Natal do Senhor Homilias Meditadas Lectio Divina para a Família Salesiana P. J. Rocha Monteiro, sdb [email protected] www.adma.salesianos.pt Missa da noite de Natal 2015 - Ano C 1. Introdução Vejo-me peregrino a entrar na Basílica da Natividade em Belém. Tudo é harmonioso. Tudo é silêncio. “Aqui nasceu Jesus” – alguém aponta – e fico imóvel sem dizer palavra, nos braços do silêncio, meu fiel amigo dos grandes momentos. Celebramos o Natal do Senhor. Entremos na gruta… Deus desceu do céu e uniu a terra ao céu. Uniu todos os homens. A Liturgia repete várias vezes o seu “hoje” como que a colocá-lo fora do tempo e fora do espaço. É um hoje celebrativo, sacramental: “hoje desceu do céu… hoje nasceu o Salvador. Hoje brilhará para nós uma luz… hoje manifestou-se…”. Tudo é graça. Tudo é deslumbramento. 2. Is 9,1-6 2.1 Narração “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam nas sombras da morte uma luz começou a brilhar. Multiplicastes a sua alegria, aumentastes o seu contentamento. (…) Porque um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado. Tem o poder sobre os ombros e será chamado «Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz». O seu poder será engrandecido numa paz sem fim, sobre o trono de David e sobre o seu reino, para o estabelecer e consolidar por meio do direito e da justiça, agora e para sempre. 2.1. Oráculos messiânicos Esta leitura coloca-nos diante dos oráculos messiânicos. É uma descrição forte, viva. Espera-se um rei que vá receber todas as bênçãos e que seja o mediador da Aliança. Este rei tem qualificações que sintetizam quatro títulos: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno e Príncipe da paz. Descendente de David, será um dom de Deus, o sinal da presença de Deus connosco. Superará todos os obstáculos à paz. Haverá um tempo novo de alegria, de bem-estar. Ele traz-nos a salvação. 3. SALMO RESPONSORIAL – Salmo 95 (96) 3.1 Grande notícia: “Hoje nasceu o nosso salvador, Jesus Cristo, Senhor” O salmo é constituído por uma série de imperativos que convidam a cantar, bendizer, anunciar, narrar e alegrar-se. O horizonte abrange o mundo inteiro (a terra, as nações, todas as criaturas) e o motivo de tanta alegria é «o Senhor que vem» (v. 13). Mas porque é que se fala de um «cântico novo»? Temos a novidade de coisas jamais ouvidas, mas também há a novidade – a mais verdadeira - de coisas que, embora conhecidas, nos maravilham todas as vezes que as escutamos. (Giuseppe Casarin) 4. LEITURA II – Tito 2,11-14 4.1 Fonte de salvação Caríssimo: Manifestou-se a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens. Ele nos ensina a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos, para vivermos, no tempo presente, com temperança, justiça e piedade, aguardando a ditosa esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo, que Se entregou por nós, para nos resgatar de toda a iniquidade e preparar para Si mesmo um povo purificado, zeloso das boas obras. 4.2 Fundamentação e crescimento da fé A segunda leitura é extraída da Carta a Tito, que faz parte das Cartas Pastorais. S. Paulo está a dar normas de governo e de animação da comunidade. Fala de três elementos essenciais para a sustentação e crescimento da fé a partir da vinda do Senhor Jesus: a revelação da graça de Deus, o amor gratuito de Deus que nos vem salvar e a universalidade da salvação. Todos os homens estão chamados para este projeto de salvação. 5. EVANGELHO – Lc 2,1-14 5.1 «Exultemos de alegria no Senhor, porque nasceu na Terra o nosso Salvador» «Exultemos de alegria no Senhor, porque nasceu na Terra o nosso Salvador», é a Antífona do Cântico de Entrada da Missa da Meia-Noite que dá o devido tom de exultação a esta solenidade, magnífico pórtico para este intenso feixe de Luz, Mistério de Jesus, fazendo logo ver o Natal à Luz da Páscoa, «a Páscoa do Natal», assim o diz significativamente a liturgia oriental. A Antífona da Missa da Aurora prossegue a mesma sinfonia, conjugando Isaías 9,1 e Lucas 2,11, e soa assim: «Hoje sobre nós resplandece uma Luz: nasceu o Senhor». A Antífona da Missa do Dia continua a indicar o «para nós» deste Filho e do seu Mistério, trazendo ao de cima outra vez a pauta de