SERVIÇO SOCIAL Supervisão de Estágio Acadêmico U410.06 Supervisão de Estágio Acadêmico Autora: Profa. Renata Christina Leandro Colaboradores: Profa. Amarilis Tudela Nanias Profa. Glaucia Aquino Professora conteudista: Renata Christina Leandro Graduada em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas — PUCCAMP (2002). Possui especialização em Violência Doméstica contra Criança e Adolescente, pelo Laboratório da Criança — LACRI, do Instituto de Psicologia — IP da Universidade de São Paulo — USP (2005). Também possui especialização em Sexualidade Humana pela Faculdade de Educação — FE, Universidade Estadual de Campinas — UNICAMP (2009). Pós-graduanda em Formação em EaD pela Universidade Paulista — UNIP. Atualmente, trabalha como docente na UNIP Campi de Sorocaba e atua como Consultoria em Gestão Pública, Captadora de Recursos e Responsabilidade Social. Possui experiência em Gestão Social, como Gestora Municipal no município de São Thomé das Letras/MG e na Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos no Estado do Rio de Janeiro. Atuou, também, em Centros de Referencias de Assistência Social — CRAS em atendimento matricial com famílias e, na área de criança e adolescente e suas respectivas famílias no município de Campinas, no Programa Municipal de Enfrentamento à Exploração Sexual Infantojuvenil (2003 a 2007). Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) L864 Leandro, Renata Christina Supervisão do estagio acadêmico. / Renata Christina Leandro. - São Paulo: Editora Sol. 172 p. il. 1.Educação 2.Educação superior 3.Estágio I.Título CDU 37 © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Profa. Melissa Larrabure Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Cid Santos Gesteira (UFBA) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Vitor Andrade Sumário Supervisão de Estágio Acadêmico APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................ 10 Unidade I 1 O EXERCÍCIO DA PROFISSÃO ...................................................................................................................... 13 1.1 A profissão de serviço social ............................................................................................................ 13 1.2 Quem é o assistente social ............................................................................................................... 14 1.3 As mudanças na atuação profissional pós-Movimento de Reconceituação ............... 15 1.4 A natureza da profissão de assistente social ............................................................................ 16 1.5 Competências do assistente social................................................................................................ 17 1.6 Atribuições do assistente social ..................................................................................................... 17 1.7 Equívocos da profissão....................................................................................................................... 18 1.8 Desmistificando os estigmas da profissão ................................................................................. 19 1.8.1 Alguns estigmas da profissão ............................................................................................................ 20 1.9 Entidades representativas do serviço social .............................................................................. 20 2 A ATIVIDADE PROFISSIONAL NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE PROFISSIONAL ...................................................................................................................................................... 23 2.1 Processo de construção da identidade profissional do assistente social ...................... 24 2.2 O perfil do assistente social no mercado de trabalho ........................................................... 26 2.2.1 Áreas de atuação no primeiro setor ................................................................................................ 26 2.2.2 Áreas de atuação no segundo setor................................................................................................ 27 2.2.3 Áreas de atuação no terceiro setor ................................................................................................. 28 2.3 O estágio supervisionado .................................................................................................................. 29 2.4 Formação profissional: exigências e perspectivas................................................................... 32 3 O CAMPO DE ESTÁGIO COMO CAMPO DE APRENDIZADO............................................................. 33 3.1 O estágio supervisionado nas instituições e os sujeitos envolvidos no estágio ......... 35 3.2 As instituições como espaço de participação ........................................................................... 37 3.3 Os sujeitos envolvidos no estágio.................................................................................................. 39 3.4 A análise do papel dos envolvidos no estágio .......................................................................... 41 3.5 O papel dos sujeitos envolvidos no estágio supervisionado do serviço social............ 42 4 ESTÁGIO SUPERVISIONADO: PLANO DE ESTÁGIO, OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE E DIÁRIO DE CAMPO.............................................................................................................................................. 43 4.1 O estágio supervisionado e o plano de estágio ....................................................................... 43 4.2 Relatório................................................................................................................................................... 46 4.2.1 Relatório parcial de estágio ................................................................................................................ 47 4.3 O planejamento, a prática profissional e o estágio supervisionado ................................ 49 4.4 Observação participante no campo de estágio ....................................................................... 50 4.5 Diário de campo.................................................................................................................................... 52 4.6 Elaboração do projeto ........................................................................................................................ 53 4.6.1 O processo de sensibilização de mobilização para a elaboração e execução de projetos sociais ............................................................................................................................................. 59 4.7 Realizando o monitoramento e a avaliação ............................................................................. 61 4.7.1 Estratégias de aplicação dos conceitos e das ferramentas de monitoramento e avaliação .......................................................................................................................... 62 Unidade II 5 A QUESTÃO SOCIAL ........................................................................................................................................ 70 5.1 Questão social como objeto de trabalho do serviço social ................................................. 72 5.2 A questão social e o serviço social nas décadas de 1960 e 1970 ..................................... 73 5.3 A questão social e o serviço social na década de 1980 ........................................................ 75 5.4 A década de 1990 ................................................................................................................................ 78 5.5 A questão social e o serviço social na década de 1990 ........................................................ 79 5.6 Por que questão social e não políticas sociais como objeto de ação profissional? ................................................................................................................................................... 82 5.7 Configurações do objeto: questão social ................................................................................... 82 5.8 Questão social ou questões sociais? ............................................................................................. 83 5.9 Como se apresenta e se inscreve a questão social no contexto das instituições, dos sujeitos e dos profissionais? .......................................................................... 83 5.9.1 Nas instituições ....................................................................................................................................... 83 5.9.2 Os usuários como sujeitos de direitos ............................................................................................ 85 5.9.3 Os assistentes sociais frente aos desafios da questão social ................................................ 85 6 CONSTRUÇÃO E DESCONSTRUÇÃO DO OBJETO DO SERVIÇO SOCIAL ....................................... 86 6.1 Formas de enfrentamentos da questão social ......................................................................... 86 6.2 As principais demandas do serviço social .................................................................................. 89 6.3 Demanda profissional: aumento da seletividade no âmbito das políticas sociais ............................................................................................................................................................... 91 6.4 Reordenamento dos serviços sociais ............................................................................................ 94 6.5 Terceirização da gestão da questão social ................................................................................. 94 6.6 Matrizes do processo de trabalho do assistente social......................................................... 95 6.7 Os desafios para a atuação profissional ...................................................................................... 97 6.8 O objeto ..................................................................................................................................................101 6.9 Os instrumentos ou os meios ........................................................................................................103 6.9.1 Intervenção .............................................................................................................................................105 Unidade III 7 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CÓDIGO DE ÉTICA DO ASSISTENTE SOCIAL .......................111 7.1 Princípios operacionais .....................................................................................................................111 7.2 O produto do serviço social ........................................................................................................... 113 7.3 O estágio como processo de aprendizagem para o trabalho ........................................... 115 7.4 O estudante e a extensão universitária ..................................................................................... 116 7.5 O voluntariado..................................................................................................................................... 117 7.5.1 A Lei do Voluntariado.......................................................................................................................... 117 7.6 O serviço social e a prática institucionalizada ....................................................................... 118 7.7 O avanço profissional na utilização das estratégias e técnicas profissionais ............121 7.8 Instrumentalidade com categoria para a atuação do serviço social ............................122 8 ABORDAGEM GRUPAL E ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL EM FORMAÇÃO DE GRUPOS .........................................................................................................................................................124 8.1 Progênie de grupo .............................................................................................................................124 8.2 Serviço social e trabalho com grupos ........................................................................................126 8.3 Abordagem grupal e atuação do assistente social em reuniões.....................................127 8.4 Técnica de entrevista: componente da instrumentalidade na prática cotidiana dos assistentes sociais .........................................................................................................129 8.5 Entrevista domiciliar: técnica imprescindível no fazer profissional do assistente social ..........................................................................................................................................132 8.6 Vida cotidiana: algumas questões relevantes ........................................................................135 8.7 Cotidiano e práxis profissional......................................................................................................138 8.7.1 Práxis profissional do assistente social e cotidiano ............................................................... 139 APRESENTAÇÃO Caros estudantes, Este material se refere à disciplina Supervisão do Estágio Acadêmico, cujo conteúdo está sistematizado em duas unidades. Na Unidade I, você irá aprender os conceitos que fundamentam a formação do assistente social e também obterá informações relevantes sobre sua futura profissão. Trabalharemos alguns equívocos e estigmas que são atribuídos ao Serviço Social, como exemplo, confundir esse curso com a política pública de assistência social. Serão abordados os aspectos principais da relação capital versus trabalho a partir da Revolução Industrial, bem como a consequente organização científica da assistência (do que resultou o surgimento do serviço social). Discutiremos, também, o contexto histórico, social e econômico do serviço social. Apresentaremos o perfil do profissional do serviço social, os campos de atuação e os desafios postos no campo de estágio como fonte de aprendizagem para sua futura atuação. Serão apresentados conceitos e aspectos básicos para a compreensão do objeto e dos instrumentos do serviço social e o produto dessa profissão na intervenção do assistente social nos espaços públicos e privados. Ressaltamos que os temas deste caderno representam o início de toda a discussão que permeará sua formação profissional. Na Unidade II, estudaremos alguns temas como: o processo de produção e reprodução da questão social na sociedade capitalista; o significado contemporâneo da questão social no Brasil; as principais formas de expressão da questão social; a exploração do trabalho e desigualdade social; a questão social como matéria-prima do exercício profissional do serviço social; as perspectivas para aprender as várias expressões da questão social a partir da ótica do serviço social; e o processo de conhecimento e intervenção em serviço social. Convidamos você a uma apreensão acerca dos pressupostos da formação profissional como especialização do trabalho coletivo inserido na divisão social e técnica do trabalho. Essa perspectiva destaca, fundamentalmente, a historicidade do serviço social, entendido no quadro das relações sociais entre as classes sociais e suas relações com o Estado. Por essa razão, é necessário contextualizar o significado social da profissão e as mediações históricas que incidem sobre o perfil da profissão. No decorrer deste material, discutiremos a relação do serviço social com a questão social – fundamento básico de sua existência – mediatizada por um conjunto de processos sócio-históricos e teórico-metodológicos constitutivos no processo de trabalho do assistente social. 9 INTRODUÇÃO Para estudar a supervisão de estágio acadêmico é necessário conhecer a gênese do Serviço Social e sua atuação tradicional, seus conteúdos de trabalho e equívocos que permeiam essa profissão. Para isso, de igual importância é o processo de institucionalização desse curso, conteúdo trabalhado em Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Serviço Social. Relembrar esses assuntos ajudará você a conceituar tal profissão e o seu estágio supervisionado, assim como identificar e perceber como ela se configura na prática. Isso é importante, pois o mercado de trabalho vem exigindo pessoas mais capacitadas e polivalentes. Mais especificamente, no caso do profissional de serviço social, é preciso ter uma especial compreensão das políticas sociais e dos mecanismos para formulação e execução do seu trabalho. Portanto, o profissional de Serviço Social deve ser capaz de repensar não só a realidade social, mas também a profissão, tendo uma visão da totalidade que favoreça sua intervenção e também seu crescimento profissional. No início de nossos estudos, você deve conhecer o posicionamento crítico dos profissionais do Serviço Social frente à atuação da profissão, considerando a doutrina europeia e a norte-americana voltadas para uma realidade da América Latina, enquanto a discussão resultante dessa reflexão fomentou a construção de posições críticas que levaram a um movimento ímpar no âmbito da categoria: o Movimento de Reconceituação. Assim, você compreenderá o perfil, a formação do profissional, as definições que geram confusões na identidade da profissão e conhecerá as condições estabelecidas pela lei que a regulamenta no contexto nacional e no regional. Vamos estudar, também, os aspectos relevantes ao perfil profissional de Serviço Social. É importante entender quem é o assistente social, quais as condições estabelecidas pela Lei n.º 8.662 de 1993 para o exercício profissional, a natureza de sua futura profissão, as competências e atribuições do assistente social, conforme preconiza a lei de regulamentação da profissão, e as entidades que fiscalizam o exercício profissional no que se refere ao relacionamento entre assistentes sociais, instituições/organizações e a população. Esse estudo visa à compreensão da qualidade e da responsabilidade dos serviços diante dos usuários e das diferenças entre assistência social, assistencialismo, serviço social e assistente social, até hoje muito confundidos. Para finalizar, convidamos você a pensar na sua profissão futura e, principalmente, sobre que tipo de profissional pretende ser. Com esses conteúdos revistos, tenho certeza de que você conhecerá em quais espaços sócio-ocupacionais atuam o profissional de serviço social e compreenderá a atuação profissional da categoria exercida nos locais em que os assistentes sociais se inserem e como contribuem para a formação profissional do acadêmico. A atuação profissional contemporânea, os campos e as áreas de atuação profissional são conteúdos importantes a se trabalhar. Ter apreendido esses elementos é fundamental para subsidiar seus estudos acerca das realidades institucionais em que se inserem os assistentes sociais e como se dão as relações de forças existentes nas instituições que são campo de estágio. Vamos conhecer, também, a prática profissional, sua função educativa no espaço de estágio e a relação dessa prática com o mercado de trabalho e a sociedade contemporânea. 10 Na atualidade, a prática social é voltada para a construção de novas relações e a defesa da justiça social. Estudaremos como a formação profissional contemporânea volta-se para a formação de um profissional competente, criativo e propositivo. Para isso, vamos desvendar a relação entre o estágio e a prática profissional. Na Unidade II, trataremos a questão social e faremos um diálogo sobre as estratégias e técnicas utilizadas pelo assistente social no seu fazer profissional, para tanto, é fundamental retornarmos alguns conceitos apresentados em outras disciplinas. O primeiro deles se refere ao processo histórico da profissão, entendendo que as estratégias utilizadas pelo profissional são empregadas devido a um mover histórico, ou seja, as técnicas utilizadas no exercício da profissão não se dissociam das características contemporâneas do Serviço Social. O segundo é referente ao conceito de práxis como ação refletida. A prática profissional e, por consequência, a utilização de estratégias e técnicas, dá-se em um processo de reflexão, ou seja, toda intervenção do profissional de Serviço Social deve ser fundamentada por objetivos e intencionalidades. Os conhecimentos a serem estudados ajudarão você na continuidade da abordagem do estágio supervisionado. Para tanto, será necessário compreender as instituições e os sujeitos envolvidos no estágio. Entendendo a importância e o funcionamento do estágio, você será capaz de compreender o planejamento, o plano de estágio e a importância deles para o estágio supervisionado e ainda a importância da observação participante e do instrumento diário de campo. Os instrumentos elaborados pelo aluno no campo de estágio são o plano de estágio e o diário de campo. E por que esses instrumentos podem subsidiar e auxiliar o aluno estagiário no cumprimento desse importante processo, considerado etapa fundamental de sua formação acadêmica profissional? Você terá essa resposta e ainda veremos o que é observação participante e por que é importante para esse aluno participar das atividades realizadas pelo assistente social supervisor de campo. O estágio supervisionado é obrigatório para o aluno/estagiário que cursa Serviço Social, pois essa etapa de estudos tem como objetivo lhe possibilitar relacionar os conhecimentos teóricos adquiridos na formação ao fazer profissional que é desenvolvido na prática, para que seja possível seu aprendizado de habilidades. Essas habilidades o subsidiarão para o trabalho como assistente social. Segundo Azeredo e Souza (2004), um dos maiores desafios que o assistente social enfrenta para desenvolver suas ações e práticas focadas nos conhecimentos teóricos e na realidade contemporânea é a articulação entre a profissão e a realidade social. Dessa forma, podemos compreender que o estágio é um espaço de suma importância em que o aluno poderá aprender de forma crítica e reflexiva sobre o cotidiano profissional vivido pelos profissionais assistentes sociais inseridos nas instituições em variados campos de atuação do serviço social. 