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ISSN 1984-753X
ISSN (online) 2177-045x
Volume 6 - Número 1 - 2014
Rua Mário Mamede, 609 Bairro de Fátima
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INDEXAÇÃO/INDEXATION
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Sistema Regional de Informatión em Línea para Revistas Científicas de America Latina, El Caribe – España y Portugal - Dados: www.latindex.unem.mx
BDENF
REDALYC
EDITORA CHEFE/HEAD EDITOR
Mirna Albuquerque Frota
EDITOR EXECUTIVO/EXECUTIVE EDITOR
Celiane Maria Lopes Muniz
EDITORES ASSOCIADOS/ASSOCIATE EDITORS
Nébia Maria Almeida de Figueiredo – UNIRIO, Rio de Janeiro/RJ, Brasil
Iraci dos Santos – UERJ, Rio de Janeiro/RJ, Brasil
Salete Bessa Jorge – UECE, Fortaleza/CE, Brasil
Raimunda Magalhães da Silva – UNIFOR, Fortaleza/CE, Brasil
Lorena Barbosa Ximenes – UFC, Fortaleza/CE, Brasil
CONSELHO EDITORIAL/EDITORIAL BOARD
NACIONAL/NATIONAL
Alacoque Lorenzini Erdmann – UFSC, Florianópolis-SC
Ana Fátima Carvalho Fernandes – UFC, Fortaleza-CE
Ana Karina Bezerra Pinheiro – UFC, Fortaleza-CE
Andrea Gomes Linard – UFMA, São Luiz-MA
Antônia do Carmo Soares Campos – UNIFOR, Fortaleza-CE
Antonio Marcos Tosoli Gomes – UERJ, Rio de Janeiro-RJ
Augediva Maria Jucá Pordeus – UNIFOR, Fortaleza-CE
David Lopes Neto – UFAM, Amazonas-AM
Denise Guerreiro V. da Silva – UFSC, Florianópolis-SC
Dorisdaia Carvalho de Humerez – UNIFESP, São Paulo-SP
Eliany Nazaré Oliveira – UVA, Sobral-CE
Fátima Lunna P. Landim – UNIFOR, Fortaleza-CE
Francisca Lucélia Ribeiro de Farias – UNIFOR, Fortaleza-CE
Gelson Luiz de Albuquerque – UFSC, Florianópolis-SC
Isabel Cristina Kowal Oln Cunha – UNIFESP, São Paulo-SP
Isaura Setenta Porto – UFRJ, Rio de Janeiro-RJ
Ivan França Júnior – USP, São Paulo-SP
Karla Maria Carneiro Rolim – UNIFOR, Fortaleza-CE
Lorita Marlena Freitag Pagliuca – UFC, Fortaleza-CE
Lucilane Maria Sales da Silva – UECE, Fortaleza-CE
Luiza Jane Eyre de Sousa Vieira – UNIFOR, Fortaleza-CE
Márcia Maria Tavares Machado – UFC, Fortaleza-CE
Maria Albertina Rocha Diógenes – UNIFOR, Fortaleza-CE
Mariana Cavalcante Martins – FGF, Fortaleza-CE
Maria de Fátima A. S. Machado – UNIFOR, Fortaleza-CE
Maria de Jesus C. Sousa Harada – Coren, São Paulo-SP
Maria do Socorro Vieira Lopes – UNIFOR, Fortaleza-CE
Maria Itayra Padilha – UFSC, Florianópolis-SC
Maria Vera Lúcia M. Leitão Cardoso – UFC, Fortaleza-CE
Maristela Inês Osawa Chagas – UVA, Sobral-CE
Marluce Maria Araújo Assis – UEFS, Salvador-BA
Mavilde de Luz Gonçalves Pedreira – UNIFESP, São Paulo-SP
Patrícia Neyva da Costa Pinheiro – UFC, Fortaleza-CE
Raimundo Augusto M. Torres – UECE, Fortaleza-CE
Rita de Cássia Chamma – COFEN, Brasília, DF
Rosimeire Ferreira Santana – UFF, Rio de Janeiro-RJ
Silvana Maria Mendes Vasconcelos – UFC, Fortaleza-CE
Sônia Maria Soares – UFMG, Belo Horizonte-MG
Thereza Maria Magalhães Moreira – UECE, Fortaleza-CE
Zélia Maria de Sousa Araújo Santos – UNIFOR, Fortaleza-CE
Zuila Maria de Figueiredo Carvalho – UFC, Fortaleza-CE
INTERNACIONAL/INTERNATIONAL
Alcione Leite da Silva – Portugal/Brasil
Antonio José Nuñez Hernandez – Espanha
Denise Gastaldo – Canadá
Juan José Tirado Darder – Espanha
Maria Teresa Moreno Valdês – Espanha
Marta Lima Basto – Portugal
Sandra Haydée Petit – Suécia
SUMÁRIO
CONTENTS
1145 Editorial
Profa. Dra. Maria Socorro de Araújo Dias
Artigos Originais
1147
Percepção da mulher acerca da sua sexualidade na transição puerperal
Perception of women about their sexuality in transition post partum
Sheila das Neves Martins, Dafne Paiva Rodrigues.
1151
Rastreamento de Neuropatia Diabética em pacientes atendidos em unidade básica de saúde
Diabetic Neuropathy in patients followed in a primary health care unit
Maria Cecília Cavalcante Barreira, Caroline Pinto Camelo, Danielle Teixeira Queiroz , July Grassiely de
Oliveira Branco, Cintia de Oliveira Castelo Branco Sales , Geraldo Bezerra da Silva Junior.
1158
A Percepção de docentes de Enfermagem à respeito de sua capacitação para o ensino
The teacher’s understanding about their ability in teaching
Marta Maria Leite de Araújo, Maria Sonia Felício Magalhães, Alice Maria Correia Pequeno Marinho.
1165
Aleitamento Materno: benefícios e dificuldades enfrentados pelas mães
Breastfeeding: benefits and difficulties faced by mothers
Adriana Maria Carvalho Pimentel, Daysekelly dos Anjos Moura Ribeiro, Regina Cláudia Melo Dodt,
Ana Márcia Bustamante de Morais, Lúcia Virginia Reis Aragão, Edna Maria Camelo Chaves.
1170 1174
Educação em Saúde com um grupo de gestantes: sífilis conhecer para prevenir
Health Education with a group of pregnant women: syphilis know to prevent
Francisco Mayron Morais Soares, Gleiciane Kélen Lima.
­­Protocolo de acolhimento com classificação de Risco em Pediatria: fatores
que interferem na Implementação
Protocol host with risk ratingin Pediatrics: factors that interfere for implementation
Diliane Paiva de Melo Matos, Fernanda Jorge Magalhães, Ana Paula Oliveira Queiroz,
Alline Falconieri de Moura, Michelle Sampaio Bezerra, Francisca Elisângela Teixeira Lima.
www.coren-ce.com.br 1143
SUMÁRIO
CONTENTS
1180
Transporte Intra-Hospitalar do Recém-Nascido de risco: cuidados na termorregulação
Intra-Hospital Transport of Newborn at risk: the care thermoregulation
Karla Maria Carneiro Rolim, Aline Gomes Paiva, Kadja Nara Vasconcelos Freire, Mylena Nonato Costa
Gomes, Tays Lopes Vieira, Fernanda Rocha Honório de Abreu.
1186
Qualidade de vida à pessoa com Doença Pulmonar Intersticial: uma proposta da Enfermagem
Quality Of life to person with Interstitial Lung Disease: a proposal of Nursing
Kleyriane Câmara Castelo Branco, Camila Lima Ribeiro, Naiana Cristina Nascimento dos Santos,
Fernanda Rachel Pereira de Moraes Trindade, Ana Patrícia Paiva Souza, Virna Ribeiro Feitosa Cestari,
Ana Paula Almeida Dias da Silva.
1191
Enfoque ao Papanicolaou durante o pré-natal: reflexões a partir de uma revisão narrativa
Approach to Papanicolau during prenatal: reflections from a narrativereview
Maria Weilany Silva Bezerra, Mônica Cecília Pimentel de Melo.
1196
A Família no cuidado à pessoa com transtorno mental: uma revisão integrativa
The Family role in the care of the person with mental disorder: an integrative review
Eliany Nazaré Oliveira, Suzana Mara Cordeiro Eloia, Danyela dos Santos Lima,
Sara Cordeiro Eloia, Tamires Alexandre Felix, Maristela Inês Osawa Vasconcelos.
1203 Institucional
204 Palavra da Presidente
1205 Notícias
1216 1144
Normas de Publicação
Ano 6 - Vol. 6 - no 01 - 2014
EDITORIAL
Profa. Dra. Maria Socorro de Araújo Dias
Docente da Graduação em Enfermagem da Universidade
Estadual Vale do Acaraú (UVA), dos Mestrados
Profissionais em Saúde da Família (RENASF/UVA) e
Ensino na Saúde (UECE) e do Mestrado Acadêmico em
Saúde da Família da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Atualmente responde pela Direção da Escola de Formação
em Saúde da Família Visconde Sabóia (EFSFVS).
A
ReTEP – Revista Tendências da Enfermagem
Profissional apresenta aos seus leitores mais
uma edição. A ReTEP vem se afirmando como
importante veículo de comunicação da produção científica colaborando, desta forma, com a inovação, a incorporação tecnológica e o desenvolvimento
técnico-científico dos profissionais de enfermagem.
Os artigos que compõem esta edição foram criteriosamente avaliados e selecionados pelo corpo de
pareceristas da ReTEP respaldos pelos critérios do
rigor metodológico e da comunicação cientifica de
qualidade e, em particular, examinados pelo campo
de ação dos trabalhadores da enfermagem visando
contribuir para a qualificação do cuidado em suas
múltiplas dimensões.
Neste primeiro número de 2014, a ReTEP apresenta
oito artigos originais e três artigos de revisão. A diversidade de temáticas e das origens dos segmentos autorais (enfermeiros assistenciais, docentes, pesquisadores, alunos de graduação e de pós-graduação) atestam
a magnitude deste periódico em ascensão.
No bloco de artigos oriundos de fontes primárias
vamos refletir sobre situações, algumas vezes, imperceptíveis no cotidiano de ser mulher, a exemplo do
artigo que trata da percepção da mulher acerca da sua
sexualidade na transição puerperal; assim como os benefícios e dificuldades enfrentados por mães durante
a fase de amamentação. A atenção aos riscos presentes em infantos está contemplada em dois artigos que
versam sobre os fatores que interferem na implementação de protocolo de acolhimento com classificação
de risco em Pediatria e o transporte intra-hospitalar
do recém-nascido de risco. As doenças crônicas não
tranmissíveis também foi objeto de estudo de dois relatórios de pesquisas, aqui sistematizados: o primeiro
versa sobre o rastreamento de neuropatia diabética
em pacientes atendidos em Unidade Básica de Saúde
(UBS) e uma proposta de enfermagem para promoção
da qualidade de vida da pessoa com Doença Pulmonar
Intersticial (DPI). Destacamos ainda dois artigos que
dialogam com os campos da educação e da saúde, sendo um que descreve a percepção de docentes de Enfermagem sobre sua competência para o Ensino e outro
que registra estratégia de educação em saúde com um
grupo de gestantes, referindo a prevenção da Sífilis.
Nos artigos de revisão, o leitor vai ser agarciado com
três artigos: Enfoque ao Papanicolau durante o pré-natal: Reflexões a partir de uma revisão narrativa; A Família
no cuidado à pessoa com Transtorno Mental: Uma revisão
integrativa e Relação Enfermeiro-Paciente: Aspectos da
comunicação na Unidade de Terapia Intensiva.
Nossa expectativa é que as evidências e discussões
aqui sistematizadas possam ser norteadoras de reflexões
que possam orientar novos saberes e contribuir para a
qualificação do processo de trabalho da enfermagem.
A todos desejamos boas leituras.
www.coren-ce.com.br 1145
PERCEPÇÃO DA MULHER ACERCA DA SUA SEXUALIDADE
NA TRANSIÇÃO PUERPERAL
PERCEPTION OF WOMEN ABOUT THEIR SEXUALITY IN TRANSITION POST PARTUM
Artigo Original
Sheila das Neves Martins1
Dafne Paiva Rodrigues2
RESUMO
INTRODUÇÃO
O estudo teve como objetivos conhecer quais as principais modificações corporais, vivenciadas pela a mulher no período puerperal e identificar os problemas mais comumente encontrados
pelas mulheres para o retorno da atividade sexual após o parto.
Pesquisa do tipo exploratória e descritiva com abordagem qualitativa, realizadas em duas unidades de saúde da Secretaria Regional
Executiva (SER) V e nos domicílios das usuárias. Participaram 15
puérperas com até 60 dias pós-parto. Para coleta de dados utilizou-se entrevista semi-estruturada. Os dados qualitativos foram
organizados em duas categorias: Modificações vivenciadas pela
mulher no puerpério e sua repercussão na sexualidade e Principais
dificuldades relatadas pelas puerperas durante a retomada da atividade sexual. O acompanhamento durante o puerpério mostra-se
muito importante diante das transições das mulheres nesse período, podendo assim amenizar as dificuldades enfrentada por elas
na vivência da sua sexualidade e retomada da atividade sexual.
A maternidade pode ser considerada um fenômeno singular
na vida de muitas mulheres, uma vez que enfatiza e enaltece a
identidade feminina. Nesse momento o filho transcende do imaginário da mãe e se concretiza, surgindo sentimentos e questionamentos perante as novas demandas para a mulher, levando-a
a buscar apoio, tanto da família quanto dos serviços de saúde.
Palavras-chave: Saúde da Mulher; Período Pós-Parto; Sexualidade.
ABSTRACT
The study aims to identify what the main body, changes
experienced by women in the postpartum period and to identify
the problems most commonly encountered by women for
the resumption of sexual activity after childbirth. Search the
exploratory and descriptive qualitative approach, carried out in
two health units in the Regional Office Manager (BE) V and the
homes of users. 15 postpartum women up to 60 days postpartum
participated. For data collection, we used semi-structured
interview. Qualitative data were organized into two categories:
Changes experienced by women in the postpartum period and its
impact on sexuality and Main difficulties reported by the women
during the resumption of sexual activity. Monitoring during the
postpartum period appears to be very important on the transitions
of women in this period, and thus ease the difficulties faced by
them in living out their sexuality and resumption of sexual activity.
Keywords: Nursing; Postpartum Period; Sexuality.
1
2
A assistência puerperal consiste em cuidados e orientações prestadas as puérperas pelos profissionais de saúde. Neste contexto, o
enfermeiro exerce um papel importante no que concerne a realização
da assistência puerperal por meio das consultas de enfermagem (1,2).
Apesar de o puerpério ser um evento marcante na vida das
mulheres, é, geralmente, um período negligenciado, justificando, assim, a invisibilidade das necessidades das mulheres nesse
período. A consulta de enfermagem sob uma perspectiva de cuidados integrais deve contemplar, o mais amplamente possível,
aspectos biológicos, sociais, subjetivos e de comunicação pertinentes às experiências eróticas, à autopercepção corporal, às
trocas afetivas e relacionais humanas significativas, lidando com
vulnerabilidades, potenciais, necessidades e/ou problemas relacionados à sexualidade (3).
A sexualidade está integrada a todo esse novo processo que a
mulher vivencia no puerpério, seja em relação consigo mesma, com
seu próprio corpo e feminilidade ou com o contato e comunicação
com o parceiro. Assim (4), o falar sobre sexualidade não se limita
apenas ao ato sexual em si, mas a tudo aquilo que está relacionado
com o que pode levar ao “gozo”, incluindo fantasias e ideias que
são diretamente influenciadas pela educação e pela cultura.
As mudanças que ocorrem na mulher desde o início da gravidez até ao período pós-parto (biológicas, psicológicas, relacionais e sociais), são capazes de influenciar direta ou indiretamente, o relacionamento íntimo da mulher com o companheiro. Sendo esta uma importante fase de transição, que implica a
resolução de situações de crise, com consequentes (re)adaptações e (re)equilíbrios, é também um momento particularmente
propício a uma nova integração da sexualidade (5).
Enfermeira. Integrante da Residência Hospitalar Multiprofissional em Saúde da Mulher pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual do Ceará (UECE). Líder do Grupo de Pesquisa Saúde
da Mulher e Enfermagem (Orientadora). E-mail: [email protected]
Percepção da mulher acerca da sua
sexualidade na Transição Puerperal
RETEP - Rev. Tendên. da Enferm. Profis.,
2014; 6(1): 1147-1151
1147
Por meio desse estudo, desejamos compreender como as
mulheres lidam com a sexualidade na transição puerperal. Por
essa razão, o enfermeiro deve compreender a transição que
passa a mulher em direção ao papel materno, pois nele deverá
aprender a conviver com o novo ser, vivenciar novas experiências e descobertas que ocorrem a cada instante, tornando as
demandas exigidas pelo processo puerperal adequada ao desempenho dos papeis de ser mulher-mãe (6).
Em face desse contexto, este estudo teve como objetivo conhecer quais as principais modificações corporais, vivenciadas
pela a mulher no período puerperal e identificar os problemas
mais comumente encontrados pelas mulheres para o retorno da
atividade sexual após o parto.
METODOLOGIA
Estudo do tipo exploratório e descritivo de abordagem qualitativa, realizado em dois Centros de Saúde da Família, área
que integra a Secretaria Executiva Regional V (SER V), elegeremos também o domicílio como cenários de levantamento dos
dados, devido à dificuldade de encontrar a puérpera disponível
para a entrevista no serviço de saúde.
A população foi constituída por 15 puérperas devidamente
cadastradas e que realizaram o pré-natal nas referidas unidades de saúde. Para tanto, elegemos os seguintes critérios para
seleção das puérperas a serem pesquisadas: Mulheres situadas
entre a faixa etária de 18 e 35 anos e Mulheres que estivessem
no puerpério imediato ou remoto, que já tivessem retomado ou
não as atividades sexuais após o parto (30 a 65 dias pós-parto).
Como critério de exclusão para a seleção das puérperas pesquisadas, destacamos: 1) Puérperas que receberam somente atendimento do profissional médico durante o pré-natal; Visto que,
o foco do trabalho era a assistência de enfermagem a puerpera;
2)Mulheres que realizaram pré-natal na rede privada.
A interrupção da coleta de dados realizada com as puérperas
foi baseada no critério de saturação teórica. O instrumento de
coleta de dados se constituiu de uma entrevista semi-estruturada, cujo roteiro abrangeu informações gerais sobre a puérpera,
como aspectos socioeconômicos (idade, estado civil, ocupação,
nível de escolaridade e renda familiar) e tópicos relacionados à
identificação das alterações corporais no puerpério e as principias dificuldades da retomada da sexualidade, com base nos
estudos realizados.
A aplicação do instrumento se deu de forma individual,
quando as mulheres retornavam ao serviço de saúde ou no domicílio, sendo todas as entrevistas gravadas com uma média de
30 a 40 minutos, incluindo esclarecimentos acerca da pesquisa,
aplicação do instrumento e orientações acerca de dúvidas que
surgiam no decorrer da entrevista.
com parecer nº 11583232-7/2011, mediante submissão de um projeto, e a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido com
cópia para a participante, a coleta de dados foi iniciada. Considerando
o que preconiza a Resolução 466/12, do Conselho Nacional de Saúde
sobre Diretrizes e Normas Regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos, os princípios éticos, como autonomia, beneficência, não maleficência, fidelidade, justiça, veracidade e confidencialidade, foram respeitados em todas as fases da pesquisa.
RESULTADOS
O conteúdo das entrevistas foi agrupado em categorias, segundo a similaridade temática, apresentadas de forma esquemática, a seguir.
Categorias e Subcategorias
Primeira categoria: Modificações corporais vivenciadas
pela mulher no puerpério e sua repercussão na sexualidade.
Diante desse corpo aparentemente estranho, no qual ela
não se reconhece e, muitas vezes, sentem-se incomodada, algumas mulheres relatam sentimentos negativos após o parto,
relacionados principalmente ao ganho de peso.
Só não gostei de ter engordado, de ter ficado mais larga, num gostei
dessa parte não, eu me afasto porque não estou me sentindo bem comigo [...] a gente sente porque, você não pode ter uma vida sexual com seu
marido normal, vai ter que ter um período para se recuperar (P2).
Engordei, a barriga esticou demais, tá cheia de estrias, se estou
gorda não tenho prazer. Dou prazer para ele, mas eu não tenho (P12).
Para as mulheres do estudo, muitas vezes, não corresponder ao
padrão de beleza física desejada, é motivo de grande insatisfação.
Isto ficou bem evidenciado nos relatos a seguir.
Por causa do cabelo, essas coisas, que num pode usar química
né? o que mais me incomoda é a história da gordura mesmo, do
peso, eu não me sinto à vontade. Eu já pensei em fazer plástica, já
fui atrás [...] (P13).
Só os seios que eu to achando feio, porque tá caído, e não era
caído. Eu era mais magra, pesava 38 kg agora to pesando 47 kg.
Pela minha saúde e pela do casal, eu preciso me manter magra (P6).
No presente estudo, constatamos que, para algumas mulheres, as modificações corporais referentes ao período puerperal
interferem diretamente em seus relacionamentos pessoais, o
que engloba sua sexualidade e mais explicitamente o exercício
sexual. Como podemos constatar na fala a seguir:
Essa gravidez foi difícil, porque senti meu corpo muito dolorido, ele foi o maior e mais pesado filho que já tive isso deixou
meu corpo mais retraído, já não me senti mais a mesma pessoa,
é tanto que não tive relação nenhuma ainda, porque eu estou
assim com medo [...] (P10).
Os depoimentos das participantes do estudo foram organizados e trabalhados segundo o método de Análise de Conteúdo (7),
que apresenta três etapas: pré-análise, exploração do material e
tratamento dos resultados obtidos e interpretação. O conteúdo
das entrevistas foi agrupado segundo a similaridade temática em
duas categorias: Modificações corporais vivenciadas pela mulher no
puerpério e sua repercussão na sexualidade e Principais dificuldades
relatadas pelas puérperas durante a retomada da atividade sexual.
No entanto, algumas das modificações corporais vivenciadas no puerpério foram vistas como positivas como podemos
perceber nas falas das puérperas:
Eu engordei mais, meus seios cresceram, era bem menor, engordei bastante, eu era bem magrinha, mas eu gostei tá melhor (P1).
Ele (parceiro) fala que a mama está mais bonita e que cheia ela
fica levantada, não precisa por silicone. Eu adoro o meu peito. Eu
acho bonito porque é grande (P15).
Eu emagreci mais do que o que eu era, gostei do resultado (P5).
Após o consentimento da referida instituição e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará (UECE),
A vida regrada pelos horários e necessidades do bebê, criam
situações geradoras de estresse dificultando o repouso materno.
1148
Falta de sono, ninguém dorme... Mudou a minha rotina porque
eu num posso mais dar tanta atenção a esse daí (o outro filho). Não
que ficou no canto, mas coincide, a gente tinha horário pra almoçar, merendar, e num tem mais (P5).
Devido a nova rotina as puérperas acabam ficando sem
disposição e sem condições físicas e emocionais para executar
outras atividades como, por exemplo: o exercício sexual. Como
podemos comprovar nas falas a seguir:
[...] Às vezes estou estressada e dou (sexo) sem ter vontade.
Quando estou cansada ou preocupada com alguma coisa não tenho
cabeça para essas coisas (sexo) (P8).
O fato de ter um filho com certeza interfere na vida sexual,
ainda mais um que não dorme. Eu brinco que não preciso me preocupar com métodos anticoncepcionais porque já tenho um que
se chama Bruno. O cansaço também destrói. Eu só quero saber de
dormir, quando ele (bebê) está dormindo (P15).
A segunda categoria: Principais dificuldades relatadas pelas puérperas durante a retomada da atividade sexual.
O movimento de retomada das atividades sexuais pode se
dar pela vontade da mulher ou pela imposição do parceiro e está
marcado por avaliação, por parte da mulher de suas condições
biológicas e emocionais para o exercício sexual. No entanto, a
mulher pode enfrentar algumas dificuldades durante a retomada
da atividade sexual como as representadas na figura a seguir.
Figura 1 – Representação da categoria.
[...] Ainda não reiniciei a intimidade com o meu companheiro e
não tenho vontade pois sinto ainda os pontos do parto foi traumático,
ainda me lembro e parece que sinto tudo quando me movimento(P11).
[...] eu já tava há um mês e quinze dias sem ter relação né, aí
eu estranhei um pouco. Num sei se é porque eu tava há bastante
tempo sem fazer relação né, e tava mais fechado o meu útero. Foi
como se ainda fosse ao tempo que eu era virgem (P2).
Sentimentos de preocupação com a satisfação do parceiro e
relacionados aos cuidados com o recém-nascido
Houve por parte das mulheres uma inquietação com relação
à satisfação do parceiro, em saber se a relação sexual e a região
perineal continuavam como antes do parto.
O pessoal fala que depois do parto normal não fica mais a mesma
coisa de antes, fiquei com medo dele não gostar, achar diferente (P15).
Eu perguntei para se ainda era como antes? Se ele achou diferente? Se gostou, mas ele disse que era como antes, fiquei preocupada com medo dele não gostar (P11).
A gente não faz amor como antes, até mesmo na gravidez a
gente dava um jeitinho, mas agora não sei explicar, se é o cansaço,
ou por causa dela, não sinto falta (P4).
Algumas mulheres mantêm relação sexual com seus parceiros,
apesar de não sentirem vontade de fazê-lo; no entanto, no cotidiano
da relação, nem sempre é possível dizer não, emergindo estratégias
para burlar a situação, tais como fingir que estão com dor de cabeça,
ou que estão dormindo quando são procuradas pelo parceiro.
[...] Eu quero é dormir. Então, quando ele acorda de madrugada para fazer sexo, eu não gosto. Todo dia meu marido quer, todo
dia. Aí eu falo: ah, amor eu tô cansada, mas ele não entende (P5).
Quanto à iniciativa da atividade sexual no presente estudo,
foi predominantemente do parceiro, como veremos:
[...] ele já me procurou. Por ele já teria acontecido (P1).
Foi o meu marido, ele com certeza que tomou a iniciativa, sabem como é homem né? (P2).
Medo de engravidar
Uma quantidade significativa de mulheres prefere aguardar
pela consulta e respectiva autorização médica para o reinício
da atividade sexual. O temor de uma nova gestação pode ser
percebido nos depoimentos das puérperas a seguir:
To só me cuidando mesmo. Num to nem tomando anticoncepcional devido ainda tá dando peito a ela. Até quando eu for pra
minha consulta, vou até perguntar a médica qual o anticoncepcional apropriado para eu tomar, não quero engravidar tão cedo (P8).
Eu não tenho mais aquela vontade toda de fazer sexo, principalmente por que eu fico com medo de engravidar novamente,
Deus me livre! (P14).
Eu to doida pra voltar no médico pra saber com quanto tempo
eu posso voltar a ter relação, porque, por exemplo, tem gente que
faz cesárea e laqueadura e diz que tem que passar três meses sem
ter relação e não me disseram nada (P5).
Dores e Incômodos relacionados à cicatrização no pós-parto
Dores e incômodos, durante a relação, estiveram associados aos pontos da incisão cirúrgica e recuperação da região
perineal após o parto.
Percepção da mulher acerca da sua
sexualidade na Transição Puerperal
No estudo, quando a iniciativa partiu da mulher ela foi motivada por medo e insegurança em relação à fidelidade do marido.
P3: “Fui eu, por medo, acho que por medo de o meu companheiro procurar outra pessoa fora. Pra num ficar assim muito tempo
parado eu cuidei logo [...]”.
P6: “Foi eu, por medo de ele ficar com outra pessoa, sabe como
é homem né? Não pode ficar parado (sem sexo) muito tempo.”
Dentre as preocupações presentes na vida sexual dessas
mulheres, estiveram relacionados também os cuidados com o
bebê e a presença do mesmo no quarto durante a relação. Na
fala de algumas mulheres pode-se ver que a prioridade era o
cuidado do bebê para depois ter relação com o companheiro.
P10: “Na hora da relação eu ficava pensando no bebê, e se ele
acordasse bem na hora? Não me sentia muito a vontade com ele no
quarto, parecia até uma falta de respeito”.
P9: “Em relação à intimidade com o meu marido respeitamos o
resguardo e a partir daí a nossa vida sexual voltou ao normal tentamos ter as nossas relações na hora em que o bebê está dormindo,
só depois que ele dorme é que eu fico sossegada”.
DISCUSSÃO
Em concordância com o presente estudo a literatura tem apontado que, no pós-parto, as modificações corporais que mais incomodam as mulheres são mamas volumosas e pesadas, abdome flácido, peso acima do normal e presença de estrias (8). Para algumas
RETEP - Rev. Tendên. da Enferm. Profis.,
2014; 6(1): 1147-1151
1149
as mudanças físicas sugerem uma preocupação com a satisfação
do parceiro, podendo refletir na sua sexualidade, enquanto outras
encaram o processo como uma valorização da autoestima.
A percepção sobre o corpo no puerpério está relacionada à forma que cada mulher lida com as mudanças que ocorreram em seus
corpos, frente à subjetividade, relacionamentos e cultura de cada
mulher (9). Portanto, o puerpério é uma fase crítica para o início e
aumento dos problemas sexuais, à medida que há uma diminuição
da libido, interesse e atividade sexual. Este fator associado à debilidade emocional (medo e insegurança) e ao estresse pela chegada
de um bebê representa um impacto significativo na vida do casal (6).
Situações do cotidiano feminino como o cansaço, o stress e
as inúmeras preocupações que circundam o universo feminino
foram apontadas pelas mulheres como sendo fatores influenciadores para a falta de vontade para o sexo (4). Consequentemente
em vez de quererem ter qualquer tipo de relacionamento sexual,
as mulheres preferem dormir ou mesmo ter tempo para elas próprias. Embora tenham constatado existirem diferenças ao nível
do desejo sexual, a maioria das mulheres envolvidas no estudo,
mostrou-se confiante no retorno do mesmo à normalidade.
A literatura a respeito do retorno à vida sexual da mulher
no puerpério, diz que esse retorno deve se dar a partir do quadragésimo terceiro dia pós-parto ou duas semanas após o parto,
conforme o conforto e desejo da mulher (10). Através dos relatos
percebeu-se que a maioria das mulheres não recebeu dos médicos e enfermeiros nenhuma orientação quanto ao retorno de sua
vida sexual no período pós-parto. Sozinhas e sem orientação, algumas mulheres ainda não tinham voltado a ter vida sexual, pois
muitas temiam uma nova gravidez.
Orientações quanto ao planejamento familiar devem ser discutidas, de modo geral, desde o início da gestação e durante o
pré-natal, sendo esta a primeira e mais importante oportunidade
de fazê-lo. O segundo momento mais apropriado para este aconselhamento e fornecimento dos métodos contraceptivos poderá
ser durante o período de internação para o parto. Há ainda a terceira oportunidade, que seria no retorno para a consulta puerperal; onde a mulher deve receber atenção integrada de: planejamento familiar, orientação sobreamamentação e puericultura, o
que seria ideal, pois facilitaria sua vida(3).
Com relação às mudanças no períneo, as mulheres do estudo relataram preocupação com a sua recuperação, assim como medo de a
cicatrização não estar completa. Durante o puerpério, a fraca motivação para a relação sexual e a diminuição da frequência, em ocasiões
subsequentes, tem sido amplamente sustentada pelo fato de as mulheres experimentarem dor e desconforto durante a penetração (9,11).
Mesmo com todas as discussões acerca do direito da mulher
ao prazer sexual, e de ter uma vida sexual satisfatória, muitas
mulheres ainda realizam o ato sexual apenas para satisfazer o
parceiro e cumprir o seu dever de esposa. Esta pesquisa mostrou
que, muitas vezes, as mulheres se tornam passivas e submissas
na relação esperando que a busca ou a vontade pelo sexo parta
do homem, o período da retomada da atividade sexual ocorreu
entre quatro a seis semanas pós-parto, no entanto, quando essa
iniciativa partiu da mulher foi motivada pela insegurança, medo
de perder o parceiro, não havendo por parte dessas puérperas
um protagonismo em relação a sua sexualidade, a busca também
pelo o seu prazer pessoal.
CONCLUSÕES
O olhar dado à mulher, durante o puerpério, deve ser dado
de forma ampla; ouvindo suas dificuldades e vivências, conhecendo o contexto cultural e social que ela vive para que o cuidado se dê de modo efetivo. Mudanças na rotina e nas responsabilidades ao se tornarem mãe surgiu como uma das inquietações
das puerperas que divididas entre Mãe/Mulher/Esposa tentam
conciliar os diversos papéis, em meio a tantas atribuições a
mulher acaba ficando sem disposição e sem condições físicas
e emocionais para o exercício sexual. As mudanças que ocorreram no comportamento/emocional, após o nascimento do
filho podem ter repercussão na forma como a puérpera vivência
a maternidade. Algumas referem ter ficado mais ansiosas, enquanto outras referem ter ficado mais calmas, essa diversidade
ou até contradição na forma como cada mulher reage, denota
que esse período é singular para cada mulher que o vivência.
Consideramos que os profissionais de enfermagem possuem
papel fundamental, pois, ao atuarem diretamente na atenção à
saúde das mulheres no ciclo gravídico-puerperal, podem detectar
medos, dúvidas e problemas das mulheres nessa área, logo no início do pré-natal tendo continuidade no puerpério de forma a trazer
soluções diante das demandas que as mulheres apresentam. Nesse
sentido, em sua avaliação, o enfermeiro deve ter uma abordagem
mais holística ao considerar a resposta sexual humana.
REFERÊNCIAS
1.São Paulo. (Estado). Secretaria da Saúde. Coordenadoria de Planejamento em Saúde. Assessoria
Técnica em Saúde da Mulher. Atenção à gestante e à puérpera no SUS-SP: manual técnico do pré-natal e puerpério /organizado por Karina Calife, Tania Lago, Carmen Lavras - São Paulo: SES/SP, 2010.
2.Rodrigues DP, Fernandes AFC, Rodrigues MSP, Silva RM. Representações sociais
de mulheres sobre o cuidado de enfermagem recebido no puerpério. Revista Enferm
UERJ. 2007; 15(2):197-204.
3.Teles LMR, Pitombeira HCS, Oliveira AS, Freitas LV, Moura ERF, Damasceno AKC. Parto com acompanhante e sem acompanhante: a opinião das puérperas. Cogitare Enferm, 2010; 15(4):688-94.
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Recebido em: 08.01.2014
Aprovado em: 10.02.2014
1150
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de puérperas. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2010; 18(4): 1-8.
10.Cunningham FG, Leveno KJ, Gilstrap, Bloom SL, Hauth JC, Rouse DJ, Spong CY.
Williams obstetrícia. Porto Alegre (RS):Artemed; 2012.
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RASTREAMENTO DE NEUROPATIA DIABÉTICA EM PACIENTES
ATENDIDOS EM UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE*
DIABETIC NEUROPATHY IN PATIENTS FOLLOWED IN A PRIMARY HEALTH CARE UNIT
Artigo Original
Maria Cecília Cavalcante Barreira1
Caroline Pinto Camelo2
Danielle Teixeira Queiroz3
July Grassiely de Oliveira Branco4
Cintia de Oliveira Castelo Branco Sales 5
Geraldo Bezerra da Silva Junior6
RESUMO
A neuropatia é uma das complicações mais comuns do diabetes mellitus tipo 2 (DM2), podendo atingir 80 a 100% dos
pacientes. Objetivou-se verificar a presença de fatores de risco
para a neuropatia diabética (ND); levantar o perfil socioeconômico e clínico dos pacientes portadores de ND e identificar sua
prevalência. Foi realizado estudo descritivo exploratório, com
abordagem quantitativa, realizado em uma Unidade Básica
de Saúde da Família em Fortaleza, Ceará. Foram incluídos 50
portadores de DM2. Predominou: sexo feminino (70%), média
de idade 60,6 anos, tempo médio de diagnóstico 11,5 anos e
de tratamento 11,1 anos. O peso médio foi 72 kg (relacionado
com a média de altura de 1,56 cm caracterizando sobrepeso,
resultando IMC 29,3kg/m²). A circunferência abdominal média
encontrada foi 100,1 cm, acima do limite preconizado para as
mulheres. A glicemia de jejum média foi 180 mg/dl. Somente
9 participantes tiveram os pés examinados por profissional de
saúde e 11 receberam orientação sobre cuidados com os pés.
Sobre a fraqueza muscular em membros inferiores e a presença
de “pontadas”, “agulhadas”, “formigamentos”, “dormência”,
câimbra ou mesmo incômodo ao toque do lençol, a maioria
referiu apresentar esses sintomas (64%). A ND é uma complicação prevenível, justificando seu rastreamento e a assistência
prestada deve ser reforçada para evitar o progresso da doença
e para que não seja necessária a amputação de membros, principal consequência da neuropatia diabética em membros inferiores.
Palavras-chave: Diabetes Mellitus; Complicações; Avaliação;
Neuropatia Diabética.
ABSTRACT
Neuropathy is one of the most common complication of
diabetes mellitus type 2 (DM2), reaching 80-100% of patients.
Aimed to verficar the presence of risk factors for diabetic
neuropathy (DN); to know the socioeconomic and clinical
profile of patients with ND and to identify its prevalence. This
is a descriptive exploratory study with a quantitative approach,
performed in a Basic Health Unit in Fortaleza, Ceará, Brazil.
A total of 50 patients with DM2 were included. Predominated:
female (70%), mean age 60.6 years, mean time since diagnosis
11.5 years and 11.1 years of treatment. The mean weight was
72 kg (related to the average height of 1.56 cm featuring
overweight, resulting BMI 29.3 kg/m²). The average waist
circumference was 100.1 cm, which is above the recommended
limit for women. The mean fasting glucose was 180 mg/dl. Only
9 participants had their feet examined by a health professional
and 11 received guidance on foot care. About muscle weakness
in the lower limbs and the presence of “stinging”, “needles”,
“tingling”, “numbness”, cramping or even bother to touch, the
majority reported exhibit these symptoms (64%).
The DN is a preventable complication of DM, justifying its
tracking. The assistance should be strengthened to prevent the
progression of the disease and the amputation of limbs, a major
consequence of diabetic neuropathy.
