1 AVALIAÇÃO DO PERFIL DE USUARIOS DE ANTIMICROBIANOS EM UMA DROGARIA DE BRASILIA – DF EVALUATION OD ANTIMICROBIAL USER PROFILE ON A DRUG BRASILIA - DF Aluno: Ataíde Donisete Martins1 Orientador: Professor Mestre Edson Negreiros2 Resumo: Antimicrobianos são medicamentos comumente prescritos quando há a necessidade de se tratar e combater uma doença infecciosa causada por uma bactéria. Os antimicrobianos agem como bactericidas destruindo a parede celular bacteriana causando sua morte; ou bacteriostáticos, impedindo sua proliferação. Os riscos mais conhecidos relacionados ao uso de antimicrobianos são as reações adversas e a resistência bacteriana que se dá, principalmente, com o uso indiscriminado, sem prescrição e acompanhamento médico. O presente trabalho teve como objetivo geral verificar a percepção da população entrevistada a respeito das vantagens e desvantagens que possam surgir com a terapia antibacteriana, suas principais fontes de informação e ou orientação quanto ao uso desses medicamentos, assim como traçar o perfil sociodemográfico da população que consome antibacterianos em uma drogaria na cidade de Brasília, DF. Palavras-chave: Antibacterianos, terapia antibacteriana, resistência aos antibacterianos. Abstract: Antimicrobials are drugs commonly prescribed when there is the need to address and combat an infectious disease caused by a bacterium. Antimicrobials act as bactericides destroying the bacterial cell wall causing his death, or bacteriostatic, preventing their proliferation. The most well-known risks associated with antibiotic use are the adverse reactions and bacterial resistance that occurs mainly with the indiscriminate use without prescription and medical supervision. This study aimed to verify the perception of the people interviewed about the advantages and disadvantages that arise with antibacterial therapy, their main sources of information and guidance and the use of these drugs, as well as trace the demographic profile of the population antibacterial consumes in a drugstore in the city of Brasilia, DF. Keywords: Antibacterials, antimicrobial therapy, resistance to antibacterials. 1 INTRODUÇÃO 1 Aluno do Curso de Especialização em Farmácia Clinica e Atenção Farmacêutica pela Pontifícia Universidade Católica PUC– Goiás & Instituto Pharmacológica .2013. ¹ E-mail: [email protected]. 2 Mestre. E-mail: Edson Negreiros dos Santos. [email protected] 2 De certo que o uso irracional de medicamentos se da à medida que a população não tem acesso fácil e gratuito ao sistema de saúde, com isso, se faz importante receber prescrições adequadas às suas necessidades terapêuticas, o medicamento deve estar correto, apropriado ao tempo de tratamento, na dose certa, garantindo adesão do paciente ao mesmo. Não deve causar, dentro do possível, efeitos adversos, e de maneira nenhuma interações indesejáveis; o médico, por meio da anamnese, deve verificar o histórico do paciente e verificar se o mesmo faz uso de outros medicamentos, utilizando o que se denomina como farmacovigilância (SOUZA; SANTOS; SILVEIRA, 2010). Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS, 1998), as infecções causam 25% das mortes em todo mundo, e nos países menos desenvolvidos esse índice sobe para 45%. Calcula-se ainda que mais de 50% do orçamento dos países gastos com medicamentos seja destinado à compra de antimicrobianos. Sabe-se também que dos usuários de medicamentos, mais de 50% desses compram medicamentos para apenas um dia de tratamento e 90% compram para períodos inferiores ou iguais a três dias e quando se fala em prescrições médicas os dados são alarmantes, pois 50% se mostraram inapropriadas, e 2/3 dos antibióticos são usados sem prescrição médica (NICOLINI; GRECO; MENEZES, 2008). Algumas das premissas necessárias para a efetividade do controle para evitar o uso indiscriminado de antibióticos são implementar procedimentos para tratamento profilático com antimicrobianos na clínica medica e cirúrgica; efetivar rotinas de tratamento de patologias infecciosas mais comuns. É importante que a comunidade científica contribua com estudos, pesquisas e investigações no que se refere aos antimicrobianos e a resistência microbiana, o que é relevante para auxiliar os órgãos reguladores a tomarem medidas que previnam e orientem para o caso (ANVISA, 2001). E diante desses fatos, se previu a necessidade de apresentar o estudo acerca do uso indiscriminado de antibióticos e as medidas necessárias para se evitar os efeitos nocivos de sua utilização. O