Volume 16 – número 2 Abril – Junho 2009

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ISSN: 1809-2950
FISIOTERAPIA e
PESQUISA
REVISTA DE FISIOTERAPIA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ÓRGÃO OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO DE FISIOTERAPEUTAS DO BRASIL
Volume 16 – número 2
Abril – Junho 2009
Fisioterapia e Pesquisa
Fisioterapia e Pesquisa
Revista do Curso de Fisioterapia do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e
Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Fofito/FMUSP
em continuação a Revista de Fisioterapia da Universidade de São Paulo.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Reitora
Profa. Dra. Suely Vilela Sampaio
Vice-Reitor
Prof. Dr. Franco Maria Lajolo
SECRETARIA
Patrícia Pereira Alfredo
INDEXAÇÃO E NORMALIZAÇÃO BIBLIOGÁFICA
Serviço de Biblioteca e Documentação da FMUSP
e-mail: [email protected]
Faculdade de Medicina
Diretor
Prof. Dr. Marcos Boulos
EDIÇÃO DE TEXTO, PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO
Tina Amado, Alba A. G. Cerdeira Rodrigues e Daniel Carvalho
Pixeletra ME
Depto. Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional
IMPRESSÃO
Chefe
Profa. Dra. Claudia Regina Furquim de Andrade
Gráfica UNINOVE
Tiragem: 800 exemplares
Curso de Fisioterapia
Coordenadora
Profa. Dra. Silvia Maria Amado João
FISIOTERAPIA E PESQUISA
Fisioterapia e Pesquisa v.16, n.2, abr/jun. 2009
Fisioterapia e Pesquisa / (publicação do Curso de Fisioterapia
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo)
v.1, n.1 (1994). – São Paulo, 2005.
v. : il.
Continuação a partir de v.12, n.1, 2005 de Revista de
Fisioterapia da Universidade de São Paulo.
Semestral: 1994-2004
Quadrimestral: a partir do v.12, n.1, 2005
Trimestral: a partir do v.15, n.1, 2008
Sumários em português e inglês
ISSN 1809-2950
Curso de Fisioterapia
Fofito/FM/USP
R. Cipotânea 51 Cidade Universitária
05360-160 São Paulo SP
e-mail: [email protected]
http://medicina.fm.usp.br/fofito/fisio/revista.php
Telefone: 55 xx 11 3091 8416
INSTITUIÇÕES COLABORADORAS
INSTITUIÇÕES PARCEIRAS
FACULDADE DE MEDICINA
DE RIBEIRÃO PRETO / USP
ASSOCIAÇÃO DE
FISIOTERAPEUTAS DO BRASIL
APOIO
1. FISIOTERAPIA/periódicos I. Curso de Fisioterapia da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo
Filiada à
FACULDADE DE MEDICINA
DA UNIVERSIDADE
DE SÃO PAULO
ISSN: 1809-2950
FISIOTERAPIA e
PESQUISA
REVISTA DO CURSO DE FISIOTERAPIA DA FACULDADE
DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ÓRGÃO OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO DE FISIOTERAPEUTAS DO BRASIL
Volume 16 – número 2
Abril – Junho 2009
Fisioter Pesq. 2009;16(2)
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Fisioterapia e Pesquisa
Publicação trimestral do Curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina da USP
Fisioterapia e Pesquisa visa disseminar conhecimento científico rigoroso de modo a subsidiar
tanto a docência e pesquisa na área quanto a fisioterapia clínica. Publica, além de artigos de
pesquisa originais, revisões de literatura, relatos de caso/s, bem como cartas ao Editor.
indexada em: LILACS – Latin American and Caribbean Health Sciences; LATINDEX –
Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Cientifícas de Américas; CINAHL
– Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature; e SportDiscus.
EDITORAS-CHEFES
Amélia Pasqual Marques
Fofito / FMUSP – Depto. Fisioterapia,
Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional,
Faculdade de Medicina / USP
Débora Bevilaqua Grossi
RAL/ FMRP/USP Depto. Biomecânica,
Medicina e Reabilitação do Aparelho
Locomotor, Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto / USP
EDITORES ESPECIALISTAS
Celso R. Fernandes de Carvalho – Fofito / FMUSP
Isabel de Camargo Neves Sacco – Fofito / FMUSP
Jefferson Rosa Cardoso – Depto. Fisioterapia / Univ. Estadual de Londrina
Raquel Simoni Pires – Laboratório de Neurociências / Univ. Cidade de São
Paulo
Rosângela Corrêa Dias – EEFFTO – Escola Educ. Física, Fisioterapia e Terapia
Ocupacional / Univ. Federal de Minas Gerais
Silvia Maria Amado João – Fofito / FMUSP
CORPO EDITORIAL
Anamaria Siriani de Oliveira
RAL, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto / USP
Ribeirão Preto SP
Brasil
Depto. Engenharia Telecomunicações e Controle Escola
Andre Fabio Kohn
São Paulo SP
Brasil
Politécnica / USP
Anke Bergmann
Curso de Fisioterapia / Centro Univ. Augusto Motta
Rio de Janeiro RJ
Brasil
Depto. Fisioterapia / Univ. Estadual de Londrina
Antonio Fernando Brunetto
Londrina PR
Brasil
Depto. Fisioterapia / Univ. Federal de Pernambuco
Armèle Dornelas de Andrade
Recife PE
Brasil
Barbara M. Quaney
Medical Center / University of Kansas
Kansas City KA
EUA
Fofito / Faculdade de Medicina / USP
Clarice Tanaka
São Paulo SP
Brasil
Cláudia R. Furquim de Andrade Fofito / Faculdade de Medicina / USP
São Paulo SP
Brasil
School of Allied Health and Life Sciences / New York
Chukuka S. Enwemeka
Nova Iorque NY
EUA
Institute of Technology
École de Réadaptation et GRIS, Faculté de Médecine / Univ.
Debbie Feldman
Montréal QC
Canadá
de Montréal
Faculdade Ciências da Saúde/ Univ. Metodista de Piracicaba Piracicaba SP
Dirceu Costa
Brasil
Fofito / Faculdade de Medicina / USP
Fátima A. Caromano
São Paulo SP
Brasil
Neurological Science Institute/ Oregon Health & Science Univ. Portland OR
EUA
Fay B. Horak
Laboratoire d’Automatique, de Méchanique et d’Informatique,
Franck Barbier
Le Mont Houy
França
Industrielles et Humaines / Univ. de Valenciennes
Depto. Fisioterapia / Univ. de Ribeirão Preto
Gil Lúcio Almeida
Ribeirão Preto SP
Brasil
Depto. Fisioterapia / Univ. Federal de São Carlos
Helenice Jane C. Gil Coury
São Carlos SP
Brasil
Dept. Public Health and Primary Health Care / Univ. of Bergen Bergen HD
Jan Magnus Bjordal
Noruega
Depto. Ciências da Saúde / Univ. Nove de Julho
João Carlos Ferrari Corrêa
São Paulo SP
Brasil
Brasil
Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela EEFFTO / Univ. Federal de Minas Gerais
Belo Horizonte MG
Marcelo Bigal
Dept. of Neurology, Albert Einstein College of Medicine
Bronx NY
EUA
Escola de Educação Física / Univ. Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre RS
Marco Aurélio Vaz
Brasil
Marcos Duarte
Escola de Educação Fisica e Esportes / USP
São Paulo SP
Brasil
Instituto do Coração, Faculdade de Medicina/ USP
Maria Ignêz Zanetti Feltrim
São Paulo SP
Brasil
Mariano Rocabado
Facultad de Odontología / Univ. Andres Bello
Santiago RMS
Chile
Fofito / Faculdade de Medicina / USP
Raquel A. Casarotto
São Paulo SP
Brasil
Depto. Fisioterapia / Univ. Federal Rio Grande do Norte
Ricardo Oliveira Guerra
Natal RN
Brasil
Rinaldo R. J. Guirro
RAL / Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto / USP
Ribeirão Preto SP
Brasil
EEFFTO / Univ. Federal de Minas Gerais
Brasil
Sérgio Teixeira da Fonseca
Belo Horizonte MG
Depto. Ciências da Saúde / Univ. Nove de Julho
Simone Dal Corso
São Paulo SP
Brasil
Depto. Fisioterapia / Univ. Federal de São Carlos
Tânia de Fátima Salvini
São Carlos SP
Brasil
Vera Lúcia Israel
Curso Fisioterapia / Univ. Federal do Paraná – Litoral
Matinhos PR
Brasil
98
Fisioter Pesq. 2009;16(2)
SUMÁRIO
CONTENTS
Editorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
Editorial
PESQUISA ORIGINAL
ORIGINAL RESEARCH
Confiabilidade intra e interexaminadores da fotogrametria na classificação do grau
de lipodistrofia ginóide em mulheres assintomáticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
Intra and inter-examiner reliability of photogrammetry in the classification of the degree of gynoid lypodystrophy
in asymptomatic women
Ana Maria da S. Mendonça, Michelle de Pádua, Ana Paula Ribeiro, Giovana Barbosa Milani,
Sílvia M. Amado João
Equilíbrio e retração muscular em jovens estudantes usuárias de calçado de salto alto . . . . . . . . 107
Equilibrium and muscle retraction in young female students users of high-heeled shoes
Dernival Bertoncello, Cristina S. Cardoso de Sá, Anna Helena Calapodópulos, Vanessa Linhares Lemos
Efeito da técnica de oscilação oral de alta freqüência aplicada em diferentes pressões
expiratórias sobre a função autonômica do coração e os parâmetros cardiorrespiratórios . . . . . . 113
Effect of oral high-frequency oscillation technique at different expiratory pressures on heart autonomic
function and cardiorespiratory parameters
Graciane L. Moreira, Ercy M. C. Ramos, Luiz C. M. Vanderlei, Dionei Ramos,
Beatriz M. Manzano, Luciana C. Fosco
Avaliação de fragilidade, funcionalidade e medo de cair em idosos atendidos em um
serviço ambulatorial de Geriatria e Gerontologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
Assessment of frailty, functionality and fear of falling in elderly assisted at an outpatient gerontologic and geriatric clinic
Silvia L. Azevedo da Silva, Renata Alvarenga Vieira, Paula Arantes, Rosângela Corrêa Dias
Avaliação da satisfação dos pacientes atendidos em uma clínica-escola de Fisioterapia
de Santo André, SP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126
Assessment of patient satisfaction with physical therapy at a college health clinic in Santo André, SP
Eneida Yuri Suda, Missae Dora Uemura, Eliane Velasco
Biorretroalimentação para treinamento do equilíbrio em hemiparéticos por acidente
vascular encefálico: estudo preliminar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132
Biofeedback for musculoskeletal equilibrium training in post-stroke hemiparetic patients: a preliminary study
Antonio Vinicius Soares, Ana Cláudia O. L. Hochmüller, Patrícia da Silva, Daniela Fronza,
Simone Suzuki Woellner, Fabrício Noveletto
Efeito da técnica isostretching no equilíbrio postural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137
Effect of of the isostretching technique on postural balance
Paula Araújo Ferreira, Vanessa V. Monte-Raso, Marcelo Silva de Carvalho,
Jane Godoy Rodrigues, Cristiano Costa Martins , Denise Hollanda Iunes
Estudo comparativo da força muscular da mão entre cadetes homens e mulheres da
Força Aérea Brasileira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143
Grip and pinch strength in Brazilian Air Force cadet pilots: a comparative study between men and women
Marcela D. Meibach Teixeira, Daniele Aparecida Gomes, Gláucia Helena Gonçalves,
Suraya G. Novais Shimano, Antonio Carlos Shimano, Marisa de Cássia R. Fonseca
Fisioter Pesq. 2009;16(2)
99
Estimulação elétrica nervosa transcutânea nas modalidades convencional e acupuntura
na dor induzida pelo frio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148
Conventional and acupuncture-like transcutaneous electrical nerve stimulation on cold-induced pain
Hisa Costa Morimoto, Márcia Yumi Yonekura, Richard Eloin Liebano
Avaliação da capacidade funcional e da qualidade de vida em pacientes renais crônicos
submetidos a tratamento hemodialítico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155
Assessment of functional capacity and quality of life in chronic renal patients under hemodialysis treatment
Marina Stela Cunha, Viviane Andrade, Cristina A. Veloso Guedes, Cristiane H. Zorel Meneghetti,
Ana Paula de Aguiar, Andréa Luciana Cardoso
Efeito de um programa de treinamento de facilitação neuromuscular proprioceptiva
sobre a mobilidade torácica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161
Effect of a training program based on proprioceptive neuromuscular facilitation onto thoracic mobility
Marlene Aparecida Moreno, Ester da Silva, Roberta Silva Zuttin, Mauro Gonçalves
Comparação entre inspirometria de incentivo e pressão positiva expiratória na função
pulmonar após cirurgia bariátrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 166
Comparison between incentive spirometry and expiratory positive airway pressure on pulmonary function
after bariatric surgery
Marcela C. Barbalho-Moulim, Gustavo P. Soares Miguel, Eli M. Pazzianotto Forti, Dirceu Costa
Ultra-som terapêutico contínuo térmico em modelo experimental de ciatalgia . . . . . . . . . . . . . . 173
Continuous thermic therapeutic ultrasound in sciatica experimental model
Adriano Polican Ciena, Jaques Jean J. Oliveira, Núbia Broetto Cunha, Gladson Ricardo F. Bertolini
Avaliação do ácido lático em indivíduos com hemiparesia pós-acidente vascular
encefálico após estimulação elétrica para fortalecimento muscular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 178
Lactic acid assessment in post-stroke hemiparetic subjects following electrical stimulation for muscle strengthening
Fernanda Ishida Corrêa, André de Almeida Tessarolo, André de Souza Melo, João Carlos F. Corrêa,
Luciana M. Malosá Sampaio, Maricilia Silva Costa, Cláudia Santos Oliveira
RELATO DE CASOS
CASE REPORT
Declínio funcional de idosa institucionalizada: aplicabilidade do modelo da Classificação
Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183
Functional decline of an institutionalized elderly woman: applicability of the model of the International
Classification of Functioning, Disability and Health
Carolina Depolito, Priscilla L. L. de Faria Leocadio, Renata Cereda Cordeiro
Instruções para os autores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 190
Ficha de assinatura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 192
100
Fisioter Pesq. 2009;16(2)
EDITORIAL
EDITORIAL
O Programa de Apoio às Publicações Científicas Periódicas da USP –
Universidade de São Paulo – foi desenvolvido em 1984-1985 pela
Coordenadoria de Administração Geral e opera desde 1987, gerenciado
por uma Comissão de Credenciamento. O regimento do Programa foi
atualizado em 2006, visando ajustar-se ao contexto de
internacionalização e às exigências de modernização dos veículos de
divulgação científica da USP.
Uma das iniciativas daí decorrentes foi a criação, em 2008, do Portal de
Revistas da USP, sediado no SIBi/USP – Sistema Integrado de Bibliotecas
da USP. O objetivo é reunir, organizar e prover acesso pleno às revistas
publicadas sob a responsabilidade da Universidade, ampliando a
visibilidade desses periódicos. O Portal dispõe de 52 títulos, das áreas
das ciências biológicas (23), humanas (16) e exatas (3), além dos
periódicos de museus (3) e de centros e institutos especializados (7). O
Programa de Apoio às Publicações Científicas Periódicas da USP
estabeleceu parceria com a Bireme – Centro Latino-Americano e do
Caribe de Informação em Ciências da Saúde – e adotou o modelo SciELO
de publicação eletrônica. Com isso, os interessados têm fácil acesso ao
conteúdo completo das publicações, além de poder consultar indicadores
da produção científica, como índices de citação e relatórios de co-autoria.
Fisioterapia e Pesquisa é uma das publicações da área de biológicas já
credenciada e disponível no Portal (http://www.revistasusp.sibi.usp.br/
scielo.php).
Lembrando que Fisioterapia e Pesquisa é o órgão oficial da Associação
Brasileira de Fisioterapia e constitui um importante meio de divulgação
da associação, esta também passa a ter sua visibilidade sensivelmente
ampliada pelo Portal de Revistas. Louvamos a iniciativa da USP, em
especial a Comissão de Credenciamento, pelo empenho em tornar
visíveis os periódicos da Universidade, divulgando o conhecimento aí
produzido.
Amélia Pasqual Marques
Débora Bevilaqua Grossi
Editoras-chefes
Fisioter Pesq.
Fisioter
2009;16(2)
Pesq. 2009;16(2)
101
Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.16, n.2, p.102-6, abr./jun. 2009
ISSN 1809-2950
Confiabilidade intra e interexaminadores da fotogrametria na classificação
do grau de lipodistrofia ginóide em mulheres assintomáticas
Intra and inter-examiner reliability of photogrammetry in the classification
of the degree of gynoid lypodystrophy in asymptomatic women
Ana Maria da Silva Mendonça1, Michelle de Pádua1, Ana Paula Ribeiro2,
Giovana Barbosa Milani3, Sílvia Maria Amado João4
Estudo desenvolvido no
Laboratório de Avaliação
Musculoesquelética do Fofito/
FMUSP – Depto. de
Fisioterapia, Fonoaudiologia e
Terapia Ocupacional da
Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo,
São Paulo, SP, Brasil
1
Fisioterapeutas do Laboratório
de Avaliação
Musculoesquelética do Fofito/
FMUSP
2
Mestranda em Ciências da
Reabilitação junto ao
Laboratório de Avaliação
Musculoesquelética no Fofito/
FMUSP
3
Fisioterapeuta Ms.
4
Profa. Dra. do Fofito/FMUSP
coordenadora do Laboratório
de Avaliação
Musculoesquelética
ENDEREÇO PARA
CORRESPONDÊNCIA
Profa. Dra. Sílvia M. Amado João
Centro de Docência e Pesquisa
do Fofito
R. Cipotânea 51 Cidade
Universitária
05360-160 Sao Paulo SP
e-mail: [email protected]
APRESENTAÇÃO
nov. 2008
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO
jan. 2009
2009;16(2)
102 Fisioter Pesq. 2009;16(2):102-6
RESUMO: A lipodistrofia ginóide (celulite) é uma afecção dermatológica comum entre
as mulheres. Uma de suas formas de avaliação é a inspeção visual por meio da
fotogrametria. Entretanto, não foram encontrados estudos que verifiquem a
repetibilidade e reprodutibilidade dessa avaliação. O objetivo deste estudo foi
verificar a confiabilidade intra e interexaminadores da avaliação da celulite por
meio da fotogrametria. Foram fotografadas e avaliadas as regiões glúteas de 50
mulheres (26,14±4,45 anos). A reprodutibilidade foi testada pela avaliação da
mesma fotografia por dois examinadores em duas ocasiões diferentes, com intervalo
de um ano; a repetibilidade por um mesmo examinador, com intervalo de uma
semana. Os dados foram analisados estatisticamente e utilizado o índice Kappa
ponderado. Os resultados indicaram substancial correlação (κ=0,70) entre os
avaliadores para o grau de celulite no glúteo superior e moderada correlação
(κ=0,50) para o grau de celulite no glúteo inferior. Nas análises de repetibilidade,
os dados demonstraram excelente correlação (κ=0,81) para o grau de celulite no
glúteo superior e substancial correlação (κ=0,75) para os graus no glúteo inferior.
O método proposto para qualificação dos diferentes graus de celulite pela
fotogrametria apresentou confiabilidade aceitável intra e interexaminadores para
a maioria das regiões avaliadas, com exceção da região do glúteo inferior.
DESCRITORES: Lipodistrofia/classificação; Fotogrametria; Reprodutibilidade dos testes
ABSTRACT: Gynoid lypodystrophy (cellulitis) is a common condition among women.
One of its forms of evaluation is the visual inspection by photogrammetry. However,
no studies could be found in literature on the repeatability and reproducibility of
such evaluation. The purpose of this study was to assess reliability intra and interexaminer of cellulitis evaluation by photogrammetry. The gluteal regions of 50
women (mean age 26.14±4.45 years) were photographed and evaluated.
Reproducibility was tested by evaluation of the same photograph by two examiners
on two one-year interval occasions; repeatability was assessed by a single examiner
on two occasions one week apart. The Kappa index was applied. Results showed
substantial correlation (κ=0.70) between examiners for cellulite degrees in upper
buttock, and moderate correlation (κ=0.50) for cellulite degrees in lower buttock.
As to repeatability, analyses showed excellent correlation (κ=0.81) for cellulitis
degree in upper buttock and substantial correlation (κ=0.75) in lower buttock. The
method proposed for classification of different gynoid lypodystrophy degrees by
photogrammetry hence showed acceptable reliability intra and inter-examiner for
the majority of evaluated regions, with the exception of the lower buttock.
KEY WORDS: Lipodystrophy/classification; Photogrammetry, Reproducibility of
results
Mendonça et al.
Fotogrametria na classificação da celulite
INTRODUÇÃO
A lipodistrofia ginóide (celulite) é uma
condição comum entre as mulheres após
a puberdade1-3. De acordo com inúmeros autores3-7, cerca de 85% das mulheres serão acometidas por essa afecção
dermatológica. No entanto, apesar de
sua grande incidência e dos inúmeros
tratamentos oferecidos (cirúrgicos, farmacológicos, fitoterápicos, massoterapêuticos etc.), sua histopatologia ainda permanece desconhecida, principalmente
pela ausência de consenso quanto à
etiologia multifatorial1,2,4,7.
Segundo sugerem Terranova et al.2, há
três teorias que buscam explicar a
etiopatogenia da celulite. A primeira a
descreve como sendo um edema crônico
no tecido conjuntivo, que resultaria em
fibrose desse tecido. A segunda sugere que
a celulite é resultado de uma alteração
microcirculatória que se caracteriza por
compressão do sistema venoso e linfático.
A última baseia-se no posicionamento
perpendicular dos septos interlobulares
do tecido subcutâneo, visto que
Querleux et al.8 observaram, por meio
de ressonância magnética, que mulheres com celulite apresentam um pequeno aumento na direção perpendicular
desses septos quando comparadas àquelas sem celulite.
Os critérios de classificação variam
de acordo com alterações histopatológicas, aspecto macroscópico da pele e
sua forma clínica. Todos os critérios são
divididos em níveis, de acordo com o
grau de comprometimento das variáveis
analisadas9,10.
Dentre os fatores que influenciam o
surgimento da celulite podem-se citar:
o uso de contraceptivos hormonais5,
estresse5,9, estilo de vida sedentário5,9,
obesidade4,5, hereditariedade4,9, idade4,
sexo4,9,11, disfunções hormonais9,11, tabagismo9, gravidez9, ingestão excessiva de
cafeína e bebidas alcoólicas9, nutrição
inadequada9,11, mudanças circulatórias9,11
e fatores mecânicos11.
Vários métodos para avaliar a celulite têm sido estudados e descritos na literatura: termografia3,7, ultra-som10,12,13,
ressonância magnética8-10, tomografia
computadorizada 9, laser doppler 9,10,
biópsia4,9, xerografia9, bioimpedância4,9
e plicometria10. No entanto, não é freqüente o emprego desses métodos na prática
clínica, pois os equipamentos são caros
e não estão disponíveis na realidade da
maioria dos profissionais que atuam na
área da fisioterapia dermatofuncional10.
Para Rao et al.4, dentre os diversos
métodos utilizados para examinar a celulite, os dados antropométricos e a observação direta ou indireta, utilizando o
registro fotográfico, são os recursos mais
comumente utilizados, pois são passíveis
de reprodução, apresentam exatidão relativa e são de baixo custo. O uso do
registro fotográfico tem sido muito preconizado para documentação e comparação de resultados de cirurgias plásticas,
cirurgias de reparação, avaliações
posturais, entre outros14-18. Esse recurso
pode ser valioso, visto que permite obter
medidas da forma e das dimensões do
corpo ou de partes dele, além de ser apto
a registrar mudanças sutis e interrelacioná-las entre diferentes partes do
corpo15-17.
De acordo com a American Society for
Photogrammetry and Remote Sensing19,
a fotogrametria é a arte, ciência e tecnologia de obtenção de informação confiável sobre objetos físicos e o meio ambiente, por meio de processos de gravação,
medição e interpretação de imagens fotográficas, padrões de energia eletromagnética radiante e outras fontes.
No entanto, a aplicação da técnica
para o acompanhamento de mudanças
temporais e investigação científica não
é tão simples como aparenta, uma vez
que requer vários cuidados metodológicos para padronizar as fotos e evitar
efeitos indesejáveis17. Diante disso, diversos estudos14-16,20 funcionam como
guias de recomendações para o registro
de fotos padronizadas e de qualidade.
Gerardini et al.14 ainda atentam para a
dificuldade de se obterem fotografias da
arquitetura e da tonicidade da pele; assim, autores9,14 utilizam recursos para
facilitar a visualização desses registros,
como o da contração glútea, no caso da
celulite.
Apesar dos cuidados metodológicos
para utilização das fotografias, esse recurso ainda precisa ser melhor fundamentado na área da fisioterapía dermatofuncional, visto que foram encontrados
trabalhos que testaram a reprodutibilidade e repetibilidade do método17,18,21,
porém não para avaliar a celulite. Assim, considerando a importância da fotografia como método de avaliação e
comparação para diversos profissionais
da área da saúde, este estudo teve por
objetivos: a) propor um método de classificação da celulite a partir da inspeção visual dos registros fotográficos; b)
verificar a confiabilidade intra e interexaminadores da fotogrametria na classificação da celulite.
METODOLOGIA
A amostra foi constituída por 50 mulheres com idade entre 20 e 35 anos
(26,14±4,45 anos) e índice de massa
corpórea (IMC) médio de 20,79±1,92 kg/
m2. Os critérios de inclusão foram sexo
e idade (20 a 35 anos). Os critérios de
exclusão foram sintomas de doenças
neuromusculares, musculoesqueléticas
ou cardiorrespiratórias, bem como
sedentarismo 22, gravidez atual ou prévia, IMC maior ou igual a 24,9 kg/m2 e
dor na coluna lombar e membros inferiores nos últimos três meses. Para a realização do estudo os sujeitos assinaram o
termo de consentimento livre e esclarecido previamente aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital Universitário da
Universidade de São Paulo.
Todas as voluntárias responderam a um
questionário inicial, no qual constavam
dados pessoais (nome, idade, telefones
para contato, sexo e profissão) e perguntas a respeito dos critérios de exclusão já
mencionados. Realizou-se a medida de
massa corporal e estatura das voluntárias.
Os registros fotográficos foram tomados por um único examinador previamente treinado, em ambiente bem iluminado,
com fundo não reflexivo, aquecido e reservado, preservando a privacidade dos
sujeitos15,16.
As voluntárias foram fotografadas na
posição ortostática sobre uma base de
madeira, no plano frontal posterior, com
braços ao longo do corpo, por uma câmara digital (Sony Cybershot, 7,2
megapixels) com resolução de 1600 x
1200 pixels. A máquina fotográfica estava posicionada paralela ao chão, a uma
distância de 1 m da base de madeira,
Fisioter Pesq. 2009;16(2)
2009;16(2):102-6
103
sobre um tripé nivelado com a objetiva
na altura do sacro.
Os registros fotográficos foram feitos
com e sem contração glútea (Figura 1),
de modo a delimitar e visualizar a predominância da celulite9,14. A celulite foi
classificada segundo Rao et al.4 e Rossi
& Verganini9 em quatro graus, de acordo
com o comprometimento da forma clínica (Quadro 1).
A
B
Figura 1 Glúteos com e sem contração
Quadro 1 Classificação da celulite
Grau I
Assintomático ou latente. Sem alterações clínicas, somente
histopatológicas
Grau II Alterações somente visíveis à palpação ou contração muscular. Com
comprometimento circulatório, diminuição da temperatura e
elasticidade da pele. Não há alteração de sensibilidade à dor
Grau III Visível mesmo sem compressão dos tecidos, sujeita a ficar mais
aparente com compressão dos mesmos. Aspecto macroscópico de
casca de laranja, observado com inspeção simples. Presença de
nódulos à palpação. Pode haver alteração de sensibilidade
Grau IV Comprometimento pode ser observado quando o indivíduo estiver em
qualquer posição. Há nódulos maiores e dolorosos, aderidos aos planos
profundos. Pele com aspecto de casca de nozes, enrugada e flácida. Há
fibrose com fator predominante, há sensibilidade aumentada à dor,
podendo ter comprometimento nervoso
GSE
GSD
GIE
GID
Figura 2 Delimitações da região glútea. G = glúteo; S = superior; I = inferior; D =
direito; E = esquerdo
2009;16(2)
104 Fisioter Pesq. 2009;16(2):102-6
Para avaliar a reprodutibilidade, as
fotografias foram analisadas separadamente por dois examinadores, com intervalo de um ano entre as observações.
A análise de repetibilidade foi efetuada
com base em duas avaliações de um
mesmo examinador intervaladas por no
mínimo uma semana. O software
CorelDraw v.11.0 foi utilizado para auxiliar as avaliações18: para facilitar a
visualização e entendimento, a área avaliada foi delimitada com linhas passando
pelas espinhas ilíacas póstero-superiores
(EIPS), inferiormente pela prega glútea inferior, lateralmente pelo trocânter maior
e medialmente pelo sulco interglúteo.
Foi estabelecida uma linha média entre
a EIPS e a prega glútea inferior, dividindo
a região glútea em superior direita (GSD)
e esquerda (GSE) e inferior direita (GID)
e esquerda (GIE) (Figura 2).
A estatística descritiva foi utilizada
para caracterizar a população estudada,
uma vez verificada a característica qualitativa ordinal das variáveis em questão. Foi utilizado o índice Kappa ponderado para análise da confiabilidade
intra e interexaminadores. De acordo
com a classificação de Landis & Koch23,
os valores do coeficiente Kappa foram
interpretados como: concordância pobre
(κ<0), ligeira concordância (κ=0–0,20),
concordância fraca (κ=0,21–0,40), concordância moderada (κ=0,41–0,60), concordância substancial (κ=0,60–0,80) e
concordância excelente (κ>0,80).
RESULTADOS
Conforme a Tabela 1, a análise de
repetibilidade (intraexaminador) revelou
índices de concordância entre as mensurações realizadas para avaliar o grau
de lipodistrofia ginóide excelente em
glúteo superior (κ=0,81) e substancial
em glúteo inferior (κ=0,75).
Mendonça et al.
Tabela 1
Variável
FEG GS
FEG GI
Fotogrametria na classificação da celulite
Dados descritivos e valores do índice de confiabilidade das análises
intraexaminador (repetibilidade) do grau de lipodistrofia ginóide
Mediana
2
2
Erro padrão
0,07
0,08
Kappa ponderado
0,81
0,75
Classificação
Excelente
Substancial
FEG = lipodistrofia ginóide; GS = glúteo superior; GI = glúteo inferior
Tabela 2 Dados descritivos e valores do índice de confiabilidade das análises interexaminador (reprodutibilidade) do grau de lipodistrofia ginóide (LG).
Variável
Mediana
Erro padrão
Kappa ponderado
Classificação
FEG GS
3
0,09
0,70
Substancial
FEG GI
2
0,08
0,50
Moderada
FEG = lipodistrofia ginóide; GS = glúteo superior; GI = glúteo inferior
Na análise de reprodutibilidade (Tabela 2), o grau de concordância das medidas entre os avaliadores apresentou um
substancial coeficiente (κ=0,70) para o
grau de lipodistrofia ginóide em glúteo
superior. No entanto, observa-se uma
moderada concordância (κ=0,50) em
glúteo inferior.
DISCUSSÃO
Os resultados do presente estudo mostram que o método proposto para avaliação qualitativa da celulite pela fotogrametria é satisfatoriamente confiável para
a maioria das regiões analisadas, quando avaliadas por um mesmo examinador
em ocasiões diferentes e por examinadores diferentes em um mesmo registro fotográfico. A exceção se fez para o glúteo
inferior, onde se encontrou moderada
confiabilidade interexaminadores.
Apesar de a fotografia digital ser um
método amplamente utilizado na clínica
médica e fisioterapêutica4,17,18,21, poucos
estudos21 realizaram testes de confiabilidade do método para exploração dermatológica. Acredita-se que os resultados
moderados aqui encontrados, referentes
ao glúteo inferior, possivelmente se devam
à dificuldade de classificação da lipodistrofia ginóide nessa região, visto que o
glúteo inferior geralmente apresenta
mais de um grau dessa afecção, o que
pode conduzir a interpretações errôneas do examinador. Outro fator que pode
ter influenciado os dados são as distorções, visto que o glúteo inferior é uma
região com superfície irregular e que,
portanto, tem regiões mais ou menos
profundas. A distorção é um efeito indesejável comum, que compromete a
qualidade fotográfica e implica alterações na imagem15,16, podendo causar
impressões enganosas de possíveis
assimetrias na arquitetura da pele do
indivíduo, acarretando diferenças nos
resultados – que podem ser expressas
por essas moderadas correlações.
Por outro lado, o nível de concordância das avaliações do grau da lipodistrofia ginóide, tanto do glúteo superior
quanto no glúteo inferior, quando a avaliação é feita pelo mesmo examinador,
foi considerado satisfatório. O método
também se mostrou confiável em relação à reprodutibilidade para a avaliação
do grau de lipodistrofia ginóide no
glúteo superior.
Estes achados estão de acordo com o
estudo realizado por Fardet et al.21, que
encontraram concordância intra e interexaminadores próxima do perfeito quando
o diagnóstico da lipodistrofia induzida por
corticóide foi determinado por meio de
três fotografias digitais. Scheinfiled et al.24
também compararam a concordância
entre os diagnósticos de lesões cutâneas
por meio do método observacional indireto (fotografia digital) e direto (visual)
com o diagnóstico definitivo obtido por
meio de análise histopatológica. Os resultados obtidos sugerem que o diagnóstico feito mediante imagem digital é
igualmente seguro e confiável, pois apresentou alto percentual de concordância,
tanto com o diagnóstico observacional
direto quanto com o histopatológico.
Hochman et al.25, em seu trabalho
sobre fotogrametria computadorizada do
nariz, também concluíram que “a padronização fotográfica proposta para análise fotogramétrica do nariz com o auxílio
de computador a partir de fotografias
comuns mostrou-se prática e eficaz para
avaliar de forma objetiva imagens pré e
pós-operatórias”. De forma semelhante,
Kvedar et al.26 concluem que a imagem
digital pode substituir o exame físico em
até 83% dos casos, visto que encontraram em seu estudo um grau de concordância diagnóstica dermatológica entre
diferentes examinadores de 75%, mesmo quando as fotografias eram tiradas
em ambientes diferentes.
Há ainda o estudo de Perednia et al.27,
segundo o qual essa boa correlação ainda prevalece mesmo em imagens digitais de baixa resolução, já que, comparando os diagnósticos baseados em imagem digital com resolução de 92 dpi
com aquelas de 4000 dpi apresentadas
na forma de eslaides, os diagnósticos
foram exatamente os mesmos.
Contudo, apesar dos resultados positivos, o estudo apresenta algumas limitações. Dada a complexidade da condição da celulite9, e considerando que os
registros fotográficos estão sujeitos a
distorções, a erros inerentes ao procedimento experimental e à interpretação do
examinador15,17, torna-se necessária a associação de outros métodos de avaliação,
para confirmação diagnóstica da celulite.
É importante ressaltar a importância
do correto seguimento das orientações
metodológicas, a fim de garantir registros fotográficos de qualidade, confiáveis
e passíveis de reprodução, além de estudos adicionais que busquem novas
formas de avaliação viáveis na prática
clínica, bem como estudos que validem
e verifiquem a confiabilidade dos métodos já existentes. Este é um dos poucos
estudos na área dermatofuncional que
busca estabelecer métodos fidedignos e
confiáveis para avaliação de uma afecção
dermatológica, contribuindo assim para
o desenvolvimento da fisioterapia baseada em evidências.
CONCLUSÃO
O método proposto para qualificação
dos diferentes graus de lipodistrofia
ginóide por fotogrametria apresentou
confiabilidade aceitável intra e interexaminadores para a maioria das regiões
avaliadas, com exceção da região do glúteo
inferior, onde é necessário analisar os
graus de lipodistrofia ginóide por associação de diferentes métodos de avaliação.
Fisioter Pesq. 2009;16(2)
2009;16(2):102-6
105
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Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.16, n.2, p.107-12, abr./jun. 2009
ISSN 1809-2950
Equilíbrio e retração muscular em jovens estudantes usuárias
de calçado de salto alto
Equilibrium and muscle retraction in young female students users
of high-heeled shoes
Dernival Bertoncello1, Cristina dos Santos Cardoso de Sá2, Anna Helena Calapodópulos3, Vanessa Linhares Lemos3
Estudo desenvolvido no Curso
de Fisioterapia da Uniube –
Universidade de Uberaba,
Uberaba, MG, Brasil
1
Prof. Dr. adjunto do Curso de
Fisioterapia da Universidade
Federal do Triângulo Mineiro,
Unidade Urbano Salomão,
Uberaba, MG
2
Profa. Dra. adjunta do Curso
de Fisioterapia da
Universidade Federal de São
Paulo, Santos, SP
3
Fisioterapeutas
ENDEREÇO PARA
CORRESPONDÊNCIA
Prof. Dr. Dernival Bertoncello
Av. Getúlio Guarita 159
Abadia
38025-440 Uberaba MG
e-mail:
[email protected]
O estudo recebeu apoio do
Pape – Programa de Apoio à
Pesquisa da Uniube.