11 Unidade I 12 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO Unidade I 1 O EXERCÍCIO DA PROFISSÃO De acordo com a Lei de Regulamentação da Profissão de Assistente Social, somente podem exercer essa profissão as pessoas que possuem o diploma em curso de graduação em Serviço Social, reconhecido e registrado pelo órgão competente, o Ministério da Educação — MEC. O exercício dessa profissão exige um prévio registro nos Conselhos Regionais de Serviço Social — CRESS que tenham jurisdição sobre a área de atuação do interessado nos termos da lei. A designação profissional de assistente social é privativa dos habilitados em curso de graduação, não devendo, em hipótese alguma, ser usado para identificar práticas assistenciais. 1.1 A profissão de serviço social A profissão de serviço social é inscrita na divisão social do trabalho, possui uma atuação especializada e atua nos problemas sociais que afetam a qualidade de vida dos segmentos minoritários e pauperizados da população brasileira. Na contemporaneidade, esse profissional deve primar pela efetivação e pela garantia dos direitos assegurados pela legislação vigente no Brasil. Utilizamos a expressão “na contemporaneidade”, pois nem sempre esse profissional atuou em sua prática nessa perspectiva. O serviço social tem sua gênese vinculada à Igreja Católica, surgiu como prática leiga ligada à benesse e à caridade a fim de minimizar os problemas sociais advindos do surgimento e do firmamento do sistema capitalista. Essa instituição religiosa utilizava um discurso messiânico para intervir na problemática social, porém seu interesse maior era contribuir para a reprodução da força de trabalho atendendo aos interesses do sistema capitalista. A Igreja Católica utilizava os agentes profissionais leigos (membros da instituição) para praticar um trabalho de ajuda para recristianizar a sociedade, uma vez que, nessa época, a Igreja estava perdendo força para os movimentos socialistas difundidos entre o operariado. Castro (2000, p. 47) assegura que, no início, o serviço social [...] conecta-se aos objetivos políticos sociais da Igreja e das funções de classe vinculada mais diretamente a ela. Os elementos que mais colaboravam para o surgimento do Serviço Social têm sua origem na ação católica, intelectualidade laica estritamente ligada à hierarquia católica, que propugnava com visão messiânica a recristianização da sociedade por meio do projeto de reforma social. 13 Unidade I Podemos apreender, conforme a citação, que os interesses da burguesia e os da Igreja Católica estavam intrinsecamente focados numa reforma social junto ao proletariado. A intervenção da Igreja e de seus membros não resolveu os problemas sociais, apenas os amenizou, agravando, assim, a situação social. Segundo Martinelli (2001), no final do século XIX, houve uma preocupação em qualificar os agentes profissionais leigos a fim de enfrentar de forma mais acentuada a questão social. As primeiras escolas de serviço social foram criadas de acordo as bases da doutrina católica, com o objetivo de formar profissionais que atuassem no enfrentamento da questão social agravada com o processo de exploração e subordinação do operariado desencadeado com o sistema capitalista. Na década de 1930 foram criadas as primeiras escolas de Serviço Social. Em 1936, em São Paulo, seguida da escola do Rio Janeiro, após dois anos. Isso foi possível devido à organização do Centro de Estudos da Ação Social – CEAS. Tal órgão enviou à Bélgica duas moças ligadas à Igreja Católica para cursar Serviço Social e retornar com o intuito de montar o curso aqui no Brasil. A organização desse curso pretendia atender às necessidades da Igreja Católica e preparar seus membros para exercer a ação social. Para a criação da escola de serviço social no Rio de Janeiro, em 1938, o serviço social contou com apoio de Dom Pais Leme e uma equipe da congregação de Maria, que veio especialmente da França para organizar os ensinamentos da escola sob a doutrina católica e preceitos franceses de atuação. Na década de 1960, especificamente no ano de 1965, o serviço social atuou sob a perspectiva da benesse e caridade, e a Igreja Católica era a principal responsável pelas bases da formação profissional. Assim, lavrava a ideia de que era necessária uma vocação social para atuar como assistente social, e que a formação profissional deveria estar pautada na influência católica para contribuir com a defesa do povo, constituindo-se, assim, em um trabalho normativo da sociedade. Mas, ao final da década de 1960 e no início da década de 1970, o serviço social passou a questionar essa perspectiva de atuação e, sob a orientação de um movimento surgido na categoria profissional, iniciou um processo de questionamento e reflexão sobre a atuação tradicional denominado Movimento da Reconceituação. 1.2 Quem é o assistente social O assistente social é um profissional que possui bacharelado em Serviço Social. Exerce seu trabalho de forma remunerada em instituições públicas e privadas, organizações não governamentais, movimentos sociais etc. Sua função deve ser desenvolvida com competência teórica, técnica, metodológica, política e atribuições específicas. Sua atuação se dá nas diversas expressões da questão social que afetam a qualidade de vida da população em diferentes áreas (criança e adolescente, idoso, deficientes, habitação etc.) por meio das políticas públicas sociais. Tem como objetivo viabilizar os direitos dos usuários assegurados por lei. 14 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO A atuação do assistente social está voltada, em especial, para a população em vulnerabilidade socioeconômica. No entanto, como o objetivo precípuo da profissão é efetivar direitos, sua atuação alcança outras parcelas da população. Exige-se que o assistente social seja um profissional ético, crítico, propositivo, competente, instrumentalizado, articulado e que almeje a melhoria de vida da população no que concerne à saúde, educação, moradia, assistência social, previdência social etc. 1.3 As mudanças na atuação profissional pós-Movimento de Reconceituação A perspectiva de atuação normativa, voltada aos preceitos da caridade e benesse difundidos pela Igreja Católica, pautou o Serviço Social até final dos anos 1960. Em 1965, surgiu na América Latina um movimento que marcou a profissão, suscitando reflexões e mudanças na constituição e nas formas de atuação do assistente social. Esse movimento, conhecido como Movimento de Reconceituação, tem por base contestar a formação e a atuação profissional tradicional do serviço social. Sobre esse movimento, Iamamoto (2001, p. 207) enfatiza que [...] o Serviço Social latino-americano é sensibilizado pelos desafios da prática social. Sua resposta mais significativa se consubstancia na mais ampla revisão já ocorrida na trajetória dessa profissão, que tem aproximadamente seis décadas de existência. Essa resposta é o movimento de reconceituação. Este se perfilou desde o seu nascedouro como um movimento de denúncia, de autocrítica e de questionamentos societários que tinha como contraface um processo seletivo de busca da construção de um novo Serviço Social latino-americano, saturado, cheio de historicidade e que apostasse na criação de novas formas de sociabilidade a partir do próprio protagonismo dos sujeitos coletivos. Conforme cita a autora, podemos apreender que o Movimento de Reconceituação possibilitou uma reflexão que conduziu a profissão do serviço social a uma revisão ampla da sua trajetória. Os profissionais questionaram suas ações de forma crítica e buscaram uma nova configuração a partir da ruptura com a prática tradicional de atuação dos assistentes sociais sob as bases de influência da Igreja Católica. Essa nova postura do serviço social frente à sua formação e à prática de atuação voltada para os problemas característicos da realidade latino-americana busca adequar a profissão a uma postura mais crítica e revolucionária. Assim, a formação da profissão se compromete com uma transformação da realidade social. Para tal, foi necessário a profissão adotar mudanças no embasamento teórico-metodológico, nos procedimentos práticos interventivos e na aproximação da profissão com a corrente teórica marxista. Tal movimento aproximou os assistentes sociais a uma vertente crítica e a uma maneira mais abrangente e totalitária para a investigação dos problemas sociais advindos da exploração capitalista. Também mudou o modo de 15 Unidade I enfrentamento da questão social, voltando-se para a busca de uma transformação social das realidades apresentadas aos assistentes sociais. Estamos estudando nesta unidade o serviço social, as transformações sofridas no bojo da profissão e como elas afetaram a categoria dos assistentes sociais. Agora, vamos compreender a atuação profissional após os anos 1970 e como se configuram essa atuação contemporânea e o mercado de trabalho da profissão, que é também o locus essencial de campo de estágio supervisionado em serviço social. 1.4 A natureza da profissão de assistente social Atuando nos problemas sociais que afetam a qualidade de vida das classes sociais em vulnerabilidade socioeconômica, o assistente social deve primar pela efetivação de direitos assegurados pela legislação vigente no país. Nessa perspectiva, ele precisa estar revestido de conhecimentos científicos e instrumentais técnicos para decifrar a realidade na qual está inserido para intervir, de forma propositiva, em uma perspectiva transformadora e emancipatória e, assim, promover a qualidade de vida dos usuários de seus serviços. A atuação do assistente social pode ter caráter: a) socioeducativo; b) político-educativo; c) psicossocial; d) técnico-consultivo; e) didático-pedagógico; f) político-administrativo; g) político-representativo. O caráter socioeducativo deve estar presente em todas as intervenções do assistente social. Ao atuar na luta por acesso aos direitos sociais em organizações e movimentos populares, essa atuação tem caráter político-educativo. Quando o assistente social atua em pronto-socorro, clínica ou ambulatório de saúde mental ele possui caráter psicossocial. Quando esse profissional presta serviços de assessorias, consultorias, supervisão e assistência técnica, seu trabalho possui um aspecto técnico-consultivo. O caráter didático-pedagógico diz respeito à docência, à pesquisa e à produção científica. Quando o assistente social atua na área de administração, planejamento e gestão de serviços sociais públicos em organizações governamentais e não governamentais, bem como nos setores privados, sua intervenção é político-administrativa. Ao atuar na direção de entidades representativas da profissão, como no Conselho Federal de Serviço Social — CFESS e no CRESS, o trabalho do assistente social possui caráter político-representativo. 16 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO 1.5 Competências do assistente social A Lei 8.662/93, no artigo 4º, expõe quais são competências do assistente social. São elas: I – Elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos da administração pública direta ou indireta, empresas, entidades e organizações populares; II – Elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil; III – Encaminhar providências e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à população; IV – Orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais para identificar recursos e fazer uso deles no atendimento e na defesa de seus direitos; V – Planejar, organizar e administrar benefícios e serviços sociais; VI – Planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise da realidade social e para subsidiar ações profissionais; VII – Prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades com relação às matérias relacionadas no inciso II deste artigo; VIII – Prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade; IX – Planejamento, organização e administração de Serviços Sociais e de Unidade de Serviço Social; X – Realizar estudos socioeconômicos com os usuários para fins de benefícios e serviços sociais junto a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades (BRASIL, 2003). 1.6 Atribuições do assistente social A Lei 8.662/93, artigo 5º, expõe quais são atribuições privativas do Assistente Social. São elas: I – Coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos, programas e projetos na área de Serviço Social; 17 Unidade I II – Planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de Serviço Social; III – Assessoria e consultoria a órgãos da Administração Pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades em matéria de Serviço Social; IV – Realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres sobre a matéria de Serviço Social; V – Assumir, durante o magistério de Serviço Social, tanto em nível de graduação como pós-graduação, disciplinas e funções que exijam conhecimentos próprios e adquiridos em curso de formação regular; VI – Treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social; VII – Dirigir e coordenar Unidades de Ensino e cursos de Serviço Social de graduação e pós-graduação; VIII – Dirigir e coordenar associações, núcleos, centros de estudo e de pesquisa em Serviço Social; IX – Elaborar provas, presidir e compor bancas de exames e comissões julgadoras de concursos ou outras formas de seleção para Assistentes Sociais, ou onde sejam aferidos conhecimentos inerentes ao Serviço Social; X – Coordenar seminários, encontros, congressos e eventos assemelhados sobre assuntos de Serviço Social; XI – Fiscalizar o exercício profissional por meio dos Conselhos Federal e Regional; XII – Dirigir serviços técnicos de Serviço Social em entidades públicas ou privadas; XIII – Ocupar cargos e funções de direção e fiscalização da gestão financeira em órgãos e entidades representativas da categoria profissional (BRASIL, 2003). 1.7 Equívocos da profissão Os equívocos da identidade profissional que precisam ser desconstruídos são: assistência social é o mesmo que assistente social, que, por sua vez, é igual a serviço social, e que este é igual a assistencialismo. 18 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO No quadro a seguir, você conhecerá o que é a assistência social, quem é o assistente social, o que é o serviço social e o que se caracteriza por assistencialismo. Denominação Características Assistência social É uma política pública regulamentada pela Lei Orgânica da assistência social. A assistência social é um direito garantido por lei ao do cidadão e um dever do Estado. Assistente social É o profissional graduado em curso superior de Serviço Social habilitado para atuar nas expressões da questão social, nas políticas sociais públicas, privadas e nas organizações não governamentais. Essa profissão é regulamentada pela Lei n° 8.662/93. Há um código de ética profissional e organizações que fiscalizam e protegem o exercício profissional. Serviço social Assistencialismo É o nome do curso de nível superior que forma os assistentes sociais. É a prática que se opõe à assistência social. É o acesso a um bem ou serviço por meio de doação, favor, algo que depende de boa vontade e interesse de alguém. No assistencialismo não há garantias e nem direitos. Ainda há o equívoco em relação à denominação do público-alvo do serviço social, como achar que a denominação para o público alvo é paciente ou cliente. Essas são terminologias da área médica e da área empresarial, respectivamente. O público/pessoas/sujeitos/indivíduos são denominados usuários, pois utilizam os serviços, não são clientes e nem pacientes. Não há contrapartida na prestação do serviço entre o profissional e o usuário. Embora a profissão de assistente social possa contribuir de forma expressiva para a mudança dos rumos das políticas sociais do país, ainda não possui reconhecimento substancial. Ela é confundida com serviço voluntário, caridade, benesse e, por outro lado, os meios de trabalho do profissional são parcos diante de tantas demandas e aliados à conjuntura política, social e econômica do país. Os profissionais não se reconhecem e não se identificam como profissionais habilitados para novas frentes de atuação, nem mesmo para aquelas tradicionais. Essa falta de reconhecimento está atrelada a ações focalistas, paliativas, endógenas e à própria imagem profissional que possui suas matrizes na história do serviço social. Observação Endógena quer dizer uma visão de dentro do Serviço Social; uma visão interna sobre a profissão (IAMAMOTO, 2001). As pessoas também pensam que não é preciso se especializar (graduar) para fazer um trabalho de garantia de direitos sociais da população. Acreditam que o trabalho voluntário tem condições de fazer a mesma coisa. O voluntariado se caracteriza por ações pontuais, por um tempo determinado, o compromisso é pessoal e pode ser desfeito a qualquer momento por interesse do voluntário. 1.8 Desmistificando os estigmas da profissão A mídia, na atualidade, constantemente mostra e denuncia as desigualdades e as exclusões sociais, o sofrimento e as dificuldades com que vivem milhares de pessoas neste país. Além das demandas aos serviços sociais em relação às necessidades materiais, as pessoas buscam atenção, 19 Unidade I apoio etc. Esses indivíduos, ao buscar um serviço, terão a compreensão e apoio de um profissional que poderá ser confundido como um amigo, um salvador. A confusão é compreensível, pois parte de pessoas que muitas vezes não têm sua identidade reconhecida socialmente, ou por se encontrarem em situação de baixa estima devido aos diversos problemas que enfrentam cotidianamente. E, por outro lado, o assistente social é o profissional que mostra os caminhos na solução dos mais variados problemas. Embora alguns serviços prestados pelo serviço social sejam confundidos com caridade, favor, há de se desmistificar essa identidade atribuída. Ser compreensivo e atencioso é um atributo pessoal e inerente ao ser humano. Já a cultura científica é adquirida ao longo da formação acadêmica por meio de disciplinas das mais diversas áreas de conhecimento. A formação de serviço social utiliza-se de conhecimento da área de ciências sociais aplicadas, como História, Economia, Antropologia, Sociologia, Filosofia, Direito, Psicologia, entre outras. No seu fazer profissional, os conceitos dessas áreas são utilizados para compreender a realidade em que as desigualdades ocorrem e, assim, buscar a resolução dos problemas a partir de proposições. 1.8.1 Alguns estigmas da profissão A profissão tem estigmas atribuídos ao longo da construção de sua identidade que precisam ser desconstruídos. O quadro a seguir apresenta alguns deles sobre o exercício profissional do assistente social. Estigma (não verdadeiro) Identidade (verdadeira) O assistente social exerce seu trabalho de forma remunerada em O trabalho do assistente social é voluntário, organizações públicas, privadas e organizações não governamentais com caritativo e é de benesse. atribuições específicas e regulamentadas por lei. O assistente social é um profissional graduado no curso superior de Serviço Social. Ele atende às necessidades sociais da população em geral, nas Os assistentes sociais são pessoas “boazinhas” áreas de assistência social, saúde, habitação, educação etc. A atividade que ajudam os pobres e oprimidos. em si não é considerada ajuda, pois o profissional atua na perspectiva de assegurar direitos sociais garantidos pela Constituição Federal visando ao fortalecimento da autonomia e da democracia. A realidade social e econômica do Brasil faz que o trabalho do assistente social se volte para a questão da pobreza e da população que é excluída bens e serviços. É uma profissão que atua de maneira efetiva no setor O assistente social trabalha só com os de empresarial, o qual tem outro perfil de usuário, além de outros serviços pobres. prestados por órgãos públicos que atendem à população em geral. Não é uma profissão exclusiva para um determinado segmento social, é uma profissão que atua para toda a sociedade. 1.9 Entidades representativas do serviço social Citam-se algumas entidades representativas do Serviço Social, como a Executiva Nacional de Serviço Social — ENESSO, o CRESS, o CFESS e a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social — ABEPSS. 20 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO A ENESSO é a entidade máxima de representação dos estudantes de Serviço Social. A Coordenação Nacional da Executiva é eleita anualmente no Encontro Nacional de Estudantes de Serviço Social — ENESS, que é a instância máxima de deliberação do Movimento Estudantil de Serviço Social. Tem por objetivo reunir os estudantes de todo o país em torno dos temas pertinentes à conjuntura, movimento estudantil, universidade, formação ético-político profissional, cultura e outros temas relevantes ao serviço social. Conforme está descrito em seu estatuto, a ENESSO busca: • fomentar e potencializar a formação político-profissional dos estudantes de Serviço Social, bem como suas entidades representativas; • promover o debate acerca dos problemas dos estudantes de Serviço Social; • garantir o contato permanente dos estudantes de Serviço Social com a categoria dos assistentes sociais, suas entidades nacionais e latino-americanas; • viabilizar a integração com os movimentos populares e sociais como forma de crescimento político dos estudantes e de reforço e ampliação das lutas desses movimentos; • consolidar o contato com as demais executivas de curso a fim de reforçar o papel que elas desempenham no movimento estudantil e também construir novas alternativas de luta para o movimento; • coordenar e organizar os encontros estaduais, regionais e nacionais junto às escolas-sede dos eventos, buscando a articulação com as demais entidades da categoria para a realização desses encontros (ENESSO). O CRESS é uma autarquia federal de personalidade jurídica e de direito público, regulamentado pela Lei n.