presente trabalho teve como objetivo geral verificar a percepção da população entrevistada, por meio de questionário, a respeito das vantagens e desvantagens que possam surgir com a terapia antibacteriana, assim como as principais fontes de informação e ou orientação quanto ao uso desses medicamentos. Já os objetivos específicos procuraram traçar o perfil sociodemográfico da população que compra medicamentos antibacterianos em uma drogaria na cidade de Ceilândia, DF, no período de 05 a 20 de fevereiro de 2013. Apresentar os fármacos e as classes terapêuticas mais consumidas. Apresentar os conhecimentos da população participante da pesquisa a respeito das indicações e contraindicações principais das 3 drogas antibacterianas. Verificar qual ou quais as fontes de informação e ou orientação quanto ao uso de medicamentos antibacterianos. 2 ANTIMICROBIANOS Os antimicrobianos são substâncias capazes de destruir microorganismos ou de inibir seu crescimento, são produzidos a partir de fungos, bactérias, e elementos sintéticos, podendo agir como bactericidas, destruindo a parede celular bacteriana causando sua morte ou bacteriostático, inibindo seu crescimento e impedindo sua multiplicação. São comumente utilizados quando se faz necessário tratar ou curar uma doença infecciosa, causada por microorganismos. A facilidade na aquisição, diagnóstico indeterminado, falta de acesso a serviço médico, falta de controle sanitário, medicina baseada na aceitação e crenças populares, dificuldades de diagnosticar corretamente processos infecciosos, além da falta de fiscalização na dispensação, o emprego desses fármacos na medicina veterinária e na conservação de alimentos são fatores que contribuem para o uso indiscriminado e consequentemente causado o aumento da resistência bacteriana, carecendo urgentemente de atenção por parte das autoridades para evitar o uso abusivo. (GOODMAN; GILMAN, 2007). 2.1 Histórico dos Antimicrobianos Houve, no século XX, um grande marco na história da humanidade devido à descoberta dos antimicrobianos oriundos de micro-organismos semissintéticos ou sintetizados quimicamente com a finalidade de inibir ou destruir outros micro-organismos. As sulfonamidas, ou derivados das para-aminobenzenossulfonamida, foram descobertas em 1930 e só comercializadas em 1940. O prontosil foi patenteado em 1932 e, em 1928, o pesquisador Alexander Fleming estudava as variantes dos estafilococos, quando observou o crescimento de fungos em uma das culturas matando as bactérias e, por se tratar do gênero Penicillium, foi batizada como penicilina uma década depois como substância terapêutica por via parenteral (RANG et al., 2004). 2.2 Classificações dos Antimicrobianos Com sua função de combater agentes infecciosos, os antimicrobianos se dividem em grupos com base em seu mecanismo de ação. 4 2.2.1 Os inibidores da síntese proteica Os mais conhecidos são: RIFAMICINAS – atuam na inibição da RNA – polimerase de bactérias, evitando o alongamento da molécula de RNA mensageiro. A resistência ocorre pela mutação no gene bacteriano que codifica a RNA polimerase, é utilizada em tratamentos por infecções por bactérias Gram-negativas e microbactérias, apresentando efeitos adversos como cefaleia, sonolência, fadiga, alterações no sistema nervoso central e casos de hepatotoxicidade. (HAUSER, 2009). AMINOGLICOSÍDEOS – são obtidos a partir de várias espécies de Streptomyces. Esta classe inclui: Estreptomicina – é um aminoglicosídeo mais antigo e agente no tratamento da tuberculose, inibe a síntese proteica por se ligar à subunidade 30s ribossomal. Efeitos colaterais relevantes são a ototoxicidade, reações de hipersensibilidade e a nefrotoxicidade, essa ocorrendo em menor frequência. São a gentamicina, amicacina, tobramicina, neomicina (SILVA; BERMUDEZ; ARRAIZ, 2007). MACROLÍDEOS – apresentam estrutura química de um anel lactona de vários membros que liga a um ou mais desoxi-açucares, o seu mecanismo de ação é a interferência na produção de proteínas bacterianas por meio da forte ligação na subunidade ribossômica 50S das bactérias. São a eritromicina, azitromicina e claritromicina. São indicados nas infecções por bactérias aeróbicas Gram-positivas, como infecções respiratórias e pneumonia (RANG; DALE; RITTER, 1999). CETOLÍDEOS - fármacos semissintéticos recentemente criados, derivados da eritromicina. As principais reações são anorexia, náusea, vômito e diarreia; reações de hepatoxicidade podem ocorrer como icterícia, comprometimento da função hepática e hepatite