Metrologia no Brasil do século XIX: da implementação do sistema métrico francês a estruturação científico-filosófica no século XX PATRICIA MOURA Doutoranda em História das Ciências e Educação Científica Universidade de Coimbra - PT No início do século XIX os padrões de medição em uso no Brasil foram herdados dos padrões eleitos e utilizados na Metrópole, Portugal, desde a emissão das Ordenações Manuelinas, no início do século XVI. Nesse documento o rei de Portugal, Dom Manuel, estabelece os processos de fundição, distribuição e utilização de padrões de massa e volume. Os padrões eleitos eram produzidos em fundições na Inglaterra e importados para a corte, de onde eram distribuídos para as principais cidades de Portugal, a exemplo de Lisboa e Porto. O uso de tais mecanismos de controle da troca e aquisição de bens de consumo seguia diferentes tradições em outras vilas, sendo as metrópoles as principais responsáveis pela economia interna do reino – e por esse motivo fora estabelecido o cargo de supervisor, mesmo fiscal de uso de tais padrões em estabelecimentos comerciais formais, sendo eles as antigas quitandas ou mesmo as feiras de rua. A tentativa de unificação dos pesos e medidas em Portugal datava do século XV: “Todas as medidas, varas e côvados do reino obedecem a Lisboa, mantidos pelo Almotacé-mor1”. (DIAS, 1998). 1 Funcionário de confiança dos concelhos na Idade Média (equivalente a um oficial municipal) responsável pela fiscalização de pesos e medidas e da taxação dos preços dos alimentos; sendo encarregado também da regulação da distribuição dos mesmos em tempos de maior escassez. Ocupava o cargo da Almotaçaria mensalmente e estava dependente dos governadores do concelho (vereadores, juízes e procuradores).No Brasil, no período colonial, os almotacés exerciam duplamente as funções administrativas e judiciárias, não sendo possível, na prática, a distinção de uma e outra função. Cabiam-lhes "o julgamento das infrações de postura, aferição de pesos e medidas, questões concernentes a paredes de casas, quintais, portas, janelas e eirados". In: Sandra de Mello Carneiro Miranda. [www.tjrj.jus.br/documents/10136/1029722/sandra-miranda-dissertacao.pdf Inserção e consolidação da participação de advogados no colegiado dos tribunais]. Esses padrões utilizados primordialmente em Lisboa, sem jamais terem sido consenso em Portugal - que em muitos concelhos utilizava métodos próprios de medir e pesar com fins comerciais -costumavam ser aferidos duas vezes ao ano por um especialista nomeado. Além da tarefa de aferição, o Almotacé-mor, diante de casos ou suspeitas de fraude devidamente confirmada por duas testemunhas, agia legalmente e instituía o pagamento de multas ou punição com cadeia para os casos considerados mais graves. (idem) No Brasil, desde o período colonial, esses padrões foram adotados igualmente. Seu uso nos processos de negociação de produtos no mercado interno e externo contribuíram com a economia da colônia. Os principais padrões de medição em uso no Brasil-Colônia são a Vara (atual 1,1m), o Côvado (0,66m), o Alqueire (13,8), o Almude (16,8), o Canada (1,1) e o Quartilho (0,35). A idéia de adotar-se no Brasil o Sistema Métrico Decimal, ousistema francês, já estava defendida desde o começo do século dezenove, considerando, entretanto a manutenção das nomenclaturas equivalentes já em uso, procurando causar menos problema na adaptação dos comerciantes e da população em geral. Em 1802 Portugal recebera de Paris um jogo de padrões e, segundo o texto do deputado João Baptista da Silva Lopes, em algum ponto entre 1802 e 1816 o arsenal do exército português teria arcado com a incumbência de produzir 300 jogos de padrões que seriam enviados a corte brasileira para distribuição pelos concelhos no Brasil. Somente em 1816 identifica-se um documento enviado por D. João a Comissão Central de Pesos e Medidas de Lisboa informando o recebimento de 2 caixas de padrões de medição. Entretanto, diante do movimento em prol da independência do Brasil, dos conflitos em diversas províncias da Colônia, houve um considerável atraso na implementação formal do sistema métrico francês, que ocorreu apenas em 1872, sob a condução do imperador D. Pedro II. Uma Lei Imperial anterior, a 1.157, de 26 de junho de 1862, entretanto, já indicava que o sistema de unidades de medição em uso no Império seria substituído pelo