O estudo de diferentes aspectos ecológicos numa abordagem

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J. Cabral; S. Cabral; E. Ribas; G. Bassan; P. Nogueira; P. Ribas; U. Souza
O estudo de diferentes aspectos ecológicos numa abordagem
transdisciplinar
Jaqueline Cabral¹; Solange Cabral¹; Ellen Ribas¹; Glaucio Bassan¹; Patrícia
Nogueira¹; Priscilla Ribas¹; Ursulla Souza1,2.
1
Mestrado em Ecologia, Universidade Santa Cecília - Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade
de Ecossistemas Marinhos e Costeiros da Universidade Santa Cecília.
2
Laboratório de Biologia de Organismos Marinhos e Costeiros (LABOMAC).
Universidade Santa Cecília, Rua Oswaldo Cruz, 277–Boqueirão – Santos/SP – CEP 11045-907
Resumo
Considerando que a construção do conhecimento promove a autonomia consciente das ações
humanas e que a educação é o ponto de partida para a formação desse cidadão consciente e
responsável por sua atuação, partimos para uma proposta de trabalho educacional que leve os
estudantes a vivências em um ambiente estuarino, e que possam leva-los a observações in
loquo das interações bióticas e abióticas que acontecem no meio físico do ecossistema
manguezal. Diante das constatações observadas, obtêm-se elementos concretos para que haja
uma problematização numa abordagem interdisciplinar, para que os conteúdos presentes no
currículo escolar façam sentido àqueles que estão aprendendo e para os que estão ensinando.
A partir de um estudo de campo, numa atividade preparada previamente e mediada por
questões a serem respondidas acerca do ecossistema manguezal, a percepção dos olhares dos
estudantes foi direcionada a diversidade presente nesse ambiente estuarino numa conexão
transdisciplinar, na construção de conhecimentos significativos à biodiversidade,
questionando e correlacionado os saberes em busca da preservação das diversas formas de
vida, num movimento elíptico constante entre ação reflexão e ação.
Palavras-chave: Biodiversidade; Transdisciplinar; Manguezal; Conhecimento.
The study of different ecological aspects in a transdisciplinary
approach
Abstract
Whereas the construction of knowledge promotes conscious autonomy of human actions and
that education is the starting point to the formation of citizens aware and responsible for their
actions, we set off for a proposed educational work that takes students to experiences in an
environment estuarine, and that can lead them to observations in loquo of biotic and abiotic
interactions that occur in the physical environment of the mangrove ecosystem. On the
observed findings are obtained concrete evidence that there is a questioning an
interdisciplinary approach to the content present in the school curriculum make sense to those
who are learning and for those who are teaching in this way, giving new meaning to school
learning. From a field of study, in a prepared activity previously mediated and questions to be
answered about the mangrove ecosystem, the perception of the eyes of the students was
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directed to this diversity that estuarine environment in a transdisciplinary connection, the
construction of meaningful knowledge of biodiversity, questioning and correlated the
knowledge seeking the preservation of the various forms of life in a constant elliptical motion
between reflection and action.
Keywords: Biodiversity; Transdisciplinary; Mangrove; Knowledge.
Introdução
A construção do conhecimento liberta o ser humano das determinações impostas pela
sociedade, fazendo com que o mesmo se reconheça como agente atuante no processo histórico
cultural. Sendo assim, podemos considerar que o processo ensino-aprendizagem configura-se
de forma a promover o pensamento autônomo, e não somente seguir modelos constituídos ao
longo do tempo. Demanda de todos os envolvidos no processo educativo, reflexões acerca da
prática, bem como do contexto histórico, cultural e político no qual se encontram (FREIRE,
1987).
A educação ambiental é uma ferramenta que tem como objetivo principal estabelecer
o papel do cidadão na quebra de paradigmas e atitudes, onde a co-responsabilização de cada
indivíduo é essencial para a promoção do desenvolvimento sustentável (JACOBI, 2003).
