dengue zika chikungunia

Propaganda
132_Newslab_Artigo
Dengue, Chikungunya e Zika: a nova realidade brasileira
Dengue, Chikungunya and Zika: new brazilian reality
Moacir Rubens de Oliveira Chaves¹
Adrielle Silmara Bernardo¹
Carla Daniela Bernardo¹
Josimar Francisco Dias Filho¹
Hellen da Silva Cintra de Paula²
Xisto Sena Passos³
1-Acadêmicos de Biomedicina da Universidade Paulista
2-Biomédica, Mestre e Professora na Universidade Paulista
3-Biólogo, Doutor e Professor na Universidade Paulista
Instituto de Ciências da Saúde, Universidade Paulista
Autor correspondente:
Moacir Rubens de Oliveira Chaves
Rua Uberlândia Quadra 59 Lote 10 Setor dos Afonsos
Aparecida de Goiânia – GO CEP 74915-450
Fone: (62) 3094-7095 / 9222-0099
E-mail: [email protected]
Resumo
A dengue, isoladamente, é uma doença que preocupa os órgãos de saúde do Brasil,
pois está presente em praticamente 100% do território nacional. Atualmente, com a
chegada de duas novas doenças transmitidas pelo mesmo vetor, o Aedes aegypti, a
preocupação se redobra. Essas doenças são a Chikungunya e a Zika. Apesar de
possuírem o vetor em comum, os vírus são distintos. A Dengue conta hoje com cinco
tipos virais já identificados DEN-1, DEN-2, DEN-3, DEN-4 e DEN-5; sendo que já foi
registrada a presença dos quatro primeiros no Brasil. O vírus causador da
chikungunya é o CHIKV vírus, e da zika, o ZIKV vírus. Além de vírus distintos, as
doenças também são distintas, bem como suas consequências para população.
Apesar de sinais clínicos em comum, há manifestações distintas que podem
diferenciar seu diagnóstico.
Palavra chave: engue, chikungunya, zika.
Abstract
Dengue, itself is a disease that concern health agencies of Brazil, because it is
already present in virtually 100% of the country. Now, with the arrival of two new
diseases transmitted by the same vector, the Aedes aegypti, the concern is
redoubled. These disease are Chikungunya and Zika. Although they have the vector
in common, the viruses are distinct. It is known five types of already identified dengue
viruses: DEN-1, DEN-2, DEN-3, DEN-4 and DEN-5; wherein the presence of the first
four have been recorded in Brazil. The viruses that causes chikungunya is CHIKV
virus and zika is the ZIKV virus. In addition to different viruses, diseases are also
different, as well as their consequences for the general population. Although they
present some clinical signs in common, there are different clinical manifestations that
can differentiate their diagnosis.
Keyword: dengue, chikungunya, zika.
Introdução
No Brasil, até o ano de 2014, somente a dengue era conhecida por ser
transmitida pelo mosquito Aedes aegypti. Entre os meses de julho e agosto de 2014,
foram confirmados 37 casos de chikungunya em indivíduos oriundos de países da
América Central, principalmente do Haiti e República Dominicana. Os primeiros
casos autóctones foram identificados no Oiapoque, no Amapá, no mês de setembro
do mesmo ano. Em maio de 2015, o Ministério da Saúde confirmou 16 casos do Zika
vírus no Brasil. Sendo oito pacientes provenientes do Rio Grande do Norte e oito da
Bahia. Em agosto de 2015, a zika já estava presente nos estados da Bahia, Rio
Grande do Norte, São Paulo, Alagoas, Pará, Roraima, Rio de Janeiro, Maranhão,
Pernambuco, Ceará, Paraíba, Paraná e Piauí(1).
Ao contrário de ações anteriores no combate ao mosquito Aedes aegypti,
onde foi possível até erradicá-lo do território nacional, após a década de 80 não
houve grandes êxitos nas ações aplicadas para sua eliminação (2). Assim, a
presença do vetor em todas as regiões favorece a disseminação de outras doenças
transmitidas por este. Consequentemente, há a necessidade de se fazer um
diagnóstico diferencial entre tais doenças, pois apesar de serem transmitidas pelo
mesmo vetor, são distintas entre si. No Brasil, a dengue conta atualmente com
quatro tipos de vírus circulantes: DEN-1, DEN-2, DEN-3 E DEN-4(3), enquanto que
a Chikungunya é causada pelo vírus CHIKV(4) e a Febre Zika pelo vírus ZIKV(5).