º 8.662, de 07 de junho de 1993. Está vinculado ao CFESS, porém possui autonomia administrativa e financeira. Essa instituição tem o poder de fiscalizar o exercício profissional do assistente social. Já os Conselhos Regionais são responsáveis pelas inscrições dos assistentes sociais nos seus estados. Eles informam sobre anuidades, eventos, ofertas de trabalho, cursos de capacitação e ainda recebem denúncias de problemas relacionados à ética da profissão. São objetivos dos CRESS: • orientar, disciplinar, fiscalizar e defender o exercício da profissão de assistente social nos seus respectivos estados; • zelar pelo livre exercício, dignidade e autonomia da profissão; • organizar e manter o registro profissional dos assistentes sociais e das pessoas jurídicas que prestam serviços de consultoria, assessoria, planejamento, capacitação e outros em Serviço Social no âmbito de sua jurisdição; • zelar pelo cumprimento e observância do Código de Ética Profissional do Assistente Social funcionando como Tribunal Regional de Ética Profissional; 21 Unidade I • fixar, em assembleias da categoria, o valor das anuidades que os assistentes sociais devem pagar (BRASIL, 2003). O CFESS, regulamentado pela Lei n.º 8662/93 em conjunto com os CRESS, responde pela fiscalização do exercício profissional do assistente social. O Conselho Federal é representado por uma diretoria composta por 18 conselheiros, e ela é eleita a cada três anos pelo voto direto dos assistentes sociais de todo o país. O art. 8º da Lei de Regulamentação da Profissão de Assistente Social estabelece que o Conselho Federal de Serviço Social tem a incumbência, na qualidade de órgão normativo de grau superior, do exercício das seguintes atribuições: • orientar, disciplinar, normatizar, fiscalizar e defender o exercício da profissão de assistente social em conjunto com o CRESS; • assessorar os CRESS sempre que for necessário; • aprovar os Regimentos Internos dos CRESS no fórum máximo de deliberação do conjunto CFESS/ CRESS; • aprovar o Código de Ética Profissional dos assistentes sociais juntamente com os CRESS no fórum máximo de deliberação do conjunto CFESS/CRESS; • funcionar como Tribunal Superior de Ética Profissional; • julgar, em última instância, os recursos contra as sanções impostas pelos CRESS; • estabelecer os sistemas de registro dos profissionais habilitados; • prestar assessoria técnico-consultiva aos organismos públicos ou privados em matéria de Serviço Social (BRASIL, 2003). A ABEPSS é constituída pelas unidades de ensino em Serviço Social, pelos sócios institucionais e individuais (pesquisadores, docentes e discentes dos cursos de graduação e pós-graduação em Serviço Social). É uma entidade civil de natureza científica, é de âmbito nacional e não possui fins lucrativos. Com sede atual em Recife, busca mobilizar os profissionais de Serviço Social que são associados a ela por meio da realização de eventos como o Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social — ENPESS. O Estatuto da ABEPSS estabelece que a entidade tenha as seguintes finalidades: • propor e dinamizar uma política de formação em Serviço Social que expresse a indissociabilidade do ensino, da pesquisa e da extensão, articulando a graduação e a pós-graduação; • contribuir para aperfeiçoar a formação profissional do assistente social na perspectiva de atender às exigências regionais e ao projeto ético-político profissional nos contextos nacional, regional e local; • representar e defender os interesses da área de Serviço Social junto às agências de fomento no que tange ao ensino, pesquisa e extensão; 22 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO • fomentar e estimular a formação e consolidação de grupos de pesquisa nas universidades e/ou outras instituições voltadas à pesquisa; • promover a publicação da produção acadêmica gerada no âmbito do Serviço Social; • desenvolver eventos acadêmico-científicos de produção de conhecimento na área de Serviço Social; • atuar com propriedade para fortalecer a concepção de formação profissional com amplo processo que abrange formação acadêmica, pesquisa, capacitação continuada e prática organizativa e profissional (Estatuto da ABEPESS). Ao conhecer a natureza da profissão de assistente social, quem é o assistente social, a legalidade do exercício profissional, os equívocos e estigmas que acompanham a profissão desde o surgimento desaparecerão. Não se limite ao conteúdo trabalhado nessa aula, busque pesquisar nas referências bibliográficas sobre a sua futura profissão. 2 A ATIVIDADE PROFISSIONAL NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE PROFISSIONAL A identidade é concebida como um fenômeno social, um processo de mudanças que se constitui nas relações sociais e interpessoais, configurando-se e transformando-se. É compreendida como um processo de construção da representação de si e como se é reconhecido. Seu desenvolvimento é calcado em significações, gostos, disposições, escolhas, formas de agir e pensar, crenças e valores como princípios organizadores de práticas e representações e reflete um estilo de vida, um conjunto de escolhas. A construção da identidade é dinâmica, incessante, um movimento permanente. Identidade remete àquilo que é idêntico, que é semelhante. É expressa singular ou coletivamente. Singularmente, quando diz respeito a características individuais, à representação de si mesmo; coletivamente, quando compartilhada de experiências de outros indivíduos ou segmentos sociais, grupos sociais etc. Gentilli (1997, p. 128) aponta que a identidade se refere [...] a movimentos que dizem respeito tanto à singularidade humana quanto a particularidades de grupos, segmentos, estratos, classes, nações, culturas etc., na produção de sentidos face às relações sociais das quais participa, de acordo com representações e imagens utilizadas para se referir a objetos que são identificados como exteriores. [...] categoria que possibilita analisar as contiguidades, as semelhanças, as diferenças e as contradições que se estabelecem entre indivíduos e sociedade, tanto na perspectiva dos sujeitos singulares quanto coletivos, por intermédio das noções de “identidade pessoal” e identidade social. Quais as mudanças em suas condições objetivas de vida voltadas para a futura profissão e que repercussões teriam no processo de constituição da identidade? O projeto pessoal tem peso no projeto 23 Unidade I profissional na construção de sua identidade nesse momento de transição? Essa reflexão o acompanhará durante sua formação. Uma identidade carrega estigmas e atributos depreciativos decorrentes de expectativas sociais não correspondidas por quem não a conhece. Essa marca gera uma identidade irreal da categoria profissional, conferindo-lhe denominações que ela não possui. As expectativas em relação à identidade podem ser da ordem normativa e da ordem pessoal. A primeira direciona o cumprimento de leis, normas e regulamentos; e a segunda apresenta como se dão as relações no contexto em que estão inseridas. 2.1 Processo de construção da identidade profissional do assistente social Como em toda profissão, a identidade do serviço social vem sendo construída ao longo dos anos nos processos sociais e históricos da sociedade. Está ligada à origem da profissão, cujas raízes encontram-se no desenvolvimento do capitalismo e em suas consequências sociais. Com o aumento da produção e as mudanças nas relações de produção, acentuaram-se as diferenças sociais, e, diante do aumento da pobreza, surgiram grupos de voluntários ligados a organizações religiosas para atender às mazelas decorrentes da industrialização. Nesse contexto, os conflitos nas fábricas por melhores condições de trabalho, entre outros, pediam a presença de um “mediador” que conciliasse as partes envolvidas. Fora dessas organizações, as condições de vida eram precárias, não havia saneamento básico, creches, saúde nem moradia. Isso tudo impunha um profissional que pudesse atender e encaminhar as soluções para as necessidades que surgiam. Atualmente, nas empresas, o assistente social continua a fazer a mediação dos conflitos entre patrões e empregados atuando na perspectiva de treinamento, prevenção de acidentes do trabalho e benefícios. Como uma profissão que teve sua origem articulada à formação do sistema capitalista, cuja estratégia era de controle social, essa prática profissional, com uma ilusão de servir, surgiu com uma identidade atribuída pelo capitalismo. Isso ocorreu também pela fragilidade política e social da categoria profissional que produziu práticas hoje analisadas como assistencialistas, filantrópicas, focalistas e marcadas pelo fornecimento de benefícios sociais. Por ser uma profissão que trabalha com problemas sociais que afetam as pessoas e grupos em situação precária de vida, ela é confundida com assistencialismo, caridade, doação etc. Isso advém da gênese dos problemas sociais, da Antiguidade até a atualidade: antes era tratada como caridade; hoje, há políticas sociais públicas para atender esses problemas, mas a confusão continua. Outro estigma que a profissão carrega está relacionado ao baixo reconhecimento a ela socialmente atribuído, principalmente na área de pesquisa, e à baixa remuneração em relação a outras ocupações. Registram-se, também, diferentes discursos no âmbito de organizações formais da profissão e no mercado de trabalho profissional. No ramo das organizações, o discurso é da ordem do “dever ser”, 24 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO representação que aponta diferenças e divergências com os discursos no âmbito profissional, o qual trabalha com o “poder ser”, ou seja, com as possibilidades. Gentilli (1997, p. 129) assevera que a identidade profissional do Serviço Social é resultante de uma interação dinâmica entre os aspectos formais e informais da profissão. Essa interação expressa coletivamente as manifestações representacionais produzidas na categoria profissional, e é realizada tanto por meio de discursos consagrados nas organizações e instituições formais da profissão quanto nas formações discursivas que se disseminam no mercado de trabalho profissional. Os discursos são a auto-representação da categoria profissional nas relações sociais dos quais sua categoria profissional faz parte com o objetivo de se conhecer no processo histórico e social. É no espaço da formação profissional que a identidade começa a ser construída por meio da socialização de ideias, das diferenças, das divergências, de concepções de si mesmo, de papéis profissionais, de normalização do certo e do errado, de direitos e deveres e atribuições profissionais. E o ambiente profissional ou campo de atuação será o local em que ela se legitimará. Gentilli (1997) aponta sete direções acerca da concepção de “ser profissional” de Serviço Social no mercado de trabalho. Vamos analisá-las a seguir: • a primeira direção concebe o assistente social a partir da delimitação do âmbito das atividades nas quais a profissão pode se realizar. A identidade profissional é expressa pelo fazer e pela natureza desse fazer a partir da introjeção das diversas conotações que comportam a expressão “assistir à sociedade”, seja em atividades “assistenciais, educacionais ou políticas”. • o segundo eixo, utilizado para expressar as definições acerca da identidade profissional, compreende os objetivos profissionais relacionados aos clássicos “processos metodológicos”. Nessa direção ficam visíveis a permanência e o reconhecimento, por parte de alguns profissionais, da plausibilidade de tais processos consagrados pelo uso e que se mantêm em vigor, deslanchando inclusive atividades que se apresentam como emergentes na profissão. • a terceira forma concebe a identidade do serviço social a partir de representações vinculadas às ações “de ajuda” realizadas pelos profissionais associados a concepções como “bem-estar”, “equilíbrio”, “humanização”, assim como aos diferentes tipos de “atividades promocionais” e “assistenciais” realizados pelos assistentes sociais. • as atividades profissionais descritas como “orientar”, “esclarecer” e “encaminhar” serviram de ponto de partida para a materialização da identidade profissional de uma quarta manifestação, a qual foi recontextualizada no discurso teórico contemporâneo. • uma quinta forma de definição do ser profissional – associada ou não à discussão das questões sociais –, a ideia de mudança social, surge tendo como foco as definições que oferecem prioridade aos aspectos ligados ao “processo de conscientização” e às “formas de transformação social”, tanto no plano individual como no coletivo. 25 Unidade I • a sexta variação na definição do “ser profissional”, que foi encontrada na referência às diferenças e semelhanças existentes nas práticas profissionais, refere-se à discussão relativa aos campos de atuação (previdência, assistência social, bem-estar etc.) e sobre seus respectivos âmbitos de interferência social. • de forma minoritária, aparece a sétima concepção, marcada por uma visão muito particularizada e decorrente de campos de atuação superespecializados e excepcionais. Nessa compreensão, o profissional se vê como o agente que estabelece a vinculação de “clientes” que têm mundos internos “especiais” em relação à vida dos sujeitos considerados socialmente “normais”. As concepções apresentadas anteriormente agrupam noções diferentes. Há visões de transformação, cidadania, ajuda social, humanização das relações sociais, equilíbrio social etc. Essas representações revelam a multiplicidade de expressões da identidade profissional e suas finalidades, atividades, objetivos e funções. Diante do foi trabalhado, é preciso ficar claro que a identidade do serviço social está associada ao exercício da prática profissional e que a profissão, na sua gênese, desenvolve uma atuação assistencialista, voltada a atender aos interesses do sistema capitalista. Assim, podemos afirmar que o serviço social, no início da profissão, teve sua identidade atribuída e não construída coletivamente pela categoria profissional. 2.2 O perfil do assistente social no mercado de trabalho O assistente social pode trabalhar no primeiro setor, que é definido pelas instituições públicas nas esferas federal, estadual e municipal; no segundo setor, formado pelas organizações empresariais privadas; e no terceiro setor, constituído por organizações não governamentais — ONGs, que geram serviços de caráter público. Você conhecerá alguns dados sobre o que se exige do perfil do mercado de trabalho de assistente social no Brasil. A pesquisa do CFESS foi realizada pela Universidade Federal de Alagoas em 2004. Esse estudo foi coordenado pela professora Dra. Marlise Vinagre Silva e pela Dra. Rosa Prédes. Teve por base uma amostra de 1.049 profissionais em atividades no país com registro nos CRESS e retrata o “perfil do assistente social no Brasil”. De acordo com a referida pesquisa, o setor público é o maior empregador dessa profissão: a esfera municipal emprega 40,97%; a esfera estadual, 24%; e a nacional, 13,19%. O setor privado aparece em segundo lugar na pesquisa com um total de 13,19% de assistentes sociais, e em terceiro lugar está o terceiro setor, com um percentual de 6,81%. 2.2.1 Áreas de atuação no primeiro setor No setor público, com a descentralização e municipalização das políticas sociais públicas, ocorre uma ampliação do mercado de trabalho na esfera municipal, e os concursos públicos passam a se concentrar nos municípios. Os campos de atuação do assistente social no setor público em âmbito nacional, estadual e municipal são: saúde, assistência social, previdência, educação, habitação etc. Nas organizações 26 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO públicas, esse profissional pode atuar ainda nas áreas da criança e adolescente, de idoso, de pessoas com deficiência etc. Outro campo de atuação no setor público que vem se destacando é a gestão social de políticas públicas. Cursos de especialização surgem para qualificar profissionais da área social, entre eles o assistente social, para exercer funções públicas de gerenciamento. Iamamoto (2001, p. 125) afirma que [...] o treinamento para a vida pública apresenta exigências específicas. Requer conhecimento do contexto político e constitucional da gestão governamental; o aprendizado para agir sob constante pressão política e a habilidade para operar dentro de metas preestabelecidas por lei em estruturas organizacionais sob controle do sistema jurídico. A atuação do assistente social no gerenciamento de programas públicos deve se pautar em uma prática profissional transparente, com a participação efetiva da população no controle social e nas decisões institucionais, que devem ser democráticas e respeitadas. Deve primar sempre pela garantia dos direitos sociais e pela democratização do acesso aos bens e serviços oferecidos pela política pública ou programa social. 2.2.2 Áreas de atuação no segundo setor Nas organizações privadas, o assistente social pode atuar na área de recursos humanos, um setor que se expande para o gerenciamento, o planejamento estratégico, as relações interpessoais, a qualidade de vida do trabalhador, os treinamentos organizacionais, a elaboração ou a implementação de projetos, os programas de prevenção de riscos sociais etc. Iamamoto (2001, p. 130) expõe que [...] para o ingresso na esfera empresarial têm sido exigidos requisitos que extrapolam o campo de conhecimentos para abranger “habilidades e qualidades pessoais”, tais como: experiência, criatividade, desembaraço, versatilidade, iniciativa e liderança, capacidade de negociação e apresentação em público, fluência verbal, habilidade no relacionamento e “capacidade de se sintonizar com as rápidas mudanças no mundo dos negócios”. O assistente social precisa, ainda, saber trabalhar em equipes interdisciplinares, relacionar-se com outros profissionais para atuar na elaboração e realização de pesquisas, capacitação em planejamento, na elaboração de planos, projetos sociais, programas de qualidade total da empresa (um programa voltado para a qualidade dos serviços e produtos oferecidos pela instituição). No segundo setor, o assistente social deve atuar de forma reflexiva para não incorrer em uma prática profissional que atenda exclusivamente aos interesses dos empregadores. Para tanto, o profissional deve estar revestido de uma capacidade ético-política voltada para os princípios do Código de Ética 27 Unidade I do Assistente Social e ter sempre em mente que a nossa atuação deve sempre primar pela defesa intransigente dos direitos humanos. 2.2.3 Áreas de atuação no terceiro setor No terceiro setor (ONGs), o assistente social atua diretamente com a sociedade civil organizada e movimentos populares nas áreas de administração e planejamento de projetos sociais, defesa de direitos humanos, convênios de cooperação técnico-financeira, captação de recursos etc. Com a municipalização das políticas públicas, surgem novas oportunidades de intervenção no âmbito da sociedade civil organizada para o assistente social, com destaque para a formulação, gestão e controle social das políticas sociais. Segundo Iamamoto (2001), o trabalho do assistente social nessa nova demanda profissional pode ser expresso da seguinte forma: a) implantação dos conselhos de políticas sociais; b) capacitação dos conselheiros; c) elaboração de planos de assistência social; d) organização e mobilização popular em experiência de orçamento participativo; e) assessoria e consultoria no campo das políticas públicas e dos movimentos sociais etc. No terceiro setor, o assistente social deve atuar no reforço do poder local no âmbito municipal. Deve ampliar a possibilidade de participação da comunidade local na busca de soluções para os seus problemas por meio da fiscalização, formulação e gestão das políticas e programas sociais. O objetivo é fazer que esses programas sejam canais de efetivação dos direitos sociais de forma democrática e equânime. O assistente social deve atuar em uma perspectiva participativa e criativa com competência teórica, técnica e política na defesa da participação da sociedade civil organizada e na formulação e controle social de políticas públicas que venham ao encontro dos interesses sociais da coletividade. A atuação junto à sociedade civil organizada tem como espaço privilegiado os Conselhos de Políticas Públicas da assistência social, saúde e previdência e os conselhos de direitos da criança e do adolescente, do idoso e do deficiente. Os conselhos são órgãos paritários, ou seja, metade é composta por representantes do governo; a outra, por representantes da sociedade civil organizada. Esses conselhos têm competência legal para deliberar e controlar as políticas sociais públicas. Diante de tantas possibilidades de trabalho, o assistente social precisa possuir conhecimentos teóricos, técnicos e políticos para apreender e decifrar a realidade social na sua dinâmica, pois [...] possibilidades novas de trabalho se apresentam e necessitam ser apropriadas, decifradas e desenvolvidas; se os assistentes sociais 28 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO não o fizerem, outros o farão, absorvendo progressivamente espaços ocupacionais até então a eles reservados. Aqueles que ficarem prisioneiros de uma visão burocrática e rotineira do papel do assistente social e de seu trabalho entenderão isso como “desprofissionalização” ou “desvio de funções” e as alterações que vem se processando nessa profissão (IAMAMOTO, 2001, p. 48). O assistente social deve estar sempre atento às mudanças e às possibilidades que se apresentam no mercado de trabalho para conquistar espaços ocupacionais que requerem as habilidades de intervir de forma criativa e propositiva. Deve apresentar alternativas inovadoras de trabalho que contribuam para a universalização dos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais. Portanto, diante de tantas possibilidades de espaços sócio-ocupacionais no mercado de trabalho, o assistente social necessita qualificar-se constantemente para contribuir na implementação de propostas de trabalho capazes de atender as demandas sociais. Sua atuação deve alcançar os interesses coletivos da população usuária do Serviço Social visando à diminuição das desigualdades sociais. Diante dessa necessidade, o trabalho desse profissional não pode ocorrer de forma isolada, mas em conjunto com outros profissionais nas instituições empregadoras, visto que uma única profissão não dá conta de resolver todos os problemas sociais. 