132_Newslab_Artigo Dengue, Chikungunya e Zika: a nova realidade brasileira Dengue, Chikungunya and Zika: new brazilian reality Moacir Rubens de Oliveira Chaves¹ Adrielle Silmara Bernardo¹ Carla Daniela Bernardo¹ Josimar Francisco Dias Filho¹ Hellen da Silva Cintra de Paula² Xisto Sena Passos³ 1-Acadêmicos de Biomedicina da Universidade Paulista 2-Biomédica, Mestre e Professora na Universidade Paulista 3-Biólogo, Doutor e Professor na Universidade Paulista Instituto de Ciências da Saúde, Universidade Paulista Autor correspondente: Moacir Rubens de Oliveira Chaves Rua Uberlândia Quadra 59 Lote 10 Setor dos Afonsos Aparecida de Goiânia – GO CEP 74915-450 Fone: (62) 3094-7095 / 9222-0099 E-mail: [email protected] Resumo A dengue, isoladamente, é uma doença que preocupa os órgãos de saúde do Brasil, pois está presente em praticamente 100% do território nacional. Atualmente, com a chegada de duas novas doenças transmitidas pelo mesmo vetor, o Aedes aegypti, a preocupação se redobra. Essas doenças são a Chikungunya e a Zika. Apesar de possuírem o vetor em comum, os vírus são distintos. A Dengue conta hoje com cinco tipos virais já identificados DEN-1, DEN-2, DEN-3, DEN-4 e DEN-5; sendo que já foi registrada a presença dos quatro primeiros no Brasil. O vírus causador da chikungunya é o CHIKV vírus, e da zika, o ZIKV vírus. Além de vírus distintos, as doenças também são distintas, bem como suas consequências para população. Apesar de sinais clínicos em comum, há manifestações distintas que podem diferenciar seu diagnóstico. Palavra chave: engue, chikungunya, zika. Abstract Dengue, itself is a disease that concern health agencies of Brazil, because it is already present in virtually 100% of the country. Now, with the arrival of two new diseases transmitted by the same vector, the Aedes aegypti, the concern is redoubled. These disease are Chikungunya and Zika. Although they have the vector in common, the viruses are distinct. It is known five types of already identified dengue viruses: DEN-1, DEN-2, DEN-3, DEN-4 and DEN-5; wherein the presence of the first four have been recorded in Brazil. The viruses that causes chikungunya is CHIKV virus and zika is the ZIKV virus. In addition to different viruses, diseases are also different, as well as their consequences for the general population. Although they present some clinical signs in common, there are different clinical manifestations that can differentiate their diagnosis. Keyword: dengue, chikungunya, zika. Introdução No Brasil, até o ano de 2014, somente a dengue era conhecida por ser transmitida pelo mosquito Aedes aegypti. Entre os meses de julho e agosto de 2014, foram confirmados 37 casos de chikungunya em indivíduos oriundos de países da América Central, principalmente do Haiti e República Dominicana. Os primeiros casos autóctones foram identificados no Oiapoque, no Amapá, no mês de setembro do mesmo ano. Em maio de 2015, o Ministério da Saúde confirmou 16 casos do Zika vírus no Brasil. Sendo oito pacientes provenientes do Rio Grande do Norte e oito da Bahia. Em agosto de 2015, a zika já estava presente nos estados da Bahia, Rio Grande do Norte, São Paulo, Alagoas, Pará, Roraima, Rio de Janeiro, Maranhão, Pernambuco, Ceará, Paraíba, Paraná e Piauí(1). Ao contrário de ações anteriores no combate ao mosquito Aedes aegypti, onde foi possível até erradicá-lo do território nacional, após a década de 80 não houve grandes êxitos nas ações aplicadas para sua eliminação (2). Assim, a presença do vetor em todas as regiões favorece a disseminação de outras doenças transmitidas por este. Consequentemente, há a necessidade de se fazer um diagnóstico diferencial entre tais doenças, pois apesar