Diante deste novo quadro no Brasil, com a circulação simultânea de seis vírus
potencialmente danosos a população, vê-se a necessidade do estudo de suas
características e potencialidades, bem como os efeitos que ainda podem causar ao
país.
Revisão de literatura
1- Dengue
No mundo cerca de 2,5 bilhões de pessoas vivem em áreas onde os vírus da
dengue podem ser transmitidos. Nos últimos 25 anos, tornou-se hiperendêmica em
muitos centros urbanos de países tropicais. A dengue foi identificada pela primeira
vez em 1950 na Tailândia e Filipinas, e em 1970 já tinha atingido nove países.
Atualmente são mais de 100 países atingidos, prevalecendo os países da África,
Ásia, Américas Central e do Sul, portanto caracteriza uma doença de países pobres
e em desenvolvimento. A dengue é atualmente a doença viral transmitida por
mosquito de maior incidência e preocupação para saúde pública internacional (6).
No Brasil, somente de janeiro a agosto de 2015, foram registrados mais de 1,35
milhão de casos (3). A transmissão da dengue ocorre pelo mosquito Aedes aegypti,
e possui cinco vírus distintos já identificados, sendo que os tipos virais DEN-1, DEN2, DEN-3 e DEN-4, já eram conhecidos e recentemente o DEN-5 foi identificado em
uma epidemia na Malásia (7–9). Apesar de serem vírus diferentes, estão
estreitamente ligados entre si. Após uma infecção por determinado vírus a
imunidade é vitalícia contra esse sorotipo, oferencendo uma proteção parcial e
transitória contra a infecção subsequente pelos outros sorotipos. Uma infecção
sequencial aumenta o risco de doença mais grave, resultando na febre hemorrágica
da dengue (FHD) (6). Atualmente o controle de vetores é o método disponível para
prevenção e controle da dengue e dengue hemorrágica, mas já existem pesquisas
sobre vacinas que estão em andamento (10,11).
A dengue, como importante epidemia global, tem sido negligênciada. O custo
econômico e humano é impressionante e os esforços para reduzir a morbidade e
mortalidade são atrasados. Os trabalhos realizados não são globalmente
coordenados, tornando assim inviável sua erradicação (12).
Segundo o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde até a semana
epidemiológica 30 em 2015, foram registrados 1.350.406 casos prováveis de dengue
no País. A região Sudeste foi a que mais registrou casos prováveis de dengue com
869.346 casos, seguida pela região Nordeste com 239.574 casos, Centro-Oeste
com 162.336 casos, região Sul 52.703 casos e a região Norte com 26.447 casos.
Dentre esses foram descartados 397.358 casos suspeitos de dengue no período (3).
Foram confirmados 614 óbitos. Já em 2014, no mesmo período, foram registrados
390 óbitos por dengue no país (3).
Os sinais e sintomas da dengue clássica, geralmente são caracterizados por
febre alta de início súbito variando entre 39° a 40°C, com dores de cabeça, dores
musculares, prostração, artralgia, falta de apetite, astenia, dor nos olhos, náuseas,
vômitos e manchas vermelhas na pele, podendo ser acompanhado ou não de
prurido. Além disso, o paciente pode apresentar vômitos e diarreia entre o segundo e
o sexto dia da infecção. Em um período de 3 a 7 dias a temperatura começa a
normalizar e os sintomas regridem, no entanto permanece um quadro de astenia por
algumas semanas (13).
A dengue hemorrágica pode ocorrer após uma reinfecção do vírus,
ocasionando sintomas mais graves se comparada a dengue clássica. Este tipo de
dengue se inicia com os mesmos sinais e sintomas da dengue clássica, porém
acompanhados de sinais hemorrágicos. Os sinais hemorrágicos mais observados
são: petéquias, equimoses, hemorragia das mucosas, hematêmese ou melena. A
hemorragia gastrintestinal acontece nos casos mais graves juntamente com
gengivorragia e epistaxe. O tratamento inadequado pode levar o paciente ao óbito
em até 24 horas (14).