Conhecemos a importância das contribuições das aulas de campo em um ambiente
natural, para a aprendizagem de conceitos que levem ao enfrentamento dos problemas
ambientais na sociedade contemporânea. Nessa perspectiva, constituem-se novos olhares para
a relação entre o homem e a natureza. Para, além disso, o que pretendemos com o presente
estudo é a verificação da pesquisa de campo como um instrumento que auxilie na consolidação
das aprendizagens à luz dos conhecimentos científicos no que tange ao estudo da ecologia.
Pressupomos que, à medida que o aluno tenha contato com a dinâmica de
ecossistemas, no caso manguezais, estará apto a realizar inferências, em busca das soluções
acerca dos questionamentos e das problemáticas apontadas em reflexões anteriores, num
movimento que caminha entre valores, respeito e ações de preservação em relação ao que
conhecemos e às ações possíveis de serem realizadas, sendo que a ausência de conhecimentos
ocasiona uma ótica deturpada do contexto atual (MACHADO,1982).
O subsídio de aulas de campo em um ambiente natural pode contribuir na
consolidação de uma aprendizagem significativa, haja vista que, para os educadores,
proporciona uma possibilidade de inovação para suas aulas e de estímulo, ao perceberem o
interesse dos alunos fortalecido a partir do momento em que suas descobertas atendem aos
objetivos de suas aulas. Para isso, é importante que o professor conheça previamente o
ambiente de campo, no intuito de averiguar se o mesmo atenderá aos objetivos propostos em
seu planejamento (SANTOS, 2002).
O estudo e a compreensão do ecossistema de manguezal, por estudantes de graduação
do curso de Ciências Biológicas, por meio de atividades de campo, constitui fundamental
importância no conhecimento da biodiversidade, pois além de legitimar o pressuposto de que
tais atividades são de fato mais envolventes e motivadoras, auxiliam na aprendizagem dos
conhecimentos científicos à medida que possibilitam uma visão complexa dos fenômenos
naturais.
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Ser um ecótono que permeia a vida marinha e a terrestre é o que caracteriza
essencialmente os ecossistemas de manguezal. Predominantes em regiões tropicais e
subtropicais, esses ecossistemas compreendem 8% da faixa costeira do planeta e um quarto
da linha de costa da zona tropical, totalizando um resultado de 181.077 km2. No continente
asiático, ambientes estuarinos representam desta totalidade 75.173 Km² (KJERFVE;
LACERDA, 1993; SPALDING et al., 1997).
No Brasil, ecossistemas de manguezal predominam desde o extremo norte do país no
Oiapoque até o extremo sul em Santa Catarina, abrangendo aproximadamente 92% de
extensão da costa brasileira, sendo detentor assim, da segunda maior área de manguezal do
planeta, com cerca de 1,38 milhões de hectares (13,800 Km²), equivalente a 50% da área total
de mangues das Américas (MARINS et al., 2003).
Os manguezais podem ser considerados berçários da vida marinha e mantenedor da
biodiversidade, sendo essenciais para a manutenção da qualidade da água, bem como, área de
refugio para espécies marinhas (GRASSO et al., 1995; BENFIELD et al., 2005).
A flora presente em ecossistemas de manguezal tem grande ênfase pela variedade de
populações que o habitam. Entretanto, em contrapartida do que ocorre com espécies vegetais,
grande parte das espécies presentes nos mangues permeia entre ecossistemas costeiros. Logo,
o que classifica uma espécie como característica de ecossistemas de manguezal é a
predominância dessas espécies no ambiente (SCHAEFFER-NOVELLI, 2001).
