as representações de pacientes com fistula arterio-venosas

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AS REPRESENTAÇÕES DE PACIENTES COM FISTULAS ARTERIO-VENOSAS:
UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Vander Monteiro da Conceição 1
Jeferson Santos Araujo1
Lucialba Maria Silva dos Santos1
Ralrizônia Fernandes Sousa1
Silvio Éder Dias da Silva2
INTRODUÇÃO
A doença renal é considerada um grande problema de saúde pública, porque causa
elevada taxa de morbidade e mortalidade e, além disso, tem impacto negativo sobre a
qualidade de vida relacionada à saúde, que é a percepção da pessoa de sua saúde por meio de
uma avaliação subjetiva de seus sintomas, satisfação e adesão ao tratamento1.
A insuficiência renal aguda (IRA) é caracterizada pela redução abrupta da taxa de
filtração glomerular que se mantém por períodos variáveis de tempo, resultando na inabilidade
dos rins em exercer as funções de excreção, manter o equilíbrio ácido-básico e homeostase
hidroeletrolítica do organismo. As complicações da IRA contribuem significativamente para a
elevação das taxas de morbidade e mortalidade de pacientes em estado crítico 2.
A mortalidade dos pacientes portadores de insuficiência renal aguda (IRA) permaneceu
elevada nas últimas décadas, apesar dos avanços diagnósticos e terapêuticos ocorridos. Mesmo
com a utilização de novas técnicas de diálise e recursos nas unidades de terapia intensiva
(UTI), o prolongamento da vida do paciente com IRA não significou redução da mortalidade 3.
Já a insuficiência renal crônica é o resultado final do comprometimento da função renal
por diversas doenças que acometem os rins, de maneira rápida ou lenta e progressiva, que
tornam o rim incapaz de realizar as suas funções. O ritmo de tal progressão depende da doença
original e de causas agravantes, como hipertensão, infecção urinária, nefrite, gota e diabetes.
Geralmente, quando surge uma doença renal, ela ocorre nos dois rins, raramente atingindo um
1
Discentes da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal do Pará.
Professor Assistente da Faculdade de Enfermagem da UFPA. Doutorando do DINTER/UFPA/UFSC/CAPES.
Mestre em Enfermagem pela EEAN/UFRJ. Membro do Grupo de Estudos de História do Conhecimento de
Enfermagem (GEHCE) e do Grupo de Pesquisa: Educação, Políticas e Tecnologia em Enfermagem da Amazônia
(EPOTENA). COREN – PA: 87238.
2
só. Quando o rim adoece por uma causa crônica e progressiva, a perda da função renal pode
ser lenta e prolongada 4.
O método de escolha para acesso à hemodiálise é a fístula arteriovenosa (FAV)
primária em membro superior, envolvendo a artéria radial e a veia cefálica na região do
punho.
OBJETIVOS
•
Identificar qual a representação social da FAV para o nefropata;
•
Analisar como essas representações interferem na qualidade de vida do paciente.
METODOLOGIA
Este estudo é exploratório-descritivo, com abordagem qualitativa, sendo aplicada a
teoria das representações sociais utilizada por Denise Jodelet, à entrevista semidirigida com
três nefropatas e técnica unidade temática.
O estudo exploratório, designado por alguns autores como pesquisa quase científica ou
não científica, é, normalmente, o passo inicial no processo de pesquisa. Trata-se de uma
observação não estruturada, ou assistemática: consiste em recolher e registrar os fatos da
realidade sem que o pesquisador utilize meios técnicos especiais ou precise fazer perguntas
diretas 5.
A pesquisa descritiva serve para observar, registrar, analisar e correlacionar fatos ou
fenômenos (variáveis) do mundo físico e, especialmente, do mundo humano, sem a
interferência do pesquisador5.
As representações sociais são uma forma de conhecimento socialmente elaborado e
compartilhado, com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade
comum a um conjunto social. (...) devem ser estudadas articulando elementos afetivos,
mentais e sociais, e integrando, ao lado da cognição, da linguagem e da comunicação, as
relações sociais que afetam as representações e a realidade material, social e ideal (das idéias)
sobre a qual elas vão intervir 6.
