Modalidade: Comunicação Oral (apresentação no formato slides) GT: Artes Visuais Eixo Temático: 3. Educação em Artes Visuais em Projetos Sociais. A ARTE NO CONTEXTO HOSPITALAR Veruschka Greenhalgh (UFPE, PE, Brasil) RESUMO: O presente artigo aborda uma experiência vivenciada no campo de estágio, da disciplina de Estágio Curricular em Ensino das Artes Visuais 3, em espaços não formais, do curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Federal de Pernambuco. O estágio foi realizado no Hospital das Clínicas, no setor de Transplantes e Obesidade, com a Oficina de Pintura e estava atrelado ao Programa MAIS – Programa Manifestações de Arte Integradas à Saúde. A experiência buscou um entrelaçamento entre a Arte/Educação e a Arteterapia no contexto hospitalar e como estas podem contribuir no processo de reabilitação da saúde dos pacientes. Palavras-chave: Arte; Arteterapia; Saúde EL ARTE EN EL ÁMBITO HOSPITALARIO RESUMEN: Este artículo describe una experiencia en el campo de la formación, la disciplina de Práctica en Enseñanza de Artes Visuales 3, en contextos no formales, la Licenciatura en Artes Visuales en la experiencia de la Universidad Federal de Pernambuco. La etapa se realizó en el Hospital de Clínicas de Trasplantes y sector obesidad, con el Taller de Pintura, fue vinculado al Programa MAS -. Demostraciones de Artes Integradas Programa de Experiencia de Salud buscaron un entrelazamiento de Arte / Educación y Arteterapia en hospital y cómo éstas pueden contribuir al proceso de rehabilitación de la salud de los pacientes. Palabras clave: Arte; Arteterapia; Salud “a arte é o remédio e o melhor deles” 1 Machado de Assis 1 Introdução A Arte é mesmo um remédio? Pode a Arte promover a cura a alguém? Estes questionamentos são frequentes quando se fala em Arteterapia. Inúmeros estudos e pesquisas, como os de Souza (s/d), Bezelga (2003); Urrutigaray (2008) e Costa; Carolino; Costa (2009) são realizados, no mundo inteiro, neste campo e apontam para resultados significativos. Entre eles está a Linha de Pesquisa em Arteterapia e Arte/Educação Inclusiva, do Grupo de Pesquisa em Arteterapia e Educação em 1 Carta a Mário de Alencar, 23 fev. 1908, citada em Lopes, 2001, p.43. Artes Visuais (GPAEAV) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), sob a coordenação do Dr. Prof. Robson Xavier da Costa, que desenvolve projetos de extensão e estudos com o objetivo de disseminar e ampliar os conhecimentos sobre arteterapia no estado da Paraíba. Por exemplo, o projeto “Cuidar de cuidadores: arteterapia na Casa da Criança com Câncer”, em parceria com o Núcleo de Apoio à Criança com Câncer - Nacc-PB, Costa; Carolino; Costa (2009). O que percebemos é que a arte traz sim, benefícios para quem está passando por problemas de saúde física, mental ou de ordem emocional. Como afirma Urrutigary: o trabalho com arteterapia possibilita a reconstrução e integração de uma personalidade [...], apoiado num referencial teórico de suporte, que permita a aquisição da autonomia, como objetivo ou meta para melhora da vida humana (URRUTIGARAY, 2008, p. 18). Apostando na reabilitação da saúde com a intervenção de projetos de artes nas diversas linguagens como música, teatro, dança e artes visuais, várias instituições de saúde, sejam psiquiátricas ou hospitalares, adotaram como um de seus procedimentos, as Artes como possibilidade terapêutica. Segundo a União Brasileira de Associações de Arteterapia - UBAAT, a arteterapia é: o uso da arte como base de um processo terapêutico, propicia resultados em um breve espaço de tempo. Visa estimular o crescimento interior, abrir novos horizontes e ampliar a consciência do indivíduo sobre si e sobre sua existência. Utiliza a expressão simbólica, de forma espontânea, sem preocupar-se com a estética, através de modalidades expressivas como: pintura; modelagem; colagem; desenho; tecelagem; expressão corporal; sons; músicas; criação de personagens, dentre outras, mas utiliza fundamentalmente as artes plásticas e é isso que a identifica como uma disciplina diferenciada. Enquanto a Arte Educação ensina arte, a arteterapia possui a finalidade de propiciar mudanças psíquicas, assim como a expansão da consciência, a reconciliação de conflitos emocionais, o autoconhecimento e o desenvolvimento pessoal. A arteterapia tem também o objetivo de facilitar a resolução de conflitos interiores e o desenvolvimento da personalidade. Por ser bastante transformadora, pode ser praticada por