Pesquisas e observações do ecossistema de manguezal por estudantes de graduação
em Ciências Biológicas, por intermédio de estudos de campo, representam grande relevância
no entendimento da biodiversidade. Compreender a existência de ambientes estuarinos por
meio do trabalho de campo de forma a agregar saberes prévios oportunizados pelas Ciências
Biológicas, caracteriza uma aprendizagem significativa acerca das interações ecológicas entre
os meios físicos e bióticos. Assim, possibilitará a construção de novos saberes no que tange a
conservação dos ecossistemas naturais, bem como auxiliará na percepção de um ambiente
preservado, de modo que os estudantes adquiram conhecimentos sobre paisagens naturais,
comunidades e espécies presentes (GEVERTZ et al., 1995).
Objetivos
O objetivo do presente trabalho foi promover o estudo de diferentes aspectos
ecológicos em um ecossistema de manguezal, visando, por meio de uma abordagem
transdisciplinar, a compreensão da realidade de forma mais ampla e complexa, bem como a
participação do aluno no processo de construção do conhecimento.
Material e métodos
Os diferentes aspectos ecológicos foram avaliados no Canal de Bertioga e na foz do
Rio Itapanhaú, localizados no município de Bertioga, litoral norte do Estado de São Paulo,
pertencente à Região Metropolitana da Baixada Santista, (Figura 01).
O trajeto da atividade tem início no Canal de Bertioga, passando pelo Forte São João,
Ermida Santo Antônio do Guaibê, no município vizinho de Guarujá, Rio Itapanhaú, Forte São
Tiago, Armação das Baleias e o Costão Rochoso do Rabo do Dragão (Figura 02). A
embarcação é uma chalana com capacidade para transportar 40 pessoas, que está à disposição
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para percorrer trechos do Rio Itapanhaú e Canal de Bertioga para estudos práticos. Como a
referida rota já é utilizada pelo programa desenvolvido no município, o mesmo trajeto foi
proposto, por dispor de uma estrutura plenamente organizada para a realização de pesquisas
de campo. Além disso, os educandos poderão realizar a tematização da prática ao terem
contato com o ecossistema de manguezal, bem como, com a diversidade ecológica presente
no ambiente.
Figura 01: Imagem de satélite do município de Bertioga, SP (limite administrativo em destaque).
Fonte: Google Maps® - data da imagem: 20/06/2016.
Figura 02: Destaque da rota de navegação do barco-escola “Arca do Saber”, tendo como início
do trajeto, o píer próximo ao Forte São João, Bertioga, SP. Fonte: Google Maps® - data da
imagem: 20/06/2016.
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Resultados
Foi realizada uma aula inicial em sala de recursos multimídia para levantamento dos
conhecimentos prévios dos alunos da graduação em Ciências Biológicas. Durante o período
de duas horas, foram discutidas com os estudantes as informações relevantes para o
desenvolvimento da pesquisa de campo, como objetivo da pesquisa, horário e materiais
necessários, e uma preparação antecedente à experiência, como máquina fotográfica e fichas
de campo para preenchimento.
Como finalização da aula inicial, os alunos foram orientados para a elaboração de
uma ficha, contendo os tópicos para anotações durante a aula de campo, conforme consta no
Anexo I.
No segundo momento houve a realização do trabalho de campo, consistida em uma
vivência no barco-escola do projeto “Arca do Saber”, da Prefeitura Municipal de Bertioga
(Figura 03), com duração prevista de 02 horas, conforme percurso ilustrado na Figura 02.
Figura 03: Barco-escola “Arca do Saber”. Fonte: Diretoria de Comunicação do Município,
disponível em: https://www.flickr.com/photos/prefeituradebertioga/ 14237575912/in/album72157644782862704/ Acesso em 13 de julho de 2016.
O Barco Escola é um projeto pioneiro da Prefeitura de Bertioga, que oportuniza
vivências relativas à educação ambiental aos grupos de alunos e professores da rede pública
e particular de ensino do município de Bertioga, dos municípios que compõem a Região
Metropolitana da Baixada Santista e recebe grupos de outros estados e até de outros países
como os participantes da VI Conferência Internacional de Educação Ambiental e
Sustentabilidade, realizada em maio de 2014.
