O FARMACÊUTICO E A PROMOÇÃO DE SAÚDE

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O FARMACÊUTICO E A PROMOÇÃO DE SAÚDE: UMA UNIÃO POSSÍVEL
NA PRÁTICA?
Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização em
Saúde da Família modalidade Residência Multiprofissional.
Carolina C. H. de Castro – Farmacêutica Residente. Residência
Multiprofissional em Saúde da Família. Casa de Saúde Santa Marcelina.
Rua Pérsio Azevedo, nº416 – Penha - São Paulo, SP
03633-010
(11)9-8747-6695
[email protected]
Michele Peixoto Quevedo – Doutora em Ciências da Saúde. Coordenadora
do Setor de Produção Científica da Atenção Primária à Saúde (APS) Santa
Marcelina – [email protected]
2
O FARMACÊUTICO E A PROMOÇÃO DE SAÚDE: UMA UNIÃO POSSÍVEL
NA PRÁTICA? 1
EL FARMACÉUTICO Y LA PROMOCIÓN DE LA SALUD: UNA UNIÓN POSIBLE EN LA
PRÁCTICA?
THE PHARMACEUTICAL AND HEALTH PROMOTION: A UNION POSSIBLE IN PRACTICE?
RESUMO: O presente trabalho pretendeu identificar e compreender os fatores
limitantes da execução de atividades de promoção da saúde dentro do
processo de trabalho do farmacêutico na Atenção Primária. Trata-se de uma
pesquisa explicativa, descritiva e de corte qualitativo, a partir da realidade do
trabalho de farmacêuticos de Unidades Básicas de Saúde com Estratégia
Saúde da Família. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com seis
farmacêuticos, e prévio questionário para caracterização dos sujeitos. A
metodologia de Análise do Conteúdo permitiu a categorização de temáticas em
torno da percepção do conceito de promoção de saúde pelos farmacêuticos,
das limitações da realização de atividades de promoção de saúde pelos
mesmos e do ideal versus real de suas práticas quanto à promoção de saúde.
Concluiu-se que há necessidade de maior aproximação e apropriação da
Saúde Pública e do interesse coletivo pelos farmacêuticos, com
transformações na formação e na gestão, e ampliação das ações da prática
profissional.
ABSTRACT: The present work pretended to identify and comprise the limitant
factors of the activities execution of health promotion inside the work process
from the pharmacists in the Primary Care. It treats of a descriptive explanatory
investigation, and of qualitative cut, from the reality of the pharmacists work at
Basic Unities of Health with Strategy Health of the Family. They were realized
interviews half estructured with six pharmacists, and previous questions for
subjects characterization. The methodoly of Content Analysis allowed the
thematic categorization around the perception of the concept of health
promotion by the pharmacists, the limitations of the realization of health
promotion activities by them, and the ideal versus real of their practices about
health promotion. It was concluded that there is need of main approximation
and appropriation of Public Health and collective interest by the pharmacists,
with transformations in the training and in the management, and magnification
of professional practice actions.
PALAVRAS-CHAVE: promoção de saúde; farmacêutico; Atenção Primária.
PALABRAS CLAVE: promoción de la salud; farmacêutico; Atención Primaria.
KEY WORDS: health promotion; pharmacist; Health Care.
1
Pesquisa inédita, sem financiamento, aprovada pelo Comitê de Ética da Prefeitura Municipal
de São Paulo, CAAE nº 02879612.2.0000.0086
3
INTRODUÇÃO
A conjuntura da Saúde Coletiva nacional possui claramente uma
contextualização histórica de lutas sociais, situadas num cenário de crises
políticas e econômicas. Fundamentados essencialmente na participação da
sociedade em busca de seus direitos como cidadãos, estes “[...] movimentos
sociais dos anos pré-constituição, na área da saúde, visavam a um novo
paradigma e a uma nova forma de considerar a questão da saúde da
população” (Brasil, 2006, p.18).
O Sistema Único de Saúde (SUS) inicia neste período seu processo de
construção a partir de embates políticos, ideológicos e tecnológicos (Mendes,
1996). Baseia-se nos princípios da universalidade do acesso, da integralidade
da assistência e da equidade (Brasil, 1990).
Já havia também em debate no cenário mundial as preocupações em
relação a melhorias nos cuidados em saúde. A Atenção Primária à Saúde
(APS), modelo assistencial baseado nos cuidados primários, torna-se
amplamente discutida pelos gestores, como “um contraponto à fragmentação
dos sistemas de saúde, à superespecialização e ao uso abusivo de tecnologias
médicas” (Brasil, 2007, p. 15). Segundo Starfield (1998), a APS deve funcionar
como um serviço de “porta de entrada”, facilitando o acesso dos usuários ao
sistema de saúde, com a atenção necessária e adequada, e com os menores
gastos possíveis.
No Brasil, é consolidada como Política Nacional por meio da Atenção
Básica, incorporando em seus princípios “a Saúde da Família como estratégia
prioritária para sua organização de acordo com os preceitos do SUS” (Brasil,
2006, p.11). Suas propostas de ações abrangem a promoção e a proteção da
saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a
manutenção da saúde (Brasil, 2006).
