UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA "JÚLIO DE MESQUITA FILHO" Disciplina: Fisiologia Professora Responsável: Rita de Cássia Menegati Dornelles Grupo: 4 Integrantes IZABELA MINARI RA 2011-1036 KARINA ANDRADE RA 2012-1037 LARA CERVANTES RA 2012-1042 LARISSA PEREZ MAZZONI RA 2012-1043 LETICIA CABRERA CAPALBO RA 2012-1045 Resumo: Seminário "Complicações Sistêmicas no consultório odontológico" Resende, R.G.; Lehman, F.C; Viana, A.C.D; Alves, F.F.; Jorge, K.O.; Fraga, M.G.; Gomez, R.S.; Castro, W.H. Arquivos em Odontologia, volume 45, número 2, abril/junho 2009. INTRODUÇÃO Os procedimentos odontológicos podem resultar em complicações sistêmicas e estas podem estar relacionadas à enfermidades sistêmicas pré existentes no paciente ou podem decorrer da administração de fármacos na odontologia. No artigo, é discutido a prevenção, o diagnóstico e o tratamento das principais complicações relacionadas ao sistema respiratório (Hiperventilação e crise asmática), ao sistema nervoso (Distúrbio convulsivo e acidente vascular cerebral); e à administração de medicamentos durante os tratamentos. Sistema Respiratório Hiperventilação Relacionada diretamente ao sistema respiratório, a hiperventilação é caracterizada por uma captação em excesso de oxigênio durante a inspiração, o que irá fazer com que ocorra a eliminação excessiva de dióxido de carbono pelos pulmões e então a diminuição da pressão parcial de dióxido de carbono no sangue arterial. A principal causa da hiperventilação é a ansiedade, pois frente à situações interpretadas como perigosas pelo sistema nervoso, a tendência é a ação de fugir e lutar e para tais ações é necessário um aporte extra de oxigênio e assim o organismo irá tratar de captar mais oxigênio, podendo captar oxigênio em excesso. Este desequilíbrio entre O2 e CO2 no altera o pH sanguíneo, tornando-o básico e estão ocorre a modificação do equilíbrio de cálcio e potássio nas membranas celulares, o que irá produzir funções nervosas e musculares deficitárias e assim, irão ocorrer os sintomas da hiperventilação. Os sintomas da hiperventilação são principalmente o aumento da frequência respiratória, que irá variar de 25 a 30 movimentos por minuto, sendo que o normal é de 14 a 18 e o aumento na profundidade dos movimentos respiratórios que geralmente são sutis e agora se tornarão pronunciados. Além desses, poderá ocorrer: tontura, vertigem, palpitação, taquicardia, espasmos musculares, tremor, perda de consciência e xerostomia. A hiperventilação pode ser classificada como aguda ou crônica. A aguda ocorre com menor frequência e é observada em ataques de pânico, ou em doenças pulmonares ou cardíacas. Já a crônica é frequente com episódios esporádicos e contínuos, sendo que não há outras patologias associadas. A atuação do Cirurgião Dentista nesta complicação consiste em perceber a ansiedade do paciente e se necessário fazer o controle desta com o auxílio de fármacos através da sedação consciente. E no caso de um quadro de hiperventilação durante o tratamento, deve-se interromper o procedimento imediatamente, retirar quaisquer objetos da boca do paciente; tranquilizá-lo; colocá-lo em uma posição ereta e confortável e reagendar o tratamento. Crise Asmática Outra complicação sistêmica ligada ao sistema respiratório é a crise asmática, que é um distúrbio inflamatório crônico das vias áreas, que será determinada pela interação de fatores ambientais com fatores genéticos; esses fatores ambientais desencadeadores podem ser: estresse, esforço físico, uso de anti-inflamatórios, alimentos, infecções virais, irritantes químicos e outros. A resposta do organismo à esses estímulos, irá promover a formação de inflamação ou edema nos brônquios pulmonares e assim inchaço e estreitamento destes, associado ao aumento da secreção de muco e diminuição da ação ciliar nos pulmões, gerando então a limitação variável das vias aéreas. Devido à isto, ocorrerão os sintomas, que podem ser: sibilância (produção de sons semelhantes à ruídos durante a tosse e respiração), incapacidade de falar, frequência respiratória elevada, incapacidade de assumir posição supina (quando o indivíduo deita de face para cima), cianose (coloração azul arroxeada da pele), tosse e dispinéia (dificuldade de respirar). O cirurgião dentista, deve remover os fatores desencadeadores da asma que serão conhecidos durante a anamnese, solicitar que o paciente traga sempre a sua medicação inalatória para o consultório. E em caso de crise asmática durante o tratamento, deve tranquilizá-lo, colocando-o sentado com os braços para frente, pedir para que o paciente faço uso imediato da medicação inalatória, ofertar oxigênio ao paciente, e em caso de persistência dos sintomas, administrar adrenalina intravenosa que irá promover a