Fonte: Dr. Carlos Fernando Siqueira Castro Seção: Mercado Versão: Online Crescendo na crise Crédito: Divulgação Por William Maia São Paulo A estagnação econômica que atingiu o Brasil em 2014 parece não ter chegado ao Siqueira Castro Advogados –ou, pelo menos, não teve seus efeitos tão sentidos por lá. O renomado escritório carioca celebra um crescimento de receitas de 16% no ano, aliado à redução de custos e a chegada de novos clientes. ―Escritório de advocacia cresce tanto na crise como na bonança, desde que saiba focar bem sua estratégia‖, diz Carlos Fernando Siqueira Castro, sócio-gerente da banca, que atribui o resultado ao planejamento. ―A crise é um bom momento para arrumar a casa‖, continua. Ele prevê um cenário ainda mais difícil para 2015, ano que deve ser marcado por ajustes fiscais e baixo crescimento, mas que trará oportunidades em áreas como direito tributário, penal empresarial, trabalhista e ambiental. Para Siqueira Castro, a realidade de baixo crescimento da economia faz com que as grandes bancas se destaquem ainda mais no mercado, ao lado dos escritórios especializados, as chamadas boutiques. ―Não acredito no escritório de médio porte. Ele não tem o fôlego financeiro, a penetração e a organização de um escritório grande para passar por esses momentos de retração econômica‖, afirma. Leia abaixo a íntegra da entrevista: Como o sr. analisa o ano de 2014 para o Siqueira Castro? A economia não foi bem nesse ano. Não foi bem para a indústria, não foi bem para setores específicos, como o de energia elétrica. O setor de fusões e aquisições teve uma desaceleração. O mercado de capitais teve muita instabilidade. Foi um ano curto, teve Copa do Mundo, eleições em dois turnos. Isso tudo deixou o cenário muito tumultuado. Mas costumo dizer que escritório de advocacia cresce tanto na crise como na bonança, desde que saiba focar bem a sua estratégia. Alguns setores cresceram mais do que outros, outros ficaram estagnados, mas no todo o escritório teve um crescimento de receitas da ordem de 16%. Como esse resultado foi alcançado? Nós trabalhamos muito na redução dos nossos custos internos. Época de crise é época de apertar parafusos. Quando se está em bonança, são permitidas algumas licenciosidades, gastos não prioritários. A crise é bom momento para arrumar a casa. Contratamos um novo CEO [Alfredo Ferrari, ex-vice presidente da Nextel], mudamos algumas estruturas internas. O escritório já está com 2.500 colaboradores em todo o Brasil. É uma encrenca administrar uma empresa desse tamanho. Mas esse processo já deu resultados. Conseguimos cortar 12% dos nossos custos fixos, com renegociações, otimizações, ganhos de sinergia, concentrações de áreas. E quais as perspectivas para 2015? Estou muito temeroso pelo Brasil. Acho que vai ser um ano difícil para a economia mundial e, especialmente, para a brasileira. A presidente Dilma teve que se render à realidade e nomeou uma equipe econômica que aponta para uma ortodoxia fiscal, porque senão o país iria quebrar. Deve haver um choque de arrecadação, com aumento de impostos. Deve ser um ano de arrocho, a taxa Selic deve continuar subindo. E o ano também deve ser muito difícil politicamente. A operação Lava Jato deve provocar um impacto que ninguém ainda consegue prever com precisão. Isso tende a ter uma repercussão muito ruim na área de infraestrutura, porque o que está sendo colocando em xeque são os grandes projetos de infraestrutura do país. Diante desse cenário, que áreas devem se destacar? A área criminal certamente estará em alta. As empresas estão cada vez mais preocupadas com implicações dessas ações de combate à corrupção sobre contratos e licitações. Praticamente triplicamos nossa área de direito penal empresarial nos últimos três anos, e isso deve continuar. Antevejo um ano muito forte na área de litígio. Com a economia indo mal, as empresas e consumidores tendem a litigar muito mais. A área trabalhista deve crescer, porque deve ser um ano de muitas demissões, planos de demissões voluntárias, renegociações coletivas. A área de direito ambiental deve manter uma tendência de crescimento, independentemente da crise. Tributário também deve ter um crescimento importante. Sempre que a economia está fraca, as empresas buscam fazer economia, e uma das formas de se fazer economia é otimizando o pagamento de impostos. Isso já aconteceu em 2014 e é uma tendência continuar a acontecer em 2015. Em quais áreas deve haver retração? Outras áreas, como M&A e mercado de capitais são uma incógnita. Vai depender de como a economia se comportar e se o Brasil vai parar ou não. Haverá leilões na área de petróleo, linhas de transmissão de energia? Obras públicas serão retomadas? 