Keywords: Diabetes Mellitus; Complications; Assessment; Diabetic Neuropathy.
INTRODUÇÃO
O Diabetes Mellitus (DM) é um grupo de doenças metabólicas caracterizadas por hiperglicemia decorrente de defeitos na
secreção e/ou ação da insulina(¹). As consequências do DM, a
longo prazo, incluem disfunções e falências de vários órgãos,
especialmente rins, olhos, nervos, coração e vasos sanguíneos(2).
A prevalência média do Diabetes na população urbana brasileira entre 30 e 69 anos é de 7,6% há 18 anos. No Ceará essa
média cresceu nas últimas décadas para 12%. Atualmente, es-
*Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Centro de Ciências da Saúde, Universidade de Fortaleza. Fortaleza, Ceará, Brasil.
6
Professor do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva na Universidade de Fortaleza (UNIFOR). E-mail: [email protected].
Rastreamento de Neuropatia Diabética em Pacientes
Atendidos em Unidade Básica de Saúde
RETEP - Rev. Tendên. da Enferm. Profis.,
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tima-se que existam no Ceará mais de 370 mil pessoas em tratamento para diabetes, 120 mil só em Fortaleza. São mais de
230 milhões de casos em todo o mundo (equivalente a 6% da
população adulta) (3).
Uma complicação crônica muito frequente é o pé diabético,
caracterizado pela presença de lesões em decorrência de alterações vasculares e/ou neurológicas peculiares do Diabetes. É
responsável por parcela significativa de internações e a maior
causa de hospitalizações prolongadas entre os diabéticos (4).
As alterações microvasculares são próprias do Diabetes e
caracterizam-se pelo espessamento da membrana que circunda
as células endoteliais do capilar (membrana basal). Podem afetar nervos periféricos (sensório-motores), autônomos e espinhais, ou seja, esse grupo de doenças que afetam todos os tipos
de nervos relaciona-se à Neuropatia Diabética (1).
A neuropatia diabética é a complicação mais comum, compreendendo um conjunto de síndromes clínicas que afetam o
sistema nervoso periférico sensitivo, motor e autonômico, de
forma isolada ou difusa, nos segmentos proximal e distal, de
instalação aguda ou crônica, de caráter reversível ou irreversível, manifestando-se silenciosamente ou com quadros sintomáticos dramáticos. Pode atingir a grande maioria dos pacientes, 80 a 100% a longo prazo (5).
Apresenta-se em diferentes formas clínicas tais como: neuropatias sensitivo-motoras (polineuropatia e neuropatias focais), neuropatia autonômica cardiovascular, hipotensão postural, gastrointestinal, urogenital, entre outros (1).
A forma mais comum é a neuropatia simétrica sensitivo-motora distal. Pode se manifestar por sensação de queimação, choques, agulhadas, formigamentos, dor a estímulos não
dolorosos, câimbras, fraqueza ou alteração de percepção da
temperatura, pode ser em repouso, com exacerbação à noite e
melhora com movimentos (6).
As lesões de extremidades inferiores nos pacientes diabéticos são frequentes na população de baixo nível sócio-econômico, com condições inadequadas de higiene e pouco acesso
aos serviços de saúde. Quando procuram atendimento médico,
as lesões estão geralmente em estágios avançados, requerendo
tratamento cirúrgico, que muitas vezes o incapacitam para suas
atividades de rotina (7). O tratamento da neuropatia é sintomático. Para aliviar a dor e evitar progressão da lesão, recomenda-se um bom controle glicêmico e, em casos que apresentem
muita dor e não respondem ao controle metabólico, devem inicialmente ser manejado com analgésicos não-opióides (1).
O reconhecimento precoce e o manejo da neuropatia diabética são importantes, pois permitem o início de um tratamento
específico em casos sintomáticos, além de adequada orientação
da clientela em risco de lesão em membros inferiores não percebidas.
A escolha deste tema deu-se pela percepção da pouca importância que alguns profissionais de saúde dão ao exame clínico dos portadores de Diabetes em busca da neuropatia, e dos
próprios portadores em não conhecer essa complicação.
1152
A neuropatia tem sido um fator de risco importante para
ulcerações e amputações de membros inferiores. Assim, o presente estudo torna-se relevante, pois busca dar apoio e monitoramento aos diabéticos, reduzindo o ônus das condições crônicas, melhorando a qualidade de vida dessas pessoas e detectando esse fator de risco precocemente, evitando amputações.
O objetivo deste estudo é verificar a presença de fatores de
risco para a neuropatia diabética; traçar o perfil socioeconômico e clínico dos pacientes portadores de neuropatia diabética e
identificar a prevalência de neuropatia diabética entre pacientes atendidos em uma Unidade Básica de Saúde.
METODOLOGIA
Foi realizado estudo descritivo exploratório, com abordagem quantitativa, em uma Unidade Básica de Saúde situada na
cidade de Fortaleza, Ceará.
A população do estudo foi formada por todos os pacientes
portadores de Diabetes Mellitus tipo 2 acompanhados por uma
das equipes de saúde da família da Unidade citada. Sendo assim, a amostra foi composta de 50 pacientes que foram selecionados seguindo os seguintes critérios de inclusão: estarem
em acompanhamento há pelo menos 6 meses pela equipe do
Programa de Saúde da Família, ter diagnóstico há cerca de 5
anos e estarem na faixa etária acima de 40 anos.
A coleta de dados foi feita por meio de uma entrevista individual durante a consulta de enfermagem ao portador de DM2,
utilizando um questionário contendo dados pessoais, quadro
sócio-econômico e dados referentes à doença (tempo, classificação, presença de complicação, descompensação, internação
e alguma comorbidade associada).
Foi feita uma análise estatística descritiva (número e percentual). Para tanto foram calculadas as medidas estatísticas
de tendência central: média, mediana e moda. Os dados foram
processados no SPSS (Statistical Package for Social Science),
versão 13.0. Após esta análise estatística, confrontamos os
dados com a literatura especializada. Nas análises estatísticas
inferenciais, utilizou-se as variáveis categóricas, os testes 2 e
de pearson. Para as variáveis contínuas, utilizou-se o teste t-independente. Para todos os testes, foi adotado o nível de significância de 5% (p<0,005).
O estudo foi aprovado pelo comitê de ética com parecer de
n°232/08.
RESULTADOS
Foram incluídos 50 pacientes portadores de DM2 acompanhados por uma Unidade Básica de Saúde da Família que está
caracterizada na tabela 1.
Através dos dados contidos na Tabela 1 pode-se perceber
que a população predominante é do sexo feminino, 35 pacientes (70%), o que vem a se relacionar com a profissão mais citada, dona de casa (46%). Ressalta-se que 26 dos entrevistados
têm renda de 1 salário mínimo e apenas 2 pessoas têm renda
familiar inferior a 1 salário.
A média de idade da população do estudo foi 60,6 anos. O
tempo médio de diagnóstico foi 11,5 anos e o tempo de tratamento médio 11,1 anos. A partir desses dados, entende-se que
a maioria dos participantes está inclusa na faixa etária que os
classificam como idosos, o que pode significar dependência de
alguém para o autocuidado.
A Tabela 2 mostra que o peso médio dos participantes do
estudo é de 72 kg, um alto peso quando relacionado à média
da altura, que foi de 1,56 cm, o que resulta em um IMC alterado, podendo este ser comprovado observando a tabela, onde a
média do IMC foi de 29,3 kg/m², classificado como sobrepeso,
presente em 40,8% dos pacientes pesquisados.
A circunferência abdominal média encontrada foi de 100,1
cm. Pode-se dizer que está acima do limite preconizado para
as mulheres comparada com os parâmetros de normalidade do
Ministério da Saúde (5).
Através do teste t-independente, relacionamos o IMC com
a presença de neuropatia (neuropatia presente e neuropatia
presente com sinais de doença vascular periférica), porém foi
encontrado p=0,892, o que se pode concluir que não apresentou significância para o estudo.
membros inferiores ou mesmo incômodo ao toque do lençol foi
significante para o estudo (p <0,001). Porém, os outros fatores,
mesmo não tendo p <0,005, não deixam de ser importantes em
uma avaliação de neuropatia diabética, pois representam fatores predisponentes.
A partir da Tabela 6, podemos perceber que 14% (7 participantes) não apresentam neuropatia e 86% (43 participantes) apresentam neuropatia, sendo 50% com sinais de doença
vascular periférica. Assim, pode-se concluir que a assistência
prestada a estes pacientes deve ser reforçada para evitar o progresso da doença e, principalmente, para que não seja necessária a amputação de membros, que é a principal consequência da neuropatia diabética em membros inferiores. Todos os
diabéticos devem ser orientados para os cuidados com a saúde
(atenção especial aos pés) e alertados para os fatores de risco
da doença para prevenir novos casos e impedir agravamento
dos já diagnosticados.
Outros dados que não foram colocados em tabelas por não
apresentarem resultados numericamente relevantes serão descritos, pois têm importância para o desenvolvimento da neuropatia diabética em membros inferiores.
Com relação aos valores glicêmicos, percebe-se que a glicemia de jejum teve valor médio 180 mg/dl, um valor elevado, já
que o normal é que ele esteja <110 mg/dl. É através do exame
físico que obtemos dados específicos do paciente como Diabetes descompensado, estado nutricional, informações acerca da
realização de atividade física, cuidados com os pés, entre outros.
A pesquisa mostrou que 62% dos participantes além do Diabetes, eram hipertensos, o que é fator agravante para a saúde.
A Tabela 3 mostra que 10 pacientes (20%) são tabagistas,
revela também que 25 pessoas (50%) foram, em algum momento da vida tabagistas. Em relação aos alcoolistas, o número foi
menor, apenas 6 entrevistados (12%) e 8 pessoas (16%) são
ex-alcoolistas, hábitos esses que predispõem às doenças cardiovasculares.
Observa-se que é importante a orientação alimentar para
esses pacientes, pois muitos (20%) consideram que somente o
uso diário do adoçante é suficiente para manter esse controle.
Observa-se alto percentual de pacientes que apresentam dor noturna que melhora quando caminham, representando 64% (Tabela 4).
Percebe-se nesse estudo que, dos 50 participantes, somente 9 já tiveram os pés examinados por algum profissional de
saúde e 11 já receberam orientação acerca dos cuidados com os
pés, o que demonstra a pouca importância que os profissionais
de saúde estão dando aos cuidados com os pés dos diabéticos.
Em relação à fraqueza muscular em membros inferiores
e à presença de “pontadas”, “agulhadas”, “formigamentos”,
“dormência”, câimbra nos pés ou membros inferiores ou mesmo incômodo ao toque do lençol, a maioria dos participantes
respondeu que apresentava esses sintomas (64%), o que deve
servir como sinal de alerta, pois esses são fatores de risco para
o desenvolvimento da neuropatia diabética.
Foi realizada uma análise estatística relacionando a presença de neuropatia diabética com fatores de risco citados na
Tabela 5. Observa-se que, apenas a apresentação de pontadas,
agulhadas, formigamentos, dormência, câimbra nos pés ou
Rastreamento de Neuropatia Diabética em Pacientes
Atendidos em Unidade Básica de Saúde
Entende-se que os portadores de Diabetes Mellitus tipo 2,
participantes desse estudo, não percebem a atividade física
como uma forma de prevenção e controle da doença, pois 62%
(31 entrevistados) não praticam nenhum tipo de atividade, referem falta de tempo e por não gostarem.
Com relação à terapia medicamentosa, 48% dos participantes fazem uso de hipoglicemiantes orais (metformina e
glibenclamida), sendo a insulina utilizada apenas por 6% dos
participantes.
Testes de sensibilidade protetora plantar (monofilamento
de 10g), tátil, dolorosa, vibratória e térmica foram realizados
durante a consulta, além da avaliação do reflexo de Aquileu e
a força muscular (panturrilha e tibial anterior). Essa avaliação
foi definida através do questionário utilizado na consulta, mas
após análise estatística percebeu-se que não foi significante
para o desenvolvimento de neuropatia diabética.
DISCUSSÃO
No presente estudo observou-se uma população adulta, na
terceira idade (média de 60,6 anos), com maior frequência de
mulheres (76%), casadas (52%) e donas de casa (46%), com
renda familiar entre um salário ou mais (94%).
Outro estudo realizado entre pessoas diabéticas, mostrou
uma população, em sua maioria adulta, com maior frequência
de mulheres (56%), sendo 73,8% donas de casa (8).
Em relação à renda familiar, quase a totalidade dos participantes recebem um salário ou mais, o que pode levar a enten-
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der que é um fator positivo para o cuidado com a saúde. Porém,
precisa-se considerar que muitos moram com filhos, netos e
agregados, sendo este um fator agravante, pois se torna mais
difícil, por exemplo, a adesão a um controle alimentar eficaz,
já que precisam arcar com as despesas de muitos familiares.
Até mesmo a prática de atividade física, tão importante para o
tratamento, fica comprometida, pois muitas mulheres referiram
que não tinham tempo ou ficavam muito cansadas cuidando da
casa e dos netos, enquanto os filhos saiam para trabalhar.
Em relação ao consumo de álcool, 28% dos participantes
são ou já foram alcoolistas, o que é fator de alerta, pois o principal perigo do consumo de álcool pelo diabético é a hipoglicemia, sobretudo para os que usam insulina (1). O álcool pode
diminuir as reações fisiológicas normais no corpo, as quais
produzem glicose (gliconeogênese), além de levar ao ganho
excessivo de peso (devido ao elevado conteúdo calórico), hiperlipidemia e níveis elevados de glicose (principalmente em
licores e bebidas mistas).
A hipertensão arterial contribui para o desenvolvimento
e progressão das complicações crônicas do Diabetes Mellitus. Em pacientes com Diabetes tipo 2, a hipertensão é quase sempre parte de uma síndrome que inclui intolerância à
glicose, resistência à insulina, obesidade, dislipidemias e
doença arterial coronária, fatores intervenientes para a formação das úlceras neuro-isquêmicas e amputações em membros inferiores (9).
Este estudo mostra que os medicamentos mais utilizados
representam 48%, são os hipoglicemiantes orais (metformina
e glibenclamida), sendo a insulina utilizada apenas por 6% dos
participantes. Deve-se ressaltar, entretanto, que somente a
ação medicamentosa não atuará de forma efetiva se a mesma
não estiver associada com cuidados básicos diários como alimentação e exercício físico.
Considerando que a maioria dos entrevistados (62%) não
pratica atividade física e que 20% acreditam que somente o uso
do adoçante funciona como controle alimentar, justifica-se o
fato de encontrarmos a média de peso 72 kg para uma estatura
média de 1,56 cm e ainda o IMC médio de 29,3 kg/m² (considerado sobrepeso). Observamos 73,5% dos participantes com
sobrepeso e obesidade grau I (Tabela 2).
Isso demonstra a falta de cuidados com a saúde, que foi
justificada com inúmeros fatores como a falta de tempo e de
dinheiro, o estresse do dia-a-dia, desemprego, problemas familiares, entre outros.
Presume-se que, com o controle alimentar ineficaz e a ausência de atividade física, não só os valores de IMC, peso e altura, mas também as circunferências de abdômen e quadril vão
estar alteradas, além dos valores glicêmicos e de medidas de
pressão arterial.
A base do tratamento do Diabetes é constituída por nutrição, dieta e controle de peso (1). O objetivo mais importante é
o controle da ingesta calórica total para atingir ou manter um
peso corporal razoável e controlar os níveis sanguíneos de glicose. O exercício diminui o nível de glicose no sangue ao aumentar a captação de glicose pelos músculos corpóreos e melhorar a utilização de insulina.
O estudo revelou tempo de diagnóstico do Diabetes Mellitus
tipo 2 médio 11,5 anos (Tabela 1), o que podemos considerar
como um fator que predispõe o aparecimento de lesões.
O tempo médio de tratamento é bem próximo do tempo médio de diagnóstico, o que se entende como fator positivo, pois
se pode considerar que após o diagnóstico, os participantes iniciaram o tratamento.
É preocupante o alto índice de tabagistas e ex-tabagistas,
que representa 70% dos participantes, pois é visível a ação que
o tabaco exerce na etiologia da vasculopatia periférica, que determina o “pé em risco no diabetes”, fator predisponente para
as amputações (9).
1154
Em um estudo(10) a ocorrência de dor, formigamento, sensação de picadas, queimação nos pés e/ou membros inferiores,
foi observada durante a realização do exame físico, correspondendo à aproximadamente 48%, dados semelhantes aos encontrados no nosso estudo, onde os mesmos sintomas estavam
presentes em 64% dos entrevistados, sintomas estes sugestivos
de neuropatia.
Destaca-se novamente a importância do cuidado com os
pés para alertar para o número de amputações de membros
inferiores decorrentes do diabetes, pois os diabéticos têm 15
vezes mais risco de se submeterem a esse procedimento do que
pessoas que não têm a doença; 1,7% de todas as internações
relacionam-se à amputação e gastam 10% dos custos com os
cuidados de saúde dos diabéticos (11).
Os problemas neuropáticos também produzem simultaneamente dor, sob forma de queimação e ardor, diminuição da
sensibilidade, fraqueza nas pernas e pés, junto a uma ausência
dos reflexos no joelho e pés (10).
Quanto ao cuidado com os pés, percebe-se que apenas 9 entrevistados tiveram seus pés examinados por algum profissional
da saúde, um dado preocupante, já que demonstra grande carência em ações preventivas no atendimento primário.
Pesquisa(10) apresenta que, raramente os profissionais
orientam sobre os cuidados necessários com os pés, dado este
que vem a confirmar o que foi encontrado em nosso estudo.
O estudo mostrou que 86% dos entrevistados apresentaram
neuropatia, sendo 50% já apresentando sinais de doença vascular periférica, o que demonstra a relevância do estudo, pois
se sabe que a neuropatia é uma complicação prevenível, justificando seu rastreamento.
O cuidado integral ao portador de Diabetes deve compreender aspectos psicossociais e culturais, tomando a educação terapêutica como fundamental para informar, motivar e
fortalecer a pessoa e a família para conviver com a condição
crônica. A cada encontro deve ser reforçada a percepção de
risco à saúde, desenvolvimento de habilidades e motivação
para superar esse risco (12).
A base da consulta gira em torno das informações sobre a
doença que o profissional deve fornecer. O paciente deve entender que o Diabetes Mellitus não tem cura, mas que, através
dessas informações, ele tem como controlar e evitar o aparecimento de possíveis complicações. Além disso, o profissional
deve estar disponível para esclarecer dúvidas, encorajar o paciente para mudanças de hábitos, avaliar seu conhecimento sobre a doença, avaliar os pés com cautela, solicitar exames para
o controle glicêmico, otimizando seu tratamento.
CONCLUSÃO
O presente estudo identificou alto índice de neuropatia
diabética presente em pacientes atendidos em uma Unidade
Básica de Saúde. Percebe-se pouca importância dada por parte
dos profissionais para a prevenção da neuropatia, já que é uma
complicação que pode afetar a maioria dos diabéticos e pode
causar úlceras nos pés culminando em amputações.
Conclui-se que, durante a consulta, o profissional esquece
ou simplesmente ignora a avaliação dos pés dos diabéticos,
pois em uma amostra de 50 pacientes, somente 9 tiveram os
pés examinados por algum profissional de saúde.
Em nosso estudo, a avaliação das sensibilidades (protetora
plantar, tátil, dolorosa, vibratória e térmica) não demonstrou
número relevante quando relacionado com a neuropatia diabética. Esse fato pode ser atribuído ao tamanho da amostra, relativamente pequena. Porém, torna-se importante para alertar o
cuidado que os diabéticos devem ter com os pés e a orientação
que os profissionais devem realizar nas consultas.
Para melhoria dos serviços de atenção à saúde do diabético,
sugere-se que o profissional enfermeiro realize uma consulta
completa, avaliando os fatores de risco para as complicações do
Diabetes. Para isso, o profissional deve fazer anamnese, investigar os hábitos de vida do paciente e avaliar os pés.
Espera-se que as discussões geradas neste estudo contribuam para uma melhor orientação aos portadores de Diabetes
por parte dos profissionais de saúde que os acompanham acerca, não só dos cuidados com os pés, mas também encorajá-los
à prática de hábitos de vida saudáveis como atividade física,
controle alimentar, consultas periódicas, promovendo melhor
qualidade de vida.
Percebe-se ainda, ao longo da pesquisa, que a realização de
uma boa consulta não demanda tanto tempo, como alegado por
alguns profissionais e, com poucos recursos é possível sua realização. Não basta somente avaliar a terapia medicamentosa,
pois a maioria das complicações do Diabetes pode ser evitada
através do diagnóstico precoce e de medidas preventivas.
Tabela 1 - Frequência e percentual de portadores de Diabetes Mellitus tipo 2, segundo dados socioeconômicos e características
clínicas, em uma Unidade Básica de Saúde da Família, Fortaleza, 2008.
Variáveis
Frequência
(%)
Média
Mediana
Moda
Masculino
15
30
-
-
-
Feminino
35
70
-
-
-
Casado
26
52
-
-
-
Solteiro
12
24
-
-
-
Viúvo
12
24
-
-
-
Dona de casa
23
46
-
-
-
Aposentado
7
14
-
-
-
Desempregado
4
8
-
-
-
Outros
16
32
-
-
-
< 1 salário mínimo
2
4
-
-
-
1 salário mínimo
26
52
-
-
-
> 1 salário mínimo
21
42
-
-
-
Não respondeu
1
2
Sexo
Estado Civil
Profissão
Renda Família
Idade
40 a 50 anos
-
-
-
60,6
51
59
07
14
-
-
-
51 a 60 anos
17
34
-
-
-
> 60 anos
26
52
-
-
-
11,5
8,5
5
Tempo de diagnóstico
Rastreamento de Neuropatia Diabética em Pacientes
Atendidos em Unidade Básica de Saúde
RETEP - Rev. Tendên. da Enferm. Profis.,
2014; 6(1): 1151-1157
1155
05 a 10 anos
32
64
-
-
-
Acima de 10 anos
18
36
-
-
-
11,1
8
5
Tempo de tratamento
05 a 10 anos
34
68
-
-
-
Acima de 10 anos
16
32
-
-
-
Total
50
100
Tabela 2 – Dados clínicos de portadores de Diabetes Mellitus tipo 2 obtidos através do exame físico, realizado em Unidade Básica
de Saúde da Família, Fortaleza, 2008.
Variáveis
Média
Mediana
Moda
Frequência
(%)
Sentada
131,20x83,60 mmHg
130x80 mmHg
140x80 mmHg
-
-
Ortostática
121,40x82,60 mmHg
120x90 mmHg
120x90 mmHg
-
-
Pressão Arterial
Peso
72 kg
73 kg
60 kg
-
-
1,56 cm
1,56 cm
1,50 cm
-
-
29,3 kg/m²
29,4 kg/m²
23,7 kg/m²
-
-
Normal
-
-
-
08
16,3
Sobrepeso
-
-
-
20
40,8
Obesidade grau I
-
-
-
16
32,7
Obesidade grau II
-
-
-
05
10,2
Abdômen
100,1 cm
100,5 cm
102 cm
-
-
Quadril
103,7 cm
105,5 cm
102 cm
-
-
Jejum
180 mg/dl
150 mg/dl
85 mg/dl
-
-
Pós-prandial
167 mg/dl
142 mg/dl
125 mg/dl
-
-
49
100
Altura
IMC
Circunferência
Glicemia
Total
Tabela 3 – Frequência e percentual de portadores de Diabetes
mellitus tipo 2, segundo hábitos de tabagismo ou alcoolismo
em Unidade Básica de Saúde da Família, Fortaleza, 2008.
Variáveis
Tabagista
Ex-tabagista
Alcoolista
Frequência
(%)
10
20
25
6
Ex-alcoolista
Total
8
50
50
12
16
100
Tabela 4 - Frequência e percentual de portadores de Diabetes
Mellitus tipo 2, segundo características clínicas de alerta para
neuropatia em Unidade Básica de Saúde da Família, Fortaleza,
2008.
Sintomas
Algum tipo de ulceração
16
32
Dor ao caminhar
32
64
Dor noturna (melhora quando caminha)
13
26
Pés examinados por profissional de
saúde
9
18
Orientação sobre cuidados com os pés
11
22
Hábito de andar descalço
23
46
Fraqueza em membros inferiores
32
64
Pontadas, agulhadas, formigamentos,
dormência, câimbras nos pés ou
membros inferiores ou incômodo ao
toque do lençol
32
64
50
100
Total
1156
Frequência (%)
Tabela 5 – Fatores de risco para doença vascular de portadores de Diabetes Mellitus tipo 2, acompanhados em uma Unidade Básica
de Saúde da Família, Fortaleza, 2008.
Variáveis
Frequência
(%)
Pearson (p)*
Alcoolismo
05
11,6
0,841
Tabagismo
07
16,3
0,103
Ulceração
16
37,2
0,050
Dor ao caminhar
29
67,4
0,209
Fraqueza muscular
30
69,8
0,005
Pontadas, agulhadas, dormência...
32
74,4
0,000 (p<0,001)
Palpação do pulso pedioso
32
74,4
0,130
Palpação do pulso tibial posterior
20
46,5
0,008
Para ter significância, temos p<0,005
Tabela 6 – Frequência e percentual de portadores de Diabetes Mellitus tipo 2, segundo classificação de risco para neuropatia em
Unidade Básica de Saúde, Fortaleza da Família, 2008.
Variáveis
Frequência
(%)
7
14
Neuropatia presente
18
36
Neuropatia presente com sinais de doença vascular periférica
25
50
50
100
Neuropatia ausente
Total
REFERÊNCIAS
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Janeiro: Guanabara Koogan; 2005.
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Fortaleza: Secretaria de Saúde do Estado do Ceará, 2004.
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2006.
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em evidências. 3.ed. Porto Alegre: Artmed; 2005.
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lesões podais infectadas em pacientes diabéticos. Arq Bras Endocrinol Metab
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8.Porciúncula MVP, Rolim LCP, Garofolo L et al. Análise de fatores associados à
ulceração de extremidades em indivíduos diabéticos com neuropatia periférica.
Arq Bras Endocrinol Metab 2007; 51 (7): 1134-1142.
9.Gamba MA, Gotlieb SLD, Bergamaschi D et al. Amputações de extremidades
inferiores por diabetes mellitus: estudo caso-controle. Rev Saúde Pública 2004;
38 (3): 399-404.
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de Saúde de Janiópoles. Arq Cienc Saúde Unipar 2003; 7 (3): 199-204.
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728-34.
Recebido em: 03.01.2014
Aprovado em: 17.02.2014
Rastreamento de Neuropatia Diabética em Pacientes
Atendidos em Unidade Básica de Saúde
RETEP - Rev. Tendên. da Enferm. Profis.,
2014; 6(1): 1151-1157
1157
A PERCEPÇÃO DE DOCENTES DE ENFERMAGEM À RESPEITO
DE SUA CAPACITAÇÃO PARA O ENSINO
THE TEACHER’S UNDERSTANDING ABOUT THEIR ABILITY IN TEACHING
Artigo Original
Marta Maria Leite de Araújo1
Maria Sonia Felício Magalhães2
Alice Maria Correia Pequeno Marinho3
RESUMO
A reflexão acerca da formação pedagógica do docente enfermeiro é essencial pela complexidade da prática profissional
na educação. Objetivou-se caracterizar o perfil dos docentes
que atuam como supervisores de Enfermagem em campos de
estágio e descrever os processos desenvolvidos com vistas à
capacitação dos docentes para atuação como supervisores
em campos de estágio. Estudo exploratório e descritivo, com
abordagem qualitativa. Pesquisa desenvolvida em cinco hospitais secundários municipais de Fortaleza. Foram entrevistados onze docentes do Estágio Curricular Supervisionado de
variadas instituições de ensino superior com graduação em
Enfermagem. A análise dos dados utilizou a Análise Temática,
seguindo as etapas de: pré-análise, exploração do material e
análise e interpretação dos resultados. Ressalta-se a necessidade de capacitação dos docentes para a docência e de compartilhamento desta e que a atualização pedagógica dos docentes
deve ser proporcionada pela instituição a que estão vinculados,
devendo esta ser periódica.
Palavras-chave: Ensino; Aprendizagem; Educação em Enfermagem.
ABSTRACT
The reflection on the pedagogical training of nurses
teaching is essential for the complexity of professional practice
in education. This study aimed to characterize the profile of
teachers who serve as supervisors of Nursing in field internship
and describe the processes developed aimed at training teachers
to work as supervisors in field internship. Exploratory and
descriptive study with a qualitative approach. Research carried
out in five municipal secondary hospitals in Fortaleza. Eleven
teachers of Supervised were interviewed varied institutions
of higher education with a degree in Nursing. Data analysis
used thematic analysis following steps: Pre-analysis, material
exploration and analysis and interpretation of results. We
emphasize the need for training of teachers for teaching and
sharing this update and that teaching teachers should be
provided by the institution to which they are bound, which must
be periodic.
Keywords: Education; Learning; Nursing Education.
INTRODUÇÃO
O exercício da docência no curso de graduação em Enfermagem possibilita o questionamento de metodologias no ensino-aprendizagem, implementadas tanto na academia como nos
programas de aperfeiçoamento e atualização dos profissionais
e nos eventos dirigidos à categoria.
A prática diária sinaliza a ocorrência de um ensino centrado
na figura do docente, que detém a autonomia do conhecimento, ensejando estratégias repetitivas, geralmente com aulas
expositivas, e consequentemente criando um fluxo unilateral
de comunicação, dificultando o desenvolvimento do pensamento crítico por parte do aluno, que na maioria das vezes assimila o que lhe é imposto, sem muitos questionamentos1.
As escolas de ensino superior avançaram na concepção
crítica-reflexiva em relação à sociedade, mas se revelam conservadoras na maneira como ensinam e operam os conteúdos,
adotando grades curriculares estanques, que levam à formação
de um aluno comparável a um somatório ou justaposição de
conhecimentos. O que prevalece e orienta a constituição dos
projetos políticos pedagógicos, na maioria das escolas, é a ênfase na concepção do processo saúde-doença, limitando-se tais
projetos a abordar a enfermidade, a cura e a atenção individual,
que não capacita os alunos para mobilizar os saberes na busca
da integralidade (2).
A reflexão acerca da formação pedagógica do docente
enfermeiro é essencial em razão da complexidade da prática
profissional inserida na tarefa da educação. Para muitos docentes, contudo, a docência em saúde é, geralmente, considerada secundária, deixando de reconhecer a existência de uma
relação entre ensino, aprendizagem e assistência, bem como
de debaterem as especificidades dos cenários do processo ensi-
Enfermeira. Mestre em Ensino na Saúde na Universidade Estadual do Ceará (UECE). E-mail: [email protected].
Docente. PhD em Cirurgia na UECE
3
Docente do Mestrado Profissional Ensino na Saúde na UECE. Doutora em Saúde Pública.
1
2
1158
no-aprendizagem e seus agentes: docentes, aluno, pacientes,
profissionais de saúde e comunidade.
Tradicionalmente nas universidades brasileiras, observa-se
a questão dos docentes bacharéis que, mesmo sem qualquer
formação pedagógica, exercem atividades próprias da docência. Os docentes são selecionados pela comprovação da competência técnico-científica, em detrimento da comprovação
formal da habilidade didático-pedagógica. Tal situação enseja
dificuldades em torno do ensino-aprendizagem (3).
O ensino de Enfermagem é compelido a mudar, de forma a
atender aos desafios de ampliação do campo de ação do enfermeiro, requeridos pela Reforma Sanitária, Sistema Único de
Saúde, Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de graduação
em Enfermagem e pela Política de Formação e Educação Permanente em Saúde. Tal necessidade surge do consenso de que
não há como transformar o paradigma sanitário e o sistema de
saúde sem atuar na formação dos profissionais. Nesta transformação, o Estágio Curricular Supervisionado (ECS) pode trazer
importante contribuição, haja vista ser uma atividade acadêmica bastante rica para a formação profissional, momento em
que o estudante entra em contato direto com a realidade de
saúde da população e do mundo do trabalho, possibilitando o
desenvolvimento pessoal e profissional, leve assim à consolidação de conhecimentos adquiridos no decorrer do curso, por via
da relação teoria-prática (4,5).
De um lado, o compromisso dos enfermeiros docentes é intensamente vinculado à formação de profissionais, priorizando, então, as questões do ensino. De outra parte, os enfermeiros do hospital priorizam a assistência de Enfermagem, ficando
as ações centradas na coordenação e realização do cuidado ao
paciente. O ensino de Enfermagem direcionado para a prática
hospitalar, efetuando-se desarticulado dos padrões vigentes
do serviço de Enfermagem pode ensejar divergências no comportamento e na atuação dos enfermeiros docentes e assistenciais (6).
Diante dessas considerações fica claro a importância do
professor como agente desencadeador do processo ensino-aprendizagem, tendo este estudo como objetivos caracterizar
o perfil dos docentes que atuam como supervisores de Enfermagem em campos de estágio e descrever os processos desenvolvidos com vistas à capacitação dos docentes para atuação como
supervisores em campos de estágio.
METODOLOGIA
Este estudo caracteriza-se como exploratório e descritivo,
com abordagem qualitativa, visto que a intenção foi desvelar as
experiências da prática docente dos enfermeiros, a partir dos
seus discursos.
A pesquisa foi desenvolvida em cinco hospitais secundários, integrantes da rede pública municipal de saúde de Fortaleza: Hospital Nossa Senhora da Conceição, Hospital Distrital Evandro Ayres de Moura, Hospital Distrital Gonzaga Mota
– José Walter, Hospital Distrital Gonzaga Mota – Messejana e
Hospital Distrital Maria José Barroso de Oliveira. Os locais de
A Percepção de Docentes de Enfermagem à
respeito de sua capacitação para o ensino
estudo foram definidos intencionalmente por todos terem características comuns, facilitando a interação com a população
a ser estudada.
Fizeram parte do estudo os docentes do Estágio Curricular
Supervisionado das instituições de ensino superior, com graduação em Enfermagem que mantêm convênios com a Secretaria
Municipal de Saúde de Fortaleza, por meio da Coordenadoria de
Gestão do Trabalho e Educação em Saúde – COGTES.
As instituições cujos docentes fizeram parte do estudo, foram as seguintes: Universidade Estadual do Ceará – UECE, com
um docente; Universidade de Fortaleza – UNIFOR, com dois
docentes; Faculdade Integrada da Grande Fortaleza – FGF, com
quatro docentes; Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza – FAMETRO, com quatro docentes e Faculdade de Ensino e
Cultura do Ceará – FAECE, com dois docentes, perfazendo um
total de treze docentes. Destes, dois foram excluídos por terem
participado do pré-teste do instrumento de coleta de dados
para validação. Participaram deste estudo onze docentes das
referidas instituições.
A participação dos docentes foi voluntária, com assinatura
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), obedecendo à Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde,
que regula os aspectos éticos em pesquisas com seres humanos.
Para garantir o anonimato os entrevistados foram identificados
nos resultados do estudo como Entrevistado 01 (E 01) a Entrevistado 11 (E11).
O estudo foi iniciado após a aprovação do Comitê de Ética
em Pesquisa, da Universidade Estadual do Ceará – UECE, com o
Parecer Consubstanciado de nº 458.948. A coleta de dados foi
realizada em novembro de 2013, por meio de uma entrevista
semiestruturada em que foram abordados o perfil dos docentes
e questões sobre capacitação e prática pedagógica.
Para análise dos dados adotou-se a técnica da Análise Temática (7), proposta em três etapas: pré-análise onde procedeu-se a leitura flutuante do material para, de acordo com os
objetivos e questões de estudo, se definir a unidade de registro
ou índice. Na exploração do material fez-se a codificação pelo
recorte dos textos em temas, os quais foram enumerados para
o estabelecimento de correspondência entre a sua presença/
ausência e os significados inferidos. Na fase de análise e interpretação dos resultados emergiram os temas: revelando o perfil
do docente: articulação entre o saber e o fazer e caminhos para
a prática do docente: tecendo a construção de competências.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Revelando o Perfil do Docente: articulação entre o saber
e o fazer
O perfil profissional dos participantes foi traçado observando-se as variáveis: idade, sexo, estado civil, conclusão da
graduação, titulação, trabalho assistencial, participação em
cursos de capacitação para a docência, experiência anterior na
docência (QUADRO 1)
RETEP - Rev. Tendên. da Enferm. Profis.,
2014; 6(1): 1158-1164
1159
QUADRO 1 – Perfil profissional dos participantes.
VARIÁVEIS
IDADE
Nº
%
<30
01
09
30–40
09
82
>40
01
09
FEMININO
10
91
MASCULINO
01
09
SOLTEIRO
04
36
CASADO
06
55
DIVORCIADO
01
09
<05
02
18
05-10
03
27
10-15
01
09
15-20
05
46
ESPECIALIZAÇÃO
02
18
MESTRADO
07
64
DOUTORADO
02
18
TRABALHA NA
ASSISTÊNCIA
SIM
09
82
NÃO
02
18
FORMAÇÃO PEDAGÓGICA
PARA A DOCÊNCIA
SIM
09
82
NÃO
02
18
NECESSIDADE FORMAÇÃO
PEDAGÓGICA
SIM
11
100
NÃO
-
-
EXPERIÊNCIA ANTERIOR
NA DOCÊNCIA
SIM
09
82
NÃO
02
18
SEXO
ESTADO CIVIL
TEMPO DE CONCLUSÃO
DA GRADUAÇÃO
TITULAÇÃO
No tocante à idade, a faixa etária que predominante foi de
30-40 anos, com 09 (82%). Nessa fase, geralmente, espera-se
maior senso de responsabilidade, associado à maturidade e sabedoria profissionais, adquiridas ao longo da vida.
A predominância do sexo feminino, com 10 (91%) dos entrevistados pode ser atribuída ao fato de que as profissões relacionadas ao cuidado de pessoas, como a Enfermagem, são das
primeiras a inserir as mulheres no mercado de trabalho.
