Revista Científica da UNESC ± Ano 8 ± nº 11 ± Outubro 2010 Comitê Editorial Diretor Prof. Ismael Cury Vice-diretor Prof. Antônio Carlos do Nascimento Coordenação de Administração e Planejamento Fhariz Gibran Cury Rodrigo Muniz do Nascimento Coordenação de Graduação Profª Natividade Dias G. Cury Conselho Editorial Prof. Ms. Romulo Giacome de Oliveira Fernandes (Editor chefe) Mestre em Letras - UNESP/SP Professor das Faculdades Integradas de Cacoal ± UNESC Prof. Bernardo Schmidt Penna Mestre em Direito ± Universidade Vale do Rio Verde Professor das Faculdades Integradas de Cacoal ± UNESC Prof. Bruno Borine Mestre em Psicologia ± Universidade São Francisco Professor das Faculdades Integradas de Cacoal ± UNESC Prof. Ricardo Alexandre Aneas Botta Mestre em Educação Especial ± UFSCAR/ SP Professor das Faculdades Integradas de Cacoal ± UNESC Prof. Abraão Roberto Fonseca Mestre em Psicologia ± UFPA/PA Professor das Faculdades Integradas de Cacoal ± UNESC Sumário Agricultura e desenvolvimento econômico no Brasil: uma análise a partir da década de 1960 Reili Amon-Há; Analise Sensorial do Caffè Espresso I taliano produzido com grãos Brasileiro. Fernanda Rosan Fortunato Seixa, Luigi Odello; Análise da Precipitação anual da Cidade de Cabaceiras ± PB. Janduir Silva Freitas Filho, Jancerlan Gomes Rocha, Aécio Germano de Oliveira; M arketing Ambiental: das organizações à sustentabilidade. Natália Sanchez Molina, Tiago Balieiro Cetrulo, Tadeu Fabrício Malheiros; A gramática normativa aplicada nas provas do ENEM 2008 e 2009. Valdenice Oliveira Mendes, Rômulo Giácome de Oliveira Fernandes; Leitura e linguagem na aquisição e domínio do conhecimento científico. Antônio Carlos da Silva Costa de Souza; Agricultura e desenvolvimento econômico no Brasil: uma análise a partir da década de 1960 Reili Amon-Há Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Economia (PPGECO) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte RESUMO O trabalho tem como objetivo apresentar de forma sistêmica à evolução da agricultura brasileira, a partir dos anos 1960 até os anos 2000, e sua relação com o desenvolvimento econômico. Se concentrando na trajetória da atividade agrícola, a importância da agricultura no PIB brasileiro e, por fim, o cumprimento das funções no processo de desenvolvimento econômico. Para tanto se fez uma análise do papel da agricultura no desenvolvimento econômico tendo como base os estudos de Lewis (1969), Schultz (1965), Paiva (1968 e 1971) e Johnston e Mellor (1961). Traz-se em destaque alguns indicadores censitários sobre a agricultura brasileira, as taxas de crescimento da área colhida e da produtividade das culturas para o mercado interno e externo, e por fim, o volume de migração rural-urbano no Brasil. PALAVRAS-CHAVES: Agricultura; Desenvolvimento econômico, Funções da agricultura. Agriculture and economic development in Brazil: 60’s analysis ABSTRACT The work aims to present a systematic way the evolution of Brazilian agriculture, from the 60s’ through the 2000s, and its relationship to economic development. Focusing on the history of agriculture, the importance of agriculture in the Brazilian GDP and, finally, the duties in the process of economic development. For that we made an analysis of the role of agriculture in economic development based on the studies of Lewis (1969), Schultz (1965), Paiva (1968 and 1971) and Johnston and Mellor (1961). It brings into focus some indicators on the Brazilian agriculture census, the growth rates of harvested area and productivity of crops for domestic and foreign markets, and finally, the volume of ruralurban migration in Brazil. KEY WORDS: Agriculture; Economic development; Agriculture’s function. 1 1. INTRODUÇÃO A economia brasileira durante o século XX sofreu grandes transformações que culminaram na mudança da sua base econômica, alicerçada no modelo agrário-exportador e dependente da demanda externa para uma economia industrializada, via a substituição de importações. Podem-se marcar os anos 1930 como o período de ascensão das classes urbano-industrial, ao ganhar espaço no cenário político industrial viram suas teses de desenvolvimento ser concretizadas por políticas econômicas que dinamizaram o crescimento industrial. Tem-se a década de 1950 como o marco da superação do setor industrial com relação ao setor agrícola, resultado este dos vários planos de incentivo a formação do parque industrial produtor de bens de consumo duráveis e de bens de capital. Concomitantemente a esse fenômeno de desenvolvimento econômico iniciado na década de 1950, surgem diversos teóricos interessados em elucidar as relações entre a agricultura e o desenvolvimento em países que tinham se inserido no processo de industrialização tardia. Em especial podemos apontar o trabalho de Arthur Lewis (1969) sobre o desenvolvimento econômico com oferta ilimitada de mão-de-obra. Tendo como síntese uma economia dividida em dois setores: um tradicional e atrasado (preponderantemente, mas não exclusivamente o setor agrícola); e outro, moderno e dinâmico (podendo ser visto como o urbano-industrial), onde aquele primeiro, que à grosso modo, possui uma oferta de mão-de-obra excedente que poderia ser transferida para o setor industrial sem afetar a produção do setor agrícola. No transpor da década de 1960 as teses que consideravam a produtividade marginal da força de trabalho agrícola tendendo a zero, como as que viam como ineficiente a alocação dos recursos por parte dos pequenos produtores foram alvo de muitas críticas. Pode-se destacar o trabalho de Theodore Schultz (1965) que ficou conhecido como “modelo de insumo moderno”, onde via que a pobreza nas regiões agrícolas não era uma consequência 2 da ineficiência da distribuição de fatores, pois para o autor os produtores rurais eram pobres, mas eficientes, o problema que é não se utilizam de técnicas modernas ou porque elas não eram economicamente rentáveis, ou porque não eram adaptáveis às condições de solo e/ou cultura de suas regiões. (GARCIA, 1990) Em contraposição surgem os trabalhos que tinham como finalidade trazer propostas complementares para mensuração do grau de absorção do progresso técnico pelos camponeses, ou de certa forma, as desigualdades no emprego da tecnologia moderna. No final dos anos 1960 temos como base o trabalho de Paiva (1968:71) que procurou esclarecer os diferentes determinantes de endogenização do progresso técnico na agricultura brasileira, bem como, os limites estabelecidos à expansão dessa tecnologia. Neste período é quando se processa o aprofundamento das relações técnicas da agricultura com a indústria e de ambos com o setor externo. Este processo de modernização agrícola e de integração com a indústria pode ser caracterizado por dois fatores: i) pela alteração na base técnica dos elementos de produção utilizados pelo setor agrícola, pautados na crescente oferta de insumos industriais (fertilizantes, corretivos de solo, sementes melhoradas geneticamente e etc.), e de maquinários (tratores, equipamentos de irrigação, colhedeiras e etc.); ii) da integração da produção primária de alimentos e matérias-primas com os vários ramos da indústria (indústria da cana e álcool, papel e celulose, fumo, oleaginosos e etc.). Estes elementos coagiram para formação de blocos de capital que constituíram a chamada estratégia do agronegócio, que crescentemente dominou a política agrícola do Brasil. (DELGADO, 2005) A formação desses complexos agroindustriais (CAIs) nos anos 70 para Kageyama (1990) se deram pela ligação intersetorial de três elementos: as indústrias que começaram a produzir para agricultura, a agricultura (moderna) stricto sensu e as agroindústrias processadoras, pautadas em fortes incentivos fiscais e creditícios (fundos de financiamento, 3 programas de apoio a certas culturas, crédito para aquisição de terras e equipamentos, máquinas e insumos modernos, etc.). Neste sentido, o objetivo deste artigo passa ser de apresentar de forma sistêmica à evolução da agricultura brasileira, a partir dos anos 1960 até os anos 2000, e sua relação com o desenvolvimento econômico. Dado o nível de abrangência proposto no artigo a análise se concentrará nos seguintes aspectos: a trajetória da atividade agrícola, a importância da agropecuária1 no PIB brasileiro e, por fim, o cumprimento das funções no processo de desenvolvimento econômico. A análise do período foi posta baseada no que nos aponta Graziano da Silva (1993) que data a “industrialização da agricultura” a partir dos anos pós-65, onde pode ser observado um salto qualitativo e quantitativo no processo de transformação da sua base técnica. Além desta introdução, o trabalho encontra-se dividido em 4 seções. Sendo a segundo pautada no debate do papel da agricultura no desenvolvimento econômico, além das questões de modernização da agricultura e o seu processo de inserção no meio rural. Na terceira seção encontra-se a análise da trajetória da agricultura no Brasil entre os períodos de 1946 a 1964, 1965 a 1986 e 1987 a 2002. Por fim, a guisa de conclusão seguida das referências bibliográficas utilizadas no estudo. 2. OS DEBATES DO PAPEL DA AGRICULTURA NO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Como exposto anteriormente, no trabalho formulado por Lewis (1969) a questão chave a ser respondida é como dar-se-á a evolução dessa economia dual, quais os aspectos de conexão entre ambos setores e quais as limitações que esta dualidade estabelece ao 1 O termo agricultura e agropecuária serão usados como sinônimos neste trabalho, definição esta apresentada por Bacha (2004, p. 14). 4 processo de desenvolvimento econômico. Para o autor a dinâmica do crescimento econômico consiste da reinserção dos lucros acumulados no setor urbano-industrial.Tendo como principal fonte do progresso econômico a acumulação do capital, que depende do nível de poupança da economia oriundo da acumulação dos capitalistas. Numa situação de economia em processo de desenvolvimento, com oferta de mão-de-obra ilimitada e não qualificada, a produtividade marginal da força de trabalho é tendente a zero, e sendo assim, o preço do trabalho corresponde ao patamar de subsistência. Pode-se ver isso no seguinte trecho: “(...) o salário de subsistência pode ser determinado por uma convenção sobre o mínimo necessário para subsistir ou pode ser igual ao produto médio per capita na agricultura de subsistência mais uma certa margem”. Essa margem, cerca de 30%, ocorre em virtude de que, nos centros urbanos, o salário incorpora gastos adicionais, como aluguéis e transporte, e também porque os trabalhadores da cidade adquirem “(...) gostos e prestígio social que têm que ser endossados por salários reais mais elevados” (1969, p. 416 e segs. apud Garcia, 1990). Em estágio de estagnação ou atraso, inicialmente a economia inicia um processo de progresso de acordo com o que os capitalistas reinvestem seus lucros, computando concomitantemente com uma grande oferta de mão-de-obra, disposta a trocarem seus serviços por um salário muito reduzido. Dadas tais condições, o excedente crescerá de forma contínua, e a cada período o nível de investimento será uma proporção cada vez maior da renda. Mas este processo iria se cessando até quando se pudesse disponibilizar mão-de-obra e alimentos a preços reduzidos. O limite desse processo consistiria até quando o setor agrícola exaurisse sua capacidade de manter estáveis os salários e os preços dos alimentos e matérias-primas. Neste caso, havendo uma compressão das taxas de lucros, dado uma redução da capacidade de investimento, o processo de acumulação do capital seria afetado, tendendo novamente ao estado de estagnação. 5 Uma complementação do pensamento de Lewis foi trazida por Ranis & Frei (1961), ao proporem alternativas no sentido de deter a tendência à estagnação econômica. Os autores apontaram que com o esgotamento do excedente de mão-de-obra que recebe salários de subsistência e com a ascendência da produtividade marginal do trabalho, existe umapressãopara queda na taxa de lucros no setor urbano-industrial, tanto pelo aumento do preço da força de trabalho ou pela modificação da relação de troca, a qual passaria a ser danosa ao setor agrícola, devido ao aumento dos preços relativos das matérias-primas e dos produtos alimentares. Sendo assim, para Ranis & Frei deveria existir um reordenamento dos investimentos na direção de favorecer também a agricultura, de tal forma que esta possa ter um aumento de sua capacidade de produção provendo alimentos em conformidade com a demanda dos centros urbanos. Como consequência teria uma liberação de novos excedentes de mão-deobra, que poderiam ser incorporados pela indústria. De acordo com os autores cabe ao Estado o papel de agenciar uma política de desenvolvimento que objetivasse o crescimento integrado dos diferentes setores econômicos. Além do processo de liberação de mão-de-obra da agricultura para indústria um outro problema que surge é como transformar a agricultura tradicional, pouco produtiva, em um setor da economia altamente produtivo. Para Schultz (1965) esta transformação depende prioritariamente dos investimentos feitos na agricultura, mas não somente no sentido de obtenção de capital, e sim, de forma que deve tomar esse investimento, formas que o tornarão lucrativo investir na agricultura. Neste sentido, o sucesso desse projeto de desenvolvimento da agricultura estaria intimamente ligado nos investimentos de “capital humano”. Faz-se necessário educar, instruir o contingente agrícola para que se tivessem condições de produzir novos 6 conhecimentos e capacidade de disseminá-los entre os produtores rurais. Nas palavras do autor: “(...) os fornecedores dos fatores agrícolas modernos são, entre outros, os pesquisadores que trabalham em estações agrícolas experimentais. Sua contribuição a esse respeito é de importância crítica. Os agricultores, em seu papel de consumidores dos novos fatores, aceitam-nos quando são verdadeiramente lucrativos. Mas, tipicamente, os agricultores tradicionais não os procuram. No final, muito depende de que os agricultores aprendam a usar efetivamente os fatores agrícolas modernos. Nesse ponto, um crescimento rápido e ininterrupto depende grandemente de determinados investimentos no pessoal do campo, relacionados com as novas habilitações e o novo conhecimento que este deve adquirir, para obter sucesso no jogo do crescimento proveniente da agricultura” (Schultz, 1965, p. 179-80) O investimento em pessoal agrícola é advindo de duas condições, ou seja, a de que as capacitações adquiridas pelo pessoal do campo são de suma importância para modernização da agricultura, e a de que essas capacitações, como bens de capital, são meios de produção produzidos. Para o autor, quanto da produtividade marginal do trabalho na agricultura ser zero é afirmar de forma inequívoca, pois: “(...) a conclusão relativa à doutrina de que uma parte da mão-de-obra empregada na agricultura nos países pobres tem uma produtividade marginal igual a zero é que esta é uma doutrina falsa. Suas raízes tornaram-na suspeita. Baseia-se em suposições teóricas não muito consistentes (Schultz, 1965, p.77). Por que a tese do agricultor utilizar uma tecnologia tradicional ser sinônimo de ineficiência na alocação de fatores é inequívoca, pois o emprego de tais instrumentos estão fortemente relacionados com a escassez relativa dos fatores, sendo assim, o estudo deveria 7 ser canalizado sobre o desenvolvimento de técnicas modernas passíveis de serem empregadas pelos produtores rurais. Em síntese, Abramovay (1999, p. 85) aponta os cincos elementos chave na teoria de Schultz: i) Não existe um conceito de camponês como categoria econômica provida de uma lógica de conduta diferente de outros segmentos produtivos da sociedade. É exatamente com base nesta premissa que Schultz aponta para a racionalidade da agricultura tradicional; ii) Entre a agricultura tradicional e a moderna, a dicotomia é completa, não por qualquer tipo de racionalidade própria a cada uma – já que suas motivações econômicas são idênticas – mas porque não há evolução lenta e gradual que leva uma à outra: se depender da própria agricultura, se não houver intervenção estimuladora do Estado, a agricultura tradicional é incapaz de sair do marasmo secular que a caracteriza. iii) Não se pode aprimorar ou melhorar a agricultura tradicional com base nos fatores que ela costumeiramente emprega. O que caracteriza os países pobres não é a má utilização dos fatores existentes, mas sim a sua baixa produtividade. iv) Do ponto de vista social, os resultados da aplicação das teorias de Schultz a países do Terceiro Mundo podem ser extremamente perversos. v) Cabe ao Estado tomar a iniciativa de implantar centros de experimentação e de difusão que permitam aos agricultores o acesso às modernas tecnologias. De acordo com Hayami & Ruttan (1971) existem tecnologia poupadores do fator terra (leia-se as químico-biológicas) e as poupadores do fator mão-de-obra (leiam-se tecnologias mecânicas). Com isso, o mercado opera no equilíbrio do sistema de preço de acordo com a 8 oferta e a demanda dos diversos bens, serviços e fatores de produção. Com isso, os agricultores escolheram as inovações tecnológicas que minimizem seus custos de produção e lhes tragam vantagens econômicas. Este modelo ficou conhecido como o da “inovação induzida”, porque além da racionalidade dos agricultores, são necessários centros de pesquisas e desenvolvimento, tanto público quanto privado, para geração de inovações tecnológicas. Mediante a situação, a absorção do progresso técnico na agricultura é que entra em debate. Segundo Paiva (1968:71), a agricultura dispõe-se de uma multiplicidade de padrões tecnológicos, mas: “O exame do processo de modernização da agricultura deve ser iniciado pela análise, em separado, das fases referentes à ‘adoção’ e à ‘expansão’ de técnicas modernas pelos agricultores. Estamos, assim, distinguindo a adoção e a expansão (entre o maior número de agricultores) de novas técnicas, como processos distintos. A ‘adoção’ que se constitui num problema de carácter microeconômico diz respeito a um processo decisório da alçada direta dos agricultores que julgam – com base principalmente nas perspectivas de uma vantagem econômica – se devem substituir suas técnicas. Ao contrário, a ‘expansão’ de novas técnicas constitui-se num processo mais complexo, pois considera-se os aspecto dinâmico do processo de adoção de técnicas modernas. Sob esse ângulo, levam-se em conta os reflexos sobre a adoção das mudanças que ocorrem nas condições econômicas à medida que essa adoção de técnicas modernas se expande por um maior número de agricultores. Tem-se, assim, o problema de modernização da agricultura considerado de um ponto de vista macroeconômico” (Paiva, 1971, p. 183-4). No que se refere à adoção das técnicas modernas, na questão microeconômica, pode-se entender que depende dos preços relativos dos fatores e dos produtos, pois como antes 9 argumentado, o agricultor só irá se utilizar de certa tecnologia se a relação custo/benefício da tecnologia for vantajosa com relação à técnica tradicional. Para o autor existem também fatores subjetivos, além desses mencionados. Nestes fatores estariam inclusos questões de “dificuldades” e “sacrifícios” para o processo de modernização. Por exemplo, as dificuldades estariam ligadas as regularidades no suprimento dos fatores modernos de produção, de recursos de materiais suficientes, de mão-de-obra responsável e eficiente e conhecimentos técnicos. As questões de natureza de sacrifício estariam ligadas quanto o agricultor resiste em modificar seus hábitos e costumes para empregar novas técnicas. Como aponta Garcia (1990) o custo subjetivo depende de cada agricultor, então a tecnologia só seria internalizada quando a relação benefício/custo superasse todos os custos, inclusive os subjetivos. Como o custo subjetivo não é igual a todos os agricultores, a disseminação da tecnologia não se daria de forma homogênea. Ainda sobre a multiplicidade dos padrões tecnológicos, destacamos que Paiva (1971) aborda as questões à nível macroeconômico, explanando que a expansão da tecnologia moderna depende essencialmente do setor não-agrícola e de um mecanismo de autocontrole. Ao chegar nesse processo de mudança estrutural, a própria agricultura se torna responsável pelo aprofundamento do diferencial entre as produtividades agrícolas e industriais. Ou seja, a modernização industrial estaria intimamente correlacionada com a contribuição da agricultura no processo de desenvolvimento econômico. Para Johnston & Mellor (1961) esse encadeamento da agricultura sobre os outros setores da economia é oriundo das suas cinco funções básicas 1. Liberar mão-de-obra para ser empregada na indústria e evitar a elevação dos salários pagos, a fim de não comprimir a taxa de lucro e garantir a acumulação contínua de capital; 10 2. Fornecer alimentos e matérias-primas para o setor urbano-industrial, dado a crescente demanda advinda do processo de desenvolvimento e da intensificação da urbanização. 