2.3 O estágio supervisionado O estágio supervisionado curricular é parte integrante e obrigatória para o aluno que cursa Serviço Social. É no período do estágio que o acadêmico tem o contato direto com a prática profissional a partir de sua inserção em um determinado espaço sócio-ocupacional. Essa etapa dos estudos prevista no currículo tem como objetivo fazer que você relacione os conhecimentos teóricos adquiridos na formação ao fazer profissional que é desenvolvido na prática de trabalho do assistente social. Segundo nos explica Azeredo e Souza (2004), um dos maiores desafios que o assistente social enfrenta é a articulação entre a profissão e a realidade social para que o profissional possa desenvolver suas ações na prática e esteja focado entre os conhecimentos teóricos e a realidade contemporânea. O estágio é um espaço propício para o aprendizado da prática real do fazer do assistente social. Para tal, deve propiciar condições que capacitem o estudante para o exercício da profissão. Acerca do estágio supervisionado, Buriolla (2006, p. 13) nos ensina que [...] o estágio é concebido como campo de treinamento, um espaço de aprendizagem do fazer concreto do serviço social, em que um leque de situações e de atividades de aprendizagem profissional se manifestam para o estagiário tendo em vista sua formação [...] é o lócus em que a identidade profissional do aluno é gerada, construída e referida; volta-se para o desenvolvimento de uma ação vivenciada, reflexiva e crítica, e por isso deve ser planejado gradativa e sistematicamente. 29 Unidade I A partir dessa afirmação, você pode entender o estágio como um local de atividades diversas que apresentam um universo de complexidades, em que é muito importante a reflexão, a crítica construtiva e o planejamento. O estágio supervisionado tem como objetivo inserir o acadêmico nos espaços institucionais de atuação do serviço social. Essa ação requer a observação participante, a investigação e o conhecimento da realidade institucional em que acontecem as situações concretas que exigem intervenção do assistente social. O contato com as instituições permite que o estudante em campo de estágio reflita de forma crítica diante das demandas e das situações apresentadas aos profissionais que atuam nesses órgãos. Para isso, é preciso que você relacione a sua capacidade de reflexão à sua aprendizagem iniciada no primeiro dia de aula do curso. Vamos entender melhor o que significa o estágio e como fazê-lo? Para realizar o estágio supervisionado em Serviço Social, você deve ser encaminhado pela instituição em que estuda (embora em alguns casos o aluno articule seu estágio), preencher toda a documentação necessária (disponível no manual de estágio ou no caderno de orientações de estágio) e ainda é necessário que a universidade tenha convênio assinado com a instituição em que você estagiará. O estágio iniciou-se no Brasil, de acordo com Buriolla (2006), logo após a criação das primeiras escolas de Serviço Social, mais especificamente na década de 1930. Desde então, é parte integrante da formação do aluno desse curso e também propicia ao estudante o contato com a prática profissional, desenvolvendo-se como uma etapa decisiva em sua formação. O curso de Serviço Social tem sua organização curricular sustentada por um tripé, conforme determinação do MEC. Ele sustenta os conhecimentos que constituem os núcleos de fundamentação da formação profissional. Os núcleos se subdividem em: núcleo de fundamentos teórico-metodológicos da vida social; núcleo de fundamentos da formação sócio-histórica da sociedade brasileira; núcleo de fundamentos do trabalho profissional, que compreende os elementos constitutivos de serviço social como uma especialização do trabalho: sua trajetória histórica, teórica, metodológica e técnica, os componentes éticos que envolvem o exercício profissional, a pesquisa, o planejamento e a administração em Serviço Social e o estágio supervisionado. O núcleo de fundamentos do trabalho profissional contempla o estágio supervisionado como o último de seus elementos constitutivos. Para que você possa fazer o estágio, é preciso primeiro conhecer os fundamentos do serviço social, como é sua trajetória histórica, sua gênese e as bases que direcionaram metodológica e tecnicamente a profissão. O conhecimento da orientação de diversas teorias também é importante, como: Neotomismo, Positivismo, Fenomenologia e as mudanças da profissão após o Movimento de Reconceituação e a aproximação da profissão com a corrente teórica de Karl Marx (Marxismo). Para cursar o estágio supervisionado, você deve ter apreendido outros conhecimentos além dos fundamentos históricos de Serviço Social. São necessários componentes éticos que norteiam a profissão 30 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO e estes estão contemplados na lei de Regulamentação e no atual Código de Ética da profissão. Outro elemento importante para a realização do estágio supervisionado é a bagagem teórico-metodológica adquirida nas disciplinas ministradas no curso. Como citamos até aqui, você pode compreender que o estágio tem uma importância ímpar na sua qualificação formal. Nele, traduz-se um espaço único em que o acadêmico tem a oportunidade de aprender de forma crítica a atuação do assistente social. É preciso que façamos algumas reflexões. O que encontramos como alunos do curso de Serviço Social no estágio supervisionado? Precisamos contribuir enquanto estamos no local de estágio ou apenas observar? É preciso ser ético, ter sigilo e respeitar os profissionais que atuam no campo de estágio? O conteúdo desse item nos aponta que essas perguntas são importantes para a reflexão sobre o estágio e o despertar sobre sua importância. Assim, podemos nos capacitar e sermos propositivos, colaboradores, observadores, termos respeito e sermos éticos no campo de estágio em que estamos inseridos e com os profissionais que lá atuam. A observação e a proposição do aluno no campo de estágio deve se voltar para a competência do profissional na prática, e esta prática deve estar alicerçada em sua posse de saberes disciplinares. É necessário que o estudante perceba como o profissional canaliza seus saberes no enfrentamento das demandas sociais apresentadas pela comunidade à política publica ou social em que atua. Segundo Azeredo e Souza (2004), é no campo de trabalho que há a necessidade de construir atividades cotidianas competentes, não apenas baseadas em elementos da formação profissional apreendidos pelo assistente social, mas na construção de habilidades e atitudes que possibilitem o levantamento de respostas profissionais. De acordo com a citação, o profissional constrói a competência necessária para a atuação em seu espaço de trabalho. Portanto, o campo de estágio é de suma importância para que o aluno saiba como adquirir essas habilidades e, a partir disso, possa tomar atitudes que, aliadas à sua formação teórica, façam dele um excelente profissional. Apontamos, ainda, outro elemento que não pode deixar de ser contemplando no estágio, os instrumentais técnicos operativos do serviço social. Eles devem ser observados, apreendidos e utilizados pelo aluno durante a realização do estágio supervisionado. Apreendê-los permitirá que você, juntamente com o profissional da instituição de estágio, contextualize e sistematize esses instrumentais junto à realidade social trabalhada. O profissional que o acompanha deve lhe ensinar como realizar uma análise da conjuntura apresentada. A partir desse processo, você saberá como utilizar cada instrumental corretamente e como elegê-los para cada situação trabalhada. O estudante deve ter ciência de que o estágio implica compromisso, e ele é uma oportunidade de vivência das teorias estudas durante o curso. Se realizado de forma comprometida, prepara o 31 Unidade I aluno para uma atuação segura e competente. Para tal, é necessária uma troca de experiências e conhecimentos entre o discente e os profissionais que atuam nos campos de estágio, assim como com o professor que ministra os conteúdos da disciplina. Essa relação deve suscitar as discussões necessárias frente à atuação e às demandas contemporâneas, privilegiando sempre o compromisso, o respeito, a ética e a colaboração dos envolvidos no estágio supervisionado obrigatório do curso de Serviço Social. É importante o entendimento sobre o surgimento do serviço social e alguns aspectos dessa profissão no Brasil para compreender qual o mercado de trabalho do assistente social, o local de atuação profissional e de estágio supervisionado. 2.4 Formação profissional: exigências e perspectivas Em meados da década de 1990, surge a necessidade de reconstruir o projeto de formação profissional do assistente social demarcado transversalmente pelos dilemas da contemporaneidade da sociedade brasileira nos quadros da nova ordem mundial. Para tanto, é preciso que haja uma radical conciliação do projeto formativo com a história e com as tendências contraditórias que dela emanam. É importante apropriar tais tendências atribuindo à formação profissional a densidade de informações relativas à sociedade brasileira, pois isso é requisito preliminar para que se possa dar concretude à direção social que se pretende imprimir àquela reconstrução do projeto, o qual é capaz de se atualizar nos vários momentos conjunturais. Mais ainda: uma qualidade de formação que, sendo culta e atenta ao nosso tempo, seja capaz de antecipar problemáticas concernentes à prática profissional e de fomentar a formulação de propostas profissionais que vislumbrem alternativas de políticas calcadas no protagonismo dos sujeitos sociais, pois se atenta à vida presente e aos seus desdobramentos. É fundamental que haja um projeto de formação profissional que aposte nas lutas sociais e na capacidade dos agentes históricos de construir novos padrões da sociedade para a vida social. Essa construção é processual, realizada na cotidianidade da prática social, e cabe aos agentes sociais detectá-las e delas partilhar, contribuindo, como cidadãos e profissionais, para o seu desenvolvimento. O assistente social é um profissional inserido na divisão sociotécnica do trabalho e, ao longo dos anos, tem atuado diretamente na formulação e na implementação das políticas públicas. Quando da época de sua institucionalização no país, em 1940, o serviço social foi requisitado para operar em instituições assistenciais estatais e nas paraestatais, atuando sob forte influência da Igreja Católica, com a perspectiva de um trabalho voltado para o amor ao próximo, para a justiça e a caridade. O desafio é: como pensar uma formação profissional voltada para o processo de criação do novo na sociedade brasileira? Quais as possibilidades reais, abertas no reverso da crise, isto é, pelas próprias contradições que são com ela potenciadas e escondidas no discurso oficial que as encobre? Essas possibilidades se revelam horizontes para a formulação de contrapropostas profissionais no enfrentamento da questão social e são solidárias com o modo de vida e de trabalho que vivenciam não só como vítimas da exploração e da exclusão social, mas como sujeitos que lutam pela preservação, pela reconquista de uma humanidade e pela construção, na prática, da vida social cotidiana, de seu direito de ter direitos de homens e de cidadãos. 32 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO Para que isso ocorra, deve haver um resgate desse profissional no exercício de sua profissão. Saiba mais A Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9.394) estabelece, em seu artigo 44, que a educação superior abrange: cursos sequenciais por campo de saber, cursos de graduação, de pós-graduação e de extensão. Acesse o site e conheça na íntegra essa lei: <http://portal.mec. gov.br/seed/arquivos/pdf/tvescola/leis/lein9394.pdf>. O assistente social atua nas expressões da questão social, formula e implementa propostas de intervenção para defrontar com habilidade o agenciamento do exercício pleno da cidadania e da inserção criativa e prepositiva dos usuários do Serviço Social no conjunto das relações sociais e no mercado do trabalho. Exerce seu trabalho de forma remunerada em organizações públicas, privadas e em organizações não governamentais com atribuições específicas e regulamentadas por lei. É um profissional graduado no curso superior de Serviço Social e atende às necessidades sociais da população em geral, nas áreas de assistência social, saúde, habitação, educação etc. A atividade profissional atua na perspectiva de assegurar direitos sociais garantidos pela Constituição Federal e visa ao fortalecimento da autonomia e da democracia. Segundo Iamamoto (2001, p. 28): “[...] os assistentes sociais trabalham na condição de decifrar as novas mediações por meio das quais se expressa a questão social [...]”. Hoje, é de fundamental importância nós analisarmos o serviço social em uma dupla probabilidade para que possamos tanto apreender as várias expressões que as desigualdades sociais assumem na atualidade e sua produção e reprodução ampliada, quanto saber como projetar e forjar formas de resistência e de defesa da vida. Outro aspecto é o cenário em que se insere o serviço social atualmente — as novas bases de produção da questão social —, cujas múltiplas expressões são o objeto do trabalho cotidiano do assistente social. A que conclusão podemos chegar a partir da leitura do trecho anterior? Hoje, é necessário repensar a questão social, porque as bases de sua produção sofrem uma profunda transformação com inflexões verificadas no padrão de acumulação, e o profissional do serviço social deve captar as múltiplas formas de pressão social de invenção e de reinvenção da vida construída no cotidiano. Nessa probabilidade, a organização curricular deve superar as fragmentações do processo de ensino e de aprendizagem, acendendo novos caminhos como experiências no decorrer da formação profissional. Esse é nosso próximo assunto: o exercício da profissão. 3 O CAMPO DE ESTÁGIO COMO CAMPO DE APRENDIZADO O campo de estágio não pode se tornar um espaço de tarefas mecânicas de prestação de serviço. Ele é um lugar privilegiado em que o aluno deve se concentrar na reflexão do trabalho do profissional supervisor de campo para apreender a dimensão interventiva e operativa da profissão. 33 Unidade I Oliveira (2004, p. 68) assevera que [...] enquanto atividade curricular obrigatória, o estágio pressupõe o acompanhamento e a orientação profissional por meio do processo de supervisão acadêmica e de campo, configurando um dos princípios que fundamentam a formação profissional e que são preconizados pela ABEPSS: a indissociabilidade entre estágio e supervisão. O estágio supervisionado envolve o acompanhamento de campo e a supervisão acadêmica que são traduzidos nas orientações e conteúdos ministrados pelos docentes. Dessa forma, ele deve ser realizado em conjunto e com interação entre os envolvidos: docente do conteúdo de estágio, supervisor de campo e aluno. O mestre deve contribuir com o estágio por meio das aulas, sejam ou não presenciais. Ele orienta e expõe as diretrizes a serem seguidas pelo aluno estagiário de Serviço Social e também aborda os conteúdos necessários para subsidiar os estudantes no campo de estágio. Nas teleaulas, ainda são ministrados os conteúdos acerca dos instrumentais e elementos a serem utilizados na construção do relatório final ao término das etapas do estágio supervisionado, bem como a elaboração e execução do projeto de intervenção que o aluno deve implementar ao final do estágio supervisionado. O supervisor de campo deve contribuir com o aluno na discussão e na reflexão das problemáticas apresentadas no cotidiano da ação profissional. Portanto, o estagiário não pode ser considerado apenas como um cumpridor de tarefas, mas como um futuro profissional que precisa desenvolver habilidades para a prática exercida na realidade concreta. Sendo um futuro profissional, o discente deve ser capaz de analisar situações práticas e contribuir com soluções possíveis baseadas em sua fundamentação teórica e em concordância com o projeto ético-político da profissão. A relação que deve ser construída no estágio entre os envolvidos necessita estar alicerçada em respeito e contribuição com o campo de estágio. Segundo Oliveira (2004): “[...] o desafio é ‘abandonar’ a concepção de estágio voltada somente para a informação teórica e a prestação de serviços por meio do exercício profissional [...]”. O que nos leva a pontuar que o estágio obrigatório é um privilégio para a construção da identidade profissional do aluno. Então, o estudante precisa encarar o estágio como uma importante etapa da sua formação profissional, em que se pode construir um perfil profissional de forma comprometida com as respostas às demandas sociais apresentadas, exercitando a reflexão crítica e apreendendo as alterações contemporâneas no mundo do trabalho. Deve, também, compreender as relações sociais construídas entre os profissionais, tanto com as instituições quanto com os usuários do serviço social. Daí a importância fundamental do comprometimento do estudante em realizar seu estágio obrigatório, já que esse é um espaço de articulação e encontro do conhecimento adquirido na universidade com sua realidade na profissão. 34 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO 3.1 O estágio supervisionado nas instituições e os sujeitos envolvidos no estágio As instituições que atendem às demandas sociais foram fundadas por causa da necessidade de resolução dos problemas apresentados pelo sistema capitalista. Souza (1982, p. 42) assevera que: “[...] conforme foi dito, as instituições surgem sempre a partir de determinadas demandas [...]”. Essa perspectiva nos aponta que o trabalho do assistente social, desde sua gênese, sempre teve sua atuação ligada às instituições como uma forma de respostas aos problemas sociais apresentados pela população às classes sociais dominantes. Sobre esse assunto, Brant (1981, p. 24) afirma que O Serviço Social se coloca como instrumento institucional e constituído pelo aparato Estatal para a oferta de certos bens e serviços que visam garantir condições mínimas de subsistência. Concretamente, presta ou indica serviços e propicia bens em nível de satisfação de necessidade de abrigo, alimentação, saúde, emprego etc. O que a autora diz é que o profissional dessa categoria tem o seu trabalho intrinsecamente ligado às políticas oferecidas à população nas instituições, uma vez que tais órgãos viabilizam o exercício profissional do assistente social. As instituições públicas, privadas ou não governamentais são locais de trabalho do assistente social e campo de estágio para os alunos do Serviço Social. As instituições têm procedimentos normativos e estruturais, podendo ser consideradas como elos de mediação entre o Estado e a sociedade civil. Elas são responsáveis pela organização do tecido social construído pelas classes dominantes para atuar em conjunto à sociedade civil, desenvolvendo controle e atendimento da população. É no interior das instituições que o assistente social estabelece sua estratégia de atuação. Esse planejamento é elaborado de acordo com as rotinas e as normativas implementadas pela instituição. Dessa forma, o profissional que atua nesses órgãos deve estar atento para a contradição que esse cenário apresenta, pois o trabalho institucional tem um duplo sentido: reafirmar o controle, as normas em relação à população, servir aos interesses das classes dominantes e, ao mesmo tempo, reafirmar as mudanças estabelecidas no Movimento de Reconceituação que estabelecem a primazia e a efetivação dos direitos e da participação das classes minoritárias. Essa contradição também está presente nas instituições privadas e nas organizações não governamentais, uma vez que, na maioria das vezes, são reconhecidas pelo poder público e estão atreladas aos interesses hegemônicos e à direção dos processos sociais das classes dominantes. Nas instituições em que a práxis do serviço social se desenvolve são estabelecidos procedimentos burocráticos e rotineiros que normalmente são rígidos e estabelecem critérios de atendimento e inserção dos usuários nos programas e nos projetos implementados. Contudo, essa forma celetista de atuação 35 Unidade I dentro das instituições públicas ou privadas deve ser desmistificada pelos profissionais, refletida e discutida com os estagiários. Se, por um lado, o assistente social luta pela universalidade dos serviços sociais, por outro, na prática, em função dos procedimentos institucionais, é pressionado a selecionar os usuários devido à demanda ser maior do que os serviços sociais oferecidos pelo Estado. Tal dilema contraditório traz conflito contínuo para o assistente social, pois, além do trabalho burocrático nas instituições, há normas e critérios de inserção dos usuários que levam o profissional a fazer uso da triagem para inserção daqueles que se apresentam em uma situação de maior vulnerabilidade do que os demais. Isso ocorre mesmo tendo ciência de que todos realmente precisam dos serviços sociais e que almejamos uma atuação voltada para a universalização