Os principais sintomas da síndrome do choque da dengue (SCD), que é a
mais séria das formas que a dengue pode apresentar, são característicos de dor
abdominal contínua, vômitos, hepatomegalia dolorosa, diferença de pressão arterial
sistólica e diastólica ≤ 20mmHg, pele fria e pegajosa, elevação súbita do hematócrito
(> 20% no período de 24 horas), pequenas hemorragias, sudorese, taquicardia,
cianose, oligúria
e choque grave. O SCD pode agravar-se se houver acidose
metabólica e coagulação intravascular, podendo levar ao óbito entre quatro e seis
horas se não houver um tratamento imediato e intensificado. Se o quadro for
superado, a recuperação do indivíduo ocorre em até três dias (13).
Na dengue existem também algumas manifestações que não são comuns
diante das quais a sociedade já tem certo conhecimento e também pode se
manifestar de formas atípicas trazendo um comprometimento do sistema nervoso
central e simulando outras doenças. O quadro clínico pode apresentar sintomas
mais comuns no início acarretando formas raras que oferecem sérios riscos à saúde
do paciente (15). No quadro 1 estão as principais manifestações atípicas que podem
acometer o indivíduo.
As técnicas utilizadas para a detecção do vírus da dengue podem ser inibição
de hemaglutinação (IH), teste de neutralização (TN), PCR e ensaio imunoenzimático
(ELISA). O exame mais utilizado é o ELISA, que detecta anticorpos IgM específicos
contra dengue, no entanto só poderá ser realizado a partir do sexto dia da doença,
quando os anticorpos começam a surgir, sendo uma desvantagem para um
diagnóstico que necessita urgência na confirmação do vírus (16). Entre os exames
laboratoriais, o hemograma é o mais indicado no diagnóstico e acompanhamento da
evolução da doença. No hemograma são encontradas alterações como leucopenia,
neutropenia com presença de linfócitos atípicos e trombocitopenia com valores
abaixo de 100.000 plaquetas/µL (17). Para o diagnóstico da dengue hemorrágica
utiliza-se o hematócrito que permite detectar a perda de líquidos para o espaço
extravascular sendo fundamental para o acompanhamento da resposta a hidratação
utilizada no tratamento (18).
Além dos exames laboratoriais existentes, o exame físico realizado pelo
profissional de saúde pode contribuir para um diagnóstico mais rápido da dengue. A
prova do laço consiste na medida da pressão do paciente para calcular a média da
pressão arterial (PAS+PAD)/2 e manter o manguito insuflado até o valor da pressão
média (5 minutos para adultos e 3 minutos para crianças) até o aparecimento de
petéquias ou equimoses. Deve-se contar o número de petéquias no quadrado 2,5x
2,5cm. Será positivo se houver 20 ou mais petéquias em adultos e 10 ou mais em
crianças (19).
Não existe ainda um tratamento específico contra o vírus da dengue. É
indicado repouso, hidratação intensa com soro e líquidos caseiros como água, chás,
suco de frutas e etc. Os medicamentos para aliviar a febre e dores no corpo
indicados são os analgésicos, antitérmicos, antieméticos e anti-histamínicos. São
contraindicados os salicilatos e anti-inflamatórios não hormonais por risco de
hemorragias(16). Em casos de pacientes com início da fase crítica, ou seja,
síndrome de choque da dengue e dengue hemorrágica, serão utilizados cuidados
intensivos com monitorização constante da pressão arterial, débito urinário,
manifestações hemorrágicas, grau de consciência e hidratação venosa (14).