3. Gerar divisas externas via exportação de produtos agrícolas (em especial commodities), para financiar o desenvolvimento, adquirir importações. 4. Transferir poupanças para inversões na indústria e para a implementação da infraestrutura econômica e social; 5. Gerar mercados para bens industriais, complementando os mercados urbanos. 3. TRAJETÓRIA DA AGRICULTURA NO BRASIL Nesta seção é apresentada a evolução da agricultura brasileira após a década de 1960. Sua relação com o PIB brasileiro e agropecuário, sua evolução e sua importância no cumprimento das funções agrícolas propostos anteriormente no final da seção 2. 3.1. A agricultura brasileira entre os anos de 1946 a 1964 Este período da economia brasileira se caracteriza pelo processo de industrialização como lucros para o desenvolvimento. Estes anos foram marcados pelo incentivo a indústria pelo modelo de substituição na importação, pelo plano de metas implementado no governo JK. Os planos desse período contribuíram para criação de uma infraestrutura econômica necessário de suportar o crescimento econômico. De acordo com Bacha (2004, p. 143) este período foi marcado por medidas que de certa forma dificultaram a agropecuária brasileira, a política cambial em especial. Alguns aspectos podem ser destacados: i) o mercado de câmbio teve fortes flutuações tornando 11 instáveis as receitas, em moeda nacional, dos produtos exportados (em especial os agrícolas); ii) a taxa de câmbio real sofreu fortes desvalorizações; iii) além das desvalorizações, as exportações agrícolas(em especial o café) que foram limitados com quotas de contribuição. No período de 1946 a 1964, insuficientes políticas foram adotadas em prol do crescimento da agricultura. Destaca-se a ampliação da malha rodoviária, que de certa forma permitiu a expansão da fronteira agrícola; e a criação, no final da década de 1940, das associações2 de crédito e assistência técnica (Acar) e de companhias agrícolas propendendo à venda de insumos e equipamentos agropecuários. Estes últimos permitiam com que a agricultura torna-se um mercado para os produtos industriais. Tabela 1 – Indicadores censitários sobre a agropecuária brasileira. Indicadores Nº. de estabelecimentos Área total (mil ha) Nº. de pessoas ocupadas Área com lavouras temporárias (ha) Área de lavouras permanentes (ha) Efetivos de bovinos Efetivos de suínos Efetivos de aves Números de tratores Relação consumo de fertilizantesB/ área com lavouras (kg/ha) Relação área total das propriedades/ número de tratores (mil hectares por trator) 2 1940 1950 1960 1970 1980 1985 1995/1996A 1.904.589 2.064.642 3.337.769 4.924.019 5.159.851 5.801.809 4.859.865 197.720 232.211 249.862 294.145 364.854 374.925 353.611 11.343.415 10.996.834 15.633.985 17.582.089 21.163.735 23.394.919 17.930.890 12.873.660 14.692.631 20.914.721 25.999.728 38.632.128 42.244.221 34.252.829 5.961.770 4.402.426 7.797.488 7.984.068 10.472.135 9.903.487 7.541.626 34.457.576 44.600.159 56.041.307 78.562.250 118.085.872 128.041.757 153.058.275 16.849.570 22.970.814 25.579.851 31.523.640 32.628.723 30.481.278 27.811.244 62.912.437 77.830.259 136.391.313 218.937.380 421.933.117 446.924.170 735.399.000 3.380 8.372 61.345 165.870 545.205 665.280 803.742 - 3,4 10,6 29,4 85,5 61,3 110,2 58,5 27,7 4,07 1,77 0,67 0,56 0,44 Especialmente por parte dos governos estaduais. 12 Fonte: IBGE (1990) para os dados de 1920 a 1980 e Censos Agropecuários do Brasil 1985 e 1995/1996. Nota: A) os dados de área, pessoal ocupado e tratores se referem a 31-12-1995, e os dados de efetivos de animais se referem a 31-7-1996. B) Somente se computam os pesos dos nutrientes, não somando o peso dos componentes inertes. Esta ampliação da malha rodoviária foi primordial para ocupações de novas fronteiras agrícolas. De acordo com a tabela 1, no período de 1940 a 1960 foi-se adicionado à atividade agrícola cerca de 52 milhões de novos hectares, onde 9,9 milhões de hectares foram de culturas permanentes e temporárias, em especial a cafeicultura, que teve o deslocamento do seu centro dinâmico para o estado do Paraná. Além da cafeicultura, outras culturas apresentaram taxas geométricas de crescimento tanto em área cultivada como em produtividade, como podemos ver na tabela 2. Podem-se destacar as culturas de mandioca, batata-inglesa, algodão e cana-de açúcar. Em contrapartida as culturas de feijão, cacau, soja e trigo tiveram sua produtividade diminuída, já as culturas de arroz, milho e laranja mantiveram estáveis suas produções. Tabela 2 – Taxas geométricas anuais de crescimento da área colhida e da produtividade para culturas específicas (valores em percentagem) 1945 a 1964 1965 a 1986 1987 a 2001 Destino Cultura principal Área Produtividade Área Produtividade Área Produtividade Arroz 0,10 0,46 4,99 1,41 -4,03 3,89 Feijão -0,40 -2,58 3,77 2,43 -2,66 3,99 Mercado Mandioca 0,74 -1,63 2,79 0,83 -1,48 0,50 interno Batata1,14 3,48 3,25 -1,23 -0,01 2,27 inglesa 0,05 1,63 3,60 1,62 -0,66 3,94 Milho Algodão 1,82 1,32 -1,05 1,24 -9,38 7,84 Cacau 4,27 -2,33 1,29 3,53 0,39 -5,12 Café 3,82 4,85 -1,31 1,52 -2,42 3,50 Mercado Cana-de4,41 0,80 4,44 1,75 1,54 0,94 externo açúcar 3,50 0,10 8,30 1,74 1,29 1,72 Laranja 17,92 -3,70 17,83 2,46 2,35 3,28 Soja 5,33 -1,14 6,24 1,81 -7,37 1,14 Trigo Fonte: Dados primários coletados no Anuário Estatístico do Brasil – vários números. Nota: Calculou-se a taxa geométrica de crescimento anual através da fórmula lnY = a + bt, onde Y é a área colhida ou produtividade de cada cultura e t é o tempo. A taxa geométrica anual de crescimento é o antilogaritmo do b. Ao tornar-se a série de área colhida de uma cultura de 1945 a 1964, está, de fato, sendo calculada a taxa de crescimento da área colhida do período de 1946 a 1964. O mesmo vale para os dois outros períodos em consideração. 13 Os dados apresentados sobre o comportamento da produtividade, na tabela 2, mostram que o crescimento da agricultura nesses anos foi significativo e baseado no aumento de fatores de produção (expansão da área cultivada), mas com pouca melhoria tecnológica de acordo com Bacha (2004). Esta afirmação também é corroborada por Goldin & Rezende (1993, p.15-6) ao mostrar que o aumento da área cultivada foi de 72% do crescimento da produção agrícola nos anos de 1950 e de 65% na década de 1960. Neste período houve uma discussão a nível acadêmico, se realmente a agricultura vinha ou não cumprindo com suas funções de abastecedora de alimentos, e de que modo à estrutura fundiária estava impelindo os mecanismos de preços. De um lado, em especial a Cepal3, imprimia uma forte pressão para o processo de reforma agrária como sendo a única solução para inelasticidade da oferta de alimentos, que era oriunda da estrutura agrária latifundiária concentradora, onde a terra era conservada como reserva de valor e não como fator de produção. Por outro lado, existiam autores como Ruy Miller Paiva4 que tinham como tese que a oferta de alimentos era elástica a variações de preços e que a agricultura poderia aumentar a oferta de alimentos se fosse originados políticas de estímulo. Neste período Bacha (2004) listava alguns pontos que podem levar a conclusão de que a agricultura brasileira cumpriu com sua função de geradora de alimentos: (...) a produção per capita de produtos vegetais de consumo doméstico (arroz, batata-inglesa, feijão, mandioca e trigo) foi crescente de 1946 a 1964, passando de 337,6 kg/habitante em 194 para 440,7 kg/ habitante em 1964, respectivamente. A produção per capita de leite também aumentou de 1949 a 1964, passando de 45,6 litros/habitante para 78,4 litros/habitante, respectivamente. A produção per capita de carnes bovina e suína teve flutuações no período em análise, mas com tendências de alta. Essa produção passou de 16,6 kg/habitante em 1945 para 18,9 kg/habitante em 1964. As taxas geométricas anuais de crescimento per capita da produção vegetal, de leite e de carnes foram 0,88%, 3,76% e 0,08%, respectivamente, nos períodos mencionados. (p. 151) Quanto ao fornecimento de mão-de-obra para a expansão industrial, esta foi corroborada como as estimativos de fluxo migratório rural-urbano. Como podemos ver na 3 Pensamento protagonizado no Brasil por Celso Furtado e diagnosticado no Plano Trienal (1963-1965). (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 1962). 4 Paiva (1971). 14 tabela 3, o período de 1950 a 1960 apresentou um fluxo migratório de aproximadamente 11 milhões de pessoas que passaram das áreas rurais para as áreas urbanas, cifra esta que representava quase que 32,6% da população rural existente na época. Sendo assim, pode-se afirmar que a agricultura colaborou para o processo de industrialização provendo mão-deobra, sem limitar a expansão agrícola. Tabela 3 – Volume de migração rural-urbano no Brasil. Período Volume de migrantes (em mil habitantes) Média anual de migrantes (em mil habitantes) 1950/1960 1960/1970 1970/1980 1980/1990 1990/1995 10.824 11.464 14.413 12.135 5.654 1.082 1.146 1.441 1.213 1.131 % do volume de migrantes em relação à população rural existente no início do período 32,6 29,6 35,1 31,5 29,3A Fonte: Camarano e Abramovay (1999, p. 3). Nota: O volume de migração rural-urbano a cada período é calculado pelo “saldo líquido migratório ruralurbano”. Este último é a diferença entre o que seria a população rural esperada ao final de cada período aplicando-se a taxa de crescimento vegetativo e a população rural realmente encontrada, pelo Censo, ao final de cada período. A) Taxa decenalizada para permitir a comparação com as demais. De acordo com a tabela 1, podemos inferir que a agricultura e seu processo, ainda que restrito de modernização criaram mercados para os produtos industriais, especialmente as técnicas química-biológicas (fertilizantes) e os bens de capital (tratores). Além disso, a agricultura transferiu capital para o setor industrial, através da política cambial, o setor industrial pôde adquirir divisas a baixo custo, com perca de rentabilidade para o setor agrícola. 3.2. A agricultura brasileira entre os anos de 1965 a 1986 Este período pode ser caracterizado pelo processo de aceleração da modernização da agricultura brasileira, impulsionados principalmente por políticas cambiais, pela expansão da malha rodoviária que cresceu cerca de 155% e pela instituição do Sistema Nacional de 15 Crédito Rural (SNCR) em 1965 e com volumes crescente durante a década de 1970. Apesar da diminuição do volume no crédito rural até a metade da década seguinte, a partir de 1985 voltou a se elevar sensivelmente. No período de 1970 a 1986 vigoraram continuamente taxas de juros reais negativas no crédito rural. A agricultura entre os anos de 1960 e 1985 criou cerca de 2,5 milhões de novos estabelecimentos agrícolas, adicionando quase 125 milhões de hectares para produção. De acordo com o Censo Agropecuário do Brasil de 1985 e 1995/96, no ano de 1960 existiam 3.337.769 estabelecimentos agropecuários, que ocupavam cerca de 250 mil hectares. Em 1985, já havia 5.801.809 estabelecimentos agropecuários, que ocupavam cerca de 380 mil hectares. Esta expansão foi oriunda da grande ocupação ocorrida na região Centro-Oeste (responsável por 31% do aumento de área total dos estabelecimentos) e Norte (responsável por 31% do acréscimo de área total). Em consonância com a tabela 1 podemos constatar o crescimento das lavouras e da pecuária, em destaque as lavouras temporárias e a criação de aves. No período em análise teve um acréscimo de 21,3 milhões de hectares como lavouras temporárias e 2,1 milhões de hectares como lavouras permanentes. O total de áreas para as lavouras temporárias existentes entre 1985 eram 102% maiores do que as registradas em 1960, já nas lavouras permanentes esta cifra só apresentou crescimento de 27%. Pela Tabela 1 pode-se destacar o forte crescimento da mecanização e do uso de fertilizantes na agricultura. Em 1960 existiam 4,07 mil hectares para cada trator e em 1985, 0,56 mil hectares por trator. O número de tratores cresceu de forma vertiginosa, cerca de 984% entre esse período, passando de 61.345 para 665.280. O uso de fertilizantes também aumentou significativamente passando a ter a relação de 10,6 kg de nutrientes por hectare de lavoura (temporária e permanente) em 1960 para 61,3 kg/ha em 1985, ou seja, 16 crescimento de 478%. Nota-se assim uma proliferação do uso de insumos de carácter modernos na agricultura brasileira. De acordo com a tabela 2, em geral, as culturas tiveram aumento de produtividade neste período, exceto as culturas de feijão e mandioca. Já as culturas voltadas para o mercado externo obtiveram maior crescimento quando comparadas com as do mercado interno, em especial a cultura de soja que teve crescimento da sua área produtiva em torno de 17,83% (35,75% no acumulado), da laranja com 8,30%. Este fenômeno se deve ao fato daquelas culturas terem recebidos a maior parte dos recursos creditícios nos anos em análise. (GOLDIN & REZENDE, 1993) Apesar da expansão física e da modernização da agricultura brasileira entre 1965 e 1986 que proveram crescimento do PIB nesse setor, sua participação no PIB nacional perdeu importância. Em sua trajetória pode-se averiguar que apesar do PIB agrícola em 1986 ser 172% maior do que o de 1965, sua participação no PIB nacional caiu de 15,9% em 1965 para 11,2% em 1986. Este fato pode estar associado à mudança de preços relativos em favor dos produtos industrializados, como ocorreu em 1978 e 1982. Quanto aos cumprimentos das funções da agricultura para o desenvolvimento econômico podemos destacar o pensamento de Bacha (2004, p.168-9): Devido ao estilo de desenvolvimento seguido pelo Brasil a partir de 1965, algumas das funções normalmente atribuída à agropecuária no processo de desenvolvimento deixaram de ser relevantes. Este é o caso de fornecimento de alimentos, transferência de capital e fornecimento de mão-de-obra. Não obstante isso, a agropecuária e as agroindústrias continuaram sendo fonte de geração de divisas, bem como a agropecuária gerou maior mercado consumidor para produtos industriais e foi fonte de matéria-prima para a indústria. No que se refere ao fornecimento de mão-de-obra para a indústria houve elevados volumes de migração do campo para as cidades. Pela tabela 3, pode-se ver que entre a década de 1960/1970 tivemos uma migração de quase 1.15 milhões de pessoas por ano, já no período de 1970/1980 essa migração subiu para 1.44 milhões de pessoas, voltando a 17 decrescer no período de 1980/1990 para 1.21 milhões de pessoas por ano. De acordo com Szmrecsányi (1990), esse volume de imigrantes infelizmente não era necessário para o crescimento da atividade industrial, e em grande parte muito ficaram à margem da economia e, alguns ainda conseguiram se empregar no setor terciário. 3.3. A agricultura brasileira entre os anos de 1987 a 2002 A partir de 1987, políticas macroeconômicas (como a política cambial e a fiscal) impactaram fortemente na redução crescente de estímulo para atividade agrícola no Brasil. Com isso, o crédito rural sofreu duas grandes mudanças: i) a taxa de juros real passou a ser positiva; ii) o volume de crédito rural concedido diminui de forma expressiva, com se comparado ao da década anterior, que também já era bem menor ao concedido na década de 1970. Com isso, os agricultores tiveram que empregar mais recursos próprios ou fornecidos por terceiros. Nessa época o autofinanciamento representou 46% da demanda de recursos dos agricultores em 1991. No ano de 1996, o crédito de custeio oficial para as culturas de laranja, café, algodão, soja, feijão e milho (que chegavam a representar 80% dos custeios) correspondeu a 18% dos custos operacionais. (ARAÚJO, 2000) De acordo com a tabela 1, constata-se uma redução nos estabelecimentos agrícolas brasileiro, cerca de 942 mil estabelecimentos entre os anos de 1985 e 1995, aproximadamente 16%. A área total de produção também se reduziu dos 374,9 milhões de hectares na década de 1980 só 353,6 milhões se mantive no ano 1995. Esta redução implicou perca de 2,4 milhões de hectares em lavouras permanentes e de 8 milhões de hectares em lavouras temporárias. Concomitantemente o número de pessoas empregadas no setor agrícola diminuíram dos 23,4 milhões existentes em 1985 só 17,9 milhões se mantiveram empregados em 1995, ou seja, uma perca de 24%. 