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>>Investigação Qualitativa em Saúde//Investigación Cualitativa en Salud//Volume 1
Percepção do Cuidador Acerca da Administração de
Medicação Prescrita ao Paciente sob Cuidados
Paliativos em Domícilio
Caregiver perception about Administer Prescribed
Medication for Patients under Palliative home care
Raíssa Catarina Vergueiro César; Jessyrayanne
Mayalle de Oliveira Barbosa
Programa Associado de Pós Graduação em Enfermagem,
Universidade de Pernambuco
Recife, Brasil
[email protected]; [email protected];
[email protected].
Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças
Universidade de Pernambuco
Recife, Brasil
[email protected]; [email protected];
Katia Rejane Vergueiro César;
Gicely Regina Sobral da Silva Monteiro; Wylma
Danuzza Guimarães Bastos; Regina Célia de Oliveira
Faculdade estácio do Recife
Recife, Brasil
[email protected]
Resumo — Objetivo: Analisar o discurso dos cuidadores diante
das responsabilidades de administrarem as medicações aos
pacientes paliativos domiciliares. Metodologia: Trata-se de um
estudo exploratório-descritivo, com abordagem qualitativa. O
cenário foi o domicílio dos pacientes cadastrados na Unidade de
Cuidados Paliativos e Tratamento da Dor, com uma amostra de 4
familiares cuidadores. A coleta de dados foi realizada no mês de
Dezembro de 2014, por meio de entrevistas gravadas,
posteriormente transcritas e analisadas. Resultados: Emergiram
duas categorias: Análise acerca do gênero dos cuidadores e dos
vínculos estabelecidos entrem cuidadores/pacientes e a análise
acerca da responsabilidade do cuidador em administrar as
medicações para o paciente. Considerações finais: Foi
predominante a existência do sentimento de tranquilidade e
segurança que o cuidador tem ao administrar as medicações
prescritas; os familiares cuidadores são de ambos os sexos, a
escolha é determinada pelo vínculo afetivo que ele tem com o
paciente, visando a importância da eficácia do tratamento
proposto para o paciente paliativo domiciliar.
and patients and perception of caregivers feelings on the
responsibility of administering medication to his patient. Closing
remarks: the feelings of tranquility and security in administering
the prescribed medication, were predominant, caregivers aimed
the importance of the effectiveness of treatment for the palliative
home care patient.
Keywords - Palliative care; home assistence; caregivers.
I.
INTRODUÇÃO
O cenário sociossanitário da transição demográfica e
epidemiológica, caracterizado pelo crescente envelhecimento
populacional e o aumento da prevalência de doenças crônicodegenerativas, colocou em evidência os cuidados paliativos no
final da vida, demandando a reorganização dos serviços de
saúde. [1] Apesar da ampliação dos cuidados paliativos como
modalidade de atenção a saúde em todo o mundo, estima-se
que cerca de 20 milhões de pessoas por ano ainda morrem sem
acesso a esse serviço, que poderia minimizar o sofrimento e os
sintomas de suas doenças; por outro lado estima-se também,
que 60%, de 56 milhões de pessoas que morrem por ano, têm
se beneficiado de alguma forma dos cuidados paliativos. [2]
Segundo a Organização Mundial da Saúde, os Cuidados
Paliativos foram definidos 1990, e redefinidos em 2002, como
sendo uma abordagem terapêutica que busca a qualidade de
vida, dos pacientes e de suas famílias, que enfrentam
problemas associados com doenças que ameaçam a vida,
através da prevenção e alívio do sofrimento, por meio de
Palavras Chave – Cuidados paliativos; Assistência domiciliar;
cuidadores.
Abstract — Objective: To analyze the speech of caregivers on the
responsibilities of administering the medication of patients in
home palliative care. Methodology: This is an exploratorydescriptive study with a qualitative approach. The setting was the
home of patients registered in the Palliative Care Unit and Pain
treatment, with a sample of 4 family caregivers. Data collection
was carried out in December 2014, through recorded interviews,
transcribed and posteriorly analyzed.Results: two categories
were emerged: Appraisal about family bonds between caregivers
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identificação precoce, avaliação correta e tratamento da dor, e
outros problemas de ordem física, psicossocial e espiritual. [3]
Os cuidados paliativos podem ser desenvolvidos no
contexto ambulatorial, de internação hospitalar e no domicílio.
