Revista Eletrônica de Enfermagem, Vol. 05, Num. 01, 2003. Goiânia (GO - Brasil). EDITORIAL SOUZA, Joaquim Tomé de ..................................................................................................................................03 ARTIGOS ORIGINAIS/ORIGINAL PAPERS/ARTICULOS ORIGINALES Motivações do paciente renal para a escolha da dialise peritoneal ambulatorial contínua Motivations of renal patient to choose the continuum ambulatorial peritoneal dialisis SILVA, Hiarlene Gonçalves; SILVA, Maria Josefina da ......................................................................................10 Perfil dos cuidadores informais de idosos com déficit de autocuidado atendidos pelo Programa de Saúde da Família Informal caregivers for old people without self care attended by the Health Family Programe Perfil de las personas que cuidan informalmente ancianos con uma deficiencia de autocuidado atendidos por el Programa de Salud Familiar NAKATANI, Adélia Yaeko Kyosen; SOUTO, Christiane do Carmo Soares; Paulette, Leina Marta; MELO, Terezinha Silverio de; SOUZA, Marcia Maria de .................................................................................................15 O conhecimento dos alunos de enfemagem sobre álcool e drogas The knowledge of nursing students on alcohol and drugs El conocimento de los alumnos de enfermeria acerca de alcohol y drogas LUIS, Margarita Antonia Villar; PILLON, Sandra Cristina ..................................................................................21 O crescimento e desenvolvimento de crianças na faixa etária de 12 a 48 meses em creche na periferia da cidade de Ribeirão Preto – SP. Growth and development of 12 to 48 month old infants in a day nursery at the outskirts of Ribeirão Preto city - SP Crescimento y desarrollo de niños con rango de edad entre los 12 y 48 meses de edad, en guarderias infantiles de las zonas perifericas de la ciudad de Ribeirão Preto - SP CARABOLANTE, Alessandra Carvalho; FERRIANI, Maria das Graças Carvalho ............................................28 Leitos psiquiátricos em hospital geral: visão de profissionais que atuam em hospital geral Psychiatric ward in general hospital: professionals view who works in general hospital Los lechos psiquiatricos en hospital general: visión de los professionales que actuan en hospital general MION, Jucéli Zimmermann; SCHNEIDER, Jacó Fernando ................................................................................38 Adesão às precauções padrão entre os profissionais da equipe de resgate pré-hospitalar do Corpo de Bombeiros de Goiás - Brasil Adhesion to standard precaution among professional of rescue team of fireman in Goiás - Brasil Adherencia a las medidas de precauciones estándares entre los professionales del equipo del rescate del cuerpo de bomberos de Goiás - Brasil FLORÊNCIO, Valéria Borba; RODRIGUES, Carolina de Araujo; PEREIRA, Milca Severino; SOUZA, Adenícia Custódia Silva e ...................................................................................................................................43 Gestação de alto risco e baixo peso ao nascer em Goiânia Gestation of high risk and low weight at birth in Goiânia Gestación de alto riesgo y bajo peso al nacer en Goiania MARTINS, Cleusa Alves; REZENDE, Leilinéia Pereira Ramos de; VINHAS, Dayane Cristina Silva ...............49 REVISÃO/REVIEW/REVISIÓN Reabilitação psicossocial através das oficinas terapeuticas e/ou cooperativas sociais Rehabilitación psicosocial através de talleres terapéuticos y/o cooperativas sociales VALLADARES, Ana Cláudia Afonso; LAPPANN-BOTTI, Nadja Cristiane; MELLO Rosâne; KANTORSKI, Luciane Prado; SCATENA, Maria Cecília Moraes .............................................................................................04 RELATO DE EXPERIÊNCIA/CASE REPORT/RELATO DE VIVENCIA A enfermagem moderna: a experiência internacional (Disciplina de Pós Graduação) A post-graduate seminar on modern Nursing and the international experience Un seminario de post-graduación sobre la enfermeria moderna y experiencia internacional SANTOS, Luiz Antonio de Castro ......................................................................................................................35 Normas de publicação na Revista Eletrônica de Enfermagem ....................................................................56 3 EDITORIAL Todos aqueles ligados à Ciência, de qualquer área, sabe muito bem que a informação é o instrumento do poder atualmente. Quem detém a informação, tem o conhecimento, que traz, seqüencialmente, a tecnologia. Essa trilogia é, hoje, o que o poderio militar era no século passado. A informação não está estacionária nas bibliotecas do mundo. Está inserida no espaço cibernético. Podemos dizer que ela está "nas pontas dos dedos", bastando saber digitar o caminho certo no teclado real ou virtual de um computador. No mundo inteiro está havendo uma verdadeira corrida em direção as TIC – Tecnologias da Informação e Comunicação. Movimenta-se mais de 400 bilhões de dólares no mundo nesse segmento da economia mundial. Apenas nas três Américas, o setor das TIC emprega de 28% a 30% dos trabalhadores que vivem nos países do Continente. A projeção é de que esse percentual suba para 32,4% em 2006. No setor educacional as TIC propiciaram extraordinários avanços. O processo de ensinar, por exemplo, que há mais de 400 anos tem se mantido quase inalterado, está atualmente sofrendo um impacto colossal, revolucionando a relação professor-aluno, desde o ensino fundamental ao universitário. O quadro-verde e o giz estão se tornando instrumentos do passado muito rapidamente. Essa revolução está acontecendo em todo o planeta. Bem instalada nos países desenvolvidos e timidamente iniciante nos em desenvolvimento, mas há embrião desse movimento em todo o mundo. Sua velocidade é que sofre contratempos em termos mundiais. No Brasil o setor privado da educação sai na vanguarda, mas os esforços no setor público são esperançosos. Há vários consórcios de escolas públicos, especialmente nas Universidades, para utilizar as TIC no sentido de propiciar o acesso, aos cursos superiores, de um maior número de pessoas. Exemplos disso são: Consórcio CEDERJ (http://www.cederj.edu.br/index2.php) – todas as Universidades públicas do Rio de Janeiro se uniram para oferecer curso de pedagogia a todos os professores do ensino fundamental e médio, que não tinham graduação, a se graduarem através de ensino a distância; Consórcio Universidade Virtual Pública do Brasil (antiga UNIREDE - http://www.unirede.br/informe/index.htm) – mais de setenta Universidades Públicas do Brasil se unem para a oferta de cursos de graduação na modalidade ensino a distância. Dois consórcios aqui são citados, mas, existem muito mais. A modalidade de ensino utilizando as TIC, aqui caracterizada como ensino a distância, nome que está mudando de conceitualização, vem desafiando os professores a se engajarem na transformação do processo de ensinar. Desafio esse que poucos professores têm aceitado. Das áreas do conhecimento, as sociais e humanas são as que mais têm se utilizado das TIC. A maior parte dos cursos na modalidade ensino a distância são dessas áreas. A área da saúde está muito tímida. Ao lado das dificuldades operacionais inerentes aos seus cursos, essa área é ainda muito conservadora. Hercúleo esforço tem demonstrado a UNICAMP, a USP, e UNIFESP, citando apenas algumas, para alavancar esse processo virtual de ensino, mas os resultados são ainda pequenos. Outro grande esforço nesse sentido tem vindo do Consórcio EDUMED (http://www.edumed.org.br/teleduc/pagina_inicial/index.php), criado pelo Instituto EduMed para Educação em Medicina e Saúde. Entretanto, a esperança é grande, como também é muito grande o benefício, em todos os sentidos, que esse sistema pode dar aos que trabalham na saúde, sejam os aplicadores ou os usuários. É preciso, entretanto, que nós, os trabalhadores na área da saúde, tenhamos a coragem de assumir mudanças internas, no sentido pessoal, quanto externas, no sentido tecnológico. Precisamos mudar a nossa visão de ensino e aprendizagem, abrir-nos para novos caminhos na grande avenida cibernética dos bits e bytes. Quanto mais retardarmos em aceitar esses novos desafios, mais distantes estaremos da nova ordem de geração de profissionais para conduzir os negócios do mundo. Prof. Dr. Joaquim Tomé de Souza Editor da REE VALLADARES, A. C. A.; LAPPANN-BOTTI, N. C.; MELLO, R.; KANTORSKI, L. P.; SCATENA, M. C. M. Reabilitação psicossocial através das oficinas terapêuticas e/ou cooperativas sociais. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 04 – 09, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. 4 ARTIGO DE REVISÃO REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL ATRAVÉS DAS OFICINAS TERAPÊUTICAS E/OU COOPERATIVAS SOCIAIS PSICOSSOCIAL REHABILITATION THROUGH THERAPEUTIC WORKSHOPS AND/OR SOCIAL COOPERATIVES REHABILITACIÓN PSICOSOCIAL A TRAVÉS DE TALLERES TERAPÉUTICOS Y/O COOPERATIVAS SOCIALES Ana Cláudia Afonso Valladares 1 Nadja Cristiane Lappann-Botti 2 Rosâne Mello 3 Luciane P Kantorski 4 Maria Cecília M Scatena 5 RESUMO: As oficinas terapêuticas e as cooperativas sociais, enquanto dispositivos da atual Política Nacional de Saúde Mental, objetivam se diferenciar das práticas antecessoras, práticas decorrentes da idéia de estabelecer o trabalho como um recurso terapêutico, conhecido como ‘tratamento moral’. Neste contexto, entende-se que as oficinas, não se apresentam por si só uma forma inaugural de lidar com a loucura. A experiência do trabalho das oficinas e/ou cooperativas torna-se positiva quando uma de suas funções é também o de intervir no campo da cidadania. Assim, atuando no âmbito social, contribui como possibilidade de transformação da realidade atual no que diz respeito ao tratamento psiquiátrico. Palavras Chaves: Reforma Psiquiátrica, Reabilitação Psicossocial, Oficinas Terapêuticas, Cooperativas Sociais. ABSTRACT: The therapeutic workshops and the social cooperatives, while current Mental Health National Politics devices, objectify if it differentiates of the practice predecessors, idea current practices of establishing the work as a therapeutic, well-known resource like ‘moral treatment’. In this context, it understands that the workshops, don't introduce by itself an inaugural form of work with the madness. The workshops work experience and/or cooperative becomes positive when one of her functions is also the one of intervene in the citizenship field. Thus, acting in the social scope, contributes like transformation current reality possibility in the that tells respect to the psychiatric treatment. Keywords: Psychiatric reform, Rehabilitation Psicossocial, Therapeutic Workshops, Social Cooperatives. RESUMEN: Los talleres terapéuticos y las cooperativas sociales, en cuanto dispositivos de la actual Política Nacional de Salud Mental, se diferencian objetivamente de las prácticas antecesoras, prácticas derivadas de la idea de establecer el trabajo como un recurso terapéutico, conocido como “tratamiento moral”. En este contexto, se entiende que los talleres, no se presentan así mismos como una forma inaugural de trabajar con la locura. La experiencia del trabajo en los talleres y/o cooperativas se vuelve positiva cuando una de sus funciones es también la de intervenir en el campo de la ciudadanía. Así, actuando en el ámbito social, contribuye como posibilidad de transformación de la realidad actual en lo que se dice respecto al tratamiento psiquiátrico. Palabras clave: Reforma Psiquiátrica, Rehabilitación psicosocial, Talleres terapéuticos, Cooperativas sociales. REFLEXÕES INICIAIS Tradicionalmente a reabilitação era compreendida como a restituição a um estado anterior ou à normalidade do convívio social ou de atividades profissionais. Atualmente, PITTA (1996) considera reabilitação psicossocial como o processo que facilita ao usuário com limitações, a sua melhor 1 reestruturação de autonomia de suas funções na comunidade. Na proposta atual da Reforma Psiquiátrica no Brasil, têm-se como objetivo a desinstitucionalização e inclusão, integrando as pessoas com sofrimento psíquico nos diferentes espaços da sociedade. Segundo ROTELLI & AMARANTE (1992), a desinstitucionalização não deve ser praticada apenas no interior do hospital Enfermeira, Profª Auxiliar da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás e Mestranda do Programa de Pósgraduação em Enfermagem Psiquiátrica pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP/USP). Endereço para Correspondência: Ana Cláudia Afonso Valladares, Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás. Rua 227 Qd. 68 s/nº Setor Leste Universitário. Goiânia – GO – CEP: 74.605-080. Fax: (62)202-1033. E-mail: [email protected] 2 Enfermeira, Mestranda do Programa de Pós-graduação em Enfermagem Psiquiátrica pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP/USP). 3 Enfermeira, Mestranda do Programa de Pós-graduação em Enfermagem Psiquiátrica pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP/USP) 4 Professora Doutora do Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas da EERP/USP VALLADARES, A. C. A.; LAPPANN-BOTTI, N. C.; MELLO, R.; KANTORSKI, L. P.; SCATENA, M. C. M. Reabilitação psicossocial através das oficinas terapêuticas e/ou cooperativas sociais. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 04 – 09, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. 5 psiquiátrico, mas repropõe a necessidade de desinstitucionalizar, isto é, reabilitar o contexto. Cuja principal função reabilitadora seria a restituição da subjetividade do indivíduo na sua relação com as instituições sociais, ou melhor, a possibilidade de recuperação da contratualidade”. Para SARACENO (1999) a reabilitação psicossocial precisa contemplar três vértices da vida de qualquer cidadão: casa, trabalho e lazer. A associação das oficinas terapêuticas, do trabalho e a reabilitação podem apresentar inúmeras variações na prática ou no contexto onde é operacionalizada, mas dificilmente há contradição na idéia de que o trabalho é um instrumento de reabilitação. Podemos dizer que as oficinas terapêuticas (O Ministério da Saúde define e apresenta os objetivos das oficinas terapêuticas como: (...) atividades grupais de socialização, expressão e inserção social através da Portaria 189 de 19/11/1991) e as cooperativas sociais (Lei No 9.867 10/11/1999 dispõe sobre a criação e o funcionamento de Cooperativas Sociais, visando à integração social dos cidadãos e constituídas com a finalidade de inserir as pessoas em desvantagem no mercado de trabalho econômico por meio do trabalho. São considerados em desvantagem para efeitos da lei, os deficientes psíquicos e mentais, as pessoas dependentes de acompanhamento psiquiátrico permanente, egresso dos hospitais psiquiátricos, entre outros), enquanto dispositivos da atual Política Nacional de Saúde Mental objetivam se diferenciar em relação às suas práticas antecessoras, práticas decorrentes da idéia de estabelecer o trabalho como um recurso terapêutico, conhecido como ‘tratamento moral’. Neste contexto, entendemos que as oficinas, não se apresentam por si só uma forma inaugural de lidar com a loucura. Poderíamos neste momento perguntar em que consiste a relação da reabilitação psicossocial com as oficinas e a que se refere a atual reforma psiquiátrica ou em que sentido se referem estas diferenças em relação às práticas antecessoras deste último século? Propõe: agir, isto é, inserir socialmente indivíduos segregados e ociosos, e de recuperá-los enquanto cidadãos, através de ações que passam fundamentalmente pela inserção do paciente psiquiátrico no trabalho e/ou em atividades artísticas, artesanais, ou em dar-lhes acesso aos meios de comunicação entre outros (RAUTER, 2000). Mas isto não é totalmente novo como nos lembra RESENDE (2000) ao colocar que não é uma simples coincidência, o trabalho no campo, o artesanato e o trabalho artístico serem até hoje propostas como técnicas de tratamento e ressocialização dos doentes mentais. Estas atividades apresentam em comum a capacidade de acomodar largas variações individuais e de respeitar o tempo e o ritmo psíquico de cada trabalhador. A partir destas reflexões este estudo tem por objetivo refletir sobre o significado das oficinas terapêuticas, o trabalho e a reabilitação psicossocial. O termo “oficina” vem sendo muito empregado para designar atividades que estão sendo desenvolvidas nos espaços substitutivos de cuidados em saúde mental. O que podemos notar é uma diversidade enorme de atividades que utilizam esta nomenclatura para se caracterizarem, mas o que seria exatamente uma “oficina”? Segundo o MINISTÉRIO DA SAÚDE, Portaria 189 de 19/11/1991, estas se caracterizariam como “atividades grupais de socialização, expressão e inserção social”. DELGADO, LEAL & VENÂNCIO (1997) identificam três caminhos possíveis para a realização de uma oficina: ANTIGOS CONCEITOS E NOVAS PRÁTICAS x Terapia Ocupacional: técnica utilizada basicamente com um indivíduo que usa a arte e o artesanato x Espaço de Criação: são aquelas oficinas que possuem como principal característica a utilização da criação artística como atividade e como um espaço que propicia a experimentação constante. x Espaço de Atividades Manuais: seria uma oficina que utiliza o espaço para a realização de atividades manuais, onde seria necessário um determinado grau de habilidade e onde são construídos produtos úteis à sociedade. O produto destas oficinas é utilizado como objeto de troca material. x Espaço de Promoção de Interação: é a oficina que tem como objetivo a promoção de interação de convivência entre os clientes, os técnicos, os familiares e a sociedade como um todo. Os autores, supra citados, afirmam que os fatores de unificação das experiências intitulados “oficinas” não são os tipos de atividades desenvolvidas nestes espaços, mas a noção deste espaço enquanto facilitador da comunicação e das relações interpessoais, favorecendo deste modo à interação, a integração e a reinserção social. MINZONI (1974) já utilizava o termo terapia psicossocial e o conceituava como atividades terapêuticas que envolvem o atendimento do usuário, tanto a nível individual como em grupo, e atividades de trabalho e recreação. E, conforme sua estrutura, recebem diferentes denominações. A referida autora cita como exemplos às atividades de trabalho e recreação e as subdivide em motoras (ginástica, voleibol, trabalho em couro e madeira, entre outros), sociais (festas e datas civis, cinema, teatro e outras) e auto-expressivas (atividades espontâneas e não orientadas, como por exemplo cerâmica, pintura e dança). Podemos observar que a autora já tentava organizar as atividades, categorizando-as de acordo com os objetivos de cada uma. Inferimos que estas atividades sejam equivalentes às que hoje estamos chamando de oficinas, é claro, se fizermos as devidas relativizações temporais. Podemos afirmar que o conceito de oficina sofreu várias modificações ao longo do tempo. Para exemplificarmos esta afirmação, podemos citar KYES & HOFLING (1985) no qual encontraremos o termo “terapia” classificado das três seguintes formas: VALLADARES, A. C. A.; LAPPANN-BOTTI, N. C.; MELLO, R.; KANTORSKI, L. P.; SCATENA, M. C. M. Reabilitação psicossocial através das oficinas terapêuticas e/ou cooperativas sociais. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 04 – 09, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. como meios de tratamento. Possuía o objetivo de ocupar, para que o paciente não ficasse sem fazer nada ou seja, desocupado. x Terapia Recreativa: técnica que estimula a expressão através de atividades sociais e em grupo. Tinha como objetivo estimular a expressão dos impulsos e entreter o paciente. x Terapia Educacional: possuía como objetivo principal educar/reeducar socialmente o paciente, para que este se ajustasse as regras sociais. Para conseguirmos perceber o significado do termo “oficina” nestes dois momentos históricos faz-se necessário entender os termos entretenimento e empowerment. SARACENO (1999) define o primeiro termo como uma ação provida de prazer capaz de fazer o tempo passar. Com base neste autor podemos inferir que o principal paradigma da psiquiatria seria a manutenção do indivíduo dentro do hospital. Inferimos que ainda hoje há o risco de reproduzirmos esta lógica de controle e contenção nos chamados espaços substitutivos de cuidar em saúde mental. Precisamos refletir criticamente sobre os objetivos que levam os profissionais a utilizarem as oficinas como espaços terapêuticos e não apenas reproduzir conceitos. VASCONCELOS (2000) traz a tona o termo empowerment como de grande importância para as discussões sobre saúde mental e a construção de suas práticas do cotidiano. O referido autor define o termo como valorização do poder contratual dos pacientes nas instituições e do seu poder relacional nos contatos interpessoais na sociedade. Seria muito interessante que o significado deste termo permeasse a prática de cuidados nos espaços terapêuticos das oficinas, pois acreditamos que este seja o verdadeiro sentido do fazer oficinas. O que era Objetivos Característi-cas O que esperamos que seja * Ocupação; * Ampliar habilidades; * Não ficar sem fazer nada; * Aumentar autonomia e poder contratual; * Entretenimento. * Empowerment. * Trabalho repetitivo e monótono; * Valorização da singularidade desenvolvimento do potencial criativo; e * Com/sem contrato). / * Sem remuneração (pelo bem do serviço). * Canalização da agressividade; Resultados desejados de remuneração (desejo * Rompimento com isolamento e inserção no mundo social; * Penitência; * Expressão sexuais/sociais. 6 impulsos * Catalisação da construção de territórios existenciais; * Efetuação do desejo na vida, no trabalho e na criação; * Reinvenção da vida em seus aspectos mais cotidianos. Modalidades Locais realização Quem atua de * Terapia ocupacional; * Espaços de criação; * Terapia recreativa; * Espaços de atividades manuais; * Terapia educacional. * Espaços de promoção de interação. * Salas especiais dentro do hospital psiquiátrico. * Setting terapêutico isomórfico em relação à realidade externa (vida social e produtiva). * Equipe multidisciplinar, seguindo um modelo essencialmente biológico e organicista. * Equipe inter/transdisciplinar, abordagem holística e integrada. OFICINAS TERAPÊUTICAS As oficinas terapêuticas são atividades de encontro de vidas entre pessoas em sofrimento psíquico, promovendo o exercício da cidadania a expressão de liberdade e convivência dos diferentes através preferencialmente da inclusão pela arte. com Essas referidas oficinas já apareceram ao longo do processo histórico da psiquiatria, mas tinham um objetivo diferenciado do referencial da reabilitação psicossocial . Atualmente vem se constituindo através de princípios específicos, ou seja, a partir da reinserção das pessoas em sofrimento psíquico, mas respeitando a singularidade de cada instituição, de acordo com suas peculiaridades e regionalidades. VALLADARES, A. C. A.; LAPPANN-BOTTI, N. C.; MELLO, R.; KANTORSKI, L. P.; SCATENA, M. C. M. Reabilitação psicossocial através das oficinas terapêuticas e/ou cooperativas sociais. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 04 – 09, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. A utilização das artes dentro das oficinas terapêuticas num processo de antes e depois da perspectiva da reinserção e reabilitação psicossocial ANTES sofreu significativas transformações descritas no quadro abaixo: que 7 serão HOJE *Técnica Livre. Acreditava-se que o fazer arte já *Técnica com uma finalidade e um propósito propicia a “cura por si”, por ser um veículo de definido. Ações inclusoras e proporcionam acesso ao conhecimento do mundo interior. heterogeneidade e oportunidades de ações com base na desinstitucionalização. *Centra as estratégias terapêuticas no indivíduo *Centra as estratégias terapêuticas no indivíduo extraído do contexto familiar e social. inserido no seu contexto familiar e social. *Ênfase nos trabalhos individuais e grupais com *Ênfase nos trabalhos individuais e coletivos usuários. com usuários, familiares e comunidade. Visando a integração e a socialização dos mesmos. *Processo de ocupação aleatória do doente *Processo que permite a expressão de mental. sentimentos, emoções e vivências singulares aos doentes mentais. *Prioriza o poder hegemônico dominante (poder do médico e da verticalidade das relações intrainstitucionais). Ênfase na segregação, no estigma, na exclusão, na violência, no preconceito, na alienação, na cronificação, nas desigualdades, na diferença, na discriminação e conseqüentemente “morte dos indivíduos”. *Prioriza a autonomia, o processo criativo e o imaginário do paciente e despsiquiatrização (retirada do médico a exclusividade das decisões e atitudes terapêuticas, passando a ser compartilhada com outros profissionais) *Dá ênfase na originalidade, na expressividade, nas possibilidades e na desmistificação. *Utiliza vários recursos expressivos como a *Utiliza-se de múltiplos recursos expressivos, pintura, o desenho, a modelagem e o como dramatização, fotografia entre outros, artesanato. além dos já citados anteriormente. Ante as características citadas anteriormente pensamos em alguns princípios básicos que deveriam nortear o referido processo. Entre eles podemos enumerar: x Todos os indivíduos podem e devem projetar seus conflitos internos sob forma plástica, corporal, literária, musical, teatral etc; x Valorização do potencial criativo, expressivo e imaginativo do paciente; x Fortalecimento da auto-estima e da autoconfiança; x Visa a reinserção social os usuários; x Inter e transdisciplinariedade: uma “miscigenação” de saberes e intervenções; x Intersecção entre o mundo do conhecimento psíquico e o mundo da arte, pela expressão da subjetividade; x Reconhecimento da diversidade. TRABALHO E LOUCURA Como nos recorda SARACENO (1999, p. 127) “o trabalho em manicômio é tão antigo como o próprio manicômio”. RESENDE (2000) considera que, Franco da Rocha, foi o primeiro a defender o trabalho no hospício, escrevendo em 1889 o artigo intitulado “A questão do trabalho nos hospícios”. Franco da Rocha citado por MÂNGIA (1997) coloca que o trabalho “é a chave da abóboda do tratamento moderno da loucura” (ROCHA, 1912, p. 92). Por considerar a ociosidade “o que há de mais subversivo tanto para o espírito do louco como para o normal” (ROCHA, 1912, p. 6). Assim se estabelece o trabalho como um recurso terapêutico, conhecido como “tratamento moral”. Toda a racionalidade que orienta a terapêutica da época aponta para a eficácia da laborterapia na cura dos doentes, como coloca Franco da Rocha citado por MANGIA (1997, p. 95): “Não se deve levar, entretanto, olhar somente o valor da produção, que é grande, mas também o lado moral da questão. O insano que trabalha e vê o resultado de seu suor, sente-se mais digno; sai da condição ínfima de criatura inútil e elevase a seus próprios olhos; adapta-se ao modus vivendi que lhe suaviza grandemente a desgraça.” Apesar das experiências das colônias agrícolas, laborterapia ou ergoterapia delinearem em sua filosofia originária os objetivos, entendidos à época como terapêuticos “nas instituições se transformava em trabalho alienado (não reconhecido e não pago), sobretudo lá onde era indispensável à reprodução da própria instituição” (Saraceno, 1999, p. 133). Na proposta atual da Reforma da Assistência Psiquiátrica no Brasil, a intenção é a da desinstitucionalização e inclusão. Integrando os portadores de sofrimento psíquico nos diferentes espaços da sociedade inclusive, no trabalho. VALLADARES, A. C. A.; LAPPANN-BOTTI, N. C.; MELLO, R.; KANTORSKI, L. P.; SCATENA, M. C. M. Reabilitação psicossocial através das oficinas terapêuticas e/ou cooperativas sociais. