O ESTÁGIO E A ABORDAGEM CCS NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR ESPECIALIZADO EM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL A PARTIR DE UM CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO DO PROGRAMA REDEFOR Paula Mesquita Melques, Elisa Tomoe Moriya Schlünzen, Naiara Chierici da Rocha 1. [email protected] Resumo A matrícula dos Estudantes Público Alvo da Educação Especial (EPAE) no ensino regular tem aumentado significativamente e as escolas tem enfrentado desafios para se adaptar e atender a diversidade dos seus alunos. No caso da Deficiência Intelectual (DI), os desafios são ainda maiores. Para que a escolarização do estudante com DI seja possível, o professor especializado tem papel fundamental. Diante disso, o presente artigo tem como objetivo discutir como o estágio e a abordagem Construcionista, Contextualizada e Significativa (CCS) pode contribuir com a formação desse profissional. Para tanto, a partir de uma abordagem qualitativa, foram utilizados dados extraídos do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) Moodle do curso de especialização em Educação Especial na área da DI. O curso faz parte do programa Rede São Paulo de Formação Docente (Redefor) Educação Especial e Inclusiva, oferecido na modalidade semipresencial, a partir da parceria entre Secretaria Estadual da Educação de São Paulo, Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Professores, PróReitoria de Pós-Graduação e Núcleo de Educação a Distância da Universidade Estadual Paulista. Como resultados, os cursistas relatam, entre outros pontos, a mudança de concepção em relação à DI, a indissociação entre a avaliação e o planejamento, a importância de reconhecer as potencialidades dos alunos com DI e a necessidade de articulação entre o trabalho do professor especializado e o professor da sala comum. Palavras-chave: Abordagem CCS, Professor especializado, Deficiência Intelectual, Formação em serviço. Abstract The Target Audience of Special Education Students enrollments in regular school has increased significantly and the school has been facing challenges to adapt and to attend student’s diversity. In the Intellectual Disabilities (DI) cases, the challenges are bigger. To make possible the education of DI students, the specialized teacher has essential role. The purpose of this article is to discuss how teacher training and Constructionist, Contextual and Meaningful (CCM) approach may contribute with the education of this professional. In a qualitative approach, Virtual Environment Leaning (VEL) Moodle of specialization course in Special Education data were used. This course was part of São Paulo Network Program of Teacher Training offer in a semi-distance modality in partnership with Education Department of São Paulo (SEE-SP), Training and Improvement Magistrates School (EFAP), Unesp Postgraduate Pro Rectory and Distance Education Center of São Paulo State University (NEaD/UNESP). As a result, the course participants report, among other things, the change of design in relation to ID, the indissociation between evaluation and planning, the importance of recognizing the potential of students with ID and the necessity for coordination work between the specialized teacher and the teacher. Introdução Com o direito à educação garantido a todos pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN 9394/96), a matrícula no ensino regular dos Estudantes Público Alvo da Educação Especial (EPAEE) - os com deficiência, Transtorno Global do Desenvolvimento e Altas Habilidades/Superdotação - tem aumentado significativamente nos últimos anos. No entanto, para a escola tem sido um grande desafio se adaptar para receber todos os alunos. Embora a diversidade e a individualidade estejam presentes mesmo entre os alunos sem deficiência, as inserções dos EPAEE na escola comum evidenciam as diferenças e as necessidades de adaptação no que concerne a aspectos arquitetônicos, atitudinais, estruturais, metodológicos, curriculares, entre outros. Entre áreas da Educação Especial, a Deficiência Intelectual (DI) está entre as necessidades educacionais especiais que mais preocupam os docentes, sobretudo porque é a mais comum e, provavelmente, a que mais exige adaptações tanto curriculares, quanto de atitudes (RAIÇA et al., 2006). Nesse sentido, Mantoan (2004) afirma que esse público tem sido a maior dificuldade da inclusão de pessoas com deficiência no ensino regular, uma vez que para a autora é imprescindível que o professor seja