Internet: A Rede Revolução A era da informação. Nunca se teve tanto acesso às notícias como agora. Nunca se recebeu tantas informações e fatos mundiais como hoje. As notícias chegam até nós de forma rápida, e bombardeados pelas notícias estamos em constante renovação dos acontecimentos. Não há mais fronteira nem limites para que os fatos cheguem até nós. A era da desinformação. Crimes, acidentes, casamentos, mortes, catástrofes, política, cultura. O mundo inteiro está acessível a nós sem mesmo precisarmos sair de casa. E nessa onda gigante de acontecimentos não há mais tempo para a reflexão. Poucos são os assuntos que rendem análises. Poucos são os que se dispõe a analisar os fatos. Nunca fomos tão expressivos e aptos a participar dos acontecimentos mundiais e, em contraposição, nunca fomos tão expectadores de um mundo moderno onde o tempo é mais rápido a cada dia. Nunca fomos tão dispersos aos detalhes. O que se espera de uma sociedade afogada em informação? A reflexão ficou condicionada à geração passada. Divulgar passeatas, percorrer ruas em manifestações por direitos e justiça é muito demorado, surte pouco efeito. Na era da tecnologia as coisas funcionam mais rápido. É um abaixo assinado que circula na internet. Dezenas, centenas, milhares de adeptos à manifestação assinam seus nomes no conforto de seus sofás. A era das revoluções silenciosas. Há quem diga que as manifestações perderam a força, que os jovens acomodaram-se em seus papéis de cidadãos coniventes com o descaso político-social. Que as práticas manifestantes, que tanto reivindicaram direitos aos manifestantes de gerações passadas, perderam lugar numa época onde nunca se teve tanta informação e liberdade para lutar pelo interesse público e pessoal. Hoje as manifestações ocorrem com menos caminhadas e apitos e com mais velocidade. Chegam ao conhecimento e mobilizam mais interessados do que jamais se pode prever. As ruas estão vazias, mas a luta não parou. O Papel dos Meios de Comunicação O poder que os meios de comunicação, sobretudo a internet, conferem ao público atinge resultados extraordinários. Manifestações iniciadas em redes sociais atingem numa velocidade incrível um patamar que em época alguma se atingiu. Cidades, estados, países diferentes unem-se por um mesmo ideal. Lutam, ainda que silenciosamente, e fazem valer sua voz pública. A interação comunicacional entre diferentes grupos e entidades unidas por um mesmo ideal referencia e torna cada vez mais válida a afirmação de McLuhan sobre a Aldeia Global – com o advento da tecnologia estamos cada vez mais interligados com outras comunidades e culturas -. Seremos cada vez mais participantes da esfera dos acontecimentos mundiais. Mundos completamente diferentes, compostos de idiomas, culturas, memórias e conceitos diferentes, unem-se por uma mesma preferência em questão de segundos. Um show, uma notícia, um produto, um escândalo. Tudo interage mundialmente. Não há mais fronteira delimitando os acontecimentos. A luta e concorrência dos veículos de comunicação para levar ao expectador esses tantos acontecimentos desempenha papel fundamental nessa revolução no modo de interação do cidadão com a sociedade. Um bom exemplo disto são as redes sociais. Inicialmente com o intuito de manter relações entre amigos e conhecidos, e promover a interação de pessoas com as mesmas preferências, as redes sociais alcançaram um nível de participação na vida dos internautas substancialmente relevante. E através deste poder e liberdade que as redes sociais disponibilizaram aos internautas é que se deu início a uma nova era de manifestos, uma nova voz à sociedade e uma nova modalidade de expressão pública de opinião. Uma manifestação, passeata ou protesto, seja hoje ou em tempos da ditadura, representa a união de todos por um mesmo ideal. Naquele momento todos os envolvidos são uma só voz, unidos representam um querer coletivo. A internet proporciona a voz individual. O ideal ainda é só um, seja política, educação ou futebol. Todos unidos num mesmo manifesto, porém, unem-se na individualidade da expressão. Ou seja, cada um tem espaço para acrescer ideias, expressar sua indignação e marcar sua presença, sobressaltando ainda a opção do anonimato. As Redes Sociais em Ação A mobilização de pessoas sempre foi uma ação presente na história das lutas sociais, que visava gerar resultados através da pressão pública e união social por um mesmo ideal. Exemplos de manifestações sociais percorrem toda a história mundial, carregadas de vitórias e fracassos e, ainda hoje, são um dos melhores meios de reivindicação pública social. A internet proporcionou a ‘’modernização’’ das manifestações, com a velocidade da circulação e a facilidade de disseminação das informações, tornou-se muito mais fácil organizar manifestações, reunindo, assim, um número consideravelmente maior de adeptos às lutas sociais. Rápidas Organizações. Sendo essa a tradução literal de Flash Mobs, o movimento tem caráter de