APRESENTAÇÃO
set. 2008
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO
maio 2009
RESUMO: Verifica-se precocidade na utilização de calçado de salto alto, mas não há
muitos estudos identificando suas conseqüências. O objetivo deste trabalho foi
verificar alterações de equilíbrio e eventual retração muscular em estudantes
universitárias habituadas a utilizar salto alto diariamente. Foram avaliadas 30 jovens
(média de 20 anos de idade) que anotaram, durante duas semanas, o tempo diário
em que permaneciam com o calçado. Foram avaliadas quanto a desvios posturais,
quanto às retrações musculares da cadeia posterior, pelo teste de alcance horizontal,
e quanto ao equilíbrio, pelo teste de Romberg. Os resultados foram analisados
estatisticamente. A média de estatura foi 1,63 m e a de massa corporal, 58,5 kg. O
tempo médio de uso dos sapatos de salto alto foi de 34 h por semana. Ao relacionar
o alcance horizontal com o tempo semanal de uso do salto alto, verificou-se forte
correlação negativa (r=-0,8692; p<0,0001). Não houve correlação entre o alcance
horizontal e o tempo de uso de salto alto em anos. O teste de 17 das 30 voluntárias
foi positivo para perda de equilíbrio quando descalças, de olhos fechados. A
correlação foi negativa com o tempo de uso semanal de salto alto (r=-0,4178;
p=0,0216). Foi encontrada correlação positiva moderada entre o alcance horizontal
e o tempo de equilíbrio (r=0,6078; p<0,0004). Conclui-se que o uso de calçado de
salto alto por mais de 4 horas diárias pode promover alterações de equilíbrio em
mulheres jovens, além de retração muscular.
DESCRITORES: Equilíbrio musculoesquelético; Postura; Sapatos
ABSTRACT: Precocity has been noticed in the use of high-heeled shoes. However,
there are not many studies on its consequences. The aim of this work was to search
for equilibrium alterations in young women used to daily wearing high-heeled
shoes. Thirty female undergraduates (mean aged 20 years old) were asked to write
down, for two weeks, the number of hours per day they remained with the shoes
on. They were then assessed as to posture deviations, as to muscle retractions of
the posterior chain by means of the sit and reach test, and as to equilibrium by the
Romberg test. Results were statistically analysed. Mean volunteers’ height was 1.63
m and mean body mass, 58.5 kg. A negative, strong correlation (r=-0.8692;
p<0.0001) was noticed between reach range and weekly time (in hours) of highheeled shoe wearing. No correlation was found between reach range and time of
high-heel use in years. Seventeen out of the 30 volunteers presented positive test
for loss of equilibrium when barefoot with closed eyes. A weak, negative correlation
(r=-0.4178; p=0.0216) was found between loss of equilibrium and weekly time of
high-heel use. A positive moderate correlation was found between reach range
and time of equilibrium (r=0.6078; p<0.0004). The use of high-heeled shoes for
more than four hours per day can hence be said to cause equilibrium changes and
muscle retraction in young women.
KEY WORDS: Musculoskeletal equilibrium; Posture; Shoes
Fisioter Pesq. 2009;16(2)
2009;16(2):107-12
107
INTRODUÇÃO
No corpo humano, uma série de
ações desempenhadas pelo sistema fisiológico permite o movimento e a manutenção da bipedestação. Particularmente, os
sistemas nervoso, muscular e esquelético
assumem padrões peculiares em cada
indivíduo, conforme a demanda imposta. A adaptação desses sistemas frente
aos estímulos externos ao corpo é possível graças à propriedade de plasticidade dos tecidos 1,2.
O aparelho vestibular é o órgão que
detecta as sensações de equilíbrio e responde a diversos estímulos, como visuais,
sonoros, táteis e de posição corporal.
Quando se altera o posicionamento corporal, o estiramento muscular excita os
fusos musculares e, por via reflexa, os músculos entram em tensão, estimulando receptores proprioceptivos. Esses receptores,
também chamados corpúsculos sensíveis
à pressão, constituem provavelmente as
principais fontes de informações no que
concerne à posição e ao deslocamento
dos diversos segmentos corpóreos. Por
interconexões neurais, transmitem ao
aparelho vestibular as informações necessárias para que haja resposta quanto
a aumento ou diminuição de tônus muscular para manter o equilíbrio3,4.
Todos os mecanismos fisiológicos se
modificam a fim de permitir a adaptação corporal conforme as condições
impostas pelo meio, seja em relação a
fatores ambientais ou a utensílios de vestimenta que acompanham o corpo, para
corrigir deficiência física ou servir como
complemento estético.
Um exemplo é o calçado com salto
alto. À parte a utilização de salto alto para
corrigir deficiência física, na maioria das
vezes seu uso objetiva a correção da estatura da pessoa com intuito estético. No
entanto, para manter-se sobre uma altura acima do nível do chão, são necessários ajustes corporais para evitar a queda do indivíduo. Assim, o equilíbrio deve
ser redefinido e, para tanto, os sistemas
muscular e esquelético sofrem alterações
no que tange ao tônus muscular. Isso
pode se refletir em desvios ou deslocamentos de estruturas ósseas e ligamentares, que determinam as compensações
que levam às alterações da postura do
indivíduo5,6.
2009;16(2)
108 Fisioter Pesq. 2009;16(2):107-12
Nota-se, na sociedade atual, grande
número de mulheres que utilizam salto
alto diariamente. Verifica-se também
uma precocidade na utilização desse
tipo de calçado, ou seja, cada vez mais,
jovens fazem uso de sandálias ou sapatos com saltos elevados. Na literatura é
descrito que a utilização constante pode
levar a alterações posturais como, por
exemplo, hálux valgo, pé cavo, hiperlordose lombar, hiperextensão de joelhos e
retração dos músculos da cadeia posterior
(tríceps sural, isquiotibiais e paravertebrais)7,8. No entanto, não há muitos estudos identificando os principais problemas
que tal uso pode acarretar no que se refere à alteração do equilíbrio e modificação do tônus muscular, embora o teste de Romberg seja empregado por diferentes autores a fim de avaliar o equilíbrio em populações com disfunção
motora ou em condições diferenciadas9-11.
O objetivo deste trabalho foi verificar eventuais alterações do equilíbrio e
presença de retração muscular em estudantes universitárias habituadas a utilizar constantemente salto alto como parte
de seu vestuário.
METODOLOGIA
Foram avaliadas 30 voluntárias, com
idade entre 18 e 22 anos, que utilizam
calçado com salto alto diariamente, com
altura do salto maior do que 8 centímetros – sendo este um requisito imprescindível para a determinação da amostra. As
voluntárias eram estudantes do 3o ao 5o
período do curso de Fisioterapia. Este trabalho recebeu aprovação do Comitê de
Ética em Pesquisa da Uniube – Universidade de Uberaba. Todas as voluntárias
assinaram um termo de consentimento
livre e esclarecido, contendo um explicativo da pesquisa e a condição de livre
arbítrio quanto à participação no estudo. Como critérios de exclusão, foram
considerados: usar calçado de salto alto
há menos de dois anos; apresentar qualquer alteração dos sistemas vestibular e/
ou cerebelar; exercer trabalho remunerado que exigisse uso de traje padrão (para
evitar especificidade da amostra); usar medicamento controlado.
Análise do perfil de uso de calçado com
salto alto: cada voluntária preencheu, de
próprio punho, um questionário sobre
suas atividades de vida diária referentes
ao uso de sapato de salto alto, contendo
itens que contemplavam, entre outros, o
tempo aproximado de uso diário, bem
como o tempo pregresso (em anos) de
uso. Cada voluntária foi orientada a anotar, durante duas semanas, o tempo diário em que permaneceu com o calçado.
A média de horas semanais foi calculada da somatória das duas semanas.
Avaliação física: as voluntárias foram
avaliadas pelo exame físico simplificado no que se refere aos desvios posturais.
Foram ainda avaliadas quanto à retração
muscular da cadeia posterior pelo teste
de alcance horizontal, verificado pelo
posicionamento no banco de Wells12,
seguindo padrões de análise para os
músculos semitendinoso, semimembranoso, bíceps femoral, gastrocnêmio,
sóleo e paravertebrais13. O ponto zero
foi demarcado na ponta dos dedos do
pé, mantendo os tornozelos em posição
neutra e sentada sobre as tuberosidades
isquiáticas. Assim, a distância (em cm)
para alcançar o ponto inicial foi considerada negativa; a distância a partir desse
ponto foi considerada positiva. A voluntária foi instruída a flexionar o tronco e
estender os braços aproximando as mãos
dos pés e, após o comando “já”, efetuava o alcance. O escore zero indica que
a pessoa alcança com a ponta dos dedos
da mão os do pé, ou seja, flexibilidade
regular; alcance horizontal negativo indica pouca flexibilidade. Para evitar vieses
decorrentes da análise qualitativa, em cada
parâmetro as voluntárias foram analisadas
por um mesmo avaliador.
Avaliação de equilíbrio: para avaliação
de equilíbrio das voluntárias, foi utilizado
o teste de Romberg9,10,14 adaptado. Este é
um teste comumente utilizado para avaliação do equilíbrio em pessoas com disfunções nos sistemas vestibular ou cerebelar;
assim, precisou ser adaptado, pois não
foi encontrado na literatura um teste para
tal finalidade em indivíduos sem qualquer alteração ou disfunção motora.
Solicitou-se a cada voluntária que permanecesse com os pés juntos, descalços,
com olhos abertos por aproximadamente 30 segundos e, depois, com olhos fechados durante também 30 segundos.
Cronometrou-se o tempo de permanência
na posição em pé sem perda de equilíbrio
e considerou-se positivo o teste quando
Bertoncello et al.
Equilíbrio em usuárias de salto alto
Análise dos resultados: foram analisados de forma a correlacioná-los quanto à flexibilidade, equilíbrio e tempo de
uso de sapato de salto alto. Foi utilizado
o teste de correlação linear de Pearson
para avaliar o nível de correlação entre
as variáveis. Correlações foram consideradas fortes se r>0,70 e fraca se r<0,70;
na faixa intermediária, foi considerada
moderada.
RESULTADOS
A média de estatura e massa corporal
das voluntárias avaliadas foi de 1,63 m
e 58,5 kg, respectivamente. Os valores
médios referentes às variáveis analisadas
com base nas respostas ao questionário
e nas avaliações física e do equilíbrio são
apresentados na Tabela 1. Ressalta-se
que o valor negativo do alcance horizontal é devido à distância das mãos ao
antepé, na posição sentada, ou seja, sem
conseguir alcançar os pés.
Em relação à avaliação postural, 24
voluntárias (80%) apresentam cristas
ilíacas esquerdas mais elevadas do que
no lado direito; 17 (56,7%) têm joelhos
valgos e 3 (10%), joelhos varos; 25
(83,4%) apresentam anteversão pélvica.
Quando se procurou relacionar o alcance horizontal com o tempo semanal
(em horas) de uso de calçado com salto
alto, verificou-se correlação negativa, ou
seja, quanto maior o tempo de uso do
calçado, menor o alcance horizontal
Tabela 1
60
Uso de salto alto (h/semana)
50
40
30
20
10
0
-20
-15
-10
-5
Alcance horizontal (cm)
0
5
10
Gráfico 1 Correlação entre alcance horizontal (cm, banco de Wells) e tempo
semanal (h) de uso de salto alto (r=-0,8692; p<0,0001)
(Gráfico 1). Não houve correlação com
o tempo de uso de salto alto em anos; e
todas as voluntárias indicaram mais de
quatro anos utilizando o calçado.
De todas as voluntárias participantes,
17 apresentaram teste positivo para perda de equilíbrio com olhos fechados, ou
seja, mantiveram a postura em pé sem
oscilações por apenas 10 segundos ou
menos. A correlação foi negativa com o
tempo de uso semanal de salto alto
(quanto maior o tempo de uso, menor o
tempo de equilíbrio em pé – Gráfico 2).
A correlação foi positiva entre os
parâmetros alcance horizontal e tempo
de equilíbrio, ou seja, aquelas que tinham
60
50
Uso de salto alto (h/semana)
a voluntária não conseguia passar mais
de 10 segundos de olhos fechados sem
oscilações corporais, analisadas pelas
variações verificadas frente a um simetrógrafo. Foi registrado o tempo que cada
uma demorou para ter a primeira oscilação, aqui considerado tempo de equilíbrio, ou seja, em que cada voluntária
permaneceu sem oscilação corporal. A
avaliação do tempo foi um determinante
neste estudo, considerado um parâmetro
além do que é prescrito pelo teste de
Romberg.
40
30
20
10
0
0
5
10
15
Tempo de equilíbrio (s)
20
25
30
Gráfico 2 Correlação entre tempo de equilíbrio em pé (s) e tempo semanal (h) de
uso de salto alto (r=-0,4178; p=0,0216)
Alcance horizontal, tempo semanal de uso de salto alto e tempo de
equilíbrio das voluntárias (média ± dp) (n=30)
Alcance horizontal (cm) Uso semanal de salto alto (h) Tempo de equilíbrio (s)
-2,23r6,81
34,3r7,5
12,1r6,4
Tempo de equilíbrio = tempo de permanência em pé de olhos fechados sem oscilação corporal
maior alcance também apresentavam
melhor tempo de equilíbrio (Gráfico 3).
Não foram encontradas correlações
entre os parâmetros acima descritos e o
tempo em anos de uso do calçado.
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109
de tecidos moles e rígidos a fim de manter o equilíbrio da usuária e, portanto,
mais retrações e menor alcance horizontal, conforme os resultados aqui encontrados.
30
Tempo de equilíbrio (s)
25
20
15
10
5
0
-20
-15
-10
-5
Alcance horizontal (cm)
0
5
10
Gráfico 3 Correlação entre alcance horizontal (cm) e tempo de equilíbrio (s) em pé
(r=0,6078; p<0,0004)
DISCUSSÃO
Este estudo avaliou jovens que fazem
uso contínuo de calçado com salto alto,
sendo este parte de sua vestimenta diária.
Cada voluntária ficou responsável por
sua análise diária de uso, inclusive marcando os intervalos em que permanecia
com outro tipo de calçado mais baixo.
Se considerado o tempo médio semanal
de uso de 34 horas, a média por dia é
de 4 horas e 51 minutos.
No que se refere ao equilíbrio, alguns estudos utilizaram outros testes para avaliação
de perda de equilíbrio dos indivíduos15,16.
Aqui, optou-se pelo teste de Romberg
devido à sua facilidade de aplicação clínica e também pelo caráter qualitativo
que apresenta. A adaptação para a forma quantitativa permitiu correlacionar
o parâmetro equilíbrio com o tempo de
uso de salto alto.
Quando não se permite que sinais
oculares direcionem a postura, o sistema vestibular se encarrega de comandar a distribuição do peso corporal, o
que pode ser modificado pela alteração
do centro de gravidade corporal. Na
ausência de informação visual, pode
ocorrer aumento da oscilação do corpo,
embora alguns autores afirmem que essas informações não são imprescindíveis
para a manutenção da postura corporal17,18. Pode-se inferir que, de fato, a
manutenção da postura corporal sem
oscilações não é totalmente prejudicada quando a pessoa se encontra com
110
Fisioter Pesq. 2009;16(2):107-12
2009;16(2)
olhos fechados. Os resultados indicaram
que pouco mais de 50% das voluntárias
apresentaram resultado positivo no teste de Romberg, ou seja, não conseguiram ficar em pé sem oscilação corporal
por mais de dez segundos. No entanto,
a correlação negativa entre tempo de
equilíbrio e tempo de uso semanal do
calçado indica que pode haver readaptações corporais e, possivelmente, perda
do equilíbrio por outros fatores que não
a informação visual.
Na postura ereta ocorre controle do
equilíbrio para a manutenção do corpo
no espaço. Se considerada a postura sem
qualquer interferência de desequilíbrio
muscular, o centro de gravidade corporal mantém-se geralmente na altura de
S2, conforme indicado na literatura19-21.
Com o uso de calçado de salto alto, ocorre flexão plantar de tornozelo proporcionalmente à altura do salto. Essa posição
remeteria para o deslocamento anterior
do corpo. A fim de se manter em equilíbrio, a pessoa faz anteversão pélvica. No
presente estudo, os resultados apontam
para isso, uma vez que a grande maioria
das voluntárias (83,4%) apresenta essa
variação postural. A anteversão pélvica,
associada à flexão plantar acentuada,
resulta em hiperlordose lombar. Assim,
a retração muscular da cadeia posterior
torna-se mais evidente e possível de
ocorrer, o que se reflete no menor alcance horizontal na posição sentada.
Quanto maior o tempo semanal de uso
de calçado com salto alto, possivelmente
ocorrem maiores adaptações estruturais
Iunes e Santos22 não encontraram alterações musculares lombares durante a
marcha de crianças utilizando calçado
com salto alto, por meio de testes eletromiográficos, quando compararam com
uso de salto baixo ou marcha descalça.
Outros autores23 já tinham avaliado possíveis alterações no joelho de adolescentes, na postura estática, com ou sem calçado com salto alto, mas não encontraram diferenças significativas para desvios.
Provavelmente, devido à faixa etária das
voluntárias aqui estudadas e ao tempo
(no mínimo quatro anos) há que usavam
salto alto, a musculatura da região inferior
do tronco já tenha alterações necessárias
para adaptação ao calçado na postura
estática.
Ao correlacionar o alcance horizontal com o tempo de equilíbrio, também
se verificaram valores proporcionais, ou
de correlação positiva. É possível perceber inter-relações entre estes e os demais
parâmetros avaliados. Uma vez que o
indivíduo apresenta retração muscular de
cadeia posterior (que pode ou não ser
decorrente do uso demasiado de calçado
com salto alto), as modificações corporais
poderiam alterar o centro gravitacional do
corpo e, portanto, o equilíbrio passaria a
ser prejudicado quando a pessoa estivesse sem o calçado. Segundo Hansen
e Childress24, alguns calçados, devido à
disposição do salto e à área de contato
com o chão, não permitem adaptações
corporais, principalmente na articulação
do tornozelo, o que determinaria ajustes em outras articulações a fim de compensar essa não-adaptação local.
Tedeschi Filho et al.25 ainda encontraram diminuição da ação de bomba muscular, que contribui para o retorno venoso, em usuárias de salto alto, o que
poderia causar doença venosa.
O uso de calçado com salto alto, ao
modificar a estatura da usuária e permitir arranjos estéticos, poderia interferir
em sua qualidade de vida. Hong et al.26
procuraram analisar a percepção de conforto de mulheres jovens caminhando com
salto alto. Verificaram que há diminuição
do conforto à medida que se diminui o
Bertoncello et al.
contato do pé com o chão, o que ocorre
de acordo com o aumento da altura do
salto. Neste trabalho, as voluntárias se
mostraram aparentemente à vontade
com o uso do calçado, embora não tenhamos aplicado um questionário referente à qualidade de vida.
O fato de não haver correlação entre
os parâmetros analisados e o tempo, em
anos, de uso de salto alto, pode ser devido à dificuldade em fazer a análise
retrospectiva sobre o total de meses em
que a pessoa utiliza o calçado. O tempo
foi considerado em anos, sendo praticamente igual para todas as voluntárias. No
Equilíbrio em usuárias de salto alto
entanto, verificaram-se modificações corporais que demandam alteração do centro
de equilíbrio, possivelmente com alteração
do tônus muscular devido à ausência de
alongamentos musculares diários27-30.
Diante dos resultados aqui encontrados, embora com uma população pequena, é preocupante verificar que há
aparente diminuição de equilíbrio quando a voluntária não está com o calçado
de salto alto mas faz uso diário dele. Os
ajustes corporais decorrentes desse uso
podem determinar outras disfunções
aqui não identificadas. Portanto, estudos
direcionados para outras análises são
importantes a fim de demonstrar possíveis riscos de lesões à população.
CONCLUSÃO
Conclui-se que o uso de calçado de
salto alto por mais de 4 horas diárias
pode promover alterações de equilíbrio
em mulheres jovens (quando descalças),
provavelmente devido ao arranjo muscular decorrente da alteração postural
que se segue à alteração do centro de
gravidade corporal.
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Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.16, n.2, p.113-9, abr./jun. 2009
ISSN 1809-2950
Efeito da técnica de oscilação oral de alta freqüência aplicada
em diferentes pressões expiratórias sobre a função autonômica do coração
e os parâmetros cardiorrespiratórios
Effect of oral high-frequency oscillation technique at different expiratory pressures on
heart autonomic function and cardiorespiratory parameters
Graciane L. Moreira1, Ercy M. C. Ramos2, Luiz C. M. Vanderlei2, Dionei Ramos2, Beatriz M. Manzano1, Luciana C. Fosco1
Estudo desenvolvido no
Programa de Pós-Graduação
em Fisioterapia da FCT/Unesp
– Faculdade de Ciências e
Tecnologia da Universidade
Estadual Paulista, Presidente
Prudente, SP, Brasil
1
Fisioterapeuta; mestranda em
Fisioterapia na FCT/Unesp
2
Prof. Dr. do Depto. de
Fisioterapia da FCT/Unesp
ENDEREÇO PARA
CORRESPONDÊNCIA
Graciane L. Moreira
R. Caetés 400 ap. 31 Jardim
Esplanada
19050-550 Presidente
Prudente SP
e-mail:
[email protected]
APRESENTAÇÃO
out. 2008
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO
maio 2009
RESUMO: O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da técnica de oscilação oral de
alta freqüência (com o aparelho Shaker), aplicada em diferentes pressões expiratórias
(PE), sobre a função autonômica e parâmetros cardiorrespiratórios. Foram coletados
dados de 20 voluntários jovens saudáveis (21,6±1,3 anos), que permaneceram em
repouso inicial por 10 minutos e, em seguida, fizeram três séries de dez expirações
no aparelho (com intervalo de descanso de 2 minutos entre as séries) em três
diferentes PE – pressão livre (PL), de 10 (P10) e de 20 (P20) cmH2O – permanecendo
por mais 10 minutos em repouso final. Os dados foram analisados estatisticamente,
com nível de significância de 5%. Após a aplicação da técnica, constatou-se
diferença significante nos índices de variabilidade da freqüência cardíaca em PL e
um aumento significante na pressão arterial sistólica em P20. Na pressão arterial
diastólica, freqüência respiratória e saturação periférica de oxigênio não foram
encontradas diferenças antes, durante e após a técnica, nas diferentes PE. A
percepção do esforço aumentou significantemente ao longo das séries em PL e
P20 e entre P10 e P20 em cada série. A freqüência cardíaca (FC) aumentou e
diminuiu em sincronia com os movimentos de inspiração e expiração,
respectivamente. Foram observadas modificações na modulação autonômica do
coração em PL. A aplicação da técnica nessa população, nas diferentes PE
analisadas, promoveu modificações no comportamento da FC, no esforço percebido
e, em PL, na modulação autonômica do coração.
DESCRITORES: Freqüência cardíaca; Sistema nervoso autônomo; Ventilação de alta
freqüência
ABSTRACT: The aim of this study was to analyse the effect of oral high-frequency
oscillation technique (with the Shaker device), applied at different expiratory
pressures (EP), onto autonomic heart function and cardiorespiratory parameters.
Data were collected from 20 young healthy volunteers (aged 21,6±1,3 years old)
who remained at initial rest for 10 minutes and then performed three series of ten
expirations each with the Shaker device (with rest intervals of 2 minutes between
series) in three EP: free pressure (FP) and pressures of 10 (P10) and of 20 cmH2O
(P20), then remained at rest for additional 10 minutes. Data were statistically
analysed, with significance level set at 5%. After the breathing technique, a
statistically significant difference was noticed at heart rate variability indices at FP
and a significant increase in systolic blood pressure at P20. Measures of diastolic
blood pressure, respiratory frequency and peripheral oxygen saturation showed no
difference before, during and after the technique at any EP. Perceived exertion
increased significantly along the series at FP and P20, as well as between P10 and
P20 in all series. Heart rate increased and decreased in synchronization with
inspiration and expiration, respectively. The application of the technique in this
population at different expiratory pressures promoted changes in hear rate behaviour,
in perceived exertion and, at FP, in heart autonomic modulation.
KEY WORDS: Autonomic nervous system; Heart rate; High-frequency ventilation
Fisioter Pesq. 2009;16(2)
2009;16(2):113-9
113
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, entre os métodos
utilizados pela fisioterapia respiratória, as
técnicas de oscilação de alta freqüência
associada à pressão expiratória positiva
têm sido utilizadas para melhorar a depuração mucociliar em pacientes portadores de doença respiratória supurativa1.
Dentre os equipamentos que associam
essas técnicas, destacam-se o Flutter
VRP1 e o Shaker.
O Flutter VRP1 e o Shaker têm em seu
interior um cone contendo uma esfera
metálica; quando o indivíduo expele o
ar pelo aparelho, o fluxo de ar expirado
eleva a esfera, que volta a cair por ação
do seu próprio peso. A sucessão rápida
desses eventos promove vibração aérea no
interior do aparelho, a qual é transmitida
para a caixa torácica do indivíduo2-4. O
Shaker é um protótipo do aparelho
Flutter-VRP1, porém com um custo bem
mais acessível que este.
Para a execução da técnica com esses
equipamentos o indivíduo deve fazer inspiração nasal e expiração oral pelo bocal do aparelho, a qual produzirá uma
pressão expiratória positiva2. É sabido
que o padrão respiratório tem importante
influência na flutuação da pressão sanguínea,
atividade do sistema nervoso autônomo
(SNA) e principalmente na freqüência cardíaca (FC)5,6. Um meio de avaliar o
comportamento autonômico é pela análise da variabilidade da freqüência cardíaca
(VFC), um método simples e não-invasivo
que pode ser utilizado para identificar
fenômenos relacionados ao SNA7 tanto
em indivíduos saudáveis8,9 quanto em
portadores de doença10,11. Esse método
também tem sido utilizado na avaliação
da função autonômica durante a aplicação de exercícios respiratórios12 e outras
técnicas da fisioterapia respiratória13,14.
Adicionalmente, estudos in vitro3,4,15
demonstraram que algumas variáveis físicas do equipamento, tais como fluxo,
pressão expiratória e freqüência de oscilação, influenciam os efeitos gerados por
ele. Entretanto, não foram encontrados
na literatura estudos in vivo que avaliem
o efeito da técnica com o equipamento
ao ser executado em diferentes pressões
expiratórias, nem a repercussão destas
sobre a modulação autonômica do coração e o comportamento dos parâmetros
cardiorrespiratórios.
2009;16(2)
114 Fisioter Pesq. 2009;16(2):113-9
Diante do exposto, o presente estudo
teve como objetivo verificar, em indivíduos
saudáveis, o efeito da execução da técnica com o Shaker, aplicada em diferentes
pressões expiratórias, na função autonômica e no comportamento da FC,
pressão arterial (PA), freqüência respiratória (f), saturação periférica de oxigênio
(SpO2) e percepção do esforço.
METODOLOGIA
Participaram deste estudo 20 voluntários jovens saudáveis (com média de
idade 21,6±1,3 anos, 63,7±8,9 kg,
1,7±0,1 m de altura e índice de massa
corporal 21,9±2,1 kg/m2), de ambos os
sexos (10 homens e 10 mulheres), com
padrão ativo de vida classificado de
acordo com o questionário internacional de atividade física (IPAQ)16, validado para a mesma faixa etária da população incluída neste estudo 17. Foram
adotados como critérios de exclusão:
indivíduos com distúrbios ventilatórios,
fumantes e que apresentassem evidências de infecção respiratória por pelo
menos 8 semanas antes do estudo.
Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da FCT/Unesp.
Na seleção, os indivíduos foram devidamente informados sobre os objetivos e
procedimentos utilizados e, após concordarem, assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido para sua participação no estudo.
O protocolo experimental consistiu
em três etapas: repouso inicial, expiração pelo Shaker e repouso final, com
tempo total de 29 minutos, sob os seguintes procedimentos:
Repouso inicial: os voluntários foram
confortavelmente sentados em uma cadeira; foi acoplada em seu tórax a cinta
de captação e, em seu pulso, o receptor
de FC (Polar Electro, Kempele, Finlândia).
Simultaneamente à ativação do monitor
de FC foi acionado um cronômetro para
facilitar o registro dos tempos de cada
etapa do protocolo. Permaneceram nessa posição por 10 minutos em respiração espontânea e, nos três minutos finais,
foram verificados a PA, SpO2, f, sendo
também aplicada a escala de percepção
de esforço de Borg (EB) de 6 a 20. Quanto maior o escore nesta escala, maior é o
esforço percebido pelo sujeito18.
Shaker (Figura 1): após o repouso inicial,
o voluntário foi posicionado para a realização da técnica com o aparelho: sentado com inclinação do tronco para frente,
flexão da articulação coxofemoral a 65º
e com os cotovelos apoiados na mesa.
A inclinação podia ser alterada, prevalecendo aquela em que o voluntário relatasse maior efeito vibratório aéreo
intratorácico. Após um comando verbal, o
voluntário iniciava as expirações. Em todos os dias de experimento os voluntários
fizeram três séries de 10 expirações com
dois minutos de descanso entre as séries,
Procedimentos
O protocolo experimental foi realizado
em uma sala com temperatura ambiente
entre 21ºC e 24ºC e umidade relativa do
ar entre 50% e 60%. Os voluntários foram orientados a não consumir bebidas
alcoólicas e/ou estimulantes, como café
e chá, 12 horas antes do dia do experimento. Além disso, todos receberam informações sobre os equipamentos e o
protocolo que seria utilizado, de modo
a reduzir eventual ansiedade. Com o
mesmo intuito, foi permitida a circulação de três pessoas pela sala.
Os voluntários foram submetidos a
três dias de experimento, com um intervalo mínimo de 24 horas e sempre no
período da tarde, de modo a considerar
as influências do ciclo circadiano.
Figura 1
O Shaker (NCS, São Paulo,
Brasil) é um equipamento
portátil composto por um
bocal e tampa perfurada,
com cone e bola de aço
inoxidável no interior. Foi
acoplado, especificamente
para o estudo, a um
manovacuômetro.
Moreira et al.
durante o qual permaneciam sentados em
respiração espontânea, sendo então
verificadas apenas a f, SpO2 e aplicada
a EB.
Repouso final: terminado o Shaker, os
voluntários permaneciam sentados por
10 minutos em respiração espontânea
e, nos 3 últimos minutos, eram medidas
a PA, SpO2, f e aplicada a EB.
No primeiro dia do protocolo experimental o voluntário realizou a técnica
sem pressão expiratória pré-determinada
(PL, Pressão livre). Nos outros dois dias
do experimento, as expirações no aparelho foram mantidas em pressão expiratória pré-estabelecida (escolha aleatória),
de 10 cmH2O (P10) e 20 cmH2O (P20).
Para evitar o efeito aprendizado, todos
os voluntários realizaram inicialmente a
técnica com a PL, pois caso a realização
da técnica fosse feita primeiro, nas pressões expiratórias estipuladas isso poderia
exercer influência sobre a PL.
Em cada dia do experimento os voluntários realizavam três séries de 10
expirações. Para que os voluntários realizassem a técnica de forma homogênea,
foi controlado o tempo do ciclo respiratório. A respiração controlada foi definida por ciclos respiratórios com duração de 5 segundos (sendo 3 segundos
de expiração), determinados com o auxílio de um cronômetro, e utilizando
comando verbal para marcação dos instantes de inspiração e expiração. Os
voluntários foram orientados a simular
a manobra, antes de iniciar o registro,
para se familiarizarem com a técnica.
Para o controle das pressões expiratórias, foi utilizado um manovacuômetro
(Suporte, Brasil), acoplado ao aparelho,
elaborado especificamente para esta finalidade (Figura 1). Pela visualização do
manovacuômetro, os voluntários poderiam manter a pressão expiratória estabelecida. Antes de realizar o experimento
com a P10 e P20, os voluntários realizaram um treinamento que consistiu em
executar a técnica até conseguir efetuar
três expirações consecutivas com a pressão expiratória determinada e no tempo
expiratório estipulado. Na PL, o voluntário realizava as expirações sem observar os valores no manovacuômetro – mas
que foram anotados.
A PA foi mensurada pelo método indireto, por um esfigmomanômetro
Shaker e sistema cardiorrespiratório
aneróide e estetoscópio (marca BD, EUA)
e a SpO2 foi verificada por meio de um
oxímetro portátil (Moriya, Brasil).
Para analisar o comportamento, assim como a variabilidade da FC, foi utilizado o freqüencímetro Polar S810i (Polar Electro, Kempele, Finlândia), equipamento previamente validado para captação da FC batimento a batimento; seus
dados foram utilizados para análise da
VFC19,20. Para esta, foi selecionado um
intervalo de cinco minutos, durante o
período de maior estabilidade do sinal,
tanto para o repouso inicial quanto para
o final, e somente séries com mais de
256 intervalos RR foram utilizadas7. A
análise visual das séries temporais permitiu observar ausência de artefatos ou
arritmias cardíacas que pudessem interferir na análise da VFC.
A VFC foi analisada nos domínios do
tempo e da freqüência. No domínio do
tempo os índices rMSSD (raiz quadrada
da média do quadrado das diferenças
entre intervalos RR normais adjacentes,
em um intervalo de tempo, expresso em
ms) e pNN50 (percentual de pares de
intervalos RR consecutivos, cuja diferença é maior ou igual a 50 ms) foram utilizados. No domínio da freqüência foram
considerados os componentes de baixa
freqüência (LFnu, 0,04-0,15 Hz) e alta
freqüência (HFnu, 0,15-0,4 Hz), em unidades normalizadas, assim como a relação
LF/HF. A análise no domínio da freqüência
foi feita por meio da transformada rápida
de Fourier.
Análise dos dados
Para apresentação dos dados foi utilizada estatística descritiva, com valores
de média, mediana, desvio padrão e
números absolutos. A determinação da
normalidade foi feita pelo teste de
Kolmogorov-Smirnov. Para a comparação dos índices de VFC e das variáveis
PA sistólica (PAS), PA diastólica (PAD),
SpO2 e f, antes e após a aplicação da
técnica em cada pressão, como os dados apresentaram normalidade, foi utilizado o teste t para dados pareados; e a
comparação desses mesmos índices e
variáveis entre as pressões expiratórias
foi feita pela análise de variância
monofatorial. Para comparação das variáveis entre as séries, em determinada
PE, foram utilizados a análise de
variância para medidas repetidas (FC e
EB) e Teste de Friedman (SpO2 e f) e, para
comparação dessas variáveis entre as
pressões expiratórias em determinada
série, foram utilizados a análise de
variância monofatorial (FC e EB) e o teste de Kruskal-Wallis (SpO2 e f). Quando
esses testes foram considerados significativos, foi aplicado o teste de Tukey para
comparação entre os dados. Diferenças
nos testes foram consideradas estatisticamente significantes quando o p<0,05.
O cálculo do poder do estudo (GraphPad
StatMate v.2.00, GraphPad Software, San
Diego. California USA), com o número
de voluntários analisados e nível de
significância de 5% (teste bi-caudal),
garantiu um poder do teste superior a
80% para detectar diferenças entre as
variáveis.
RESULTADOS
A Tabela 1 mostra os índices da VFC
antes e após a execução da técnica nas
diferentes pressões expiratórias estudadas. A análise mostrou que, com pressão
livre, ocorreram aumentos significantes
Tabela 1 Variabilidade da freqüência cardíaca (média ± desvio padrão) nos
períodos de repouso inicial e final, segundo a pressão expiratória utilizada
FC –
índices
LFnu
HFnu
LF/HF
rMSSD
pNN50
Pressão livre
Inicial
Final
Pressão de 10 cmH2O
Inicial
Final
Pressão de 20 cmH2O
Inicial
Final
45,05±10,01 51,47±10,65* 50,43±10,95 52,58±14,7 50,24±12,12
54,95±10,01 48,54±10,65* 49,58±10,95 47,42±14,7 49,76±12,12
0,88±0,38
1,15±0,46*
1,11±0,47
1,34±0,85
1,15±0,65
37,74±11,63 34,78±11,25* 39,09±12,35 37,45±10,18 37,82±12,31
15,47±9,9
12,58±8,4* 16,27±10,95
14,8±8,8
15,68±10,04
50,95±15,5
49,06±15,5
1,34±1,12
43,15±13,9
17,7±9,7
LFnu = baixa freqüência em unidades normalizadas; HFnu = alta freqüência em unidades
normalizadas; LF/HF = relação entre alta e baixa freqüência; rMSSD = raiz quadrada da média do
quadrado das diferenças entre intervalos RR normais adjacentes, em um intervalo de tempo,
expresso em ms; pNN50 = percentual de pares de intervalos RR consecutivos, cuja diferença é maior
ou igual a 50 ms; * diferença estatisticamente significante quando comparado ao valor inicial
Fisioter Pesq. 2009;16(2)
2009;16(2):113-9
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Figura 2 Comportamento da freqüência cardíaca durante a realização da técnica
com o Shaker à pressão expiratória de 10 cmH2O – no destaque,
intervalo de 10 min a 10 min e 50 s
Tabela 2
Mediana da freqüência respiratória após a técnica com Shaker (f, em
irpm) e da saturação periférica de oxigênio (SpO2, em %); escores na EB
e a DIF obtida entre as séries 1a, 2a e 3a (média ± desvio padrão), segundo
a pressão expiratória
Pressão livre
1a série 2a série 3a série
Pressão de 10 cmH2O
1a série 2a série 3a série
Pressão de 20 cmH2O
1a série 2a série 3a série
f
12
16
16
12
12
12
12
12
12
SpO2
98,5
98
99
99
98
98,5
99
99
99
DIF 16,4±6,1 15,5±4,7 15,1±5,3 14,8±4,2 16,3±5,5 14,9±4,6 14,3±3,9 14,5±4,2 14,0±4,2
EB
9,4±2,64† 10±2,4 10,2±2,5 8,5±2,04* 8,6±2* 8,8±2,1* 10,7±2,3† 11±2,5 11,3±2,3
EB = escala de percepção do esforço de Borg; DIF = diferença entre a média dos valores de pico
da freqüência cardíaca na inspiração e a média dos valores mínimos atingidos na expiração; *
diferença estatisticamente significante em cada série em P10 comparada à P20; † diferença
estatisticamente significante entre a 1a e 3a séries
Tabela 3
Variáveis
PAS
PAD
f
SpO2
EB
Pressão arterial sistólica (PAS, em mmHg), pressão arterial diastólica
(PAD, em mmHg), freqüência respiratória (f, em irpm), saturação
periférica de oxigênio (SpO2, em %) e escores na EB (média ± desvio
padrão), obtidos nos períodos de repouso antes (inicial) e após (final) a
execução da técnica, segundo a pressão expiratória utilizada
Pressão livre
Inicial
Final
100,2±10,5
66,1±9,9
14,8±3,2
97,65±1,31
6,4±1,1
100±9,9
68,8±7,2
13,6±4
97,7±1,17
6,5±1,15
Pressão de 10 cmH2O
Inicial
Final
100,3±9,9
63,5±5,9
13±3,15
97,9±0,92
6,25±0,72
97,4±7,9
65,3±6
13,4±3,5
98,3±0,8
6,3±0,92
Pressão de 20 cmH2O
Inicial
Final
95,8±8,7
60,8±5,6
14±3,31
97,95±0,69
6,15±0,37
98,8±8,8*
63,4±6,9
13±2,87
97,95±1,05
6,3±0,74
EB = escala de Borg para percepção do esforço; * diferença estatisticamente significante quando
comparado ao valor inicial
nos índices LFnu e na relação LF/HF e
diminuição significativa nos valores de
HFnu, rMSSD e pNN50, quando comparados os valores antes e após a execução da técnica. Nas outras pressões,
os valores antes e após a técnica não
apresentaram diferenças significantes, o
mesmo ocorrendo quando comparados
os valores iniciais e finais entre eles, nas
diferentes pressões estudadas.