Com o objetivo de inserção da ESF na rede de serviços, além da
ampliação das ações da APS, é criado o Núcleo de Apoio à Saúde da Família
(NASF), com nove áreas estratégicas de atuação (Brasil, 2010), em que se
destaca a Assistência Farmacêutica (AF), definida como “o conjunto de ações
voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde, tanto individual como
4
coletiva, tendo o medicamento como insumo essencial e visando ao acesso e
ao seu uso racional” (Brasil, 2004, art. 1°).
Assim, a partir da inserção do farmacêutico no NASF que ressurge a
necessidade de profissionais capazes de atuar na APS, e a AF passa a ser um
ponto estratégico dentro da ESF. Porém, mesmo já integrando o sistema de
saúde público desde a consolidação do SUS como parte de seu campo de
atuação, somente com a Política Nacional de Medicamentos é que houve
iniciativas ou ampliações de ações no sentido de garantia de acesso aos
medicamentos (Santos, Leite, 2008).
No âmbito profissional do farmacêutico, observa-se uma mudança na
prática com a introdução do conceito de Atenção Farmacêutica, inicialmente
definida como “a provisão responsável do tratamento farmacológico com o
propósito de alcançar resultados concretos que melhorem a qualidade de vida
dos pacientes” (Vieira, 2007, apud Hepler e Strand, 1990, p.215). O foco do
serviço farmacêutico, antes centralizado no medicamento, passa a ter como
objeto o sujeito como um ser social, implicando em diversas limitações em
relação ao seu processo de trabalho.
Paralelamente a esta transformação, ocorre também a ampliação da
visão do processo saúde-adoecimento, emergindo como prática fundamental a
promoção de saúde. Conforme definido na Carta de Ottawa (Brasil, 2002,
p.19), é “um processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria
da sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle
desse processo”.
Sendo consolidada no Brasil com a Política Nacional de Promoção da
Saúde (PNPS), a publicação “ratifica o compromisso da atual gestão do
Ministério da Saúde na ampliação e qualificação das ações de promoção da
saúde nos serviços e na gestão do SUS” (Brasil, 2006, p.4).
Pensando-se então na promoção de saúde como prática essencial para
melhoria da qualidade de vida dos sujeitos, o farmacêutico dentro da APS
precisa torná-la como parte de seu processo de trabalho.
A partir da vivência da Residência Multiprofissional em Saúde da Família
(RMSF), houve a percepção de limitações em relação ao processo de trabalho
dos farmacêuticos da APS para a prática de promoção de saúde, e a
necessidade de identificação e compreensão destes limites de atuação, além
5
de propor-se a contribuir com uma ampliação da visão do papel do
farmacêutico como profissional da saúde.
MATERIAIS E MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa explicativa, descritiva e de corte qualitativo.
Segundo Gil (2006, p.12), é por meio da abordagem qualitativa que os
pesquisadores “procuram explorar os mundos das pessoas na globalidade de
seus contextos de vida”, além de permitir interpretar suas subjetividades e
maneiras
de
significar
determinados
fenômenos,
revelando
aspectos
fundamentais para a compreensão de seus modos de ser e agir.
Também Minayo (2006) já referia que este método permite o
descobrimento ou aprofundamento de processos sociais de alguns grupos
particulares. Nesta pesquisa buscou-se a compreensão das limitações de um
processo de trabalho ainda pouco esclarecido: a prática de promoção de saúde
pelos farmacêuticos.
A pesquisa foi realizada a partir da realidade de Unidades Básicas de
Saúde com Estratégia Saúde da Família (UBSF), de três microrregiões da
região Leste do município de São Paulo. Foram utilizadas como referência as
UBSF que estão sobre supervisão da Casa de Saúde Santa Marcelina, em
parceria com a Prefeitura Municipal de São Paulo.
Os sujeitos da pesquisa foram profissionais farmacêuticos vinculados a
duas, três ou quatro UBSF. A escolha da amostra foi aleatória, por meio de
sorteio de dois farmacêuticos de cada microrregião, de um total de dez
farmacêuticos. Anteriormente foram realizados dois pré-testes para validação
da entrevista, e os farmacêuticos entrevistados foram descartados como
sujeitos da pesquisa.
A coleta de dados foi realizada por meio de entrevista semi-estruturada,
com quatro perguntas abertas relacionadas ao processo de trabalho
desenvolvido pelos sujeitos, e um questionário fechado para caracterização
dos mesmos. A entrevista realizou-se seguindo com os procedimentos para
pesquisa com humanos exigidos pelo Ministério da Saúde (Brasil, 1996).
Para o tratamento dos dados foi utilizada a Análise de Conteúdo, que
pode ser definida como “[...] um conjunto de técnicas de análise de
6
comunicação visando obter [...] indicadores [...] que permitam a inferência de
conhecimentos
relativos
às
condições
de
produção/recepção
destas
mensagens” (Bardin, 1977, p. 42). E, a partir destas inferências ou deduções
lógicas, que se chega à resposta de dois tipos de problemas: o que é que
conduziu a um determinado enunciado, e quais as consequências que um
determinado enunciado vai provocar (Bardin, 1977).