Para procedermos à análise e interpretação dos dados optamos em utilizar a técnica de
analise temática, por sabermos que esta favorece o descobrimento dos núcleos de sentidos que
compõem a comunicação e a freqüência contribuindo para melhor compreensão do texto do
discurso 7.
Bardin evidência o surgimento de temas a partir da análise, podendo ser definido como
unidades de registros que predispõem ao pesquisador estudar opiniões, atitudes, valores e
crenças além de outros aspectos. A autora nos informa que o tema é a unidade de significação
que se desprende do texto analisado, podendo ser recortados em idéias que compõem
enunciados portadores de significados.
Os próximos passos para analise foram preconizados por Bardin que constitui em: préanalise, exploração do material e tratamento dos resultados.
A pré-análise é o primeiro contato com o conteúdo a ser analisado, favorece a
organização do material, e a leitura das entrevistas para que haja impregnação das idéias que
emergiram. Após esta etapa elaboramos a constituição do corpus que seguiu as fases: de
exaustividade, que consiste em ver e ler o material como um todo, não priorizando ou
descartando qualquer dado; representatividade que consiste em priorizar o material no seu
todo; homogeneidade que é ato de identificar a pertinência e aderência do material.
Na etapa de exploração do material agrupamos as respostas dos entrevistados por
questão. Desta forma podemos apontar as repetições das palavras e frases que surgiram sendo
observado à pertinência dos sentidos emergentes dos relatos dos depoentes.
ANÁLISE DOS RESULTADOS
Durante a análise surgiram duas unidades temáticas: O cuidar perante o medo e A
FAV e um novo modo de vida.
O cuidar perante o medo
Onde os pacientes com FAV relataram que no momento onde foi criado a fistula
receberam uma série de informações de como deveriam manter o cuidado desde membro,
porém foi muito enfatizado nessas orientações o lado negativo se o cuidado não fosse
realizado da forma correta, sendo assim os clientes realizavam as orientações, mas sempre
com o medo de que o pior viesse acontecer.
A emoção não consiste apenas em uma percepção de si próprio, mas também necessita
do conhecimento da situação, dos eventos (ou representação destes) em que ocorrem, e o
impacto dessa situação merece uma avaliação cognitiva. A emoção é percebida também pelos
outros, suscita reações de sua parte e certamente isso tenha por função primordial a
comunicação. Ela prepara e modula o comportamento levando o indivíduo a agir de modo a
diminuir as experiências desagradáveis e prolongar os afetos positivos. Com relação à
avaliação das emoções, pode-se questionar que níveis de racionalidade fundamentam o
sentimento. Acredita-se que este envolvimento seja pequeno, pelo menos no que se refere ao
primeiro impacto de um estímulo gerador de afeto 8.
A FAV e um novo modo de vida
Nessa unidade os entrevistados relataram mudanças de hábitos, pois deixaram de fazer
coisas que lhe davam prazer, onde um deles relatou ter deixado de carregar seu filho por não
poder fazer esforço, outro afirma ter deixado de desenvolver suas atividades em sua plantação
pelo mesmo motivo, já que o membro onde a FAV está instalada não pode manusear objetos
cortantes, dessa forma deixaram de realizar funções cotidianas e prazerosas na visão de cada
entrevistado.
O sofrimento é capaz de desestabilizar a identidade e a personalidade, conduzindo a
problemas mentais; mas ao mesmo tempo, é elemento para a normalidade, quando existe um
compromisso entre o sofrimento e a luta individual e coletiva contra ele, sendo o saudável não
uma adaptação, mas o enfrentamento das imposições e pressões do trabalho que causam a
desestabilidade psicológica, tendo lugar o prazer quando esse sofrimento pode ser
transformado 9.