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 04 – 09, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. COOPERATIVA E REFORMA PSIQUIÁTRICA A Psiquiatria Democrática Italiana inovou ao criar cooperativas que admitiam que 30% de seus associados tivessem históricos psiquiátricos. Tais cooperativas foram criadas através da Lei n 180, a partir de 1978, e tiveram boa aceitação, não apenas por estarem inseridas no contexto da reforma psiquiátrica, mas também pelo fato da cultura cooperativista ser difundida na Itália desde o início do século, período de elevada taxa de desemprego (WANDERLEY et al, 1997). A cooperativa se constitui como um espaço onde as pessoas com dificuldades de inserção no mercado, possam fazê-lo, por uma via que acolhe e aborda os paciente, que se tornam cooperados, de maneira apropriada. Dessa forma um lugar social diferente para os pacientes vai se constituindo; um lugar na divisão social do trabalho, ao invés de exclusão nos manicômios. Segundo AMARANTE (1997, p. 176): “as cooperativas sociais são constituídas com o objetivo, não mais ‘terapêutico’, isto é, rompendo com a tradição da terapia ocupacional, mas de construção efetiva de autonomias e possibilidades sociais e subjetivas. Por um lado, o trabalho nas Cooperativas surge como construção real de oferta de trabalho para pessoas em desvantagem social para as quais o mercado não facilita oportunidades. Por outro, surge como espaço de construção de possibilidades subjetivas e objetivas, de validação e reprodução social dos sujeitos envolvidos em seus projetos.” COOPERATIVA TRABALHO: O QUE HÁ DE NOVO Poderíamos neste momento perguntar em que consiste a relação da reabilitação psicossocial com o trabalho a que se refere a atual reforma psiquiátrica ou em que sentido se referem estas diferenças em relação às práticas antecessoras deste último século? “Se trata, sobretudo de agir, de inserir socialmente indivíduos encarcerados, segregados, ociosos – recuperá-los enquanto cidadãos [...] por meio de ações que passam fundamentalmente pela inserção do paciente psiquiátrico no trabalho e/ou em atividades artísticas, artesanais, ou em dar-lhes aceso aos meios de comunicação, etc.” (Rauter, 2000, p. 268). Segundo AMARANTE (1997) as Cooperativas passam a envolver os usuários como sujeitos sociais ativos que, rompendo com as noções de ergoterapia, arteterapia e terapia ocupacional, contam com o sujeito em sua possibilidade de produzir, criar e consumir. Além de serem uma possibilidade estratégica para o campo da saúde mental quando possibilitam a produção de recursos que podem ser, parcialmente, reconvertidos em recursos assistenciais, como a construção de moradias abrigadas, de espaços de lazer, enfim a construção de novas 8 possibilidades sociais e subjetivas. SARACENO (1999, p. 126) afirma que: “O trabalho para os pacientes psiquiátricos gravemente desabilitados, não deve ser entendido como o simples desenvolver de determinadas tarefas, pode ser na realidade uma forma ulterior de norma e contenção, de restrição do campo existencial. O trabalho, entendido como “inserção laborativa”, pode, ao invés disso, promover um processo de articulação do campo dos interesses, das necessidades, dos desejos [...] Neste momento as cooperativas integradas são ao mesmo tempo serviços (de tratamento) e lugares de produção (no mercado), e esses dois aspectos são mediados pela sua função formativa [...] lugares de promoção da autonomia bem como de proteção: funções que deveriam ser próprias de um bom serviço de saúde mental.” CONSIDERAÇÕES FINAIS Segundo Deleuze e Guatarri citado por RAUTER (2000) o trabalho e a arte podem ser grandes “vetores de existencialização”. RAUTER (2000, p. 268) retoma Marx para pensar as condições do trabalho no capitalismo – no trabalho alienado – as condições pelas quais o trabalho pode se constituir como vetor de existencialização estão bastante reduzidas ou inexistentes. Contrapondo coloca que as “oficinas serão terapêuticas ou funcionarão como vetores de existencialização caso consigam estabelecer outras e melhores conexões que as habitualmente existentes entre produção desejante e produção da vida material” . Assim podemos perguntar qual seria o sentido das oficinas terapêuticas na proposta da reforma psiquiátrica. RAUTER (2000, p. 271) nos ajuda a nortear uma resposta quando coloca que: “as oficinas, o trabalho e a arte possam funcionar como catalisadores da construção de territórios existenciais (inserir ou reinserir socialmente os ”usuários”, torná-los cidadãos...), ou de “mundos” nos quais os usuários possam reconquistar ou conquistar seu cotidiano ... de cresse que está se falando não de adaptação à ordem estabelecida, mas de fazer com que trabalho e arte se reconectem com o primado da criação, ou com o desejo ou com o plano de produção da vida.” A experiência do trabalho das oficinas torna-se positiva quando uma de suas funções é também o de intervir no campo da cidadania. Assim, atuando no âmbito social, contribui como possibilidade de transformação da realidade atual no que diz respeito ao tratamento psiquiátrico. Atualmente, os profissionais de saúde mental percebem o significado do espaço da oficina a partir de referenciais humanistas, dentro do contexto da Reforma Psiquiátrica. Porém, se partirmos para uma análise profunda do contexto social em que estes profissionais atuam, em especial enfermeiros, latinoamericanos, brasileiros, trabalhadores assalariados, poderão perceber claramente que o grau de sofrimento VALLADARES, A. C. A.; LAPPANN-BOTTI, N. C.; MELLO, R.; KANTORSKI, L. P.; SCATENA, M. C. M. Reabilitação psicossocial através das oficinas terapêuticas e/ou cooperativas sociais. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 04 – 09, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. destes profissionais é grande, haja visto a realidade que nos cerca. Na sociedade em que vivemos, afirma RAUTER (2000, p. 269) “ocorre a prevalência dos aspectos técnicoeconômico ou dos aspectos jurídicos sobre aqueles referentes à produção desejante é o que está condenando nosso mundo à desertificaçãodesertificação das relações amorosas e do sexo, esvaziamento do campo coletivo, produção de um número cada vez maior de excluídos, não apenas do mercado de trabalho, mas de um cotidiano, já que muitos modos de ser não se adequam a um mundo que coloca em primeiro plano aspectos ligados à produtividade técnico-econômico.” Podemos ver ao longo do seminário que Franco da Rocha já defendia a utilização de oficinas dentro das chamadas colônias de alienados, logo, não podemos considerá-las uma nova possibilidade de cuidados em saúde mental. Precisamos considerar sim as novas possibilidades de intervenção nestes espaços terapêuticos, de maneira tal que não as utilizemos a mesma forma que Franco da Rocha, mas como os outros “Franco”, Franco Basaglia e Franco Rotelli. ROCHA, F. Hospício e colônias de Juquery. Vinte anos de assistência aos alienados. São Paulo: Typ. Brasil, 1912. ROTELLI, F.; AMARANTE, P. Reformas Psiquiátricas na Itália e no Brasil. Aspectos Históricos e Metodológicos. In: BEZERRA, B.;AMARANTE, P. (Org.): Psiquiatria sem Hospício. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1992. SARACENO, B.A reabilitação como cidadania. In:Libertando identidades: da reabilitação psicossocial à cidadania possível. Rio de Janeiro: TeCorá, 1999. cap. 5, p.111-142. VASCONCELOS, E.M. Reinvenção da cidadania, empowerment no campo da saúde mental e estratégia política no movimento de usuários. In: AMARANTE, P. (Org.). Ensaios: subjetividade, saúde mental, sociedade.Rio de Janeiro: Fiocruz, 2000. cap. 12, p. 267-277. WANDERLEY, A.A.R. et al. 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Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. 10 MOTIVAÇÕES DO PACIENTE RENAL PARA A ESCOLHA A DIÁLISE PERITONEAL AMBULATORIAL CONTÍNUA MOTIVATIONS OF RENAL PATIENT TO CHOOSE THE CONTINUUM AMBULATORIAL PERITONEAL DIALISE MOTIVACIONES DEL PACIENTE RENAL PARA LA ELECCIÓN DE LA DIÁLISIS PERITONEAL AMBULATORIA CONTINUA Hiarlene Gonçalves Silva 1 Maria Josefina da Silva 2 RESUMO: A doença renal impõe ao seu portador uma nova concepção devida. Hoje, modernas técnicas, possibilitam maior liberdade ao cliente, sendo uma delas, Diálise Peritoneal Ambulatorial contínua. Objetivamos estudar a eleição pelo método e os sentimentos com relação a esta escolha pelos clientes. Concluímos que o método, apesar de suas vantagens, ainda não é o de primeira opção, os pacientes, em alguns casos não estão bem treinados com intercorrências, mas a maioria está satisfeita com a escolha. A enfermagem ainda participa pouco deste processo mas tem um papel importante no acompanhamento ambulatorial e domiciliar deste cliente, necessitando maior formação específica. PALAVRAS CHAVES: Diálise Peritoneal; Métodos Terapêuticos; Cuidados de Enfermagem. ABSTRACT: The renal disease imposes to its porter a new conception due. Nowadays, modern techniques, make possible more freedom to the client, being one of them, continuum Dialise peritoneal ambulatorial. Our objective is to study the election by the method and the feelings related to this chose by the client. We conclude that ther method, despite its advantages, is not the first option yet, the patient, in some cases are not well trained with intercorrences, but most of them are satisfied with the chose. The nursing still participates just a bit of this process but it has important role in the ambulatorial and domiciliar attendance of this client, needing more specific formation. KEY WORDS: Peritoneal Dialisis; Therapeutic Methods; Nursing Care RESUMEN: La enfermedad renal le impone a su portador una nueva concepción de vida. Hoy, algunas técnicas modernas, le posibilitan una libertad mayor al cliente, siendo una de ellas, la Diálisis Peritoneal Ambulatoria Continua. Tuvimos el objetivo de estudiar la elección de este método y los sentimientos de los clientes en relación a dicha elección. Llegamos a la conclución de que el método, a pesar de tener sus ventajas, todavía no es la primera opción, los pacientes, en algunos casos no están bien entrenados con contingencias, pero la mayoría está satisfecha con la elección. Los enfermeros todavía participan poco de este proceso pero tienen un papel importante en el acompañamiento ambulatorio y domiciliar de este cliente, necesitando una mayor formación específica. TERMINOS CLAVES: Diálisis Peritoneal; Métodos terapéuticos; Cuidados de Enfermería. INTRODUÇÃO A falência renal pode afetar qualquer pessoa e pode ocorrer a qualquer momento da vida. A doença normalmente progride de forma lenta, mas gradual, resultando em múltiplos sinais e sintomas decorrentes da incapacidade do rim de manter a homeostasia interna. A insuficiência Renal Crônica- IRC, é uma doença onde há uma perda progressiva e, geralmente, irreversível da função renal de depuração, sendo qualificada em leve, moderada e grave ou terminal. (BARROS et al, 1999). Nessas circunstâncias o rim não consegue realizar sua função filtradora, isto é, retirar do sangue todas as escórias metabólicas, como uréia e creatinina que chegam a ele, e que devem ser eliminados na urina, além de influenciar em outras importantes funções no organismo, como produção de eritropoetina e da forma ativa de vitamina D. Embora não exista cura para a falência renal, estão disponíveis várias modalidades de tratamento: Hemodiálise (HD): consiste na filtração do sangue 1 2 através de um processo extracorpóreo de depuração mediado pela membrana de um deslizador, que funciona como um rim artificial. A duração de cada sessão desta terapêutica varia de 3 a 4 horas, 3 vezes por semana. Para a realização deste tratamento, torna-se necessário a utilização de um acesso vascular, que pode ser temporário, como os cateteres de vaso profundo de duplo lúmen, ou permanentes: fístula artério-venosa. Diálise Peritoneal Intermitente DPI: realizada 2 vezes por semana, com duração mínima de 24 horas, com tempo de permanência de 30 minutos, necessitando de ambiente hospitalar e pessoal treinado. Diálise Peritoneal Ambulatorial Contínua -DPAC: permite a realização em domicílio pelo paciente e/ou responsável, sendo 4 trocas diárias, com tempo de permanência de 4 a 6 horas. Diálise Peritoneal Contínua Assistida por Cicladora -CCPD ou Diálise Peritoneal Automática - DPA: realizada a noite durante o sono do paciente, ficando este conectado a uma máquina cicladora automática que periodicamente substitui a solução de diálise por uma nova, por meio da gravidade. Graduanda em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará. Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta do Departamento de enfermagem da Universidade Federal do Ceará SILVA, H. G.; SILVA, M. J. Motivações do paciente renal para a escolha a diálise peritoneal ambulatorial contínua. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 10 – 14, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. Os indivíduos portadores dessa doença, para manterem-se vivos, têm que ser submetidos a um destes tratamentos. Todas estas técnicas utilizam um filtro natural, o peritôneo, membrana semipermeável, que reveste o abdome e é ricamente vascularizada, o que a torna uma área ideal para realizar a diálise. Dentre as modalidades de tratamento para a insuficiência renal, a DPAC possibilita maior independência e liberdade ao cliente, tornando-o instrumento indispensável para o seu autocuidado e a melhora da qualidade de vida. Este estudo tem como objetivos: investigar o contexto em que o paciente toma conhecimento deste tipo de tratamento dialítico; pesquisar os critérios de escolha do cliente para a terapêutica escolhida; verificar a aceitação dos clientes pelo convívio diário com a DPAC. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A pesquisa consiste em um estudo exploratório descritivo com análise de dados através de freqüência simples. Seu locus foi uma clínica de hemodiálise, na cidade de Fortaleza – Ce, cujo quadro funcional conta com médicos, enfermeiras, auxiliares de enfermagem, assistente social, além do pessoal de apoio administrativo e de manutenção. Atualmente a clínica possui 25 pacientes que fazem tratamento de CAPD. A população foi constituída de 25 pacientes, porém foi utilizada uma amostra de 21 pacientes, pois; dois não tiveram condições físicas de serem entrevistados, e dois estavam viajando por ocasião coleta de dados. Os instrumentos para coleta de dados foram: prontuário dos pacientes onde buscamos toda o histórico de saúde do paciente: doença de base, exames laboratoriais e outros e entrevista semiestruturada. O acesso aos sujeitos da pesquisa foi através de telefone quando explicamos os objetivos do trabalho e o convite para participar. Posteriormente, os que concordaram, foram convidados a comparecer à clínica para a coleta de dados. O projeto foi aprovado pelo Conselho de Ética da Universidade Federal do Ceará, sendo dadas informações necessárias sobre o propósito do trabalho, sem a ocorrência de dados físicos ou psicológicos e assegurada anonimato e o direito de interromper sua participação em qualquer momento que fosse desejado. Caracterização dos sujeitos da pesquisa Observamos que 12 (57,1%) estão na faixa etária de 36 a 56 anos, compondo a faixa populacional dos economicamente ativos. As limitações advindas da necessidade de diálise, impedem o desempenho profissional e o convívio social destes clientes, onerando o sistema de saúde e família. Quanto ao sexo, não há diferença significativa. São casados 13 (61,9%) dos sujeitos, e a prática do CAPD, como tratamento substitutivo, requer participação e apoio familiar para maior aceitação e adaptação à terapêutica. A maioria (71,4%) reside em 11 Fortaleza, facilitando o acompanhamento e evolução da doença. Verificamos também que 10 (47.5%) dos participantes são analfabetos ou estudaram até o ensino fundamental incompleto, sendo este uma importante observação para a assistência de enfermagem apropriada ao perfil da clientela. A escolaridade foi incluída no estudo, por considerarmos um fator importante para a compreensão do tratamento, capacidade de aprender os conceitos básicos da técnica do CAPD e como proceder na técnica do autocuidado. DOENÇAS ASSOCIADAS À INSUFICIÊNCIA RENAL No que respeita a doença de base dos clientes entrevistados, 38,0% apresenta Nefroesclerose Hipertensiva, mostrando o alto índice de hipertensos que chegam a desenvolver a Insuficiência Renal Crônica (IRC). A Nefroesclerose Diabética isolada corresponde a 14.2% da clientela. Devido à fragilidade capilar causada por essa doença a perda do acesso permanente para hemodiálise (FAV) é bastante freqüente. (GROSS et al, pg. 1996) Hipertensão e Diabetes aparecem associadas em 66.4% da clientela entrevistada que desenvolveram a Insuficiência Renal. Segundo ANDRADE (1998) este complicador pode levar à morte ou a um dano renal lento mas progressivo.Neste momento, é válido ressaltar a importância da atenção primária desenvolvida, principalmente no programa de saúde da família (PSF), para alertar os profissionais de saúde que além do controle destas patologias atentar para sinais e sintomas precoces indicativos de falência renal. Também é alta a percentagem de doença renal crônica relacionada a Glomerulonefrite Crônica (19%). FIALHO et al (1988, p. 166) afirmavam que a “hipertensão Arterial ocorre desde o início ou surge durante o processo de evolução da doença”. Ainda foi encontrado doença renal crônica relacionada à Síndrome Nefrótica (9,5%)e Nefrocalcinose (4,5%). Comparando o tempo do diagnóstico da doença com o tempo de tratamento com o CAPD observamos que 12 (57.1%), há mais de 5 anos, convivem com a falência renal e apenas 10 (47.6%) clientes praticam o CAPD há mais de um ano. Desta forma, concluímos que a maioria dos clientes demora a ingressar no CAPD, e só o praticam quando há necessidade de outra modalidade de tratamento, e mesmo assim, o CAPD é uma terapêutica desconhecida pela grande maioria dos pacientes. E importante ressaltar que o tratamento com CAPD não é oneroso para a clínica e a mesma possui regras operacionais de encaminhamentos de pacientes carentes para o CAPD, ajudando-lhes financeiramente quando necessário. OPÇÕES DE ENTREVISTADOS TRATAMENTO PELOS SILVA, H. G.; SILVA, M. J. Motivações do paciente renal para a escolha a diálise peritoneal ambulatorial contínua. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 10 – 14, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. A hemodiálise é o tratamento inicial realizado por 20 (95.2%) entrevistados. Apenas uma paciente (4.76%) não teve experiência com outro tipo de tratamento, entrando diretamente no CAPD. Deste modo, fica mais claro perceber que a Hemodiálise é o tratamento de primeira escolha para a busca do tratamento da falência renal, sendo necessário uma divulgação maior sobre o que é o CAPD. Segundo BRUNNER & SUDDARTH (1999, pg. 987): “Os pacientes susceptíveis as rápidas alterações hídricas, eletrolíticas e metabólicas que ocorrem durante a hemodiálise apresentam menos problemas com uma menor velocidade da diálise peritoneal”. Há uma indicação do CAPD como terapia substitutiva para clientes com Nefroesclerose Diabética, pois é uma terapia contínua e lenta, facilitando o controle da glicemia, como afirmam Castro e Cols (1986). Desta forma, há diferentes indicações e tipos de pacientes para cada tratamento, mas a maioria dos pacientes tem condições de ser bem sucedido em qualquer modalidade terapêutica. Portanto observa-se a necessidade de divulgação dos métodos dialítico existentes para maior participação do cliente no seu tratamento. A fonte de informação sobre o método CAPD foi, predominantemente médica 17 (80.9%) e apenas 2 (9.52%) tiveram informações desta prática com a enfermeira. Deste modo, concluímos que a Enfermagem necessita participar mais efetivamente junto aos clientes, orientando-os e esclarecendo-os constantemente. Para tanto, faz-se necessário que a enfermeira não assuma unicamente o papel assistencial, e sim que participe da avaliação inicial do paciente e da decisão sobre a terapia dialítica, em parceria com o médico. Por opção pessoal, 03 (14.2%), estão realizando o CAPD por entenderem ser um tratamento menos agressivo, mais compatível com seu estilo de vida, ou por estagnação física e emocional. Quando o cliente toma esta decisão, ocorre uma avaliação médica quanto a conveniência do tratamento com o grau de insuficiência renal. A decisão pelo método deve ser partilhada pela a família, pois o conhecimento ao tratamento está restrito a sua necessidade. É necessário que sejam expostos ao cliente e família os tipos de tratamento dialítico, suas vantagens e desvantagens, alem de suas conseqüências. Verificamos que 12 (57.1%) dos participantes executam o CAPD por indicação médica não como tratamento de primeira escolha, mas por não possuírem acesso vascular para a realização hemodiálise ou devido a cardiopatias (4.76%) e glaucoma que representa também 4,76% da clientela. Quatro (19%) dos clientes estão no CAPD por indicação médica relacionada a outros problemas como, reação alérgica a produtos da hemodiálise, mal estar contínuo. Desta forma, concluímos que a grande maioria dos entrevistados não conhece o CAPD logo que ingressam na Hemodiálise,demoram na escolha de outro método tentando se adaptar, porém com o tempo 12 este tratamento acomete outros sistemas fisiológicos, causando conseqüências cardíacas, pulmonares e outras, e aí então, pensa-se em um tratamento menos agressivo, como o CAPD, o qual poderia ter sido o tratamento de escolha para a falência renal. PROCESSO ADAPTATIVO À CAPD Sessenta e seis por cento da clientela (14), foram treinados e realizam a troca de bolsas diárias e, para 7 (33.3%), as trocas de bolsas são realizadas por algum familiar ou outra pessoa treinada. Desta forma, observamos como se faz presente o apoio familiar junto ao paciente renal que realiza o CAPD. Todo paciente ao ingressar no CAPD, passa por um período de treinamento, realizado pela enfermeira do centro de diálise, que constitui-se de aulas teóricas e práticas, adaptadas as condições do paciente e/ou familiar em assimilar os conceitos e as rotinas dos procedimentos. De acordo com o protocolo de rotina da clínica de hemodiálise, o treinamento será sempre realizado com a presença do paciente, mesmo não sendo ele o responsável pelas trocas, só em situações excepcionais, é realizado o treinamento somente com o familiar ou responsável. Acerca da presença de outra pessoa não treinada no local da troca, foi relatado por 9 (42.8%) que outras, pessoas alheias ao tratamento, já se fizeram presente durante ou após as trocas. Estes afirmaram que a causa foi apenas curiosidade. Mesmo não sendo uma contra-indicação explícita, trata-se de um fator de risco para esses clientes, pois desconhecemos as condições em que entraram no local, que momento exato interrompeu a troca, e se tiveram alguns cuidados quanto a assepsia de mais uma pessoa que se fez presente no local das trocas, portanto o maior número de pessoa no local propicia uma maior susceptibilidade ao cliente de se distrair e cometer algum erro ou acidente, aumentando o risco de complicação. A conseqüência desta falha no controle das trocas é evidenciada quando 13 (61.9%) clientes afirmam já tirem passado por alguma complicação relacionada ao CAPD. Relacionando estas complicações mais comuns, a peritonite é a que representa o maior temor para 13 (61.9%) dos sujeitos da pesquisa, relatando que tiveram uma, duas ou três vezes complicações por peritonite. A peritonite é causada pela contaminação acidental do cateter, líquido ou tubo durante as trocas das bolsas, dependendo do cuidado meticuloso do cliente com a técnica e medidas assépticas. A importância deste evento é destacada por BEVILACQUA & GUERRA (2001, p. 34): a peritonite geralmente responsiva ao tratamento, tem importante significância devido aos custos associados ao diagnóstico, hospitalização e terapia, perda de produtividade, desnutrição, falência do método com transferência para hemodiálise, em 1 a 3% dos casos, evolução com óbito do paciente”.As demais intercorrências encontradas foram: infecção no orifício de saída do cateter; infecção de túnel; complicações como refluxo gastro-esofágico e técnica SILVA, H. G.; SILVA, M. J. Motivações do paciente renal para a escolha a diálise peritoneal ambulatorial contínua. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 10 – 14, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. asséptica incorreta. A maioria destas complicações infecciosas (28,6%), ocorreu logo no início do tratamento após um ano essa incidência consideravelmente (9,5%), evidenciando a importância do treinamento dos clientes e assim, tornando-os mais aptos de identificar dificuldades e erros. Também o enfermeiros que trabalha com este tipo de tratamento deve ser qualificado para se fazer presente no processo do tratamento, para avaliação periódica da evolução dos pacientes, e quando necessário, reciclar o treinamento de acordo com a clientela. Assim, a enfermagem teria uma assistência preventiva com maiores retornos e satisfação quanto ao tratamento, isto completaria as visitas domiciliares, ambas prevenindo as complicações e não somente quando for necessário ou indicado. Quanto aos sentimentos com relação ao tratamento de opção, mais da metade da população 16 (76.1%), “sentem-se bem” em praticar a CAPD, isto porque relatam ter mais liberdade, ânimo e disposição para realizar atividades, como: passear e trabalhar, ficam mais tempo em casa junto a família, a qual facilita o processo de adaptação e se distanciam da “máquina”, termo utilizado para se referirem a máquina de hemodiálise, tornando-se mais independente da mesma e da clínica. Como notamos a prática da DPAC proporciona muitos benefícios, dentre outros convívio familiar e social, independência e liberdade de deslocamento para passeios e viagens longas, possibilidade de retorno das atividades profissionais, escolares e do lar, preservação dos vasos, não necessitando da punção de 6 agulhas semanais para a diálise, maior liberdade de dieta, frutas e líquidos, maior flexibilidade de horários para realizar a diálise, o paciente é treinado e orientado para o seu autocuidado, preserva a função residual por mais tempo, promovendo uma maior qualidade de vida e possibilita maior estabilidade cardíaca, menor variação do peso e maior controle da pressão arterial e anemia. Esta satisfação é comprovada pela literatura (BRUNNER & SUDDARTH, 1999). Se por um lado temos a satisfação do cliente, por outro temos o cansaço do cuidador. O idoso submetido a este tratamento sofre por se tornar dependente do cuidador, causando sobrecarga emocional e psico-social, além de queixas pelo isolamento dos amigos adquiridos nas sessões de hemodiálise. É importante criar um grupo de pacientes submetidos a DPAC, buscando satisfazer as necessidades de seus membros, oferecendo aceitação, apoio e auxílio mútuo, superando padrões de comportamentos mal-adaptativos, onde eles próprios busquem se ajudar e ajudar os outros. O grande problema da DPAC, segundo os entrevistados, é a adaptação deste e da família a este tipo de tratamento domiciliar. A adaptação se deu por uma questão de sobrevivência. Pacientes relataram que ou faziam o CAPD ou ficariam em casa aguardando o dia da morte. Destes 9.5% realizam o tratamento, porém com medo de sofrer algum processo infeccioso. Neste caso a capacitação e auto- 13 confiança devem ser fortalecidas para evitar que este sofra alguma complicação pela falta de capacitação. Outro aspecto são as intercorrências sistêmicas, conforme relato de um paciente que referiu passar mal com bolsas de diálise mais concentrada, estando o intestino mais sensível. Neste caso, é necessário uma avaliação precisa da enfermeira quanto a técnica correta durante a troca, se a concentração está correta, e iniciar um plano assistencial, juntamente com o médico, que melhore a sintomatologia deste cliente , para a aceitação do método utilizado. A ansiedade vivenciada pelos pacientes que praticam a DPAC está relacionada a eventuais transtornos técnicos ou acidentais, que venham causar alguma infecção, porém tal ansiedade é reduzida por um treinamento e acompanhamento satisfatório, que faz com que o paciente se torne firmemente convencido da sua própria capacidade e autoconfiança em se autocuidar. Para o paciente renal crônico que realiza o CAPD a distorção da imagem corporal causa forte impacto psicológico quanto ao seu aspecto físico, podendo prejudicar o tratamento enquanto não houver aceitação de suas conseqüências, como o aumento do abdômen com sensação de obesidade. A rejeição do cateter torna estes pacientes mais susceptíveis a infecção. BRUNNER & SUDDARTH (1999, p. 997) a respeito disso, esclarecem que a cintura aumenta de três a cinco centímetros (ou mais) com o líquido infundido no abdômen, e isso complica para o paciente na hora de escolher uma roupa favorecendo a sensação de obesidade. A imagem corporal pode ser tão afetada que o paciente pode passar dias ou semanas sem olhar para o cateter, nem mesmo cuidar de sua limpeza. Verificamos com a pesquisa que 17 (30.9%) não referem dificuldades na prática e condução do tratamento dialítico e apenas 4 (19%) relatam dificuldades econômicas, cansaço físico para realização das trocas. Neste caso, outras pessoas próximas podem ser treinadas para aliviar este cansaço fixando os horários de acordo com o seu estilo de vida. Quanto ao nível se satisfação do tratamento, observamos também que 17 (80.9%), não tem interesse de mudar de modalidade de tratamento e dizem: “Só sairia deste tratamento se tivesse um rim de plástico que resolvesse o problema”. “Gostaria de ficar normal, mas como não é possível quero ficar no CAPD”. “Este tratamento é a minha tranqüilidade, espero ficar muito tempo e jamais voltar para a hemodiálise e se isso acontecer que “o Chefe’ (Deus) me leve antes.” Verificamos que 4 (19%) da clientela, tem interesse de mudar de modalidade de tratamento, um destes clientes continua o tratamento até conseguir um SILVA, H. G.; SILVA, M. J. Motivações do paciente renal para a escolha a diálise peritoneal ambulatorial contínua. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 10 – 14, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. transplante e os outros três, que representa 14.2% da população tem interesse pela DPA – Diálise Peritoneal Automática. As diferenças da DPA para DPAC são: a DPA utiliza bolsas plásticas com volumes maiores (6L); dializa por toda à noite; a máquina controla automaticamente os ciclos de infusão, permanência e drenagem da solução, bem como memoriza os registros de volumes de sua drenagem; a infusão e drenagem são automáticas e independe da gravidade; redução do número de trocas ao dia, menor risco de infecção e ciclos de diálise mais precisos, controlados automaticamente. Desta forma, é importante que a enfermeira avalie periodicamente o nível de adaptação dos clientes que realizam CAPD e os informe sobre outros tipos de tratamentos, vantagens e desvantagens e quais as probabilidades de mudança de tratamento. Na opinião de CASAGRANDE & CESARINO (1998), a enfermeira necessita ter, além da fundamentação científica e da competência técnica, conhecimentos dos aspectos que levam em consideração os sentimentos e as necessidades dos pacientes.Assim, o papel da enfermeira é destacado como de grande colaboração na tentativa de ajudar o paciente renal crônico a adaptar-se ao novo estilo de vida. Por fim, o papel da equipe multiprofissional, como um todo, é buscar o mais alto bem-estar para o paciente, dentro de suas possibilidades, respeitando sua individualidade e opções, buscando assisti-lo como um todo, holisticamente, dentro do complexo biopsicosocial, tendo em mente que, em DPAC, o principal responsável pelo sucesso do tratamento será o próprio paciente. A atuação da(o) enfermeira(o) como educadora e facilitadora da adaptação do cliente é indispensável, pois a mesma é responsável pelo treinamento e conscientização do cliente sobre o autocuidado, conduzindo informações a todos os clientes, tornandoos membros ativos no processo saúde-doença, sendo o paciente o responsável pelo sucesso do tratamento. O apoio familiar é indiscutivelmente de grande importância para o cliente renal crônico em programa de CAPD, facilitando o processo adaptativo REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, M. M. de. Introdução a Metodologia do Trabalho Científico: elaboração do trabalho na graduação. São Paulo: Atlas 1998. BARROS, E: MAN R. C; THOMÉ, F. S. GONÇALVES, L. F. S. Nefrologia: Rotinas, Diagnósticos e Tratamentos. 2 ed. Porto Alegre. ARTMED. 1999. BEVILACQUA, J. L; GUERRA, E. M. M. Protocolo para DPAC. 2ª Ed. São Paulo. 2001, 100pgs. BRUNNER, L. S. & SUDDARTH, D. S. Tratado de Enfermagem Médico - Cirúrgico. 8 ed. Rio de Janeiro; Guanabara Koogan, 1999. 