E, por meio da Análise Temática, pensou-se na utilidade da descoberta
de “núcleos de sentido que compõem uma comunicação, cuja presença ou
frequência signifiquem alguma coisa para o objeto analítico visado” (Minayo,
1993, p.209). Esta técnica de análise pode ser dividida em três etapas: préanálise, exploração do material e tratamento dos resultados obtidos e
interpretação (Minayo, 1993).
O projeto de pesquisa foi submetido à apreciação da Coordenadoria
Regional Leste das Unidades de Saúde da Família e, posteriormente,
encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa da Prefeitura da Cidade de São
Paulo.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A partir da coleta de dados foi realizada a caracterização dos sujeitos
entrevistados, de acordo com o quadro abaixo:
Farmacêutico
Sexo
Idade
Quantidade
Ensino
Conclusão
Pós-
Tempo de
de UBSF
Superior
da
Graduação*
trabalho em
em que
Graduação
UBSF
trabalha
(ano)
(ano/meses)
1
F
28
3
Público
2008
Sim
1
2
F
32
3
Privado
2008
Não
2
3
F
37
3
Privado
1997
Sim
2 anos e 6
meses
4
F
33
2
Privado
2007
Sim
1 ano e 6
meses
5
M
29
2
Privado
2005
Sim
3 anos e 6
meses
6
M
35
3
Privado
2006
Sim
2 anos e 2
meses
7
* Cursos de Pós-Graduação realizados: Saúde Pública, Atenção Farmacêutica, Microbiologia,
Administração Hospitalar, Assistência Farmacêutica, Marketing Farmacêutico, Residência
Multiprofissional em Saúde da Família.
Diante dos resultados obtidos, destaca-se que os profissionais são
jovens, com idade entre 28 e 35 anos; têm formação profissional recente, entre
1997 a 2008; e estão inseridos nas UBSF há pouco tempo (média de 2 anos).
A maioria (83%) é graduada em Ensino Superior privado, e possui PósGraduação em áreas diversas, sendo as mais relacionadas à APS: Saúde
Pública, Atenção Farmacêutica, Assistência Farmacêutica e Residência
Multiprofissional em Saúde da Família.
Posteriormente, a análise das entrevistas permitiu a construção das
seguintes categorias temáticas: “percepção do conceito de promoção de saúde
pelos profissionais farmacêuticos”, “limitações da realização de atividades de
promoção de saúde” e “a prática do profissional farmacêutico quanto à
promoção de saúde – ideal versus real”.
1) Percepção do conceito de promoção de saúde pelos profissionais
farmacêuticos
A potência teórica da promoção de saúde aliada à sua prática está em
amplo desenvolvimento nos últimos 20 anos, período de ocorrência de diversas
conferências internacionais, em que se constituíram bases conceituais e
estimulou-se o desenvolvimento de políticas públicas envolvendo o tema (Buss,
2003).
Perpassa-se por transformações e incorporação de valores associados a
este conceito, como qualidade de vida, solidariedade, equidade, democracia,
cidadania, desenvolvimento, participação social, parcerias intersetoriais,
aliados à visão da saúde em seu contexto mais ampliado (Buss, 2000).
Pensando-se na percepção conceitual dos profissionais de saúde há
ainda “[...] confusões entre os conceitos de promoção e prevenção [...] sendo a
saúde ainda compreendida como ausência de doença” (Heidmann, 2006,
p.357). Deparou-se com este distanciamento do conceito de promoção de
saúde, conforme evidenciado nas seguintes falas:
8
“[...] e a parte preventiva, não, não chega a ser a, o quadro curativo, né,
mas sim trabalhar a prevenção.”
“[...] envolve o paciente não chegar a desenvolver alguma patologia, [...]
ou necessitar propriamente do sistema de saúde [...] é tudo que...a gente leva
pra evitar que aquele paciente adoeça.”
Além disso, houve uma abordagem de certa forma insuficiente e pouco
aprofundada a respeito do conceito. Segundo Czeresnia (2003), as ações
preventivas definem-se como intervenções orientadas a evitar o surgimento de
doenças específicas, pelo controle da transmissão e da redução do risco de
doenças degenerativas e outros agravos específicos.
Já a promoção da saúde, segundo Buss (2000), representa uma
estratégia promissora para enfrentar os múltiplos problemas de saúde, e parte
da concepção ampla do processo saúde-doença e seus determinantes,
propondo a articulação dos saberes técnicos e populares, e a mobilização de
recursos institucionais e comunitários, públicos e privados, para seu
enfrentamento e resolução. Neste sentido, outras falas se aproximam dessa
diferente forma de compreensão de seu significado:
“Promoção da saúde pra mim é...ver como resultado a melhoria da
qualidade de vida do paciente.”
Na fala acima, destaca-se a busca da melhoria da qualidade de vida,
aspecto relacionado essencialmente à promoção de saúde, já que as
condições de saúde da população são consideradas como “[...] produto de um
amplo espectro de fatores relacionados com a qualidade de vida” (Buss, 2003,
p.19).