dos direitos sociais. Essa correlação de forças presente no cotidiano institucional deve ser mostrada ao estagiário por meio de discussões para que ele possa apreender que, no trabalho institucional, o assistente social tem uma autonomia relativa. O profissional escolhe os instrumentais e as estratégias para sanar as demandas apresentadas, mas deve se atentar para as normas, as regras e os procedimentos que cada instituição segue em seu funcionamento para atuar nas instituições de forma a criar espaços de universalização da política. Mesmo diante da burocracia, o assistente social deve informar os usuários sobre seus direitos sociais e suscitar sua participação na busca de sua efetivação. Souza (1981, p. 52) assevera que Política social e a burocracia caminham juntas, portanto, enquanto conteúdo definidor das ações das organizações, as ações profissionais, ao operar as diretrizes e normas da política social, redefine-as de acordo com o saber profissional e o posicionamento social assumido por esse saber. Quanto mais frágil for esse saber, mais tende a encontrar nas diretrizes e normas das organizações a sua própria verdade. Assim, as exigências da política social passam a ser exigências da profissão que têm na burocracia um sistema de conduta própria a ser seguido. A política social fornece os elementos a serem perseguidos pela ação profissional; o sistema de conduta próprio das exigências burocráticas provê os elementos metodológicos da ação. O que a autora nos aponta é que, quanto maior o saber profissional, maior será a capacidade de ação e atuação profissional do assistente social inserido nas instituições e na política social. Portanto, a observação, a análise, a discussão e a apreensão do exercício profissional que o estágio nas instituições propicia ao aluno do Serviço Social são de fundamental importância para a construção de sua formação e identidade profissional. O serviço social como profissão liberal se configura no âmbito das Ciências Sociais Aplicadas, o que remete o profissional desse curso às abstrações oriundas das diversas ramificações do conhecimento para respaldar sua práxis. E, como já pontuamos, esse conhecimento é que vai orientar o fazer 36 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO profissional do assistente social. Estar munido com esses conhecimentos teórico-metodológicos e técnico-operativos e ter clareza do projeto ético-político da profissão orientará esse profissional em uma atuação comprometida com a qualidade no atendimento que é prestado à população usuária dos serviços sociais. O aluno de Serviço Social que vai para o campo de estágio deve estar atento para os conhecimentos que o profissional utiliza para criar as estratégias no exercício de seu trabalho. Isso se deve ao fato de que é exatamente essa questão que vai fazer a diferença na atuação, porque a prática do Serviço Social só pode ser desenvolvida por alguém devidamente qualificado para esse fim. Para conhecer as instituições e o trabalho que elas desenvolvem e apreender a correlação de forças existentes nesses espaços sócio-ocupacionais, o estagiário precisa fazer o que denominamos de diagnóstico institucional. Essa é uma regra preliminar para se conhecerem os espaços institucionais, sejam eles de primeiro, segundo ou terceiro setor. Esse processo consiste em conhecer o organograma da instituição, seus objetivos e funcionamento, as leis que a regulam, para que serve a instituição, quais são suas normas e princípios, como se define sua direção, em que setor está inserido o serviço social, qual a função do profissional nesse órgão, a hierarquia e a política interna da instituição. Esse conhecimento deve ter uma conotação crítica e reflexiva. A apreensão da totalidade da instituição é uma das atividades importantes que o estagiário realiza no campo de estágio. Vimos que as instituições são espaços burocráticos e que exercem um controle social da população usuária dos serviços oferecidos por meio das políticas sociais. Os padrões estabelecidos nas instituições são de hierarquia e autoridade e impõem à população usuária uma distância em relação à participação e à discussão acerca de seus problemas e necessidades. Esse fato conduz os sujeitos a um processo acrítico sobre sua própria condição e sobre a resolução de seus problemas e possibilidades de respostas concretas às demandas sociais. Diante desse cenário, o assistente social se constitui como profissional com conhecimentos especializados capazes de desencadear nos sujeitos um processo de conhecimento de sua própria consciência crítica e força de organização. Esse processo visa a suscitar discussão e participação dos sujeitos em defesa de seus interesses e direitos adquiridos. Atuar nessa perspectiva é andar na contramão de exercer uma função apenas burocrática e de controle social e subsidiária da inércia institucional, o que causa a insatisfação na população atendida pelo assistente social. Como mudar esse cenário? Veja a possibilidade de mudança no próximo item. 3.2 As instituições como espaço de participação As instituições possuem um processo controlador, e cabe ao assistente social fazer frente a ele, pois tais órgãos usam esse profissional para o disciplinamento da população perante suas exigências funcionais com o intuito de manter a ordem social. E o estágio supervisionado precisa expor ao 37 Unidade I aluno esses aspectos próprios do trabalho institucional para que a reflexão acerca dessa prática possa desenvolver uma criticidade e o combate à imparcialidade sobre os interesses reais do controle social desenvolvido nas instituições. Trabalhar a participação dos sujeitos perante às instituições supõe a suspensão de uma prática tradicional voltada apenas para procedimentos rotineiros burocráticos, como preenchimento de fichas, encaminhamentos, triagem e entrevistas que se findam em perguntas de formulários fechados. Isso significa buscar a discussão sobre os problemas e as suas causas reais com a própria população. O profissional deve fazê-los buscar quais as possíveis soluções e como as instituições contribuem para isso, e, se não contribuem, como isso poderá ser feito. Souza (1981, p. 117) nos ensina que Acontece que o incentivo à população para as atividades necessárias, ao não levá-la a uma reflexão sobre seus efeitos reais nos seus problemas de participação e sobre as atitudes a assumir a sua frente, faz que os resultados de tais atividades se tornem apenas um artifício deslocador das soluções requeridas. Podemos entender, por meio das palavras da autora, que a população precisa estar ciente de sua participação, suas atitudes, suas ações, as consequências que a força de sua ação provoca e o poder de mobilização que ela desencadeia. O profissional de Serviço Social tem o conhecimento especializado para trabalhar com a população dessa maneira dentro dos espaços institucionais. Ele deve se comprometer com a formação profissional de novos assistentes socais e fazer que as instituições e os campos de estágio de aprendizagem sejam favoráveis para o desenvolvimento da criticidade e da participação popular consciente e refletida. Buriolla (2003, p. 16) destaca que Assim, a formação profissional em Serviço Social pode ser entendida como um conjunto de experiências que incluem a transmissão de conhecimentos, a possibilidade de oferecer ao aluno um campo de ação e a vivência de situação concreta relacionada à revisão e ao questionamento de seus conhecimentos, habilidades, valores etc. Dessa maneira, segundo a autora, podemos considerar o estágio um espaço privilegiado de aprendizado para o aluno de Serviço Social. O trabalho do assistente social nas instituições representa contradição e luta de forças, pois esses órgãos representam a gestão do capital e da classe hegemônica sobre a vida da população que apresenta as demandas a eles. Tais estabelecimentos também funcionam como mecanismos dos dominantes para conter as reivindicações e os conflitos que ameaçam a ordem social, e a atuação profissional do assistente social representa a luta pela efetivação do direito de forma universal e abrangente. A empreitada pela busca de efetivação para sanar os problemas como, educação, habitação, saúde e 38 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO serviços sociais causa impacto nas instituições e nas políticas e programas sociais que se desenvolvem nesses locais. Saiba mais Para saber mais sobre como atuar fazendo a mediação necessária e política entre instituição, população e poder, leia a obra Saber profissional e poder institucional, de Vicente Faleiros, editora Cortez, 1985. Para ser desenvolvido, o estágio supervisionado obrigatório do Serviço Social deve contar com envolvimento de alguns sujeitos e também das instituições em que ocorre. 3.3 Os sujeitos envolvidos no estágio Para a efetivação do estágio, é necessária a assinatura de convênios entre instituições públicas, privadas e não governamentais que oferecem estágio e a universidade que oferece o curso de Serviço Social. Além disso, é preciso que exista a figura dos seguintes sujeitos: estagiário, supervisor acadêmico e supervisor de campo, além das pessoas atendidas pelas instituições (usuários das políticas sociais, funcionários das empresas privadas, indivíduos atendidos pelas organizações não governamentais), ou seja, o público-alvo atendido pelos assistentes sociais que atuam inseridos nas instituições. Discutiremos a seguir o papel do estagiário, do supervisor acadêmico e do supervisor de campo. a) o estagiário O estagiário é o aluno do curso de Serviço Social que já cumpriu, de acordo com as determinações da unidade de ensino em que estuda, os requisitos básicos para se inserir em um espaço ocupacional de estágio. Apontamos que o estudante deve estar munido previamente do cabedal de conhecimentos que adquiriu nos períodos de formação acadêmica nos aspectos teórico-metodológicos, ético-políticos e técnico-operativos. Durante o estágio, o aluno utilizará seus conhecimentos para fazer o exercício teórico-prático, ou seja, apreender a práxis profissional, observar e participar ativamente das estratégias e ações que são desenvolvidas pelo supervisor de campo. Sendo um futuro profissional, o discente deve ser capaz de analisar as situações práticas e de contribuir com soluções baseadas em seus conhecimentos e em consonância com o projeto éticopolítico do curso. Dessa forma, a relação construída entre os envolvidos no estágio deve estar alicerçada em respeito e deve contribuir com a instituição do campo de estágio. Oliveira (2004, p. 26) acredita que o “[...] desafio é ‘abandonar’ a concepção de estágio voltada somente para a informação teórica e a prestação de serviços por meio do exercício profissional”. O que 39 Unidade I nos leva a pontuar que o estágio obrigatório é um local privilegiado para a construção da identidade profissional do aluno. Então, é necessário ao estudante destacar o estágio como uma importante etapa de sua formação profissional. Nesse momento, ele pode construir um perfil profissional de forma comprometida com as respostas às demandas sociais apresentadas, exercitar a reflexão crítica e apreender as alterações contemporâneas no mundo do trabalho. Também deve compreender as relações sociais construídas entre os profissionais, tanto com as instituições quanto com os usuários do serviço social. Daí a importância fundamental do comprometimento do discente em realizar seu estágio obrigatório, já que esse espaço articula o encontro do conhecimento adquirido na universidade com a realidade profissional concreta. No estágio supervisionado há ainda o orientador, um assistente social que insere o aluno no campo de estágio, realiza reuniões e o auxilia na elaboração dos relatórios do projeto de intervenção e dos relatórios finais. b) o supervisor acadêmico O supervisor acadêmico é um orientador do aluno, ele é vinculado à universidade e atua conforme o projeto pedagógico do curso de Serviço Social. Esse profissional tem a responsabilidade de discutir e refletir com o estudante acerca da atuação profissional apreendida pelo discente no campo de estágio, suscitando a ética e as escolhas políticas da categoria do curso. Os docentes orientadores de estágio e os supervisores acadêmicos são responsáveis por exercitar no aluno a reflexão acerca dos conhecimentos teóricos repassados no curso e ser a ponte entre essa teoria e o exercício profissional do campo de estágio que o estudante está inserido. Concluímos que a relação entre os sujeitos envolvidos no estágio (professor orientador, supervisor acadêmico, supervisor de campo e aluno) contribui para uma formação integrada, o que permite que o estudante supere a dicotomia entre a teoria e a prática. O discente adquire o embasamento acerca da realidade social expressa na conjuntura contemporânea por meio de teorias e dos conteúdos que são trabalhados pelos docentes na universidade. E, para que esses conhecimentos sejam relacionados com a prática e subsidiem o profissional na construção de estratégias objetivando sanar os problemas sociais apresentados pelos usuários do Serviço Social, é necessária a interação entre todos os envolvidos no estágio. Além disso, essa relação deve possibilitar a reflexão, a discussão necessária e privilegiar a intrínseca relação da teoria com a prática. c) o supervisor de campo O profissional que atua nas instituições se configura no estágio como o supervisor de campo. Esse profissional é responsável por demonstrar a prática profissional ao estagiário. Essa relação deve ser construída visando à criação de uma base de respeito e compromisso em sua sustentação, pois, equivocadamente, ainda se concebe o estágio como um momento de observação e crítica ao profissional. 40 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO Podemos apontar que muitos profissionais ainda resistem em receber estagiários, isso porque sua atuação profissional passará pelo crivo do aluno. Este, por sua vez, chega ao local cheio de ideias, expectativas e ansiedade, querendo colocar em prática tudo aquilo que apreendeu em sala de aula. Essa abordagem do estágio de colocar a atuação do profissional em cheque deve ser suprimida tanto do meio acadêmico quanto do âmbito profissional. Agir de forma a constranger o profissional é enxergar o momento de estágio de forma reducionista e focalista, demonstrando as contradições de forças do mundo burguês e das transformações cotidianas que se aprendeu durante o curso de Serviço Social. Para não julgar o profissional incorretamente e criar uma postura crítica pejorativa durante o estágio, o estagiário deve, durante a realização do diagnóstico institucional, fazer uma leitura de toda a sistemática que envolve a prática profissional do supervisor de estágio, como: o profissional é reconhecido pelos gestores ou a chefia da instituição? Há respaldo e condições dignas de trabalho? Na instituição, o assistente social supervisor de estágio tem abertura para propor e executar seus projetos? É de suma importância conhecer os condicionantes internos e externos que fazem que a atuação profissional possa ser desenvolvida positivamente. O estagiário não pode deixar de vivenciar o processo de ensino e aprendizagem e a aproximação com o fazer cotidiano profissional do assistente social. Isso poderia resultar em correr o risco de cair no criticismo sobre o profissional e suas ações. É nessa aproximação do cotidiano profissional que o acadêmico vai apreender o “fazer profissional”, a prática rotineira, as limitações, os empecilhos burocráticos e talvez compreender a impossibilidade de atender a todos os usuários de seus serviços. Esse deve ser o momento de conhecer os avanços e os recuos, a sistemática de trabalho, o planejamento, a execução e a avaliação de seu trabalho, a linha teórica que o profissional segue, a postura, o embasamento teórico-metodológico, ético-político e técnico-operativo para que o estágio se torne um espaço de efetivação de reflexão e aprendizagem acerca da profissão. Oliveira (2004, p. 69) afirma que Quanto ao profissional – supervisor de campo – é conferida a ele a responsabilidade pelo “ensino da prática”, sendo a supervisão, na maioria das vezes, exercida sem sistematização e de forma intuitiva, e ela é agravada pela falta de capacidade continuada dos profissionais. Segundo a autora, a supervisão deve ser compromissada e o profissional que recebe o aluno no campo deve se atualizar e acompanhar sua formação profissional. 3.4 A análise do papel dos envolvidos no estágio O estágio supervisionado do curso de Serviço Social é obrigatório e deve ser realizado com supervisão de um profissional assistente social. O acadêmico deve também receber instruções de um professor orientador de estágio que lhe esclareça como apreender a prática exercida pelo assistente social inserido 41 Unidade I no campo de atuação. Para realizar o estágio obrigatório, o aluno deve ser encaminhado pela universidade ao campo de estágio. Os campos de estágio devem, obrigatoriamente, conter em seu quadro funcional ao menos um assistente social. É importante saber que o estágio não poderá ser validado se o estagiário não for acompanhado por um profissional do Serviço Social. Buriolla (2003, p. 25) assevera que “[...] o estágio prático é essencial à formação do aluno de Serviço Social, pois lhe propicia um momento específico de sua aprendizagem e a situação efetiva de treinamento profissional”. Para que o estágio contribua com o aprendizado do aluno e possa subsidiá-lo para o exercício profissional, é necessário que haja o envolvimento e o comprometimento dos supervisores de estágio, os colaboradores de campo, o aluno e as instituições que abriram seus espaços sócio-ocupacionais para que esse processo seja realizado. A seguir, veremos o papel dos sujeitos envolvidos nesse processo. 3.5 O papel dos sujeitos envolvidos no estágio supervisionado do serviço social A relação entre os envolvidos no estágio é importante para que seja efetivo e promova reflexão e discussão da prática profissional. O estágio deve ser compreendido pelos envolvidos baseando-se na superação do desafio que ele acarreta para os participantes. Os alunos devem superar o estigma de o estágio ser confundido com um emprego de meio período; os assistentes sociais supervisores de campo, superar a marca de que os estudantes fazem parte do quadro funcional da instituição. Esse engano acaba direcionando os estagiários a funções administrativas ou burocráticas e até mesmo a atividades que não são relacionadas com seu curso. O supervisor de campo também recebe um desafio quando lhe é conferida a tarefa de repassar ao aluno o ensino da prática, pois esse profissional corre o risco de não sistematizar essa atividade, o que implica uma supervisão aleatória e descompromissada. Dessa forma, podemos constatar que é necessária a construção de uma comunicação entre as partes envolvidas no estágio, assim o discente poderá se orientar para a apreensão do exercício profissional de forma articulada, destacando a relação entre a teoria e a prática profissional. Nessa perspectiva, o estágio é parte integrante do processo de educação do aluno de Serviço Social, pois esse processo propicia inúmeros elementos que compõem a dimensão pedagógica da formação profissional. Entre esses elementos, podemos considerar: a pesquisa, julgando que o aluno conhece a realidade, analisa criticamente o exercício profissional e, para reforçar a interação entre os envolvidos no estágio, são realizadas discussões que ativam a reflexão teórica sobre as alternativas para o serviço social. Podemos considerar também o aprendizado e o domínio dos 42 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO conhecimentos dos instrumentais técnico-operativos na efetivação de estratégias de ação do assistente social. O estágio, então, é encarado como um espaço privilegiado de aprendizado para o estudante. Essa etapa do aprendizado precisa ser compreendida como um espaço importante de formação do acadêmico, sendo fulcral o envolvimento de todos os participantes para que esse processo se torne uma dimensão inovadora. O campo de estágio é o local apropriado para o aluno aproximar e relacionar o cotidiano do fazer profissional com o conteúdo teórico-metodológico aprendido nas aulas, considerando os elementos presentes e passados da conjuntura histórica da realidade social. Esse envolvimento configura-se uma oportunidade que se traduz em uma forma de tornar o estágio um campo revolucionário, de liberdade, de diálogo, de crescimento e de transgressão da atuação profissional conservadora, que coloca o aluno em aproximação aos usuários para o direcionamento da defesa dos direitos sociais. 4 ESTÁGIO SUPERVISIONADO: PLANO DE ESTÁGIO, OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE E DIÁRIO DE CAMPO 4.1 O estágio supervisionado e o plano de estágio Podemos entender o plano de estágio como um planejamento elaborado no campo de estágio pelo aluno e seu orientador. E isso deve ser realizado em conjunto pelos envolvidos no campo de estágio, como estabelece a resolução do Conselho Federal de Serviço Social n.