116
Fisioter Pesq. 2009;16(2):113-9
2009;16(2)
A Figura 2 mostra um exemplo do
comportamento padrão da FC durante
a realização da técnica. Observa-se que
a FC aumenta e diminui em sincronia
com os movimentos de inspiração e expiração, respectivamente, que o voluntário realiza durante a técnica.
A Tabela 2 mostra os valores das
variáveis f, SpO2, dos escores na EB e a
diferença (DIF) entre os maiores valores
de FC obtidos na inspiração e os menores valores obtidos na expiração para
cada série nas diferentes pressões aplicadas. Não foram observadas diferenças
significantes nos valores da f, SpO2 e DIF
entre as séries e entre as pressões expiratórias realizadas (p>0,05). Quanto aos
escores na EB, houve aumento significante da percepção de esforço da 1a para
a 3a série na pressão livre (p=0,0241),
na P20 (p=0,0138) e entre as pressões
expiratórias de 10 e 20 cmH2O em cada
série realizada, com os valores p=0,0179
(na 1a série), p=0,0069 (na 2a) e p=0,0045
(na 3a).
Os valores de PAS, PAD, f, SpO2 e dos
escores na EB antes e após a execução
da técnica podem ser observados na Tabela 3. Dentre essas variáveis, ocorreu
aumento significante após a técnica apenas na PAS (p=0,0447) na P20, quando
comparada ao valor inicial. As comparações entre os valores iniciais e finais
entre si dessas variáveis nas diferentes
pressões não mostraram diferenças
significantes (p>0,05).
DISCUSSÃO
Neste estudo observamos a influência
da execução da técnica de expiração
com o Shaker em diferentes pressões
expiratórias sobre a modulação autonômica cardíaca e o comportamento de
parâmetros cardiorrespiratórios.
Ao analisar a modulação autonômica
cardíaca, por meio dos índices da VFC
antes e após a execução da técnica, nas
diferentes pressões expiratórias (Tabela
1), pôde-se observar um aumento significante nos índices que refletem a atividade simpática (LHnu, LF/HF) e uma
diminuição significante naqueles que
refletem a atividade parassimpática
(HFnu, rMSSD, pNN50) na pressão livre.
Isso sugere que a execução da técnica
com uma pressão expiratória não-controlada foi capaz de produzir modificações
na modulação autonômica do coração,
o que não ocorreu quando a técnica foi
realizada em pressões controladas (10 e
20 cmH2O).
Uma das condições que podem
influenciar os índices de VFC é a respiração21,22. Durante a realização da téc-
Moreira et al.
nica, a freqüência respiratória, assim
como o tempo do ciclo respiratório foram controlados, sendo igual nos três dias
de experimento. No entanto, pôde-se
constatar que, após a realização da técnica na PL, houve um aumento da freqüência respiratória (Tabela 2), apesar
de não significante, o que não ocorreu
nas demais pressões expiratórias analisadas. Isto, associado à não-manutenção
da pressão expiratória (variação entre 10
e 30 cmH2O) durante a realização da
técnica com pressão livre, pode estar relacionado às modificações da modulação autonômica observadas. Considerando os valores desses índices entre as
pressões expiratórias estudadas, não foram encontradas diferenças estatisticamente significante entre elas (p>0,05),
apesar de os índices iniciais e finais apresentarem valores diferentes para cada
pressão expiratória.
Embora a VFC tenha sido estudada em
vários trabalhos na última década, vale
ressaltar que não encontramos na literatura, até o momento, estudos com o
objetivo de avaliar a modulação autonômica durante a realização da técnica
de fisioterapia respiratória utilizando o
Shaker.
Visto que a respiração é um dos fatores determinantes na oscilação da FC e
da PA23,24, foi analisado o comportamento padrão da FC durante a realização da
técnica. Esse padrão caracterizou-se
pelo aumento e diminuição em sincronia
com os movimentos de inspiração e expiração. Esse comportamento é semelhante ao obtido com a manobra de
arritmia sinusal respiratória (ASR), que
é uma das interações entre respiração e
FC, caracterizada pelo aumento da FC
durante a inspiração e redução durante
a expiração25,26.
As variações dos valores de FC obtidos durante a inspiração e a expiração
foram calculadas pela diferença entre a
média dos valores de pico da FC na inspiração e a média dos mínimos valores
de FC atingidos na expiração (DIF)25.
Não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes nos valores da
DIF nas três pressões expiratórias e séries
realizadas no experimento (Tabela 2). O
Shaker e sistema cardiorrespiratório
valor dessa diferença ficou acima de 13
batimentos por minuto; ora, segundo
Malik27, variação da FC inspiração X
expiração maior que 9 batimentos por
minuto revela funcionamento vagal
intacto, o que era de se esperar, já que a
amostra foi composta por indivíduos jovens e saudáveis.
Quanto ao comportamento da pressão arterial, observou-se um aumento de
3 mmHg na PAS após a realização do
experimento na P20 (Tabela 3). Apesar
da diferença estatística (p=0,0447), isso
não é significativo do ponto de vista fisiológico e pode estar relacionado a variações fisiológicas da PA. Assim, os dados
sugerem que a utilização do Shaker nas
diferentes pressões expiratórias não alterou consideravelmente a PA dos voluntários.
Quando analisados os valores da f
antes, durante os descansos e após a técnica nos diferentes dias de experimento,
não houve diferença estatisticamente
significante. Pode-se verificar (Tabela 2)
que a f aumentou 4 incursões respiratórias
por minuto da 1a para a 2a série somente
na PL, mantendo-se estável nas demais
séries e pressões. No entanto, esse aumento não foi suficiente para produzir alterações clínicas no sistema respiratório dos
voluntários, mas pode estar relacionado a
alterações na modulação autonômica.
Também se pode observar na Tabela
2 que os valores da SpO2 praticamente
se mantiveram estáveis no decorrer das
séries, nas três pressões expiratórias. No
entanto, quando comparados aos valores
médios de repouso inicial (97,6% na PL,
97,9% na P10 e 97,9% na P20), foram
maiores. Segundo Gaskell e Webber28 e
Tarantino29, a aplicação do Flutter VRP1
mantém os brônquios abertos na
expiração, melhorando com isso a saturação de oxigênio, o que pode ter também acontecido com a aplicação do
Shaker, visto que este é apresentado na
literatura como similar ao Flutter VRP1,
apresentando os mesmos princípios
mecânicos, o que justificaria a elevação
da SpO2 durante os descansos entre as
séries.
Com relação ao esforço percebido, os
voluntários deram maior pontuação ao
esforço no decorrer das séries realizadas, independente da pressão expiratória
(Tabela 2); no entanto, houve diferença
estatisticamente significante apenas entre a 1a e 3a séries na pressão livre e em
P20. Além disso, houve diferença significante entre P10 e P20 em cada série,
com um valor médio maior para a P20.
Isso mostra que uma diferença de 10
cmH2O na pressão expiratória realizada no equipamento foi o suficiente para
que os voluntários apresentassem maior
percepção do esforço ao realizar a técnica.
Além das medidas já analisadas, também foi analisada a pressão expiratória
exercida pelos voluntários no dia do
experimento com pressão livre. Pôde-se
verificar que a média da PL, considerando as três séries, foi de 15,8±0,11, com
variação entre 10 e 30 cmH2O. Esses
resultados estão de acordo com os de
Pryor e Webber30, para os quais a resistência produzida pela bola de aço durante a expiração no Shaker produz um
nível de pressão expiratória positiva que
varia de 5 a 35 cmH2O. Lembre-se que o
protocolo experimental foi sempre iniciado com essa pressão, a fim de evitar a
influência do aprendizado. Na execução
do protocolo experimental, somente foi
possível fazer a randomização das pressões executadas a 10 e 20 cmH2O, o que
representou a limitação do presente estudo.
CONCLUSÃO
Pode-se concluir que o uso da técnica
de oscilação oral de alta freqüência nas
diferentes PE estudadas não foi suficiente para promover alterações significantes
na pressão arterial, na freqüência respiratória ou nos níveis de saturação periférica de oxigênio; no entanto, houve
alterações no comportamento da freqüência cardíaca. Ainda, a percepção do
esforço foi significantemente maior durante a execução da técnica em maiores pressões expiratórias (PL e P20); e
modificações na modulação autonômica
foram observadas quando a técnica foi
realizada com pressão expiratória nãocontrolada.
Fisioter Pesq. 2009;16(2)
2009;16(2):113-9
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Fisioter Pesq. 2009;16(2)
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Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.16, n.2, p.120-5, abr./jun. 2009
ISSN 1809-2950
Avaliação de fragilidade, funcionalidade e medo de cair em idosos atendidos
em um serviço ambulatorial de Geriatria e Gerontologia
Assessment of frailty, functionality and fear of falling in elderly assisted
at an outpatient gerontologic and geriatric clinic
Silvia Lanziotti Azevedo da Silva1, Renata Alvarenga Vieira2, Paula Arantes3, Rosângela Corrêa Dias4
Estudo desenvolvido no Serviço
Interdisciplinar de Geriatria e
Gerontologia do Hospital
Universitário da UFJF –
Universidade Federal de Juiz de
Fora, Juiz de Fora, MG, Brasil
1
Fisioterapeuta; mestranda no
PPG – Programa de PósGraduação – em Ciências da
Reabilitação da EEFFTO/
UFMG – Escola de Educação
Física, Fisioterapia e Terapia
Ocupacional da Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo
Horizonte, MG
2
Doutoranda no PPG em
Ciências da Reabilitação da
EEFFTO/UFMG; Profa. Ms. do
Depto. de Fisioterapia da
Faculdade de Medicina da UFJF
3
Fisioterapeuta; doutoranda no
PPG em Ciências da
Reabilitação da EEFFTO/UFMG
4
Profa. Dra. Associada do
Depto. de Fisioterapia da
EEFFTO/UFMG
ENDEREÇO PARA
CORRESPONDÊNCIA
Silvia L. A. da Silva
R. João Antônio Cardoso 157
ap. 301
31310-340 Belo Horizonte MG
e-mail:
[email protected]
APRESENTAÇÃO
out. 2008
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO
maio 2009
2009;16(2)
120 Fisioter Pesq. 2009;16(2):120-5
RESUMO: A síndrome da fragilidade é uma condição associada ao envelhecimento,
com desfechos de saúde nos idosos como quedas, medo de cair e incapacidade.
Os objetivos deste estudo foram determinar a freqüência de fragilidade e verificar
a existência de correlação desta com quedas, medo de cair e funcionalidade, em
30 idosos (média de 75,7±7,6 anos) cadastrados em um serviço interdisciplinar de
Geriatria e Gerontologia. Foram avaliados quanto à fragilidade, por características
sugeridas pela literatura, e quanto aos desfechos quedas, funcionalidade e medo
de cair. A análise descritiva identificou 20% de idosos frágeis, 46,7% pré-frágeis e
33,3% não-frágeis. Foram encontradas diferenças significativas entre os grupos
frágeis e pré-frágeis e frágeis e não-frágeis em relação à funcionalidade mensurada
pela escala de Lawton (p=0,000) e medo de cair, avaliada pela escala internacional
de eficácia de quedas (FES-I, na sigla em inglês). Foi encontrada correlação
significativa e moderada entre a pontuação na FES-I e o número de quedas; e
correlação significativa, moderada e inversa, entre as pontuações da FES-I e de
Lawton. A freqüência de fragilidade foi maior na amostra do estudo do que a
encontrada em estudos prévios; e foram encontradas diferenças significativas entre
os grupos de idosos, de acordo com as características de fragilidade, indicando
que os mais frágeis apresentavam maior incapacidade para atividades de vida diária
e mais medo de cair.
DESCRITORES: Avaliação geriátrica; Idoso fragilizado
ABSTRACT: The frailty syndrome is a condition associated to age-related vulnerability,
bearing health outcomes such as falls, fear of falling, and disability. The purposes
of this study were to determine frequency of frailty and to search for correlations
between frailty and falls, fear of falling, and functionality, in a group of 30 elderly
(mean age 75.7±7.6) registered at a geriatric outpatient clinic. They were assessed
as to frailty according to features suggested by literature, and as to the outcomes
falls, fear of falling, and functionality. The sample descriptive analysis identified
20% of frail, 46.7% of pre-frail and 33.3% of non-frail elderly. Significant differences
were found between frail and pre-frail, and between frail and non-frail groups, as
to functionality as measured by the Lawton scale (p=0.000), and as to fear of falling
(assessed by the Falls Efficacy Scale – FES-I). A moderate, significant correlation
was found between FES-I scores and the number of falls; and a moderate, inverse,
significant correlation between FES-I scores and Lawton scale scores. Frailty
frequency in the present study was greater than in previous ones. The significant
differences found between groups according to frailty classification suggest that
the most frail subjects had greater incapacity for activities of daily living and more
fear of falling.
KEY WORDS: Frail elderly; Geriatric assessment
Silva et al.
Fragilidade e medo de cair em idosos
INTRODUÇÃO
O crescimento da população idosa é
um fenômeno mundial e, no Brasil, as
modificações acontecem de forma acelerada e significativa1. Acredita-se que o
país será, em 2025, o sexto do mundo
em número absoluto de idosos, totalizando 33,8 milhões de indivíduos nessa faixa
etária, com sua proporção evoluindo de
2,7% para 14,7% da população2. Diante desse envelhecimento populacional,
novas demandas de saúde emergem.
Várias condições se associam à saúde dos idosos, dentre as quais a síndrome
da fragilidade. Essa síndrome é uma condição multissistêmica, mais prevalente
com o aumento da idade3, definida por
Fried et al.4 como estado de vulnerabilidade crescente a estressores, resultado
do declínio das reservas fisiológicas e
desregulação de múltiplos sistemas, limitando a capacidade de manter a
homeostase diante de estressores. Buscando identificar a síndrome da fragilidade em idosos, Fried et al.5 reuniram
condições como emagrecimento ligado
à desnutrição e perda de massa muscular, fraqueza muscular, baixa resistência,
lentidão e baixos níveis de atividade,
para formular um fenótipo de fragilidade. Tal fenótipo foi definido pelo autorrelato de exaustão e perda involuntária
de peso no último ano, perfil de atividade física, força de preensão manual e
velocidade de marcha. Segundo essas
características, os idosos são classificados como frágeis, quando apresentam
três ou mais dos componentes citados,
pré-frágeis, quando apresentam um ou
dois deles, e não-frágeis, quando não
apresentam qualquer dessas características6. Foi demonstrado que esse fenótipo
apresenta validade interna e de critério e
é capaz de predizer vários desfechos clínicos, como quedas, incapacidades,
hospitalização e morte5.
Embora não seja sinônimo de tais
condições, a fragilidade é relacionada à
presença de comorbidades e incapacidade, podendo ser causada ou predispor tais eventos4. Um estudo longitudinal7 com mulheres idosas apontou que
56% daquelas consideradas frágeis, em
um primeiro inquérito, desenvolveram
alguma incapacidade para pelo menos
uma atividade básica de vida diária
(ABVD) durante o acompanhamento, enquanto 20% das consideradas não-frágeis
se tornaram dependentes. Frente ao caráter negativo e prejudicial de tais desfechos, torna-se importante identificar
relações entre eles e a síndrome da fragilidade em amostras variadas a fim de
orientar a atenção à saúde dos idosos,
visando a tomada de decisões e o planejamento de ações de educação, prevenção e promoção da saúde. Assim,
quanto maior o número de estudos em
diferentes populações de idosos, maior
o número de evidencias disponíveis para
os profissionais de saúde na assistência à
síndrome, justificando estudos como este.
O objetivo deste estudo foi avaliar a
freqüência de fragilidade em um grupo
de idosos atendidos em um serviço interdisciplinar de Geriatria e Gerontologia
e sua relação com quedas, funcionalidade e medo de cair.
METODOLOGIA
O projeto deste estudo foi submetido
à avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa da UFJF – Universidade Federal de
Juiz de Fora. Antes do início da entrevista todos os sujeitos assinaram um termo
de consentimento livre e esclarecido. Para
identificação do fenótipo de fragilidade
e seus fatores associados foi realizado um
estudo clínico observacional com delineamento transversal.
A população do estudo foi composta
por idosos cadastrados no Serviço Interdisciplinar de Geriatria e Gerontologia
do Hospital Universitário da UFJF. No
momento do levantamento o serviço
assistia 63 idosos. Os critérios de inclusão no estudo foram idade superior a 60
anos e ser cadastrado no Serviço; os critérios de exclusão foram apresentar
deficit cognitivo, definido de acordo
com a pontuação no teste do mini-exame do estado mental (MEEM) descrito
por Bertolucci et al.8, e estar acamado
ou ser cadeirante.
Pela análise das fichas de avaliação
dos pacientes em sua primeira consulta, foram excluídos cinco idosos que
haviam falecido e cinco com alteração
cognitiva grave ou demência registrados
desde a entrada no Serviço, restando 53
idosos para compor a amostra. Em seguida foi feito contato telefônico com o
paciente e convite para participação no
estudo. O contato com seis pacientes
não foi possível devido a falhas na notificação no prontuário. Assim, foram
contatados 47 pacientes, dentre os quais
dois foram excluídos por terem desenvolvido alterações cognitivas que impossibilitavam a participação, três haviam
falecido sem notificação ao Serviço, um
tinha idade inferior a 60 anos e três não
residiam no município, não podendo
comparecer ao local de coleta de dados. Nove idosos recusaram-se a participar do estudo. Por fim, 30 idosos compuseram a amostra estudada.
Procedimentos
A coleta de dados foi realizada em
consultório no Hospital onde funciona
o Serviço ao qual os pacientes eram vinculados. Eles aí compareceram mediante
agendamento de horário, após terem
aceitado participar.
Inicialmente foi aplicado o MEEM,
para rastreamento de alterações cognitivas. De acordo com o nível de escolaridade, os idosos deveriam pontuar no
mínimo 24, 18 e 13 pontos para alta,
média, baixa escolaridade e analfabetos, respectivamente8. Todos alcançaram
a pontuação mínima e prosseguiram na
avaliação.
Foram coletados os dados que, segundo a literatura, poderiam estar relacionados à presença de fragilidade, como
variáveis sociodemográficas, saúde física percebida (por autoavaliação), diagnóstico médico de doenças prevalentes
em idosos e número de medicamentos
utilizados. O desempenho nas atividades instrumentais de vida diária (AIVD),
como uso de medicação, preparo de refeições, manejo do dinheiro, foi avaliado pela escala de Lawton9, onde os escores variam de 7 a 21 e, quanto maior
o escore, melhor o desempenho; e as
atividades básicas de vida diária (ABVD,
ligadas ao autocuidado, higiene, alimentação), pela escala de Katz (versão brasileira10); nesta os escores vão de 0 a 6
e, quanto mais alto o escore, pior o desempenho.
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Fisioter Pesq. 2009;16(2)
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Os idosos também foram inquiridos
sobre medo de cair e quedas. Estas foram investigadas por um questionário
estruturado, iniciado pela pergunta, “O/
A senhor/a sofreu queda no último
ano?”. O medo de cair foi avaliado pela
escala de eficácia de quedas FES-I (Falls
efficacy scale-International)11, com escore máximo de 64 pontos, sendo que escores inferiores a 23 pontos apontam
para maior independência – ou seja, a
pontuação mais elevada indica mais
medo de sofrer uma queda.
A presença de fragilidade foi verificada por testes para identificação dos
cinco itens descritos como componentes do fenótipo de fragilidade por Fried
et al.5 – perda de peso, exaustão, nível
de atividade física, lentidão na marcha
e fraqueza muscular – da forma proposta por esses autores. A perda de peso é
considerada por autorrelato de perda
superior a 4 kg no último ano; exaustão
é avaliada pela concordância “sempre”
ou “na maioria das vezes” a duas afirmativas – “Senti que tive de fazer esforço para fazer tarefas habituais” e “Não
consegui levar adiante minhas coisas”
(que integram uma escala de avaliação da
depressão da instituição norte-americana
de estudos epidemiológicos, CES-D). O
nível de atividade física foi aferido pela
versão curta do questionário de atividades de lazer de Minnesota (Minnesota
leisure time activity questionnaire), com
perguntas sobre hábitos de andar, correr, jardinagem, entre outras, cuja mensuração de gasto calórico é feita por
algoritmos; a lentidão da marcha foi
medida pelo tempo gasto para percorrer a distância de 4,6 m, em velocidade
confortável, ajustada por sexo e altura;
por fim, a força muscular foi verificada
com base na força de preensão mensurada em Kgf por dinamômetro de
preensão manual (Jamar), sendo o resultado ajustado por sexo e índice de massa corporal (IMC).
Idosos que tivessem resultados positivos em três ou mais dos cinco itens
avaliados para identificação do fenótipo
são considerados frágeis; aqueles com um
ou dois resultados positivos, pré-frágeis;
e aqueles com todos os testes negativos
para fragilidade são considerados robustos ou não-frágeis. Os pontos de corte
adotados pelo estudo para classificação
dos itens velocidade de marcha e força
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de preensão manual para o sexo feminino foram os estabelecidos para idosos
brasileiros por Santos et al.12.
Análise estatística
Os dados foram analisados descritivamente por meio do pacote estatístico
SPSS 13.0. Uma análise de variância
(Anova unidirecional) foi utilizada para
comparar os escores das escalas FES-I,
Lawton e Katz-Brasil entre os grupos frágil, pré-frágil e não-frágil. O coeficiente
de correlação de Spearman foi utilizado para avaliar a correlação entre estas
variáveis e o número de quedas sofridas. Para a comparação do número de
idosos com história de quedas em cada
grupo foi utilizado o teste exato de
Fisher. Todas as análises foram consideradas no nível de significância p<0,05.
RESULTADOS
A população do estudo foi constituíTabela 1
da por 10 homens e 20 mulheres, com
média de idade de 75,7±7,6 anos, e
média do índice de massa corporal (IMC)
de 23,9±3,8. A maioria eram casadas/os
(40,0%) ou viúvas/os (11/36,7%), brancas/
os (70%); 90% não trabalhavam atualmente, sendo 19 (quase dois terços) aposentados. A maioria (40%) tinham apenas
até 4 anos e 23% eram analfabetos. Os
idosos tinham tido uma média de 2,9
filhos e 73,3% deles não moravam sozinhos.
A maioria dos idosos apresentavam
comorbidades como hipertensão, alterações cardiovasculares, diabetes, alterações
visuais, alterações reumáticas, entre outras,
e usavam medicamentos. As características
clínicas e funcionais da amostra são apresentadas na Tabela 1.
Como mencionado, para efeito de
análise os idosos foram reunidos em três
grupos, de frágeis (n=6), pré-frágeis
(n=14) e não-frágeis (n=10). Não foi encontrada diferença estatisticamente significativa em relação ao número de ido-
Características clínicas e funcionais da amostra (n=30)
Característica
Hipertensão arterial sistêmica
n
Sim
17
13
Não
Alterações visuais
Sim
26
4
Não
N comorbidades por idoso (média r dp)
3,5r1,7
Uso de medicação
Sim
24
6
Não
Consumo de medicação
> quatro
12
12
< quatro
Autoavaliação de saúde
Muito boa
1
Boa
16
Regular
12
1
Ruim
Independente
Independência em AIVD
22
(Lawton)
5
Realiza com ajuda
3
Dependente
Independência em ABVD (Katz) em 6 funções
23
7
Dependente em pelo menos uma função
20
Sim
Quedas no último ano
Não
10
Dor
Conseqüências da queda
7
Escoriação/corte/contusão
5
Fratura
0
Caiu ao realizar
AIVD
11
9
ABVD
Escore na FES-I (média r dp)
26,5r7,3
%
6,7
43,3
86,7
13,3
80,0
20,0
50,0
50,0
3,3
53,5
40,0
3,3
73,3
16,7
10,0
76,7
23,3
66,7
33,3
35,0
25,0
0,0
55,0
45,0
dp = desvio padrão; AIVD= atividades instrumentais de vida diária; ABVD = atividades básicas de
vida diária; FES-I= Falls Efficacy Scale International
Silva et al.
Tabela 2
Fragilidade e medo de cair em idosos
Escores (média ± dp) nas escalas de Lawton (desempenho nas AIVD) e
FES-I (medo de queda) dos grupos de idosos frágeis (Fr), pré-frágeis (PF) e
não-frágeis (NF) e comparação entre os grupos (n=30)
Escores nas
escalas
AIVD (Lawton)
p da diferença
FES-I
p da diferença
Grupos de idosos
Frágeis (n=6)
Pré-frágeis (n=14) Não-frágeis (n=10)
14,33r4,5
19,57r2,0
20,6r0,9
Fr vs NF p=0,000* Fr vs PF p=0,000* NF vs PF p=0,394
33,3r7,3
24,9r4,2
20,6r0,9
Fr vs NF p=0,039* Fr vs PF p=0.011* NF vs PF p=0,748
dp = desvio padrão; AIVD = atividades instrumentais da vida diária; FES-I = Falls Efficacy Scale
International; * estatisticamente significante (p<0,05)
sos com história de quedas em cada grupo. Em relação ao sexo e idade, também não foram encontradas diferenças
significativas entre os grupos.
Quanto à pontuação na escala de
Lawton, que avalia a independência em
atividades instrumentais da vida diária,
os idosos frágeis tiveram, como era de
se esperar, escores mais baixos, com diferença estatisticamente significativa
entre eles e os não-frágeis, e entre eles e
os pré-frágeis (Tabela 2). A pontuação
na FES-I, que avalia o medo de quedas,
também mostrou que os idosos frágeis
tiveram escores mais altos, com diferença estatisticamente significativa entre os
idosos frágeis e não-frágeis e entre frágeis e pré-frágeis (Tabela 2).
Independentemente dos grupos, foi
encontrada correlação significativa e
moderada entre a pontuação na FES-I e
o número de quedas no ano anterior
(r=0,503; p=0,005) e correlação significativa, moderada e inversa entre os escores na FES-I e na escala de Lawton
(r=0,565; p=0,001).
Tabela 3
Correlações entre número
prévio de quedas e os escores
médios nas escalas de Lawton
e FES-I em toda a amostra
(n=30)
FES-I Lawton
Lawton
- 0,565* 1,000
N quedas 0,503* - 0,332
FES-I
1,000 - 0,565*
N quedas
- 0,332
1,000
0,503*
* Correlação significante p<0,01
DISCUSSÃO
A freqüência de fragilidade encontrada na amostra (20%) foi mais elevada
do que a reportada pela literatura5,6,13.
O pequeno tamanho da amostra deste
estudo e uma maior complexidade do
estado de saúde dos pacientes cadastrados no Serviço, situado dentro de um
hospital, poderiam justificar tal diferença. Santos et al.12 trabalharam com uma
amostra de conveniência de 113 idosos
da comunidade assistidos em unidades
básicas de saúde e de um centro de referência de idosos de um hospital universitário, a fim de verificar a prevalência
de fragilidade. Encontraram 10,6% de
idosos frágeis, 43,4% de pré-frágeis e
43,4% de não-frágeis, após ajuste dos
pontos de corte das variáveis do fenótipo
na amostra. Foram adotados, no presente
estudo, os mesmos pontos de corte daqueles autores pois, apesar de esta amostra ser menor, os idosos eram também
vinculados a serviços secundários de
saúde e amostrados por conveniência.
No presente estudo, a análise descritiva da amostra divida por perfis de fragilidade revelou maior percentual de idosos viúvos e que vivem sozinhos entre
aqueles classificados como não-frágeis.
Segundo Woods et al.13, o idoso mais
fragilizado perde a independência e a
capacidade de morar sozinho. Isso é
corroborado pelo fato de que os idosos
não-frágeis da amostra do presente estudo mostraram-se mais independentes nas
AIVD e ABVD, o que também ocorreu
no estudo de Santos et al.12.
As patologias mais comuns observadas entre os idosos da amostra foram
hipertensão arterial e alterações visuais.
O estudo de Brandão et al.14 observou
aumento da pressão arterial em 60% dos
idosos estudados. Nesta pesquisa tal
condição apareceu em 56,7% da amostra. Alterações visuais foram encontradas em 86,7% da amostra, semelhante
ao encontrado por Sampaio e Boaret15,
que relataram 90% de alterações da vi-
são em idosos. Contudo, não foram encontradas diferenças estatisticamente
significativas dessas variáveis entre os
grupos de idosos frágeis, pré-frágeis e
não-frágeis, devido provavelmente ao tamanho reduzido da amostra e diferenças
no número de idosos em cada grupo.
Ainda em relação às comorbidades,
a análise neste estudo revelou que os
idosos não-frágeis apresentavam maior
média de doenças acumuladas que os
pré-frágeis, o que está de acordo com a
evidência de que fragilidade e comorbidade são conceitos distintos e podem
existir independentemente4. Wilson16
mostrou que, mesmo quando indivíduos com condições agudas e crônicas
eram excluídos da análise, 7% da população com mais de 65 anos era considerada frágil; e, quando analisados os
idosos com mais de 80 anos, tal percentual subia para 20%. Também no estudo de Santos et al.12, os idosos frágeis
tiveram quase duas vezes mais chances
de acumular comorbidades, mas 6,3%
deles não apresentavam doença alguma
e 6,3%, apenas uma.
O presente estudo mostra que os idosos pré-frágeis obtiveram média na escala de Lawton inferior à dos não-frágeis e
superior à dos frágeis, com diferenças significativas. Isso está de acordo com o reportado por Topinková17, de que a relação
entre incapacidade e fragilidade é evidenciada nas AIVD. Neste estudo, 33,3%
dos idosos frágeis necessitavam de alguma ajuda e 50% eram dependentes
de outras pessoas para realização das
AIVD. Já em relação às ABVD, não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre o desempenho
nos três grupos de idosos. Na linha de
base do estudo de Woods et al.13, dependência para pelo menos uma ABVD esteve mais presente no grupo de idosas consideradas frágeis do que nas não-frágeis.
As idosas que se tornaram frágeis durante o acompanhamento longitudinal foram
as que relataram maior dependência em
relação à ABVD.
Apesar de a diferença não ter sido significativa, a análise descritiva mostra que
a proporção de idosas que perderam pontos na escala de Katz-Brasil foi maior entre as idosas não-frágeis do que entre as
frágeis. Uma possível explicação para tal
fato é que a escala de Katz questiona
Fisioter Pesq. 2009;16(2)
2009;16(2):120-5
123
sobre a continência em um de seus domínios10, e algumas idosas não frágeis
da amostra relataram incontinência
urinária, e, por ser uma amostra pequena, este fato pode ter gerado essa diferença observada na análise descritiva.
A diferença na pontuação da FES-I foi
estatisticamente significativa entre os
grupos de idosos frágeis e pré-frágeis, e
entre frágeis e não-frágeis, indicando
maior medo de cair naqueles classificados como frágeis. Arfken et al.18 definiram de forma diferente a fragilidade, mas
ainda assim acharam correlação significativa entre fragilidade e medo de quedas. Kressig et al.20, usando o conceito
de fragilidade de Tinetti e Speechely19,
encontraram relação entre presença de
fragilidade e medo de cair.
Não foram encontradas diferenças
significativas entre os três grupos em relação à ocorrência ou não de quedas no ano
anterior à aplicação do questionário, apesar de a literatura relatar que idosos frágeis
têm maiores chances de sofrer quedas5. Isso
poderia ser explicado pelo fato de as
quedas relatadas por 66,7% dos idosos
da amostra do presente estudo terem
ocorrido, em sua maioria, enquanto realizavam atividades mais complexas (e
não em atividades da vida diária), ex-
pondo assim aqueles não-frágeis e mais
independentes a riscos nessas atividades.
CONCLUSÃO
Correlações positivas foram encontradas entre desempenho na escalas de
Lawton e FES-I, assim como entre desempenho na FES-I e número de quedas
no ano anterior. Tais correlações foram
observadas na análise da amostra como
um todo, sem divisão entre grupos de
acordo com fragilidade. A correlação
significativa entre FES-I e quedas está de
acordo com a evidência de que quanto
maior o medo de quedas no idoso, maior
o risco que ele tem de sofrer tal evento21.
Apesar de este estudo ter avaliado uma
amostra peculiar de um serviço e utilizado
instrumentação que restringia essa amostra àqueles idosos com bom nível cognitivo,
não-acamados e não-cadeirantes, foi possível traçar o perfil dos mesmos, tendo-se
encontrado diferenças significativas entre
os grupos de frágeis e pré-frágeis e entre
frágeis e não-frágeis. A proporção de fragilidade foi maior na amostra deste estudo do que a encontrada em estudos
prévios e houve diferenças significativas
entre os grupos de idosos de acordo com
as características de fragilidade, indicando que os mais frágeis apresentavam
maior incapacidade para atividades da
vida diária e mais medo de cair.
A relação inversa entre a FES-I e a de
Lawton ocorre devido à pontuação nas
duas escalas. A escala de Lawton considera mais independente aquele idoso
que alcança maior pontuação9, enquanto a FES-I considera assim aquele que
tem menos pontos acumulados ao longo
da escala11. No presente estudo, os idosos mais independentes e com maior
pontuação acumulada ao longo da escala de Lawton tiveram menos pontos
na FES-I. Cumming et al.22 encontraram
correlação positiva entre o medo de cair
avaliado pela FES-I e dependência em
atividades de vida diária, apesar de estas não terem sido operacionalizadas
pela escala de Lawton.
Com o crescimento dos estudos acerca desta temática, torna-se cada vez mais
importante identificar idosos frágeis e
pré-frágeis nos vários níveis de atenção
à saúde, permitindo a adequação dos
serviços às novas demandas relacionadas
ao envelhecimento. Espera-se, então, que
os dados obtidos venham a possibilitar
melhores tomadas de decisão clínica em
relação à prevenção e intervenção terapêutica em serviços de saúde similares, assim como acumular informações sobre
a síndrome da fragilidade.
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Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.16, n.2, p.126-31, abr./jun. 2009
ISSN 1809-2950
Avaliação da satisfação dos pacientes atendidos em uma clínica-escola
de Fisioterapia de Santo André, SP
Assessment of patient satisfaction with physical therapy at a college health
clinic in Santo André, SP
Eneida Yuri Suda1, Missae Dora Uemura2, Eliane Velasco1
Estudo desenvolvido na
clínica-escola da UniABC –
Universidade do Grande ABC,
Santo André, SP Brasil
1
Fisioterapeutas; Profas. Ms. do
Depto. de Fisioterapia da
UniABC
2
Fisioterapeuta especialista em
Patofisiologia; Profa. do Depto.
de Fisioterapia da UniABC
ENDEREÇO PARA
CORRESPONDÊNCIA
Eneida Yuri Suda
R. Masuzo Naniwa 105 ap.
TA84 Nova Mogilar
08773-535 Mogi das Cruzes SP
e-mail: [email protected]
APRESENTAÇÃO
out. 2008
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO
maio 2009
2009;16(2)
126 Fisioter Pesq. 2009;16(2):126-31
RESUMO: O objetivo deste estudo foi verificar o grau de satisfação com o atendimento
fisioterapêutico de 51 pacientes (idade 47,6±14,8 anos) que estavam recebendo
tal atendimento em uma clínica-escola que atende gratuitamente. O nível de
satisfação foi avaliado por um questionário brasileiro, validado, sobre a satisfação
dos pacientes com a fisioterapia. A ampla maioria (77%) dos pacientes eram de
baixo nível socioeconômico. Os resultados mostram que os pacientes apresentam
um alto nível de satisfação com o atendimento fisioterapêutico quanto à relação
paciente-terapeuta, aos membros da equipe de atendimento, à dinâmica e à infraestrutura da clínica. Respostas negativas figuraram apenas em algumas questões
referentes à infra-estrutura da clínica. A questão relativa à satisfação com o
atendimento em geral obteve 55% de respostas “excelente”, 27% de “ótimo” e
18% de “bom”. O paciente atendido pela clínica-escola tem a consciência que
um aluno/estagiário estará realizando o atendimento. Embora os resultados possam
ter sido influenciados pelo baixo status socioeconomico da clientela, que em geral
não alimenta altas expectativas, ainda assim apontam para uma opinião homogênea
positiva sobre a seriedade e competência do trabalho realizado pela equipe na
clínica.
DESCRITORES: Educação em saúde; Fisioterapia (especialidade); Prática de saúde
pública; Satisfação do paciente
ABSTRACT: The purpose of this study was to measure patient satisfaction at a publicly
offered physical therapy service in a university clinic. Fifty-one patients were
evaluated (mean age 47,6±14,8 years), who were being attended to at the health
clinic. Satisfaction level was assessed by means of a Brazilian-developed and
validated patient satisfaction physical therapy questionnaire. Most subjects (77%)
presented low social-economic status. Results showed a high level of satisfaction
as to therapist-patient relationship, staff, clinic dynamics, and facilities. Some
negative answers were observed as to the clinic’s convenience (location and parking
place). Answers to the question concerning overall satisfaction with the assistance
ranged from 55% “excellent”, 27% “very good”, to 18% “good”. The clinic patients
are aware that they will be attended to by students. Though results may have been
biased by patients’ low social-economic profile, who do not usually have high
expectations, still they point to a homogenous, positive evaluation of the seriousness
and competency of the clinic team work.