Segundo a proposta da PNPS é necessário “[...] que as intervenções em
saúde ampliem seu escopo, tomando como objeto os problemas e
necessidades de saúde e seus determinantes e condicionantes [...] para além
dos muros das unidades de saúde e do sistema de saúde” (Brasil, 2010, p.11).
A partir daí, entende-se que outras falas relacionam-se a essas
intervenções, mesmo que de forma mais escassa em referência à amplitude do
conceito de promoção de saúde:
“[...] promoção da saúde é [...] tentar acolher o paciente antes dele tá
doente, a gente tem que cuidar dele.”
“[...] os benefícios que você pode trazer, né, pro paciente.”
9
Pode-se pensar no acolhimento e no cuidado, no sentido da escuta
qualificada e de uma forma de aproximação dos serviços de saúde e dos
profissionais com o usuário e a partir de suas necessidades, tornando este
escopo de ações em potencial transformador e emancipador dos sujeitos
(Fracolli, Zipoli, 2004).
“[...] eu acho que o farmacêutico se enquadra nessa questão de
promoção de saúde como educador.”
Observa-se na fala acima a incorporação de uma prática considerada
como promotora de saúde: a educação em saúde.
A APS é um espaço de ações educativas voltadas “para a Promoção da
Saúde, como um conjunto de atividades orientadas a propiciar o melhoramento
de condições de bem-estar e acesso a bens e a serviços sociais” (Besen, 2007,
p.64).
Segundo Oliveira (2005, p.428), a educação em saúde nesta perspectiva
de promover saúde, “[...] ao invés de trabalhar com os indivíduos, considerados
como alvos isolados, [...] busca atingir seus objetivos trabalhando com grupos”,
em que “[...] o ambiente de grupo facilite o aumento da consciência crítica
devido ao seu potencial para promover a troca de ideias entre os sujeitos”.
Nesse sentido, algumas práticas grupais nas UBSF se caracterizam
como promotoras de saúde, quando estão atreladas ao fortalecimento e
transformação dos sujeitos envolvidos, profissionais e usuários, sem vinculação
com o aspecto saúde-doença, “[...] sobretudo através das interações que se
estabeleçam vínculos de confiança e de respeito às particularidades, que são
construídos a partir de um caráter não só educativo e preventivo” (Alves et al.,
2012, p.406). Dentro dessa perspectiva, ressaltam-se alguns grupos:
“[...] é desde o grupo de caminhada, o grupo de artesanato”
“[...] eu não gosto de fazer [...] grupo que esteja vinculado apenas, única
e exclusivamente com o fator medicamento [...] então a gente faz grupo de
jovem, então eu vou lá falo de outras coisas [...] como qualquer outro
profissional.”
Além disso, alguns profissionais evoluem para uma compreensão “de
que a promoção da saúde depende das condições de vida e de que, para
tanto, os sujeitos precisam ter autonomia e lutar por seus direitos” (Rodrigues e
Ribeiro, 2012, p.241), conforme explicitado na seguinte fala:
10
“É pensar em contextos [...] a própria pessoa entender o seu, seu lugar
[...] participar mesmo dos, dos processos deles [...] que é importante ele
participar de um conselho (Conselho Gestor) [...] dele vir em reunião, dele
pedir, dele se cuidar mesmo, saber, tipo, que é um direito dele aquilo [...]
aconselhar...e tudo o mais, de fazer toda a orientação [...] do auto-cuidado,
dele ser autônomo [...] de você conscientizar o outro do que é [...], depois que
você consegue esclarecer [...] ele começa a procurar mais e conforme ele for
procurando, você consegue oferecer mais serviços [...]”
Assim, o farmacêutico assume um papel de conscientização, de
aconselhamento e de esclarecimento, no sentido de “estimular a capacidade
das pessoas enfrentarem problemas a partir de suas condições concretas de
vida” (Campos, 2002, p.2).
E, a partir do empoderamento da população que as práticas de
promoção de saúde se desenvolvem, com o fortalecimento da autonomia
individual e coletiva. O estímulo à interação entre os sujeitos, como explicitado
na fala acima, por meio da participação dos indivíduos em Conselhos Gestores,
é um instrumento e mecanismo essencial de ampliação desse desenvolvimento
(Fleury-Teixeira et al., 2008).
2) Limitações da realização de atividades de promoção de saúde
O farmacêutico, como profissional da saúde, deve buscar sua atuação
para além da técnica, com um maior envolvimento nas questões políticas e
sociais (Cordeiro, Leite, 2008). Esta mudança de paradigma leva ao encontro
de diversas limitações na prática dentro da APS, em relação à promoção da
saúde.
A primeira está relacionada ao atual processo de trabalho do
farmacêutico que se encontra nas UBSF, na realidade apresentada nesta
pesquisa. Diversos pontos podem ser ressaltados como dificuldades:
“Eu vou começar o fato de ser os meus locais de trabalho...de ser três, é
uma coisa que é muito, muito difícil”
“[...] é a questão do tempo e de não estar no lugar o tempo inteiro”
11
“[...] é que tudo vai entrar no fator de estar em três Unidades [...] aí eu
tenho que fazer gestão de estoque, eu tenho que fazer pedido de...material, eu
fico muito na parte da gestão.”