de serem transmitidas pelo mesmo vetor, são distintas entre si. No Brasil, a dengue conta atualmente com quatro tipos de vírus circulantes: DEN-1, DEN-2, DEN-3 E DEN-4(3), enquanto que a Chikungunya é causada pelo vírus CHIKV(4) e a Febre Zika pelo vírus ZIKV(5). Diante deste novo quadro no Brasil, com a circulação simultânea de seis vírus potencialmente danosos a população, vê-se a necessidade do estudo de suas características e potencialidades, bem como os efeitos que ainda podem causar ao país. Revisão de literatura 1- Dengue No mundo cerca de 2,5 bilhões de pessoas vivem em áreas onde os vírus da dengue podem ser transmitidos. Nos últimos 25 anos, tornou-se hiperendêmica em muitos centros urbanos de países tropicais. A dengue foi identificada pela primeira vez em 1950 na Tailândia e Filipinas, e em 1970 já tinha atingido nove países. Atualmente são mais de 100 países atingidos, prevalecendo os países da África, Ásia, Américas Central e do Sul, portanto caracteriza uma doença de países pobres e em desenvolvimento. A dengue é atualmente a doença viral transmitida por mosquito de maior incidência e preocupação para saúde pública internacional (6). No Brasil, somente de janeiro a agosto de 2015, foram registrados mais de 1,35 milhão de casos (3). A transmissão da dengue ocorre pelo mosquito Aedes aegypti, e possui cinco vírus distintos já identificados, sendo que os tipos virais DEN-1, DEN2, DEN-3 e DEN-4, já eram conhecidos e recentemente o DEN-5 foi identificado em uma epidemia na Malásia (7–9). Apesar de serem vírus diferentes, estão estreitamente ligados entre si. Após uma infecção por determinado vírus a imunidade é vitalícia contra esse sorotipo, oferencendo uma proteção parcial e transitória contra a infecção subsequente pelos outros sorotipos. Uma infecção sequencial aumenta o risco de doença mais grave, resultando na febre hemorrágica da dengue (FHD) (6). Atualmente o controle de vetores é o método disponível para prevenção e controle da dengue e dengue hemorrágica, mas já existem pesquisas sobre vacinas que estão em andamento (10,11). A dengue, como importante epidemia global, tem sido negligênciada. O custo econômico e humano é impressionante e os esforços para reduzir a morbidade e mortalidade são atrasados. Os trabalhos realizados não são globalmente coordenados, tornando assim inviável sua erradicação (12). Segundo o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde até a semana epidemiológica 30 em 2015, foram registrados 1.350.406 casos prováveis de dengue no País. A região Sudeste foi a que mais registrou casos prováveis de dengue com 869.346 casos, seguida pela região Nordeste com 239.574 casos, Centro-Oeste com 162.336 casos, região Sul 52.703 casos e a região Norte com 26.447 casos. Dentre esses foram descartados 397.358 casos suspeitos de dengue no período (3). Foram confirmados 614 óbitos. Já em 2014, no mesmo período, foram registrados 390 óbitos por dengue no país (3). Os sinais e sintomas da dengue clássica, geralmente são caracterizados por febre alta de início súbito variando entre 39° a 40°C, com dores de cabeça, dores musculares, prostração, artralgia, falta de apetite, astenia, dor nos olhos, náuseas, vômitos e manchas vermelhas na pele, podendo ser acompanhado ou não de prurido. Além disso, o paciente pode apresentar vômitos e diarreia entre o segundo e o sexto dia da infecção. Em um período de 3 a 7 dias a temperatura começa a normalizar e os sintomas regridem, no entanto permanece um quadro de astenia por algumas semanas (13). A dengue hemorrágica pode ocorrer após uma reinfecção do vírus, ocasionando sintomas mais graves se comparada a dengue clássica. Este tipo de dengue se inicia