ID: 35922038 09-06-2011 Tiragem: 23300 Pág: 7 País: Portugal Cores: Cor Period.: Semanal Área: 10,14 x 30,34 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 1 de 1 GERMANO COUTO Presidente da Secção Regional Norte da Ordem dos Enfermeiros Haja saúde em Portugal Como profissional da Saúde, não podia ficar indiferente a um ciclo de desafios que visa a realização de reflexões pessoais participadas e aglutinadoras sobre as problemáticas da sociedade e da enfermagem. A crise financeira mundial, originada pela especulação imobiliária nos EUA e respectivos créditos “subprime”, teve, e tem, repercussões em quase todos os elementos e dinâmicas do quotidiano social. E como relacionamos esta crise com a enfermagem? Primeiro, pensamos no seu impacto directo na capacidade financeira das organizações de saúde e nos próprios recursos do Estado para honrar o compromisso assumido com cada enfermeiro: uma retribuição justa pelo trabalho desenvolvido. Segundo, reflectimos sobre o funcionamento dos mercados financeiros e qual é a sua possível relação com a enfermagem. Em vez de analisarmos como é que a instabilidade nestes mercados se repercute na enfermagem, nos enfermeiros e na qualidade dos cuidados de saúde (e de vida) dos portugueses, procuramos inferir de que forma é que a enfermagem pode influenciar o comportamento destes. Na mesma semana da estreia em Portugal do filme “Wall Street: Money Never Sleeps”, de Oliver Stone (2010), o Presidente do Tribunal Constitucional, o Primeiro-Ministro e o líder do PSD pronunciaram-se sobre a importância e o impacto dos mercados nas políticas económicas e sociais do País. Um País com uma balança comercial cronicamente deficitária; com graves problemas estruturais, no que respeita à criação de riqueza e capacidade para inovar, e onde o endividamento externo é uma inevitabilidade para efeitos de dinamização da economia. Os mercados têm “especulado”, e muito, sobre a capacidade de um bem ou serviço gerar riqueza no futuro. Definem um custo para o mesmo, com base no valor que crêem que este representa para os potenciais clientes. As empresas operam num país, não obstante a globalização, e a sua consequente internacionalização. A situação da empresa nessa mesma nação é extremamente diferente da vivida pelas sucursais noutros países, dada a cultura imperante, as leis em vigor, ao ambiente geral, para o qual os níveis de saúde da população desempenham um papel de relevo. Uma população saudável é uma população capacitada para trabalhar e gerar riqueza. Colocamos, então, a questão: qual o impacto da enfermagem nos níveis de saúde da população? A resposta não é simples! Presentemente, podemos formular com base em… especulações. É imperativo analisar, quanto antes, o que é que a população portuguesa carece e demanda em termos de cuidados de saúde. É essencial reconhecer, politicamente, que a quantidade e a qualidade de enfermagem são estruturais para os níveis de saúde das populações. É indispensável ver que indicadores utilizam para monitorizar o estado dessa mesma enfermagem. Partindo destas correlações, os níveis desses indicadores podem servir para estimar a parcela do nível de saúde da população sensível aos cuidados de enfermagem. Quando os mercados voltarem a pretender avaliar, em Portugal, o “ambiente” para os negócios, e analisarem para esse efeito o nível de saúde e a qualidade de vida da população, têm que medir também indicadores de estrutura, processo e resultado próprios da enfermagem, introduzindo a mesma enquanto variável a atender nessas avaliações. Logo, no panorama actual, são lançados dois tipos de desafios à enfermagem em Portugal: demonstrar a sua relevância para os níveis de saúde e qualidade de vida dos portugueses, e a importância destes indicadores para a fidedignidade das avaliações feitas pelos mercados financeiros na análise do ambiente para negócios em Portugal. Haja desafios! Haja ambiente para negócios! Haja saúde em Portugal!