CD 124 - Cultivar de potencial produtivo e qualidade de panificação Francisco de Assis Franco1, Volmir Sergio Marchioro1, Tatiane Dalla Nora1, Edson Feliciano de Oliveira1, Ivan Schuster1, Adriel Evangelista1, Fábio Junior Alcântara de Lima1, Mateus Polo1 e Murilo Renan Garcia2 1 Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola (COODETEC), BR 467, km 98, C.P. 301, CEP 85813-450, Cascavel, PR, Brasil. [email protected]; 2 Estudante do Curso de Agronomia da Faculdade Assis Gurgacz - FAG. Avenida das Torres, n. 500, CEP: 85.806-095 - Bairro Santa Cruz, Cascavel, PR. O melhoramento tem contribuído para o aumento da produtividade do trigo nos últimos anos, uma vez que vem se utilizando tecnologias mais aprimoradas de cultivo aliado à seleção de genótipos superiores. O desenvolvimento de cultivares com maior potencial produtivo (Carvalho et al., 2008) e qualidade industrial são, entre outras, as principais metas dos programas de melhoramento de trigo no Brasil. Neste sentido foi desenvolvida a cultivar de trigo CD 124. A cultivar CD 124 foi obtida do cruzamento entre as cultivares de trigo ORL 95282 e CD 2019, pela COODETEC, em 1999, na localidade de Palotina. As sementes F1 foram semeadas no ano de 2000, em casa de vegetação em Cascavel, e na maturação foram colhidas massas todas as espigas, que posteriormente foram trilhadas originando as sementes F2. Em 2001 a população F2 foi semeada em Palotina e conduzida através do método massal. Nos anos seguintes, as populações F3 a F5, foram conduzidas pelo método genealógico na localidade de Guarapuava. A fixação das características ocorreu na geração F6, dando como resultado várias linhas, sendo que uma destas originou a CD 124. A anotação do pedigree desta linhagem é CC15308-0P-6G-3G-1G-OG. A cultivar CD 124, participou dos Ensaios Preliminares de rendimento de grãos em 2006 e 2007, conduzidos em Cascavel e Palotina, tendo revelado desempenho melhor do que as testemunhas foi então testada em Ensaios de Determinação de Valor e Uso (VCU), nos anos de 2008, 2009 e 2010, com a sigla CD 0835. Os ensaios de VCU foram conduzidos obedecendo às Regiões Tritícolas (Cunha et al., 2006). Na Região Tritícola de VCU 1 os ensaios foram conduzidos em Cruz Alta/RS, Não Me Toque/RS (duas épocas), Vacaria/RS, Campos Novos/SC, Castro/PR (duas épocas) e Guarapuava/PR (duas épocas). Na Região Tritícola de VCU 2 os ensaios foram conduzidos em Cachoeira do Sul/RS, Santo Augusto/RS, Santa Rosa/RS, São Luiz Gonzaga/RS, Abelardo Luz/SC (duas épocas), Cascavel/PR (três épocas). Na Região Tritícola de VCU 3 conduzido em Palotina/PR (quatro épocas), conforme ilustrado na Tabela 1. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, com 3 repetições em parcelas constituídas de 6 linhas de 5 m de comprimento, espaçadas em 0,20 m entre linhas, sendo a semeadura efetuada mecanicamente. A adubação e o controle de doenças e pragas foram efetuados conforme recomendações técnicas (Informações..., 2008). Antes da semeadura as sementes foram tratadas com Triadimenol + Imidacloprid. As variáveis obtidas foram rendimento de grãos, dias da emergência ao espigamento, dias da emergência a maturação, altura de planta, acamamento, peso do hectolitro, peso de mil grãos e força geral de glúten. Em 1 locais estratégicos foram conduzidas coleções dos genótipos que constituíam os ensaios de VCU, nestas coleções não foi efetuado o controle de doenças da parte aérea, onde foram observadas, entre outras, doenças como doenças ferrugem da folha, manchas foliares, oídio, giberela e vírus do mosaico comum do trigo. Nas tabelas 2, 3 e 4 estão incluídas às médias de rendimento de grãos nas Regiões Tritícolas VCU 1, 2 e 3, respectivamente, onde se verifica que a cultivar CD 124 apresentou um rendimento de grãos 7%, 5% e 6% superior à média das duas melhores testemunhas, nas três Regiões Tritícolas, respectivamente. Devido ao bom desempenho da cultivar CD 124, esta foi indicada para cultivo nas regiões citadas acima, englobando os Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná (Brasil, 2010). A estatura de planta da cultivar CD 124 é baixa, com média de altura de 78 cm, a qual variou de 65 a 91 cm. O ciclo é médio, variando de 70 a 90 dias da emergência ao espigamento e de 119 a 147 dias da emergência a maturação. As médias destas características foram 81 e 130 dias, respectivamente, as quais variaram com condições climáticas, épocas de semeadura e tipo de solo. A CD 124 possui espigas fusiformes, posição intermediária, moderadamente resistente ao acamamento e moderadamente resistente a germinação na espiga. Os resultados de análise de qualidade industrial, de 8 amostras da experimentação nos diferentes estados, geraram uma média 266 de força geral de glúten(W), o que permite incluir no grupo de cultivares de trigo pão (Tabela 5). Os experimentos, conduzidos a campo no período de 2008 a 2010, possibilitaram