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Desta forma, a assistência primária possui uma importância relevante na detecção e acompanhamento de pacientes portadores desta patologia para um alerta à pacientes com sinais e sintomas precoces indicativos de falência renal. A CAPD um tratamento com início protelado, pois a hemodiálise, nos dados analisados, constitui o tratamento de primeira escolha, ficando esta opção terapêutica decorrente do desgaste físico, principalmente por ausência de acesso vascular. O conhecimento sobre o método veio através do médico e apenas uma minoria obteve informação da enfermeira, demonstrando a necessidade da divulgação dos tipos de métodos dialíticos, suas vantagens, desvantagens e conseqüências. A(o) enfermeira(o) deve participar da avaliação inicial do paciente e da decisão sobre a terapia dialítica, junto ao médico. 14 Texto original recebido em: 18/02/2003 Publicação aprovada em: 25/04/2003 NAKATANI, A. Y. K.; SOUTO, C. C. S.; PAULETTE, L. M.; MELO, T. S.; SOUZA, M. M. Perfil dos cuidadores informais de idosos com déficit de autocuidado atendidos elo Programa de Saúde da Família. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 15 – 20, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. 15 PERFIL DOS CUIDADORES INFORMAIS DE IDOSOS COM DÉFICIT DE AUTOCUIDADO ATENDIDOS PELO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA INFORMAL CAREGIVERS OF OLD PEOPLE WITHOUT SELF CARE FROM A HEALTH FEMILY PROGRAM PERFIL DE LAS PERSONAS QUE CUIDAN INFORMALMENTE ANCIANOS CON UNA DEFICIENCIA DE AUTOCUIDADO ATENDIDOS POR EL PROGRAMA DE SALUD FAMILIAR Adelia Yaeko Kyosen Nakatani 1 Christiane do Carmo Soares Souto 2 Leina Marta Paulette 2 Terezinha Silvério de Melo 3 Márcia Maria de Souza 4 RESUMO: Identificação das condições sócio-econômico-culturais dos cuidadores informais de idosos com déficit de autocuidado, atendidos no Programa Saúde da Família (PSF) da região norte, Jardim Guanabara III, em Goiânia, Goiás. A população estudada foi constituída de nove cuidadores de idosos, inseridas no PSF, de outubro a novembro de 2001. Os resultados mostram que os cuidadores são pessoas do gênero feminino (esposas, filhas, netas e vizinhas), entre 18 a 67 anos, com renda mensal oscilando entre um a sete salários mínimos e com escolaridade entre o primeiro e o segundo grau. O conhecimento deste perfil favorece aos profissionais da área, para planejar e implantar programas voltados à realidade do idoso e seus cuidadores. PALAVRAS CHAVES: Assistência; Geriatria; Saúde do Idoso SUMMARY: This research describes the social, economic and cultural conditions of the informal caregivers of old people without self-care from the Family Health Program. Nine informal caretakers of the North Region Program Jardim Guanabara III - Goiânia, Goiás, Brazil, were studied during October and November, 2001. The results show that they are women (wives, daughters, granddaughters and neighbors), who are 18-67 years old and they are to be worth 1 to 7 Brazilian minimal salary (U$ 80,00) per month. The most people have between first and second degree of high school. These are important to know because the professionals (doctors and nurses) can plain good programs to old people. KEY WORDS: Assistance; Geriatric; Old adult Health RESUMEN: Identificación de las condiciones socioeconómicas y culturales de las personas que cuidan informalmente ancianos con una deficiencia de auto cuidado, atendidos por el programa de salud familiar (PSF) de la Región Norte, Jardim Guanabara III, en Goiania, Goiás. La población estudiada es constituida de nueve personas encargadas de cuidar ancianos, involucradas en el PSF, de octubre a noviembre del 2001. Los resultados muestran que estas personas son todas del sexo femenino (esposas, hijas, nietas y vecinas), entre 18 a 67 años, con sueldo mensual aproximado entre uno y siete sueldos mínimos y con grado escolar entre el primero y segundo grado respectivamente. El conocimiento de este perfil favorece a los profesionales del área, en el sentido de posterior planeamiento e implantación de programas vueltos a la realidad del anciano y de las personas encargadas al cuidado de éste. TERMINOS CLAVES: Assistencia; Geriatria; Salud Del Anciano INTRODUÇÃO Idoso é todo indivíduo com sessenta anos ou mais; o que representa, atualmente, no Brasil, mais de doze milhões de pessoas (8% da população) (BRASIL, 1999a). Estudos realizados sobre a terceira idade demonstram mudanças significativas na pirâmide populacional. Atribui-se a isso a baixa fecundidade e baixa mortalidade. Em conseqüência, para o ano de 2025, os idosos representarão 15% da população brasileira total, ou seja, mais de 32 milhões de indivíduos (BRASIL, 1999a) tendência atual das instituições hospitalares de conceder alta precoce ao geronte, para diminuir os 1 Juntamente com esta mudança, ocorrem alterações na incidência e prevalência das doenças. As principais causas de morbi-mortalidade passam a ser as patologias crônico-degenerativas que, segundo o Ministério da Saúde, vão perdurar em média por quinze a vinte anos na vida do idoso (BRASIL, 1999a). Tais doenças requerem várias internações institucionais, afastando o mesmo do seu ambiente domiciliar, o que acarreta transtornos na sua vida e de sua família. Muitos cuidados prestados a estes pacientes podem ser realizados no domicílio, indo ao encontro à custos e acelerar sua recuperação num ambiente familiar (SMELTZER et al., 1998). O lar exerce sobre o Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Adjunto da Faculdade de Enfermagem da Universidade federal de Goiás. Rua 227, Qd 68 s/n (FEN-UFG); Setor Leste Universitário; CEP 74605-080; Goiâinia (GO). adé[email protected] 2 Enfermeira do Programa de Saúde da Família; 3 Enfermeira. Mestre em Enfermagem; Especialista em gerontologia e Saúde do Idoso; Professora Assistente da Faculdade de Enfermagem da Universidade federal de Goiás. [email protected] ; 4 Enfermeira. Mestre em Medicina Tropical; Professora Assistente de Faculdade de Enfermagem – UFG. má[email protected] NAKATANI, A. Y. K.; SOUTO, C. C. S.; PAULETTE, L. M.; MELO, T. S.; SOUZA, M. M. Perfil dos cuidadores informais de idosos com déficit de autocuidado atendidos elo Programa de Saúde da Família. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 15 – 20, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. idoso um papel importante na manutenção da sua própria identidade, podendo favorecer sua autonomia e independência, proporcionando-lhe melhorias para sua recuperação e qualidade de vida. No entanto, o sucesso da recuperação do idoso no domicílio depende de pessoas preparadas para prestar-lhes os cuidados. Cabe à equipe multiprofissional avaliar criteriosamente essas pessoas antes de conceder-lhes alta hospitalar, considerando o nível de conhecimento em relação aos cuidados gerais e à capacidade de aprendizagem dos cuidados específicos à recuperação dos idosos,. É necessário, também, que a equipe de saúde proceda ao acompanhamento domiciliar para avaliar o cuidado prestado e o suporte necessário. A Unidade Básica de Saúde da Família é caracterizada como porta de entrada do sistema local de saúde, onde o Programa de Saúde da Família (PSF) atua de acordo com as realidades regionais, municipais e locais (BRASIL, 2000). Com a emergência da população idosa em todo país, fazemse necessárias estratégias de ações voltadas a esta clientela, inserida no PSF. Aquele que presta cuidados ao idoso, chamado cuidador, pode ou não ter vínculo familiar. Existem, ainda, dois tipos de cuidadores: o formal e o informal (BRASIL, 1999b). O cuidador formal é um profissional preparado em uma instituição de ensino para prestar cuidados no domicílio, segundo as necessidades específicas do cliente (REJANE & CARLETTE, 1996). O cuidador informal, no entanto, é um membro da família ou da comunidade, que presta cuidado de forma parcial ou integral aos idosos com déficit de autocuidado. Tal indivíduo deve ser alfabetizado e possuir noções básicas sobre o cuidado do idoso e compreensão mínima do processo de envelhecimento humano. São indivíduos que terão a função de auxiliar e ou realizar a atenção adequada às pessoas idosas que apresentam limitações para as atividades básicas e instrumentais da vida diária, estimulando a independência e respeitando a autonomia destas (BRASIL, 1999b). As várias alterações que ocorrem com o envelhecimento, tais como, perdas celulares, enfraquecimento do sistema músculo-esquelético e diminuição da capacidade funcional de muitos sistemas bioquímicos, levam o idoso a um prejuízo que só é amenizado se o cuidador conseguir identificar este processo (LUDERS & STORANI, 1996). SILVA & NERI (1993) mostram que os cuidadores oriundos de redes informais de apoio, como filhos, parentes e amigos, constituem a mais importante fonte de suporte de idosos e, afirma que 80% a 90% dos serviços e cuidados recebidos por estes, são dispensados pelos familiares. Assim, a qualidade e a manutenção dos cuidados com os idosos, e conseqüente prevenção de sua institucionalização, relaciona-se com o suporte dado a estes cuidadores, através de programa de treinamento, supervisão e assessoria. Diante da emergência de idosos dependentes em decorrência das doenças crônico-degenerativas e 16 das dificuldades vivenciadas pelos familiares, a Política Nacional do Idoso preconizou, através da Lei 8842/1994, o preparo de recursos humanos, incluindo os cuidadores, por parte da equipe multiprofissional (BRASIL, 1997). Nesse sentido, foi elaborado pela Secretaria de Assistência Social (MPAS) um “Manual de Cuidadores”, e posteriormente, treinamento de três profissionais da equipe de saúde em todo o território nacional, os quais deveriam capacitar a equipe multiprofissional local ou regional. No entanto, o treinamento em Goiás, não foi efetivado devido a algumas dificuldades, incluindo o número reduzido de pessoas treinadas para exercitar o papel de cuidador. Diante do exposto, a falta de preparo dos cuidadores informais é uma realidade de difícil solução a um curto prazo, tornando importante conhecer o perfil destas pessoas, nas diferentes áreas geográficas, pois, os problemas vivenciados pelos mesmos são distintos, dependendo das condições sócio-econômico-culturais das famílias. Os resultados deste trabalho, com a identificação dessas variáveis, podem auxiliar a equipe multiprofissional na capacitação futura de cuidadores informais, proporcionando assim uma assistência de qualidade ao geronte. METODOLOGIA Para o alcance dos objetivos optou-se pela pesquisa descritivo-exploratória. A pesquisa foi desenvolvida na Região Norte (Jardim Guanabara III), município de Goiânia – GO, com o Programa de Saúde da Família (PSF), sendo os sujeitos estudados, os cuidadores informais de idosos com déficit de autocuidado. Foram identificados onze idosos com déficit de autocuidado que possuíam cuidadores informais. No entanto, fizeram parte do estudo apenas nove, pois ocorreram dois óbitos no período da coleta de dados. O estudo foi realizado nos meses de Outubro e Novembro de 2001, obedecendo aos aspectos éticos, conforme Resolução 196 que trata de pesquisa em seres humanos (BRASIL, 1996). Os dados foram obtidos através da aplicação de um questionário (Anexo I) preenchido pelos próprios cuidadores. No caso de duas cuidadoras analfabetas, os preenchimentos dos referidos questionários foram feitos pelas pesquisadoras. Tal instrumento foi validado por três juízes pesquisadores da área, com finalidade de verificar a organização da lógica, clareza, objetividade, abrangência e pertinência. Os dados foram, posteriormente, tabulados e analisados nos moldes da estatística descritiva. RESULTADOS E DISCUSSÃO A população estudada, inserida no PSF do Jardim Guanabara III (região norte) do município de Goiânia – GO, foi analisada quanto à idade, sexo, estado civil, ocupação, grau de parentesco, escolaridade, renda mensal familiar e dependentes. NAKATANI, A. Y. K.; SOUTO, C. C. S.; PAULETTE, L. M.; MELO, T. S.; SOUZA, M. M. Perfil dos cuidadores informais de idosos com déficit de autocuidado atendidos elo Programa de Saúde da Família. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 15 – 20, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. 17 Tabela 1 – Distribuição dos cuidadores informais segundo a faixa etária. PSF Região Norte, 2001. N % Faixa etária 18 – 20 21 – 40 41 – 60 61 – 70 TOTAL 2 3 3 1 9 Os dados da Tabela I revelam predomínio de cuidadoras informais na faixa etária compreendida entre 21 a 60 anos (seis cuidadoras, ou seja, 66,66% da população estudada), com média de 38,7 anos. Na faixa de até 20 anos foram encontradas apenas duas e uma na faixa de 61 a 70 anos, uma cuidadora. Segundo MARQUES (2000), é comum em nossa sociedade, cuidadores idosos, apesar de este ser um trabalho muito desgastante. Na análise dos resultados, chama atenção o fato de que uma das cuidadoras informais tem 67 anos, sendo, portanto, uma idosa cuidando de outro idoso. O papel de cuidador informal é cansativo, somando-se os problemas vivenciais ao processo de envelhecimento normal como depressão, desgaste fisiológico e problemas crônico-degenerativos. Diante destas características é necessário, por parte do PSF local, uma atenção redobrada para atender às necessidades desses idosos, que cuidam de outros idosos. O estudo demonstrou predomínio total do gênero feminino (100%), sendo que seis (66,66%) exercem funções do lar, duas são estudantes e uma é professora. O fato de este estudo apontar para uma totalidade de cuidadores do gênero feminino mostra que a sociedade, através de sua cultura, imputa o papel de cuidar à mulher, seja ela a cônjuge, a filha ou a neta do idoso. Essa atividade consiste em algo cultural e socialmente definido para o Ser mulher, que normalmente tem filhos, marido, atividades domésticas 22,22 33,33 33,33 11,12 100,00 além de, muitas vezes, trabalhar fora do lar. Essa sobrecarga de papéis dificulta a prática do cuidado com o idoso, pois precisam dividir o tempo entre todas as suas atividades, gerando um estresse físico e psicológico, não permitindo que essas mulheres se cuidem e se valorizem enquanto ser humano. Segundo MARQUES (2000), as cuidadoras informais são acometidas por problemas de saúde, como: doenças da coluna (75%); varizes (50%); artrite (37,5%), obesidade (25%), obstipação intestinal (25%); osteoporose (25%); rinite alérgica (25%); asma ou bronquite (25%) e hipertensão arterial (12,5%). A autora sugere que a alta porcentagem de problemas de coluna pode estar relacionada às atividades diárias de cuidados com os idosos, que envolvem o uso da força muscular e postura incorreta. Diante do exposto, é necessário que a equipe de saúde local atente para as cuidadoras, identificando suas necessidades individuais em nível domiciliar, com finalidade de promover a saúde, prevenir as doenças ocupacionais e os agravos de doenças preexistentes. Devem, ainda, incluir na educação em saúde as noções de ergonomia com o intuito de minimizar os problemas de coluna em decorrência de posturas inadequadas, mobiliários impróprios e desconhecimento de técnica correta, para executar o cuidado ao idoso. Quanto ao estado civil, observa-se, na tabela 2, que seis cuidadoras são solteiras; duas casadas e uma divorciada. Tabela 2 – Distribuição das Cuidadores Informais segundo o estado civil. PSF Região Norte, 2001. N % Estado Civil Solteira 6 66,66 Casada 2 22,22 Divorciada 1 11,12 Total 9 100,00 Das nove cuidadoras estudadas, oito possuem vínculo familiar com idoso. O grau de parentesco foi o seguinte: quatro filhas, uma esposa e duas netas. Duas pessoas sem vínculo familiar com o idoso, uma era amiga da família e outra vizinha que os atendiam na ausência da cuidadora primária, afastadas por motivos de doença. As solteiras costumam desempenhar, com maior freqüência, o papel de cuidadora informal, principalmente, por não possuírem uma família constituída, o que as tornam mais disponíveis para cuidar dos pais e avós. As mulheres solteiras parecem ser, além de mais disponíveis, mais pressionadas pelos familiares para essa função. De acordo com estudo de MARQUES (2000) a ocupação exercida por 50% das cuidadoras informais é a do lar. Os resultados encontrados nesta pesquisa reforçam esses dados, pois seis cuidadoras (66,66%) exercem essa função, duas são estudantes e uma é professora. As cuidadoras que exercem outras funções prestam cuidados a idosos com grau de dependência parcial e, nas suas ausências, são substituídas pelos irmãos, sobrinhos ou filhos (MARQUES, 2000). Em relação a cuidadora, exercer outras atividades fora de casa pode ser benéfico, pois a possibilidade desta NAKATANI, A. Y. K.; SOUTO, C. C. S.; PAULETTE, L. M.; MELO, T. S.; SOUZA, M. M. Perfil dos cuidadores informais de idosos com déficit de autocuidado atendidos elo Programa de Saúde da Família. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 15 – 20, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. 18 legislação contém uma série de Artigos, Decretos e Programas que visam amparar/proteger de alguma forma as pessoas idosas. A Constituição Federal de 1988, em seu Art. 229, dispõe que: os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidades. Complementando o que estabelece o Artigo citado, a Constituição Federal, artigo 230, determina que a família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida (BRASIL, 1988). Fica claro que a Constituição atribui à família a obrigação de amparar o idoso, com o objetivo de proteção da pessoa na velhice, cabendo aos filhos ampararem os pais frente às suas necessidades. Verifica-se, na tabela 3, que seis cuidadoras tem entre primeiro e segundo grau completo, duas são analfabetas e uma não completou o curso superior. alternância geralmente proporciona oportunidades de descanso da tarefa de cuidador, além de favorecer a interação social, minimizando problemas como isolamento, angústia ou depressão. Sob o ponto de vista do idoso, a alternância do cuidador pode ser tanto benéfica quanto prejudicial. Benéfica, porque há oportunidade de outros contatos sociais, aumento de auto-estima por ter outra pessoa cuidando de si e por receber outras formas de atenção. Prejudicial, quando o cuidador secundário não tiver habilidade satisfatória para essa atividade, podendo provocar de pequeno até um grande agravo à saúde do idoso. O cuidado muitas vezes é realizado como uma questão de obrigatoriedade. Assim é que, LEITE (2000) verificou que, quando se trata de filhos cuidando de pais idosos, há um entendimento de obrigação em retribuir algo que lhes foi dado no passado, além do sentimento de responsabilidade pelos mais velhos e doentes, que estão em situação de dependência parcial/total. Dentro desta linha de pensamento, a atual Tabela 3 - Distribuição das Cuidadoras Informais segundo o grau de escolaridade. PSF Região Norte, 2001. n % Grau de Escolaridade Analfabeto 2 22,22 2ºgrau incompleto 1 11,11 1 º grau incompleto 2 22,22 2ºgrau completo 3 33,34 Superior incompleto 1 11,11 Total A falta de escolaridade interfere, direta ou indiretamente, na prestação de cuidados aos idosos. Há uma queda na qualidade do serviço prestado, pois o cuidador necessita seguir dietas, prescrições e manusear medicamentos (ler receitas médicas, entender a dosagem e via de administração etc). Esta dificuldade é evidenciada pelo relato de uma cuidadora informal analfabeta: conheço as medicações pela cor e formato da embalagem (...) E cor dos comprimidos. Esse conhecimento é insuficiente, não produz segurança, podendo ocorrer troca de medicação, que trará prejuízos ao idoso. Para minimizar essa situação, é necessária uma atenção redobrada dos profissionais às cuidadoras, a fim de ensiná-los a prevenir possíveis 9 100,00 enganos, existindo portanto maneiras de orientar àquelas que não sabem ler. A equipe de saúde deve estar checando, continuamente, a execução dos cuidados para identificar as dificuldades individuais apresentadas pelos cuidadores. Para isso, é necessário que a equipe estabeleça vínculos com todos os membros da família do idoso, em especial, com os cuidadores. A tabela 4, mostra a renda familiar mensal das cuidadoras informais baseada em salários mínimos. Tabela 4 - Distribuição dos cuidadores informais segundo a renda familiar mensal. PSF Região Norte, 2001. Renda familiar em SM* N % 1–2 2 22,22 2–3 2 22,22 3–4 3 33,34 5–6 1 11,11 6–7 1 11,11 9 100,00 Total * Salário Mínimo vigente no país em dezembro de 2001 = R$ 180,00 (cento e oitenta reais). NAKATANI, A. Y. K.; SOUTO, C. C. S.; PAULETTE, L. M.; MELO, T. S.; SOUZA, M. M. Perfil dos cuidadores informais de idosos com déficit de autocuidado atendidos elo Programa de Saúde da Família. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 15 – 20, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. Na faixa de um a dois salários há duas cuidadoras; de dois a três duas cuidadoras; de três a quatro três pessoas; de cinco a seis e de seis a sete salários mínimos uma cuidadora cada. Considerando-se que o salário mínimo atual vigente no Brasil, é de R$ 180,00, a renda dos cuidadores, é insuficiente para manutenção da família, com média de 4, 45 dependentes, além do idoso. A população também foi analisada quanto a participação financeira atual do idoso no orçamento familiar: Dos entrevistados, 100%, disseram que a aposentadoria são destinadas ao custeio doméstico e despesas com medicamentos, consultas médicas e suprimentos alimentares. Os idosos desta amostra são aposentados, mesmo com renda própria não conseguem suprir suas despesas básicas, necessitando de uma complementação, como se verifica no depoimento de uma cuidadora: (...) ajuda nas despesas domésticas com aposentadoria. E quando o dinheiro não dá, meus irmãos complementam. A participação financeira do idoso no orçamento familiar, após sua dependência, não apresentou grandes alterações, pois a maioria já era aposentada (cinco idosas): Antes da dependência, o idoso era o chefe da casa e o salário era semelhante ao atual; a esposa nunca trabalhou fora (...) Verificou-se, outrossim, dependência financeira dos familiares em relação ao salário do idoso. CONCLUSÃO Com o aumento expressivo da população idosa, cresce o contingente de pessoas com déficit de autocuidado. Esta situação vai além de um problema de saúde em si mesmo, pois envolve os familiares e, particularmente, os cuidadores informais, acarretando uma situação complexa. As equipes de Saúde da Família precisam conhecer o perfil dos sujeitos envolvidos nestas circunstâncias. Identificamos o seguinte perfil dos cuidadores informais de idosos com déficit de autocuidado atendidos pelo PSF estudado: - 100% são cuidadoras, sendo que a faixa média de idade é de 38,7 anos, sendo que uma tem de 61 a 70 anos; - 44,44% são filhas, neta (22,22%), esposa (11,11%), vizinha (11,11%) e (11,11%) amigas; - o indicie de escolaridade de 66,66% entre primeiro e segundo grau completo identificou-se que 22,22% não têm escolaridade; - a renda mensal é de um a três salários mínimos é de 44,44% e entre cinco a sete salários mínimos, 22,22%, para uma média de quatro a cinco dependentes. As variáveis identificadas podem ser fatores 19 dificultadores para a implantação de programas que envolvem os idosos e suas famílias. A pretensão deste estudo foi contribuir com registros de algumas importantes variáveis, desta população, da região norte, Jardim Guanabara III, da cidade de Goiânia, Goiás, no sentido de facilitar às equipes do PSF uma atuação mais eficaz e direcionada. 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Perfil dos cuidadores informais de idosos com déficit de autocuidado atendidos elo Programa de Saúde da Família. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 15 – 20, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS 1 – Número de questionário .......................................... Idade do cuidador:.................................................... 2 - Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino. 3 - Estado civil: ( ) Casado ( ) Solteiro ( ) Outros:............................................................................ 4 - Ocupação: ........................................................................................ 5 - Grau de parentesco: ( ) Esposa ( ) Filho ( ) Amigo ( ) Irmão ( ) Outros 6 - Escolaridade: ( ) Analfabeto grau completo ( ) 2º grau incompleto superior incompleto ( ) superior completo ( ) 1º grau incompleto ( ) 1º ( ) 2º grau completo ( ) ( ) outros .............................. 7 - Qual a renda familiar mensal? E quantos indivíduos são dependentes ? 8 - Qual é a participação financeira atual do idoso no orçamento da família ? 9 - Qual era a participação financeira do idoso no orçamento familiar antes de sua dependência? Texto recebido em 26 Março 2003 Publicação aprovada em 29 Agosto 2003 20 LUIS, M. A. V.; PILLON, S. C.O conhecimento dos alunos de Enfermagem sobre álcool e drogas. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 21 – 27, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. 21 O CONHECIMENTO DOS ALUNOS DE ENFERMAGEM SOBRE ÁLCOOL E DROGAS THE KNOWLEDGE OF NURSING STUDENTS ON ALCOHOL AND DRUGS EL CONOCIMENTO DE LOS ALUMNOS DE ENFERMARIA ACERCA DE ALCOHOL Y DROGAS Margarita A. Villar Luis 1 Sandra Cristina Pillon 2 RESUMO: O objetivo desse estudo foi apresentar o conhecimento dos alunos de graduação de enfermagem sobre álcool e drogas. Pesquisa realizada em 1998 na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – USP cujos resultados mostram que a maioria não se lembrava ou aparentemente não presenciou as aulas quando o tema foi abordado; nunca atendeu dependente químico; responderam corretamente os conceitos de dependência química, tolerância e abstinência; afirmaram que o tema deve ser inserido no currículo. Conclui-se que os conhecimentos adquiridos pelos alunos apresentam deficiências nos conteúdos ou na forma de abordagem, pois os dados sugerem que não foram incorporados adequadamente, embora os alunos revelaram interesse pelo tema. PALAVRAS - CHAVE: Álcool; Drogas; Ensino de Enfermagem. ABSTRACT: This study aimed to know the knowledge acquired by undergraduate nursing students concerning alcohol and drugs. The research was developed in 1998 at the University of São Paulo at Ribeirão Preto College of Nursing. Results: most students did not remember or attend classes discussing that topic; they had never dealt with substance users; however, they correctly responded to the concepts of substance addiction, tolerance and abstinence; they expressed their opinion that the topic must be included in the nursing curriculum. Conclusion: the knowledge acquired by students is deficient with regard tocontent or to the way it is addressed once the data suggested that content was not adequately incorporated, although students were interested in the topic. KEY WORDS: Alcohol; Drugs; Nursing Teaching. RESUMEN: El objetivo de ese estudio fue presentar el conocimiento obtenido sobre alcohol y drogas por alumnos de enfermería. La investigación fue realizada en 1998 en la Escuela de Enfermaría de Ribeirão Preto – USP. Resultados: la mayoria no se recordaba o no estuvo presente en las clases cuando se presentó el tema; nunca dió atención al dependiente químico; pero contestaron correptamente conceptos de dependencia química, tolerancia y abstinencia; afirmaron que el tema deve ser incluido en el currículo. Conclusión: el conocimiento adquirido por los alumnos presentó deficiências en los contenidos o en la forma de presentarlos, los resultados sugieren, que no fueron incorporados adecuadamente aunque los alumnos mostraron interés por el tema. TERMINOS CLAVES: Alcohol; Drogas; Enseñanza de Enfermería. INTRODUÇÃO Atualmente, vivencia-se uma situação em que o uso do álcool e drogas tem sido um tema de ampla complexidade, pois os órgãos governamentais, não governamentais, e outros, não têm conseguido gerar respostas efetivas para o problema. Essa situação pode ser estendida à toda sociedade, na medida em que a família e outras instituições, como igreja e escolas representados por seus membros, têm enfrentado dificuldades para reagir frente à ocorrência vinculadas ao uso de álcool e de drogas. Vem sendo difícil o desenvolvimento de ações alternativas, realistas, que estimulem nas pessoas atitudes de rechaço para com as práticas do uso de álcool e drogas, ao contrário, verifica-se entre os diversos grupos da população a busca por uma substância, sob a forma de uma pílula, por exemplo, 1 que magicamente resolva, de imediato, os problemas do cotidiano. Desde a década de oitenta, os especialistas têm apontado vários fatores que estariam influenciando o uso de álcool e drogas. Dentre esses, destacam-se fatores socioeconômicos e políticos, como o desemprego, insegurança do indivíduo em relação ao futuro, carência de alternativas de lazer e trabalho para os jovens; a repressão política, a atividade educativa opressiva, ambas restringindo a postura crítica e a ação criativa, tudo isso surge como fatores geradores de angústia e depressão, conduzindo à necessidade de evasão psicológica e a busca de satisfação propiciadas por substâncias como álcool e drogas psicoativas (OEA, 1986). O uso das drogas é concebido como uma das formas de marginalização dos jovens pela sociedade. Como justificava à essa colocação, o autor discorre Professora Titular do Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo – EERP.USP. Centro Colaborador da OMS, para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem. 2 Enfermeira Doutoranda do Departamento de Psiquiatria: Ciências/Saúde Mental da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP/EPM. Professora Assistente do Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo – EERP.USP. Centro Colaborador da OMS, para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem. Laboratório de Pesquisa em Álcool e Drogas. Av: Bandeirantes, 3900, Campus Universitário - Ribeirão Preto - SP, Brasil, CEP 14.040-902 e-mail: [email protected] LUIS, M. A. V.; PILLON, S. C.O conhecimento dos alunos de Enfermagem sobre álcool e drogas. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 21 – 27, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. sobre os significados atribuídos ao uso de drogas nos Estados Unidos e Europa ao longo do tempo: nos anos sessenta; usar drogas representava a busca do prazer, da comunicação, de novos meios de estilos de vida e de trabalho (WEREBE, 1980). Foi quase uma ideologia num espírito contestador - inovador; nas décadas sucessivas, cada vez mais, o uso de drogas passou a representar uma maneira de enfrentar a monotonia, a angústia e a busca de um “embrutecimento” para esquecer a realidade; nos anos oitenta, usar drogas para a maioria dos jovens, não constitui mais a busca de uma esperança, mas “uma fuga da desesperança”. Foi justamente, a partir da década de oitenta, que os profissionais ligados à saúde mental começaram a se preocupar com esse problema, tentando analisar as motivação pessoais para o uso de álcool e drogas. Estudos revelaram que os jovens constituem um grupo da população bastante vulnerável ao uso de álcool e drogas, pelas características do período do desenvolvimento vivenciado. Além disso, foi observado entre esse segmento população um maior número de alterações do comportamento e problemas psicológicos decorrentes do uso de substâncias (PIMONT & BARRERA, 1982; KANDEL e cols., 1994). Os resultados das pesquisas realizadas vêm indicando que o problema é de âmbito mundial, pois a prevalência do uso de álcool e drogas tem aumentado em todos os países (KESSLER e cols., 1994). No Brasil, esse problema pode ser avaliado pelos estudos sobre a freqüência de internações em instituições psiquiátricas e pesquisas realizadas no meio estudantil. No que se refere a internações o uso do álcool foi o principal causador de internações por transtorno mental no País entre 1988 e 1999, respondendo por 90% dessas, segundo levantamento do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID/UNIFESP). A pesquisa também revelou, no mesmo período, um aumento de 4,7% para 15,5% na proporção das internações provocadas pela dependência de outras drogas. No período, as internações por uso de cocaína passaram de 0,8% para 4,6%. Nos dois primeiros anos do trabalho, 88 e 89, a maconha era a droga mais consumida depois do álcool (NOTO, 2002). Os estudos epidemiológicos entre estudantes (CARLINI-COTRIM e col., 1989; CARLINI e col., 1989; GALDURÓZ e col., 1994) revelaram que, na maioria das vezes, esse uso de substâncias psicoativas é esporádico e experimental, sendo entre estudantes universitários da cidade de São Paulo a prevalência que o uso de drogas é semelhante a dos estudantes de primeiro e segundo graus. Mudando apenas a ordem das substâncias utilizadas (MAGALHÃES e col, 1991). A pesquisa sobre os problemas relacionados ao álcool e drogas, deve contemplar estudos epidemiológicos nos diversos grupos da população geral, a criação de sistemas de coleta de informações sobre populações que procuram estabelecimentos de saúde com problemas relacionados ao uso de drogas e a busca de índices de morbidade e mortalidade 22 diretamente relacionados ao uso de drogas (CARLINI COTRIM & BARBOSA, 1993). A coleta sistemática desses dados propiciará uma visão mais clara do problema e a possibilidade de intervenções mais racionais e eficientes. Acresca – se ainda os estudos sobre a influência exercida por aspectos, políticos, jurídicos e sociais os quais, certamente, impedem conclusões simplistas (ANDRADE e cols., 1997). Além disso, a integração dos dados de pesquisas regionais propiciará um quadro fidedigno sobre a magnitude desse problema nas diversas regiões do Brasil. A história da droga nas sociedades contemporâneas tem demonstrado que os mecanismos de fiscalização e de repressão da oferta de drogas no mercado são insuficientes para diminuir esse consumo (BASSIT, 1995). No Brasil, uma análise do material didático para esse fim, realizada por CARLINI-COTRIM & ROSEMBERG (1991) revelou que o conteúdo veiculado, situava-se, em sua maioria, na perspectiva de modelos preventivos de amedrontamento e de princípio moral. Todavia, educação preventiva baseada em informações alarmistas não se mostrou eficazes, obtendo - se resultados mais favoráveis quando os programas de prevenção enfatizam o uso racional e responsável de drogas (BASSIT, 1995). A título de esclarecimento, a Organização Mundial da Saúde editou em 1979, relatório no qual critica algumas crenças e atitudes em relação as ações informativas que seguem diretrizes de ensino autoritárias, apresentação do tema de forma restrita, descontextualizada e centrada no alarmismo. O enfoque meramente informativo está cedendo lugar a outras estratégias, nas quais a informação é apenas um dos componentes da educação preventiva. Essa nova postura está mais voltada a formar pessoas, no sentido de encorajá-las à auto-realização e à autoestima, propiciando o desenvolvimento do senso de responsabilidade com a própria vida. Na implementação de propostas de prevenção há de se considerar as necessidades de ordem pessoal e social da realidade em questão, na qual o uso de drogas é inserido apenas como uma manifestação entre outras. Conforme apresentado, nos últimos 20 anos a literatura específica tem direcionada para estudos epidemiológicos realizados em populações específicas, como estudante e pacientes que buscam tratamentos, e outros que enfatizam os custos sociais. Há poucas pesquisas abordando a formação de profissionais de saúde dentre eles os enfermeiros nesta área, a despeito da demanda de pacientes, da gravidade dos problemas, de toda sorte, os quais solicitam habilidade específica e encaminhamentos multidisciplinares. Apesar disso, os enfermeiros e docentes de enfermagem, freqüentemente têm sido requisitados para darem informações a grupos da população sobre o tema álcool e drogas (LUIS & SOUZA, 1996). Entretanto, há poucas indicações sobre o enfoque que permeia o conteúdo oferecido e a origem desse conhecimento. LUIS, M. A. V.; PILLON, S. C.O conhecimento dos alunos de Enfermagem sobre álcool e drogas. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 21 – 27, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. 23 As questões de saúde relacionadas ao álcool e drogas não são novas, contudo, a enfermagem não tem contemplado esses temas com a devida importância. Procurando dar início a um processo de busca de respostas e mesmo de avaliação, o presente trabalho se propôs a investigar junto aos alunos de enfermagem, o conteúdo que adquiriram no curso de graduação sobre os temas álcool e drogas, bem como identificar o enfoque utilizado ao ministrar as informações. MATERIAL E MÉTODO A escolha da amostra de alunos do Quarto ano de graduação da referida instituição, deu-se em função de que essa população já cursou a totalidade das disciplinas que abordaram ou poderiam ter incluído o assunto em seus conteúdos. A pesquisa foi realizada no mês de Março de 1998, cujo número total de alunos era de 79 (100%); destes, apenas 58 (73,4%) alunos responderam ao questionário. A pesquisa teve como população alvo os alunos do 4q ano de graduação em enfermagem da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, no ano de 1998. Foi utilizado um questionário anônimo de auto-preenchimento. O instrumento usado consiste de um questionário estruturado, com questões como identificação pessoal: sexo, idade, questões específicas a respeito da temática álcool e drogas, conceitos como dependência, tolerância, síndrome de abstinência, e assistência oferecida pelos alunos em seus campos de estágios a pacientes usuários ou problemas associados. Este questionário foi baseado no questionário desenvolvido pelo Projeto CICAD - OEA (Comission Interamericana para el Control del Abuso de Drogas), no ano de 1998 por especialistas desta área. Quanto aos critérios de respostas, os alunos foram orientados para que respondessem de acordo com os seus conhecimentos adquiridos durante a graduação de enfermagem. O referente estudo foi avaliado e aprovado pelo Comite de Ética e acordo com a resulução 196/96. Para a coleta de dados, os alunos foram convidados a participarem do estudo, mediante as orientações e esclarecimentos quanto a leitura e assinatura do termo de consentimento. Além de serem tomada as seguintes precauções, local adequado e horários viáveis de preenchimento dos questionários, forma de abordagem dos alunos, padronização de informações, dentre outros. livre RESULTADOS A amostra do estudo é constituida em sua maioria (88%) por estudantes do sexo feminino com idade entre os 20 e 25 anos. Na questão sobre o conteúdo de álcool e drogas ministrado, percebeu-se que a quase totalidade dos alunos 88% (N = 51) afirmou que o mesmo esteve presente em seu currículo, abordados predominantemente pelas disciplinas de Farmacologia (38%) e Enfermagem Psiquiátrica (22%). Segundo 42 alunos, esse conteúdo foi ministrado no 2q e ou 3q ano de graduação do curso de enfermagem. Quanto à carga horária destinada às aulas, a maioria não respondeu (62%) ou não soube (24%). Nesse ponto, nota-se uma contradição ao observar-se que 42 alunos afirmaram haver tido esse conhecimento, assinalando inclusive as disciplinas onde foram ministradas, entretanto, em questão anterior, 50 alunos omitiram, não souberam, ou não se lembram dos conteúdos. Isso leva a pensar que, os alunos não estavam presentes na aula, o assunto ou a estratégia utilizada não os motivou. Tabela 1 – Apresentação das respostas em número e porcentagem sobre as estratégias de ensino-aprendizagem utilizada pelos docentes na abordagem do tema, segundo os alunos de enfermagem (N – 58). Aula expositiva Não responderam Aula expositiva e atividade prática (seminários, aplicação de questionário, dinâmicas) Não sabem Total N 25 21 8 4 58 % 43 36 14 7 100 LUIS, M. A. V.; PILLON, S. C.O conhecimento dos alunos de Enfermagem sobre álcool e drogas. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 21 – 27, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. 24 Tabela 2 – Apresentação do número de respostas sobre o enfoque dado ao problema no conteúdo das aulas ministradas sobre álcool e drogas, apontado pelos alunos1. N 46 41 40 38 35 29 28 28 20 17 6 4 7 Como problema psiquiátrico Em adultos Como problemas orgânicos Como doença Por influência do grupo Em adolescentes Como hábito cultural Por curiosidade No trabalho Como fraqueza de personalidade Como causa genética Como falta de caráter Não responderam 1 % 79.3 70.6 68.9 65.5 60 50 48.3 48.3 48 34.5 10.3 6.8 12 Cada aluno respondeu mais de um enfoque A forma de abordagem do conteúdo relatada pelos alunos como a mais freqüente foi a aula expositiva (43%), seguido dos alunos que não responderam (36%), contudo, houve outras estratégias utilizadas, na medida em que alguns alunos (14%) as referiram. Quanto ao enfoque dado ao tema no conteúdo das aulas, predominaram os seguintes em ordem decrescente: “problema psiquiátrico” (afirmado por 79%), “em adultos” (70.6%), “problema orgânico” (68.9%), “doença” (65.5%), “por influência do grupo” (60%), “em adolescentes”. Esses dados são indicadores de que o conhecimento transmitido enfatizou a questão como uma doença de maior ocorrência entre os adultos, comprometendo o indivíduo como um todo (psíquico e físico), onde o grupo surge como indutor do uso. Além disso, o problema também foi relacionado aos adolescentes, aparecendo ainda a curiosidade e o hábito cultural como outros enfoques abordados. Felizmente, parece que os enfoques mais negativos atribuídos à questão do uso de álcool e drogas não foram tão enfatizados, ou talvez, a pessoa respondeu com base na opinião pessoal. A respeito do que se compreende por conceitos de dependência química, tolerância e abstinência, a maioria das respostas estava correta. Assim, em relação a: 1) dependência química, 57% dos alunos responderam tratar-se de uma “necessidade da substância no organismo ou dependência física e/ou psíquica”; 2) tolerância, 36,2% referiram tratar-se de “necessidade de aumento da dosagem da droga/álcool para se obter o mesmo efeito”; 3) abstinência, 74,2% definiram-na como “interrupção do uso ou reações físicas e/ou psíquicas decorrentes da suspensão do uso de droga/álcool” (Tabela 3, 4 e 5 respectivamente). Tabela 3– Apresentação das respostas em número e porcentagem sobre o conceito de dependência de substâncias psicoativas, segundo os estudantes de enfermagem (N = 58). N % Necessidade da substância no organismo/ Dependência física e/ou psíquica 33 57 Não responderam 13 22 Vício e hábito 6 10 Sinais e sintomas 3 5 Reações de abstinência 1 2 Intolerância 1 2 Não esclareceram 1 2 TOTAL 58 100 Tabela 4 – Apresentação das respostas em número e porcentagem sobre o conceitos de tolerância, segundo os estudantes de enfermagem (N = 58). N % Necessidade de aumento da dosagem da droga/álcool para se obter o mesmo efeito 21 36 Não respondeu 11 19 Dosagem de droga/álcool suportável pelo organismo 9 15,5 9 15,5 Outros Não sabem 8 15 TOTAL 58 100 LUIS, M. A. V.; PILLON, S. C.O conhecimento dos alunos de Enfermagem sobre álcool e drogas. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 21 – 27, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. 25 Tabela 5 – Apresentação das respostas em número e porcentagem quanto a compreensão sobre o conceito de Síndrome de abstinência, segundo os estudantes de enfermagem (N = 58). % Interrupção do uso / Reações físicas e/ou psíquicas decorrentes da suspensão do uso de 43 74 droga/álcool 11 19 Não responderam Não esclareceram 2 3,4 Não sabem 2 3,4 TOTAL 58 100 Avaliando o tipo de dependência de substância psicoativa entre os pacientes no campo de estágio, 38% encontraram pacientes usuários de drogas e álcool, 34,4% pacientes alcoolistas e 1,7% pacientes dependentes de drogas; 56% referiram não ter encontrado nenhum tipo de dependência ou não responderam à questão. Quando questionados se sabiam identificar as características de um paciente dependente químico, 48,3% negaram saber e 46,5% responderam afirmativamente, sendo que os demais não responderam. Referente à questão sobre o conhecimento sobre a assistência de enfermagem sistematizada para dependentes químicos, 62% (N = 36) dos alunos responderam negativamente; 31% (N = 18) responderam afirmativamente; o restante não respondeu. Tabela 6 – Apresentação das respostas em número e porcentagem quanto aos tipos de intervenções de enfermagem realizadas aos pacientes com dependência química, segundo os estudantes de enfermagem (N = 58) N % Não responderam 24 41.4 Orientações quanto ao uso da substância psicoativa, dependência, medicação Necessidade de 16 27.6 acompanhamento a pacientes e familiares 6 10.4 Nunca ofereceu intervenção Apoio e incentivo em relação ao alívio de ansiedade, Interrupção do uso de drogas/álcool, 4 reinserção social Não sabem 4 Tratamento clínico, acompanhamento psicossocial, encaminhamento 2 Assistência clínica (observação, controle, administração de medicação prescrita) 2 TOTAL 58 A tabela 6 apresenta o tipo de assistência de enfermagem efetuada aos pacientes com dependência de substâncias químicas, 41.4% dos alunos não responderam ou nunca ofereceram intervenções; 10.4% afirmaram ter realizado “orientações quanto ao uso, dependência, medicação e necessidade de acompanhamento a paciente e familiares”. 6.8 6.8 3.5 3.5 100 Quando indagados à habiliadade de identificar os sintomas de intoxicação e abstinência, 88% dos alunos (não esclareceram, não se lembram, não sabem, ou não responderam; 12% mencionaram conhecer (descrevendo os sinais e sintomas da síndrome de abstinência alcoólica). Tabela 7 – Apresentação das respostas em número e porcentagem quanto aos tipos de tratamento para os pacientes com problemas do uso de álcool e/ou drogas, segundo os alunos de graduação (N = 58). N % Não responderam 41 70.6 Tratamento psiquiátrico e/ou psicológico 7 12 5 9 Terapia de apoio Tratamento medicamentoso e psicoterapia Não sabem TOTAL O tipo de tratamento conhecido por 26% dos alunos foi o “tratamento psiquiátrico e/ou psicológico”, “terapia de apoio”, ou “tratamento medicamentoso e 3 2 58 5 3 100 psicoterapia”; embora 74% não responderam ou desconheciam o mesmo. Em relação ao local adequado para encaminhamento do paciente, dentre os locais identificados, 26% dos LUIS, M. A. V.; PILLON, S. C.O conhecimento dos alunos de Enfermagem sobre álcool e drogas. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 21 – 27, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. alunos apontaram ser a “Clínica Psiquiátrica em Hospital Geral e/ou tratamento em Núcleo de Apoio Psicosocial, serviços geralmente caracterizados pelo atendimento a doentes mentais. Sobre o conteúdo álcool e drogas, 91,3% dos alunos (N = 53) referiram que o problema do uso de drogas representa um tema de grande interesse, 26 94,8% (N = 55) julgam que a temática deve ser inserida no currículo e, finalmente, 96,5% (N = 56) consideram importante a inclusão do enfermeiro na equipe de saúde enquanto membro que poderá promover a melhora da qualidade de vida dos usuários de substâncias psicoativas. Tabela 8 – Respostas em número e porcentagem sobre o local de encaminhamento para os pacientes que fizeram uso nocivo de drogas e/ou álcool, segundo os estudantes de enfermagem (N = 58). Local de Encaminhamento N % Não respondeu 22 38 Clínica Psiquiátrica em Hospital Geral e/ou Tratamento em NAPs 15 26 Clínica de desintoxicação 9 15 Unidade de Emergência 5 9 Não sabe 4 7 Grupos de apoio da comunidade 2 3 Hospital psiquiátrico tradicional 1 2 TOTAL 58 100 DISCUSSÃO A amostra foi composta em sua maioria por mulheres com idade entre os 20 e 25 anos. Referentes aos conteúdos de álcool e drogas ministrado, 88% alunos afirmaram que esta temática está presente entre os temas curriculares, e que foram abordados nas disciplinas de Farmacologia e Enfermagem Psiquiátrica (38%), ministrado no Segundo e ou Terceiro ano de graduação. Quanto à carga horária destinada às aulas, a maioria não respondeu (62%) ou não soube (24%). Nesse ponto, nota-se uma contradição ao observar-se que 72% dos alunos afirmaram haver tido esse conhecimento, assinalando inclusive as disciplinas onde foi ministrado, entretanto, em questão anterior, 86% alunos omitiram, não souberam, ou não se lembram dos conteúdos. Isso nos leva a refletir que, os alunos não estavam presentes na aula, e ainda assunto referente e a estratégia de ensino utilizada não os despertaram interesses. Outra reflexões a este respeito pode estar relacionado a falta de clareza sobre a atuação do enfermeiro nesta área, ainda considerada nova em nosso meio, como vimos que estes conteúdo estão muito inseridos na enfermagem psiquiátrica e não na interdisciplinariedade, com responsabilidade de todas outras disciplinas também. Tanto que para este estudo os estudantes entrevistados estimaram 38% de usuários de álcool e drogas e 34% de usuários de álcool. Quarenta e seis porcento sabem identificar os sintomas, porém apenas 31% reconhecem a assistência de enfermagem de maneira sistematizada. O currículo de graduação da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – USP possui efetivamente 3 disciplinas que contemplam esse conteúdo – Farmacologia, Saúde Mental e Enfermagem Psiquiátrica, havendo o registro de conteúdos referentes a drogas psicotrópicas, alcoolismo e problemas relacionados. Entretanto, essas informações são esparsas, não ultrapassam doze horas (a maioria aulas expositivas), perdendo-se no conteúdo programático geral das disciplinas. Talvez por isso, a grande ocorrência de alunos que não responderam as questões ou que manifestaram desconhecimento sobre os itens, formas de abordagens e intervenção de enfermagem. Quanto ao usuário de álcool e drogas, o aluno toma ciência do que seja um dependente apenas nos estágios (aulas práticas) realizados em serviços psiquiátricos, por isso, assimilou a idéia da dependência de substância psicoativa como um problema psiquiátrico, embora também o tenha percebido como orgânico e ainda com um fundo moral do problema presente, certamente pela experiência do cuidado ao alcoolista na urgência psiquiátrica e clínica médica. Embora a dependência de álcool e drogas possa vir acompanhada de quadros psiquiátricos (comorbidade), não se pode caracterizar todo usuário de álcool ou drogas como um doente mental. Vários aspectos devem ser considerados, dentre eles as motivações do uso e o relacionamento que a pessoa estabelece com a substância. Portanto, na abordagem do usuário de álcool ou drogas, o conhecimento que o aluno adquiriu para assistir ao doente não é o suficiente para oferecer uma assistência adequada e direcioanda aos probelamas relacionados ao uso e dependência de substâncias. É prudente que, no decorrer do curso, se procure minimizar a influência de idéias e preconceitos que o aluno pode estar trazendo do seu meio, pois em geral, ele tem experiências negativas na família (álcool) e, às vezes, não tão ruins (drogas), provenientes do convívio com colegas que podem fazê-lo perceber a questão com maior ou menor gravidade. LUIS, M. A. V.; PILLON, S. C.O conhecimento dos alunos de Enfermagem sobre álcool e drogas. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 21 – 27, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo revelou que o conteúdo sobre álcool e drogas deveria ser reavaliado buscando novos caminhos para ser ministrado de maneira mais consistente e contínua, uma vez que apenas alguns conceitos foram assimilados pelo aluno. A aula expositiva como estratégia de ensino -aprendizagem, mostrou-se pouco eficaz enquanto meio de transmissão de conhecimento e, portanto, deverá ser reavaliada. Cabe ressaltar o interesse do aluno a respeito do assunto álcool e drogas e a importância atribuída ao profissional enfermeiro como participante da equipe de saúde, responsável pelo cuidado do dependente de substâncias psicoativas. A valorização disso, certamente constitui o elemento mais importante para motivar o aluno no estudo desse tema. Compete aos docentes das Escolas de Enfermagem e seus respectivos alunos, encontrarem juntos os meios eficazes de transmitir o conhecimento específico necessário para a atividade prática (assistência, ensino e pesquisa). 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Texto original recebido em 23/02/2003 Publicação aprovada em 25/04/2003 CARABOLANTE, A. C.; FERRIANI, M. G. C.; O crescimento e desenvolvimento de crianças na faixa etária de 12 a 48 meses em creche na periferia da cidade de Ribeirão Preto – SP. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 28 – 34, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. 28 O CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS NA FAIXA ETÁRIA DE 12 A 48 MESES EM CRECHE NA PERIFERIA DA CIDADE DE RIBEIRÃO PRETO-SP. GROWTH AND DEVELOPMENT OF 12 DO 48-MONTH-OLD INFANTS IN A DAY NURSERY AT THE OUTSKIRTS OF RIBEIRÃO PRETO CITY-SP. CRECIMIENTO Y DESARROLLO DE NIÑOS CON RANGO DE EDAD ENTRE LOS 12 Y LOS 48 MESES DE EDAD, EN GUARDERÍAS INFANTILES DE LAS ZONAS PERIFÉRICAS DE LA CIUDAD DE RIBEIRÃO PRETOSP. Alessandra Carvalho Carabolante 1 Maria das Graças Carvalho Ferriani 2 RESUMO: O objetivo deste estudo é conhecer e descrever o estado nutricional de crianças na faixa etária de 12 a 48 meses de idade, matriculadas em uma creche municipal situada na periferia da cidade de Ribeirão Preto-SP no ano de 2000. A pesquisa é de cunho descritivo e exploratório. A amostra constitui-se de 58 crianças matriculadas nessa instituição em que foi realizada avaliação do crescimento e desenvolvimento pela somatometria e realizado visita às famílias das crianças que apresentaram abaixo do Percentil 10, considerado insatisfatório. Os resultados obtidos indicam que: 53,4% das crianças estão abaixo do P10, sendo que destas 48,3% encontram-se na faixa etária de 24 meses; 12%estão acima do Percentil 90, sendo que o maior contingente está na faixa etária de 36 meses com 71,4%, e 34,4% estão dentro do índice de normalidade. Todas as crianças são oriundas de famílias com renda mensal de 2 a 3 salários-mínimos, escolaridade entre primeiro e segundo grau incompleto e maioria desempregada. Os dados encontrados apontam que há necessidade de ser implantado um programa de educação para a saúde tanto para as famílias como para a equipe da creche. PALAVRAS CHAVES: crescimento e desenvolvimento infantil, creche, família. SUMMARY: This study aimed at knowing and describing the nutritional condition of 12 to 48-month-old infants, enrolled in a municipal day nursery at the outskirts of Ribeirão Preto-Sp in 2000. It is a descriptive and exploratory research. The sample was composed of 58 children enrolled in the institution. The growth and development of them were assessed by the somatometric system and the families of children presenting a percentile below 10, considered unsatisfactory, were visited. Results obtained showed that 53.4% of the children were below P10, 48.3% of those being 24 months old. On the other hand, 12% of the children were above P90, 71.4% of those being 36 months old. The remnant 34.4% of them presented normal percentiles. All of them came from poor families, with monthly wages from 2 to 3 minimum wages, schooling between incomplete primary and secondary levels, most of them jobless. Data points out to the need of implementing a health educational program intended for both the families and the day nursery team. KEYWORDS: infant’s growth and development, day nursery, family. RESUMEN: El objetivo de este estudio es conocer y describir el estado nutricional de niños con rango de edad entre los 12 y los 48 meses , matriculados en una guardería municipal ubicada en la zona periférica de la ciudad de Ribeirão Preto-SP, durante el año 2000. La investigación es del de tipo descriptivo y de reconocimiento. La muestra está formada por 58 niños matriculados en la mencionada institución ,en la cual se realizó la evaluación del crecimiento y desarrollo a través de la somatometría y la realización de visitas a las familias de los niños que presentaron un percentil por debajo del Percentil 10, lo cual es considerado insatisfactorio. Los resultados obtenidos indicaron que: un 53,4% de los niños están por debajo del P10, siendo que de estos niños, un 48,3% se encuentran en el rango de edad de 24 meses; un 12% están por sobre el Percentil 90, siendo que el mayor grupo está en el rango de edad de los 36 meses con 71,4%, y un 34,4% están dentro del índice de normalidad. Todos los niños provienen de familias pobres, con una renta mensual de 2 a 3 sueldos-mínimos, con una escolaridad de enseñaza Básica y Media incompleta y la mayoría desempleados. Los datos encontrados apuntan a la necesidad de que se implante un programa de educación para la salud, no sólo para las famílias sino tambien para el equipo de la guardería. TERMINOS CLAVES: crecimiento y desarrollo infantil, guardería, familia. 1 Aluna de graduação da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected]. Bolsista Fundo de Cultura e Extensão Universitária. 2 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Profa. Titular do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Av: Bandeirantes, 3900 – Campus Universitário – Cep: 14040-902 – Ribeirào Preto –SP, E-Mail : [email protected] CARABOLANTE, A. C.; FERRIANI, M. G. C.; O crescimento e desenvolvimento de crianças na faixa etária de 12 a 48 meses em creche na periferia da cidade de Ribeirão Preto – SP. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 28 – 34, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. INTRODUÇÃO A infância é uma das fases da vida onde ocorrem as maiores modificações físicas e psicológicas. Essas mudanças caracterizam o crescimento e desenvolvimento infantil, e precisam ser acompanhadas de perto. O acompanhamento do crescimento e desenvolvimento indica as condições de saúde e vida da criança, visando a promoção e manutenção da saúde, bem como intervindo sobre fatores capazes de comprometê-la. (SIGAUD,1996) Quanto à terminologia, crescimento correspondem a fenômenos distintos, embora correlacionados. Crescimento significa aumento do corpo, como um todo ou em algumas de suas partes, e podem ser mensurados em centímetros ou gramas. Significa o aumento do tamanho das células. Desenvolvimento significa capacidade do indivíduo em realizar funções cada vez mais complexas, ou seja, desenvolve controle neuromuscular, destreza e funções que só podem ser mensurados por meio de provas ou testes funcionais. Uma criança pode crescer e não se desenvolver, e vice-versa. Crescimento e desenvolvimento constituem a resultante final de uma série de fatores, que podem ser divididos em extrínsecos (ambientais) e intrínsecos (orgânicos). Os intrínsecos são representados pela herança genética e pelo sistema neuroendócrino, e os fatores extrínsecos são os fatores ambientais e nutricionais. (MARCONDES,1992) “O desenvolvimento é a característica primordial da criança que cresce, se modifica e se afirma como indivíduo. Ao atender suas necessidades essenciais, dia a dia, se garante seu crescimento e desenvolvimento harmonioso e se prepara a criança para o futuro. O desenvolvimento significa também saúde. Não pode haver crescimento nem desenvolvimento satisfatório se a saúde da criança está afetada por problemas crônicos, como a desnutrição.” (MANCIAUX, 1984, p.238) Nos países em desenvolvimento, com seus problemas econômicos e sociais, grande parte da população vive em estado de pobreza ou na miséria, com grandes riscos de sobrevivência devido suas condições precárias de vida. Este é um fator ambiental de grande importância a ser estudado, pois dependendo das condições econômicas de um núcleo familiar, pode-se observar, por exemplo a qualidade nutricional em suas refeições, sabendo-se que é pelo alimento que a criança recebe os elementos energéticos e construtivos(são as proteínas) necessários ao seu crescimento. Estes cuidados estão relacionados ao atendimento primário à essa população, que se refere à um atendimento integral e global, isto é, preventivo, curativo e reabilitador, na competência de um médico generalista, com o objetivo de barateamento de custos e a abreviação do atendimento; e a utilização de recursos secundários somente quando o profissional e paciente acharem necessários. 