China: (re)desenhando a globalização? 26/8/2011 1 A China (termo que significa o “Império do Meio” ou o “Centro do Mundo”), uma das mais antigas civilizações do planeta, conheceu, ao longo de sua história, um duplo e antagônico processo: por vezes, o país inteiro se agrupava ao redor de um governo central; em outros momentos, conflitos internos provocavam uma quase total desintegração. 26/8/2011 2 O Estado chinês se consolidou há aproximadamente 2.200 anos, quando se implantou o sistema único de escrita baseado em ideogramas, até hoje prevalecente no país. Embora mantendo suas próprias línguas, os chineses podiam ler os mesmos textos. 26/8/2011 3 1 - A REVOLUÇÃO CHINESA (1949): Até 1910: Submissão aos interesses estrangeiros. 1911: Proclamação da República. – Sun Yat-Sem – Kuomintang (Partido Nacionalista). – Instabilidade – “senhores da guerra”. 1921: Criação do PCCh (Mao Tsé-Tung). Até 1925: Aliança entre Kuomintang e PCCh. Com a morte de Sun Yat-Sem, assume Chiang Kai-Shek: PCCh é declarado ilegal (perseguição aos comunistas). 26/8/2011 4 A bandeira da República Popular da China foi adotada em 27 de setembro de 1949. A cor predominante é a vermelha, que simboliza a revolução e o Partido Comunista da China, que tomou o poder na guerra civil de 1949. No canto superior esquerdo estão dispostas uma estrela grande e quatro pequenas, sendo todas na cor amarela e de cinco pontas. A estrela grande simboliza o PCC (Partido Comunista da China) e as quatro menores o povo chinês. O amarelo das estrelas representa o brilho da luz no solo chinês. O posicionamento das estrelas representa a união e o engajamento entre o povo chinês e o Partido Comunista da China. 26/8/2011 5 China 26/8/2011 6 1934: Longa Marcha (12 mil Km). – Fuga de comunistas e tentativa de ampliar bases. 1937 – 1945: Guerra contra o Japão. – Aliança provisória entre Kuomintang e PCCh. Longa Marcha e guerra contra o Japão 26/8/2011 7 1945 – 1949: Guerra Civil – Kuomintang X PCCh – Shiang Kai-Shek e seguidores refugiam-se na ilha de Formosa (Taiwan). – Nacionalização de indústrias e reforma agrária. 1953 – 1958: Plano Qüinqüenal. – Modelo e suporte técnico soviético. – Ênfase na indústria de base. – Criação de cooperativas nos campos. 1958 – 1962: Grande Salto Para Frente. – Deslocamento de subsídios para a agricultura. – Socialismo Chinês: BASE RURAL. – 1960: Rompimento entre China e União Soviética. – Fracasso – Mao é afastado das principais decisões. 26/8/2011 8 1966 – 1976: Revolução Cultural – Fortalecimento de Mao Tsé-Tung (“O Grande Timoneiro”) – Radicalização ideológica. – Arte engajada política e socialmente. – Anti-ocidentalismo. – Ridicularização de intelectuais. – “Reeducação”. 1971: China é aceita na ONU 26/8/2011 9 1976 em diante: As 4 grandes modernizações. – Morre Mao Tsé-Tung – assume Deng Xiaoping. – Investimentos em indústria, agricultura, defesa e educação (ciência e tecnologia). – Abertura econômica controlada pelo governo (criação das ZEE’s). – Economia socialista de mercado. 26/8/2011 10 Zonas Econômicas Especiais 26/8/2011 11 26/8/2011 12 – 1989: Estudantes clamam por uma quinta modernização e são massacrados na Praça da Paz Celestial. 26/8/2011 13 LÍDERES E PRÁTICAS ECONÔMICAS DA REVOLUÇÃO LÍDER PERÍODO PROGRAMA Mao Tsé-Tung 1949 – 1976 Grande Salto Para Frente, Crescer com os Próprios Pés, a Grande Revolução Cultural proletária Deng Xiaoping 1976 – 1993 As Quatro Modernizações Jiang Zemin 1993 – 2003 Abertura ao Capitalismo Internacional e inserção da China Popular no comércio mundial Hu Jintao 26/8/2011 2003 – Continuidade da política anterior. 14 Na história da humanidade, nenhum país alcançou os resultados chineses em um período tão breve. 26/8/2011 15 Linha do Tempo: Resumo 1911: República 1949: Fundação da República Popular da China 1949-1952: distribuição de terras aos camponeses 1954-1958: cooperativas, fazendas coletivas, comunas 1958: Salto para frente, via industrialização e mobilização de massa. Resultados trágicos. Em 1962, fome e morte de milhões de agricultores. 