qualificado para trabalhar na mesma sala de aula com todos os estudantes, independentemente de suas condições intelectuais, físicas, motoras, afetivas, emocionais e sociais. Diante disso, o presente artigo tem como foco a DI, bem como a formação de professor para esta especificidade da Educação Especial. Assim, para que o aluno com DI tenha o seu direito à educação respeitado, além de estar incluído na classe comum, no contraturno, deve frequentar o Atendimento Pedagógico Especializado (APE), conforme estabelecido na Resolução do estado de São Paulo SE nº 61, de 11/11/2014, com a atuação do professor especializado em DI na sala de recursos desta área. O professor especializado tem papel fundamental no trabalho junto ao professor da sala comum, uma vez que as atribuições desse professor a partir da Resolução concernem à articulação e a orientação na criação de estratégias, recursos de acessibilidade e metodologias entre a sala de recursos e a sala comum. Nesse direcionamento, os serviços prestados pelo APE devem propor práticas colaborativas com o objetivo de melhorar a qualidade da oferta da Educação Especial na rede estadual, favorecendo a inclusão escolar. Para tanto, é necessário formar os professores e gestores interessados em atuarem na sala de recursos de DI como professor especializado. Nessa perspectiva, o curso de especialização semipresencial do Programa Rede São Paulo de Formação Docente (Redefor) em Educação Especial na área de Deficiência Intelectual será abordado neste trabalho. Com isso, o objetivo é discutir como o estágio e a abordagem Construcionista, Contextualizada e Significativa (CCS) (SCHLÜNZEN, 2000) podem contribuir com a formação desse profissional. Para tanto, a partir de uma abordagem qualitativa, serão utilizados dados extraídos do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) Moodle do curso. A formação em serviço e o contexto do professor na realização do estágio: a articulação entre teoria e prática no curso de especialização em DI Como afirma Imbernón (2010, p. 53), “historicamente, os processos de formação foram realizados para dar solução a problemas genéricos, uniformes, padronizados”. Este tipo de formação não considera as especificidades da formação em serviço e o contexto do professor, e este não atribui significado ao que está aprendendo, não articulando teoria e prática. Com isso, o professor não consegue solucionar os desafios do cotidiano escolar e refletir sobre a sua prática, especialmente após concluir a formação. Segundo Oliveira (2014, s/d), A ação docente só pode ser exercida por um professor capaz de pensar sua prática e relacionar as condições de seus estudantes com as possibilidades infinitas de aprendizagem, sem desconsiderar as necessidades particulares e específicas que eles possuem. Nesse sentido, é fundamental que o professor reflita sobre a sua prática docente, a fim de elaborar estratégias que considerem as particularidades dos seus alunos e a individualidade na aprendizagem, sem buscar o nivelamento no desempenho e a homogeneização. Assim, a formação deve ser pautada no contexto do professor, para que, mesmo após concluíla, ele tenha subsídios teóricos e práticos para superar os desafios vivenciados no cotidiano escolar, principalmente se tratando da heterogeneidade presente nas escolas. Tendo como foco o professor especializado em DI, os desafios são ainda maiores. Oliveira (2014, s/p) comenta sobre as ações que devem ser tomadas por este profissional: [...] mas podemos indicar que o professor terá êxito ao investir no centro de interesse de seus estudantes, ao construir atividades estruturadas e significativas, ao dar sequência coerente aos conteúdos curriculares e ao vincular um conhecimento novo a algo já conhecido pelo estudante. [...] destaca-se a importância da ação pedagógica do professor, que deverá permitir aos estudantes – seja na classe comum, seja na sala de recursos – dar significado aos conteúdos para que eles se transformem em conhecimento. Para tanto, o professor precisa ter uma formação adequada e coerente com essa proposta de atuação, que considere como alguns dos pontos primordiais como a avaliação do aluno com DI, o plano de atendimento individualizado e o ensino colaborativo, a fim de que o professor possa conhecer os seus alunos, elaborar estratégias de ensino adequadas, avaliar continuamente e trabalhar colaborativamente com a comunidade escolar de maneira que todos, e não só o professor especializado, sejam responsáveis pela educação