Com relação ao tempo de formação acadêmica, a maioria,
05 (46%) concluiu o curso há 15 e 20 anos, 03 (27%) dos entrevistados estão formados entre 05-10 anos, e 02 (18%) se
formaram há menos de cinco anos. Destes 07 (64%) têm mestrado, enquanto 02 (18%) são especialistas e 02 (18%) têm
doutorado.
Quanto a trabalhar na assistência concomitantemente à
docência, 02 (18%) não exercem atividade de assistência direta ao paciente. É sabido que a prática considera o saber como
referencial para a reflexão crítica sobre o fazer. O fato do docente desenvolver outras atividades profissionais proporciona
a possibilidade de maior interação com as demandas sociais
vigentes, contato com as tecnologias utilizadas pelas entidades, maior vinculação com o dinamismo do mundo atual e de
estabelecer vinculações práticas aos enunciados teóricos.
1160
Acredita-se que a junção do conhecimento decorrente da
prática com o conhecimento cientificamente constituído agrega criatividade, flexibilidade, dinamismo e improvisação para
dar conta das diversidades e adversidades do cotidiano, tanto
dos serviços de saúde, como das instituições de ensino8.
Com relação à formação pedagógica 09 (82%) dos entrevistados relataram terem participado de algum curso de formação de professores ou de qualificação em metodologias de
ensino, enquanto 02 (18%) relataram nunca terem participado
de nenhum curso de formação pedagógica. É importante salientar que essa formação não ocorreu necessariamente para
a Enfermagem. Dessa forma, não se trata de uma preparação
para a docência superior, na qual estão inseridos atualmente,
entretanto, essa foi a única oportunidade para esses docentes,
em nível de pós-graduação, de articular o ser enfermeiro e o
ser docente por meio de conhecimentos de áreas que embasam
os conhecimentos da área da Enfermagem e da Educação, de
forma a adquirir competências básicas para o exercício da docência.
Quanto à formação pedagógica, os relatos são unânimes
quanto à necessidade de atualização pedagógica, de ampliação
dos conhecimentos com variadas metodologias de ensino e de
compartilhamento destas, com o corpo docente da instituição
de ensino a que estão vinculados.
Observa-se que os conflitos decorrentes da falta de formação pedagógica sempre estiveram presentes no cotidiano dos
profissionais enfermeiros. A formação profissional centrada
nos aspectos da assistência ao paciente nem sempre possibilita
conhecer com maior propriedade as especificidades do trabalho pedagógico. Os docentes assumem os encargos da docência
respaldados em tendência natural e/ou em modelos de mestres
que internalizaram em sua formação inicial, bem como no exercício da sua prática como profissional em uma atividade específica que não a da docência superior (3).
Um fator primordial para que o enfermeiro docente seja
competente no exercício da docência universitária é que ele
identifique e supere os obstáculos didáticos, entendendo-se
estes, como tudo o que interfere negativamente no ensino-aprendizagem, não estando ele limitado ao espaço físico da
sala de aula. A preocupação nesse sentido não diz respeito apenas à prática pedagógica que se tem, mas a prática pedagógica
que se quer (3).
Assim, deve-se exigir do docente, competências para a docência no ensino superior, quais sejam: ser competente em uma
área de conhecimento; possuir domínio da área pedagógica e
exercer a dimensão política na prática da docência universitária. A primeira delas se refere ao domínio dos conhecimentos
básicos da área e experiência profissional do campo. A segunda
envolve o domínio do conceito de aprendizagem, integrando o
desenvolvimento cognitivo, afetivo-emocional e de habilidades, bem como a formação de atitudes, abrindo espaços para a
interação e a interdisciplinaridade. A terceira abrange a discussão, com os alunos, dos aspectos políticos e éticos da profissão
e do seu exercício na sociedade, para que nela possam se posicionar como cidadãos e profissionais (3).
O momento atual é propício para o desencadeamento de
mudanças nos paradigmas de formação dos quadros da saúde,
o que acarreta a necessidade de redefinições nos modos de atuação das instituições de ensino superior. Particularmente, no
âmbito da formação de enfermeiros, tal mudança precisa estar
atenta aos princípios propostos nas Diretrizes Curriculares Nacionais, e, precisamente, à proposta de atenção às necessidades sociais da saúde para assegurar a integralidade e à qualidade previstas nessas diretrizes (9).
Essas transformações nas estratégias pedagógicas estão
respaldadas na Resolução do Conselho Nacional de Educação/
Câmara de Educação Superior (CNE/CES) Nº 3, de 07 de novembro de 2001, que institui as Diretrizes Curriculares dos cursos
de graduação em Enfermagem. No artigo 14 da referida peça
legal, é explicitado que a estrutura dos cursos de graduação em
Enfermagem deverá assegurar a implementação de uma metodologia no modus operandi de ensinar e aprender que estimule
o aluno a refletir sobre a realidade social e aprenda a aprender5.
O ensino de Enfermagem é norteado, ainda, pelo Projeto
Político Pedagógico do curso, o qual se estabelece como referencial para a aprendizagem, sinalizando o estabelecimento
de competências e habilidades para a integralidade do cuidado em saúde com vistas à articulação das dimensões curativa
e preventiva, individual e coletiva. Dessa forma, cabe à escola
definir o perfil do profissional que tenciona formar, tendo como
base as competências do enfermeiro determinadas pelas diretrizes curriculares buscando a articulação entre ensino, pesquisa e extensão.
As diretrizes curriculares oferecem aos cursos motivações
para desenvolver estratégias que estimulem as discussões coletivas para colaborar com a feitura de projetos políticos pedagógicos que aproximem a formação do enfermeiro das necessidades locais de saúde, respeitando a vocação e a identidade
institucional. Procedendo dessa forma, favorecem a consolidação do SUS, no modelo de atenção à saúde que se fundamenta
em um conceito ampliado da saúde e justiça social. O SUS, como
política de saúde, está inserido nas DCN dos cursos de saúde,
expondo de forma geral a ideia de que todo profissional da área
da saúde deve ter em sua formação competências gerais que
incluem a comunicação, liderança, atendimento à saúde, aplicação de princípios éticos e de aprender a aprender, além do rol
de competências específicas (10).
Entre as competências do enfermeiro, as DCN também
ressaltam capacidades relacionadas à gestão e à gerência,
tais como: estabelecer novas relações com o contexto social;
compreender a política de saúde no contexto das políticas sociais, reconhecendo os perfis epidemiológicos das populações;
identificar as necessidades individuais e coletivas de saúde da
população, seus condicionantes e determinantes; responder às
especificidades regionais de saúde mediante intervenções planejadas estrategicamente; ser capaz de diagnosticar e solucio-
A Percepção de Docentes de Enfermagem à
respeito de sua capacitação para o ensino
nar problemas de saúde, de comunicar-se, de tomar decisões,
de intervir no processo de trabalho, de trabalhar em equipe e
de enfrentar situações em constante mudança5.
Sobre terem experiência na docência, anterior ao acompanhamento do estágio supervisionado, 09 (92%) relataram
que já haviam sido docente em outras disciplinas e em outras
instituições de ensino, dos quais 03 (27%) em cursos técnicos.
Enquanto 02 (18%) relataram ser esta a primeira experiência
como docente.
Os profissionais de Enfermagem, nas últimas décadas, refletem e voltam sua atenção para o trabalho que exercem, realizando pesquisas para corrigir deficiências teóricas e práticas
e procurado novos referenciais que subsidiem seu trabalho. O
ensino de graduação em Enfermagem representa um locus privilegiado para a correção dessas deficiências, tendo em vista a
consolidação do SUS e a necessidade da formação de profissionais com certas competências política, ética, técnica e científica, capazes de atender às expectativas dos serviços de saúde,
em termos de força de trabalho, na perspectiva de valorização
das necessidades sociais da saúde (9).
Com efeito, o redirecionamento na formação dos profissionais de Enfermagem deve estar voltado para as transformações
sociais. Consequentemente, as propostas pedagógicas devem
estar de acordo com essas transformações. A expectativa é de
que a formação esteja integrada à realidade vivida pelos alunos
e que seja capaz de incorporar os aspectos inerentes à sociedade globalizada do século XXI (9).
Caminhos para a Prática do Docente: tecendo a construção
de competências
Segundo a fala dos entrevistados percebeu-se que algumas
instituições de ensino proporcionam espaço de compartilhamento entre eles, que permitem realização da autoavaliação
quanto ao processo pedagógico realizado. São discutidas a
eficiência de práticas pedagógicas na apreensão do ensino-aprendizagem, as dinâmicas utilizadas em campo de estágio
que atraem mais a atenção do aluno, e que conseguem desenvolver o potencial de cada um no estágio.
Nós temos encontros pedagógicos duas vezes por semestre[...] reunião com a coordenação[...] a gente também tem
encontro científico, que é um encontro de práticas docentes,
onde a gente vai expor nossa prática, que a gente viu que é
importante, o que tem que melhorar[...] a gente vai trocar
informações no intuito de melhorar o andamento do processo
ensino/aprendizagem da universidade. (E4)
A própria faculdade abre espaço pra gente compartilhar
isso, principalmente entre os professores do supervisionado, e
reuniões com as outras áreas da faculdade. (E10)
A gente tem as reuniões da disciplina, e tem as reuniões do
próprio curso. Em cada reunião a gente faz uma discussão de
como estão sendo as avaliações. E aí nesse momento, eu faço
uma autocrítica, vejo se realmente tá sendo eficaz, se tá sendo
compatível com o que deveria ser apresentado para os alunos e
se houver necessidade, a gente muda. (E11)
RETEP - Rev. Tendên. da Enferm. Profis.,
2014; 6(1): 1158-1164
1161
No entanto, alguns docentes relataram que não há a oportunidade em suas instituições de crescimento pedagógico,
que não há a preocupação com a atualização do docente com
novos métodos e estratégias de ensino-aprendizagem para
conhecimento e aplicação em campo de estágio. As reuniões
periódicas, mensais e semestrais estão mais voltadas para o
desempenho do aluno, se este tem aptidão para esta ou aquela
área; como eles estão em termos de teoria e em que eles podem
melhorar.
Eu acho que ainda é insuficiente, acho que a dificuldade é
estrutural, dessa estrutura da academia, da universidade. (E7)
Eu sinto falta disso de alguma coisa para aumentar, ampliar os nossos conhecimentos sobre essa parte da docência,
de alguma metodologia nova para poder compartilhar entre os
colegas. (E1)
A faculdade cobra que os professores se qualifiquem. Pelo
menos uma ou duas vezes ao ano o professor é liberado para a
realização de cursos. (E6)
Para os docentes do Estágio Supervisionado Curricular,
tendo em vista ser uma atividade acadêmica bastante rica para
a formação profissional, é o momento em que o aluno entra
em contato direto com a realidade de saúde da população e do
mundo do trabalho, possibilitando o desenvolvimento pessoal
e profissional, e a consolidação de conhecimentos adquiridos
no transcorrer do curso, mediante a relação teoria-prática. É
também uma oportunidade de crescimento e atualização para
o docente, porque este tem que buscar o conhecimento para
compartilhar com os alunos.
No estágio Supervisionado os alunos vivenciam as questões
práticas, onde eles se inserem no cotidiano do hospital. Se inserem realmente no processo de trabalho do enfermeiro. (E10)
Há sempre uma troca positiva de transmissão de conhecimento, de resgate desse conhecimento. Eu tento resgatar dos
alunos o que eles aprenderam em salas de aula e aplicar no
campo de estágio. (E6)
Não é porque você terminou, que você já trabalha, que você
está com iniciantes, que você não aprende não. Eu aprendo
muito até. Da parte negativa é de onde eu tiro mais aprendizado. E é muito bom pra mim. (E8)
A formação continuada é essencial quando se pensa no
ensino superior de qualidade. Nesse sentido, a formação do
enfermeiro docente deve ser baseada em conhecimentos sistematizados que contemplem aspectos específicos da área, pedagógicos e político-sociais, os quais, indiscutivelmente, devem
ser oferecidos pelas instituições nas quais os professores trabalham. Somente dessa forma o professor pode redimensionar
sua prática pedagógica (3).
Tornar-se docente requer competências não inatas e, portanto, precisam ser constituídas. Essa elaboração deve estar
fundamentada na reflexão crítica sobre a prática profissional
bem como sobre o contexto histórico, social, político e cultural em que essa prática se processa. Tradicionalmente, o saber
pedagógico não é pré-requisito para o ingresso na docência
1162
superior, e, em consequência, os docentes bacharéis, na grande maioria, exercem as atividades próprias da docência mesmo sem nenhuma preparação para essa nova função. Assim,
a ideia de que “quem sabe fazer sabe ensinar” predomina na
contratação dos docentes de nível superior, especialmente na
Enfermagem (3).
A capacitação dos profissionais liberais para o exercício do
magistério do terceiro grau é uma necessidade urgente e é real,
não se tratando de uma tarefa simples, em razão da ausência
da tradição de cursos destinados à preparação desses docentes,
do temor da perda de status e da acomodação ou não reconhecimento da importância da formação pedagógica. No ensino em
saúde, geralmente, a complexidade que envolve a docência é
considerada secundária, deixando-se de reconhecer a triangulação entre ensino, aprendizagem e assistência (3).
Como formador de recursos humanos, o docente deve preocupar-se mais com o como, em vez do que ensinar, sem esquecer naturalmente dos objetivos educacionais, ou seja, do por
que ensinar. Não se pretende minimizar a importância do conteúdo programático em função da didática ou dos métodos de
ensino utilizados. Entende-se é que o modo de transmitir pode
despertar ou elevar o grau de interesse e participação do aluno
em relação ao que se propõe (1).
A competência pedagógica não pode ser compreendida
apenas como simples estratégia didática. O docente deve estar
preparado para compreender o seu papel e do seu aluno, como
de agentes de transformação da sociedade. Para tanto deve
principalmente, compreender a situação geral do aluno, para
que os objetivos educacionais sejam estabelecidos adequadamente. Assim, o docente tem o desafio de superar a sua participação passiva no processo de ensino, como mero repetidor de
aulas, refletindo sobre a dimensão do porquê de ensinar, o que
ensinar, e para quem ensinar (11).
A postura dos educadores de um modo geral, no seu fazer
pedagógico, requer uma autoavaliação no que se refere à ação
em termos de sua propriedade e adequação aos fins educacionais, no sentido de assumir a mediação do conhecimento de
modo a ser partilhado na relação que estabelece com o aluno, e
não centrado na figura do docente (1).
Algumas tentativas de inovação nas estratégias de ensino
decorrem mais pela visão e compromisso do próprio docente ou
de um grupo deles que defende um ensino crítico e libertador,
do que pela estrutura, pela política educacional ou fundamentação filosófica acerca do perfil profissional que a instituição
pretende formar (1).
Um fator primordial para que o enfermeiro docente seja
competente no exercício da docência universitária é que ele
identifique e supere os obstáculos didáticos, entendendo-se
estes como tudo o que interfere negativamente no ensino-aprendizagem, não estando eles limitados ao espaço físico da
sala de aula. Nesse sentido, a discussão não somente da prática
pedagógica que se tem, mas da prática pedagógica que se quer,
objetivando encontrar possibilidades concretas de superar tais
obstáculos (3).
O desafio que expressa para a renovação das práticas educativas no âmbito da formação de enfermeiros, ante as necessidades sociais da saúde, é considerar o aspecto técnico necessário
à viabilização do trabalho específico da Enfermagem, sem abrir
mão das dimensões teóricas e políticas, como componentes capazes de dar suporte a uma intervenção na prática profissional.
Sendo assim, para o desenvolvimento de um ensino reflexivo, faz-se necessário que os enfermeiros docentes tenham
domínio de suas atividades. Para tanto, é essencial que tenham
uma mentalidade aberta para a intermediação dos problemas
que surgem no dia a dia de seu trabalho. Por outro lado, precisarão ter a responsabilidade intelectual, pois esta assegura
a integridade e o entusiasmo responsáveis pela capacidade de
renovação (10).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O papel do docente enfermeiro precisa ser repensado com
base em três competências para a docência: ser competente em
uma determinada área de conhecimento, ter domínio na área
pedagógica e exercer a dimensão política. A primeira delas se
refere ao domínio dos conhecimentos básicos da área e à experiência profissional do campo, a segunda envolve o domínio
do conceito de ensino/aprendizagem, integrando o desenvolvimento cognitivo, o afetivo-emocional e as habilidades, bem
como a formação de atitudes, abrindo espaços para interação
e a interdisciplinaridade. E a terceira competência abrange a
discussão dos aspectos políticos e éticos da profissão e do seu
exercício na sociedade, de forma que os professores possam se
posicionar como cidadãos, políticos e profissionais comprometidos com a comunidade e o sistema de saúde, atendendo as
necessidades impostas pela Reforma Sanitária.
O docente de Enfermagem necessita refletir sobre aspectos
que visem a desenvolver o pensamento crítico dos alunos, com
o propósito de também
promover a liderança em Enfermagem. A dinâmica de perguntar, raciocinar, questionar os postulados prontos, contribui
no desenvolvimento da forma de pensar. Há de se incluir meios
de desenvolver o pensamento crítico como parte integral na
formação do enfermeiro, para que possa repercutir diretamente na sua liderança.
Desta forma, entende-se que o docente precisa buscar novas estratégias de ensino, que extrapolem o simples repassar
de conhecimento, despertando uma consciência crítica no
aluno, que possivelmente ajudará a alicerçar uma nova Enfermagem. Para tanto, acredita-se que a formação do profissional
deve privilegiar situações de aprendizagem, concedendo atitudes criativas, críticas e transformadoras.
Propõe-se que a metodologia seja centrada na relação docente-aluno, em que cada um é considerado com suas bagagens
e potencialidades e esteja envolvido em todo o processo, para
que a aprendizagem ocorra sob um clima autêntico, permeável
a trocas e propício ao desenvolvimento da capacidade de análise e crítica acerca do contexto sociopolítico no qual a saúde
está inserida.
A Percepção de Docentes de Enfermagem à
respeito de sua capacitação para o ensino
A atualização pedagógica dos docentes deve ser proporcionada pela instituição de ensino, devendo ser periódica, pois
ficou evidente que um dos fatores que dificultam a capacitação desses docentes está centrado na própria estrutura organizacional da instituição, que distancia a teoria da prática. A
capacitação deve ser feita em cursos de aperfeiçoamento, seminários, leitura de periódicos especializados, entre outros, e
fundamentalmente, pelo debate entre os docentes, pela crítica
recíproca e pela mudança de pontos de vista sobre os problemas comuns da prática de ensino.
As instituições de ensino superior precisam ter uma preocupação especial na preparação e desenvolvimento do Estágio
Curricular Supervisionado, seguindo as Diretrizes Curriculares
Nacionais para os cursos de graduação em Enfermagem, que
traçam o perfil do futuro enfermeiro com suas habilidades e
competências. O ECS pode trazer importante contribuição, para
o desenvolvimento pessoal e profissional, bem como a consolidação dos conhecimentos adquiridos no transcorrer do curso,
mediante a relação teoria-prática.
As instituições de ensino devem estar estruturadas de forma a promover, subsidiar e facilitar a participação dos docentes
em cursos de atualização, aperfeiçoamento e de pós-graduação. Devem ainda promover o intercâmbio dos docentes pela
participação em congressos, reuniões científicas, palestras
e encontros; acesso a documentos científicos nacionais e estrangeiros e aos acervos de bibliotecas, além de incentivarem
a realização de pesquisas científicas que contribuam para o
desenvolvimento da sociedade e do conhecimento humano.Na
última década, foram realizadas seis CIE, até 2011 e em 2012,
está prevista a 7ª. da década. Contudo, como constatamos no
período anterior, estamos na 25ª. edição do evento, embora
esteja constando a 24ª. edição.
Nos anos de 2003 a 2005 não existiram convenções interioranas. Em 2003, foi realizado um evento em Fortaleza, junto a
docentes e discentes dos Cursos de Graduação em Enfermagem
a fim de trabalhar a temática da semana A Formação do Enfermeiro na Sociedade Contemporânea.
Em 2004, por ocasião da SBEn, ocorreu, em Fortaleza, o 1º
Congresso Cearense de Enfermagem e a 1ª. Mostra de Enfermagem Talento e Arte, na gestão de Samya Coutinho de Oliveira.
Em 2005, o 2º Congresso Cearense de Enfermagem e a 2ª. Mostra de Enfermagem Talento e Arte aconteceu em Quixadá, mas
mesmo acontecendo no interior, o evento não foi denominado Convenção Interiorana de Enfermagem. Somente em 2006,
houve um resgate desta nomenclatura, sendo usado na cidade
do Crato, onde se discutiu o tema Aben: uma Trajetória de 80
Anos e os Desafios Contemporâneos.
No período de 2007 a 2011, o tema cuidado humano esteve
em evidência, por ser este a base do trabalho da enfermagem,
sendo necessário o enfoque neste assunto.
A enfermagem é uma ciência cuja finalidade baseia-se no
cuidado do ser humano, na família, comunidade em seus aspectos físicos, biológicos, psicológicos e sociais oferecendo e
dando condição para que o indivíduo tenha saúde. O cuidado
RETEP - Rev. Tendên. da Enferm. Profis.,
2014; 6(1): 1158-1164
1163
de enfermagem deve ter como principio, a especificidade de
proteção do indivíduo como ser único com necessidades e particularidades, e que devem ser inseridas em atividades que promova a proteção e promoção da saúde.
Em várias edições da CIE abordou-se a temática do cuidado
como tema central, para que possamos compreender o significado deste tema para a profissão faz necessário refletir, aprofundar-se no contexto geral deste assunto. O cuidado é uma
maneira de existir, de se relacionar, e de se expressar que deve
ser permeada de valores morais, porém apesar dos esforços em
entender a gênese do cuidar só foram conseguidas aproximações como o que se acredita serem hábitos e comportamentos
de cuidar. O cuidar inicia-se a principio, como modo de sobrevivência e como uma expressão de interesse e carinho (10).
O sentido da existência da Enfermagem é o cuidado do ser
humano em situação de doença, e é nesse cuidado que a enfermagem se projeta e se mantém como profissão, caracterizando-se com uma ação verdadeira e independente executada
pelo enfermeiro, sendo que por meio dela podemos demonstrar
conhecimento, habilidade e atitudes, sendo todos esses aspectos geridos pela ética. Podemos perceber que o ato de cuidar
transcende a exceção de práticas, revelando-se uma atitude de
entrega, preocupação, responsabilização e de conhecimento
do ser em sua essencialidade humana, e não seve ser entendida
como uma relação sujeito objeto, proporcionando a compreensão do homem em sua totalidade não o tratando como ser fragmentado, é necessário conhecer aquele a quem ser que prestar
cuidado e faze-lo protagonista de sua relação com a doença,
deve-se ser preservada sua automia sendo ouvido quanto a forma que gostaria de ser cuidado(11).
Diante do exposto compreende-se a contribuição efetiva
da convenção interiorana de enfermagem ao refletir sobre a
temática do cuidado abordando-o em suas diferentes dimensões, contribuindo para o desenvolvimento de uma postura
profissional crítica a cerca do modo como o cuidado vem sendo
praticado dentro do contexto social e profissional. Ao refletirmos sobre o tema da 19ª convenção interiorana de enfermagem
definido como: ENFERMAGEM: Dimensão do cuidar que ocorreu
no ano de 2007, em ocasião da 68ª semana brasileira de enfermagem, percebemos a importância de haver um entendimento
sobre o significado do cuidar em enfermagem, visto que o cuidado antecede a profissão, e que por muitos anos foi realizado
empiricamente, por caridade ou mesmo por pessoas de índole
duvidosa, até o surgimento da enfermagem moderna, quando
impulsionada pelo modelo biomédico a enfermagem deu seus
primeiros passos para cientificidade, durante esse processo de
transição por vezes a profissão perdeu parte de sua característica principal que é o cuidar, voltando-se para a prática de
procedimentos, com isso percebesse a necessidade de refletir
tais questões na busca de entender e construir uma identidade
profissional.
A enfermagem como profissão deve evoluir na qualidade do
cuidar, respeitando o outro em sua dimensão física, psicológica
e social. Converge que se faz necessário olhar para o paciente
como ser único e complexo e para tanto deve inserir como parte de suas investigações as necessidades do paciente em todos
seus aspectos contribuindo para qualidade de atendimento e
significação da profissão na saúde(12).
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Recebido em: 11.01.2014
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ALEITAMENTO MATERNO: BENEFÍCIOS E DIFICULDADES
ENFRENTADOS PELAS MÃES
BREASTFEEDING: BENEFITS AND DIFFICULTIES FACED BY MOTHERS
Artigo Original
Adriana Maria Carvalho Pimentel1
Daysekelly dos Anjos Moura Ribeiro1
Regina Cláudia Melo Dodt2
Ana Márcia Bustamante de Morais3
Lúcia Virginia Reis Aragão4
Edna Maria Camelo Chaves5
RESUMO
O aleitamento materno exclusivo traz benefícios para a saúde da criança e da mãe. O objetivo foi conhecer os benefícios e
as dificuldades enfrentadas pelas mães em relação ao aleitamento materno. Trata-se de um estudo quantitativo, realizado
com 122 nutrizes de um núcleo de aleitamento materno, no
período de março a setembro de 2011. Os dados foram coletados por meio de um formulário e apresentados em tabelas. A
maioria das nutrizes tinha entre 20-30 anos 73(59,8%), sendo
que 61(50%) possuem ensino fundamental. O fortalecimento
do vínculo foi citado por 115 (94,2%) como beneficio, enquanto a dor 25(20,4%) foi citada como dificuldade. Conclui-se que
as orientações devem ser continuas, e feitas por profissionais
que transmitam para a nutriz a importância deste ato de amor
para o seu filho.
Palavras-chave: Aleitamento Materno; Enfermagem; Recém-nascido.
ABSTRACT
Exclusive breastfeeding is beneficial to the health of the child
and the mother. The objective was to understand the benefits
and the difficulties faced by mothers in relation to breastfeeding.
This is a quantitative study with 122 nursing mothers from a core
of breastfeeding, from March to September 2011. Data were
collected through a form and presented in tables. Most women
were between 20-30 years 73 (59.8%), of which 61 (50%) had
primary education. The strengthening of the bond has been
1
2
3
4
5
cited by 115 (94.2%) as a benefit, as the pain 25 (20.4%) was
cited as a difficulty. It is concluded that the guidelines should be
continuous, and by professionals for nursing mothers to transmit
the importance of this act of love for your child.
Keywords: Breastfeeding; Nursing; Newborn.
INTRODUÇÃO
A amamentação exclusiva tem sido foco de diversas campanhas na saúde. Estas têm por finalidade sensibilizar as mães
de que o aleitamento materno exclusivo é de fundamental importância para a saúde da criança e da própria mãe. Assim1,
a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Fundo das Nações
Unidas para a Infância (UNICEF) e o Ministério da Saúde (MS),
preconizam o aleitamento materno exclusivo (AME) até os seis
meses de idade e, depois dessa idade, que os lactentes recebam
alimentos complementares, mas continuem com o leite materno até os dois anos.
Apesar das campanhas realizadas, dos incentivos e apelos
feitos à população, percebe-se que ainda existem dificuldades
no entendimento e aceitação do leite humano como única fonte de alimento para os bebês, ou seja, o aleitamento materno
exclusivo (AME). Embora já existam indícios de melhoria desse quadro e certo grau de conhecimento teórico por parte das
mães, na prática elas ainda acreditam que se faz necessário
alimentar o bebê com outros tipos de alimentos e/ou fórmulas,
pois acreditam que o bebê não ganha peso suficiente ou não
ficam “fortes” ou “resistentes” às doenças.
Enfermeira graduada pela Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza. E-mail: [email protected]
Enfermeira Doutora pelo Programa de Pós Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará (UFC). Assistencial da UTIN do HIAS e do Alojamento Conjunto da MEAC. Professor Adjunto da FAMETRO.
Enfermeira. Enfermeira do Núcleo de Aleitamento do Hospital Geral de Fortaleza. Mestranda em Saúde Coletiva pela UFC.
Enfermeira. Enfermeira do núcleo de Aleitamento do Hospital Geral de Fortaleza.
Enfermeira. Doutora em Farmacologia pela UFC. Docente da Universidade Estadual do Ceará.
Aleitamento Materno: benefícios e
dificuldades enfrentados pelas Mães
RETEP - Rev. Tendên. da Enferm. Profis.,
2014; 6(1): 1165-1169
1165
São vários os fatores que podem impedir uma mãe de amamentar seu filho, dentre eles destacam-se: a baixa autoestima
que é sentida por ela ao dar à luz, a cultura, o conhecimento
deficiente, são causas relevantes, assim como os problemas de
saúde que contra indicam amamentação e a crença das mães em
que seu leite é fraco e insuficiente para nutrir o recém-nascido.
Essas são algumas percepções equivocadas que fazem com que
as mães introduzam chás, água, sucos e até leite em pó na alimentação da criança antes que a mesma complete o primeiro
mês de vida (2).
A deficiência ou ausência de conhecimento da população
em geral, as condutas inapropriadas, a falta de habilidade dos
profissionais de saúde; a carência de suporte da família são os
principais obstáculos à amamentação exclusiva. Existem ainda,
informações pertinentes como a maneira correta de colocar a
criança no seio, evitando o desconforto causado pela sucção
nos primeiros dias de vida do bebê, o que deixa as mães com o
mamilo ferido sentindo dor ao amamentar. Aqui as mães tentam minimizar o sofrimento delas oferecendo outros tipos de
alimentos ao bebê para prolongar os intervalos entre uma mamada e outra e assim aliviar as dores, tal problema causa desestímulo e dificulta o aleitamento materno exclusivo (1-2).
Percebe-se que para o AME necessita de grande esforço no
sentido de melhorar a adesão, trazendo ao conhecimento das
mães a importância que ele exerce na saúde do recém-nascido e
que necessariamente elas precisam colocar tais conhecimentos
em prática. Faz-se necessário não só o desenvolvimento contínuo de campanhas que estimulem, mas que elevem a autoestima das mães e que desenvolvam vontade de amamentar e
confiança para manter o aleitamento quando desejado.
O interesse pela pesquisa despontou de estudos realizados durante o processo de formação e ao observar que mesmo
diante de inúmeras campanhas desenvolvidas pelo governo e
administração pública, observam-se índices de 35% das crianças do mundo são amamentadas exclusivamente ao seio pelos
primeiros quatro meses de vida (3).
As dificuldades enfrentadas pelas mães em superar os
obstáculos durante a amamentação têm ocasionado problemas como desmame precoce e introdução de diferentes alimentos na rotina dos bebês. Algumas delas acreditam que a
criança precisa de outros alimentos para se nutrir, engordar,
pois, associam a ideia de gordura com saúde. Assim introduzem alimentos considerados “por elas” mais fortes e que vão
proporcionar à criança períodos mais longos de saciedade. As
informações equivocadas, pautada, sobretudo em aspectos culturais dessas mães em proporcionar alimentação saudável para
seus filhos, contribuem para o leite materno exclusivo ficar em
segundo plano.
A duração mediana do Aleitamento Materno Exclusivo
(AME) foi de 54,1 dias (1,8 meses) e a duração mediana do Aleitamento Materno (AM) de 341,6 dias (11,2 meses) no conjunto
das capitais brasileiras e Distrito Federal, sendo que o que se
preconiza são 180 dias1. Diante de tais ressalvas acredita-se
1166
que seja importante e necessário ocupar os espaços possíveis
para falar das vantagens do aleitamento materno.
Os Bancos de Leite Humano (BLH) e os Postos de Coleta de
Leite Humano (PCLH) são setores envolvidos com a assistência,
a doação de leite humano e o processamento do leite humano4.
Estes serviços prestam atendimento especializado de acompanhamento de mãe e bebê, com a finalidade de ajudar a mãe a
relatar e conseguir amamentar seu filho com êxito.
O trabalho realizado terá ainda importância e utilidade social e permitirá que muitas mães possam aderir a esse programa, gerando, assim, mais campanhas no intuito de ensiná-las
a como amamentar corretamente e a confiar no leite materno
como fonte exclusiva de alimento para o bebê.
O objetivo do estudo foi conhecer os benefícios e as dificuldades enfrentadas pelas mães em relação ao aleitamento materno.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo, com abordagem quantitativa. A pesquisa foi desenvolvida com nutrizes de um núcleo
de aleitamento materno de um hospital do Sistema Único de
Saúde de alta complexidade, localizado na cidade de FortalezaCe. O referido hospital, além do atendimento de emergência
nas áreas de cirurgia geral e vascular, clínica médica, obstetrícia e neurologia, possuem 63 especialidades e subespecialidades médicas e outros serviços de saúde. No momento atual, a
instituição passou de núcleo de aleitamento a Banco de Leite
Humano.
A instituição atende entre 8 a 13 mães em aleitamento
materno por dia, com média de 210 atendimentos mensais. A
população, portanto foram mães, assistidas no Núcleo de Aleitamento Materno. A amostra foi composta por 122 mulheres.
Foram incluídas as mães que se encontravam com seus filhos
cadastrados e acompanhados por profissionais no Núcleo de
Aleitamento Materno. Foram excluídas aquelas com doenças
que contra indicavam a amamentação.
Foi utilizado como instrumento de coleta de dados um
formulário com perguntas abertas e fechadas. Formulário é o
nome geralmente usado para designar uma coleção de questões que são perguntadas e anotadas por um entrevistador,
numa situação face a face com o entrevistado, conseguindo-se
de tal modo, respostas precisas para preenchimento do mesmo5. Os dados foram coletados de março a setembro de 2011
pelas pesquisadoras.
As nutrizes foram abordadas na sala destinada as orientações em grupo após a consulta de enfermagem. As variáveis
do estudo foram idade materna, escolaridade e tempo de amamentação exclusiva. A primeira parte do instrumento constou
de dados de identificação e a segunda versa sobre amamentação.
Os dados foram tratados pela estatística percentual e absoluta, apresentados em tabelas e discutidos conforme literatura
pertinente ao tema.
A pesquisa obedeceu às normas contidas na Resolução nº
196/96 do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde
que discorre sobre a pesquisa envolvendo seres humanos,após
aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Geral
de Fortaleza com número de protocolo 091202/10. As participantes da pesquisa foram esclarecidas e assinaram um Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), sendo informada
acerca da garantia do sigilo que assegurava a confidencialidade
dos dados envolvidos na pesquisa.
RESULTADOS
Durante o pré-natal, sobretudo nas primeiras semanas de
vida do bebê, percebe-se que é de fundamental importância
o papel do enfermeiro na educação em saúde sobre o aleitamento materno, principalmente como integrante da equipe
de saúde da família na atenção básica, enfatizando a importância do ato de amamentar. Cabe salientar a relevância da
realização da visita domiciliar à puérpera na primeira semana
de vida do recém-nascido.
Tabela 1 – Descrição das variáveis demográficas e obstétricas
da amostra. Fortaleza-CE, 2011.
Variável
n
%
Média/Desvio
padrão
Idade (anos)
13 -19
29
23,8
Me± 24,5
20 -30
73
59,8
DP± 6,3
Acima de 31 anos
20
16,4
Escolaridade
Alfabetizada
7
5,7
Ensino Fundamental
27
22,1
Ensino Médio
61
50,0
Ensino superior
24
19,7
Outros
3
2,4
1a3
6
4,9
Me± 3,0
4a6
5
41,0
DP± 1,0
Mais de 7
66
54,1
Número de filhos
64
52,5
Dois
34
27,9
Mais de três filhos
24
19,6
A Tabela 1 mostra a descrição das variáveis da amostra,
dentre o grupo constituído por 122 mães, pôde-se verificar que
a maior parte delas tinha entre 20 e 30 anos de idade (59,8%),
eram casadas (58,2%), escolaridade até o ensino médio (78%),
com mais de 7 consultas realizadas no período pré-natal
(54,1%), com um ou dois filhos (81%).
Aleitamento Materno: benefícios e
dificuldades enfrentados pelas Mães
Aleitamento Materno (AM)
N
%
Sim
78
63,9
Não
44
36,1
Hospital
65
53,7
UBS
56
46,3
Não realizou
1
0,8
1a3
42
34,4
4a6
43
35,2
Em AME
36
29,6
Acima de 7
1
0,8
Orientação no pré-natal (AM)
Local de realizaçãodo pré-natal
Aleitamento Materno Exclusivo
A Tabela 2 mostra que 63,9% das mães receberam orientação no pré-natal quanto à amamentação, enquanto36,1% não
foram orientadas.Realizaram o pré-natal no hospital (53,7%)
e as outras(46,3%) fizeram nas unidades básicas de saúde.Em
relação ao aleitamento materno exclusivo entre 1 a 3 (34,4%)e
4 a 6 meses de vida (35,2%).
Tabela 3 – Benefícios e dificuldades acerca do Aleitamento Materno. Fortaleza/CE, 2011.
Aleitamento materno
N
%
Fortalece o vínculo com o filho
115
94,2
Reduz o sangramento
60
49,1
Reduz CA de mama e ovários
54
44,2
Ajuda na perda de peso
45
36,8
Retardo ao retorno da fertilidade
40
32,7
Reduz osteoporose
26
21,3
Alimento ideal
120
98,3
Contém todos nos nutrientes
109
89,3
Menor risco de alergias
81
66,3
Está sempre na temperatura ideal
65
53,2
Menos risco de ter doença crônica
51
41,8
Reduz morte súbita
48
39,3
Modifica-se com a idade
33
27,0
Sem Dificuldades
58
47,5
Dor
36
29,5
Ferimento no mamilo
25
20,4
Posição e pega errada
14
11,4
Ingurgitamento
9
7,3
Benefícios do AM para a mãe
Benefícios do AM para o recém-nascido
Número de Consultas
Um
Tabela 2 – Descrição das informações sobre aleitamento materno.Fortaleza-CE, 2011.
