Consumo da classe média extrapola o varejo e

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21 de Outubro de 2011
Crescimento
Consumo da classe média extrapola o varejo e invade setor d
serviços
Empresas antes voltadas para classe AB lançam marcas econômicas em busca de novos
consumidores
Por Beatriz Ferrari
Salão de cabeleireiro Basic no Shopping Mais, em Santo Amaro, São Paulo (Aline Lata)
Daniella Aiello tem 35 anos e trabalha como professora para crianças da quarta série, além de complementar a r
com a venda de artigos de prata. Vaidosa, vai à manicure às sextas-feiras e não abre mão de fazer escova nos
cabelos em eventos especiais. Há aproximadamente 10 meses, Daniella trocou o salão de beleza que costumava
frequentar, no Largo Treze, bairro de classe média da zona sul paulistana, por outro recém-aberto na região, cha
Basic Beauty - a marca econômica lançada no fim do ano passado pela rede de salões Jacques Janine, que aten
classes AB. “A qualidade do serviço é muito superior à de outros salões do bairro. É um Jacques Janine a um pre
acessível”, diz. Daniela faz parte de um grupo de brasileiros que experimentam uma nova fase de consumo
direcionada a serviços do que à compra de produtos. Isso significa que os 40 milhões de novos consumidores qu
surgiram nos últimos anos já não se restringem apenas a comprar a TV mais moderna. Eles querem adquirir serv
de qualidade. E as empresas já estão de olho nesse filão.
De acordo com um estudo recente do instituto Data Popular, os gastos da classe média – que representa 54% da
população brasileira – com serviços superaram os desembolsos com produtos pela primeira vez em 2011. A cad
reais gastos por esse público, 65,20 reais são direcionados à contratação de serviços. Nos últimos anos, essa
proporção era mais equilibrada – 49,5% contra 50,5% gasto em produtos.
http://veja.abril.com.br/noticia/economia/consumo-da-classe-c-extrapola-o-varejo-e-in... 24/10/2011
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As empresas que perceberam essa mudança começaram a apostar na democratização de seus serviços por me
criação de bandeiras mais econômicas. No caso do Jacques Janine, o salão se deu conta de que deixava de ate
um imenso público que, como Daniella, ia ao cabeleireiro em busca de opções básicas, como manicure e corte d
cabelo, e a melhor relação custo-benefício. Após desenhar o projeto por três anos, a rede chegou ao modelo idea
salão pequeno, com padrão arquitetônico menos refinado, sem opções de estética e bem-estar, quadro
mais enxuto e, a partir de novembro, uma linha de produtos próprios, para reduzir os custos com fornecedores. O
objetivo da empresa é que o novo cliente pague o mesmo preço de um salão de bairro, mas tenha uma marca
respeitada por trás. “A marca, nesse caso, não é um símbolo de status, e sim uma garantia de qualidade. Esse
consumidor é muito criterioso porque não pode correr o risco de jogar dinheiro fora”, explica o consultor Renato
Meirelles, do Data Popular.
Termômetros da mudança - De olho nessa tendência, o setor de seguros se movimenta há quase uma década
tentar regulamentar a modalidade de microsseguros, possibilitando a criação de apólices mais baratas, que visam
cobertura de riscos específicos. A intenção é incluir as classes C e D nesse mercado. Nesta semana, a
Superintendência de Seguros Privados (Susep), autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda, apresentou uma m
de resolução ao Conselho Nacional de Seguros Privados para alterar as regras dos microsseguros. A Azul Segur
bandeira econômica da Porto Seguro, é um exemplo de que há muita demanda no segmento. Desde que foi cria
em 2003, a marca cresce a uma taxa média anual superior a 30%.
Outro segmento que exemplifica essa mudança é o hoteleiro. Bandeira econômica não é novidade no setor, mas
números revelam que a categoria está em cresciimento. De acordo com uma pesquisa da consultoria em turismo
Mapie, todas as redes internacionais presentes no Brasil começaram a instalar novas bandeiras ou estão
operações desse tipo. Dos 200 hotéis em construção no país, aproximadamente 60% estão direcionados ao segm
econômico. O Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB) prevê que essa categoria representará 49%
mercado em 2015, ante 28% atualmente. “No passado, hotel era um serviço de luxo, porque a pirâmide
socioeconômica brasileira era muito hostil. Com o crescimento da economia e a maior distribuição de renda, clien
que não existiam passaram a se hospedar em hotel econômico”, explica Ernesto Marino, especialista em investim
hoteleiros e presidente da consultoria BSH International.