broncodilatação; tudo isso quando o paciente já possui quadros de crise asmática crônica. Mas em casos da ausência de crise asmática crônica, e sim um caso de crise asmática aguda, deve-se solicitar a emergência médica imediatamente. Sistema Nervoso Distúrbio Convulsivo A convulsão é alteração elétrica do Sistema Nervoso Central, gerando contrações involuntárias na musculatura. Fenômenos sensoriais e mudanças de comportamento e consciência também caracterizam este distúrbio. Existem dois tipos de convulsões: a tônico-clônica, mais prevalente e conhecida como grande mal; e a de pequeno mal, também conhecida como ausência. A primeira possui a fase tônica, na qual os músculos ficam endurecidos, contraídos e estendidos; em seguida, a pessoa entra na fase clônica e começa a sofrer contrações rítmicas, repetitivas e incontroláveis. A segunda é caracterizada por apresentar perda de consciência, mas não perda postural. As convulsões podem ser idiopáticas, ou causadas por fatores como: traumas, estresse, febre, desordens metabólicas, lipotímia, abstinência, lesões intracranianas e overdose de anestésicos locais. O paciente corre risco de morte devido às grandes alterações metabólicas como acidose, hipóxia, hipoglicemia, febre e aumento da pressão intracraniana. Assim, é importante que seja feita a anamnese e saiba se o paciente faz uso de medicamento anticonvulsivante e se está sob efeito da droga. Se houver a necessidade de controle de ansiedade, administrar fármacos beta-adrenérgicos (bloqueiam a ação do simpático) ou de depressores do sistema nervoso central, como os ansiolíticos. Caso ocorra a convulsão no consultório, deve-se interromper o tratamento, retirar objetos da boca do paciente, colocá-lo na posição supina e observar desobstrução das vias aéreas. Deve-se colocar a cabeça do paciente de lado, ofertar oxigênio (3L/min)e monitorar os sinais vitais; podendo ser administrados anticonvulsivantes como os benzodiazepínicos (midazolan e diazepam). Acidente Vascular Cerebral (AVC) É uma desordem neuronal focal, que pode ser classificada em: AVC hemorrágico, resultante de rompimento do vaso devido a aneurisma ou malformação do vaso, causando hemorragia. AVC isquêmico, resultante de obstrução do vaso, devido a trombose ou embolia, impossibilitando a vascularização daquele local. É o mais prevalente. Os sinais e sintomas variam da área que o AVC atinge e compreendem: fraqueza, associada ou não à perda sensitiva; alterações na fala; cefaleia; perda de consciência; crises convulsivas; vômitos; e em casos mais graves, hemiparesia. Fatores de risco: hipertensão arterial; cardiopatias; diabetes; hiperlipidemia, hipercolesterolemia e dislipidemia; hiperglicemia; obesidade; tabagismo; etilismo; uso de contraceptivos orais. O fator de risco mais importante é a hipertensão, pois pode ser causada por dor e estresse, resultantes do atendimento odontológico. Devido a isso, é importante fazer o controle da ansiedade do paciente, se necessário, com beta-adrenérgicos ou ansiolíticos para que esse evento não ocorra. O ataque isquêmico transitório é caracterizado por formigamento e fraqueza nas extremidades, quando o cirurgião dentista deve interromper o tratamento e iniciar a manutenção dos sinais vitais até que o socorro médico chegue, e informar o médico do paciente. Se os sintomas não desaparecerem em 10 minutos, ou ficar mais severo, trata-se do AVC em processo; quando o paciente deve continuar monitorando os sinais vitais caso ele esteja consciente, mantendo-o em posição confortável. Não se deve ofertar oxigênio e nem dar o que comer ou beber à vítima. Reações à medicamentos Reações de hipersensibilidade Manifestações alérgicas são reações de hipersensibilidade mediadas pelo sistema imune, sendo que a reexposição do paciente a um determinado antígeno causa uma reação anafilática que por sua vez apresenta um quadro de sintomatologia progressiva. As drogas mais utilizadas na odontologia são anestésicos locais, analgésicos, anti-inflamatórios e antimicrobianos, sendo que a lidocaína e a penicilina são as mais associadas à reação alérgica. As reações anafiláticas caracterizam-se por mal estar, rubor, prurido, rinite, edema de laringe, tosse, falta de ar, taquicardia, hipotensão, palpitações, parada cardiorrespiratória e até morte, sendo raramente acompanhadas de vômitos, convulsões, cólicas abdominais e diarreias. O cirurgião dentista deverá abrir mão de tratamento do choque anafilático, que deve ser iniciado com a reclinação e ventilação do paciente, monitoramento dos sinais vitais e uso de adrenalina, que mostra grande atividade agonista e inibe a liberação de mediadores pelos mastócitos; a adrenalina deve ser administrada a cada 5 minutos, por no máximo 3 doses. Em caso de parada cardiorrespiratória deve-se