KEY WORDS: Health education; Patient satisfaction; Physical therapy (specialty);
Public health practice
Suda et al.
Fisioterapia e satisfação do paciente
INTRODUÇÃO
O sucesso do tratamento no cuidado
do paciente é em geral avaliado por
medidas clínicas. Questionários e outros
instrumentos são amplamente utilizados
por fisioterapeutas para medir a condição de saúde do paciente ou os resultados do tratamento realizado. Porém, a
satisfação do paciente é também uma
das dimensões envolvidas no cuidado de
pessoas – e pouco avaliada. A verificação
da qualidade do cuidado com o paciente
vem sendo focada na avaliação do conhecimento pessoal, das habilidades e da experiência do profissional da saúde. A satisfação está ligada de forma sinérgica à
qualidade técnica no que se refere ao
sucesso do tratamento1. Pacientes insatisfeitos apresentam menor adesão ao
tratamento.
A satisfação tem natureza multidimensional, ou seja, um indivíduo pode
estar extremamente satisfeito com um ou
mais aspectos de uma consulta ou uma
sessão de tratamento e simultaneamente
pode estar insatisfeito com outros aspectos2. Goldstein et al.1 definem satisfação no
âmbito da saúde como as reações do receptor dos cuidados de saúde – o paciente
– aos aspectos do serviço recebido. Assim,
a satisfação está sempre relacionada às expectativas do paciente, ou seja, pode
mudar quando as expectativas do paciente ou seus padrões comparativos mudam,
mesmo quando o objeto de comparação, no caso, o serviço de saúde recebido, permaneça constante1.
A satisfação do paciente no âmbito
da Fisioterapia ainda não é bem entendida, pois apenas recentemente têm sido
desenvolvidos instrumentos para a coleta de dados de forma padronizada por
estudos que avaliam o nível de satisfação de pacientes em atendimento
fisioterapêutico1,3-8. A fisioterapia apresenta uma série de características que
influenciam a satisfação do paciente: a
interação com o paciente sempre leva
mais tempo do que uma consulta médica, a terapia envolve maior contato físico,
geralmente exige a participação ativa do
paciente – e a terapia pode causar dor e
ser encarada como uma ameaça física5.
Rousch e Sonstroem3, que na virada do
século desenvolveram um questionário
para aferir a satisfação do paciente com o
atendimento em fisioterapia, concluíram
por quatro componentes relacionados à
satisfação: localização, custo, valorizadores (enhancers) e depreciadores (detractors).
Localização e custo referem-se, respectivamente, à facilidade de acesso à clínica
e à compatibilidade entre o valor percebido do serviço fornecido e seu custo (no caso
de serviços pagos), ambos relacionados
pois ao dinheiro e à conveniência.
Valorizadores são itens relativos ao ambiente físico do serviço e às interações
pessoais que enriquecem a experiência
terapêutica, levando-a a um nível acima
do minimamente aceitável. Depreciadores são elementos ligados ao reconhecimento das necessidades físicas e
interpessoais do paciente que, se ausentes, criam sentimentos negativos, mas,
quando presentes, não necessariamente geram sentimentos positivos, como as
percepções sobre o comportamento do
terapeuta. O fato de a localização e o
custo apresentarem-se como fatores
mostra que a satisfação do paciente com
o tratamento fisioterapêutico é bastante
influenciada por parâmetros não-clínicos.
É importante lembrar que a satisfação
do paciente com o cuidado recebido é
diferente da satisfação com os resultados obtidos com o tratamento. A satisfação do paciente com o atendimento reflete a qualidade do serviço recebido
durante o cuidado4.
As clínicas-escolas constituem serviços
ligados a instituições de ensino superior
em que o atendimento à população é feito por alunos que cursam a especialidade
em que é feito o atendimento. No caso
dos cursos de Fisioterapia, esse atendimento é feito por alunos do último ano
de graduação, sempre sob a supervisão de
um professor graduado em Fisioterapia e
que tenha, no mínimo, título de especialista. Assim, a relação paciente-terapeuta
apresenta características especiais, pois
os pacientes se submetem a serem atendidos por alunos. Embora a situação da
saúde pública do Brasil não permita que
todo cidadão brasileiro tenha acesso aos
cuidados básicos de saúde, o que poderia justificar essa situação – a de o paciente se submeter a ser atendido por acadêmicos, e não por profissionais já habilitados –, a experiência pessoal tem
mostrado que os pacientes parecem estar de certa forma satisfeitos com esse
modelo de atendimento.
O objetivo deste estudo é verificar o
grau de satisfação com o atendimento
fisioterapêutico dos pacientes atendidos
na clínica-escola da Universidade do
Grande ABC. A hipótese geral do estudo é a de que esses pacientes apresentam um alto nível de satisfação, embora
o atendimento não seja feito nos moldes
da assistência particular ou de instituições
públicas.
METODOLOGIA
A amostra incluiu 51 pacientes (idade média de 47,6±14,8 anos), sendo 20
do sexo feminino (39,2%) e 31 do sexo
masculino (60,8%). Do total de pacientes avaliados, 58,8% apresentavam patologias ortopédicas, 3,9% patologias
reumáticas e 37,3%, neurológicas. Os
pacientes foram selecionados aleatoriamente, independentemente da patologia
apresentada, entre os que estavam em
atendimento fisioterapêutico individual
durante a coleta de dados na Clínica de
Fisioterapia de uma universidade de Santo André. Foram excluídos pacientes
com menos de 18 anos de idade, pacientes que tinham freqüentado menos de
cinco sessões de fisioterapia, e pacientes
que tivessem inabilidade cognitiva para
responder ao questionário de avaliação.
Todos os pacientes avaliados assinaram
o termo de consentimento livre e esclarecido, aprovado pelo Comitê de Ética
da Universidade do Grande ABC.
O estudo foi desenvolvido no Centro
Multidisciplinar onde, além da Clínica
de Fisioterapia, encontram-se as clínicas de Enfermagem, Psicologia e Nutrição; há aí também um espaço aberto às
atividades práticas de Educação Física.
A Clínica de Fisioterapia atende as áreas
de Ortopedia, Reumatologia, Neurologia
e Neuropediatria no horário das 7h30min
às 17h50min, horário distribuído dependendo da disponibilidade e atribuição
de horas a cada supervisor. Em média
são realizados anualmente 3642 atendimentos (anos-base 2006, 2007 e 2008).
Os atendimentos variam entre abordagens terapêuticas individuais e oficinas
de socialização, orientação e prática de
atividades de vida diária.
Procedimentos
Para avaliar o nível de satisfação dos
pacientes foi utilizado o Questionário
sobre a satisfação dos pacientes com a
2009;16(2):126-31
Fisioter Pesq. 2009;16(2)
127
Fisioterapia, desenvolvido por Mendonça e Guerra7,8 na língua portuguesa, com
confiabilidade e validade constatadas.
Dividido em duas partes, a primeira consiste em 12 questões descritivas sobre idade, sexo, renda familiar, plano de saúde,
como o paciente tomou conhecimento
da clínica, experiências prévias com fisioterapia, diagnóstico e tratamento
fisioterapêutico atual. A segunda parte
consiste em 23 questões sobre a satisfação do paciente com diferentes aspectos
do tratamento fisioterapêutico recebido;
dessas, 20 referem-se a quatro componentes – interação paciente-terapeuta,
acesso e atendimento da recepção e do
pessoal de apoio, conveniência, e ambiente físico –, uma à satisfação geral
do paciente e as duas ultimas a intenções futuras do paciente em relação à
clínica7. Na segunda parte, as respostas
são dadas numa escala intervalar (tipo
Likert) pontuadas de 1 (péssimo) a 5 (excelente).
Para a coleta de dados, os pacientes
foram abordados por um dos pesquisadores durante o horário em que os pacientes não estavam em tratamento, sendo lhes solicitado que preenchessem o
questionário; foram também orientados
a fazer perguntas ao pesquisador caso
necessitassem de alguma orientação ou
não tivessem entendido alguma informação do questionário, e os pesquisadores
ficaram à disposição para eventuais esclarecimentos. Os pacientes foram ainda orientados a não levar o instrumento
para outro local, respondendo na própria
clínica; e a média de tempo de entrega
das respostas foi de aproximadamente
15 minutos.
Os dados foram analisados de forma
qualitativa e foi feita análise estatística
descritiva.
RESULTADOS
A Tabela 1 resume os dados sociodemográficos dos pacientes. Verificou-se
que quase a metade do grupo não tinha
concluído o ensino fundamental; e a grande maioria apresentou renda familiar de
até três salários mínimos. Dentre os entrevistados, 84,3% (n=43) não tinham
tipo algum de convênio de saúde e
15,7% (8), convênios variados.
2009;16(2)
128 Fisioter Pesq. 2009;16(2):126-31
Tabela 1
Escolaridade e renda familiar
dos pacientes da amostra
(n=51)
Variável
n
%
1o grau incompl. 25 49
Grau de
escolaridade 1o grau compl. 5 10
2o grau incompl. 5 10
2o grau compl.
Superior
Renda familiar 1-3 SM
4-6 SM
(em saláriosmínimos, SM) 7-10 SM
>10 SM
11
5
37
8
3
0
21
10
77
6
17
0
A adesão à Clínica de Fisioterapia
aconteceu por duas principais vias – indicação dada pelo médico (39%) e indicação por outro paciente (14%). Outras
fontes de informação corresponderam a
39% das respostas, e incluíram a indicação pelo posto de saúde (n=6), por um
familiar (n=4), autoprocura (n=3) e o
marketing da instituição – website, placas e folhetos (n=3).
Dos 51 pacientes entrevistados,
41,3% (n=29) nunca tinham realizado
fisioterapia antes; dos 22 que já haviam
se submetido a tratamento fisioterapêutico, 7 nunca tinham vindo à Clínica antes; 86,3% (n=44) estavam retornando
por aconselhamento médico, por agravamento da patologia ou por outro distúrbio não mencionado. Verificou-se que
70,6% (n=36) dos pacientes estavam
sendo atendidos por fisioterapeutas do
sexo feminino, 13,7% (n=7) do sexo
masculino e 15,7% (n=8) alternavam o
tratamento entre fisioterapeutas de ambos os sexos.
Foi observado ainda que 13,7% (n=7)
dos pacientes desconheciam o diagnóstico apresentado. Um terço do total já
tinham passado por várias sessões de fisioterapia, não sendo possível o levantamento exato do número de sessões; e
o restante (n=34) realizaram em média
14 sessões.
O Gráfico 1 sintetiza as respostas relativas à interação paciente-terapeuta. Das oito
perguntas a respeito, nenhum paciente
apontou a interação paciente-terapeuta
como ruim ou péssima; verificou-se que a
gentileza e o respeito com que os estagiários
e supervisores tratam os pacientes foram
os itens que lograram mais freqüentemente pontuação máxima.
Em relação ao acesso e ao atendimento da recepcionista e do pessoal de apoio
os resultados também variaram entre
bom, ótimo e excelente (Gráfico 2).
Nenhum paciente relatou maus tratos ou
indelicadeza durante o atendimento,
porém um relatou dificuldade em marcar o primeiro atendimento. Os itens
relacionados à conveniência – localização
da clínica e disponibilidade de estacionamento – apresentaram uma pequena por-
Interação paciente-terapeuta
Aprofundamento do fisioterapeuta na
avaliação do seu problema
10%
Oportunidade dada pelo fisioterapeuta para
expressar sua opinião
14%
Privacidade respeitada durante sua sessão de
fisioterapia
O respeito com que você é tratado pelo
fisioterapeuta
Gentileza do fisioterapeuta
Esclarecimento de suas dúvidas pelo
fisioterapeuta
Segurança transmitida pelo fisioterapeuta
durante o tratamento
Explicações oferecidas com clareza sobre seu
tratamento no primeiro contato
Bom
Ótimo
39%
41%
18%
12%
6%
49%
29%
27%
47%
59%
22%
69%
18%
12%
10%
16%
39%
41%
45%
39%
39%
37%
Excelente
Gráfico 1 Respostas às dimensões de avaliação da interação paciente-terapeuta
Suda et al.
Fisioterapia e satisfação do paciente
va, sendo que os demais indicam um
percentual de descontentamento que
não superou a satisfação, mas que merecem destaque.
Acesso e atendimento da equipe
Tempo de permanência na sala de espera após o
horário marcado
Disponibilidade de horários convenientes para
realização de seu tratamento
37%
29%
33%
0%
Facilidade na marcação das sessões após o primeiro
atendimento
35%
39%
25%
0%
27%
Facilidade na marcação do seu primeiro atendimento
após indicação e autorização
37%
33%
2%
Gentileza dos outros membros da equipe
Gentileza e disponibilidade no atendimento da
recepcionista
64,7%
27,5%
7,8%
0%
Ruim
33%
16%
0%
45%
0%
Bom
39,2%
39,2%
21,6%
Ótimo
Excelente
Gráfico 2 Respostas referentes ao acesso e ao atendimento por parte dos membros
da equipe
Ambiente físico
Facilidade para transitar dentro das
instalações da clínica
35%
37%
22%
2%
0%
Condições gerais de higiene da clínica
18%
2%
49%
29%
0%
Conforto do ambiente onde você realiza
a fisioterapia
0%
12%
Bom
22%
37%
16%
2%
Ruim
45%
0%
Conforto da sala de espera
Péssimo
33%
18%
Ótimo
Excelente
Gráfico 3 Respostas referentes ao ambiente físico da clínica
Conveniência
Disponibilidade
Disponibilidade
do
do
estacionamento
estacionamento
27%
33%
31%
2%
Localização
da
Localização da
clínica
clínica
24%
4%
Ruim
Bom
Ótimo
35%
35%
Excelente
Gráfico 4 Respostas referentes à conveniência da clínica
centagem de resultados negativos (ruim),
mas a resposta predominante foi “ótimo”
(Gráfico 4). Quanto ao ambiente físico
da clínica, verificou-se que nos itens relativos a conforto na sala de terapia e
higiene, quase a metade das respostas
alcançaram o conceito máximo (Gráfico 3). O conforto na sala de espera resultou em uma resposta intermediária,
na maioria dos casos. O item relacionado ao conforto na sala de terapia foi o
único a não apresentar resposta negati-
Quanto às respostas relativas à satisfação com o atendimento em geral, 55%
indicaram satisfação máxima, 27% consideraram-no “ótimo” e 18%, “bom”. As
respostas “ruim” e “péssimo” não foram
marcadas. À pergunta “Você retornaria
a essa clínica?” (em caso de necessidade de novo atendimento fisioterapêutico,
ou continuidade do mesmo), 78% responderam que retornariam “com certeza”, 18% “sim” e 4%, “possivelmente”.
Por fim, 76% (n=39) responderam que
“sim”, “com certeza” indicariam a clínica a outra pessoa.
DISCUSSÃO
O objetivo deste estudo foi verificar
o grau de satisfação com o atendimento
fisioterapêutico dos pacientes atendidos na
clínica-escola de uma universidade de Santo André. Observou-se que a população
atendida na Clínica é composta principalmente por indivíduos menor status socioeconômico. O fato de poucos pacientes terem
acesso a convênios médicos pode ser um
reflexo direto da condição de renda familiar abaixo de três salários mínimos.
A relação entre a qualidade dos serviços oferecidos na rede pública e privada é discutida por Saraiva e Capelão9,
que ressaltam a satisfação com o atendimento como o resultado de um processo dinâmico de avaliação do produto e dos meios de produção. Segundo
os autores, a capacidade de atender bem
é fundamental para a sobrevivência das
instituições públicas que atuam no setor de saúde com baixa eficácia. Um
estudo10 verificou que 67% das atividades
do fisioterapeuta estavam correlacionadas
à promoção da saúde e prevenção de patologias, realizadas de maneira coletiva, de acordo com a reestruturação das
estratégias promovidas na unidade básica de saúde. A promoção da saúde por
palestras e divulgações à comunidade
acaba por ser o foco das ações dos órgãos de saúde pública. Por esse motivo,
as atenções voltadas ao setor de cura e
reabilitação acabam ficando restritas, até
pela necessidade de tratamento individual.
Quanto aos convênios de saúde, a limi-
2009;16(2):126-31
Fisioter Pesq. 2009;16(2)
129
tação do número de sessões restritas ao
encaminhamento médico e reavaliação
clínica acaba por não permitir, na maioria
das vezes, a reabilitação adequada do
paciente. As clínicas-escola representam, portanto, uma alternativa para o
atendimento do paciente com seqüela
crônica, que exigirá uma atenção maior
e um tempo prolongado, ou para aquele que não tem recursos para ser atendido em uma clínica particular. O alto grau
de satisfação encontrado neste estudo, portanto, também pode ser conseqüência do
baixo nível socioeconômico, pois a falta
de recursos financeiros dessa faixa da população não lhe dá alternativas. Assim,
qualquer oportunidade que apareça em
um momento de necessidade acaba sendo recebida com grande satisfação11,
mesmo que a qualidade do serviço não
seja a ideal. Além disso, a percepção de
qualidade por parte do cliente está diretamente relacionada a seu nível de expectativa. Quando as expectativas são
excedidas, a percepção da qualidade do
serviço melhora12. Pacientes com menor
nível socioeconômico tendem por criar
menor expectativa devido à discriminação social, o que pode gerar, portanto,
maior percepção de qualidade, pois a
expectativa acaba sendo mais facilmente excedida.
Os resultados referentes às questões
sobre o conhecimento do diagnóstico
clínico, a procura do serviço de fisioterapia e a possibilidade de retorno ao
setor mostram que muitos ainda não
conhecem o papel da fisioterapia e seus
níveis de atuação. Embora a profissão de
fisioterapeuta seja relativamente nova, o
Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia
Ocupacional aponta um crescimento no
número de faculdades, que passaram de
69, em 2001, para mais de 300 em
200713. Mesmo assim, muitos ainda não
conhecem o papel da fisioterapia e seus
níveis de atuação. Para Nascimento et
al.14, a importância de entender e teorizar
sobre a história da estruturação do campo da Fisioterapia, compreendendo suas
raízes, torna-se fundamental para definir
quem é esse profissional e para traçar os
rumos da profissão no país.
A avaliação dos itens relacionados à conduta ética e profissional do fisioterapeuta e
da equipe em que está inserido mostrou que
a relação terapeuta-cliente é um dos principais pilares para se obterem resulta-
130
Fisioter Pesq. 2009;16(2):126-31
2009;16(2)
dos benéficos dentro da conduta realizada. A substituição da influência do
paradigma cartesiano, que gerava uma
visão mais tecnicista, por um modelo,
sugerido por diretrizes nacionais, de formação generalista e humanista, voltada
aos princípios bioéticos e culturais do
indivíduo e da coletividade, sugere que
a atenção voltada aos pacientes deve
seguir os mais altos padrões de qualidade e respeito.
Beattie et al.4 verificaram que a satisfação do paciente está diretamente relacionada aos elementos que se referem
à interação do paciente com seu
terapeuta. Assim, fatores como tempo
adequado gasto na terapia, terapeutas
que demonstram habilidades bem desenvolvidas de comunicação, explicações
claras sobre o tratamento a ser seguido
seriam mais importantes para a satisfação do paciente do que a localização
da clínica, a disponibilidade de estacionamento no local, ou a qualidade do
equipamento disponível. Monnin e
Perneger5 verificaram, ainda, que o item
“sensação de segurança” também deve
ser levado em conta. Beattie et al.6 observaram, em um estudo posterior, que
a satisfação do paciente está relacionada
com o grau com que o fisioterapeuta responde às perguntas do paciente, fornece
informações e se mostra respeitoso, revelando mais uma vez a importância da
interação entre o terapeuta e o paciente.
Nesta pesquisa os resultados pertinentes
ao respeito, gentileza, segurança e confiança demonstraram que, na opinião dos
pacientes, os estudantes do último semestre e a equipe envolvida na estrutura de
estágio direcionam sua atenção máxima
para a individualidade do paciente, tentando desenvolver um trabalho ético e
eficiente.
Em relação à infra-estrutura, embora
a clínica avaliada tenha uma área de 10
mil m2 e atenda aos requisitos do Centro
de Vigilância Sanitária da Secretaria de
Estado da Saúde15, tendo todas as áreas e
instalações revestidas com material adequado, ambiente com iluminação uniforme, boa ventilação, além de organização
e higiene, a obtenção de algumas respostas negativas nas questões referentes
à demora na marcação da primeira consulta, estacionamento e conforto na sala
de espera mostram que a adesão ao programa de tratamento deve interferir o
menos possível nas rotinas diárias dos
pacientes.
As respostas à pergunta referente ao
nível de satisfação geral mostraram um
alto nível de satisfação geral. O fato de
três quartos dos pacientes se sentirem
confortáveis na clínica, para retornar ou
mesmo indicá-la a familiares e amigos,
sugere uma visão humanística, crítica e
profissional por parte da equipe de estagiários e terapeutas.
A formação em saúde deve capacitar
o aluno a tornar-se um profissional com
atitudes que valorizem seu cliente como
pessoa humana. O acadêmico de fisioterapia, desde sua entrada no curso superior, deve compreender os princípios
de ética profissional, buscando padrões
de qualidade de forma crítica e reflexiva. A evolução e progressão dos módulos vinculando prática e teoria, em uma
rotina de observação, culminando com
os estágios supervisionados nos últimos
semestres, amplia valores nos alunos,
como o respeito pelo paciente, a quebra de preconceitos socioeconômicos e
a necessidade do trabalho em equipe.
Uma avaliação de caráter qualitativo e
a relação do nível de satisfação com o tipo
e tempo de patologia se faz necessária em
estudos futuros, a fim de se entender
melhor a percepção do paciente atendido na clínica-escola, e a relação dessa percepção com o nível de satisfação
apresentado.
CONCLUSÃO
Na Clínica-Escola, desde o primeiro
momento, o paciente tem a consciência
que um aluno-estagiário estará realizando o atendimento. Recebe orientação
sobre a conduta traçada, respeito e dedicação durante o tratamento. Esse acolhimento, combinado ao local harmonioso e que transmite confiança, pode
ter resultado na opinião positiva homogênea sobre a seriedade e competência
do trabalho realizado pela equipe, revelada por este estudo. A busca do aprimoramento da acessibilidade, eficiência e
eficácia no atendimento ainda constituem
um trabalho árduo, quando vinculado a um
atendimento gratuito, mas continua sendo meta desta equipe, voltada para a
excelência na qualidade do atendimento à saúde da população.
Suda et al.
Fisioterapia e satisfação do paciente
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Fisioter Pesq. 2009;16(2)
131
Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.16, n.2, p.132-6, abr./jun. 2009
ISSN 1809-2950
Biorretroalimentação para treinamento do equilíbrio em hemiparéticos por
acidente vascular encefálico: estudo preliminar
Biofeedback for training of standing balance in post-stroke hemiparetic
patients: a preliminary study
Antonio Vinicius Soares1, Ana Cláudia Oliveira de Lima Hochmüller2,
Patrícia da Silva2, Daniela Fronza2, Simone Suzuki Woellner3, Fabrício Noveletto4
Estudo desenvolvido no Nupen
– Núcleo de Pesquisas em
Neuroreabilitação do Curso de
Fisioterapia da FGG/ACE –
Faculdade Guilherme
Guimbala da Associação
Catarinense de Ensino,
Joinville, SC, Brasil
1
Fisioterapeuta Ms.;
Pesquisador do Nupen, FGG/
ACE
2
Graduandas no Curso de
Fisioterapia da FGG/ACE;
estagiárias no Nupen
3
Profa. Esp. do Curso de
Fisioterapia da FGG/ACE
4
Prof. Ms. do Curso de Sistemas
de Informação da FGG/ACE
ENDEREÇO PARA
CORRESPONDÊNCIA
A. Vinícius Soares – Nupen/
FGG
R. São José 490 Centro
89.202-010 Joinville SC
e-mail: [email protected]
APRESENTAÇÃO
nov. 2008
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO
maio 2009
2009;16(2)
132 Fisioter Pesq. 2009;16(2):132-6
RESUMO: Como disfunções do equilíbrio são freqüentes nos pacientes hemiparéticos
por acidente vascular encefálico (AVE), o treinamento do equilíbrio é meta
fundamental em seu tratamento. O objetivo deste estudo preliminar foi verificar os
efeitos da biorretroalimentação, por treinamento em plataforma instável
computadorizada, em seis pacientes hemiparéticos por AVE (três homens e três
mulheres, com idade média de 56,2 anos). Os pacientes foram avaliados, antes e
após o tratamento, quanto a mobilidade funcional (pelo teste de levantar e caminhar
cronometrado, TUGT na sigla em inglês), alcance funcional, qualidade de vida
relacionada à saúde (pelo Perfil de Saúde de Nottingham) e equilíbrio sobre prancha
instável. O treinamento foi feito na mesma prancha, em 23 sessões de cerca de 30
minutos cada, durante oito semanas. Os resultados indicam melhora do equilíbrio,
em média, de 119,1% com pés separados e de 79,6% com pés juntos (p<0,001);
melhora média do alcance funcional de 15% (p<0,001); melhora da mobilidade
de 25,6% (p<0,001); e discreta melhora nos escores da auto-avaliação de qualidade
de vida. O programa de treinamento resultou pois em melhoras significativas na
amostra estudada, sugerindo que a biorretroalimentação do equilíbrio pode ser
uma ferramenta valiosa na reabilitação de pacientes hemiparéticos em decorrência
de AVE.
DESCRITORES: Biorretroalimentação; Equilíbrio musculoesquelético; Paresia
ABSTRACT: Since balance dysfunction is frequent among poststroke hemiparetic
patients, balance training is a fundamental goal in their rehabilitation. The purpose
of this study was to assess the effects of biofeedback balance training on an unstable
computerized platform in six hemiparetic patients (three men and three women,
mean age 56,2 years old). Subjects were assessed, before and after treatment, as to
functional mobility (by the timed up-and-go test, TUGT), functional reach, healthrelated quality of life (by the Nottingham health profile), and as to equilibrium on
the unstable platform. The training on an unstable computerized platform took
place along 23, 30-minute sessions for 8 weeks. Results showed significant
improvement (p<0.001) in standing balance, of 119.1% with feet apart, and of
79.6% with feet together; a 15% increase (p<0.001) in functional reach; a 25.6%
improvement in TUGT (p<0.001); and a slight improvement in self-reported quality
of life. The program brought thus significant improvements for the sample studied,
suggesting that the biofeedback balance training as here proposed may be a valuable
tool in the rehabilitation of stroke hemiparetic patients.
KEY WORDS: Biofeedback; Musculoskeletal equilibrium; Paresis
Soares et al.
Biorretroalimentação do equilíbrio no AVE
INTRODUÇÃO
O tratamento e a reintegração dos
adultos com lesão cerebral resultante de
um acidente vascular encefálico (AVE)
é uma tarefa importante e desafiadora,
não apenas devido à complexidade das
funções perdidas, mas também porque
o AVE constitui a causa mais freqüente
de incapacidade física e mental1. A definição de AVE pela Organização Mundial
de Saúde é “um sinal clínico de rápido
desenvolvimento de perturbação focal
da função cerebral, de suposta origem
vascular e com mais de 24 horas de duração”. Essa definição não abrange pois
as crises isquêmicas transitórias, em que
os sinais de lesão cerebral duram até 24
horas2.
A hemiparesia é o quadro clínico mais
comum resultante do AVE. Na hemiparesia
o deficit do controle postural é um dos
comprometimentos mais importantes,
com repercussões muitas vezes graves na
funcionalidade dos pacientes acometidos3,4. O controle postural envolve o controle da posição do corpo no espaço para
estabilidade e orientação. A orientação
postural é definida como a capacidade
de manter uma relação adequada entre
os segmentos do corpo e entre o corpo
e o ambiente para uma determinada tarefa. Envolve também a estabilidade
postural ou equilíbrio4.
4
Segundo Shumway-Cook e Woollacott ,
na maioria das tarefas funcionais mantemos a orientação vertical do corpo. No
processo de estabelecer a orientação vertical, utilizamos referências sensoriais
múltiplas, incluindo a gravidade (sistema vestibular), a superfície de apoio,
propriocepção (sistema somatossensorial) e a relação do nosso corpo com
os objetos no ambiente (sistema visual).
O corpo humano luta constantemente
contra a gravidade para manter-se na
posição ortostática; mesmo durante a
posição estática, são necessárias pequenas ações musculares para manter o
equilíbrio. Estratégias motoras posturais
são as organizações de movimentos adequados para controlar a posição do corpo
no espaço levando o indivíduo a desenvolver estratégias de equilíbrio antes
mesmo da ocorrência de um evento que
possa perturbá-lo5.
Num indivíduo que tenha sofrido um
AVE, as reações posturais automáticas
não funcionam no hemicorpo afetado,
o que o impede de usar uma variedade
de padrões normais de postura e movimento, essenciais para a realização de
atividades da vida diária e de atividades
funcionais tais como transferências, rolar, sentar, manter a posição em pé, andar4. O retreinamento da locomoção e
controle postural são componentes essenciais na reabilitação dos pacientes
acometidos por AVE6. Ryerson et al.7
mostraram que pacientes com hemiparesia por AVE exibem disfunção no controle de tronco e no equilíbrio pelo
deficit proprioceptivo.
Para a reabilitação de pacientes
hemiparéticos por AVE, os estudos consultados recorrem à biorretroalimentação no
treinamento do equilíbrio8-13, a maioria utilizando plataforma de força para essa finalidade8-12. Mas os resultados ainda são
controversos. Esta pesquisa visou verificar os efeitos terapêuticos da biorretroalimentação no treinamento do equilíbrio em um grupo de pacientes
hemiparéticos por AVE utilizando um
sistema para avaliação e treinamento do
equilíbrio que inclui uma plataforma
“instável”, o que difere substancialmente
dos estudos consultados.
METODOLOGIA
O projeto de pesquisa foi aprovado
pelo Comitê de Ética em Pesquisa do
Hospital Municipal São José, de Joinville,
SC. Os pacientes convidados a participar receberam explicação de todos os
procedimentos envolvidos, bem como
dos possíveis riscos e benefícios, tendo
assinado o termo de consentimento livre e esclarecido.
Este estudo quasi-experimental teve
delineamento do tipo séries de tempo14,
tendo sido aplicados três pré-testes, em
dias alternados, anteriores à fase de treinamento, e três pós-testes, também em
três dias alternados.
A pesquisa envolveu seis pacientes
com hemiparesia por AVE atendidos no
ambulatório de Fisioterapia Neurológica
(convencional) da Faculdade Guilherme
Guimbala em Joinville, SC. Eram três homens e três mulheres, com idade média
de 56,2±13,0 anos e tempo médio de
lesão de 25,7±25,6 meses, sendo cinco
isquêmicos e um hemorrágico, todos
destros; quatro tinham lesão hemisférica
esquerda e dois à direita. Todos os pacientes deambulavam e não utilizavam dispositivo algum de auxilio à marcha. O
critério de inclusão no estudo foi
hemiparesia por AVE; critérios de exclusão incluíram afasia sensorial, deficit visual e/ou auditivo e deficit cognitivo. Os
pacientes foram avaliados quanto ao
equilíbrio, mobilidade funcional e qualidade de vida, antes e após o programa
de treinamento.
Avaliação e treinamento
do equilíbrio
O equilíbrio foi avaliado e treinado
com o paciente em pé sobre uma prancha instável que registra e mostra o nível de oscilação corporal. O protótipo
foi desenvolvido no Laboratório de
Instrumentação do Cefid – Centro de
Ciências da Saúde e do Esporte da Universidade do Estado de Santa Catarina.
Trata-se de uma prancha de equilíbrio
fundida em resina e fibra de vidro que,
na superfície inferior (convexa), apresenta cinco anéis concêntricos de sensores,
divididos e isolados em oito partes,
totalizando 40 sensores de contato dispostos radialmente em um diâmetro de
76,00±0,01 mm. A prancha mede 50 cm
por 40 cm, com altura de 2,5 cm. Os
sensores são conectados por um cabo
chato (flat cable) e porta paralela a um
PC onde os dados são coletados e armazenados. O programa específico
(software) também foi desenvolvido pela
equipe do Laboratório de Instrumentação do Cefid8 (Figura 1).
A base inferior que sustenta a prancha tem uma placa metálica (alumínio)
de 30 X 30 cm, alimentada eletricamente
(5 V) por um gerador de tensão. O contato da superfície convexa da prancha
na placa metálica forma um circuito de
varredura. Ao subir na prancha, o paciente está sobre uma superfície instável; as
oscilações do movimento da prancha
são então captadas pelos sensores na
parte inferior da prancha15. Os sinais
captados pelos sensores são utilizados
pelo programa para avaliar o equilíbrio
de tronco na posição em pé: os sensores
2009;16(2):132-6
Fisioter Pesq. 2009;16(2)
133
ro de respostas positivas implica maior
comprometimento da qualidade de vida
relacionada à saúde, na percepção do
paciente.
A análise dos dados foi feita por estatística descritiva (média, desvio padrão e diferenças percentuais). Para testar as diferenças entre os valores de pré e pós-testes dos
instrumentos de medida foi utilizado o
teste t de Student (p<0,001), exceto para
o Perfil de Saúde de Notthingham, no
qual se procedeu apenas à comparação
entre os valores de pré e pós-teste, calculando as diferenças percentuais.
RESULTADOS
Figura 1
Sistema de biorretroalimentação do equilíbrio (setas: tela do software e
face inferior da prancha)
estão dispostos em cinco níveis, variando de um – nível central (maior estabilidade) a cinco – nível mais periférico
(menor estabilidade); assim, maiores
valores de oscilação indicam maior instabilidade. O programa tem ainda um
sistema para cadastro de dados dos sujeitos (registrando informações como dados
pessoais, altura, massa e dominância). Um
sistema de retroalimentação visual também é disponibilizado ao examinador e
ao sujeito examinado, para visualização
do desempenho durante a execução do
teste. Essa característica do sistema desenvolvido permite tanto avaliar o equilíbrio como efetuar o treinamento dessa
função15.
Os testes, antes e após o treinamento, consistiram em: 1 – manter-se em pé
na prancha com os pés juntos e os braços soltos ao longo do tronco, de olhos
abertos, durante 30 segundos; e 2 – o
mesmo, durante o mesmo tempo, porém
com os pés separados.
O programa de reabilitação consistiu
no treinamento do equilíbrio por meio
da prancha de equilíbrio instrumentada,
com base nos achados dos pré-testes. O
tempo aproximado de cada sessão foi
de 30 minutos, consistindo em quatro
séries de cinco minutos, duas com os
pés juntos e duas com os pés separados
(com distância entre os calcanhares de
10 cm e antepés livres), com dois minutos
de repouso sentado entre as séries. Para a
2009;16(2)
134 Fisioter Pesq. 2009;16(2):132-6
retroalimentação visual, a distância entre
os olhos e o monitor foi de 70 cm, com
olhar na horizontal. O programa ocorreu numa freqüência de três vezes por
semana, durante oito semanas, totalizando 23 sessões.
Avaliação da mobilidade
funcional e qualidade de vida
A mobilidade funcional foi avaliada
pelo TLCC – teste de levantar e caminhar cronometrado (em inglês TUGT,
timed up-and-go test)17, que considera
as habilidades de passar de sentado para
em pé, caminhar, girar o corpo em movimento e passar de em pé para sentado. Quanto menor o tempo de realização, melhor o desempenho. E ainda, pelo
teste de alcance funcional18: o paciente
é posicionado em pé a cerca de 5 cm
de uma parede onde se marcará a medição; solicita-se que realize a flexão
anterior do tronco ao máximo, com
flexão do ombro, cotovelo e dedos em
extensão. Mede-se então a distância em
centímetros entre o início e o final do alcance do membro superior. Para a faixa
etária avaliada nesta pesquisa, que foi de
56,2±13 anos, é esperado um alcance de
37,8±5,6 cm por homens e 35,1±5,6 cm
por mulheres4. Para avaliar a qualidade
de vida, foi aplicado o Perfil de Saúde
de Notthingham16, que consiste em um
conjunto de 38 questões onde o núme-
Os resultados obtidos são apresentados segundo o parâmetro avaliado.
Avaliação do equilíbrio: foi analisado
com base no nível médio de ativação dos
sensores da prancha. Os valores médios
de ativação dos sensores na prancha de
equilíbrio com os pés juntos nos pré-testes foi de 2,03±0,53 e, nos pós-testes,
de 1,13±0,12, indicando melhora de
79,6% (p<0,001) na estabilidade média
do grupo. Nos testes com os pés separados, a média nos pré-testes foi de
2,52±0,52 e, nos pós-testes, de 1,15±0,14,
apontando uma melhora do equilíbrio com
os pés separados de 119,1% (p< 0,001).
As Figuras 2 e 3 apresentam a comparação entre os valores de pré e pós-testes
de cada sujeito com os pés juntos e separados, respectivamente.
Mobilidade funcional: o tempo médio
do grupo no TLCC nos pré-testes foi
11,3±2,7 s e, nos pós-testes, de 9,0±2,6 s.
O decréscimo médio do tempo de execução foi de 2,3 s (25,6%, p< 0,001). No
teste de alcance funcional, a distância
média do grupo nos pré-testes foi de
27,4±7,8 cm e, nos pós-testes, foi de
31,5±5,3 cm. Houve em média um aumento de 4,1 cm (15%, p<0,001). Embora esse aumento seja significativo
quando se comparam os valores de pré e
pós-testes, estes ainda são inferiores aos
esperados na mesma faixa etária saudável4.