colestática aguda. A eritromicina e a claritromicima são fármacos metabolizados pelo sistema enzimático do citocromo P-450 e são capazes de depurar outros fármacos da mesma via metabólica, aumentando a concentração sérica de carbamazepina, teofilina, benzodiazepínicos, varfarina, entre outros (VASCONCELOS et al., 2006) TETRACICLINAS – seu mecanismo de ação consiste no bloqueio da síntese proteica pela interação química do fármaco com a subunidade 30S ribossonal bacteriana. Possuem um bom espectro para várias classes de bactérias aeróbicas Gram-positivas, Gram-negativas e anaeróbicas atua contra bactérias atípicas, alguns protozoários e micro bactérias. A doxiciclina, aminociclina e tetraciclina são as mais utilizadas. Reações de fotossensibilidade, 5 formação de exantema avermelhado, efeitos gastrointestinais, agravação da insuficiência renal, hepatite, alteração na pigmentação cutânea e tromboflebite (SALDAÑA et al., 2004). CLORAFENICOL - apresenta na estrutura química uma porção nitrobenzeno, que é um derivado do ácido dicloroacético. Seu mecanismo de ação ocorre pela ligação irreversível à subunidade ribossômica 50S, inibindo a síntese de polipeptídeos Altamente tóxico, este antibiótico é utilizado no tratamento de infecções graves e/ou resistentes a outros. Apresenta atividade contra micro-organismos Gram-positivos, Gram-negativos, anaeróbios e espiroquetas. O principal efeito adverso se manifesta na medula óssea que poderá causar anemia aplásica, trombocitopenia, reticulopenia, leucopenia (SALDAÑA et al., 20004). CLINDAMICINA - possui razoável espectro de ação contra micro-organismos Grampositivos aeróbicos como algumas cepas sensíveis à meticilina/oxacilina e excelente atividade contra anaeróbicos Gram-positivos e negativos, se liga às proteínas plasmáticas e altas concentrações são encontradas nos tecidos, fluídos corporais e ossos, mas não atingem o líquor. A destruição da microbiota intestinal está relacionada às diarreias (PIANA, 2010). LINEZOLIDA – seu mecanismo de ação ocorre pela inibição da fase de iniciação no local P da subunidade 50S ribossômica impedindo a síntese de proteínas, ação contra bactérias Gram-positivas multirresistentes. As principais indicações são em infecções hospitalares onde há resistência à penicilina e entre outras bactérias Gram-positivas aeróbias e anaeróbias. Os efeitos adversos são diarreia, náuseas e cefaleia (SADER, 2002). ESTREPTOGRAMINAS – A quinupristina/dalfopristina pertence à família das estreptograminas no tratamento de infecções graves associadas à bacteremia causada por Enterococcus faecium resistente à vancomicina. Seu alvo é a subunidade 50S do ribossomo bacteriano, resultando a inibição da síntese proteica, os efeitos adversos são mialgias, aumento da bilirrubina conjugada (CAIERÃO et al., 2004). Os Inibidores da síntese da parede celular: constituído por estruturas de revestimentos como a membrana plasmática, parede celular e membrana externa, as bactérias necessitam desse envelope celular íntegro para se desenvolverem. Para quebrar essa unidade celular, os antimicrobianos se dividem em: BETA-LACTÂMICOS - subdividem-se na classe de penicilinas cujo composto consiste na ligação de um anel tiazoidínico a um anel betalactâmico alterado por cadeia lateral variável “R”, resultando outras quatro classes de penicilina (BERND, 2005): PENICILINAS NATURAIS G E V - são ativas contra diversas bactérias Grampositivas, Gram-negativas, anaeróbicas e algumas espiroquetas por as bactérias possuírem parede celular de peptideoglicana. São eficazes contra a maioria dos estafilococos produtores 6 de penicilinase, mas apenas para cepas S. aureus (MRSA) e Staphylococcus epidermidis (MRSE) não resistentes à meticilina, representadas pela oxacilina, cloxacilina, dicloxacilina e nafcilina. (HAUSER, 2009) AMINOPENICILINAS - as mais importantes são a ampicilina e a amoxicilina, administradas por via endovenosa e oral. Podem ser associados a inibidores beta-lactamases, como o ácido clavulânico e o sulbactam (PAGE et al., 2004). PENICILINAS DE ESPECTRO EXPANDIDO – carboxipenicilinas e ureidopenicilinas – representadas pela carbenicilina e ticarcilina, piperacilina e azlocilina representam uma maior atividade contra bacilos Gram-negativos aeróbicos. As carboxipenicilinas, cuja ação terapêutica abrange a maioria das bactérias aeróbicas Grampositivas e negativas, exceto o Clostridium difficile. As reações associadas à penicilina vão desde as mais perigosas como asfixia por edema na laringe até erupções cutâneas