“[...] e também uma grande limitação é que nós ficamos em várias
Unidades, eu no caso fico em três, então é muito difícil você fazer pra, tudo pra
três”
Percebe-se que o fator tempo é um dificultador. Na atual conjuntura
apresentada, o farmacêutico está presente nas UBSF como um profissional
“supervisor”, aonde transita entre duas, três e até quatro UBS, com ou sem
Saúde da Família. Essa ausência do profissional em tempo integral nas
Unidades de Saúde opõe-se a uma das propostas da I Conferência Municipal
de
Política
de
Medicamentos
e
Assistência
Farmacêutica:
Prover em todas as Unidades Básicas um Serviço de Farmácia para
atender aos usuários [...] com a presença do profissional farmacêutico
e do técnico de saúde - área de farmácia, durante todo o período de
funcionamento da unidade, de forma a garantir assistência
farmacêutica à comunidade, visando à humanização do atendimento e
propiciando melhoria da qualidade da dispensação (São Paulo, 2002,
p.9).
Essa escassez de profissionais em tempo integral nas UBSF, de acordo
com este processo de trabalho, pode levar a um distanciamento de
determinadas atividades, como é o caso da promoção à saúde. Segundo
Borges e Nascimento Jr. (2008, p.72), este “envolvimento demasiado do
farmacêutico nas atividades administrativas [...] consome um número de horas
significativo da jornada de trabalho” do mesmo:
“[...] a gente acaba sendo muito sugado pela parte burocrática,
administrativa”
Outra limitação apontada como dificultadora está relacionada ao próprio
papel do farmacêutico na APS e o entendimento de sua atuação pelos
profissionais das diferentes categorias, pela gerência e pelos próprios usuários
do serviço, conforme observado nas seguintes falas:
“[...] há também a dificuldade [...] no entendimento da, das próprias
outras categorias [...] de entender o meu papel também, talvez porque às
vezes, né, a gente não deixe claro [...]”
12
“[...] ele (usuário) não, não reconhece o farmacêutico como profissional
que faz esse papel de promoção, a própria equipe, ela tem essa dificuldade de
identificar o farmacêutico”
“[...] lidar com burocracias de gerente que não [...] entende a liberdade
que o farmacêutico tem que ter”
Já há algum tempo se discute o farmacêutico e sua inserção no sistema
de atenção à saúde, evidenciando-se que o farmacêutico deve atuar na equipe
multiprofissional, como membro efetivo e não como entidade autônoma, e
também deve participar de “[...] atividades educacionais junto a grupos
comunitários locais que trabalham com promoção da saúde e em campanhas
de prevenção de doenças” (OPAS et al., 2004, p.28).
A Assistência Farmacêutica tem como fundamento que seja propiciado à
sociedade o uso garantido dos medicamentos de forma racional, com
qualidade e com segurança (Brasil, 2001),e o farmacêutico é necessário para a
implantação e prática deste processo na APS.
Mesmo com delimitações de sua função, percebe-se que o profissional
possui muita dificuldade de se localizar no atual sistema de saúde. Além disso,
conforme explicitado na fala abaixo, há também a falta de reconhecimento
desse papel:
“[...] o restante da equipe não entende como a gente faça parte da
equipe multiprofissional”
“[...] e essa dificuldade de você entrar na equipe mesmo”
No Brasil, a integração do farmacêutico na equipe multiprofissional, foi
recente, a partir da criação dos NASF, de forma a promover o uso racional de
medicamentos, realizar atividades de Educação Permanente em Saúde,
integrar-se com a gestão da AF, estimular a participação social, além de
praticar atividades mais assistencialistas, como dispensação de medicamentos,
acompanhamento
farmacoterapêutico,
orientação
farmacêutica,
visita
domiciliar, discussões de caso e construção de protocolos, linhas de cuidado e
projetos terapêuticos singulares (Brasil, 2010).
Apesar da realidade de trabalho observada no local da pesquisa possuir
configuração diferente da proposta acima citada de atuação nos NASF, dentro
do “[...] contexto da ESF, é factível ao farmacêutico muito mais dinamismo nas
suas ações”, pela característica de possibilidade de “[...] trabalho integrado à
13
equipe multiprofissional, à coletividade, à sociedade e ao sujeito, numa
perspectiva sistêmica” (Ricieri, 2007).
Este profissional, com todas suas potencialidades, deve atuar através de
mudanças das práticas, essencialmente no foco do seu processo de trabalho
(Jaramillo, 2008), de um profissional meramente técnico e administrativo dos
medicamentos para um profissional clínico e assistencial.
“Eu acho que o...profissional farmacêutico ainda ele é uma figura nova,
né, na equipe multidisciplinar, eu acho que não é muito claro [...] qual é a real
função dele [...] por essa questão de também ele não ser visto como um...um
profissional clinico, né, assistencial”
A falta de conhecimento das suas reais funções no cuidado à saúde
aliada
a
um
isolamento
por
parte
do
farmacêutico
“consciente
ou
inconscientemente, do resto da equipe de saúde”, pode prejudicar a percepção
de sua importância na mesma (Provin, 2010, p.719).