Qualidade de vida relacionada à saúde:
quatro pacientes obtiveram melhora em
seus resultados comparando-se o pré-teste
e pós-teste do Perfil de Saúde de
Nottingham. Os resultados de uma pa-
Soares et al.
Biorretroalimentação do equilíbrio no AVE
3
2,6
Pré-testes
Pós-testes
2,4
Nível de ativação dos sensores
2,5
2,3
2,1
2
1,6
1,5
1,3
1,2
1,2
1,2
1,1
1
1
0,5
0
0
1
Figura 2
2
3
4
Pacientes
5
Oscilação na prancha de equilíbrio com pés juntos, antes e após o
tratamento (valores médios do nível de ativação dos sensores)
3,5
Pré-testes
3,2
Pós-testes
2,8
3
Nível de ativação dos sensores
6
2,7
2,5
2,5
2,2
2
1,7
1,5
1,3
1,3
1,2
1,1
1
1
1
0,5
0
1
Figura 3
2
3
Pacientes
4
5
6
Oscilação na prancha de equilíbrio com pés separados, antes e após o
tratamento (valores médios do nível de ativação dos sensores)
ciente apresentaram-se inalterados, pois
já apresentava pontuação máxima. Houve discreta piora nos resultados obtidos por
outra paciente. A média do grupo no préteste foi de 18,3% de comprometimento
da qualidade de vida, reduzindo-se para
13% no pós-teste.
DISCUSSÃO
Conforme várias pesquisas, fica bastante claro o deficit de equilíbrio em
pacientes hemiparéticos por AVE3,4,7,8,10.
Dentre as técnicas para o treinamento
dessa função, ainda não existe consenso
sobre os benefícios da biorretroalimentação; mas os resultados aqui obtidos
mostram um evidente benefício desse
treinamento na amostra estudada. Estudos utilizando biorretroalimentação por
plataforma de força encontraram melhora na simetria da distribuição de peso,
mas não incrementaram as reações de
equilíbrio, quando comparados à utilização de terapia convencional8,9. Walker et
al.10 também não observaram vantagens
no uso da técnica em pacientes agudos.
Heller et al.11 compararam a fisioterapia
convencional com um programa de treinamento em plataforma de força em 26
pacientes hemiparéticos divididos randomicamente em dois grupos, tendo
avaliado a marcha por cinemetria e o
equilíbrio por estabilometria em plataforma de força. Embora ambos os grupos tenham apresentado melhora na
marcha e no equilíbrio, o grupo da pla-
taforma de força obteve vantagens em
relação aos ajustes antecipatórios do
equilíbrio. Yavuzer et al.12 avaliaram os
efeitos do treinamento do equilíbrio na
marcha de pacientes hemiparéticos após
AVE, usando parâmetros cinéticos e
cinemáticos, e encontraram vantagens
do uso da técnica quando comparada à
fisioterapia convencional. Mudie et al.13,
em um estudo piloto controlado e randomizado, investigaram a influência do
treinamento de duas semanas (dez sessões) na simetria de distribuição de peso;
os 40 pacientes foram divididos em 4
grupos (tarefa específica de alcance,
Bobath, biorretroalimentação por plataforma de força e controle). O treinamento com retroalimentação visual produziu
melhoras significativas e duradouras até
12 semanas após o término do tratamento, mostrando um efeito de retenção.
No presente estudo, a melhora do
equilíbrio foi observada por instrumentação biomecânica e pelo teste de alcance funcional. Dados semelhantes
foram obtidos por Niam et al.19 ao estudar o equilíbrio e o comprometimento
físico após AVE, verificando ótima correlação entre dados da plataforma de
força e escalas clínicas de equilíbrio.
Como demonstrado por Garland et
al.20 por eletromiografia dos isquiotibiais,
a maioria dos pacientes hemiparéticos
apresentam estratégias de ajustes
antecipatórios no lado afetado diante de
perturbações, porém alguns utilizam
essas ativações no lado não-parético. Neste estudo o comportamento dos pacientes
sobre a prancha não foi estudado quanto
às estratégias utilizadas, apenas a maneira como mantinham orientados seus centros de gravidade enquanto observavam
sua oscilação no monitor. As informações quanto à cinemática e atividade
eletromiográfica dos padrões de movimento utilizados nas estratégias para
manter o equilíbrio nesses pacientes podem ser pesquisadas de forma combinada em futuros estudos, para elucidar
como essas variáveis interagem.
CONCLUSÃO
Os resultados deste estudo preliminar
sugerem potenciais benefícios da
biorretro-alimentação do equilíbrio para
pacientes hemiparéticos por AVE. Os sinais de melhora no quadro clínico dos
2009;16(2):132-6
Fisioter Pesq. 2009;16(2)
135
pacientes deveram-se ao treinamento,
repercutindo diretamente na melhora do
equilíbrio, como também observado pelos testes TLCC e de alcance funcional.
Tais alterações melhoraram a percepção
da qualidade de vida, como verificado
pelo Perfil de Saúde de Nottingham. A
biorretroalimentação do equilíbrio mostrou ser uma ferramenta potencialmente
valiosa para o treinamento dessa popula-
ção de pacientes, podendo também representar uma alternativa para encorajar
terapeutas no atendimento dos pacientes
crônicos, onde tradicionalmente o prognóstico de reabilitação é reservado.
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2009;16(2)
136 Fisioter Pesq. 2009;16(2):132-6
Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.16, n.2, p.137-42, abr./jun. 2009
ISSN 1809-2950
Efeito da técnica isostretching no equilíbrio postural
Effect of the isostretching technique on postural balance
Vanessa Vilela Monte-Raso1, Paula Araújo Ferreira2, Marcelo Silva de Carvalho3,
Jane Godoy Rodrigues3, Cristiano Costa Martins3, Denise Hollanda Iunes4
Estudo desenvolvido na
Clínica de Fisioterapia da
Unifenas – Universidade José
do Rosário Velano, Alfenas,
MG, Brasil
1
Fisioterapeuta; Profa. Dra. do
Curso de Fisioterapia da
Unifenas
2
Graduanda em Fisioterapeuta
na Unifenas, bolsista de
iniciação científica
3
Graduandos em Fisioterapeuta
na Unifenas
4
Fisioterapeuta; Profa. Dra. do
Curso de Fisioterapia da
Universidade Federal de
Alfenas, MG
ENDEREÇO PARA
RESUMO: O objetivo do estudo foi avaliar os efeitos da técnica isostretching em
alterações posturais. Doze voluntários com aumento da cifose torácica, escoliose,
protrusão de cabeça e ombros foram tratados com a técnica isostretching três vezes
por semana em sessões de 1 hora cada. Foram divididos em dois grupos, segundo
o número de sessões de tratamento que freqüentaram: grupo 1 (n=8), mais de 30
sessões e grupo 2 (n=4), menos de 30 sessões. Para a avaliação postural, os
voluntários foram fotografados antes e após o tratamento no plano frontal anterior
e posterior, no plano sagital ereto e em flexão anterior de tronco. Os dados foram
analisados estatisticamente, considerando o nível de significância de 5%. No grupo
1, os resultados foram satisfatórios quanto às modificações no alinhamento do
triângulo de Talles (∆T) esquerdo (f=0,00), ângulo coxofemoral (f=0,00), ângulo
tibiotársico (f=0,00) e alinhamento da coluna torácica (f=0,01). Nos indivíduos do
grupo 2, os resultados foram satisfatórios quanto ao alinhamento do joelho esquerdo
(f=0,03), ∆T esquerdo (f=0,00), ∆T direito (f=0,01), alinhamento da coluna torácica
(f=0,03) e alinhamento da cabeça (f=0,02). A técnica de isostretching, nas posturas
adotadas neste estudo, foi pois eficaz no alinhamento da coluna vertebral torácica
nos dois grupos, bem como na melhora da flexibilidade no grupo 1; entretanto,
não houve melhora nas assimetrias posturais no plano frontal, independente do
número de sessões freqüentadas pelos sujeitos.
DESCRITORES: Curvaturas da coluna vertebral/reabilitação; Exercícios de
alongamento muscular; Fotogrametria; Postura
CORRESPONDÊNCIA
Denise H. Iunes
R. Prof. Carvalho Junior 53 ap. 901
37130-000 Alfenas MG
e-mail:
[email protected]
O estudo recebeu apoio da
Fapemig – Fundação de Amparo
à Pesquisa de Minas Gerais
APRESENTAÇÃO
nov. 2008
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO
maio 2009
ABSTRACT: The purpose was to assess the effects of the isostretching technique on
postural changes. Twelve subjects with increased thoracic kyphosis, scoliosis, head
and shoulders protusion were treated with the isostretching technique in three
one-hour weekly sessions. Subjects were dividded into two groups according to
the number of sessions attended: group 1 (n=8), over 30 sessions; and group 2
(n=4) attended less than 30 sessions. In order to assess postural changes, subjects
were photographed before and after treatment at anterior and posterior frontal
planes, at upright sagittal plane and at anterior trunk flexion. Data were statistically
analysed and significance level set at 5%. Group 1 results were satisfactory as to
changes in letf Talles triangle (T∆) alignment (f=0.00), hip angle (f=0.00), tibiotarsal
angle (f=0.01), and thoracic kyphosis alignment (f=0.00). In group 2 subjects, results
were satisfactory as to left knee angle (f=0.03), left T∆ f=0.00) and right T∆ (f=0.01)
alignment, thoracic kyphosis (f=0.03) and head alignment (f=0.02). The isostretching
technique, in the postures here adopted, was efficient in aligning thoracic spine in
both groups and in improving flexibility in group 1; however, regardless of the
number of sessions attended, no changes in frontal plane posture asymmetries were
noticed.
KEY WORDS: Muscle stretching exercises; Photogrammetry; Posture; Spinal
curvatures/rehabilitation
Fisioter Pesq. 2009;16(2):137-42
2009;16(2)
137
INTRODUÇÃO
As alterações posturais consistem em
modificações no alinhamento corporal,
produzindo um excesso de tensão
muscular1-3, que muitas vezes surgem
por compensações, ou seja, o corpo faz
adaptações para compensar um quadro
álgico ou devido a tensões musculares.
Essas adaptações geram mais tensões
musculares que, se persistirem, favorecem o desenvolvimento de mais deformidades1,4. Para prevenir ou tratar tais
alterações, o uso de técnicas de alongamento global está sendo cada vez mais
utilizado. Uma dessas técnicas é o
isostretching, que prepara e protege a
musculatura de uma retração que possa
vir a sofrer por falta de atividade física
adequada, sendo indicada para todas as
idades e capacidades físicas 5 . Essa
técnica foi desenvolvida em 1974 por
Bernard Redondo e consiste na manutenção de posturas de alongamento
durante uma expiração prolongada,
enquanto o indivíduo realiza uma contração isométrica excêntrica da musculatura vertebral profunda5-8. Esta é considerada uma técnica global porque as
posturas utilizadas objetivam manter
posicionamento vertebral de engrandecimento, favorecem o alongamento
simultâneo dos músculos posteriores da
coluna e membros e, ao mesmo tempo,
mantêm os paravertebrais profundos
com uma tonicidade que favorece a manutenção da postura correta adquirida6.
Em geral, é aplicada ao longo de várias
sessões.
Segundo Fedorak et al.9, a quantificação de alterações posturais não é
comumente utilizada em clínicas e escolas de fisioterapia e pouca atenção
tem sido dada à mensuração dos desvios posturais em trabalhos científicos.
Esses autores ressaltam a importância da
avaliação quantitativa. Para Munhoz et
al.10, um dos caminhos para estudar as
alterações posturais é a análise postural
quantitativa, em que os desvios são numericamente quantificados.
Na literatura, quase não se encontram
estudos que avaliam os efeitos do
isostretching em alterações posturais,
sendo que os poucos encontrados apresentam dados qualitativos obtidos por
meio de fotografia11, ou radiografia8,11,12,
138
Fisioter Pesq. 2009;16(2):137-42
2009;16(2)
ou avaliam apenas um segmento da postura corporal5,7. Everett e Patel13, em uma
revisão sistemática sobre tratamentos
conservadores de escoliose, apontam a
escassez de estudos com tratamento
conservador. Alguns poucos trabalhos
encontrados relacionam o uso de técnicas globais com algumas situações como
espondilite anquilosante14,15; alterações
na marcha de idosos7; flexibilidade, força muscular e amplitude de movimento16,17; qualidade de vida e dor cervical17.
No entanto, para Moreno et al.3, ainda
há falta de estudos comprovando a eficácia de técnicas de tratamento global,
como a reeducação postural global
(RPG).
O uso do registro fotográfico tem sido
preconizado para avaliações posturais.
Esse recurso propicia um valioso registro das transformações posturais ao longo do tempo, às vezes sutis, e permitindo inter-relacionar diferentes partes do
corpo que são difíceis de mensurar18. A
técnica, cuja confiabilidade já foi testada e descrita na literatura14,21, deve ser
utilizada com rigor metodológico12.
Esta pesquisa teve como objetivo avaliar o efeito da técnica isostretching na
melhora de alterações posturais em pacientes, avaliados por meio de fotogrametria computadorizada, bem como
verificar eventual interferência do número de sessões de alongamento na melhora dessas alterações.
METODOLOGIA
Foram recrutados 19 voluntários de
ambos os sexos, escolhidos aleatoriamente dentre os pacientes na fila de espera da Clínica de Fisioterapia da
Unifenas – Universidade José do Rosário Vellano, Alfenas, MG. Os critérios de
inclusão foram pacientes com aumento
da cifose torácica, escoliose, protrusão
de cabeça, protrusão de ombro e genum
recurvatum e que indicaram estar em
bom estado geral. Como critérios de
exclusão foram adotados problemas
cardiorrespiratórios e neurológicos,
deformidades graves, fraturas na coluna
e implantes metálicos. Todos os voluntários receberam informações para a
participação no estudo e assinaram um
termo de consentimento formal em participar. O protocolo experimental deste
estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa envolvendo seres humanos da Unifenas.
O previsto era atender 14 voluntários em
40 sessões de tratamento, recrutando-se
19 para dar margem a desistências. No
entanto, apenas 12 prosseguiram o tratamento (a perda amostral deveu-se a desistência), sendo estes então divididos
em dois grupos: grupo 1 (n=8) com média de idade de 20,3±7,3 anos, que se
submeteram a mais de 30 sessões de tratamento; e grupo 2 (n=4), com média
de idade de 20,3±3,8 anos, que freqüentaram menos de 30 sessões de tratamento.
Avaliação postural: todos os voluntários foram fotografados antes e depois
de finalizar o tratamento no plano frontal anterior e posterior, no plano sagital
ereto e em rolamento. As fotografias foram realizadas em trajes sumários (biquíni ou sunga) sem adornos e descalços. Todos os registros fotográficos foram
feitos tomando os seguintes cuidados:
padronização do posicionamento do
voluntário e da máquina fotográfica; posicionamento da câmera sobre tripé nivelado (a câmera sempre paralela ao
chão); sem zoom para evitar distorções;
e todas as fotografias foram tiradas pelo
mesmo examinador18. Os registros fotográficos foram realizados com duas máquinas digitais (ambas Sony Cyber-shot,
uma com resolução de 5,1 megapixels,
outra com 7,2 megapixels), posicionadas
a uma distância do voluntário de 2,4 m,
sobre um tripé a 1 m do chão, para fotografar o corpo todo19. Os registros fotográficos digitais obtidos foram
dimensionados em 2048 x 1536 pixels
e armazenados para posterior análise
fotogramétrica pelo programa ALCimagem2000 (Manipulando Imagens, v.1.5).
Foram marcados os seguintes pontos
anatômicos bilateralmente no corpo dos
voluntários (com etiquetas autoadesivas),
como referência para traçar os ângulos
a serem avaliados na fotogrametria: articulação acrômio clavicular, espinha
ilíaca ântero-superior (EIAS), espinha
ilíaca póstero-superior (EIPS), ângulo
inferior da escápula, tuberosidade da tíbia, protuberância occipital, processos
espinhosos de C4, C7, T7, T12, L3, L5, trocânter maior, cabeça da fíbula, maléolo
lateral, cabeça do 5o dedo. Os pontos
Monte-Raso et al.
Isostretching e equilíbrio postural
APC
ALC
AAC
AIE
ACT
'Td
'Te
ALL
AEIPS
AEIAS
Fjo
Ajd
ATT
Aje
Figura 1
Ângulos avaliados na vista anterior e posterior: AAC = ângulo acrômio
clavicular; DTd = triângulo de Talles direito; DTe = triângulo de Talles
esquerdo; AEIAS = ângulo das espinhas ilíacas ântero-superiores; Ajd =
angulação do joelho direito; Aje = angulação do joelho esquerdo; AIE =
ângulo inferior da escápula; AEIPS = ângulo das espinhas ilíacas pósterosuperiores. Ângulos avaliados na vista lateral direita: APC = ângulo de
protrusão da cabeça; ALC = ângulo da lordose cervical; ACT = ângulo da
cifose torácica; ALL = ângulo da lordose lombar; FJo = ângulo flexo de
joelho; ATT = ângulo tibiotársico
foram sempre marcados pelo mesmo
examinador, utilizando-se uma haste de
plástico flexível cor laranja, para melhor
visualização no plano sagital.
A partir desses pontos, foram traçados os seguintes ângulos (a pertinente
confiabilidade da fotogrametria foi testada por Iunes et al.19): ângulo da articulação acrômio clavicular (AC), alinhamento do joelho (AJ), triângulo de Talles
direito (∆Td), triângulo de Talles esquerdo (∆Te), ângulo inferior da escapula (IE),
ângulo das espinhas ilíacas póstero-superiores (PS) (Figura 1); ângulo de
protrusão da cabeça (PC), ângulo da
lordose cervical (LC), ângulo da cifose
torácica (CT), ângulo da lordose lombar
(LL), ângulo flexo de joelho ortostático
(FJo), ângulo tibiotársico (ATT) (Figura 2).
Finalmente, a partir da posição
ortostática foi solicitado ao voluntário
que fizesse uma inclinação anterior do
tronco com os joelhos em extensão, tentando alcançar o chão. Nessa posição
em rolamento, foram analisados os ângulos: Whistance (W)20, coxofemoral
(CF) e flexo de joelho-rolamento (FJr),
que é o mesmo mostrado no plano sagital, só que com o paciente na posição
de rolamento. O ângulo Whistance (W)
foi medido pela intersecção da reta que
une o ponto marcado em C7 até a EIAS
com a reta que une o trocânter maior à
EIAS. O ângulo CF foi medido pela
intersecção da reta que une a EIAS ao
trocânter maior com a reta que une a
cabeça da fíbula à EIAS.
Tratamento
A técnica isostretching foi aplicada
em sessões de uma hora, três vezes por
semana. Consiste em exercícios isométricos excêntricos, em que o tempo de
manutenção das posturas é regido por
três expirações profundas e prolongadas,
nas posições deitado, sentado, em pé,
utilizando bola e bastão. Um total de
67 posturas (Pos.) para esse tratamento
foram descritas por Redondo8, sendo
aqui escolhidas as seguintes: posturas 1,
9, 15, 16, 21, 36 e 38 e as respectivas
variantes; e as posturas 39, 40 e 58:
Pos.1: voluntário em ortostatismo, com
os pés paralelos, joelhos semifletidos, retroversão da pelve,
membros superiores em extensão ao longo do corpo e ligeiramente para trás, punhos flexionados e dedos em extensão,
mantendo glúteos contraídos,
adução das escápulas e coluna
vertebral ereta. Variantes dessa
postura incluem a união das palmas da mão atrás do corpo e segurar uma bola atrás do corpo8.
Pos.9: voluntário com os membros inferiores em extensão e abduzidos
na largura do quadril, efetuando
uma inclinação anterior do tronco,
mantendo os membros superiores
em extensão acima da cabeça,
as palmas das mãos em contato. Variantes incluem joelhos
semifletidos e variações na posição dos membros superiores8.
Pos.15: também com o voluntário em
inclinação anterior do tronco,
joelhos ligeiramente fletidos e
membros superiores fletidos,
com as mãos apoiadas atrás na
cervical. Variantes dessa postura incluem: variações na inclinação do tronco e na flexão dos
joelhos, segurando um bastão8.
Pos.16: em decúbito dorsal com membros inferiores flexionados, pés
apoiados no chão e membros
superiores em cruz (abdução de
ombro a 90º e cotovelo em extensão). Variantes: variações na
posição dos membros superiores, ou seja, mesma posição mas
cotovelo em flexão de 90º (posição de candelabro), membros
superiores ao longo do corpo,
membros superiores em extensão acima da cabeça; outra variante adotada foi manter uma bola
comprimida entre os joelhos8.
Pos.19: também em decúbito dorsal,
com membros inferiores em
flexão de quadril a 90º e joelhos
estendidos, membros superiores
em posição de candelabro e pés
em dorsiflexão. Solicita-se ao
voluntário manter as escápulas
em adução. Variantes: extensão
de cotovelos e flexão plantar de
tornozelos8.
Pos.21: ainda em decúbito dorsal, mantendo quadril e joelhos semifletidos na vertical e com rotação
externa, com as plantas dos pés
em contato, membros superiores ao longo do corpo. Variantes: tornozelo em dorsiflexão e
extensão dos joelhos8.
Pos.36: voluntário sentado, coluna ereta, pernas semiflexionadas e unidas, pés apoiados no chão,
extensão e abdução horizontal
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de membros superiores a 90º e
extensão de punho. Variantes:
abertura dos dedos da mão, rotação interna dos membros superiores, afastamento dos pés8.
Pos.38: tronco e membros inferiores são
mantidos iguais aos da postura
anterior, variando a posição do
braço, em extensão atrás do corpo, com contato das palmas das
mãos. Variantes: afastamento
dos pés e cruzamento das mãos8.
Pos.39: voluntário permanece sentado,
membros inferiores em extensão
e rotação externa, pés paralelos
e membros superiores em abdução horizontal de ombros, cotovelo e punho em extensão.
Pos.40: também realizada sentada, voluntário mantém membros inferiores em rotação externa e
ligeira abdução e mão entrelaçadas atrás da nuca, com cotovelos em flexão6.
Pos.58: voluntário permanece igual à
posição 39, variando o posicionamento dos membros superiores, que se mantêm atrás do corpo segurando um bastão6.
Análise estatística
Para análise os ângulos descritos acima foram mensurados nas fotografias
antes e depois do tratamento. Para garantir a confiabilidade das medidas angulares na fotogrametria, todos os ângulos
foram mensurados três vezes e anotados
os valores. Posteriormente, foi calculada a média de cada ângulo para as fotografias pré e pós-tratamento. Da diferença dessas médias, foi subtraído um valor referente a duas vezes o erro padrão19. Apenas o ângulo Whistance (W),
já descrito na literatura20, não apresentava erro-padrão. Para verificar se as
amostras eram ou não homogêneas, foi
empregado o teste de Bartlett, que indica se há ou não diferenças significantes
entre as variâncias dos grupos estudados. Os programas utilizados foram
GMC (v.8.1, 2002) e SPSS (v.8.0, 2002).
RESULTADOS
Todos os voluntários dos dois grupos
apresentavam assimetrias em todos os
ângulos do plano frontal anterior e posterior e diminuição na flexibilidade
observada nos ângulos coxofemoral e
Whistance durante a inclinação anterior do tronco. No grupo 1 (n=8), três
voluntários apresentavam genum
recurvatum e no grupo 2 (n=4), um voluntário.
Comparando-se as medidas obtidas
antes e após o tratamento, no grupo 1
(que compareceu a mais de 30 sessões
de isostretching), verificou-se que os resultados foram similares nos ângulos
acrômio clavicular, alinhamento dos joelhos direito e esquerdo, triângulo de
Talles direito, inferior da escápula, das
espinhas ilíacas póstero-superiores, de
Whistance, flexos de joelho em rolamento e ortostático, lordose cervical, lordose
lombar e protrusão da cabeça. Os ângulos que sofreram modificações foram:
triângulo de Talles esquerdo (f=0,00),
coxofemoral (f=0,00), tibiotársico (f=0,01)
e cifose torácica (f=0,00 – Tabela 1).
Nos pacientes que compareceram a
menos de 30 sessões (grupo 2), não se
observaram grandes modificações,
exceto no alinhamento do joelho esquerdo (f=0,03), triângulo de Talles direito
(f=0,01) e esquerdo (f=0,00), na cifose
torácica (f=0,03) e na protrusão da cabeça (f=0,002 – Tabela 1).
Tabela 1 Médias angulares (em o) dos pacientes dos dois grupos, submetidos a mais e a menos de 30 sessões de tratamento,
antes (pré) e após (pós) o tratamento
Ângulo
AC
AJd
AJe
'Td
'Te
AIE
PS
W
CF
ATT
FJr
LC
CT
LL
PC
FJo
Pré
-2,31
176,00
175,64
14,99
15,58
3,55
-2,15
193,02
111,92
125,82
177,43
49,81
96,35
68,72
47,72
179,26
Grupo 1 (mais de 30 sessões)
dp pré
Pós
dp pós
3,12
1,04
1,73
5,89
5,68
3,16
3,15
11,62
15,35
4,32
7,62
16,34
31,61
19,82
5,02
6,7
-1,47
175,97
176,63
13,91
13,54
3,77
-0,86
202,78
121,09
127,37
173,51
52,93
89,34
66,61
48,76
175,14
3,49
1,29
1,68
3,02
5,80
1,88
2,56
8,10
15,66
4,18
5,79
31,79
31,48
25,59
5,58
2,96
f
Pré
1,36
0,07
0,06
2,73
0,00*
1,67
0,30
0,80
0,00*
0,01*
0,49
2,71
0,00*
0,42
0,07
3,98
-2,23
177,03
176,70
15,44
17,07
3,25
-0,58
194,10
124,86
127,22
175,61
37,85
97,96
68,55
43,55
175,29
Grupo 2 (menos de 30 sessões)
dp pré
Pós
dp pós
1,63
0,72
0,84
6,01
5,59
0,54
2,09
13,18
11,93
6,07
5,98
12,14
18,00
13,60
6,58
6,26
-0,15
176,38
177,33
13,01
16,43
3,50
0,00
203,38
124,08
121,52
177,64
52,09
105,15
75,92
43,58
177,27
2,40
1,18
0,75
5,80
6,08
1,73
3,20
19,94
27,27
3,64
10,14
31,41
16,32
15,99
6,02
6,68
f
0,37
0,63
0,03*
0,00*
0,01*
2,97
0,46
0,43
1,6
0,64
0,69
2,07
0,03*
0,07
0,02*
0,27
dp = desvio padrão; * diferença pós/pré significante ao nível de f=5% (α=0,05) pelo teste de Bartlett AC = acrômio clavicular; AJd = angulação do
joelho direito; AJe = angulação do joelho esquerdo; ∆Td = triângulo de Talles direito; ∆Te = triângulo de Talles esquerdo; AIE = ângulo inferior da
escápula; PS = ângulo das espinhas ilíacas póstero-superiores; W = ângulo de Whistance; CF = ângulo coxofemoral; ATT = ângulo tibiotársico; FJr = ângulo
flexo de joelho em rolamento; LC = lordose cervical; CT = cifose torácica; LL = lordose lombar; PC = ; FJo = flexo de joelho ortostático
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Monte-Raso et al.
Isostretching e equilíbrio postural
DISCUSSÃO
O isostretching é uma técnica relativamente nova no Brasil que vem sendo
difundida em escolas e cursos de especializações. Apesar de o método ser utilizado por fisioterapeutas na prática clínica com êxito, há poucos achados na
literatura sobre sua utilização e benefícios7,9,11,12,21, talvez pela dificuldade em
agregar voluntários que mantenham o
compromisso de seguir o tratamento até
o final: Moraes e Mateus11 analisaram os
resultados do tratamento em apenas uma
voluntária; Beloube et al.8 analisaram só
dois voluntários; e Oliveiras e Souza12,
seis voluntários.
Nesta pesquisa, apenas 12 voluntários
prosseguiram o tratamento, mas não
cumpriram igual número de sessões; por
isso, após as 40 sessões previstas, foram
oferecidas mais 14, totalizando 54 sessões. Mesmo assim, não foi obtido número igual de sessões, daí os voluntários
terem sido divididos entre os que cumpriram mais, e menos, de 30 sessões.
Um problema na análise de eficácia
de uma técnica terapêutica é a forma de
análise dos resultados posturais. A
avaliação postural é feita por meio de
fotografias ou radiografias. Há um consenso na literatura de que a avaliação
postural é de fundamental importância
para o planejamento do tratamento
fisioterapêutico e para o acompanhamento da evolução. Para Iunes et al.19,
embora exista a concordância de que
uma boa postura é importante, trata-se
de um fenômeno complexo e difícil de
quantificar. Segundo Watson18, isso pode
explicar por que há poucos resultados
de estudos associando desvios posturais
a problemas físicos específicos.
No presente estudo, a técnica
isostretching não foi eficaz em reduzir
as assimetrias no plano frontal, independentemente do número de sessões, talvez porque as posturas utilizadas enfatizam o alongamento simétrico da cadeia
muscular posterior e não alongam os
segmentos assimetricamente. A modificação encontrada em relação à assi-
metria foi no ângulo ∆Te, nos dois grupos, e no ∆Td, no grupo 2. Estes resultados discordam dos de Beloube et al.8,
que observaram diminuição na curvatura escoliótica por meio da radiografia
de uma paciente. Discordam também
dos resultados de Moraes e Mateus11,
que observaram diminuição de assimetria. No entanto, estes só analisaram
um voluntário por meio de fotografias,
de forma qualitativa. Oliveiras e Souza12
também encontraram diminuição da
escoliose por avaliação radiográfica, mas
em seu estudo os casos de escoliose
eram na maioria de até 6º, sendo que
um voluntário (dentre os seis analisados)
apresentava 28º.
No plano sagital, foram observadas
modificações no alinhamento da coluna vertebral torácica em voluntários dos
dois grupos, com diminuição da angulação no grupo 1 e aumento no grupo
2; e modificações na posição da cabeça
em indivíduos do grupo 2 (que freqüentaram menos de 30 sessões). Esses dados corroboram a afirmação do criador
da técnica, Redondo, de que o método
é mais eficiente para alterações no plano sagital do que no frontal6. Novamente, talvez porque as posturas utilizadas
enfatizam o alongamento simétrico da
cadeia muscular posterior e não alongam os segmentos assimetricamente.
Beloube et al.8 encontraram melhora
radiográfica tanto da cifose quanto da
lordose lombar. Seus dois voluntários
tinham menos de 20 anos e foram realizadas mais de 30 sessões; esses resultados são similares aos nossos em relação
à cifose torácica, porém com método de
avaliação diferente. Moraes e Mateus11,
que analisaram um voluntário de 9 anos
com hipercifose, obtiveram resultado
satisfatório com 10 sessões de tratamento.
No presente estudo a flexibilidade da
musculatura da cadeia posterior foi avaliada pela variação dos ângulos W, CF,
FJr e ATT durante o rolamento. Essas
análises quantitativas não foram diferentes após a realização das sessões para
os ângulos W e FJr. No entanto, foi observada uma melhora nos ângulos CF e ATT
para os voluntários do grupo 2. Carregaro
et al.22 indicam que a análise desses ângulos por fotogrametria é confiável, apesar de os autores darem outra denominação aos mesmos.
Beloube et al.8, Moraes e Mateus11
encontraram melhora de flexibilidade,
mesmo com menor número de sessões.
No entanto, estes realizaram uma avaliação qualitativa. Rosário et al.16 também
conseguiram melhora da flexibilidade da
musculatura da cadeia posterior, em indivíduos sem lesões musculoesqueléticas,
com a utilização tanto do alongamento
global, pela técnica de RPG quanto do
alongamento segmentar passivo e autopassivo dos músculos que compõem a cadeia
muscular posterior. Ainda, Fernández-delas-Peñas et al.14 observaram melhora da
flexibilidade, avaliada pelo grau de
flexão lombar, em indivíduos com
espondilite anquilosante, tanto usando
a técnica de RPG quanto alongamento
segmentar. No entanto, em um estudo posterior dos mesmos autores15, avaliando os
resultados da mobilidade nos mesmos
pacientes, após um ano de tratamento, no
grupo de pacientes com espondilite
anquilosante que receberam tratamento de RPG a manutenção da mobilidade a longo prazo foi melhor.
Este estudo tem limitações, como a
de não ter utilizado um grupo controle
que recebesse tratamento diferente, ou
o reduzido tamanho da amostra: como
os voluntários não compareceram ao
mesmo número de sessões, os dois grupos comparados tiveram tamanho muito diferente.
CONCLUSÃO
A técnica isostretching foi uma
terapêutica eficaz na melhora do alinhamento da coluna vertebral torácica,
independente do número de sessões; e
propiciou maior flexibilidade da cadeia
posterior em indivíduos que se submeteram a mais de 30 sessões. Não demonstrou ser uma boa técnica para o
tratamento de assimetrias posturais no
plano frontal anterior e posterior.
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Fisioter Pesq. 2009;16(2):137-42
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Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.16, n.2, p.143-7, abr./jun. 2009
ISSN 1809-2950
Estudo comparativo da força muscular da mão entre cadetes homens
e mulheres da Força Aérea Brasileira
Grip and pinch strength in Brazilian Air Force cadet pilots:
a comparative study between men and women
Marcela Donatelli Meibach Teixeira1, Daniele Aparecida Gomes1, Gláucia Helena Gonçalves1,
Suraya Gomes Novais Shimano2, Antonio Carlos Shimano3, Marisa de Cássia Registro Fonseca4
Estudo desenvolvido no Curso
de Fisioterapia do RAL /FMRP/
USP – Depto. de Biomecânica,
Medicina e Reabilitação do
Aparelho Locomotor da
Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto da Universidade
de São Paulo, Ribeirão Preto,
SP, Brasil
1
Fisioterapeutas
2
Fisioterapeuta; doutoranda no
RAL/FMRP/USP
3
Engenheiro mecânico; Prof.
Dr. do RAL/FMRP/USP
4
Fisioterapeuta; Profa. Dra. do
RAL/FMRP/USP
ENDEREÇO PARA
RESUMO: O objetivo do estudo foi quantificar a força muscular da mão, nos
movimentos de preensão palmar e três tipos de pinça, comparando os cadetes
homens e mulheres. Foram avaliados 31 cadetes da Academia da Força Aérea
Basileira, sendo 17 homens e 14 mulheres, com os dinamômetros Jamar e Preston
Pinch Gauge. A média de preensão das mulheres foi de 31,4 kgf no lado dominante
e 29,3 kgf no lado não-dominante; nos homens, foi 43,6 e 41,2 kgf, respectivamente
(p<0,01). Na pinça lateral, a média feminina foi de 7,4 kgf e masculina, 10,2 kgf,
no lado dominante (p<0,01); na pinça trípode, a média das mulheres foi de 7,2 kgf
no lado dominante e 7,1 kgf do lado não-dominante; nos homens, foi
respectivamente de 9,8 kgf e 9,5 kgf (p<0,01); na pinça polpa-a-polpa, as médias
femininas foram de 4,9 e 4,6 kgf nos lados dominante e não-dominante; dos homens,
foram de 6,5 e 5,7 kgf nos lados dominante e não-dominante, respectivamente
(p<0,01). A força de preensão palmar, pinça lateral, pinça trípode e pinça polpa-apolpa foi significantemente maior nos cadetes masculinos do que nas mulheres.
Ambos os sexos mostraram mais força do lado dominante do que no não-dominante,
exceto na pinça trípode. Quando comparados à população em geral, há pouca
diferença dos valores obtidos nos cadetes, tanto em relação ao sexo quanto à
dominância. Esses achados podem ser relevantes na avaliação fisioterapêutica e
para o desempenho desses pilotos.
DESCRITORES: Fatores sexuais; Força muscular; Mão
CORRESPONDÊNCIA
Marcela D. M. Teixeira
Curso de Fisioterapia /RAL /
FMRP/USP
Av. Bandeirantes 3900
14049-900 Ribeirão Preto SP
e-mail:
[email protected]
Estudo realizado como trabalho
da autora 1 de conclusão do
Curso de Fisioterapia do RAL/
FMRP/USP
APRESENTAÇÃO
dez. 2008
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO
maio 2009
ABSTRACT: The aim of this study was to quantify the hand muscle strength during grip
and pinch movements, and to compare results between men and women. Thirtyone cadet pilots (17 men and 14 women) from the Brazilian Air Force Academy
were assessed by means of Jamar dynamometer (grip) and Preston Pinch Gauge
(pinch). Female cadets mean grip was 31.4 kgf at dominant hand and 29.3 kgf at
non-dominant hand; in male subjects, corresponding values were 43.6 kgf and
41.2 kgf. Mean female lateral pinch at the dominant hand was 7.4 kgf and men’s,
10.2 kgf (p<0.01); tripod pinch values were 7.2 kgf at dominant side and 7.1 kgf at
non-dominant for women, and 9.8 kgf and 9.50 kgf for men, respectively (p<0.01);
women pinch values were 4.9 kgf and 4.6 at dominant and non-dominant hands,
and men's, 6.5 kgf and 5.7 kgf respectively (p<0.01). Grip, pinch, lateral pinch,
and tripod pinch were all significantly higher (p<0.01) in men than in women.
Both sexes showed higher strength at the dominant side, except of the tripod pinch.
When compared to the population in general, there are little differences among
cadets, both as to sex and dominance. These findings may be of relevance both for
pilots performance and physical therapy assessment.
KEY WORDS: Hand; Muscle strength; Sex factors
2009;16(2)
Fisioter Pesq. 2009;16(2):143-7
143
INTRODUÇÃO
Na AFA – Academia da Força Aérea
Brasileira, o curso de formação de pilotos tem duração de quatro anos. O cadete aviador tem sua formação baseada no
estudo teórico-prático. Os anos ímpares
são utilizados para estudo teórico, e os
anos pares, para as aulas práticas de vôo,
primeiro em simuladores e posteriormente em aeronaves. Até poucos anos
atrás (menos de cinco anos), não era permitido o ingresso de mulheres na academia.