sistema métrico francês que teria um período de adaptação de dez anos. Para o Imperador, a idéia de associar-se ao grupo de nações plenamente desenvolvidas que adotavam o novo sistema de medições, indicava a intenção de modernização do país e de padronizar a linguagem de negociação com os principais parceiros comerciais da época. Progresso e civilização2eram objetivos de D. Pedro II para o Brasil de fim de século. Unir-se às principais iniciativas de sua época levariam o Brasil a uma equiparação ao status de centros como França, Estados Unidos, Inglaterra – com os quais mantinha e ambicionava expandir comercialmente. Representou também mais um passo na direção do investimento em seu projeto de império que determinaria a implementação de procedimentos práticos em nível nacional nas áreas sociais, de educação e urbanismo, que dissociasse a imagem do Brasil de uma nação em estágio inferior de evolução em relação as demais. ... durante todo século XIX, um ideal de progresso circulou nas sociedades ocidentais. As novas descobertas científicas passaram a marcar uma mudança cultural que acabou por desenvolver certa intolerância ao antigo e ao antiquado. Assim, o termo moderno adquiriu conotação elogiosa, numa transformação gradual do “menos bom” para o melhor. Modernizar foi uma das ideias defendidas por membros da sociedade brasileira da época, o que provavelmente auxiliou na promoção de um fluxo inédito de penetração de capitais estrangeiros no país (ingleses e americanos).(LARROCA,sd) O início desse processo se dá doze anos antes, durante a realização da Exposição Internacional de Paris, em 1855, quando foram expostos os padrões de metro e quilograma esculpidos em cristal de rocha, comparadores e instrumentos de calibração de medidas métricas – equipamentos essenciais para a manutenção e calibragem dos padrões. Doze anos mais tarde, na mesma Exposição, foi criado um comitê especifico que tinha por função e objetivo analisar o sistema métrico. Jacobi, 2 As dificuldades em organizar o sistema de pesos e medidas no país eram muitas, comoa falta: de instrumentos de medição, de fiscalização, de pessoas habilitadas para fazerem asaferições ou do próprio regimento de medição. Todos esses motivos e a variedade dos padrõesutilizados contribuíam ainda mais para a corrupção no momento da aferição.Uma Comissão composta por Antonio Gonçalves Dias, Giacomo Raja Gabaglia eGuilherme Schuch de Capanema obteve contato com o sistema métrico francês, o quepossibilitou o início das conversas para adoção desse sistema no Brasil, que realmente acabouacontecendo em 1862 após valiosas discussões na Câmara dos Deputados. Disponível em:http://www.encontro2012.rj.anpuh.org/resources/anais/15/1338335004_ARQUIVO_ANPUH Revoltas-Textofinal.pdf Acesso em 10 de junho de 2015. então Presidente da Academia de Ciências de São Petersburgo, considerava o sistema francês o mais apropriado para uso, devido à expressão de múltiplos e submúltiplos das unidades: O sistema métrico, desenvolvido numa estrutura de múltiplos e submúltiplos decimais da unidade (quilograma, litro e metro), foi concebido por G. Morton em 1670, mas só 120 anos depois, à época da Revolução Francesa, é que foi aprovado pela Assembleia Constituinte Francesa.Antes disso, as medidas de comprimento variavam de acordo com o que se pretendia medir. Os panos eram medidos por côvados ou por varas, que variavam de lugar para lugar. Por isso, essas medidas eram marcadas na pedra das portas dos castelos ou das entradas das igrejas para que os comerciantes pudessem saber o seu valor nessa localidade.Para medir a altura de uma torre ou o comprimento de uma rua era utilizada a braça, enquanto que para medir distâncias maiores, como por exemplo, a distância entre duas localidades, era utilizada a légua. Apesar de antiga, a légua ainda é usada e compreendida por muitos trabalhadores rurais e outras pessoas envolvidas com o meio rural. (idem) Dez anos depois de aprovada a lei, exatamente no término do prazo de adaptação equando esta ia entrar definitivamente em vigor, vimos ressurgir a discussão na Associação Comercial do Rio de Janeiro, que também criou uma comissão para estudar o assunto, já quea medida afetaria as transações comerciais e, principalmente, ao seu ramo mais importante, o comércio de exportação. Além disso, os custos com os novos pesos seriam de responsabilidade do