A aula começa com o encontro dos alunos com a equipe de monitores do Barco Escola
no Píer Licurgo Mazzoni. Há uma preparação para a viagem no Canal de Bertioga, explorando
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temas ligados ao meio ambiente, ao ecossistema manguezal e também sobre aspectos
geográficos e históricos do ambiente observado.
Adquirido com recursos do Fundo Estadual de Recursos Hídricos (Fehidro), o barco
escola é um projeto da equipe de Educação Ambiental da Secretaria Municipal de Meio
Ambiente, apoiado pelo Sesc Bertioga, visando proporcionar vivências sobre a importância
das florestas presentes nessas áreas, popularmente denominadas de matas ciliares, para fauna
terrestre e aquática nativas do Município, para a qualidade das águas e para o homem.
Sobre o ecossistema costeiro, os participantes do programa podem conhecer os meios
físicos e biológicos do manguezal, bem como a sua fauna e flora.
A equipe a bordo é composta por pedagogos, biólogos e estagiários de cursos de
Biologia e Oceanografia, e desenvolvem atividades monitoradas com paradas para a
observação do meio ambiente nas proximidades da Foz do Canal de Bertioga.
Em continuidade da sequência didática, foi desenvolvida após a aula de campo, uma
segunda aula em sala de recursos multimídia, onde os estudantes realizaram o tratamento das
informações colhidas em campo por meio da ferramenta Microsoft Excel. Em duplas, os
alunos organizaram os dados levantados por meio de tabelas e gráficos.
Por fim, para a apresentação dos resultados, como também, para a consolidação dos
conhecimentos construídos, fez-se necessário avaliar a aprendizagem dos alunos com relação
aos conteúdos apresentados e resultados aferidos.
Para isso, como proposta de produto final, foi realizado em grupos um estudo
taxonômico das espécies animais e vegetais das variações do ecossistema de manguezal
observados (Mangue Vermelho, Mangue Preto e Mangue Branco). A finalização foi
organizada em uma apresentação multimídia e apresentada em formato de seminário para os
alunos da universidade, onde há a possibilidade de ampliação do trabalho para a produção
gráfica de um dicionário ecológico direcionado ao trabalho pedagógico com os alunos do
ENSINO FUNDAMENTAL I.
Na área do Direito, os alunos desenvolveram um relatório apresentando eventuais
pontos obscuros da legislação, e propuseram adequações, se necessário, para os pontos
observados (Anexo II).
Discussão
O desafio de contribuir com a educação do jovem e do cidadão, em um momento de
mudanças e incertezas e a necessidade de resgatar valores tão importantes condizentes com a
sociedade contemporânea leva o professor a entender que deverá exercer um novo papel, de
acordo com os princípios de ensino-aprendizagem adotados, como saber lidar com os erros,
estimular a aprendizagem, ajudar os alunos a se organizarem, educar através do ensino, entre
outros.
O aluno precisa adquirir habilidades como fazer consultas em livros, entender o que
lê e tomar notas, fazer síntese, interpretar gráficos e dados, realizar experiências e discutir os
resultados obtidos, bem como compreender as relações que existem entre os problemas atuais
e o desenvolvimento científico. Isso só será possível, a partir do momento que o professor
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assumir o seu papel de mediador do processo ensino-aprendizagem, favorecendo a postura
reflexiva e investigativa (POGRÉ, 2006). Desta maneira poderá colaborar para a construção
da autonomia de pensamento e de ação, ampliando a possibilidade de participação social e
desenvolvimento mental, capacitando os alunos a exercerem o seu papel de cidadão do
mundo.
A educação é um processo de vida e não uma preparação para a vida futura e a escola
deve representar a vida presente, tão real e vital para o aluno como o que ele vive em casa, no
bairro ou no pátio (ALVAREZ LEITE, 1996 apud DEWEY, 1916). Mais de um século se
passou e essa afirmação continua ainda atual. A discussão da função social da escola, do
significado das experiências escolares para os que dela participam foi e continua a ser um dos
assuntos mais polêmicos entre os educadores. As mudanças no contexto mundial, com a
globalização econômica e a informatização dos meios de comunicação, têm trazido uma série
de reflexões sobre o papel da escola dentro deste novo cenário.
