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MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE
2015-05-08
16:18:34
Atol das Rocas se torna referência em pesquisas sobre vida marinha no país
Mínimo de interferência humana ajuda pesquisas científicas.
Mais de 160 estudos sobre a flora e a fauna já foram realizados no local.
08/05/2015 06h00 - Atualizado em 08/05/2015 07h27
O Atol das Rocas, localizado a 267 quilômetros da costa do Rio Grande do Norte, tornou-se o principal
ponto de estudos sobre a vida marinha no Brasil. Isso se deve, segundo os pesquisadores, ao mínimo de
interferência humana no local. Até mesmo o acesso de pesquisadores ao Atol é controlado.
"Aqui, a prioridade é que os animais ajam de forma natural, livres. O manuseio ou captura de peixes,
aves, caranguejos, tartarugas e tubarões só são permitidos para fins de pesquisa científica. Fora isso,
não é permitido nem mesmo pescar para se alimentar", diz Maurizélia Brito, chefe da reserva biológica
Atol das Rocas, que é administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente.
Esse mínimo de interferência é notado até mesmo quando há predação. "Há muitas pesquisas no Atol.
Uma delas é sobre as tartarugas-verdes, espécie ameaçada de extinção, que desova aqui. Quando os
filhotes nascem e começam a buscar o mar, são predados por outros animais, como caranguejos, aves e
tubarões. Mesmo com vontade de ajudar, não fazemos nada. Aqui, a natureza é respeitada", afirma
Maurizélia.
Esse cenário fez crescer a procura por pesquisadores da vida marinha. "Há alguns anos, eram poucos
pesquisadores interessados em ficar isolados aqui no Atol. Mas, como há esse ambiente de preservação
e quase que totalmente natural, hoje temos até fila de espera para expedições aqui."
O acesso é controlado e só é possível após análise da proposta de pesquisa. "Para vir ao Atol, o
pesquisador, que deve ser vinculado a alguma universidade ou instituição de pesquisa, tem que
apresentar um requerimento informando os objetivos do estudo e como ele será realizado. Fazemos uma
análise e, caso seja aprovada a pesquisa, o cientista entra na fila de espera. Isso se dá porque é
permitido apenas o máximo de cinco pesquisadores por vez no Atol." Cada expedição - período em que
o cientista fica no Atol - dura entre 20 e 30 dias. Caso seja necessário, o pesquisador pode voltar
quantas vezes forem necessárias até a conclusão do estudo.
Segundo Maurizélia, mais de 120 projetos foram realizados, e atualmente cerca de 50 estão licenciados
no Atol das Rocas. "Há pesquisas sobre toda a vida no Atol. Temos estudos sobre as cinco espécies de
aves marinhas que fazem ninho aqui, sobre os tubarões, polvos, moreias, lagostas, tartarugas, algas,
enfim, sobre tudo. E esses estudos ajudam a preservar ainda mais o Atol."
O Atol
O Atol das Rocas é reserva biológica por decreto federal desde 1979. Antes disso, o local era alvo de
pesca predatória das diversas espécies de peixes que se reproduzem por lá e principalmente de
lagostas. Atualmente, a pesca é proibida no Atol e em uma área que o circunda até mil metros de
profundidade. Não há fontes de água potável.
O Atol é o único do Oceano Atlântico no Hemisfério Sul e pertence ao mesmo alinhamento de montes
submarinos de Fernando de Noronha. Na superfície, em maré baixa, a extensão é de 5,5 quilômetros
quadrados. Quando há maré alta, apenas duas ilhas não ficam submersas: a do Farol, com 2,3
quilômetros de comprimento e 600 metros de largura; e da do Cemitério, com 600 metros de
comprimento e 150 metros de largura. A "areia" nessas ilhas não é mineral, como a encontrada em
outras praias. O sedimento é constituído de restos de algas, de corais, fragmentos de conchas de
moluscos, ossos de aves e peixes e de excretas das aves.
A fauna no Atol é rica, sendo formada por diversas espécies de peixes, lagostas, caranguejos, moreias,
polvos, corais e tartarugas-verdes e tartarugas-de-pente. É ainda onde se reproduz o tubarão-lixa e o
tubarão-limão, espécies que raramente atacam humanos. Há ainda a presença de tubarão-tigre, espécie
mais agressiva, mas que em Rocas não manifesta essa característica devido à quantidade de alimentos
disponíveis.
Cinco espécies de aves marinhas fazem ninho no Atol das Rocas: atobá-mascarado, atobá-marrom,
trinta-réis-do-manto-negro, viuvinha marrom e viuvinha negra. Há ainda a presença de aves migratórias,
entre elas fragatas e atobás-do-pé-vermelho. Estima-se que, permanentemente, cerca de 150 mil aves
habitem as duas ilhas do Atol.
Ao contrário da fauna, a flora no Atol é pobre, sendo constituída basicamente por algas na água e por
pequenos arbustos usados para as aves fazerem ninho em terra. Há ainda alguns coqueiros, que foram
plantados na época em que o Atol era habitado por faroleiros.
Maurizélia conta que o Atol foi palco de pelo menos 25 naufrágios, a maioria registrada antes de haver
um farol no local. O primeiro deles, segundo registro da marinha, foi citado em 1503, quando o almirante
Dario Paes Lemos narrou ter avistado destroços de um navio português de nome ignorado, sob
comando de Gonçalo Coelho.
O último naufrágio foi registrado em 17 de março de 2010, quando um veleiro de bandeira francesa com
três pessoas colidiu contra os recifes durante a madrugada. "O casal e o filho deles foram resgatados
pela nossa equipe de pesquisadores que estava no Atol e foram levados para a estação científica, onde
permaneceram até a chegada de uma corveta da Marinha do Brasil", conta Maurizélia. Restos de
embarcações que naufragaram no Atol ainda podem ser vistos no local.
A chefe do Atol lembrou que em novembro de 1881 foi iniciada a construção do primeiro farol no local,
que só entrou em funcionamento 1º de janeiro de 1883. A casa dos faroleiros foi concluída em 1887.
"Muitos outros faróis foram sendo construídos e destruídos pela ação dos ventos e da maresia no Atol.
Em 27 de novembro de 1967 foi inaugurado o farol que, até o presente momento, permanece sinalizando
a área do Atol das Rocas. Ele é constituído por armação metálica, fica a 18 metros de altura e tem
alcance luminoso de 13 milhas. Em outubro de 1986 esse farol foi eletrificado, com substituição de
acumuladores por baterias, instalação de painel solar e troca da lanterna."
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