A sociologia em Marx: o conceito de divisão do trabalho Ugo Urbano Rivetti Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, USP, SP 1. Objetivos Pretendíamos com a presente pesquisa examinar a análise da divisão do trabalho empreendida por Karl Marx em duas obras seminais e representativas de períodos bastante distintos de sua trajetória intelectual: A Ideologia Alemã (1845/46) e O Capital (1867). 2. Métodos/Procedimentos A bibliografia utilizada reuniu, além d’A Ideologia Alemã e d’O Capital, outras obras do próprio Marx e de comentadores (indicadas na Bibliografia). Como procuramos adotar um enfoque sociológico, no sentido de que tomamos o pressuposto de que a divisão do trabalho é entendida por Marx enquanto um fenômeno social, privilegiamos textos que compartilhassem o mesmo enfoque, além de orientarmos nossa análise no mesmo sentido, isto é, procurando entender a análise da divisão do trabalho como uma das partes que compõem o processo de elaboração de uma teoria social ao longo da obra de Marx. 3. Resultados A análise do fenômeno da divisão do trabalho se insere em projetos teóricos distintos. N’A Ideologia Alemã, o projeto de Marx possui duas dimensões. Por um lado, consiste em realizar um “acerto de contas” com a filosofia hegeliana e com seus herdeiros, o que explicaria a ênfase de Marx na modalidade da divisão do trabalho que cinde atividade material e intelectual, viabilizando a aparente autonomização das formas de consciência em relação a suas bases materiais (crítica da ideologia); por outro lado, consiste em elaborar uma teoria da história capaz de compreender o movimento histórico em sua totalidade, o que explicaria o fato de a divisão do trabalho ser apresentada como o fenômeno histórico-social que permite apresentar a “sucessão das gerações” e dos diversos estágios de desenvolvimento das forças produtivas ao longo da história. Já o projeto teórico no qual O Capital se insere consiste em uma crítica da Economia Política burguesa e do próprio capitalismo (crítica do fetichismo). Isso explicaria porque Marx restringe sua análise a duas modalidades propriamente capitalistas de divisão do trabalho: a divisão social que separa os produtores individuais de mercadorias e a divisão manufatureira que desmembra o processo de produção em etapas distintas e às quais são associados grupos determinados de trabalhadores. 4. Conclusões Apesar dessas diferenças, é possível identificar como um elemento de continuidade entre as análises empreendidas por Marx nas duas obras, o reconhecimento da historicidade das relações sociais. Na desconsideração desse caráter das relações sociais residia um traço comum entre os Jovens Hegelianos e os economistas burgueses, os primeiros considerando apenas o desenvolvimento das ideias e os últimos tomando as relações sociais predominantes no capitalismo como universais. Em oposição a essas duas tradições que Marx assume o reconhecimento desse caráter histórico como uma de suas principais preocupações. 5. Referências bibliográficas [1] BALIBAR, Étienne. A filosofia de Marx. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995. [2] GIDDENS, Anthony. Capitalismo e moderna teoria social. Barcarena: Editorial Presença, 2005. [3] BUEY, Francisco Fernández. Marx (sem ismos). Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2009.