18 A produção voltada para o mercado interno, apesar de ter apresentado queda em área teve significativos aumentos na produtividade, destacando-se as culturas de arroz, feijão e milho. Já as culturas voltadas para o mercado externo, como mostra a tabela 2, a cultura do algodão e do trigo tiveram percas significativas em área, 9,38% e 7,37% respectivamente. Apesar da perca em área a cultura do algodão teve ganho em produtividade na escala de 7,84%. Mas em termos de produtividade só a cultura do cacau apresentou queda vertiginosa na sua produção (5,12%). Apesar da queda no número de área total dos estabelecimentos agrícolas e de redução pessoas ocupada, as produções de vegetais e animais cresceram no período. De acordo com Bacha e Rocha (1998:99) a produções vegetais (incluindo 38 culturas) passaram dos 343 milhões de toneladas produzidas em 1986 para 503 milhões de toneladas em 2001, caso se inclua a cana-de-açúcar. Excluindo esta cultura a produção passou de 104 milhões no início do período para 159 milhões respectivamente. Este aumento das produções vegetais e pecuária, em uma conjuntura de redução na área total e com lavouras dos estabelecimentos agropecuários, só se deu por causa do crescimento de produtividade da terra e mão-de-obra. Como pode-se destacar pela tabela 1, em 1986 foram produzidas 343 milhões de toneladas utilizando-se 52 milhões de hectares. Em 2001 esta produção foi de 503 milhões de toneladas com apenas 49,2 milhões de hectares de terra. Ou seja, tivemos um acréscimo de 46,6% na produção física e um decréscimo de 6,3% na área colhida. Este fenômeno só foi possível por causa do aumento da produtividade da terra de 6.527 kg/ha em 1986 para 10.219 kg/ha em 2001. Vale destacar que nesse período a produtividade da terra usada nas lavouras aumentou em 56,6%. Como mencionado anteriormente, este aumento de produtividade se deve ao fato do aumento da mecanização e do maior uso de fertilizantes. A relação área total/número de 19 tratores passou de 0,56 mil ha em 1985 para 0,44 mil ha em 1995/96, ou seja, em 1985 tinha-se 1 trator para cada 560 hectare de área, e em 1995/96 a relação passa a ser de 1 trator para cada 440 ha de área total. A quantidade de fertilizantes utilizados cresceu de forma vertiginosa, passando da relação de 61,3 kg/ha em 1985 para 110,2 kg/ha em 2001. Outro fato a ser destacado é a redução do PIB agrícola entre o período de 1986 e 1993. Com a estabilidade de preços data a partir de 1994 o PIB da agricultura voltou a crescer, entre 1993 e 2002 este crescimento foi de 74,9%. No entanto, no ano de 2002 o PIB real da agricultura estava cerca de 2,5% abaixo do que se vigorou em 1986. A participação da agricultura no PIB nacional teve forte queda, dos 11,2% contabilizados em 1986 só 5,8% se permaneceu em 1993 e depois com um leve aumento para 8% em 2002. Quanto ao cumprimento das suas funções no processo de desenvolvimento econômico podemos destacar que a agricultura repetiu, no período de 1987 a 2002, em grande parte das funções que teve no período anterior (1965 a 1986), com exceção à transferência de capital. De acordo com Bacha (2004, p. 184): No período de 1987 a 2001, houve redução na produção per capita de gêneros alimentícios in natura de origem vegetal. A produção per capita do arroz, batatainglesa, feijão, mandioca e trigo passou de 332,1 kg/habitante em 1986 para 240,4 kg/habitante em 2001. Houve uma tendência contínua de redução dessa variável entre esses anos. Entre 1986 e 2001, a taxa geométrica anual de crescimento da produção per capita desses cincos produtos foi de -2,44%. (...) Estes resultados reforçam a tendência da população brasileira em aumentar o consumo de produtos alimentares processados, a qual se iniciou na fase anterior (década de 1960, 1970 e 1980). No que se refere ao movimento migratório campo-cidade, de acordo com a tabela 3, pode-se averiguar que entre os anos de 1980/1990 houve média anual de 1,21 milhão de migrantes neste sentido. Já no período de 1990/1995 este volume se reduziu para 1,13 milhão por ano. Destacamos que esse processo de migração na década de 1990 ocorreu em grande parte pela continuidade do processo de migração, entre os fatores podemos 20 mencionar a carência de terras para manter ocupada a parcela significativa do contingente rural. 4. CONCLUSÃO O trabalho buscou analisar a relação entre a agricultura e o processo de desenvolvimento econômico brasileiro, em especial após a década de 1960. Tendo-se como foco a trajetória da atividade agrícola, a importância da agropecuária no PIB nacional, além como o cumprimento de suas funções no processo de desenvolvimento econômico, proposto por Johnston & Mellor (1961). Para elucidação da relação agricultura e desenvolvimento econômico buscou-se analisar as literaturas que tiveram impacto bastante expressivo neste debate. Para isso, foi posto em debate o trabalho desenvolvido por Arthur Lewis (1969) sobre desenvolvimento econômico com oferta ilimitada de mão-de-obra, na qual supôs que o crescimento do setor urbano/industrial acabará induzindo o desenvolvimento agrícola no longo prazo. Concomitante foi exposto o trabalho de Theodore Schultz, com seu modelo de insumo moderno, tendo como base a relação existente entre capital humano e produtividade. Em seguida, o trabalho de Paiva (1969 e 1971) foi exposto ao tratar dos múltiplos padrões tecnológicos, que permeavam questões de adoção e expansão, além dos fatores subjetivos inerentes ao processo de adoção tecnológica. Em seu ponto de destaque, apresentou-se a trajetória da agricultura brasileira em três períodos: 1946 a 1964, 1965 a 1986 e 1987 a 2002. Onde aquele primeiro foi marcado por sua forte relação com a política cambial vigente, como destacado anteriormente: o mercado de câmbio teve fortes flutuações tornando instáveis as receitas, em moeda nacional, dos produtos exportados (leia-se agrícolas), a taxa de câmbio real sofreu fortes 21 desvalorizações, além das desvalorizações, as exportações agrícolas (em especial o café) que foram limitados com quotas de contribuição. Neste período destacasse a criação das associações de crédito e assistência técnica (Acar) e das companhias agrícolas que, de certa forma, auxiliaram para que a agricultura viesse a ser um mercado para os produtos industriais. Além disso, vale destacar o crescimento da produtividade da cafeicultura, da mandioca, da batata-inglesa, algodão e cana-de-açúcar. Em contrapartida as culturas de feijão, cacau, soja e trigo tiveram sua produtividade diminuída, já as culturas de arroz, milho e laranja mantiveram estáveis suas produções. O segundo período (1965 a 1986) foi marcado pelo processo de aceleração da modernização da agricultura brasileira, impulsionados principalmente pela expansão da malha rodoviária que passou de 548.510 km em 1964 para 1.397.711 km em 1986. Além da criação do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) em 1965 e com volumes crescentes durante a década de 1970. A expansão de novos estabelecimentos agrícolas também foi um fator importante, com a criação de 2,5 milhões de novos estabelecimentos, adicionando cerca 125 milhões de hectares na produção. Outro fator expressivo do período foi o forte crescimento da mecanização (de aproximadamente 984%) e do uso de tecnologias químico-biológicas (aumentou aproximadamente de 478%). Este fenômeno gerou aumento de produtividade, em especial as culturas voltadas para o mercado externo. No último período de análise vale destacar as mudanças advindas do crédito rural: a taxa de juros real passou a ser positiva e o volume de crédito rural concedido diminui de forma expressiva, com se comparado ao da década anterior, que também já era bem menor ao concedido na década de 1970. O setor agrícola passou a ter 16% a menos de estabelecimentos, com perca de 2,4 milhões d hectares em lavouras permanentes e 8 milhões de hectares em lavoura temporárias. Além da redução de pessoas empregadas no setor, perca de quase 24%, ou seja, cerca de 5,5 milhões de posto de trabalho. Vale 22 ressaltar que a produção advinda para o mercado interno teve queda em sua abrangência de área cultivada, mas teve aumento em produtividade (em especial as culturas de arroz, feijão e milho). Apesar da queda em termos de área cultivada a relação produção/área ha aumentou significativamente, totalizando cerca de 56,6% de aumento. Destarte, pode-se ver que o desempenho da economia em seu conjunto fica muito dependente das políticas macroecômicas do governo, em relação ao crédito agrícola, às taxas de juros, aos preços mínimos de garantia e aos estoques reguladores. As ligações entre a agricultura, as agroindústrias e a indústria de transformação são muito fortes, implicando a necessidade de adoção de um planejamento integrado. A fim de ordenar o estudo, se faz necessário uma análise mais apurada dos modelos e teorias que formularam e configuraram o pensamento agrário brasileiro. Além disso, a discussão sobre a questão agrária é fundamental para o entendimento da trajetória agrícola. 23 REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, R. Paradigmas do Capitalismo Agrária em Hucitec/Edunicamp/Anpocs - São Paulo, Campinas – 2ª Edição, 1999. Questão - ARAÚJO, P. F. C. Crédito rural e endividamento em período recente. Preços agrícolas, ano XIV, n°. 161, p. 3 a 6, mar. 2000. BACHA, C. J. C. Economia e política agrícola no Brasil. São Paulo: Atlas, 2004. BACHA, C. J. C. & ROCHA, M. T. O comportamento da agropecuária brasileira no período de 1987 a 1996. Revista de Economia e Sociologia Rural, Brasília, v. 36, n°. 1, p. 35 a 59, jan./mar. 1998. DELGADO, G. C. "Questão Agrária no Brasil: 1950-2003". In: Luciana Jaccoud. (Org.). "Questão Social e Políticas Sociais no Brasil Contemporâneo". 01 ed. Brasília DF: IPEA, 2005, v. 01, p. 51-90. 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São Paulo: Contexto, 1990. 25 Analise Sensorial do Caffè Espresso I taliano produzido com grãos Brasileiro Fernanda Rosan Fortunato Seixas Luigi Odello1 Centro Studi Assaggiatori Galleria V.Veneto 9, 25128 Brescia-Itália * Autor Correspondente: Tel.: +39 030 397308 ± Fax +39 030 300328 ± E-mail: [email protected] (Odello, L.) RESUM O O Brasil é o principal produtor e exportador de café do mundo, embora a qualidade seja menor do que o café cultivado em outros países exportadores. Entre os compradores dos países produtores de café, a Itália tem uma grande importância porque o país é o fundador e responsável para espalhar o café no mundo. A qualidade do café está intimamente ligada aos componentes químicos diferentes que lhe dão o aroma, sabor e do corpo para o café. Esses atributos são medidos por ³análise sensorial´. Dado o alto consumo de café na Itália, o objetivo deste trabalho é avaliar a qualidade sensorial dos brasileiros à base da comparação com grãos de café cultivados no país e em vários outros países. O café expresso preparado com grãos do Brasil recebeu o pior índice de aceitação pelos consumidores e os italianos não diferiram significativamente do café expresso feito com grãos da Etiópia. Este resultado mostra a necessidade de aumentar a qualidade do café brasileiro com a adoção de práticas de produção para garantir as corretas características sensoriais desejadas no mercado italiano. PALAVRAS-CHAVES: Café espresso, análise sensorial. 1 1. I NTRODUÇÃO Consumido diariamente por milhões de pessoas, o café é uma bebida apreciada mundialmente. Na última década o Brasil vem se destacando como o maior exportador de café do mundo (Tabela 1) segundo a International Coffe Organization (ICO, 2009). Quanto aos mercados compradores, os quatro primeiros são Alemanha (930.913 sacas), EUA (759.958 sacas), Itália (551.425 sacas) e Bélgica (402.144 sacas). No entanto, a posição privilegiada do Brasil de ser o maior produtor de café do mundo não o tem favorecido na ocasião de vender o produto brasileiro no mercado internacional. Ocorre que o café brasileiro perde muito em qualidade, quando comparado aos cafés produzidos em países tais como Colômbia, Jamaica, Costa Rica, Etiópia e Quênia, todos eles preferidos pelos consumidores americanos e europeus, em função da qualidade da bebida (ANCROCIOLI et al., 2003). Tabela 1. Principais países exportadores de café nos anos de 2005, 2006, 2007 e 2008 e quantidade de sacas (60 kg) exportadas. Brasil Vietnan Colombia Etiopia Indonesia Mexico India Peru Honduras Uganda Guatemala Cote d'Ivoire Nicaragua Costa Rica El Salvador 2005 2006 2007 2008 32945 13542 12329 4003 9159 4225 4396 2419 3204 2159 3676 1962 1718 1778 1502 42512 19340 12153 4636 7483 4200 5079 4249 3461 2700 3950 2847 1300 1580 1371 36070 16467 12515 4906 7751 4150 4148 2953 3842 3250 4100 2150 1700 1791 1626 45992 16000 10500 6133 5833 4650 4610 4102 3833 3500 3370 2500 1600 1594 1369 *dados de estatística de comercio segundo ICO, 2009 Dentre os países compradores de café a Itália tem grande importância, pois se trata do país que desenvolveu e disseminou o caffè espresso em todo mundo, sendo expresso o café exclusivo, preparado sob pressão, em doses individuais, para ser 2 saboreado no exato momento da extração. Para um café expresso de qualidade superior a utilização de grãos de alta qualidade, com aroma e sabores intensos faz-se necessária (IIAC, 2009). A qualidade da bebida café é definida por atributos como a doçura, o amargor, a acidez, o corpo, o aroma, o sabor residual e a adstringência em concentrações harmoniosas já que esta bebida não possui valor nutricional agregado, sendo consumida principalmente pelos efeitos fisiológicos e psicológicos relacionados à presença da cafeína e, pelo prazer e satisfação que seu aroma e sabor proporcionam (SIVETZ; FOOTE, 1997). A qualidade do café está estritamente relacionada aos diversos constituintes químicos, tais como os compostos nitrogenados (proteínas, cafeína, trigonelina), carboidratos, lipídios e os compostos fenólicos presentes no endosperma da semente, que são os responsáveis pelos gostos e aromas característicos da bebida (FRANCA et al., 2006). A composição química dos grãos de café é variável em conseqüência das condições em que foram produzidos e processados. Essa composição depende de fatores genéticos, ambientais e condições de manejo pré e pós-colheita (IIAC, 2009). Dos atributos sensoriais presentes no café, o aroma é o mais complexo, pois este é formado por uma mistura de inúmeros compostos voláteis que apresentam odor, intensidades e concentrações diferentes. Assim, a contribuição odorífera de cada um desses compostos voláteis para o aroma final do café é bem variada, enquanto a sensação gustativa é relativamente simples, sendo normalmente classificada em quatro qualidades: doce, salgado, amargo e ácido (HARPER et al., 1985) Portanto, há muito a ser considerado quando se busca melhorar a qualidade da bebida de café. Para isto, deve-se dispor dos meios adequados de avaliação da qualidade desta bebida, buscando o máximo de informações através de vários caminhos. Dentre as 3 classificações utilizadas para medir a qualidade do café brasileiro podemos citar o aspecto de pureza do café e as características sensoriais da bebida, como visivas, gustativas e olfativas. A análise sensorial permite o estudo das características organolépticas de diversos produtos e serviços utilizando o ser humano como instrumento de medida e corretas técnicas estatísticas para interpretação dos dados, proporcionando confiabilidade dos resultados (LATREILLE et al., 2006). A determinação da aceitação pelo consumidor é parte crucial no processo de desenvolvimento e melhoramento de produtos. Os testes afetivos requerem grande número de participantes e que representem a população de consumidores atuais e/ou potenciais do produto (CHAVES; SPROSSER, 2001). Em vista o alto consumo de café na Itália e de sua importância como fonte econômica para o Brasil, este estudo foi conduzido com o objetivo de avaliar a qualidade sensorial do caffè espresso produzido com grãos Brasileiro frente a grãos de diferentes origens por parte de consumidores italianos. 2. M ATERI AL E M ÉTODOS 2.1. Amostras Foram avaliadas cinco diferentes amostras comerciais de café torrado, amplamente utilizadas na preparação do caffè espresso italiano provindas de uma mesma empresa, sendo estas, três monorigens e duas mesclas na qual uma era descafeinada, conforme mostra a Tabela 2. 4 Tabela 2. Origens e tipos das amostras de cafés analisadas Cód. Amostra C01 C02 C04 Guatemala, Costa Rica, El Salvador, Brasil, Giava e Congo Tipo Arábico (Coffea arabica L.) Arábico (Coffea arabica L.) Mescla composta de 90% de café Arábico e 10% de Robusta (Coffea canephora) Mescla composta de 90% de café Arábico e 10% de Robusta (Coffea canephora), C05 Etiópia Arábico (Coffea arabica L.) C03 Origem Brasil Honduras Guatemala, Costa Rica, El Salvador, Brasil, Giava e Congo Descafeinado 2.2. Preparação das amostras As amostras foram preparadas por um barista especialista, em cafeteira profissional de caffè espresso, controlando temperatura da água (88 ± 2 º C) e pressão (9 ± 1 atm). Os grãos de café foram moídos no momento da preparação da amostra (7 gramas ± 0,5). Foram servidos 25 mL de cada amostra em xícaras apropriadasa temperatura de 67 ± 3 ºC. 2.3. Análise Sensorial 2.3.1. Teste de aceitação global Este teste avaliou a aceitação global dos consumidores em relação aos produtos, segundo a metodologia Stratus tasting (ODELLO, 2004). As amostras foram avaliadas por 70 consumidores, italianos, sendo 54,3% mulheres e 45,7% homens, com faixa etária entre 18 e 64 anos. Para este teste foi utilizada uma escala hedônica estruturada. As descrições utilizadas foram: visiva, olfativa e gustolfativa. Os consumidores 5 atribuíram para cada percepção um valor de zero a nove. As amostras, não identificadas, foram servidas de forma monádica, assim, cada amostra foi preparada no momento a ser degustada. O teste foi realizado em uma cafeteria localizada na província de Milão Itália no período de agosto de 2009. Os resultados obtidos foram submetidos a ANOVA (Análise de Variância Univariada) e a diferença significativa entre as medias determinada pelo teste LSD de Fisher (least significant difference) não paramétrica, ao nível de erro de 5,0%. As análises estatísticas foram realizadas utilizando os programas Big Sensory Soft e STATISTICA versão 7.1. 3. RESULTADOS E DI SCUSSÃO Antes de proceder à elaboração dos dados relacionados às amostras em degustação foi verificada a compreensão dos parâmetros de avaliação por parte dos consumidores. Para tanto foi utilizada a técnica estatística de análise de correspondência, que permitiu representar em um espaço de duas dimensões a capacidade discriminante dos consumidores, ou seja, a capacidade de atribuir notas diferentes em percepções distintas (Figura 1). 