crianças, adolescentes, adultos e idosos, por pessoas com necessidades especiais, enfermas ou saudáveis. Hoje, é exercida em ateliês e instituições com atendimentos individuais ou em grupos. (SOUZA, s/d.). Deste modo, a escolha de se trabalhar com as Artes como terapia possibilitou um campo mais amplo para os profissionais das artes, porém estes não estão habilitados a procedimentos terapêuticos mais específicos, por exemplo, os psicológicos, por não possuírem formação nas áreas de Psicologia ou de Terapia Ocupacional, mas nada impede que os profissionais das Artes possam atuar junto a estes outros profissionais contribuindo positivamente nos processos de reabilitação da saúde. Neste caso, a União Brasileira de Associações de Arteterapia- UBAAT, determina: para ser um arteterapeuta, é necessária uma formação específica, uma vez que a disciplina fica na interface entre a arte e a terapia. Portanto é fundamental aprofundamento e treinamento prático nessas áreas. Para que o profissional seja reconhecido como arteterapeuta pela associação do estado em que reside, é necessário que curse uma formação ou especialização que possua o currículo mínimo e a carga horária mínima estabelecida pela União Brasileira de Arteterapia (UBAAT). Os cursos de arteterapia são ministrados para profissionais de diversas áreas, psicologia, pedagogia, psiquiatria, fonoaudiologia, arte-educação, enfermagem, etc., onde cada um insere a arteterapia em sua área de habilitação profissional. (SOUZA, s/d.). Assim, o campo da saúde passou também a integrar-se como campo de atuação de profissionais das diversas linguagens das Artes. Pois os arteterapeutas são profissionais com treinamento tanto em arte como em terapia. Portanto, as instituições de saúde junto às instituições superiores de formação de profissionais em Artes devem integrar-se na formação destes, promovendo cursos, estágios supervisionados, seminários, encontros e outros eventos que aprofundem os conhecimentos na área da arteterapia. E sobretudo, na contratação destes profissionais nos quadros funcionais das instituições hospitalares, sejam públicas, através de concursos, sejam privadas. A Arteterapia, bem como a bibliografia específica da área, tem crescido consideravelmente no Brasil nas últimas décadas. No Brasil, há várias associações de arteterapeutas: Associações de Arteterapia do Rio de Janeiro, Pernambuco, Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo, Brasil Central, Rio Grande do Sul, Bahia e Sul do Brasil, além da União Brasileira de Associações de Arteterapia (UBAAT) cuja finalidade é reconhecer, normatizar e legalizar a profissão. 2 A experiência Dentro do contexto da arteterapia é que aconteceu o meu estágio da disciplina de Estagio Curricular em Artes Visuais 3, que consiste em estágio supervisionado na educação não formal em projetos sociais e organizações não governamentais – ONGs. Neste caso específico, no Programa MAIS – Programa Manifestações de Arte Integradas à Saúde (Mais) do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco-UFPE. O programa iniciou em 4 de junho de 2007 com o objetivo de levar atividades artístico-culturais a pacientes, acompanhantes, funcionários e alunos do Hospital das Clínicas da UFPE, como ferramenta complementar no tratamento e reabilitação dos pacientes e na humanização da assistência à saúde. Em 2011 o MAIS passou de projeto para programa de extensão, recebendo o reconhecimento da Pró-Reitoria de Extensão da UFPE. Vinculado ao Departamento de Patologia do Centro de Ciências da Saúde, com o apoio dos Serviços de Dermatologia e Patologia, o programa conta com a parceria do Centro de Artes e Comunicação através dos Departamentos de Música, Teoria da Arte e Ciência da Informação, todos da UFPE. Sob a coordenação geral da Profª Leniée Campos Maia, vice coordenação Drª. Maria de Fátima Gaspar Pinheiro e coordenação de Artes Prof. Mário Sette. Apoiado pela Pró-Reitoria de Extensão (Proext), o MAIS mantém parceria também com a Escola Municipal de Arte João Pernambuco. Os objetivos do Programa MAIS são: Promover humanização no ambiente hospitalar melhorando a qualidade de vida de pacientes, acompanhantes, alunos e profissionais de saúde; Reduzir o nível de estresse no ambiente hospitalar; Utilizar as várias manifestações de arte como ferramenta complementar no tratamento das doenças e promoção da saúde; Sensibilizar e estimular a comunidade do HC para novas experiências artísticas e culturais. (UFPE, 2009). Na tentativa de