É nesse contexto que a discussão sobre Pedagogia de Projetos, hoje, se coloca como
premente necessidade de se mostrar como um novo paradigma dentro do espaço escolar, com
seus tempos, rituais, rotinas e processos, de modo que ele possa, efetivamente, estar voltado
para a formação de sujeitos ativos, reflexivo, cidadãos atuantes e participativos. A Pedagogia
de Projetos visa à mudança desse espaço escolar, transformando-o em um espaço vivo de
interações, aberto ao real e às suas múltiplas dimensões. Aprender deixa de ser um simples
ato de memorização e ensinar não significa mais repassar conteúdos prontos. Nessa postura,
todo conhecimento é construído em estreita relação com o contexto em que é utilizado, sendo,
por isso mesmo, impossível separar os aspectos cognitivos, emocionais e sociais presentes
nesse processo.
O aluno está envolvido em uma experiência educativa em que o processo de
construção de conhecimento está integrado às práticas vividas. Esse aluno deixa de ser apenas
um aprendiz do conteúdo de uma área de conhecimento qualquer, mas sim uma pessoa que
está desenvolvendo uma atividade complexa e que nesse processo está se apropriando, ao
mesmo tempo, de um determinado objeto de conhecimento cultural e se formando como
sujeito cultural.
Para facilitar uma aprendizagem é preciso que as condições sejam adequadas para o
aluno, pois os bons resultados de aprendizagem só serão possíveis à medida que o professor
proporcionar um ambiente de trabalho que estimule o aluno a criar, comparar, discutir, rever,
perguntar e ampliar ideias.
A vivência oportunizada aos alunos da graduação em Ciências Biológicas, por meio
da pesquisa de campo, possibilitou uma aprendizagem significativa, no que tange à Ecologia
e ao ecossistema de manguezal.
Além disso, a proposta de metodologia de campo vivenciada no barco-escola “Arca
do Saber” proporcionou aos estudantes, a construção de conhecimentos de forma
transdisciplinar, sobre o ecossistema estuarino, aspectos históricos, geográficos e ecológicos.
Com a elaboração da ficha de campo, os alunos da graduação tiveram contato com a
metodologia do trabalho científico. Além disso, fizeram uso de ferramentas estatísticas para
análise dos dados e tratamento das informações de forma prática e significativa.
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Na área do Direito, os alunos com a atividade proposta, correlacionaram os ambientes
pesquisados aos dispositivos legais e administrativos existentes, bem como, verificaram se os
conteúdos expostos atendiam as necessidades ecológicas da região investigada.
Perceberam que pequenas diferenças textuais podem alterar um conceito legal, a
exemplo dos significados de mangue e manguezal. Outro fator considerado é que a lei, sempre
com força maior que uma resolução, analisa um objeto de acordo com a redação dada, como
por exemplo, o inciso XIII do artigo 3º e o inciso VII do artigo 4º do novo Código Florestal,
que preceitua que o manguezal, enquanto ecossistema, só será considerado como “área de
preservação permanente” se todos os elementos caracterizadores (terrenos baixos sujeitos à
ação das marés, formado por vasas lodosas recentes ou arenosas; de solo limoso, com
influência flúvio-marinha; coberto predominantemente por vegetação natural conhecida como
mangue) estiverem presentes. Na falta de qualquer dos elementos, a área não será considerada
de proteção.
Conclusão
A proposta de metodologia de pesquisa de campo aqui apresentada, proporcionou aos
alunos a construção real do conhecimento, por meio de uma vivência significativa, onde os
alunos realizaram um levantamento prévio de seus conhecimentos, fizeram inferências com o
objeto de estudo e consolidaram novas aprendizagens. Além disso, a metodologia proposta
proporcionou aos alunos o contato com procedimentos de trabalho científico, tornando-se um
diferencial no que tange à formação de alunos pesquisadores.