O treinamento da musculatura intrínseca e extrínseca da mão imposto aos
cadetes da AFA durante seu treino de vôo
é semelhante a um treino esportivo, leva
ao ganho de força muscular e não varia
de acordo com o sexo. Em vôo, a resistência ocorre pela variação da força Gz,
uma força centrífuga que tende a empurrar o piloto contra o assento e tem
valores muito maiores quando o avião
faz curvas1. Exemplificando, como o braço representa cerca de 5% da massa
corpórea2, ou seja, cerca de 3,3 kg de
uma pessoa de 70 kg, se estiver sob a
ação de uma força de 3G+, seu braço
passará a ter a massa instantânea de
aproximadamente 9,9 kg.
A realização freqüente de exercícios
melhora o rendimento muscular. Isso se
explica pelo princípio da especificidade3, segundo o qual a mudança induzida no tecido muscular é específica à
sobrecarga do exercício realizado4. A
hipertrofia muscular envolve modificações como aumento na área de secção
transversa do músculo envolvido, tipo
de fibra muscular, volume muscular e
na síntese de proteínas5,6. Para manter a
homeostase corporal de degeneração e
sintetização de proteínas, um balanço
dinâmico ocorre em resposta a qualquer
estímulo, como hipertrofia ou atrofia
muscular, que promove tanto o crescimento ou a diminuição da massa muscular5-7.
Nos membros superiores, as respostas ao treino físico indicam diferenças
de sexo no ganho de força, mostrando
que, apesar de os músculos de homens
e mulheres apresentarem a mesma
composição, o diâmetro muscular de
homens é maior8, embora a resposta
muscular de treino de força seja maior
2009;16(2)
144 Fisioter Pesq. 2009;16(2):143-7
nas mulheres, sugerindo que o aumento de força em resposta ao treino de resistência induzida seja maior nas mulheres9. Esse achado apóia a hipótese de
que a qualidade da potência muscular
não depende somente da hipertrofia,
mas também da capacidade de adaptações neurais10. Também o treino de força em velocidade moderada (como
ocorre nos vôos) aumenta o pico de potência nas mulheres, mas não em homens, quando normalizado o volume da
musculatura treinada10.
O objetivo do presente estudo foi
comparar a força dos músculos intrínsecos e extrínsecos da mão entre cadetes homens e mulheres da Academia da
Força Aérea Brasileira, durante o período de formação como pilotos. Para isso,
avaliou-se a força muscular isométrica
da preensão palmar – onde é possível a
ação dos músculos flexores extrínsecos
da mão11 – e de três tipos de pinças: pinça polpa-a-polpa, que oferece bastante
destreza11, pinça trípode, com força intermediária, e a pinça lateral, que é a
mais forte. Na medição das forças de
pinça avalia-se principalmente a ação
dos músculos intrínsecos da mão, que
são mais fracos que os extrínsecos, porém de maior precisão11.
METODOLOGIA
O presente estudo integrou o projeto
de pesquisa intitulado “Estudo biomecânico de pilotos das aeronaves EMB
312 T 27 – Tucano, durante realização
de manobras em um simulador de vôo”,
aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital das Clinicas da FMRP-USP.
Foram avaliados 31 cadetes, sendo 17
homens (10 do 2o ano e 7 do 4o ano) e
14 mulheres (7 do 2o ano e 7 do 4o ano).
Apenas uma mulher do 4o ano era aviadora, as demais eram cadetes do quadro administrativo. A amostragem foi
aleatória quanto aos cadetes homens,
visto que o número total de alunos por
período é 100, mas todas as cadetes
mulheres (população total) foram avaliadas. Os critérios de inclusão foram: fazer parte do corpo de cadetes, não ter
tido lesões prévias nas mãos e não ter
quadro álgico nas mãos. Foram excluídos os voluntários que não consentiram
em participar do estudo.
Para uma descrição melhor da amostra, foi aplicado um questionário para
verificação do tipo de atividade física
extra-treino que cada aluno-piloto realizava.
Para avaliação da força muscular
isométrica de preensão e pinça12 utilizou-se o dinamômetro Jamar, e para as
pinças polpa-a-polpa, trípode e lateral
utilizou-se o dinamômetro Preston Pinch
Gauge, ambos recomendados pela Sociedade Americana de Terapia da Mão
(ASHT). Estes visam medir forças ou distribuição de pressões 13 e são amplamente utilizados na prática clínica14.
O posicionamento do sujeito para as
avaliações seguiu norma da ASHT: indivíduo sentado com apoio dos pés no
chão, tornozelos em posição neutra, joelhos fletidos a 90º, coxas apoiadas no
assento e quadris junto ao encosto da
cadeira e fletidos a 90º. O membro superior avaliado permaneceu com ombro
levemente abduzido, cotovelo em flexão
de 90º, antebraço em posição neutra
entre supinação e pronação e o punho
entre 0º e 30º de extensão e 0º e 15º de
desvio ulnar12. O dinamômetro Jamar foi
ajustado à segunda posição de manopla,
seguindo recomendação das Sociedades
Americana e Brasileira de Cirurgiões da
Mão e Terapeutas da Mão12. Nessa posição, os cadetes foram orientados a
exercer sua força máxima de preensão
na manopla do dinamômetro por 6 segundos, após o comando verbal “vai”.
A avaliação foi feita iniciando pela mão
dominante e em seguida a não-dominante, de maneira alternada, com intervalos de 30 segundos entre elas para descanso, sendo utilizados os valores médios de três medições consecutivas.
Para a análise dos resultados foi utilizado um modelo linear de efeitos mistos15,
no programa de computador SAS v.9.
Esse método é utilizado na análise de
dados onde as respostas de um mesmo
indivíduo estão agrupadas e a suposição
de independência entre observações
num mesmo grupo não é adequada. Foram considerados efeitos aleatórios os
indivíduos e efeitos fixos o sexo, as mãos,
as repetições e a interação entre os mesmos. O nível de significância foi fixado
em p<0,05.
Teixeira et al.
Força da mão de cadetes-pilotos: homens x mulheres
RESULTADOS
Foram observados valores significativamente maiores de preensão palmar
nos cadetes homens do que nas mulheres (p<0,001), e valores maiores da
mão dominante do que da não-dominante (p<0,001) em ambos os sexos
(Gráfico 1).
Tabela 1
Força da mão (em kgf, média ±
desvio padrão) das/os
participantes, por sexo e
dominância
Variável Sexo Dom Médiardp
D 31,43r3,54
F
ND 29,33r3,63
Preensão
D 43,61r7,61
M
ND 41,22r8,50
D 7,36r1,08
F
ND 6,80r1,29
Pinça
lateral
D 10,17r1,83
M
ND 9,54r1,70
D 7,21r1,03
F
ND 7,05r1,02
Pinça
trípode
D 9,78r2,43
M
ND 9,50r2,27
D 4,85r0,77
F
Pinça
ND 4,56r0,81
polpa a
D 6,48r0,84
polpa
M
ND 5,73r0,86
Mín Mediana Máx
26,0 30,0 40,0
22,0 30,0 36,0
28,0 42,0 62,0
28,0 40,0 64,0
4,5
7,2
9,5
3,1
7,2
8,6
6,8 10,0 14,0
7,2
9,5 14,0
5,4
7,0 10,0
5,4
6,8
9,5
6,3 10,0 14,0
6,0
9,5 14,0
3,6
4,5
6,8
2,2
4,5
6,0
4,0
4,0
6,8
6,0
8,0
7,7
Dom = dominância; dp = desvio-padrão; Mín =
mínimo valor encontrado; Máx = máximo valor
encontrado; F = feminino; M = masculino; D =
dominante; ND = não-dominante
Não dominante
Força (kgf)
40
30
20
43,61
41,22
31,43
29,33
10
0
Homem
Gráfico 1
Mulher
Força de preensão (em kgf) por sexo e dominância
Pinça Trípode
14
Dominante
Força (kgf)
12
Não-dominante
10
8
6
10,17
4
9,54
7,36
6,80
2
0
Homem
Gráfico 2
Mulher
Pinça lateral (em kgf) por sexo e dominância
Pinça Lateral
14
Dominante
12
Não-dominante
10
Força (kgf)
A Tabela 1 apresenta os valores absolutos mínimo e máximo (em kgf) da
preensão palmar e dos três tipos de pinça medidos nos cadetes dos dois sexos.
Em todas as variáveis pôde-se encontrar
diferença significativa (p<0,01) entre os
sexos, tendo os homens apresentado
valores maiores que as mulheres.
Dominante
50
8
6
4
9,78
9,50
7,21
7,05
2
0
Homem
Gráfico 3
Mulher
Pinça trípode (em kgf) por sexo e dominância
Pinça Polpa a Polpa
14
12
Dominante
10
Força (kgf)
Dentre os 31 indivíduos avaliados
quanto à força de preensão palmar, pinça lateral, pinça trípode e pinça polpaa-polpa, três eram sinistros, sendo um
homem e duas mulheres. A faixa etária
analisada foi de 19 a 26 anos. Pelo questionário sobre a atividade física, foi observado que todos praticavam algum
esporte além das atividades militares,
com duração de no mínimo uma hora,
ao menos quatro vezes por semana. Somente dois homens não tinham atividades extra, o que não interferiu nos resultados.
Preensão
Não-dominante
8
6
4
6,48
5,73
2
4,73
4,56
0
Homem
Gráfico 4
Mulher
Pinça polpa a polpa (em kgf) por sexo e dominância
2009;16(2)
Fisioter Pesq. 2009;16(2):143-7
145
Pode-se observar no Gráfico 2 diferenças significativas (p<0,001) nos valores de força da pinça lateral, tanto na
comparação entre os sexos quanto na
dominância. Do mesmo modo, a diferença é notada nos valores da pinça trípode (Gráfico 3) com diferenças estatisticamente significativas (p<0,001) entre
os sexos, porém sem diferenças quanto
à dominância (mulheres, p=0,40 e homens, p=0,12).
No último tipo de pinça avaliado,
polpa-a-polpa, encontrou-se diferença
significativa entre os sexos e vantagem
significativa (p<0,01) da dominância nos
sujeitos de ambos os sexos (Gráfico 4).
DISCUSSÃO
A análise dos dados mostrou que em
todas as variáveis estudadas na avaliação da força muscular das mãos, os homens possuem valor absoluto
significativamente maior do que as mulheres, concordando com a literatura4,810,17-19
. Isso provavelmente ocorre por
diferenças morfológicas e anatômicas
entre os sexos, como a área e o diâmetro das fibras musculares, que são maiores nos homens do que nas mulheres; e
essa diferença é maior quando se comparam adultos jovens8 – faixa etária dos
cadetes neste estudo. Outra provável
causa pode ser o aumento na expressão
gênica de genes específicos, presente na
musculatura em resposta ao exercício,
na população masculina19.
Araújo et al.11 e Caporrino et al.16
avaliaram a força de preensão palmar
com Jamar e de pinças com o dinamômetro Pinch Gauge, respectivamente, na população normal e encontraram
que os homens têm cerca de 30% a mais
de força nas mãos do que as mulheres,
proporção semelhante à encontrada entre os pilotos. Os valores por eles calculados da média de preensão palmar
masculina são 42,8 kgf (dominante) e
40,7 kgf (não-dominante) – semelhantes às aqui encontradas, de 43,6 kgf e
41,2 kgf, respectivamente; nas mulheres, as médias foram 31,4 kgf (dominante) e 29,3 kgf (não-dominante), ou 28%
a menos de força do que os homens no
lado dominante e 29% no lado não-dominante.
No que se refere aos valores das pinças, observa-se uma diferença maior das
cadetes mulheres do que dos homens,
quando comparados à população em
geral, embora as médias dos cadetes, de
modo geral, sejam superiores às da população. No entanto, nas pinças polpaa-polpa e lateral, os valores são maiores
na população geral, provavelmente por
serem dados normativos somente por
faixa etária, mas que consideram médias de ambos os sexos em valor absoluto14,15. O único outlier abaixo da média
masculina na preensão palmar do lado
dominante tem uma história de luxação
de ombro, mas no lado não-dominante.
Uma consideração importante na
comparação entre os sexos são os valores pré-treino. O valor absoluto de força pré-treino em homens é maior do que
nas mulheres, mas estas respondem de
modo superior aos níveis relativos de
aumento de força10,17. Portanto, apesar
das diferenças, os valores de força muscular das cadetes femininas não impedem que possam controlar a aeronave.
Cabe destacar que muitos pilotos já
relataram sentir a sensação do braço
pesado após o treinamento20, especialmente as cadetes femininas. Esse quadro álgico explica-se pelo fato de os aviões
se deslocarem com tal rapidez e modificarem sua direção, que submetem o
corpo a altos estresses físicos, modificando sua estrutura21. As sobrecargas posturais associadas ao alerta constante e
ao uso repetitivo podem provocar desordens musculoesqueléticas nos cadetes22,23.
Acredita-se que, no decorrer dos quatro anos do curso na Academia, possa
ocorrer uma evolução da força dos
membros superiores devido ao treinamento em vôo. Mas a comparação entre os sexos é muito difícil, visto que após
rigorosa seleção e a recente chegada das
mulheres como cadetes, seu número é
muito reduzido. Apenas uma cadete
chegou ao último ano como aviadora,
pois as exigências de treinamento são
iguais para ambos os sexos, sobrecarregando muito o sexo feminino.
O estudo apresentou limitações: apesar do total apoio do Comandante do
Corpo de Cadetes, os horários de aula e
treino dos cadetes não permitiram que a
amostra do estudo fosse maior; e o número reduzido de mulheres não permitiu
uma análise mais sensível dos dados.
CONCLUSÃO
A força de preensão palmar, pinça
lateral, pinça trípode e pinça polpa-apolpa foi significantemente maior nos
cadetes masculinos do que nas mulheres. Ambos os sexos mostraram mais força do lado dominante do que no nãodominante na preensão palmar, pinça
lateral e pinça polpa-a-polpa, mas não
houve diferença na pinça trípode. Quando comparados à população em geral,
há pouca diferença dos valores obtidos
nos cadetes, tanto em relação ao sexo
quanto à dominância.
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Agradecimentos: Ao Coronel Aviador Celestino Todesco
e ao Corpo de Cadetes da Aeronáutica pela colaboração
na Academia da Força Aérea. Ao Cemeq – Centro de
Métodos Quantitativos/ USP, pela ajuda na estatística.
2009;16(2)
Fisioter Pesq. 2009;16(2):143-7
147
Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.16, n.2, p.148-54, abr./jun. 2009
ISSN 1809-2950
Estimulação elétrica nervosa transcutânea nas modalidades convencional e
acupuntura na dor induzida pelo frio
Conventional and acupuncture-like transcutaneous electrical nerve
stimulation on cold-induced pain
Hisa Costa Morimoto1, Márcia Yumi Yonekura1, Richard Eloin Liebano2
Estudo desenvolvido no Curso
de Fisioterapia da Unicid –
Universidade Cidade de São
Paulo, São Paulo, SP, Brasil
1
Fisioterapeutas
2
Prof. Dr. do Curso de Mestrado
em Fisioterapia da Unicid
ENDEREÇO PARA
CORRESPONDÊNCIA
Richard E. Liebano
Setor de Pós-Graduação /Unicid
R. Cesário Galeno 448
03071-000 São Paulo SP
e-mail: [email protected]
APRESENTAÇÃO
dez. 2008
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO
maio 2009
2009;16(2)
148 Fisioter Pesq. 2009;16(2):148-54
RESUMO: A estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) é um recurso nãofarmacológico já consagrado na modulação de dores agudas e crônicas. O objetivo
deste estudo foi verificar o efeito da TENS convencional e na modalidade TENSacupuntura na dor induzida pelo frio. Trinta indivíduos saudáveis com idade entre
18 e 40 anos foram distribuídos ao acaso em três grupos: placebo, TENS
convencional e TENS-acupuntura. Foi utilizado um protocolo de indução de dor
pelo frio composto por seis ciclos: dois pré-tratamento, dois durante e dois após o
tratamento. A TENS foi aplicada por 20 minutos por dois canais, sendo a modalidade
convencional, no nível sensorial, na freqüência de 80 Hz e a modalidade
acupuntura, no nível motor, a 4 Hz. Foram medidos limiar de dor, tolerância à dor
e intensidade da dor. Não foi encontrada diferença estatisticamente significante
nos valores medidos durante a após o tratamento quando comparados aos dos
ciclos pré-tratamento, em todas as variáveis. Nas duas modalidades estudadas pois,
a TENS, nos parâmetros de aplicação utilizados, não modificou a dor induzida por
frio, sugerindo-se novos estudos com maior tempo de aplicação da TENS e diferentes
modelos de dor experimental.
DESCRITORES: Dor; Estimulação elétrica nervosa transcutânea/métodos; Limiar da dor
ABSTRACT: Transcutaneous electrical nerve stimulation (TENS) is a non-pharmacological
method already established in the modulation of acute and chronic pain. The purpose
of this study was to assess the effect of conventional TENS and acupuncture-like
TENS on cold-induced pain. Thirty healthy subjects aged 18 to 40 years old were
randomized into in three groups: placebo, conventional TENS, and acupuncturelike TENS. A cold-induced pain protocol was used, in six cycles (two pre-treatment,
two during, and two after treatment); TENS was applied for 20 minutes through 2
channels, the conventional modality at sensory level at 80 Hz, and the acupuncture
modality at motor level at 4 Hz. Variables analysed were pain threshold, tolerance
to pain, and pain intensity. No statistically significant differences were found in
any variable between post and pre-treatment measures in all groups. Hence neither
conventional or acupuncture-like TENS had any effect on cold-induced pain. Further
studies are suggested, with different experimental pain models, and with longer
time of TENS application.
KEY WORDS: Pain; Pain threshold; Transcutaneous electric nerve stimulation/methods
Morimoto et al.
TENS nos modos convencional e acupuntura para dor
INTRODUÇÃO
A estimulação elétrica é usada regularmente por fisioterapeutas, sendo
indicada para o controle da dor, reeducação muscular, fortalecimento e diminuição de edema. Entre esses, o controle da dor é o uso mais comum1,2.
A estimulação elétrica nervosa
transcutânea (TENS) envolve a transmissão de energia elétrica de um estimulador externo para o sistema nervoso periférico, através de eletrodos de superfície conectados na pele3. É uma técnica
simples e eficiente, muito utilizada para
o alívio da dor4. Apesar disso, os estudos que investigam o efeito de diferentes parâmetros da TENS na modulação
da dor apresentam resultados divergentes5,6.
A TENS pode ser classificada em quatro modalidades: convencional, acupuntura, em rajadas (burst) e breve-intensa.
A convencional tem baixa intensidade
e alta freqüência (10 a 200 Hz) e é
comumente utilizada em dores agudas;
a acupuntura tem alta intensidade e baixa freqüência (2 a 4 Hz) e é mais usada
em dores crônicas3.
A produção de analgesia ocorre por
diferentes mecanismos. Na modalidade
convencional estimulam-se preferencialmente as fibras de maior diâmetro (A-beta),
fazendo com que a maior parte da modulação da dor ocorra em nível medular; na modalidade acupuntura estimulam-se fibras de menor diâmetro (A-delta), onde se acredita que ocorra
analgesia principalmente no nível supraespinal (liberação de neuromediadores endógenos e opióides), por supressão da transmissão e da percepção de
estímulos nocivos da periferia3,7.
A eficácia da TENS pode variar de
acordo com o tempo de duração de pulso, freqüência, polaridade e forma de
onda5,8,9. Modelos experimentais de dor
são usados para representar clinicamente essa sensação e tornam possível o controle de variáveis, como intensidade e
duração. Esses modelos utilizam diferentes tipos de estímulos: frio, mecânico,
elétrico e isquemia10. O modelo de dor
induzida pelo frio é um método simples
que envolve um risco mínimo de lesão
tecidual e a dor cessa após a remoção
do estímulo. Durante esse teste, uma
sensação dolorosa é gerada pelos receptores de temperatura, que começam
a enviar estímulos de um possível dano
tecidual pelas vias periférica (fibras C e
A-delta) e central (espinotalâmica e
espinoreticular), resultando na sensação
de dor induzida pelo frio11.
Muitos estudos já foram realizados
para investigar os diferentes parâmetros
da TENS na dor induzida experimentalmente12-16, mas até o presente não existe um consenso sobre a melhor freqüência a ser utilizada no tratamento da dor
aguda. Walsh et al.17 investigaram o efeito da TENS de baixa freqüência (4 Hz) e
de alta freqüência (110 Hz) na dor
isquêmica, encontrando que a TENS de
baixa freqüência teve melhor efeito analgésico que a de alta freqüência. Porém
o mesmo grupo de pesquisadores, em
outro estudo18, verificaram o efeito da
TENS em diferentes freqüências e durações
de pulso durante a dor mecânica e constataram que a TENS de alta freqüência (110
Hz) proporcionou maior analgesia.
A literatura tem se mostrado escassa
em relação ao uso de diferentes modalidades de TENS na dor aguda, e os estudos disponíveis apresentam resultados
conflitantes. Ashton et al.19 compararam
o efeito de duas freqüências da TENS (8
Hz e 100 Hz) na dor induzida pelo frio,
encontrando que a TENS de 8 Hz produz maior analgesia, comparada com a
de 100 Hz e ao grupo placebo. Em
contrapartida, Johnson et al.12 relataram
que a TENS com freqüências entre 20
Hz e 80 Hz produz maior analgesia.
Além disso, o posicionamento de eletrodos adotado em estudos semelhantes
pode levar a um viés, uma vez que pressupõe a estimulação do nervo mediano
– e, no modelo experimental de indução
da dor pelo frio, toda a mão é submetida ao estímulo nociceptivo. Desse
modo, seria interessante verificar o uso
da TENS na dor induzida pelo frio adotando um posicionamento de eletrodos
que priorizasse a estimulação de
dermátomos e miótomos relacionados às
regiões anteriores e posteriores do punho e da mão. Assim, o objetivo deste
estudo foi verificar o efeito da TENS convencional (na freqüência de 80 Hz) e da
TENS acupuntura (freqüência 4 Hz) so-
bre a dor induzida pelo frio, adotando o
posicionamento de eletrodos acima
mencionado.
METODOLOGIA
O estudo foi desenvolvido na Universidade Cidade de São Paulo e aprovado
pelo Comitê de Ética e Pesquisa da instituição. Trinta voluntários saudáveis foram recrutados, com idades entre 18 e
40 anos, de ambos os sexos (15 homens
e 15 mulheres), tendo todos assinado um
termo de consentimento livre e esclarecido. Os critérios de exclusão foram:
apresentar na mão não-dominante algum problema ortopédico, neurológico,
doença circulatória, hipersensibilidade
ao frio ou lesões de pele na área em que
são colocados os eletrodos (superfície
ventral e dorsal do antebraço); e, ainda,
tolerar a imersão na água a 0ºC por mais
de 5 minutos. Os voluntários foram distribuídos em três grupos: placebo (n=10),
TENS convencional (n=10) e TENS
acupuntura (n=10).
O protocolo de indução da dor pelo
frio foi constituído de seis ciclos idênticos, cada um com a duração de dez minutos, totalizando uma hora de teste.
Cada ciclo (Figura 1) começava com o
sujeito colocando a mão não-dominante (até parte distal do punho) na água
morna (37ºC). Após cinco minutos o
sujeito transferia a mão para a água fria
(0ºC). O voluntário foi instruído a se
concentrar na sensação da mão imersa
até o ponto em que essa sensação se
tornasse dolorosa – e, depois, retirar a
mão da água quando não suportasse
mais a dor. O tempo decorrido (em segundos) até o momento em que relatou
a sensação de dor foi cronometrado e
considerado a variável limiar de dor. O
tempo decorrido desde o limiar de dor
até o momento em que o sujeito retirou
a mão da água foi considerado a variável tolerância à dor. Na seqüência, o
voluntário marcou em uma escala visual analógica (EVA) a intensidade da dor
numa reta de 0 a 10 cm, onde 0 significa ausência de dor e 10 significa a pior
dor imaginável. A partir disso, o sujeito
permaneceu em repouso até se completarem os dez minutos do ciclo. O ciclo
seguinte recomeçou com a reimersão da
mão na água morna13.
2009;16(2)
Fisioter Pesq. 2009;16(2):148-54
149
Mão imersa
Mão imersa
Água aquecida a 37ºC
“Dor!”
com os ciclos 3 e 4 (tratamento) e 5 e 6
(pós-tratamento). A comparação das
médias das variáveis limiar de dor, tolerância à dor e intensidade da dor entre
o período pré-tratamento e os ciclos 3,
4, 5 e 6 (separadas pelos grupos convencional, acupuntura e placebo) foram
feitas pela análise de variância (ANOVA)
com medidas repetidas21.
Retirada da mão
Água a 0ºC
Limiar de dor
Tolerância à dor
5 minutos
5 minutos
Esquema ilustrativo do protocolo do ciclo de indução da dor pelo frio
Para a manutenção da água morna
(37ºC) elaborou-se um instrumento
constituído de um recipiente de aço inox
(10x25x15 cm), uma resistência elétrica e um termostato digital, revestidos por
material isolante térmico. A resistência
elétrica foi instalada sob o recipiente de
inox para evitar qualquer risco de queimaduras ou choques aos voluntários.
Para a manutenção da temperatura da
água foi utilizado um termômetro específico para o meio aquático (Incoterm).
Para a avaliação do limiar de dor e tolerância à dor foi utilizado um cronômetro (Oregon, modelo SL210).
A estimulação elétrica foi aplicada
apenas em seguida aos ciclos 3 e 4 (20
minutos de tratamento sem interrupção).
Dois ciclos adicionais (ciclos 5 e 6) finalizaram o protocolo após a utilização da
estimulação elétrica. Assim, duas medidas pré-intervenção, duas medidas durante a intervenção e duas medidas pósintervenção foram obtidas20.
O equipamento utilizado no experimento foi Dualpex (961 Quark). A TENS
foi aplicada através de dois canais: dois
eletrodos na superfície ventral e dois eletrodos na superfície dorsal do antebraço. O primeiro eletrodo foi colocado três
cm a partir da primeira prega do punho
e o segundo eletrodo foi disposto a dois
cm do primeiro. Foram utilizados eletrodos não-adesivos (borracha siliconada
com carbono) de 6x5 cm, juntamente
com um meio condutivo (gel
hipoalergênico à base de água).
A TENS convencional foi utilizada
com freqüência de 80 Hz (T=200µs) e a
TENS acupuntura com uma freqüência
de 4 Hz (T=200µs). No grupo submetido a TENS convencional foi mantido um
nível de intensidade forte, porém confortável, e no grupo submetido a TENS
acupuntura, o nível de intensidade mantido foi no momento em que houve con-
2009;16(2)
150 Fisioter Pesq. 2009;16(2):148-54
trações musculares fortes, porém confortáveis. Os sujeitos do grupo placebo
foram submetidos ao protocolo com o
aparelho desligado.
A análise dos dados foi feita com o
pacote estatístico SPSS (Statistical
Package for Social Sciences for Windows
v.11.5). Todos os testes foram realizados
considerando hipóteses bilaterais e assumindo o nível de significância α=5%.
O período pré-tratamento foi considerado a média dos ciclos 1 e 2, e foi
utilizado como base para a comparação
Tabela 1
RESULTADOS
A comparação da média das variáveis
limiar de dor, tolerância à dor e intensidade da dor nos ciclos 1 e 2 (pré-tratamento) não detectou diferenças significativas entre os ciclos (p=0,702; 0,507;
0,319, respectivamente). Assim, pode-se
considerar que nesses ciclos, os três grupos (placebo, acupuntura e convencional) eram homogêneos entre si. Os valores medidos de limiar de dor, tolerância à dor e intensidade da dor são
apresentados na Tabela 1.
Limiar de dor e tolerância à dor (em segundos) e intensidade de dor (em
cm da escala visual analógica) nos três grupos (média ± desvio padrão)
antes, durante e após o tratamento e valor de p da diferença entre os ciclos
Variável
Pré-tratamento
Tratamento
Pós-tratamento
p
Grupos (n=10) Ciclos 1 e 2 Ciclo 3
Ciclo 4
Ciclo 5
Ciclo 6
Limiar (s)
Convencional 16,4r4,3
16,7r4,7
15,9r6,1 21,4r10,1 21,2r9,8 0,5310
Acupuntura
13,9r3,4
16,7r4,3
15,0r2,5
16,9r2,6
17,6r3,1 0,4446
Placebo
12,2r2,4
10,2r1,8
13,3r3,0
16,3r4,2
16,2r2,4 0,0605
Tolerância (s)
Convencional 39,3r9,6
39,6r7,8 42,2r12,6 57,6r18,2 65,9r30,6 0,4100
Acupuntura
42,1r11,5 40,6r9,8
38,9r6,0 42,1r11,5 40,2r5,4 0,9950
Placebo
27,4r4,5
24,0r5,2
22,7r2,9
24,9r6,1
24,7r2,4 0,8586
Intensidade (cm)
Convencional 4,5r0,7
4,7r0,8
5,3r0,7
4,9r0,7
5,1r0,9 0,5871
Acupuntura
5,8r0,4
6,1r0,5
6,3r0,4
6,9r0,5
7,1r0,5 0,3363
Placebo
5,1r0,5
6,1r0,4
5,6r0,5
6,0r0,7
6,5r0,6 0,0574
Limiar da dor
35
30
Segundos
Figura 1
Repouso
Pré-tratamento
Ciclo 3
Ciclo 4
Ciclo 5
Ciclo 6
25
20
15
10
5
0
Convencional
Acupuntura
Placebo
Grupo
Figura 2
Limiar de dor (s, média e erro padrão) no período pré-tratamento e nos
ciclos 3, 4, 5 e 6 dos grupos (n=10) convencional, acupuntura e placebo
Morimoto et al.
120
TENS nos modos convencional e acupuntura para dor
Tolerância à dor
Segundos
100
Pré-tratamento
Ciclo 3
Ciclo 4
Ciclo 5
Ciclo 6
80
60
40
20
0
Convencional
Acupuntura
Placebo
Grupo
Figura 3 Tolerância à dor (s, média e erro padrão) no período pré-tratamento e nos
ciclos 3, 4, 5 e 6 nos grupos convencional (n=10), acupuntura (n=9) e
placebo (n=9)
Intensidade da dor
cm da EVA
9
8
7
6
5
4
3
Pré-tratamento
Ciclo 3
Ciclo 4
Ciclo 5
Ciclo 6
2
1
0
Convencional
Acupuntura
Placebo
Grupo
Figura 4
Intensidade da dor (cm da escala visual analógica – EVA), média e erro
padrão) no período pré-tratamento e nos ciclos 3, 4, 5 e 6 dos grupos
(n=10) convencional, acupuntura e placebo
Na Figura 2 são apresentados os valores da variável limiar de dor para cada
grupo, em cada ciclo. Nenhuma diferença estatisticamente significante foi
encontrada entre os ciclos nos grupos. Os
intervalos demarcados pelas barras indicam os erros-padrão de cada ciclo.
Quando avaliada a tolerância à dor,
dois sujeitos dos grupos acupuntura e
placebo foram excluídos da pesquisa,
pois tiveram tolerância ao frio que ultrapassou os 5 minutos do protocolo. Na
Figura 3 são apresentados os valores
da variável tolerância à dor para cada
grupo, em cada ciclo. Nenhuma diferença estatisticamente significante foi
encontrada entre os grupos nem entre
os ciclos.
Na Figura 4 são apresentados os valores da variável intensidade da dor avaliada pela EVA para cada grupo, em cada
um dos ciclos considerados no estudo.
Nenhuma diferença estatisticamente
significante foi encontrada entre os grupos ou ciclos.
DISCUSSÃO
Johnson26, em um estudo que avaliou
os efeitos das diferentes freqüências da
TENS na dor induzida pelo frio, observou
que não há diferença significante entre
homens e mulheres na reação à dor experimental. Foi com base nesses resultados que, no presente trabalho, os voluntários foram igualmente distribuídos
entre os sexos (quinze homens e quinze
mulheres).
A escolha do protocolo de indução
da dor pelo frio no presente estudo –
composto por 6 ciclos de 10 minutos
cada (2 ciclos pré-tratamento, 2 ciclos
tratamento e 2 ciclos pós-tratamento) –
deve-se a sua ampla utilização na literatura27-35.
Alguns autores optaram por adotar
protocolos com tempo de tratamento
maior. Johnson 26, Johnson et al. 27 e
Stephenson e Walker36 utilizaram um
protocolo composto por 6 ciclos (2 ciclos pré-tratamento e 4 ciclos tratamento), onde cada ciclo tinha duração
de 15 minutos, totalizando 60 minutos de
tratamento. Johnson et al.13 adotaram um
protocolo com 8 ciclos (2 pré-tratamento,
3 tratamento e 3 pós-tratamento), onde cada
ciclo tinha a duração de 10 minutos,
totalizando 30 minutos de tratamento.
Vários estudos28-32,35 utilizaram um
protocolo onde o ponto de tolerância à
dor é pré-determinado (30 s). Porém,
durante um teste piloto realizado para
este estudo, verificou-se que muitos voluntários não toleravam esse tempo imposto, de modo que este seria um fator
de exclusão no estudo. Adotou-se assim
um protocolo no qual a tolerância à dor
é determinada pelo próprio voluntário
– o que já havia sido utilizado em alguns estudos26,27,36.
A estimulação elétrica nervosa transcutânea é um recurso já consagrado na
modulação de dores agudas e crônicas,
sendo utilizada diariamente como parte
do arsenal de recursos disponíveis ao
fisioterapeuta22-24. Seu mecanismo de ação
passou a ser melhor compreendido após
a postulação da teoria das comportas por
Melzack e Wall25, sendo determinado que
a estimulação de fibras nervosas aferentes
de grosso calibre (mielinizadas) e rápida
velocidade de condução (A-beta) poderia inibir a passagem de estímulos nociceptivos que estariam sendo transmitidas pelas fibras lentas do tipo A-delta
e tipo C.
Para quantificar a intensidade da dor
de maneira fidedigna, foi utilizada a escala visual analógica (EVA), que é uma
escala amplamente utilizada pela literatura em geral e, também, pelos estudos que adotaram o protocolo de dor
induzida pelo frio26-31,33-36.
Uma das modalidades da TENS é a
chamada acupuntura, que produz contrações musculares por alta intensidade
e baixa freqüência (2 a 4 Hz). Essa modalidade produz analgesia preferencialmente pela ativação das fibras de pequeno diâmetro e liberação de opióides no
sistema nervoso central3,26.
A tolerância à dor, outra variável aqui
avaliada, é pouco relatada pelos autores, tendo sido analisada apenas por
Johnson26 e Johnson et al.27, em trabalhos que observaram os efeitos analgésicos nas diferentes freqüências e durações de pulso da TENS na dor induzida
pelo frio em sujeitos normais.
2009;16(2)
Fisioter Pesq. 2009;16(2):148-54
151
Nos estudos que utilizaram o protocolo de indução da dor pelo frio, os autores não relatam como, e com que instrumento, ocorre a manutenção da água
morna durante todo o ciclo (60 minutos). Na falta dessa informação, para este
estudo foi elaborado um instrumento
onde a água foi aquecida a 37ºC e essa
temperatura foi mantida durante todo o
protocolo. Essa informação é de grande
importância para estudos que venham
adotar esse protocolo, pois permite que
futuros pesquisadores utilizem o mesmo
instrumento aqui utilizado.
Vários autores13,26,28,29,33 preconizaram
um posicionamento de eletrodos apenas
na superfície ventral do antebraço, visando estimular o nervo mediano. O presente trabalho adotou um posicionamento
de eletrodos tal que envolve os dermátomos e miótomos correspondentes ao
sítio doloroso, uma vez que o estímulo
doloroso ocorrerá em toda a mão, e não
somente nas áreas inervadas pelo nervo
mediano. Além disso, esse posicionamento visa uma melhor eficácia do mecanismo de ação de ambas as modalidades (TENS convencional e TENS
acupuntura).
Os parâmetros utilizados na TENS
convencional e TENS acupuntura foram
selecionados conforme o que a literatura tem mostrado. Johnson et al.6 observaram que a freqüência de 80 Hz produziu maior elevação no limiar de dor.
Sluka et al.37 e Walsh et al.17 utilizaram
a freqüência de 4 Hz para a TENS
acupuntura, sendo que este último estudo observou que a freqüência de 4 Hz
foi a única a demonstrar um efeito analgésico significante. A duração de pulso
utilizada no presente estudo foi selecionada devido à sua ampla utilização em
estudos semelhantes13,26,27,33.
O presente estudo não apresentou
diferenças estatisticamente significantes
2009;16(2)
152 Fisioter Pesq. 2009;16(2):148-54
entre os ciclos nos grupos (placebo, convencional e acupuntura). É provável que
esses resultados tenham sido decorrentes da vasta variabilidade do limiar de
dor na população, como citam Johnson
e Tabasam31.
Johnson38 preconiza o tempo de tratamento para a TENS convencional de
pelo menos 30 minutos e, para a TENS
acupuntura, de em média 20 minutos.
Portanto, outro fator determinante dos
resultados encontrados pode ter sido a
escolha do protocolo com tempo de tratamento de 20 minutos. Johnson e
Tabasam31 adotaram esse mesmo protocolo e também não encontraram diferenças estatisticamente significantes em
seus resultados. Em contrapartida,
Shanahan et al.33 utilizaram um protocolo semelhante ao do presente estudo
para comparar a TENS e terapia interferencial, tendo como resultado uma maior efetividade da TENS no aumento do
limiar de dor. Ward e Oliver34 e Aaskorg
et al.39 também realizaram um estudo
com 20 minutos de eletroestimulação e
obtiveram resultados positivos quanto ao
limiar de dor. Outros estudos que utilizaram um tempo de tratamento superior a 20 minutos obtiveram dados
significantes em relação ao aumento do
limiar de dor12,13,27,29,30.
