954 REALIDADE SÓCIO-CULTURAL DO MUNICÍPIO TEFÉ-AM: UM ESTUDO SOBRE AS DANÇAS FOLCLÓRICAS Cristovão de Souza PESSOA Universidade do Estado do Amazonas, Acadêmico do Curso de Geografia, Rua: Joaquim Nabuco, 118, Monte Castelo Tefé-AM [email protected] Eubia Andréia RODRIGUES Universidade do Estado do Amazonas, Professora Titular, Estrada do Bexiga,1185 Jerusalém Tefé-AM [email protected] RESUMO Esta Pesquisa tem a finalidade de demonstrar à realidade cultural do município de Tefé- AM, em relação às danças folclóricas. O objetivo é mostrar a importância do resgate cultural através das danças, a diversidade cultural Amazônica em crenças, canções, danças e interpretações, representam à origem étnica da população, a temática do presente projeto partiu de uma observação parcial em relação à paralisação das danças folclóricas, sabendo-se que desde o surgimento do município foram introduzidas essas representações que ganharam um sentido peculiar. Na atualidade, essas manifestações se encontram paralisadas e algumas extintas, há um descaso geral em relação às manifestações culturais no município de Tefé. . Palavras-chaves: cultura; folclore; danças. ABSTRACT This survey is intended to demonstrate reality of the cultural city of Tefé-AM, for the dances. The goal is to show the importance of cultural revival through the dances, cultural diversity in Amazonian beliefs, songs, dances and performances, representing the ethnic origin of the population, the theme of this project came from an observation in relation to partial paralysis of folk dances , knowing that since the emergence of the council were made these representations that have gained a peculiar sense. Currently, these manifestations are paralyzed and some extinct, there is a general neglect in relation to cultural events in the city of Tefé. I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 955 Keywords: culture.folklore,dances. INTRODUÇÃO O conceito de cultura tem um sentido diferente do senso comum, sintetizando simboliza tudo o que é aprendido e partilhado pelos indivíduos de um determinado grupo. Cultura é o conjunto de manifestações humanas que contrastam com a natureza ou comportamento natural. O folclore é uma das manifestações da cultura popular, e a Amazônia rica em lendas, mitos, músicas, poesia, e danças, que encantam e fazem parte do imaginário dos habitantes de toda a região.Tefé por estar localizado na regiãodo médio Solimões no estado do Amazonas possui suas peculiaridades culturais e Segundo PESSOA(2000,p180): Em Tefé as manifestações folclóricas apareceram desde o início da história do município, as populações dos tempos colonias eram formadas por indígenas, que com suas festas, danças e ritos criaram na mentalidade popular o gosto pelo modo de vida daqueles povos que desapareceram. O presente trabalho fundamenta-se em mostrar à população tefeense as conseqüências causadas pelo desaparecimento das danças folclóricas tradicionais, com o objetivo principal de conscientizar e sensibilizar a população no resgate de suas raízes culturais, enfatizando as contribuições socioeconômicas que essas manifestações podem oferecer a toda comunidade, uma vez que essas representações estão imbricadas com a história dos povos da Amazônia, que segundo GRUZINSKI apud BRAGA(2007,p64): A partir do ano 1960, que coincide com a construção de novos fortins e a multiplicação das implantações da ordem dos carmelitas, intensifica na Amazônia a presença portuguesa e o processo de miscigenação com as populações autóctones. É importante destacar a presença das matrizes étnicas da formação do povo Brasileiro (índios, brancos e negros) presente nas danças folclóricas de Tefé. As lendas amazônicas fazem parte da vida de cada morador nos mais distantes recantos verdes, desde criança, é comum ouvir histórias como a do boto que se transforma em homem bonito e encanta as mulheres, a história da cobra-grande que assusta, e para muitos é a I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 956 explicação para a origem de alguns dos grandes rios, algumas lendas contam que a floresta é habitada por seres mitológicos que a protegem da fúria de caçadores e madeireiros, a crença em entes como o curupira, a Iara, o Mapinguari, o Matinta Perera dão a idéia da magia Amazônica e das raízes culturais do homem da região. O folclore reserva ainda a formação de grupos com músicas próprias, roupas típicas, dançarinos, e ritmos contagiantes. Sabe-se que a cultura não é só um conjunto de obras, mas um conjunto de práticas. A cultura tem relação com produção e intercâmbio de sentidos, isto é, o dar e receber sentidos entre os membros de uma sociedade ou grupo. No Amazonas não foi diferente, o contato com europeus, asiáticos, africanos e com os novos valores dos imigrantes nordestinos brasileiros, as culturas se entrelaçaram como explica Benchimol (1999 p13): O conhecer, o saber, o viver e o fazer na