1966: Mao lança revolução cultural 1976: morte de Mao. Diminuição da sua influência política 1978: Início das reformas. Desregulamentação da agricultura (Deng lidera coalizão de pró-mercado + estatizantes). Diminuiu a coletivização da agricultura, elevou preços, introduziu incentivos na indústria, criou zonas econômicas especiais na costa, para atrair IDE. Quatro modernizações, agricultura, indústria, C&T e defesa (baseadas no socialismo, ditadura do proletariado, liderança do PCC e no pensamento de Mao).. 1984: Descentralização, extensão para a indústria dos avanços do campo. Reforma urbana. Desregulação de preços (dual-track system). Surgimento das township and village industries. 1988: Ala mais estatista toma o poder (1989 – Tiananmen). 1992: economia socialista de mercado com características chinesas. Instrumentos capitalistas são compatíveis com socialismo. Queda da URSS. 1997: Início das privatizações. 26/8/2011 16 Beijing 26/8/2011 17 Shanghai 26/8/2011 18 Programas em conflito (1977–85) Mao Estilo soviético Organização ideal da economia socialista Inspiração Economia planificada e descentralizada regionalmente. Regiões auto-sustentadas. Pensamentos Mao Planejamento central com mercado limitado Método Mobilização de massa Agricultura Grandes comunas Uso limitado de incentivos materiais Pequenas cooperativas Indústria urbana Propriedade estatal, planejamento central e controle sobre empresas Indústria rural Planejamento central nas comunas para aumentar auto26/8/2011 sustentação URSS Pró-mercado Socialismo de mercado. Descentralização completa Hungria, Iugoslávia, Coréia e Singapura Fortes incentivos materiais Competição familiar Propriedade estatal e planejamento central Propriedade estatal com autonomia gerencial Pequenos negócios privados. Planejamento central para estatais Setor privado pequeno e autonomia para estatais 19 A transição chinesa Em 1997, no seu XV Congresso, o PCC decidiu iniciar um programa de privatizações para “diversificar a estrutura de propriedade”. A decisão deu seguimento ao XIV Congresso (1992), que havia anunciado a criação de “uma economia socialista de mercado com características chinesas”. A mão-de-obra na agricultura caiu de 71% em 1978 para 51% em 1996. No mesmo período, o PIB industrial produzido pelas estatais caiu de 82% para 26%; e o volume de comércio cresceu de 10% para 36% do PIB. Os indicadores sociais (expectativa de vida, analfabetismo, mortalidade infantil, renda per capita, pobreza) melhoraram significativamente. E esse desempenho suscitou várias perguntas: 26/8/2011 20 Transformações 1980 PIB per capita (US$ bilhões) 2000 168 727* 20 31 Agricultura 30 16 Indústria 49 51 Serviços 21 33 Agricultura 69 50 Indústria 18 23 Serviços 13 27 12 42 % da população nas áreas urbanas PIB (%) na: Emprego (%) (%) Exportações+Importações/PIB 26/8/2011 Fonte: Banco Mundial. Dólar constante. (*) 1988 21 As reformas Iniciadas em 1978, produziram um dos mais impressionantes desempenhos econômicos dos últimos 50 anos. Esse crescimento se deu na ausência de instituições reconhecidas como insubstituíveis, como o frágil e instável corpo legal e uma enorme carência de mecanismos transparentes de defesa da propriedade privada. Uma das marcas distintivas da economia chinesa é a natureza de suas instituições. Suas especificidades, porém, precisam ser detectadas. 26/8/2011 22 Inovações As inovações chinesas exibem uma formação diversificada e nada convencional. Como esses mecanismos estão marcados pelas condições iniciais, seu funcionamento é sempre complexo. Desde 1978, as reformas orientadas para o mercado se apóiam nas instituições que haviam sido concebidas para um estado centralizado. A China inovou ao introduzir um sistema de contratos e de preços (dual-track) que permitiu a união da racionalidade econômica com a política, dos interesses do Estado central com os interesses locais (províncias, cidades, empresas). A mesma preocupação existiu na definição da forma da propriedade das empresas. As “township-village enterprises” surgiram à margem do planejamento central, produziram empresas que não são “privadas nem estatais”. Os governos locais apóiam fortemente as empresas produtivas não estatais, assim como buscam reformar as estatais ineficientes. 