reunir pessoas para a realização de fatos inusitados, ações que chamem a atenção para um ideal e manifestem ideologias. Os primeiros flash mobs tinham mais caráter de entretenimento, ainda que alguns ostentassem caráter social – como a concentração de pessoas em frente à lojas de roupas para que os participantes fossem o show-. Em Curitiba o primeiro Flash Mob ocorreu em 27 de agosto de 2003, e reuniu algumas pessoas na tradicional Rua XV. Em torno de 15 horas, as pessoas se reuniram próximas ao Bondinho e começaram a olhar e a apontar para o céu. Após um tempo houve uma contagem regressiva, como se algo estivesse prestes a cair, no fim da contagem os participantes aplaudiram e logo se dispersaram. Quem viu a cena ficou sem entender nada. Iniciou-se então a cultura de mobilizações via internet em Curitiba. Um dos mais tradicionais Flash Mobs mundiais é a Zombie Walk, que reúne pessoas caracterizadas de zumbis em uma marcha pela cidade. As informações sobre datas, locais e horários ocorrem pelas redes sociais e em sites que possuem alguma ligação ou interesse no movimento. Em Curitiba, a marcha ocorre na rua XV e tem conquistado cada vez mais participantes e visibilidade na mídia. A Integração de Valores Sociais aos Flash Mobs Com a grande repercussão e aderência da população aos flash mobs, unida à visibilidade que estes movimentos vêm conquistando, a integração do movimento como ato cultural com a utilidade pública tornou-se, além de útil, uma consequência natural. A simbiose da manifestação cultural ideológica com a luta social fez com que as mobilizações perdessem a ideia unilateral da manifestação ou política-social, ou banal – sem um intuito propulsor de relevância social. Hoje a integração e inserção das manifestações e protestos de consciência social em meio aos movimentos e manifestações voltadas ao lazer são frequentes. Como exemplo temos as manifestações que ocorrem em shows e eventos culturais através de cartazes ou camisetas. A política, que hoje representa um dos assuntos que mais geram manifestações e revoltas, é continuamente abordada em manifestações culturais, mobilizações sociais e, até mesmo, representações isoladas de indignação. Manifestos nas redes sociais, cartazes espalhados pelas cidades, o humor usado como protesto, passeatas, e dezenas de outros movimentos fazem parte doa nova Era de apelo aos direitos públicos. Mas até que ponto essa unção da relevância social com o entretenimento é promissora? Misturar diversão com assuntos sociais poderia, de fato, acarretar num menosprezo, uma diminuição do impacto social do movimento? Em uma análise positiva, pode-se considerar que a simbiose destes aspectos cultural/social levaria à disseminação mais efetiva das manifestações políticas, sociais ou humanistas. Promovendo, assim, a inserção da voz pública num meio cada vez mais público. Ou seja, a indignação das pessoas não fica mais restrita às suas opiniões ou às manifestações específicas. Nunca fomos tão livres para expressar, nos mais diversos ambientes, um descontentamento social. O Poder das Mídias Sociais É irrefutável a força que as mídias sociais adquiriram no decorrer dos últimos anos, e o impacto que elas têm sobre a sociedade. Mais do que um meio de interação e compartilhamento de informações pessoais, as mídias sociais desempenham um papel de contestadoras sociais, abrem espaço e dão voz a quem se dispõe a falar. A sociedade presencia uma revolução social conectada. O medo de repressões e da exposição pública de opiniões pessoais é o ponto de vitória da expressão virtual, todos podem ser anônimos e ainda assim se fazer ouvir. E, não somente os protestantes perceberam o poder das mídias sociais. Todo um mundo baseado na concorrência e captação de lucros, ou seja, um mundo capitalista, notou a relevância e o impacto dessas mídias diretamente em seus objetivos e resultados. Comércio – como lojas de roupas, sapatos, comidas -, prestação de serviços, entidades públicas e privadas – como bancos, prefeituras, órgãos de pesquisa-, apostam cada vez mais nos recursos midiáticos. Existem especialistas na área de monitoramento de mídias sociais. Empresas contratam profissionais para monitorar comentários, resolver problemas, descobrir queixas, falhas, constatar os pontos positivos, enfim, monitorar a avaliação indireta do consumidor. Uma forma de pesquisar a aderência do produto ou serviço pelo público alvo e conquistar mais mercado. Assim como uma empresa pode melhorar seus serviços e conquistar mais clientes fazendo uma medição através das mídias sociais, a população ganha um forte caminho para lutar e se fazer ouvir pelas entidades públicas e privadas. A era da informação está criando um novo modo de interação entre sociedade e a luta social. A sociedade se reinventa e renovas seus meios de interação, e o processo em que se dá essa inovação acompanha as necessidades e o meio disposto da nova era. É a sociedade mudando os meios e os meios mudando a sociedade.