29 O enfermeiro, como educador em saúde, compartilha com a criança e a família informações e conhecimentos quanto à avaliação de enfermagem da situação da criança; reforça condutas adequadas ao desenvolvimento da criança, dos familiares; e discute propondo alternativas àquelas que julgar inadequadas. Apresentar informações sobre o Crescimento e Desenvolvimento e necessidades infantis, bem como informações que favorecem o crescimento e desenvolvimento da criança. As orientações abrangem características deste, alimentação (quantidade, qualidade e hábitos), higiene, sono, brincadeiras e estimulação, imunizações, formas de comunicação e relacionamento com a criança. SIGAUD (1996) entendem que o enfermeiro é o profissional de saúde em condições de desenvolver as ações de acompanhamento do crescimento e desenvolvimento, uma vez que tem conhecimento acerca do processo de crescimento e desenvolvimento e das necessidades da criança bem como sobre as formas de atendê-las. Segundo a Organização Mundial de Saúde, o conceito de nutrição é o processo pelo qual os seres vivos recebem e utilizam as substâncias necessárias à manutenção da vida, ao crescimento, ao funcionamento normal dos órgãos e à produção de energia. Considera-se eutrófica a criança que apresenta estado nutricional normal. Distrofia significa qualquer alteração do estado nutricional normal e compreendem distúrbios da nutrição por carência (anemia, deficiência calórico-protéica) ou por excesso (obesidade). Na avaliação clínica do estado nutricional existem alguns fatores importantes que precisam ser levados em consideração: ¾ história de doenças (atual e pregressa); ¾ história alimentar (atual e passada); ¾ exame clínico, medidas antropométricas e descrição de manifestações físicas que expressem deficiências ou excessos nutricionais específicos. MARCONDES (1996) define desnutrição como sendo uma doença carencial que pode evoluir para a cronicidade, vinculada à idade da lactância, que sob o denominador comum da fome, afeta especificadamente a nutrição e cujo substrato metabólico reside na alteração da função fundamental da célula: o crescimento. Os principais fatores pela desnutrição infantil são a dieta deficiente, infecção, fatores psicológicos, situação sócio-econômica, padrões culturais, nutrição materna e desmame precoce. A prevenção nestas situações são: a organização dos serviços de saúde, educação da equipe de saúde, e educação sanitária; e estas atividades podem e devem ser atribuídas à equipe de enfermagem. ALCANTARA, (1946) corporificou os princípios gerais que devem reger a alimentação infantil, sendo eles: ¾ atender às quantitativas; necessidades energéticas ou CARABOLANTE, A. C.; FERRIANI, M. G. C.; O crescimento e desenvolvimento de crianças na faixa etária de 12 a 48 meses em creche na periferia da cidade de Ribeirão Preto – SP. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 28 – 34, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. ¾ ser adequada em relação a intervalos ou horário e número de refeições diárias; ¾ apresentar correlação adequada; ¾ ser constituída por leite materno nos primeiros meses de vida; ¾ corresponder à capacidade digestiva nos vários períodos de desenvolvimento – Introduzir alimentos novos de modo progressivo; ¾ ser tão variada quanto possível; ¾ ministrar os alimentos com técnica adequada à sua aceitação, bem como à boa formação psíquica da criança. STEINSCHNEIDER, (1981) propõe que o crescimento normal de uma criança inclui inicialmente um período de crescimento rápido, seguido de uma fase lenta até a puberdade, onde ocorre um período de aceleração. A altura ao nascer é por volta de 50 cm, e o bebê cresce me média 25 cm no primeiro ano e 15 cm no segundo, e o peso ao nascimento é de aproximadamente 3.300g, dobrando de peso aos cinco meses e triplicando ao fim do primeiro ano de vida, e a partir do primeiro ano o ganho ponderal médio é de 2 a 3 Kg até o estirão pré-pubertário, dos nove aos 10 anos. Portanto, é importante a realização do exame clínico da criança de maneira detalhada para que se consiga detectar precocemente qualquer agravo e mesmo preveni-lo para que não ocorra distúrbios nutricionais. Para tanto, faz-se necessário uma investigação sobre o hábito alimentar da família, pois com certeza influenciará no estado nutricional e no desenvolvimento da criança e do adolescente; além da importância de estudar a criança em todo seu contexto, observando e analisando-a integralmente todas as características físicas, sociais e psíquicas. Considerando todos estes aspectos, interessamos ter como objeto de estudo crianças na faixa etária de 12 a 48 meses de idade matriculadas em uma creche na periferia da cidade de Ribeirão Preto. OBJETIVO Este trabalho tem como objetivo descrever a característica estrutural e funcional de uma creche Municipal que atende crianças na faixa etária de 12 a 48 meses de idade, na periferia da cidade de Ribeirão Preto-SP, e também conhecer e descrever o estado nutricional e situação social dessas crianças matriculadas na referida creche no ano de 2000. 30 nutricional e social de 58 crianças matriculadas na creche de Ribeirão Preto, e realizar um trabalho exploratório a fim de identificar casos de distúrbios nutricionais relacionados às condições sociais das mesmas. Os instrumentos de coleta de dados utilizados para avaliação do crescimento e desenvolvimento foi a somatometria (peso/estatura); observação do ambiente no espaço da creche e no contexto familiar durante as visitas às residências; entrevista semiestruturada com os pais. Para verificação do peso, utilizou-se balança de graduação com capacidade adequada para o tamanho da criança. Crianças com até 16 Kg foram pesadas em balança cuja graduação mínima é de 100g, na posição deitada ou sentada. Acima deste peso, as crianças foram pesadas em balança de adulto, com graduação de 100 em 100g, na posição em pé ou no colo. Quando houve necessidade de pesar no colo, pesou-se o adulto primeiramente, e depois pesou-se ele com a criança no colo, e obtevese o peso da criança pela diferença dos valores encontrados. Durante a pesagem, as crianças pequenas estiveram totalmente despidas, e as maiores trajando apenas roupas de baixo. Para a verificação da estatura da criança com até 100 cm, utilizamos o antropômetro posicionando a criança em decúbito dorsal e com as pernas estendidas. O ramo fixo do antropômetro foi mantido junto ao ápice da cabeça da criança e o móvel, ajustado ao seu calcanhar. As crianças maiores foram medidas em pé, com a régua vertical. Foram mantidas descalças, de costas junto à régua, em posição ereta com os braços ao lado do corpo e cabeça voltada para a frente, e ajustando ramo móvel da régua ao ápice da cabeça da criança. (SIGAUD, 1996). Para uma melhor interpretação dos resultados, foram realizadas medições a cada 2 meses durante o ano 2000. Os dados colhidos, foram colocados no gráfico de crescimento proposto por MARCONDES (1992). Para cada sexo existe um gráfico que contém curvas de peso e altura. Para ambos os indicadores, foram estabelecidos duas curvas como parâmetro: a superior corresponde ao percentil 90 e a inferior ao percentil 10, e os valores compreendidos entre elas são considerados satisfatórios. Em visitas às famílias dessas crianças, foram realizadas entrevistas semi estruturadas a respeito de condições sócio-econômicas (renda familiar), número de habitantes na residência, escolaridade e hábitos alimentares, tanto da família como da criança. PERCURSO METODOLÓGICO CAMPO DE ESTUDO O foco principal deste estudo está no interesse de conhecer a realidade das crianças que passam a maior parte do dia em uma creche, e ampliar esse conhecimento em seus ambientes familiares, seus hábitos, e suas dificuldades. A pesquisa é do tipo exploratória e descritiva (TRIVIÑOS,1992). Com o intuito de aprofundar a descrição de determinada realidade, optamos por elaborar um “Estudo de Caso” a respeito da situação A pesquisa foi realizada na cidade de Ribeirão Preto, na Creche Municipal Branca Serra, situada no bairro Alexandra Balbo, na periferia da cidade. O município de Ribeirão Preto localiza-se na região nordeste do Estado de São Paulo, ocupando uma área total de 651 Km2 , constituindo-se de um dos mais importantes centros de desenvolvimento econômico e cultural do interior paulista. O município CARABOLANTE, A. C.; FERRIANI, M. G. C.; O crescimento e desenvolvimento de crianças na faixa etária de 12 a 48 meses em creche na periferia da cidade de Ribeirão Preto – SP. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 28 – 34, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. abrange uma ampla rede de serviços de saúde de naturezas diversas (pública, filantrópica e privada), compreendendo a área de atenção primária, secundária e terciária. Devido à complexidade de recursos nestas áreas, o município representa um centro médico de referência para toda a região, e, em alguns casos, a outros estados do país. É sede da DIR XVIII, que abrange 23 municípios. A rede do município é formada por serviços estaduais, pela rede municipal, por serviços filantrópicos e particulares conveniados. Fazem parte também desta rede as Faculdades de Medicina, Odontologia, Ciências Farmacêuticas, Enfermagem, Psicologia da USP, e algumas Faculdades particulares como: Odontologia, Fisioterapia e Ciências Farmacêuticas da Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP) e Ciências Biomédicas da Faculdade Barão de Mauá. O modelo de assistência à saúde existente hoje no Município é do tipo clínico assistencial com tendência à especialização, medicalização, e sofisticação tecnológica; isto é valido para os setores: municipal, estadual, conveniado e privado. O município foi dividido em setores e subsetores, baseado no decreto nº 333 de 26 de dezembro de 1983 da Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto. O objetivo desta divisão prendeu-se ao fato de que se pudesse com maior precisão, realizar levantamentos de densidade demográfica, definição de zonas residenciais, comerciais e industriais, ou seja, para obter com maior clareza dados indispensáveis ao planejamento de atividades relacionadas à saúde, à educação, ao saneamento, abastecimento, transporte e outros.Entende-se por setor a divisão do distrito em cinco áreas distintas, delimitadas por acidentes geográficos, barreiras físicas e vias de tráfego pesado, localizadas de acordo com os seguintes quadrantes: Norte(N), Leste(L), Sul(S), Oeste(O) e Central(C). Pode-se observar então, que Ribeirão Preto detém aspectos que a caracterizam como uma das cidades mais prósperas do interior paulista, embora não possamos perde de vista seus traços marcantes de subdesenvolvimento, pobreza e miséria. Há grande preocupação pelos bairros periféricos onde o índice de criminalidade e precariedade são altos, provavelmente pelo fato de Ribeirão Preto fazer parte da “Rota Caipira” do narcotráfico. A creche situa-se em um desses locais, no Bairro Alexandre Balbo. O índice de criminalidade é alto, há muita pobreza, dificuldades e medo desses moradores. As preocupações deles estão em torno da violência, falta de emprego, e discriminação social e moral. ANÁLISE DOS RESULTADOS Características da creche A creche é do governo municipal antes ligada à Secretaria do Bem-Estar Social, mas atualmente é mantida pela Secretaria da Educação, atendendo preferencialmente crianças cujas mães trabalham fora e não tem com quem deixar seus filhos. A finalidade 31 da creche não é apenas deixar a criança em local seguro enquanto a mãe trabalha; também tem prioritariamente o objetivo de proporcionar estímulo de suas capacidades psico, motoras, físicas e sociais para seu desenvolvimento integral. Para isso, é preciso que a equipe possua conhecimento sobre crescimento, desenvolvimento para assistência global da criança a fim de desenvolver atividade pedagógicas de acordo com a faixa etária, e também observar características anormais em relação a algum aspecto do desenvolvimento, seja físico, motor ou psicológico das crianças, sendo para isso extremamente necessário treinamentos abrangendo todas essas áreas para que a criança seja vista como um todo, integrada dentro de uma sociedade. A creche Branca Serra tem capacidade para 60 crianças, contando com 10 funcionários, sendo 2 cozinheiras, uma auxiliar de serviços, 6 educadoras e uma coordenadora que fornece o suporte pedagógico, não havendo acompanhamento fixo de um profissional da saúde. A maioria das educadoras está cursando Magistério, e a Coordenadora está cursando Pedagogia. Apesar dos esforços da Coordenadora, foram constatados poucos estímulos pelas educadoras e dificuldade delas em aceitar a visão integral da criança. A cultura de que crianças pré- escolares não necessitam de estímulos é forte, e muitas acreditam ser desnecessário, e a creche é apenas um local para abrigá-las enquanto as mães trabalham. Quanto às atividades de lazer, são programadas semanalmente para as turmas, mas o espaço é limitado, e as atividades se restringem às brincadeiras no playground, e nos dias de chuvas, as crianças permanecem nas salas de aulas. Conta com o espaço físico de 3 salas de aula, 1 sala da coordenação, almoxarifado, 2 banheiros infantis, 1 banheiro para funcionários, 1 refeitório, 1 tanque de areia com playground. Quanto à higiene da creche, a limpeza é realizada uma vez por semana com água e sabão, e diariamente com solução desinfetante. As caixas d’água são limpas uma vez por ano e o jardim é limpo quando solicitado à frente municipal de trabalho “Cidade Limpa”. A areia é trocada a cada 6 meses. Os brinquedos são lavados semanalmente com sabão e as chupetas são descontaminadas com água e sabão. É feita ronda policial diariamente, e a creche não conta com vigia noturno. Em relação à alimentação, são oferecidas 5 refeições diárias no sistema self-service, onde as crianças escolhem o que desejam comer, desperdiçam alimentos, não havendo orientação pelas educadoras a respeito da importância nutricional de todos grupos de alimentos que algumas crianças se recusam a comer. O cardápio é elaborado pela Divisão Nutricional Municipal. Caracterização das crianças creche e de suas famílias matriculadas na São 58 crianças, na faixa etária entre 12 a 48 meses, que passam aproximadamente 9 horas diárias CARABOLANTE, A. C.; FERRIANI, M. G. C.; O crescimento e desenvolvimento de crianças na faixa etária de 12 a 48 meses em creche na periferia da cidade de Ribeirão Preto – SP. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 28 – 34, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. na creche. São oriundas de famílias de baixa renda, em média de 4 a 5 filhos; maioria dos familiares desempregados ou com emprego informal ( as ocupações variam entre empregadas domésticas, ajudantes de serviços gerais ou funcionários da Prefeitura Municipal na limpeza da cidade - os “garis”), com renda mensal de 2 a 3 salários mínimos; alto índice de analfabetismo, e escolaridade entre 1º e 2º graus incompletos. As moradias apresentam graves problemas de saneamento básico, e algumas estão ainda em aquisição. Há serviço de esgoto, mas as residências são cercadas por lixo e mato, que podem provavelmente transmitir doenças e não há conscientização desse risco.Outra situação observada foi o número de cômodos pequeno em relação ao número de moradores. Existem famílias onde as crianças dormem no mesmo quarto ou na mesma cama, ignorando qualquer sentimento das crianças. O alcoolismo também é muito presente nessas famílias, e em muitos casos as crianças podem ser vítimas de seus próprios pais. Além do alcoolismo, o uso de drogas propiciam a violência familiar, gerando conflitos que possivelmente 32 influenciarão no processo de desenvolvimento dessas crianças. A característica mais marcante é a carência afetiva devido esta falta do relacionamento familiar saudável; algumas sendo até agressivas, reproduzindo atitudes aprendidas em casa com os seus. Todas as crianças têm pouca iniciativa para atividades comuns devido pouco estímulo recebido seja na creche, ou em casa. Algumas se isolam, preferindo não participar das brincadeiras, outras têm medo de serem repreendidas, atitude esta que pode ser reflexo da situação que se encontram. Enfim, pode-se observar que a relação social e educacional está estreitamente ligada na formação de um adulto durante a infância. Resultados do estado nutricional das crianças Através da somatometria (relação entre peso e estatura), e segundo parâmetros estabelecidos foi possível obter os seguintes dados a respeito do estado nutricional das crianças: fem masc fem masc fem 20 15 10 5 0 masc Relação de crianças matriculadas na Creche Branca Serra segundo faixa etária, sexo e estado nutricional no município de Ribeirão Preto no ano de 2000 48 Meses 36 Meses 24 Meses 12 Meses Abaixo Normal Acima No total, observa-se que 53,4% das crianças estão abaixo do P10, sendo que destas 48,3% encontram-se na faixa etária de 24 meses; 34,4% estão no índice de normalidade, e 12% estão acima de P90; ou seja, o maior contingente (mais da metade) está com alguma alteração em seu crescimento, segundo os parâmetros normais. Segundo a relação entre idade e estado nutricional, obtemos a porcentagem da situação nutricional: CARABOLANTE, A. C.; FERRIANI, M. G. C.; O crescimento e desenvolvimento de crianças na faixa etária de 12 a 48 meses em creche na periferia da cidade de Ribeirão Preto – SP. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 28 – 34, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. 33 Porcentagem das crianças relacionadas à idade e estado nutricional 100% 80% Acima de P90 60% Normal 40% Abaixo de P10 20% 0% 12 Meses 24 Meses 36 Meses 48 Meses Observa-se que do total das crianças na faixa etária de 12 meses, 62,5% estão abaixo de p10 enquanto 37,5% estão no índice de normalidade. Do total das crianças na faixa etária de 24 meses, 66,6% estão abaixo de P10, e 38,8% estão no índice de normalidade. Do total das crianças na faixa etária de 36 meses, 42,8% estão abaixo de P10, 28,5% estão no índice de normalidade, e 23,8% estão acima de P10. Do total das crianças na faixa etária de 48 meses, 50% estão abaixo de P10, 30% estão no índice de normalidade, e 20% estão acima de P90. Em relação às crianças abaixo de P10, segundo a idade, obtemos os seguintes resultados: Porcentagem do total de crianças abaixo de P10 relacionado à idade 16% 16% 12 Meses 24 Meses 36 Meses 29% 39% 48 Meses De acordo com os resultados obtidos, foram realizadas visitas domiciliares às famílias das 31 crianças abaixo do Percentil 10. Constatou-se que não há interesse a respeito do crescimento e desenvolvimento integral e muito menos do estado nutricional deficiente de seus filhos, alegando outros problemas para preocupam a família, como pode ser evidenciado abaixo: “Aqui a gente tem que ver se vai ter comida pra amanhã, se vai ter dinheiro pra remédio, e quando meu filho mais velho não carece de dinheiro pra pagar os traficante, senão ele morre... Pode deixar que essa molecada cresce sozinha.” (F1) pudemos concluir que as dificuldades marcam as vidas dessas pessoas, que estão sempre preocupados com seus sustentos, com a violência (pois a qualquer momento qualquer um pode ser uma vítma dela), drogas, a própria discriminação social imposta pela sociedade (falta de emprego, discriminação devido baixa escolaridade, apresentação pessoal, cor da pele, etc) além de muitas outras dificuldades, que muitas vezes esses pais apavorados e preocupados se esquecem de acompanhar todo o processo de crescimento e desenvolvimento de seus filhos, e não raramente negam essa importância. Há um estilo de música próprio da periferia, o “Rap”, que descreve a realidade de vida deles numa visão bem própria deles, e há um trecho que diz: Percebe-se que a preocupação está em torno da sobrevivência, outras preocupações são dispensáveis e/ou supérfulos. Com esses dados “...seria diferente se eu fosse mauricinho; criado a Sustagem e Leite Ninho CARABOLANTE, A. C.; FERRIANI, M. G. C.; O crescimento e desenvolvimento de crianças na faixa etária de 12 a 48 meses em creche na periferia da cidade de Ribeirão Preto – SP. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 28 – 34, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. colégio particular, depois faculdade, mas não, não é essa a minha realidade sou caboclinho comum com sangue no olho, com ódio na veia soldado do morro feio esperto com uma cara de mal, a sociedade me criou mais um marginal eu tenho uma 9 e uma HK [modelos de metralhadoras] com ódio na veia, pronta para atirar ...” (“Soldado do Morro”, MV Bill) Este trecho traduz a violência e a revolta contra a sociedade que eles acreditam que é a culpada por todas suas dificuldades. Essa é uma realidade muito próxima dessas crianças, que desde muito cedo convivem com esses problemas sociais, e podem revoltar-se mais tarde, tornando um ciclo vicioso, pois toda essa revolta provavelmente vão transmitir aos filhos, que sofrendo a discriminação e somando às condições reais de sobrevivência, passarão a também se perguntar porque devem ser excluídos dessa forma tão traumática e dolorosa da sociedade, e finalmente acabam se revoltando contra ela. Ao grupo de crianças abaixo de P10, foram dadas explicações aos pais e responsáveis a respeito da importância do acompanhamento do desenvolvimento global de seus filhos, desde a alimentação ao cuidado emocional e afetivo. Foram orientados com medidas caseiras para prevenção de doenças e soluções de problemas de saúde, assim como métodos contraceptivos a fim de evitar o crescimento não planejado da família já numerosa. Foi articulado com a UBS local a possibilidade do atendimento dessas crianças, em comum acordo com a Coordenadora da creche a fim de proporcionar um suporte permanente à saúde, principalmente direcionado à prevenção de doenças e agravos. CONCLUSÃO Este estudo realizado em uma creche municipal na periferia de Ribeirão Preto com o objetivo de conhecer o estado nutricional e as interações sociais das 58 crianças matriculadas, mostrou que 53,4% das crianças estão abaixo do P10, sendo que destas 48,3% encontram-se na faixa etária de 24 meses. Em relação ao meio social e às famílias dessas crianças, foi observado através de visitas domiciliares grande pobreza e precariedade em suas residências. Há grandes dificuldades relacionadas ao desemprego, alto índice de criminalidade devido narcotráfico e exclusão social. Os pais alegam não se preocuparem com seus filhos, pois “eles crescem sozinhos” (sic). Portanto, a presença da enfermeira nesse contexto é de grande importância, pois o 34 crescimento infantil e o desenvolvimento psíquico e social refletirão na formação de um cidadão, humano e consciente, amenizando quadros desfavoráveis a partir da educação em saúde, conscientização de seus papéis na sociedade e a importância de suas responsabilidades. BIBLIOGRAFIA ALCANTARA, P. Causas e Remédios Sociais da Mortalidade Infantil São Paulo, Rev.Tribunais, 1975. MANCIAUX, M. Requisitos para um desarrollo armonioso. Boletín de la Oficina Sanitária Panamericana (OPS), PAHO Coll, 1984. MARCONDES, E. Pediatria básica, 8º ed. São Paulo, Savier, 1992, v.1 e 2. SIGAUD, C.H. Enfermagem pediátrica. São Paulo: EPU, 1996. STEINSCHNEIDER, R. Cadernos de enfermagem – Pediatria. RJ – Masson, 1981. TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à Pesquisa em Ciências Sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo, Editora Atlas, 1992. Texto original recebido em 23/03/2003 Publicação aprovada em 27/06/2003 CASTRO SANTOS, L. A. A Enfermagem Moderna: a experiência internacional (Disciplina de Pós Graduação). Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 35 - 37, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. 35 RELATO DE EXPERIÊNCIA A ENFERMAGEM MODERNA: A EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL (Disciplina de Pós Graduação) A POST-GRADUATE SEMINAR ON MODERN NURSING AND THE INTERNATIONAL EXPERIENCE. UN SEMINARIO DE POST-GRADUACIÓN SOBRE LA ENFERMERÍA MODERNA Y EXPERIENCIA INTERNACIONAL Luiz Antônio de Castro Santos 1 RESUMO: Relato de uma experiência pedagógica interdisciplinar, realizada no Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro em 2002 e 2003. Alunos e docentes de diversas áreas das Ciências da Saúde e das Ciências Humanas puderam trocar vivências, concepções, perspectivas teóricas e pontos de vista, a partir do estudo da riquíssima trajetória institucional da Enfermagem no mundo contemporâneo. PALAVRAS-CHAVE: Enfermagem moderna; Ensino em Enfermagem; História da Enfermagem ABSTRACT: A note on a cross-disciplinary teaching experience, which took place in 2002/2003, at the Institute of Social Medicine of the State University of Rio de Janeiro (UERJ). Students and faculty from many fields in the Health Sciences and the Human Sciences were able to exchange individual experiences, conceptions, theoretical perspectives and personal viewpoints, based on the study of the beautiful institutionalization processes of Nursing in the contemporary world. KEYWORDS: Modern nursing; Nursing Education; History of Nursing. RESUMEN: Informe de una experiencia pedagógica interdisciplinaria, realizada en el Instituto de Medicina Social de la Universidad del Estado de Rio de Janeiro en 2002 y 2003. Alumnos y docentes de diversas áreas de las Ciencias de la Salud y Ciencias Humanas pudieran intercambiar vivencias, concepciones, propuestas teóricas y puntos de vista, desde el estudio de la riquísima trayectoria institucional de la Enfermería en el mundo contemporáneo. PALABRAS-CLAVES: Enfermería moderna; Educación en Enfermería; Historia de la Enfermeria CONSIDERAÇÕES GERAIS No segundo semestre de 2002, tivemos a oportunidade de viver, com resultados auspiciosos, uma experiência de cunho pedagógico interdisciplinar, no Programa de Mestrado e Doutorado em Saúde Coletiva do Instituto de Medicina Social da UERJ, no Rio de Janeiro. Trata-se da criação, em caráter experimental, de uma disciplina de dois semestres (um por ano), voltada para a discussão históricosociológica e comparativa do campo da Enfermagem. Nossas pesquisas sobre a Reforma Sanitária brasileira revelaram a enorme importância da formação da enfermagem no país. Em primeiro lugar, por constituir um exemplo excepcional de profissão que surge num encontro/desencontro entre valores e sistemas pedagógicos nacionais e internacionais (notadamente norte-americanos, por meio da Fundação Rockefeller). Nessa confluência e confronto de orientações reside um convite ao estudo dos paradigmas de ensino no campo médico-hospitalar no início do século passado e da emergência da enfermagem de saúde pública -- esta, por sua vez, fruto da proposta conjunta de sanitaristas brasileiros e da enfermagem norte-americana e que resultou na criação da pioneira Escola Anna Nery, no Rio de Janeiro. Em segundo lugar, a importância da história da enfermagem – particularmente após a emergência 1 da AIDS, que projetou os cuidados da enfermagem para o centro do cenário médico com uma legitimidade até então pouco reconhecida – não se resume apenas aos momentos embrionários e à sua institucionalização na década de 20, pois a consolidação da profissão no Brasil passa por diversos momentos decisivos em décadas posteriores, com a criação de escolas de enfermagem em inúmeros pontos do país. Desse ponto de vista, o resgate da história de outros cursos superiores de enfermagem torna-se imperativo, se se quiser entender a formação desse campo profissional, na conhecida acepção de Pierre Bourdieu. Essa discussão sugere, desde já, como montamos o curso. Na primeira parte, trata-se de resgatar a experiência internacional. Esta foi a temática do Curso ministrado em 2002. Em 2003, voltaremos nossa atenção ao panorama nacional – trata-se de quase um século de progresso do campo no Brasil, progresso esse atestado igualmente por escolas mais “novas”, como os cursos superiores de enfermagem de Natal e Mossoró, no Rio Grande do Norte, para citarmos dois exemplos bem recentes. O presente Relato de Experiência, desdobra-se, portanto, em duas fases, a primeira das quais, conforme a Ementa que se segue, atraiu para o nosso Curso alunos e jovens colegas de várias áreas, egressos da própria Enfermagem, da Saúde Coletiva, Professor e pesquisador do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro CASTRO SANTOS, L. A. A Enfermagem Moderna: a experiência internacional (Disciplina de Pós Graduação). Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 35 - 37 , 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. da Medicina, da História e das Ciências Sociais, da Educação, da Odontologia. O Professor Dr. Osnir Claudiano da Silva Júnior, que atualmente realiza seu programa de pós-doutorado no IMS/Uerj, sob nossa orientação, dividiu responsabilidades e interdisciplinar. 36 conosco os encargos, o sucesso da iniciativa UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Instituto de Medicina Social Rua São Francisco Xavier, 524 / 7º andar / Blocos D e E São Cristóvão - Rio de Janeiro - RJ - CEP: 20550-013 TEL: 55-21-2587-73 03 FAX: 55-21-2264-1142 [email protected] [email protected] PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA MESTRADO E DOUTORADO - 2002/2 DISCIPLINA: TÓPICOS ESPECIAIS EM CIÊNCIAS HUMANAS E SAÚDE "A Enfermagem em Perspectiva Histórico-Comparada" CRÉDITOS – 3 - TURMA: Especial PROFs.: LUIZ A. DE CASTRO SANTOS e OSNIR CLAUDIANO DA SILVA JUNIOR (PROFESSOR CONVIDADO, Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, UNIRIO) INÍCIO: 9 de agosto de 2002 - DIA DA SEMANA: SEXTA-FEIRA - HORÁRIO: 13h às 16h EMENTA E COMENTÁRIO: A enfermagem em perspectiva histórico-comparada A formação da enfermagem no Brasil, além de constituir tema de importância para profissionais preocupados em conhecer as raízes de sua própria identidade social e auto-estima, envolve questões que estão no centro das reflexões historiográficas, antropológicas e sociológicas atuais. Conhecer a enfermagem brasileira é, ao mesmo tempo, conhecer um capítulo de uma história mais ampla, que é a própria história da formação do campo em escala mundial, particularmente durante o século XX. O presente curso é um esforço na direção de apreender alguns aspectos deste grande painel histórico, focalizando em particular os exemplos da França, Grã-Bretanha e Estados Unidos. A pesquisa histórica e sociológica em enfermagem enfrenta, hoje, um tipo de obstáculo que se poderia chamar epistemológico: a pouca familiaridade do corpo discente com a pesquisa, em primeiro lugar, e, particularmente, com a pesquisa histórica. Em segundo lugar, o campo se ressente da falta de estudos comparativos, feitos por pesquisadores de enfermagem. É notória, na literatura disponível, particularmente nos estudos pioneiros publicados por editoras como a Cortez, a ausência de um olhar comparativo não somente para a formação de outras áreas biomédicas, como a medicina, a psiquiatria e a odontologia, mas, surpreendentemente, para a própria enfermagem em outros países. Há clichés que se reproduzem na literatura acriticamente, como, por exemplo, a suposta existência de modelos rígidos de profissionalização da enfermagem: angloamericano, francês, etc. sem que possamos tomar tais modelos como hipóteses de trabalho, que só a leitura da bibliografia internacional permite aprofundar. Por exemplo, hoje se sabe que há clivagens profundas entre a proposta nightingaliana e o modo como o “modelo inglês” difundiu-se nos Estados Unidos, ainda no final do século 19. Mais ainda, sabe-se que, mesmo na Inglaterra, havia fissuras entre as líderes do movimento inglês no tocante às propostas defendidas por Florence Nightingale. Um exemplo importante: a Associação Britânica de Enfermeiras, criada em 1887, resultou de um grito de independência em relação à grande Dama. Tudo indica que há muito que pesquisar e muito a rever. A própria historiografia sobre a formação da enfermagem moderna no Brasil, que trata as primeiras enfermeiras de padrão Anna Nery como cópias-fiéis de um padrão criado pela Fundação Rockefeller, terá de ser revista à luz do debate recente sobre as diversas tendências existentes à época, na enfermagem norte-americana. Nos Estados Unidos, haveria um padrão cristalizado ou, por outra, tendências ainda em processo de cristalização? No Brasil, revelou-se uma cópia-fiel ou uma incorporação seletiva – por vezes, negociada – das propostas pedagógicas do Hospital Geral de Filadélfia, do Teachers College da Universidade de Columbia, ou da Escola de Enfermagem da Universidade de Toronto, no Canadá? O Curso destina-se a todos os interessados, desde que sejam docentes ou alunos de pósgraduação nas áreas de Enfermagem, Saúde Coletiva, Medicina, História, Ciências Sociais e Educação. Apresentamos um convite à reflexão sobre a experiência de vários países. Procuraremos, juntos, aprofundar o aprendizado da pesquisa sociológica e histórica sobre o campo, com vistas à compreensão dos processos de formação da Enfermagem brasileira. Não existe exigência quanto ao domínio de outros idiomas, ainda que seja recomendável certa familiaridade com a leitura de textos em francês ou CASTRO SANTOS, L. A. A Enfermagem Moderna: a experiência internacional (Disciplina de Pós Graduação). Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 35 - 37 , 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. inglês. O curso se abre, igualmente, para docentes, particularmente (mas não exclusivamente) se interessados em realizar conosco um programa de pós-doutorado ou de estágio-sênior. No segundo semestre de 2003 pretendemos focalizar especificamente a experiência brasileira, tema que será tratado em outra disciplina a ser por nós oferecida no Instituto de Medicina Social da UERJ. BIBLIOGRAFIA Celia Davies, “Professionalizing Strategies as Timeand Culture-Bound: American and British Nursing, Circa 1893”, in Ellen C. Lagemann (ed.), Nursing History: New Perspectives, New Possibilities, North Tarrytown: Rockefeller Archive Center & New York: Teachers College Press, 1983. Geneviève Paicheler, “Présentation: Les professions de soins: territoires et empiètements”, Sciences Sociales et Santé, (13) 3, Septembre 1995, pp. 5-11. I. Feroni e A. Kober, “L’autonomie des infirmières: Une comparaison France/Grande Bretagne”, Sciences Sociales et Santé, (13) 3, Septembre 1995, pp. 35-68. Katrin Schultheiss, Bodies and souls: Politics and the professionalization of nursing in France. Cambridge, Mass: Harvard University Press, 2001. Philippe Adam e Claudine Herzlich, Sociologie de la Maladie et de la Medicine, Paris, Ed. Nathan, 1994. (VER Cap. 1, “Les maladies dans l’histoire des sociétés”, cap. 2, “L’émergence de la médicine moderne et son rôle dans la prise em charge de la maladie”, cap. 7, “L’expérience de la maladie dans tous les lieux de la vie sociale”). Renée C. Fox, Linda Aiken e Carla Messikomer, “The culture of caring: AIDS and the nursing profession”, in D. Nelkin, D. P. Willis & S. Parris (eds.), A disease of society: Cultural and institutional responses to AIDS, Cambridge University Press, 1991. Texto original recebido em: 06/03/2003; Publicação aprovada em: 27/06/2003. 37 MION, J. Z.; SCHNEIDER, J. F. Leitos Psiquiátricos em hospital geral: visão de profissionais que atuam em hospital geral. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 38 – 42, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. 38 LEITOS PSIQUIÁTRICOS EM HOSPITAL GERAL: VISÃO DE PROFISSIONAIS QUE ATUAM EM HOSPITAL GERAL PSYCHIATRIC WARD IN GENERAL HOSPITAL: PROFESSIONALS VIEW WHO WORKS IN GENERAL HOSPITAL LOS LECHOS PSIQUIÁTRICOS EN HOSPITAL GENERAL: VISIÓN DE LOS PROFESIONALES QUE ACTUAN EN HOSPITAL GENERAL Jucéli Zimmermann Mion 1 Jacó Fernando Schneider 2 RESUMO: A proposta deste estudo foi a de buscar junto aos profissionais de saúde que atuam em hospital geral, a percepção e a aceitação dos mesmos sobre a possível implantação de leitos psiquiátricos na instituição em que atuam. A pesquisa foi realizada em cinco hospitais gerais privados da cidade de Cascavel, Estado do Paraná, que prestam assistência não só a pacientes do município mas da região oeste do estado. PALAVRAS CHAVES: Psiquiatria, Leitos Psiquiátricos, Hospital Geral, Saúde Mental ABSTRACT: The proposal of this study was the one of looking for the professionals of health that act in general hospital, the perception and the acceptance of the same ones on the possible implantation of psychiatric beds in the institution close to in that act. The research was accomplished at five private general hospitals of the city of Cascavel, State of Paraná, that you/they render attendance not only to patient of the municipal district but of every west area of the state of Paraná. KEY WORDS: Psychiatry, Psychiatric Beds, General Hospital, Mental Health RESUMEN: La propuesta de este estudio fue de coger junto a los profesionales de la salud que actuan en hospital general, la percepción y la aceptación de los mismos a cerca de la posible implantación de lechos psiquiátricos en la institución donde actuan. La pesquisa fue realizada en cinco hospitales privados de la ciudad de Cascavel, en Estado de Paraná, que prestan asistencia no sólo a pacientes del municipio, pero de la región oeste del Estado. TERMINOS CLAVES: Psiquiatria, Lechos Psiquiátricos, Hospital General, Salud Mental INTRODUÇÃO Durante nossa trajetória como profissionais de enfermagem são tantas as discussões sobre a Reforma Psiquiátrica, a desconstrução do aparato manicomial, criação de unidades psiquiátricas em hospitais gerais, que nos despertaram para a necessidade de saber como essas medidas são vistas e qual a aceitação dos profissionais da rede hospitalar privada, no que diz respeito a essas mudanças. Para tanto, os participantes desta pesquisa foram os profissionais que trabalham em hospital geral: diretores, médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, copeiras e serventes de limpeza, ou seja, as pessoas que terão contato com esses pacientes, se a Reforma Psiquiátrica vier a se concretizar, com a criação de Leitos Psiquiátricos em Hospitais Gerais. Assim, o objetivo deste estudo foi o de buscar junto aos profissionais de saúde que atuam em hospital geral, a percepção e a aceitação dos mesmos sobre a possível implantação de leitos psiquiátricos na instituição em que atuam. MATERIAL E MÉTODO 1 A busca do conhecimento pode ser feita de diversas maneiras e essa diversidade se dá ao fato de que o ato de conhecer é próprio do homem. O ser humano ao enfrentar os problemas procura identificar soluções e neste enfrentamento, produz conhecimentos. Minayo (1999: 12) fala que: ... o labor científico caminha sempre em duas direções: numa, elabora suas teorias, seus métodos, seus princípios e estabelece seus resultados; noutra, inventa, ratifica seu caminho, abandona certas vias e encaminhase para certas direções previlegiadas. E ao fazer tal percurso, os investigadores aceitam os critérios da historicidade, da colaboração e, sobretudo, imbuem-se da humildade de quem sabe que qualquer conhecimento é aproximado, é construído. A pesquisa científica objetiva responder questões, buscar soluções para os problemas. O método científico é o instrumento para auxiliar a compreender o mundo, portanto é o caminho para aquisição do conhecimento. Por meio de métodos científicos, os pesquisadores lutam para a solução de problemas, para dar sentido à experiência humana, para Enfermeira. Especialista em Saúde Pública. Secretaria Municipal de Saúde de Cafelândia, Paraná. Enfermeiro. Doutor em Enfermagem. Docente do Colegiado do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. E-mail: [email protected] 2 MION, J. Z.; SCHNEIDER, J. F. Leitos Psiquiátricos em hospital geral: visão de profissionais que atuam em hospital geral. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 38 – 42, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. compreender a regularidade dos fenômenos e para prever circunstâncias futuras. Mas, o que existe de tão especial no método científico? Consciente ou inconscientemente, nós todos fazemos indagações, resolvemos problemas e tomamos decisões, a cada dia (POLIT; HUNGLER, 1995: 12). No entanto, todo pesquisador precisa seguir uma metodologia, garantindo assim, percorrer um caminho sistemático e ordenado, evitando através dela, tirar conclusões baseadas na intuição. Sobre pesquisa científica, Martins e Bicudo (1989: 65) colocam que: “Toda pesquisa científica, pressupõe sempre uma posição, uma postura que torna possível investigar os fenômenos, a partir de uma certa perspectiva, na qual habilita o pesquisador a encontrar resposta para sua problemática”. Na pesquisa científica, existem dois métodos: a pesquisa quantitativa que trabalha com fatos, dados estatísticos, números, e a pesquisa qualitativa que trabalha com dados subjetivos, crenças, valores, opiniões, fenômenos, hábitos. Como nossa problemática estava voltada à percepção, ou seja, conhecer como os profissiobnais de saúde de hospitais gerais privados percebem a possibilidade de implantação de leitos psiquiátricos nas instituições em que trabalham, usamos como referencial a pesquisa qualitativa, que consideramos ser a mais apropriada. Sobre a pesquisa qualitativa, Minayo (1999: 21) coloca que: Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com um universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. Na pesquisa qualitativa, o material utilizado é a palavra, que expressa a fala cotidiana, nos discursos intelectuais, burocráticos, políticos e nas relações afetivas ou técnicas. Neste método, procura-se interpretar o conteúdo das falas, ultrapassando a mensagem e conhecendo significados latentes. Ainda sobre o método qualitativo, Minayo (1999: 24) enfatiza que: Os autores que seguem tal corrente não se preocupam em quantificar, mas, sim, compreender e explicar a dinâmica das relações sociais que, por sua vez, são depositárias de crenças, valores, atitudes e hábitos. Trabalham com a vivência, com a experiência, com a continuidade e também com a compreensão das estruturas e instituições como resultado da ação humana objetiva. Ou seja, desse ponto de vista, a linguagem, as práticas e as coisas são inseparáveis. Assim, nesta investigação, os dados foram coletados através de uma entrevista aberta, pois pensamos ser este o instrumento mais apropriado para a pesquisa qualitativa. 39 Sobre este recurso, Gil (1987: 113) coloca que: “Pode-se definir como a técnica em que o investigador se apresenta frente ao investigado e lhe formúla perguntas, com o objetivo de obtenção dos dados que interessam à investigação. A entrevista é portanto, uma forma de interação social. Mais especificamente, é uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de informação”. Na operacionalização deste estudo, observou-se as normas éticas no que se refere à pesquisa envolvendo seres humanos, conforme preconizado na resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Sendo assim, o projeto de pesquisa passou por um Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos e foi aprovado. Anteriormente à pesquisa, foram procurados os diretores gerais destas instituições, para entrega de ofício, solicitando campo de pesquisa. Todos concordaram dando autorização no próprio ofício. Assim, a pesquisa foi realizada em cinco hospitais gerais privados da cidade de Cascavel, Estado do Paraná, que prestam assistência não só a pacientes do município mas de toda região oeste do estado do Paraná. A pesquisa foi realizada apenas nas instituições privadas por serem em maior número na cidade e, por poderem retratar na medida dos objetivos que traçamos a percepção dos profissionais que atuam nos hospitais. Por ter apenas um hospital público no município onde o estudo foi desenvolvido, pensamos que se tornaria difícil estabelecer comparações entre as percepções dos profissionais da área pública e da área privada, sendo necessária outra investigação para se atingir este objetivo. Foram entrevistados diretores gerais, médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, copeiras e serventes de limpeza. A escolha destas categorias deu-se ao fato de que se houver implantação de leitos psiquiátricos em hospitais gerais privados, estes profissionais terão contato com os pacientes psiquiátricos. As entrevistas foram realizadas por um dos pesquisadores dentro dos hospitais, em horário de trabalho e os profissionais entrevistados foram os que estavam de plantão. Foram realizadas em dias e horários diferentes, conforme disponibilidade dos respondentes. Todos os entrevistados foram inteirados individualmente da pesquisa e, que esta seria realizada através de entrevista gravada. Foi feita uma única pergunta, com a seguinte questão norteadora: “Qual a sua percepção frente à possibilidade de implantação de leitos psiquiátricos neste hospital?”. Os dados coletados foram analisados tendo como referencial a análise de conteúdo proposta por Bardin, (1977) apud Gil (1987:163-4), que apresenta os seguintes passos: a) pré-análise; b) exploração do material; e c) tratamento dos dados, inferência e interpretação. MION, J. Z.; SCHNEIDER, J. F. Leitos Psiquiátricos em hospital geral: visão de profissionais que atuam em hospital geral. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 38 – 42, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. Após a transcrição na íntegra das falas foi efetuada análise dos conteúdos, que resultou em seis (6) unidades temáticas. Esta análise “(...) consiste em descobrir os ‘núcleos de sentido’ que compõem a comunicação e cuja presença, ou freqüência de aparição podem significar alguma coisa para o objectivo analítico escolhido” (BARDIN, 1977:105). A seguir, apresentaremos as unidades temáticas para análise dos discursos, como segue: A implantação de leitos psiquiátricos em hospital geral está condicionada a infra-estrutura do hospital; A implantação de leitos psiquiátricos em hospital geral está vinculada à qualificação da equipe que irá atuar junto a pacientes em sofrimento psíquico; A implantação de leitos psiquiátricos em hospital geral vai favorecer a recuperação e reintegração mais rápida do indivíduo em sofrimento psíquico à sociedade; A implantação de leitos psiquiátricos em hospital geral está relacionada ao preconceito, ao estigma com relação ao portador de transtorno mental; A implantação de leitos psiquiátricos em hospital geral está ligada à questão financeira; A implantação de leitos psiquiátricos em hospital geral requer envolvimento da família dos pacientes psiquiátricos. RESULTADOS E DISCUSSÃO A análise dos conteúdos dos discursos foi embasada nas temáticas descritas acima, onde pretendeu-se discutir e relacionar os conteúdos com referenciais de autores que estudaram estas questões. Na primeira unidade temática, aparece nos discursos a preocupação no sentido de organizar o espaço físico do hospital geral, para poder atender pacientes psiquiátricos. Esta preocupação fundamenta-se no conhecimento dos profissionais de que estes pacientes precisam de um atendimento diferenciado, pois como se sentem bem fisicamente, permanecem pouco no leito. O ambiente físico adequado para portadores de patologias psíquicas, deve favorecer a orientação no tempo e no espaço (tendo relógios, calendários, espelhos, quadros) ter um refeitório, já que não se alimentam no leito, uma área de lazer para que possam participar de atividades físicas, sala de estar com rádio e televisão e que seja em andar térreo, facilitando o acesso para área de lazer e refeitório (BOTEGA, 1995). Pensamos que a questão do espaço físico dificulta a implantação destes leitos, pois esta reorganização para adequar os hospitais está vinculada à disponibilidade de espaço físico e, implica em investimentos financeiros. Os conteúdos da segunda unidade, que tem como temática a qualificação profissional, mostram que os profissionais não se sentem preparados para atender a clientela com transtorno mental. Esta questão era percebida enquanto enfermeira de hospital geral, onde a equipe multidisciplinar ao deparar-se com paciente portador de patologia psíquica, não se sentia à vontade para lidar com esta clientela, e estas falas evidenciam que o despreparo 40 da equipe constitui-se em um problema para a implantação de leitos psiquiátricos em hospital geral. Todos os discursos falam que seria viável a implantação destes leitos, desde que houvesse treinamentos e reciclagem para a equipe que atuaria junto ao doente. Com relação ao pessoal auxiliar, Peduzzi (1992: 68) explica que: Ao pensarmos na capacitação de pessoal auxiliar na área de saúde mental, tomamos como questão nuclear à interação entre subjetividade, pois que esta é a ferramenta básica com a qual os auxiliares realizarão seu trabalho de assistência à clientela. Para desenvolver tal habilidade terão que, primeiramente, adquirir um dado conhecimento através de ensino do saber específico da área. Os princípios e conceitos gerais que fundamentam o trabalho na instituição e, mais especificamente, na equipe de saúde mental serão os mesmos para o conjunto dos trabalhadores, diferindo a forma e a extensão em que serão transmitidos, e o modo e objetivos com que serão utilizados. As referências dos participantes sobre o problema do despreparo dos profissionais para assistir o doente mental, são compreensíveis à medida que até o momento a formação oferecida pelos cursos da área da saúde não está voltada para a capacitação destes profissionais, para prestar assistência em outro espaço a não ser o hospital psiquiátrico. Entendendo que a questão da assistência ao ser humano em sofrimento psíquico requer que se construam outros espaços de atenção, como no caso o hospital geral, a formação/capacitação dos profissionais há que ser repensada, e os profissionais que já estão atuando na área deverão ser capacitados. De modo geral, os profissionais acreditam que o internamento do paciente portador de sofrimento psíquico em hospital geral favorecerá a recuperação e a reintegração mais rápida do doente a sociedade, uma vez que o paciente não perde o vínculo com a realidade e na alta hospitalar, sai sem o rótulo, sem o estigma de internação em hospital psiquiátrico, conforme nos mostra a terceira unidade temática identificada nos discursos. Falando sobre as principais vantagens das Unidades Psiquiátricas em Hospital Geral, Botega e Dalgalarrondo (1997: 50) pontuam que se ocorresse a “(...) diminuição do estigma da doença mental: o doente mental no hospital geral passaria a ser visto como um doente semelhante aos outros. Os hospitais psiquiátricos tradicionais, ao contrário, tenderiam a reforçar tal estigma”. A quarta unidade retrata o preconceito. Apesar dos profissionais entrevistados reconhecerem os benefícios advindos com a internação do paciente psiquiátrico em hospital geral, as falas evidenciam o preconceito em relação a estes pacientes. MION, J. Z.; SCHNEIDER, J. F. Leitos Psiquiátricos em hospital geral: visão de profissionais que atuam em hospital geral. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 38 – 42, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. Na tentativa de não assumir este preconceito, alguns colocam que haveria atritos com os pacientes diferenciados (particulares e de convênios), que são mais exigentes que os pacientes do SUS e não aceitariam ter próximo do seu quarto, pacientes com patologias psíquicas. Uma questão que fica explícita nestes depoimentos é a vinculação direta entre doença mental e pobreza, revelando ainda as discrepâncias na assistência à saúde, em que não se pode ter, convivendo num mesmo espaço, pessoas de diferentes níveis sociais. A inclusão de serviços de psiquiatria em hospital geral pelo que se pode observar ocorreria com uma certa resistência. Um dos fatores citados como dificultadores deste processo é o preconceito. Para muitos ainda, ‘lugar de louco é no hospício’. Há o temor de que os doentes mentais possam representar um perigo de agressão fisica para os outros doentes do hospital e pessoal técnico. Tais temores não se sustentam perante as evidências de mais de cinqüenta anos de UIPHGs nos paises desenvolvidos (BOTEGA; DALGALARRONDO, 1997: 49). Na quinta unidade, emergiu a questão dos recursos financeiros como importantes para a realização desta proposta. O hospital teria que investir em recursos humanos e na reestruturação da área física. Como a maior demanda é de pacientes usuários do Sistema Único de Saúde, questionam se haveria retorno para cobrir estes investimentos, que não seriam poucos. Com relação a estes questionamentos que surgiram nas falas dos entrevistados, transparecendo receio quanto ao financiamento deste tipo de serviço, nos embasamos novamente em Botega e Dalgalarrondo (1997: 50) que refletem sobre esta questão, mais particularmente sobre problemas relacionados a formas de pagamentos, colocando que: “(...) em vários países, muitos seguros médicos e sistemas previdenciários têm uma política clara de pagar menos aos leitos psiquiátricos; a maioria dos seguros médicos privados no Brasil não cobre assistência psiquiátrica”. Na Sexta e última unidade temática, surge a questão do envolvimento da família dos pacientes psíquiátricos como um fator fundamental para a implantação de leitos psiquiátricos em hospital geral. Nos discursos dos entrevistados emerge a família como algo contraditório. Alguns colocam a importância do envolvimento familiar no processo de tratamento do enfermo mentalmente, alegando que o internamento em hospital geral pode favorecer o acompanhamento por parte da família no processo de tratamento. No entanto, outros dizem que a família não participa da hospitalização, abandonando o familiar, deixando sob responsabilidade da instituição os cuidados e decisões sobre o paciente. Observamos que ocorre uma preocupação entre os entrevistados de que os indivíduos em 41 sofrimento psíquico sejam abandonados pelos familiares, deixados por longo tempo nos hospitais gerais, caso ocorra a implantação de leitos psiquiátricos nestas instituições, repetindo-se assim, o modelo asilar que tanto contribuiu para a cronificação desses indivíduos, conforme nos mostra a história da psiquiatria e da saúde mental. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESTUDO A maior dificuldade para a implantação dos leitos psiquiátricos em hospital geral privado está vinculada principalmente à questão financeira. Para a realização de tal propósito, as instituições teriam que reestruturar a área física do hospital, investir na capacitação dos profissionais já vinculados à empresa, bem como a contratação de novos profissionais que ainda não fazem parte da equipe como assistente social, psicólogo e terapeuta ocupacional. É de conhecimento de todos a insatisfação dos profissionais e dos serviços médico-hospitalar em relação ao pagamento dos serviços prestados ao Sistema Único de Saúde (SUS). Sendo assim, quem arcará com os custos para o investimento necessário para a implantação de leitos psiquiátricos em hospital geral? Acredita-se que uma mudança desta natureza implica em mudança nas políticas de saúde e do modelo de assistência. Além deste aspecto, não temos dúvida que qualquer modificação institucional somente ocorrerá se houver uma idéia global de mudança, incluindo todos os setores do hospital geral, dentre os quais a enfermagem, a medicina, a limpeza, a nutrição, o administrativo, enfim, todos os setores que se envolverão com o paciente psiquiátrico. No entanto, além de levarmos em conta os aspectos citados, devemos considerar, como nos aponta Pitta (1993: 128), que existem infinitas dimensões de qualidade de serviços, encontradas numa tipologia de qualidade que podem ser úteis na implantação de leitos psiquiátricos em um hospital geral: 1º poderíamos iniciar falando sobre a qualidade social, que se mede em função da acessibilidade à prestação, ou seja, ao efetivo tratamento com as suas características de escuta, acolhida, negociação terapêutica. Entretanto, deve-se considerar não só de um ponto de vista da organização dos serviços mas também considerar a dimensão do custo para o usuário (econômico, afetivo e cultural). De um outro modo, um serviço pode ser definido com base na sua qualidade social não somente avaliando-se o grau de coerência entre o que o serviço oferece e o que o usuário demanda; a qualidade social se pode medir também em termos da aceitação do que se oferta nos caminhos da ‘satisfação’ do usuário. 2q a qualidade econômica, definível em termos de eficiência, MION, J. Z.; SCHNEIDER, J. F. Leitos Psiquiátricos em hospital geral: visão de profissionais que atuam em hospital geral. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 38 – 42, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. mensurável na relação entre custo e serviço ofertado. 3q a qualidade técnica, mensurável em termos da correta aplicação do conhecimento e recurso humano e material disponível. Isso se efetivando, os hospitais gerais terão condições concretas para a implantação com qualidade de leitos psiquiátricos, visto que este estudo mostrou que o pessoal técnico demonstra uma boa receptividade com relação a esta possibilidade. Assim, realizar este trabalho de pesquisa, nos proporcionou além de um aprofundamento sobre a percepção dos profissionais de saúde frente à possibilidade de implantação de leitos psiquiátricos em hospital geral, uma maior reflexão sobre a condição do doente mental. Neste sentido, percebemos que grande parte da problemática do sofrimento psíquico tem relação com o papel do ser humano na sociedade, visto que geralmente são indivíduos pouco produtivos que geram transtornos para as pessoas com as quais convivem. Esta realidade é evidenciada mais entre as pessoas de baixo poder aquisitivo que, diante das dificuldades encontradas no convívio com um familiar em sofrimento mental, encontram no asilamento a solução de seus problemas, existindo convergência de interesses, pois para as instituições manicomiais este internamento também é conveniente. Diante deste panorama, pensamos que as mudanças não podem acontecer apenas nos serviços de saúde, mas em toda a estrutura social e, que a dificuldade de implantação de formas alternativas de tratamento psiquiátrico, está ligada à forma de direcionamento dos recursos públicos para este tipo de assistência, já que a internação em instituição total ainda hoje é fonte segura de lucro para seus donos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977. BOTEGA, N.J.(org.) Serviços de saúde mental no hospital geral. Campinas: Papirus, 1995. ________; DALGALARRONDO, P. Saúde mental no hospital geral: espaço para o psíquico. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1997. GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1987. MINAYO, M.C.S. (Org.) Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 13. ed. Petrópolis: Vozes, 1999. PEDUZZI. M. Capacitação de pessoal auxiliar em saúde mental: reflexões a partir da experiência de um centro de saúde escola. Saúde em debate. Santa Maria. n. 36, p. 66-72, out., 1992. PITTA, A. Avaliando as transformações na assistência psiquiátrica brasileira. In: RUSSO, J.; SILVA FILHO, J.F. da (orgs.) Duzentos anos de psiquiatria. Rio de Janeiro: Relume Dumará/UFRJ, 1993. p. 125-34. 42 POLIT, D.F.; HUNGLER, B.P. Fundamentos de pesquisa em enfermagem. 3. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. Texto original recebido em 27/02/2003 Publicação aprovada em 27/06/2003 FLORÊNCIO, V.B.; RODRIGUES, C.A.; PEREIRA, M.S.; SOUZA, A.C.S. – Adesão às precauções padrão entre os profissionais da equipe de resgate pré-hospitalar do Corpo de Bombeiros de Goias. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 43 – 48, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. 43 ADESÃO ÁS PRECAUÇÕES PADRÃO ENTRE OS PROFISSIONAIS DA EQUIPE DE RESGATE PRÉHOSPITALAR DO CORPO DE BOMBEIROS DE GOIÁS ADHESION ACE PRECAUTIONS STANDARD BETWEEN THE PROFESSIONALS OF THE TEAM OF DAILY PAY-HOSPITAL RESCUE OF THE BODY OF GOIÁS FIREMEN ADHERENCIA A LAS MEDIDAS DE PRECAUCIONES ESTÁNDARES ENTRE LOS PROFESIONALES DEL EQUIPO DEL RESCATE DE PRÉ-HOSPITALAR DEL CUERPO DE BOMBEROS DE GOIÁS Valéria Borba Florêncio 1 Carolina de Araujo Rodrigues 2 Milca Severino Pereira 3 Adenícia Custódia Silva e Souza 3 RESUMO : Este estudo teve como objetivo identificar a compreensão dos profissionais da equipe de Resgate PréHospitalar do Corpo de Bombeiros de Goiás acerca dos riscos de exposição a material biológico e a adesão às medidas de precauções padrão. Os dados foram coletados através de questionário e observação sistematizada. A única medida de segurança adotada se restringe ao uso de luvas de procedimentos, foi demonstrado pouco conhecimento acerca das medidas de proteção e dos riscos a que estão expostos. A equipe apresenta competência técnica para os atendimentos de socorro a vítimas, mas necessita de preparo para sua autoproteção. PALAVRAS-CHAVES: Precauções padrão; Atendimento pré-hospitalar; Biossegurança. ABSTRACT: This study it had as objective to identify to the understanding of the professionals of the team of PayHospital Rescue of the Body of Firemen of Goiás concerning the exposition risks the biological material and the adhesion to the measures of precautions standard. The data had been collected through questionnaire and systemize comment. The only measure of adopted security if restricts to the use of gloves of procedures, had demonstrated to little knowledge concerning the measures of protection and the risks the one that is displayed. The team presents ability technique for the attendance for the victims and needs preparation for its self-protection. KEY-WORDS: Standard precautions; Emergency attendance; Bio - security. RESUMEN: Este estudio teve como objetivo identificar la comprensión de los profesionales del equipo del rescate de Pré-Hospitalar del Cuerpo de Bomberos de Goiás referente a los riesgos de la exposición el material y la adherencia a las medidas de precauciones estándares. Los datos habían sido recogidos a través de cuestionario y sistematizan el comentario. La única medida de seguridad adoptada de sí restringe al uso de guantes de procedimientos, fue demostrada a poco conocimiento referente a las medidas la protección y los riesgos el se exhibe que. El equipo presenta a técnica de la capacidad para la atención e ayuda a las víctimas, pero necesita la preparación para su uno mismo-protección. TERMINOS CLAVES: Precauciones estándares; atención diarios del pagar-hospital; biossegurança. INTRODUÇÃO O conceito de sistema de emergência préhospitalar no Brasil surgiu a partir de 1986, com a criação do Grupo de Socorros de Emergência (GSE) do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, com a incorporação de médicos socorristas e unidades de suporte avançado de vida (HARGREAVES, 2000). Em 1999, com a portaria nº 824 GM de 24 de junho, o Ministério da Saúde considerou como atendimento pré-hospitalar aquele procedimento prestado à vítima nos primeiros minutos após ter ocorrido o agravo à sua saúde (BRASIL,1999). 