CONCLUSÕES
Entendemos como é relevante compreender essa representação, pois percebemos que é
importante sim orientar o paciente mostrando aspectos positivos e negativos, porém o ato de
realizar “terrorismo” deve ser repensado, pois este pode repercutir de maneira negativa no
cuidar do cliente, servindo então este estudo para traçar o melhor cuidado de enfermagem ao
paciente de fistula arteriovenosa.
Na crise do projeto humano, sentimos a falta clamorosa de cuidado em toda a parte.
Suas ressonâncias negativas são demonstradas pela má qualidade de vida, pela penalização da
maioria empobrecida da humanidade, pela degradação ecológica e pela exacerbação da
violência. Não busquemos o caminho da cura fora do ser humano, entendido em sua plenitude
que inclui o infinito. Ele precisa voltar-se sobre si mesmo e redescobrir sua essência que se
encontra no cuidado 10.
O cotidiano do trabalho em enfermagem está permeado pelas inter-relações com os
demais profissionais que atuam em âmbito hospitalar. Neste sentido, as pessoas do sistema
organizacional de cuidados de enfermagem utilizam um espaço geográfico e simbólico de uma
convivialidade humana muito própria e a princípio de uma objetividade muito clara. Isto
demonstra a importância singular da interação entre as equipes no ambiente organizacional
hospitalar na busca da qualidade da assistência 11.
REFERÊNCIAS
1. Martins, M. R. I; Cesarino, C. B. Qualidade de vida de pessoas com doença renal
crônica em tratamento hemodialítico. Revista Latino-Americana de Enfermagem,
13, 5, 670-676, 2005.
2. Bernadinal, L.D; Diccini, S.; Belasco, A.G.S.; Bittencourt, A.R.C.; Barbosa, D.A.B.
Evolução clínica de pacientes com insuficiência renal aguda em unidade de
terapia intensiva. Acta. Paul. Enferm. 2008; 21(Número Especial):174-8.
3. Balbi, A.L.; Gabriel, D.P.; Barsante, R.C.; Caramori, J.T.; Martin, L.C.; Barreti, P.B.
Mortalidade e prognóstico específico em pacientes com insuficiência renal aguda.
Rev. Assoc. Med. Brás. 2005; 51(6): 318-22.
4. Resende, M.C.; Santos, F.A.; Souza, M.M.; Marques, T.P. Atendimento psicológico à
pacientes com insuficiência renal crônica: em busca de ajustamento psicológico.
Psic. Clin., Rio de Janeiro, Vol. 19, n.2, p. 87 – 99, 2007.
5. Rampazzo, L. Metodologia Científica: para alunos dos cursos de graduação e pósgraduação. Edições Loyola: 3ª edição, São Paulo – SP, 2003.
6. Jodelet, D. Folie et représentations sociales. Paris: PUF, 1989. Representações
sociais : um domínio em expansão. In: JODELET, D. (org.). As Representações
sociais. Rio de Janeiro: Eduerj, 2002, p.17-44.
7. Bardin, L. Análise de conteúdo. 7. ed. Lisboa, 1977.
8. Roazzi, A.; Federicci, F.C.B.; Carvalho, M.R. A questão do consenso nas
representações sociais: um estudo do medo entre adultos. Psic.: Teor. e
Pesq. v.18 n.2 Brasília maio/ago. 2002.
9. Ferreira, M.C.; Mendes, A.Ma. "Só de pensar em vir trabalhar, já fico de mau
humor": atividade de atendimento ao público e prazer-sofrimento no trabalho.
Estud. psicol. (Natal) v.6 n.1 Natal jan./jun. 2001.
10. Padilha, M.I.C.S.; Maia, A.R.; Vieira, M.; Machado, C. Significados das práticas de
não
cuidados
na
visão
dos
clientes.
Rev.
bras.
enferm. vol.57 no.6 Brasília nov./dez. 2004.
11. Erdmann, A.L. Sistemas de cuidados em enfermagem. Pelotas (RS): UFPEL; 1996.
(Série teses em enfermagem).
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