comerciante e até aquela data eles ainda não estavam preparados para ouso no novo sistema métrico. O ensino do uso e conversão de um sistema para outro previsto pela lei, ao que parece, não foi realizado de forma adequada. Foram criados manuais criados para o ensino do novo sistema em escolas primárias do Rio de Janeiro, entretanto, as pessoas que não frequentavam ou tinham acesso ao sistema escolar se viam excluídos do processo de aprendizado. Em diversos jornais, como no Jornal do Comércio em 1873, por exemplo, publicavam-se anúncios de pessoas oferecendo aulas sobre o novo sistema. Considerava-se o sistema métrico francês como de difícil compreensão e mesmo com o prazo de adaptação, muitas lacunas permaneciam sem esclarecimento – o que dificultava a aceitação e o próprio uso do novo modelo. Se pensarmos nos pequenos comerciantes do Norte do Império, não é demais, calcular que tais inovações não tenham sido discutidas, muito menos incentivadas ou ensinadas, lembrando a dificuldade de que as notícias, as ideias e até mesmo as leis, tinham de chegar à “periferia” do Império. Demonstrando a despreocupação dos governantes com os pequenos comerciantes, além da população de baixa renda que poderia ter dificuldades com a conversão. O descontentamento de grande parte de pequenos comerciantes que teriam que arcar com a compra do kit de modelos correspondentes ao sistema métrico francês, motivou a revolta do Quebra-Quilos – uma espécie de levante contra a alteração do modelo vigente que teve lugar no nordeste do país; exemplo da experiência brasileira que confronta os interesses dos coronéis abastados em contraposição ao povo que em sua maior parte vivia em condições paupérrimas e, também por isso, compartilhava de interesses e ideologias muito diversas em relação ao processo civilizatório do Brasil. Em diversos locais do país, o antigo sistema de pesos e medidas permaneceu a vigorar por força do uso pelos comerciantes, criando uma cisão entre o regime e os costumes. O antigo sistema encontrava-se bastante enraizado em seus costumes, e fazia parte do cotidiano destas pessoas. A imposição do sistema métrico francês representava a invasão direta do Governo na vida dos brasileiros. No entanto, as revoltas partiram dos nordestinos que se sentiam esquecidos pelo governo, pois este não tomava medidas para melhorar as suas condições de vida. (DIAS, 1998) Destacamos ainda que existe intrinsecamente na população uma questão de preservação de hábitos e costumes seculares que em pouco tempo se veem solapados pelos interesses de ascensão internacional do Brasil enquanto sua grande parte ainda se encontra em situação precária, sem condições básicas de saneamento e saúde, restando a esta grande parcela da população, apenas a manutenção de suas tradições como forma de consagração social. A experiência de distribuição de Tabelas de Conversão de Medidas em escolas não tinha sido suficiente para que a população mais desfavorecida, cujo acesso a estabelecimentos de ensino era bastante precário, entendesse e absorvesse desta mudança de paradigma. Ademais, nem todas as províncias brasileiras tiveram acesso a nova norma. Para Dias (1998), “mostra uma certa relação com os fatores que levaram ao fim do Império, partindo da análise do pensamento do homem comum que sofria as consequências das mudanças e, sem ter como se expressar começou areagir contra o sistema”. Apesar dessa exigência legal permaneceram em uso no país os sistemas tradicionais de medidas expressas em palmos, jardas, polegadas ou côvados, e o peso das mercadorias calculado em libras e arrobas. Em 1874 muitos outros padrões de pesos e medidas que foram absorvidos geração a geração, a exemplo da braça, a légua, o feixe, o grão, a onça, o quintal, continuaram a fazer parte do cotidiano da população. O Quebra-Quilios (1874-1875) teve inicio efetivo na Paraíba, onde João Vieira, o “João Carga d'Água”, comandou os descontentes que invadiram o povoado de Fagundes em Campina Grande, quebrando as "medidas" (caixas de madeira de um e cinco litros de capacidade), fornecidas pelo poder público municipal e usadas pelos feirantes, e atiraram os pesos dentro do Açude Velho. A implementação de cobrança de taxas para o aluguel e aferição dos novos padrões do sistema métrico (as balanças, os pesos e a vasilha de medidas) foi um outro fator das revoltas que se sucederam e agregaram-se a outras insatisfações da maior parte da população naquela altura. Agravava o fato, a necessidade de se ter de alugar ou comprar na Câmara Municipal os novos padrões pela quantia de 320 réis por peça. Nessa logística, os comerciantes acresciam valor as mercadorias, inflacionando o mercado e levando a população a maiores dificuldades de subsistir. Percebemos que entre os anseios do imperador de elevar o Brasil ao patamar das grandes nações desenvolvidas e a realidade miserável da maioria absoluta da população do império haviam movimentos “anti governo” se sobrepondo nos últimos quinze anos da Monarquia no Brasil. Mesmo assim, consolidando as relações entre o império do Brasil e os signatários da Convenção do Metro, em 20 de maio de 1875 formalizou-se na Sala do Relógio do Ministério das Relações Exteriores da França (Quai D’Orsay), a assinatura do tratado "La Convention du Mètre" (CM), que foi assinada por 17nações, incluindo o Brasil (que apoiou mas não formalizou sua participação no grupo)3 O Império acompanhava a evolução do tema das medições e a população, com o passar dos anos, ajustou-se as novas normas de conduta na esfera das medições. O próprio D. Pedro II acompanhava, ainda no final do século XIX, as discussões sobre o tema por intermédio do general Arthur Morin, diretor do Conservatório Nacional de Artes e Ofícios. A intenção era colocar o Brasil entre os criadores do Bureau Internacional de Pesos e Medidas, onde as discussões sobre o aperfeiçoamento dos padrões métricos aconteciam. Esse entrosamento entre Pedro II e Morin traduzia-se na oportunidade de manter-se ciente das notícias científicas vindas de Paris mas também numa oportunidade de angariar nomes notáveis das ciências daquele país para atuarem na Escola Politécnica e na Escola de Minas de Ouro Preto (DIAS, 1998). De fato, as crises políticas geradas durante o movimento republicano e nos anos consecutivos a sua instauração relegou o Brasil a mero espectador do desenvolvimento da ciência da metrologia na Europa. A METROLOGIA NO BRASIL DO SÉCULO XX A Metrologia, ou a ciência das medições, esperou por décadas até verse implementada sob a ótica da regulação e da pesquisa no Brasil. Seguindo os ditames científicos do final do século XIX – parte da ebulição científica experimentada no final daquele século na Europa ecoava tardiamente no Brasil. Efetivamente foi apenas na década de 1930, sob o governo de Getúlio Vargas, que o campo da Metrologia iniciou seu processo de institucionalização. As indústrias recentemente implementadas no Brasil do período entre guerras 3 comitê. Somente na década de 1950 o Brasil efetivamente ingressou como membro no passam a produzir em grande escala e,sem um mecanismo de controle tanto na adequação das máquinas segundo critérios metrológicos quanto dos seus produtos seriados, percebeu-se a necessidade de implementação de um organismo controlador desse processo que acontecia, inicialmente,no setor de produção. Desde então e pelos quarenta anos seguintes, o conhecimento da metrologia e sua aplicação na indústria e no comércio deu-se por meio de diversos órgãos que se sucederam em alguns casos e, em outros, se multiplicaram nacionalmente como entidades regionais que se dedicavam a disseminar essa regulação em cada Estado da Federação. Dentro desse contexto surge a nova Lei Metrológica Nacional através do decreto-lei n.º 592, de 4 de agosto de 1938, regulamentada pelo Decreto nº 4.257, de 16 de junho de 1939, completando, assim, a Legislação de Pesos e Medidas. Nesse período, os assuntos referentes à Metrologia eram tratados pelo Conselho de Metrologia, que foi o responsável pela criação do Instituto Nacional de Pesos e Medidas (INPM), em 29 de dezembro de 1961, pela Lei n.º 4.048. Devido ao fato de, no início dos anos 70, o Brasil atravessar uma importante fase de desenvolvimento, a metrologia deixa de ser analisada separadamente e passa a ser analisada dentro de um contexto mais abrangente que inclui a normalização técnica e a qualidade industrial.”