benignas morbiliformes (ROSÁRIO; GRUMACH, 2006). CEFALOSPORINAS – originaram-se do fungo Cephalosporiu acremonun. Esse grupo se divide em quatro gerações: Primeira geração – são ativas contra aeróbicos Gram-positivos, e apresentam atividade reduzida contra bactérias anaeróbias e Gram-negativas. Nessa geração, incluem-se a cefalotina, a cefazolina e a cefalexina (PETRI JUNIOR, 2007). Segunda geração – apresentam atividade significativa contra Gram-negativos, porém, menor do que as de terceira geração e com atividade moderada contra a maioria dos Granpositivos. Nesse grupo, encontram-se a cefuroxima, cefaclor e as cefamicinas (cefotetana e cefoxitina) (HAUSER, 2009). Terceira geração – classificam-se pela maior atividade contra Gram-negativos e são combatidas pela ceftazidima e cefoperazona, ceftriaxona, ceftazidima e cefotaxima. Apresenta ação contra bactérias Gram-positivas e anaeróbicas Gram-positivas, (HAUSER, 2009). Quarta geração – possui espectro de ação ampliado em comparação à terceira geração, é caracterizada pela sua poderosa ação contra micro-organismos Gram-positivos (semelhante aos da primeira geração) cefepime, não possui boa ação anaeróbica. Sua toxidade consiste em reações de hipersensibilidade, não imediatas, neutropenia reversível, trombocitose, hemólise (PETRI JUNIOR, 2007). CARBAPENEMAS – são beta-lactâmicos que apresentam anel beta-lactâmico fundido e um anel de cinco elementos e apresentam átomo de carbono contendo uma insaturação no anel. As classes de agentes parenterais são o imipenem e carbapenema. Sua resistência se dá devido às diversas beta-lactamases produzidas por bacilos Gram-positivos e 7 negativos, por penetrar com facilidade na membrana externa de bacilos Gram-negativos. Como eventos adversos, há as convulsões, que aparecem mais em pacientes idosos ou com função renal reduzida, náuseas e vômitos (PETRI JUNIOR, 2007; HAUSER, 2009). MONOBACTÂMICOS – o aztreonam é o único monobactâmico ativo somente contra bactérias Gram-negativa aeróbica e de uso parenteral. Seu anel beta-lactâmico é monocíclico simples, resistente à maioria das beta-lactamases e tem excelente atividade contra Gramnegativos (RANG et al., 2004). VANCOMICINA E TEICOPLANINA – seu mecanismo de ação consiste na ligação à extremidade terminal D – alaninina, da parede celular, evitando a inserção desse polímero na cadeia de peptideoglicana, fragilizando-a, sendo a utilização exclusiva para micro-organismo Gram-positivo. A vancomicina possui atividade bactericida para anaeróbicos e bactérias Gram-positivas, patogênicos produtores de beta-lactamases e os resistentes à meticilina, e possui alguns efeitos adversos como flebite, ototoxicidade e nefrotoxicidade. Existem relatos de ototoxicidade com pouca frequência, sendo os mais comuns relacionados às reações cutâneas e disfunções hepáticas transitórias (PRADO; RAMOS; VALE, 2001). POLIMIXINAS – sua atuação se dá na membrana plasmática bacteriana, ocasionando a despolarização celular pelo efluxo de potássio, com perda do potencial de membrana e morte celular. Possui efeitos adversos como cefaleia, náuseas, vômito, diarreias, nefrotoxicidade. Apresenta espectro de ação bactericida contra micro-organismos Gramnegativos e todos os Gram-positivos apresentam resistência a este antibiótico, (KATZUNG, 2004). 2.2.2 Os fármacos que atuam no DNA QUINOLONAS E FLUORQUINOLONAS – boa ação contra aeróbios Gramnegativos sofrendo várias modificações em sua estrutura química, levando ao desenvolvimento de potentes agentes bacterianos, dos quais derivam as quinolonas. O mecanismo de ação consiste na inibição de topoisomerases: DNA-girase e topoisomerase IV bacteriana, evitando a formação de novas fitas de DNA, o que causam a morte bacteriana, possuem espectro de ação contra Gram-negativos, contra alguns Gram-positivos e alguns micro-organismos atípicos. Apresentam baixo índice de toxicidade e os efeitos colaterais são gastrointestinais, cefaleia, tontura, disritmias ventriculares e diarreias (BRUGUERAS; GARCÍA; DÍAZ, 2005). 