Dificuldades no AM
RETEP - Rev. Tendên. da Enferm. Profis.,
2014; 6(1): 1165-1169
1167
Falta de apoio da família
Falta de apoio do companheiro
*obteve-se mais de uma resposta
8
6,5
6
4,9
A Tabela 3 evidencia os benefícios do aleitamento materno para as mães com as seguintes variáveis: fortalece o vínculo com o filho (94,2%), redução do sangramento pós-parto
(49.1%), reduz câncer de mama e ovários (44,2%), perda de
peso (36,8%), retardo ao retorno da fertilidade (32,7%), redução da osteoporose (21,3%). Os benefícios para os recém-nascidos: É o alimento ideal (98,3%), contém todos os nutrientes
(89,3%), diminui os riscos de alergias (66,3%), está sempre na
temperatura ideal (53,2%), diminui os riscos de doenças crônicas (41,8%), reduz a morte súbita (39,3%), modifica-se com
a idade (27%). Nas dificuldades relatadas pelas mães durante
o aleitamento materno observamos: dor durante a mamada
(29,5%), ferimentos no mamilo (20,4%), posição e pega incorreta (11,4%), ingurgitamento na mama (7,3%), falta de apoio
da família e companheiro(11,4%), dentre estas (47,5%) das
mães não referiram nenhuma dificuldade.
DISCUSSÃO
Amamentação exclusiva traz benefícios para o binômio
mãe-filho, pois sabe-se que este é o alimento ideal para o bebê
nos primeiros meses de vida. O aleitamento materno contribui
para o ganho ponderal do bebê, melhora as defesas orgânicas,
promove o fortalecimento do vínculo afetivo.
As nutrizes participantes do estudo têm seus filhos acompanhados pela equipe multiprofissional de um núcleo de aleitamento materno em um hospital Amigo da Criança. Percebeu-se
a preocupação destas mulheres em oferecer o seu leite para o
filho. Contrapondo nosso achado, em relação à idade, estudiosos6em sua pesquisa observaram que a maior adesão ao aleitamento materno, está entre as mulheres que são mais velhas,
instruídas e casadas.
De acordo com as informações fornecidas pelas próprias
nutrizes, a maioria recebeu orientação sobre amamentação
durante o período pré-natal, pois realizou o pré-natal na instituição onde se realizou a pesquisa. Vale ressaltar, que nesta
instituição os enfermeiros, acadêmicos de enfermagem e técnicos de enfermagem promovem sessões educativas durante o
pré-natal sobre o AM. Estudos comprovam que o fato das mães
receberem orientações nas consultas de pré-natal e pós-parto, determina que as mesmas amamentem por mais tempo seus
bebês (7).
Ressalta-se que, as mães que realizaram pré-natal nas unidades básicas de saúde relataram não terem sido orientadas
quanto ao aleitamento materno, esse dado é um alerta para
que os profissionais de saúde possam fazer sessões de educação
em saúde, instruindo as mães quanto à importância da amamentação, esclarecendo dúvidas, criando grupos de gestantes
que permitam uma interação entre elas na partilha de suas experiências.
1168
Nas unidades básicas de saúde de nove municípios do Rio de
Janeiro comprovam que apresentavam desempenho regular e
fraco quanto às orientações acerca do AM sendo que 47,9% das
mães forneciam chás, água, sucos e outros alimentos ainda no
primeiro mês de vida de seus bebês8.
As evidências científicas enfatizam a amamentação exclusiva por seis meses e o aleitamento materno acrescido de complementos alimentares até os dois anos7. Verifica-se a necessidade
de capacitar os profissionais de saúde acerca dos cuidados com
o recém-nascido nos primeiros dias de vida, na sensibilização
das mães em aderirem ao aleitamento materno exclusivo. Há
necessidade de se aprender sobre a amamentação para que se
possa mantê-la por no mínimo seis meses9.
A pesquisa realizada permitiu uma melhor compreensão
para as mães quanto aos benefícios do aleitamento, o prazer
que as mesmas relatam sentir no ato de amamentar, o poder
proporcionar uma alimentação saudável ao seu bebê, proteção contra possíveis doenças, a economia financeira, tendo
sempre ali o alimento na temperatura ideal sem o custo dos
alimentos complementares, tendo em vista os benefícios
para sua própria saúde tais como proteção contra o câncer de
mama, perda de peso rápida, o fortalecimento do vínculo mãe
e filho. Percebe-se que o aleitamento materno vai além da
questão biológica, é histórico, social e psicológico (10).
Há vários benefícios para a nutriz, dentre os quais se encontram: retorno mais rápido ao peso anterior a gestação, menor
risco de desenvolver câncer endotelial, de ovários e de mama,
osteoporose, artrite reumatóide, menor probabilidade de desenvolver esclerose múltipla, e estabilizar a endometriose (11).
Em relação às dificuldades a queixa mais frequente foi o
ferimento no mamilo e dor, que está relacionada com a pega
incorreta durante a mamada, esses achados nos permitem intervir orientando quanto aos procedimentos que podem amenizar os sintomas proporcionando bem estar e continuidade na
amamentação. A dor, fissuras e ingurgitamento por pega incorreta têm sido apontados em outros estudos por nutrizes12.
Baptista, et al13, descrevem que metade das mães pesquisadas
necessitaram de apoio emocional dos pais e/ou avós, quanto
com a ajuda de familiares nas tarefas domésticas após o nascimento da criança, e obtiveram sucesso.
Diante da importância do aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida, a Organização Mundial de Saúde
(OMS), o Ministério da Saúde (MS), a Academia Americana
de Pediatria (AAP) e a Sociedade Brasileira de Pediatria
(SBP) com bases em evidências científicas, recomendam políticas e ações multidisciplinares para a promoção do aleitamento materno (14,15) .
Para melhoria dos índices de amamentação, faz-se necessário um trabalho educativo intenso, que deve ter inicio no
pré-natal com sessões de educação em saúde nos espaços hospitalares, quanto nas unidades básicas de saúde. Após o parto, se mãe e bebê estiverem em condições se devem seguir as
orientações quanto ao quarto passo do aleitamento materno.
No alojamento conjunto e nas consultas de puericultura a nutriz deve ser estimulada para dar continuidade à amamentação.
Diariamente, sessões educativas são organizadas para as
mães e as acompanhantes, que comparecem ao núcleo de aleitamento. Sabe-se que este espaço é importante para os esclarecimentos e a retirada das dúvidas que possam surgir nos primeiros dias de amamentação. Através do estudo constatamos
que as orientações realizadas pelos profissionais de enfermagem no Núcleo de Aleitamento tem sido satisfatórias permitindo as nutrizes e, seus familiares, segurança para o cuidado do
bebê, aumentando o período de amamentação exclusiva.
CONCLUSÃO
O aleitamento materno ainda é um desafio, apesar de tantas campanhas mostrando a importância deste, tanto para a
mãe, quanto para o bebê. Percebe-senos hospitais credenciados com o título Amigo da Criança que as orientações quanto
ao aleitamento materno tem início no pré-natal, sendo um aspecto importante, quando se tem como objetivo melhorar os
índices de aleitamento materno.
Para tanto é necessário um novo olhar dos profissionais de
saúde diante do AM, pois para melhorar o tempo de AME são ne-
cessárias além de informações satisfatórias que levem as mães
a compreenderem a importância da amamentação no início da
vida, bem como a forma correta de amamentar para minimizar
as dificuldades encontradas nos primeiros dias de vida. A nutriz
necessita de apoio, principalmente no puerpério mediato, fase
de fragilidade e insegurança, pois ao retornar ao lar sente-se
sozinha.
Os benefícios do aleitamento são irrefutáveis, tanto para
mãe como para o bebê. As dificuldades encontradas no estudo
estão relacionadas com a pega incorreta durante amamentação. Isto reflete a falta de orientação e acompanhamento desta
nutriz nos primeiros dias de vida. Na verdade, não há uma rede
de apoio articulada com as reais necessidades da mulher moderna.
As orientações acerca do AM devem ser continuas, e feitas
por profissionais que transmitam para a nutriz a importância
deste ato de amor para o seu filho, extensivas aos familiares
que acompanham a mãe às consultas de puericultura, no sentido de alertar que o aleitamento não se constitui um ato isolado, mas trata-se de uma responsabilidade social, que requer
empenho de todos.
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Aleitamento Materno: benefícios e
dificuldades enfrentados pelas Mães
RETEP - Rev. Tendên. da Enferm. Profis.,
2014; 6(1): 1165-1169
1169
EDUCAÇÃO EM SAÚDE COM UM GRUPO DE GESTANTES:
SÍFILIS CONHECER PARA PREVENIR
HEALTH EDUCATION WITH A GROUP OF PREGNANT WOMEN: SYPHILIS KNOW TO PREVENT
Artigo Original
Francisco Mayron Morais Soares1
Gleiciane Kélen Lima2
RESUMO
O estudo teve como objetivo relatar a experiência de acadêmicos de enfermagem na realização de atividades de educação
em saúde para prevenção da transmissão vertical da sífilis com
o grupo de gestantes. Trata-se de um relato de experiência a
partir da vivência com a realização de uma atividade em uma
Unidade Básica de Saúde do município de Sobral, Ceará no mês
de novembro de 2013. A ação foi dividida em cinco etapas. A dinâmica promoveu interação entre o grupo e permitiu a expressão de sentimentos, opiniões e dúvidas. As gestantes expressaram por meio da atividade o interesse em promover cuidado da
criança através do conhecimento da doença o que possibilita a
prevenção e o tratamento. A ação possibilitou a identificação
de dificuldades no aprendizado e memorização das informações
que recebem durante as consultas de pré-natal. Conclui-se,
portanto que a educação para a saúde constitui uma importante ferramenta para os profissionais para prevenção de doenças
e promoção da saúde e, a gestante, em posse das informações
necessárias, se torna capaz de evitar a contaminação, além de
funcionar como agente disseminador do conhecimento.
Palavras-chave: Sífilis Congênita; Gestantes; Educação em
Saúde.
ABSTRACT
The study aimed to report the experience of nursing students
in conducting health education activities to prevent vertical
transmission of syphilis to the group of pregnant women. This
is an experience report from the experience with performing
an activity in a Basic Health Unit in the Municipality of Sobral,
Ceará in November 2013.’s Action was divided into five stages.
The dynamic interaction between the group promoted and
allowed the expression of feelings, opinions and questions. The
women expressed through activity interest in promoting child
care through knowledge of the disease which enables prevention
and treatment. The action allowed the identification of learning
disabilities and memorization of information they receive during
prenatal consultations. It follows therefore that health education
is an important tool for professionals for disease prevention and
health promotion, and the pregnant woman, in possession of the
necessary information becomes able to avoid contamination,
besides acting as an agent disseminator of knowledge.
Keywords: Syphilis, Congenital; Pregnant Women ; Health Education.
INTRODUÇÃO
A Sífilis é uma doença infectocontagiosa sistêmica, de evolução crônica, que ocupa uma importância significativa entre
os problemas de saúde mais frequentes no mundo. Seu agente
causador é o Treponema pallidum, uma espiroqueta adquirida
predominantemente durante relações sexuais, mas que também pode ser adquirida, dentre outros meios, pela transmissão
vertical, da mãe para o feto (1).
A sífilis congênita (SC) é o resultado da disseminação hematogênica do Treponema pallidum da gestante infectada não
tratada ou inadequadamente tratada para o concepto por via
transplacentária, podendo ser transmitida em qualquer fase
gestacional ou estágio da doença materna (2).
Mesmo após o tratamento, as mulheres que tiveram sífilis
durante a gravidez, apresentam um risco maior a resultados
Graduando em Enfermagem – Centro Universitário Estácio/FIC. Integrante do Projeto de Pesquisa Enfermagem na Promoção da Saúde Materna na Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: [email protected]
2
Enfermeira. Mestranda em Enfermagem pela UFC. Integrante do Projeto de Pesquisa Enfermagem na Promoção da Saúde Materna na UFC.
1
1170
adversos tais como óbito fetal, perinatal ou neonatal, recém-nascido pré-termo e recém-nascido baixo-peso, do que as mulheres sem a infecção.3
Configura-se como um sério problema de saúde pública no
país. De 1998 a junho de 2009, foram notificados/ investigados 55.124 casos de sífilis congênita em menores de um ano de
idade no Brasil. A Região Norte registrou 4.897 casos (9%); a
Nordeste, 16.585 (30%); a Sudeste, 25.916 (47%); a Sul, 3.716
(7%); e a Centro-Oeste, 4.010 (7%). No período de 1998 a 2007,
verifica-se aumento acentuado da taxa de incidência de casos
de sífilis congênita nas Regiões Norte e Nordeste (4).
até mesmo psicoemocionais. Cada gestante tem suas particularidades e um modo específico de compreender as informações.
O que acontece, muitas vezes, é que os profissionais fazem as
orientações durante as consultas, porém, como a linguagem
utilizada não é compatível, estas, não entendem e não captam
o que foi dito.
Destaca-se que a equipe multiprofissional nem sempre se
encontra receptiva e apta para acolher o cliente e os familiares
de maneira integral, resolutiva e humanizada (8).
Dados apontam que em 2004 houve uma prevalência de
1,6% da infecção, o que representa cerca de 50 mil gestantes
infectadas, com uma estimativa de 15 mil recém-nascidos com
SC naquele ano.5 Em 2003 observou-se uma mortalidade de 2,7
óbitos por 100 mil, em menores de um ano, uma prevalência em
gestantes de 1,6% da infecção, em 2004, representando cerca
de 50 mil parturientes com sífilis ativa e estimativa de 15 mil
crianças nascendo infectadas, demonstrando um insuficiente
controle do agravo em todo o território nacional (6).
Diante das dificuldades encontradas pelos serviços de saúde e pelas próprias gestantes no tocante a redução dos casos
de SC é que se fazem necessárias intervenções mais específicas para o assunto, por meio dessas atividades de Educação
em Saúde, visto que consistem em uma importante ferramenta
de trabalho para os profissionais Enfermeiros por possibilitar
maior interação com o ser cuidado, além de efetivar de maneira
mais concreta os objetivos de prevenção e promoção da saúde,
uma vez que a educação é parte integrada do planejamento de
saúde, pois possibilita que o próprio cliente se torne agente do
processo de cuidar.
No município de Sobral, segundo dados registrados no SINAN-NET (2010), a sífilis congênita começou a ser notificada a
partir do ano de 2007, passando de 1,5 casos por mil nascidos
vivos em 2007 para 2,9 em 2008, ou seja, bem acima das metas
de um caso por mil nascidos vivos estabelecidos pelo Ministério
da Saúde.
Nesse contexto, a relevância desse estudo encontra-se no
fato desse assunto está diretamente interligado com a prática
do enfermeiro, e os resultados desse estudo contribuem para
o cuidado e o ensino de enfermagem, além do crescimento dos
profissionais da área, a melhoria na assistência das gestantes e
o incentivo para estudos aprofundados sobre a temática.
Sabe-se que a sífilis congênita pode ser controlada através
do diagnóstico e tratamento adequado da gestante com sífilis
durante as consultas realizadas na gestação, sendo o seu aparecimento visto como um evento que expõe rapidamente as
deficiências dos serviços de saúde, principalmente, na atenção
básica, aqueles de acompanhamento pré-natal, pois um de seus
maiores objetivos consiste em oferecer a toda gestante uma assistência pré-natal de qualidade.
Portanto, o presente estudo, teve como objetivo relatar a
experiência vivenciada por um grupo de acadêmicos de enfermagem na realização de atividades de educação em saúde para
prevenção da transmissão vertical da sífilis com o grupo de gestantes de uma unidade de saúde.
No município, assim com na maioria das regiões do país,
a sífilis em gestantes ainda representa uma grande preocupação para os serviços de saúde, em virtude do risco iminente
da transmissão vertical da doença e dos possíveis riscos para
o concepto, necessitando de medidas estratégicas para trabalhar o agravo.
A educação em saúde trabalha com grupos, enfatizando
que é por meio deles que pode ocorrer a troca de experiências
e concepções em determinada coletividade/realidade. Com
isso, seria possível construir uma consciência coletiva crítica,
transpondo-a, posteriormente, para o nível individual dos participantes: seria a promoção da autonomia de cada pessoa via
educação (7).
Sabe-se, porém, que a grande demanda de pessoas que são
atendidas diariamente pelos Centros de Saúde da Família nem
sempre permite a realização adequada de um plano de educação para a gestante e sua família durante o pré-natal. Os profissionais, por vezes, não se encontram aptos a lidar com essa
população tão diversificada nos mais diversos aspectos, sejam
eles nível de instrução, fatores culturais, socioeconômicos e
Educação em Saúde com um grupo de
gestantes: sífilis conhecer para prevenir
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo do tipo relato de experiência no qual
se buscou descrever a vivência de acadêmicos de enfermagem
na realização de uma oficina de educação em saúde com o grupo de gestantes de um Centro de Saúde da Família, no mês de
novembro de 2013.
Os relatos de experiência são tidos como metodologias de
observação sistemática da realidade, sem o objetivo de testar
hipóteses, mas estabelecendo relações entre os achados dessa
realidade e bases teóricas pertinentes (9).
Os encontros do grupo de gestantes ocorreram quinzenalmente, no auditório do CSF e, para a realização da ação, foram
organizados previamente pelo enfermeiro responsável e pela
gerente da unidade.
A população alvo desta oficina foram todas as gestantes
que realizavam pré-natal no referido CSF no período de realização do estudo e participavam do grupo de gestantes, realizou-se com sete gestantes que compareceram ao auditório na
data marcada.
A ação foi dividida em cinco etapas: Estabelecimento de
vínculos com a equipe multiprofissional da unidade de saúde
RETEP - Rev. Tendên. da Enferm. Profis.,
2014; 6(1): 1170-1173
1171
(nos encontros iniciais); Apresentação dos acadêmicos e do
grupo de gestantes; Aplicação da dinâmica de grupo (O Melhor
de mim), Realização de uma oficina de educação em saúde que
abordou temas referentes à sífilis (a saber: sífilis na gestação,
consequências da infecção para o binômio mãe-filho, modo de
transmissão, prevenção e tratamento) e a segunda Dinâmica de
grupo denominada “O repolho”, com a finalidade de avaliar os
resultados da oficina sobre o grupo.
RESULTADOS E DICUSSÃO
A princípio, buscou-se estabelecer vínculos entre os acadêmicos e a equipe multiprofissional da área, em especial Enfermeiros e Agentes Comunitários de Saúde, visto que atuam
diretamente com o grupo de gestantes na prática diária da
prestação de serviços, que, dessa forma, auxiliaram tanto no
contato com as gestantes como nos momentos educativos.
Relata-se que sobra à importância da interação dos cuidadores com os usuários dos sistemas de saúde, apontando essa
relação como primordial para construção da saúde da família.
Dessa forma, o trabalho em equipe pressupõe uma relação recíproca de comunicação que se traduz em qualidade na assistência integral às necessidades de saúde da clientela (10).
O primeiro momento consistiu em uma breve apresentação
da equipe que iria direcionar as ações e, posteriormente, o grupo de gestantes também foi convidado a se apresentar, a fim de
que fosse criada certa familiarização logo no início da oficina.
Na segunda etapa, foi proposta uma dinâmica de grupo
chamada: “O Melhor de mim”, objetivando que as gestantes entendessem a necessidade e a importância do cuidado materno
com o filho e o expressassem de maneira livre e criativa. Nessa
dinâmica, as gestantes tiveram a oportunidade de confeccionar
cartazes com desenhos, frases e recortes, onde expressaram o
que consideravam ter de melhor para oferecer a criança.
As oficinas em dinâmica de grupo são comumente usadas
em intervenções psicossociais comunitárias. Essa metodologia
possibilita a vivência reflexiva e afetiva pelo uso de teorias e
técnicas sobra grupo, que possibilitam a caracterização da demanda grupal e a construção coletiva de soluções e superações
possíveis (11).
A terceira etapa constituiu-se da oficina de educação em
saúde propriamente dita, onde foram abordados temas referentes à sífilis, tais como: sífilis na gestação, consequências
da infecção para o binômio mãe-filho, modo de transmissão,
prevenção e tratamento.
Um dos componentes das ações básicas de saúde, a ação
educativa deve ser desenvolvida por todos os profissionais que
integram a equipe da unidade de saúde, estar inserida em todas
as atividades e deve ocorrer em todo e qualquer contato com a
clientela, com o objetivo de levar a população a refletir sobre
a saúde, adotar práticas para a sua melhoria ou manutenção
e adquirir novos hábitos para a resolução dos seus problemas
de saúde (12).
1172
A oficina foi realizada em forma de conversa, permitindo-se
intervenções e questionamentos por parte das participantes.
Manteve-se uma preocupação especial na utilização de comunicação verbal simples, acessível e objetiva de modo que as
gestantes pudessem apreender o máximo de conhecimento
possível. Durante o processo educativo procurou-se evitar a
monotonia e a redundância por meio da utilização de desenhos
e cartazes que facilitaram o aprendizado.
Na quarta etapa, para a identificação dos impactos da
oficina sobre o grupo, realizou-se outra dinâmica, chamada
“O repolho”, na qual as participantes tiveram que responder
a perguntas sobre os temas abordados sendo contempladas
com brindes a cada resposta correta.
Por fim, foi solicitado que cada gestante apresentasse o
cartaz que produzira ao início da oficina e explicasse o motivo das palavras ou figuras escolhidas identificando a relação
do mesmo com o que foi explicado, de modo que pudessem
entender que os cuidados para a prevenção da doença estão
intimamente relacionados aos cuidados com a criança.
A realização da oficina de educação em saúde na unidade
básica possibilitou a identificação de diversas dificuldades das
gestantes em apreender e memorizar o as informações que recebem durante as consultas de pré-natal, o que foi evidenciado por relatos das mesmas ao afirmar que já haviam ouvido
falar da doença, porém não sabiam ou não lembravam seus
sintomas, mecanismos de prevenção ou tratamento. As participantes relataram, ainda, não saber que a infecção poderia
ser transmitida ao feto, nem que há a necessidade de se tratar
concomitantemente o parceiro.
Observou-se que as atividades educativas desenvolvidas
propiciaram às gestantes momentos de esclarecimento de dúvidas e ampliação dos seus conhecimentos sobre o trajeto da
doença.
O grupo foi bastante receptivo e demonstrou interesse
e envolvimento nos temas abordados. Percebeu-se, porém,
que a intensidade da participação durante as discussões foi
influenciada por fatores como traços da personalidade, especialmente a timidez, e faixa etária, visto que apesar de pequeno, o grupo era bem diversificado, sendo que a mais jovem
encontrava-se na faixa etária dos 15 anos e mais velha encontrava-se na faixa dos 36 anos. Esses fatores também foram
observados em outros estudos realizados com gestantes no
município (13).
Além disso, a etapa final da realização da oficina permitiu
analisar o nível de conhecimento adquirido pelas gestantes,
que se mostrou bastante favorável, visto que a maior parte
das perguntas foram respondidas corretamente, demonstrando o interesse das gestantes sobre o tema bem como os benefícios que essa oficina trouxe ao grupo.
CONCLUSÃO
Constatou-se que a atividade realizada foi de grande importância, pois permitiu que as gestantes expressassem suas
dúvidas e medos em relação à doença, bem como esclarecessem
muitas delas e percebessem que a prevenção da doença também consiste em uma forma de manifestar cuidado e amor a
criança.
A educação para a saúde constitui uma importante ferramenta para os profissionais no que se refere à prevenção de
doenças e promoção da saúde, especialmente em se tratando
das Doenças Sexualmente Transmissíveis visto que podem ser
totalmente prevenidas pelo próprio indivíduo.
No caso especial da sífilis, a gestante, em posse das informações necessárias, se torna totalmente capaz de evitar
a própria contaminação e a contaminação do bebê, além de
funcionar como agente disseminadora do conhecimento ao informar ao parceiro, além dos sinais e sintomas, a necessidade
da realização do teste não treponêmico VDRL ainda durante o
período gestacional e do tratamento adequado para prevenir
que a criança venha a ser infectada.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, por ser a rocha firme de
minha vida, aos meus Pais, por me ensinarem a sonhar, por
acreditar nos meus sonhos e por me ensinar a sonhar alto e
manter os pés nos chão. E aos meus amigos, que são meus eternos anjos.
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1173
­­PROTOCOLO DE ACOLHIMENTO COM CLASSIFICAÇÃO DE RISCO EM
PEDIATRIA: FATORES QUE INTERFEREM NA IMPLEMENTAÇÃO
PROTOCOL HOST WITH RISK RATINGIN PEDIATRICS: FACTORS THAT INTERFERE FOR IMPLEMENTATION
Artigo Original
Diliane Paiva de Melo Matos1
Fernanda Jorge Magalhães2
Ana Paula Oliveira Queiroz3
Alline Falconieri de Moura4
Michelle Sampaio Bezerra5
Francisca Elisângela Teixeira Lima6
RESUMO
O objetivo foi identificar os fatores que podem interferir na
implementação do Protocolo de Acolhimento com Classificação
de Risco (ACCR) em Pediatria na emergência. Estudo descritivo, qualitativo, realizado em um hospital pediátrico municipal,
Fortaleza-CE. Para a coleta de dados foi aplicado um questionário aos 16 enfermeiros que atuam no ACCR da instituição, cujos
dados foram analisados conforme a semelhança de depoimentos. Como resultados dos fatores que interferem no ACCR, têm-se: déficit de conhecimento técnico-científico do enfermeiro
em relação ao risco de complicações das crianças e dúvidas
quanto ao tempo de atendimento proposto pelo protocolo,
deficiência de recursos humanos, estrutura física inadequada
e desconhecimento da clientela. Portanto, é necessário para
a implementação do ACCR capacitações com os enfermeiros e
adequações materiais pertinentes ao uso do protocolo.
Palavras-chave: Acolhimento; Classificação; Tratamento de
Emergência; Enfermagem.
ABSTRACT
The objective was to identify factors that may interfere with
the implementation of the Protocol to Host Risk Rating (ACCR) in
pediatrics at the emergency. A qualitative descriptive study was
conducted in a municipal pediatric hospital in Fortaleza-CE. For
data collection, a questionnaire was administered to 16 nurses
working in the ACCR, whose data were analyzed according to the
similarity of testimonies. As result of the factors that interfere
with the ACCR, have: deficit of technical and scientific knowledge
of nurses regarding the risk of complications and questions of
children about the time of service proposed by the protocol, poor
human resources, physical infrastructure inadequate and lack
clientele. Therefore, it’s necessary that the institution makes
training with the nurses and adjustments to the implementation
of relevant materials ACCR.
Keywords: User Embracement; Classification; Emergency Treatment; Nursing.
INTRODUÇÃO
A saúde do ser humano depende da correspondência entre a resistência do organismo e os obstáculos ou agravos que
ele tem que superar. A criança é mais vulnerável em relação ao
adulto devido ao processo de adaptação pelo qual passa, sendo
necessário que os profissionais da saúde conheçam essa vulnerabilidade, modo de agir e reagir da criança, bem como consigam prestar uma assistência considerando os aspectos físicos,
emocionais, psicológicos, sociais e culturais.
Diante dos aspectos de vulnerabilidade das crianças surgem diversas situações de agravos: as infecções do aparelho
respiratório constituíram a principal causa de internamento
em diversos estudos (1-4), seguidas pelas doenças gastrointestinais quando levada em consideração as faixa etárias lactente
ou superior (1;5). Outras causas também são citadas como frequentes nas internações hospitalares, são elas: afecções perinatais (principalmente na faixa etária de neonato precoce),
Enfermeira pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Membro do Grupo de Estudo sobre Consulta de Enfermagem (GECE). E-mail: [email protected]
Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem pela UFC. Doutoranda de mobilidade acadêmica pela Universidade do Porto (UP) em Portugal.
3
Enfermeira. Bolsista CNPq. Mestranda em Enfermagem pela UFC. Membro do GECE/UFC.
4
Enfermeira pela UFC.
5
Enfermeira pela UFC.
6
Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela UFC. Professora Adjunto do Departamento de Enfermagem da UFC (DENF/UFC). Coordenadora do GECE.
1
2
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doenças infecciosas e parasitárias, lesões, envenenamentos e
outras causas externas.
A admissão das crianças no sistema de saúde acontece principalmente por meio de três portas de entrada do sistema de
saúde: a emergência infanto-juvenil, indicação por consulta
ambulatorial e transferências (inter-hospitalar) e/ou encaminhamentos de outras instituições de saúde (6). Estudo realizado
em 2012 ratifica os dados anteriores e ressalta que o setor de
emergência é a principal porta de entrada das crianças nos serviços de saúde, sendo responsável pelo maior número de internações pediátricas (42%) (4).
Estudo com o objetivo de analisar as tendências nas internações de crianças e adolescentes hospitalizados por pelo
menos 24 horas em quatro hospitais que atendem determinada
região do município de Porto Alegre obteve como resultados
3329 internações nos anos de 2001 a 2004, 16% desse total
eram reinternações, a mediana do tempo de internação foi de
03 dias e com relação ao acesso 24% foram encaminhados por
profissional do Centro de Saúde da Família (CSF), 3,8% foram
encaminhados por profissional de outro serviço, 24,2% foram
direto para o hospital porque o CSF encontrava-se fechado,
1,9% foram direto porque não conseguiram consulta, 25,4%
foram direto ao hospital pela gravidade do caso e 20,6% por
outra situação, como por exemplo, hospitalizarem-se logo após
o nascimento (2).
Esses dados demonstram a diversidade das portas de entrada e do motivo da procura por atendimento hospitalar, bem
como demonstram uma sobrecarga do nível hospitalar com a
ineficiência dos atendimentos nos CSF.
Diante deste quadro, em 2003, o Ministério da Saúde lançou a Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do
SUS, denominada HumanizaSUS a qual visa reduzir as filas e o
tempo de espera com ampliação do acesso; promover atendimento acolhedor e resolutivo baseados em critérios de risco;
garantir informações ao usuário; e proporcionar gestão participativa e educação permanente aos trabalhadores (7).
A política propôs diversas ações para atingir seus objetivos
dentre as quais se destaca o acolhimento com classificação de
risco (ACCR) que foi o objeto de estudo desta pesquisa. O ACCR
surge como forma de organizar o serviço, permitindo o atendimento de todas as pessoas e o correto encaminhamento destas
dentro dos serviços de saúde.
Os resultados, na prática, do processo de acolhimento
são inúmeros, destacando-se a ordenação do atendimento de
acordo com a necessidade/gravidade de cada caso, não mais
deixando pessoas que necessitam de atendimento rápido
aguardando nas filas; a diminuição do tempo de espera pelo
atendimento do paciente em situação de real urgência/emergência; a diminuição de ocorrências, a melhoria no prognóstico
dos pacientes associada à intervenção mais rápida e oportuna
conforme a necessidade. Além de informar ao usuário a expectativa de atendimento e o tempo de espera, diminuindo-lhe a
ansiedade e aumentando-lhe o nível de satisfação (8).
­­
Protocolo
de acolhimento ccm classificação de risco em
pediatria: fatores que interferem na implementação
Para a realização do ACCR de crianças e adolescentes em
situação de urgência/emergência, de forma eficiente e humanizada, uma equipe de profissionais médicos e enfermeiros
reuniu-se para elaborar o protocolo de ACCR em pediatria, fundamentado no Protocolo de Manchester e no Protocolo do Hospital Odilon Behrens, com publicação em setembro de 2008,
com o apoio do Ministério da Saúde, HumanizaSUS, Secretaria
Municipal da Saúde de Fortaleza, dentre outros (9). O ACCR em pediatria consiste em uma avaliação dos pacientes de forma dinâmica, ágil e humanizada embasado pelo
protocolo, o qual possibilita identificação de sinais de alerta,
apresentação de doenças ou agravos conferindo uma atenção
centrada no nível de complexidade e não na ordem de chegada.
Ou seja, proporciona a classificação por gravidade ou grau de
sofrimento, podendo melhorar o atendimento nas portas de
entrada das unidades de urgência e emergência pediátricas dos
hospitais municipais de Fortaleza (9).
Para a utilização adequada do protocolo de ACCR em pediatria é necessário que os profissionais sejam capacitados de
modo a seguir os critérios de classificação de risco das crianças
e adolescentes, estabelecendo as prioridades de atendimento
a partir dos sinais de alerta (queixa principal) e/ou dos indicadores clínicos de saúde (manifestações clínicas) apresentados
pelos usuários e/ou responsáveis.
Ao adentrar a unidade, o usuário é acolhido, direcionado ao
salão de espera da unidade, para ser avaliado por um profissional da saúde, no caso o enfermeiro, o qual indica a prioridade
de atendimento, de acordo com o protocolo (9). Ao seguir tal
instrumento, o profissional deve considerar as seguintes cores
como prioridades: vermelho (prioridade I): atendimento médico imediato com acionamento de sinal sonoro; vermelho/
laranja (prioridade II): atendimento médico em até 15 minutos, sem sinal sonoro e reavaliação pelo enfermeiro a cada 15
minutos; amarelo (prioridade III): avaliação médica em até
30 minutos ou reavaliação pela enfermeira a cada 30 minutos;
verde (prioridade IV): avaliação médica em até uma hora ou
reavaliação pelo enfermeiro a cada uma hora; azul (prioridade
V): não urgente, avaliação médica por ordem de chegada ou encaminhamento por escrito a uma unidade básica de saúde com
contato telefônico prévio e garantia de atendimento (9).
No entanto, para a implementação do protocolo de ACCR
em pediatria nos hospitais municipais de Fortaleza-CE torna-se necessário adequar a instituição, considerando o usuário,
o ambiente de avaliação e classificação da criança e do adolescente, os recursos materiais e a habilidade técnica-científica do
examinador. Além disso, para atender essa habilidade, salienta-se, ainda, a importância da experiência profissional como
fator relevante para um atendimento adequado aos pacientes
de risco (10).
Diante dessas considerações, tem-se o seguinte objetivo:
identificar os fatores que podem interferir na implementação
do Protocolo de Acolhimento com Classificação de Risco em Pediatria na unidade de emergência.
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METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo de natureza qualitativa,
desenvolvido na unidade de urgência e emergência pediátrica de um hospital municipal, de nível secundário referência
em atendimento pediátrico da cidade de Fortaleza, Ceará,
Brasil. A escolha do local foi devido ao fato de que na referida instituição atuam no ACCR uma equipe multiprofissional,
composta por médico, enfermeiro, assistente social e técnico
de Enfermagem. Percebeu-se, entretanto, que mesmo tendo
uma equipe multiprofissional, na maioria dos atendimentos
o protocolo não era utilizado como referência para a determinação da prioridade de atendimento. Por isso, a equipe de
enfermagem ficava responsável pela classificação de risco das
crianças, sendo realizada empiricamente, baseada no conhecimento e na experiência do profissional.
Os participantes do estudo foram 16, os quais tiveram
como critérios de inclusão as seguintes características: ser
enfermeiro, atuar no acolhimento com classificação de risco e
estar trabalhando no período de coleta de dados.
A coleta de dados aconteceu em abril de 2010, durante
a realização de um curso de capacitação sobre a implementação do protocolo de ACCR em pediatria, cujos enfermeiros
responderam um questionário acerca do processo de ACCR que
incluiu questões referentes aos seguintes assuntos: objetivos
do ACCR, definições dos critérios de classificação de riscos, fatores que interferem na implementação do protocolo, aspectos positivos e negativos do ACCR e, por fim, sugestões diante
dos fatores que interferem na implementação do protocolo na
referida instituição.
A análise dos dados foi realizada por meio da semelhança dos depoimentos dos enfermeiros participantes e fundamentada na literatura pertinente à temática. Seguiram-se
as etapas de descrição das características dos depoimentos;
inferência com deduções lógicas de causas e consequências
advindas das mensagens e; por último a etapa de interpretação com a significação concedida a essas características. Então, após tais etapas, surgiram três categorias: Conhecimento acerca do processo de ACCR, Fatores intervenientes para a
classificação de risco e Sugestões para melhoria do processo
de ACCR.
O estudo respeitou os princípios da Resolução 466/2012
do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde, que dispõe sobre as pesquisas envolvendo seres humanosassim como
os princípios éticos em pesquisa (11), sendo aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Ceará, sob
protocolo COMEPE nº 80/09. Para respeitar o anonimato dos
enfermeiros participantes, os mesmos foram identificados por
E1, E2, E3... E16.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A partir da aplicação do questionário foi possível identificar os fatores negativos e positivos, bem como as dificuldades relatadas pelos enfermeiros quanto à implementação do
protocolo.
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Na primeira categoria, Conhecimento do enfermeiro acerca do ACCR, foram investigados os objetivos do mesmo na
instituição, sendo citada a humanização, a organização do
processo de trabalho e a agilidade no atendimento, conforme
mostram as seguintes falas:
Um atendimento humanizado, no qual o conforto e o bem-estar do paciente são nossas metas principais. (E4)
Receber o paciente dignamente, agilizar o atendimento de
forma precisa, humana, atendendo as suas expectativas e necessidades. (E8)
Organizar o atendimento, priorizando os casos que necessitem de atenção imediata. (E5)
Melhorar e agilizar o atendimento, evitando complicações.
(E15).
Um enfermeiro foi mais abrangente quanto ao objetivo
principal do acolhimento, referindo que o mesmo deve seguir
aos princípios do SUS, assim como exposto a seguir:
Obedecer aos critérios básicos do SUS, principalmente o
princípio da equidade (dar mais para quem precisa de mais).
(E16)
Diante dos resultados, verificou-se concordância com alguns autores (12) no que refere-se aos objetivos do acolhimento, considerado como uma estratégia para a reorganização
do serviço de saúde, destaque no trabalho multidisciplinar,
garantia do acesso universal, promoção da humanização e estímulo à capacitação profissional. Tal medida propõe que os
profissionais atuantes nessas unidades assumam uma postura
acolhedora com estabelecimento de vínculos, credibilidade e
confiança entre equipe multiprofissional e usuários (13;14).
Portanto, o protocolo de ACCR surge como um dispositivo
que garante os princípios dos SUS como equidade, integralidade e universalidade, além de traduzir o modo de operar as
relações entre profissionais e usuários de saúde. Além de ser
considerado pelos enfermeiros como instrumento organizador do processo de trabalho. Para tanto, considera-se que o
acolhimento tem ajudado os profissionais na organização do
processo de trabalho, na redução da demanda de clientes e na
agilidade para o atendimento na unidade de urgência e emergência (15).
Na visão dos profissionais de Enfermagem, o acolhimento foi identificado como postura de escuta e de comprometimento com o usuário, o que revela uma concepção próxima do
conceito da Política Nacional de Humanização (16). No entanto,
na prática cotidiana, esses profissionais não o incorporam em
todos os setores, havendo pouco diálogo entre profissional/
usuário, com escuta restrita e de pouca qualidade.
