Revista Periodontia dez 2011 - 2ª REV - 09-12-11

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Braz J Periodontol - December 2011 - volume 21 - issue 04
passo-a-passo Prática clínica
Terapia fotodinâmica como tratamento auxiliar
da periodontite
Rosemary Adriana Chierici Marcantonio
Professora titular do Departamento de Diagnóstico
e Cirurgia, Área de Periodontia, Faculdade de
Odontologia de Araraquara, UNESP.
Janice Rodrigues Perussi
Professora do Departamento de Química
e Física Molecular, Instituto de Química
de São Carlos, USP.
Livia Rodrigues Perussi
Aluna de doutorado em Odontologia,
área de Periodontia, Faculdade de
Odontologia de Araraquara, UNESP.
Recebimento: 31/08/11 - Correção: 15/10/11 - Aceite: 07/11/11
O sucesso do tratamento periodontal depende
da descontaminação da superfície radicular e diversos
tratamentos mecânicos, químicos e físicos tem sido
propostos para eliminar os microrganismos presentes no
local visando a eliminação dos fatores locais e a redução
dos sinais clínicos de inflamação.
O mecanismo de raspagem e alisamento radicular
(RAR) é o tratamento convencional para a periodontite. No
entanto, anatomias dentárias complexas e desfavoráveis
como regiões de furca, grandes invaginações, concavidades
e bolsas periodontais profundas podem dificultar o acesso
de instrumentos mecânicos às superfícies dentárias, além
de exigir habilidade, tempo e perseverança por parte do
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profissional.
O uso adjunto de antibióticos locais e sistêmicos
ao tratamento periodontal tem sido utilizado por muitos
periodontistas. No entanto, esta terapia apresenta muitos
resultados controversos, causa diversos efeitos colaterais
nos pacientes, assim como é passível de gerar resistência
bacteriana ao medicamento (Zanin, Goncalves et al., 2005;
Fontana, Abernethy et al., 2009).
A Terapia Fotodinâmica é um método minimamente
invasivo que se baseia na combinação de um corante nãotóxico, fotossensível que, estimulado por uma fonte de luz
(laser de baixa intensidade ou diodo emissor de luz – LED)
de comprimento de onda adequado, reage com o oxigênio
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presente nos tecidos produzindo espécies altamente reativas
como oxigênio singlete e radicais livres (Soukos e Goodson,
2011; Perussi, 2007). A destruição dos alvos celulares pode
ocorrer através de dano celular direto, dano vascular e ativação
de uma resposta imune contra as células alvo. O oxigênio
singlete (1O2) reage com quase todos os componentes
celulares uma vez que os compostos orgânicos insaturados
são, de forma geral, suscetíveis à ação de (1O2). Como a
primeira barreira para o oxigênio é a membrana celular que
contém lipídeos insaturados que podem ser danificados,
ocorre a inviabilidade celular.
Aplicações clínicas atuais de Terapia Fotodinâmica incluem
o tratamento de numerosos tipos de câncer e doenças
não malignas tais como degeneração macular da retina e
endometriose. Microrganismos tais como bactérias, fungos,
leveduras e vírus também podem ser mortos por luz visível
depois de tratamento com um fotossensibilizador apropriado,
num processo denominado de Inativação Fotodinâmica
(Figura 1). Atualmente esta técnica é bastante difundida na
odontologia e começa a ser estudada na descontaminação
de água, desinfecção do sangue para transfusão e tratamento
antimicrobiano de alimentos (Soukos e Goodson, 2011;
Perussi, 2007).
Figura 1 – Figura esquemática da Inativação Fotodinâmica
A terapia fotodinâmica oferece a vantagem de ser
altamente seletiva aos microrganismos ou tecido doente,
pois durante a terapia, apenas as células/microrganismos com
acumulação seletiva pelo fotossensibilizador são eliminadas.
Além disso, a meia vida do oxigênio singlete é da ordem de
nanosegundos, o que não permite que este atue longe do
local em que foi produzido. Desta forma, esta terapia pode
ser repetida diversas vezes, uma vez que se trata de um
procedimento não-invasivo que não causa efeitos tóxicos
cumulativos, podendo ser utilizada em pessoas idosas ou
debilitadas demais para serem submetidas a cirurgias (Perussi,
2007).
Diversos fotossensibilizadores podem ser utilizados na
Terapia Fotodinâmica, como porfirinas, clorinas, ftalocianinas
e fenotiazinas, sendo que os mais empregados na periodontia
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são as fenotiazinas, como azul de metileno e azul de toluidina
O (Zanin, Lobo et al., 2006; Fontana, Abernethy et al., 2009).
Alguns estudos in vitro revelam as dificuldades em
se atingir microrganismos em camadas mais profundas
do biofilme oral. Porém, quando comparada ao uso de
antibióticos sistêmicos, produz mais morte bacteriana.