26/8/2011 23 Partido, Governo e Sociedade O PCC continua definindo as regras e as políticas do Estado, de modo a controlar a economia e a sociedade. Esse controle chega ao ponto da definição dos executivos das estatais até a determinação dos sócios chineses das joint-ventures. As reformas chineses estão repletas de contradições. E estão longe de seguir uma marcha linearmente ascendente. Há desequilíbrios de preços, empresas não produtivas, desperdício, agressão ao ambiente, gargalos de infra-estrutura, desigualdades crescentes (cidade-campo, litoral-interior etc.) A transição chinesa deve ser vista como um processo, cujo sucesso não está garantido, mas cujo fracasso não está dado de antemão apenas porque o mainstream da economia não está sendo obedecido. 26/8/2011 24 Mas também vieram os problemas... O conhecido “milagre chinês”, trouxe algumas mazelas para o país, tais como: • baixo custo de mão-de-obra muito disciplinada e trabalhadora. • salário mínimo de 25 dólares por uma jornada de trabalho de 12 horas diárias. 26/8/2011 25 Desigualdade social Uma outra face desse “milagre” é o agravamento das desigualdades sociais e regionais, que tem provocado as migrações internas. A cidade de Shenzen, por exemplo, cresceu de 100 mil habitantes em 1979, para mais de três milhões em 1999. Todos queriam ir para as zonas econômicas especiais e as cidades livres em busca de melhores salários. 26/8/2011 26 Meninas abandonadas 26/8/2011 27 A questão do Tibete Localizado no sudoeste da China, o Tibete é uma região de tradição budista no alto das montanhas do Himalaia. Parte do seu território se mantém-se como “autônomo” em relação à Pequim; 26/8/2011 28 Entendendo a causa tibetana O Tibete vem sendo palco de protestos contra os mais de 50 anos de domínio chinês. Estas protestos começaram como uma reação à notícia de que monges budistas teriam sido presos depois de realizar uma passeata para marcar os 49 anos de um levante tibetano contra o domínio chinês (dia 10 de março de 2008); Segundo a China, o Tibete faz parte de seu território desde meados do século XIII e deverá ficar sob o comando de Pequim; Segundo os tibetanos a região do Himalaia ficou independente durante séculos e que o domínio chinês nem sempre foi constante; Entre 1911 e 1950 o Tibete manteve o status de país independente, até que Mao Tsé-tung comandou a Revolução Chinesa em 1949, anexando o Tibete no ano seguinte; Em 1959, uma rebelião liderada por monges budistas foi massacrada pelas tropas chinesas. O fracassado levante popular, levou ao exílio o líder espiritual dos tibetanos, o Dalai Lama (monge Tenzin Gyatso, hoje com 72 ANOS - 14ª encarnação do espírito de Buda); Em 1963, o Tibete ganhou status de “Região Autônoma”, e hoje conta com um governo comandado/apoiado pela China; 26/8/2011 29 Os maiores problemas para o povo tibetano Número crescente de imigrantes chineses da etnia majoritária han chegam à região incentivados pelo governo (massificação cultural) e conquistam os melhores empregos; Os tibetanos acreditam estarem excluídos dos benefícios dos avanços econômicos desfrutados por outras províncias costeiras da China; Enorme repressão cultural, política, religiosa e violação dos direitos humanos por parte da China; Desde que exilou-se no norte da Índia, Dalai Lama viaja o mundo para advogar por mais autonomia para sua terra natal, sempre enfatizando que não defendia a violência. Ele ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1989. 26/8/2011 30 Atualmente... A economia da China é maior que as de Brasil, Rússia, Índia e África do Sul somadas. Ela conseguiu destronar a do Japão, que ocupava a posição desde 1968, como a 2ª maior economia do Mundo, atrás dos Estados Unidos. Com um PIB de US$ 5878,6 bilhões, os Chineses ultrapassam os nipônicos que acusaram muito a recessão econômica em 2008 e 2009. 26/8/2011 31 26/8/2011 32 China, América Latina e o Brasil Entre 1990 e 2002, as exportações de manufaturados cresceram a uma taxa de 16,6% aa. (de US 48 bi para 303,5 bi), elevando a participação chinesa no mercado mundial de 1,9% para 6,4%. Em 2002 a China superou o Reino Unido e, em 2003, a França. Entre 2002 e 2004, a China foi o destino favorito das empresas de manufatura intensivas em trabalho. Como o custo do trabalho na China é cerca de 1/4 daquele do México, o resultado foi que cerca de 300 empresas de manufatura migraram do México para a China. Na América Latina, os países mais ameaçados pela expansão chinesa são: Costa Rica, El Salvador e Chile, com cerca de 70% de suas exportações pressionadas por produtos chineses. Com 20% das exportações submetidas à competição chinesa estão: Brasil, Chile, Bolívia, Uruguai e Colômbia. 