A assistência domiciliar prestada por uma equipe
multiprofissional tem um papel preponderante nesse âmbito,
sendo justificada pelo elevado grau de humanização que pode
propiciar, pois envolve a família tanto nos cuidados como no
amparo afetivo ao paciente, reduz complicações decorrentes
de longas internações hospitalares e diminui os custos das
tecnologias dos doentes hospitalizados. [1]
Considerando essa linha de pensamento, o domicílio tem
sido indicado como um espaço privilegiado para o cuidado,
caracterizado pela preocupação com a integralidade, com a
singularidade do ser humano e de valorização da
intersubjetividade, como também da relação e do respeito ao
outro. O ato de cuidar no domicílio é percebido, por quem
cuida, como uma oportunidade de crescimento e realização
pessoal na medida em que permite o desenvolvimento de novas
habilidades e a expressão de sentimentos de solidariedade,
amor, respeito, empatia, dignidade e inserção social. Acreditase que na internação domiciliar, as relações estabelecidas entre
cuidador e usuário, equipe e usuário, família e usuário,
cuidador e família, são potencializadas pelo vínculo produzido,
e são vistas como positivas na implementação do cuidado e
melhoria do usuário [4].
internamento no HUOC ou os encaminhados de outros
serviços especializados, desde que residam em sua área de
abrangência, com diagnóstico fechado de terminalidade em
oncologia, infectologia, neurologia e geriatria. O publico alvo
foi composto por 4 familiares cuidadores. A coleta de dados
da pesquisa foi realizada durante o mês de dezembro de 2014,
concomitante com as visitas programadas pelo serviço. Foram
realizadas entrevistas gravadas, norteadas por um questionário
semiestruturado, elaborado pelas autoras; que traça o perfil
sócio demográfico e evidencia os sentimentos dos cuidadores
quanto a responsabilidade do cuidar ao administrar as
medicações para os seus pacientes. Posteriormente as
respostas foram transcritas e os discursos analisados. É
importante relatar que as iniciais dos pacientes foram
modificadas para garantir o anonimato dos participantes.
Esta pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética e pesquisa
com seres humanos, sob o CAAE: 36825914.5.0000.5192,
estando de acordo com as normas da Resolução 466/12.
III.
A partir da análise dos dados da amostra, foi verificado o
perfil dos cuidadores familiares, onde com relação ao sexo
dois são do gênero feminino, que cuidam de pacientes
mulheres e dois do gênero masculino, que cuidam de um
paciente homem e o outro de uma paciente mulher; a idade
varia entre 51 a 71 anos, significando que todos são adultos
maduros; 75% deles são ou foram casados, mas não é ao seu
cônjuge que estes cuidados estão sendo prestados. Todos
possuem profissão/ocupação, dos quais dois são professores,
uma é oficial do exército e uma é dona de casa. Um dado que
chama a atenção é que 75% da amostra tem curso superior
completo, portanto entendem bem o quadro clínico situacional
do seu paciente e as suas responsabilidades no processo do
cuidar. Todos são da religião católica. Com relação ao grau de
parentesco metade da amostra são sobrinhos, uma é filha e
outra é irmã.
Diante desta realidade foram construídas duas categorias,
que serão apresentadas a seguir: avaliação estrutural familiar a
cerca dos vínculos cuidadores/pacientes e percepção dos
sentimentos dos cuidadores diante da responsabilidade de
administrarem medicação para o seu paciente.
O cuidador familiar em sua grande maioria é uma pessoa
leiga que assume a tarefa de cuidar de um familiar que
apresenta dependência associada a incapacidades funcionais
temporárias ou definitivas. O cuidar de indivíduos portadores
de doenças crônicas pode gerar situações de estresse e trazer
transtornos tanto para o cuidador como para o indivíduo doente
e seus familiares [5].
Diante desse quadro situacional surgiu o presente estudo
com o interesse de investigar como os cuidadores de pacientes
paliativos domiciliares se sentem diante das responsabilidades
que lhes são confiadas, e dentre elas a de seguir corretamente o
tratamento prescrito a cerca das medicações a serem
administradas, objetivando a eficácia da terapêutica.
II.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
MÉTODOS DA PESQUISA
Trata-se de um trabalho piloto, de caráter exploratóriodescritivo, com abordagem qualitativa, sendo parte integrante
de uma monografia de conclusão do curso de enfermagem, de
uma instituição pública/estadual de Pernambuco. O cenário da
pesquisa foi o domicílio dos pacientes cadastrados na Unidade
de Cuidados Paliativos e Tratamento da dor (UCPD),
vinculado ao Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC),
na cidade do Recife/PE, que realiza uma assistência à saúde
fundamentada numa abordagem holística, onde os aspectos
físicos, psíquicos, sociais e espirituais do ser humano, são
trabalhados conjuntamente, para que possam trazer a melhoria
da qualidade de vida do cidadão. O serviço é formado por uma
equipe multidisciplinar composta por médicos paliativistas,
médico acupunturista, enfermeiros, técnicos de enfermagem,
assistente social, nutricionista, fisioterapeuta, psicólogo,
fonoaudiólogo, que atendem os pacientes
egressos de
A.
Análise acerca do gênero dos cuidadores e dos
vínculos estabelecidos entrem cuidadores/pacientes
Foi constatado nessa pesquisa, que no núcleo familiar a
função de cuidar é delegada a alguém segundo a relação
afetiva de dependência que existe entre o cuidador e o
paciente.