com os mesmos sinais e sintomas da dengue clássica, porém acompanhados de sinais hemorrágicos. Os sinais hemorrágicos mais observados são: petéquias, equimoses, hemorragia das mucosas, hematêmese ou melena. A hemorragia gastrintestinal acontece nos casos mais graves juntamente com gengivorragia e epistaxe. O tratamento inadequado pode levar o paciente ao óbito em até 24 horas (14). Os principais sintomas da síndrome do choque da dengue (SCD), que é a mais séria das formas que a dengue pode apresentar, são característicos de dor abdominal contínua, vômitos, hepatomegalia dolorosa, diferença de pressão arterial sistólica e diastólica ≤ 20mmHg, pele fria e pegajosa, elevação súbita do hematócrito (> 20% no período de 24 horas), pequenas hemorragias, sudorese, taquicardia, cianose, oligúria e choque grave. O SCD pode agravar-se se houver acidose metabólica e coagulação intravascular, podendo levar ao óbito entre quatro e seis horas se não houver um tratamento imediato e intensificado. Se o quadro for superado, a recuperação do indivíduo ocorre em até três dias (13). Na dengue existem também algumas manifestações que não são comuns diante das quais a sociedade já tem certo conhecimento e também pode se manifestar de formas atípicas trazendo um comprometimento do sistema nervoso central e simulando outras doenças. O quadro clínico pode apresentar sintomas mais comuns no início acarretando formas raras que oferecem sérios riscos à saúde do paciente (15). No quadro 1 estão as principais manifestações atípicas que podem acometer o indivíduo. As técnicas utilizadas para a detecção do vírus da dengue podem ser inibição de hemaglutinação (IH), teste de neutralização (TN), PCR e ensaio imunoenzimático (ELISA). O exame mais utilizado é o ELISA, que detecta anticorpos IgM específicos contra dengue, no entanto só poderá ser realizado a partir do sexto dia da doença, quando os anticorpos começam a surgir, sendo uma desvantagem para um diagnóstico que necessita urgência na confirmação do vírus (16). Entre os exames laboratoriais, o hemograma é o mais indicado no diagnóstico e acompanhamento da evolução da doença. No hemograma são encontradas alterações como leucopenia, neutropenia com presença de linfócitos atípicos e trombocitopenia com valores abaixo de 100.000 plaquetas/µL (17). Para o diagnóstico da dengue hemorrágica utiliza-se o hematócrito que permite detectar a perda de líquidos para o espaço extravascular sendo fundamental para o acompanhamento da resposta a hidratação utilizada no tratamento (18). Além dos exames laboratoriais existentes, o exame físico realizado pelo profissional de saúde pode contribuir para um diagnóstico mais rápido da dengue. A prova do laço consiste na medida da pressão do paciente para calcular a média da pressão arterial (PAS+PAD)/2 e manter o manguito insuflado até o valor da pressão média (5 minutos para adultos e 3 minutos para crianças) até o aparecimento de petéquias ou equimoses. Deve-se contar o número de petéquias no quadrado 2,5x 2,5cm. Será positivo se houver 20 ou mais petéquias em adultos e 10 ou mais em crianças (19). Não existe ainda um tratamento específico contra o vírus da dengue. É indicado repouso, hidratação intensa com soro e líquidos caseiros como água, chás, suco de frutas e etc. Os medicamentos para aliviar a febre e dores no corpo indicados são os analgésicos, antitérmicos, antieméticos e anti-histamínicos. São contraindicados os salicilatos e anti-inflamatórios não hormonais por risco de hemorragias(16). Em casos de pacientes com início da fase crítica, ou seja, síndrome de choque da dengue e dengue hemorrágica, serão utilizados cuidados intensivos com monitorização constante da