Considerando os mecanismos de
ação da TENS convencional e da TENS
acupuntura, sugere-se que o tempo de
tratamento de 20 minutos talvez não seja
suficiente para produzir um efeito analgésico eficaz no limiar, na tolerância e
na intensidade da dor induzida pelo frio,
principalmente na modalidade convencional.
A TENS acupuntura tem uma particularidade no efeito pós-tratamento devido à liberação de opióides no sistema
nervoso central, que ocorre de maneira
progressiva e lenta. A eficácia da TENS
acupuntura foi observada no estudo de
Johnson et al.13, que usaram um modelo
experimental com tempo de tratamento
de 30 minutos. O comportamento do limiar de dor no pós-tratamento mostrouse mais eficaz na TENS acupuntura
quando comparado às outras modalidades da TENS, o que não foi verificado no presente estudo, com menor
tempo de tratamento.
Para realização de estudos futuros que
comparem a TENS convencional com a
TENS acupuntura na dor induzida pelo
frio, é interessante utilizar um protocolo com tempo de tratamento superior a
20 minutos, como fizeram Johnson et
al.13, objetivando-se melhor eficácia no
mecanismo de ação dessas modalidades.
Além disso, sugere-se um aumento da
amostra na tentativa de diminuir o valor
de desvio-padrão, e que seja realizado
um estudo cruzado, de modo a minimizar a interferência da variabilidade do
limiar de dor de cada sujeito. Ward e
Oliver34 realizaram um estudo cruzado
com 19 sujeitos, no qual cada voluntário participou de todos os grupos do estudo, sendo possível avaliar o limiar de
dor do mesmo sujeito em diferentes
tratamentos.
CONCLUSÃO
Como não houve diferença no limiar,
intensidade ou tolerância à dor induzida
pelo frio entre os ciclos nos grupos investigados, pode-se dizer que a estimulação
elétrica nervosa transcutânea, nas modalidades convencional e acupuntura, não
surtiu efeito analgésico, nos parâmetros
de aplicação utilizados, sugerindo-se novos estudos com diferentes modelos de
dor experimental e permitindo maiores
tempos de aplicação da TENS.
Morimoto et al.
TENS nos modos convencional e acupuntura para dor
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ISSN 1809-2950
Avaliação da capacidade funcional e da qualidade de vida em pacientes renais
crônicos submetidos a tratamento hemodialítico
Assessment of functional capacity and quality of life in chronic renal patients
under hemodialysis treatment
Marina Stela Cunha1, Viviane Andrade1, Cristina A. Veloso Guedes2,
Cristiane Helita Zorel Meneghetti3, Ana Paula de Aguiar3, Andréa Luciana Cardoso3
Estudo desenvolvido no Curso
de Fisioterapia do Uniararas –
Centro Universitário Hermínio
Ometto, Araras, SP, Brasil
1
Fisioterapeutas
2
Doutoranda em Ciências
Médicas na Universidade
Estadual de Campinas,
Campinas, SP
3
Fisioterapeutas Ms. do
Uniararas
ENDEREÇO PARA
CORRESPONDÊNCIA
Marina S. C. Pedroso
R. Luis Stefani 446 Parque
Industrial
13601-351 Araras SP
e-mail:
[email protected];
[email protected]
APRESENTAÇÃO
dez. 2008
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO
maio 2009
RESUMO: Este estudo visou avaliar a capacidade funcional e a qualidade de vida em
pacientes com incapacidade renal crônica (IRC) submetidos a tratamento
hemodialítico e verificar possíveis correlações entre essas variáveis clínicas e idade,
índice de massa corpórea (IMC) e tempo de hemodiálise. Dezesseis pacientes com
IRC foram submetidos à avaliação da capacidade funcional pelo teste de caminhada
de seis minutos (TC6’), mensuração das pressões inspiratória e expiratória máxima,
e pela aplicação da escala de severidade da fadiga. Também responderam ao
questionário SF-36, sobre qualidade de vida relacionada à saúde (QV). A capacidade
funcional mostrou-se abaixo dos valores preditos no TC6’ e na força dos músculos
respiratórios (principalmente expiratórios); e todos apresentaram em média fadiga
leve. Pacientes com mais de 60 anos e aqueles com menor tempo de hemodiálise
apresentaram baixa capacidade funcional apenas quanto à distância caminhada,
sem prejuízo das demais funções. O IMC não interferiu na capacidade funcional.
O escore médio no SF-36 foi 72,3; dor e prejuízo na vitalidade foram indicados
como os itens que mais interferem em sua QV, tendo os fatores idade, índice de
massa corporal e tempo de hemodiálise não se mostrado relevantes na maioria dos
domínios avaliados pelo SF-36. Os resultados sugerem que, com pouca interferência
da idade e do tempo de hemodiálise, pacientes com IRC submetidos a tratamento
hemodialítico apresentam prejuízos na capacidade funcional e na QV.
DESCRITORES: Diálise renal/efeitos adversos; Insuficiência renal crônica; Qualidade
de vida
ABSTRACT: This study aimed at evaluating the functional capacity and health-related
quality of life in chronic renal insufficiency (CRI) patients undergoing hemodialysis
treatment, also checking possible correlations between these clinical variables and
age, body mass index (BMI), and hemodialysis time. Sixteen patients were submitted
to functional capacity assessment by means of the six-minute walk test (6WT),
measures of maximal inspiratory and expiratory pressures, and by the fatigue severity
scale (FSS). Patients also answered the SF-36 questionnaire. Functional capacity
proved to be below predicted values at the 6WT and at respiratory, mainly expiratory
muscles; mean FSS scores pointed to moderate fatigue. Patients over 60 years old
and those with lesser hemodialysis time showed lower functional capacity only as
to the distance walked at the 6WT. BMI did not interfere with functional capacity.
Mean overall SF-36 scores were low; pain and lesser vitality were pointed as the
SF-36 domains that most interfere in quality of life; age, BMI, and hemodialysis
time have not shown to be relevant to most SF-36 domains. Results suggest that,
with slight interference of age and hemodialysis time, patients with CRI undergoing
hemodialysis treatment have poor functional capacity and health-related quality of
life.
KEY WORDS: Quality of life; Renal dialysis/adverse effects; Renal insufficiency,
chronic
Fisioter Pesq. 2009;16(2):155-60
2009;16(2)
155
INTRODUÇÃO
A insuficiência renal crônica (IRC)
caracteriza-se por lesão nos rins onde
há perda progressiva e irreversível da
função renal, o que leva à perda da capacidade de manter o equilíbrio metabólico e hidroeletrolítico1. Os pacientes
com IRC apresentam uma série de sinais
e sintomas que dependem do grau de comprometimento renal, de outras condições
subjacentes e da idade. Observam-se manifestações neurológicas centrais, periféricas, gastrintestinais, endocrinológicas,
metabólicas, infecciosas, dermatológicas
e hematológicas. A associação dessas
alterações pode levar o indivíduo a fadiga e dispnéia2,3.
Várias complicações podem ocorrer
no paciente com IRC devido ao tratamento hemodialítico a que são submetidos, como deterioração musculoesquelética, fraqueza, descoloração da pele,
emagrecimento, edema, fadiga e alterações pulmonares4. Entre os resultados das
alterações pulmonares encontram-se diminuição da capacidade de difusão,
hipoventilação alveolar e hipóxia4-6.
Um estudo sobre IRC observou que a
capacidade aeróbica é relativamente
baixa, ao ponto de alguns pacientes não
terem condições físicas para se submeter a um teste de aptidão cardiorrespiratória7. A reduzida capacidade cardiorrespiratória está associada à marcada
hipotrofia muscular em fibras do tipo I e
II e redução da força muscular, sendo
ainda influenciada por longos períodos
de inatividade após diagnóstico de IRC,
o que leva a um progressivo descondicionamento. A capacidade de exercício em
indivíduos com IRC pode ser de 50%
em relação aos níveis esperados7,8.
Estudos prévios6,9,10 mostraram que a
IRC e o tratamento hemodialítico provocam uma série de alterações que comprometem não só o aspecto físico como
psicológico, com repercussões pessoais,
familiares e sociais, alterando assim a
qualidade de vida relacionada à saúde.
Esta, além da saúde, inclui educação,
acesso a serviços de saúde, satisfação e
condições dignas de trabalho5,10. A IRC
causa um forte impacto na vida das pessoas no que diz respeito à condição física, ao cotidiano, ao trabalho, à alimenta-
2009;16(2)
156 Fisioter Pesq. 2009;16(2):155-60
ção e também aos valores que orientam
as pessoas em seu processo de viver11.
Estudos mostram que pacientes com IRC
em tratamento hemodialítico apresentam uma qualidade de vida prejudicada
pela capacidade cardiorrespiratória limitada e capacidade física diminuída, o
que pode prejudicar o desempenho nas
atividades de lazer, trabalho e convívio
social, principalmente para pessoas jovens, pois estão na fase produtiva e de
compromissos sociais, alguns envolvidos
na formação profissional e outros no trabalho5,7.
O objetivo deste estudo foi avaliar a
capacidade funcional e a qualidade de
vida em pacientes com IRC submetidos
a tratamento hemodialítico e verificar se
há correlação entre estas e características dos pacientes como idade, índice de
massa corporal e tempo de hemodiálise.
METODOLOGIA
Este estudo transversal obteve aprovação do Comitê de Ética e Mérito em
Pesquisa do Uniararas – Centro Universitário Hermínio Ometto.
Participaram do estudo 16 pacientes
com IRC que fazem tratamento hemodialítico no Serviço de Hemodiálise da
Irmandade Santa Casa de Misericórdia de
Araras, de ambos os sexos, com idades
entre 26 e 70 anos (média 53,56±14,18
anos), e que aceitaram participar do estudo. Foram excluídos pacientes com deficit
cognitivo e visual, não-deambuladores independentes ou que não aceitaram participar do estudo. Antes de iniciar a avaliação, todos assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido.
As avaliações foram realizadas antes
da sessão de hemodiálise, num período
de 30 dias, sendo avaliado um paciente
por dia em quatro dias na semana.
A capacidade funcional foi avaliada
pelo teste de caminhada de seis minutos (TC6’), pelo desempenho dos músculos respiratórios (com mensuração das
pressões inspiratória e expiratória máximas) e pela sensação de fadiga (pela ESF
– escala de severidade de fadiga). Para
avaliar a qualidade de vida foi aplicado
o questionário SF-36.
O TC6’ foi realizado em um corredor
plano no setor de hemodiálise, com 20
metros de comprimento. Foi solicitado
ao paciente caminhar o mais rápido
possível, sendo permitido que estabelecesse a velocidade da caminhada e interrupção quando necessário. A cada
minuto, sempre pela mesma pessoa e
com os mesmos comandos verbais, o
paciente foi encorajado a caminhar o
mais rápido possível. A distância caminhada em metros e o número de interrupções durante o teste foram registrados; durante as eventuais interrupções
o cronômetro não foi parado. Também
foram avaliados os dados vitais – pressão arterial, freqüência cardíaca e freqüência respiratória – no inicio, no final e após no mínimo três minutos de
repouso12.
Para o cálculo do valor predito, ou
de referência, da distância caminhada
no TC6’ foram utilizadas as equações
abaixo, determinando-se o percentual
do predito para o alcançado no teste
pelo paciente13:
Homens: distância TC6’ (m) = (7,57 x
altura cm) – (5,02 x idade) –
(1,76 x peso kg) – 309 m
Mulheres: distância TC6’ (m) = (2,11 x
altura cm) – (2,29 x peso kg) –
(5,78 x idade) + 667 m.
Para verificação da força dos músculos respiratórios foram mensuradas a
pressão inspiratória máxima (PImáx) e a
pressão expiratória máxima (PEmáx). O
paciente foi posicionado sentado e as
medições foram feitas com um manovacuômetro (Gerar), com escala de 4 em
4 cmH2O, previamente calibrado, acoplado a um bocal descartável e pinça
nasal. Na medição da PImáx, foi solicitada uma expiração máxima até o volume
residual (VR) e, em seguida, um esforço
inspiratório máximo, que foi mantido por
cerca de um segundo, com oclusão do
manovacuômetro feita manualmente pelo
pesquisador. Para a PEmáx, os pacientes
inspiraram no bocal até a capacidade pulmonar total e, em seguida, fizeram um
esforço expiratório máximo contra uma
via aérea ocluída. A leitura do valor da
medida foi feita diretamente no visor do
manovacuômetro. Tanto para PImáx
como para PEmáx as manobras foram
repetidas de três a cinco vezes, sendo
Cunha et al.
Capacidade funcional e QV de pacientes renais
considerado o maior valor14. Os valores
preditos para posterior análise foram
dados pelas fórmulas abaixo:
Homens: PImáx = 143 - [0,55x idade (anos)]
PEmáx = 268 -[1,03x idade (anos)]
Mulheres: PImáx = 104 - [0,51x idade (anos)]
PEmáx = 170 -[0,53x idade (anos)]15.
Para avaliação da fadiga, os pacientes foram submetidos a um questionário
de escala de severidade de fadiga (ESF),
composto por nove itens, em que o paciente marcou, de um a sete, o valor para
cada questão relacionada à fadiga. Na
ESF, os escores variam de 9 a 63 e um
escore igual ou superior a 28 é considerado indicativo de fadiga; consideram-se
escores de 28 a 39 como fadiga leve, de
40 a 51 fadiga moderada e de 52 a 63,
fadiga grave16.
Para avaliação da qualidade de vida
foi utilizado o questionário SF-36 (ShortForm Health Survey) traduzido e validado por Ciconelli17, que consiste em 36
itens agrupados em oito domínios: capacidade funcional, aspectos físicos, dor,
estado geral de saúde, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental. Para cada paciente e para
cada um dos oito domínios, foi obtido um
escore ao se aplicar uma escala de medida com valores de 0 (mais comprometido) a 100 (nenhum comprometimento).
Análise estatística
Os dados obtidos foram inicialmente
analisados de forma descritiva para observação da freqüência e distribuição em
média e desvio padrão de cada variável.
Em seguida foi usado o teste Mann-Whitney
para comparar os resultados encontrados
com os valores preditos para a capacidade funcional. Para analisar a influência
dos fatores idade, IMC e tempo de
hemodiálise a amostra foi dividida em
seis subgrupos: com idade = 60 anos,
com idade > 60 anos, com IMC=24,9
kg/m2 (normal), com IMC>24,9 kg/m2
(com sobrepeso), com tempo de hemodiálise = 48 meses e com tempo de
hemodiálise superior a 48 meses. Para
comparação entre os grupos sob cada
influência (idade, IMC e tempo de
hemodiálise), foi usado o teste MannWhitney. O nível de significância utilizado foi p=0,05.
RESULTADOS
Foram avaliados 16 pacientes com IRC
com idades de 26 a 70 anos e média de
idade 53,6±14,2 anos, média de peso
65,0±12,9 kg, e altura média 170±10 cm.
Dentre os pacientes, 10 são homens e 6
são mulheres. A média do IMC do grupo
estudado foi de 23,77±3,41 kg/m2. O tempo médio do tratamento hemodialítico do
grupo foi de 62,3±46,8 meses.
No TC6 a média da distância percorrida foi de 404,5±105,0 m, ou seja,
70,3% do predito, com diferença significante entre o alcançado e o predito
(p<0,01 – Tabela 1). Em relação à força
muscular respiratória, a média de PImáx
obtida foi de 70,25 cmH2O, representando 70,8% do predito, com diferença
significativa (p<0,01). A média de PEmáx
obtida foi bastante baixa, uma porcentagem de 28,6 do valor predito, com diferença também significativa (p<0,01).
A média do escore obtido na ESF na
amostra foi 31,7±20,5, indicando fadiga leve.
O estudo da influência do fator idade nos escores da ESF não mostrou difeTabela 1
rença significativa entre os indivíduos
com idade igual ou menor que 60 anos
(n=8) e aqueles com mais de 60 (n=8),
embora os primeiros tenham tido escore
médio mais elevado, devido ao maior
tempo de hemodiálise (Tabela 2). No
TC6’, foi encontrada diferença significativa (p=0,05) entre a distância média
percorrida pelos mais jovens (455,1 m)
e os mais velhos (354,0 m). As medidas
da PImáx e PEmáx não foram significativamente diferentes quanto à idade (Tabela 2). Tampouco foi encontrada diferença significativa de IMC entre aqueles
com índice acima (n=7) e abaixo (n=9)
do limite de sobrepeso (24,9 kg/m2) nas
demais variáveis, sugerindo que este não
teve influência na capacidade funcional
(Tabela 2).
Quanto ao tempo de hemodiálise,
teve influência significativa (p=0,05) na
distância percorrida pelos sujeitos com
TH=48 meses (349,8 m) e com tempo
superior a 48 meses (459,4 m) – Tabela 2.
Dentre as respostas ao questionário SF36, sobre qualidade de vida relacionada
à saúde, as pontuações foram mais elevadas nos domínios aspectos sociais (média
Comparação entre os valores obtidos e preditos (média ± desvio padrão) no
TC6’ e na medição das pressões inspiratória e expiratória máximas (n=16)
Medições
TC6’ (m)
PImáx (cmH2O)
PEmáx (cmH2O)
Obtido
404,5±105,0
70,25±29,91
54,00±23,69
Predito
575,7±102,2
99,56±18,44
185,38±34,97
*
*
*
% do predito
70,3±15,3
70,8±23,2
28,6±9,1
TC6’ = teste de caminhada de 6 minutos; PImáx = pressão inspiratória máxima; PEmáx = pressão
expiratória máxima; * p<0,01
Tabela 2
Escores nos testes ESF e TC6’, pressões inspiratória e expiratória máximas
(média ± desvio padrão) e comparação entre os subgrupos segundo
idade, índice de massa corporal (IMC) e tempo de hemodiálise (TH)
Característica
ESF (pontos)
”60 anos
41,4±20,7
(n=8)
Idade >60 anos
22,0±17,9
(n=8)
2
”24,9 kg/m
28,1±19,5
(n=9)
IMC >24,9 kg/m2
36,3±24,0
(n=7)
”48 meses
23,1±19,6
(n=8)
TH
>48 meses
40,3±20,4
(n=8)
TC6’ (m)
PImáx (cmH2O) PEmáx (cmH2O)
455,1±97,5
66,50±17,49
59,50±25,43
354,0±99,2*
74,00±31,50
48,50±22,06
444,1±75,3
78,22±24,09
62,67±25,92
353,6±128,3
60,00±23,66
42,86±15,78
349,8±113,7
64,50±25,96
53,50±32,35
459,4±73,4*
76,00±24,10
54,50±12,46
ESF = escore na escala de severidade da fadiga; TC6’ = distância andada no teste de caminhada de
6 minutos; PImáx = pressão inspiratória máxima; PEmáx = Pressão expiratória máxima; * diferença
significativa (p=0,05) entre os subgrupos
Fisioter Pesq. 2009;16(2):155-60
2009;16(2)
157
Correlação idade X qualidade de vida
Saúde
Saúdemental
mental
*
*
Domínios do SF-36
Aspectos
AspectosEmocionais
emocionais
Asp Sociais
Aspectos
sociais
Vitalidade
Vitalidade
> 60 anos
Est Geral
Estado
geral
” 60 anos
Dor
Dor
Limites
A. Fisicos
Aspectos
físicos
Capacidade
funcional
Cap Funcional
0
25
50
Pontuação média
75
100
Gráfico 1 Escores obtidos nos domínios do questionário SF-36 e comparação entre
os subgrupos quanto à idade; * p=0,03
mental, tendo o subgrupo de mais velhos
apresentado média superior àqueles com
60 anos ou menos (Gráfico 1). Quanto
ao IMC, foi encontrada significância estatística (p<0,01) apenas na diferença de
escores no domínio capacidade funcional, tendo o subgrupo com peso considerado normal ou inferior apresentado
média superior à do subgrupo com IMC
superior a 24,9 kg/m2 (Gráfico 2). A análise da influência do tempo de hemodiálise sobre os escores de qualidade de
vida mostrou significância (p=0,02) apenas nos escores do domínio estado geral, tendo o subgrupo com menor TH
apresentado média superior à do grupo
com mais de 48 meses de hemodiálise
(Gráfico 3).
Correlação índice de massa corporal X qualidade de vida
DISCUSSÃO
Saúde mental
Domínios do SF-36
Aspectos
emocionais
Aspectos
Emocionais
Asp Sociais
Aspectos
sociais
Vitalidade
> 24,9 kg/m2
Estado
geral
Est Geral
” 24,9 Kg/m2
Dor
Aspectos
físicos
Limites
A. Fisicos
*
Cap Funcional
Capacidade
funcional
0
*
25
50
Pontuação média
75
100
Gráfico 2 Escores obtidos nos domínios do questionário SF-36 e comparação entre
os subgrupos quanto ao índice de massa corporal (IMC); * p<0,001
Correlação tempo de hemodiálise X qualidade de vida
Saúde mental
Domínios do SF-36
Aspectos
AspectosEmocionais
emocionais
Asp Sociais
Aspectos
sociais
Vitalidade
> 48 meses
*
Est Geral
Estado
geral
” 48 meses
*
Dor
Limites
A. Fisicos
Aspectos
físicos
Cap Funcional
Capacidade
funcional
0
25
50
Pontuação média
75
100
Gráfico 3 Escores obtidos nos domínios do questionário SF-36 e comparação entre
os subgrupos quanto ao tempo de hemodiálise; *p=0,02
de 88,3±24,4) e aspectos emocionais
(77,1±40,3). As pontuações mais baixas
foram nos domínios dor (62,9±31,4) e
vitalidade (65,3±21,3).
2009;16(2)
158 Fisioter Pesq. 2009;16(2):155-60
A análise da influência do fator idade (=60 anos ou >60 anos) nos escores
do SF-36 mostrou diferença significativa
(p=0,03) apenas para o domínio saúde
Pacientes com IRC que são submetidos
a tratamento hemodialítico apresentam
diminuição na capacidade funcional, resultando em prejuízos na qualidade de
vida, tanto física quanto mental9,18. No
presente estudo, a capacidade funcional
dos sujeitos avaliados, representada pela
distância percorrida em seis minutos,
força dos músculos respiratórios e sensação de fadiga, mostrou-se reduzida.
Segundo Medeiros et al. 19, pacientes
com IRC submetidos a tratamento
hemodialítico sofrem alterações importantes no sistema muscular, uma vez que
a musculatura se atrofia. Como conseqüência, ocorre no organismo uma fraqueza generalizada, causada pela perda
de força, levando o paciente a ter diminuição na tolerância ao exercício físico.
A fadiga é um fator limitante da capacidade funcional em pacientes com
IRC5,19. Na amostra estudada, o escore
médio na escala de sensação de fadiga
indicou presença de fadiga leve, o que
também pode ter contribuído para a reduzida capacidade funcional observada
no presente estudo.
Alterações na função respiratória também estão entre as condições mais freqüentes apresentadas por pacientes com
IRC submetidos a tratamento hemodialítico 20,21. Os pacientes deste estudo
apresentaram importantes alterações
quanto à força muscular respiratória,
principalmente na força expiratória, tendo apresentado níveis muito abaixo dos
Cunha et al.
preditos, o que pode estar associado à
diminuição da força da musculatura
esquelética, como comentado acima.
Em relação à idade, os pacientes acima de 60 anos apresentaram prejuízos
maiores no que se refere à capacidade
funcional, principalmente no TC6’. Segundo vários autores21-23, a intensidade
da fadiga associa-se à idade mais elevada, à condição crônica da doença e ao
tempo de tratamento hemodialítico do
paciente com IRC, diminuindo assim
ainda mais a capacidade funcional. Dentre esses três fatores, o maior tempo de
tratamento hemodialítico foi o que mais
interferiu na sensação de fadiga do grupo com menos de 60 anos.
Já na comparação da capacidade funcional com o tempo de hemodiálise, o
grupo com tempo menor que 48 meses
apresentou pior desempenho no TC6’.
O que pode justificar esse fato é que a
idade média desse grupo era bem mais
elevada que a daqueles com mais tempo de hemodiálise, sendo possível que
o principal fator limitante seja a idade e
não o tempo de hemodiálise.
Dentre os estudos que abordaram a
questão da qualidade de vida de pessoas
com IRC submetidas a tratamento
hemodialítico, vários autores9,17,24 encontraram uma perspectiva negativa de
viver com IRC, que traz importantes limitações físicas, psicológicas e sociais. A
Capacidade funcional e QV de pacientes renais
pontuação obtida em todos os domínios
avaliados pelo questionário SF-36, no
presente estudo, confirma isso, tendo os
sujeitos relatado perceber o impacto da
doença em sua qualidade de vida, principalmente no que se refere aos domínios dor e vitalidade.
ta na qualidade de vida relacionada à
saúde. Também no presente estudo, os
pacientes com mais de 48 meses de tratamento apresentaram menores escores
no domínio estado geral do questionário de qualidade de vida.
Segundo Schardong et al.20, os pacientes mais velhos tendem a estar mais satisfeitos com o tratamento hemodialítico,
aceitando melhor suas limitações do que
indivíduos jovens. Isso pode justificar os
resultados no presente estudo em relação
à qualidade de vida, de que os pacientes
com idade superior a 60 anos apresentaram maior escore no domínio saúde
mental do SF-36 quando comparados
àqueles com idade inferior a 60 anos.
CONCLUSÃO
Em estudo realizado por Trentini et
al.5, pessoas com IRC submetidas a tratamento hemodialítico ganham peso
entre uma sessão e outra de hemodiálise
devido à retenção de líquido, o que vem
a causar cansaço, entre outras alterações, prejudicando assim a capacidade
funcional. Esses achados confirmam o
observado no presente estudo, onde o
subgrupo com sobrepeso apresentou
menor escore médio no domínio capacidade funcional do SF-36 quando comparado ao grupo com IMC normal ou
menor. Marchesan et al.21 verificaram
que quanto mais tempo o paciente com
IRC estiver submetido ao tratamento
hemodialítico, mais prejuízos apresen-
Neste estudo, a capacidade funcional dos pacientes com IRC submetidos
a tratamento hemodialítico mostrou-se
abaixo dos valores preditos quanto à
distância percorrida no TC6’ e à força
dos músculos respiratórios (principalmente musculatura expiratória), tendo
relatado em média sensação de fadiga
leve. Pacientes com idade acima de 60
anos e aqueles com maior tempo de
hemodiálise apresentaram redução da
capacidade funcional apenas quanto à
distância percorrida, sem prejuízo das
demais funções. Dor e prejuízo na vitalidade foram indicados como os fatores
que mais interferem em sua qualidade
de vida relacionada à saúde, tendo fatores como idade, índice de massa corporal e o tempo de hemodiálise não se
mostrado relevantes na maioria dos domínios desta. Os resultados do estudo indicam que pacientes com insuficiência
renal crônica submetidos a tratamento
hemodialítico têm a qualidade de vida
afetada negativamente e apresentam diminuição da capacidade funcional.
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Trentini M, Corradi EM, Araudi MAR, Tigrinbo FC.
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ISSN 1809-2950
Efeito de um programa de treinamento de facilitação neuromuscular
proprioceptiva sobre a mobilidade torácica
Effect of a training program based on proprioceptive neuromuscular
facilitation onto thoracic mobility
Marlene Aparecida Moreno1, Ester da Silva1, Roberta Silva Zuttin2, Mauro Gonçalves3
Estudo desenvolvido no
Laboratório de Pesquisa em
Fisioterapia Cardiovascular e
de Provas Funcionais da FCS/
Unimep – Faculdade de
Ciências da Saúde da
Universidade Metodista de
Piracicaba, Piracicaba, SP,
Brasil
1
Fisioterapeutas; Profas. Dras.
do PPG-Ft – Programa de PósGraduação em Fisioterapia da
Unimep
2
Fisioterapeuta Ms.
3
Fisioterapeuta; Prof. Dr. do
PPG em Ciências da
Motricidade do Instituto de
Biociências da Universidade
Estadual Paulista, Rio Claro, SP
ENDEREÇO PARA
CORRESPONDÊNCIA
Marlene A. Moreno
R. Santa Cruz 990 Bairro Alto
13419-030 Piracicaba SP
e-mail: [email protected]
APRESENTAÇÃO
jan. 2009
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO
jun. 2009
RESUMO: A proposta deste estudo foi analisar o efeito de um programa de treinamento
de membros superiores baseado nas técnicas de facilitação neuromuscular
proprioceptiva (FNP) sobre a mobilidade torácica. Foram estudadas 24 voluntárias
sedentárias, idade 22,9 ± 2,9 anos, divididas em grupo controle (GC), que não
participou do treinamento, e grupo treinado (GT). O protocolo de treinamento
físico foi constituído por um programa de exercícios de FNP, realizado três vezes
por semana, durante quatro semanas. Os dois grupos foram submetidos à avaliação
da mobilidade torácica por meio de cirtometria, antes e após o período de
treinamento. Os dados colhidos foram analisados estatisticamente, com nível de
significância α = 5%. Os valores da cirtometria axilar e xifoideana do GC antes e
após o período de intervenção não apresentaram alterações significativas (p>0,05).
No GT os valores das variáveis foram significantemente maiores após a intervenção
(p<0,05). Em conclusão, o protocolo de FNP utilizado parece ser um programa de
exercícios eficiente, por promover aumento na cirtometria em um curto período
de tempo, sugerindo que pode ser utilizado como recurso fisioterapêutico para o
desenvolvimento da mobilidade torácica.
DESCRITORES: Exercícios respiratórios; Extremidade superior; Propriocepção;
Técnicas de exercício e de movimento
ABSTRACT: The purpose of this study was to analyse the effect of an upper limb training
program based on proprioceptive neuromuscular facilitation (PNF) techniques on
thoracic mobility. The study was carried out with 24 sedentary female volunteers,
aged 22.9±2.9 years. Participants were divided into a control group (CG), who did
not perform any exercise, and a trained group (TG), submitted to training. The
physical training protocol consisted of a PNF exercise program, three times a week
for four weeks. The two groups were assessed as to thoracic mobility by means of
cirtometry before and after the training period. Data were statistically analysed
and significance level set at α=5%. In CG, initial axillary and xiphoid cirtometry
values showed no significant differences when compared to data obtained on the
final evaluation (p>0.05). TG measures, in turn, were significantly higher after the
training program (p<0.05). The PNF protocol here proposed seems hence to be an
efficient exercise program to promote increase in cirtometry values within a short
period of time, suggesting that the it may be used as a physical therapy resource for
the development of thoracic mobility.
KEY WORDS: Breathing exercises; Exercise movement techniques; Proprioception;
Upper extremity
Fisioter Pesq. 2009;16(2):161-5
2009;16(2)
161
INTRODUÇÃO
Há algum tempo, a fisioterapia tem
buscado fundamentação científica para
nortear a prática clínica e subsidiar a
escolha das intervenções1. A facilitação
neuromuscular proprioceptiva (FNP) é
uma técnica fisioterapêutica que vem
sendo utilizada para melhorar o desempenho físico de atletas, de portadores de
disfunções orgânicas e de sedentários
saudáveis2-5. Trata-se de exercícios terapêuticos que utilizam padrões específicos de movimento em diagonal e espiral, bem como estímulos aferentes, para
promover o desencadeamento do potencial neuromuscular, obtendo melhores
respostas em todo o sistema musculoesquelético6. As técnicas de FNP podem
ser aplicadas como um meio de estimular o sistema respiratório, uma vez que
a literatura refere que durante sua realização ocorre estimulação da respiração,
da musculatura do pescoço, da caixa
torácica e dos membros superiores3.
A realização de atividade física depende de informações advindas do
córtex motor, modulada por mecanismos
de controle neural central e, também,
por mecanismo neural reflexo7. Assim,
ocorrem ajustes orgânicos e funcionais
imediatos diante das demandas internas
e externas; e, a longo prazo, verificam-se
adaptações orgânicas que podem gerar
melhora da capacidade funcional8.
Para verificar a ocorrência de tais adaptações é preciso utilizar testes e medidas
de qualidade e confiabilidade9. A cirtometria torácica é um instrumento de
avaliação do sistema respiratório que
consiste em um conjunto de medidas das
circunferências do tórax durante os
movimentos respiratórios, tendo por
finalidade avaliar a mobilidade torácica
de forma simples, acessível e confiável9,10. Essa técnica é de baixo custo e
vem sendo bastante utilizada e difundida
na fisioterapia, tanto na avaliação para
prescrição do tratamento como para a
reavaliação, pois fornece informações
precisas sobre a mobilidade torácica11-14.
Vários autores têm investigado respostas do sistema respiratório após treinamento físico com exercícios de membros
superiores15-18. Apesar de Voss et al.3 referirem que a aplicação das técnicas de
FNP melhora a função desse sistema,
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162 Fisioter Pesq. 2009;16(2):161-5
nenhum trabalho sobre sua influência na
mobilidade torácica foi encontrado na
literatura pesquisada.
Nesse sentido, o presente estudo teve
como objetivo verificar, por intermédio
da cirtometria, o efeito dos padrões de FNP
pelo método Kabat sobre a mobilidade
torácica de mulheres sedentárias.
METODOLOGIA
Respeitando as normas para o desenvolvimento de pesquisa experimental
com seres humanos, o estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
da Universidade Metodista de Piracicaba.
Os objetivos, bem como os procedimentos experimentais, foram explicados detalhadamente às voluntárias, que assinaram um termo de consentimento livre e
esclarecido.
Para o cálculo amostral foi utilizado
o aplicativo GraphPad (StatMate, v.
1.01i), para o nível de confiança de 95%
e poder de força da amostra (power) de
80%, sendo sugerido nove voluntárias
por grupo. Com o objetivo de manter a
homogeneidade dos grupos, participaram do estudo 24 jovens, do sexo feminino, sedentárias, não-tabagistas, de
antropometria semelhante (Tabela 1),
sem antecedentes de doenças musculoesqueléticas, cardiovasculares ou
respiratórias.
As voluntárias foram divididas aleatoriamente em dois grupos de 12, por randomização por tabela numérica, sendo um
grupo controle (GC), que não participou
do protocolo de treinamento, e outro
submetido à intervenção pelas técnicas
de FNP, denominado grupo treinado
(GT). Durante o período experimental
não houve perda amostral.
Antes e após o período de intervenção, todas as voluntárias foram submeTabela 1
tidas à cirtometria torácica. A amostra
foi familiarizada com todos os procedimentos antes do início do experimento.
O pesquisador que efetuou todas as medições era cego, ou seja, não tinha conhecimento se a voluntária era do GC
ou GT, para que não houvesse influência
nos resultados.
Para avaliação da mobilidade torácica
foi tomada a medida das circunferências
do tórax nas fases expiratória e inspiratória máximas. A diferença entre essas
medidas forneceu informações do grau
de expansibilidade e de retração dos
movimentos. Essas medidas foram
tomadas com uma fita métrica escalonada em centímetros (cm) nas regiões
axilar e xifoideana, com a voluntária em
postura ortostática e o tórax desnudo.
A medição foi feita fixando-se o ponto
zero da fita métrica na região anterior
do nível em que se estava medindo, e a
outra extremidade da fita, após contornar o tórax com uma pressão máxima,
foi tracionada pelo avaliador sobre esse
ponto fixo. A máxima pressão possível
da fita no corpo da voluntária visou prevenir que as estruturas moles não
interferissem nas medidas11,12,14,19. Para
garantir a confiabilidade, as medidas
foram tomadas três vezes em cada nível,
utilizando-se para o estudo a medida de
maior valor.
O protocolo de treinamento físico foi
constituído por um programa de exercícios de FNP, desenvolvido com a regularidade de três vezes por semana, durante quatro semanas. As voluntárias do
GT realizaram exercícios alternados nos
padrões dos membros superiores direito
e esquerdo nas diagonais do método
Kabat (flexão-abdução-rotação lateral e
extensão-adução-rotação medial; flexãoadução-rotação lateral e extensãoabdução-rotação medial)20, em três séries
de seis repetições. Durante os exercícios,
Idade e dados antropométricos (média ± desvio padrão) dos grupos
controle (GC) e treinado (GT)
Característica
Idade (anos)
Massa corporal (kg)
Estatura (cm)
IMC (kg/m2)
GC (n=12)
22,0r3,2
55,1r6,0
165,0r0,1
20,18r1,62
GT (n=12)
21,4r0,8
54,4r3,9
165,0r0,1
20,00r1,21
IMC = Índice de massa corporal; p>0,05 (não houve diferença estatisticamente
significante na comparação entre os grupos)
Moreno et al.
FNP para mobilidade torácica
as voluntárias foram orientadas a fazer
inspirações e expirações tranqüilas para
que não se caracterizar esforço respiratório associado aos movimentos dos
membros superiores. Os exercícios
foram feitos com carga de 80% de uma
repetição máxima (1 RM). A medida de
1 RM foi tomada em uma avaliação
diagnóstica pré-treinamento, segundo o
protocolo proposto por Moreno et al.14.
O teste consistiu em efetuar dez exercícios de aquecimento, com uma série
de dez repetições de cada exercício sem
sobrecarga – a não ser a do próprio equipamento – e, em seguida, aumentando
gradativamente a sobrecarga até que a
voluntária não conseguisse alcançar a
amplitude de movimento completo ou
fizesse compensação com outras partes
do corpo, sendo considerada 1 RM a
carga anterior, ou seja, aquela com a
qual a voluntária conseguiu realizar o
movimento completo sem compensações. O teste foi individual e realizado
para cada padrão de movimento, tendo
cada voluntária uma carga específica.
Os exercícios de treinamento com as
técnicas de FNP foram efetuados em um
sistema de polias de parede3 e supervisionados pelo pesquisador. A carga foi
mantida durante as quatro semanas do
Tabela 2 Valores da cirtometria axilar e xifoideana (média ± desvio-padrão) das
voluntárias dos grupos controle (GC) e treinado (GT), antes e após o
período de intervenção
Cirtometria
(cm)
Axilar
Xifoideana
GC (n=12)
Antes
GT (n=12)
Após
4,8r0,6
4,9r0,7
4,7r1
4,8r0,3
Antes
Após
4,3r0,3
4,9r0,8
6,0r0,7* †
6,2r0,6* †
* diferença GT antes x após significativa (p<0,05); † diferença GC x GT após
significativa (p<0,05)
treinamento, não havendo progressão da
mesma14. Em todas as seqüências utilizadas neste estudo, o cabo das polias foi
preso ao punho das voluntárias, deixando as mãos livres, possibilitando assim
total amplitude de seu movimento
apropriado, permitindo que os padrões de
facilitação fossem completos3 (Figura 1).