A formação farmacêutica tem sofrido mudanças significativas, porém é
característico da categoria um vocabulário de difícil entendimento, além de um
conjunto de atividades pouco conhecido e sistematizado, tornando mais difícil
sua inserção dentro do sistema de saúde (Cipolle et al., 2006).
Porém, o trabalho em equipe deve pressupor entendimento e diálogo por
todos os lados envolvidos. Segundo Saar e Trevizan (2007, p.5), os
profissionais da equipe de saúde formam como “[...] ‘um quebra-cabeças’, em
que as peças se encaixam ‘perfeitamente’ [...]”, na condição de entendimento
de cada função e papel dos membros, com espaços de diálogo e de melhora
das relações.
Assim, o farmacêutico como membro de equipe deve ser uma prática de
construção diária no cotidiano desses profissionais, como é observado em
alguns ambientes, em que a percepção da equipe de saúde “[...] proporcionou
mudanças na unidade de saúde [...] com a inserção do farmacêutico” (Provin,
2010, p.723).
Pensando-se
ainda
nas
limitações
encontradas,
algumas
convergem para o fato da adesão dos usuários ser outro dificultador:
“Adesão do próprio paciente...”
“...e a própria também não aderência de alguns pacientes...”
falas
14
Adesão e aderência são termos ligados a concepções que vão desde
aspectos comportamentais, tal como o não cumprimento da prescrição ou de
alguma orientação, até questões como fatores socioeconômicos, sistemas de
saúde e o próprio indivíduo (Gusmão, Mion Jr., 2006).
Porém, hoje se vivencia um modelo curativista e prescritivo de atenção à
saúde, portanto esta pode ser uma visão do profissional que se aproxima da
dicotomia saúde-doença, até por um processo de internalização de suposições
desde sua formação (Reiners, Nogueira, 2009).
Além disso, a não adesão a um grupo ou atividade pode significar para o
profissional o desinteresse do usuário com seu autocuidado, mesmo tendo
acesso ao que é oferecido. E esta mudança para o usuário no foco da
responsabilidade pela saúde gera uma culpabilização por parte dos
profissionais.
No entanto, pode-se “pensar a não-adesão como uma forma de
autocuidado, e não como falta de compromisso com a saúde”, devido à
complexidade que este termo traz consigo (Camargo-Borges, Japur, 2008,
p.69), como é exposto na seguinte fala:
“[...] a própria cultura do paciente, porque ele não procura a Unidade pra
promoção, ele, ele vê a Unidade como uma coisa curativa [...]”
Esse entendimento de que o usuário está inserido em um contexto
social, em busca de necessidades de saúde construídas por si no meio em que
vive, pode facilitar a busca da parceria com o mesmo, e “[...] possibilita
reconhecer o usuário como um aliado na luta pela promoção da saúde nas
comunidades” (Camargo-Borges, Japur, 2008, p.69).
3) A prática do profissional farmacêutico quanto à promoção de saúde ideal versus real
As falas dos farmacêuticos encaminharam-se para duas direções,
quando questionados a respeito das ações de promoção de saúde realizadas
no cotidiano do trabalho.
Em relação às práticas ideais, alguns dos profissionais falaram a
respeito da realização de visitas domiciliares e de consultas:
15
“[...] e a gente tá começando agora, que é essa questão da ‘VD’, que é
fazer essa orientação no paciente, mas eu ainda não comecei a fazer esse
trabalho.”
”[...] aí eu vou entrar no que a gente precisa fazer ainda [...] conseguir
fazer consulta, fazer visita [...]”
As visitas e consultas fazem parte das atribuições do farmacêutico no
NASF (Brasil, 2010). São estratégias assistenciais baseadas nesta “nova”
perspectiva do exercício profissional farmacêutico, com o foco do cuidado no
usuário.
É através das visitas domiciliares que os profissionais obtêm um maior
contato com as famílias e conseguem realizar um diagnóstico de suas
realidades, já que adentram no ambiente em que vivem e se aproximam em
todos os sentidos do seu cotidiano, tornando-se um espaço que favorece as
relações, a escuta e o vínculo (Lopes et al., 2008; Giacomozzi, Lacerda, 2006).
Outra questão que abrange o ideal da prática de promoção de saúde, é
que esta “[...] pretende que situações de paternalismo e assistencialismo sejam
evitadas através da participação efetiva da população e que mecanismos
políticos efetivos comecem a promover a equidade” (Bydlowski et. al, 2004,
p.18), como na fala abaixo:
“[...] eu poderia fazer [...] muita coisa [...] vou pensar em participações
de coisas além assim de...de envolvimento com [...] grupos educacionais [...]
vou pensar em grupos de, por exemplo, de conselhos mesmo [...] Conselho de
Saúde, [...] é Fóruns Locais de Saúde [...]e participar de instituições um pouco
além, assim, não só de educação sobre saúde, né [...] mas educação sobre
conceitos mesmo, sobre...o lugar no mundo...”