A sequência didática considerada neste trabalho, fez com que os educandos
estabelecessem um contato direto com o ambiente natural e sua dinâmica ecológica, servindo
como referencial para novos estudos acerca da biodiversidade, contribuindo dessa forma, para
a sustentabilidade e conservação dos ecossistemas.
As questões foram desenvolvidas a fim de salientar a importância da colaboração
entre legisladores e profissionais das áreas de Ciências Biológicas quando da criação de
normas regulamentadoras, posto que após a realização da atividade, perceberam que as
iniciativas administrativas, apesar de bem intencionadas, muitas vezes são feitas à revelia das
legislações existentes, o que acabam por resultar em vício documental que na verdade, pode
invalidar qualquer defesa por parte daqueles que pretendem defender seu ponto de vista, no
caso em tela, o manguezal.
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ANEXO I
Universidade Santa Cecilia- UNISANTA
Mestrado em Ecologia- Programa de Pós- Graduação em Sustentabilidade de Ecossistemas
Costeiros e Marinhos.
Ficha de campo – Caracterização do Manguezal
Descrição do Ambiente
Localização:
Data da coleta: ____/___/___
Hora da coleta: ________
Tempo (situação do dia):
Modo de coleta (coletor):
Parâmetros
Características do solo
( ) lodoso
( ) solo firme
( ) arenoso
( ) solo alagado
Outras características:
Características da vegetação
Raízes aéreas ( ) sim
( ) não
Outras características:
Pneumatóforos ( ) sim
( ) não
Outras características:
Impacto antrópico (lixo, oleosidade da água, sim ( ) não ( )
entre outros)
Outras características:
Tipo de mangue
( ) Rhizophora mangle – mangue vermelho
( ) Laguncularia racemosa – mangue branco
( ) Avicennia schueriana – mangue preto
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J. Cabral; S. Cabral; E. Ribas; G. Bassan; P. Nogueira; P. Ribas; U. Souza
Universidade Santa Cecilia- UNISANTA
Mestrado em Ecologia- Programa de Pós- Graduação em Sustentabilidade de Ecossistemas
Costeiros e Marinhos.
Ficha de campo – Inventário de Avifauna
Descrição do Ambiente
Localização:
Data da coleta: ____/___/___
Hora da coleta: ________
Tempo (situação do dia):
Modo de coleta (coletor):
Ponto de observação com binóculos (7x25mm/ 8x40mm) e uso de vocalização com playback.
Espécies
Quantidade
Realizadas as observações as espécies de aves observadas deverão ser classificadas de acordo
com suas categorias alimentares. De acordo com Motta-Jr (1990), Sick (1997), Lyra – Neves
(2004) e Telino – Jr (2005).
UNISANTA Humanitas – p. 186 – 198; Vol. 5 nº 2, (2016)
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J. Cabral; S. Cabral; E. Ribas; G. Bassan; P. Nogueira; P. Ribas; U. Souza
ANEXO II
Universidade Santa Cecilia- UNISANTA
Mestrado em Ecologia- Programa de Pós- Graduação em Sustentabilidade de Ecossistemas
Costeiros e Marinhos.
Relatório de campo – Estudo dos dispositivos legais
Descrição do Ambiente
Localização:
Data da visita: ____/___/___
Horário: ________
Questões norteadoras
1) Restinga e mangue são ecossistemas sinônimos?
2) Qual a definição jurídica do manguezal pela Lei n° 12651/12 e pelas Resoluções CONAMA
ns° 10/93, 261/99?
3) Sobre a natureza da Resolução Conama 303/02, é possível afirmar sua constitucionalidade?
Por que?
4) Do ponto de vista legal, quais as diferenças entre mangue e manguezal. Ambos são
considerados áreas de proteção permanente?
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