atingir esses objetivos, é que me interessei em cumprir o estágio no Programa MAIS do HC/UFPE, a fim de ampliar o universo de aprendizado na área do ensino das Artes Visuais em todos os setores possíveis para à minha atuação como profissional. O presente texto é uma narrativa das minhas experiências vivenciadas na regência do estágio no Programa MAIS. Primeiramente vale ressaltar a importância da relação entre teoria e prática. Esta se deu simultaneamente entre as aulas teóricas, onde foram discutidos textos, relatos sobre as experiências de cada um dos estagiários em cada uma das suas áreas escolhidas, bem como as orientações sobre os planos de atividades que foram desenvolvidas. Já a prática, o estágio supervisionado, compreendeu a regência no espaço não formal, no meu caso o Programa MAIS, que aconteceu no Setor de Transplante e Obesidade, no 10º andar, Ala Sul do Hospital da Clínicas-UFPE. Neste setor os pacientes estão à espera ou se recuperando de cirurgias bariátricas, vasculares no caso de diabéticos e transplante de órgãos. É um setor tenso, cercado por um clima de ansiedade e estresse, tanto pelos pacientes como pelos seus acompanhantes. Todos os pacientes tem um histórico de vida dramático, muitos sofrem as consequências de uma vida sem cuidados com a saúde e alguns por problemas congênitos. Mas, todos com uma história longa de sofrimento e que veem neste momento, uma possível solução para seu problema. Diante deste quadro, de profundo estresse e ansiedade, surgiu a Oficina de Pintura que desenvolvi com esse grupo. O objetivo da Oficina foi o de possibilitar aos pacientes e seus acompanhantes um momento de descontração e reflexão. Para eles foi um momento de catarse, para mim de múltiplos aprendizados. Eles não estavam interessados em aprender Arte ou sobre História da Arte e suas manifestações. Estavam interessados em exprimir seus sentimentos e anseios, seus medos e esperanças. Nesse sentido: A Arteterapia é um processo terapêutico que utiliza a arte como recurso para atingir o inconsciente humano, com o objetivo de conectar os mundos internos e externos do individuo pelo simbolismo, mediante recursos artísticos, trabalhando as emoções como forma de expressão (COSTA; CAROLINO; CASTRO; COSTA, 2009, p.3). A cada pincelada uma história, uma lembrança, uma ponta de esperança. E foi nesse clima que aconteceram as oficinas. Sempre registradas com imagens e anotações em meu diário de bordo, este foi um importante aliado, foi o que me deu suporte para poder acompanhar o desenvolvimento do estágio como um todo. Neste sentido Zabalza defende: Tanto escrever sobre o que fazemos como ler sobre o que fizemos nos permite alcançar uma certa distância da ação e ver coisas e a nós mesmos em perspectiva. Estamos tão entranhados no cotidiano, nessa atividade frenética que nos impede de parar para pensar, para planejar, para revisar nossas ações e nossos sentimentos que o diário é uma espécie de oásis reflexivo. (ZABALZA, 2004, p. 136). Escrever um diário é escrever sobre mim mesma, pois ao escrever sobre a minha experiência vivida em cada oficina, falo não só dos participantes, mas falo também sobre mim, sobre minhas expectativas e sobre minha atuação. Construo um diálogo comigo mesma, é um olhar para dentro. Sobre o olhar para dentro Bachelard (2003) fala sobre o desejo de ser ver o interior, o de miniaturizar-se para entrar no interior das coisas, o se ver por dentro, ver o oculto, “É essa vontade de ver no interior de todas as coisas que confere tantos valores às imagens materiais da substância” (BACHELARD, 2003, p. 8). E essa substância, aqui neste contexto, sou eu no interior daquele espaço dedicado as oficinas de pintura. Então, escrever um diário e depois lê-lo e refletir é como uma imersão no próprio interior. Neste mesmo sentido afirma Holly: Os educadores que optam pela elaboração de diários profissionais e pessoais escolheram observar-se a si próprios, tomar a experiência em consideração e tentar compreendê-la. A escrita dos diários autobiográficos envolve o processo de contar a história da sua própria vida. Uma das diferenças entre teorização normal, ou cotidiana, do professor e a escrita sobre suas próprias experiências, pensamentos e sentimentos, é que esta última demora muito mais tempo. Há mais tempo para observar e refletir sobre o que se escolhe para ser contado. (HOLLY, 1995, p. 101). Inicio a narrativa, das minhas anotações, colocando primeiramente meus sentimentos em relação