iniciar procedimentos de reanimação e solicitar auxílio médico. Pacientes com história médica de reações a drogas apresentam maiores riscos de reações anafiláticas, por isso é de extrema importância a anamnese do paciente. Entretanto, essa manifestações de hipersensibilidade também podem ocorrer mesmo sem história sugestiva. Metahemoglobinemia A metahemoglobinemia é uma condição em que a hemácia se torna incapaz de se ligar ao oxigênio e o transportar. Nas hemácias se encontra uma substância chamada hemoglobina, que possui um grupo ferro entre seus constituintes. Esse grupo ferro, se encontra em um estado classificado como ferroso ( 2+). Na hemoglobina, ocorre uma oxidação desse grupo ferro, fazendo com que ele passe desse estado ferroso ( no qual ele é capaz de se ligar ao oxigênio) para um estado férrico (3+), passando assim a ser incapaz de se ligar ao oxigênio e o transportar. Em uma pessoa sem a doença, indivíduo normal, ocorre uma ação do ácido ascórbico e da enzima metahemoglobina redutase, que reduzem esse ferro no estado férrico de volta em seu estado ferroso (99%) , restaurando a capacidade de se ligar ao oxigênio. Na doença, a velocidade com que ocorre a oxidação do ferro, é maior do que a velocidade em que se ocorre a reação de redução, fazendo assim com que haja uma deficiência de oxigenação dos tecidos. A metahemoglobinemia pode ser congênita ou adquirida. A metahemoglobinemia congênita é aquela em que o indivíduo já nasce com a doença. A metahemoglobinemia adquirida envolve exposição a substâncias tóxicas que irão estimular a maior oxidação e assim a maior produção da metahemoglobina ( com o ferro no estado férrico). A metahemoglobinemia adquirida é dose dependente, ou seja, quanto maior a exposição a substância, e quanto maior a quantidade dessa substância no nosso organismo, maior serão os sinais e sintomas dessa doença e sua gravidade. As substâncias tóxicas que podem levar a essa doença são : a acetonilida, derivados da anilina, derivados do benzeno, nitratos e sulfonamidas, a prilocaína (anestésico local de uso parenteral) e a benzocaína ( anestésico local de aplicação tópica) em altas doses podem aumentar o nível de metahemoglobina . Os sintomas dessa doença são todos ligados à falta de oxigenação dos tecidos. Na tabela abaixo pode-se notar como os sintomas se agravam conforme a quantidade de metahemoglobina ligada a nível plasmático : O tratamento da metahemoglobinemia consiste na administração endovenosa de azul de metileno a 1% em solução salina, 1 a 2 mg/Kg , durante dez minutos. Se os sintomas persistirem após uma hora, pode-se realizar novamente a administração do medicamento. O Cirurgião dentista deve estar atento a anamnese do paciente, e considerar pacientes de risco aqueles que apresentam no histórico médico : Gravidez, anemia, metahemoglobinemia congênita, hemoglobinopatias , Insuficiência cardíaca e/ou respiratória, uso crônico de paracetamol. Quando o paciente é de risco, deve-se evitar o uso do anestésico local Prilocaína, que cujo o metabólito principal é a ortotoluidina, que é capaz de oxidar o ferro e bloquear a ação daenzima redutase3,8, aumentando assim a quantidade plasmática de metahemoglobina. Reações tóxicas a anestésicos locais É o aumento dos níveis sanguíneos de anestésicos locais, causando reações adversas devido a concentrações séricas excessivas do anestésico ou do vasoconstritor associado; Causas do aumento: administração intravascular acidental, administração de dose total exagerada, absorção da droga mais rápida do que normalmente, biotransformação da droga mais lenta que o normal. Os possíveis sintomas: - Quadro leve a moderado: excitação, desorientação, sonolência, aumento da frequência cardíaca, vômitos, tontura. - Quadro grave: convulsões tônico-clônicas, depressão generalizada do SNC com a diminuição da PA, frequência cardíaca e respiratória. Superdosagem: Em sua maioria é autolimitada e dificilmente são necessárias outras drogas além do oxigênio no seu tratamento. - Diante de um quadro leve a moderada: o cirurgião-dentista deve realizar os procedimentos básicos de emergência. - Diante de um quadro grave: o cirurgiãodentista deve solicitar assistência médica imediatamente. CONSIDERAÇÕES FINAIS É de extrema importância que o cirurgião-dentista mantenha-se informado à respeito de complicações que possam se desenvolver durante o tratamento de um paciente, para que seja possível preveni-las, reconhecê-las e tratá-las. Referências Bibliográficas Resende, R.G.; Lehman, F.C; Viana, A.C.D; Alves, F.F.; Jorge, K.O.; Fraga, M.G.; Gomez, R.S.; Castro, W.H. Complicações sistêmicas no consultório odontológico: parte II. Arquivos em Odontologia, volume 45, número 2, abril/junho 2009. www.blogdasaude.com.br; www.ferato.com; www.guiabrasilblog.com