dos alunos. Diante dessa perspectiva, entende-se que o ensino colaborativo parte do princípio da existência de uma parceria entre os professores do ensino regular e da educação especial. Essa parceria e colaboração se configuram como uma estratégia para articular os serviços da educação especial com o ensino regular almejando favorecer a aprendizagem dos estudantes PAEE considerando o mesmo currículo para todos. Essa parceria é fundamental para propiciar melhor planejamento, avaliação e organização de recursos de ensino para os estudantes EPAEE. A partir dessa concepção, destaca-se, segundo (SILVA, 2007), que essa troca se torna possível e eficiente, uma vez que os professores da sala comum são especialistas em conteúdos específicos de uma determinada disciplina escolar, e os professores da Educação Especial são especialistas em avaliação e estratégias específicas dessa modalidade de ensino. Considerando essas premissas, apresenta-se o curso de especialização em Educação Especial, na área de DI, do programa Redefor Educação Especial e Inclusiva, oferecido na modalidade semipresencial, a partir da parceria entre Secretaria Estadual da Educação de São Paulo, Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Professores, Pró-Reitoria de Pós Graduação e Núcleo de Educação a Distância da Universidade Estadual Paulista (NEaD/Unesp). Além deste, são oferecidos outros cinco cursos na área da Educação Especial a fim de formar professores e gestores para atuarem na sala de recursos no atendimento especializado. E também, há o curso de Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva, que tem como objetivo aperfeiçoar a formação de professores da sala comum e dos gestores da rede pública estadual de ensino para a escolarização do PAEE. Em relação à concepção pedagógica, os idealizadores do curso adotaram a abordagem Construcionista, Contextualizada e Significativa (CCS) (SCHLÜNZEN, 2000), por acreditarem que esta é a maneira mais adequada para a formação dos educadores em serviço. De acordo com Schlünzen (2005) apud Schlünzen et. al (2011, p. 235), a abordagem CCS possibilita o afloramento do interesse do estudante, motivando-o a explorar, a pesquisar, a descrever, a refletir, a depurar suas ideias, com a mediação do professor, permitindo desenvolver, por meio do uso das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação, um projeto que faz parte da sua vivência e contexto. A abordagem CCS permeia todo o curso. O designer educacional - profissional responsável pelo processo de produção pedagógica do curso - em conjunto com os professores autores das disciplinas e especialista do curso, elaboram materiais e atividades de modo que cada cursista possa realizá-las considerando o seu contexto escolar. Assim, as disciplinas são pensadas de forma articulada e com atividades que almejam que o cursista explore o seu contexto, pesquise e reflita como contribuir com tal cenário e depure as suas ideias por intermédio do tutor on-line, num processo espiral. Nessa perspectiva, podem ser citadas como exemplo algumas disciplinas que possuem carga horária de estágio. No estágio, o cursista coleta os dados dentro da própria prática e sistematiza-os a partir da atividade realizada no AVA. As disciplinas que contam com o estágio são as disciplinas de Avaliação, Planejamento de Ensino Individualizado (PEI) (na legislação estadual atual, Plano de Atendimento Individualizado (PAI)), Tecnologia Assistiva, e ainda, Ensino Colaborativo, todas com foco no aluno com DI. A partir da articulação entre as disciplinas, na primeira disciplina com estágio, o cursista avaliou um aluno com DI do seu contexto a partir do Referencial de Avaliação Pedagógica e da fundamentação teórica e prática da disciplina. Na disciplina que abordou o PEI, o cursista elaborou um plano de atendimento individualizado para o mesmo aluno já avaliado, de maneira a garantir o ensino de conteúdos específicos, utilização de estratégias e recursos diferenciados, não existentes na classe comum, que são fundamentais para assegurar a sua aprendizagem. Na disciplina que teve como tema central a Tecnologia Assistiva, foi possível explorar a escola em busca de recursos que pudessem ser utilizados com todos os alunos, inclusive os com DI, além de refletir sobre estratégias de ensino inclusivas. Por fim, na disciplina sobre Ensino Colaborativo, foi possível investigar as necessidades da escola em relação à inclusão de estudantes com DI e, a partir disso, planejar estratégias de Ensino Colaborativo