A estudante de moda mineira Amel Saadi, de 24 anos, se encaixa nesse perfil. Mesmo contando com a casa de
amigos e parentes em São Paulo e no Rio de Janeiro, ela opta por se hospedar em um hotel. Com o salário
estágios, ela paga um plano mensal de viagem que dá descontos em pacotes. “Fico em hotéis que normalmente
seriam mais caros, mas pago o preço de um Formule 1”, explica.
Para atender a esse público, o grupo Accor, o maior em atuação no Brasil, prevê construir 80 unidades até 2015
maioria sendo das bandeiras Ibis e Formule 1. A tradicional rede hoteleira Hilton, símbolo de hospedagem luxuos
também planeja entrar no segmento econômico e trazer ao país sua marca mais barata, a Hampton Inn. O plano
empresa é investir em quartos de 21,5 metros quadrados, com decoração e mobília reduzidas. Não há data nem
previstos para construção.
Público amplo - Ainda que algumas prestadoras de serviço tenham feito mudanças de olho no potencial de cons
da classe C, o brasileiro ainda é muito sensível a preço. Assim, consumidores de maior poder aquisitivo acabam
também compondo uma parte do público das bandeiras econômicas.
Diante dessa demanda ampla, redes de academias que costumavam atender somente o público de alta renda
lançaram unidades mais compactas e baratas. O grupo Bodytech, que oferecia pacotes de aulas em academias
mensalidade de 300 reais, lançou a marca Fórmula no Rio de Janeiro, em Copacabana. Como o bairro que comp
classes A, B e C, as mensalidades variam de 89 reais a 180 reais. A empresa pretende abrir mais duas unidades
São Paulo no começo ano que vem e prevê expansão para cidades como Piracicaba, Ribeirão Preto e Bauru, no
interior paulista.
Enquanto uma unidade Bodytech tem em média 4.000 metros quadrados ocupados por piscinas, espaços para lu
danças, além do básico, a Fórmula se espalha por espaços de 400 a 800 metros quadrados e conta com
musculação e aulas coletivas de ginástica e aeróbica. “As academias de bairro hoje estão muito maltratadas.
Pensamos: por que não criar uma academia do tamanho da de bairro, com equipamentos de ponta, mas com cu
enxutos para oferecer um preço competitivo?”, explica Mario Esses, diretor executivo da Fórmula. Com história s
o grupo Bio Ritmo lançou a bandeira Smart Fit em 2009, com mensalidades que vão de 49 a 69 reais. A academ
presente tanto em Ceilândia, cidade-satélite no Distrito Federal, com público de classe média, como no bairro de
renda dos Jardins, em São Paulo.
O grupo de medicina diagnóstica Fleury, tradicionalmente posicionado no segmento premium de laboratórios, rea
uma série de aquisições nos últimos anos e resolveu integrar 12 marcas sob a bandeira a+. O objetivo é atender
clientes de diversas faixas de renda. Em cada um dos seis estados que atua, a a+ se direciona a um
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“Ajustamos a unidade conforme as necessidades do cliente daquela localização geográfica”, explica Wilson Leite
Pedreira Jr., diretor executivo de negócios do Grupo Fleury.
De acordo com André Torreta, da consultoria A Ponte Estratégia, o Brasil está vivendo uma situação similar a do
Estados Unidos nos anos 50, quando houve uma transição social para um país de classe média. “As empresas
americanas querem vender para todos os americanos, não só para os mais ricos. No Brasil, as companhias estã
percebendo isso agora”. Em sua visão, a próxima onda do consumo será ditada pela segunda geração
média, que já nasce educada, exigente e ciente de seus direitos – além de mais otimista. “Aí sim, venderemos o
para os brasileiros”, completa.
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