6 Grafico 2D di Coord. di Colonna; Dimensione: 1 x 2 0,020 0,015 Me gustolf 0,010 0,005 Igp 0,000 Me visivo -0,005 Me olfattivo -0,010 Dimensione 2; Autovalore: ,00006 (2,834% di Inerzia) -0,015 -0,08 -0,06 -0,04 -0,02 0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10 Dimensione 1; Autovalore: ,00223 (97,17% di Inerzia) Figura 1. Análise de Correspondência dos descritores avaliados Observa-se na Figura 1, que as duas dimensões do gráfico são responsáveis por 100% de explicação, sendo que 97,17% é devida a dimensão 1, onde as variáveis (descritores) gustolfativo e visivo estão localizados de maneira oposta. Portanto, podese considerar que estes descritores possuem uma boa capacidade discriminante e que estes são responsáveis pelas diferenças entre as amostras. Pode-se ainda, ressaltar que na dimensão 1 os descritores olfativo e gustolfativo encontram-se próximos entre si e distantes do visivo, como esperado, pois os descritores olfativo e gustolfativo apresentam características sensoriais interligadas. O descritor gustolfativo representa a principal característica do café e sua pontuação relata a intensidade, qualidade e a complexidade da combinação de gosto e aroma. Estas características são advindas principalmente do processo da torração, ou seja, etapa onde os grãos de café passam por um aquecimento controlado. Neste processo são desencadeadas uma série de reações exotérmicas formadoras do gosto e do aroma do café (CORTEZ, 1996). Segundo Sivetz e Desrosier (1979), complexos 7 mecanismos bioquímicos encontram-se envolvidos na produção de características de cor, sabor e aroma do café durante a torra, como as reações de Maillard, degradação de Strecker, caramelização de açúcares, degradação de ácidos clorogênicos, proteínas e polissacarídeos (ILLY; VIANI, 1996). Importante mencionar que o processo de torra é o principal responsável pela formação do gosto e aroma do café, no entanto os grãos utilizados neste processo deve ser de alta qualidade, sem defeitos, principalmente microbiológicos e com propriedades intrínsecas como aw, pH, açúcares dentre outros compostos em concentrações adequadas para um processo de torra eficaz. Segundo a análise de correspondência, observa-se na Figura 2 que é possível caracterizar algumas amostras determinando a proximidade das mesmas aos descritores utilizados. Nota-se que a amostra C01 (Brasil) caracteriza-se pela sensação gustolfativa, a amostra C02 (Honduras) pela sensação visiva e a amostra C05 (Etiópia) pela sensação olfativa. Grafico 2D Coord. di Riga e Colonna; Dimensione: 1x 2 0,020 C01 Me gustolf 0,015 0,010 C03 0,005 Igp 0,000 Me visivo C02 -0,005 C04 C05 Me olfattivo -0,010 Dimensione 2; Autovalore: ,00006 (2,834% di -0,015 -0,12 -0,08 -0,10 -0,04 -0,06 0,00 -0,02 0,04 0,02 0,08 0,06 0,10 Coord.Riga Coord.Col. Dimensione 1; Autovalore: ,00223 (97,17% di Inerzia) Figura 2. Posicionamento dos cafés segundo análise de correspondência 8 Os resultados obtidos no teste de aceitação global (IGP), bem como a media de cada descritor avaliado, encontram-se na Tabela 3, na qual se observa que o caffè espresso preparado com a mescla composta de 90% de café Arábico e 10% de Robusta (C03) foi o melhor avaliado. O caffè espresso preparado com grãos somente de origem Brasileira foi o que recebeu a pior avaliação por parte dos consumidores italianos (IGP= 4,72). No entanto, não foi observada uma distinção significativa entre a amostra preparada com grãos Brasileiros daquela preparada com grãos provenientes da Etiópia, em nenhum dos descritores avaliados (Tabela 3). Tabela 3. Valores médios da análise sensorial do caffè espresso Cód. Amostra M edia visivo M edia olfativo M edia I GP gustolfativa C01 4,76ª 4,81ª 4,60ª 4,72 C02 7,21b 5,83b 5,74b 6,26 b b b C03 7,44 6,34 6,26 6,68 C04 6,97b 6,49b 6,04b 6,50 C05 4,47ª 5,30ª 4,56ª 4,78 Médias com letras diferentes em uma mesma coluna diferem significativamente entre si (p< 0,05) Observa-se também na Tabela 3 que as amostras C02, C03 e C04 não apresentaram diferenças significativas entre si. A exigência do consumidor esta crescendo, assim como o consumo de caffè espresso, seguindo uma tendência mundial pela busca de cafés superiores. Segundo Pinto et al. (2002), o preparo deste tipo de café exige grãos de alta qualidade, com aroma e sabores intensos. Sendo assim, é indispensável à adoção de um padrão de qualidade da bebida, o que pode ser conseguido a partir do seu preparo com cafés de qualidade que garantam um produto final superior para o consumidor. De fato somente um tipo de café não é capaz de dar um expresso com todas as características desejadas, ou seja, gosto harmônico, aroma rico e corpo. Segundo o Istituto Internzionale Assaggiatori Caffè - IIAC (2009), para alcançar todas essas desejadas características o espresso deve ser preparado com diferentes tipologias de 9 café (7 a 13 tipologias diferentes), o que vem de acordo com os resultados observados neste estudo onde a amostra C03 foi a que obteve o maior valor de IGP. 4. CONCLUSÃO Conforme o resultado da analise sensorial o caffè espresso preparado com grãos Brasileiros foi o que obteve o pior IGP por parte de consumidores italianos, não diferindo significativamente do preparado com grãos provenientes da Etiópia. Este resultado demonstra que para aumentar seu IGP e assim ampliar as vendas no mercado internacional o café brasileiro necessita melhorar sua qualidade, adotando práticas adequadas de pré e pós-colheita, que garantam ao grão as características sensoriais desejados no mercado italiano. 10 REFERÊNCI AS ANDROCIOLI, A. et al. Caracterização da qualidade de bebida dos cafés produzidos em diversas regiões do Paraná. In: SI M PÓSI O DA PESQUI SA DE CAFÉS DO BRASI L, 3., 2003, Porto Seguro. Anais. Brasília: Embrapa Café, 2003. p. 256-257. CHAVES, J. B. P.; SPROESSER, L. R. Práticas de laboratório de análise sensorial de alimentos e bebidas. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 1996. 81p. CORTEZ, J. G. 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(3) Engenheiro Agrônomo pela UFPB, especialização em Gestão Ambiental pela ENAP de Brasília e Coordenador do Setor de Resíduos Sólidos da Superintendência de Administração do Meio Ambiente (SUDEMA-PB). RESUM O O presente trabalho apresenta um estudo da variação temporal da precipitação pluvial da cidade de Cabaceiras, Paraíba. Foi analisada uma serie histórica de 15 anos de precipitação no período de 1994 a 2008. Os dados foram submetidos a analise estatística como Média, Desvio padrão, Curtose, Assimetria, Mínimo, Máximo, Nível de confiança, Coeficiente de Variação. O resultado apresentou uma média de 342,79 mm por ano e desvio-padrão 94,02 mm e coeficiente de variação de 27,43%, Curtose 0,19; Assimetria 0,07; Mínimo 154,50; Máximo 501,00; Nível de confiança (95,0%) 52,07. O intervalo normal de precipitação variou de 259,2 mm a 379,0 mm correspondendo aos anos de 1995, 1996 e 2001 a 2008. PALAVRAS-CHAVE: Precipitação, variação temporal, Cabaceiras. ABSTRACT This paper presents a study of the temporal variation of rainfall Cabaceiras city, Paraíba. We analyzed a series of 15 years of historical rainfall in the period 1994 to 2008. The data were subjected to statistical analysis as Mean, standard deviation, kurtosis, asymmetry, minimum, maximum, level of confidence, Coefficient of Variation. The result showed an average of 342.79 mm per year and 94.02 mm standard deviation and coefficient of variation of 27.43%, 0.19 Kurtosis, Skewness 0.07, 154.50 Minimum, Maximum 501.00; confidence level (95.0%) 52.07. The normal range of precipitation ranged from 259.2 mm to 379.0 mm corresponding to the years 1995, 1996 and 2001 to 2008. KEY WORDS: precipitation; temporal variation; Cabaceiras. I NTRODUÇÃO A precipitação é entendida em hidrologia como toda água proveniente do meio atmosférico que atinge a superfície terrestre (TUCCI, 2009). Umas das formas da precipitação é em forma de chuva e por sua capacidade para produzir escoamento, a chuva é o tipo de precipitação mais importante para a hidrologia. A precipitação é o principal mecanismo de reposição de água no solo para o restabelecimento dos recursos hídricos em bacias hidrográficas. A precipitação além de caracterizar o clima de uma região é uma importante área de estudo para as atividades humanas. A disponibilidade de precipitação no ano, por exemplo, para uma região tem aspectos socioeconômicos importantes como a necessidade de irrigação de culturas e abastecimento de água doméstica e industrial. Os registros dos índices pluviométricos são de bastante interesse na engenharia, pois é de fundamental importância na elaboração do planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos de uma região e essenciais para o adequado dimensionamento de obras hidráulicas, entre outros. Situações de ocorrências extremas, como chuvas freqüentes ou muito intensas, podem provocar erosão do solo, inviabilizar safras, atrasar colheitas e até mesmo ocasionar problemas de ordem fitossanitários nas culturas, acarretando a redução da produtividade agrícola e aumento do custo de produção. Da mesma forma, situações opostas, como veranicos ou mesmo períodos secos prolongados podem inviabilizar a produção (BEGA, 2003). Quanto ao planejamento urbano, a distribuição espacial e temporal de chuvas é importante, pois permite às prefeituras municipais se prevenirem das enchentes, dimensionarem corretamente as galerias de águas pluviais, e também, prepará-las para eventuais problemas de abastecimento de água. O conhecimento da possibilidade de ocorrências extremas de chuvas é ponto chave para as campanhas de prevenção da Defesa Civil nas áreas urbanas de maior risco (BEGA, 2003). Salgueiro (2005) cita que a ocupação inadequada do solo nas bacias hidrográficas e a má utilização desse bem no ambiente natural, em conjunto com outros fatores ligados à urbanização e industrialização, vêm provocando alterações climáticas, afetando diretamente o balanço hídrico, com repercussão em ocorrências de secas e inundações inesperadas, seguidas de prejuízos às populações e aos governos em várias escalas econômicas e sociais. Fenômenos climáticos modificam o comportamento do ciclo hidrológico de uma região. Fenômenos naturais como El Niño que diminui o índice de precipitação e atrás a ocorrência de secas na região nordestina, La Niña que aumenta as chuvas na região nordeste e trás temperaturas abaixo do normal para o verão na região sudeste do Brasil e o efeito estufa que aumenta a temperatura e conseqüentemente a evaporação, que, junto a outros fatores, pode aumentar a precipitação em umas regiões e diminuir em outras. Por tanto, faz-se necessário estudar e analisar a distribuição temporal anual da precipitação. 2. OBJETI VOS Analisar a série histórica da precipitação no período de 1994 a 2008 da cidade de Cabaceiras. 3. REVI SÃO BI BLI OGRÁFI CA Silva et al (2003) analisou o comportamento temporal das chuvas mensais em Uberaba - MG, utilizando-se séries das precipitações pluviais mensais e anuais de 1914 a 2000 retiradas da Estação Climatológica de Uberaba ± Estação Experimental Getúlio Vargas. O estudo da variabilidade temporal foi realizado por meio de semivariânças e verificou-se uma tendência à normalidade nos meses correspondentes ao período de outubro a março e assimetria no período de abril a setembro. Silva et al (2003) conclui que a precipitação mensal e anual apresentou dependência temporal fraca ou não apresentou dependência temporal, para a série estudada. Nimer (1979), comparando os agrupamentos de máximos percentuais de contribuição pluviométrica de meses consecutivos com os totais anuais das Zonas da Mata, Agreste e Sertão do estado de Pernambuco, verificou uma enorme desvantagem do regime de precipitação do sertão semi-árido: além do sertão possuir totais anuais muito inferiores aos da Zona da Mata, seu regime anual é muito mais concentrado em poucos meses. Oliveira et al (2006) estudou a variabilidade temporal da precipitação referentes ao período 1961-2000 dos municípios de Cabrobó, Garanhuns e Triunfo, localizadas no estado do Pernambuco. A avaliação das tendências de precipitação foi realizada em subperíodos de 1961-1970, 1971-1980, 1981-1090 e 1991-2000. Constatou-se diminuição da precipitação média anual na última década (1991-2000) em todas as estações estudadas, com o mínimo de 67,0 mm em Cabrobó. Os meses que mais contribuíram para a diminuição da precipitação na última década (1991-2000) foram março, abril e dezembro em Cabrobó; fevereiro, março e abril em Garanhuns e fevereiro, março, abril e maio em Triunfo. Conclui-se que no período 1961-2000 houve diminuição da precipitação de até 11,8 mm, em relação a média histórica, no Estado do Pernambuco, e que a mesma é influenciada por fenômenos atmosféricos e oceânicos, podendo ainda ter a influência da urbanização, degradação do meio ambiente, industrialização e outros fatores que possam causar alterações também em outros elementos meteorológicos. A dificuldade de series histórica continua de índices pluviométricos é um problemas para a elaboração dos projetos na área de recursos hídricos. Isso é devido baixa quantidade de estações meteorológicas aliados com os problemas dos aparelhos de coleta e a ausência do operador em determinadas épocas do ano. Santos et al. (2001) afirmam que a densidade e distribuição de estações em uma rede e a freqüência de observação necessária dependem da variabilidade temporal e espacial das variáveis hidrológicas ou meteorológicas a serem observadas. Para uma análise estatística dos dados de precipitação é necessário primeiro fazer um preenchimento de possíveis falhas intrínsecas ao processo coleta de dados. Um dos métodos mais consolidados na literatura para preenchimentos de falhas e consistência de dados é o Método do Vetor Regional. Com uma série histórica de precipitação total anual de 22 anos Oliveira et al (2010) fizeram uma análise comparativa entre os métodos de preenchimento de falha de 6 estações pluviométricas localizadas no Estado de Goiás. Foram avaliados os desvios relativos entre os valores observados e os estimados pelos métodos empregados. Concluíram que o houve melhoras de resultados através do Método do Vetor Regional sobre tudo quando este era combinado com outras metodologias. Keller Filho et al (2005) na procura para identificar regiões homogêneas quanto à distribuição de probabilidade de chuvas utilizou como uma das ferramentas o vetor regional para ausência de erros, completude e consistência do dados pluviométricos. 4. M ETODOLOGI A A cidade de Cabaceiras, situada na mesorregião Borborema, no estado da Paraíba, ocupa uma área territorial de 452,92 km e está localizado nas coordenadas geográficas ODWLWXGH¶´6ORQJLWXGH¶¶¶:HDOWLWXGHGHP Segundo o IBGE 2010 a cidade registrou uma população de 5.035 habitantes o que resulta numa densidade demográfica de 11,12 hab/km . O município possui um do menores índices de chuvas da região por está situado na área geográfica do semi-árido, caracterizado pela baixa umidade, alto índice de aridez, elevado taxa de evapotranspiração e secas. A série histórica estudada da precipitação foi do período de 1994 a 1998. Os dados foram disponibilizados pela SUDEMA (Superintendência de Administração do Meio Ambiente) órgão responsável pela execução e gestão ambiental no estado da Paraíba. Com os dados inicias das precipitações devem-se analisar possíveis falhas ou erros grosseiros ocorridos por problemas no aparelho de registro e no operador do posto. Entre os possíveis erros podem ser citados, preenchimento dos dados na caderneta, soma errada do número de preenchimento do volume da proveta, valor estimado pelo observador, danificação do aparelho, defeito elétrico ou mecânico no registrador. Além do preenchimento de falhas deve-se fazer uma analise de consistência dos dados dentro de uma visão regional para comprovar o grau de homogeneidade dos dados disponíveis do posto em estudo com os postos vizinhos. Um das técnicas tanto para o preenchimento de falhas como para a analise de consistência é o método do vetor regional para séries mensais e anuais. O método do vetor regional foi desenvolvido por Hiez (1977, 1978), e consiste em determinar dois vetores ótimos L e C cujo produto é uma aproximação da matriz P precipitação. O vetor C é uma matriz linha que representa os coeficientes característicos dos postos de observação e o vetor regional L é uma matriz coluna que representa uma região e que estão relacionados com a precipitação em cada posto através do vetor C. O vetor regional é definido como uma série cronológica, sintética, de índices pluviométricos anuais (ou mensais), extraídos por um método de máxima verossimilhança da informação contida nos dados de um conjunto de estações agrupadas regionalmente. As series foram analisados estatisticamente utilizando-se a distribuição de freqüência, medidas de tendência central, dispersão e distribuição normal de probabilidade. 5. RESULTADOS O presente trabalho analisou a variabilidade da precipitação pluvial nos anos 1994 e 2008 na cidade de Cabaceiras. A cidade encontra-se numa região de baixa pluviosidade do estado da Paraíba apresentando uma média de 342,79 mm por ano e desvio-padrão 94,02 mm e coeficiente de variação de 27,43%. A figura 1 mostra a seguir os totais anuais de precipitação. Precipitação Cabaceiras (1994-2008) 600,0 Precipitação (mm) 500,0 400,0 300,0 200,0 100,0 0,0 Tempo (anos) Figura 1 ± Precipitação anual de Cabaceiras. A série histórica apresentou uma variação de precipitação de 154,5 mm a 501,0 mm anuais. Chuvas menores de 500 mm anuais são consideradas baixas. A tabela 1 a seguir mostra os resultados da analise estatística feitas para os totais anuais de precipitação observados durante 15 anos. Tabela 1 ± Dados estatísticos dos totais anuais de precipitação. Precipitação Anual Média Erro padrão Mediana Modo Desvio padrão Variância da amostra Curtose Assimetria Intervalo Mínimo Máximo Soma Contagem Nível de confiança (95,0%) Coeficiente de Variação 342,7933 24,2752 335,1000 #N/D 94,0173 8839,2607 0,1883 0,0728 346,5000 154,5000 501,0000 5141,9000 15,0000 52,0651 0,2743 O estudo revelou que ocorreram 10 anos de período normal de chuva que correspondem aos anos de 1995, 1996 e 2001 a 2008, onde registraram uma pluviometria mínima de 259,2 mm e máxima de 379,0 mm. Os períodos chuvosos da cidade foram 1994, 1997 e 2000, onde registraram pluviometria de 501,0 mm, 463,3 mm e 495,2 mm, respectivamente. Os períodos considerados secos foram os anos de 1998 e 1999, com registros de pluviometria de 154,5 mm e 238,8 mm, respectivamente. Em 1998 ocorreu um fenômeno climático chamado El Niño, que é uma mudança climática caracterizado por períodos de tempos com baixo índice de chuva, o que corrobora os dados apresentados pelo presente estudo. Os dados de pluviometria ainda foram ajustados a uma função distribuição normal de probabilidade a fim de se determinar a freqüência de chuva do local, a figura 2 a seguir mostra a freqüência acumulada de excedência. Frequência acumulada de excedência 120,00 Frequência (% ) 100,00 80,00 60,00 40,00 20,00 0,00 0 50 100 150 200 250 300 350 Precipitaçao anual (mm) 400 450 500 550 Figura 2 ± Freqüência de excedência de chuva. Num ano qualquer a probabilidade de ocorrer uma precipitação maior igual a 259,2 mm é de 81,30% e de 35,01% de ocorrer uma precipitação maior 379,0 mm. Foi feito ainda uma analise temporal anual da precipitação para ciclos de 5 anos de chuva. A tabela 2 mostra a análise estatística por ciclos e a figura 3 mostra a precipitação anual por ciclos. Precipitação anual 600,0 Precipitação (mm) 500,0 400,0 1994-1998 300,0 1999-2003 200,0 2004-2008 100,0 0,0 1 2 3 Tempo (ano) 4 5 Figura 3 ± Precipitação anual por ciclos de chuva. Tabela 2 ± Ciclos de chuva de 5 anos. Ciclos de chuvas de 5 anos 1994-1998 1999-2003 346,66 346,62 M édia 64,06 41,43 Erro padrão 355,30 335,10 M ediana 143,24 92,64 Desvio padrão 20518,77 8582,16 Variância da amostra -1,54 2,57 Curtose -0,35 1,06 Assimetria 346,50 256,40 I ntervalo 154,50 238,80 M ínimo 501,00 495,20 M áximo 1733,30 1733,10 Soma 5,00 5,00 Contagem 177,86 115,03 Nível de confiança (95,0% ) 0,41 0,27 Coeficiente de Variação 2004-2008 337,83 23,72 342,10 47,45 2251,16 -5,27 -0,13 90,90 288,10 379,00 1351,30 4,00 75,50 0,14 Os anos de 1994 a 1998 corresponderam a um período de precipitação mais irregular apresentando um desvio-padrão de 143,24 mm e um coeficiente de variação de 41%, enquanto o período de 2004 a 2008 apresentou um período mais distribuído regularmente com um desvio-padrão de 47,45 mm e coeficiente de variação de 14%. 