Não há vacina específica para dengue, porém estudos em andamento estão
avaliando seis tipos de vacinas, sendo elas: CYD-TDV, DENVax, TV003/TV005,
TDENV PIV, V180 e a D1ME 100, sendo a mais específica e a que teve maior
positividade, a CYD-TDV (10). A vacina CYD-TDV, do fabricante Sanofi Pasteur, é
uma vacina tetravalente, onde os genes que codificam as proteínas da prémembrana e do envelope da cepa, utilizada na vacina de febre amarela, foram
substituídos pelos genes de cada um dos quatro sorotipos da dengue (10,11). A
CYD-TDV, provou-se uma vacina de grande eficácia, mas com maior positividade
nos sorotipos DENV-3 e DENV-4, sendo que há estudos em andamento para
esclarecer o porque da CYD-TDV não desenvolver a mesma eficácia nos sorotipos
DENV-1 e DENV-2(10). Ainda não foi divulgada uma data específica para a
comercialização dessas vacinas, visto que ainda é necessário um maior
aprimoramento das mesmas.
2- Chikungunya
A chikungunya ou febre de chikungunya (CHIKV) é uma doença causada pelo
vírus da família Togaviridae do gênero Alphavirus, transmitida pela picada de fêmeas
dos mosquitos Aedes aegypti e o Aedes albopictus infectadas pelo CHIKV(20). Foi
relatada pela primeira vez em 1950 na região da Tanzânia(4). Atualmente é
encontrada em regiões tropicais e subtropicais da África, no sul e sudeste da Ásia e
em ilhas do Oceano Índico. O significado de chikungunya vem da língua africana
makonde que diz “aquele que é contorcido”, devido à forte dor nas articulações
causada pela artrite que caracteriza a doença (21). No Brasil, a transmissão da
chikungunya foi detectada em setembro de 2014, na cidade de Oiapoque (Amapá),
atingindo posteriormente outros estados como Distrito Federal, Bahia, Mato Grosso
do Sul, Roraima e Goiás (22).
De acordo com o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, no ano de
2014, foram notificados 3.657 casos autóctones do vírus da CHIKV. Um total de
2.772 casos foram confirmados, sendo 140 por exames laboratoriais e 2.632 por
critério clínico-epidemiológico, onde foram avaliados os sinais e sintomas típicos da
doença. Destes 477 continuaram em investigação e 408 foram descartados. Já em
2015 até a Semana Epidemiológica 30, foram notificados 9.084 casos autóctones
suspeitos da CHIKV, desses 3.554 foram confirmados, sendo 123 por exames
laboratoriais e 3.431 por critérios clínico-epidemiológicos. Há, ainda, 5.217 casos em
investigação. Não há relatos sobre morte no Brasil até o momento e as faixas etárias
com maior risco de letalidade são os idosos e os recém-nascidos, que deverão ter
uma maior atenção em caso de suspeita da doença por ter maior risco de morte (3).
Apesar de ainda não existirem casos de morte causados pela chikungunya no Brasil,
em alguns países da América Central, Caribe e países Andinos, já foram
confirmados 63 óbitos (26).
A chikungunya, é caracterizada por dores articulares de forte intensidade por
vezes debilitante, febre > 38,5°C, dor de cabeça e dores musculares (4). O quadro
mais importante e relatado na maioria dos casos clínicos é a artralgia simétrica,
observadas nos tornozelos, dedos dos pés, cotovelos, punhos, dedos das mãos e
joelhos (23). A duração desses sintomas é de cerca de 10 dias, mas pode estenderse por meses após o quadro febril da doença (4). No entanto, há casos
documentados onde a artralgia persiste por anos, podendo em 12% dos casos
desenvolver problemas articulares crônicos (23). O período de incubação da doença
no homem é em média de 3 a 7 dias, podendo estender até 12 dias (24). Após o
período de incubação iniciam-se as fases da doença que são: fase aguda ou febril,
fase subaguda e a fase crônica (24).
Na fase aguda o paciente apresenta febre de início abrupto, poliartralgia, dor
nas costas, dor de cabeça, cansaço, calafrios, dor nos olhos, náuseas, vômitos,
diarreia, dor abdominal e inchaço que está associado à tenossinovite. Durante essa
fase ocorre o aparecimento de exantemas, geralmente entre o segundo e o quinto
dia, atingindo o tronco e as extremidades, podendo ser generalizado ou localizado
nas
regiões
palmo-plantar.