que pudessem contribuir para solucionar ou amenizar os desafios vivenciados pela escola. Para os cursistas professores da sala comum que não tinham alunos com DI na sua sala, foi sugerido que buscassem parcerias com outro professor da sua escola. Os cursistas que são gestores também deviam buscar essas parcerias, considerando que, enquanto professor especializado, as parcerias são fundamentais. Ressalta-se ainda que, para os cursistas que não tinham alunos com DI na sua escola, foram disponibilizados estudos de caso. Com isso, o estágio, conforme será exemplificado adiante, foi uma rica oportunidade de investigar e refletir sobre a própria prática, além do compartilhamento entre os colegas de turma e tutor on-line de diferentes vivências, o que contribuiu para a aprendizagem de todos. Cabe destacar ainda que não só as disciplinas que possuem carga horária de estágio tiveram atividades nas quais os cursistas puderam trazer dados da própria prática. O delineamento pedagógico de todo o curso almejou que as discussões em Fóruns, assim como as atividades individuais, tivessem questionamentos e propostas que instigassem os cursistas a pensar sobre o que vivenciam no seu contexto, partindo assim da experiência deles para a sistematização e formalização dos conceitos, e ainda, trazendo para o coletivo tanto as dificuldades enfrentadas, como também as estratégias utilizadas a fim de construir uma escola mais inclusiva. As percepções dos cursistas: as contribuições da formação para a prática docente e o contexto escolar O curso de especialização em Educação Especial na área da DI está em andamento, faltando poucas disciplinas e a conclusão do Trabalho Acadêmico para ser encerrado. Estão sendo realizadas avaliações estatísticas desde o início do curso por uma equipe especializada e, no presente trabalho, são utilizados trechos extraídos de atividades realizadas na ferramenta Fórum de discussão do AVA a fim de relacionar, qualitativamente, as percepções dos cursistas com os pressupostos teóricos apresentados. O primeiro depoimento tem como principais pontos a mudança de concepção sobre a DI e a necessidade do envolvimento de todos os profissionais da escola. No ensino dos alunos com DI, é frequente observar que os professores não acreditam nas potencialidades deste público e a gestão solicita que seja atribuída a nota mínima para aprovação, independente do que esses alunos fazem na sala de aula e como fazem, sem orientar os professores sobre como podem oportunizar o desenvolvimento do aluno com DI, como observado na pesquisa de Melques (2013). A partir do depoimento seguinte, observa-se os pontos destacados anteriormente: [...] minha concepção de Deficiência Intelectual era de que o aluno não conseguia aprender conteúdos específicos de cada disciplina porque era limitado e pensava que essa dificuldade, muitas vezes, era o limite e que não poderia haver uma aprendizagem após esse “limite”. [...] o desenvolvimento do aluno com Deficiência Intelectual engloba muitas possibilidades, uma vez que ocorra a adaptação curricular, o acolhimento, a construção de situações de aprendizagem de acordo com os conhecimentos prévios e envolvendo os interesses destes, acredito ser possível efetivar a aprendizagem. Para que a escola tenha uma cultura inclusiva, gestores, professores, alunos e comunidade devem estar comprometidos com uma educação de qualidade e que haja o respeito com as diversidades (Cursista de DI, informação pessoal, grifo nosso)1. 1 Todos os depoimentos de cursistas são do programa Rede São Paulo de Formação Docente Educação Especial e Inclusiva por SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO [SEESP]. Em oposição às concepções iniciais apresentadas, “o ensino deve propiciar ao estudante o acesso a níveis mais elevados de conhecimento e pensamento, ou seja, ao aprender ele se desenvolve e ao se desenvolver são criadas novas possibilidades para aprender” (OLIVEIRA, 2014, s/p). A autora (2014, s/p) ainda comenta sobre a superação das concepções em relação ao funcionamento intelectual e o desenvolvimento humano: Estamos em um momento histórico que nos exige a superação de velhas e tradicionais concepções sobre o funcionamento intelectual e o desenvolvimento humano, principalmente no contexto escolar, uma vez que, teoricamente, já temos maior clareza de que o desenvolvimento de funções psicológicas superiores se dá a partir da intervenção mediada – das outras pessoas e dos instrumentos culturais. As maiores barreiras para o