Com relação ao conhecimento, ao serem questionados sobre o risco de complicações e ao tempo de atendimento das
crianças, verificou-se que todos os enfermeiros participantes
possuíam déficit no conhecimento técnico-científico. Constatando-se que três desconheciam a existência de cores para
classificar as crianças conforme a prioridade de atendimento
mediante os sinais de agravos, complicações e risco de morte.
Portanto, a partir de tais constatações verificou-se a
necessidade de um processo de educação permanente, para
capacitar a equipe de Enfermagem acerca do protocolo de
ACCRvisto que as práticas de educação em saúde devem ser
construídas por sujeitos ativos na produção de conhecimento
transformador; utilizando-se de ações que envolvam debates, diálogos, atividades com demonstrações práticas e dinâmicas, além de vivências de novas experiências, a fim de
difundir o processo educativo. Por isso, cabe aos profissionais
enfermeiros se sensibilizarem da igualitária importância de
desenvolver ações gerenciais, assistenciais e educativas, de
modo a proporcionar educação permanente a toda a equipe
atuante na unidade de urgência e emergência pediátrica (17).
Na segunda categoria, Fatores que interferem na implementação do Protocolo de ACCR, houve referências às dificuldades, citadas pelos enfermeiros, para a realização do
ACCR, destacando-se: estrutura física inadequada, déficit de
materiais e recursos humanos disponíveis e capacitados, assim como entendimento deficiente por parte da clientela, tal
como citados nos seguintes depoimentos:
Falta uma sala para a classificação de risco. (E4)
Faltam condições materiais como ambulâncias e outros.
Falta de profissional médico, falta preparo nos profissionais
do acolhimento, principalmente dos enfermeiros e técnicos de
Enfermagem. (E9)
[...] é a falta de padronização de conduta médica e também
da equipe de Enfermagem. Há, em alguns casos, uma alteração
de ordem de atendimento em virtude de amizade e outros motivos. (E7)
Falta de esclarecimento da população e/ou entendimento
dos mesmos. (E14)
No que concerne às dificuldades, também foi referido deficiência nas redes de apoio para os encaminhamentos das
crianças. Assim, constatou-se que a maioria dos enfermeiros
desconhecia os serviços de referência, cujos encaminhamentos eram ineficazes, interferindo na resolutividade do ACCR.
Isto é percebido nas falas a seguir:
Há dificuldades para os encaminhamentos, principalmente
dos especializados, há falta de transporte para os pacientes e
poucos serviços básicos funcionam no fim de semana. (E9)
Não considero os hospitais de encaminhamento como rede
de apoio, já que os pacientes serão transferidos se houver vagas disponíveis. Caso contrário, devem permanecem neste hospital mesmo estando fora do perfil de atendimento daqui. (E5).
O ambiente para o acolhimento com classificação de risco
deve oferecer aos profissionais e usuários conforto, condições
adequadas de trabalho e biossegurança, além de ser um espaço para encontros e trocas de experiências (7). E a criação
da sala de enfermagem se faz necessária, pois para acolher
é preciso a criação de espaços de escuta e de recepção que
proporcione a interação de usuário e trabalhador (18).
A falta de recursos humanos, principalmente de profissionais médicos, se destaca como a principal dificuldade citada
­­
Protocolo
de acolhimento ccm classificação de risco em
pediatria: fatores que interferem na implementação
pelos enfermeiros. Isto ainda pode ser consequência da valorização, por parte dos usuários, da atenção curativa e da
centralidade médica. Isto mostra a necessidade de aumentar
a autonomia e o potencial dos demais profissionais (19).
Um estudo constatou a importância do conhecimento
dos profissionais atuantes no ACCR, sobre das dificuldades de
implementação do protocolo de ACCR, as quais essas podem
proporcionar subsídios que favoreçam novas estratégias de
atuação dos profissionais de saúde, de forma sistematizada
para a melhoria da qualidade da assistência prestada a população, do trabalho interdisciplinar, reduzindo riscos de complicações das crianças nas filas de espera por atendimento (20).
Outro fator, citado pelos enfermeiros, foi a falta de conhecimento dos usuários, visto que sem comunicação estes
ficam excluídos da dinâmica do serviço (15). Ou seja, a falta de
orientação leva ao não entendimento, por parte dos usuários,
do real motivo pelo qual não há o atendimento por ordem de
chegada e sim pelo risco de comprometimento ou agravo de
algumas crianças.
Portanto, torna-se necessário expor e discutir com os
usuários acerca do acolhimento com classificação de risco,
explicando o significado, os objetivos e a importância do dispositivo. O profissional precisa orientar, esclarecer dúvidas e
realizar uma escuta ativa das necessidades e apreensões dos
usuários, visando garantir a boa aceitação e evitar conflitos
entre profissional e usuários.
Apesar dos enfermeiros citarem predominantemente,
nessa categoria, os fatores negativos que interferem no ACCR,
alguns sujeitos divergiram quanto aos aspectos que interferem na implementação do protocolo ao citar como aspectos
favoráveis: espaço físico adequado, boa interação da equipe
multiprofissional e boa aceitação da clientela quanto à ordem
de prioridade, conforme exposto nos seguintes depoimentos:
A organização quanto à separação dos clientes a serem
atendidos com cadeiras coloridas. (E10)
Há espaço suficiente. (E16)
Equipe interage bem. (E14)
Aceitação da clientela. (E2)
Assim, mesmo diante dos fatores que interferem positivo ou negativamente para a implementação do protocolo, os
enfermeiros foram unânimes em reconhecer os benefícios da
utilização do mesmo, dentre os quais se destacaram: prioridade de atendimento; atendimento rápido e eficaz; redução
do tempo de espera das crianças que necessitam de atendimento prioritário; resolução de problemas com minimização
de agravos e complicações, segundo consta nos depoimentos:
Dar prioridade aos que mais necessitam, evitando que as
crianças permaneçam um tempo maior aguardando atendimento, podendo agravar o caso. (E6)
Atendimento mais rápido e eficiente. (E9)
Tempo reduzido de atendimento para melhor resolução do
problema. Ausência de complicação nos casos graves. (E10)
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Diminuir riscos e/ou complicações, agilizando o atendimento. (E14)
Os benefícios são notáveis, pois uma correta classificação
em tempo hábil pode prevenir sequelas, evitar maior comprometimento de saúde da criança. (E7)
Para minimizar os fatores que interferem negativamente
na implementação do protocolo de ACCR foi solicitado aos
enfermeiros sugestões para minimizá-los e/ou eliminá-los,
visando adequar a instituição para implementação do ACCR.
Assim, tem-se a terceira categoria, Sugestões para melhoria do Processo de ACCR, que destaca algumas implicações
dos enfermeiros, tais como: aumento do número de profissionais médicos, sala de Enfermagem com materiais necessários
para avaliação da criança e capacitação dos profissionais, tais
como relatam os enfermeiros a seguir:
Aumentar o número de médicos, em especial para casos
graves. Atendimento médico contínuo durante a troca de plantão. Compreensão dos médicos do Protocolo de Acolhimento
com Classificação de Risco. (E10)
Sala de Enfermagem com condições de atendimento para
classificação de risco.(E3)
Instituir a sala de acolhimento. Barrar vários acompanhantes por usuário. Dispor de termômetro e estetoscópio. Implantar uma ficha para a equipe de Enfermagem. (E14)
Sala apropriada para avaliação e registro de Enfermagem.
Material para procedimento. (E15)
Capacitação de todos os profissionais envolvidos. (E16)
Em relação às dificuldades para a realização do ACCR citado pelos enfermeiros, destaca-se a necessidade de adequações na estrutura física da instituição, principalmente a
criação de uma sala para consulta de Enfermagem e de equipamentos necessários para a avaliação das crianças.
A partir desses resultados identificou-se os pontos benéficos e de fragilidades no que diz respeito à implementação
do protocolo de ACCR, em especial pode-se sobressair como
fragilidade o déficit de conhecimento do enfermeiro acerca do
acolhimento com classificação de risco. Diante disso, foi realizado um curso de capacitação com os enfermeiros atuantes
na referida instituição.
Apesar dos fatores que interferem de forma negativa no
ACCR, os benefícios proporcionados por este também merecem destaque, quais sejam: boa interação da equipe, atendimento rápido e eficaz, prioridade de atendimento, redução da
fila de espera e de complicações.
O bom relacionamento entre os profissionais propicia assistência eficiente, já que o trabalho em equipe poderá reunir
conhecimentos e compartilhar informações, para estabelecer
o melhor tratamento terapêutico para o usuário. A interação
interpessoal envolve capacidade de relação com os outros, reciprocidade e empatia mútua de habilidades.
Quanto à prioridade de atendimento, sabe-se que a não
utilização da classificação de risco faz com que muito pacien-
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tes se agravem nas filas, podendo ocorrer a morte diante da
ausência de atendimento no tempo adequado(21). Já o atendimento com classificação de risco e a utilização do protocolo
traz benefícios como a agilidade na assistência, a partir da
avaliação dos pacientes de forma dinâmica e humanizada,
identificando quem precisa de tratamento imediato, de acordo com o potencial de risco e grau de necessidade do usuário(19).
Para tanto, cabe também ao profissional de Enfermagem,
dentre os preceitos ético-legais, responsabilizar-se para com
toda a equipe de saúde pelo atendimento, com atualização
contínua dos seus conhecimentos e de sua equipe utilizando
de forma competente as tecnologias, sem esquecer a formação permanente e aprofundada nas ciências humanas por um
processo de educação continuada ou aperfeiçoamento em Recursos Humanos(22).
Diante desse contexto, percebe-se que a educação permanente é necessária, para a capacitação técnico-científica
da equipe multiprofissional, a fim de proporcionar condições
adequadas e de qualidade, promovendo a satisfação, desenvolvimento profissional, visto que contribui para uma assistência comprometida e respaldada em conhecimentos teóricos científicos(23-24).
Assim, foi desenvolvido um curso de capacitação que possibilitou a sensibilização dos enfermeiros para a utilização
do protocolo de ACCR em pediatria no momento da avaliação
das crianças atendidas na unidade de urgência e emergência,
além de ter levantado reflexões acerca do processo e das relações de trabalho.
Com o curso de capacitação realizado na referida instituição, pode-se perceber que as dificuldades na implementação
do protocolo vão desde a necessidade de maior envolvimento
da equipe multiprofissional, até as mudanças mais profundas
nas atitudes de toda equipe, a fim de propiciar um cuidado
integral, humanizado e igualitário. É necessário mudanças,
também, em pontos ainda frágeis do sistema de saúde, para
que o mesmo funcione realmente como uma rede de atenção.
Além do curso, a instituição já providenciou uma sala para
implementar o ACCR, diante da necessidade de um local privativo com equipamentos adequados para a realizaçãoda classificação de risco em pediatria com segurança(25).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da realização desse estudo, constatou-se um déficit no conhecimento dos enfermeiros acerca do ACCR por isso,
foi promovido um curso de capacitação para implementação
do protocolo, o qual foi considerado satisfatório e visto como
possibilidade de melhoria no atendimento de crianças e adolescentes em situação de urgência e emergência.
Dentre os fatores que influenciam de forma negativa na
realização do ACCR destacam-se: falta de recursos humanos,
recursos materiais incompletos e insuficientes, estrutura física inadequada, além da falta de conhecimento da clientela a
respeito do dispositivo.
O ACCR proporciona inúmeros benefícios para os profissionais, em especial os enfermeiros, proporcionando o aperfeiçoamento do trabalho em equipe, a organização do serviço
de saúde a partir das dificuldades avaliadas no processo de
trabalho e uma maior interação com todos os profissionais
da equipe multidisciplinar. Bem como para os usuários, com
atendimentos conforme o risco de complicações, redução de
complicações e das filas de espera.
Percebe-se que há muito a ser explorado a respeito do
ACCR, visto que há poucos artigos sobre a temática. Cabe enfatizar, ainda, que há necessidade de verificar a satisfação e o
conhecimento por parte da clientela. Sendo assim, sugere-se
o desenvolvimento de estudos sobre a importância da utilização do protocolo, visando reduzir os fatores que interferem para sua implementação. Além de ser imperativo que as
universidades e cursos de formação na área da saúde invistam na formação de profissionais capacitados sobre o ACCR
e que atendam às necessidades das unidades de urgência e
emergência pediátrica. Sendo, assim, o estudo revela que há
necessidade de encontros motivacionais e a utilização de cursos de capacitação para os profissionais atuantes no setor de
ACCR.
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­­
Protocolo
de acolhimento ccm classificação de risco em
pediatria: fatores que interferem na implementação
RETEP - Rev. Tendên. da Enferm. Profis.,
2014; 6(1): 1174-1179
1179
TRANSPORTE INTRA-HOSPITALAR DO RECÉM-NASCIDO
DE RISCO: CUIDADOS NA TERMORREGULAÇÃO
INTRA-HOSPITAL TRANSPORT OF NEWBORN AT RISK: THE CARE THERMOREGULATION
Artigo Original
Karla Maria Carneiro Rolim1
Aline Gomes Paiva2
Kadja Nara Vasconcelos Freire2
Mylena Nonato Costa Gomes2
Tays Lopes Vieira2
Fernanda Rocha Honório de Abreu3
RESUMO
Objetivou-se com o estudo investigar a prática da enfermagem durante o transporte intra-hospitalar do RN de risco no
que diz respeito a termorregulação neonatal do Centro Obstétrico para Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. Estudo
exploratório-descritivo com abordagem qualitativa, realizado
na Maternidade Escola Assis Chateaubriand, em Fortaleza, Ceará, Brasil. A coleta dos dados foi realizada entre os meses de
dezembro/2010 a maio/2011. Foi realizado um questionário e
observação dos cuidados de enfermagem relativos à termorregulação neonatal durante o transporte intra hospitalar do recém-nascido de risco e dos sinais emitidos que indicavam alterações térmicas. Recomenda-se maior sensibilização da equipe
por meio da educação continuada, mostrando a importância do
uso do transporte intra hospitalar para o controle da termorregulação do recém-nascido, tendo como meta uma melhoria da
assistência e a qualidade de vida do mesmo.
Palavras-chave: Prematuro; Cuidados de Enfermagem; Termorregulação.
ABSTRACT
The objective of the study investigating the practice of
nursing during in-hospital transport of the RN of risk with
regard to neonatal thermoregulation of Obstetric Center for
Neonatal Intensive Care Unit. Exploratory-descriptive study
with a qualitative approach, held at Maternity School Assis
Chateaubriand, in Fortaleza, Ceará, Brazil. The data collection was
conducted between the months of dezembro2010 the maio2011.
We conducted a questionnaire and observation of nursing care on
neonatal thermoregulation during the intra-hospital transport
of the newborn and the signals that indicate thermal changes.
It is recommended to raise awareness of the team through
continuing education, showing the importance of the use of the
intra-hospital transport for newborn thermoregulation control,
with the goal to improve the assistance and the quality of life of
the same.
Keywords: Premature; Nursing; Thermoregulation.
INTRODUÇÃO
A regulação da temperatura corporal se caracteriza entre
as inúmeras adaptações que o recém-nascido (RN) deve fazer
na sua chegada ao mundo extra-uterino a fim de garantir a sua
sobrevivência. Porém, muitos fatores podem influenciar negativamente nesta regulação térmica, entre estes podemos citar:
superfície corporal relativamente grande em comparação ao
peso, isolamento térmico inadequado, capacidade metabólica
limitada para a produção de calor, mecanismos de perda de calor, ambiente, manuseio excessivo, sudorese, ritmo circadiano,
estresse, prematuridade, entre outros(1).
O transporte intra-hospitalar neonatal ocorre quando os
pacientes internados em Unidade Neonatal (UN) são transportados para realizar alguma intervenção cirúrgica ou procedimento diagnóstico. Estes transportes podem se constituir em
risco adicional para o neonato criticamente doente e, por isso,
deve ser considerado como uma extensão dos cuidados realizados na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN). Vale
Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Enfermeira da Unidade Neonatal da Maternidade Escola de Assis Chateaubriand
(MEAC/UFC). Docente da Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Líder do Grupo de Pesquisa Saúde e Qualidade de Vida do Binômio Mãe e Filho (UNIFOR/
CNPq). Orientadora. E-mail: [email protected]
2
Enfermeiras graduadas pela UNIFOR. Integrantes do Grupo de Pesquisa Saúde e Qualidade de Vida do Binômio Mãe e Filho (UNIFOR/CNPq).
3
Aluna do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Bolsista do Grupo de Pesquisa Saúde e Qualidade de Vida do Binômio Mãe e Filho (FUNCAP/UNIFOR).
1
1180
lembrar que o transporte intra-hospitalar ocorre com grande
frequência e, para a sua realização, são necessários equipamentos e pessoal habilitado, de forma similar à necessária para
o transporte entre hospitais(1).
Ainda no útero materno, o feto obtém tudo o que é necessária a sua sobrevivência, porém ao nascer à criança deixa o
calor e toda a doçura do ventre de sua mãe e depara-se com
um novo mundo pelo qual deverá passar por várias adaptações
fisiológicas e comportamentais. Tudo isso pode torna-se bem
mais difícil quando este RN nasce enfermo ou prematuramente,
sendo então, separado bruscamente de sua mãe e encaminhado
para uma UTIN.
Neste momento, ainda fragilizado pelo nascimento, o
neonato enfermo ou nascido prematuramente vivencia pela
primeira vez o transporte intra-hospitalar, durante seu encaminhamento à UTIN. Neste contexto, se fazem necessários os
cuidados relacionados à termorregulação neonatal, uma vez,
que este se encontra durante suas primeiras horas de vida e seu
sistema termorregulador se mostra ineficaz, acompanhando de
forma passiva as flutuações da temperatura ambiente.
O RN, principalmente o prematuro, representa o grupo mais
vulnerável em todos os aspectos. O momento do nascimento e
da transição da vida intra-uterina para a vida extra-uterina é,
sem dúvida, para a criança o momento mais crítico de sua vida
podendo refletir positiva ou negativamente no seu crescimento
e desenvolvimento. Dessa forma, garantir a este ser tão dependente de cuidados uma assistência de enfermagem cuidadosa e
humanizada se constitui a principal meta de toda equipe atuante na UTIN.
Ressalta-se que no ano de 2010 foram registrados 4.308
nascido-vivos na maternidade em estudo, dos quais 4.289
(99,55%), quase sua totalidade, foram admitidos na UN e, destes, 848 RN (19,77%) apresentaram baixo peso, ou seja, peso
inferior a 2.500g. No primeiro trimestre de 2011, segundo o
Sistema de Controle Clínico da maternidade, foram registrados
1.081 nascidos vivos, dos quais 433 RN (40%) foram admitidos
na UN. Evidencia-se que a média de internação por dia na UN é
de 50 RN, indicando uma superlotação constante trazendo prejuízo à assistência e à saúde física e mental dos profissionais
atuantes no setor(2).
Pelo fato de a área da superfície do corpo do RN ser grande
em relação à massa corporal, o calor do corpo é rapidamente
perdido. Como resultado, a temperatura corporal, particularmente a dos prematuros, diminui facilmente. Mesmo a temperatura de RN a termo comumente reduz vários graus durante as
primeiras poucas horas após o nascimento, mas se estabiliza
em 7 a 10 h. Ainda assim, os mecanismos de regulação da temperatura corporal permanecem precários durante os primeiros
dias de vida, permitindo desvios acentuados de temperatura(3).
As intercorrências passíveis de ocorrer durante o transporte intra-hospitalar podem se associar às alterações fisiológicas
e/ou clínicas do próprio RN e a problemas ligados aos equipamentos e/ou à equipe de transporte. Os estudos dos problemas
relativos ao transporte intra-hospitalar de neonatos são escassos, mas pode haver alterações significativas dos sinais vitais
como temperatura corporal, freqüência cardíaca e respiratória,
pressão arterial, saturação de oxigênio, pressão parcial de oxigênio e do gás carbônico. Mesmo com o adequado preparo do
RN, as condições inerentes ao transporte, tais como barulho
Transporte Intra-Hospitalar do recém-nascido
de risco: cuidados na termorregulação
excessivo, vibrações e alterações de temperatura comprometem a estabilidade clínica do paciente(1).
A hipertermia, por sua vez, ocorre quando a temperatura axilar estiver acima de 37,5°C, ocasionando vasodilatação
periférica com esforço do organismo para dissipar o calor, aumento da taxa de metabolismo e requerimento de oxigênio,
aumentando a perda de líquidos levando o RN a desidratação
e acidose metabólica(4). É importante destacar que os neonatos mais imaturos e de menor peso necessitam de temperatura
ambientais mais elevadas e que o ambiente térmico, depende
da temperatura ambiente do ar e da temperatura dos objetos
adjacentes. E embora exista diretrizes para orientar os limites
da temperatura de um ambiente termo-neutro, a enfermagem
deve determinar o mais adequado para cada prematuro, através
de rigorosa monitorização de sua temperatura corporal, pois
cada criança é única e como tal deve ter seu próprio ambiente
térmico(5).
Diante das considerações objetiva-se com o estudo investigar a prática da enfermagem durante o transporte intra-hospitalar do RN de risco no que diz respeito à termorregulação
neonatal do Centro Obstétrico para Unidade de Terapia Intensiva Neonatal.
METODOLOGIA
Estudo exploratório-descritivo, de natureza qualitativa(6),
realizado no Centro Obstétrico (CO) e na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) da Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (MEAC), localizada na cidade de Fortaleza, Ceará, Brasil.
Esta é considerada referência para atendimentos obstétrico e
neonatal de alta complexidade. O CO dispõe de 11 leitos, disponibilizados em quartos individuais, nos quais os profissionais
assistem às parturientes preconizando o parto humanizado.
Existe no CO, ainda, uma Sala de Neonatologia, onde se realiza
o primeiro atendimento aos bebês, possui quatro berços de calor radiante (BCR), um berço de reanimação e uma incubadora
de transporte, frente á necessidade de transferir o RN à Unidade Neonatal.
Atua no CO uma equipe multiprofissional e fazem parte
dela sete enfermeiras, e 36 auxiliares de enfermagem. Sendo
que, 12 auxiliares estão lotadas na Sala de Neonatologia, toda
a equipe está distribuída em escala de serviço, nos período
diurno e noturno. As enfermeiras atuam no planejamento, organização e supervisão da assistência de enfermagem no CO;
na ambiência harmônica de cada sala individual; no preparo do
material a ser utilizado nos partos; no pré, trans e pós-parto
e em intercorrências como, episiotomias, episiorrafias, permanecendo próximo á parturiente quando do delivramento da
placenta. O teste rápido antiHIV, também, faz parte do cuidado
da enfermeira.
A UTIN dispõe de 51 leitos distribuídos em quatro unidades,
duas de alto risco, uma de médio e outra de baixo risco. Atua na
UTIN uma equipe multiprofissional e fazem parte dela 26 enfermeiras, 18 técnicas e 51 auxiliares de enfermagem, distribuídas
em escala de serviço, nos período diurno e noturno, com uma
média de atendimento mensal de 77 RN, dentre eles bebês de
alto risco, enfermos, prematuros e de muito baixo peso.
Depois de realizada a observação, todas as integrantes da
equipe de enfermagem participantes do estudo foram esclarecidas dos propósitos da pesquisa, assinando logo que solicita-
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2014; 6(1): 1180-1185
1181
das, o termo de consentimento informado. Para preservar o
anonimato das participantes, estas foram identificadas como
enfermeira (E1,... E8), técnica de enfermagem (T1,... T7) e auxiliar de enfermagem (A1,... A3).
Os dados foram obtidos durante o período de dezembro
de 2010 a maio de 2011, com horário integral. E tiveram dois
momentos: primeiramente observamos o transporte do RN de
risco do CO a UTIN e os cuidados de enfermagem referentes á
termorregulação neonatal. Concomitantemente, observamos
os sinais emitidos pelo RN que indicam quadro de alterações
térmicas. Em um segundo momento foi realizado um questionário com dados de identificação das participantes e questões
relacionadas aos cuidados desenvolvidos na regulação e manutenção da temperatura corporal do RN de risco. Os resultados
foram analisados e relatados com base na literatura pertinente
ao tema e apresentados em quadros. Para completar os dados
durante as observações, utilizamos também um diário de campo. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da instituição,
por meio do ofício nº 258/10 e protocolo de nº 139/10, em acordo com a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde(7).
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
Apresentação das participantes do estudo
Participaram da pesquisa 19 profissionais de enfermagem
todas do sexo feminino, onde oito eram enfermeiras, sete técnicas de enfermagem e três auxiliares de enfermagem. A faixa
etária variou de 29 a 55 anos. Dos sujeitos participantes onze
eram casadas, duas divorciadas, duas viúvas e quatro eram solteiras. O tempo de formação entre as participantes variou de 5
a 28 anos. O tempo de atuação, em uma UTIN, dos participantes
teve predominância de 5 a 10 anos. Todas as enfermeiras fizeram pelo menos uma especialização e uma enfermeira possui
mestrado, as demais categorias realizaram algum tipo de outro
curso. Os RN observados tinham a idade gestacional entre <29
semanas a 37 semanas e 4 dias e o peso apresentado variou de
835 gramas a 3.830 gramas.
Cuidados de Enfermagem relativos à termorregulação neonatal
durante o transporte intra-hospitalar do RN de risco
Consoante o Ministério da Saúde, as principais indicações
para o transporte inter-hospitalar são: a prematuridade, com
idade gestacional menor que 32 a 34 semanas e/ou peso de
nascimento inferior a 1.500 gramas; problemas respiratórios
com uso de fração inspirada de oxigênio superior a 40 –60%
ou de pressão positiva continua em vias aéreas ou de ventilação mecânica; anomalias congênitas; convulsões neonatais;
doenças que necessitam de intervenção cirúrgica; hemorragias
e coagulopatias; hiperbilirubinemia com indicação de exsanguineo-transfusão; asfixia com comprometimento multissistêmico; recém-nascido com cianose ou hipoxemia persistente;
sepse ou choque séptico; hipoglicemia persistente(8).
A termorregulação é a habilidade do corpo em promover o
balanço entre a produção de calor e a perda, mantendo assim a
temperatura corporal dentro dos valores normais. Os pacientes
na UTIN sofrem maior risco de instabilidade térmica devido a
certos fatores, como: prematuridade, anomalias congênitas,
septicemias, asfixia, hipóxia, comprometimento do SNC, aporte nutricional calórico inadequado, diminuição dos movimentos voluntários, imaturidade do sistema de controle térmico e
quantidade de tecido adiposo subcutâneo deficiente(4).
Vale a pena ressaltar que segundo o Sistema de Controle
Clínico da MEAC, no primeiro trimestre de 2011, o número de
nascido-vivos foi de 1.081 e que 21% deles nasceu com peso
<2.500g e, 433 RN foram admitidos na UN. Acredita-se que
muitos foram transportados em incubadoras. Concomitantemente às observações, aplicamos um questionário para os profissionais atuantes, cujos dados resultantes podem ser vistos
no quadro abaixo.
Quadro 1 – Observação da equipe de enfermagem: procedimentos realizados ao RN durante o transporte intra-hospitalar. MEAC,
2011.
Observação
Questões
Respostas das Enfermeiras
Em alguns transportes eram
utilizados meios para manter
a termorregulação do RN e o
transporte ocorria em 5m.
Como você vê
o processo de
transporte do RN
de risco do CO à
UTIN?
Alguns transportes são realizados de maneira inadequada, pois ao invés do
RN está sempre
em incubadora aquecida, às vezes o mesmo é
transferido apenas em panos aquecidos (E2).
Melhorou um pouco com o uso da incubadora de transporte. Porém,
considero a distancia entre e C.O e UTIN um agravante (E7).
O transporte do RN deve ser feito com cuidado; em incubadora de transporte
de forma aquecida para que não haja perda de temperatura (T4).
Fazemos o melhor dentro das condições que
temos, já que nosso CO não é agregado a
UTIN. O transporte é na incubadora ada acompanhada do neonatologista e
maqueiro
(T5).
Devido à estrutura física do hospital o transporte é demorado; incorreto
pois ao ser transportado nas incubadoras em um longo percurso causa
vários danos ao RN principalmente prematuro (A3).
Nos RN que necessitavam
de ventilação mecânica foi
observado que a incubadora
sempre permanecia com
as portinholas abertas,
aumentando assim o risco de
hipotermia severa.
1182
Presenciamos, também a
falta de incubadora, quando
um RN ter que ficar na Sala
de Neonatologia enquanto o
outro era transferido.
Você se sente
preparado
para realização
desse cuidado,
levando-se em
consideração
todas as
fragilidades do
paciente em
questão?
Sim. Eu como enfermeira neonatal sei como lidar com estas situações
adversas (E2).
Sim, o que me dificulta é a estrutura física, bem como também
disponibilidade de maqueiros para remoção de incubadora e equipamentos
(E3).
Sim, porém, necessitando de atualização, devido a constantes mudanças
(T5).
Você recebeu
algum
treinamento
em serviço
para atuar no
transporte intrahospitalar de RN
de risco?
Não. Apenas o conhecimento na faculdade e a rotina da instituição (E5).
Tenho habilidade nesse tipo de transferência, porque quem fazia esse
transporte em outro serviço era o técnico em enfermagem, mas nunca tive
treinamento específico (T5).
Sim, de vez em quando aqui no hospital tem (A2).
A equipe utilizou para o
transporte uma incubadora
de parede dupla, mas a
mesma não era previamente
aquecida.
Em relação à
instabilidade
térmica do RN
de risco ou
prematuro, você
se utiliza de
algum recurso
ou cuidado no
controle térmico
deste?
Sim, filme de PVC, algodão ortopédico, luvas com água quente, plástico
bolhoso, cueiros e/ou campos previamente aquecidos. O que estiver
disponível e conforme rotina da instituição (A1).
Agasalhar bem e aquecer a incubadora de transporte antes de colocar o RN
(A5).
Verificamos rigorosamente de 3/3 hs, quando hipotérmico aquecemos com
algodão e fraldas (T5).
Na UTIN sim, uso a touca, plástico, luvas e botinhas, durante o transporte
não (A1).
Manter o berço aquecido e a incubadora aquecida. Deixando o bebê
confortável na medida do possível (A2).
Apesar das afirmações dos
profissionais, percebemos
que os profissionais atuantes
no transporte intrahospitalar não preconizam
o uso do termômetro como
utensílio para prevenção
da termorregulação na
saída do transporte do CO
para UTIN, com isso a não
utilização do mesmo é um
fator determinante para o
agravamento do RN.
Em que
momento você
verifica, pela
primeira vez,
a temperatura
corporal do RN
frente ao seu
encaminhamento
a UTIN?
Antes do transporte (E2).
Após o transporte ao ser admitido na unidade (E5).
Verifico temperatura após admissão do RN na UTIN, após o transporte (E6).
Nenhum momento (T3).
Já na UTIN, durante os cuidados admissionais (A1).
Só observamos a presença
de um profissional de
enfermagem uma única vez,
em um único transporte.
Não havia aquecimento
das mãos, por parte dos
profissionais, antes de
manusear os bebês.
A incubadora na maioria
dos transportes não era
previamente aquecida.
O transporte intra-hospitalar neonatal ocorre quando os
pacientes internados em UN são transportados para realizar
alguma intervenção cirúrgica ou procedimento diagnóstico.
Estes transportes podem constituir em risco adicional para o
neonato criticamente doente e, por isso, devem ser considerados como uma extensão dos cuidados realizados na UTIN(1).
Como podemos perceber nas falas dos participantes a distância
entre o CO e a UTIN é um fator agravante para o RN quanto ao
quadro de hipotermia severa.
Podemos observar no quadro 1, que o transporte realizado
em incubadora de transporte ocorreu na maior parte dos casos. Destacamos ainda, a ocorrência de um transporte com a
incubadora desligada, desperdicando assim, a função de aquecimento da mesma. Existe uma significante correlação entre
Transporte Intra-Hospitalar do recém-nascido
de risco: cuidados na termorregulação
um transporte neonatal eficiente, ou seja, com todos os materiais e equipamentos necessários e a diminuição dos índices
de morbi-mortalidade neonatal(4). Assim, é fundamental que
este aconteça impreterivelmente em incubadora de transporte previamente aquecida e com a participação de profissionais
adequadamente habilitados.
A Assembléia Geral das Nações Unidas, no ano de 2000,
reunindo 191 países na Cúpula do Milênio, compromete-se de
cumprir as Metas de Desenvolvimento do Milênio (MDM), entre
as quais, se inclui a meta de diminuir em dois terços a mortalidade infantil e de crianças até cinco anos até o ano de 2015(9).
Vale ressaltar, que o Brasil, assumiu o compromisso junto aos
demais países, tendo como necessidades prioritárias a gestão
da asfixia ao nascer, a hipotermia, o controle ou regulação tér-
RETEP - Rev. Tendên. da Enferm. Profis.,
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1183
mica do RNPT e as infecções, que se constituem as principais
causas de morte entre a população neonatal(10).
Entre os materiais de consumo indispensáveis para a estruturação e organização efetiva da UTIN, destacamos o termômetro digital como o mais adequado para a verificação da temperatura corporal do RN e, principalmente do prematuro RNPT,
frente a sua instabilidade térmica e funcional(3). O termômetro
digital é um instrumento muito sensível, obtendo resultados
precisos e rápidos. É de fácil manuseio, resistente à água, tem
memória e sinais de bip, especialmente sem mercúrio, portanto é seguro para uso. Sua temperatura varia de 32ºC até 41,9ºC
e seu processo de medição dura cerca de 2 minutos.
Seu uso não é apenas indispensável, mas necessário, pois de
acordo com a Portaria nº 1.091, do Ministério da Saúde, o termômetro eletrônico portátil é um dos instrumentos fundamentais
para o funcionamento de serviços de maternidade do nível III ou
do nível II, para o atendimento à gestação de alto risco, visando assim a necessidade de organização da assistência neonatal,
para assegurar melhor qualidade no atendimento ao RN(11).
Sinais emitidos pelo RN que indiquem quadro de alterações térmicas
Conhecer o RN entre todas as suas particularidades, principalmente o prematuro, se caracteriza como um dever de cada
RN/Peso
Alterações
daFC
Alterações da
SAO2
Apnéia
profissional que o atende, seja ele médico, enfermeiro, fisioterapeuta, ou qualquer outro que atue na UTIN. Vale enfatizar,
que não é possível, em pleno século XXI, realizar um cuidado ao
RN baseando-se em empirismo, cuidar sem planejamentos, sem
evidências clínicas(12). Dessa forma, urge em meio às diversas
práticas o conhecimento do sistema termorregulador do RN,
principalmente do RNPT, levando-se em consideração o aumento de sua viabilidade, superfície corporal relativamente grande
em comparação ao peso, isolamento térmico inadequado, baixo peso ao nascer, manuseio excessivo, entre outros.
A hipotermia ou a hipertermia podem causar alterações
graves nos sinais vitais (incluindo taquicar¬dia ou bradicardia, taquipnéia e apnéia) e aumento do consumo de energia.
A hipotermia aumenta o consu¬mo de oxigênio, predispondo
o RN à hipóxia. Quando a hipotermia começa, a temperatura da
pele diminui, não havendo intervenção, a temperatura central
cai e pode resultar em hipotermia irreversível, levando o RN ao
óbito(13). A observação quanto aos sinais emitidos pelo RN foi
realizada com quatro RN, obtendo-se variação que indicavam
alterações fisiológicas do controle térmico.
Quadro 2 – Observação acerca dos sinais emitidos pelo RN que
indiquem quadro de alterações fisiológicas do controle térmico, MEAC, 2011.
Estresse Respiratório Mudança/ Coloração da Pele
Gemência
RN 01
835g
Sim
178 bpm
Não
Sim
Sim
Sim
Não
RN 02
1.250g
Sim
172bpm
Não
Sim
Sim
Sim
Não
RN 03
1500g
Sim
183bpm
Não
Sim
Sim
Sim
Não
RN 04
3.830
Sim
169bpm
Não
Sim
Sim
Não
Sim
No quesito das alterações da frequência cardíaca (FC), podemos observar que os RN apresentaram alteração, variando
de 169 a 183 bpm. A FC é de normalmente 120 a 160 batimentos por minuto. Varia com as alterações da atividade do RN,
aumentando quando ele está chorando, ativo ou respirando
bem rápido e diminuindo quando está quieto e respirando lentamente(14).
Nenhum RN apresentou alteração na saturação de O2, pois
todos eles foram bem assistidos quanto ao suporte ventilatório indicado. Três RN fizeram uso de ventilação mecânica (VM)
e somente um utilizou CPAP nasal (pressão positiva contínua
nas vias aéreas). Como sabemos, a VM deve ser utilizada em RN
que tem alteração na habilidade dos pulmões para manter uma
ventilação adequada; e o CPAP nasal é uma mistura de oxigênio
e ar comprimido sobre pressão continua através de dispositivos
nasais. Em RNPT e de baixo peso o CPAP ajuda a reduzir a incidência de barotrauma provocada pela ventilação mecânica(15).
Todos os RN apresentaram quadro de apnéia, bradicardia,
cianose e letargia. A apnéia, frequentemente definida como períodos sem respiração durante os quais a cor dos RN altera do
normal para diferentes graus de cianose. Pode ser considerada
1184
assim quando ocorre a cessação dos movimentos respiratórios
por mais de 15 a 20 segundos, com interrupção da respiração
acompanhada de bradicardia e/ou cianose. A apnéia ocorre
quando existem alterações no centro de controle da respiração
pelos quimiorreceptores; é normalmente observada nos prematuros, devido à imaturidade do centro respiratório(4).
Os RN, também, sofreram estresse respiratório devido a
prematuridade e dificuldade de desenvolver uma respiração
adequada. Podem ocorrer problemas quando líquidos permanecem nos pulmões ou se a perfusão de sangue para os pulmões
não aumentar; os neonatos com apnéia ao nascer ou esforço
respiratório fraco (por condições como prematuridade, anoxia
ou anestesia materna), estão predispostos ao estresse respiratório(14).