º 533/08, publicada em 1º de novembro de 2008: Parágrafo 2º. A atividade do estagiário sem o cumprimento do requisito previsto poderá se caracterizar como exercício ilegal da profissão regulamentada, conforme previsto no artigo 47 da Lei de Contravenções Penais e, mediante representação a esta lei ou ao Ministério Público, ela será apurada pela autoridade policial competente. Art. 6º. Ao supervisor de campo cabe a inserção, acompanhamento, orientação e avaliação do estudante de estágio conforme o plano de estágio. Esse documento ajuda a direcionar as atividades do estagiário, pois permite o acompanhamento de suas tarefas e possibilita, em tempo hábil, as correções necessárias para atingir os objetivos do aluno e as necessidades da organização que serve de campo de estágio. Ele não deve ser considerado como um projeto de ação rígido e impositivo, mas deve ser dotado de flexibilidade para melhor se adequar às contingências das situações encontradas na vivência das organizações. O plano de estágio deve possuir alguns itens, como: • apresentação: finalidade, importância, justificativa e conteúdo; • dados do estagiário: nome, curso, período, matrícula e endereço completo; 43 Unidade I • dados dos orientadores: nome, instituição, formação profissional e titulação; • temática para estudo: descrição sucinta do que pretende analisar relacionado à política em que você está inserido; • problema: descrição da questão, evolução, situação atual, dificuldades teóricas e práticas estimadas; • suporte teórico: indicação e comentários de obras e autores que vão dar embasamento ao estudo; • metodologia de trabalho: descrição dos métodos e das técnicas a serem utilizados no desenvolvimento do trabalho; • resultados esperados: soluções práticas e viáveis que o estudo poderá indicar; • histórico da organização: informações sobre a fundação, contexto, motivos etc.; • missão da organização: razão de ser da empresa/organização e finalidades sociais e/ou econômicas; • estrutura de funcionamento da organização: estrutura organizacional, organograma, número de empregados etc.; • atividades a desenvolver: tipos de atividades práticas que espera desenvolver na empresa/ organização, além daquelas relativas à elaboração do trabalho teórico. • cronograma: distribuição das etapas pelo tempo de estágio. À supervisão de campo se atribuem a reflexão, o acompanhamento, os estudos e a sistematização das atividades desenvolvidas pelo estagiário com base no plano de estágio, o qual deverá ser acompanhado pela instituição no âmbito da disciplina de Supervisão Acadêmica e Coordenação de Estágios. O plano de estágio é um instrumento que deve conter indicativos do horizonte profissional e da formação do estagiário que favoreçam a sistematicidade das ações do processo de ensino-aprendizagem, além de permitir reflexões das diversificadas conjunturas que comportam o serviço social nos espaços sócio-ocupacionais. Em suma, podemos dizer que seu objetivo principal consiste em planejar, organizar e orientar o acompanhamento, a supervisão e a avaliação das atividades a serem desenvolvidas no estágio. Tal documento será elaborado a cada início de semestre/ano letivo. Uma das premissas para a qualificação do plano de estágio, portanto, é: [...] um instrumento que permite a transparência sobre atribuições, funções e responsabilidades, resultando no contrato de ações facilitadoras para a formação de novos profissionais. Portanto, considera-se o Plano de Estágio como “orientador” do processo de aprendizagem profissional nas relações entre determinada tarefa do Serviço Social na organização e o Projeto Pedagógico do Curso de Serviço Social (DIRETRIZES DE ESTÁGIO-FACULDADE DE SERVIÇO SOCIAL-PUC/SP). 44 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO Como pode ser observado na citação anterior, o plano de estágio é um instrumento fundamental no processo de supervisão do estágio, bem como na formação profissional, e está em consonância com o que estabelece o Artigo 4º da Resolução CFESS n.º 533, de 29 de setembro de 2008. Em outras palavras, podemos observar que antes mesmo de iniciar a supervisão de estágio, o estudante deverá elaborar seu plano de estágio, uma vez que esse instrumento norteará sua pesquisa, suas reflexões e a execução das atividades sobre o estágio, pois, sem isso, muito se perde ou não se focaliza. Para melhor subsidiar você a elaborar o plano de estágio, vamos conhecer o que é planejamento e como e por que ele contribui para o fazer profissional na prática e no campo de estágio. Cabe ressaltar que não existe um modelo pronto para a elaboração desse documento. No entanto, alguns elementos devem ser contemplados. Nesse sentido, tenha em mente as grandes linhas — as colunas mestras do seu estágio — e faça o seu plano de estágio. A seguir, apresentamos uma sugestão de roteiro que poderá ser utilizado para essa elaboração: 1. Página de rosto: capa de identificação que deve conter os seguintes dizeres na respectiva ordem: • nome da universidade; • nome do curso; • nome da disciplina; • título do trabalho; • nome do aluno; matrícula; login; • nome do supervisor regional; • nome do supervisor de campo; • mês e ano. 2. Objetivos do plano a) Planejar e organizar as atividades a serem desenvolvidas no estágio. b) Orientar o acompanhamento, a supervisão e a avaliação do estágio e do estagiário. 3. Informações gerais sobre o estágio a) Dados da Instituição • Nome. • Endereço. • Cidade/UF. • Telefone e endereço eletrônico. 45 Unidade I b) Dados do estagiário • Nome completo. • Período em que estuda. • Endereço eletrônico. c) Dados do supervisor de estágio • Nome completo do supervisor regional. • Órgão profissional (identificação e registro). • Nome completo do supervisor de campo. • Órgão profissional (identificação e registro). d) Campo de estágio (área/espaço sócio-ocupacional em que será desenvolvido o estágio) • Vigência do estágio: ____/____2011 a ____/___/2011. • Carga horária diária. 4. Atividades a serem desenvolvidas no estágio • Atividades (ações a serem desenvolvidas para atingir os objetivos propostos). • Procedimentos (Como? Qual caminho? O que fazer? Onde procurar? Exemplo: registro fotográfico, observação, entrevistas, entrevista domiciliar etc.). 5. Referências bibliográficas (todas as fontes de pesquisa deverão estar relacionadas e devem seguir as normas da ABNT) 6. Avaliação E, por fim, coloque a data, assinatura e carimbo dos supervisores regional e de campo e a do estagiário. 4.2 Relatório Antes de você compreender como construir o relatório parcial do estágio supervisionado, vamos entender o que é relatório e quais os elementos que compõem sua elaboração. Esse documento consiste em uma apresentação escrita dos acontecimentos e das atividades que ocorrem no estágio. Trata-se de um instrumento técnico-científico que exige um conhecimento metodológico e o resultado de sua organização deve expressar seu aprendizado no campo de estágio, partindo da formulação do seu plano de estágio e de sua análise institucional. Dessa forma, podemos pontuar que o relatório deve incluir um relato técnico de forma objetiva e reflexiva sobre suas atividades desenvolvidas em campo de estágio, as experiências vividas, destacando os objetivos propostos e os resultados alcançados. 46 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO Segundo Carvalho (2008), o hábito de registrar e documentar a prática profissional nem sempre é tarefa fácil, o que requer do estagiário e do supervisor de campo a compreensão de sua importância. A elaboração de ideias sobre a realidade das atividades desenvolvidas, tais como documentos, resultados obtidos, dificuldades encontradas e estratégias adotadas constitui uma tarefa que exige cuidado, leitura e reflexão sobre a prática vivenciada no campo de estágio. Lembre-se de que, por mais difícil que seja sistematizar as ideias, o relatório jamais pode ser interpretado como uma perda de tempo. Na verdade, esse registro da prática sob a ótica da reflexão e a leitura dos autores que versam sobre o serviço social é que fará você avançar na produção de novos conhecimentos e alicerçar sua futura prática como profissional. Agora, vamos aprender como construir o relatório parcial fundamentado, avaliação exigida como pré-requisito para avaliar a disciplina de Estágio Supervisionado. 4.2.1 Relatório parcial de estágio No Estágio Supervisionado, o aluno formula algumas atividades. Já destacamos para você como fazer o plano de estágio e a análise institucional. Agora, aprendamos a construção do relatório parcial de estágio. Segundo Czapski e Tavares (2007), o relatório fundamentado configura-se como a apresentação descritiva e interpretativa de uma situação ou como o registro das situações vivenciadas pelo estagiário em seu campo de estágio. O relatório parcial deve ser construído pelos alunos de Serviço Social com a finalidade de explanar suas percepções sobre os três agentes envolvidos no campo de estágio: a instituição, o profissional e os usuários das políticas públicas ou sociais que são implementadas como respostas às demandas coletivas. Sistematizar esses dados tem por objetivo registrar suas apreensões acerca da política desenvolvida em seu campo de estágio, bem como as relações desenvolvidas com seu supervisor de campo e com os usuários e, ainda, os fatos vivenciados e os acontecimentos relatados que devem ser uma retratação fiel da realidade observada. O relatório, para ser construído de forma fundamentada, deve ser respaldado pela luz de uma teoria, o que, segundo asseveram Czapski e Tavares (2007), implica dizer que as apreensões do aluno devem sempre ser confirmadas por algum autor que tenha publicado algo relacionado ao que eles perceberam ou apreenderam no campo de estágio. Para tal, os discentes podem utilizar artigos, livros, revistas e periódicos que tenham assuntos pertinentes às discussões que eles apontam em seu relatório fundamentado. O relatório deve conter o que os estudantes apreenderam do posicionamento ético-político observado no estágio e como o exercício profissional foi desenvolvido na política pública ou social constatada. É importante pontuar todas essas apreensões e relacioná-las com as teorias publicadas sobre o assunto. Se os discentes tiverem críticas construtivas em relação ao campo de estágio, é importante que elas tenham o sentido de fazer uma reflexão de sua futura prática de atuação. Em 47 Unidade I seu relatório fundamentado, sugestões propositivas acerca de resoluções das demandas apresentadas são requisitadas. Os estudantes também devem pontuar aquilo que apreenderam da vivência cultural e social, bem como sobre a política desenvolvida no campo de estágio, ressaltando se isso realmente implementa os direitos sociais conquistados e que estão registrados nas legislações, tais como: Constituição Federal do Brasil, Estatuto do Idoso, Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei Orgânica da Assistência Social, Estatuto da Pessoa Portadora de Deficiência, entre outras. Na introdução do relatório, é preciso destacar alguns itens, como: um breve histórico da instituição de campo de estágio; uma introdução acerca da política pública ou social em que o aluno está inserido; uma interligação com as políticas para estágios em campos diferenciados; e as políticas descritas com as legislações pertinentes e a fundamentação com artigos das leis. No desenvolvimento, o estagiário deve pontuar alguns tópicos, como: demandas detectadas no campo de estágio; intervenções implementadas pelos profissionais de Serviço Social; as atividades relevantes desenvolvidas pelos alunos junto ao assistente social do campo de estágio; os aspectos éticopolíticos observados; a relação teoria e prática observada no campo de estágio; e o compromisso e o respeito dispensado com o usuário da política em questão. Nas considerações finais do relatório devem constar: as percepções e apreensões do campo de estágio e da política pública ou social; a assimilação de uma demanda relevante apresentada nesse campo; e a indicação de uma possível resolução da demanda detectada. Por fim, ressaltamos que você deve estar atento para as teleaulas, momento em que os professores da disciplina fazem as orientações para a formulação de seu relatório final e ainda como realizar sua inserção na ferramenta de estágio disponibilizada no portal da universidade. As teleaulas são muito importantes, pois nelas também são discutidas as orientações para a construção do seu projeto de intervenção. É preciso ressaltar que você deve estar alerta para as orientações que foram feitas pelos supervisores de campo, o que esses profissionais apontaram como importante na prática profissional e suas contribuições para a construção do seu relatório fundamentado. O relatório fundamentado é o instrumento utilizado pelos alunos para apresentar aos professores supervisores de estágio seus aprendizados durante a formação profissional em Serviço Social e a forma que você tem para relacionar a teoria com a prática, fazendo reflexão e uma ponte entre a prática profissional e a Universidade. Contudo, é importante que você tenha compreendido as legislações que regulamentam o estágio supervisionado do curso de Serviço Social e também como as determinações apontadas em Lei o sistematizam e o que é importante para as partes envolvidas no estágio cumprir. Por fim, é fundamental saber o que é relatório e como construí-lo, pois ele possibilita o registro dos acontecimentos, das atividades e apreensões vividas em campo de estágio e isso fará de você um estudante atento e envolvido com a disciplina em questão. 48 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO 4.3 O planejamento, a prática profissional e o estágio supervisionado O serviço social é, de acordo com Iamamoto (2001), uma especialização do trabalho coletivo dentro da divisão social e técnica do trabalho. Portanto, é uma profissão que atua diretamente com a produção e a reprodução das relações sociais nas sociedades modernas capitalistas. O serviço social absorve os redimensionamentos e as alterações nas condições do mercado de trabalho, como o aumento das exigências e da qualificação para a categoria, bem como a flexibilização dos direitos trabalhistas e contratos terceirizados entre os que estão presentes na atuação profissional dos assistentes sociais supervisores de estágio. Diante de tantas mudanças, é imprescindível aos assistentes sociais criar estratégias de ação e planejamento de suas atividades para garantir a efetividade de seu trabalho. Elas afetam os serviços sociais, a atuação dos profissionais em diversos setores nas instituições concedentes de estágio e também geram o aumento das expressões da questão social. As mudanças contemporâneas, a alta complexidade dos problemas sociais, a redução das políticas públicas e, ao mesmo tempo, o aumento das demandas impostas ao Serviço Social, requerem que o assistente social constitua um planejamento para a sua intervenção profissional. Elaborar um planejamento na execução do fazer profissional auxilia as atividades, pois, segundo Barbosa (1980), planejamento é racionalidade, pressupõe sequência no tempo e não se manifesta em um dado momento, mas se realiza continuadamente ao longo da história atravessando diversos estágios. Portanto, apontamos que o planejamento pode facilitar a operacionalização das atividades no exercício profissional e também auxiliar o assistente social na elaboração de projetos. Esse cuidado possibilita utilizar melhor o tempo e os recursos de forma mais organizada e sistematizada, pois, assim como na vida profissional, o planejamento também instrumentaliza o estagiário para o planejamento de suas atividades. A utilização do planejamento no serviço social permite ao profissional lançar mão dos instrumentos técnico-operativos de forma correta e precisa para que possa construir o parecer social, a perícia, os laudos, organizar a documentação dos usuários do estudo social e dos relatórios e planejar os plantões sociais. Isso possibilitaria ao estagiário maior compreensão do exercício profissional e da utilização da teoria na prática. Segundo Schuh (2006), o planejamento é um instrumento imperativo na organização das ações desenvolvidas pelos assistentes sociais atualmente. É uma ferramenta administrativa que pode e deve ser utilizada pelo serviço social para elaborar respostas, pois é um exercício de racionalidade para a prospecção do futuro. Assim como o plano de estágio, o planejamento é um processo flexível e dinâmico que deve ser sempre revisto. Dessa forma, é possível realizar adequações visando à implantação e à avaliação das atividades profissionais. No mundo contemporâneo, é necessário que o profissional de Serviço Social conheça as realidades de forma totalitária. Deve, também, atender às expressões da questão social para, a partir dessas identificações, planejar/executar suas ações de forma efetiva e estar 49 Unidade I comprometido com o projeto ético-político da profissão em concordância com a sua lei de regulamentação. Portanto, o planejamento implica conciliar a prática do serviço social com os conhecimentos teóricos a fim de racionalizar as atividades baseadas em uma sequência de atos planejados. Estes devem ser construídos com base em características, como: democracia, flexibilidade, envolvimento e comunicação com os outros profissionais, com os estagiários e também com os usuários dos serviços propostos. Então, o planejamento pode se constituir como uma ferramenta para aprimorar e melhorar a efetividade do estágio supervisionado em Serviço Social. A elaboração do plano de estágio pelo estagiário é um exercício prático do processo de planejamento. Essa organização faz que o aluno reflita sobre seus propósitos nessa etapa e faça uma revisão das teorias pertinentes à área em que pretende aprofundar seus estudos. Portanto, esse desenvolvimento contribui para o aperfeiçoamento da aprendizagem e também permite a utilização correta das normas técnicas adequadas à estrutura de trabalhos acadêmicos. O prazo de entrega do plano de estágio será estabelecido em comum acordo com o orientador acadêmico. Uma cópia do plano deverá ser entregue ao supervisor acadêmico de estágio supervisionado, ao supervisor de campo e ao aluno de estágio. Saiba mais Você já assistiu a filmes que retratam o planejamento? Ainda não? Para que você aprenda mais sobre a importância de um planejamento em nossas ações, veja o filme: Um plano brilhante, dirigido por Michael Redford, 2007. 4.4 Observação participante no campo de estágio A observação participante é a parte prática do estágio como formação profissional. Após a elaboração do plano de estágio, o aluno deve se preparar para o estudo e a observação participante. Essa é uma técnica das pesquisas em Ciências Sociais e é utilizada como instrumento de coleta de dados na prática profissional, no estudo, na pesquisa e no momento do estágio curricular. Vamos, em princípio, resgatar historicamente o surgimento da observação participante. Segundo Carvalho (2008), essa técnica teve início nos campos da sociologia e da educação, e um dos precursores dessa técnica no Brasil foi o educador Paulo Freire. Para entendê-la melhor, segundo Carvalho (2008), devemos observar os seguintes critérios: atender a um objetivo formulado de pesquisa; ser sistematicamente planejada; e submeter-se à verificação e ao controle de validade e precisão. Dessa forma, podemos entender que, para a observação no campo de estágio, devemos fazer uma investigação ou conhecer seu funcionamento, planejar as nossas ações, verificar se estão corretas e se atingem realmente o objetivo do que se quer saber/conhecer no campo de estágio. 50 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO Mas, diante do exposto, o que podemos entender por observação participante? É somente a pesquisa e a averiguação dos fatos? Observação A observação participante consiste em uma participação real do observador em determinada realidade, grupo, situação, ou vida de comunidade que seja pesquisada/observada pelo pesquisador. A observação participante tem o intuito de captar o sentido encoberto da ação humana e descortinar as ações desencadeadas por outros, o que, no caso do estágio supervisionado, se torna o foco das ações do assistente social. Essa ação pretende descobrir o porquê de elas serem implementadas de tal forma ou utilizadas por este ou aquele instrumental, bem como o porquê de tais estratégias de ação profissional serem elaboradas. Ela pode ser considerada única, uma vez que, para realizá-la, o pesquisador não utiliza questionários fechados de entrevistas ou roteiros preestabelecidos. Esse profissional usa a observação ao participar das atividades no local onde está inserido para conhecer melhor as pessoas, as atividades e o funcionamento do local. Para tanto, ele deve ser prudente e desenvolver sensibilidade para observar pequenos aspectos que às vezes passam despercebidos ou estão implícitos nas ações dos indivíduos observados, tais como: comunicação verbal, expressões faciais, gestos, posturas, brincadeiras etc. A observação participante apresenta ao estagiário uma instrumentalidade que permite a investigação, porque, participando dos processos em que ele está inserido, torna-se possível: o acesso a dados sobre situações habituais, o acesso a documentações, possibilidades de questionamento acerca do trabalho nas instituições, esclarecimento de dúvidas e participação nas atividades desenvolvidas. Para entendermos melhor isso, podemos apontar as diferenças entre uma observação normal e a observação participante. Segundo Carvalho (2008), as características que a primeira possui são: envolver-se nas atividades; evitar uma sobrecarga sensorial; viver uma experiência subjetiva; ter atenção objetiva; profissional ser geralmente ser introspectivo e não fazer relatório de suas observações. Já a segunda possui: observar e envolver-se; ampliar sua capacidade sensorial conscientemente; desenvolver percepção profunda e abrangente; observar sua atuação nas atividades e a dos outros; e elaborar relatórios detalhados. Dessa forma, pontuamos que, para observar e participar, o estudante deve envolver-se com as atividades no estágio e sempre estar atento para perceber como e por que as atitudes foram tomadas e quais estratégias foram utilizadas, visando às melhores respostas às demandas apresentadas pela população atendida pelo serviço social. Para fazer o registro da observação participante, sugerimos que, no local de estágio, o estudante utilize o instrumental do relatório condensado, pois as anotações referentes às observações, às apreensões e às atividades realizadas devem ser apenas pontuadas. Recomendamos isso, pois, no local de estágio, o aluno não tem tempo e nem tranquilidade para anotar tudo, refletir sobre o que escreveu e fundamentar com os autores que escrevem sobre os acontecimentos referentes à prática profissional. Portanto, depois de cumpridas as horas de estágio, o discente poderá elaborar um relatório ampliado, descritivo, destacando todos os pormenores, como as atividades foram realizadas e por que estas foram 51 Unidade I necessárias. Também são importantes as informações de como o exercício profissional do assistente social é visto pela instituição, qual o compromisso dele com a população atendida, qual seu posicionamento político e como esses fatos influenciam o cumprimento do estágio. Os registros desses relatórios descritivos podem ser feitos em um instrumento fundamental para o estagiário, que é o diário de campo. Convidamos você a conhecer essa importante ferramenta que acompanha o estagiário nessa etapa da sua formação profissional. 