Assim, o farmacêutico tem o papel de compartilhar de espaços de
discussão sobre políticas e interesses públicos, além de estimular e fortalecer a
mobilização da comunidade na busca de seus direitos, do exercício da
cidadania e de sua autonomia (Marcondes, 2004).
Outro ponto da fala citada é a questão de educação em saúde para além
da informação e da passagem de conhecimento verticalmente dos saberes
técnicos e científicos pelos profissionais da saúde (Alves, 2005). Nesse
sentido, destaca-se a educação popular, que busca “a construção de uma nova
forma de pensar a saúde, principalmente no sentido da consolidação de um
16
trabalho efetivamente capaz de incluir comunidades e usuários no processo de
cuidar e promover a saúde” (Albuquerque, Stotz, 2004, p.267). Segundo a
educação dialógica:
Pelo nível de compromisso e responsabilidade esperado dos
profissionais que compõem as equipes de saúde da família, pelo nível
de participação desejado da comunidade na resolução dos problemas
de saúde, pela compreensão ampliada do processo saúde-doença,
pela humanização das práticas, busca da qualidade da assistência e de
sua resolutividade, depreende-se que [...] corresponderia ao modelo
mais pertinente para o contexto de atividades do PSF (Alves, 2004,
p.50).
O trabalho em equipe, multidisciplinar e compartilhado, mostrou-se como
significativo para modificação da prática para a promoção da saúde, conforme
ilustrado abaixo:
“[....] eu poderia realizar, eu acho, assim, uma....uma integração maior
com a equipe...discutir um caso com a equipe”
“[...] participar de [...] consulta compartilhada com o enfermeiro [...] parte
com o médico também [...] com a parte de Saúde Mental”
Em relação às práticas reais de promoção de saúde algumas falas
apontaram para a realização de grupos:
“Tá, eu trabalho com um grupo de hipertensos e diabéticos, vinculados
aos programas da prefeitura, né, Remédio em Casa e AMG [...] é... faço oficina
de orientação medicamentosa”
“[...] atualmente o meu foco maior é grupo, né, a gente tem a parte dos
hipertensos, né, a gente procura dar educação pra esses pacientes, né,
orientar, como armazenar, armazenamento dos medicamentos [...] a gente tem
o programa que é o Auto Monitoramento Glicêmico”
As falas acima citadas demonstram a dificuldade dos farmacêuticos de
se desvincularem de atividades relacionadas ao medicamento ou às doenças
crônicas, que resultam em um enfoque mais orientativo, relacionados à
prevenção, “[...] limitando o cuidado às práticas pontuais e curativas” (Gil, 2005,
p.491).
Porém, há aproximação da real prática de promoção de saúde quando
grupos são pensados como espaços de troca de experiências, de interação
profissional-comunidade, e de fortalecimento de ações que visem à melhoria de
qualidade de vida:
17
“Bom, eu gosto muito de fazer grupo educativo porque [...] eu acho que
elas (pessoas) se estimulam, trocam experiências, [...] é um grupo de incentivo
[...] que toca bastante, é...no Auto Monitoramento Glicêmico eu faço mais
promoção de saúde em geral [...] ela vai ali naquele grupo e eu to falando da
qualidade de vida dela, dela fazer uma caminhada, dela ouvir uma música,
dela, dela tentar relaxar [...], terapias alternativas pra controlar essa Diabetes
[...] a gente abrindo os olhos das pessoas pra, pra coisas diferentes que elas
possam fazer”
Outras falas direcionam-se a um diferente campo de ação, no que
concerne ao reforço às ações comunitárias e ao desenvolvimento de
habilidades pessoais (Brasil, 2002). A horta comunitária, e as discussões de
“Rodas de Chá”, valorizam os saberes populares e os utilizam na construção
de práticas saudáveis à população:
“[...] e eu fazia a Roda de Chá”
“Tem a horta comunitária, né, que a gente faz [...] além do plantio, a
gente
faz
a
parte
de,
de
orientação
de
plantas
medicinais.”
Além disso, pôde ser observada a prática da Atenção Farmacêutica
como promotora de saúde. A Atenção Farmacêutica, segundo a Proposta do
Consenso Brasileiro:
É um modelo de prática farmacêutica, desenvolvida no contexto da
Assistência Farmacêutica. Compreende atitudes, valores éticos,
comportamentos, habilidades, compromissos e co-responsabilidades
na prevenção de doenças, promoção e recuperação da saúde, de
forma integrada à equipe de saúde. É a interação direta do
farmacêutico com o usuário, visando uma farmacoterapia racional e a
obtenção de resultados definidos e mensuráveis, voltados para a
melhoria da qualidade de vida. Esta interação também deve envolver
as concepções dos seus sujeitos, respeitadas as suas especificidades
bio-psico-sociais, sob a ótica da integralidade das ações de saúde
(Brasil, 2002, p.16-17).