Foi observado, também, que os RN apresentaram mudança
na coloração da pele durante todos os transportes, três ficaram cianóticos e um hiperemiado. A cor da pele é o índice mais
importante da função cardiorrespitória. Uma boa cor num RN
branco significa um tom róseo avermelhado difuso, exceto por
possível cianose das mãos, pés e, ás vezes, dos lábios(4). Apesar de a gemência ser uma alteração fisiológica de desconforto
respiratório, dos RN observados somente um RN teve presente
essa característica.
grande frequência e para sua realização são necessários treinamentos e habilidades similares aos requisitados para a realização do transporte inter-hospitalar(8).
Quadro 3 – Observação acerca dos sinais emitidos pelo RN, que
indiquem quadro de alterações comportamentais do controle
térmico. MEAC, 2011.
Percebeu-se que as alterações ocorridas com os RN não foram de grande relevância, haja vista, a maioria dos neonatos
não tiveram alterações fisiológicas relacionadas ao quadro de
hipotermia. Enfatiza-se que a monitorização e a manutenção
da temperatura corporal, mantendo um ambiente térmico neutro estável, devem ser metas prioritárias da enfermagem responsável pela assistência ao RN(16).
RN
Choro
Letargia
Irritabilidade
RN 01
Não
Sim
Não
RN 02
Não
Sim
Não
RN 03
Não
Sim
Não
RN 04
Sim
Não
Sim
A observação foi realizada por quatro RN, e acerca dos sinais emitidos pelo RN que indicasse alguma alteração comportamental do controle térmico, observaram-se alterações de
choro, letargia e irritabilidade. Dos RN observados, apenas um
apresentou alterações no choro e na irritabilidade, três apresentaram quadro de letargia. O choro e definido como achados
normais e variações comuns – choro forte e achados anormais
e possíveis causas – choro fraco (dano cerebral, pressão intracraniana), choro irritante (problemas das vias respiratórias superiores) e gemido expiratório (desconforto respiratório)(15).
Consoante o Ministério da Saúde, o transporte inter-hospitalar também é utilizado para levar de volta a origem aquele RN
que não mais necessita de cuidados intensivos. A responsabilidade pela indicação desse tipo de transporte e da equipe que
presta assistência ao paciente na Unidade. Muito mais atenção
tem sido dada e estudos realizados em relação ao transporte
inter-hospitalar, comparado ao intrahospitalar. Entretanto,
deve-se lembrar que o transporte intra-hospitalar ocorre com
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na construção do estudo e das observações feitas visualizou-se que o transporte intra-hospitalar é feito com o auxílio
do maqueiro e médico neonatologista, e a presença de uma
enfermeira, atuando com resolutividade e rapidez, tendo como
meta a otimização da assistência e a qualidade de vida do bebê
internado. E que a utilização do termômetro durante o transporte, como instrumento para prevenção da termorregulação
nos RN, ainda não é uma prioridade de cuidado.
Importante pontuar que a distância entre o CO e a UTIN deveria ser menor e projetada corretamente para propiciar menos
risco ao RN e ajudar a equipe de enfermagem a oferecer um trabalho mais humanizado e coerente, considerando a fragilidade
que esse paciente apresenta durante sua internação hospitalar.
Recomenda-se, portanto, maior sensibilização da equipe por
meio da educação permanente, mostrando a importância do
uso do transporte intra-hospitalar para o controle da termorregulação do RN, tendo como meta uma melhoria da assistência e
a qualidade de vida do mesmo.
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Recebido em: 18.01.2014
Aprovado em: 15.02.2014
Transporte Intra-Hospitalar do recém-nascido
de risco: cuidados na termorregulação
RETEP - Rev. Tendên. da Enferm. Profis.,
2014; 6(1): 1180-1185
1185
QUALIDADE DE VIDA À PESSOA COM DOENÇA PULMONAR
INTERSTICIAL: UMA PROPOSTA DA ENFERMAGEM
QUALITY OF LIFE TO PERSON WITH INTERSTITIAL LUNG DISEASE: A PROPOSAL OF NURSING
Artigo Original
Kleyriane Câmara Castelo Branco1
Camila Lima Ribeiro2
Naiana Cristina Nascimento dos Santos2
Fernanda Rachel Pereira de Moraes Trindade2
Ana Patrícia Paiva Souza2
Virna Ribeiro Feitosa Cestari3
Ana Paula Almeida Dias da Silva4
RESUMO
Trata-se de um relato de experiência, cujo objetivo foi aplicar o processo de enfermagem ao paciente com Doença Pulmonar Intersticial (DPI). O estudo foi aplicado em um hospital público localizado em Fortaleza-CE, em 2013. A coleta de dados
deu-se através da observação, entrevista de enfermagem, realização do exame físico e consulta ao prontuário do paciente. A
análise dos dados baseou-se no levantamento dos diagnósticos
e intervenções de enfermagem pertinentes. Os diagnósticos de
enfermagem encontrados foram: Risco de infecção; Padrão de
sono perturbado; Intolerância à atividade; e Nutrição desequilibrada: menos que as necessidades corporais. A aplicação do
processo de enfermagem proporcionou uma melhora no padrão
de resposta do paciente à doença, permitindo, ainda, uma assistência individualizada e de qualidade.
Palavras-chave: Processos de Enfermagem; Alveolite Alérgica
Extrínseca; Doenças Pulmonares Intersticiais; Assistência Domiciliar.
ABSTRACT
This is an experience report that aimed to apply the nursing
process to a patient with interstitial lung disease. We applied
the case study in a public hospital in Fortaleza-CE, Brazil, in
2013. Data collection took place through observation, nursing
interview, physical examination, and consultation of the
patient’s record. Data analysis occurred based on the survey
of relevant nursing diagnoses and interventions. We found the
following nursing diagnoses: Risk of infection; Sleep pattern
disturbance; Activity intolerance; and Imbalanced nutrition: less
than body requirements. The application of the nursing process
improved the patient response pattern to the disease, also
enabling an individualized and quality care.
Keywords: Nursing Process; Extrinsic Allergic Alveolitis; Interstitial Lung Diseases; Home Nursing.
INTRODUÇÃO
As doenças respiratórias constituem importante causa de
adoecimento e morte em adultos e crianças no mundo. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), estas doenças representam cerca de 8% do total de mortes em países
desenvolvidos e 5% em países em desenvolvimento(1).
As Doenças Pulmonares Intersticiais (DPI) compreendem
grupos diversos de doenças pulmonares que produzem alterações inflamatórias e fibróticas similares nos interstícios
ou nos septos interalveolares. Como resultam em um pulmão
rígido e não complacente, as doenças pulmonares intersticiais são comumente classificadas como doenças pulmonares restritivas(2).
As DPI podem ser ocorrer devido a inúmeras causas e, por
serem raras, o diagnóstico e a terapêutica permanecem um
desafio. De acordo com a nova Diretriz de Doenças Pulmonares
e Intersticiais da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, as doenças mais conhecidas nesse grupo são a fibrose
pulmonar idiopática, a pneumonite de hipersensibilidade, a
sarcoidose, a pneumonia intersticial não específica, as doenças
ocupacionais, a pneumonia em organização e as bronquiolites
diversas(3).
Acadêmica do Curso de Graduação em Enfermagem pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR)
Acadêmica do Curso de Graduação em Enfermagem pela UNIFOR.
3
Acadêmica do Curso de Graduação em Enfermagem pela UNIFOR. Membro do grupo de pesquisa Epidemiologia, Cuidado em Cronicidades e Enfermagem
(GRUPECCE) da Universidade Estadual do Ceará (UECE).
4
Enfermeira do Hospital Dr. Carlos Alberto Studart Gomes/SESA. Docente da UNIFOR. Coordenadora da disciplina de Enfermagem em Clínica Geral e Cirúrgica I. Mestre em Enfermagem em Cuidados Clínicos pela UECE.
1
2
1186
A pneumonite de hipersensibilidade (PH) ou alveolite
alérgica extrínseca é uma síndrome clínica complexa, com
intensidade, apresentação clinica e evolução variável, cuja
inflamação no parênquima pulmonar é causada pela inalação de antígenos específicos em indivíduos previamente
sensibilizados. A forma crônica da doença cursa com dispneia e fibrose progressivas, padrão restritivo em testes funcionais pulmonares e pior prognostico, representando um
desafio diagnóstico no diferencial com outras pneumopatias
intersticiais idiopáticas(4).
A PH é causada mais comumente pelo mofo e pássaros. Outras causas citadas pela literatura são de origem ocupacional,
exposição à Mycobacterium avium e às micobactérias encontradas em óleo de corte utilizado no resfriamento de peças metalúrgicas(3).
Devido à complexidade da doença e suas repercussões para
a qualidade de vida dos indivíduos acometidos, evidencia-se a
importância da realização de uma avaliação criteriosa da função respiratória e um bom julgamento clínico sobre as manifestações apresentadas. Nesse interim, destaca-se a importância
da continuidade da assistência a nível domiciliar.
O conceito de assistência domiciliar à saúde é o tratamento na casa do doente que foi hospitalizado e que teve sua alta
abreviada é o mais difundido entre os profissionais e os gestores de saúde(5). O Programa de Atendimento Domiciliar (PAD)
representa uma estratégia de atenção à saúde que engloba
muito mais do que o simples fornecimento de um tratamento
padronizado. É um método aplicado ao cliente que enfatiza
sua autonomia e esforça-se em aumentar suas habilidades funcionais dentro do seu próprio ambiente(6). Desta forma, foca a
recuperação do cliente, para que este tenha uma melhor qualidade de vida(7).
No Brasil, o desenvolvimento da assistência domiciliária
manteve estreita relação com a enfermagem. Por estar inserido
no contexto familiar, em que a constante avaliação, visão crítica, planejamento e readaptação são necessários diante das
diversas dinâmicas familiares existentes, para então estabelecer um cuidado compreensível e adequado ao indivíduo em comunidade, o enfermeiro da PAD importante prática de trabalho
em enfermagem(8).
O presente estudo foi elaborado com o intuito de proporcionar a melhoria na qualidade de vida de pacientes com tal
patologia, buscando relacionar o conhecimento científico e o
poder prático durante toda assistência de enfermagem a este
paciente até o momento de sua alta, elaborando intervenções
para uma melhor qualidade de serviço prestado no PAD.
Diante do exposto, objetivou-se aplicar o processo de enfermagem ao paciente com Doença Pulmonar Intersticial (DPI).
METODOLOGIA
Trata-se de um relato de experiência, realizado em um hospital de referência em atendimento a doenças cardiopulmonares, localizado em Fortaleza-CE, no período de março a maio de
2013. O sujeito do estudo foi um paciente do sexo masculino
Qualidade de vida à pessoa com doença pulmonar
intersticial: uma proposta da Enfermagem
com diagnóstico médico de DPI – pneumonite de hipersensibilidade.
A técnica utilizada para coleta de dados foi o PE, fundamentado em Orem, através da observação, entrevista de enfermagem, realização do exame físico e consulta ao prontuário do
paciente.
A análise dos dados ocorreu de acordo com os fatores determinantes no desenvolvimento do autocuidado, com o que
se propõe a teoria, e de forma qualitativa, onde há uma maior
preocupação com o aprofundamento e abrangência da compreensão das ações e relações humanas. Os dados foram organizados e interpretados descritivamente de acordo com a literatura
pertinente ao tema.
Os problemas e diagnósticos de enfermagem foram classificados conforme taxonomia II da North American Nursing Diagnosis Association (NANDA)(9), uma vez que estes representam
a base para a seleção de intervenções e resultados terapêuticos. Após conhecimento dos diagnósticos de enfermagem, foram elaboradas as intervenções cabíveis baseadas na Nursing
Interventions Classifications (NIC) (10).
Para avaliar a eficácia das intervenções, de forma a justificar a sua manutenção ou realizar as alterações necessárias,
utilizaram-se os resultados propostos pela Nursing Outcomes
Classification (NOC) (11). Os resultados definem um estado do
paciente em um determinado momento ou tempo e serve como
indicador para avaliar a melhora ou piora do estado clínico.
Foram respeitados os aspectos éticos e legais recomendados pela Resolução 466/12, referentes a estudos envolvendo
seres humanos. Foi resguardado o anonimato do paciente e o
mesmo assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
RESULTADOS
Apresentação do caso
MMNF, sexo masculino, 36 anos, branco, católico, casado, trabalha como zelador. Encaminhado de uma unidade de atenção primária ao ambulatório de pneumologia de
hospital terciário para elucidação diagnóstica. Refere ter
iniciado há sete meses quadro de dispneia progressiva aos
pequenos esforços, cianose de extremidades, calafrios e febre não mensurada, tosse seca persistente, dificuldade de
espirrar, irritação no nariz, poliartralgia difusa, emagrecimento (25Kg em 6 meses), astenia, adinamia e anorexia.
Bebe socialmente, nega fumo e drogas, sem antecedentes
patológicos nem hábitos medicamentosos relevantes, viagens recentes ou contato com indivíduos doentes; reside
em habitação urbana com boas condições sanitárias, sem ar
condicionado, tendo contato com animais (pássaros e morcegos) há 1 ano, sem história de tuberculose. Estado geral
bom, pesando 62 kg e altura de 1,62m. Paciente consciente,
orientado, verbalizando suas necessidades humanas básicas
(NHB), interage bem com a equipe prestadora de cuidados e
outros pacientes, deambulando sem dificuldades, aceita dieta oferecida, higienizado, refere insônia intercalada e repouso
RETEP - Rev. Tendên. da Enferm. Profis.,
2014; 6(1): 1186-1190
1187
inadequado. Ao exame físico: eupneico (R=20mrpm), afebril
(T.axilar=36,1ºC), normocárdico (P=67bpm), normotenso
(P.A.=120x80mmHg). Pele lisa, regular, hidratada, firme,
bom turgor. Observou-se presença de cáries dentárias em
alguns dentes, presença de prótese dentária inferior, relata
dor na articulação temporomandibular a mastigação. Tórax
simétrico, sem abaulamentos e/ou retrações; expansibilidade torácica preservada e simétrica. Ausculta pulmonar:
murmúrios vesiculares presentes e audíveis em todo campo pulmonar, estertores crepitantes em nível de lobo inferior do pulmão direito. Ausculta cardíaca: bulhas cardíacas
presentes audíveis e normofonéticas, em dois tempos, sem
sopro. Avaliação abdominal: ruídos hidroaéreos presentes,
abdômen globoso, flácido, sons timpânicos nas regiões epigástrica, hipocondríaca esquerda e flanco esquerdo.
O paciente relatou que, em janeiro de 2013, foi internado
e submetido a uma toracotomia exploradora para elucidação
diagnóstica pela segmentectomia pulmonar esquerda. O proce-
dimento transcorreu sem intercorrências e o paciente teve boa
evolução pós-operatória. O laudo revelou lesão epitelial com
formação de focos fibroblásticos na parede bronquiolar, ductos
e alvéolos. Tanto o lobo superior quanto o inferior do pulmão
esquerdo apresentaram elementos de pneumonia intersticial
difusa e acentuada.
Plano de cuidados de Enfermagem
As atividades de enfermagem realizadas com o paciente
tiveram como base o processo de enfermagem, envolvendo as
etapas: histórico, diagnóstico, prescrição, implementação e
evolução(12).
No presente estudo, observou-se que a paciente necessitava de cuidados para a melhora do seu quadro clínico. Deste
modo, procurou-se desenvolver um plano de cuidados que estivesse de acordo com a realidade do paciente e da instituição.
Quadro 1 – Identificação dos problemas e elaboração dos diagnósticos e intervenções de enfermagem e resultados esperados.
Fortaleza, 2013.
Problemas
Diagnósticos de
Enfermagem
Intervenções de
Enfermagem
Resultados
Esperados
Controle e detecção
de riscos; integridade
tissular e cicatrização
de feridas por primeira
intenção.
Uso de drenos,
acessos venosos
e cateterismo
vesical
Risco de infecção
relacionado a
procedimentos invasivos
Supervisionar e investigar quanto a presença
de sinais flogísticos na pele, locais de acesso,
inserção dos drenos e suturas; cuidar da sutura
cirúrgica; realizar curativos; controlar nutrição.
Insônia
Padrão de sono
perturbado relacionado à
preocupação com a saúde,
falta de privacidade e
controle do sono
Identificar fatores causadores; avaliar padrão
e transtornos do sono; proporcionar ambiente
Ritmo de sono e repouso
tranquilo; reduzir ansiedade; ajudar o cliente a
adequados.
elaborar um programa individual de relaxamento.
Cansaço
Intolerância à atividade
relacionada à fadiga,
hipoxemia e padrões
respiratórios ineficazes
Avaliar as limitações percebidas e reais
do cliente e a gravidade do déficit em
comparação com o estado habitual; avaliar
resposta cardiorrespiratória à atividade física;
modificações no plano de cuidados baseados
nos resultados da avaliação ou reavaliação;
encaminhamento para reabilitação pulmonar.
Realizar atividade
de acordo com a sua
tolerância.
Emagrecimento
progressivo
Nutrição desequilibrada:
menos que as
necessidades corporais
relacionadas à dispneia e
inapetência
Conversar sobre os hábitos dietéticos, inclusive
preferências, intolerâncias ou aversões
alimentares; Avaliar as capacidades do cliente
para mastigar, engolir e sentir o paladar dos
alimentos; Elaborar um programa de mudança
comportamental, com participação do cliente,
que seja apropriado às necessidades específicas.
Ingestão da exigência
nutricional diária, de
acordo com seu nível de
atividade e necessidades
metabólicas.
1188
DISCUSSÃO
Baseando-se na anamnese, achados clínicos, radiológicos,
laboratoriais, prova de função pulmonar e resultado histopatológico a equipe médica responsável pelo doente em questão
concluiu que o mesmo apresentou quadro clássico de pneumonite de hipersensibilidade. A partir de dados colhidos sabe-se
que esta entidade clínica pode apresentar-se de forma aguda,
subaguda ou crônica. O paciente enquadrou-se na forma crônica, com ausência de baqueteamento digital(3).
Durante o período de hospitalização do sujeito do estudo
foi possível observar nas anotações do prontuário e no ato da
entrevista, os problemas que o mesmo já enfrentava, devido a
PH tanto no âmbito social, familiar, como profissional e, assim,
poder traçar uma assistência de qualidade para a preparação da
alta do mesmo, já que pacientes que portam DPI –PH precisarão
do auxílio do PAD.
A assistência de enfermagem teve como papel principal
encorajar esse paciente a se inserir moderadamente em atividades que não traga grandes riscos e que o mantenha confortável perante sua patologia. É de suma importância que a
enfermagem trabalhe juntamente com esse paciente na busca
de alternativas para que o mesmo não venha a ser acometido
por outros problemas, melhorando, portanto, a qualidade de
vida do paciente com PH(13).
O conhecimento é, sem dúvida, um dos valores de grande
importância para o agir profissional do enfermeiro uma vez que
confere aos profissionais segurança na tomada de decisões relacionadas ao paciente, a sua equipe e às atividades administrativas da unidade. Isso se reflete na equipe de enfermagem,
haja vista que esta tem o enfermeiro como condutor(14).
A abordagem das doenças pulmonares intersticiais (DPIs)
constitui um grande desafio para os profissionais da saúde em
função do grande número de patologias encontradas nesse
grupo, que podem envolver os pulmões de maneira primária ou
secundária, com apresentação clínica, radiológica e histológica variada. Além disso, frequentemente o diagnóstico das DPIs
acontece tardiamente, não apenas pelo desconhecimento do
profissional em relação a diversos fatores, como epidemiologia,
fisiopatologia e critérios para confirmação diagnóstica, mas
também pela limitação dos recursos locais, o que muitas vezes
interfere negativamente nas possibilidades terapêuticas(2).
Neste estudo verificou-se que o paciente apresentou alterações respiratórias progressivas. Em decorrência do comprometimento da função pulmonar a maioria dos portadores de DPI,
com o passar dos anos, apresenta várias limitações causadas
pela doença, tornando-se menos ativos e dependentes de outras pessoas(3).
A maioria dos pacientes apresenta agravamento gradual da
função pulmonar com o passar do tempo, podendo referir episódios de agravamento funcional sem infecção ou outra causa
clínica aparente. O sintoma mais comum relatado pelos pacientes é falta de ar.
À medida que a doença evolui e os danos aos pulmões se
tornam mais graves, o paciente pode sentir falta de ar com
Qualidade de vida à pessoa com doença pulmonar
intersticial: uma proposta da Enfermagem
atividades físicas leves, como tomar banho, vestir-se, falar ao
telefone e durante a alimentação(4).
A relação mútua entre o sono e essas doenças foi poucas
vezes estudada. Existem evidências de baixa qualidade de sono
que se associam à baixa qualidade de vida nesses pacientes.
Existe unanimidade pela alteração da arquitetura do sono, com
redução da eficiência do sono, aumento proporcional do estágio 1, redução do sono REM com latência prolongada e maior
número de despertares. A partir dessa limitação podem surgir
outros problemas como a depressão, ansiedade, isolamento(15).
A desnutrição é característica frequente em pacientes com
doença pulmonar crônica, estando associada tanto com morbidade quanto mortalidade aumentadas nesses pacientes. Vários fatores contribuem para essa situação, como a diminuição
na ingestão calórica por alteração na regulação do apetite, o
desconforto causado pela dispneia relacionada com mediadores inflamatórios, que ainda induzem resistência à insulina e
ao hormônio de crescimento. Os pacientes podem encontrar-se
hipermetabólicos, em razão do aumento do trabalho respiratório. Idade, inatividade física, hipóxia e uso de medicamentos,
principalmente os corticoides estão também relacionados com
a perda de peso e a diminuição da massa magra, inclusive do
músculo diafragma, levando à retenção de CO2(16).
A tosse frequente, relatada pelo paciente, pode causar um
impacto consideravelmente negativo na qualidade de vida,
como exaustão física, insônia, perspiração excessiva, dor de
cabeça, ver¬tigem, fadiga muscular, afonia ou disfonia, e incontinência urinária(17).
Conjugar uma doença crônica com qualidade de vida tem
sido desafio compartilhado entre alguns profissionais da saúde
e pessoas que vivenciam a doença crônica e seus familiares. A
preocupação com a qualidade de vida das pessoas em condição
crônica de saúde tem sido constantemente explorada na literatura científica(18).
Evidencia-se a necessidade de um maior comprometimento
com a qualidade de vida dos indivíduos portadores de doenças crônicas, procurando estratégias que favoreçam um viver
mais saudável. A PAD possibilita a desinstitucionalização de
pacientes que se encontram internados nos serviços hospitalares, além de evitar hospitalizações desnecessárias a partir
de serviços de pronto-atendimento e de apoiar as equipes de
atenção básica no cuidado àqueles pacientes que necessitam
(e se beneficiam) de atenção à saúde prestada no domicílio, de
acordo com os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), em
especial, acesso, acolhimento e humanização(19).
Em relação à Enfermagem, o desenvolvimento do PAD surge
como uma oportunidade para o aperfeiçoamento da profissão,
colocando-a mais próxima do cliente e da comunidade, oferecendo-lhe a oportunidade de transformação no estilo de vida
dos usuários e aproximando-a do cenário no qual se inicia o
processo de saúde/doença(6).
Após implementação de todas as intervenções mencionadas, ressalta-se que todos os resultados esperados foram
alcançados, comprovando a importância de uma assistência
RETEP - Rev. Tendên. da Enferm. Profis.,
2014; 6(1): 1186-1190
1189
sistematizada. O plano de alta hospitalar contou com várias
orientações ao paciente e seus familiares, para que houvesse
continuidade dos cuidados instituídos no plano assistencial de
enfermagem.
CONCLUSÕES
Podemos concluir com esse estudo que as DPI constituem
patologias de difícil manejo para os profissionais da área de
saúde, visto que podem envolver os pulmões de maneira primária ou secundária com apresentação clínica, radiológica e histológica variada. Além do mais o diagnóstico tende a ocorrer
tardiamente, dificultando mais ainda a prestação da assistência ao paciente.
As intervenções de enfermagem devem envolver não só o
cliente, como a família, visto que, com o passar dos anos, os
portadores passam a apresentar várias limitações, se tornando
menos ativos e mais dependentes de outras pessoas.
Perante o quadro clínico exposto, nota-se a importância do
conhecimento do profissional de enfermagem sobre as DPIs e
como prestar a devida assistência a estes pacientes para que os
mesmos possam ter uma melhora nos sintomas apresentados e
consequentemente uma melhor qualidade de vida.
O PAD revela-se de grande relevância para uma assistência
adequada ao cliente, uma vez que os cuidados tem continuidade em sua residência, promovendo a continuação do tratamento.
A aplicação da SAE foi de suma importância para a elaboração de um plano de intervenções que visaram o atendimento
individualizado e humanizado.
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ENFOQUE AO PAPANICOLAOU DURANTE O PRÉ-NATAL:
REFLEXÕES A PARTIR DE UMA REVISÃO NARRATIVA
APPROACH TO PAPANICOLAU DURING PRENATAL: REFLECTIONS FROM A NARRATIVE REVIEW
Artigo de Revisão
Maria Weilany Silva Bezerra1
Mônica Cecília Pimentel de Melo2
RESUMO
O objetivo foi discorrer sobre a relevância do Papanicolaou
em gestantes, a partir de uma revisão narrativa da literatura.
Estudo de atualização, com enfoque qualitativo, do tipo revisão narrativa, na qual, fundamentou-se em literaturas que
contribuíssem para uma maior visibilidade do exame preventivo ginecológico durante o pré-natal. A literatura mostra que o
exame de citologia é reconhecido como um método eficaz para
o controle do câncer de colo uterino e que tal exame deve ser
solicitado no pré natal com o objetivo de promover o diagnóstico precoce dessa neoplasia. Os profissionais de saúde devem
estar atentos para não perder a oportunidade de solicitar e
ressaltar a importância do exame citológico durante o período
gestacional, pois essa ação permite uma maior garantia de promoção, prevenção e detecção precoce de agravos. Além disso,
fazem-se necessários constantes investimentos em atividades
educativas com o objetivo de sensibilizar as mulheres para a
adesão ao exame.
Palavras-chave: Gestantes; Saúde da Mulher; Teste de Papanicolaou; Cuidado Pré-Natal.
ABSTRACT
The goal was to address the relevance of Papanicolaou in
pregnant women, from a narrative review of the literature.
Update study with qualitative approach, the revision type
narrative in which, was based on literature that contributes to a
greater visibility of preventive gynecological examination during
prenatal care. The literature shows that cytology examination
is recognized as an effective method for the control of cervical
cancer and that such a test should be requested in prenatal
aiming to promote early diagnosis of this neoplasm. Healthcare
1
2
professionals should be alert to not miss the opportunity to apply
for and highlight the importance of cytological examination
during pregnancy because this action allows a greater guarantee
of promotion, prevention and early detection of diseases.
Moreover, they become necessary ongoing investments in
educational activities aimed at sensitizing women to join the
exam.
Keywords: Pregnant Women; Women’s Health; Papanicolaou
Test; Prenatal Care.
INTRODUÇÃO
A gestação pode ser considerada um fator de risco para a
neoplasia da cérvix uterina, uma vez que gera um desequilíbrio
na flora vaginal, favorecendo o desenvolvimento, tanto do Papiloma Vírus Humano (HPV), quanto de outros agentes infecciosos, porém a incidência não é alterada pela gestação. Ocorre
que este câncer tem alta incidência de detecção na gravidez,
devido à procura destas mulheres pelos serviços de saúde para
a realização do pré-natal(1).
Com o intuito de reduzir a morbimortalidade materna, com
a garantia de um acompanhamento de qualidade para gestantes, o Ministério da Saúde implantou o Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento (PHPN), instituído através das
Portarias GM nº 569, GM nº 570, GM nº 571 e GM nº 572 de 1
de junho de dois mil, no qual, fundamenta-se no direito à humanização da assistência obstétrica e neonatal como condição
inicial para o adequado acompanhamento do binômio mãe-filho(2-3).
Nesse sentido, o PHPN afirma que garantir uma assistência
adequada significa prevenir, diagnosticar e tratar os eventos
indesejáveis na gestação, visando o bem-estar da gestante e
Enfermeira. Pós-graduada em Saúde Pública pela Universidade Estácio de Sá.
Enfermeira. Mestre em Enfermagem na Atenção à Saúde da Mulher pela UFBA. Doutoranda do Programa de Pós-graduação Educação em Ciências pela
UFRGS/FURG/UFSM. Docente em Enfermagem em Saúde da Mulher e Gênero da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF). E-mail: [email protected]
Enfoque ao Papanicolaou durante o pré-natal:
reflexões a partir de uma revisão narrativa
RETEP - Rev. Tendên. da Enferm. Profis.,
2014; 6(1): 1191-1195
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de seu concepto, bem como, atuar de forma efetiva nas intercorrências do parto e realizar orientações sobre os cuidados
puerperais e imediatos com o neonato(4).
A garantia de uma atenção qualificada e humanizada no
pré-natal se dá por meio de ações que integrem todos os níveis
da atenção, desde a assistência ambulatorial básica, ao atendimento hospitalar de alto risco. Dessa forma, o programa ainda
destaca como principais ações a captação precoce das gestantes com realização da primeira consulta de pré-natal até 120
dias da gestação, com realização de no mínimo 6 consultas,
incluindo anamnese e exame clínico-obstétrico e a solicitação
de exames de rotina. Nesse ensejo, alguns exames complementares podem ser adicionados aos habituais, dentre eles, o
exame de colpocitologia oncótica ou também denominado de
preventivo ginecológico ou Papanicolaou(5).
A solicitação do exame de citologia oncótica na oportunidade da consulta pré-natal se mostra com a finalidade de aproveitar a presença espontânea da mulher na unidade, pois muitas vezes, o pré-natal é o único momento em que a mesma frequenta o serviço de saúde5. Tal exame consiste em uma técnica
de baixo custo e alto poder de prevenção e detecção precoce do
câncer cérvico-uterino e suas lesões precursoras.
Tendo em vista que o câncer de colo de útero possui um bom
prognóstico, desde que diagnosticado e tratado precocemente,
o pré-natal pode ser um aliado nas ações de promoção à saúde,
num reforço de atenção integral à saúde feminina, através do
rastreamento de mulheres para a realização do exame Papanicolaou. Diante desse pressuposto, levantou-se como objeto de
estudo: valimento do Papanicolaou durante o pré-natal. Como
questão de pesquisa considerou-se: qual a significância atribuída ao Papanicolaou no pré-natal à luz da literatura? Logo,
apresentou-se como objetivo: discorrer sobre a relevância do
Papanicolaou em gestantes, a partir de uma revisão narrativa
da literatura.
Nessa perspectiva, fica evidente que o desenvolvimento
desse estudo é relevante para a diminuição do número de casos
de câncer de colo do útero, pois se propõe a evidenciar ações de
promoção à saúde e rastreamento desse tipo de câncer, como
atividades integrantes do pré-natal, aproveitando para expandir um momento que seria de cuidados com a gestação, para um
momento de cuidados com o corpo, na perspectiva da integralidade da saúde feminina.
METODOLOGIA
Estudo de atualização, com enfoque qualitativo, do tipo
revisão narrativa, na qual, fundamentou-se em literaturas que
contribuíssem para uma maior visibilidade do exame preventivo ginecológico durante o pré-natal.
A seleção dos artigos deu-se a partir de leitura e reflexão
sobre material bibliográfico que fundamentou o objeto desse
estudo, analisados a partir de princípios articulados à detecção das afecções ginecológicas, às políticas de atenção à saúde
das mulheres e às ações de promoção à saúde no pré-natal para
prevenção do câncer de colo uterino.
1192
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Esse capítulo expõe a fundamentação da literatura dividida
em três subcapítulos.
3.1 Papanicolaou e sua eficácia na detecção de afecções
ginecológicas
O câncer de colo uterino é o segundo tipo de tumor mais
frequente na população feminina, atrás apenas do câncer de
mama, constituindo-se na quarta causa de morte em mulheres
por câncer no Brasil. Esta neoplasia é responsável por 4.800
vítimas fatais por ano e 18.430 casos novos/ano. Embora tenha
grandes possibilidades de cura é considerado um grande problema de saúde pública(6).
Trata-se de uma doença com progressão lenta que apresenta fases pré-invasivas e benignas, caracterizadas por lesões
conhecidas como Neoplasias Intra-epiteliais Cervicais (NIC) e
fases invasivas, malignas, caracterizadas pela presença de uma
lesão cervical que pode atingir os tecidos externos do colo do
útero, incluindo as glândulas linfáticas anteriores ao sacro(7).
O carcinoma da cérvice uterina, conhecido como câncer de
colo uterino possui aspectos epidemiológicos, etiológicos e
evolutivos bem definidos para sua detecção. Estima-se que em
80% dos casos podem ser tratados no ambulatório e, quando
diagnosticado precocemente, a probabilidade de cura é de quase 100%(8).
Nesse sentido, a melhor forma de chegar a essas possibilidades de cura do câncer de colo uterino é através das estratégias para a prevenção, podendo ser utilizada a forma de prevenção primária que consiste no uso dos condons femininos e
masculinos durante as relações sexuais, tendo em vista que a
infecção pelo HPV é a principal causa do câncer de colo de útero, pois este se encontra presente em 90% dos casos da doença.
Já a prevenção secundária é realizada por meio do exame preventivo ou Papanicolaou para a detecção precoce da doença(9).
As estratégias de prevenção secundária ao câncer de colo
do útero consistem no diagnóstico precoce das lesões de colo
uterino antes que estas se tornem invasivas. É realizada a partir
de técnicas de rastreamento ou screening, dentre elas, as mais
conhecidas são a citologia oncótica ou Papanicolaou, colposcopia, cervicografia e, mais recentemente, os testes de detecção
do DNA do Papiloma Vírus Humano em esfregaços citológicos.
No entanto, o exame preventivo é considerado o mais efetivo e
eficiente dentre os métodos de detecção utilizados nos programas de rastreamento do câncer de colo de útero(10).
Nesse contexto, o exame de citologia oncótica é uma das
estratégias públicas mais seguras, de baixo custo e alta sensibilidade para detecção precoce dessa neoplasia. Os programas de rastreamento ou screening sistemático da população
feminina por meio do exame citopatológico ou Papanicolaou é
considerado um marco, alcançado para a prevenção dessa neoplasia, devido à capacidade de detectar precocemente anormalidades celulares, que resulta na redução da incidência e da
mortalidade pela doença(11).
O Papanicolaou é disponibilizado nas estratégias saúde da
família com o intuito de garantir à promoção na saúde da mulher e com o objetivo de detectar precocemente as afecções ginecológicas. De acordo com o Ministério da Saúde10, o exame
deve ser oferecido anualmente às mulheres entre 25 e 64 anos,
ou que já iniciaram a atividade sexual antes dessa faixa etária,
sendo que após duas coletas anuais negativas para displasia ou
neoplasia a mulher pode realizar o exame a cada três anos.
O preventivo ginecológico é reconhecido como um método
eficaz para o controle do câncer de colo uterino. No entanto,
apesar de todos os esforços realizados na tentativa de prevenir
essa doença, as ações voltadas para prevenção têm-se mostrado ineficazes no que diz respeito ao número de coletas do
citopatológico, ao aumento da morbidade pela doença e, principalmente, a escassez de ações voltadas para a educação em
saúde, em que o controle do câncer depende essencialmente de
ações voltadas para promoção da saúde, proteção específica e
diagnóstico precoce.
O fato da incidência por esse câncer se manter quase inalterado pode ser explicado por diversos fatores como: a dificuldade das mulheres no acesso aos serviços de saúde para a realização do exame de Papanicolaou, a falta de oportunidade que a
mulher tem para conversar a respeito de si e da sua sexualidade, bem como, o desconhecimento sobre a doença somado aos
tabus e às ideias preconceituosas sobre o corpo feminino(12).
Assim, o profissional de saúde, ao realizar o preventivo,
precisa perceber que a mulher, quando submetida ao exame,
leva consigo mais do que um corpo. Ela leva sua história, seus
valores, seus sentimentos, suas angústias, suas vivências, seus
medos, seu conhecimento e o seu desconhecimento. Portanto,
a vivência de um procedimento, que pode parecer simples e comum na ótica dos profissionais, para muitas mulheres pode ser
uma experiência difícil e constrangedora(13).
Desse modo, é de responsabilidade dos profissionais de
saúde, na realização do preventivo, esclarecer dúvidas, proporcionar um ambiente confortável, livre de julgamentos morais,
com o intuito de sensibilizar as mulheres para importância da
realização periódica do Papanicolaou, pois essa prática promove o diagnóstico precoce do câncer de colo de útero, possibilitando o tratamento em fase inicial, e consequentemente, a
diminuição da morbimortalidade feminina(13-14).
3.2 Papanicolaou em gestantes sob o enfoque das políticas de atenção à saúde da mulher
No Brasil, a saúde da mulher foi incorporada às políticas
nacionais de saúde nas primeiras décadas do século XX, tendo
enfoque apenas nas questões relativas ao período gestacional e
ao pós-parto, constituindo-se em uma forma limitada de assistência a saúde, baseada apenas nas especificidades biológicas
e no papel social de mãe e doméstica, responsável pela criação,
educação e cuidado com a saúde dos filhos e demais membros
familiares(15).
Nesse sentido, com o intuito de garantir assistência à saúde
da mulher em todo ciclo vital foi criado em 1984 o Programa de
Enfoque ao Papanicolaou durante o pré-natal:
reflexões a partir de uma revisão narrativa
Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), que propunha
o cuidado ampliado da saúde feminina, tanto no ciclo gravídico, quanto puerperal, destacando-se a prevenção dos cânceres
do colo de útero e de mama(16).
Ainda no tocante as políticas de atenção à saúde da mulher o Instituto Nacional do Câncer (INCA) implantou em 1997,
no Brasil, o Programa de Prevenção de Câncer de Colo Uterino, denominado Viva Mulher, o qual consiste no rastreamento
anual para o carcinoma da cérvix uterina através do teste de
Papanicolaou. Em 2001, o controle do câncer de colo uterino
foi incluído como uma das atividades inerentes à área da Saúde
da Mulher, definida como uma estratégia a ser desenvolvida na
atenção primária(17).
