Al 3+ + H+ • Solo eutrófico: Aquele que apresenta saturação por bases igual ou superior a 50% (solos férteis). • Solo distrófico: Aquele que apresenta saturação por bases inferior a 50% (solos pouco férteis). • Baixa saturação por bases. (Eutrofismo, Distrofismo). • Solos com baixa saturação por bases são pobres quimicamente requerendo adição de fertilizantes para uma boa produção. As limitações são tanto mais sérias quanto menor o grau de saturação por bases e maior a capacidade de troca de cátions. Saturação por alumínio • Saturação por alumínio: Relação entre o teor de Al trocável e a soma de bases mais Al trocável. Representa-se por m=Al(S + Al). • É considerado álico um solo que apresenta valor m superior a 50%. • Toxicidade por alumínio. Caráter alumínico (Caráter álico) • A maioria das plantas cultivadas apresentam dificuldade de crescimento em solos ácidos, devido principalmente à presença de alumínio solúvel em níveis tóxicos. A limitação é tanto maior quanto mais elevado for o teor de Al 3+ e a capacidade de troca de cátions do solo, pois maior será a necessidade de corretivo. Teor em óxidos de ferro • Devido ao fato de grande parte dos solos brasileiros apresentarem teores elevados de óxidos de ferro e pouca matéria orgânica, a adsorção dos nutrientes e argila se faz pelo ferro. • Os óxidos de ferro mais comuns nos solos são a hematita e a goetita. A primeira é responsável pelas colorações avermelhadas e a segunda pelas amareladas. • O SiBCS (Sistema Brasileiro de Classificação de Solos) estabeleceu as seguintes classes de teor de Fe2O3 nos solos brasileiros: • Baixo teor: <8% hipoférricos • Médio teor: de 8% a <18% mesoférricos • Alto teor: de 18% a < 36% férricos • Teor muito alto: > 36% perférricos Índices Ki • Relação sílica/alumina: relação molecular entre a sílica (SiO2) e a soma alumina (AL2O3) em argilas, argilominerais ou solos. Também conhecida por Ki. • Devido ao fato de o índice Ki da caulinita corresponder a 2, esse valor foi estabelecido como limite entre solos: • muito intemperizados (Ki ≤ 2) e • pouco intemperizados (Ki > 2). Bibliografia Básica • CURI,N. et al. Vocabulário de ciência do solo. Campinas, Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1993. • KIEHL, E.J. Manual de edafologia. São Paulo, Ed. Agronômica Ceres, 1979. • MONIZ, A. C. Elementos de Pedologia, São Paulo,Polígono, 1972. • OLIVEIRA, J. B. Pedologia Aplicada, Piracicaba, FEALQ, 2005. • http://intranet.iac.sp.gov.br/aulas/Pedologia/Pagina deAula.asp