desenvolvimento das pessoas com deficiência são atitudinais, condicionando práticas do ambiente em que vivem. A partir dessas contribuições de Oliveira, emerge a necessidade de se refletir sobre o modo como se planeja e executa a educação formal para o estudante com DI, tanto na classe comum quanto na sala de recursos, e sobre o fato de que, muitas vezes, as limitações impostas à aprendizagem desses estudantes podem ser muito mais definidas pelo preconceito e pela ausência ou escassez de oportunidades de vivenciar experiências enriquecedoras, organizadas com o fim de favorecer, por meio de interações, a aprendizagem e o desenvolvimento do que por aspectos biológicos. Os próximos depoimentos apresentam relatos em relação ao estágio. A seguir, o cursista destaca a dificuldade que a equipe escolar possui em valorizar o que o aluno sabe. Também é evidenciada a importância da avaliação contínua para que as estratégias sejam sempre repensadas e reelaboradas, de acordo com o desenvolvimento do aluno, e ainda, a indissociação entre avaliação e planejamento. A experiência de estágio permitiu refletir sobre as dimensões indissociáveis entre avaliação pedagógica e plano de ensino, além de evidenciar que o sucesso em sala de aula não é contemplado por muitos educadores devido à falta de entendimento sobre esta importância, não preparando suas aulas para que todos os alunos tenham diferentes possibilidades educacionais. Foi notável a dificuldade da equipe classe falar sobre o aluno, pois a maioria não sabe em que contextos os alunos estão inseridos e quais objetivos pretendem alcançar devido à falta de levantamento de dados sobre as habilidades já desenvolvidas, pois há registros somente daquilo que o aluno não saber fazer. (Cursista de DI, informação pessoal, grifo nosso). UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA [UNESP]. Núcleo de Educação a Distância [NEaD]. São Paulo: Ambiente Virtual de Aprendizagem Moodle Unesp [Edutec], 2014. Acesso restrito. Como observado, o depoimento anterior apresenta a fragmentação na formação dos sujeitos da escola e na prática cotidiana. A partir do estágio, o cursista teve a oportunidade de refletir sobre a própria prática confrontando-se com os problemas enfrentados no cotidiano escolar. A seguir, o cursista também destaca a importância do planejamento em consonância com a abordagem CCS – a importância de explorar, pesquisar, descrever, refletir e depurar as ideias – partindo do que o aluno já sabe e sistematizando os conceitos. Para que o professor tenha essa concepção, é necessário ser formado para tanto. [...] No entanto, o estágio reforçou a ideia de que precisa planejar, traçar objetivos a serem alcançados a partir de um ponto também pré-fixado, considerando o que o aluno já possui de conhecimento prévio, o que lhe é ensinado nesse espaço de tempo e seu avanço (Cursista de DI, informação pessoal, grifo nosso). Para que seja feito o planejamento, a avaliação é fundamental por permitir “compreender as possibilidades e necessidades dos estudantes e, a partir daí, refletir sobre os modos de ensinar, sobre as estratégias de ensino ou a disponibilização de recursos que propiciem sua aprendizagem e, consequentemente, seu desenvolvimento” (OLIVEIRA, 2014, s/p). Além da importância do planejamento individualizado, outros elementos fundamentais são destacados no depoimento a seguir. Um dos principais pontos é o “aprender a aprender com os alunos”, pois não há uma receita de como incluir. O conhecimento do PAI a partir do curso também é levantado. Por fim, considerar a necessidade de elaborar um plano de aula que contemple todos os alunos e não só os com DI vem ao encontro do que se entende por inclusão e, para isso, a articulação entre o professor da sala comum e o professor especializado é primordial. O estágio é essencial para a formação do aluno/ professor, pois relaciona o conhecimento teórico com a prática. [...] “aprendemos a aprender” com nossos alunos. [...] Conhecer o PAI e desenvolve-lo foi muito rico para minha experiência, [...] podendo observar as áreas em que o aluno possui maior dificuldade como linguagens ou aspectos motores ou afetivos por exemplo. Hoje consigo enxergar o APE de forma diferenciada e significativa para esses alunos [...]