pressão arterial, débito urinário, manifestações hemorrágicas, grau de consciência e hidratação venosa (14). Não há vacina específica para dengue, porém estudos em andamento estão avaliando seis tipos de vacinas, sendo elas: CYD-TDV, DENVax, TV003/TV005, TDENV PIV, V180 e a D1ME 100, sendo a mais específica e a que teve maior positividade, a CYD-TDV (10). A vacina CYD-TDV, do fabricante Sanofi Pasteur, é uma vacina tetravalente, onde os genes que codificam as proteínas da prémembrana e do envelope da cepa, utilizada na vacina de febre amarela, foram substituídos pelos genes de cada um dos quatro sorotipos da dengue (10,11). A CYD-TDV, provou-se uma vacina de grande eficácia, mas com maior positividade nos sorotipos DENV-3 e DENV-4, sendo que há estudos em andamento para esclarecer o porque da CYD-TDV não desenvolver a mesma eficácia nos sorotipos DENV-1 e DENV-2(10). Ainda não foi divulgada uma data específica para a comercialização dessas vacinas, visto que ainda é necessário um maior aprimoramento das mesmas. 2- Chikungunya A chikungunya ou febre de chikungunya (CHIKV) é uma doença causada pelo vírus da família Togaviridae do gênero Alphavirus, transmitida pela picada de fêmeas dos mosquitos Aedes aegypti e o Aedes albopictus infectadas pelo CHIKV(20). Foi relatada pela primeira vez em 1950 na região da Tanzânia(4). Atualmente é encontrada em regiões tropicais e subtropicais da África, no sul e sudeste da Ásia e em ilhas do Oceano Índico. O significado de chikungunya vem da língua africana makonde que diz “aquele que é contorcido”, devido à forte dor nas articulações causada pela artrite que caracteriza a doença (21). No Brasil, a transmissão da chikungunya foi detectada em setembro de 2014, na cidade de Oiapoque (Amapá), atingindo posteriormente outros estados como Distrito Federal, Bahia, Mato Grosso do Sul, Roraima e Goiás (22). De acordo com o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, no ano de 2014, foram notificados 3.657 casos autóctones do vírus da CHIKV. Um total de 2.772 casos foram confirmados, sendo 140 por exames laboratoriais e 2.632 por critério clínico-epidemiológico, onde foram avaliados os sinais e sintomas típicos da doença. Destes 477 continuaram em investigação e 408 foram descartados. Já em 2015 até a Semana Epidemiológica 30, foram notificados 9.084 casos autóctones suspeitos da CHIKV, desses 3.554 foram confirmados, sendo 123 por exames laboratoriais e 3.431 por critérios clínico-epidemiológicos. Há, ainda, 5.217 casos em investigação. Não há relatos sobre morte no Brasil até o momento e as faixas etárias com maior risco de letalidade são os idosos e os recém-nascidos, que deverão ter uma maior atenção em caso de suspeita da doença por ter maior risco de morte (3). Apesar de ainda não existirem casos de morte causados pela chikungunya no Brasil, em alguns países da América Central, Caribe e países Andinos, já foram confirmados 63 óbitos (26). A chikungunya, é caracterizada por dores articulares de forte intensidade por vezes debilitante, febre > 38,5°C, dor de cabeça e dores musculares (4). O quadro mais importante e relatado na maioria dos casos clínicos é a artralgia simétrica, observadas nos tornozelos, dedos dos pés, cotovelos, punhos, dedos das mãos e joelhos (23). A duração desses sintomas é de cerca de 10 dias, mas pode estenderse por meses após o quadro febril da doença (4). No entanto, há casos documentados onde a artralgia persiste por anos, podendo em 12% dos casos desenvolver problemas articulares crônicos (23). O período de incubação da doença no homem é em média de 3 a 7 dias, podendo estender até 12 dias (24). Após o período de incubação iniciam-se as fases da doença