registrar informações de diferentes doenças ocorrentes no Brasil. Nas determinações de severidade de oídio (Ereziphe graminis tritici), foi obtido baixa severidade, que correspondeu à caracterização de moderadamente resistente. Para giberela (Fusarium graminearun), o resultado das anotações correspondeu a valor baixo para médio, que identifica que a cultivar é moderadamente resistente a moderadamente suscetível. Para helmintosporiose (Bipolares sorokiniana) e septorioses (Septoria tritici e S. Nodorum), foram determinados índices de média severidade de mancha de folha e mancha de gluma, que permitiram classificar a cultivar como moderadamente suscetível. A severidade nas avaliações de ferrugem da folha (Puccinia recondita f. sp. tritici) foi baixa em condições de campo, indicando que a cultivar é moderadamente resistente. Nas avaliações de ocorrência de vírus do mosaico comum do trigo apresentou alto valor, caracterizando como cultivar suscetível (Tabela 6). A cultivar CD 124 tem qualidade trigo pão, alto potencial de rendimento de grãos, boa resistência à ferrugem da folha, oídio, germinação na espiga e acamamento, sendo assim mais uma opção importante aos triticultores da Região Sul do Brasil. 2 Tabela 1. Número de ensaios de Valor de Cultivo e Uso (VCU) conduzidos por Estado com a cultivar CD 124, nas Regiões Tritícolas VCU 1, 2 e 3, em diferentes locais e épocas, no período de 2008 a 2010 Cascavel/2011. Estado Rio Grande do Sul Santa Catarina Paraná Região VCU 1 2008 2 1 4 2009 4 1 4 Região VCU 2 2010 2 1 4 2008 2 2 3 2009 5 2 3 2010 4 2 3 Região VCU 3 2008 4 2009 4 2010 4 -1 Tabela 2. Médias de rendimento de grãos (kg ha ) da cultivar CD 124 e das duas melhores testemunhas, dos ensaios de VCU conduzidos na Região de VCU 1 dos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, no período de 2008 a 2010. Cultivar CD 124 BRS GUAMIRIM ONIX Média testemunha* 2008 Média 4767 4708 3982 4345 % 110 108 92 100 2009 Média % 3509 104 3411 102 3310 98 3360 100 2010 Média 4133 4143 3615 3879 % 107 107 93 100 Geral Média % 4136 107 4087 106 3636 94 3861 100 *As duas melhores testemunhas nos três anos de teste foram BRS GRAMIRIM e ONIX -1 Tabela 3. Médias de rendimento de grãos (kg ha ) da cultivar CD 124 e das duas melhores testemunhas, dos ensaios de VCU conduzidos na Região de VCU 2 dos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, no período de 2008 a 2010. Cultivar CD 124 BRS GUAMIRIM ONIX Média testemunha* 2008 Média 3376 3393 2736 3064 % 110 111 89 100 2009 Média % 2900 101 2919 102 2815 98 2867 100 2010 Média 3916 3725 3753 3739 % 105 100 100 100 Geral Média % 3397 105 3346 104 3101 96 3223 100 *As duas melhores testemunhas nos três anos de teste foram BRS GRAMIRIM e ONIX -1 Tabela 4. Médias de rendimento de grãos (kg ha ) da cultivar CD 124 e das duas melhores testemunhas, dos ensaios de VCU conduzidos na Região de VCU 3 do Estado do Paraná, no período de 2008 a 2010. Cultivar CD 124 BRS GUAMIRIM ONIX Média testemunha* 2008 Média 3364 3214 3213 3213 % 105 100 100 100 2009 Média % 2882 102 2894 102 2759 98 2827 100 2010 Média 2882 2894 2759 2827 % 112 107 93 100 Geral Média % 3043 106 3001 103 2910 97 2956 100 *As duas melhores testemunhas nos três anos de teste foram BRS GRAMIRIM e ONIX 3 Tabela 5. Médias de dias da emergência ao espigamento (ES), dias da emergência à maturação (MT), altura de planta (AP), acamamento (AC), peso do hectolitro (PH), massa de mil grãos (MG), força geral de glúten (W) e estabilidade (ET) da cultivar CD 124 e da testemunha ONIX, no período de 2008 a 2010 Cascavel/2011. Cultivar CD 124 ONIX ES (dias) 81 86 MA (dias) 130 132 AP (cm) 78 81 AC % 13 22 PH -1 (Kg hl ) 77 77 MG (g) 34 34 W (10 joule) 266 240 -4 ET (min) 13,2 14,5 Tabela 6. Médias das doenças ferrugem da folha (FF), mancha de folha (MF), oídio na folha (OF), giberela (GB) e vírus do mosaico do trigo (VM) da cultivar CD 124 e da testemunha ONIX, no período de 2008 a 2010 - Cascavel/2011. Cultivar CD 124 ONIX FF (%) 7 19 MF (nota 0-9) 3,2 3,6 OF (nota 0-9) 1,7 2,1 GB (nota 0-9) 3,1 2,0 VM (nota 0-9) 5,8 4,1 Referências BRASIL. Serviço nacional de proteção de cultivares. Brasília: Ministério da Agricultura. Disponível em http://www.agricultura.gov.br/sarc/dfpv/lst1200.htm. Acesso em 07 mai. 2010. CARVALHO, F.I.F.; LORENCETTI, C.; MARCHIORO, V.S.; SILVA, S.A. Condução de populações no melhoramento genético de plantas. Pelotas: Editora Universitária, 2008. 288p. CUNHA G.R.; SCHEEREN P.L.; PIRES J.L.F.; MALUF J.R.T.; PASINATO A.; CAIERÃO E.; SILVA M.S.; DOTTO S.R.; CAMPOS L.A.C.; FELÍCIO J.C.; CASTRO R.L.; MARCHIORO V.; RIEDE C.R.; ROSA FILHO O.; TONON V.D.; SVOBODA L.H. Regiões de adaptação para trigo no Brasil. Passo Fundo: Trigo Embrapa, (Circular Técnica Online, 20), 2006. 35p. Informações técnicas para a safra 2008: Trigo e Triticale. Londrina: Embrapa Soja, (Documento, 301), 2010. 147p. 4