26/8/2011 33 26/8/2011 34 BRASIL X CHINA BRASIL CHINA Área 8.547.403 km2 (5º) 9.607.553 km² (4º) Costa 9000 km 18400 km Montes Pico da Neblina 3014m Pico 31 de março 2992 m Pico da Bandeira 2889 m Everest K2 8848 m 8611m Amazonas São Francisco Paraná Yangtse Yellow Perola 6300 km 5462 km 2214 km Rios 26/8/2011 6868 km 2830 km 4500 km 35 BRASIL X CHINA BRASIL CHINA Florestas 5.5 milhão km² 1,29 milhão km²(1996) 1,75 milhão km²(2005) Divisão Administrativa 27 estados e um Distrito Federal. 24 províncias, 5 regiões autônomas incluindo o Tibet, 3 municipalidades (Pequim, Xangai e Tianjin). Idioma Português (principal) Mandarim (principal) e 54 dialetos. Moeda Real (1 US$ = R$ 1.611 (08/2011) Yuan Renmimbi ( 1 US$ = 6.39 Yuan 08/2011) 26/8/2011 36 BRASIL X CHINA BRASIL CHINA População 190 milhões de hab. São Paulo: 11 milhões Rio de Janeiro: 6 milhões Salvador: 2,7 milhões 1.306.206.000 hab. Shanghai: 13milhões Beijing: 11milhões Espectativa de Vida 72 anos (2006) 75 anos (2007) Aposentados 22 milhões 41 milhões Religião Católicos: 137 milhões Muçulmanos: 30 mil Protestante: 28 milhões Católicos: 84 milhões Muçulmanos: 18 milhões Protestante: 10 milhões 26/8/2011 37 26/8/2011 38 UFBA 2005 QUESTÃO 01. Desde sua formalização, as relações sino-brasileiras apresentam-se marcadas por uma característica muito importante no sistema internacional contemporâneo: o fato de aproximar e unir os dois maiores países do mundo em desenvolvimento. (CABRAL. In: Carta Capital, 2004, p. 40). A partir da análise do texto e dos conhecimentos sobre as relações sino-brasileiras, pode-se afirmar: (01) As relações comerciais do Brasil com a China, firmadas desde a primeira década do século XX,destacam o petróleo, o trigo, o arroz e os brinquedos como produtos importados daquele país. (02) O Brasil e a China apresentam pontos comuns, não só por exibirem grande extensão territorial e superpopulação, como também por terem similaridade em relação ao PIB, ao IDH e à produção do espaço. (04) O espetáculo dos grandes números exibidos pelo crescimento chinês estrutura-se sobre alguns segmentos, nem sempre admiráveis, como a ação descontrolada sobre os recursos naturais –– degradação do solo, poluição da água e do ar –– e a espoliação da mão-de-obra. 26/8/2011 39 (08) A presença de chineses em território brasileiro remonta ao início do século XX, quando esses imigrantes foram introduzidos no país, dedicando-se sobretudo às atividades urbanas. (16) A presença da China no cenário econômico internacional formalizou-se após a extinção do governo de Mao, quando ações de caráter capitalista exigiram a aproximação daquele país com o mercado ocidental. (32) A economia chinesa define-se por ser essencialmente liberal e capitalista, acompanhando a estrutura política local, democratizada após a derrota do socialismo no continente asiático. (64) O elo que aproxima “os dois maiores países do mundo em desenvolvimento” é, entre outros, o caráter complementar de suas economias, a produção brasileira de alimentos e a produção chinesa de manufaturados de fácil consumo. 26/8/2011 40 UFMG QUESTÃO 02. A partir de 1966, Mao Tse-Tung promoveu uma “revolução dentro da revolução”, que ficou conhecida como Revolução Cultural. Essa Revolução notabilizou-se por a) favorecer a ascensão de Deng Xiaoping, que assumiu a liderança da nova revolução e a direção das atividades dos grupos mais radicais. b) flexibilizar as teses políticas de Mao Tse-Tung, que passou a contar com o apoio dos Guardas Vermelhos, orientados para fortalecer o poder do Partido Comunista. c) fortalecer o culto à personalidade de Mao Tse-Tung, transformado em autoridade absoluta com a ajuda do Livro Vermelho, que difundia suas teses revolucionárias. d) inspirar um movimento de preservação do patrimônio cultural chinês, que protegeu pinturas, obras de caligrafia, museus, palácios, templos e túmulos antigos. 26/8/2011 41