que são: fase aguda ou febril, fase subaguda e a fase crônica (24). Na fase aguda o paciente apresenta febre de início abrupto, poliartralgia, dor nas costas, dor de cabeça, cansaço, calafrios, dor nos olhos, náuseas, vômitos, diarreia, dor abdominal e inchaço que está associado à tenossinovite. Durante essa fase ocorre o aparecimento de exantemas, geralmente entre o segundo e o quinto dia, atingindo o tronco e as extremidades, podendo ser generalizado ou localizado nas regiões palmo-plantar. Dentre outras manifestações cutâneas, são diagnosticadas as dermatites esfoliativa, lesões vesicobolhosas, hiperpigmentação, fotossensibilidade, eritema nodoso e úlceras orais (24) . Os neonatos de mães infectadas pelo vírus podem contrair a CHIKV no período intraparto. O recém-nascido desenvolverá os sintomas a partir do quarto dia com a presença de febre, síndrome álgica, exantemas, descamação, hiperpigmentação cutânea e inchaço nas extremidades (24). As formas graves da fase aguda são frequentes nesta faixa etária, como o aparecimento de complicações neurológicas, hemorrágicos e acometimento do miocárdio (24). Na fase subaguda, a febre cessa e a artralgia se destaca com maior persistência ou agravamento na região distal incluindo punhos e tornozelos, acompanhado de inchaço de proporções variáveis, aparece nessa fase da doença astenia, prurido generalizado e exantema maculopapular, cansaço e sintomas depressivos. Com a persistência desses sintomas o paciente entra na fase crônica da doença (24). A fase crônica destaca-se pela persistência dos sintomas tais como dores articulares e musculoesqueléticas que se iniciam na fase aguda da doença podendo ser acompanhado ou não por inchaço, limitação do movimento, deformidade e ausência de eritema. Nessa fase há o aparecimento de outras manifestações clínicas como: cansaço, dor de cabeça, prurido, alopecia, bursite, tenossinovite, disestesias, distúrbios do sono dentre outras. A fase crônica pode permanecer até três anos após os primeiros sintomas da chikungunya (24). O vírus CHIKV é reconhecido pelos sintomas clássicos como a febre e a artralgia. Porém, conforme mostra o quadro 2, existem manifestações menos comuns que podem ocorrer em alguns pacientes devido aos efeitos diretos do vírus levando a uma resposta imune ou pela toxicidade a medicamentos (20) . O paciente que apresentar sinais clínicos e/ou laboratoriais sendo necessária a internação em unidade de terapia intensiva, ou ainda pacientes com risco de morte, deverão ser reconhecidos como portadores da forma grave da doença. As formas graves do chikungunya acometem principalmente pacientes com doenças crônicas como: diabetes, asma, insuficiência cardíaca, alcoolismo, anemia falciforme hipertensão arterial sistêmica e outras. As faixas etárias mais comuns são crianças e pacientes com idade acima de 65 anos (24). O hemograma é o exame laboratorial solicitado pelo médico para acompanhamento da doença. Outros testes bioquímicos como as transaminases, creatinina e eletrólitos são indicados para os pacientes em estado grave (24). Não há vacina ou tratamento específico contra o vírus da CHIKV. Geralmente utilizam-se analgésicos e drogas anti-inflamatórias não esteroides para a diminuição da dor e febre contribuindo para uma boa melhora dos sintomas causados pelo vírus (25). 