6. CONCLUSÕES O presente trabalho discutiu a variabilidade temporal anual da precipitação da cidade de Cabaceiras no estado da Paraíba. Constatou-se que houve uma variação temporal de precipitação significativa. A cidade de Cabaceiras se encontra numa região do estado da Paraíba de baixa pluviosidade com uma média de 342,79 mm por ano e desvio-padrão de 94,02 mm com uma probabilidade de um ano chuvoso acima dos 501,00 mm de 4,62%. A série de 15 anos de chuvas mostrou uma variação temporal maior nos 5 primeiros anos, alternando entre anos chuvosos a secos, enquanto nos anos de 2004 a 2008 apresentou anos normais de chuva. REFERÊNCI AS BEGA, R. M.; Variabilidade espacial e temporal das precipitações pluviais e das perdas de água e solo em pindorama, SP. Dissertação de mestrado. Mestrado em Agricultura Tropical e Subtropical. Instituto Agronômico. 2003. TUCCI, C. E. M. [et al]. Hidrologia: ciência e aplicação. 4º ed. 4º reimp. Porto Alegre. Editora UFRGS/ABRH. 2009. NIMER, E. Pluviometria e Recursos Hídricos dos Estados de Pernambuco e Paraíba. Rio de Janeiro: IBGE, 1979, 120p. SALGUEIRO, J. H. P. B. 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Natália Sanchez Molinaa, c, Tiago Balieiro Cetruloa, c Tadeu Fabrício Malheirosb, c a Grupo de Pesquisa em Ciências Ambientais - GPCA , Faculdades Integradas de Cacoal - UNESC Núcleo de Estudos em Políticas Ambientais, Escola de Engenharia de São Carlos, USP b Grupo de Pesquisa SIADES - Sistema de Informações Ambientais para o Desenvolvimento Sustentável. c RESUM O Neste artigo são apresentadas considerações e reflexões sobre a funcionalidade do conceito de marketing ambiental como complemento à busca do desenvolvimento sustentável, feitas a partir de discussões sobre os princípios e abordagens do marketing ambiental, das estratégias de marketing e do esverdeamento do marketing mix das organizações. Os principais resultados dessas discussões giram em torno da explicitação das contribuições do marketing ambiental nas inter-relações empresa-sociedade, empresa-meio ambiente, e sociedade e meio ambiente, baseado na mudança em direção às perspectivas de um marketing ambiental de caráter mais holístico. PALAVRAS CHAVE: Marketing e desenvolvimento sustentável; Gestão Ambiental; Sustentabilidade. ABSTRACT In this paper are presented considerations and reflections on the functionality of this concept of green marketing as a complement to the pursuit of sustainable development, made from discussions on the principles and approaches of environmental marketing, marketing strategies and the greening of the marketing mix of the organizations. The contributions of environmental marketing go beyond the business-society and company-environment inter-relations, and also provide an improvement in the inter-relationship between society and environment, based on the change in the direction of more holistic prospects of the environmental marketing. KEY WORDS: Sustainability. Marketing and sustainable development; Environmental management; I NTRODUÇÃO A origem do marketing ambiental acompanhou a evolução dos movimentos ambientalistas das décadas de 70 e 80. Nesse início, as questões e os problemas ambientais eram vistos pelo marketing somente pelo prisma dD³FDXVD´DPELHQWDOdos consumidores. Com seu amadurecimento, o marketing ambiental, mudou o foco para responder aos problemas sociais e ambientais visando manter a legitimidade das empresas em face da mudança de valores sociais e de um crescente movimento de consumidores. Essa legitimação permitiu a integralização do marketing ambiental com as políticas das corporações. Porém, nessas duas últimas décadas está ocorrendo mudanças no campo da essência do marketing: de estudos mais técnicos, como identificação de comportamentos de consumo verde e estabelecimento de quadros de segmentação (micromarketing) para uma verdadeira mudança de paradigma do marketing clássico (macromarketing) e dos padrões sociais dominantes (Crane, 2000). Essa nova concepção de marketing "ambiental" é totalmente inédita, sendo considerada até como um novo conceito de marketing. A sua ligação com o marketing tradicional está somente na utilização de técnicas e procedimentos consagrados. Há, portanto, uma evolução da antiga concepção de marketing ambiental, que não deixava de ser somente o marketing tradicional mais abrangente, onde os aspectos ambientais eram considerados como uma forma potencial de melhorar o desempenho financeiro e de crescimento da empresa. Em outras palavras, o princípio das teorias e práticas do marketing ambiental se deu no sentido de inserir a variável ambiental nas atividades do marketing tradicional e agora a tentativa, pelo menos teórica, é de utilizar as atividades de marketing na busca pelo desenvolvimento sustentável. O trabalho objetiva, portanto, apresentar considerações e reflexões sobre a funcionalidade do marketing ambiental para as empresas e, principalmente, na busca da sustentabilidade a partir de discussões sobre os princípios e abordagens do marketing ambiental, das estratégias de marketing e do esverdeamento do marketing mix das organizações. M ARKETI NG X M ARKETI NG AM BI ENTAL As atividades de marketing ambiental estão vinculadas às organizações que buscam associar sua imagem corporativa ou de marca a uma ética socioambiental (Nascimento, 2008). Assim, o marketing verde é uma ferramenta estratégica capaz de proteger e sustentar a imagem de uma empresa, projetando uma nova visão para o mercado e enfatizando seu diferencial ambiental junto à sociedade, fornecedores e funcionários. Ottman (1994) indica duas principais diferenças entre o marketing e o marketing verde, advindos de seus próprios objetivos: 9 Mudança para desenvolvimento de produtos que também tenham compatibilidade ambiental, ou seja, exerçam um impacto mínimo sobre o ambiente (visão conservadora de marketing ambiental); 9 Adicional de posicionamento, através da projeção de uma imagem de alta qualidade, incluindo sensibilidade ambiental, quanto aos atributos de um produto e quanto ao registro de trajetória de seu fabricante, no que se refere ao respeito ambiental. De forma mais completa, o quadro 1 mostra as principais diferenças entre o marketing e o marketing ambiental para uma corporação: Quadro 1: Comparação entre marketing tradicional e marketing ambiental. MARKETI NG MARKETI NG AMBI ENTAL Orientação Corporativa Foco nas necessidades do consumidor e stakeholders. Inserção das questões ambientais no processo de decisão. Produto ou Serviço Quaisquer bens tangíveis, intangíveis (serviços), experiências, lugares, organizações, informações, ideias, entre outros. Ponderação das questões ambientais no desenvolvimento de produtos ou fornecimento de serviços. Mercado Consumidor As variáveis dos "4 P's" devem ser adequadas às necessidades dos consumidores. Esverdeamento dos "4 P's". Fonte: Baseado em Ottman (1994), Giacomini Filho (2004) e Kotler (2000). De qualquer forma o marketing ambiental tem suas origens e está contido no marketing social, que pressupõe a satisfação do consumidor, da organização e da sociedade, de forma a manter ou melhorar o bem estar social (Kotler e Lee, 2004). Porém, para Peattie e Charter (2003), o marketing ambiental pode exceder o social em cinco abordagens específicas: 9 Ênfase na sustentabilidade do processo, ou seja, inserção da variável ambiental na tríade produção-comercialização-consumo; 9 Visão mais holística da relação economia, sociedade e meio ambiente; 9 Perspectiva de melhoria contínua, ou seja, além de longo-prazo (que tem um fim temporal); 9 Visão do meio ambiente não de forma utilitarista para o bem estar social, mas sim, de valor intrínseco; 9 Preocupações com problemas de abrangência global. ABORDAGENS DO M ARKETI NG AM BI ENTAL Segundo Giordano (2000), para as empresas que optam pelo marketing verde, o cuidado com o meio ambiente significa não só uma responsabilidade no desenvolvimento do negócio, mas uma oportunidade de crescimento do negócio. Ainda segundo o autor, trata-se da inserção de uma nova variável, o meio ambiente, na estratégia de gerenciamento da organização. Muitos são os termos utilizados para denominar a inserção da variável ambiental nas práticas de marketing, dentre eles: marketing ecológico, marketing ambiental, marketing verde, ecomarketing e marketing sustentável (McKenzie e Soares, 2007; Dias, 2008), porém para o presente trabalho todos serão tratados como sinônimos. Para Polonsky (1994), o marketing ambiental consiste nas atividades planejadas para gerar e facilitar trocas voltadas a satisfazer as necessidades e desejos humanos, de modo que a satisfação dessas necessidades e desejos ocorra com o mínimo de impacto sobre o meio ambiente. Peattie (1992; 1995) afirma que o marketing verde refere-se à priorização de aspectos ambientais nas decisões de marketing, ou ainda, segundo o mesmo autor (1999) o marketing verde deve satisfazer dois objetivos: melhora da qualidade ambiental e satisfação dos consumidores. Coddington (1993) entende que o marketing ambiental faz parte de um processo muito mais complexo de mudança de postura da organização e de perspectiva na forma de fazer negócios, pois exige responsabilidade e compromisso ambiental da empresa como um todo. Peattie e Charter (2003) definem marketing ambiental como um processo holístico de gestão responsável por identificar, antecipar e satisfazer as necessidades dos consumidores e da sociedade, de forma rentável e sustentável. Ottman (1994) ressalta que não basta que as empresas comuniquem produtos verdes, mas é preciso que elas se tornem verdes, o que pressupõe uma mudança na cultura corporativa. Aparentemente as abordagens supracitadas de marketing ambiental são iguais, porém se analisadas de forma mais profunda, algumas diferenças podem ser notadas e que apesar de parecerem bem sutis e insignificantes, do ponto de vista da função do marketing ambiental na busca da sustentabilidade, elas são essenciais. Ou seja, existe uma sutil diferença nessas definições que está intimamente ligada às diferentes abordagens (quadro 2) de marketing ambiental, que são determinadas, principalmente, pela contextualização de onde a empresa está inserida e pela cultura organizacional. De forma generalista, essas abordagens representam a magnitude de como a questão ambiental está sendo internalizada pelo processo de marketing, e, além disso, pela organização como um todo. As características dessas abordagens refletem nas empresas mudanças, principalmente, com relação ao a) posicionamento do marketing ambiental na estrutura hierárquica da empresa, b) às mudanças no marketing mix ocasionadas pelas atividades do marketing ambiental e c) finalmente na relação entre as atividades de gestão e marketing ambiental. As diferenças de abordagens apresentadas no quadro 2 são bastante significativas, se considerarmos a função do marketing ambiental na busca pela sustentabilidade, ou seja, há uma JUDGDomR TXH YDL GH XP PDUNHWLQJ DPELHQWDO ³PHQRV VXVWHQWiYHO´ DERUGDJHP SRQWXDO SDUD XP PDUNHWLQJDPELHQWDO³PDLVVXVWHQWiYHO´DERUGDJHPKROtVWLFD(ssas abordagens estão intimamente ligadas à postura ambiental das empresas e ao foco tático/estratégico11 que a função ambiental deve exercer no processo de marketing. Quadro 2: Abordagens de marketing ambiental. Abordagem Holística I ntegrada Pontual Características Estrutura hierárquica M arketing M ix Relação com a gestão ambiental Hierarquia bem Abordagem não é Marketing ambiental definida: estratégias do Ênfase na integração baseada no marketing define os objetivos para marketing ambiental dos aspectos mix. O esverdeamento a gestão do negócio, definem os objetivos ambientais nos valores dos "P's" é assim como coordena as para a gestão do negócio da organização. consequência de uma ações de gestão e para o planejamento postura. ambiental. estratégico. Sem hierarquia bem definida: a estratégia de marketing ambiental é baseada nos 4 P's. Esverdeamento dos 4 P's internos e inserção dos 4 P's externos. Totalmente integrados: marketing ambiental e a gestão ambiental são sinérgicos e envolvem as mesmas questões. Não há hierarquia: as estratégias de marketing O ponto de partida do ambiental são definidas marketing ambiental é conforme a necessidade a política do produto. de um elemento do marketing mix. Esverdeamento de apenas um elemento do marketing mix tradicional, que deve ser modificado ou completado para cobrir os aspectos ambientais. Marketing ambiental está inserido no contexto de gestão ambiental da organização. Fundamentada numa mudança de postura ambiental. Fonte: Elaborado pelos autores. Assim, os objetivos ambientais têm maior probabilidade de serem alcançados ao se integralizar, cada vez mais na empresa, uma abordagem de marketing ambiental mais holística, baseada: a) numa postura ambiental fundamentada em mudanças de valores das organizações e menos baseada na função mercantilista do marketing ambiental de promover produtos a qualquer custo e b) numa estratégia de posicionamento ambiental. Nesse contexto Peattie (1995) defende que, teoricamente, ou seja, mais próximo de uma visão holística, as principais características do marketing ambiental são: 9 Abordagem equilibrada entre os aspectos sociais, tecnológicos, econômicos e físicos das empresas e da sociedade; 1 Menon e Menon (1997) propõem uma classificação de marketing ambiental em tático, quase-estratégico e estratégico. 9 Ênfase na melhoria contínua do processo de desenvolvimento sustentável com caráter mais qualitativo; ao invés da ênfase no curto prazo com caráter mais quantitativo; 9 Uma abordagem holística que visa inverter a teoria anterior e a prática dos negócios baseadas no reducionismo e no fragmentalismo; 9 Consideração dos consumidores como seres humanos reais, e não como uma hipotética HQWLGDGHGH³UDFLRQDOLGDGHHFRQ{PLFD´ 9 Ênfase no atendimento das reais necessidades dos consumidores, ao invés de estimular desejos superficiais; 9 Reconhecimento de que os consumidores e a sociedade têm múltiplos e conflitantes desejos e necessidades; 9 Visão de que a empresa e todas as suas atividades são parte do 'produto' que é consumido; 9 Reconhecimento de que a economia de grande escala baseada em grandes distâncias entre o local de produção e o local de consumo não é sustentável, e que no futuro, economias locais e pequenas serão soluções importantes; 9 Adoção do conceito de eco-desempenho que incorpora as saídas não comercializáveis da empresa. Ou seja, o desempenho do produto contempla a criação de mercados e comercialização (compra e venda) de sub-produtos em todas as partes da cadeia de abastecimento; 9 Busca de valor agregado de virtude do socioambiental e técnico-econômico. BENEFÍ CI OS PARA AS EM PRESAS Considerando os conceitos acima, de forma bastante funcional, o marketing ambiental consiste na análise, no planejamento, na implantação, e no controle de programas destinados a criar, desenvolver e manter trocas com as necessidades, demandas e desejos de uma população-alvo, aliando a isso os interesses da organização (lucro) e do meio ambiente (proteção e promoção de um meio ambiente sadio). Se manejadas com sucesso, essas funções irão garantir às empresas vários benefícios, com destaque para os citados por Polonsky (1994): 9 Incremento de rendimentos e ganhos de competitividade, advindos da: satisfação dos stakeholders22; inserção de processos e atividades mais eficientes; melhora da imagem corporativa ou marca; abertura de novos mercados. 9 Facilidades na obtenção de recursos de bancos ou outras instituições financeiras. 9 Diminuição da pressão de órgãos ambientais governamentais. 9 'LPLQXLomRGHSUHVVmRGH21*¶VHVRFLHGDGHHPJHUDO A COM PETI TI VI DADE E O ESVERDEAM ENTO DAS EM PRESAS A magnitude da importância do marketing ambiental para uma empresa ± do ponto de vista de competitividade ± GHSHQGHSULQFLSDOPHQWHGHGRLVIDWRUHVD³FRQFRUUrQFLDHFROyJLFD´GHRQGH ela está inserida, ou seja, se há outras empresas do mesmo nicho desenvolvendo práticas ambientais e b) presença de demanda por produtos ambientais. Portanto, esses dois fatores determinam as barreiras e oportunidades (figura 1) que uma empresa pode ter ao adotar práticas de marketing ambiental (Gurau e Ranchhod, 2005). Figura 1: Competitividade do marketing ambiental. Fonte: Adaptado de Gurau e Ranchhod (2005). 2 a) aos acionistas, maiores rendimentos; b) à sociedade e consumidores, bem estar social e benefícios ambientais dos produtos e serviços da empresa; c) aos funcionários, bem estar e satisfação de participar de um projeto que promova melhorias para o meio ambiente e para a sociedade. Num contexto onde há alta demanda por produtos ambientais e poucas empresas que oferecem esse tipo de produto ou serviço, ou seja, há uma baixa concorrência ecológica, caracteriza-se um cenário no qual o marketing ambiental possui grande oportunidade de benefícios. Nesse caso, a empresa pode desenvolver uma campanha de marketing ambiental agressiva, com base em liderança ambiental de fácil alcance. Isso devido às características inerentes do cenário de garantir diferenciação de preço e qualidade. 