Dentre
outras
manifestações
cutâneas,
são
diagnosticadas as dermatites esfoliativa, lesões vesicobolhosas, hiperpigmentação,
fotossensibilidade, eritema nodoso e úlceras orais (24) .
Os neonatos de mães infectadas pelo vírus podem contrair a CHIKV no
período intraparto. O recém-nascido desenvolverá os sintomas a partir do quarto dia
com
a
presença
de
febre,
síndrome
álgica,
exantemas,
descamação,
hiperpigmentação cutânea e inchaço nas extremidades (24). As formas graves da
fase aguda são frequentes nesta faixa etária, como o aparecimento de complicações
neurológicas, hemorrágicos e acometimento do miocárdio (24).
Na fase subaguda, a febre cessa e a artralgia se destaca com maior
persistência ou agravamento na região distal incluindo punhos e tornozelos,
acompanhado de inchaço de proporções variáveis, aparece nessa fase da doença
astenia, prurido generalizado e exantema maculopapular, cansaço e sintomas
depressivos. Com a persistência desses sintomas o paciente entra na fase crônica
da doença (24).
A fase crônica destaca-se pela persistência dos sintomas tais como dores
articulares e musculoesqueléticas que se iniciam na fase aguda da doença podendo
ser acompanhado ou não por inchaço, limitação do movimento, deformidade e
ausência de eritema. Nessa fase há o aparecimento de outras manifestações
clínicas como: cansaço, dor de cabeça, prurido, alopecia, bursite, tenossinovite,
disestesias, distúrbios do sono dentre outras. A fase crônica pode permanecer até
três anos após os primeiros sintomas da chikungunya (24).
O vírus CHIKV é reconhecido pelos sintomas clássicos como a febre e a
artralgia. Porém, conforme mostra o quadro 2, existem manifestações menos
comuns que podem ocorrer em alguns pacientes devido aos efeitos diretos do vírus
levando a uma resposta imune ou pela toxicidade a medicamentos (20) .
O paciente que apresentar sinais clínicos e/ou laboratoriais sendo necessária
a internação em unidade de terapia intensiva, ou ainda pacientes com risco de morte,
deverão ser reconhecidos como portadores da forma grave da doença. As formas
graves do chikungunya acometem principalmente pacientes com doenças crônicas
como: diabetes, asma, insuficiência cardíaca, alcoolismo, anemia falciforme
hipertensão arterial sistêmica e outras. As faixas etárias mais comuns são crianças e
pacientes com idade acima de 65 anos (24).
O hemograma é o exame laboratorial solicitado pelo médico para
acompanhamento da doença. Outros testes bioquímicos como as transaminases,
creatinina e eletrólitos são indicados para os pacientes em estado grave (24).
Não há vacina ou tratamento específico contra o vírus da CHIKV. Geralmente
utilizam-se analgésicos e drogas anti-inflamatórias não esteroides para a diminuição
da dor e febre contribuindo para uma boa melhora dos sintomas causados pelo vírus
(25).
3-Zika
O Zika vírus (ZIKV), foi identificado pela primeira vez em 20 de abril de 1947,
na floresta Zika (daí o nome do vírus), localizada na Uganda, na África, em um
macaco do gênero Rhesus (5,27). Em seres humanos o vírus foi descoberto em
1952 na Uganda e Tanzânia, e em 1968 foi confirmado em amostras biológicas de
humanos na Nigéria (28). O ZIKV é um arbovírus do gênero Flavivírus, pertencente
à família Flaviviridae (29). Apesar de o vírus existir por vários anos, somente no
início do ano de 2015 foram registrados os primeiros casos confirmados de infecção
do ZIKV no Brasil (5). Os primeiros casos surgiram na Bahia e em São Paulo, logo
em seguida a infecção pelo o ZIKV foi confirmada no Rio Grande do Norte, Alagoas,
Maranhão, Pará e Rio de Janeiro (5).
O período de incubação do ZIKV pode variar de 3 a 12 dias após a picada do
mosquito Aedes aegyptis ou Aedes polynesiensis (30). O ZIKV pode causar
manifestações clínicas, que incluem artralgia, edema de extremidades, febre
moderada que varia em 37,8 °C - 38 °C, erupções pruriginosas maculopapular com
frequência, dores de cabeça, dor retro-orbitária, conjuntivite não purulenta, vertigem,
mialgia e distúrbio digestivo (27,29,30); os sintomas podem durar cerca de 4 a 7 dias
(28).