8 METRONIDAZOL – possui mecanismo de ação na redução do grupamento nitro, que produzirá metabólitos para impedir a síntese de DNA, ação contra micro-organismos anaeróbicos, tem ação contra protozoários anaeróbios e contra uma bactéria Gram-negativa microaerofílica (H. pylori). As reações adversas são diarreia, náusea, vômitos, desconforto epigástrico, espasmos abdominais e gosto metálico na boca. (NICHOLS, 2004). SULFONAMIDAS - os antifolatos – competem com o ácido p-aminobenzóico (PABA) pela enzima dihidropteroato sintetase, sendo primordial para a síntese de ácido fólico nas bactérias fazendo com que as sulfas impeçam o crescimento dessas. Possui atividade contra micro-organismos Gram-positivos e negativos, alguns protozoários e contra bactérias entéricas. As mais utilizadas são sulfadiazina, sulfadiazina de prata, sulfametoxazol e dapsona (KATZUNG, 2004). A associação da trimetoprima com o sulfametaxozol resulta em bactericida, apresenta espectro de ação contra bactérias aeróbicas Gram-positivas e negativas, possuem indicações no tratamento de infecções bacterianas urinárias, intestinais, penumocistoses e infecções fúngicas. DAPSONA - é apenas indicada no tratamento da hanseníase. As reações são febre, urticária, náusea, icterícia, perda de apetite (KATSUNG, 2004). 2.3 Resistência Bacteriana e Mecanismos de Resistência A resistência bacteriana surge quando os microorganismos multiplicam-se na presença de concentrações de antimicrobianos que seriam necessários para tratar uma infecção em humanos. Existem dois tipos principais de resistência, a natural, que se caracteriza quando os genes são capazes de codificar o mecanismo ou estruturas que impedem a ação do antimicrobiano e já fazem parte do genoma (TAVARES, 2000). O segundo tipo de resistência é entendida como adquirida e ocorre em uma bactéria que antes era sensível ao mesmo antimicrobiano, contudo, sendo sua origem na base genética, que sofre alterações na estrutura e funcionamento da célula bacteriana, acaba bloqueando a ação dos antimicrobianos. É esse tipo de resistência que tem causado grande preocupação mundial (WANNMACHER, 2004). O primeiro exemplo de resistência adquirida entre as bactérias é o Staphylococcus aureus, antes sensível a penicilinas, contudo, por seu uso indiscriminado já se comprova por meio de estudos que essa bactéria possui genes que conferem resistência a múltiplas drogas antimicrobianas (TAVARES, 2005). Os principais mecanismos bioquímicos de resistência aos antimicrobianos são três tipos: 9 Alteração do sistema de permeabilidade celular – menor acessibilidade do antimicrobiano ao alvo na célula bacteriana promovendo a diminuição da concentração intracelular ou eliminação ativa do antimicrobiano para o exterior da bactéria por meio de bombas de efluxo; ex: Pseudomonas aeruginosa. (GOODMAN; GILMAN, 2007). Inativação enzimática do antimicrobiano – inativação hidrolítica do anel βlactâmico nas penicilinas e cefalosporinas, elaboração de β-lactamases nas bactérias resistentes: ex: Escherichia coli. (GOODMAN; GILMAN, 2007). Alteração ou substituição das moléculas alvo do antimicrobiano – resistência à penicilina por mutação PBPs (proteínas ligadoras de penicilinas que tem menor afinidade), ex: Enterococcus faecalis. (GOODMAN; GILMAN, 2007). Tendo em vista o avanço da resistência bacteriana, a ANVISA (2004) tomou medidas para evitar o uso indiscriminado de antimicrobianos com a implantação da RDC 44/ 2009 em que determina que todos os medicamentos antimicrobianos só podem ser comercializados nas drogarias mediante retenção do receituário médico de controle especial, em duas vias, sendo que a primeira deverá ficar arquivada na drogaria contendo todos os dados do comprador. A resolução também estabeleceu prazo de validade para as receitas, que é de 10 dias após a data de emissão, devido à complexidade do medicamento. A comercialização dos antimicrobianos, que se dá por intermédio de receitas e entradas no estabelecimento farmacêutico por meio de notas fiscais, deverá ser registrada no sistema nacional de gerenciamento de produtos controlados (SNGPC). A ANVISA tem como objetivo, por intermédio dessa medida, a redução da resistência bacteriana (ANVISA, 2004). 3 METODOLOGIA O presente trabalho trata-se de um estudo descritivo que utilizou técnica de amostragem por meio da aplicação de questionário semiestruturado (Apêndice A) para uma população de usuários de medicamentos antibacterianos que adquirem os mesmos em uma drogaria localizada na cidade de Ceilândia DF. O questionário foi constituído de 12 questões referentes ao perfil de consumo dos medicamentos e foi respondido por clientes de uma drogaria que adquiriam medicamentos com ou sem prescrição para posterior interpretação e tabulação dos dados. A população participante foi constituída de 50 usuários de antibacterianos de ambos os sexos, sem limite de idade e que estivesse em uso ou adquirindo medicamentos antibacterianos. A coleta dos dados foi realizada no período de 05 a 20 de fevereiro de 2013 após os entrevistados concordarem e assinarem o Termo de Consentimento 10 Livre e Esclarecido (Apêndice B), bem como o questionário para responder as questões. Os dados obtidos foram tabulados com o auxilio do programa Microsoft Excel 2007 e foram apresentados na forma de gráficos e tabelas dispostos na seção resultados e discussão. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO A população estudada foi composta por 34 mulheres e 16 homens, correspondente a 68% e 32%, respectivamente (Gráfico 1). Na pesquisa, os resultados mostram que as mulheres foram as que mais procuraram a drogaria para aviar as receitas contendo prescrição de antimicrobianos, esse dado apenas sugere que as mulheres são preocupadas com a saúde própria e familiar mais do que os homens e se encontra em conformidade com a literatura consultada (COSTA-JÚNIOR, 2009). Gráfico 1 – Sexo dos participantes Fonte: dados da pesquisa O nível de escolaridade dos entrevistados revelou que o grau de escolaridade mais prevalente foi o de ensino médio, cuja quantidade de participantes era de 29, correspondente a (58%) do total de participantes, 12 pessoas possuíam formação em nível superior, o que corresponde a (24%), a análise dos dados revelou ainda que 3 participantes (6%) concluíram o ensino fundamental, 4 (8%) se encontravam com ensino superior incompleto e apenas 2 (4%) eram pós-graduados (Gráfico 2). Este dado não influenciou nos resultados da pesquisa, visto que ambos os grupos, com escolaridade de nível médio e de nível superior responderam que aprovam outrora não aprovavam o fato dos antimicrobianos serem medicamentos controlados. Gráfico 2 – Escolaridade dos participantes 11 Fonte: dados da pesquisa Os dados referentes à faixa etária da população participante da pesquisa revelaram que o grupo entre 19 e 40 anos era composto por 24 indivíduos (48%). As demais faixas foram distribuídas com 12 indivíduos que possuíam 41 a 60 anos, (24%), 10 indivíduos (20%) de 00 a 18 anos e com idade acima dos 60 anos 4 indivíduos (4%) da população em conformidade com o gráfico, os que estavam com idade abaixo dos 18 anos foram representados pelos seus responsáveis (Gráfico 3). A população com idade entre 19 e 40 anos de idade foi a que mais consumiu medicamentos antimicrobianos, esses dados sugerem certo cuidado na prescrição de antimicrobianos para crianças e adolescentes de 0 a 18 anos de idade e para adultos acima de 61 anos, esse dado nem sempre se encontra em conformidade com a literatura consultada, em que a maioria dos usuários de antimicrobianos eram crianças e idosos (FURINI; LIMA; ATIQUE, 2009; SÁ, 2005). Gráfico 3 – Idade dos participantes Fonte: dados da pesquisa 12 As questões referentes aos hábitos dos participantes nos quesitos utilização e conhecimento acerca dos benefícios e malefícios dos medicamentos revelaram que (Gráfico 4): Gráfico 4 – Conhecimento acerca do uso de antimicrobianos Fonte: dados da pesquisa A maioria dos participantes respondeu sim, quando perguntados se já sabiam que os antibióticos são medicamentos controlados e necessitariam de prescrição médica para serem adquiridos, esse dado reflete a facilidade em obter informações por meio dos veículos de comunicação e pode favorecer o entendimento da necessidade da implantação da resolução 44/2009. Na questão que tratava sobre o conhecimento do controle de vendas de antibióticos sob prescrição médica, 43 (86%) responderam sim e 7 (14%) não. (GONÇALVES, 2010). Quando indagados se já faziam uso do medicamento, 17 entrevistados (34%) afirmaram que já utilizaram, e 33 (66%) disseram que não. Já os que utilizaram sem prescrição médica representou 22 entrevistados (44%) contra 28 (56%) que nunca utilizaram o medicamento. Esse dado corrobora com a percepção da cultura de automedicação de antibióticos no Brasil. Os entrevistados foram perguntados se conheciam algum efeito colateral adverso ou problemas advindos da má utilização do medicamento e nesse item, 19 (38%) responderam sim ao passo que 31 (62%) responderam que não. 34% dos pesquisados admitem não ter conhecimentos sobre efeitos adversos ou indesejáveis que podem ser acometidos quando utilizam um medicamento prescrito, sugerindo um alto nível de desinformação por parte do paciente e falta de orientação prestada pelo profissional médico ou mesmo do farmacêutico no aviamento do receituário (AQUINO, 2008); (NICOLINI; GRECO; MENEZES, 2008); (WANNMACHER, 2006); (MATINBIANCHO; SANTOS; JACOBY, 2007). 