Amazônia Equatorial Tropical inicialmente foram um processo predominante Indígena. A esses valores culturais foram sendo incorporados, por via de adaptação, assimilação, competição e difusão, novas instituições, instrumentos, técnicas, incentivos e motivação implantados pelos seus colonizadores e povoadores Assim, a cultura deixa de ser considerada algo passivo e incorpora num sentido que pode criar e agir sobre as coisas e influenciar na realidade sócio-econômica do lugar, segundo o historiador Augusto Cabrolié, (1999 pg. 15) Tefé passou a figurar no calendário folclórico do Estado do Amazonas como promotora da segunda maior festa dessa natureza no Amazonas. Atualmente em Tefé destaca-se a festa da castanha, que representa a identidade cultural do município, há vários anos foi paralisada, no entanto continuou sendo a referência cultural. Hoje é o maior evento cultural do município, no qual traz como principais atrações a lenda da castanha, escolha da rainha que se apresenta com roupas típicas, concurso de músicas regionais, culinária local e regional, concurso de poesia. Não podemos deixar de citar outros eventos organizados por populares nas escolas, que apesar das dificuldades procuram manter a tradição, como é o caso da Escola Estadual Santa Tereza que junto à comunidade incentiva a realização da dança Africana, que se apresenta no mês de junho em festas escolares e festejos comunitários. I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 957 MATERIAIS E MÉTODOS A pesquisa iniciou com o levantamento bibliográfico, onde buscou identificar e contabilizar a variedades das danças folclóricas, a qual se chegou ao quantitativo de quatorze danças, que são: dança do rouxinol e uirapuru, dança do índio, dança da ciranda, dança Afro – América, dança Africana, dança do cangaço ou cabras de lampião, danças de quadrilhas, dança do barqueiro imperial, Raça Negra, dança da garça e o tangará, dança espanhola, dança gaúcha, dança de boi- bumbá e dança portuguesa. No segundo momento houve a coleta de informações através de questionário aberto com vinte comunitários, direcionados aos moradores mais antigos, que residem nos bairros de Santo Antônio, São Francisco, Jerusalém, Monte Castelo e Centro, com quarenta brincantes que participam das danças, dois coordenadores e um excoordenador das danças folclóricas e entrevista com o presidente da liga das danças tribais, (LIDANTE). Teve como foco principal verificar quais danças que estão em atividades, e as dificuldades em manter as mesmas. RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir do levantamento bibliográfico realizado verificou-se que das quatorze danças folclóricas só está em atividade à dança Africana, que é mantida através da parceria com a Escola Estadual Santa Tereza, na qual realiza quermesses para arrecadar dinheiro e custear as despesas com roupas, adereços, banda e instrumentos musicais. Em entrevista com o presidente da liga das danças tribais (LIDANT), foi constatado que sugiram três novas danças, que retratam a vida e os rituais indígenas, são elas: Cunhã Poranga, Guerreiro Amazônico e Tribal os Nativos, e que no oitavo festival houve o apoio financeiro do governo do estado do Amazonas, e organizado pela prefeitura municipal de Tefé. No oitavo festival das danças tribais (FESDANT), que aconteceu em dezoito de janeiro de 2010, só se apresentaram duas danças em função a divergências com as demais. Dando continuidade à entrevista, percebemos que não há preferência dos brincantes em participar das danças no seu bairro, eles têm a liberdade de escolha. I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 958 De acordo com as respostas obtidas através do questionário, relacionado à quais os fatores que causam a maior dificuldade para a apresentação da Dança emergiram 28 questões distribuídas seguindo os parâmetros que seguem abaixo. A vinculação com a falta de incentivo econômico abrange 20 das indicações podendo afirmar que o poder econômico em sua maioria é o principal fator de incentivo. Ex: “no meu ponto de vista é o poder aquisitivo o dinheiro” O segundo grupo com 5 sujeitos afirmam que é a falta de lugar para os ensaios e apresentações das danças. Ex; “falta de lugar para as apresentações e ensaios é o que mais prejudica nossas danças e o festival.” Registrou-se 3 respostas relacionadas à falta de interesse da comunidade com a cultura da cidade. Ex: “falta valorização da comunidade com nossas danças culturais.” Observamos que a questão cultural é traçada de diversas formas pela comunidade em geral e que existe uma preocupação com as danças folclóricas, que são entendidas como meio de valorização da cultura e um incentivo sócio-econômico no município. Os pontos de vista de 63 sujeitos originaram 54 respostas acerca da concepção o que levaria ao desaparecimento das Danças folclóricas no município de Tefé? O Município perderia sua cultura folclórica representaram 