(MAXUELL, sd)4 Nesse cenário, em 1973, dá-se início a construção do futuro Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Avaliação da Conformidade – Inmetro. Fica ali concentradas as atividades de regulação e aferição que antes eram desenvolvidas pelos Ipems. O papel de destaque que o Brasil possui na área da ciência básica se deve ao fato de que nos últimos quarenta anos realizaram-se esforços para desenvolver a sua ciência e tecnologia. Esses esforços fizeram com que fosse construída uma forte base científica e tecnológica. (Idem) É nos laboratórios do Inmetro que cientistas de diversas áreas testam e analisam o desenvolvimento científico, criticando, avaliando e validando ou não sua aplicação pela indústria. Disso e da constante aferição de maquinários e 4 In: http://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/7362/7362_3.PDF produtos depende a qualidade do que chega ao mercado nacional e internacional. A Metrologia é uma ciência que visa, na esfera social, promover a homogeneidade da oferta e a garantia de que o consumidor terá seus direitos garantidos ao final desse processo que na maioria das vezes não é percebido diretamente. Além da atuação técnica o Inmetro atua em diversos projetos educativos que visam a integração entre a população e a ciência da metrologia. Além dos cursos técnicos, do Mestrado e do Doutorado em Metrologia, o Inmetro leva experimentos científicos com o tema das medições para escolas públicas no Rio de Janeiro (sede) e para todo Brasil. Para tanto, aposta na formação de novos monitores que são destacados da comunidade de entorno e treinados em cursos que acontecem dentro do Campus, bem como dá oportunidades de estágio e trabalho para estudantes oriundos de diversas universidades brasileiras. CONCLUSÃO A trajetória da ciência da Metrologia no Brasil enfrentou diversas barreiras quanto a absorção por grande parte da sociedade do século XIX – uma alteração de paradigmas centenários dariam lugar aos resultados práticos da nova ciência que tornar-se-iam os novos padrões na forma de medir e pesar no Brasil de final de século. Se por um lado estava-se passando politicamente por uma tentativa de inclusão em relação aos países adiantados socialmente, por outro ainda encontrava-se internamente em desconforto com as péssimas condições de vida da maior parte da população que considerava a imposição do sistema métrico francês uma descaracterização cultural, além de significar mais um entrave para as relações econômicas do dia a dia. Com a instauração da República, com a evolução de diversas áreas das ciências, com a criação de órgãos de controle e validação do modus operandi industrial e seu impacto palpável no cotidiano da população, a Metrologia estabeleceu-se como aliado do consumidor. Nos dias de hoje todas as atividades de seu principal órgão – Inmetro – corrobora com a expectativa da sociedade de contar com um intermediador entre produtor e consumidor, evitando abusos, inconsistências e ausência de qualidade no que tange a mecânica da plataforma de produção industrial brasileira. A ciência da Metrologia passou por inúmeras transformações e estudos que deixaram para trás o sistema métrico francês. “O Sistema Métrico Decimal adotou, inicialmente, três unidades básicas de medida: o metro, o quilograma e o segundo. Entretanto, o desenvolvimento científico e tecnológico passou a exigir medições cada vez mais precisas e diversificadas. Variadas modificações ocorreram até que, em 1960, o Sistema Internacional de Unidades (SI), mais complexo e sofisticado, foi consolidado pela 11ª Conferência Geral de Pesos e Medidas. O SI foi adotado também pelo Brasil em 1962 e ratificado pela Resolução nº 12 (de 1988) do Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial - Conmetro, tornando-se de uso obrigatório em todo o Território Nacional.” (Inmetro)5 A ciência da Metrologia está, assim como a maioria as demais ciências, em intensa transformação. Os resultados alcançados pelas pesquisas no campo da física, química, matemática entre outras reflete diretamente na forma como a Metrologia se relaciona com os novos conhecimentos. A Metrologia pretende garantir a sua aplicação e adequação social, tornando-as instrumentos de manutenção do status quo. 5 http://www.inmetro.gov.br/consumidor/unidLegaisMed.asp Referências Livros DIAS, José Luciano de Mattos.Medida normalização e qualidade: aspectos da história da metrologia no Brasil. Rio de Janeiro: Inmetro, 1998. 