as expectativas na regência neste setor tão delicado que é o da Arteterapia. Ao escolher o Programa MAIS pretendia penetrar num universo diferenciado de outros campos que já conhecia como, oficinas de artes para crianças em museu, ensino da arte em ONG, e em escolas, oficinas de pintura no Hospital Psiquiátrico Ulisses Pernambucano em um projeto de doutoramento da Profª e artista Ana Lisboa. Escolhi o Hospital das Clínicas por acreditar que a Arte pode melhorar a condição de saúde de pacientes internados, humanizar o espaço “frio” dos hospitais e acalantar o coração dos pacientes e seus acompanhantes. E também por que vejo no setor da saúde um campo promissor para profissionais da área das artes, com ou sem especialização em arteterapia. Depois da escolha veio o primeiro contato com a coordenadora do projeto, este aconteceu no dia 10 de dezembro de 2013, momento em que me foi apresentado o programa. Esse encontro foi bastante animador e ocorreu de maneira bem receptiva por parte da coordenadora, o que me deixou mais motivada. No dia 17 de dezembro, estivemos no hospital fazendo um reconhecimento dos espaços. Fomos a todos os setores conhecer as enfermarias e suas especificidades conhecendo as atividades desenvolvidas em cada uma delas. As intervenções artísticas que acontecem no hospital são as de contação de histórias, música, teatro, doutores da alegria e artes visuais com artesanatos. No dia 14 de dezembro, juntamente com as outras estagiárias, tivemos uma reunião para definição da área de atuação de cada estagiária. Devido a minha disponibilidade de horário pude criar a minha própria oficina, que foi a de pintura que aconteceu nas terças-feiras pelo horário da manhã. A programação da semana é sempre divulgada do site da UFPE: O Programa MAIS: Manifestações de Arte Integradas à Saúde divulgou as atrações desta semana no Hospital das Clínicas. Hoje (04), a partir das 8h, haverá oficina de pintura, teatro de objetos, arteterapia, entre outras atividades, para os pacientes, acompanhantes e servidores do HC. (UFPE, 2014). Para a preparação das oficinas foi necessário pesquisa, planejamento de atividades, levantamento e aquisição de material. Solicitaram-me que enviasse sempre no prazo de 48 horas a programação das oficinas para que fossem divulgadas semanalmente no site do Programa. Estive no setor de obesidade e transplante a fim de fazer o primeiro contato com os pacientes e seus acompanhantes, estabelecendo uma relação de confiança. Foi possível conversar com cada paciente ouvindo suas histórias e queixas. Eles ficaram satisfeitos com esse primeiro contato. Pude sentir que alguns queriam apenas desabafar, ter alguém para conversar e outros já queriam iniciar a oficina. O planejamento das atividades foi realizado de forma a constituir uma dinâmica entre o passado, figurado pelo Expressionismo representando o sofrimento antes da cirurgia, e o futuro figurado pelo Fauvismo representando a alegria (esperança) depois da cirurgia e alta do hospital. Mas, eram livres para decidir a ordem, como: alegria antes do sofrimento e assim por diante. Na primeira oficina apenas uma paciente participou. Levei dois livros, um com imagens do Expressionismo de Munch e outro do Fauvismo de Matisse. A paciente refletiu sobre os temas propostos, entre passado e futuro, e contando sua história de vida, pintou com giz de cera os dois momentos que se encontrava. Ela esperava uma angioplastia e apesar das dificuldades não tinha um passado tão sofrido, mas tinha um futuro cheio de expectativas, e com seus 70 anos ainda tinha muita coisa para viver e aproveitar. Como mostra as fotografias 1 e 2. Fotografia 1 Fonte: Acervo particular da autora Fotografia 2 Fonte: Acervo particular da autora Em outro dia de realização da oficina organizei todo material, separei as tintas que estavam boas para o uso, cortei os papéis em formato A4. Conseguimos vários potes de tinta guache e diversos tipos de papéis como 40 kg e kraft. Separei lápis, potes para água, panos para limpeza, tudo o que uma oficina de pintura precisava. Dessa vez participaram quatro pessoas, um paciente iniciou, mas devido a extrema ansiedade não conseguia ficar parado e foi andar pelo corredor, ele estava aguardando uma cirurgia vascular na perna. As três pessoas que continuaram foram acompanhantes, gostaram da oficina, interagiram comigo e entre si contando a história de cada paciente que acompanhavam. Filha, mãe e esposa de pacientes cada uma com sua própria