Destaca-se que nesta proposta a promoção de saúde é incluída como
habilidade a ser desenvolvida pelo farmacêutico no sistema de saúde. A
ampliação do escopo de atividades é significativa e direciona-se a “[...]
satisfazer as necessidades de uma assistência sanitária devidamente
contextualizada na complexidade social” (Angonesi, Sevalho, 2010, p.3607). As
seguintes falas relatam esta nova perspectiva profissional:
“[...] eu faço alguma ação de Atenção Farmacêutica”
18
“[...] e também atualmente a gente tá começando a parte de Atenção, é
Farmacêutica, onde a gente vai começar também a parte de consultas e
visitas.”
“[...] não sei se se enquadra aí, mas tem essa questão das visitas, das
consultas, né.”
As visitas domiciliares e consultas, atividades vinculadas à Atenção
Farmacêutica, objetivam a melhora da assistência ao usuário em relação à
utilização de medicamentos (Angonesi, Sevalho, 2010).
É necessário, porém, que esta prática não esteja atrelada restritamente
ao uso de medicamentos, sendo fundamental estar voltada tanto ao âmbito
individual quanto ao coletivo (OPAS et al., 2004).
Dentro das atribuições do farmacêutico na APS, a dispensação de
medicamentos surgiu como facilitadora da promoção de saúde:
“[...] orientações, aqui, de balcão [...] é onde eu consigo fazer algum tipo
de promoção”.
Segundo Angonesi (2008), esta prática sofreu ao longo dos anos
diversas transformações conceituais, desde um ato de entrega dos
medicamentos até uma aproximação com a Atenção Farmacêutica. Sendo uma
atividade privativa do farmacêutico, deve ser estimulada como uma forma de
ampliação da relação entre farmacêutico e usuário, tornando-se um desafio
para o mesmo na APS, já que “[...] talvez ocorram situações em que não se
precise utilizar medicamento e, a partir dessa observação poderão se
estabelecer outras relações” (Maia, Nascimento, 2011, p.3947).
Por fim, a Educação Continuada de equipes, Agentes Comunitários de
Saúde, técnicos de farmácia, e demais profissionais da UBS, foi citada diversas
vezes:
“[...] a parte do, de Educação Continuada, que é dentro da equipe [...]
capacitação com, já fiz com os ACS, com os administrativos, e tava esses dias
fazendo um processo com os médicos mesmo”
“[...] eu faço essa Educação Continuada com [...] os técnicos de
farmácia.”
“Tem o... grupos educativos com os agentes comunitários de saúde, pra
tornar eles facilitadores desse trabalho do farmacêutico.”
19
Pensando-se na concepção dos termos “capacitação” e “educação
continuada”, as falas refletem uma visão mais reducionista da educação em
saúde. Segundo Hypollito (2000), capacitar significa haver mudanças na
prática, por meio de ações que tornem as pessoas capazes, habilitadas a
adquirirem condições de desempenho profissional. A educação continuada
trata-se da atualização dos sujeitos, no sentido de informação sobre
determinados conhecimentos, sem levar em conta a influência dos saberes
produzidos no cotidiano (Collares et al., 1999).
Porém, a promoção de saúde talvez se aproxime do desenvolvimento de
práticas educacionais reais na perspectiva de uma transformação dos
trabalhadores e/ou usuários em atores sociais a fim de conduzir, por meio de
seus saberes da vida real, do cotidiano do trabalho e por espaços de reflexão,
à construção de melhores políticas públicas, de gestão e de atenção, além do
fortalecimento do controle social na saúde (Ceccim, 2005).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É
fato
que
o
profissional
farmacêutico
necessita
de
muitas
transformações para estar mais próximo da promoção de saúde na APS.
Inicia-se com o processo de trabalho apresentado, em que o
farmacêutico transita por várias UBSF, e como o próprio nome diz, trata-se de
uma passagem de um lugar para o outro. Esta fragmentação de seu tempo
dificulta o estabelecimento de determinados processos fundamentais para a
promoção de saúde, como o vínculo com a população. O período despendido
com questões burocráticas e administrativas deve ser repensado pelos
gestores, tendo em vista a qualidade de trabalho desenvolvido, e também as
necessidades do serviço.
Depara-se na prática com profissionais jovens e recém-inseridos na
Saúde Pública. A maioria ingressante de forma despreparada em relação às
amplas concepções e realidades encontradas na APS. O profissional, incerto
de suas atribuições, principalmente em relação à promoção da saúde, encontra
dificuldades na sua inserção nas equipes multiprofissionais, e na aproximação
com usuários e comunidade.
20
É preciso que haja maiores investimentos institucionais na formação
acadêmica e na capacitação dos farmacêuticos para atuarem no SUS, desde a
reflexão sobre determinados conceitos de saúde, até questões que abrangem o
contexto sociopolítico brasileiro.
Também é necessário repensar nas práticas existentes para que sejam
consonantes
com
o
interesse
coletivo.
Deve-se
desenvolver
as
potencialidades, como educação em saúde, educação continuada, atividades
grupais, visitas domiciliares, e atividades relativas a práticas integrativas e
complementares.
E, para além da equipe de saúde, o papel do farmacêutico dentro da
sociedade deve ser constantemente mostrado e conquistado, seguindo da
distribuição de medicamentos para a sua função de profissional de saúde
necessário em seus conhecimentos e saberes (Cordeiro, Reynaud, 2008).
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