1 No Estado de Goiás, o Grupamento de Resgate Pré-hospitalar (GRPH) do Corpo de Bombeiros Militar foi estruturado no ano de 1997 e desde então, tem desempenhado importante papel no atendimento a vítimas. Só em 2001, o grupo prestou atendimentos a 13624 vítimas. Diante deste dado ressaltamos a importância social e humanitária das ações desenvolvidas pelo grupo de resgate. O alto grau de profissionalismo e a precisão técnica conquistaram a confiança do cidadão, que se sente seguro ao ser atendido por este serviço. Ao realizar atendimento pré-hospitalar, os profissionais estão constantemente expostos a vários riscos durante a execução de suas atividades Enfermeira do Programa Saúde da Família – [email protected] Enfermeira do Hospital Sara de Fortaleza 3 Enfermeiras. Doutoras em Enfermagem – Docentes da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás. Rua 227, Qd 68 s/n (FEN/UFG); Setor Leste Universitário. CEP 74605-080, Goiânia (GO). 2 FLORÊNCIO, V.B.; RODRIGUES, C.A.; PEREIRA, M.S.; SOUZA, A.C.S. – Adesão às precauções padrão entre os profissionais da equipe de resgate pré-hospitalar do Corpo de Bombeiros de Goias. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 43 – 48, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. 44 ocupacionais, principalmente, por manusear de forma direta ou indireta materiais orgânicos excretados e secretados por clientes portadores de patologias desconhecidas, podendo, por sua vez, ser fonte de transmissão de microrganismos para os profissionais e outras vítimas. Para reduzir o risco de transmissão, principalmente, de hepatite B e HIV são necessárias medidas preventivas para proteger tanto o profissional quanto o cliente do contato com sangue, particularmente através de ferimentos percutâneos. Estas medidas incluem a utilização de instrumentos, técnicas e práticas de trabalho mais seguras e, ainda, uso consistente de barreiras de proteção apropriadas (HOEFEL & SCHNEIDER, 1997). Em 1996, os Centers for Diseases Control and Prevention (CDC) editaram as precauções padrão as quais devem ser adotadas para o atendimento a todos os clientes independente do conhecimento do seu estado infeccioso. Tal norma inclui apropriada lavagem das mãos e o uso de luvas para o manuseio de todos os fluidos orgânicos, dentre outros (GARNER, 1996). No atendimento de emergência pré-hospitalar, observamos que os riscos de contaminação dos profissionais aumentam na proporção direta em que há contatos mais intensos e diretos com as vítimas. De acordo com a estatística de ocorrência do GRPH, os atendimentos a vítima estão distribuídos nas categorias de acidentes de trânsito, emergências clínicas, intoxicação, lesão térmica, suicídio, entre outros. Todos os atendimentos oferecidos pelo GRPH proporcionam condições de risco de contaminação com fluídos corpóreos. Este fato requer a adesão as medidas de precauções padrão para proteção do profissional. Entretanto, ressaltamos que em nossa experiência, os profissionais da equipe de resgate préhospitalar, diante de algumas situações, muitas vezes, utilizavam os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) de forma inadequada, ficando expostos a riscos de contaminação. Questionamos se estes profissionais não fazem uso das medidas de precauções padrão, por não estarem conscientes do risco à que estão expostos ou por não terem incorporado ao hábito o uso destas medidas. Considerando que a equipe de resgate préhospitalar trabalha em condições de alto risco ocupacional, há necessidade de verificar o conhecimento e adoção, dos profissionais, as medidas protetoras relacionadas à prevenção das doenças. de do OBJETIVOS x Verificar a compreensão dos profissionais do GRPH do Corpo de Bombeiros de Goiás, acerca dos riscos de exposição a material biológico x x Identificar a adesão às medidas precauções padrão pelos profissionais GRPH do Corpo de Bombeiros de Goiás Levantar fatores intervenientes na adesão precauções padrão pelos profissionais GRPH do Corpo de Bombeiros de Goiás. às do DELINEAMENTO DA PESQUISA Estudo realizado junto às equipes de resgate do GRPH do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás, localizado no município de Goiânia-GO. Fizeram parte da pesquisa todos os profissionais da equipe de resgate pré-hospitalar ligados diretamente ao atendimento a vítimas, que estavam trabalhando no período da coleta de dados, e concordaram em participar da pesquisa através da assinatura do termo de livre consentimento. Foram incluídos todos os socorristas atuantes no atendimento pré-hospitalar, e excluídos os que se encontravam em férias, licença médica, operações externas ao município, que não estavam ligados ao resgate da vítima ou que recusaram em participar. Os dados foram coletados, após a observação dos aspectos ético-legais referentes á pesquisa em seres humanos, através de um questionário que foi respondido pelos participantes do estudo, logo após receberem o plantão e antes de saírem para os atendimentos. O questionário abordava os seguintes temas: compreensão dos profissionais a respeito de precauções padrão e risco biológico; imunização dos profissionais; utilização de medidas de segurança em procedimentos que oferece riscos de respingo, formação de aerossóis, secreção e fluídos corpóreos; facilidades e dificuldades na utilização dos EPI; lavagem das mãos; descarte de materiais perfurocortantes; acidentes com materiais perfurocortantes e condutas tomadas e treinamentos específicos sobre precauções padrão. Além dos dados do questionário, que evidenciaram a compreensão dos profissionais acerca dos riscos ocupacionais, procedeu-se a observação direta, dos riscos biológicos a que estão expostos e da adoção das medidas de precauções padrão durante as atividades no atendimento e resgate. A observação foi realizada em cada uma das equipes de resgate, no mínimo em 4 situações de atendimento. Foi utilizado um roteiro para observação sistematizada com as seguintes categorias préestabelecidas: utilização dos EPI – indicação para o uso, uso adequado e forma de descarte; artigos utilizados nos atendimentos: forma de descarte de artigos contaminados e forma de reprocessamento dos artigos reutilizados e condutas adotadas em situações de risco com material biológico. Os instrumentos usados para a obtenção dos dados foram validados quanto ao seu conteúdo, mediante avaliação feita por quatro enfermeiros, os quais foram selecionados por atuarem na área de FLORÊNCIO, V.B.; RODRIGUES, C.A.; PEREIRA, M.S.; SOUZA, A.C.S. – Adesão às precauções padrão entre os profissionais da equipe de resgate pré-hospitalar do Corpo de Bombeiros de Goias. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 43 – 48, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. controle de infecção hospitalar ou segurança do trabalho. Os resultados foram interpretados e analisados à luz dos princípios norteadores da prática de assistência de qualidade com redução dos riscos ocupacionais, utilizando-se, ainda, referências acerca de segurança do trabalho e de medidas de precauções padrão preconizadas pelos CDC. RESULTADOS E DISCUSSÃO A instituição pesquisada possui um total de 78 profissionais, destes 34 foram excluídos por não atenderem aos critérios de inclusão. Participaram do estudo, 44 profissionais sendo 34 socorristas, 5 enfermeiros, 3 médicos e 2 motoristas. O GRPH possui dois tipos de atendimento: uma Unidade de Resgate Básico (UR) composta por 45 socorristas, os quais não tem formação na área da saúde, realizando somente atendimentos primários como função de imobilização, contenção de hemorragias e transporte de vítimas; e uma Unidade de Suporte Avançado (EUA) composta por socorristas, enfermeiro e médico, na qual se realiza atendimentos mais complexos tipo reanimação cardíaca, procedimentos invasivos, contenção de hemorragias, entre outros. A equipe de resgate manifestou seu entendimento acerca de precauções padrão conceituando-as como a utilização de EPI ou medidas de proteção à saúde ou cuidados de proteção na realização do trabalho. As medidas de segurança mencionadas pela equipe de resgate, para realizar procedimentos que oferecem risco de contato com sangue e outros fluídos corpóreos compõem a Tabela 1. TABELA 1 – Medidas de seguranças ocupacionais adotadas para a realização de procedimentos considerando o tipo de contato. GRPH – Corpo de Bombeiros, Goiânia, 2001. Medidas de segurança adotadas Luvas de procedimentos Luvas estéreis Máscara Óculos protetores Gorro Outros Contato secreções Nº 42 07 42 39 20 06 Ao serem questionados acerca do uso de medidas de segurança houve o predomínio da utilização de luvas de procedimentos, máscaras e óculos protetores durante situações de risco. No entanto, através da observação realizada durante o atendimento a vítima, constatamos que a única medida utilizada, em tais situações, foi o uso de luvas de procedimento. Verificamos que em algumas vezes, durante o atendimento, a equipe se expôs ao material biológico através de respingo de sangue em mucosas de olho, boca e nariz. Durante a observação detectamos que apesar dos profissionais usarem luvas de procedimento, estes não têm o devido cuidado em evitar a contaminação da superfície, pois manuseiam pranchetas, macas, maçanetas e outros objetos sem retirar as luvas. Desta forma, as luvas utilizadas como equipamento de proteção individual tem se transformado em equipamento de disseminação de contaminantes. Este comportamento tem sido igualmente constatado em outras situações de atendimento pela equipe de saúde, inclusive em hospitais. A adesão ao uso do EPI está intimamente relacionada á percepção que os profissionais têm acerca dos riscos a que estão expostos e da susceptibilidade a estes riscos. Neste estudo, evidenciamos que os profissionais banalizam os riscos ocupacionais com material biológico, não sabendo, na direto % 95,45 15,90 95,45 88,63 45,60 13,48 com Contato através de respingo Nº % 38 86,36 05 11.36 43 97,72 38 86,36 22 50,00 03 6,81 sua maioria, identificar as conseqüências decorrentes da inobservância do uso de medidas de prevenção. Observamos, também, que a maioria dos profissionais, principalmente socorristas, não faz uso adequado de equipamentos de segurança no momento da lavagem dos equipamentos contaminados e do veículo da unidade de resgate. Esta é realizada em um pátio, sem um sistema de escoamento adequado, ficando a água da lavagem dos materiais represada em uma quadra de esporte. É importante considerar que a água retida na quadra de esporte contamina o ambiente de trabalho da corporação. Todo o ambiente no qual se acondiciona ou reprocessa material contaminado, deve possuir superfícies laváveis e ser provido de torneiras e ralos com escoamento direto para rede de esgoto. Durante a execução da limpeza manual é necessário o uso de EPI, ou seja, luvas grossas de borracha antiderrapantes, aventais impermeáveis, botas, gorro, óculos protetores (SOBECC, 2001). Detectamos que luvas contaminadas com sangue e outras secreções corpóreas são desprezadas em lixo comum, em recipientes abertos expostos a insetos, estas condutas somadas ao manuseio de pranchetas, caneta, maçaneta, maca com luvas contaminadas estendem o risco de contaminação ambiental e coletiva. Além disso, existe a possibilidade dos próprios profissionais se FLORÊNCIO, V.B.; RODRIGUES, C.A.; PEREIRA, M.S.; SOUZA, A.C.S. – Adesão às precauções padrão entre os profissionais da equipe de resgate pré-hospitalar do Corpo de Bombeiros de Goias. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 43 – 48, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. contaminarem ao manusear superfícies por eles mesmos contaminadas. O lixo deve ser selecionado como resíduos infectantes quando proporciona risco potencial a saúde pública e ao meio ambiente devido à presença de agentes biológicos, ou lixo comum quando não oferece risco adicional a saúde pública. O lixo infectante deve ser acondicionado em saco plástico branco, identificado com o símbolo de substância infectante, disposto em lixeira com tampas que as fechem hermeticamente, e o seu volume não pode ultrapassar 2/3 da capacidade da lixeira (RIBEIRO FILHO, 2000). Outra importante medida de proteção refere-se à imunização. Os profissionais que assistem a pacientes devem estar imunizados com o objetivo de proteção individual, interrupção da disseminação de doenças infecciosas e proteção indireta de pessoas não vacinadas8. Verificamos a situação vacinal dos profissionais pesquisados, sendo que 17 deles afirmaram estar com o esquema completo da vacina contra hepatite B e 23 estavam com o esquema incompleto tendo recebido apenas a primeira dose; 24 foram imunizados contra tuberculose; 32 iniciaram o esquema de tétano e difteria, destes 26 fizeram a segunda dose e apenas 21 completaram o esquema; 18 receberam a tríplice viral; 7 vacinaram contra febre amarela. 46 A adesão ao esquema vacinal pela equipe de resgate é baixa, considerando que as vacinas estão disponíveis na rede básica para os profissionais de saúde e que algumas delas fazem parte de campanhas, portanto, de fácil aceso. Foi nos relatado que apesar do risco com material biológico, que os profissionais da equipe de resgate estão expostos, não há exigência quanto à comprovação do esquema vacinal no momento da admissão ao serviço e nem orientação quanto à importância da imunização. Além do quem, alguns socorristas referiram não ter conhecimento da necessidade de se fazer o reforço de algumas vacinas. Estes dados denotam a baixa percepção do risco, o desconhecimento de medidas protetoras e a pouca preocupação em adotar medidas sabidamente eficazes e seguras. Apesar da eficácia das precauções padrão, estas têm sido pouco observadas, principalmente, quanto ao uso dos EPI, que até se tornarem integrantes da rotina dos profissionais, mostram-se como incômodos e difícies de serem aceitos7 . Diante disso verificamos quais as dificuldades encontradas pelos profissionais, quanto à utilização de EPI durante a realização de procedimentos (Tabela 2). TABELA 2 – Dificuldades indicadas pelos profissionais do grupo de resgate para a adoção de medidas de segurança. GRPH – Corpo de Bombeiros, Goiânia, 2001. Dificuldades Nº % Sobrecarga de trabalho 32 72,7 Falta de cursos específicos 21 47,7 Falta de material (EPI) 16 36,3 Falta de incentivo 13 29,5 Situações de emergência 13 29,5 Falta de água, sabão e papel toalha 14 31,8 Falta de tempo 09 20,4 Dificuldade de adaptação ao EPI 06 13,6 Falta de hábito 04 9,0 A maioria relatou que a principal dificuldade é a sobrecarga de trabalho. A sobrecarga de trabalho além de deixar o profissional mais estressado exige maior rapidez na execução das tarefas e muitas vezes induz a um fazer repetitivo sem adequado planejamento. Destacamos que 16 profissionais (36,3%) relataram falta de material para própria proteção, o que não foi confirmado pelas observações. Na verdade, não há um planejamento da distribuição destes materiais, pois o profissional responsável em repor os mesmos é membro da equipe e nem sempre verifica o estoque na unidade de resgate. O atendimento em situações de emergências é relatado pela equipe como um fator que favorece a exposição aos riscos biológicos, devido ao caráter emergencial não permitir que o profissional se paramente e, também, pela rapidez com que os procedimentos muitas vezes são realizados. No entanto, ressaltamos que todos os atendimentos prestados pelo GRPH são considerados de emergência, sendo por isso necessário que o profissional se paramente adequadamente antes de chegar ao local da ocorrência, pois desconhece a situação em que se encontra a vítima. Mesmo diante de situações de emergência é necessário que os profissionais adotem as medidas de precauções padrão, inclusive a lavagem das mãos. Assim, indagamos se havia local adequado para a lavagem das mãos, 37 (84,1%) responderam de forma negativa e 5 (11,4%) responderam de forma afirmativa. Os locais referidos como adequados foram: pias e torneiras no hospital e central de operações. E os dois restantes (4,5%) não responderam. Apesar de cinco (11,4%) relatarem um local apropriado para lavagem das mãos, os locais citados são inviáveis já que o profissional não tem condições de lavar as mãos antes e após o atendimento à vítima, uma vez que as UR e USA não possuem pias. FLORÊNCIO, V.B.; RODRIGUES, C.A.; PEREIRA, M.S.; SOUZA, A.C.S. – Adesão às precauções padrão entre os profissionais da equipe de resgate pré-hospitalar do Corpo de Bombeiros de Goias. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 43 – 48, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. A despeito disso, ressaltamos que soluções alternativas podem ser implementadas, como o uso de álcool gel a 70% para a lavagem das mãos em situações nas quais, por qualquer motivo, não tenha acesso fácil e imediato a pia com água e sabão9. Salientamos, no entanto, que os profissionais devem realizar a lavagem simples das mãos com água e 47 sabão ao chegarem nos hospitais ou na central de operações, pois apesar da eficácia do álcool gel, ele não substitui a lavagem das mãos. Questionamos os profissionais a respeito das facilidades encontradas para a adoção de medidas de segurança, as respostas obtidas estão apresentadas na Tabela 3. TABELA 3 – Facilidades encontradas pelos profissionais da equipe de resgate para a adoção de medidas de segurança. GRPH – Corpo de Bombeiros, Goiânia, 2001. Facilidades Segurança na realização das tarefas Disponibilidade de EPI Conhecimento acerca dos riscos de contaminação/acidente de trabalho Incentivo e orientação sobre a necessidade de utilização dos EPI Incentivo dos colegas Disponibilidade de um recipiente adequado para o descarte de perfurocortantes Alguns profissionais assinalaram como facilidades a segurança na realização das tarefas, porém este é um fato traiçoeiro, pois o excesso de confiança na rotina de trabalho leva à banalização dos riscos podendo contribuir para aumentar a exposição dos profissionais aos riscos biológicos, uma vez que os acidentes são imprevisíveis e que na rotina de trabalho, nem sempre tudo acontece da mesma forma. Observamos uma contradição entre as respostas dadas por dois pesquisados sobre o descarte de perfurocortantes. As UR e USA não possuem recipientes de paredes rígidas, adequados para o descarte. Os perfurocortantes são depositados em cubas rim sem reencape para, posteriormente, serem desprezados no lixo hospitalar, onde nem sempre são acondicionados em recipiente de paredes rígidas. Os artigos perfurocortantes devem ser descartados em caixas coletoras imediatamente após o uso (GARNER,1996). O manuseio de perfurocortantes após o uso tem sido responsável pela maioria dos acidentes percutâneos (SOUZA,2001), As injúrias percutâneas ocorrem, principalmente, durante o descarte, desencaixe ou reencapamento de agulhas, ou ainda, quando o paciente se move abruptamente (HAIDUVEN,1995). Mesmo tendo possibilidade de prevenir acidentes através da utilização de medidas de seguridade ocupacional, as exposições ao material biológico ainda podem ocorrer. Nestes casos, é indicado imediatamente lavar a área exposta com água e sabão e procurar o médico do trabalho, que fará o registro de Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT). O profissional que atende o acidentado deve avaliar a gravidade da exposição e tomar as condutas necessárias de acordo com o caso (CALVACANTE & PEREIRA, 2000). Dentre os profissionais da equipe de resgate, 12 já tiveram algum acidente de trabalho com material biológico, e 28 nunca se acidentaram. Dos que se acidentaram, cinco referiram exposição a sangue ou outro fluido corpóreo em pele não íntegra e 4 referiram Nº 39 27 25 21 08 02 % 88,6 61,3 56,8 47,7 18,1 4,5 esta exposição em mucosa. Ressaltamos que acidentes com perfurocortantes tiveram um relato baixo, de apenas um caso, porque somente a USA realiza procedimentos com estes materiais. Imediatamente após o acidente com exposição ao material biológico as condutas tomadas, na maioria, foram à lavagem com água e sabão ou utilização de produtos como solução anti-séptica e a não notificação do acidente. Estes dados evidenciam desconhecimento em relação a estas medidas. Quando questionados a respeito de treinamento específico sobre precauções padrão após a admissão no serviço de resgate, obtivemos 22 respostas negativas e 21 respostas positivas referindo melhorias das suas atividades após o treinamento. Os temas abordados estavam relacionados a cuidados com a vítima e sua segurança sem enfoque às precauções padrão. Provavelmente, devido ao fato de que estes treinamentos, normalmente, eram ministrados por profissionais que não pertencem à área de saúde. O treinamento em serviço, apesar de por si não ser suficiente para a adesão às precauções padrão, quando associadas a outros fatores tem contribuído para aumentar a adesão a estas medidas. Considerando o que foi exposto, temos que os principais fatores intervenientes na adesão às medidas de precaução padrão entre a equipe de resgate préhospitalar do Corpo de Bombeiros são: o desconhecimento dos riscos e das medidas protetoras; o fato de não realizarem procedimentos invasivos nas unidades de resgate, que os levam a descartarem a possibilidade de contaminação e não perceberem o risco a que estão expostos; apesar de se ter treinamento sobre precauções padrão, os responsáveis pela sua execução são profissionais que não estão tecnicamente habilitados acerca desta temática. De acordo com a portaria nº 2616, preferencialmente, o profissional indicado para realizar ações de prevenção a acidentes com material biológico é o enfermeiro (BRASIL, 1998). FLORÊNCIO, V.B.; RODRIGUES, C.A.; PEREIRA, M.S.; SOUZA, A.C.S. – Adesão às precauções padrão entre os profissionais da equipe de resgate pré-hospitalar do Corpo de Bombeiros de Goias. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 43 – 48, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. CONCLUSÃO A partir da análise dos dados coletados acerca da adesão às medidas de precauções padrão, pela equipe de resgate do GRPH do Corpo de Bombeiros de Goiás, constatamos: x A maioria dos profissionais demonstrou pouco conhecimento sobre precauções padrão; x A adesão ao esquema vacinal dos profissionais é baixa; x A medida de segurança adotada pela maioria dos profissionais se restringe ao uso de luvas de procedimentos; x Os acidentes com secreções orgânicas em pele não íntegra foram as formas mais freqüentes de exposição a material biológico; x A maioria dos profissionais não sabe como proceder após exposição a material biológico; x Grande parte dos profissionais não tem percebido os riscos a que estão expostos e o risco de contaminação cruzada; x A maioria dos treinamentos foi realizada por profissionais que não são da área de saúde, o que muito prejudicou na elucidação do tema; x O lixo infectante não é acondicionado e transportado de maneira adequada, proporcionando risco de contaminação aos profissionais e ao ambiente; x Os perfurocortantes não são descartados em recipientes adequados, favorecendo possíveis acidentes com os mesmos; x A lavagem manual dos artigos contaminados é realizada em local inapropriado e sem a utilização correta dos EPI. Aos profissionais do GRPH do Corpo de Bombeiros do Estado de Goiás desempenham um trabalho fundamental para a comunidade. Entretanto, expõe-se a riscos biológicos pela não adoção de medidas preventivas. A não adoção dessas medidas está relacionada ao pouco conhecimento. Acreditamos que a implementação de um treinamento que aproveite as experiências prévias destes profissionais direcionados para as necessidades de seguridade ocupacional garantiria maior segurança para aqueles que oferecem segurança nas situações emergenciais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2616, 12 de maio de 1998. Regulamenta o programa de Controle de Infecção Hospitalar no País. Diário Oficial da União, Brasília, p. 133, 13 de maio de 1998. Seção 1. BRASIL. Mistério da Saúde. Portaria nº 824 GM de 24 de junho de 1999. Estabelece normas relativas ao atendimento pré-hospitalar. Disponível em www.uvp5.univ-paris5.fr/SAMU/documPO/doc2.asp [ capturado em 07 de março de 2001]. 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Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. 49 GESTAÇÃO DE ALTO RISCO E BAIXO PESO AO NASCER EM GOIÂNIA GESTATION OF HIGH RISK AND LOW WEIGHT AT BIRTH IN GOIÂNIA GESTACIÓN DE ALTO RIESGO Y BAJO PESO AL NACER EN GOIÂNIA Cleusa Alves Martins 1 Leilinéia Pereira Ramos de Rezende 2 Dayane Cristina Silva Vinhas 3 RESUMO: Realizou-se estudo a cerca da Doença Hipertensiva Específica da Gestação (DHEG) e RecémNascidos de Baixo Peso (RNBP), com os objetivos de verificar a incidência de RNBP em mães com DHEG e apresentar alguns dados epidemiológicos. Os dados foram coletados através de um roteiro. Pesquisamos 239 prontuários de gestantes com DHEG e seus respectivos recém-nascidos, no período de janeiro-1998 a dezembro2002, em um hospital público de Goiânia. Constatamos que 69,70% das mães tiveram filhos com peso menor que 2500 g, levando-nos a concluir que a DHEG influencia na incidência de RNBP, visto que em menos de 50% dos casos, houve o nascimento pré-termos. A maioria das mães era primigestas. Mais de 50% destas fizeram prénatal, porém, apenas 39,70% realizaram mais de seis consultas. Em 82,85% dos casos, a via de parto foi cesariana. Palavras chaves: Pré-eclâmpsia; Eclampsia; Recém-nascido de Baixo Peso. SUMMARY: It happened a study of the Specific Hypertensive of Gestation Disease (SHGD) and Low Weight of New Born (LWNB) with the objectives to verify the incidence of LWNB in mothers with SHGD and to present some epidemic data. The data was collected through a trial. From January-1998 through December-2002 in a public hospital of Goiânia, we researched 239 files of pregnant women with DHEG and their respective new born. We verified that 69,70% of the mothers had children with smaller weight than 2500g, leading us to conclude that DHEG influences in the incidence of RNBP, because in less than 50% of the cases, there was a birth of pre-term. Most of the mothers were pregnant for the first time. More than 50% of them made prenatal, however, only 39,70% accomplished more than six consultations. In 82,85% of the cases, the childbirth was via cesarean operation. Keywords: Pre-eclampsia; Eclampsia; Infant Low birth Weight. RESUMEN: Se realizó un estudio acerca de la Enfermedad Hipertensiva Específica de la Gestación (DEG) y recién nacidos de bajo peso (RNBP), con los objetivos de verificar la incidencia de RNBP en madres con DEG y presentar algunos datos epidemiológicos. Los datos fueron colectados a través de un guión. Investigamos 239 historias clínicas de embarazadas con DEG y sus respectivos recién nacidos, en el período de Enero- 1998 a Diciembre- 2002, en un hospital público de Goiania. Constatamos que 69,70% de las madres tuvieron hijos con peso menor que 2500g, llevándonos a concluir que la DEG influencia en la incidencia de RNBP, visto que en menos de 50% de los casos hubo el nacimiento pre-términos. La mayoría de las madres tenían la primera gestación (primigestas). Más de 50% de éstas hicieron prenatal, pero sólo 39,70% realizaron más de seis consultas. En 82,85% de los casos, la vía del parto fue cesárea. Términos claves: Preeclampsia; Eclampsia; Recién Nacido de Bajo Peso. INTRODUÇÃO Toxemia gravídica, termo utilizado há muitas décadas, inapropriadamente, para definir esta doença, pois se pensava que havia interferência de agentes tóxicos na circulação sangüínea causando os distúrbios hipertensivos, consagrando-se assim, universalmente pelo seu uso corrente na literatura. Em nosso estudo, utilizaremos o termo Doença Hipertensiva Específica da Gestação (DHEG), por melhor expressar as características desta entidade. Sabemos que, na gestação mesmo havendo alterações anatômicas, endócrinas, hemodinâmicas e imunológicas importantes, o organismo feminino se 1* mantém em equilíbrio dinâmico por mecanismos compensatórios. Contudo, o limite entre a normalidade e a doença é extremamente tênue e o desequilíbrio representa risco elevado de morbimortalidade materno-fetal. A Doença Hipertensiva Específica da Gestação, de acordo com Ministério da Saúde, BRASIL (2000), CINTRA (2001) E VIGGIANO (1989), trata-se de uma patologia obstétrica que surge após a vigésima semana de gestação. Segundo REZENDE (1995), surge após a vigésima quarta semana gestacional, sendo mais freqüente no terceiro trimestre e se estende até o puerpério. Caracteriza-se por apresentar hipertensão arterial, edema e/ou proteinúria, podendo Orientadora, Doutora e Professora adjunta da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás– FEN/UFG. Acadêmica do 5° ano de enfermagem da Universidade Federal de Goiás e bolsista do Programa Especial de Treinamento PET. E-Mail: [email protected]. 3* Acadêmica do 5° ano de enfermagem da Universidade Federal de Goiás. 2 MARTINS, C.A.; REZENDE, L.P.R.; VINHAS, D.C.S. – Gestação de alto risco e baixo peso ao nascer em Goiânia. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 49 – 55, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. culminar com convulsões e coma. Para o Ministério da Saúde, BRASIL (2000), a Pré-Eclampsia pode ocorrer anteriormente a vigésima semana de gravidez, na moléstia trofoblástica gestacional, sendo, predominantemente, uma patologia de primigesta. CINTRA (2001), afirma que lesões hiperplásticas e obstrutivas das arteríolas teciduais ocorrem uniformemente em pacientes portadoras de hipertensão. E estariam relacionados ao menor afluxo sangüíneo, dependente do espasmo arteriolar generalizado, donde decorre o estado hipoxêmico. Essas alterações anátomo-funcionais levam ao quadro de insuficiência placentária com conseqüente repercussão nas duas funções trofoblásticas: respiratória e nutritiva. Quando o processo se instala precocemente, a nutrição fetal fica comprometida afetando, severamente, o produto da gestação que nasce com baixo peso para idade gestacional, ou seja, com peso inferior a dois desvios padrão da média, concordando com o Ministério da Saúde, BRASIL M.S (2000), o qual afirma que o peso inferior a 2500 g pode ser em conseqüência do nascimento prematuro e da qualidade do crescimento fetal intra-uterino. Nessa linha de pensamento, o tema traz a inquietação de aluna e bolsista de iniciação científica, desenvolvendo atividades práticas na área obstétrica em relação às observações empíricas de grande incidência de recém-natos com baixo peso ao nascer, em mães que apresentavam diagnóstico de Doença Hipertensiva Específica da Gestação (DHEG), e ainda, as conseqüências drásticas que a patologia pode representar na gestação, em dados como: idade gestacional ao nascer, paridade, pré-natal e via de parto. OBJETIVOS x Verificar a incidência de Recém-Nascidos de Baixo Peso em mães com Doença Hipertensiva Específica da Gestação, em Goiânia. x Apresentar dados epidemiológicos: idade gestacional do recém-nascido, peso fetal ao nascer, gestações anteriores, número de consultas pré-natais e tipo de parto mais comum nestes casos. METODOLOGIA Trata-se de um estudo descritivo, que se utilizou subsídios quantitativos realizada em um hospital público, em Goiânia-Goiás. A população foi constituída de 239 prontuários de pacientes portadoras de DHEG e seus respectivos recém nascidos, no período de janeiro de 1998 a dezembro de 2002, e acatou-se normas da Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde. Os dados foram obtidos por meio de um roteiro, atinando-se para questões referentes ao parto, 50 ao recém-nascido e gestações que apresentaram essa patologia. A DOENÇA GESTAÇÃO HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA O quadro clínico da Doença Hipertensiva Específica da Gestação conforme afirma REZENDE (1995), pode apresentar evolução distinta: PréEclampsia quando aparece apenas hipertensão, edema e/ou proteinúria. Mas, se ocorre associação de convulsão, essa tríade é dita Eclampsia. No quadro clínico, um ou mais dos sintomas estão presentes: x Pressão arterial: aumento da pressão arterial diastólica a 90 mmHg ou mais, ou aumento da pressão arterial diastólica acima de 140 mmHg do valor conhecido previamente, confirmado após duas medidas com intervalo de no mínimo 4 horas, com a gestante sentada, em repouso. x Proteinúria: presença de 300 mg ou mais de proteínas em urina de 24 horas ou Labistix 1(+)/4(+) ou mais em amostra casual. x Edema: quando existente, pode ser localizado ou generalizado. Além destes sintomas, também podem ocorrer oligúria: diurese inferior a 400 ml por dia; cefaléia; dor epigástrica; cianose ou edema pulmonar confirmado; dor no hipocôndrio direito (rotura da cápsula de Glinson); trombocitopenia grave: plaquetas abaixo de 100.000 /mm3; anemia hemolítica microangiopática: hemólise; icterícia e/ou elevação das enzimas hepáticas; e crescimento intra-uterino retardado (CIUR ou RCIU). Eclampsia é o aparecimento de convulsão em uma paciente com pré-eclampsia. Pode ocorrer na gravidez, parto ou até 10 dias de puerpério. A eminência de Eclampsia é caracterizada clinicamente por sinais de encefalopatia hipertensiva, dor no epigástrio e hipocôndrio direito. Devem ser excluídas a epilepsia e outras doenças convulsivantes. CINTRA (2001), afirma que a hipertensão induzida ou agravada pela gravidez desenvolve-se com maior freqüência em mulheres expostas ao vilo corial pela primeira vez; expostas à superabundância de vilo corial (mola hidatiforme, gestações múltiplas); que tenham doenças vasculares preexistentes; e que sejam geneticamente predispostas ao desenvolvimento da hipertensão durante a gravidez. Para esta autora, a hipertensão arterial consta como uma das principais causas de obituário materno, tanto em países desenvolvidos como em países em desenvolvimento. Deve-se salientar ainda, que a elevada morbidade da doença, pode provocar lesões neurológicas, renais, pulmonares, cardíacas e hepáticas, assim como afetar a morbiletalidade perinatal, óbito fetal intra-útero, prematuridade e baixo peso ao nascimento. A insuficiência vascular útero- MARTINS, C.A.; REZENDE, L.P.R.; VINHAS, D.C.S. – Gestação de alto risco e baixo peso ao nascer em Goiânia. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 49 – 55, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. placentéria é responsável por aumentar as taxas de retardo no crescimento intra-uterino com baixo peso ao nascer e também óbito fetal. O descolamento prematuro da placenta, em aproximadamente 50% dos casos é decorrente da DHEG e outras complicações associadas à prematuridade, contribuindo para a mortalidade neonatal. Na gestação a vascularização uterina, segundo CINTRA (2001), sofre grandes alterações para fornecer suprimento sangüíneo adequado ao útero em crescimento e ao produto gestacional, as artérias espiraladas se dilatam, atingindo até trinta vezes seu diâmetro pré-gestacional. Entre a décima e a décima sexta semana de gestação ocorre a primeira onda de invasão trofoblástica, com ocupação da camada muscular e do endométrio da porção decidual das artérias espiraladas. A segunda onda de invasão entre décima sexta e a vigésima segunda semana se estende às porções miometriais das artérias espiraladas. Estes vasos tornam-se dilatados, incapazes de sofrer contração e apresentam tecido trofoblástico em contato direto com o sangue materno. Para CINTRA (2001), gestantes com distúrbios hipertensivos na gravidez, não apresentam a segunda onda de invasão trofoblástica no parênquima uterino. O tecido trofoblástico fica superficial e não avança além da porção decidual das artérias espiraladas. O diâmetro externo final destes vasos no miométrio é menor que a metade dos vasos similares em gestantes normais. Não ocorrendo a invasão trofoblástica dos vasos uterinos, que estão uniformemente contraídos, haverá hipoperfusão do trofoblasto. Acredita-se que ocorra a produção de um agente, pelo tecido trofoblástico em sofrimento, que seja citotóxico e juntamente com outros mecanismos, cause dano ao endotélio. A cliente com distúrbio hipertensivo na gravidez, segundo CINTRA (2001) e REZENDE (1995), não apresenta aumento do volume plasmático sendo que este é pequeno ou inexistente. Há elevação do hematócrito. O débito cardíaco poderá estar normal, aumentado ou diminuído, dependendo da gravidade, duração da doença e terapêutica utilizada. A pressão arterial é elevada, assim como a resistência vascular periférica, com diminuição de perfusão em vários órgãos. Há um estado hemodinâmico de baixo volume, alta pressão e alta resistência. Mesmo em casos de doenças sistêmicas com comprometimento vascular, como vasculites ou aterosclerose materna, mola hidatiforme, diabetes e lúpus eritematoso sistêmico, o resultado final é a nãoocorrência da segunda onda de invasão trofoblástica, com o mesmo comprometimento de hipoperfusão dos tecidos trofoblásticos. A razão do fenômeno da nãoinvasão trofoblástica, segundo esses autores, é desconhecida, mas acredita-se na existência de 51 mecanismos bioquímicos, imunológicos e genéticos envolvidos neste processo, que não foram comprovadamente definidos. Uma das graves complicações de distúrbios hipertensivos na gravidez é a síndrome HELLP, caracterizada por hemólise, elevação de enzimas hepáticas e plaquetopenia. O fígado gorduroso da gravidez, também é considerado complicação,e se trata de uma patologia grave, de etiologia indeterminada. Pacientes com estas patologias devem ter acompanhamento rigoroso, com internação e cuidados em terapia intensiva, afirma CINTRA (2001). Geralmente, entre outros, os distúrbios hipertensivos na gravidez são graves, e acarretam um aumento na incidência de parto cesárea, potencializando as complicações. A doença apresenta um elevado índice de morbiletalidade materna e perinatal, que exige uma intervenção rápida e segura para o concepto. Pacientes com gravidez em curso, segundo CINTRA (2001), devem ficar em decúbito dorsal, com a cabeceira do leito em semi-Fowler. Em casos graves, repouso em decúbito lateral esquerdo, o maior tempo possível, ou decúbito elevado a 45º, se a paciente estiver consciente e orientada. A gestante acima de vinte semanas pode ter 20% a 30% de redução do débito cardíaco em posição supina, por este motivo é necessário observar o posicionamento. Deve ser feito o controle rigoroso da freqüência respiratória em pacientes sem assistência ventilatória, e a oxigenação com ventilação mecânica e sedação, bem como podem ser necessários monitorização cardíaca e controle de níveis pressóricos (inclusive com métodos invasivos, em casos mais graves). Outros procedimentos que podem ser necessários: Controle diário de proteinúria, por urina tipo I ou reação colorimétrica urinária com fitas especiais, sondagem vesical de demora com controle rigoroso de diurese e balanço hídrico, avaliação constante da função renal, eletrólitos, hematimetria, pesquisa de dimorfismo eritrocitário, plaquetas, coagulograma completo, TGO/TGP, LDH, bilirrubinas, glicemia, gasometria arterial no mínimo uma vez ao dia, com correção dos distúrbios, com acidemia, insuficiência renal, alterações de coagulação, hemorragias. A monitorização fetal deve ser realizada após a estabilização da paciente. A enfermagem deve manter-se atenta aos sintomas: dor epigástrica ou em hipocôndrio direito, náuseas e/ou vômitos e, na prevenção de crises convulsivas dentre outros procedimentos da conduta clínica na eclampsia e está indicado, sob prescrição médica, o sulfato de magnésio (SO4Mg), e no caso de recorrências subentrantes, opta-se pela fenil-hidantoína. Entretanto, na pré-eclampsia, convém lembrar a relação risco/benefício do uso de medicamentos com potenciais efeitos teratogênicos ou outros efeitos MARTINS, C.A.; REZENDE, L.P.R.; VINHAS, D.C.S. – Gestação de alto risco e baixo peso ao nascer em Goiânia. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 49 – 55, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. colaterais, a administração deve ser feita com rigoroso critério, recomenda-se o Ministério da Saúde (BRASIL; 2000). Já, na pré-eclâmpsia leve, a conduta consiste em tratamento ambulatorial, repouso, dieta normossódica e controle do ganho de peso excessivo. A via de parto depende da indicação obstétrica (não ultrapassando 40 semanas de gestação), Portanto, um importante meio profilático para se reduzir a incidência de Doença Hipertensiva Específica da Gestação é a assistência adequada ao pré-natal, realizada por enfermeiro, com consultas periódicas e intervalos habituais – no mínimo seis, sendo duas consultas médicas, (no entanto, em presença de qualquer sinal ou sintoma de alteração de risco, a gestante deve ser encaminhada ao médico). RECÉM-NASCIDOS DE BAIXO PESO Segundo dados do Ministério da Saúde (BRASIL; 2000a), a freqüência dos recém- nascidos de baixo peso é estimada entre 10 e 15%, de todas as gestações. No entanto para a problemática do retardo de crescimento fetal ou redução do crescimento intrauterino e das complicações associadas ao nascimento, respectivamente, não existe, ainda, tratamento específico. O estabelecimento da conduta fica na dependência da idade gestacional, das condições de vitalidade fetal, da evolução clínica e do fator causal. Propõem-se medidas como repouso materno e a correção dos fatores causais identificados. São considerados recém nascidos de baixo peso quando o peso do recém-nato for menor que 2500g. A qualidade do crescimento fetal depende da interação do organismo do feto com o de sua mãe, e o suprimento por fatores maternos e placentários (BRASIL, 2000a). RAMOS (1986), avalia clinicamente o crescimento fetal, determinando-se a altura do fundo do útero através do exame bimanual do abdome gravídico. Além disso, as medidas de ultra-sonografia do diâmetro biparietal, do comprimento do fêmur e do perímetro abdominal fetais, são também empregadas para se estimar o crescimento fetal. A combinação dessas medições prediz com exatidão o peso fetal. Os desvios da curva de crescimento serão relacionados a condições de alto risco. O desenlace do feto ou recém-nascido com retardo do crescimento dependem da redução do crescimento intra-uterino e das complicações 52 associadas ao nascimento. Para RAMOS (1986), dentre outros, os fatores influentes no retardo de crescimento fetal são as Causas fetais (rubéola congênita, síndromes de nanismo primordial, anormalidades cromossômicas, síndromes de má formação congênita, produção fetal reduzida de insulina e de fator de crescimento semelhante à insulina I FCI-I); Causas placentárias (tumores placentários, descolamento prematuro crônico da placenta, transfusões intergemelares, insuficiência placentária, dentre outras); e causas maternas (doenças vasculares periféricas que reduzem o afluxo sanguíneo útero-placentário, hipertensão arterial crônica, vasculopatia diabética, entre outros). A pré-eclampsia e eclampsia constituem risco para o nascimento de recém-nascidos de baixo peso. Vale dizer, que ainda não há provas de que a redução do fluxo sanguíneo útero-placentário seja a causa de retardo de crescimento no feto humano, embora se saiba, várias causas que reduzem esse fluxo estão associadas a recém nascidos pequenos para idade gestacional. Um importante dado sobre a relação pressão arterial materna/peso fetal foi desenvolvido por NAYE e cols (1973), demonstraram que pressão diastólica máxima obtida durante a gravidez, aumenta quando aumentam o peso pré-gravídico e o ganho líquido de peso na gravidez, ou seja, o peso total ganho pela mãe menos o do feto e o da placenta. Os dados sugerem que muitas modificações do crescimento fetal atribuídos à nutrição oferecida pela mãe sejam, na realidade, mediados pela pressão arterial e pela perfusão uterino-placentária. Na compreensão de que a gravidez não é doença, mas ocasionalmente poderão ocorrer intercorrências que afetam drasticamente a mãe e ao concepto, o estudo busca avançar na realidade epidemiológica local considerando a relevância aos fatores mencionados e outros a serem identificados como de risco, para implementação de ações normalizadas de controle pré-natal, que configure um padrão de qualidade, aplicado à população de mulheres no período grávido-puerperal. RESULTADOS Os resultados foram coletados e em seguida apresentados em números absolutos conforme demonstrado nas tabelas a seguir: Tabela 1 - Distribuição segundo a condição de nascimento dos RN Recém-nascidos N. Vivos 198 Mortos 26 Sem informação 15 Total 239 % 82,84 10,87 6,29 100 MARTINS, C.A.; REZENDE, L.P.R.; VINHAS, D.C.S. – Gestação de alto risco e baixo peso ao nascer em Goiânia. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 49 – 55, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. Conforme a tabela acima, percebemos que a grande maioria (82,84%) dos neonatos nasceu com vida, sendo que os mortos (incluindo natimortos), dentro da população estudada, foram 10,87%. Tabela 2 - Distribuição de peso dos recém-nascidos vivos N. Peso Menor que 2500 g 138 Maior ou igual a 2500 g 60 Total 198 A tabela 2 mostra que no hospital pesquisado, 138 crianças nasceram com peso menor que 2500g. Isso corresponde a 69,70% do total de recém-nascidos % 69,70 30,30 100 vivos, corroborando com REZENDE (1995), que afirma que o baixo peso ao nascer pode decorrer da DHEG. Tabela 3 - Distribuição segundo as idades gestacionais (IG) IG N. Antes de 37 semanas 73 De 37 a 41 semanas 148 Acima de 42 semanas 16 Sem Informação 2 Total 239 A tabela 3 mostra que dos 239 casos de DHEG, 61,92% das crianças nasceram a termo. E, observando a tabela 2, os dados revelam que o baixo peso ao nascer não estava atrelado a idade gestacional, pois 69.70% dos fetos que nasceram com peso baixo para a idade gestacional o parto ocorreu entre 37 e 42 semanas). Isso leva-nos a afirmar que a idade gestacional não influenciou no resultado, uma vez que os resultados constatados na tabela 2 apresentam 31% do total de recém-nascidos. Contudo, no estudo, verificou-se alta incidência 53 % 30,54 61,92 6,69 0,85 100 de recém-nascidos que apresentaram baixo peso para a idade gestacional, justificando a relação doença hipertensiva específica da gestação como um dos fatores preponderantes do baixo peso fetal ao nascer. Pois, de acordo com REZENDE e MONTENEGRO (1995), e NEME(1995), as alterações morfológicas funcionais no organismo da gestante portadora de perturbações circulatórias atingem, dentre outros órgãos, a circulação útero-placentária em cerca de 40 a 60% dos casos, com incidência de grandes enfartes placentários. Tabela 4 - Distribuição segundo a paridade Paridade Primigestas Secundíparas Multíparas Sem Informação Total N. 135 44 52 8 239 A tabela 4 mostra que em 56,48% dos casos, as mães eram primigestas, concordando com CINTRA (2001), que afirma que a DHEG é predominantemente % 56,48 18,41 21,76 3,35 100 uma patologia de primigestas, pois menos da metade soma-se as puérperas secundíparas e multíparas. Tabela 5 - Distribuição segundo a assistência pré-natal Pré - natal Sim Não Sem Informação Total N. 136 71 32 239 % 56,90 29,70 13,40 100 Conforme a tabela acima, mais de 50% das mães fez pré-natal, embora 13,40% dos prontuários MARTINS, C.A.; REZENDE, L.P.R.; VINHAS, D.C.S. – Gestação de alto risco e baixo peso ao nascer em Goiânia. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 49 – 55, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. não havia informação acerca da assistência pré-natal, observa-se, contudo, um número bastante significativo de gestantes que não realizaram pré-natal, ou seja, em 54 torno de 30% das mulheres grávidas, constituindo assim, um dos fatores determinantes no controle e prevenção da DHEG. Tabela 6 - Distribuição segundo o número de consultas pré-natal Número de consultas N. % Mais que seis Menos que seis Total 54 82 136 39,70 60,30 100 Observa-se, na tabela 6 que apenas 39,70% das mães, realizaram pré-natal efetivamente, ou seja, com mais de seis consultas. Entretanto, é importante estar alerta para os dados da tabela 5 onde apenas (56,90%) das mães fizeram pré-natal, independente do número de consultas. Segundo MARTINS (2001), estes dados freqüentemente além de outras causas contribuem para o agravamento do problema, uma vez que os indicadores de mortalidade registram claramente a importância de medidas de assistência às gestantes e recém-nascidos. Tabela 7 - Distribuição segundo a via de parto Via de parto Operatório Normal Sem Informação Total N. 198 30 11 239 Observa-se na tabela acima, que a via de parto predominante foi a cesariana, concordando com GRASSIOTO (1984). Entretanto vale a pena lembrar que no Estado de Goiás, segundo MARTINS (2001) dentre as causas obstétricas diretas que lideram os altos índices de morte materna, destacam–se a infecção e a toxemia, coeficientes que encontram-se associados à má qualidade da assistência pré-natal. CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise dos resultados evidenciou que o número de crianças que nasceu com baixo peso para idade gestacional foi dominante. O número de prétermos foi de 30,54%, reforçando que a doença hipertensiva específica da gestação realmente influencia na incidência de recém-nascidos de baixo peso, uma vez que, a idade gestacional não influenciou no resultado, visto que 61,92% dos conceptos nasceram a termo, ou seja, com idade gestacional adequada (entre 37 e 41 semanas) e em 6,69% dos casos, o parto ocorreu com 42 semanas. A maior parte dos prontuários, ou seja, 60,30% registra que as mães eram primigestas e não realizaram o pré-natal adequadamente pois apenas 39,70% das clientes fizeram mais de seis consultas. Os achados, também mostram que a via de parto predominante foi a cesariana, evitando assim o risco de morte para a mãe e o neonato, pois o % 82,85 12,55 4,60 100 agravamento da patologia para eclampsia grave, (por exemplo a ocorrência da Síndrome Hellp), embora pouco comum, tem grandes chances de ocorrer. Assim, o mais importante é intervir com medidas gerais das quais se inclui o parto cirúrgico. Com base em tudo isso, vemos que as questões da DHEG devem estar atreladas à humanização da assistência à mulher no período gravídico-puerperal, prática que fortalece as condutas com enfoque na prevenção, sintonizadas em novos pressupostos que encarem a saúde no contexto político-econômico, cultural e histórico, no qual a gravidez não é um processo de doença e as intervenções dos profissionais devem adotar condutas que tragam bem estar e garantam a segurança para a mulher e para o seu filho, restringindo abordagens tradicionais desnecessárias e muitas vezes potencialmente iatrogênicas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Gestação de alto risco. Manual técnico. 3. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2000. _______. Urgências e emergências maternas. Manual técnico. 2 ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2000a. CINTRA, E. A; NISHIDE, V.W; NUNES, W.A. A assistência de enfermagem ao paciente gravemente enfermo. São Paulo: Atheneu, 2001. MARTINS, C.A.; REZENDE, L.P.R.; VINHAS, D.C.S. – Gestação de alto risco e baixo peso ao nascer em Goiânia. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 49 – 55, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista. GRASSIOTO, O.R. et all. A influencia da hipertensão arterial durante a gravidez sobre o peso do recémnascido Jornal Brasileiro de Ginecologia n. 94, 1984. MARTINS, C. A. O Programa de assistência Integral à saúde (PAISM) em Goiânia: a (des) institucionalização da consulta de enfermagem no pré-natal. 2001, 200p. Tese (doutorado) – escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro. NAYE, R.L.; BLANC, W. E PAUL, C. Effects of material nutrition on the human fetus. Pediatrics 52: 494 1973. RAMOS, J.L.A. e LEONE, C.R. O recém-nascido de baixo peso. Monografias médicas, série “pediatria”, vol. XXVII. São Paulo: Sarvier, 1986. REZENDE, J. e MONTENEGRO, C.A.B. Obstetrícia fundamental. 7. ed. 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Serão aceitos artigos originais e inéditos, destinados II- INSTRUÇÕES PARA O PREPARO E ENVIO DOS exclusivamente à Revista Eletrônica de Enfermagem, TRABALHOS que contribuam para o crescimento e desenvolvimento da produção científica da Enfermagem, Saúde e áreas INFORMES GERAIS correlatas. A Revista Eletrônica de Enfermagem publica além de Os artigos encaminhados são submetidos à avaliação artigos originais, trabalhos de revisão, atualização, de até três consultores ad-hoc, especialistas na área estudos de caso e/ou relatos de experiência e pertinente a temática do artigo, e aprovados pelo resenhas de livros, resumos de teses e dissertações. Conselho Editorial. Artigos originais: são considerados os trabalhos de Os trabalhos poderão ser enviados por via eletrônica pesquisa original e inédita, que contribuam para o (e-mail ou disquete). Concomitantemente, os autores desenvolvimento do conhecimento na área. Devem ser deverão enviar por via postal, um ofício solicitando a organizados contendo, necessariamente: introdução, apreciação do manuscrito pela revista, autorização objetivos, métodos, resultados e discussão. Até 20 para sua publicação assinada por todos os autores e laudas. indicação da categoria do artigo segundo as definições explicitadas nas normas, com indicação de endereço Revisão: são pesquisas sistematizadas a partir da completo, telefone para contato com o(s) autor(es). literatura, com análise crítica e reflexiva dessa Especial atenção ao e-mail atualizado para contatos produção, devendo conter claramente explicitados no entre o Comitê Editorial e os autores dos textos corpo do trabalho: a delimitação do tema, objetivos, originais. procedimentos adotados e conclusão. Até 15 laudas. Serão aceitos trabalhos escritos em português, inglês Atualização: ou espanhol. interpretam assuntos da atualidade, que sejam de são trabalhos que descrevem ou interesse para a área. Até 10 laudas. Não serão admitidos acréscimos ou alterações após o envio para composição editorial e fechamento do Estudos de caso e/ou relatos de experiência: são número. trabalhos que apresentem experiências relevantes no campo da assistência ou ensino, que podem servir As opiniões e conceitos emitidos pelos autores são de como indicadores de melhoria da abordagem de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo, pessoas, com vistas a potencializar as ações de necessariamente, a opinião do Conselho Editorial da enfermagem e saúde. Até 10 laudas. Revista. 56 Revista Eletrônica de Enfermagem. vol. 5, nº1, p. 56 – 58. 2003. Disponível em http://www.fen.ufg.br Resenhas de livro: constitui-se de uma análise crítica referências bibliográficas, de modo a garantir uma de obra recentemente publicada. Até 3 laudas. uniformidade e padronização dos textos apresentados pela revista. Os anexos (quando Resumos de Teses e Dissertações: podem ser houverem) devem ser apresentados ao final do texto. apresentados resumos com até 400 palavras, em português, inglês e espanhol, no espaçamento simples Ilustrações: tabelas, figuras e fotos devem estar entre as linhas trazendo a referência bibliográfica da inseridas no corpo do texto contendo informações tese ou dissertação de acordo com a NB 66/1989 mínimas pertinentes àquela ilustração (Por ex. Tabela (NBR 6023) da ABNT e nome do orientador. 1; Figura 2; etc). FORMA DE APRESENTAÇÃO DOS ORIGINAIS Citações: as citações ipsis literis de referências bibliográficas deverão aparecer entre aspas, incluídas Os trabalhos deverão ser apresentados em formato no texto e indicando o número da página. Neste caso compatível ao MS Word for Windows, digitados para não são necessário recuos nos parágrafos. Os papel tamanho A4, com letra Arial, tamanho 10, com depoimentos dos sujeitos da pesquisa, se for o caso, espaçamento entre linhas igual a 1,5 em todo o texto, devem vir em itálico, com o mesmo tipo de letra do margem superior igual a 2,5cm e inferior, esquerda e texto, isto é Arial 10 e na seqüência do texto, sem direita igual a 1,5 cm. recuos de parágrafos. No corpo do texto, devem ser especificadas as fontes segundo AUTOR, DATA. Título: deve ser apresentado justificado, em caixa alta, negrito e nas versões da língua portuguesa, inglesa e Para dois autores, AUTOR 1 & AUTOR 2, DATA e, para três autores e mais AUTOR 1 et al, DATA. espanhola. Errata: Autores: nome(s) completo(s) do(s) autor(es) alinhados à esquerda, com a especificação em rodapé numerado os pedidos de correção deverão ser encaminhados em, no máximo, 30 dias após a publicação. de: categoria profissional, titulação, local de trabalho ou estudo, e-mail atualizado e endereço para correspondência do autor. Referências bibliográficas: devem ser digitadas de acordo com a ABNT, NBR 6023 e ordenadas em ordem alfabética. Este item deverá conter apenas os Resumo e descritores: devem ser apresentados na autores citados no corpo do texto. primeira página do trabalho em português, inglês e espanhol, digitados em espaço simples, com até 300 palavras, contendo obrigatoriamente objetivos, métodos, resultados e Exemplos de referências introdução, discussão e Artigos em periódicos: conclusões. Ao final do resumo devem ser apontados de 3 a 5 descritores ou palavras chaves que servirão MARTINS, M. M.; BOEMER, M. R. Produção para indexação dos trabalhos. Para tanto os autores científica sobre o tema da morte e do morrer: estudo devem utilizar os descritores da Biblioteca Virtual em de um periódico. Revista Gaúcha de Enfermagem. v. Saúde (www.bireme.br). 22, n. 2, p. 141-156, jul, 2001. Estrutura do Texto: a estrutura do texto deverá Obs: até três autores, deve-se colocar todos. Mais de obedecer as orientações de cada categoria de três, deve-se indicar o primeiro nome e a expressão trabalho já descrita anteriormente, acrescida das et al. 57 Revista Eletrônica de Enfermagem. vol. 5, nº1, p. 56 – 58. 2003. Disponível em http://www.fen.ufg.br Leis/portarias/resoluções Livros: BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de ALBARRACÍN, D. G. E. Saúde e doença na Enfermagem: entre o senso comum e o bom senso. Saúde. Resolução 196 de 10 de outubro de 1996. Diretrizes e normas regulamentadoras da pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília, 1996. Goiânia: Editora AB, 2002. Obras em CD-ROM Capítulos de livros: TAVARES, C. M. M.; TEIXEIRA, E. R. Trabalhando com representações sociais na Enfermagem. In GAUTHIER, J. H. M.; CABRAL, I. E.; SANTOS, I. TAVARES, C. M. M. Pesquisa em Enfermagem: novas metodologias aplicadas. Rio de Janeiro: PEDUZZI, M. Laços, compromissos e contradições existentes nas relações de trabalho da Enfermagem.In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM, 53., Curitiba, 2001. Anais. Curitiba, 2001. CD-ROM Guanabara Koogan, 1998. Internet Tese/Dissertação/Monografia: SOUZA, A. C. S. Risco biológico e biossegurança no cotidiano de enfermeiros e auxiliares de enfermagem. 2001. 183p. Tese (Doutorado) Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São CASTRO, A. M. Desenvolvimento e subdesenvolvimento [online]. Disponível: http://www.josuedecastro.com.br/port/desenv.html [capturado em 20 fevereiro 2001]. Observação: Todo texto extraído da internet possui um autor ainda que institucional. Paulo, Ribeirão Preto. Periódicos disponíveis por meio eletrônico Jornais SOUZA, H.; PEREIRA, J. L. P. O orçamento da criança. Folha de São Paulo, 02 de maio de 1995. Opinião, 1º Caderno. São Paulo, 1995. SOUZA, H.; RODRIGUES, C. A alma da fome é política. Jornal do Brasil [online], São Paulo, 12 set. 1993. Disponível: http://www.geocities.com/athens/thebes/7046/fome.ht m [capturado em 11 jul. 2001].