292 p. LIMA, Viviane. Revoltas dos Quebra-Quilos. Levantes contra a imposição do Sistema Métrico Decimal.sd Artigos SECRETO, María Verónica. (Des)medidos – A revolta dos quebra-quilos (18741876). Riode Janeiro: Mauad X: FAPERJ, 2011. VAINFAS,Ronaldo. Domínos da História – Ensaios de Teoria e Metodologia. Rio de Janeiro: Elsevier,1997. pp. 165-184. Sítios http://www.inmetro.gov.br/legislacao/rtac/pdf/RTAC002050.pdf http://www.inmetro.gov.br/metlegal/metBrasil.asp http://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/7362/7362_3.PDF http://www.ppge.ufpr.br/teses/D09_larocca3.pdf Anexo 1 Lei n.º 1.157 de 26 de junho de 1.862 Substitue em todo o Imperio o actualsystema de Pesos e Medidas pelo systemaMetricoFrancez D. Pedro ll, por graça de Deus e unanime acclamação dos povos, Imperador Constitucional e Defensor Perpetuo do Brasil: Fazemos saber a todos os Nossos subditos que a Assembléia Geral Legislativa decretou, e Nós Queremos a Lei seguinte: Art. 1º O actualsystema de pesos e medidas será substituido em todo o Imperio pelo systemametricofrancez, na parte concernente às medidas lineares, de superfície, capacidade e peso. Art. 2º É o Governo autorisado para mandar vir da França os necessarios padrões do referido systema, sendo alli devidamente aferidos pelos padrões legaes; e outrossim para dar as providencias que julgar convenientes a bem da execução do artigo precedente, sendo observadas as disposições seguintes. 1º O systemametrico substituirá gradualmente o actualsystema de pesos e medidas em todo o Imperio, de modo que em dez anos cesse inteiramente o uso legal dos antigos pesos e medidas. 2º Durante este prazo as escolas de instrução primária, tanto publicas quanto particulares, comprehenderão no ensino da arithmetica a explicação do systemametrico comparado com o systema de pesos e medidas que está actualmente em uso. 3º O Governo fará organizar tabellas comparativas que facilitem a conversão das medidas de um systema para outro, devendo as repartições publicas servir-se dellas em quanto vigorar o actualsystema de pesos e medidas. Art. 3º O Governo, nos regulamentos que expedir para a execução desta Lei, poderá impor aos infractores a pena de prisão até um mez e multa até 100$000. Mandamos portanto a todas as autoridades a quem o conhecimento e execução da referida Lei pertencer, que a cumprão e fação cumprir e guardar tão inteiramente como nellaso contém. O Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Commercio e Obras Publicas, a faça imprimir, publicar e correr. Dada no Palacio do Rio de Janeiro aos vinte e seis de junho de mil oitocentos e sessenta e dois, quadragesimo primeiro da Independencia e do Imperio. Imperador, em Rubrica e Guarda João Lins Vieira Cansansão de Sinimbu Anexo 2 1. Sete unidades de base do SI Comprimento m - O metro é o comprimento do trajeto percorrido pela luz no vácuo durante um intervalo de tempo de 1/299 792 458 de segundo. 17ª CGPM, 1983. Essa definição tem o efeito de fixar a velocidade da luz no vácuo em 299 792 458 metros por segundo exatamente, c0= 299 792 458 m/s. Massa: kilograma ou quilograma kg- O kilograma ou quilograma é a unidade de massa; ele é igual à massa do protótipo internacional do kilograma ou quilograma 3ª CGPM, 1901. Tempo: segundo s -O segundo é a duração de 9 192 631 770 períodos da radiação correspondente à transição entre os estadofundamental do átomo de césio 133. dois níveis hiperfinos do 13ª CGPM, 1967/68 . Corrente elétrica: ampere a - O ampere é a intensidade de uma corrente elétrica constante que, semantida em dois condutores paralelos, retilíneos, de comprimento infinito, de seção circular desprezível, e situadosà distância de 1 metro entre si, no vácuo, produz entre estes condutores uma força igual a 2 x 10-7newton por metro de comprimento. 9ª CGPM, 1948. Temperatura:termodinâmica kelvin k- O kelvin, unidade de temperatura termodinâmica, é afração 1/273,16 da temperatura termodinâmica do ponto triplo da água. 13ª CGPM, 1967/68. Quantidade de substância mol- O mol é a quantidade de substância de um sistemaque contémtantas entidades elementares quantos átomos existemem 0,012 kilograma de carbono 12. Quando se utiliza o mol, as entidades elementares devem serespecificadas, podendo ser átomos, moléculas, íons,elétrons, assimcomo outras partículas, ou grupamentos especificados de tais partículas. 14ª CGPM, 1971. Intensidade luminosa candela - cdA candela é a intensidade luminosa, numa dada direção, de uma fonte que emite uma radiação monocromática de frequência 540 x 1012hertz e que tem uma intensidade radiante nessa direção de 1/683 watt por esferorradiano. 16ª CGPM, 1979.