13 Outra questão abordou o participante sob a forma de conhecimento referente ao medicamento, nesse quesito 34 (68%) responderam que vieram a conhecer o medicamento por indicação médica, 6 (12%) por intermédio do farmacêutico, ao passo que 10 (20%) por meio de familiar, (0%) obtiveram informação com vizinhos ou outros (Gráfico 5): Importante ressaltar que os entrevistados podem confundir as atribuições do atendente de farmácia e do profissional farmacêutico, dessa forma, o dado pode estar superestimado, a falta de acesso ao serviço médico contribui para que o nível de indicação por aqueles que trabalham em drogaria e parentes dos pacientes sejam altos (SILVA; SCHENKEL; MENGUE, 2000). Gráfico 5 – Indicação para uso de antibióticos Fonte: dados da pesquisa Os participantes da pesquisa foram entrevistados a respeito da RDC nº 44/09, medida que regula a venda de medicamentos antibióticos somente para pacientes com prescrição para uso e se o entrevistado acredita que esta seria ou é uma medida eficaz para controlar a venda indiscriminada de antibióticos (Gráfico 6): Gráfico.6 – Aceitação da RDC nº 44/09 Fonte: dados da pesquisa 14 Nesse caso, os dados revelaram que 33 (66%) aprovavam a medida e 17 (34%) desaprovam a medida. Os entrevistados foram abordados a respeito da aprovação da resolução supracitada e 33 entre os 50 aprovam e vêem como boa a medida tomada para controlar o uso indiscriminado, em termos percentuais trata-se de uma maioria relativa, afinal, os demais desaprovam ou não dimensionam a real importância de uma medida fundamental e de consenso entre toda a comunidade científica (MENEZES, 2009). Outro dado obtido na farmácia onde os participantes da pesquisa foram entrevistados é um comparativo entre as vendas de medicamentos antibióticos no mês de fevereiro de 2013 e no mesmo período de 2010, ressaltando-se que a resolução foi implantada em outubro de 2010 (Gráfico 7). Gráfico 7 – Demanda de antimicrobianos Fonte: dados da pesquisa A resolução teve impacto na quantidade de medicamentos vendidos, e como era de se esperar, houve uma queda na quantidade de medicamentos que saíram das drogarias e o comparativo da demanda de antimicrobianos na drogaria em que foi feita a pesquisa, no mesmo período de 2010 revelou uma redução geral de 40,84% na venda de antimicrobianos, sugerindo uma redução no consumo irracional ou mesmo indevida. O presente estudo mostrou que os antibacterianos mais dispensados pela drogaria no ano de 2012 foram os Beta-lactâmicos, seguidos por Macrolídios e Fluorquinolonas respectivamente, os menos dispensados foram a Sulfonamidas. No ano de 2013, dentre os mais consumidos, verificou-se os Beta-lactâmicos, os Fluorquinolonas assumiram a segunda posição em relação aos Macrolídeos e os menos dispensados foram as Tetraciclinas. A partir da análise dos comparativos entre os anos de 2010 e 2013, verificou-se uma queda 15 significativa de menos 40.85% na venda total de antimicrobianos, o que é um fato importante, visto que a RDC 44/2009 tem como objetivo a redução do uso indiscriminado (Gráfico 7) (LIMA, et al., 2008). O estudo revelou o perfil de consumo e a classificação dos antibacterianos com seus respectivos fármacos. As doenças ou indicações clínicas mais prevalentes reveladas pelos entrevistados foram infecções de gargantas, sinusites, infecções do trato respiratório, infecções do trato urinário e associações antimicrobianas para tratar a infecção causada pela bactéria Helicobacter pylori, dentre outras. Os antimicrobianosmais prescritos foram, conforme quadro 2. Quadro. 2 – Classes de antimicrobianos e fármacos prescritos CLASSE DE ANTIMICROBIANOS FARMACOS Tetraciclinas Tetraciclina, doxiciclina, minociclina Aminoglicosídeos Neomicina, gentamicina, tobramicina Beta-lactâmicos Macrolídios Cefalexina. cefadroxil, amoxicilina + ácido clavulânico, penicilina, ampicilina, penicilina v, penicilina g, amoxicilina. Azitromicina, eritromicina, claritromicina Fluorquinolonas Norfloxacino, ciprofloxacino, levofloxacino Sulfonamidas Sulfametoxazol e trimetoprima Diversos Clindamicina, metronidazol, clorafenicol acido fusídico, associações de antimicrobianos Fonte: dados da pesquisa 5 CONCLUSÃO A maioria dos entrevistados aprova a medida e entende que essa é necessária para reduzir a resistência bacteriana e o consumo indiscriminado, o que é importante, já que o Brasil se encontra entre os países que mais consomem medicamentos antimicrobianos sem prescrição médica. O elevado número de pacientes com o perfil de resistência bacteriana tornou-se um problema de saúde pública, fazendo