Tendo em vista o fato de que a escolha do cuidador pelo
gênero está sendo ultrapassada ao constatarmos que na
atualidade os homens também se mostram ativos no cuidar,
contradizendo pesquisas que afirmam que a prestação de
cuidados é uma função socialmente atribuída às mulheres,
afirmando que os homens não estariam preparados para
exercerem a função de cuidador mesmo que o quisessem, fato
este, que ao longo do tempo foi embasado na antropologia,
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que menciona o homem como provedor, que passa grande
parte do tempo fora de casa, e a mulher como cuidadora por
realizar as atividades domésticas, sendo assim uma função
socialmente atribuída ao gênero feminino (mães, esposas e
filhas), no qual a sociedade sempre espera que assumam o
papel de cuidadora. [6, 7]
Ao confrontar os resultados deste estudo com outras
pesquisas sobre a temática do cuidador de pacientes sob
cuidados paliativos, foi analisado que o gênero feminino que
antes era predominante dentro dessa classe, esta perdendo
espaço e o gênero masculino em contra partida esta crescendo
cada vez mais nesse meio, de acordo com a referencia de que
os laços familiares estão sendo mais decisivos na hora de
eleger o cuidador.
Assim podemos constatar que a dedicação e bem estar do
cuidador reflete positivamente nos cuidados prestados ao
doente, e mostra a importância que a equipe de saúde deve ter
em acompanhar e manter a sua atenção não apenas no
paciente, mas também no cuidador domiciliar, prestando
assistência de saúde e também realizando educação em saúde,
esclarecendo as dúvidas os procedimentos e o processo do
cuidar, pois a segurança e o bem estar do paciente estão
ligados diretamente à segurança e bem estar do seu cuidador.
Analisando estas duas categorias, foi verificado que a
afetividade existente entre o binômio, cuidador e paciente,
muitas vezes despertando o sentimento de obrigação, no
sentido de querer retribuir todo o bem que um dia o doente lhe
prestou, tendo em vista que a maioria dos vínculos
estabelecidos são os laços de consanguinidade entre irmãos,
mãe e filho (a), tio(a) e sobrinho (a), dados que são
corroborados com outras pesquisas [8], que afirmam, que a
carga emocional envolvida na relação familiar influencia
diretamente na escolha dessa função, que oscila entre
obrigação e gratidão.
B.
Análise acerca da responsabilidade do cuidador em
administrar as medicações para o paciente
Foi observado que o cuidador familiar na sua maioria tem
o sentimento de tranquilidade, por se sentir capacitado diante
do enfrentamento da responsabilidade de administrar toda a
medicação prescrita para a realização e eficácia do tratamento
proposto para o paciente paliativo domiciliar, tendo como
suporte a orientação prestada pela equipe multiprofissional.
IV.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A coleta de dados, desse projeto piloto, realizada dentro
do domicílio das famílias cadastradas no serviço de cuidados
paliativos do HUOC oportunizou observar a realidade em que
eles vivem, permitindo assim uma maior aproximação com os
sujeitos da pesquisa, educando, estimulando e ajudando essas
pessoas a entenderem melhor o processo de cuidar e a
importância de uma administração de medicamentos feita de
forma correta, assegurando assim ao paciente um bom
tratamento, diante da realidade de saúde em que ele se
encontra, objetivando manter a qualidade de vida durante a sua
terminalidade, abordando o problema da morte numa
perspectiva profundamente humana, reconhecendo a dignidade
da pessoa no âmbito do grave sofrimento físico e psíquico, que
o fim da existência humana muitas vezes comporta. Mesmo
em doenças não curáveis, sempre haverá um cuidado a ser
oferecido, algo a ser feito, desde que se foque no que é
realmente importante e necessário ao paciente, dando-lhe
sempre a autonomia de decisão.
Ao analisar as respostas dos entrevistados, quanto ao
questionamento a cerca dos seus sentimentos e de sua
responsabilidade de cuidar do seu paciente, na perspectiva da
administração dos medicamentos prescritos, seguindo
metodicamente os horários, a fim de manter a qualidade do
tratamento prescrito pelos profissionais de saúde, visando
proporcionar bem estar e qualidade de vida ao seu paciente,
mesmo em estado terminal, foi observado que apenas um dos
entrevistados afirmou sentir-se sobrecarregado por ter essa
responsabilidade.
“Me sinto com uma responsabilidade muito grande.”
(M.C. 59 anos).
Em contra partida, a grande maioria dos
entrevistados, três cuidadores, mostraram-se confortáveis
diante de mais essa responsabilidade que lhe foi atribuída,
estas afirmativas corroboram com os achados da pesquisa [8],
onde em seus estudos foi identificado depoimentos que
relatam sobre a responsabilidade atribuída ao fato de ser
cuidador é decorrente da complexidade dos cuidados que
precisam ser realizados diariamente, o que envolve desde o
número de medicamentos a serem administrados até a
necessidade de oferecer alimentação por sonda.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a equipe da Unidade de Cuidados
Paliativos e Tratamento da Dor, do Hospital Universitário
Oswaldo Cruz pela atenção e coperação. Agradecemos em
especial as famílias participantes da pesquisa, por colaborarem
com o estudo e a disponibilidade em receberem a equipe de
pesquisadores em seus domicílios.
“Já estou acostumada, não vejo problema.” (M.S.M.F. 71 anos).
“Seguro e tranquilo.” (M.A. 51 anos).
“Seguro por ter uma boa orientação da equipe do programa.”
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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