Apesar de ser uma infecção viral considerada leve e, na maioria dos casos,
assintomática (7), o ZIKV em casos mais severos, pode acometer o sistema nervoso
central, sendo associada a síndrome de Guillian-Barré(5). Em uma epidemia
ocorrida na Micronésia, foram registrados 40 casos da síndrome de Guillian-Barré,
sendo que em um período anterior de um ano, havia registros de apenas de 5 casos
na região (1). O mesmo fato foi confirmado na Polinésia Francesa e no Brasil (1,5).
Isso mostra uma possível relação do desenvolvimento da síndrome, após infecção
pelo ZIKV(1).
Não há vacina ou tratamento específico para o ZIKV(30). O tratamento é
bastante parecido com o da dengue clássica, que inclui a ingestão de grande
quantidade de líquido (indispensável para combater a desidratação), para alívio da
febre indica-se o uso de acetaminofeno (Paracetamol) ou dipirona e antihistamínicos podem ser utilizados em caso de erupções pruriginosas(1,28,30). O
uso de ácido acetilsalicílico e outros anti-inflamatórios não são recomendados
devido ao risco de hemorragias (1).
Os exames laboratoriais mais específicos para o diagnóstico da infecção pelo
ZIKV é a identificação do RNA viral no sangue do paciente (28,30). A reação da
cadeia de polimerase da transcriptase reversa (RT-PCR) é a técnica de referência
para o diagnóstico do ZIKV, tanto na fase de incubação, quanto na fase de latência
do vírus, sendo ideal realizar o exame no 4° dia do aparecimento dos sintomas
(1,28,30).
Os testes de ELISA ou de imunofluorescência são amplamente utilizados para
a confirmação do diagnóstico do ZIKV, no entanto, devido a baixa concentração de
anticorpos IgM e IgG na fase de incubação, torna-se mais difícil a identificação do
vírus no paciente (28,30,31).
Em uma epidemia ocorrida na ilha Yap na Micronésia em 2007, o centro de
controle e prevenção de doenças de Atlanta (EUA), desenvolveu uma técnica de
ELISA para anti-zika, mas, devido o alto índice de reações cruzadas com outros
flavivírus o teste não se mostrou tão específico (30).
O ZIKV pode causar alguns sintomas mais raros, que estão descritos no
quadro 3. Apesar destes sintomas atípicos, registrados em alguns pacientes, durante
um surto do ZIKV ocorrido em outubro de 2013 e em fevereiro de 2014 na Polinésia
Francesa, até o momento não houve registro de morte causado pela infecção do
ZIKV e a taxa de hospitalização é considerada baixa(1).
Conclusão
Com a presença de três doenças circulando simultaneamente e com alguns
sintomas semelhantes entre si, há um aumento na dificuldade do diagnóstico exato,
mas este se mostra necessário para evitar o agravamento das consequências que
cada uma pode trazer ao paciente. Existem alguns sinais e sintomas comuns entre
as três doenças aqui descritas, porém possuem intensidades diferentes. Além disso,
alguns sintomas podem se manifestar em determinados pacientes e não aparecer
em outros, conforme observado no quadro 4. A dengue continua sendo a doença
que causa a maior preocupação no momento atual. Mas não se pode negligenciar a
Chikungunya e a Zika, que já estão presentes e podem se tornar novas epidemias,
trazendo consequências graves para a população. É inquestionável que a dengue é
a doença que mais causa óbitos, no entanto a incapacidade que Chikungunya pode
trazer aos pacientes, bem como as consequências neurológicas advindas de
complicações da Zika, são fatores preocupantes. Ações mais eficazes de combate
ao vetor, identificação precoce pelos agentes de controle epidemiológico de novas
áreas afetadas, buscas de tratamentos mais eficientes com maior especificidade e
pesquisas para o desenvolvimento de vacinas se mostram necessários e urgentes.