história de vida. Pintaram a casa, relembrando os momentos em família, pintaram flores representando a beleza, apesar da angústia em estar naquele lugar. A beleza da flor para uma delas, que era filha do paciente que foi passear no corredor, representava a esperança do pai ficar melhor e não precisar amputar o pé. Uma das acompanhantes iniciou a oficina relatando que naquele dia em especial, acordou com lembranças de sua infância. Esta senhora falou que queria pintar para libertar a criança que estava se lembrando e até pintou a mão, ela estava acompanhado a filha que tinha sérios problemas renais. Foi uma oficina rica, como podemos ver nas fotografias 3, 4, 5, 6, 7 e 8. Fotografia 3 Fonte: Acervo particular da autora Fotografia 4 Fonte: Acervo particular da autora Fotografia 5 Fonte: Acervo particular da autora Fotografia 6 Fonte: Acervo particular da autora Fotografia 7 Fonte: Acervo particular da autora Fotografia 8 Fonte: Acervo particular da autora Em outro dia aconteceu a oficina apenas com uma acompanhante que estava muito aflita, pois sua mãe que havia passado por uma cirurgia vascular e já se recuperava, sofreu um infarto e foi transferida para a UTI, e seu estado era grave. Esta filha apesar de aflita tinha esperança e confiava em Deus, por ser religiosa não tinha medo da morte e se dizia estar pronta para aceitar a vontade de Deus, seja ela qual fosse. No início da oficina não sabia bem o que queria pintar, então peguntei-lhe como estava se sentindo em relação ao problema da mãe e ela começou a falar dos seus sentimentos e de como acreditava, que apesar de tudo, o nascer do sol é sempre uma esperança, uma vida que se renova e que a noite é assustadora e pode trazer notícias ruins. Pintou um sol alegre como mostra as figuras 9 e 10. Fotografia 9 Fonte: Acervo particular da autora. Fotografia 10 Fonte: Acervo particular da autora. Na semana seguinte recebi a notícia que sua mãe, após complicações coronarianas, faleceu na mesma noite em que aconteceu a Oficina de Pintura. Assim, pude compreender que lidar com a vida em seu limite não é tarefa fácil para nenhuma das pessoas envolvidas no processo de hospitalização. E que este é um ambiente de muitos desafios e possibilidades para o arteterapeuta e para os pacientes e familiares. 3 Considerações finais O estágio deixou aprendizados. Pude perceber que a intervenção artística no espaço hospitalar é importante para pacientes e seus familiares, por proporcionar momentos de expressão daquilo que não é possível ser verbalizado, em que a dor e o sofrimento são esquecidos. Neste sentido apontam as diversas experiências nesse campo, como afirma Bezelga: A arte é bela e aprazível. Quando as manifestações artísticas acontecem em hospitais, esses generosos adjetivos têm um significado especial porque humanizam um ambiente, geralmente inóspito, além de promover o bem-estar de pacientes e daqueles que trabalham com doenças. (BEZELGA, 2003). Finalizo meu relato com a pergunta: dá para medir o grau de resolução das doenças pela arte? É impossível, não dá para saber o quanto a arte ajuda, mas é possível melhorar a qualidade de vida de quem está internado, trabalhando ou que veio para uma consulta. A pessoa chega ao hospital, um ambiente frio, pesado e, de repente, descobre uma atividade artística, pára para ver, canta ou dança, bate palmas; isso alivia a tensão. (Cardiologista Carlos Regis Bastos Rampazzo, coordenador do Arte no PAMB - Prédio dos Ambulatórios do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo - HC/FMUSP. Citado por BEZELGA, 2003). Referencias: BACHELARD, Gaston. A terra e os devaneios do repouso: ensaio sobre as imagens da intimidade. Tradução Paulo Neves – 2ª ed. – São Paulo: Martins Fontes, 2003. – (Coleção tópicos). BEZELGA, Marcela. O belo e a cura. Revista ser Médico. Edição 25 Outubro/Novembro/Dezembro de 2003 – CREMESP – Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo. Disponível em: <http://www.cremesp.org.br/?siteAcao=Revista&id=106> Acesso em: 19 fev. 2014. COSTA, Rosangela Xavier da; CAROLINO, Jacqueline Alves; COSTA, Robson Xavier da. Cuidar com arteterapia: um caminho para a consciência planetária. 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Veruschka Pereira Greenhalgh Graduanda do 8º período do curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Federal de Pernambuco. Arte/Educadora na ONG Projeto Lugar da Criança, Recife-PE. Currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4685659J5