que governo e instituições de saúde como ANVISA e MINISTÉRIO DA SAÚDE interviessem no assunto, por intermédio da citada 16 RDC 44/2009, a população bem informada e consciente da necessidade da medida é muito importante para que a medida apresente resultados, cujos fatores são a redução no consumo indevido de antimicrobianos e a redução da resistência bacteriana. O papel do farmacêutico é de suma importância e exige alto grau de qualidade no desempenho de sua função. Este profissional deve estar presente no estabelecimento para dispensar as prescrições médicas, esclarecer e dar informações à população sobre medicamentos, além de difundir a informação, a fim de promover o uso racional de antimicrobianos e demais medicamentos. 6 REFERÊNCIAS ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Consenso sobre o uso racional de antimicrobianos. Brasília, 2001, 36 p. ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Anvisa intensifica controle de infecção em serviços de saúde. Revista Saúde Pública, 2004, (38) 3:475-8. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rsp/v38n3/20669.pdf>. Acesso em: 06 jun. 2013. AQUINO, D. S. Por que o uso racional de medicamentos deve ser uma prioridade? Revista Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 2008. 13 (Sup): p. 733-736. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo. php?pid=S1413-81232008000700023&script=sci_arttext>. Acesso em 10 abr. 2013. CAIERÃO, J.; ANTUNES, A.G; STEFENS, M.; DE MARCO, M.; D’AZEVEDO, P.A. Novos Antimicrobianos: realidade e perspectivas. Disponível em: < http://www.newslab.com.br/ed_anteriores/66/ANTIMICROBIANOS.pdf >. Acesso em: 05 jun. 2013. COSTA-JÚNIOR, F.M.; MAIA, A.C.B. Universidade Estadual Paulista (UNES) Concepções de Homens Hospitalizados sobre a Relação entre Gênero e Saúde. Psicologia: Teoria e Pesquisa Jan-Mar 2009, Vol. 25 n. 1, pp. 055-063. 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APÊNDICE – A 19 QUESTIONÁRIO 1) Faixa etária? 0 a 2 ( ) 3 a 12 ( ) 13 a 17( ) 18 a 40 ( ) 41 acima ( ) 2) Sexo do usuário: Masculino ( ) feminino ( ) 3) Grau de instrução: não alfabetizado ( ) ensino fundamental ( ) ensino médio ( ) superior ( ) superior incompleto ( ) outros ( ) 4) Qual antibiótico (nome genérico) o Sr(a) esta adquirindo?_______________________ 5) O Sr(a) entende para que serve o medicamento? ( ) sim ( ) não 6) O Sr(a)Já utilizava o medicamento para algum problema? ( ) sim ( ) não 7) Para qual doença o Sr(a) utilizava?_________________________________________ 8) O Sr(a) Já utilizou o medicamento sem prescrição médica? ( ) sim ( ) não 9) O Sr(a) Conhece algum problema que pode surgir com o uso desse medicamento? sim ( ) não. ( ) 10) Como ficou sabendo do medicamento? Vizinho ( ) médico ( ) parente ( ) farmacêutico ( ) 11) O Sr(a) sabe que antibioticos agora são medicamentos controlados? Sim( ) Não( ) 12) O que o Sr (a) acha dessa medida? (Antibióticos controlados)____________________ APÊNDICE B 20 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Você está sendo convidado (a) como voluntário (a) a participar da pesquisa intitulada Uso Indiscriminado de Antimicrobianos em uma drogaria da cidade de Brasilia - DF. O propósito desta pesquisa é contribuir com sugestões significativas para o Programa de Uso Irracional de Medicamentos Antimicrobianos do Ministério da Saúde Brasil, no sentido de possibilitar o fornecimento de dados e causas que levam ao consumo indiscriminado de medicamentos antimicrobianos. Os dados coletados por meio da aplicação de questionário ajudarão a confirmar o fato de que o uso de medicamento sem a prescrição e orientação médica ajuda ao surgimento e fortalecimento de cepas microbiológicas. Ao mesmo tempo provocará a análise e a discussão sobre o referido tema. Dessa forma poderá ser elemento gerador de melhora na qualidade de vida de homens, mulheres, crianças e idosos no que diz respeito a tratamento com medicamentos que possam causar resistência microbiana. Aqueles que fornecerem dados espontaneamente pós-esclarecimento terão suas identidades preservadas mesmo após elaboração de relatório final deste estudo. Caso concorde em participar do estudo, deve assinar esse termo em duas vias, externando que concorda em participar voluntariamente da pesquisa mencionada e que poderá retirar seu consentimento a qualquer momento, sem nenhum prejuízo. ____________________________________ Assinatura do sujeito de Pesquisa ____________________________________ Assinatura do Pesquisador Responsável _____/_____/_____