4.5 Diário de campo O diário de campo consiste em um caderno de anotações. É um espaço para associar as reflexões sobre o local de estágio e o exercício profissional onde se está inserido como estagiário, assim como os conteúdos teóricos adquiridos na formação enquanto estudante de Serviço Social. Segundo Medeiros (2006), o diário de campo é um caderno em que você registra toda sua vivência. Após ir a uma entrevista, anote as características importantes, suas dúvidas, percepções, questionamentos, dilemas e preocupações. Destaca-se, assim, a ética profissional dos estudantes de Serviço Social, pois não seria correto fazer essas anotações durante a entrevista. É importante anotar, pois o estagiário precisa dos dados para utilizá-los no momento certo, seja no relatório fundamentado, seja para elaborar as proposições que serão o objetivo do projeto de intervenção. O trabalho do serviço social tem por premissa o compromisso com ações qualitativas e, segundo Medeiros (2006, p. 65), o “[...] diário de campo é importante, pois esse registro acaba por orientar sua análise qualitativa e amplia sua fonte de informação”. Lembre-se de que um trabalho de qualidade requer uma maior diversidade de fonte de dados. Podemos, então, apontar que o diário de campo, além de subsidiar o estagiário para anotar uma maior quantidade de elementos que o auxiliarão na pesquisa em busca de um problema social e de um projeto de intervenção, também servirá de suporte no sentido de anotar dados importantes vivenciados no campo de estágio em relação à observação do exercício profissional do supervisor de campo. Entendamos, agora, o que o aluno deve anotar nesse caderno. Segundo Joazeiro (2002), o estagiário anotará suas percepções, vivências, encaminhamentos, avaliações etc. a respeito de sua vivência no campo de estágio. A autora faz uma série de considerações sobre o diário, por exemplo, anotar: • as dificuldades, surpresas, fatos e reações das pessoas; • suas próprias percepções e questionamentos como observador e sobre o que está acontecendo; • a avaliação de cada informação obtida; • a mudança das estratégias de abordagem, quando aquelas definidas inicialmente não estão trazendo bons resultados; 52 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO • a substituição de documentos, atores ou entrevistados; • a alteração de situações a serem observadas; • o controle de carga horária. O diário é o desafio de fazer a passagem da atividade para a linguagem escrita, portanto, exige reflexão. É um relato de acordo com a coerência interna, não com a cronologia dos fatos. Dessa forma, entendemos que as situações vividas pelo aluno no estágio não podem ser anotadas aleatoriamente no diário, devem ser destacadas de acordo com os acontecimentos, seus resultados e sua importância como aprendizado sobre o serviço social. Lembrete E as lacunas do diário? Os espaços em branco? O que fazer? Discuta durante a supervisão, verbalize, busque respostas junto às supervisoras de estágio, reflita a respeito e, principalmente, cresça. Portanto, é imprescindível o sigilo em relação as suas anotações, e isso remete o estagiário a um posicionamento ético-político. O diário de campo não é para ser exibido, não é um espaço de apontamentos críticos pejorativos em relação ao fazer profissional, mas sim um documento do estagiário. E lembre-se: é com base nessas anotações que o estudante pode discutir e elaborar junto ao seu grupo de estágio o relatório final fundamentado. Tal documento é o requisito para a avaliação final do estágio supervisionado I e II, e é importante que você leve a sério a forma de construí-lo no campo de estágio. Para finalizar esse item, é importante que você tenha compreendido que, no estágio supervisionado, é preciso se envolver, ter compromisso e elaborar alguns instrumentos que o auxiliarão durante esse processo, pois, ao ingressar no estágio, faz-se necessário organizar o plano de estágio sob orientação do supervisor de campo e do professor acadêmico. Esse documento é um planejamento para direcionar as atividades do estagiário em consonância com as atividades do profissional supervisor de campo. 4.6 Elaboração do projeto Para elaborar e executar um projeto de intervenção, o planejamento é imprescindível! É hora de praticar esse instrumento administrativo adaptado ao âmbito social para compreender a realidade e propor caminhos plausíveis. Por isso, Baptista (2002) o define como um ato racional e reflexivo num processo dinâmico. Para planejar qualquer ação na instituição em que for estagiar, o acadêmico precisa primeiro saber “onde está” inserido e, para isso, precisa conhecer a instituição. Esse ato de conhecer não é simplesmente superficial, pois exige investigação e análise da organização. Por isso, a utilização do instrumento denominado “análise institucional” é obrigatória. Esse é um dos primeiros dispositivos que o acadêmico 53 Unidade I precisa desenvolver no reconhecimento do espaço em que está inserido. Dessa forma, apresentamos um roteiro para essa análise, com a finalidade de estabelecer critérios de coleta de informações para fundamentar ações como o projeto de intervenção e os relatórios de estágio. É importante lembrar que esse roteiro é flexível e pode ser adequadamente adaptado às características específicas da instituição pública, empresa privada ou organização da sociedade civil que será objeto da análise institucional durante o estágio acadêmico. Roteiro para a análise institucional 1. Dados de identificação 1.1 Nome da instituição. 1.2 Endereço: rua, n°, bairro e telefone. 1.3 Área de atuação (política pública ou social). 1.4 Área de abrangência (municipal, regional, estadual). 1.5 Programas e projetos envolvidos. 1.6 Funcionamento (horário). 1.7 Vinculação administrativa (mantenedora). 1.8 Nome dos dirigentes (presidente, coordenador, secretário). 2. Constituição histórica 2.1 Como se constituiu (data, o porquê)? 2.1.1 Grupos sociais que participaram de sua criação e desenvolvimento. 2.1.2 Demandas da instituição. 2.2 Contexto atual (funcionamento atual da instituição). 3. Objetivos institucionais 3.1 Objetivos institucionais (presentes na documentação da instituição). 3.2 Objetivos implícitos (percepção do acadêmico). 4. Proposta de atuação ao usuário 4.1 Rotina (como ocorre o cotidiano institucional). 4.2 Tipos de atendimento geral. 54 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO 5. Resultados das atividades 5.1 Relação usuário-instituição. 5.2 Relação instituição-usuário. 5.3 Relação entre os atores institucionais (equipe). 6. Aspectos subjetivos 6.1 Sintonia/contradição entre objetivos e operacionalização. 6.2 Participação do usuário. 6.3 Articulação institucional (rede interna/externa). 7. Serviço Social 7.1. Nome: CRESS/região. 7.2 Número de assistentes sociais. 7.3 Especialização. 7.4 Tempo de atuação. 7.5 Surgimento da necessidade do assistente social. 7.6 Proposta (plano de trabalho) – atribuições. 7.7 Descrição do processo de trabalho do assistente social. 7.8 RH e materiais disponíveis. 7.9 Relação interdisciplinar (conflito/entendimento). 7.10 O assistente social é flexível diante das demandas institucionais? Como você percebe? 7.11 Quantidade de usuários que atende em média/mês. 7.12 Capacidade máxima de atendimento/assistente social. 7.13 Lugar que ocupa o assistente social (formal e informal). 7.14 Limites e possibilidades (escutar o profissional). 7.15 Requisitos/critérios para o ingresso do assistente social na instituição. 7.16 Carga horária semanal do assistente social. 7.17 Inserção do estagiário junto ao assistente social. 55 Unidade I O roteiro citado deve ser preenchido logo que você iniciar o estágio na instituição. E a coleta de informações relativas a cada campo deve ser objetiva para a análise do espaço da prática profissional. Explicaremos, a seguir, os campos mais complexos em que você provavelmente terá dúvida na hora de elaborar sua análise institucional. Por exemplo: o campo 1.3 refere-se à área de atendimento da instituição que pode ser: habitação, saúde, educação, meio ambiente, infância, idosos, família, trabalhador (quando se tratar de empresa) etc. Já no campo 1.5, você relacionará os projetos que já foram ou são desenvolvidos pela instituição. No campo 1.7, você denominará o órgão a que a instituição está vinculada administrativamente. Exemplos: um presídio que está vinculado à Secretaria de Estado da Segurança Pública; o Centro de Referência da Assistência Social — CRAS que está vinculado à Secretaria Municipal de Assistência Social e assim por diante. No campo 2, todos os itens são relativos ao histórico da instituição, ou seja, ao seu passado. Por isso, é necessário que você investigue um pouco sua história, seja por meio de documentos institucionais ou mesmo obtendo tais informações por meio do diálogo com as pessoas. Já no campo 2.2, você precisa contextualizar a instituição na atualidade fazendo referência a grupos sociais que a constituem, a suas demandas e seus serviços atuais. No campo 4, você irá especificar a proposta da instituição de atendimento ao usuário no que se refere à rotina pretendida e aos tipos de atendimento de modo geral. No campo 5, você precisará especificar os resultados, analisando a atuação da instituição face às necessidades e aos problemas do usuário. Para tal, poderá recorrer ao referencial teórico sobre as contradições entre os interesses da instituição e dos usuários; sobre a correlação de forças (dominação/ submissão ou reação) entre si; e também sobre a inter-relação da equipe (profissionais, técnicos e parte administrativa). O campo 6 se refere aos aspectos que resultam da observação crítica do acadêmico sobre a sintonia ou contradição existente entre os objetivos propostos pela instituição e os mecanismos operacionais mais utilizados; ao grau de participação (ativa/passiva) do usuário na solução do problema; à articulação institucional de recursos para o atendimento ao usuário no seu interior e na inter-relação com outras instituições para a mesma finalidade. No campo 7, especifique as informações do serviço social. Registre algumas coisas, como: o nome completo desse profissional e da instituição/empresa responsável pelo acompanhamento do acadêmico no campo de estágio; o Conselho Regional de Serviço Social a que está subordinado; o número de profissionais existentes; a especialidade dos profissionais (se existem, quais e quantas); o tempo de atuação do serviço social na instituição; os fatores determinantes para a criação desse serviço na organização; o plano de trabalho em relação às atribuições do serviço social. Verifique a posição do serviço social no organograma da instituição e seu âmbito de atuação (decisiva/ operacional/consultiva). Ouça o profissional quanto às possibilidades de atuação (se realiza parcerias, 56 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO se há sustentabilidade da ação – venda de produtos, feiras, campanhas, eventos de arrecadação etc.). Quantifique, também, os recursos humanos (administrativos, técnicos, voluntários), materiais e financeiros. Por fim, no campo 8, você deve registrar os aspectos da conjuntura global e da própria instituição que interferem na ação institucional e na intervenção do assistente social, além de outros significativos para a análise. Contudo, somente a partir do estudo do contexto interno de determinada instituição, da conjuntura econômica, política e social externa a ela e das implicações entre si é que você, como futuro assistente social, poderá fazer uma reflexão crítica da realidade social e definir o método das estratégias e táticas a serem utilizadas em sua ação profissional, principalmente para a operacionalização do seu projeto de intervenção e das demais ações do estágio. Sabemos que não se pode intervir sem antes conhecer o “onde estou”, ou seja, é preciso fazer a análise institucional. A partir disso, as principais demandas e problemas que mereceriam intervenções surgirão. Por isso, o segundo passo é fazer uso de outros instrumentos valiosos — o diagnóstico e a análise situacional. Tais dispositivos são utilizados para conhecer a realidade em que se quer intervir e para descobrir o “onde estou” para, depois, definir o “aonde quero chegar”. Após fazer a análise institucional, prossiga com o diagnóstico — documento escrito cuja recomendação é que seja elaborado logo no início do estágio. Isso porque o diagnóstico tem as seguintes funções: a) Descrever/identificar o problema que é mais incidente em determinado espaço sócioocupacional, mostrando como ele afeta a população usuária. b) Mostrar a incidência do problema. Exemplo: foi constatado que a gravidez na adolescência aflige 80% das famílias da comunidade X, mais precisamente, oito em cada dez adolescentes engravidam antes dos 18 anos de idade. Para obter esses dados, você poderá recorrer à pesquisa documental da instituição em que está inserido, bem como a de outras organizações. No caso exemplificado, a Secretaria de Saúde e a Secretaria de Assistência Social Municipal poderiam disponibilizar esses dados. Lembre-se de que os agentes de saúde conhecem todas as famílias. Assim, em vez de iniciar suas investigações do zero, poderá partir dos dados que já foram coletados, desde que os solicite formalmente e que tome os devidos cuidados éticos na sua utilização! Peça orientação a sua supervisora de estágio e, de preferência, recorra a essas informações com o respaldo dela, pois o profissional responsável por você no campo pode solicitá-las. c) Dizer como ele atinge a população-alvo do projeto. Depois de identificar o problema e mostrar sua incidência, é hora de dissertar sobre como atingir a população-alvo. Exemplo: a gravidez na adolescência é um determinante para a reprodução do ciclo de pobreza na comunidade X, pois induz as meninas a abandonar a escola ainda no ensino fundamental, o 57 Unidade I que, consequentemente, fragiliza sua inserção no mercado de trabalho. Depois, essas crianças são expostas precocemente a situações de risco, como vigiar carros, engraxar sapatos etc., para ajudar financeiramente a família e, muitas vezes, acabam sendo as únicas provedoras do sustento. Portanto, as mães adolescentes são um problema social que necessita de intervenção preventiva sistemática! d) Explicar o problema, ou seja, sua estrutura causal. É hora de ir à raiz de determinado problema social, buscar sua gênese. Em relação ao exemplo anterior das adolescentes, o que você acha que causa a gravidez precoce? Quais os fatores que contribuem direta e indiretamente para isso? Estes são questionamentos que precisam ser respondidos com base na realidade local, pois podem envolver questões culturais, religiosas, educacionais, entre outros. Você precisará investigar o que causa o problema na realidade social em que você está inserido como estagiário. e) Apresentar as alternativas para a solução do problema. Nesse ponto, você descreverá sucintamente algumas intervenções que poderão servir como formas alternativas de intervenção para resolver, prevenir ou mesmo amenizar tal problema. Daqui sairá seu objetivo geral do projeto! Mais adiante, veremos como isso ocorrerá. Contudo, é por meio do diagnóstico que se tem clareza dos objetivos perseguidos com tal intervenção. Para tal, é preciso que se tenha intencionalidade, pois o diagnóstico não é um instrumento neutro, ele é conduzido e estruturado por uma visão político-ideológica. No caso do assistente social, é preciso que seu compromisso ético-político de transformação social de acesso aos bens e serviços seja claro. O diagnóstico faz parte da análise situacional, sendo esta mais ampla. Observe a figura a seguir: Análise Diagnóstico Figura 1 - O diagnóstico pertence à análise situacional. Contudo, a elaboração de um projeto, segundo Stephanou et al (2003) [...] implica em diagnosticar uma realidade social, identificar contextos sóciohistóricos, compreender relações institucionais, grupais e comunitárias, e, finalmente, planejar uma intervenção considerando os limites e as oportunidades para a transformação social. Elaborar um projeto de intervenção no seu estágio supervisionado é muito mais que cumprir uma etapa obrigatória legalmente e obter uma nota por isso. É um primeiro exercício prático de como elaborar projetos sociais na vida profissional. 58 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO Saiba mais Para saber mais sobre isso, assista ao filme brasileiro Quanto vale ou é por quilo, de Sérgio Bianchi, 2005. Contudo, a análise situacional é mais abrangente que o diagnóstico. Este é parte integrante da análise e consiste na forma escrita/dissertativa de apresentar os resultados alcançados com a análise que possui rigor metodológico para seu desenvolvimento. Por isso, segundo Baptista (2002), a metodologia da análise situacional consiste em: • levantamento de hipóteses sobre o problema/objeto; • construção de referenciais teórico-práticos (transdisciplinares); • coleta de dados; • organização, descrição e análise dos dados; • identificação de prioridades de intervenção; • definição de objetivos e estabelecimento de metas; • análise das alternativas de intervenção. 4.6.1 O processo de sensibilização de mobilização para a elaboração e execução de projetos sociais Para trabalhar o processo de sensibilização e mobilização com os usuários do serviço social em qualquer campo em que o profissional estiver inserido, é fundamental o desenvolvimento de comunidade e a educação popular no sentido de suscitar a participação dos indivíduos. Segundo Souza (2004), o desenvolvimento de comunidade é indispensável e de importante atuação nas áreas de interferência da política social, e ele evoca a participação popular como condicionante fundamental para o desenvolvimento global. Os problemas sociais apresentados devem ser discutidos e detectados com a própria comunidade, portanto, a organização da comunidade é imprescindível para o alcance de resultados. Para tal, o profissional deve conhecer o funcionamento operacional desse grupo, como contatar os moradores e qual estratégia utilizar para atrair as pessoas para as discussões. Souza (2004, p. 36) assegura que [...] a ação comunitária continua um processo atual e necessário. Em face às transformações sociais e novas exigências conjunturais, os elementos 59 Unidade I instrumentais de sua prática são trabalhados em função da sistematização de algumas diretrizes técnico-metodológicas que ajudem a sanar os problemas a serem superados. Os assistentes sociais trabalham com organização dos grupos e comunidades, mas a base da ação comunitária é a comunidade e não o trabalho do profissional, ou seja, o foco de discussão deve estar centrado na realidade social e os problemas que são evidenciados. A partir desses apontamentos, o profissional formula, com a própria comunidade, as diretrizes de ação para responder a essas demandas. Mas, para empreender essa forma de ação, é necessária a participação da comunidade, e essa ação pode ser formulada por meio da sensibilização. Esse fato supõe um processo pedagógico e ações educativas, em que o profissional disponibiliza seu instrumental técnico-metodológico e operativo. O profissional deve utilizar tais dispositivos para estimular o processo de participação, ultrapassar a cultura do medo e exercitar a conscientização, a arregimentação da força social e a capacitação (componentes do processo de sensibilizar a população para a participação). Destacamos que o cerne deve ser os problemas comuns da população, e não fatos isolados. Souza (2004, p. 87) acrescenta que [...] os interesses e preocupações da população alvo das ações comunitárias são os elementos em que o processo pedagógico de participação se desenvolve. A descoberta desses interesses é, por conseguinte, o primeiro elemento a ser trabalhado nas relações com a população. Atingindo o processo de sensibilização por meio da conscientização da necessidade de participar nas discussões de forma coletiva, a população ou grupos podem ser incentivados à mobilização, o que significa o processo de ação e busca de respostas para as demandas coletivas da comunidade. A mobilização precede um processo de capacitação da população e supõe o estímulo e a assessoria para que possam se definir os canais de elaboração de projetos de forma sistemática, distribuindo funções e responsabilidades na busca de soluções para os problemas sociais. Segundo Souza (2004), devemos considerar a capacitação de um instrumento necessário para o aprendizado da divisão de trabalhos de modo a assegurar a ação de todos. A administração dessas atividades é também outro elemento de capacitação, pois exercita sua avaliação coletiva. Outro fator importante a ser trabalhado com a comunidade é a capacitação de conhecimento das leis e políticas pertinentes à resolução dos problemas discutidos, analisados e que precisam ser sanados. Um ponto a ser destacado a você é a diferenciação entre sensibilização, capacitação e mobilização; esses são elementos que devem ser trabalhados em momentos distintos. Na sensibilização, para conseguir uma participação nos processos de discussão e busca na resolução dos problemas, o profissional deve ser capaz de despertar a conscientização da ruptura com o processo 60 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO de conformidade. E, da capacitação para a mobilização, a comunidade ou os assistentes sociais podem arregimentar as experiências já desenvolvidas que foram positivas na resolução de problemas coletivos e adaptar para a realidade na qual estão trabalhando. Trabalhar a participação social com a comunidade torna-se essencial no sentido de assegurar o interesse em detectar os problemas coletivos, refleti-los, analisá-los e buscar respostas para saná-los. Essa forma de trabalhar com grupo ou comunidades depende inteiramente do desenvolvimento dos seguintes elementos: sensibilização, capacitação e mobilização. É pertinente destacar que os projetos de intervenção, mesmo que sejam muito bem elaborados, caso não possuírem participação social, grande parte não responderá ao propósito de sanar problemas detectados na coletividade. 