O céu de Maio (Expresso: 01-05-1998) A dança dos planetas anima-se pela madrugada. Com as constelações de Verão a reaparecer, Maio presenteia-nos com uma promissora chuva de estrelas. SÃO já quatro os planetas que reaparecem pela madrugada. Vénus e Júpiter surgem com o seu habitual brilho enquanto Saturno e Mercúrio espreitam, muito timidamente, acima do horizonte avermelhado que anuncia o nascer do Sol. Apenas um planeta está visível durante toda a noite, trata-se de Plutão, o mais pálido dos nossos companheiros, que apenas se revela num telescópio de abertura razoável. Plutão atinge agora o seu momento de melhor visibilidade - está em oposição, isto é, situa-se do lado oposto ao Sol para observadores terrenos. Mas este planeta é um alvo difícil mesmo para telescópios de considerável abertura, por isso só foi descoberto em 1930. Não é possível observá-lo a olho nu, nem com telescópios modestos. Os astrónomos, no entanto, aproveitam estas alturas, em que o planeta está frontalmente iluminado pela nossa estrela, para melhor o estudar. Plutão esconde muitos segredos. Está tão longe de nós que ainda não foi possível observá-lo de perto com uma sonda espacial. E é um objecto estranho, muito diferente dos outros planetas. «Grosso modo», os nove planetas conhecidos são de dois tipos. Por um lado, existem os chamados planetas terrestres - Mercúrio, Vénus, Terra e Marte que têm uma estrutura relativamente parecida, com uma superfície rochosa, e dimensões relativamente modestas. Por outro lado existem os chamados gigantes gasosos - Júpiter, Saturno, Urano e Neptuno - que são muito maiores e são autênticas bolas de gás, constituídas por elementos mais leves. Se se pudesse trazer Saturno para a Terra, costuma dizer-se, ele flutuaria na água. Ora, Plutão não se encaixa em nenhum destes grupos. É um planeta pequeno, o mais pequeno dos planetas, com uma massa 500 vezes menor que a da Terra. E não se trata de um planeta gasoso, mas sim de uma bola rochosa envolvida numa camada congelada de água e de metano. A órbita de Plutão foge à norma dos outros planetas. Está mais inclinada em relação à eclíptica e descreve uma elipse mais excêntrica que a de qualquer outro planeta. A excentricidade é tal que a órbita deste planeta cruza a de Neptuno. Neste momento, por exemplo, Plutão está mais perto do Sol do que Neptuno, pelo que o planeta mais afastado é este último - um facto curioso e relativamente pouco conhecido. Só em 1999 é que Plutão readquirirá o seu título de planeta mais distante. Com todas estas peculiaridades é natural que se coloquem dúvidas quanto à origem de Plutão. Há mesmo quem diga que não se trata de um planeta e sim de um dos elementos rochosos e cobertos de gelo que constituem a chamada cintura de Kuiper, uma nuvem de restos do período de formação dos planetas que se estende para lá de Neptuno e Plutão. Enquanto os telescópios se ocupam deste misterioso planeta, quem madrugar não terá dificuldade em observar alguns dos objectos mais brilhantes do sistema solar. Júpiter aparece agora pelas quatro e meia da manhã acima do horizonte leste. Como o Sol se levanta cerca de duas horas mais tarde será fácil observar este planeta, que se destaca pelo seu brilho entre as estrelas de Aquário. Meia hora mais tarde é a vez de Vénus aparecer, ainda mais brilhante do que o planeta gigante, um pouco abaixo e à esquerda deste. Mercúrio aparece já quase pelas seis da manhã, quando o avermelhado da madrugada torna difícil a sua observação. Mais abaixo aparece Saturno, demasiado perto do Sol para que possa ser observado. À medida que o mês avança, estes quatro planetas vão mudando constantemente de posição relativa. A meio do mês Saturno ultrapassa Mercúrio. Na madrugada do dia 13 encontram-se a menos de um grau de distância angular um do outro. Aparecem os dois com brilho semelhante, mas muito menos visíveis do que Vénus e Júpiter. Com céus desobstruídos vale a pena observar o alinhamento dos quatro planetas. No fim de Maio, dia 29, é a vez de Vénus e Saturno se aproximarem, ficando a uma distância menor do que meio grau, um diâmetro de Lua Cheia. Durante uma meia hora, enquanto o Sol não os ofusca, vale a pena apontar um telescópio para estes quatro nossos companheiros. Mesmo com binóculos ou com um telescópio modesto, Júpiter revela-se como um disco branco. À sua volta aparecem quatro pontos luminosos, as quatro luas galileanas. Com um pequeno telescópio não é difícil observar também os anéis de Saturno, que agora estão generosamente inclinados para nós. Os dois planetas inferiores, Vénus e Mercúrio, são notáveis sobretudo pela sua fase. Binóculos solidamente apoiados revelam que esses dois planetas não aparecem com um disco perfeito. Um pequeno telescópio mostrará as suas fases. Ambos aparecem como a Lua entre cheia e quarto decrescente. Esta semana, sobretudo na noite de 4 para 5, segunda para terça, teremos ainda oportunidade para observar aquela que promete ser uma das melhores chuvas de estrelas do ano a chuva de Eta Aquário. As chuvas de estrelas recebem o seu nome pela estrela e constelação de onde parecem proceder. Ora, Aquário aparece agora já noite alta, a leste, entre as duas e as quatro da madrugada. A chuva de estrelas não espera pelo nascimento da sua estrela radiante. O espectáculo durará toda a noite e deverá ser observável dias antes e dias depois do máximo, que está previsto para a noite do dia 4 para 5, segunda para terça. Em torno da meia-noite a chuva de estrelas pode atingir um ritmo de 20 a 30 meteoros por hora. Durante a primeira parte da noite não será fácil observar a chuva de estrelas. A Lua terá passado o quarto crescente e o seu brilho ofusca os rastos dos meteoros. Será preciso esperar pela noite alta, quando o nosso satélite estiver perto do horizonte oeste, ou tenha mesmo desaparecido. Nessa noite, a Lua põe-se pelas 3 e meia da madrugada. A partir daí, em céus escuros será fácil observar os rastos brilhantes deixados pelo mais célebre dos cometas, o Halley. Os grandes espectáculos celestes deste mês estão reservados aos noctívagos e aos madrugadores. Texto de UO CRATO Sessões públicas NA NOITE de hoje, na Senhora do Monte, Freguesia das Cortes, distrito de Leiria, realiza-se um Encontro Regional de Astronomia de Amadores organizado pela Associação Nacional de Observação Astronómica e apoiado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. A entrada é livre e o visitante pode observar os céus pelos telescópios que se encontrarão no local. Informações podem ser obtidas pelo telefone 0931-9103296. A Associação de Física da Universidade de Aveiro organiza um curso de Introdução à Astrogeologia que se inicia dia 6 e que se prolongará por cinco sessões nas noites das quartas-feiras. Em Lisboa, o Museu de Ciência tem agendado um curso de Introdução à Astronomia, de 9 e 16 deste mês. Podem ser obtidas informações sobre este curso pelo telefone 01-3921808. A 29 de Maio o Observatório da Ajuda promove uma das suas habituais palestras. O astrónomo João Fernandes falará sobre «Distância em Astronomia».