1RFRQWH[WRGH³DOWRGHVDILRSRUEHQHItFLRV´KiXPDQHFHVVLGDGHGHDOWRVLQYHVWLPHQWRVH para tanto são necessários estudos completos sobre a rentabilidade da campanha de marketing e da melhor diferenciação a ser buscada para um incremento de competitividade. 1D EDL[D GHPDQGD SRU SURGXWRV DPELHQWDLV H EDL[D FRQFRUUrQFLD ³HFROyJLFD´ HQWUH DV empresas se forma um cenário onde as oportunidades do marketing ambiental se dão de forma bastante específica por nichos de consumidores. Nesse cenário altos investimentos podem não ser vantajosos e a diferenciação se alcança através do atendimento à demanda e anseios desse nicho específico. 1RFHQiULR³PHUFDGRVDWXUDGR´GRSRQWR GHYLVWDGHFRPSHWLWLYLGDGHQmRpYDQWDMRVRWHU atividades de marketing ambiental. Quadro 3: Estratégias de marketing ambiental CARACTERÍ STI CAS ESTRATÉGI CO QUASE ESTRATÉGI CO TÁTI CO Escopo da estratégia Corporativa Negócio Funcional Local da decisão Alta gestão Gerentes de negócios Gestores de marketing e produto Foco da decisão Cadeia Empresa Comercialização Princípios da responsabilidade social Responsabilidade social Resposta às demandas sociais Obrigações sociais Orientação Conservacionismo e sustentabilidade Ambientalismo Não é evidente I nvestimentos Alto e visível Baixo e visível Baixo e invisível Fonte: Menon e Menon (1997). Dependendo do cenário que se apresenta às empresas, elas podem assumir diferentes estratégias de marketing ambiental na tentativa de maximizar as oportunidades dispostas e de minimizar as barreiras aparentes, sendo que Menon e Menon (1997) classificam as estratégias de marketing ambiental conforme o quadro 3. Ginsberg e Bloom (2004) e Grant (2007) acordam que existem diferentes estratégias possíveis para cada empresa, ou seja, não existe uma forma única de marketing ambiental que seja adequada a todas as empresas. Mas de forma diferenciada de Menon e Menon (1997), Ginsberg e Bloom (2004) classificam essas estratégias conforme o esverdeamento do marketing ambiental, sendo quatro possíveis formas de estratégia de marketing ambiental, que vai desde um passivo e VLOHQFLRVR ³YHUGH IUDFR´ DWp XP YLVtYHO H DJUHVVLYR ³YHUGH H[WUHPR´ FRQIRUPH GHPRQVWUDGR D seguir: a) Verde Extremo: Com base na filosofia holística e de valores, plena integração das questões ambientais na empresa e no ciclo de vida do produto. b) Verde Forte: Tem substanciosos compromissos financeiros e não financeiros através do investimento em longo prazo em sistemas globais e processos ambientalmente corretos. c) Verde Defensivo: Esta estratégia usa o marketing verde em resposta a uma crise, como medida de precaução, ou uma resposta a ações feitas pelos concorrentes. d) Verde Fraco: As empresas com essa estratégia, não privilegiam a divulgação ou comercialização de suas iniciativas verdes, mesmo que haja esforços em tentar ser bons cidadãos corporativos. Essas diferentes estratégias influenciam diretamente o Marketing Mix das empresas. Para Polonsky e Rosenberg (2001), dependendo da estratégia adotada pela empresa haverá mudanças internas ao marketing mix, como demonstrado no quadro 4. Quadro 4: Diferença dos componentes do marketing mix verde dependendo da estratégia adotada. P´s" ESTRATÉGI CO QUASE ESTRATÉGI CO TÁTI CO Produto Desenvolvimento de novos produtos mais sustentáveis a partir do zero. Desenvolvimento de novos produtos para minimizar o dano ecológico. Mudança para matériasprimas ecologicamente mais amigáveis. Preço A empresa aluga os seus produtos em vez de vendê-los. Mudança na política de preços de taxa fixa para base por unidade consumida. Redução de custos devido à eficiência de recursos energéticos. Praça Implantação de sistema de logística reversa. Minimização de embalagem como parte de um processo de revisão de fabricação das empresas. Redução no tamanho da embalagem do produto. Promoção Promoção de campanhas periódicas de apelo social e/ou ambientais como parte de sua filosofia. Destaque para os benefícios dos produtos ambientalmente amigáveis em materiais promocionais. Campanha de relações públicas para amenizar denúncias de más práticas ambientais. Fonte: Baseado em Polonsky e Rosenberg (2001) e Polonsky (2005). ESVERDEAM ENTO NO PRODUTO O produto pode ser definido, segundo Kotler (2000), como qualquer bem oferecido ao mercado para aquisição, uso ou consumo que satisfaça as necessidades e desejos dos consumidores. Nesse sentido, não se restringe a bens físicos e pode ser representado por idéias ou serviços. Já os produtos verdes precisam desempenhar todas as funções inerentes ao produto, mas também deve ter algum atributo ambientDOTXHSRGHHVWDUDWUHODGRDXPSURFHVVRSURGXWLYR³PDLV YHUGH´RXDFDUDFWHUtVWLFDVDPELHQWDLVSUySULDVGRSURGXWRFRPRRHFR-design. Para Ottman (1994), o que vai garantir que produto ou serviço tenha um caráter ambiental é que ele consiga ter um desempenho significativamente melhor do que os correspondentes ofertados pela concorrência, em termos ambientais. O que para Letmathe e Balakrishnan (2005) é altamente relevante para as empresas, pois há um aumento na preferência por produtos com essas características. Para Dias (2008), algumas são as possibilidades de se agregar um atributo ambiental aos produtos: 9 Produção a partir de bens reciclados; 9 Fabricação com economia de água e energia; 9 Utilização de embalagens ambientalmente responsáveis; 9 Produção em sistema orgânico; 9 Fabricação de produtos com design ambiental33 (facilite reciclagem pós-uso, economize energia e/ou água no uso, facilite desmontagem, etc.). Porém, esse atributo pontual, conforme mostrado por Peattie (2008), não está sendo suficiente pDUDFDUDFWHUL]DUXPSURGXWRFRPR³YHUGH´DWHQGrQFLDpTXHXPSURGXWRSDUDSRGHUVHU considerado ambientalmente correto, deve considerar as questões ambientais desde o seu berço (matérias-primas e seu processo produtivo) até o seu túmulo (o que será feito com o produto depois de usado e também com seus agregados, como embalagens). Portanto, existe uma mudança para se considerar o desempenho do ciclo de vida do produto, no qual o produto é observado desde a fase de desenho (concepção técnica) e planejamento, passando pela compra de matérias-primas, produção, distribuição, serviço pós-venda e terminando com o fim da vida útil do produto (Manzini, 2002). Segundo Frei (1998) e Ottman (1999), nessa nova tendência, o produto verde deve ter as seguintes características: 9 Manter o foco na função do produto, ou seja, desempenhar sua função primária e ambiental; 9 Considerar em todo o ciclo de vida do produto (ACV) princípios de produção mais limpa e de eco-desing: a) minimizar a utilização de recursos naturais e de energia para produção; b) evitar a utilização de produtos perigosos ao meio ambiente; c) evitar testes em animais; d) utilizar produtos recicláveis, reciclados e reutilizáveis no produto e nas suas embalagens; e) reduzir embalagens desnecessárias; f) facilitar o processo de desmonte para reciclagem; g) utilizar materiais que tenham mercado para reciclagem. 9 Considerar os impactos ambientais de todo sistema produtivo; 3 Design for the Environment - DFE, Design for Recycling - DFR ou Design for Disassembling - DFD. 9 Considerar os requerimentos ambientais dos consumidores, para ser direcionado para a satisfação de necessidades genuínas; 9 Integralizar a variável ambiental no desenho e planejamento do produto. ESVERDEAM ENTO NO PREÇO Segundo Kotler (2000), o preço é o componente do marketing mix responsável por gerar receitas para a empresa ± todos os outros componentes são responsáveis por gerar custos. No marketing, a função de determinar o preço de um produto visa não só impacto econômico, mas também o psicológico sobre o consumidor. 8PDSROtWLFDSDUDGHWHUPLQDUR³SUHoRDPELHQWDO´GHYHSULPHLUDPHQWHWHUEHPdefinido os objetivos da determinação desse preço. Da mesma forma que para um produto comum, deve ser considerada a demanda pelo produto, a estimativa de custos, uma análise dos custos, preços e ofertas dos concorrentes (Kotler, 2000). Porém, algumas diferenças são observadas por Polonsky (1994; 2005), Peattie (2008) e Dias (2008): a) A derivação dos preços dos produtos ecológicos não necessariamente é formada somente pelo processo de equilíbrio entre oferta e demanda. A formação do preço verde pode ter a finalidade de estabilizar ou concretizar uma demanda por produtos verdes, e para isso pode existir acordos entre concorrentes para manter a oferta desses produtos verdes durante um maior tempo. b) Normalmente os processos ecológicos envolvem um maior investimento inicial, mas promovem uma economia de longo prazo. Atenção deve ser dada para exigências de mão-de-obra especializada, tecnologias mais caras, certificação, pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, comunicação e assessoria. Atentar também para oportunidades de economia de recursos e energia no processo. c) Na fase inicial da comercialização (até a estabilização da demanda) de um produto ecológico, pode ser interessante manter os preços inelásticos (não sensíveis à demanda) e maiores do que os preços médios praticados pelos produtos convencionais caso haja altos investimentos realizados e / ou níveis baixos de vendas. Além da própria formação de preço, outros aspectos podem ser considerados no componente ³SUHoR´ GHQWUR GR PDUNHWLQJ mix ambiental. Dentre eles, está a função da busca de estratégias YHUGHVEDVHDGDVQRSUHoRTXHFRPRPRVWUDGRSRU3RORQVN\SRGHPVHUGRWLSR³YDORU PDLVEDL[R´SRUHFRQRPLDGHUHFXUVRQRSURFHVVR, mudança no tipo de cobrança (de valor fixo para valor proporcional ao consumido) até uma mudança mais radical onde as empresas não vendem mais produtos e sim alugam. Outra estratégia interessante é a determinação de preços iniciais altos, justificado por uma posterior economia durante o uso do produto44. ESVERDEAM ENTO NA PRAÇA Para que um serviço ou produto seja oferecido a um consumidor, o mesmo deve passar pela organização principal ou intermediária para chegar ao alcance do consumidor ou cliente (Kotler, 2000). Porém, quando o enfoque dessa distribuição é ambiental os aspectos verdes devem ser considerados em todas as etapas da distribuição, do produtor das matérias-primas, passando por vários intermediários, o local de transformação e novamente intermediários para chegar finalmente aos varejistas e ao consumidor (Peattie, 2008). Para as empresas que têm um programa de marketing ambiental e querem utilizar o FRPSRQHQWH 35$d$ ³YHUGH´ DOJXQV IDWRUHV GHYHP VHU REVHUYDGRV H WUDEDOKDGRV XP GRV principais é a minimização de utilização de energia e geração de resíduos em todas as etapas dessa cadeia distributiva (Peattie, 2008); não menos importante é a exigência de fornecedores e distribuidores implementem políticas e práticas de gestão ambiental (Polonsky, 2005); a empresa deve priorizar cadeias que tenham menos intermediários; e finalmente deve disponibilizar um canal logístico para o retorno dos produtos e de suas embalagens. 4 Casos clássicos: aquecimento solar de água; lâmpadas fluorescentes compactas; torneiras com controle automático; sensores de luz. Particular importância tem o último item que é denominado de Logística Reversa, ou seja, o sistema de retorno do produto e embalagens para sua reutilização ou reciclagem ou destinação final caso necessário (Polonsky e Rosemberg, 2001). Essa etapa PRAÇA irá contribuir de forma significativa para que realmente possa se considerar que o marketing ambiental esteja trabalhando de forma correta em todo o ciclo de vida do produto, ou seja, esse componente tem sua contribuição durante o todo o ciclo de vida, mas é fundamentalmente importante no pós-uso do produto. ESVERDEAM ENTO NA PROM OÇÃO Para Kotler (2000), o componente de promoção envolve uma gama de ferramentas com a finalidade de promover um produto, serviço, idéia ou marca para o consumidor final, sendo as mais comuns: propaganda, publicidade, relações públicas e venda pessoal. Para Polonsky (2005), o LQWHUHVVH SULPRUGLDO GD ³SURPRomR´ DPELHQWDO p IRUnecer informações através das ferramentas citadas sobre os benefícios ambientais de uma empresa ou de seu produto para os consumidores ou para seus stakeholders de forma geral. Todavia, para que haja um processo de comunicação com os clientes e/ou stakeholders através de ³promoções´ ambientais, é necessário manter relações próximas com os mesmos através de estratégias explicitadas por Lovelock (2001) a seguir: 9 Informar e conscientizar os clientes potenciais sobre a organização e as características relevantes ambientais dos bens e serviços que ela oferece; 9 Persuadir os clientes-alvo de que seu serviço ou produto ambiental oferece a melhor solução para suas necessidades, comparada às ofertas de organizações concorrentes; 9 Lembrar os clientes sobre seu produto ou serviço e motivá-lo a agir: 9 Manter contato com os clientes existentes e fornecer atualizações e informações adicionais sobre como obter os melhores resultados ambientais dos produtos ou serviços da organização; Seja qual for a estratégia ou objetivo escolhido para a comunicação ambiental, as corporações terão de se balizar na confiabilidade e respeito para banir possíveis desconfianças e descrédito (Prakash, 2002). O descrédito nas informações ambientais fornecidas pelas empresas é uma herança ingrata para o marketing ambiental deixada por um número bastante grande de campanhas baseadas em falsas promessas ambientais. Para vencer essa barreira, Polonsky (2005) apresenta algumas estratégias possíveis para garantir que haja uma confiabilidade nas informações ambientais transmitidas: 9 Ter seus serviços ou produtos certificados ou endossados por uma terceira parte; 9 Ser patrocinadora de atividades ambientais; 9 Participar de eventos e promoções como parceiras de organizações ambientais. CONSI DERAÇÕES FI NAI S Atualmente o marketing, incluindo assim o marketing verde e social, é visto pela sociedade, de modo geral, como parte das causas dos problemas ambientais e como um entrave ao desenvolvimento sustentável, pois estimula o crescimento desenfreado e irresponsável do consumo. Porém, o marketing (ambiental) propõe mudanças nesses paradigmas, e, quando tratado de forma holística, conforme visto sobre as diferentes abordagens de marketing ambiental, pode ser uma ferramenta bastante interessante para complementar esforços na busca do desenvolvimento sustentável. Sheth e Parvartiyar (1995), também acreditam que o marketing ambiental tem papel fundamental na busca do desenvolvimento sustentável, e, além disso, defendem que a melhor forma para buscar o desenvolvimento sustentável, é através do binômio: maior intervenção governamental e adoção de marketing ambiental por parte das empresas. Eles propõem que para a busca do desenvolvimento sustentável é necessário uma mudança na orientação do marketing das empresas, no sentido de contemplar os dois fatores (figura 2). Essa nova orientação de marketing pode e deve acontecer em duas dimensões fundamentais, como forma a contribuir para a busca de um desenvolvimento sustentável: uma diz respeito à mudança de postura ambiental das empresas e a outra diz respeito à função de educação do marketing ambiental para promoção de um consumo ambientalmente consciente. Figura 2: Nova orientação do marketing em busca do desenvolvimento sustentável Fonte: Seth e Parvartiyar (1995). Em relação à primeira via, mudança de postura ambiental, Peattie (2008) afirma que o marketing ambiental é a melhor forma para se introduzir as questões ambientais nas pautas de tomada de decisão das empresas, por ser uma atividade que se adapta aos objetivos financeiros e de competitividade das organizações. A mudança de postura proposta pelo marketing ambiental é fundamentada na inserção das questões ambientais em todo ciclo de vida do produto, o que garante que vários princípios na busca do desenvolvimento sustentável sejam atendidos. Além disso, ferramentas muito importantes advêm, quase que exclusivamente das práticas de marketing ambiental: a logística reversa; o design ambiental de produtos; e a formação de mercado de subprodutos. Essas mudanças não ocorrem somente na organização que adota a prática de marketing ambiental, essas atitudes e processos permeiam por toda cadeia de produção e suplemento. A outra via é através de uma abordagem de comunicação e técnicas de ajuda para informar, educar e canalizar necessidades para seus clientes atuais e potenciais para produtos, serviços e / ou atividades ecologicamente corretos. Essa função ainda vai além, e apesar de ser uma contradição, é uma função crítica de identificar e desenvolver escolhas na sociedade por um consumo que satisfaça as suas necessidades atuais sem sacrificar a capacidade de satisfazer as necessidades de gerações futuras. Ou seja, a utilização das técnicas de marketing para mudar os padrões de consumo são incentivos positivos em busca do desenvolvimento sustentável, ao estimular um consumo responsável na sociedade, promovendo a utilização de produtos ambientalmente viáveis e evitando o consumo desnecessário (Mintu e Lozada, 1993). Portanto, o marketing ambiental pode proporcionar uma melhoria, que vai além das interrelações empresa-sociedade e empresa-meio ambiente, ela tem o alcance de proporcionar melhora na inter-relação entre sociedade e meio ambiente. A figura 3 apresenta as potenciais melhorias nas inter-relações entre empresa e meio-ambiente, empresa e sociedade e finalmente entre sociedade e meio-ambiente. Menos recursos Bem estar para as próximas gerações Menos impactos negativos Menos impactos negativos Menos recursos MARKETING AMBINETAL Produtos Serviços Ambientais Pagamento verde Trabalho FI GURA 3: Marketing ambiental e as inter-relações empresa, sociedade e meio ambiente. Fonte: Elaborado pelos autores. Dessa forma, considerando as contradições do consumo sustentável no seio da sociedade capitalista, a mudança em direção às perspectivas de um marketing ambiental de caráter mais holístico, passando os limites do ³micromarketing´ para o ³macromarketing´, pode auxiliar o processo de busca de um desenvolvimento sustentável ao transformar o marketing ambiental em importante instrumento de gestão das questões ambientais e de transformação de paradigmas sociais. REFERÊNCI AS CODDINGTON, W. Environmetal marketing: positive strategies for reaching the green consumer. New York: McGraw-Hill, 1993. CRANE, A. Marketing and the Natural Environmental: What Role for Morality? Journal of M acromarketing, v. 20, n. 2, dec., p. 144-154, 2000. DIAS, R. M arketing Ambiental: Ética, Responsabilidade Social e Competitividade nos Negócios. São Paulo: Atlas, 2008. FREI, M. 