Ainda, estudos tem demonstrado que microrganismos grampositivos são mais susceptíveis à Terapia Fotodinâmica do que
os gram-negativos (Zanin, Goncalves et al., 2005; Fontana,
Abernethy et al., 2009).
Na periodontia, a Terapia Fotodinâmica tem mostrado
diminuição estatisticamente significante de bactérias
periodontopatogênicas assim como redução dos níveis de
IL-1β no fluido crevicular gengival e melhoras nos parâmetros
clínicos da inflamação em paciente com peridontite crônica e
agressiva (Ge, Shu et al., 2008; De Oliveira, Schwartz-Filho et
al., 2009). No entanto, no estudo clínico de Theodoro et al.,
2011, com acompanhamento de seis meses pós aplicação
única da Terapia Fotodinâmica, foi possível observar redução
de algumas cepas periodontopatogênicas, porém, não foram
observadas mudanças significativas nos parâmetros clínicos.
Conduta clínica da Terapia Fotodinâmica
Itens necessários:
*fotossensibilizador (ex: azul de metileno)
*fonte de luz (laser de baixa intensidade ou LED)
*oxigênio presente nos tecidos
O importante é ter uma fonte de luz de comprimento
de onda compatível com o espectro de absorção de luz do
fotossensibilizador para que se tenha uma fotoinativação
efetiva. Além disso, deve-se conhecer a concentração ideal
do fotossensibilizador bem como o tempo de incubação
ideal, suficiente para sensibilizar todos os microrganismos
presentes. Portanto, o protocolo clínico muda de acordo
com a fonte de luz e o fotossensibilizador escolhido. Existem
kits disponíveis no mercado internacional contendo a fonte
de luz e o fotossensibilizador e cuja concentração, tempo de
incubação e tempo de irradiação são previamente estipulados.
No entanto, existem alguns passos básicos que devem ser
realizados para aplicar a Terapia Fotodinâmica em periodontia:
*Raspagem e alisamento radicular no sítio com bolsa
profunda, já que a técnica é uma terapia auxiliar ao tratamento
convencional;
*Lavar com água abundante e secar bem o sulco
gengival sangrante, uma vez que o sangue pode interferir na
impregnação do fotossensibilizador nas bactérias;
*Irrigação com o fotossensibilizante dentro da bolsa
periodontal, com auxílio de uma seringa de ponta romba;
*Esperar tempo suficiente para o fotossensibilizador corar
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os microrganismos (tempo de incubação); por exemplo, para
o azul de metileno (10mg/ml) esperar 5 minutos;
*Irradiar o dente com laser de baixa potência ou LED. No
caso do azul de metileno irradiar por 10 minutos (tempo de
irradiação) com potência de 30 mW;
*Lavar o excesso de fotossensibilizador com água
abundante.
O procedimento pode ser realizado em apenas uma ou
mais sessões, de acordo com o diagnóstico da doença e o
prognóstico do tratamento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1- de Oliveira, R. R. et al. Antimicrobial photodynamic therapy in the
non-surgical treatment of aggressive periodontitis: cytokine profile in
gingival crevicular fluid, preliminary results. J Periodontol [S.I.], v. 80,
n. 1, p. 98-105, Jan 2009.
2- Fontana, C. R. et al. The antibacterial effect of photodynamic therapy
in dental plaque-derived biofilms. J Periodontal Res [S.I.], v. 44, n. 6,
p. 751-9, Dec 2009.
3- Ge, L. H. et al. [Effect of photodynamic therapy on IL-1beta and MMP8 in gingival crevicular fluid of chronic periodontitis]. Shanghai Kou
Qiang Yi Xue [S.I.], v. 17, n. 1, p. 10-4, Feb 2008.
4- Perussi, J. R. Inativação fotodinâmica de microrganismos. Química
Nova [S.I.], v. 30, n. 4, July/August 2007.
5- Soukos, N. S.; Goodson, J. M. Photodynamic therapy in the control
of oral biofilms. Periodontol 2000 [S.I.], v. 55, n. 1, p. 143-66, Feb.
6- Theodoro, L. H. et al. Clinical and microbiological effects of
photodynamic therapy associated with nonsurgical periodontal
treatment. A 6-month follow-up. Lasers Med Sci [S.I.], Jun 18.
7- Zanin, I. C. et al. Susceptibility of Streptococcus mutans biofilms to
photodynamic therapy: an in vitro study. J Antimicrob Chemother
[S.I.], v. 56, n. 2, p. 324-30, Aug 2005.
8- Zanin, I. C. et al. Photosensitization of in vitro biofilms by toluidine
blue O combined with a light-emitting diode. Eur J Oral Sci [S.I.], v.
114, n. 1, p. 64-9, Feb 2006.
Endereço para correspondência:
Disciplina de Periodontia - Departamento de Diagnóstico e Cirurgia
Faculdade de Odontologia de Araraquara - UNESP
Rua Humaitá, 1680 - Centro
CEP: 14801-903 - Araraquara - São Paulo - Brasil
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