3-Zika O Zika vírus (ZIKV), foi identificado pela primeira vez em 20 de abril de 1947, na floresta Zika (daí o nome do vírus), localizada na Uganda, na África, em um macaco do gênero Rhesus (5,27). Em seres humanos o vírus foi descoberto em 1952 na Uganda e Tanzânia, e em 1968 foi confirmado em amostras biológicas de humanos na Nigéria (28). O ZIKV é um arbovírus do gênero Flavivírus, pertencente à família Flaviviridae (29). Apesar de o vírus existir por vários anos, somente no início do ano de 2015 foram registrados os primeiros casos confirmados de infecção do ZIKV no Brasil (5). Os primeiros casos surgiram na Bahia e em São Paulo, logo em seguida a infecção pelo o ZIKV foi confirmada no Rio Grande do Norte, Alagoas, Maranhão, Pará e Rio de Janeiro (5). O período de incubação do ZIKV pode variar de 3 a 12 dias após a picada do mosquito Aedes aegyptis ou Aedes polynesiensis (30). O ZIKV pode causar manifestações clínicas, que incluem artralgia, edema de extremidades, febre moderada que varia em 37,8 °C - 38 °C, erupções pruriginosas maculopapular com frequência, dores de cabeça, dor retro-orbitária, conjuntivite não purulenta, vertigem, mialgia e distúrbio digestivo (27,29,30); os sintomas podem durar cerca de 4 a 7 dias (28). Apesar de ser uma infecção viral considerada leve e, na maioria dos casos, assintomática (7), o ZIKV em casos mais severos, pode acometer o sistema nervoso central, sendo associada a síndrome de Guillian-Barré(5). Em uma epidemia ocorrida na Micronésia, foram registrados 40 casos da síndrome de Guillian-Barré, sendo que em um período anterior de um ano, havia registros de apenas de 5 casos na região (1). O mesmo fato foi confirmado na Polinésia Francesa e no Brasil (1,5). Isso mostra uma possível relação do desenvolvimento da síndrome, após infecção pelo ZIKV(1). Não há vacina ou tratamento específico para o ZIKV(30). O tratamento é bastante parecido com o da dengue clássica, que inclui a ingestão de grande quantidade de líquido (indispensável para combater a desidratação), para alívio da febre indica-se o uso de acetaminofeno (Paracetamol) ou dipirona e antihistamínicos podem ser utilizados em caso de erupções pruriginosas(1,28,30). O uso de ácido acetilsalicílico e outros anti-inflamatórios não são recomendados devido ao risco de hemorragias (1). Os exames laboratoriais mais específicos para o diagnóstico da infecção pelo ZIKV é a identificação do RNA viral no sangue do paciente (28,30). A reação da cadeia de polimerase da transcriptase reversa (RT-PCR) é a técnica de referência para o diagnóstico do ZIKV, tanto na fase de incubação, quanto na fase de latência do vírus, sendo ideal realizar o exame no 4° dia do aparecimento dos sintomas (1,28,30). Os testes de ELISA ou de imunofluorescência são amplamente utilizados para a confirmação do diagnóstico do ZIKV, no entanto, devido a baixa concentração de anticorpos IgM e IgG na fase de incubação, torna-se mais difícil a identificação do vírus no paciente (28,30,31). Em uma epidemia ocorrida na ilha Yap na Micronésia em 2007, o centro de controle e prevenção de doenças de Atlanta (EUA), desenvolveu uma técnica de ELISA para anti-zika, mas, devido o alto índice de reações cruzadas com outros flavivírus o teste não se mostrou tão específico (30). O ZIKV pode causar alguns sintomas mais raros, que estão descritos no quadro 3. Apesar destes sintomas atípicos, registrados em alguns pacientes, durante um surto do ZIKV ocorrido em outubro de 2013 e em fevereiro de 2014 na Polinésia Francesa, até o momento não houve registro de morte causado pela infecção do ZIKV e a taxa de hospitalização é considerada baixa(1). Conclusão Com a presença de três doenças circulando simultaneamente e com alguns sintomas semelhantes entre si, há um aumento na dificuldade do diagnóstico exato, mas este se mostra necessário para evitar o agravamento das consequências que cada uma pode trazer ao paciente. Existem alguns sinais e sintomas comuns entre as três doenças aqui descritas, porém possuem intensidades diferentes. Além disso, alguns sintomas