Após a análise da situação de saúde no país, em 2005, foi
criado um Plano de Ação para o Controle dos Cânceres de Colo
e de Mama, fundamentado no aumento da cobertura da população-alvo e no fortalecimento do sistema de informação, bem
como, na capacitação dos profissionais da atenção primária
para a garantia da qualidade da assistência e do aumento de
pesquisas referentes a essas neoplasias(17).
No tocante as ações das políticas públicas de saúde de prevenção do câncer de colo uterino em gestantes, o Ministério
da Saúde10 afirma que o exame deve ser realizado na gravidez
com o intuito de aproveitar a presença da mulher no pré-natal. O Papanicolaou pode ser feito em qualquer fase do período
gestacional, preferencialmente, até o 7º mês de gestação, no
entanto, o material deve ser coletado apenas da ectocérvice,
com a espátula de Ayres(10).
Portanto, a gravidez pode ser considerada um fator de risco
para o câncer de colo uterino devido a um aumento na vulnerabilidade ao HPV e a outros agentes infecciosos. Este aumento
na incidência pode ser explicado pela baixa imunidade celular
ou pela modificação dos hormônios esteróides durante a gestação18. Assim, justifica-se a necessidade da inserção cuidadosa
pelos profissionais de saúde na solicitação do preventivo durante o pré-natal, com o objetivo de promover o diagnóstico
e o tratamento dessa neoplasia, bem como reduzir os riscos
maternos e fetais(5).
As lesões pelo HPV podem atingir grandes proporções maternas, devido a um aumento na vascularização do tecido ou
alterações hormonais e imunológicas que ocorrem nesse período, causando riscos para a mãe e para o feto. A via de transmissão transplacentária ainda é algo controverso, mas sabe-se
que os tipos 6 e 11 do HPV, podem causar no recém-nascido a
papilomatose laringeal, que apesar de ser uma condição rara,
não se pode negligenciar essa possibilidade. O principal risco
materno apontado na literatura é a obstrução do canal de parto vaginal que pode ocasionar sangramento excessivo, sendo,
nesses casos, indicado a via cesariana(19).
No entanto, apesar de todas as tentativas, políticas e ações
voltadas para prevenção primária e detecção precoce de agravos, as estratégias utilizadas para a prevenção e o controle de
neoplasias e agravos não transmissíveis, ainda constitui-se em
um grande desafio para os países em desenvolvimento, tendo
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2014; 6(1): 1191-1195
1193
em vista o grande impacto que os cânceres causam na saúde
pública.
3.3 Ações do pré-natal na prevenção do câncer de colo
uterino
Atenção básica caracteriza-se por desenvolver ações que
abordam a promoção, a prevenção, o diagnóstico, o tratamento
e a reabilitação da saúde. Essas ações são realizadas através de
práticas gerenciais e sanitárias, democráticas e participativas,
contando com uma equipe multiprofissional e interdisciplinar,
dirigidas a populações de territórios bem definidos, considerando as especificidades da população, a fim de interferir no
processo saúde-doença(20).
A Estratégia Saúde da Família, enquanto eixo estruturante
da atenção básica desenvolve, dentre as suas ações de atenção à saúde da mulher, o cuidado no ciclo gravídico-puerperal,
através do pré-natal. O pré-natal, enquanto subprograma do
PAISM está presente nas unidades básicas de saúde e almeja o
acompanhamento de gestantes desde o início da gravidez, visando o cuidado integral da mãe e do seu concepto, prevenindo
problemas que podem afetar ambos durante todo período gestacional. Esses cuidados são essenciais para promover o bem-estar materno e neonatal(21).
Desse modo, as atividades de prevenção devem ser desenvolvidas aproveitando as oportunidades dos indivíduos de comparecem nas unidades de saúde. O atendimento da mulher no
pré-natal é um momento especial e nele devem ser asseguradas
as ações e as atividades de promoção e proteção, tanto da saúde da mulher, como da saúde do filho. Nesse sentido, o exame
Papanicolaou deve ser solicitado já nas primeiras consultas de
pré-natal, tendo em vista que o diagnóstico do carcinoma do
colo uterino é frequente no período gestacional(22).
As gestantes apresentam chance três vezes maior de serem
diagnosticadas como portadoras de lesões em estádio inicial
do câncer de colo, visto que nesse período os exames vaginais
são mais frequentes. Ocorre ainda, que grande parte dessas lesões é assintomática e seu diagnóstico quase sempre ocorre em
consultas de pré-natal(1).
Dos diagnósticos de câncer de colo uterino durante a gravidez 70% a 80% apresentam lesões no estádio I, enquanto que
fora do período gestacional, apenas 42% dos diagnósticos são
realizados neste estádio(1). Assim, a gravidez representa uma
excelente oportunidade para prevenção do câncer de colo uterino, devendo o exame citopatólogico fazer parte das ações
complementares da rotina do pré-natal. Esses cuidados devem
ser vistos, muitas vezes, como o único contato que uma mulher,
em idade reprodutiva, tem com o serviço de saúde.
Visto que o câncer de colo uterino é uma das neoplasias mais
frequentes durante a vida reprodutiva, é relevante aproveitar a
consulta pré-natal para o diagnóstico de suas lesões precursoras, de tal forma que cabe ao profissional de saúde solicitar o
exame preventivo logo nas primeiras consultas do pré-natal,
garantindo o acompanhamento nas consultas subsequentes, a
fim de facilitar o tratamento, caso seja necessário(23-10).
1194
No entanto, apesar da relevância da estratégia saúde da
família para a diminuição do câncer de colo uterino, o estudo
de Gonçalves et al. (2009)(23) mostra que a oportunidade de
prevenção dessa neoplasia não está sendo aproveitada em sua
totalidade nas consultas de pré-natal, fato este, que pode comprometer a saúde das gestantes.
Nesse sentido, vale ressaltar que apenas a procura por livre demanda das mulheres à unidade de saúde não é suficiente
para uma boa cobertura do exame Papanicolalou. É indispensável que os profissionais de saúde realizem atividades educativas
constantes, aproveitando melhor a presença delas em diversas
ocasiões, a fim de promover o vínculo da mulher com o profissional(24).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A literatura aponta que apesar do câncer de colo de útero
ter grande incidência e morbimortalidade, ele pode ser prevenido e tratado, quando diagnosticado precocemente, possuindo 100% de cura. Destarte, torna-se evidente a necessidade
de promover medidas que visem a sensibilização das mulheres
para a prevenção primária da doença que consiste no uso de
preservativos, já que o Papiloma Vírus Humano (HPV) é o principal responsável pela transmissão dessa neoplasia, e na prevenção secundária que é baseada na divulgação, estimulação e
adesão ao exame Papanicolaou, no qual, trata-se de um exame
simples, rápido e eficaz na detecção da doença.
Atualmente, diversos investimentos têm sido realizados
com o intuito de garantir uma assistência mais integral à saúde
feminina. No entanto, percebeu-se que apesar de todas as políticas e programas criados para saúde da mulher, na prevenção
e detecção precoce do câncer de colo de útero, essa neoplasia
ainda consiste em um grande desafio para a saúde pública, tendo em vista o impacto que a mesma causa no processo saúde-doença das mulheres de países em desenvolvimento.
No tocante a prevenção do câncer de colo de útero no pré
natal, a literatura mostrou que a Estratégia Saúde da Família
constitui-se em uma grande aliada para a detecção precoce
dessa neoplasia, pois o pré natal, muitas vezes, é o único momento em que a mulher procura os serviços de saúde regularmente, principalmente, pela postura de assumir os cuidados
com o feto em detrimento dos seus próprios cuidados.
Nesse ensejo, os profissionais de saúde devem estar atentos
para não perder a oportunidade de solicitar e ressaltar a importância do exame citológico durante o período gestacional, pois
essa ação permite uma maior garantia de promoção, prevenção
e detecção precoce de agravos. Além disso, fazem-se necessárias atuações profissionais em atividades educativas com o
objetivo de sensibilizar as mulheres para a adesão ao exame.
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23. Gonçalves CV, Costa JSD, Duarte G, Marcolin AC, Lima LCV, Garlet G, et al. Avaliação da frequência de realização do exame físico das mamas, da colpocitologia
cervical e da ultrassonografia obstétrica durante a assistência pré-natal: uma
inversão de valores. Rev. Assoc. Med. Bras. 2009;55(3)290-5. [acesso em 2013
Ago 10]. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ramb/v55n3/v55n3a21.pdf.
24. Melo MCSC, Vilela, F, Salimena, AMO, Souza, IEO. O enfermeiro na prevenção
do câncer do colo do útero: o cotidiano da atenção primária. Rev. Bras. Cancerol.
2012;58(3): 389-98. [acesso em 2013 Ago 10]. Disponível em: http://www.inca.
gov.br/rbc/n_58/v03/pdf/08_artigo_enfermeiro_prevencao_cancer_colo_
utero_cotidiano_atencao_primaria.pdf.
Recebido em: 03.01.2014
Aprovado em: 10.02.2014
Enfoque ao Papanicolaou durante o pré-natal:
reflexões a partir de uma revisão narrativa
RETEP - Rev. Tendên. da Enferm. Profis.,
2014; 6(1): 1191-1195
1195
A FAMÍLIA NO CUIDADO À PESSOA COM TRANSTORNO
MENTAL: UMA REVISÃO INTEGRATIVA*
THE FAMILY ROLE IN THE CARE OF THE PERSON WITH MENTAL DISORDER: AN INTEGRATIVE REVIEW
Artigo de Revisão
Eliany Nazaré Oliveira1
Suzana Mara Cordeiro Eloia2
Danyela dos Santos Lima2
Sara Cordeiro Eloia3
Tamires Alexandre Felix3
Maristela Inês Osawa Vasconcelos4
RESUMO
Estudo teve como objetivo analisar publicações científicas
que abordam o envolvimento da família no cuidado ás pessoas com transtorno mental. A busca do material se deu na BVS,
LILACS, BDENF, MEDLINE, e SCIELO. A análise das publicações
selecionadas permitiu a identificação de três categorias: O papel da família no cuidado com o portador de transtorno mental,
dificuldades e limitações da família no enfrentamento da doença e as necessidades da família que convive com a pessoa que
apresenta transtorno mental. A família do portador de transtorno mental se apresenta inserida em um cenário de grande sofrimento psíquico e subjetivo que atinge todos seus membros. São
muitos os familiares que deixam suas atividades de lazer, perdem a vida social e fazem outras grandes renúncias para prestar
o cuidado ao ente querido doente. Torna-se clara a necessidade
de se intervir não apenas no portador de transtorno mental,
mas também cuidar da família.
Palavras-chave: Relações Familiares; Saúde Mental; Assistência à Saúde.
ABSTRACT
This study aimed to analyze scientific publications which
revolve around the family involvement in the care of people
with mental disorders. The search for material took place at
BVS, LILACS, BDENF, MEDLINE and SCIELO. The analysis of
the selected publications allowed the identification of three
categories: the family role in the care of the those with mental
disorders, difficulties and limitations of the family in the facing
of the disease and the family needs that lives with a person who
shows mental disorder. The family of the person who has mental
disorder is inserted in a setting of great psychic and subjective
suffering, which reaches all its members. There are plenty of
family members who give up their leisure activities, lose their
social lives and resign to other big things in order to take care of
their beloved sick relative. The need for for an intervention not
only in the person who carries the disorder, but also in the family,
is thus clear.
Keywords: Family Members; Mental Health; Health Care.
INTRODUÇÃO
As transformações no campo da assistência à saúde mental,
implementadas pela Lei da Reforma Psiquiátrica, que passou a
priorizar o modelo de atenção comunitária em oposição ao modelo hospitalocêntrico, vêm provocando mudanças no perfil da
população atendida, bem como nas modalidades de cuidado1.
Pode-se afirmar que uma das transformações relevantes no
contexto apresentado seja a inclusão da família no tratamento do indivíduo com transtorno mental, sendo co-responsável
*Pesquisa subvencionada pela Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico – FUNCAP, a partir do Programa de Bolsas de Produtividade em Pesquisa e Estímulo à Interiorização – BPI. Processo nº 031-115.02.001/10 – Edital 02/2011
1
Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Docente do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual Vale do Acaraú
(UVA).
2
Discente de Enfermagem pela UVA. Bolsista do Programa de Bolsas de Produtividade em Pesquisa e Estímulo à Interiorização da Fundação Cearense de
Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
3
Enfermeira. Mestranda em Saúde da Família pela UFC.
4
Enfermeira. Doutora pela UFC. Docente do Curso de Enfermagem e Diretora do Centro de Ciências da Saúde da UVA.
1196
pelos cuidados no domicílio e que permita a interação com os
serviços substitutivos em saúde mental. A família se configura um
laço fundamental entre o seu familiar com transtorno mental e os
serviços de saúde. Os diferentes dispositivos de atenção e os trabalhadores da saúde devem valorizar a experiência, o conhecimento,
os recursos utilizados pelas famílias, bem como interagir com elas,
oferecendo-lhe suporte terapêutico, desenvolvendo junto a estas
formas de manejo mais adequadas para o cuidado(2).
Diante do exposto, se torna claro a importância da família
no cuidado à pessoa com transtorno mental, mas, apesar disso,
ela não tem recebido a devida atenção pelas políticas públicas
de saúde mental(3). Brasil(4) discute a necessidade de criação de
políticas intersetoriais e de potencialização de ações que garantam o atendimento, a capacitação, a informação, o suporte
às famílias e aos cuidadores dos usuários, mediante o envolvimento de todos os atores no processo terapêutico e o acolhimento na rede de serviços de saúde mental e nos diferentes
serviços que compõem a rede.
Considera-se que a convivência da família com a pessoa com
transtorno mental nem sempre é harmoniosa. Algumas vezes é
permeada por tensões e conflitos, nesse espaço familiar em que
as emoções são mais facilmente expressas. Essa, como grupo
de convivência, exige dos sujeitos o respeito à individualidade, pois apesar das pessoas habitarem a mesma casa, há uma
diversidade de formas de ser e estar no mundo, uma vez que
elas pensam, interpretam os fatos e se comportam de forma diferente(5).
Nas últimas décadas as ciências realizaram estudos acerca
dos avanços na política de saúde mental, mas pouco se discutiu
sobre a convivência e rotina da família de pessoas com transtorno mental, como ocorre o enfrentamento das dificuldades e os
esforços para partilhar as responsabilidades.
Neste sentido, este estudo teve como objetivo analisar publicações científicas que abordam o envolvimento da família no
cuidado a pessoa com transtorno mental, face às transformações
paradigmáticas que estão a orientar este campo da saúde mental.
METODOLOGIA
Para o alcance do objetivo, selecionou-se como método de
pesquisa a revisão integrativa da literatura. Este método possibilita a síntese e análise do conhecimento produzido acerca
da temática investigada, constituindo-se em uma técnica com
rigor metodológico, aumentando a confiabilidade e a profundidade das conclusões da revisão(6).
Na operacionalização foram percorridas seis etapas distintas: seleção da questão temática, busca na literatura, categorização dos estudos, avaliação dos estudos incluídos na revisão
integrativa, interpretação dos resultados e a síntese do conhecimento evidenciado nos artigos analisados ou apresentação
da revisão(7).
A questão direcionadora desta revisão integrativa foi: qual
o conhecimento científico produzido sobre a participação da
família nos cuidados à pessoa com transtorno mental, no paradigma da reabilitação psicossocial?.
A família no cuidado à pessoa com
transtorno mental: uma revisão integrativa
Para a identificação do objeto de estudo na literatura, realizou-se a busca de estudos junto à Biblioteca Virtual de Saúde
(BVS) acessando as bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Base de Dados de
Enfermagem (BDENF), Medical Literature Analysisand Retrieval
System On-Line (MEDLINE), e portal Scientific Eletronic Library
Online (SCIELO). A seleção dos artigos ocorreu no mês de outubro de 2013, a partir dos descritores: família, saúde mental e
transtorno mental, associados pelo operador booleano “and”.
Os critérios de inclusão foram: artigos publicados em periódicos indexados nas bases eletrônicas citadas acima, disponíveis em textos completos, escritos em português, sem recorte
temporal e que discutisse o objetivo da investigação. A seleção
das publicações foi realizada partindo-se da leitura criteriosa
de cada título e resumo, para confirmar se eles contemplavam a
pergunta norteadora desta investigação e se atendiam aos critérios de inclusão estabelecidos.
Dessa forma, foram identificados 134 estudos na base de
dados LILACS, BDENF e MEDLINE que após uma análise minuciosa, 14 se adequavam aos critérios de inclusão. No portal
SCIELO localizou-se 42 estudos, no entanto, apenas 8 artigos
discutiam o objetivo desta pesquisa.
Entre os artigos selecionados, 7 (sete) se repetiam entre
as bases LILACS e SCIELO, e para a inclusão foi considerado o
artigo encontrado na base de dados de maior produção. Desse
modo, a amostra final se constituiu em 15 (quinze) estudos.
Em seguida, foi realizada a análise da amostra em duas
etapas. Na primeira etapa, foram identificadas as informações
a partir de um formulário elaborado pelos autores com as variáveis: título da pesquisa, periódico, ano de publicação, objetivos
e contribuições dos estudos. Na segunda, ocorreu a análise e
interpretação dos resultados e foram sintetizados por similaridade de conteúdo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dos 15 artigos selecionados, 11 foram elaborados por pesquisadores da área de enfermagem, enquanto os demais artigos foram elaborados por outros profissionais, como psicólogos, médicos e terapeutas ocupacionais. Entre os periódicos de
publicação, destacaram-se a Revista da Escola de Enfermagem
da USP (cinco artigos) e a Revista Texto & Contexto Enfermagem (três artigos). Quanto ao ano de publicação, houve certa
variedade na distribuição dos artigos, porém o ano de 2011 se
destaca com 5 (cinco) publicações, referindo-se à família como
principal objeto de estudo.
Quanto ao local de realização dos estudos, sobressaíram os
estados de Paraná (quatro artigos), seguido de São Paulo (três
artigos).
Com relação aos objetivos propostos, a maioria dos estudos
abordou a dinâmica familiar, convivência e rotina da família
com o portador de transtorno mental, as dificuldades enfrentadas, bem com, as necessidades que a mesma possui para fornecer cuidado á pessoa com transtorno mental.
RETEP - Rev. Tendên. da Enferm. Profis.,
2014; 6(1): 1196-1202
1197
Quadro 1 – Apresentação dos artigos segundo identificação, objetivos e contribuições do estudo. Sobral, Ceará, Brasil, 2013.
Título do Artigo/ Nome do Periódico/
Ano de publicação
Objetivos do Estudo
Contribuições do Estudo
Transtorno mental: dificuldades
enfrentadas pela família/ Revista da
Escola de Enfermagem da USP/ 2003.
Identificar as dificuldades sentidas
pela família no convívio com o
doente mental.
Apresentou as dificuldades da família como desafios para os
profissionais da área de saúde mental, revelando possibilidades
de atuação a partir das práticas renovadas de assistência e
suporte à família do doente mental.
Família e doença mental: a difícil
convivência com a diferença/ Revista
da Escola de Enfermagem da USP/
2004.
Identificar as representações
sociais construídas por familiares
acerca do fenômeno saúde-doença
mental.
Revelou a falta de conhecimento pleno sobre a doença mental
por parte dos familiares do portador de transtorno mental,
o que dificulta o enfrentamento da doença e a aceitação da
realidade.
Famílias na rede de saúde mental:
um breve estudo esquizoanalítico/
Psicologia em Estudo/ 2006.
Estudar a dinâmica de
funcionamento das famílias de
portadores de transtorno mental,
e identificar as necessidades
vivenciadas pelas mesmas.
Permitiu a análise da interação familiar do portador de
transtorno mental com a realidade em que estão inseridos,
identificando as necessidades presentes nesse contexto.
A família do portador de transtorno
mental: identificando recursos
adaptativos/ Texto & Contexto
Enfermagem/ 2008.
Compreender o significado de
vivenciar a doença mental na
família com vista a identificar
as necessidades e os recursos
adaptativos da mesma.
Cooperou para que fossem averiguadas as necessidades da
família das pessoas com transtorno mental identificando os seus
recursos adaptativos.
Familiares de portadores de
transtorno mental: vivenciando o
cuidado em um Centro de Atenção
Psicossocial/ Revista da Escola de
Enfermagem da USP/ 2009.
Apreender como os familiares de
portadores de transtorno mental
têm convivido com um serviço de
saúde mental.
Apresentou a importância da família no acompanhamento
do portador de sofrimento psíquico, as formas de lidar com
o adoecimento e a rejeição dentro da própria família e da
sociedade.
Familiares de usuários vivenciando a
transformação do modelo assistencial
psiquiátrico/ Estudos de Psicologia/
2009.
Discutir a opinião dos familiares
de usuários da Associação Arte
e Convívio, Botucatu-SP, Brasil,
sobre aspectos relacionados à sua
realidade e à convivência com o
transtorno mental.
Mostrou as dificuldades vivenciadas por familiares de
portadores de transtornos mentais graves, tratadas nos serviços
substitutivos, quanto à falta de auxilio econômico, emocional,
político e social, no tratamento do familiar doente.
A família e o portador de transtorno
mental: dinâmica e sua relação
familiar/ Revista da Escola de
Enfermagem da USP/ 2011.
Conhecer o papel da família em
relação ao portador de transtorno
mental e sua percepção quanto à
doença e o tratamento.
Discutiu o papel da família e as necessidades em compartilhar
experiências do relacionamento com o doente familiar e nas
descobertas de estratégias de enfrentamento.
Convivência e rotina da família
atendida em CAPS/ Ciência e Cuidado
em Saúde/ 2011.
Descrever a convivência das
famílias de pessoas com
transtornos mentais, destacando
as alterações decorrentes desta,
quando o paciente está em crise.
Apresentou as dificuldades de convívio com o portador de
transtorno mental e fez sugestões quanto ao atendimento do
CAPS para a melhoria de comportamentos problemáticos.
Convivendo com transtorno mental:
perspectiva de familiares sobre
atenção básica/Revista da Escola de
Enfermagem da USP/ 2011.
Compreender o cotidiano
da família de portadores de
transtornos mentais e identificar
o atendimento oferecido a esses
familiares nas Unidades Básicas de
Saúde (UBSs).
Discutiu a importância de ter a família incluída no processo de
cuidado, e a necessidade do preparo de profissionais para suprir
as necessidades das pessoas que frequentam esse serviço.
Crianças e jovens autistas: impacto na
dinâmica familiar e pessoal de seus
pais/ Revista de Psiquiatria Clínica/
2011.
Identificar as necessidades dos
pais de crianças/jovens com
autismo relacionando-as com
funcionalidade, familiar, estado
emocional e a satisfação com a
vida.
Contribuiu para compreensão das necessidades de cunho social
educativa e de saúde específicas das famílias de crianças/jovens
com autismo e o impacto destas na vida das mesmas.
O significado de ser familiar cuidador
do portador do transtorno mental/
Texto & Contexto Enfermagem/ 2011.
Compreender os significados de
ser familiar cuidador do paciente
portador de transtorno mental.
Trouxe a teoria do ‘Tornar-se Humano’ com o familiar cuidador
do portador de transtorno mental, a partir da coparticipação do
enfermeiro na busca de uma melhor qualidade de vida.
O apoio familiar na perspectiva do
paciente em reinternação psiquiátrica:
um estudo qualitativo/ Interface:
Comunicação, Saúde, Educação/ 2012.
Investigar a percepção do
envolvimento familiar nos cuidados
ao paciente, no paradigma da
reabilitação psicossocial.
Reconheceu a importância do apoio em termos práticos e
afetivos aos familiares do portador de transtorno mental , e a
necessidade desta ser incluída em intervenções de promoção da
saúde no serviço de atenção a saúde Mental.
1198
O portador de transtorno mental e a
vida em família/ Escola Anna Nery/
2012.
Revelar, na ótica do familiar,
a participação do portador de
transtorno mental na vida em
família.
Discutiu a percepção da família quanto à participação do
portador de transtorno mental no contexto familiar. E enfatizou
a importância do enfermeiro ao orientar e apoiar a família em
suas necessidades.
Aceitação da pessoa com transtorno
mental na perspectiva dos familiares/
Revista Gaúcha de Enfermagem/ 2013.
Identificar a percepção dos
familiares quanto aceitação da
pessoa com transtorno mental
dentro família e da comunidade.
Concluiu que a falta de compreensão do transtorno metal
dificulta a aceitação social e intrafamiliar, sendo de grande
relevância a orientação dos profissionais de saúde quanto a
doença.
Família da pessoa com transtorno
mental e suas necessidades na
assistência psiquiátrica/ Texto &
Contexto Enfermagem/ 2013.
Conhecer as necessidades da
família cuidadora de uma pessoa
com transtorno mental no atual
modelo de atenção em saúde.
Discutiu sobre as necessidades da família do portador de
transtorno mental e as consideráveis lacunas nos serviços da
rede de saúde mental quanto à ajuda a esse familiar.
A análise das publicações selecionadas permitiu a identificação de três categorias: ‘O papel da família no cuidado com o
portador de transtorno mental’, ‘Dificuldades e limitações da
família no enfrentamento da doença’ e as ‘Necessidades da família que convive com a pessoa que apresenta transtorno mental’.
O Papel Da Família No Cuidado Com O Portador De Transtorno Mental
Foi objetivo desta temática abordar o papel da família que
passou a ser considerada como um dos principais eixos das políticas sociais, sendo chamada a assumir responsabilidades que,
até então, eram de incumbência do Estado, tal como o cuidado
com o portador de transtorno mental(8).
A literatura traz a concepção de família como unidade primária de cuidados, sentido de segurança, espaço de interação, troca
de informações e da identificação de dificuldades(9). Nesta concepção, observou-se o quanto é significativo o papel da família
no cuidado ao doente mental, devendo se constituir de um suporte seguro e confiável na qual seus integrantes buscam apoio.
Nos estudos encontrados, a família identifica dentre os
principais cuidados, a necessidade de estar presente, ter atitudes de zelo, proteção, afeto e compreensão. Além disso, destaca a importância de instrumentalizar-se, de buscar conhecer a
si mesmo, desenvolver estratégias para enfrentar as situações
adversas e trabalhar seus anseios, como também conhecer o
transtorno mental, os sintomas e as possíveis limitações que
ele impõe ao familiar que adoeceu(9-10).
Espera-se que a família assuma o papel de cuidadora, nos
momentos de doença quanto de saúde de seus integrantes,
ao almejar o alcance do equilíbrio e o bem-estar deles. Dessa
forma, a família assume a função de assistir os seus membros,
atender às suas necessidades e prover meios adequados de
crescimento e desenvolvimento(11).
A contribuição da família no cuidado também é reconhecida
e valorizada pela pessoa com transtorno mental como foi encontrado nos estudos de Machado e Santos(1). Nesta pesquisa,
os portadores de transtorno mental salientaram o suporte familiar de que dispõem, seja no que se refere ao apoio e auxílio
recebidos, seja quanto às questões práticas ou afetivas suscitadas pela convivência cotidiana. Além disso, a família, ao partilhar espaços e valores, pode propiciar uma ampliação da rede
de sociabilidade e suporte afetivo para o usuário, oferecendo
A família no cuidado à pessoa com
transtorno mental: uma revisão integrativa
um meio fundamental de inserção social(12-13). Nessa vertente,
pesquisas mostram que há relação direta entre suporte familiar
ou relações familiares harmoniosas, estabilidade do quadro e
menor número de internações(14-15).
Enquanto se reconhece o papel da família na reabilitação
psicossocial do usuário, bem como sua função de provedor do
cuidado no contexto da desinstitucionalização, depreende-se
a necessidade de que o apoio à família constitua uma das diretrizes das intervenções elaboradas no Projeto Terapêutico
Individual – PTI(16-17). Nessa perspectiva, uma rede social ampla
e resolutiva, de preparo, acolhimento, apoio e orientação por
parte dos profissionais pode contribuir para que a família assuma o seu papel de provedora de cuidado e se torne capaz de
resolver os problemas do viver cotidiano(18-19).
Dificuldades e Limitações da Família no Enfrentamento da
Doença
Desde a implementação da reforma psiquiátrica, a família
é considerada indispensável para o cuidado e entendida como
um grupo de grande potencial de acolhimento e ressocialização destas pessoas20. No entanto, para se efetivar o princípio
de a família ser base do cuidado em saúde mental, é importante reconhecer as dificuldades advindas da convivência com o
transtorno mental. Nesta perspectiva, pretendeu-se discutir as
dificuldades sentidas pela família em seu convívio com o doente mental identificadas nas publicações que fomentaram esta
revisão integrativa.
Em dois dos estudos(21-22), foram discutidos a figura da família que ainda tem muitas dificuldades em aceitar e entender o
transtorno mental, talvez pelo fato de não ser uma doença visível e não ter exames específicos para o diagnóstico da mesma.
Essa dificuldade em aceitar a doença, leva a família a carregar
por anos a culpa pela patologia do familiar e junto com ela a
esperança da cura, sendo essa esperada de várias formas, com a
continuidade do tratamento, através da fé religiosa, pela espiritualidade, dentre outras formas(21).
Outras publicações(19,23-24) discutiram os conflitos, as limitações no convívio social e a difícil convivência causada pelo
transtorno mental. A convivência é marcada por um sentimento
de insegurança e desconforto diante da imprevisibilidade das
ações do doente mental, ao conviver com a expectativa de que
algo súbito possa acontecer a qualquer momento. Um dos momentos críticos que a família vivencia é o de crise, pois os fami-
RETEP - Rev. Tendên. da Enferm. Profis.,
2014; 6(1): 1196-1202
1199
liares revelam a angústia de não saber o que fazer para que a
crise acabe, e a vida volte ao normal. Afinal, o momento da crise
muda toda uma rotina que é própria da casa.
Alguns familiares relatam a não participação da vida social
depois da doença. Constata-se que os familiares, além das dificuldades de participar das atividades sociais e de lazer, às vezes, por
cuidado com a pessoa com transtorno mental, também se sentem
excluídos das relações sociais, muitas vezes não recebendo mais
convites para eventos sociais, tendo os vizinhos, amigos e parentes afastados. Neste sentido, percebe-se que dentre as diversas
demandas apresentadas pelos familiares na convivência com a
pessoa com transtorno mental, está à dificuldade em lidar com o
isolamento social a que ficam sujeitos(23).
Outra dificuldade que a família encontra no seu cotidiano está
relacionada com o serviço de saúde não especializado. Familiares
entrevistados referem que há despreparo, por parte da equipe de
saúde, para atendê-los e ao seu familiar com transtorno mental(21).
Mesmo diante de tantas dificuldades, é necessário que o
familiar saiba reconhecer seus limites para também não ficar
doente. Ele deve fazer o possível diante de situações adversas,
mas não deve se sobrecarregar na resolução destes problemas.
Necessidades da Família que Convive com a Pessoa com
Transtorno Mental
Como já discutido, a família que vivencia o cuidado da pessoa portadora de transtorno mental é cercada por dificuldades e
limitações, e sabe-se que esses aspectos geram também muitas
necessidades. Por isso essa categoria teve por objetivo abordar
as necessidades específicas desse tipo de família, identificadas
nos artigos estudados.
Na leitura dos estudos pôde-se perceber que as necessidades encontradas não se fundamentaram somente na família e/
ou cuidador isoladamente, mas nas necessidades que eles possuíam em prestar o cuidado ao familiar doente, as quais se
apresentaram interligadas entre si e diretamente associadas
às necessidades do próprio paciente, as dificuldades vivenciadas, tal como ao papel desempenhado pela família no processo do cuidado.
Quanto ao tipo de transtorno discutido por eles, foi observado que um estudo25 se focou na família de crianças e jovens
com autismo, outro26 discutiu sobre a família de pessoas com
depressão, esquizofrenia e manias, e os outros dois(27-28) foram
mais generalistas quanto aos tipos de transtornos mentais, o
que permitiu a visualização mais ampla e geral quanto a necessidades dessas famílias.
Dentre as necessidades identificadas, listam-se: a necessidade de orientação referente a crise, o transtorno mental, e
os cuidados específicos requeridos, os serviços médicos e de
segurança ao qual o paciente poderia se beneficiar, tal como
as possíveis soluções dos problemas enfrentados durante o
cuidado cotidiano(26,28). Estudo(26) relata que a carência de informações qualificadas aos familiares sobre a doença e o tratamento, tem sido um dos fatores que mais tem dificultado o
manejo e o cuidado prestado aos indivíduos com transtornos
1200
mentais. Muitas vezes, o que mais aflige a família é pequenas
coisas, resolúveis mediante simples orientações, as quais,
depois de realizadas, deixam a família mais tranquila e aliviada28.
A adaptação da rotina domiciliar após o diagnóstico do
transtorno mental foi outra necessidade apontada. O advento
da doença faz com que a família do paciente com transtorno mental lide com muitas alterações em todo seu cotidiano.
Dentre essas alterações, podem ser citadas: mudanças na convivência familiar, mudança da rotina do sono, alimentação e
humores, prejuízos no trabalho, dificuldades financeiras, sobrecarga física e mental, e/ou até mesmo alteração da ocupação dos cômodos da casa para deixar um quarto somente para
o membro doente, disponibilizando um espaço inexistente no
domicilio(26-27). Este tipo de adaptação também é dificultada
pela falta de orientação que a família deve receber como uma
forma de preparação para tais mudanças.
A necessidade de vínculo entre o profissional da saúde,
família e paciente também se apresentou relevante(26-28), pois
somente uma relação de confiança permite ao profissional
de saúde viabilizar a adesão ao tratamento, solucionar problemas enfrentados no cuidado ao indivíduo com transtorno
mental, além de fazer com que a família sinta a liberdade de
expor suas limitações. Desse modo, um diálogo onde o profissional se proponha a escutar as queixas desses familiares
pode colaborar para atenuar a ansiedade vivenciada, promover maior segurança da família quanto ao cuidado prestado,
além de cooperar com uma assistência mais humanizada aos
familiares e, consequentemente, ao portador de transtorno
mental(28).
A comunicação intrafamiliar efetiva, a ajuda financeira,
serviços extra-hospitalares após o retorno da internação que
visem à reinserção social do paciente e mais tempo para o cuidador principal investir em si, também foram necessidades
abordadas nos estudos(25-26,28) que nos fazem compreender o
quanto é complexo para família prestar cuidado a esse tipo de
indivíduo, e permitiu-se perceber ainda a presença de lacunas
na área da saúde no que diz respeito a atender a essas necessidades, devido ao fato de a família não estar ainda sendo
vista por muitos profissionais como foco para o tratamento do
portador de transtorno mental28.
SÍNTESE DO CONHECIMENTO
Através da leitura e análise das publicações que abordavam a família do portador de transtorno mental, foi identificada uma similaridade de conteúdos, permitindo a divisão
dos artigos em três categorias de conhecimento que foram:
‘O papel da família no cuidado com o portador de transtorno
mental’, ‘Dificuldades e limitações da família no enfrentamento da doença’ e as ‘Necessidades da família que convive com
a pessoa que apresenta transtorno mental’, como mostra a
Figura 1:
Figura 1 – Diagrama do estudo sobre a família no cuidado à pessoa com transtorno mental. Sobral – Ceará, Brasil, 2013.
Fonte: elaborado pelos autores
O diagrama apresenta a interação dessas categorias em
relação à família. Como pode ser percebido, as categorias se
mostram como fatores que agem isoladamente, porém de forma
concomitante e interligada. Essa interação pode ser entendida
como um ciclo, considerando que o papel exercido pela família
no cuidado possui dificuldades e limitações, e que essas dificuldades geram necessidades que precisam ser supridas para que
família possa desempenhar bem seu papel no cuidado.
Assim, foi identificado que a própria família reconhece a
responsabilidade que possui em prestar auxílio ao familiar doente. Essa missão, porém, é complexa, e possui dificuldades que
se fazem presentes desde a convivência e relacionamento com
a pessoa com transtorno mental até ao lidar com as situações
imprevisíveis de crise, que podem causar frustrações quanto à
expectativa de cura. Para que os serviços de atenção à saúde
mental possam prestar uma melhor assistência a essa clientela, é essencial conhecer as necessidades dessas famílias para
se buscar a resolução dos problemas de forma sistematizada,
utilizando-se de embasamentos científicos.
As necessidades identificadas foram as mais variadas e relacionavam-se sobre a orientação, o apoio psicológico e a ajuda
financeira e institucional. O atendimento a estas necessidades
se mostrou como uma forma de colaborar para amenizar o sofrimento vivenciado pela família do portador de transtorno mental. Através disso, foi possível compreender a importância de
conhecer não somente as necessidades, mas, também, buscar
a resolução dos problemas de forma sistematizada, com emba-
A família no cuidado à pessoa com
transtorno mental: uma revisão integrativa
samentos científicos, para que se preste uma assistência mais
eficaz nos serviços de atenção a saúde mental.
Este estudo mostrou-se relevante por permitir, de um modo
geral, perceber as dificuldades enfrentadas pela família que
presta cuidado ao portador de transtorno mental e identificar
suas necessidades através das produções científicas disponíveis. Espera-se que o mesmo também venha contribuir para a
construção de conhecimento e através das informações, colaborar para uma assistência mais preocupada em atender as necessidades não só do portador de transtorno mental, mas também da família que acompanha e participa do seu tratamento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A família do indivíduo portador de transtorno mental, apresenta-se inserida em um cenário de sofrimento psíquico e subjetivo que atinge todos os seus membros. São muitos os familiares
que deixam suas atividades de lazer, perdem a vida social e fazem
outras renúncias para prestar cuidado ao familiar doente. Este
sofrimento se manifesta de formas diferentes em cada família e
em cada membro da mesma, no entanto, em todas elas é capaz de
deixar marcas profundas que podem se tornar irreparáveis.
Nesse aspecto, torna-se clara a necessidade de se intervir não
apenas no portador de transtorno mental, mas na família que o
assiste e sofre junto dele, levando em consideração que esta também está sujeita ao adoecimento. Os profissionais de saúde devem
refletir sobre suas intervenções junto ao portador de transtorno
mental e seus familiares e identificar as necessidades deste grupo.