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RESUM O O presente artigo tem como objetivo promover um estudo a respeito das provas do Exame Nacional do Ensino Médio - Enem 2008 e 2009, e descrever como a gramática normativa está sendo utilizada no Enem nesse período e se o exame contempla e exige os conhecimentos gramaticais. Foram efetuadas análises descritivas das questões de Língua Portuguesa e classificação segundo critérios específicos da pesquisa. Dos resultados obtidos, foi possível verificar que as questões de Língua Portuguesa do Enem 2008 e 2009 não contemplam a gramática normativa como deveria ser contemplado. Assim, é possível destacar que há uma necessidade maior em cobrar a norma gramatical da Língua Portuguesa nas questões do Enem, para que se possam ser cobradas as habilidades do aluno em relação a Língua Portuguesa. PALAVRAS-CHAVE: Gramática Normativa. Enem 2008 e 2009 I NTRODUÇÃO Este artigo tem o objetivo de verificar como as questões do Enem contemplam o ensino da gramática normativa; compreender como as regras ou informações gramaticais são exigidas nas questões, bem como sua contextualização e também descobrir quais os objetivos das questões contemplando competências e habilidades. Neste, será colocado em questão o ensino da gramática desde que se iniciaram as avaliações do Enem. É possível perceber que a cada ano que passa, as questões com normas gramaticais vêm aparecendo cada vez menos. É por isso que se faz necessário repensar nas formas de ver as questões gramaticais nas provas do Enem, mostrar ao aluno a relevância da linguagem culta por meio da gramática normativa para a sua formação intelectual e profissional. Verifica-se que não há como ensinar gramática isolada do contexto social do aluno, porém ela não deve ser deixada de lado. Medir as habilidades e competências de um aluno vai além de questões com enunciados que agucem o seu raciocínio. Assim como é necessário que o aluno aprenda os campos que compreendem a gramática (fonética, morfologia sintaxe e semântica) na escola, é necessário também que tais questões sejam acrescentadas às questões do Enem. Desta forma, é necessário que haja uma visão mais ampla em relação a elaboração das questões sobre o ensino da gramática. Tais medidas podem ser a base para que a visão em relação ao ensino da gramática nas avaliações do Enem seja ampliada, valorizada e, o mais importante, que acrescente ao aluno uma aprendizagem significativa. Desde a época antiga quanto atualmente, o ensino da gramática normativa é de grande importância para a formação intelectual do indivíduo. Com a falta de hábitos de leitura de milhares de brasileiros, o contado com a linguagem culta, bem como as normas gramaticais vai ficando cada vez mais escasso. Sabe-se que a prática de leitura nas aulas de língua portuguesa, vem a auxiliar o aprendizado das normas gramaticais, propiciando ao indivíduo um contato gradativo com a língua portuguesa. Esse contato é que faz com que a maioria dos leitores esteja preparada para realizar uma avaliação como a prova do Enem no final do Ensino médio. Porém, é possível perceber que, com o advento do Enem, as questões gramaticais vão ficando cada vez mais deixadas de lado. Desta forma, como está o ensino da gramática desde que surgiu o Enem? E como essa avaliação absorveu a gramática, principalmente nos anos de 2008 e 2009? Uma pessoa não aprende regras gramaticais com fragmentos de textos isolados do contexto social, mas sim com leituras significativas. Isso deixa claro que a prática de leitura tem relevância para o indivíduo, como também, faz-se necessário que o ensino das regras gramaticais esteja presentes nas aulas de Língua Portuguesa e também nas avaliações para medir como está o desenvolvimento do aluno. O Exame Nacional do Ensino Médio - Enem vem sendo uma das portas para que o aluno, ao sair do Ensino Médio, venha a se ingressar no ensino superior. Sua importância para avaliar o aprendizado do aluno é bastante significativa, uma vez que é por meio dela que ele irá apresentar suas habilidades e competências em todas as áreas do conhecimento e se mostrar apto para o mercado de trabalho. O presente artigo poderá ajudar os alunos, professores e escolas em relação à visão da importância do ensino da gramática e também, avaliar como está sendo atribuído o valor às questões gramaticais na avaliação. Este trabalho visa esclarecer o nível de profundidade da gramática aplicada nas questões do Enem em Língua Portuguesa, como já foi dito e para isso, serão verificados em três níveis: o primeiro, como é o ensino das regras gramaticais (normativo) nas provas do Enem; a segunda, verificar se existem fragmentos de textos que exigem a norma culta e terceiro, verificar se existem apenas interpretações de texto. GRAM ÁTI CA: POR QUE É I M PORTANTE APRENDÊ-LA? Sabe-se que cada ser humano possui sua gramática internalizada. Toda pessoa possui seus conhecimentos linguísticos internos independentes de ir à escola. Seus conhecimentos linguísticos internos obedecem aos conhecimentos lexicais sintáticos e semânticos da língua. (POSSENTI, 2001) Percebe-se que não há só língua, mas sim, as línguas faladas e a língua escrita. Tais variações são causadas devido aos fatores internos da língua ou fatores sociais. Quando um falante aprende a conhecer um verbo, perceberá que é uma palavra que pode variar em pessoa e tempo, isso, por causa do conhecimento implícito do indivíduo. Mesmo sem se dar conta, ele conhece cada palavra que pode conjugar. Nunca irá, por H[HPSORFRQMXJDUDSDODYUD³FRPSXWDGRU´RXDSDODYUD³VHPSUH´3(5,1, O que se percebe é que ele necessita de ir à escola apenas para aperfeiçoar esses FRQKHFLPHQWRV TXH Mi SRVVXL ³2 GRPtQLR GH XPD língua é o resultado de práticas efetivas, significativas, cRQWH[WXDOL]DGDV´*(5$/',, 1999, p. 36) Neste caso, o aluno precisa aprender a externar seus conhecimentos linguísticos na escrita, o que irá necessitar de uma aprendizagem adequada para somar a linguagem escrita a qual segue as regras gramaticais à sua gramática internalizada. A prática do ensino da gramática não deve ser uma prática exaustiva, mas sim, algo contextualizado com as práticas sociais do aluno, isso, para que ele possa acrescentar os conhecimentos da norma culta aos que já possui. Uma das formas de terem contato com a língua escrita é por meio da prática de leitura e da prática da escrita de textos. Também, a forma de conceituar o momento da fala do aluno com as regras gramaticais, a prática do ensino da língua escrita pode tornar-se um método muito significativo. Um dos problemas apontados por muitos críticos à língua e linguagem, é que os ensinos da gramática nas escolas estão sendo feitos de forma inadequada pelo fato de, mesmo com algumas teorias novas, as metodologias ainda são muito antigas. Na escola, Geraldi (1999) defende que tal processo pode ser feito por meio da prática da leitura, da escrita e também do ensino das próprias regras gramaticais, com exemplos significativos para o aluno, defendendo, é claro, os métodos que incluam uma contextualização desses ensinos na vida dele. Parece-me importante, sobretudo nos primeiros anos de contato com os textos, exercitar a leitura e a escrita, para que a reflexão teórica e histórica sobre eles se dê a partir de uma convivência e do processo que os gera: o trabalho criativo com a linguagem, a prática da expressão livre. (GERALDI, 1999, p. 22) O ensino da gramática nas escolas junto à prática da leitura deve exercer a função de formar o cidadão um ser crítico, consciente do seu próprio discurso. ³Estudar a língua é, então, tentar detectar os compromissos que se criam por meio da fala e as condições que devem ser preenchidas por um falante para falar de certa forma em determinada situação concreta de interação´. (GERALDI, 1999, p. 42) O ensino da gramática nas escolas deve ser visto como um conjunto de atitudes que possam gerar benefícios maiores ao aluno, um deles, é poder comprovar suas habilidades e competências em uma avaliação como o Exame Nacional do Ensino médio - Enem. Tais atitudes não podem partir apenas por parte do professor ou da escola, mas também da comunidade, do Estado e do Ministério da Educação. É possível ver que o problema da falta de domínio da escrita pela maioria dos jovens que terminam o ensino médio, é atribuído também às irresponsabilidades administrativas para com o ensino, bem como a falta de condições econômicas à educação. (GERALDI, 1999) O baixo índice dos resultados das avaliações no Brasil pode ser causado por inúmeros fatores: além da falta de políticas públicas para a educação, falta de valorização aos profissionais da educação, não há também a prática dos métodos avançados de se ensinar a gramática, bem como a falta de recursos escolares para que o professor possa realizar um bom trabalho em sala de aula. Não há um apoio e métodos adequados para a educação, do contrário, não haveria o vergonhoso baixo índice de leitura. Quando há o ensino das regras gramaticais sem contextualização é possível avaliar que o aluno poderá adquirir uma YLVmRGHTXHDOtQJXDHVFULWDpDOJRGLItFLOH³FKDWR´ Podemos, sim, fazer o aluno crescer em linguagem, aumentando o vocabulário, os recursos expressionais, tomar consciência das potencialidades da língua. E dominar a escrita, pontuação, estrutura e parágrafos, técnicas de correção e aperfeiçoamento estilístico, variabilidade expressional. (LUFT, 2006, p. 88) Desta forma, não há como cobrar questões com habilidades e competências sem aprender a internalizar as regras gramaticais por meio do aproveitamento do que o aluno já possui; não com exemplos de ensino isolados. O resultado disso tudo é o grande índice de reprovação nas avaliações, pois, sabe-se que o aluno possui seus conhecimentos e suas competências linguísticas internalizadas, mas com a diferença da língua escrita, aumenta a dificuldade, na maioria das vezes, de ler e compreender um enunciado. AS QUESTÕES DE LÍ NGUA PORTUGUESA DO ENEM NAS AVALI AÇÕES 2008 E 2009 É sempre bom perceber a alegria de um estudante ao conseguir atingir os objetivos depois de um longo tempo de preparo nos estudos, contando o ensino básico todo. É possível perceber que, nesse preparo para o Exame Nacional do Ensino Médio- ENEM são exigidas habilidades e competências em várias áreas dos conhecimentos, e uma delas, é: Linguagem, Códigos e Suas tecnologias. É nesta área do conhecimento que estão inclusas as questões de Língua Portuguesa. É possível perceber que tais questões de língua portuguesa exigem do aluno, um raciocínio hábil na área da linguagem. E as interpretações desta área do conhecimento, bem como as questões que envolvem o raciocínio lógico são bem mais exigidas do que a norma gramatical da Língua portuguesa nas questões do ENEM. Isso é bastante positivo, no entanto, é necessário levar em conta a necessidade de se exigir que as regras gramaticais também sejam bem mais cobradas desse aluno que se prepara para as questões do Enem, de forma que o seu desempenho seja bem mais proveitoso em relação ao aprendizado da Norma Culta da língua. Antes mesmo de relatar dados desta pesquisados, é preciso levar em conta a necessidade lembrar que o conhecimento gramatical é todo o complexo normativo da língua engessado em certos conteúdos exemplares tais como: concordância, ortografia, regência, mesóclise, pretérito imperfeito, pretérito mais-que-perfeito, entre outros. É válido lembrar que ao observar à prova do Enem 2008, cor azul, as questões que contemplam a Língua portuguesa são 10 ao todo. Já da prova do Enem 2009, também de cor azul, as questões que contemplam a Língua Portuguesa vão de 91 à 135, um número de questões bem maiores do que no Enem de 2008. No ENEM 2008, é possível perceber que há uma prioridade em testar os conhecimentos do aluno nas interpretações textuais nas quais são testadas o raciocínio do aluno e também sobre literatura, como pode ser percebido nas questões 09, 12 e 13. Nesse caso vemos claramente do que se tratam as questões. Outros pontos marcantes na área de Linguagem, Códigos e suas Tecnologias é a linguagem tratando neste caso das linguagens formal e informal, como trata a questão 14 do ENEM 2008, já no que se toca a questão gramatical, não apresenta nenhuma questão com a norma gramatical de forma explícita. Na prova do ENEM 2009, além de tratar da linguagem formal e informar (culta e coloquial), interpretações textuais, linguagem literária, funções de linguagem, gênero textual, funções de linguagem, língua falada e língua escrita, entre outros. No que se trata explicitamente da norma gramatical da L.P, é possível verificar que a questão de número 96 da prova azul do ENEM 2009, menciona nas alternativas desta questão, orações subordinadas e pronomes. Em se tratando da prova do ENEM 2009, nas questões que envolvem a Língua Portuguesa é possível verificar que é muito raro uma questão que trata da gramática normativa. Os principais recursos utilizados para envolvimento e adesão do leitor à campanha institucional incluem: A ± O emprego de enumeração de itens e apresentação de títulos expressivos. B ± O uso de orações subordinadas condicionais e temporais. C - 2 HPSUHJR GH SURQRPHV FRPR ³YRFr´ H ³VXD´ H R XVR GR imperativo. D ± A construção de figuras metafóricas e o uso de repetição. E - O fornecimento de número de telefone gratuito para contato. 1 No que toca à gramática normativa, surgem de forma quase que implícita e noutros casos, bem superficiais, ou seja, não está sendo contemplada como deveria. No caso da única 1 Questão 96 da prova do Enem 2009, segundo dia, caderno sete, cor azul. Disponível em: <http://download.globo.com/vestibular/dia2_caderno7.pdf>. Acessado em: 30-­‐09-­‐2011. TXHVWmRTXHPHQFLRQRXDJUDPiWLFDQRUPDWLYDHODVXUJLX³GHUHODQFH´HQWUHDVDlternativas, o que dá a entender que o nível de profundidade é bastante superficial e não contempla a norma gramatical como um todo. Há uma preocupação em fazer com que o aluno consiga mostrar habilidades em: detectar a diferença entre linguagem culta e coloquial, linguagem falada e escrita, funções de linguagem, onde possa detectar quem é o emissor e o receptor de uma mensagem, entre outros pontos. Neste caso, a gramática está implícita dentro dos textos e das questões, porém, a gramática normativa quase não é mencionada. Isso quer dizer que a norma gramatical da LP não está sendo tanto exigida nessas avaliações como deveria ser, em outras palavras, as questões do Enem 2008 e 2009 de Língua Portuguesa não contemplam a gramática normativa em um todo, como deveria ser contemplada. Neste caso, é possível perceber que as questões de língua portuguesa que envolve a gramática são pouco mencionadas, levando em questão à importância de se aprender a gramática da língua portuguesa para que assim o aluno possa entender com mais clareza a língua que ele utiliza no seu cotidiano, bem como a diferenciação dessa língua falada com a língua escrita que é muito cobrada dele nas aulas de LP. Uma sociedade anti-leitura na qual a maioria dos alunos tem preguiça de ler, é muito complicado aprender a gramática normativa e sua diferença entre a língua que ele utiliza no cotidiano e a norma culta, sem que ele encontre a necessidade de aprendê-la. É bastante compreensível que as questões do ENEM 2008 e 2009 que se tratam da Língua Portuguesa são estruturadas com base nos conhecimentos que o aluno deve saber ao concluir o Ensino Básico. É neste pondo que colocamos em questão as competências a habilidades. Por ser um Exame Nacional do Ensino Médio e carregar tantas responsabilidades e cobranças do Ensino Básico, é possível ver que não há uma cobrança maior das regras gramaticais nas provas do ENEM, isso faz com que o aluno não dê tanta importância para a gramática, ou pela dificuldade de compreensão e ou mesmo pelo desinteresse de achar que não é tão cobrado. No caso das questões mencionadas que se tratam da LP, é muito importante valorizar a linguagem seus códigos e tecnologias, bem como explorar os conhecimentos linguísticos que circundam o universo do aluno e, nas provas no ENEM é bastante claro esses descritores. Mas o que é preciso entender é que, se não são cobradas essas normas gramaticais de forma explícita e com frequência nas questões do ENEM, o aluno não irá se preocupar em aprender a gramática normativa. É sabido que há uma gramática implícita nessas questões, porém, a gramática normativa de maneira explícita, onde fica? Qual é a sua importância numa sociedade que não gosta de ler e, portanto, não se depara com ela a não ser na sala de aula ou em algum curso preparatório? É necessário levar em consideração, desta forma, que não há como aprender a norma culta da LP se não estiver presente, a gramática normativa. CONSI DERAÇÕES FI NAI S Neste artigo foram analisadas as questões de Língua Portuguesa do Enem 2008 e 2009 para verificar qual é o nível de profundidade da gramática normativa presente nas avaliações: primeiro, se há gramática normativa, segundo, se há fragmentos de textos que exigem a norma culta e terceiro, se existem apenas interpretações de texto. Desta forma, foi possível perceber que tais avaliações não contemplam o primeiro nível dos conteúdos engessados, mas sim, os dois últimos níveis. Assim, é possível perceber que tais avaliações privilegiam mais as condições de uso da Língua Portuguesa, do que as condições teóricas sobre a língua, ou seja, há uma preocupação em como o aluno está usando ou mesmo irá usar a língua, e não, se ele está aprendendo ou irá aprender as regras da gramática normativa. REFERÊNCI AS BECHARA, Evanildo. Ensino da gramática. Opressão? Liberdade?. São Paulo: Ática, 1991. GERALDI, João Wanderlei (org.). O texto na sala de aula. 2. ed. São Paulo: Ática PERINI, Mário A. Sofrendo a gramática. São Paulo: Ática, 2002. POSSENTI, Sírio. Porque (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado de Letras, 2001. LUFT, Celso Pedro. Língua e liberdade. 