4.7 Realizando o monitoramento e a avaliação As avaliações representam um processo de questionamento, a indagação para saber como o desdobramento prático das ações propostas em um determinado projeto foi realizado e se estavam em consonância com a metodologia planejada, de acordo com os processos de avaliação do cronograma estabelecido, e, ainda, se realmente atingiram o objetivo previsto de forma efetiva. Rios (2001, p. 112) certifica que [...] desde já podemos verificar que, num trabalho de avaliação, sua contribuição será no intuito de estabelecer um questionamento contínuo do que se avalia, procurando, revendo e ampliando seu significado. Como já pontuamos neste caderno de conteúdos, o projeto de intervenção é realizado pelo aluno como pré-requisito para o estágio supervisionado, sendo uma excelente oportunidade de criar um processo de construção e socialização do conhecimento. Dessa forma, o projeto se torna uma tarefa ímpar para servir à comunidade, construir processo de participação, socialização de informações e disseminar cultura, primando por uma formação profissional competente e alicerçada em profissionais criativos. O que permite mensurar esse resultado qualitativo do acadêmico são os parâmetros definidos para a avaliação das práticas referentes ao processo educacional. No processo de avaliação de um projeto de intervenção, temos algumas formas de avaliar, e a avaliação pode ser participativa ou indicativa. No primeiro caso, ela ocorre quando os sujeitos fazem parte do processo e as responsabilidades são distribuídas. E então, supõe-se que uma avaliação pode ser realizada por meio de reunião, oficina ou debate e, ao final, os resultados podem ser mensurados. Segundo Rios (2001, p. 113), “[...] a participação é, portanto, um conceito grávido de politicidade – supõe a informação e o preparo para a atuação e clareza com relação aos objetivos [...]”. A avaliação indicativa supõe um processo de indicação que pode ser realizado por meio de: votação, questionário e ficha de avaliação. Esse trabalho também é feito para avaliar as medidas por meio do projeto de intervenção para responder às demandas apresentadas a determinada realidade social. 61 Unidade I O processo de avaliação tem a característica de apontar erros e acertos nas medidas adotadas, além de suscitar a participação e as responsabilidades dos envolvidos. Dessa forma, deve-se utilizar a avaliação durante todo o desenvolvimento do projeto. Podem-se estabelecer ações que revejam e redirecionem esse trabalho, ampliando sua organização e sedimentando as ações para a transformação proposta da realidade social do campo de estágio. O processo de avaliação pressupõe transparência para estabelecer um caminho seguro no que tange à resolução das demandas detectadas e também instituir uma visibilidade na apresentação dos resultados dos trabalhos realizados na coletividade. Isso significa partilhar experiências, demonstrando os acertos e corrigindo possíveis erros, trilhando um trabalho coletivo e transparente que manifeste respostas positivas às necessidades contemporâneas concretas postas aos profissionais e estagiários de Serviço Social. 4.7.1 Estratégias de aplicação dos conceitos e das ferramentas de monitoramento e avaliação Nesse momento, é difícil apresentarmos um modelo único de procedimento, pois cada estágio é singular. Apresentemos, então, alguns elementos que podem ser vistos como diretrizes, parâmetros e sugestões para esse momento e como forma de aplicação dos elementos apresentados neste item. Estratégias a) Procure ver essa atividade como um momento de síntese de aprendizado e de possibilidade de mudança e amadurecimento profissional. Não a veja como apenas uma ação institucional. b) Paute-se estritamente no que foi planejado no projeto de intervenção. c) Abra um diálogo franco e transparente com seu supervisor. d) Não tenha receio dos resultados. e) Organize e planeje com cuidado essa atividade, zele pela qualidade dos documentos, das informações e dos dados que serão gerados. f) Faça um cronograma e execute-o. g) Se possível, teste os procedimentos e instrumentos de coleta de dados. h) Agende com antecedência as entrevistas. i) Esteja aberto para possíveis sugestões. j) Após a coleta de dados, procure refletir sobre os dados e as informações. k) Faça uma autoanálise do seu processo de aprendizado. Veja se algo mudou e, principalmente, esteja atento à conexão entre os aspectos teóricos e práticos de sua formação profissional. Determinado estudante de Serviço Social recebeu a data limite de entrega do relatório final do estágio supervisionado. Ficou eufórico com esse momento, pois há meses executava o projeto de 62 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO intervenção junto a um grupo de mulheres que estavam organizando uma cooperativa. Nos últimos meses, esse aluno vinha fazendo um trabalho muito gratificante, tanto para o grupo de mulheres como para a supervisora, para a instituição e para si mesmo. Após se informar junto à universidade sobre os detalhes do relatório e os documentos devidos, esse discente entrou em contato com sua supervisora e marcou uma reunião para discutir a forma de realizar essa avaliação, pois o processo não se restringiria apenas a avaliar suas ações, ele seria avaliado como um todo, o que é muito importante para todos os envolvidos nesse projeto. Na reunião, o estudante propôs à sua supervisora a aplicação de um questionário semiestruturado com dez perguntas, das quais sete eram objetivas e três eram abertas. Também propôs uma entrevista em grupo com duas perguntas abertas, bem como sua gravação e transcrição. Sugeriu um prazo de quinze dias para a realização da avaliação. Depois de algumas considerações e ajustes entre supervisora e estagiário, o discente deu início ao processo de avaliação. Fez um comunicado para todas as mulheres do programa “Emprego, Renda e Gênero” da Secretaria de Assistência Social da Prefeitura Municipal da cidade X. No total, houve dez participantes. Nesse documento, ele estabeleceu uma data para preenchimento do questionário e da entrevista em grupo. Ele procurou entregar tudo em mãos e explicar o objetivo da avaliação, que aquilo seria importante para ele como profissional em formação, e principalmente para o grupo, pois este poderia verificar se as ações planejadas estavam indo de acordo com os interesses e suas expectativas. Antes de aplicar esse questionário, o estudante fez um pré-teste, solicitou que três senhoras do grupo lessem e preenchessem esse documento e também fizessem algumas observações, como: as perguntas estão bem feitas? O número de questões é adequado? Todos os pontos relevantes a serem avaliados estão contemplados no questionário? A linguagem utilizada é adequada? Após a aplicação do pré-teste e as considerações feitas, esse aluno refez o questionário e preparou o instrumento definitivo. E a supervisora executou o planejamento da avaliação. Depois que coletou os dados dos questionários e da gravação da entrevista, o estudante também fez a análise do projeto de intervenção, das anotações do diário de campo, das atas e dos demais relatórios de atividades realizadas no período avaliado. Também apanhou fotos e alguns trabalhos de disciplinas referentes ao seu estágio. Após algum tempo, depois de organizar a tabulação dos questionários e a análise do conteúdo das falas das entrevistas, elaborou o relatório. Antes de apresentar o documento ao setor de estágio da universidade, fez uma cópia e a apresentou à supervisora. Nessa amostra, houve várias reflexões sobre os dados levantados e as ações executadas. Tanto a supervisora como o estagiário se sentiram satisfeitos, pois a avaliação apresentou dados que ambos ainda não haviam percebido. Um exemplo é que as mulheres afirmaram que os conhecimentos transmitidos para desenvolver a cooperativa estão sendo aplicados em casa. Outro exemplo é a noção de gestão financeira (gastar o que se tem e não fazer dívidas), o que mostra que o aprendizado das mulheres extrapola os conteúdos e as finalidades meramente técnicas e atinge a vida pessoal de cada uma. 63 Unidade I Também foi possível perceber a necessidade de o profissional de Serviço Social estar mais próximo do grupo (essa reivindicação surgiu na avaliação das mulheres), e isso levará a uma necessária readequação da agenda de trabalho. Foram realizadas algumas alterações e foi marcada uma reunião com as mulheres para apresentar o resultado da avaliação e dos futuros encaminhamentos. Em síntese, a partir dessas hipóteses, vemos que essas reflexões ressaltam a importância da avaliação tanto para o momento presente e, principalmente, para o futuro. O monitoramento serve para registrar a ação planejada quando ela ainda está em execução. Isso servirá de elemento de análise para a avaliação final da ação. No estágio, essa ação é vista como um exercício prático de ferramentas e conhecimentos vistos em outras disciplinas e que serão aplicados na vida profissional. Façamos uma reflexão sobre o monitoramento e a avaliação: esses dois elementos que fazem parte de um processo dinâmico (em que as ações planejadas são monitoradas no projeto de intervenção). Registram-se dados e informações que ajudarão no processo de avaliação, e os vários aspectos do projeto de intervenção serão analisados de forma comparativa. Na avaliação, observa-se-á se o planejamento foi executado, qual o impacto e, principalmente, se houve aprendizado nesse processo. A aplicação de conhecimentos no estágio é uma forma prática de aprendizado para o exercício profissional. Resumo Na Unidade I foram abordados aspectos relevantes da profissão de assistente social. Vejamos alguns: • o exercício profissional destacando quem é o assistente social na divisão sociotécnica do mercado de trabalho e qual a natureza da sua profissão; • as competências e atribuições do assistente social conforme preconiza a Lei; • os equívocos em relação à profissão que dizem respeito a estigmas construídos sobre ela e à própria identidade que lhe foi atribuída ao longo dos tempos; • a diferença entre assistência social, assistente social, serviço social e assistencialismo. Apresentamos também: • os conceitos básicos de identidade profissional e suas representações; • as expectativas em relação à identidade, as quais podem ser de ordem normativa — que direciona ao cumprimento de leis, normas, 64 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO regulamentos; e de ordem pessoal — que se refere à ordem relacional e como se dão as relações no contexto em que estão inseridas; • o perfil do assistente social no Brasil no mercado de trabalho e os campos de atuação desse profissional. E sua atuação no primeiro, no segundo setor, no terceiro setor e nas áreas de formulação, gestão e controle social das políticas sociais. Analisamos as demandas sociais postas para a profissão no mercado de trabalho, apontando: • as principais demandas que se constituem como demandas dirigidas e manifestadas, bem como suas especificidades (rotinas, implícitas, explícitas, respostas do profissional); • os principais desafios da profissão. Apresentamos uma breve contextualização do campo de atuação dos assistentes sociais. No estágio supervisionado acadêmico, estudamos alguns pontos, como: • o plano de estágio direciona as atividades que serão realizadas nesse processo; ele deve ser elaborado de forma conjunta pelo profissional supervisor de campo que atua na instituição concedente de estágio e pelo estagiário; • o planejamento instrumentaliza o estagiário para a elaboração de suas atividades; isso permite que o profissional lance mão dos instrumentos técnico-operativos de forma correta e precisa para que possa construir o parecer social, a perícia e os laudos, bem como organizar a documentação dos usuários, do estudo social, dos relatórios e do planejamento dos plantões socais. Assim, o estagiário, ao participar do processo de planejamento no uso dos instrumentais técnico-operativos, tem uma maior compreensão do exercício profissional e da utilização da teoria na prática; • a observação participante deve ser realizada no estágio supervisionado e é uma técnica bastante útil para o estágio em Serviço Social. Para o estagiário, representa a investigação sobre uma situação social em que irá intervir, portanto, ela serve de base em todo o processo, seja na análise de situações, grupos ou atividades; • o diário de campo e como este instrumento auxilia o aluno no seu campo de estágio, no entanto, devemos manter o compromisso éticopolítico em relação ao sigilo em nossas percepções anotadas. Destacase como a participação do aluno é fundamental na armazenagem 65 Unidade I dos dados, e estes permitirão detectar o problema social alvo dos objetivos do projeto de intervenção e em como as percepções podem ser fundamentadas com as teorias que os estudantes armazenam durante a formação profissional no curso de Serviço Social. Estudamos a legislação de estágio e a normativa do CFESS, que determinam: • como o estágio deve ser cumprido e estipular os deveres e os direitos dos envolvidos nesse processo, as instituições de ensino, as organizações concedentes do estágio e os estagiários; • as atividades realizadas nessa primeira etapa do processo de estágio são: plano de estágio, análise institucional e relatório parcial; • o plano de estágio é elaborado pelo estagiário em conjunto com o supervisor de campo e é um importante instrumento para estipular as regras da realização do estágio; • a análise institucional também tem sua importância para se conhecer sobre a instituição, sua política, seus objetivos e sua relação com o serviço social e os usuários que são atendidos ali; • o relatório é um instrumento técnico que exercita sua reflexão e o auxilia na produção de novos conhecimentos e na sistematização da realidade vivida no campo de estágio; • a avaliação e o monitoramento como elementos que possibilitam visualizar o andamento e os impactos provocados com o projeto de intervenção. Exercícios 1. Em relação ao trabalho do assistente social, assinale V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas. ( ) A caridade, o assistencialismo e doações são estigmas atribuídos à profissão de assistente social. ( ) O assistente social trabalha só com a pobreza. ( ) O trabalho do assistente social configura-se essencialmente em voluntariado e caridade. ( ) A realidade social e econômica do Brasil faz que o trabalho do assistente social se volte mais para a questão da pobreza. ( ) A profissão de assistente social não abrange toda a sociedade, é exclusiva para determinado segmento. 66 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO ( ) Os assistentes sociais atuam na perspectiva de assegurar direitos sociais garantidos pela Constituição Federal. ( ) As pessoas que o serviço social atendem são denominadas usuárias. Assinale a alternativa correta. a) V, F, F, V, F, V, V. b) V, V, V, F, V, F, V. c) V, F, V, F, V, V, F. d) F, V, F, F, V, F, F. e) V, F, F, F, V, V, V. Gabarito: (a). Comentário: Nesta atividade a seguinte sequência correta é V, F, F, V, F, V, V, portanto a alternativa certa é (a). A caridade, o assistencialismo e as doações são estigmas atribuídos à profissão. O Assistente Social não trabalha só com a pobreza, no entanto, diante da realidade social e econômica do Brasil, faz com que sua atuação se volte mais para a questão da pobreza. É um equívoco afirmar que o trabalho do Assistente Social configura-se essencialmente em voluntariado e caridade. O trabalho é remunerado e visa a assegurar direitos garantidos por leis e abrange toda a sociedade. As pessoas atendidas pelo Assistente Social são denominadas de usuários do Serviço Social. 2. Sobre a identidade profissional, assinale V para as assertivas verdadeiras e F para as falsas. ( ) Identidade são significações, escolhas, representações de si próprio, formas de agir e pensar. ( ) A identidade é estática, não muda, mesmo com o passar dos tempos. ( ) As expectativas em relação à identidade podem ser de ordem normativa e pessoal. ( ) Estigmas são atributos que geram uma identidade irreal da categoria profissional. ( ) Estigma é um atributo que confere a verdade sobre algo. ( ) O serviço social surge com uma identidade atribuída pelo capitalismo e pela fragilidade política e social da categoria. ( ) Por ser uma profissão que trabalha com os problemas sociais que afetam os grupos em situação de pobreza, ela é confundida com assistencialismo. ( ) O baixo reconhecimento social e a baixa remuneração são estigmas que a profissão carrega. ( ) É somente no campo de atuação que a identidade do assistente social começa ser construída. 67 Unidade I Assinale a alternativa correta. a) V, F, V, V, F, F, V, V, F. b) V, F, F, F, V, F, V, F, F. c) V, F, V, F, V, F, V, F, F. d) V, V, V, V, F, F, F, F, F. e) Todas são verdadeiras. Gabarito: (a). Comentário: Para responder a esta atividade você deve ter relido todo o conteúdo da aula para encontrar subsídios para as suas respostas. Pretendeu-se, com essa atividade, aprimorar seus conhecimentos sobre o processo de construção da identidade profissional do Assistente Social. A sequência correta é V, F, V, V, F, F, V, V, F, letra (a). A identidade são significações, escolhas, representações de si próprio, formas de agir e pensar e está em constante mudança. As expectativas em relação à identidade podem ser da ordem normativa e pessoal. Os estigmas são atributos que geram uma identidade irreal da categoria profissional. O Serviço Social surge com uma identidade atribuída pelo capitalismo, e por ser uma profissão que trabalha com os problemas sociais que afetam os grupos em situação de pobreza, ela é confundida com assistencialismo. A identidade profissional começa a ser construída ainda na formação profissional e se legitima no campo de atuação. 3. De acordo com o conteúdo trabalhado nas aulas, podemos afirmar que as demandas sociais são: a) voluntárias e explicitadas. b) dirigidas e manifestadas. c) manifestadas e específicas. d) dirigidas e impostas. e) involuntárias e manifestadas. Gabarito: (b). Comentário: a resposta correta é a letra (b). Como vimos, as demandas para o Serviço Social podem ser constituídas em dirigidas e manifestadas. A letra (a) está incorreta, uma vez que nem sempre as demandas estão explicitas e, por isso, a necessidade de o Assistente Social se revestir de capacidade teórica e metodológica para decifrar a realidade social na qual está inserido. A letra (c) está incorreta porque o Assistente Social se depara constantemente com demandas profissionais que não apresentam suas especificidades, o que requer do profissional uma leitura da realidade para entender os problemas políticos, sociais, econômicos e culturais para encontrar a particularidade das demandas atendidas. A letra (d) está errada, pois não podemos dizer que as demandas são impostas uma vez que elas se caracterizam por rotinas apresentadas pela dinâmica da instituição ou serviço prestado ou pelo próprio 68 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO profissional. A letra (e) está errada, pois não podemos afirmar que as demandas são involuntárias, já que são demandas nem sempre explicitas. 4. Os acadêmicos de Serviço Social realizam o estágio nos espaços sócio-ocupacionais das instituições em diversos setores e áreas de atuação. Sobre esses espaços, é correto afirmar que: I. o estágio de Serviço Social é realizado nos espaços sócio-ocupacionais no primeiro setor, no segundo e no terceiro setor; II. o primeiro setor é composto pelas instituições governamentais das esferas federais, estaduais e municipais; III. no terceiro setor, o assistente social trabalha suscitando a perspectiva da participação e realiza oficinas, e é esse um campo riquíssimo para a realização do estágio supervisionado de Serviço Social; IV. no segundo setor, constituído pelas empresas privadas, o aluno aprende que, para atuar nas empresas, precisa de habilidade além da qualificação formal; V. os espaços sócio-ocupacionais em que se configura o estágio são locais que propiciam a real possibilidade de aprendizado da teoria e da prática. Estão corretas as afirmativas: a) I e II, apenas. b) II e V, apenas. c) IV e V, apenas. d) I, II, III, apenas. e) I, II, III, IV, V. Gabarito: (e). Comentário: Nesta atividade, você deve ter marcado a letra (e). A afirmativa (I) está correta, pois o estágio do Serviço Social é realizado nos espaços sócio-ocupacionais no primeiro, segundo e terceiro setor. A afirmativa (II) está correta porque o primeiro setor são as instituições governamentais nas esferas federais, estaduais e municipais. A afirmativa (III) também está correta, pois, no terceiro setor, o profissional suscita a perspectiva da participação, realiza oficinas, e esse setor é um campo rico para o estagiário. A afirmativa (IV) está correta, pois o segundo setor são as empresas, que exigem do assistente social habilidades além da qualificação formal. Por fim, a afirmativa (V) está correta porque os espaços sócio-ocupacionais são locais de estágio e propiciam aprendizado real da teoria e da prática. 69