podem se manifestar em determinados pacientes e não aparecer em outros, conforme observado no quadro 4. A dengue continua sendo a doença que causa a maior preocupação no momento atual. Mas não se pode negligenciar a Chikungunya e a Zika, que já estão presentes e podem se tornar novas epidemias, trazendo consequências graves para a população. É inquestionável que a dengue é a doença que mais causa óbitos, no entanto a incapacidade que Chikungunya pode trazer aos pacientes, bem como as consequências neurológicas advindas de complicações da Zika, são fatores preocupantes. Ações mais eficazes de combate ao vetor, identificação precoce pelos agentes de controle epidemiológico de novas áreas afetadas, buscas de tratamentos mais eficientes com maior especificidade e pesquisas para o desenvolvimento de vacinas se mostram necessários e urgentes. Referências 1. Brasil, Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde D de V em DT. Boletim Epidemiológico N. 26. 2015;1–7. 2. Valle D, Braga I a. Aedes aegypti : histórico do controle no Brasil *. Epidemiol e Serviços Saúde. 2007;113–8. 3. Brasil, Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde D de V em DT. Boletim Epidemiológico N. 24. 2015;1–8. 4. Donalisio MR, Freitas ARR. Chikungunya in Brazil: an emerging challenge. Rev Bras Epidemiol. Associação Brasileira de Saúde Coletiva; 2014;283–5. 5. Vasconcelos PFDC. Doença pelo vírus Zika: um novo problema emergente nas Américas? Rev Pan-Amazônica Saúde. 2015;9–10. 6. World Healt Organization. Dengue/dengue haemorrhagic fever [Internet]. . 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Quadro 1 – Manifestações atípicas da Dengue Sistema/Órgão Manifestações Sistema nervoso central Encefalopatia, Síndrome de Guillian-Barré, Síndrome de Reye, Outros Hepatite, glomerulonefrite, paralisia flácida aguda. Fonte: Dengue e dengue hemorrágico: aspecto do manejo na unidade de terapia intensiva. Rio de Janeiro (2007). Quadro 2 – Manifestações atípicas de Chikungunya Sistema / órgão Nervoso Olho Cardiovascular Pele Rins Outros Manifestações Meningoencefalite, encefalopatia, convulsão, Síndrome de Guillain-Barré, Síndrome cerebelar, paresias, paralisias e neuropatias. Neurite óptica, iridociclite, episclerite, retinite e uveíte Miocardite, pericardite, insuficiência cardíaca, arritmia e instabilidade hemodinâmica. Hiperpigmentação por fotossensibilidade, dermatoses vesiculobolhosas e ulcerações aftosa-like. Nefrite e insuficiência renal aguda. Discrasia sanguínea, pneumonia, insuficiência respiratória, hepatite, pancreatite, síndrome da secreção inapropriada do hormônio antidiurético e insuficiência adrenal. Fonte: Ministério da Saúde Febre Chikungunya manejo clínico Brasília / DF 2015 Quadro 3 – Formas atipícas do ZIKV Sistema/Órgão Manifestações Neurológico Sindrome de Gillian-Barrè, meningoencefalites, parestesias, paralisia facial e mielites. Outros Trombocitopenia, complicações cardíacas e complicações oftalmológicas. Fonte: Secretaria de Vigilância em Saúde – Ministério da Saúde – volume 46 Nº 26 – 2015 / Febre pelo o Zika: uma revisão narrativa sobre a doença. Quadro 4 - Sinais e sintomas em comum entre a Dengue, Chikungunya e Zika. Sinais e sintomas Dengue Chikungunya Zika Febre ++++ +++ +++ Mialgia/artralgia +++ ++++ ++ Edema das extremidades ausente ausente ++ Exantema maculopapular ++ ++ +++ Dor retroorbital ++ + ++ ausente + +++ Linfadenopatia ++ ++ + Hepatomegalia ausente +++ ausente +++ +++ ausente + ausente ausente Hiperemia conjuntival Leucopenia/trombocitopeni a Hemorragia Fonte: Secretaria de Vigilância em Saúde – Ministério da Saúde – volume 46 Nº 26 – 2015 / Febre pelo o Zika: uma revisão narrativa sobre a doença.