8. ed. São Paulo: Ática, 2006. Leitura e linguagem na aquisição e domínio do conhecimento científico Antônio Carlos da Silva Costa de Souza O autor é Licenciado em Letras pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caetité ± Campus VI da Universidade do Estado da Bahia (UNEB-­1994);; é especialista em Metodologia e Didática do Ensino Superior e em Língua Portuguesa pelas Faculdades Integradas de Cacoal ± UNESC;; é mestre em Educação pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS-­2007);; é pesquisador nas áreas das Letras e do Direito;; coordenador do Grupo de Pesquisa em Códigos, Línguas, Linguagens e Ensino. RESUMO A atividade conhecida enquanto leitura compreende o escalonamento de unidades mínimas com seus significantes. Quando se refere a textos específicos que não estão disponíveis à compreensão da população geral e possuem termos característicos de uma área este escalonamento ou compreensão translacional dos termos já conhecidos não é possível. Desta forma, ler um texto científico compreende ações mais complexas que a leitura, mas o domínio da linguagem da área e seus diferentes níveis de leitura como passo fundamento para a compreensão dos fenômenos humanos e, consequentemente, de si mesmo. PALAVRAS-­CHAVE: leitura, linguagem, ciência. CONSIDERAÇÕES INICIAIS Contemporaneamente, muito se discute sobre a importância da leitura, mas nada é feito substancialmente para mudar a situação terrível ocasionada pelas teorias tradicionalistas que entendem leitura como o simples ato de decodificar, ou seja, de reconhecer palavras. O que é ler? Ler não é apenas decodificar letras, palavras ou frases. Não é reconhecer significados isolados. Ler vai além dessas questões primárias. Ler é mergulhar no conteúdo de uma mensagem, é poder compreender a relação que há entre o texto e o contexto;; é entender as múltiplas referências com fatores externos;; é, de igual modo, poder perceber o objeto discursivo, as intenções, as ideologias pertinentes e poder refletir sobre todo o conteúdo de uma dada mensagem, relacionando-­o com o contexto em que está inserido e utilizando-­o como instrumento de transformação individual e coletiva. Leitura não é algo mecânico, padronizado, programado para o leitor reter informações, sem conceber sentidos ao que lê podendo, desde modo, por meio da leitura, transformar-­se e buscar a transformação do meio em que está inserido. O fenômeno da leitura só pode ser compreendido numa perspectiva crítica e dialética, se admitir a possibilidade de interpretação intra e extratexto, se puder revelar novos e importantes significados e se o leitor estabelecer uma relação de reciprocidade com o texto. Para entender o fenômeno da leitura é necessário compreender que o texto é um conjunto de informações significativas e complexas e não simplesmente uma unidade ou um sistema formado por elementos puramente lingüísticos. Todo texto sofre as mais diversas influências do contexto sob o qual foi gerado. O leitor precisa ter ampla visão de mundo a fim de desvendar as significações implícitas e explicitas no texto. Segundo Paulo Freire (1988, p. 11-­12): A leitura de mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquela. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica na percepção das relações entre o texto e o contexto. A leitura, contudo, começa pelo contexto e deve considerar as inter-­relações que o leitor tem com o meio social em que vive. Uma leitura profunda de um texto, seja ele da natureza que for, só é possível se o leitor usar como caminho o conhecimento de mundo que tem e as relações que estabelece com outros indivíduos da mesma sociedade. Deve o leitor considerar ao ler um texto, além de tudo, também as experiências sociais, filosóficas, históricas, políticas, culturais e lingüísticas que acumulou ao longo de sua vida, ou seja, suas leituras de vida, seus textos pessoais. Assim sendo, pode-­se afirmar que uma leitura crítica de mundo é essencial para que o leitor faça uma leitura crítica da palavra. Ao estabelecer relações com o texto, o leitor retira dele os sentidos mais intrínsecos das palavras e pode, por meio do exercício de observação cautelosa, ser capaz de entender até aquilo que se subentender por trás das entrelinhas. NÍVEIS DE LEITURA DE UM TEXTO Estabelecer os níveis de leitura de um texto não é tarefa muito fácil. Deste modo, deve-­se considerar os diversos elementos que podem influenciar direta e indiretamente na constituição do tecido lingüístico. Em primeiro lugar, é preciso saber quem é o autor e para quem ele escreveu, em segundo, é necessário saber as intenções do autor e sob quais circunstâncias contextuais o texto foi elaborado. Em terceiro, é preciso considerar os níveis de complexidade do texto e o poder de leitura do leitor. Modernamente, conhecemos três níveis de leitura de um texto, são eles: decodificação, intelecção e interpretação. A decodificação da palavra é o nível mais raso da leitura, trata-­se, por tanto, do ato de reconhecer letras, palavras e mesmo algumas relações primárias das estruturas frasais. Com isso, se um leitor mostra intimidade com as letras, com as palavras e com as relações primárias existentes entre elas, diz-­se que atingiu o primeiro nível de leitura de um texto, ou seja, a decodificação textual. Se for capaz de identificar o conteúdo do texto, o leitor terá atingido o segundo nível de leitura ± a intelecção. E, por fim, se ultrapassar os limites lingüísticos e desfechar-­se nas questões extralingüísticas, ou seja, contextuais, terá o leitor atingido o terceiro nível de leitura ± a interpretação. Sobre o nível interpretativo, vale ressaltar que, somente, será alcançado quando o leitor mostra-­se capaz de reconhecer e relacionar os elementos significativos do texto com os elementos que permeiam o seu real vivido, a exemplo dos fenômenos sociais, filosóficos, históricos, políticos, religiosos, econômicos e culturais. A fim de contribuir com os estudos da leitura, queremos cogitar a existência de mais três outros níveis: o exegético, o discursivo e o epistemológico. Fato que elevaria os níveis de leitura do texto de três para seis. O nível exegético é o quarto nível de leitura e, de certo modo, resume os três primeiros, a exegese é, portanto, uma leitura minuciosa que tem o objetivo de separar, de analisar e de estabelecer relações entre os elementos constitutivos do texto, fragmentando-­os em partes a fim de estudar a importância que cada uma tem na constituição total do tecido textual. O discursivo é o quinto nível de leitura de um texto e tem como principal atribuição revelar os diferentes sentidos que um mesmo enunciado (palavra, frase, texto) pode assumir considerando a sua formação discursiva, as relações de sentidos, o texto e o contexto, além dos aspectos tempo, espaço e cognição dos interlocutores (autor e leitor). O sexto e último nível deve ser o epistemológico, pelo qual o leitor se ocupará de uma reflexão em torno dos limites estabelecidos pelo conhecimento. Ao atingir o nível epistemológico, o leitor transpõe as etapas intermediárias de leitura e alcança o mais alto grau de consciência ideológica em relação ao texto e, a partir daí, passa a interferir no discurso do autor de modo crítico e a fazer uso dos conhecimentos do texto para criticar o seu próprio conhecimento. Para se chegar ao nível epistemológico de leitura não basta decodificar, perceber o conteúdo, relacioná-­lo com os fatores extralingüísticos, compreender os diversos sentidos pretendidos ou involuntários, é necessário conhecer profundamente o assunto e as relações que ele tem com o conhecimento universal. Com o intuito de fundamentar as idéias que anteriormente expomos, queremos tomar Soares (2003, p. 69) que afirma o seguinte: [...] a leitura estende-­se da habilidade de traduzir em sons sílabas sem sentido a habilidades cognitivas e metacognitivas;; inclui, dentre outras: a habilidade de decodificar símbolos escritos;; a habilidade de captar significados: a capacidade de interpretar seqüências de idéias ou eventos, analogias, comparações, linguagem figurada, relações complexas, anáforas;; e, ainda, a habilidade de fazer previsões iniciais sobre o sentido do texto, de construir significado combinando conhecimentos prévios e informação textual, de monitorar a compreensão e modificar previsões iniciais quando necessário, de refletir sobre o significado do que foi lido, tirando conclusões e fazendo julgamentos sobre o conteúdo. Assim sendo, encerramos esta etapa da discussão afirmando que em nenhum momento pretendemos esgotar as discussões sobre os níveis de leitura. Até porque, seria audácia de nossa parte se assim nos procedêssemos diante da complexidade que envolve o ato de ler. Contudo, temos uma certeza: deixamos registrados nesta reflexão os primeiros passos rumo a uma infinita contenda científica sobre os níveis de leitura, sua natureza profunda, seus limites espaciais, sua relações com o tudo e entre si e, por fim, seus instrumentos de mensuração. LEITURA CRÍTICA DO TEXTO Conforme vimos no tópico anterior, há níveis de leitura de um texto específicos para cada fase que o leitor deseja atingir. Para isso, o leitor precisa considerar, não só o seu desejo em compreender o que está escrito, mas a sua capacidade para alcançar os níveis de leitura necessários para o entendimento. Sobre as competências de leitura, Luckesi (1997, p. 144) afirma que: um texto de leitura nos conduz [...] a um entendimento do mundo, a partir do entendimento que dele possui o seu autor. Para que esta nossa leitura signifique ³XPD OHLWXUD GH PXQGR´ LPSRUWD TXH D QRVVD SUiWLFD GH OHLWRUHV VHMD FUtWLFD, quer dizer, que façamos o esforço, de um lado, de aprender a mensagem intencionalmente transmitida pelo autor e, de outro lado, façamos um esforço de julgamento sobre o que lemos. Nas palavras de Luckesi, fica evidente que não basta uma decodificação de elementos lingüísticos, é necessário que o leitor considere a visão de mundo do autor (texto-­contexto), além de relacionar a sua própria visão extratextual a fim de compreender a mensagem transmitida pelo autor. Ainda segundo Luckesi (1997, p. 144), ³Rque importa não é a leitura pela leitura, mas sim a leitura como mecanismo auxiliar de nosso trabalho de entendimento do PXQGR´ O domínio do ato de ler é imprescindível para o avanço do homem rumo aos patamares mais altos do conhecimento a fim de conhecer aquilo que foi pensado para elaborar novos pensamentos sobre si mesmo e sobre todas as coisas que compõem o meio em que está inserido. Como vimos anteriormente, para entender as leituras de mundo solidificadas nas palavras, é preciso dominar além da habilidade de conhecer letras, palavras e suas relações simples. O indivíduo que almeja avançar no conhecimento das ciências deve buscar desenvolver competências mais profundas em relação aos níveis de leitura de um texto. Ninguém nasce sabendo ler, ao menos as leituras que nesta reflexão estamos tratando. O ato de ler é adquirido com a convivência situacional do indivíduo com os mecanismos que levam ao desenvolvimento de tais habilidades. Para ler um texto, não é preciso lançar mão do domínio de todos os seis níveis de leitura discutidos no segundo ponto desta reflexão;; deve-­se, portanto, fazer a escolha do que se pretende ler e, então, selecionar níveis de compreensão a serem atingidos na leitura. Para Luckesi (1997, p. 145): é possível e desejável que, didaticamente, façamos incidir nossa atenção seletiva sobre determinados setores do processo de leitura, em determinados momentos. Assim, num momento poderemos estar mais preocupados em obter informações subsidiárias à leitura que estamos fazendo, ou poderemos estar mais preocupados com a apreensão da idéia principal do autor ou, ainda poderemos estar mais atentos a estabelecer uma crítica ao texto lido. No processo de leitura crítica de um texto, tudo pode ser considerado relevante. Deve-­ se ler minuciosamente o título e suas pressuposições, a biografia do autor e suas relações com o espaço e tempo da obra, as referências bibliográficas consultadas, o tema central e temas periféricos, as construções lingüístico-­textuais e suas intencionalidades discursivas, os aspectos extralingüísticos e as influências ideológico-­culturais que implementam no entendimento geral do texto, além de outras questões que se fizerem necessárias, tais como: esclarecimento de termos desconhecidos, a inserção histórica, a conectividade e intertextualidade. Dessa forma, nenhuma leitura pode ser considerada crítica, se forem descartados elementos que, embora possam ser considerados de pouca importância, convirjam com o propósito de produzir um entendimento amplo e geral do que pensou inicialmente o autor ao escrever o texto. LINGUAGEM, LEITURA E CONHECIMENTO Até este ponto, falamos sobre os níveis de leitura e sobre a importância de dominar os instrumentos de alcance desses níveis com o propósito de alcançar as regiões mais profundas de um texto e com isso obter uma leitura crítica e compromissada com o plano inicial do autor. Todas as discussões sobre leitura trazem reflexões, não só a respeito do ato de ler, mas, sobretudo, por que e para que se deve ler. O domínio da linguagem e suas relações lingüísticas pressupõem o domínio da leitura. Quanto maior for o domínio em relação à linguagem, maior será a profundidade que um indivíduo atingirá ao ler um texto, quer seja científico, quer seja literário. Não basta querer ler. Como tudo o que se pretende fazer sem correr riscos de equívoco, ler é, primeiramente, planejar, é saber o que, para que e como ler. O que ler? Esta é a primeira pergunta a ser respondida. É preciso selecionar os textos que são importantes para a construção do conhecimento que se pretende obter. A segunda pergunta é: para que ler? Os textos escolhidos deverão convergir para os interesses prévios do planejamento do leitor, ou seja, ler para entreter, ler por simples curiosidade, ler para adquirir conhecimentos específicos e/ou ler para fundamentar um trabalho científico. A terceira pergunta ± Como ler ± diz respeito aos seis níveis de leitura de um texto apresentados no começo de nossas discussões. É necessário que o leitor saiba o tipo de conhecimento que pretende obter no texto, para isso ele precisa escolher as ferramentas que o levarão à compreensão daquilo que planejou inicialmente. A partir deste ponto, quero tratar especialmente de um assunto que considero importante como fundamento de nossas preocupações em relação ao ato de ler, ou seja, quero tratar especialmente da pergunta: ler para quê? Ler para se desenvolver socialmente;; ler para entender e socializar-­se com os conhecimentos científicos;; ler para se tornar um cidadão completo e capaz de agir dentro da comunidade como agente de transformação social, podendo, por meio da consciência individual, estimular a consciência coletiva e, por conseguinte, despertar no semelhante o desejo de melhorar como homem. O homem precisa conhecer a ciência para entender a si mesmo e as coisas que o cercam, mas para isso, ele precisa adquirir o instrumental necessário para trilhar os caminhos rumo à compreensão daquilo que ainda é, sem sombra de dúvidas, sua maior incógnita, em outras palavras, ele deve desenvolver habilidades de leitura para transpor o emaranhado de palavras que guardam o segredo do conhecimento científico. O conhecimento oriundo de pesquisas científicas é uma realidade muito distante daqueles que estão à margem das comunidades formadas por homens de ciência. Para Chassot S ³XVXDOPHQWH FRQKHFHU FLrQFLD p DVVXQWR quase vedado àqueles que não SHUWHQFHPDHVVDHVRWpULFDFRPXQLGDGHFLHQWtILFD´. É necessário rever conceitos escolares a fim de se criar novos caminhos para que o homem tenha acesso ao conhecimento científico. Precisamos discutir novas teorias que viabilizem esse contato de maneira que a ciência possa sair do seu alto posto acadêmico e popularizar-­se, sem, no entanto, tornar-­se ³FRQKHFLPHQWRempírico´ na mais vulgar acepção do termo. Popularizar a ciência sem preparar o homem para recebê-­la, dando-­lhe condições de estudar e de desenvolver o ato de leitura crítica, é continuar negando-­lhe a possibilidade de transformar e aprimorar os seus conhecimentos. A idéia de iniciar o homem na ciência não pode constituir algo sem planejamento. A ciência deve fazer parte da vida de um indivíduo desde os seus primeiros anos de escola de modo a constituir uma gradação que aumenta de intensidade à medida que o educando aumenta o seu potencial em relação à compreensão de mundo. Sobre este assunto, encontramos embasamento na teoria da alfabetização científica de Chassot (2003, p. 91) que prevê a inclusão científica do indivíduo a partir do ensino fundamental, como se pode ver a seguir: A alfabetização científica pode ser considerada como uma das dimensões para potencializar alternativas que privilegiam uma educação mais comprometida. É recomendável enfatizar que essa deve ser uma preocupação muito significativa no ensino fundamental, mesmo que se advogue a necessidade de atenções quase idênticas também para o ensino médio [...] Ainda sobre essa questão, vale dizer que a alfabetização cientifica representa uma mudança radical e necessária ao ensino. Ela deve constituir uma ponte entre as velhas teorias que pregam a repetição de conteúdos que não mais importam ao aluno para um novo horizonte ensolarado pelos raios luminosos da ciência que emerge do próprio real vivido pelo educando. Sem querer ser pessimista, creio que nenhum contato com a ciência será total se o educando não possuir competências para compreender o fenômeno, como ele acontece e por que acontece. Chassot (2003, p. 91) DFUHGLWD TXH ³VH SRVVD SHQVDU PDLV DPSODPHQWH QDV possibilidades de fazer com que alunos e alunas, ao entenderem a ciência, possam FRPSUHHQGHUPHOKRUDVPDQLIHVWDo}HVGRXQLYHUVR´ Mas para compreender a ciência o aluno tem que ser capaz de fazer leituras críticas de mundo e, conseqüentemente, competentes leituras críticas da palavra escrita. Assim sendo, linguagem, leitura e ciência não se separam. São elementos que se interdependem. Um indivíduo deve dominar a linguagem escrita para fazer uma boa leitura da ciência, assim como dominar a leitura constitui para ele instrumento imprescindível no desenvolvimento da linguagem a fim de melhora sua competência como leitor crítico da ciência, de si e do mundo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao findarmos esta reflexão pela qual nos propusemos, inicialmente, refletir a importância da leitura e da linguagem como fatores preponderantes na aquisição e domínio do conhecimento científico e ao depararmos com o emaranhado de situações que se inter-­ relacionaram e convergiram-­se como apófises espinhosas da vértebra central de nossas preocupações, percebemos que não poderíamos, nem se quiséssemos, esgotar as discussões sobre linguagem, leitura e conhecimento num único ensaio. De tudo o quanto pesquisamos, queremos ressalta o notório valor que tem a leitura como instrumento de aquisição do saber. Dominar o ato de ler é progredir-­se em relação ao domínio da linguagem crítica, é, sobretudo, alcançar níveis elevados de criticidade em relação ao conhecimento. Em face do exposto, queremos encerrar dizendo que ler é fazer uso das leituras de outrem a fim de desenvolver nossas próprias leituras de mundo. Ler é construir linguagem, consciência, ideologia e, finalmente, poder. REFERÊNCIAS CHASSOT, Attico. Alfabetização científica: uma possibilidade para a inclusão social. Revista Brasileira de Educação, nº 22, 2003, p.89-­100. FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam. 22.ed. São Paulo: Cortez, 1988. LUCKESI, Cipriano et al. Fazer universidade: uma proposta metodológica. 9.ed. São Paulo: Cortez, 1997. SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2.ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.