28 das respostas, caracterizando as danças como resgate da cultura tefeense. O Desaparecimento da Cultura tradicional apresenta 26 das respostas caracterizando as danças como resgate histórico cultural. Emergiram-se novas questões relacionadas à quais conseqüências sócio cultural que o desaparecimento das danças folclóricas poderiam causar para o município? Em sua maioria os sujeitos responderam que a cidade perderia uma oportunidade de movimentar seu comércio bem como o turismo Avançando em suas contribuições para a pesquisa os sujeitos confirmam a seguinte questão em relação á concepção do que poderia ser feito para conscientizar a população da importância da preservação das danças folclóricas no município? Emergiram-se 30 questões. I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 959 23 dos sujeitos responderam que deveria ser realizado com mais freqüência para que a comunidade acreditasse e se envolvesse cada vez mais valorizando assim a cultura tradicional do lugar. Um total de 7 sujeitos respondeu que com o passar do tempo as danças poderiam ser mais valorizadas, dentro de sua tradição, e a comunidade acreditaria na cultura. Para finalizarmos a pesquisa levou-se a questão para os sujeitos se eles acreditavam que através das danças folclóricas podemos manter vivas nossas raízes culturais e divulgála. Um total de 32 sujeitos responderam que sim, pois seria através das danças e seus rituais que se é mantida a tradição cultural de cada lugar. 31 sujeitos responderam que as lendas, danças e canções é que se pode manter viva a cultura. Percebemos que as danças folclóricas tradicionais na visão da população de Tefé representa é cultura materializada e segundo DURAND apud BRAGA: são os sujeitos que tem o papel ativo na dinâmica das culturas humanas, (2007). CONCLUSÃO O tema cultura é enfoque de vários estudiosos especialmente dos antropólogos que tentam vislumbrar dentro de uma compreensão consistente este fenômeno, as relações entre as culturas demonstram assim as diferenças entre várias outras existentes no mundo, assim como verificar as suas origens. No Brasil, podemos identificar uma grande diversidade cultural, ou seja, cada região ou sub-região apresenta seus próprios costumes, mudando assim esses costumes para uma representatividade local ou de um grupo de pessoas. No entanto, há outros fatores que permite que as culturas se modifiquem e conseqüentemente ganhem outros elementos significativos. A cultura brasileira ao longo dos anos sofreu grandes modificações, ou seja, uma espécie de sincretismo cultural, contribuindo assim para o surgimento de outros significados culturais. Este trabalho buscou responder qual a concepção histórica, cultural, política social que as manifestações folclóricas do município de Tefé possuem nos dias atuais. Apesar do festival folclórico de Tefé ser um dos eventos mais tradicionais do I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 960 Amazonas, contando com dezenas de cordões e danças, até hoje não existe um local adequado para as apresentações, todos os anos são improvisados tablados para as apresentações que são sempre ao ar livre. Constatamos que atualmente as danças folclóricas do município de Tefé se resumem em pequenas apresentações nas escolas e em meio às ruas a essência de um festival folclórico está guardada na lembrança dos moradores que acreditam que através de uma melhor estrutura física e incentivo financeiro, contribuirá para a difusão cultural além dos limites geográficos do município, refletindo nas atividades econômicas como uma opção de emprego e renda. Acredita-se, enfim, que os resultados do estudo ora concluído sinalizam para novas perspectivas relacionadas às manifestações culturais do município de Tefé, conclamando a comunidade em geral a repensar históricas relações mantidas pelo homem com a cultura, chamada a ser constantemente transformada pela mente crítica e pela mão criativa dos seres essencialmente críticos e criativos Referencias BRAGA, Sergio Ivan Gil (org). Cultura popular, patrimônio imaterial e cidades. Manaus: EDUA,2007. BENCHIMOL, Samuel. Amazônia: formação social e cultural. Manaus: Valer, 1999. CABROLIÉ, Augusto. Tefé e a cultura amazônica. São Paulo: Instituto Paulo Freire, 1996. PESSOA, Protásio. História da missão de Santa Teresa D’avila dos Tupebas. Manaus: novo tempo, 2000. . Obras consultadas CRUZ, Rita de Cássia Ariza da. Introdução a geografia do turismo, São Paulo, Roca, 2001. I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 961 FURASTE, Pedro Augusto. Associação Brasileira de Normas Técnicas. 15ª. ed. Porto Alegre:Dãctilo-Plus.2009. GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989. LARAIA, Roque de Barros. Cultura um Conceito Antropológico. São Paulo: Jorge Zahar,2008. SCHAEKEN, Raimunda Gil. Tefé, minha saudade. Manaus, Imprensa Oficial do Amazonas, 2004. I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP