Apostilas de Filosofia FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO Filosofia - Apostila 1 Introdução: Cada pessoa, em algum momento de sua vida, ou em todos, pergunta a si próprio: Como será o mundo no futuro? Em prazos curtos ou longos, todos imaginam. A injustiça social existirá eternamente? A natureza será esmagada pelo homem? E será que o homem tem uma natureza esmagadora? Saídos do colo de nossos pais, para o colo da cultura, abraçamos um mundo de dúvidas, espantos e admirações. Temos muito o que perguntar sobre: a alegria, a tristeza, a saudade, a beleza, a feiúra, a vaidade, a mídia, a Internet, a aids, o sexo, o namoro, a prostituição, o casamento, o amor, a amizade, as drogas, o real, a profissão, a política, a violência, a música, a moda... Filosofar é, de certa forma, aproximar-se desta postura, de seguir perguntando. É investigar deixando de lado o medo, a arrogância e o preconceito. É estar pronto para enfrentar um debate rico e respeitoso sobre nossas vidas, sobre coisas muito importantes. Coisas que, por engano, achamos não ter importância alguma, que podem estar tão próximas e às vezes parecem tão distantes. Estas e outras questões, vamos conversar, ler e escrever no decorrer do ano, procurando conhecer um pouco o filosofar. Evidentemente não pretendemos estudar os 26 séculos de história da Filosofia, mas apenas espiar alguns momentos importantes para nossas reflexões no presente. O que é Filosofia? Onde Está? Procura-se! Afinal de contas, o que é Filosofia? O que é ter uma visão filosófica? Quantas filosofias existem? Somos todos filósofos, ou somente os “estranhos” são? Precisamos realmente de filosofias? Qual a utilidade de seu estudo? Existem várias definições para a filosofia, tão variadas quanto o número de filósofos. Grandes pensadores marcaram épocas, trabalhando conhecimentos naturais e históricos, fundando e destruindo conceitos, pela fala e pela escrita. Uma definição clássica, bastante aceita no decorrer dos séculos, é do filósofo grego Platão. Em sua obra Eutidemo, encontramos Filosofia como o uso do saber, o mais válido e mais amplo possível, em proveito do homem. Hoje, o filósofo, vivo ou morto, encontra-se em livros, também publicados em CDs. Para ver um, teremos que lê-lo. Para ser um, teremos que escrevê-lo. De modo geral a filosofia está em toda a parte. Desde que o pensamento reflexivo se faz presente, o ser humano filosofa. No entanto, saber o que é filosofia lendo o que foi escrito e escrevendo o que ainda não foi, é o caminho mais especial, seguro e verdadeiro para a questão. Um filósofo italiano do século XX, Antonio Gramsci, escreveu-nos sobre a impossibilidade da existência de um homem que não filosofa, lembrando que não existe homem sem pensamento. Porém, acerca do homem “filósofo profissional”, conclui: “...não só ‘pensa’ com maior rigor lógico, com maior coerência, com maior espírito de sistema do que os outros homens, mas conhece toda a história do pensamento, sabe explicar o desenvolvimento que o pensamento teve até ele e é capaz de retomar os problemas a partir do ponto em que se encontram, depois de terem sofrido as mais variadas tentativas de solução.” Podemos afirmar que filosofar é ler e escrever... - exercendo a liberdade da reflexão. - utilizando de análise e crítica. - decidindo não aceitar o óbvio imediatamente. - olhando o mundo de longe. - encarando no cotidiano as idéias e as coisas. - pensando conceitos e fatos. - afirmando e negando. - investigando e compreendendo. O que não é Filosofia? Filosofia não é religião, política e ciência. Porém, todas tiveram seu momento filosófico inaugural, e sustentam-se em idéias e regras específicas, fundamentadas em filosofias. Hoje, a Filosofia “visita” estas áreas, analisando, refletindo e criticando. A mais visitada é a ciência, que somente no século XVII separou-se da Filosofia, e desde então caminha em seus campos particulares, como a Sociologia, a Química, a Biologia, a Psicologia, etc. Todas as áreas sustentam e desenvolvem seus conhecimentos específicos, e a Filosofia “fica de olho”. Assim, por exemplo, o médico e o biólogo, tratando de seus assuntos, fazem juízos de realidade. O filósofo faz juízo de valor. Uma célula cancerígena ou um buraco na camada de ozônio, exigem estudos que identificam reais conseqüências no organismo vivo. A Filosofia, tratando da Medicina e da Biologia, pode pensar acerca da eutanásia (morte concedida àqueles que encontram-se acometidos por doenças incuráveis), da felicidade, e da ética na tecnologia. O objetivo da Filosofia é formar um todo, coerente e lógico, daquilo que aparece fragmentado em nossa experiência cotidiana. Ela amplia e relaciona os “pedaços” do conhecimento dominado por especialistas (padres, cientistas e políticos), procurando respostas para além da fé, das teorias e dos preconceitos. Utilidade da Filosofia: Sua utilidade é muito questionada. Qual o resultado do olhar filosófico? Para que serve o ensino de Filosofia hoje, se a ciência caminha sozinha? Responder estas questões, é filosofar acerca do útil. É pensar a utilidade e suas relações. Refletir as diversas ocasiões em que a utilidade faltou ou sobrou. Exercício 1 – Defina a Filosofia? 2 – Como a Filosofia se relaciona com o conhecimento científico? 3 - Descreva alguma situação que faz parte do seu cotidiano, e depois tente adotar uma atitude filosófica diante da mesma. Philo + Sofhia : A Origem da Palavra. A partir de agora, teremos contato com algumas palavras-chaves, de origem grega, que nos revelarão diversos ambientes filosóficos. Comecemos com Filosofia: palavra grega, formada por philo, que deriva de philia (amor fraterno, amizade), e de sophia, que deriva de sóphos (sábio). A partir daí, podemos afirmar que o filósofo é aquele que ama a sabedoria; aquele que deseja saber. Um grego nascido no século V antes de Cristo, Pitágoras de Samos (aquele da Matemática), é considerado o inventor da palavra filosofia. Porém, dois séculos antes de Pitágoras já se filosofava na Grécia, e afirma-se que o primeiro filósofo grego foi um próspero negociante, também político e geômetra, chamado Tales de Mileto, o mesmo do “Teorema de Tales”. Grande observador que, dizem, enquanto previa a eclipse do sol de 585 a.C., teria caído num poço. Ambos são pré-socráticos, ou seja, nasceram antes de Sócrates. Porém, alguns dos pré-socráticos, mesmo vivendo durante e depois de Sócrates, estão assim classificados porque expressaram pensamentos comuns ao período anterior a Sócrates. Todavia, vale ressaltar que alguns filósofos pré-socráticos foram contemporâneo de Sócrates. Filosofia: Da Visão Mitológica à Visão Racional Mýthos, do verbo mythéomai, significa: dizer, conversar, contar, anunciar, nomear. Num período longo da história grega, a sabedoria foi exclusivamente construída em conversas e narrações mitológicas. A teogonia e a cosmogonia eram as duas formas de pensamento que sustentavam a narrativa mítica. Theogonía, palavra composta de théos (deus, divino) e de gónos (ação de engendrar, procriar);e a Kosmogonía, também composta de gónos, apresenta Kósmos (princípio ordenador do mundo).Então, a theogonia narrava o nascimento dos deuses, dos heróis, dos homens e da natureza, como fruto das relações sexuais dos próprios deuses; e a cosmogonia narrava a geração da ordem do mundo a partir das relações sexuais entre o concreto e o divino. Alguns historiadores afirmam que o nascimento da filosofia teria partido de um sistema de explicação do mundo, não necessitando inventar um novo sistema. É verdade que os primeiros filósofos partiram das mesmas inquietações mitológicas, e muitos continuaram se valendo de explicações mitológicas. Porém, o que fazem de fundamental, é substituir os elementos divinos por elementos da natureza. Como veremos mais detalhadamente, os pré-socráticos teriam extraído das narrativas mitológicas a relação entre o caos e a ordem do mundo, substituindo deuses por homens, ou por formas da natureza, como o ar, a terra, a água, o fogo, etc. A diferença entre pensamento mítico e pensamento filosófico é expressada na posição do historiador inglês John Burnet (Burnet apud Chauí, 1994) que destaca duas características do mito que determinam o verdadeiro oposto da filosofia nascente: - o mito narra o passado, a filosofia explica o presente. - o mito atrai o mistério e as contradições, justificando as ações dos deuses, e a filosofia repele o mistério e as contradições. Nascimento da Filosofia: A filosofia nasceu na Grécia, numa forte tensão entre mito e razão. A narrativa mágica deu lugar aos poucos à explicação racional. Contudo, acrescentamos que não só os gregos buscavam a sabedoria a partir do mito ou da razão. Povos de todo o mundo, em todos os continentes, tão ou mais antigos que os gregos, produziram conhecimentos e construíram diversificadas culturas. Assim foram as nações indígenas, que antes da colonização européia, possuíam um vasto campo de conhecimento nas Américas. Da mesma forma os egípcios, os chineses, os árabes, os africanos, e muitos outros. É importante ressaltar que alguns historiadores da filosofia sustentam a tese orientalista para explicar o surgimento da filosofia. Quando afirmamos que a filosofia é grega, consideramos fatores históricos e políticos que levaram os gregos a exercerem fundamental influência na cultura européia ocidental, de onde nós brasileiros – e grande parte do planeta – somos descendentes. Entre alguns fatores, destacamos: - desenvolvimento da navegação. - invenção do calendário. - invenção da moeda. - escrita alfabética. - invenção da política. Exercício 1 – O que é teogonia e cosmogonia? Explique 2 – Escreva sobre o nascimento da Filosofia. 3 – Estabeleça a semelhança e as diferenças entre o mito e Filosofia. Pré-Socráticos: O Problema da Cosmologia “Tudo era um caos até que surgiu a mente e pôs ordem nas coisas.” Anaxágoras Na época da Grécia arcaica ou dos sete sábios, as colônias da Jônia e da Magna Grécia foram berços dos primeiros filósofos, os chamados pré-socráticos. Veremos rapidamente apenas oito deles: Tales de Mileto, Anaxímenes, Anaximandro, Pitágoras, Zenon, Xenófanes, Parmênides e Heráclito. Cada um destes primeiros filósofos elaborou pensamentos que se opunham às explicações mitológicas, procurando um princípio primordial constitutivo da natureza, que em grego é Physis. Na história da filosofia os pré-socráticos são os precursores de uma forma de pensamento que deu início à filosofia: a cosmologia. Kosmología, palavra composta de kósmos, que vimos antes, corresponde ao princípio ordenador do mundo, e de logía, derivada de lógos. Certamente, lógos é uma das palavras mais importante de toda a história da filosofia. Sua tradução não é simples. Os gregos sintetizavam o que nós não conseguimos. Ou seja, no português lógos possui sentidos múltiplos, que no grego não se encontra separado: palavra, conversa, pensamento, norma, regra, ser, realidade, razão, linguagem, explicação, etc. O importante é fixarmos que, ao contrário da teogonia e da cosmogonia, a cosmologia dá o impulso necessário para o nascimento da filosofia, pois significa a explicação racional sobre a origem e ordem do mundo natural, sobre as causas das transformações, da geração e do perecimento de todos os seres. Veremos rapidamente alguns dos pré-socráticos, o que pensavam sobre o princípio das coisas e do universo, ou seja, sobre o que os gregos entendiam como Arkhé (o que está à frente). Para compreender os pré-socráticos, assim como toda a história da filosofia, exige-se que relaxemos intelectualmente, deixando de lado a arrogância baseada na crença de que nossos conhecimentos não têm história. Estes primeiros pensadores, filosofando há mais de dois mil e seiscentos anos, começaram decidindo não aceitar o óbvio mítico. Tales de Mileto (c. 625-558 a.C.) A água, para este filósofo, por acaso aquele do poço, é o elemento primordial na origem do universo e de tudo que existe. Esteve no Egito e na Babilônia, onde havia uma grande escola de Astronomia. Como vimos anteriormente, foi o primeiro dos filósofos. Para ele, a Terra é um disco que flutua sobre a água. (foto/água) Anaxímenes (c. 585--529 a.C.) O ar é o elemento que dá origem a tudo. Para ele, os corpos mais sólidos e flácidos originam-se do movimento de condensação e rarefação. A Terra, segundo este filósofo, é um plano sustentado pelo ar. (desenho/sopro) Anaximandro (c. 610-546 a.C.) A água, o ar, a terra e o fogo compunham o universo. Mas havia um elemento fundamental para este filósofo, o ápeiron. Palavra formada pelo prefixo negativo a e pelo substantivo peras (limite, extremidade), ápeiron significa ilimitado, infinito, ou interminável, de onde decorre o quente, o frio, a terra e o ar. Para Anaximandro, a Terra é um cilindro achatado e os astros são luzes de fogo que se entrevêem através dos furos de tubos de névoa do céu. (foto /desenho p.25) Pitágoras (Segunda Metade do Séc. VI a.C.) Os números para este filósofo, também matemático, são entidades constitutivas e ordenadoras da realidade, onde o um (1) é o regente. Misturando elementos religiosos e morais, defende que a salvação do homem está na eliminação dos conflitos em busca da harmonia, onde os números são o caminho. Examinando a música, este filósofo descobriu que o som varia de acordo com o comprimento da corda. Descobrindo os acordes, afirma que a música (assim como o universo) é uma relação numérica, que soa desagradável quando não atinge a harmonia. (desenho/notas musicais + números) Zenon (séc. V a.C.) Este afirmava que o movimento é impossível, e que é uma ilusão de nossos sentidos. Define o espaço como infinito e acredita que os corpos não se movem, pois teriam que atravessar partículas infinitas. Assim, uma flecha partindo do ponto A nunca atingiria o ponto B posto que entre estes há um espaço infinito. Percebe-se, por este raciocínio, o seu idealismo em contradição com a realidade. (desenho do famoso “paradoxo de Zenão / Aquiles e a tartaruga, p31) Demócrito (c. 470-370 a.C.) O átomo, combinado infinitamente, é o mundo. Átomos é uma palavra composta do prefixo negativo a e do verbo témno (cortar, dividir), e por isso significa o não-cortável, o indivisível. Segundo Demócrito, até a alma humana é um composto de átomos leves, lisos e redondos, que se mantêm por meio da respiração, responsável pela troca de átomos situados fora do organismo. A morte é o rompimento dessa troca, quando os átomos da alma se encontram fora e espalhados. (desenho / átomo, p. 41 ) Fonte da imagem: http://www.basicthink.in/ Parmênides (c. 540-450 a.C.) Afirmava que o ser é imóvel, eterno e infinito. Para ele as coisas não mudam, apenas aumentam em quantidade e repetem-se infinitamente. O movimento só existe no mundo sensível, e a percepção causada pelos nossos sentidos é ilusória. Para ele, só o mundo inteligível é verdadeiro, pois a certeza surge através de meios lógicos e dedutivos, como fruto da razão. O conhecimento adquirido pelos sentidos é classificado apenas como opinião. Esse pensamento, que veremos mais adiante, inaugura a metafísica e a lógica. (retrato de Parmênides / p. 32) Fonte da imagem: http://www.basicthink.in/ Heráclito (c. 536-470 a.C) Afirmava que o ser é múltiplo, porque está constituído de oposições internas. O movimento é fruto da luta dos contrários. Para este filósofo “tudo flui”. A mudança ocorre sem cessar, e o que num certo momento existe, antes era diferente e depois também será: Nunca nos banhamos duas vezes no mesmo rio, pois na segunda vez o rio já é outro e nós também somos. Negando a estática do ser, Heráclito afirma sua dinâmica, e utiliza a imagem do fogo como forma de simbolizar o infinito devir (vir a ser / tornar-se), o fogo eterno e vivo, que ora se acende, ora se apaga. (retrato de Heráclito / p. 34 ) Exercício 1 – O que é cosmologia? 2 - Escreva sobre as ideias de Heráclito e Parmênides. 3 – Utilizando um dicionário e um livro de filosofia (sugestão: ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. São Paulo: Mestre Jou. e CHAUÍ, M. Introdução à história da filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Brasiliense.) atribua resumidamente o significado de cada palavra abaixo. Arckhé; Cosmologia; Devir; Dialética; Lógos; Metafísica; Physis; Ser. Fonte da imagem: http://www.basicthink.in/ O Positivismo: A autoria do termo positivismo é geralmente atribuída ao filósofo Augusto Comte (1798-1857) e é comumente entendida como a linha de pensamento que entende que o conhecimento científico sistemático é baseado em observações empíricas, na observação de fenômenos concretos, passíveis de serem apreendidos pelos sentidos do homem. Não apenas isso, o positivismo é a ideia da construção do conhecimento pela apreensão empírica do mundo, buscando descobrir as leis gerais que regem os fenômenos observáveis. Dessa forma trabalham as ciências naturais, como a biologia ou a química, que se debruçam sobre seus objetos de estudo em busca de estruturação das “regras” que constituem as formas de interação entre organismos e seus compostos no mundo biológico observável ou das interações entre diferentes reagentes químicos. Para Comte, a busca pelo conhecimento positivo constituiria a principal forma de construção de conhecimento do homem. Diante disso, os estudos das áreas das ciências humanas deveriam tomar esse mesmo rumo, de forma a produzir um real conhecimento com o objetivo último de compreender as leis que constituem e regem as interações entre indivíduos e fenômenos no mundo social, independente do tempo ou do espaço no qual se encontram. O pensamento de Augusto Comte se construía em paralelo aos acontecimentos históricos de sua época. A revolução francesa e a crescente industrialização da sociedade trouxe à tona novos problemas e novas formas observáveis de processos de mudanças profundas na vida da sociedade tradicional da época. Comte buscava a criação de uma ciência da sociedade capaz de explicar e compreender todos esses fenômenos da mesma forma que as ciências naturais buscavam interpelar seus objetos de estudo. Ele acreditava ser possível entender as leis que regem nosso mundo social, ajudando-nos a compreender os processos sociais e dando-nos controle direto sobre os rumos que nossas sociedades tomariam, acreditando ser possível dessa forma prever e tratar os males sociais que nos afligiriam tal como trataríamos um corpo enfermo. A construção do conhecimento positivo só seria possível, então, por meio da observação dos fenômenos em seu contexto físico, palpável, ao alcance dos nossos sentidos e submetidos à experiência. Este seria o papel da ciência, a compreensão dos fenômenos passíveis de observação sensorial direta, com o intuito de entender, por meio da experiência, as relações entre esses fenômenos, de forma a abstrair as leis que regem as interações para que, assim, seja possível predizer como os acontecimentos envolvidos em determinado fenômeno se darão. A ciência e o método científico são a síntese das ideias positivistas. Auguste Comte foi um dos mais importantes filósofos e sociólogos franceses; atribui-se a ele a criação da disciplina Sociologia, bem como a corrente filosófica, política e científica conhecida como Positivismo; sua contribuição teórica ainda é importante, com o conceito político da "Lei dos Três Estados". É importante, de partida, salientar que Comte viveu sob a égide da Revolução Francesa, bem como da ciência moderna e da Revolução Industrial; portanto, seus ditos e escritos são referentes as intensas transformações sociais, econômicas, políticas, ideológicas, tecnológicas e científicas decorrentes da consolidação do capitalismo. Nesse contexto, ele percebeu que os fenômenos sociais deveriam ser percebidos como os outros fenômenos da natureza, pois são apenas um tipo específico de realidade teórica, o que implica que devem ser enunciadas em termos sociais. Por conseguinte, ele cunha o termo "sociologia", para designar uma doutrina social baseada em princípios científicos, dividindo-a em dois campos: os estudos das estatísticas sociais para a compreensão das forças que mantêm a coesão social; e as dinâmicas sociais em si, para o estudos das causas das mudanças sociais. Portanto, a "Física Social" ou "Sociologia", partiria dos princípios da observação, experimentação, comparação e classificação enquanto métodos, tendo como finalidade tudo o que é "positivo", ou seja, o real, o útil, o certo, o preciso, o relativo, o orgânico e o simpático. Daí surge a outra contribuição de Comte: o positivismo; ou seja, visão pela qual a análise dos fatos abandona a consideração das causas dos fenômenos e pesquisa suas leis, uma vez que são fenômenos observáveis. Por fim, o positivismo pregava um modelo de sociedade organizada, na qual o poder espiritual não mais prevaleceria, ficando o governo à cargo dos sábios e cientistas. Ademais, este novo método geral para a ciência caracteriza-se pela observação em aliança com a imaginação, sistematizadas, por sua vez, segundo princípios adotados pelas ciências exatas e biológicas. Contudo, vale notar também, o fato de Comte perceber que cada tipo de fenômeno possuí suas particularidades, o que implica dizer que há um método específico de observação para cada fenômeno. Outra importante criação de Auguste Comte foi a "Religião da Humanidade", com bases teológicas e a metafísicas, porém, reconhecendo a preponderância do papel histórico