. Com a nova legislação, vejo que melhorou seus objetivos, pois adequaram seus tópicos sendo ampliados e compartilhados com toda a equipe que trabalha com esse aluno. Com ele pude planejar e desenvolver um plano de aula rico em ações que puderam contemplar não só o aluno da educação especial, mas todos os alunos presentes na sala, havendo a interação da sala de aula comum com a sala de recursos. Em minha escola não houve aspectos que dificultassem os trabalhos da sala de recurso com a sala comum, uma vez que os professores são solidarios e parceiros nessa tarefa [...] (Cursista de DI, informação pessoal, grifo nosso). Esse depoimento chama a atenção para o fato de que o ensino colaborativo, segundo Machado e Almeida (2010), proporciona novos espaços e novas formas de aprendizagem, visto que possibilita apoio aos estudantes PAEE, ao trabalho pedagógico realizado e à criação de estratégias de ensino. Desse modo, concorda-se com Cook e Friend (1995), pois trabalhar colaborativamente é exercer um trabalho com parcerias para um bem comum, no desenvolvimento de um ensino mais adequado para se potencializar a aprendizagem e socialização do estudante com deficiência. Por fim, apresenta-se o depoimento a seguir. Nele, é possível observar dificuldades presentes na realidade da escola pública, na qual devido à alta carga horária de aula e falta de horário para planejamento e troca entre os profissionais, o trabalho colaborativo entre os profissionais é dificultado. No entanto, com o esforço do professor da sala comum, foi possível ocorrer esta troca de experiências e orientações do professor especializado, contribuindo assim para a inclusão da aluna com DI tanto na sala de recursos, como na sala comum. [...] durante o ano solicitamos diversas vezes que a professora da sala de recurso participasse de um ATPCs conosco, mas infelizmente este encontro não aconteceu por conta da parte burocrática do sistema. Eu me desloquei fora do meu horário de trabalho e fui até a escola onde a minha aluna é atendida na sala de recurso, é foi um encontro fantástico, esta troca de experiências precisa acontecer, saber que estamos no caminho certo,e como este trabalho acontece em um espaço individualizado, como é o comportamento da aluna neste espaço? A especialista me passou o plano de aula com as atividades propostas e o seus avanços... Acredito que este é o link primordial para o avanço da escola inclusiva… (Cursista de DI, informação pessoal, grifo nosso). Sobre as contribuições do ensino colaborativo, Giraldi e Capellini (2015, s/p) destacam os progressos que têm sido apresentados nos contextos das salas de aulas e afirmam que “vai além do atendimento aos estudantes público-alvo da educação especial, como os casos de Deficiência Intelectual. A implementação de propostas colaborativas tem trazido benefícios a todos os estudantes”. Diante das contribuições da formação à prática docente e ao contexto escolar relatadas a partir da percepção dos cursistas, a seguir, apresenta-se as considerações finais. Considerações finais O presente artigo teve como objetivo apresentar a importância da abordagem CCS e da realização do estágio dentro desta abordagem para a formação em serviço do professor especializado em DI. Como discutido, os desafios enfrentados pela escola para se adequar e incluir a todos os alunos, inclusive os com deficiência, são grandes e, tratando-se da DI, são ainda maiores. Para que a inclusão dos alunos com DI seja possível e aconteça, é preciso que o professor possua formação adequada e que ele trabalhe colaborativamente com toda a escola e, em especial, com o professor especializado, partindo da ideia de que os EPAEE são de responsabilidade de toda a escola e de que estes professores possuem papéis diferentes na escolarização do aluno. Conforme observado nos trechos extraídos do AVA, os cursistas relatam a mudança de concepção em relação à conceituação da DI e ao desenvolvimento dos alunos com essa deficiência, a indissociação entre a avaliação e o planejamento, a importância de valorizar o contexto do aluno e o que ele já sabe, assim como focar nas potencialidades dos alunos, e também, a necessidade de articulação entre o trabalho do professor especializado e o professor da sala comum. Assim, buscou-se relacionar os pressupostos teóricos apresentados em relação à formação em serviço do professor e a concepção pedagógica do curso a partir das vivências dos cursistas. Foi apresentado um caso particular com aspectos específicos do Estado de São Paulo, mas acredita-se que poderiam ser obtidos resultados satisfatórios em diferentes contextos. Referências BRASIL. Ministério da Educação. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. 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