RETEP - Rev. Tendên. da Enferm. Profis.,
2014; 6(1): 1196-1202
1201
O grande desafio do atendimento familiar na rede de saúde
mental é fazer com que esse cuidado não se torne um fardo, e
sim que a família tenha condições de desenvolver seu papel de
maneira eficaz, sem lhe trazer prejuízos e que colabore com o
tratamento do familiar portador do transtorno. Para isso faz-se
necessária a identificação das fragilidades do sistema de atendimento em saúde mental e a criação de estratégias que bene-
ficiem a família para que consequentemente o familiar doente
também venha ser beneficiado.
Este estudo possui suas limitações quanto aos seus resultados, mas como qualquer outra produção científica visa gerar
inquietações e questionamentos para novos estudos que levem
ao aprofundamento do tema. A inclusão de novos idiomas e outras bases de dados podem ampliar as perspectivas da discursão, tal como levar a novas conclusões.
REFERÊNCIAS
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transformação do modelo assistencial psiquiátrico. Estud Psicol [periódico na Internet]. 2009 [acesso em: 12 Nov. 2013]; 14(2):133-40. Disponível em: http://
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Saúde Mental – Intersetorial, 27 de junho a 1 de julho de 2010. Brasília: Conselho
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família. In: Elsen I, Marcon SS, Silva MRS. O viver em família e sua interface com a
saúde e a doença. 2ª ed. Maringá: EDUEM; 2002. p. 29-41.
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Recebido em: 05.01.2014
Aprovado em: 27.02.2014
1202
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v17n4/08.pdf.
INSTITUCIONAL
2014
Celiane Maria Lopes Muniz
Enfermeira. Especialista em Gestão
e Auditoria de Qualidade. Gerente
de Enfermagem do Hospital Regional Unimed
e Enfermeira do Hospital de Messejana.
PALAVRA DA PRESIDENTE
F
inalizar um ano com realizações, com conquistas,
com metas alcançadas daquilo que se planejou é
confortante, satisfatório. É o grande prêmio de
todo gestor, quer seja ele do sistema público ou
da iniciativa privada.
Planejar, medir, gerenciar, checar, analisar e fazer um
ciclo de melhorias é a grande sacada de todos que buscam avanços na qualidade de seus negócios. Ainda mais
para uma Autarquia Federal, como os conselhos de classe
e, principalmente, o da Enfermagem, que trabalha com
um volume grande de inadimplência e com um número
crescente de inscritos que buscam (diariamente) respostas e ações voltadas para a categoria, não importando,
muitas vezes, com a finalidade motriz do órgão.
Esse cenário é DESAFIADOR. Porém, CONFORTANTE e
SATISFATÓRIO QUANDO SE ATINGE O QUE SE PLANEJOU
Várias conquistas foram alcançadas, e todas elas estão demonstradas nas páginas a seguir. Os dados que iremos apresentar permeiam desde os balanços financeiros,
aos processos éticos julgados e finalizados, as metas da
fiscalização e suas conquistas, os prazos atingidos para
1204
Ano 6 - Vol. 6 - no 01 - 2014
os processos administrativos, as negociações do Departamento de Negociação, as realizações de cursos e capacitações nas mais diversas áreas, quer sejam na capital
na sede do Coren-Ceará ou no interior do estado com o
apoio dos secretários municipais de saúde e grandes parceiros.
Para nós, hoje, o Coren-CE é motivo de orgulho, visto que estamos na 10a posição no ranking de número de
inscritos; que fechamos 2013 com uma fiscalização modelo para o sistema no planejamento tático operacional
e, também, com a inserção do processo administrativo,
uma grande ferramenta para auxiliar as fiscalizações e o
acompanhamento dos processos.
Vale ainda ressaltar que estamos à frente deste grande e honroso desafio com muito estímulo, força, contando com o apoio de uma plenária repleta de conselheiros
firmes e parceiros que sempre apoiaram todos os projetos
locais e nacionais.
OBRIGADA A TODOS POR ACREDITAREM EM MAIS UM ANO
DE GESTÃO.
Coren-CE em Números:
Balanço da Gestão em 2013
Os Desafios foram lançados. Ao longo dos 12 meses, foram sendo conquistados com sucesso. Graças à
união, trabalho e esforço dos nossos colaboradores e a
participação dos nossos inscritos.
Entre as principais conquistas, o Coren-CE foi elevado à categoria de grande porte. A elevação, destinada aos Conselhos Regionais no Brasil, é feita automaticamente pelo Conselho Federal sempre que a representação estadual ultrapassa a marca de 50 mil inscritos
na região em que atua. No caso do Ceará, essa marca
foi ultrapassada ainda em junho, onde atingimos os
50.004 inscritos, e a confirmação da elevação se deu
no final do mesmo mês.
Para o estado esta elevação significa uma maior representatividade a nível federal, ou seja, maior visibilidade não só para o Conselho, mas os profissionais de
enfermagem do estado. Cabe ressaltar que esta representação da região Nordeste era apenas dos estados de
Pernambuco e Bahia.
FISCALIZAÇÃO
O Planejamento estratégico do COREN-CE é norteado pela atividade de fiscalização, visto que a finalidade
precípua do órgão é disciplinar, legalizar e fiscalizar o
exercício da profissão de enfermagem, em sua jurisdição. Para tanto, é realizado anualmente um encontro
na sede do Conselho onde, junto com a coordenação,
os 15 fiscais enfermeiros (incluindo a sede e as três
subseções nos municípios de Crato, Limoeiro e Sobral)
discutem os principais problemas, infrações, os melhores resultados de todas as instituições fiscalizadas
no Estado, bem como analisam e avaliam a efetividade
das ações do departamento de fiscalização.
Para 2013, a novidade do setor foi a implantação
do Processo Administrativo (PAD). Com a inserção
www.coren-ce.com.br 1205
NOTÍCIAS
O
ano de 2013 foi um ano de realizações e de
grandes conquistas para o Conselho Regional
de Enfermagem do Ceará. Ocorreram novas
ações e mudanças em quase todos os setores
da autarquia no estado. Alterações na rotina de quem
fazia fiscalização, de quem procurava atendimento
junto ao Conselho. Todas inseridas no intuito de melhorar cada vez mais o atendimento ao inscrito, nossa
pedra fundamental.
dessa nova forma de acompanhar os processos de fiscalização – garantido maior resposta dos mesmos - o
objetivo do planejamento foi realizar fiscalização e
retornos, durante o ano, em 40% das instituições de
saúde cadastradas e de responsabilidade do fiscal do
COREN-CE, seja na sede ou subseção.
Entre as ações que nortearam o setor estavam: fiscalizar as instituições onde são desenvolvidas atividades de Enfermagem em todos os municípios do Estado
do Ceará; determinar que o fiscal se responsabilize e
acompanhe as Instituições de Saúde e/ou municípios a
ele designados pela Coordenação do Departamento de
Fiscalização; permitir que o fiscal desenvolva um planejamento efetivo de suas horas de trabalho; trabalhar
em consonância com normas existentes (Resoluções,
Leis, Decretos, Regimento Interno do Departamento
de Fiscalização); cumprir o quantitativo de fiscalizações estabelecidas como referência; implementar o
PAD nas fiscalizações dos Hospitais de Grande, Médio e
Pequeno Porte e nas instituições que apresentam problemas administrativos e/ou éticos;
•Análise e aprovação do cronograma quinzenal de fiscalizações e atividades de responsabilidade do fiscal
que foi entregue à Coordenação do departamento no
1º e no 15º dia útil de cada mês;
•Avaliação bimestral das ações fiscalizatórias, de
acordo com as planilhas enviadas mensalmente pelos fiscais a Coordenação;
•Identificação dos problemas das Instituições através
das planilhas e dar segmento para os demais setores
do COREN-CE e/ou outros órgãos;
•Identificação se o plano operacional estava sendo
satisfatório ou se precisava de ajustes;
•Realização dos realinhamentos estratégicos, táticos
e operacionais de fiscalização.
Como resultado, o setor apresentou os seguintes
resultados:
•61% dos municípios foram fiscalizados;
•44% dos hospitais de médio e pequeno porte em Fortaleza e Região Metropolitana foram fiscalizados;
•56% dos hospitais de grande porte em Fortaleza e
Região Metropolitana foram fiscalizados;
Pode-se destacar que em 2013 o COREN-CE realizou:
ATENDIMENTO
(atendimento, registro e cadastro)
Foram realizados 311.079 atendimentos sendo
efetuadas 8.063 inscrições dividas entre 103 Pessoas
Jurídicas, 2.500 Enfermeiros, 4.986 Técnicos de Enfermagem e 474 Auxiliares de Enfermagem.
Até o final do ano de 2013 o COREN-CE inscreveu
52.018 profissionais de enfermagem divididos em:
•17.597 AUXILIARES
•13.161 ENFERMEIROS
•21.260 TÉCNICOS
Algumas ações foram desenvolvidas para que o objetivo fosse efetivamente alcançado:
•Inspeção de todas as instituições hospitalares de
grande porte com implementação de relatório circunstanciado através do PAD no primeiro semestre;
Atender os prazos durante fiscalização, conforme
Manual de Fiscalização do COFEN, Resolução COFEN
Nº 374/2011;
•Planejamento do cronograma anual de viagens de
rotina dos fiscais da sede e subseções, de acordo
com os municípios determinados no Plano Tático
fiscalizados no ano 2013;
1206
Ano 6 - Vol. 6 - no 01 - 2014
Dentro deste quantitativo podemos destacar profissionais que vieram de outros estados que totalizou
252 inscrições e que foram transferidos para outros
estados, 247 profissionais.
DENCOB
O Departamento de Negociação e Cobrança completou seu primeiro ano de atuação e vem se firmando
como departamento criado, não apenas com o intuito
de arrecadar, mas para proporcionar ao profissional
maior facilidade e comodidade na expedição e recebimento de boletos, dando mais opções de envio.
O setor também atua no esclarecimento de diversas
dúvidas sobre como e por que pagar anuidade ao conselho de classe.
O DENCOB realizou, em 2013, 24.828 atendimentos sendo 26,52% presencial, 25,98% por telefone e
45,50% por e-mail.
ciação parcelada destaca-se que 44% dos profissionais
já concluíram o pagamento.
Da negociação integral destaca-se que 95% dos
profissionais honraram com o pagamento e da nego-
No segundo semestre, em parceria com a Assessoria Jurídica do Conselho e Justiça Federal do Estado
do Ceará, realizamos a I Semana de Conciliação, onde
foram convidados 1.000 profissionais com alguma
pendência junto ao Coren-CE. A estes foram oferecidas negociações com condições especiais, desconto de
100% de juros e multa e com opções de parcelamento.
Tais condições foram aprovadas e homologadas pela
32ª ROD do COREN-CE.
PROCURADORIA JURÍDICA
LICITAÇÕES
Com o objetivo de assessorar o Plenário, a Diretoria e o Presidente nos assuntos de natureza jurídica, a
Procuradoria Jurídica acompanhou diversos processos
contribuindo com a análise de cada um, com a elaboração de pareceres e estudos, propondo normas, medidas e diretrizes para que o Conselho possa desenvolver
suas atividades dentro das normas jurídicas.
Em 2013 foram acompanhados e/ou realizados onze
licitações na modalidade pregão presencial e quarenta e
oito nas modalidades dispensa de licitações e inexigibilidade, conforme gráficos a seguir.
No primeiro semestre foram desenvolvidas ações
para divulgar a prorrogação do programa REFIS, dentre elas: fixação de cartazes nas instituições de saúde,
ligações diárias para os profissionais em débito e envio de e-mails, além dos atendimentos realizados no
setor.
Confira abaixo as principais ações da Procuradoria
Jurídica e seus quantitativos:
Ações
Pareceres em processos ordinários e especiais
Quantidade
227
Acompanhamento de Processos especiais (registro de preços,
rescisões unilaterais e outros)
80
Elaboração e/ou revisão de Portarias
10
Elaboração e/ou revisão de Decisões
15
Elaboração e/ou revisão de Convênios/Acordos/Parcerias
12
Elaboração e/ou revisão de Ofícios
1304
Processos Justiça (especiais) – Acompanhamento
90
Processos Justiça (trabalhista) - Acompanhamento 03 Assessoria
em Pregões / Pregoeiro (por processos)
13
TOTAL
Qtdade
Memorandos à Presidência
11
Memorandos à Presidência
48
Memorandos à Presidência
09
TOTAL
68
135
Processos Justiça (ordinários) – Acompanhamento
Informações Internas de interesse dos demais Setores
ACÕES E ACOMPANHAMENTOS
DE PROCESSOS
16
1905
www.coren-ce.com.br 1207
RESOLUÇÃO DO COFEN CONFERE
INSCRIÇÃO “TEMPORÁRIA” A
NOVOS ENFERMEIROS
O
s recém graduados no curso superior de Enfermagem no Ceará contam, desde janeiro, com a possibilidade de realizar uma inscrição “temporária” para
atuar no mercado de trabalho enquanto aguardam
a emissão do diploma de graduado pela Instituição de Ensino
Superior. A emissão do documento foi permitida por meio da
Resolução (Nº 445 de 2013) do Conselho Federal de Enfermagem, e garante, apenas para a categoria de Enfermeiros, a
inscrição com validade de um ano.
A determinação vem acolher aos recém graduados que,
mesmo após a formatura, precisam aguardar em alguns casos, mais de 120 dias, para receber o diploma do curso de
Enfermagem. Agora, munidos de documento que comprove
a colação de grau, emitido pela Instituição de Ensino Superior formadora, acompanhado do histórico escolar, o futuro
enfermeiro já pode dar entrada no seu registro profissional,
enquanto aguarda a emissão do diploma.
1208
Ano 6 - Vol. 6 - no 01 - 2014
Ainda de acordo com a resolução do Cofen, é garantido
o prazo de um ano para que o novo enfermeiro apresente ao
Conselho Regional de Enfermagem do Ceará, o diploma do
curso, para que então possa receber uma nova carteira profissional, com validade de cinco anos.
Também poderá ser solicitado pelo Conselho Regional, o
envio da lista de formandos emitido pela Instituição de Ensino Superior, para medidas de comprovação. O encaminhamento da lista será de responsabilidade das IES e não dos
recém graduados.
SUSPENSÃO - O registro profissional será automaticamente cancelado após um ano, prazo dado pelo Conselho
Federal para que o profissional apresente o diploma na sede
da Regional. A data do início do processo de inscrição junto
ao conselho será levada como base para o período de validade
de um ano do registro profissional.
COFEN REALIZA MUDANÇAS PARA
NOVOS INSCRITOS NO SISTEMA
SISTEMA COFEN/COREN
O
Conselho Federal de Enfermagem realizou, em fevereiro de 2014, mudanças para melhorar o processo
de inscrição no Sistema Cofen/Coren. As mudanças
irão conferir mais segurança para os profissionais
da saúde além de garantir agilidade no processo de inscrição
em todos os Conselhos Regionais de Enfermagem no Brasil.
Em Fortaleza, as mudanças tiveram início na segunda
quinzena de fevereiro. Entre as alterações está o novo sistema informatizado de cadastro dos novos profissionais. Este
sistema é similar aos já utilizados pela Polícia Federal e pelos
Departamentos Nacionais de Trânsito (Detrans) no país.
Pelo novo modelo, o futuro profissional que fizer sua
inscrição na sede do Coren-CE, em Fortaleza, não irá precisar mais, por exemplo, trazer a foto 3x4, solicitada no ato da
inscrição. As fotos serão tiradas na própria sede, pelo atendimento, durante o processo de registro. O novo sistema também permitirá a assinatura digital, capturada através de uma
caneta ótica e a captura das digitais do inscrito.
Com a nova tecnologia do Sistema Cofen/Coren o tempo
para a inscrição nas sedes será reduzido, e ampliado a segurança contra fraudes de carteiras profissionais. A mudança
é necessária para garantir que a profissão seja realizada por
profissionais formados, seja por meio de curso de graduação
ou profissional, e para garantir à sociedade melhor atendimento na saúde.
INSCRIÇÕES - Se você precisa fazer o registro junto ao
Conselho Regional de Enfermagem do Ceará, você poderá
se dirigir à sede, em Fortaleza, e às três subseções, no interior do estado (nos municípios de Sobral, Limoeiro do Norte e Crato). As inscrições serão realizadas normalmente.
Para receber o registro, o inscrito deverá aguardar o prazo solicitado pelo Sistema durante o processo de implantação
do novo sistema. O Conselho Regional de Enfermagem, em
nenhum momento, deixará de realizar novas inscrições.
Para que todas as alterações sejam realizadas, os Conselhos Regionais em todo o país, irão suspender a emissão de
novos registros pelo prazo necessário para a implantação
completa do sistema. As inscrições continuarão a ser efetivadas normalmente, porém o prazo para a entrega dos novos
registro sofrerá alteração.
www.coren-ce.com.br 1209
REGRAS PARA INSCRIÇÃO REMIDA
SOFREM ALTERAÇÕES
O
Conselho Federal de Enfermagem alterou, por
meio da Resolução 448 de 2013, as regras para a
inscrição remida junto aos Conselhos Regionais
em todo o país. As mudanças foram divulgadas
no último dia 16 de dezembro, e já começaram a valer em
janeiro de 2014. Com a inscrição remida o profissional
passa a não pagar mais a anuidade, podendo continuar a
atuar no mercado normalmente.
Pelas novas regras, para solicitar este tipo de inscrição, o profissional registrado junto ao Conselho Regional
deverá ter no mínimo 60 anos de idade e ter 30 anos de
inscrição junto ao Conselho e com a situação regularizada. Além disso é preciso que inscrito nunca tenha sofrido
penalidade ética e/ou administrativa no Sistema Cofen/
Conselhos Regionais.
A isenção do pagamento contará a partir da anuidade
do ano seguinte à solicitação, caso essa seja feita após
o dia 31 de março. Se a solicitação for feita entre 1º de
janeiro e 31 de março, a isenção da anuidade já valerá
para o ano corrente.
1210
Ano 6 - Vol. 6 - no 01 - 2014
Entre as vantagens oferecidas ao inscrito remido está
a possibilidade de continuar atuando no mercado de enfermagem (não importando a categoria), além de ter o
direito a votar e a ser votado nas eleições realizadas pelos
Conselhos.
Após a mudança, o profissional receberá uma nova
carteira profissional de identidade com o mesmo número de sua Inscrição Definitiva Principal, seguido da letra
“IR”.
Para solicitar a mudança do registro para remido, o
inscrito deverá estar quite com todas as obrigações financeiras junto ao Conselho Regional de Enfermagem e
deverá comparecer ao Conselho Regional, trazendo a sua
carteira profissional e uma foto 3x4 com fundo branco.
Para mais informações sobre a Inscrição Remida, ligar para nosso setor de Registro e cadastro, pelo número
(85) 3105.7878.
APÓS REUNIÃO NO COREN- CE,
SMS SUSPENDE SELEÇÃO PÚBLICA
PARA REVISÃO SALARIAL
A
Secretaria Municipal de Saúde suspendeu, no
dia 13 de janeiro, o edital de seleção pública
para contratação temporária de profissionais da
área da saúde. Desde a publicação, o edital gerou polêmica entre enfermeiros e diversos profissionais
da área da saúde por apresentar salários de R$ 1.500 para
uma carga horária de 40 horas semanais.
A suspensão veio após uma reunião com a presidente
do Conselho Regional de Enfermagem do Ceará, Dra Celiane Maria Lopes Muniz, e representantes do Sindicato
dos Empregados em Estabelecimentos de Saúde do Estado do Ceará (Sindsaúde), Sindicato dos Enfermeiros do
Estado do Ceará (Senece) e a Associação Brasileira de
Enfermagem no Ceará (Aben-CE).
Na conversa, os representantes levaram a conhecimento da secretária a sensação de indignação da categoria, assim como a de outras categorias que estavam
se sentindo desvalorizadas pelo salário proposto pela
Prefeitura no edital. Além disso, foi apresentado para a
secretária a necessidade de revisão nas propostas salariais ofertadas no edital, com base nos acordos coletivos
de cada categoria.
De acordo com a Secretária, Socorro Martins, todo o
edital será revisado e reestudado com as devidas alterações salariais em cada categoria e será apresentado uma
nova proposta salarial para as categorias da enfermagem
e a posteriore, serão publicadas as devidas alterações.
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PÁGINA DO COREN-CE NO
FACEBOOK ATINGE A MARCA
DE 5.000 CURTIDORES
A
creditar em uma nova mídia, uma nova forma de
se comunicar e interagir muito mais rapidamente com nossos inscritos. Essa é um das nossas
novas missões no Conselho Regional de Enfermagem do Ceará. E foi acreditando nisso e apostando
nessa modalidade de se comunicar com os inscritos, que
em fevereiro de 2014 atingimos a marca de 5.000 curtidores na fanpage do Coren-CE no facebook.
Receber mais rapidamente as notícias do conselho,
sobre a abertura de cursos gratuitos, além da possibilidade de enviar mensagens para tirar dúvidas e até mesmo
realizar solicitações. Essas são algumas das vantagens
que estes cinco mil profissionais e acadêmicos da área da
enfermagem viram em nossa comunicação direta com os
inscritos via internet.
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O Conselho agradece a confiança e o interesse destes
profissionais que nos acompanham diariamente, também
nas curiosidades que levamos até eles através de publicações que envolvem temas da profissão, saúde, e até mesmo gastronomia voltada para melhorar a saúde.
Mesmo com essa marca, que estamos conseguindo
aumentar cada mais mais rápido, muitos profissionais
ainda podem aderir a essa ferramenta de comunicação.
Caso você possua uma conta no facebook mas ainda não
nos acompanha, acesse www.facebook.com/corenceara, curta a nossa página e fique por dentro das nossas
novidades.
Você também pode nos acompanhar por outras mídias sociais como instagram (coren_ce) e no twitter (corence1).
COREN-CE PARTICIPA
DA LUTA PELAS 30 HORAS
G
arantir qualidade de vida, reduzir problemas de saúde que se multiplicam entre os profissionais da área
da enfermagem, parte causada pelas excessivas
cargas horárias que estes enfrentam semanalmente. Esses são apenas dois de vários motivos pelos quais, há 14
anos, o Sistema Cofen/Conselhos Regionais de Enfermagem
vêm lutando para que seja aprovada o Projeto de Lei 2295/00,
que regulamenta a carga horária semanal do profissional para
30 horas.
Ao longo dos últimos anos, as ações e manifestações para
que os políticos aprovem o PL aumentaram. A pressão feita
pelo Sistema, pelos Fóruns e principalmente pelos próprios
profissionais aumentou. Manifestações como a vista em 2013,
onde profissionais estiveram presentes em Brasília para pedir
pela aprovação, assim como a ocorrida na Avenida Paulista,
em São Paulo, em março deste ano, servem para mostrar que
a enfermagem começa a despertar politicamente.
Nesta manifestação, o Coren-CE esteve representado
ativamente, pela presidente da autarquia, Dra. Celiane Maria
Lopes Muniz, além da presença de integrantes da plenária.
Também participando da manifestação esteve o presidente do
Conselho Federal de Enfermagem, Dr. Osvaldo Albuquerque,
também cearense e ex-presidente interventor do Coren-CE.
CEARÁ
O Conselho Regional de Enfermagem do Ceará, começou
2014 com o planejamento de ações para mostrar que estamos
também em esforço conjunto para que seja aprovada o PL.
Entre elas a participação e reuniões iniciais com as entidades
de classe para desenvolver estratégias de pressão, junto aos
nossos deputados federais e senadores.
A principal ação está sendo desenvolvida para ocorrer
como encerramento das comemorações da Semana da Enfermagem (12 a 20 de maio). A ação contará com uma grande
caminhada pela Avenida Beira Mar, com participação de profissionais da área da enfermagem.
A proposta do Coren-Ce é desenvolver, junto com as
entidades de classe como Sindicato dos Enfermeiros do
Estado do Ceará (Senece), Sindicato dos Empregados em
Estabelecimentos de Saúde do Estado do Ceará (Sindsaúde
Ceará) e a Associação Brasileira de Enfermagem - Seção Ceará (ABEN-CE), uma manhã de atividades. O evento também
terá o apoio do Conselho Federal de Enfermagem, bem como
a participação do presidente daquela autarquia.
A divulgação do evento deverá ser feita nas unidades de
saúde no Ceará, assim como nas universidades e por meio das
mídias sociais do Conselho.
www.coren-ce.com.br 1213
Entrevista com
Dra. Celiane Maria Lopes Muniz
2014
marca o último ano de gestão
da atual Plenária do COREN/CE,
que tem à frente a presidente
Dra. Celiane Maria Lopes Muniz. Em quatro anos à frente da autarquia (sendo o primeiro destes para finalizar a
gestão de 2008 a 2011), várias ações foram desenvolvidas pela Diretoria e pela equipe administrativa do Órgão,
gerando movimentos inéditos nos 40 anos da autarquia.
Entre as ações inovadoras está o Mutirão da Conciliação, promovido em parceria com a Justiça Federal, onde
inscritos com débitos anteriores a 2011 puderam negociar os valores, com descontos de até 100% nos juros e
multas das anuidades atrasadas. Ainda na área financeira, o COREN/CE criou o Departamento de Negociação e
Cobrança (Dencob), área localizada na sede do Coren-Ce,
em Fortaleza, onde o inscrito é atendido com intuito de
negociar seus débitos, de forma individualizada.
Ainda antes do fim da gestão, o Plenário do COREN/
CE efetuará a compra das três subseções próprias no interior do Ceará (nos municípios de Limoeiro do Norte, Crato
e Sobral). As sedes no interior funcionavam em prédios
alugados. Além da sede própria, as duas unidades passarão por reformas.
Reforma também passou e passará a sede do Coren-CE,
em Fortaleza. As obras darão uma nova roupagem ao setor de fiscalização, a sala exclusiva para atendimento da
Ouvidoria, além de ampliar vários setores administrativos.
Iniciando as atividades em 2014, a Presidente concedeu entrevista e falou destas e de outras ações do Conselho, além da responsabilidade de estar à frente de uma
autarquia federal.
O que é ser gestora de uma autarquia federal?
Celiane Muniz: É uma grande responsabilidade, quer
seja ela ética, legal ou administrativa. Tivemos o papel de
reforçar a credibilidade no Órgão e nos profissionais da
enfermagem. Assumimos a gestão da autarquia em 2011,
para finalizar uma administração marcada por uma intervenção administrativa, mas com muita tranquilidade,
com muita seriedade, capacitação, e acima de tudo muita
ética. Buscamos conduzir o COREN/CE, que é uma autarquia federal, com muitas regras, por compor a Administração Pública, que precisam ser respeitadas e seguidas.
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-Apesar de presidente, a tomada de decisões da Autarquia é feita pela Plenária, profissionais da Enfermagem
que também tomaram posse, após eleitos na última
eleição. Quem são esses profissionais?
C.M: A diretoria do Coren-CE é composta por mim,
Celiane Muniz, que sou presidente do Conselho; pela
Conselheira Secretária, que é a Dra Mirna Albuquerque
Frota; e a Conselheira tesoureira, que é a Luiza Lourdes
Pinheiro. Temos também o Conselheiro Vogal, que é o Dr.
Ricardo Costa de Siqueira; Na Comissão de Tomada de
Contas temos a Dra Carolina Maranhão Marques Lacerda;
Raimunda de Fátima Dantas e Marli Veloso de Menezes;
Dos Conselheiros Suplentes, temos Dra Regina Cláudia
Furtado Maia; Dra Maristela Inês Osawa Vasconcelos; Dra
Geridice Lorna Andrade de Moraes; Dra Fabiana de Sousa
Alves; Ana Lúcia de Assis; Adailson Rodrigues de Moraes;
e Maria de Fátima Ferreira de Sousa.
Quais as responsabilidades jurídicas e administrativas
do Coren-CE?
inúmeros profissionais pudessem negociar suas dívidas
em condições especiais. Trouxemos eventos importantes
para o Estado do Ceará, tais como o Seminário Administrativo do Sistema Cofen/Corens, em 2011, o 15º CBCENF
-Congresso Brasileiro dos Conselhos de Enfermagem, em
2012, que reuniu aproximadamente 10 mil profissionais
no Centro de Eventos do Ceará, tendo sido o 1º evento
realizado neste espaço. Profissionalizamos os servidores
do Órgão, para que pudessem atender melhor, com prazos, com segurança e habilidade. Reformamos os espaços
da sede do Coren/CE de forma a atender com conforto
os nossos inscritos, principalmente nosso auditório, e
ainda espaços interno de uso dos nossos colaboradores.
Realizamos vários feitos e atos que poderão ser amplamente conhecidos por todos neste exemplar, ao longo de
suas páginas.
Em 2013, qual foi o grande desafio na gestão?
C.M: Inúmeras. Todos os processos de aquisição precisam observar a Lei 8666/93, que obriga o Órgão a realizar licitações públicas, que preza pela publicidade, economicidade, livre concorrência, eficiência e outros princípios, que resguardam a legalidade das ações. O COREN/
CE é auditado pelo Conselho Federal de Enfermagem-COFEN e pelo Tribunal de Contas da União-TCU, nossa
responsabilidade enquanto conselheiros da autarquia é
muito grande, daí agirmos conforme o que a lei permite.
C.M: A adequação e melhoria de sistema informatizado, no tocante a impressão das cédulas de identificação
dos mais diversos profissionais, o que levou ao treinamento de nossos servidores, em razão dos novos modelos
de impressão. Instituir também os processo administrativos para a fiscalização, que permitiu maiores ações nas
instituições fiscalizadas, dando uma maior credibilidade
ao conselho e, por conseguinte, aos fiscais. Os desafios
foram grandes, bons e positivos com o intuito de melhoria.
2014 é o último ano da sua gestão frente ao Conselho.
Como a senhora analisa a gestão 2012-2014?
Quais as novidades tanto administrativas quanto físicas
para o Coren-CE em 2014?
Analiso com resultados positivos. Fizemos várias
ações inéditas no Coren/CE. Realizamos projetos para
aquisição de subseções próprias, visto que as mesmas eram locadas e não ofereciam boas condições para
atendimento dos nossos inscritos. Mudamos o perfil da
fiscalização, para que pudéssemos tornar os fiscais da
autarquia parceiros dos responsáveis técnicos e gestores
de cada unidade. Criamos o setor chamado DENCOB que
significa Departamento de Negociação e Cobrança, que
atende individualmente os inscritos, dando-lhes o aporte necessário para regularizar suas dívidas. Realizamos
várias ações fiscalizatórias e jurídicas que geraram a contratação de diversos profissionais, além de ações de parceria com a Promotoria da Saúde do Estado. Reforçamos
as ações do Tribunal de Ética do Órgão, realizando inúmeros julgamentos éticos que “abarrotavam” nosso sistema. Fizemos a renovação da frota de veículos da capital
e do Interior. Fizemos pela primeira vez uma negociação
judicial na própria sede da Justiça Federal, para que os
C.M: Estamos em reforma nas áreas da fiscalização e
ouvidoria a fim de oferecermos melhores condições de
atendimento e de trabalho aos servidores, assim como
uma área reservada para a ouvida dos inscritos de forma mais sigilosa e confortável. Teremos também maiores
ações do Coren móvel, de forma a oferecer um atendimento às populações mais longínquas e que não tem muitas
oportunidades para deslocamento às nossas subseções.
Mais capacitação nas grandes regiões longínquas do nosso Estado. Realizar uma grande movimentação política,
através de uma grande caminhada pelas 30 horas, a fim
de sensibilizar os políticos cearenses para apoio a nossa
causa, para que entendam o porque de nossa luta, além
de mostrar a população nossa voz.
www.coren-ce.com.br 1215
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO
A Revista Tendências da Enfermagem Profissional – ReTEP, é um
periódico científico trimestral, revisado por pares. Os autores são
responsáveis por reconhecer e revelar conflitos de interesse que
possam influenciar o trabalho. Os manuscritos submetidos podem
ser redigidos em português, inglês ou espanhol, e destinar-se exclusivamente à ReTEP, organizados segundo as indicações a seguir.
Artigo Original: Investigação baseada em dados empíricos, utilizando metodologia científica, incluindo introdução, metodologia,
resultados, discussão, conclusão e referências.
Artigo de Revisão: Análise de construtos teóricos, levando ao
questionamento de modelos existentes na enfermagem e na saúde
e a elaboração de hipóteses para futuras pesquisas.
Atualidade: Texto reflexivo ou informativo sobre assunto relevante
e atual, com perspectiva de interesse para a enfermagem e a saúde.
Resenha: Revisão crítica da literatura científica publicada em livros,
orientando o leitor quanto as suas características e usos potenciais.
Deve conter a referência completa do trabalho comentado.
Todas as modalidades de textos aceitos pela Revista deverão ser digitados em processador de texto Word for Windows, limitados a 15
páginas impressas em papel tamanho A4, em espaço 1,5, parágrafos de 1,25, fonte Times New Roman, tamanho 12, com formatação
de margens superior, inferior, esquerda e direita de 3 cm.
Não deverá ser utilizada nenhuma forma de destaque no texto (sublinhado, negrito, marcas d’água, aspas), exceto para títulos e subtítulos.
Utilize apenas itálico em palavras ou expressões que realmente necessitem ser enfatizadas no texto impresso.
A apresentação dos trabalhos deve seguir a seguinte ordem:
1. Folha de Rosto
Título em português e inglês, em negrito, centralizado e em caixa
alta, não devendo exceder 15 palavras; deve ser conciso, explicativo e representativo do conteúdo do trabalho.
O tipo de colaboração enviada (original, de revisão, atualidade ou
resenha).
Nome completo e filiação institucional de cada autor.
Nome, endereço, telefone, fax e e-mail do autor responsável pela
correspondência.
Fonte financiadora da pesquisa (se houver).
Se o manuscrito foi baseado em tese/dissertação, colocar o título,
o nome da instituição, ano de defesa e número de páginas.
2. Resumo em português e inglês
Deve conter entre 100 e 150 palavras. Ao final deve constar 03 a
06 palavras-chave, em português e inglês, digitadas em caixa alta
e baixa e separadas por ponto e vírgula. Devem ser empregados
preferencialmente aqueles que constam na Lista de Descritores em
Ciências da Saúde, da BIREME (http://decs.bvs.br).
3. Corpo do Texto
Deve começar em uma nova página. Não inicie uma nova página
a cada subtítulo, separe-os utilizando uma linha em branco. Em
trabalho original, o texto deve ter uma organização de reconhecimento fácil, sinalizada por um sistema de títulos e subtítulos que
reflitam esta organização. Os títulos deverão estar em negrito e
caixa alta, e os subtítulos deverão ser destacados em negrito e letras maiúsculas apenas na primeira letra de cada palavra e antecedidos por uma linha em branco. As referências no texto a figuras e
tabelas deverão ser acompanhadas do número respectivo. Os locais
sugeridos para inserção de figuras e tabelas deverão ser indicados
no texto.
4. Agradecimentos
Incluir, de forma sucinta, colaborações que não autoria, como
auxílios técnicos, financeiros e materiais, incluindo auxílios ins-
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titucionais, governamentais ou privados, e relações que possam
implicar em potencial conflito de interesse.
5. Referências
As referências devem ser formatadas no estilo Vancouver de acordo
com os Requisitos Uniformes do Comitê Internacional de Editores
de Revistas Médicas (International Committee of Medical Journal
Editors - ICMJE).
A formatação da lista de referências deve adotar espaço 1,5 e tamanho de fonte 12, sem parágrafo, recuo ou deslocamento das margens; o sobrenome dos autores em letras minúsculas, à exceção
da primeira letra. Numerar as referências de forma consecutiva,
conforme a ordem em que forem mencionadas pela primeira vez
no texto e identificá-las pelo mesmo número sempre que citadas.
Citações no texto: as citações indiretas deverão conter o número da
referência da qual foram subtraídas, suprimindo o nome do autor,
devendo ainda apresentar a numeração em sobrescrito antes da
pontuação (ponto, vírgula ou ponto e vírgula). Exemplo: as trabalhadoras também se utilizam da linguagem não verbal(7).
Citações oriundas de 2 ou mais autores apresentadas de forma sequencial na referência (1, 2, 3, 4, 5), deverão estar em sobrescrito
separados por um hífen. Exemplo: estabeleceu os princípios da boa
administração, sendo dele a clássica visão das funções do administrador(1-5).
Citações diretas (transcrição na íntegra) de até três linhas devem
ser delimitadas por aspas e numeradas de acordo com a ordem de
citação no texto; indicando o número da referência e a página da
citação. Exemplo: “[...] o ocidente surgiu diante de nós como essa
máquina infernal que esmaga os homens e as culturas”1:30-31.
Citação literal com mais de três linhas deve ser apresentada em
bloco próprio e sem aspas, começando em nova linha, com recuo
de 2,5cm da margem esquerda. Fonte 12, sem destaque. Não utilizar os termos op. cit, id. Ibidem. A expressão apud é a única que é
utilizada no texto ou notas. Apenas as obras consultadas e mencionadas no texto devem aparecer na lista de referências.
Citações de pesquisa qualitativa (verbatins) serão colocadas em
itálico, sem aspas, no corpo do texto, identificando entre parênteses a autoria e respeitando o anonimato. Exemplo: [...] envolvendo
mais os acadêmicos e profissionais em projetos sociais [...] (e7);
Notas de rodapé: o texto deverá conter no máximo três notas de
rodapé, que serão indicadas por: *primeira nota, **segunda nota,
***terceira nota.
Envio de manuscritos
1.O material a ser submetido a avaliação para publicação deverá
ser encaminhado, por e-mail ou correio, para os endereços citados no final deste texto.
2.Manuscritos originais encaminhados através do correio deverão
ser acompanhados em CD Rom contendo todos os arquivos. Se a
opção de remessa for e-mail, todos os arquivos (texto, figuras e
tabelas) deverão ser anexados à mensagem em attach-file.
3.Anexar cópia do parecer do Comitê de Ética em Pesquisa, uma
carta de encaminhamento autorizando o processo editorial do
manuscrito, transferindo os direitos autorais para a ReTEP - Revista Tendências da Enfermagem Profissional e garantindo que
todos os procedimentos éticos exigidos em lei foram observados. Essa carta deverá ser assinada por todos os autores.
POR CORREIO COMUM: ReTEP – Revista Tendências da Enfermagem
Profissional Conselho Regional de Enfermagem do Ceará – Coren/
CE. Rua Mário Mamede, 609 – Bairro de Fátima - CEP: 60.415-000
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