desempenhado pelos estágios provisórios da Humanidade, previsto na "Lei dos Três Estados". Destarte, seu pensamento influenciou pensadores da grandeza de Karl Marx, John Stuart Mill, George Eliot, HarrietMartineau, Herbert Spencer e Émile Durkheim. Criador do termo “altruisme” (autruísmo), a filosofia de Comte para a humanidade se resumiria em "vivrepourautrui" (viva pelos outros). Comte e a lei dos três estados: Para um rápido esboço do pensamento de Comte, vamos utilizar suas próprias palavras “Estudando, assim, o desenvolvimento total da inteligência humana em suas diversas esferas de atividade, desde seu primeiro vôo mais simples até nossos dias, creio ter descoberto uma grande lei fundamental, a que se sujeita por uma necessidade, e que me parece ser solidamente estabelecida, que na base de provas racionais fornecidas pelo conhecimento de nossa organização, quer na base de verificações históricas resultantes do exame atento do passado. Essa lei consiste em que cada uma de nossas concepções principais, cada ramo de nossos conhecimento, passa sucessivamente por três estados históricos diferentes: (...) “No estado teológico, o espírito humano, dirigido essencialmente suas investigações para a natureza íntima dos seres, as causas primeiras e finais de todos os efeitos que o tocam, numa palavra, para os conhecimentos absolutos, apresenta os fenômenos como produzidos pela ação direta e contínua de agentes sobrenaturais mais ou menos numerosos, cuja intervenção arbitrária explica todas as anomalias aparentes do universo”. “No estado metafísico, que no fundo nada mais é do que simples modificação geral do primeiro, os agentes sobrenaturais são substituídos por forças abstratas, verdadeiras entidades (abstrações personificadas) inerentes aos diversos seres do mundo, e concebidas como capazes de engendrar por elas próprias todos os fenômenos observados, cuja explicação consiste, então, em determinar para casa uma entidade correspondente”. “Enfim, no estado positivo, o espírito humano, reconhecendo a impossibilidade de obter noções absolutas, enuncia a procurar a origem e o destino do universo, a conhecer as causas íntimas dos fenômenos, para preocupar-se unicamente em descobrir, graças ao uso bem combinado do raciocínio e da observação, suas leis efetivas, a saber, suas relações invariáveis de sucessão e de similitude”. Para Comte o estado positivo corresponde a maturidade do espírito humano, o termo positivo designa o real em oposição ao quimérico, a certeza em oposição a indecisão, o preciso em oposição ao vago. É o que se opõe a formas tecnológicas ou metafísicas de explicação do mundo. Segundo Comte, “todos os bons espíritos repetem, desde Bacon, que somente são reais os conhecimentos que repousam sobre fatos observados”. Revolução Industrial Dá-se o nome de Revolução Industrial a uma série de mudanças nas atividades produtivas, iniciadas por volta de 1760 na Inglaterra. Naquela época e nas décadas seguintes, o processo de produção foi acelerado por uma sequência de invenções cujo ponto central era a utilização do vapor como força motriz. A evolução técnica foi o cerne da Revolução Industrial, mas não seu elemento único. Considerando que o termo revolução, em seu significado histórico, indica um conjunto de transformações profundas, a Revolução Industrial corresponde plenamente a essa acepção.No plano técnico, houve alterações não apenas na produção de bens de capital (máquinas, equipamentos) e de artigos de consumo, como também nas técnicas agrícolas e nos meios de transporte. Mas, acima de tudo, a Revolução Industrial foi marcada pelas modificações econômicas e sociais. E acarretou ainda mudanças no campo político, intelectual e comportamental. A Revolução Industrial foi, portanto, um acontecimento histórico de enorme amplitude, implicando transformações tão extensas que merecem ser denominadas revolucionárias. As mudanças tecnológicas, econômicas e sociais registradas entre 1760 e 1860 correspondem à Primeira Revolução Industrial. O período caracterizou-se pelo uso das máquinas a vapor, feitas de ferro e tendo como combustível o carvão mineral. Na década de 1860, o trinômio vapor-carvão-ferro começou a ser substituído pela eletricidade, petróleo e aço, dando início à Segunda Revolução Industrial.