Isaías: «Um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado» (Is 9,6).A linha dos evangelhos deste dia é de excecional riqueza e desenvolve-se em três movimentos: o acontecimento, o anúncio e o acolhimento. (Don António Couto) 5.1 Narração Naqueles dias, saiu um decreto de César Augusto, para ser recenseada toda a terra. (…) Todos se foram recensear, cada um à sua cidade. José subiu também da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, à cidade de David, chamada Belém, por ser da casa e da descendência de David, a fim de se recensear com Maria, sua esposa, que estava para ser mãe. Enquanto ali se encontravam, chegou o dia de ela dar à luz, e teve o seu Filho primogénito. Envolveu-O em panos e deitou-O numa manjedoura. Havia naquela região uns pastores que viviam nos campos e guardavam de noite os rebanhos. O Anjo do Senhor aproximou-se deles e a glória do Senhor cercou-os de luz; e eles tiveram grande medo. Disse-lhes o Anjo: «Não temais, porque vos anuncio uma grande alegria para todo o povo: nasceu-vos hoje, na cidade de David, um Salvador, que é Cristo Senhor”. 6. Meditação O Menino nasce abandonado e só, afastado dos grandes caminhos da história da terra, num presépio. Lucas transporta-nos a Belém e mostra-nos todos os pequenos pormenores que nos possam ajudar a compreender que Jesus se faz homem, débil e pobre. É Ele que vai morrer na cruz por nós e celebrar assim, definitivamente, o mistério da salvação. Este é também o fundamento do Evangelho de João. O Anjo define a verdade mais importante de toda a terra, quebrando assim o grande silêncio dos céus. Este menino é o Salvador. “Nasceu-vos o Salvador”. São os humildes da terra que o irão receber. No nosso caso, estão representados pelos pastores. A alegria de cada cristão é saber que pode continuar a cantar “hoje” o mesmo canto dos anjos em Belém: “Glória a Deus nas alturas e paz aos homens abertos ao mistério da salvação do Senhor”. 7. Oração Assim nos diz a Coleta da Missa da noite do Natal: “Senhor nosso Deus, que fizestes resplandecer esta santíssima noite com o nascimento de Cristo, verdadeira luz do mundo, concedei-nos que, tendo conhecido na terra o mistério desta luz, possamos gozar no Céu o esplendor da Sua glória”. A glória é o rosto de Deus, o seu amor universal. Hoje é o dia para acolher Deus. Descer da montanha onde ouvimos o anúncio e caminhar para a planície onde exercitamos a vida. Aí vivemos continuamente os contrastes entre céus e terra, Deus e os homens, a glória e a paz, fazendo nosso o canto do Anjo: «Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados.» (Lc 2,14a) 8. Contemplação Senhor Jesus, Salvador, Emanuel... Dizes-me em segredo que “chegou o dia”... Poderão meus braços abraçar tão grande mistério? Poderão meus olhos contemplar tão imensa luz? Poderão meus lábios cantar tão sublime melodia? Quero aprender a humildade do teu encontro comigo, Quero aprender a alegria da tua grande notícia, Quero acolher-Te em meus braços, Tu que de teus braços não me separas... E desejas que em mim seja Natal!... (Sementes de Evangelho) O despertar da noite mais bela Anuncio-vos uma grande alegria: Hoje nasceu o nosso Salvador, Jesus Cristo Senhor (Lc 2,10-11) Gruta de Belém, mundo de bondade, Bênção de amor perdão e paz também, Dá-nos, meu menino, fraternidade, Brilhe em cada lar tua luz de Belém. Francisco de Assis dos verdes campos, Da gruta, do burrinho, doce encanto. Canto das criaturas imortal Para os homens paz e amor imemorial. Os rebanhos dormem, velam pastores, Flamejam fogueiras cintilam às cores Guardo Deus na noite aqui acordado, Chega meu Menino Deus o esperado. Minha noite mais bela nasce o dia Da luz que procuro e em mim brilha Gruta habitada pelo Deus Menino. Levo-te presentes, levo-te carinho. Anjos que debaixo das nuvens voais, Que os medos dos tempos afugentais, Mensageiros do seu Reino que vistes? Adoradores débeis que sentistes? Que seja em mim, em ti, Natal. Deus connosco mistério de salvação Dos vazios vividos compaixão, Blocos de vida em branco para vida nova, Primavera de Deus, misericórdia. Aquele instante misterioso que nenhum homem alcançará em tempo algum. J. Rocha Monteiro in “Manhãs abertas”