Referências
1. Brasil, Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde D de V em DT.
Boletim
Epidemiológico N. 26. 2015;1–7.
2. Valle D, Braga I a. Aedes aegypti : histórico do controle no Brasil *. Epidemiol e
Serviços Saúde. 2007;113–8.
3. Brasil, Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde D de V em DT.
Boletim Epidemiológico N. 24. 2015;1–8.
4. Donalisio MR, Freitas ARR. Chikungunya in Brazil: an emerging challenge. Rev
Bras Epidemiol. Associação Brasileira de Saúde Coletiva; 2014;283–5.
5. Vasconcelos PFDC. Doença pelo vírus Zika: um novo problema emergente nas
Américas? Rev Pan-Amazônica Saúde. 2015;9–10.
6. World Healt Organization. Dengue/dengue haemorrhagic fever [Internet]. .
Disponível em: http://www.who.int/csr/disease/dengue/en/; Acessado em 29/08/2015
7. Mustafa MS, Rasotgi V, Jain S, Gupta V. Discovery of fifth serotype of dengue
virus (DENV-5): A new public health dilemma in dengue control. Med J Armed Forces
India . 2015;67–70.
8. Normile D. First New Dengue Virus Type in 50 Years. ScienceInsider. 2013.
Disponível em: http://news.sciencemag.org/health/2013/10/first-new-dengue-virustype-50-years; Acessado em 30/08/2015
9. Fundação Oswaldo Cruz. Dengue 5 é descoberta na Ásia. Disponível em:
http://www.fiocruz.br/rededengue/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=230&sid=3;
Acessado em 30/08/2015
10. Schwartz LM, Halloran ME, Durbin AP, Longini IM. The dengue vaccine pipeline :
Implications for the future of dengue control. 2015;3293–8.
11. Guy B, Saville M, Lang J, Siqueira Jr JB, Bricks LF. Desenvolvimento de uma
vacina tetravalente contra dengue. Rev Pan-Amazônica Saúde. 2011;51–64.
12. World Healt Organization. Global Strategy for Dengue Prevention and Control
2012–2020. World Heal Organiszation, Geneva, Switz; 2012;35.
13. Silva TPTE, Ferreira IDLM. Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso.
Cad Saúde Pública. 2010;2498–2498.
14. Singhi S, Kissoon N, Bansal A. Dengue and dengue hemorrhagic fever:
management issues in an intensive care unit. J Pediatr (Rio J). 2007;S22–35.
15. Serufo JC, Nobre V, Rayes a., Marcial TM, Lambertucci JR. Dengue: uma nova
abordagem. Rev Soc Bras Med Trop. 2000;465–76.
16. Dias LBDA, De Almeida SCL, De Haes TM, Mota LM, Roriz-Filho JS. Dengue:
Transmissão, aspectos clínicos, diagnóstico e tratamento. Medicina. 2010. p. 143–52.
17. Carolina A, Oliveira S De, Paula A, Terra S, Nascimento D, Dulgheroff B, et al.
Alterações Do Hemograma No Diagnóstico De Dengue : Na Cidade De Uberaba ,
Minas Gerais. 2010;401–8.
18. Paula D, Santin M, Henrique P, Henneberg R. Perfil Da Contagem De Plaquetas
Na Dengue. 2013;109–17.
19. Divisão de Doenças Transmitidas por Vetores e Zoonoses do Centro de
Vigilância Epidemiológica, Vranjac A. Dengue em números. Bol Epidemiológico Paul.
2007; 19–22.
20. Centers for Disease Control and Prevention. Virus Chikungunya. 2011.
21. Tauil PL. Condições para a transmissão da febre do vírus chikungunya.
Epidemiol e Serviços Saúde [Internet]. 2014; 773–4.
22. Honório NA, Câmara DCP, Calvet GA, Brasil P. Chikungunya: an arbovírus
infection in the process of establishment and expansion in Brazil. Cad Saúde Pública.
2015; 906–8.
23. Powers AM, Logue CH. Changing patterns of chikunya virus: Re-emergence of a
zoonotic arbovirus. J Gen Virol. 2007; 2363–77.
24. Brasil, Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde D de V em DT.
Febre de Chikungunya manejo clínico. 2015;28.
25. Luis M, De Figueiredo G. Emerging alphaviruses in the Americas: Chikungunya
and Mayaro. 2014;677–83.
26. Organización Panamericana de la Salud. Número de casos reportados de
chikungunya en países o territorios de las Américas. Sem Epidemiológica / SE 33
(actualizada al 21 agosto 2015);2015.
27. Zanluca C, Campos V, Melo A De, Mosimann LP, Igor G. Memórias do Instituto
Oswaldo Cruz Primeiro relatório da transmissão autóctone do vírus Zika no Brasil.
2015;1–5.
28. States M, Zika T, Forest Z, Polynesia F, Barr G. Epidemiological Alert. 2015; 1–8.
29. Oehler E, Watrin L, Larre P, Lastère S, Valour F, Baudouin L, et al. Zika virus
infection complicated by Guillain-Barré syndrome – case report , French Polynesia ,
December 2013. 2014; 7–9.
30. Ioos S, Mallet HP, Leparc Goffart I, Gauthier V, Cardoso T, Herida M. Current Zika
virus epidemiology and recent epidemics. Med Mal Infect. 2014; 302–7.
31. Surveillance Z. Zika virus ( ZIKV ) Surveillance in the Americas : Interim guidance
for laboratory detection and diagnosis. 2015;1–4.
Quadro 1 – Manifestações atípicas da Dengue
Sistema/Órgão
Manifestações
Sistema nervoso central
Encefalopatia, Síndrome de Guillian-Barré,
Síndrome de Reye,
Outros
Hepatite, glomerulonefrite, paralisia flácida
aguda.
Fonte: Dengue e dengue hemorrágico: aspecto do manejo na unidade de terapia intensiva. Rio de Janeiro (2007).
Quadro 2 – Manifestações atípicas de Chikungunya
Sistema / órgão
Nervoso
Olho
Cardiovascular
Pele
Rins
Outros
Manifestações
Meningoencefalite, encefalopatia, convulsão,
Síndrome
de
Guillain-Barré,
Síndrome
cerebelar, paresias, paralisias e neuropatias.
Neurite óptica, iridociclite, episclerite, retinite e
uveíte
Miocardite, pericardite, insuficiência cardíaca,
arritmia e instabilidade hemodinâmica.
Hiperpigmentação
por
fotossensibilidade,
dermatoses vesiculobolhosas e ulcerações
aftosa-like.
Nefrite e insuficiência renal aguda.
Discrasia sanguínea, pneumonia, insuficiência
respiratória, hepatite, pancreatite, síndrome da
secreção
inapropriada
do
hormônio
antidiurético e insuficiência adrenal.
Fonte: Ministério da Saúde Febre Chikungunya manejo clínico Brasília / DF 2015
Quadro 3 – Formas atipícas do ZIKV
Sistema/Órgão
Manifestações
Neurológico
Sindrome de Gillian-Barrè,
meningoencefalites, parestesias, paralisia facial e mielites.
Outros
Trombocitopenia, complicações cardíacas e complicações
oftalmológicas.
Fonte: Secretaria de Vigilância em Saúde – Ministério da Saúde – volume 46 Nº 26 – 2015 / Febre pelo o Zika: uma
revisão narrativa sobre a doença.
Quadro 4 - Sinais e sintomas em comum entre a Dengue, Chikungunya e Zika.
Sinais e sintomas
Dengue
Chikungunya
Zika
Febre
++++
+++
+++
Mialgia/artralgia
+++
++++
++
Edema das extremidades
ausente
ausente
++
Exantema maculopapular
++
++
+++
Dor retroorbital
++
+
++
ausente
+
+++
Linfadenopatia
++
++
+
Hepatomegalia
ausente
+++
ausente
+++
+++
ausente
+
ausente
ausente
Hiperemia conjuntival
Leucopenia/trombocitopeni
a
Hemorragia
Fonte: Secretaria de Vigilância em Saúde – Ministério da Saúde – volume 46 Nº 26 – 2015 / Febre pelo o Zika: uma
revisão narrativa sobre a doença.
Download