2016 está logo ali e o Rio de Janeiro precisará estar pronto para as Olimpíadas e a gente sabe que as obras estão atrasadas. Mas, independentemente do cenário que se projete para 2015 –exceto, claro, uma catástrofe de projeções bíblicas—, se for um ano economicamente não muito pior do que foi 2014, nos estimamos sustentar o crescimento desse ano da ordem de 15% a 20%, o que é muito bom. Houve aumento no quadro de colaboradores? Novos sócios? Nós investimos muito em tecnologia, integramos o escritório e hoje ele é praticamente 100% virtual. A ideia é eliminar a necessidade de uso de papel. Nosso foco foi melhorar processos, por isso não ampliamos o quadro de funcionários e sócios. Houve um aumento de 15% no número de casos e horas trabalhadas, com o mesmo quadro que iniciou o ano. Temos cerca de 950 advogados, abrimos uma nova unidade em Curitiba, continuamos investindo e acreditando no Brasil, apesar de o país ter sido tão mal tratado pelos nossos governantes. Quais casos e clientes novos foram destaque no ano? Tem muitos casos que estão na mídia, sobre os quais não podemos entrar em detalhes. Mas, por exemplo, na operação Lava Jato, somos os advogados da Petrobras e de sua diretoria. É um caso que tem demandado muitos esforços. Não perdemos clientes, o que em um ano como esse já é um feito, e conquistamos algumas contas novas muito importantes, como a rede Insinuante (lojas de varejo), a Temoinsa (fabricante de equipamentos ferroviários) e a CSP (Companhia Siderúrgica do Pecem). Hoje nós temos mais de 3.000 clientes. Quais as perspectivas para o mercado da advocacia? Vejo uma capacidade maior de resiliência nos escritórios grandes, não só pelo peso financeiro e pelo volume de recursos que movimentam, mas também por terem várias áreas. Mesmo que algumas não vão tão bem, outras compensam. Isso pode não acontecer, por exemplo, com uma boutique que trabalhe só com projetos de infraestrutura. Se esses projetos pararem no ano que vem, o que restará a eles? Vai depender muito da economia e vai variar conforme a área de atuação e o tamanho do escritório. Acredito que na advocacia há espaço para a boutique – os altamente especializados – e para os grandes escritórios full-service. Não acredito no escritório de médio porte. Ele não tem o fôlego financeiro, a penetração e a organização e de um escritório grande para passar por esses momentos de retração econômica. O especialista, aquele sábio do direito – que é consultado muitas vezes pelos próprios grandes escritórios, como o nosso, em busca de um parecer, uma consultoria – sempre vai ter o seu lugar no mercado. Por outro lado, o mercado tende a se concentrar, cada vez mais, em termos de volume financeiro e de processos, nas mãos dos escritórios que mais se prepararam, daqueles que tem mais robustez, que são os full-service. O que esperar do Judiciário no ano que vem? O Judiciário tem sido muito testado sobre essas novas leis de combate à corrupção, e ao mesmo tempo, continua abarrotado de processos. O Conselho Nacional de Justiça mostrou que houve um aumento, em 2013, no número de demandas não-julgadas da ordem de 20 milhões de processos. Passamos de 85 milhões para 105 milhões de processos pendentes de julgamento, quase um processo para cada dois habitantes. Nenhum país do mundo tem essa realidade. O desafio é enorme. Nós temos de continuar investindo em digitalização, modernização de práticas e otimização. Porque não dá continuar aumentando os quadros indefinidamente. Daqui a pouco nós vamos ter mais juízes que habitantes. O Governo Federal também pode ajudar, fixando algumas premissas para desistir de determinados processos e recursos, uma vez que ele é responsável por 50% de todos os casos em tramitação. http://jota.info/crescendo-na-crise