Para a análise estatística foi utilizado
o aplicativo Statistica (v.6.1 Stat Soft). O
teste de Kolmogorov-Smirnov foi usado
para verificar a distribuição dos dados,
sendo rejeitada a hipótese de normalidade de todas as variáveis. Portanto,
foram utilizados testes não-paramétricos,
sendo o de Wilcoxon para amostras
pareadas e de Mann-Whitney para
amostras não-pareadas, com nível de
significância p<0,05.
RESULTADOS
Os valores obtidos pela cirtometria
axilar e xifoideana do GC antes e após
o período de intervenção não apresentaram diferenças estatisticamente significantes (p>0,05). Das voluntárias do GT,
houve um aumento significativo (p<0,05)
das duas medidas, quando comparadas
às obtidas antes das quatro semanas de
treinamento.
Na avaliação inter-grupos verificou-se
que os valores foram semelhantes na condição pré-treinamento, enquanto na
condição pós-treinamento o GT apresentou valores significativamente maiores
(Tabela 2).
DISCUSSÃO
Este estudo investigou o efeito da aplicação de um protocolo de treinamento
com os membros superiores, baseado
nas técnicas de FNP, sobre a mobilidade
torácica, durante quatro semanas, sendo
utilizada a cirtometria torácica como
instrumento de avaliação. Os resultados
indicaram aumento significativo (p<0,05)
nos valores obtidos do grupo treinado após
o período de intervenção, evidenciando
o impacto positivo do protocolo proposto.
Figura 1
Ilustração de um padrão de movimento dos membros superiores do
método Kabat de facilitação neuromuscular proprioceptiva, no sistema de
polias de parede
O exercício físico representa um estímulo importante na mecânica respiratória, favorecendo a captação e o transporte de oxigênio 21 . Por essa razão,
treinamentos com exercícios físicos têm
sido utilizados como um recurso importante nas intervenções fisioterapêuticas
nas disfunções pulmonares, sendo bastante enfatizado o treinamento com
membros superiores, uma vez que
alguns grupos musculares atuam também como acessórios da respiração e
não somente para manter a posição dos
membros e a postura22,23.
2009;16(2)
Fisioter Pesq. 2009;16(2):161-5
163
A utilização da FNP vem sendo descrita na literatura24,25 e parece haver um
grande potencial para pesquisa sobre o
uso das técnicas e princípios propostos
pelo método. Estudos recentes aplicando
exercícios de FNP mostram que os
efeitos são benéficos no que se refere à
reabilitação motora 26-28. No entanto,
sobre seu efeito no sistema respiratório,
o assunto ainda permanece pouco
explorado.
Apesar de na literatura pesquisada
não terem sido encontradas investigações específicas envolvendo treinamento com as técnicas de FNP e avaliação
da mobilidade torácica, Moreno et al.14,
estudando o efeito dessa técnica sobre
as pressões respiratórias máximas, evidenciaram aumento nos valores dessas
variáveis após 12 sessões de treinamento, refletindo melhora da força muscular
respiratória.
A adaptação do sistema respiratório
– neste estudo representada pelo aumento da mobilidade torácica das voluntárias treinadas – pode estar relacionada
à utilização dos exercícios em diagonal
nas polias de parede, uma vez que os
mesmos apresentam como vantagem o
envolvimento de vários grupos musculares em um mesmo movimento e
promovem a interação dos dois lados do
corpo com os segmentos cruzando a li-
nha mediana, produzindo benefícios no
treinamento de propriocepção3.
Talvez pelo fato de a cirtometria representar um procedimento útil para a
avaliação da mobilidade torácica 11,
tendo como vantagem ser uma medida
simples e acessível que requer apenas
uma fita métrica, alguns estudos a têm
utilizado como instrumento de avaliação
para verificar respostas relacionadas a
diferentes propostas de intervenção,
como no estudo de Teodori et al.13, que
observaram aumento da mobilidade
torácica de mulheres jovens sedentárias
após um programa de alongamento da
cadeia muscular respiratória pelo método de reeducação postural global (RPG).
Ainda utilizando a cirtometria, Paulin et
al.12 observaram aumento da mobilidade
torácica em pacientes portadores de
doença pulmonar obstrutiva crônica
(DPOC) após 24 sessões de exercícios
físicos associados a exercícios respiratórios. Apesar de os dois estudos terem
avaliado a mobilidade torácica, eles
diferem porém da presente investigação
no que se refere aos protocolos de intervenção aplicados e às características dos
sujeitos estudados.
Apesar do resultado positivo, o presente estudo apresenta como limitação
ter avaliado apenas a mobilidade torácica. Pode porém constituir ponto de
partida para futuras investigações envolvendo outras variáveis e voluntários
portadores de pneumopatias. O programa de exercício proposto, visando a
melhora da mobilidade torácica, pode
representar uma ferramenta para o
desenvolvimento da função respiratória.
Reforça-se aqui a necessidade da busca
por fundamentação e validação de
condutas fisioterapêuticas, especialmente das técnicas de FNP sobre variáveis
respiratórias, ainda pouco descritas na literatura. Requerem-se estudos adicionais
para avaliar seu efeito em pneumopatas,
em especial portadores de DPOC, que
apresentam desvantagem mecânica em
virtude da hiperinsuflação causada pela
patologia.
CONCLUSÃO
Os resultados mostraram que o
protocolo de FNP utilizado promoveu
aumento significativo nos valores obtidos na cirtometria axilar e xifoideana
após a intervenção, sugerindo que pode
ser utilizado como um recurso fisioterapêutico para o desenvolvimento da
mobilidade torácica. Apesar de referir-se
a pessoas saudáveis, os resultados obtidos sugerem que o treinamento proposto
pode ser de importância terapêutica no
tratamento de disfunções respiratórias.
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2009;16(2)
165
Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.16, n.2, p.166-72, abr./jun. 2009
ISSN 1809-2950
Comparação entre inspirometria de incentivo e pressão positiva expiratória na
função pulmonar após cirurgia bariátrica
Comparison between incentive spirometry and expiratory positive airway
pressure on pulmonary function after bariatric surgery
Marcela C. Barbalho-Moulim1, Gustavo Peixoto Soares Miguel2,
Eli Maria Pazzianotto Forti3, Dirceu Costa4
Estudo desenvolvido no PPGFt/UFSCar – Programa de PósGraduação em Fisioterapia da
Universidade Federal de São
Carlos, São Carlos, SP, e no
Hospital Meridional,
Cariacica, ES, Brasil
1
Fisioterapeuta; doutoranda em
Fisioterapia no PPG-Ft/UFSCar
2
Cirurgião responsável pela
equipe de cirurgia bariátrica
do Hospital Meridional,
Cariacica, ES
3
Fisioterapeuta; Profa. Dra. do
Curso de Fisioterapia da
Universidade Metodista de
Piracicaba, Piracicaba, SP
4
Fisioterapeuta; Prof. Dr. do
PPG-Ft/UFSCar
ENDEREÇO PARA
CORRESPONDÊNCIA
Marcela C. Barbalho-Moulim
Av. Hugo Musso 2000 ap. 701
Praia de Itapuã
29101-785 Vila Velha ES
e-mail:
[email protected]
APRESENTAÇÃO
jan. 2009
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO
jun. 2009
2009;16(2)
166 Fisioter Pesq. 2009;16(2):166-72
RESUMO: O objetivo deste estudo foi comparar o efeito da pressão positiva expiratória
(EPAP, na sigla em inglês) e da inspirometria de incentivo a fluxo sobre a função
pulmonar após o bypass gástrico em Y de Roux por videolaparoscopia. Participaram
28 mulheres, não-tabagistas e não-pneumopatas, com índice de massa corporal
entre 35 e 50 kg/m2, submetidas à cirurgia bariátrica. Todas foram avaliadas por
espirometria, cirtometria toracoabdominal e quanto à mobilidade diafragmática
no pré e segundo dia de pós-operatório (o tempo de internação foi de 2 dias).
Foram divididas em dois grupos, GI – grupo inspirômetro (n=13) e GE, grupo EPAP
(n=15). A fisioterapia foi iniciada no dia da cirurgia, cada técnica, inspirometria ou
EPAP, com duração de 15 minutos; a fisioterapia motora foi padronizada para
ambos os grupos. No pós-operatório, houve redução similar nos dois grupos das
variáveis: capacidade vital, volume de reserva inspiratório, capacidade vital forçada
e ventilação voluntária máxima. Não houve alteração nos valores do volume
corrente no GI e volume de reserva expiratório no GE. A mobilidade diafragmática
e a mobilidade toracoabdominal foram menos prejudicadas no GI. No pósoperatório da cirurgia bariátrica por videolaparoscopia, a inspirometria de incentivo
a fluxo exerceu melhores efeitos na manutenção do volume corente, na mobilidade
diafragmática e toracoabdominal, enquanto a EPAP foi mais eficaz no
restabelecimento do volume de reserva expiratório.
DESCRITORES: Cirurgia bariátrica; Exercícios respiratórios; Fisioterapia
(Especialidade); Obesidade
ABSTRACT: The aim of this study was to compare the effect of expiratory positive airway
pressure (EPAP) and flow-oriented incentive spirometry on pulmonary function
after laparoscopic Roux-en-Y gastric bypass surgery. Twenty-eight non-smoking
women, with no lung disease and body mass index of 35 to 50 kg/m2, undergoing
laparoscopic gastric bypass surgery (hospitalized for two days) were assessed by
spirometry, thoracoabdominal cirtometry and as to diaphragmatic motion prior to,
and on the second post-operative day. Before surgery patients were divided into
two groups, SG – spirometer group (n=13), and EG – EPAP group (n=15). Motor
physical therapy was standardized for both groups; respiratory therapy (both
modalities) started on the day of surgery, in 15-minute sessions. Post-operative
results showed similar reduction, in both groups, in the values of vital capacity,
forced vital capacity, maximum voluntary ventilation, and inspiratory reserve
volume. No changes were found in tidal volume values in SG, neither in expiratory
reserve volume in EG. Diaphragmatic and thoracoabdominal motion were less
harmed in SG. After bariatric surgery thus incentive spirometry had better effect in
maintaining tidal volume, as well as on diaphragmatic and thoracoabdominal
motion; while EPAP proved more efficient in re-establishing expiratory reserve
volume in the postoperative period.
KEY WORDS: Bariatric surgery; Breathing exercises; Obesity; Physical therapy
(Specialty)
Barbalho-Moulim et al.
INTRODUÇÃO
A fisioterapia respiratória tem sido
recomendada como método para restabelecimento precoce da função pulmonar e prevenção de complicações pulmonares no pós-operatório (CPP)1,2. Para
esses objetivos, vários recursos de reexpansão pulmonar, tais como a inspirometria de incentivo e a pressão positiva
expiratória (expiratory positive airway
pressure, EPAP), são indicados após
cirurgia abdominal1,2. Autores têm usado
tais recursos por meio de diferentes
protocolos3,4.
A cirurgia bariátrica, por ser realizada
no andar superior do abdômen, causa alterações da função respiratória como redução dos volumes pulmonares, aumento da
freqüência respiratória, redução da
mobilidade diafragmática, disfunção da
musculatura respiratória, prejuízo no
controle da respiração e na oxigenação
e retenção de secreção pulmonar5-7.
Essas alterações são descritas tanto em
cirurgias por laparotomia quanto por
videolaparoscopia, sendo menos acentuadas neste último tipo8-10. No entanto,
ainda não está bem definido se a cirurgia
videolaparoscópica reduz a incidência
de CPP1,2.
O indivíduo obeso mórbido, por si só,
apresenta comprometimento da função
pulmonar, em razão do excesso de gordura
depositada sobre o tórax e abdômen11,
acarretando aumento do trabalho respiratório, redução dos volumes pulmonares,
prejuízos nas trocas gasosas e diminuída
tolerância aos exercícios físicos 11-13.
Devido a essas alterações, alguns trabalhos mostram que indivíduos obesos
submetidos à cirurgia abdominal apresentam maior redução de volumes pulmonares e maiores áreas de atelectasia
no período pós-operatório imediato do
que indivíduos não-obesos14,15.
Apesar de a fisioterapia respiratória
ser realizada rotineiramente no pósoperatório de cirurgias abdominais altas,
ainda faltam estudos para definir um
protocolo de tratamento ideal e esclarecer o real efeito das diferentes modalidades no restabelecimento precoce da
função pulmonar no pós-operatório e
prevenção de CPP2. Nesse contexto, o
objetivo deste trabalho foi avaliar e comparar os efeitos da inspirometria de
incentivo a fluxo e da EPAP na função
Fisioterapia respiratória pós-bariátrica
pulmonar de mulheres obesas submetidas ao bypass gástrico em Y de Roux
por videolaparoscopia.
METODOLOGIA
Este estudo foi aprovado pelo Comitê
de Ética em Pesquisa do Hospital
Meridional (Cariacica, ES) e as voluntárias assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.
Foram avaliadas 32 mulheres obesas,
candidatas à cirurgia bariátrica eletiva
pela técnica de bypass gástrico em Y de
Roux por videolaparoscopia no Hospital
Meridional. Foram incluídas voluntárias
com índice de massa corporal (IMC)
entre 35 e 50 kg/m2, sem doenças pulmonares prévias e não-tabagistas. Foram
excluídas as incapazes de realizar os
testes de avaliação adequadamente e
aquelas que recusaram o tratamento
proposto. Assim, a amostra final foi composta por 28 voluntárias, distribuídas em
dois grupos para fisioterapia respiratória:
GI (grupo inspirômetro), com 13 mulheres que se submeteram à inspirometria
de incentivo a fluxo com Respiron (NCS,
São Paulo, Brasil); e GE (grupo EPAP),
de 15 voluntárias submetidas à EPAP
(Vseasy, Estados Unidos); foram excluídas três voluntárias por incapacidade de
realização adequada dos testes de
avaliação (duas do grupo inspirômetro
e uma do grupo EPAP) e uma por recusar
a submeter-se ao protocolo de tratamento proposto (do GI). A anestesia foi padronizada em ambos os grupos e o nível
de pneumoperitônio foi de 15 mmHg em
todas as pacientes.
Avaliação pré-operatória
Na avaliação pré-operatória procedeu-se
à anamnese das voluntárias e aos testes
de avaliação da função pulmonar descritos a seguir.
Para a espirometria, foi utilizado um
espirômetro computadorizado EasyOne
(modelo 2001 ndd, Medizintechnik AG,
Zurich, Suíça). Foram realizadas as manobras: capacidade vital lenta (CVL),
capacidade vital forçada (CVF) e ventilação voluntária máxima (VVM), de
acordo com normas da Sociedade Torácica Americana e Sociedade Respiratória
Européia (ATS e ERS)16. A partir da CVL
foram obtidas as variáveis capacidade
vital (CV), volume corrente (VC), volume
de reserva inspiratório (VRI) e volume
de reserva expiratório (VRE); e, a partir
da CVF, as variáveis volume expiratório
forçado no primeiro segundo (VEF1) e a
razão VEF1/CVF. Para calcular os valores
preditos foi usada a equação proposta
por Pereira et al.17 para a população
brasileira.
A mobilidade diafragmática foi avaliada por meio de radiografia de tórax, na
incidência póstero-anterior, com a voluntária na posição ortostática, sendo
uma radiografia tirada após uma inspiração máxima e outra, após uma expiração máxima. Para medida da mobilidade
diafragmática as radiografias foram
sobrepostas, alinhando-se os processos
espinhosos das vértebras e, por meio de
uma régua milimetrada, foi medida a
distância do ponto mais alto da hemicúpula diafragmática (direita e esquerda) da radiografia em expiração máxima,
traçando-se a partir daí uma linha, até
sua intercessão com a hemicúpula diafragmática da radiografia em inspiração
máxima. A distância encontrada foi registrada em centímetros (cm)18,19.
A avaliação da mobilidade toracoabdominal foi feita por cirtometria toracoabdominal, que é a medida do deslocamento
do tórax e abdome durante o ciclo respiratório, utilizando-se uma fita métrica
escalonada em centímetros. Com as
voluntárias na posição ortostática, foram
tomadas as medidas da circunferência
nos níveis axilar, xifoidiano e abdominal
durante o repouso, na inspiração máxima e na expiração máxima. Em cada
nível, as medições foram feitas três
vezes, sendo considerada para análise a
maior diferença entre inspiração e
expiração20. Após a coleta, os valores foram submetidos à fórmula do índice de
amplitude proposto por Jamami et al.20,
com o objetivo de atenuar as diferenças
de dimensões de tórax e abdome na
amostra estudada. Além disso, todas as
voluntárias foram orientadas quanto à
importância da tosse e deambulação
precoce.
Protocolo de intervenção
No período pré-operatório, as voluntárias foram divididas de forma alternada
nos dois grupos: a primeira voluntária
operada foi designada ao grupo inspirô-
2009;16(2)
Fisioter Pesq. 2009;16(2):166-72
167
metro (GI), a segunda ao grupo EPAP
(GE) e assim sucessivamente.
O tratamento do GI utilizou o equipamento Respiron, em que o fluxo de
ar inspirado eleva até três esferas, que
voltam a cair por ação do seu próprio
peso. As voluntárias foram orientadas a
fazer inspirações máximas e lentas, sustentadas o maior tempo possível; no dia
da cirurgia, solicitou-se elevar e sustentar
a primeira esfera; no primeiro dia de pósoperatório, a elevar as duas primeiras esferas; e as três esferas no segundo dia de
pós-operatório. A cada 10 inspirações a
voluntária era orientada a descansar por
um intervalo de 30 a 60 segundos. O uso
da inspirometria de incentivo foi baseado
nas recomendações da American
Association for Respiratory Care (AARC)21.
O grupo submetido à EPAP foi orientado
a manter uma respiração tranqüila no
equipamento por meio de uma máscara
facial fixada à cabeça, com a pressão
da mola ajustada em 10 cmH2O. Ambas
as técnicas foram aplicadas durante 15
minutos, com as voluntárias na posição
sentada e orientadas a priorizar a movimentação abdominal em detrimento da
torácica.
A fisioterapia, tanto motora quanto
respiratória, foi aplicada a todas as voluntárias em uma sessão no dia da cirurgia (pós-operatório imediato), quatro
sessões no primeiro dia de pós-operatório
e uma sessão no segundo dia de pósoperatório. Um fisioterapeuta especializado acompanhou todas as voluntárias
nas sessões. O protocolo da fisioterapia
motora foi padronizado para ambos os
grupos e consistia em: exercícios de
bomba tibiotársica (2 x 10 repetições),
cinesioterapia ativa de membros superiores (elevação anterior, 1 x 10 repetições)
e inferiores (extensão de joelhos, 1 x 10
repetições); e deambulação (200 m).
Avaliação pós-operatória
As voluntárias foram reavaliadas no
segundo dia de pós-operatório. As avaliações foram previstas para o período da
manhã, após o horário do analgésico
prescrito pelo cirurgião. Também foi
avaliada a dor, antes dos testes, por meio
de uma escala visual analógica (EVA),
para certificar que a voluntária se encontrava sem dor ou com dor mínima, para
que esta não intereferisse nos testes. Na
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EVA, a voluntária marca em uma régua
de 0 a 10 o ponto que corresponde a sua
dor, sendo que o zero representa ausência
de dor e dez, dor muito intensa10.
Foram consideradas complicações pulmonares no pós-operatório: pneumonia,
atelectasia com repercussão clínica e
falência respiratória22.
Análise estatística
Para o cálculo da amostra foi usado o
programa Biostat 4.0, com base em
dados coletados em um estudo piloto
Tabela 1
Idade e dados
antropométricos (média ±
desvio padrão) dos grupos
inspirômetro (GI) e pressão
positiva expiratória (GE)
GI (n=13) GPPE (n=15)
Idade (anos) 39,5±10,8
32,9±11,3
Peso (kg)
106,9±10,3
106,2±8,6
IMC (kg/m )
39,7±3,9
39,4±2,6
Relação C/Q
0,9±0,1
0,9±0,1
2
IMC = índice de massa corpórea; Relação C/Q =
relação cintura/quadril; não houve diferença significativa entre os grupos em qualquer das variáveis
Tabela 2 Valores das variáveis espirométricas (média ± desvio padrão) dos grupos
inspirômetro (GI) e pressão positiva expiratória (GE) no pré e pósoperatório
Variável
Pré-op
GE (n=13)
Pós-op
% Red
Pré-op
GE (n=15)
Pós-op
% Red
CVF (l)
3,46±0,71
2,92±0,73
16*
3,55±0,59
2,80±0,68
21*
%CVF
98,8±14,8
83,2±15,4
16*
98,6±11,3
78,0±16,4
21*
VEF1 (l)
2,77±0,61
2,36±0,64
15*
2,93±0,49
2,37±0,62
19*
% VEF1
93,6±14,7
79,0±15,1
16*
95,1±9,4
77,2 ±19,3
19*
VVM (l/min)
109,6±20,7
95,6±22,9
13*
111,2±20,0
97,0±24,7
13*
%VVM
103,0±16,7
89,8±20,5
13*
100,6±16,2
87,9±21,7
13*
CV (l)
3,46±0,72
2,90±0,76
16*
3,37±0,69
2,70±0,70
20*
%CV
99,1±14,9
82,5±16,3
16*
93,1±12,5
74,9±16,8
20*
VC (l)
0,80±0,26
0,79±0,35
1
0,67±0,22
0,55±0,14
18*
VRI (l)
2,15±0,50
1,82±0,49
15*
2,18±0,63
1,74±0,56
20*
VRE (l)
0,51±0,36
0,30±0,21
41*
0,51±0,35
0,42±0,35
17
CVF = capacidade vital forçada; %variável = porcentagem da variável predita; VEF1 = volume
expiratório forçado no primeiro segundo; VVM: ventilação voluntária máxima; CV = capacidade
vital; VC = volume corrente; VRI = volume de reserva inspiratório; VRE = volume de reserva
expiratório; Pré-op: pré-operatório; Pós-op: pós-operatório, % Red = redução percentual do pré
para o pós-operatório; * = diferença pós x pré significante (p<0,01)
com cinco pacientes em cada grupo. Foi
considerada a variável CV para o cálculo
da amostra, sendo sugerido um n de 9
voluntários para cada grupo, para obter
um poder de teste da amostra (power)
≥90% e p≤0,05. Os dados foram
processados no mesmo programa o nível
de significância foi fixado em 5%
(p≤0,05). Na análise dos dados, foi utilizado o teste de Shapiro-Wilk para avaliar
a normalidade da amostra. Para verificar
a diferença entre os valores no pré e pósoperatório, dentro de cada grupo, foram
aplicados os testes t pareado para as
variáveis paramétricas e o de Wilcoxon
para as variáveis não-paramétricas. Para
verificar diferenças entre os grupos foram
utilizados o teste t para amostras
independentes nas variáveis paramétricas
e o teste de Mann-whitney nas variáveis
não-paramétricas. Para verificar a relação entre as variações de volumes pulmonares, representadas pela CV, e a
mobilidade diafragmática e a cirtometria
toracoabdominal, foi aplicado o teste de
regressão linear múltipla.
RESULTADOS
Os grupos não foram diferentes no
que se refere a idade, peso, IMC e relação cintura/quadril (C/Q)23, mostrando
uma distribuição homogênea da amostra
(Tabela 1). Nenhuma paciente relatou
doença pulmonar pregressa nem apresentava alteração espirométrica no
período pré-operatório.
Barbalho-Moulim et al.
4
Fisioterapia respiratória pós-bariátrica
(L)
*
*
3,5
3
2,5
*
*
2
Pré-op
Pós-op
1,5
*
1
*
0,5
0
CV
VC
VRI
VRE
CV
VC
Grupo inspirômetro
VRI
VRE
Grupo EPAP
Gráfico 1 Valores de capacidade vital (CV), volume corrente (VC), volume de
reserva inspiratório (VRI) e expiratório (VRE), no pré e pós-operatório
(pós-op) dos dois grupos (* = p<0,01 pré x pós)
Quanto às medidas espirométricas,
foram encontrados valores menores de
CVF, VEF1 e VVM no pós-operatório, de
forma semelhante nos dois grupos (Tabela 2). A CV também se reduziu no pósoperatório nos dois grupos (p<0,01); no
entanto, ao se analisarem os valores dos
componentes da CV separadamente,
observou-se que no GI houve redução
Tabela 3
com significância estatística do VRI e do
VRE (ambos p<0,01), enquanto o VC se
manteve inalterado. No grupo EPAP
foram encontrados valores menores com
significância estatística das variáveis VRI
(p<0,01) e VC (p<0,01), enquanto o VRE
apresentou uma discreta redução, sem
significância estatística (Tabela 2 e
Gráfico 1).
Mobilidade diafragmática da hemicúpula direita (D) e esquerda (E) e
índice de amplitude (IA) (média ± desvio padrão) dos grupos inspirômetro
(GI) e pressão positiva expiratória (GE) no pré e pós-operatório
Variável
GE (n=13)
Pós-op
Pré-op
% Red
Pré-op
GE (n=15)
Pos-op
% Red
Mob diafr D 5,14±2,26
4,38±1,87
15
5,19±1,35
3,61±1,31
30*
Mob diafr E
5,44±2,09
4,42±1,74
19*
5,30±1,30
3,95±1,22
25*
IA axilar
7,58±1,68
7,13±1,8
6
8,30±1,49
7,32±1,28
12*
IA xifóide
4,68±3,11
3,47±3,44
26
6,04±1,20
3,39±3,30
44*
IAabdominal -4,03±4,17 -4,47±3,44
11
-1,97±6,21 -1,12±5,64
-13
Mob diafr = mobilidade diagfragmática; Pré-op: pré-operatório; Pós-op: pós-operatório, % Red =
redução percentual do pré para o pós-operatório; * = diferença pós x pré significante (p<0,01)
(cm)
6
5,5
5
4,5
4
3,5
3
2,5
2
1,5
1
0,5
0
*
*
*
Pré-op
Pós-op
Mob diafragma D
Mob diafragma E
Grupo inspirômetro
Mob diafragma D
Mob diafragma E
Grupo EPAP
Gráfico 2 Mobilidade (Mob) das hemicúpulas diafragmáticas direita (D) e esquerda
(E), no pré e pós-operatório dos dois grupos (* = p<0,01 pré x pós)
Ao se analisar a mobilidade diafragmática, não se encontrou diferença estatística entre o pré e pós-operatório na
hemicúpula diafragmática direita do GI,
mas houve redução na hemicúpula
esquerda (p<0,01). No GE, houve redução da mobilidade diafragmática, expressa em centímetros (cm), tanto na
hemicúpula esquerda quanto na direita
(p<0,01) (Tabela 3 e Gráfico 2).
Na mobilidade toracoabdominal,
expressa pelo índice de amplitude (IA),
não se encontraram diferenças estatísticas em nenhum dos níveis avaliados
(axilar, xifóide e abdominal) no grupo inspirômetro. No entanto, no grupo EPAP, a
mobilidade avaliada nos níveis axilar
(p<0,01) e xifóide (p<0,01) reduziu-se
no segundo dia de pós-operatório, sem
alterações significativas apenas na mobilidade abdominal (Tabela 3).
Após o teste de regressão linear múltipla pôde-se constatar que a variação da
CV pôde ser explicada pela mobilidade
diafragmática, tanto no GI (R2=0,51;
p=0,00) quanto no GE (R2=0,26; p=0,02).
Porém, o mesmo não ocorreu quanto à
variação da CV e da cirtometria toracoabdominal nos dois grupos (GI:
R2=0,28 p=0,06; GE: R2=0,10; p=0,55).
A queixa de dor foi semelhante nos
dois grupos: a pontuação média no GI
foi de 1,9±1,7 cm e, no GE, de 1,4±1,2
cm. O tempo de internação hospitalar
foi de dois dias para todas as voluntárias.
Não houve complicações pulmonares
com repercussões clínicas importantes
durante o período de seguimento em
nenhum dos grupos.
DISCUSSÃO
A cirurgia bariátrica, mesmo por laparoscopia, causa comprometimento da
função pulmonar no pós-operatório, expresso pela redução dos volumes pulmonares, da mobilidade diafragmática e toracoabdominal. Este estudo visou comparar o efeito de duas modalidades de
fisioterapia respiratória na atenuação
desse comprometimento e na prevenção
de complicações pulmonares. Os resultados acima indicam que a inspirometria
de incentivo a fluxo e a EPAP interferem
de maneira diferente na função pulmonar de pacientes submetidas à cirurgia bariátrica por videolaparoscopia
– embora a ausência de complicações
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169
pulmonares e o tempo de internação
hospitalar tenham sido comuns aos dois
grupos, sugerindo que ambas têm efeito
semelhante na prevenção das CPP.
Contudo, ressalvando-se as questões
éticas, seria necessário um grupo controle sem intervenção de fisioterapia,
para se afirmar com mais segurança que
a fisioterapia é eficiente na prevenção
de complicações pulmonares no período
pós-operatório de cirurgia bariátrica por
videolaparoscopia.
A redução nos valores de CVF, VEF1 e
VVM no pós-operatório, semelhante nos
dois grupos aqui analisados, foi de cerca
de 13 a 21% dos valores pré-operatórios.
Nos trabalhos de Joris et al.10 e de Ngyen
et al. 9 , foi encontrada redução das
variáveis espirométricas CVF e VEF1,
também no segundo dia após a cirurgia
bariátrica por videolaparoscopia, em torno de 40%. Os autores informam que
todos os pacientes realizaram exercícios
respiratórios e inspirometria de incentivo
no pós-operatório sem, no entanto, detalhar o protocolo. Desconhecendo o protocolo terapêutico que utilizaram, não
é possível levantar hipóteses para explicar essa diferença entre seus achados e
os do presente estudo. A disfunção diafragmática pode ter contribuído também
para a redução da VVM no pós-operatório,
já que esta é influenciada pela força da
musculatura respiratória, pelos volumes
pulmonares, complacência torácica,
controle da respiração e resistência de
vias aéreas24.
A redução da capacidade vital foi semelhante nos dois grupos. No entanto,
quando os componentes da CV foram
analisados separadamente, observou-se
que no grupo inspirômetro houve redução nos valores do VRI e VRE, enquanto
o VC manteve-se inalterado. No grupo
EPAP, observou-se redução do VC e VRI,
enquanto o VRE reduziu-se discretamente, sem significância estatística. Alguns
estudos sugerem que a inspirometria de
incentivo está associada a aumento do
VC e da ventilação alveolar 4,25 e as
terapias com pressão positiva expiratória
estão mais associadas à manutenção da
capacidade residual funcional25,26. Isso
se deve a que os dois recursos visam a
re-expansão pulmonar, porém com
mecanismos de ação diferentes. A inspirometria de incentivo visa aumentar a
pressão transpulmonar e os volumes
inspiratórios para manter a patência das
2009;16(2)
170 Fisioter Pesq. 2009;16(2):166-72
vias aéreas e, assim, prevenir ou reverter
atelectasias pulmonares21. A terapia de
pressão positiva expiratória, por sua vez,
causa uma redução do fluxo expiratório,
evitando o colapso precoce das vias
aéreas, prevenindo as atelectasias pulmonares25. Esses mecanismos de ação
podem justificar os resultados encontrados.
A mobilidade diafragmática foi menos
afetada no pós-operatório do grupo
submetido à inspirometria de incentivo
que o grupo tratado com EPAP. Isso provavelmente se deve a que o primeiro é
um recurso que estimula a inspiração
profunda, requisitando portanto a atividade do músculo diafragma, por se tratar
de um músculo inspiratório. Outros
autores já evidenciaram a redução da
mobilidade diafragmática no pós-operatório de cirurgia abdominal por laparotomia6 e por videolaparoscopia7; segundo eles, a disfunção diafragmática é
secundária à inflamação local causada
pelo trauma cirúrgico, a mecanismos
reflexos de origem central e ligada à dor
que reduz a mobilidade respiratória no
local da cirurgia6,7. Ayoub et al.7 avaliaram a mobilidade diafragmática no pósoperatório de colecistectomia aberta e
por videolaparoscopia e evidenciaram
uma redução em torno de 50% dos
valores pré-operatórios nas duas técnicas, mas não informaram se os pacientes
foram submetidos à fisioterapia respiratória. No presente estudo, as voluntárias apresentaram uma redução da
mobilidade diafragmática de 15 a 30%,
tendo tido intervenção fisioterapêutica.
Os resultados também mostram que as
alterações da mobilidade diafragmática
causadas pela cirurgia explicam a variação dos volumes pulmonares no pósoperatório, tanto no grupo inspirômetro
quanto no grupo EPAP.
A mobilidade toracoabdominal não
foi afetada pela cirurgia no grupo submetido ao inspirômetro de incentivo; no
entanto, o grupo submetido à EPAP apresentou redução da mobilidade torácica
nos níveis axilar e xifóide, sem redução
na mobilidade abdominal. Tomich et al.4
avaliaram o padrão respiratório durante
a realização da inspirometria de incentivo em obesos submetidos à cirurgia
bariátrica e observaram predomínio do
movimento da caixa torácica em detrimento da mobilidade abdominal no
repouso e durante os exercícios. Isso
pode explicar a ausência de redução da
mobilidade nos níveis axilar e xifóide nas
voluntárias submetidas ao inspirômetro
de incentivo, o que não aconteceu com
o grupo EPAP, talvez por este ser um
recurso que não estimule a realização
de “suspiros” inspiratórios, e estar associado a baixos volumes pulmonares21.
Todas as voluntárias foram orientadas a
mobilizar mais o abdômen que o tórax
durante a realização dos exercícios, com
o objetivo de estimular a movimentação
diafragmática4,27. Isso pode ter contribuído para que mobilidade abdominal não
fosse afetada no pós-operatório, nos dois
grupos. Além disso, o fato de a cirurgia
ter sido realizada por videolaparoscopia
pode justificar menor comprometimento
na mobilidade abdominal, por se tratar
de uma técnica com menores incisões,
menor dor pós-operatória e menor repercussão na função pulmonar9,10; outros
autores apontaram redução da mobilidade do abdome em pós-operatório de
cirurgia abdominal alta, porém por
laparotomia4,28.
Poderia ser considerada uma limitação deste estudo o curto período de
intervenção a que as voluntárias foram
submetidas. No entanto, este foi equivalente aos dias de internação hospitalar,
período no qual a fisioterapia respiratória
é rotineiramente aplicada na prática
clínica. Outros autores, com o objetivo
de avaliar os efeitos da fisioterapia
respiratória em pacientes submetidos à
cirurgia bariátrica por videolaparoscopia, também adotaram um período de
intervenção de 2 a 3 dias3,29.
CONCLUSÃO
Para a elaboração de protocolos de
tratamentos fisioterapêuticos bem definidos e indicação terapêutica adequada,
é importante conhecer os efeitos das modalidades utilizadas. Com base nos
resultados aqui obtidos pode-se concluir
que os recursos terapêuticos estudados
atuam de forma diferente na função
pulmonar de mulheres obesas submetidas ao bypass gástrico em Y de Roux por
videolaparoscopia. A Inspirometria de
incentivo a fluxo parece exercer melhores efeitos na ventilação pulmonar, na
mobilidade diafragmática e toracoabdominal, enquanto a EPAP parece atuar
melhor no restabelecimento do VRE no
período pós-operatório.
Barbalho-Moulim et al.
Fisioterapia respiratória pós-bariátrica
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ISSN 1809-2950
Ultra-som terapêutico contínuo térmico em modelo experimental de ciatalgia
Continuous thermic therapeutic ultrasound in sciatica experimental model
Adriano Polican Ciena1, Jaques Jean Junqueira Oliveira1,
Núbia Broetto Cunha1, Gladson Ricardo Flor Bertolini2
Estudo desenvolvido no GELRF
– Grupo de Estudo das Lesões
e Recursos Fisioterapêuticos da
Unioeste – Universidade
Estadual do Oeste do Paraná,
Cascavel, PR, Brasil
1
Fisioterapeutas especializados
em Fisioterapia Ortopédica e
Traumatológica
2
Prof. Dr. do GERLF/Unioeste
ENDEREÇO PARA
CORRESPONDÊNCIA
Gladson R. F. Bertolini
Colegiado de Fisioterapia
R. Universitária 2069 Jardim
Universitário
85819-110 Cascavel PR
e-mail:
[email protected]
Estudo parcialmente financiado
pela Unioeste e pelo Hospital
Universitário do Oeste do
Paraná. Uma versão foi
apresentada ao XI Encontro
AAARL de Medicina Esportiva,
Ribeirão Preto, SP, em 2008.
APRESENTAÇÃO
mar. 2009
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO
jun. 2009
RESUMO: O ultra-som é um recurso fisioterapêutico que pode atuar na redução dos
sintomas da ciatalgia. O objetivo deste estudo foi verificar a eficácia do ultra-som
terapêutico, no modo contínuo, em duas diferentes densidades de potência (0,5
W/cm2 e 1 W/cm2), na redução do quadro álgico em ratos submetidos a modelo
experimental de ciatalgia. Foram utilizados 20 ratos, divididos em 3 grupos: G1
(n=6) submetido à ciatalgia e a tratamento placebo; G2 (n=7) submetido à ciatalgia
e tratado com ultra-som com 0,5 W/cm2; e G3 (n=7) submetido à ciatalgia e tratado
com ultra-som com 1 W/cm2. A ciatalgia foi provocada por lesão cirúrgica de
compressão do nervo no membro posterior direito de todos os animais. O tratamento
na região do procedimento cirúrgico, iniciado no 3o dia pós-operatório, consistiu
em 10 sessões diárias de 5 minutos. Verificou-se a dor pelo do tempo de elevação
da pata (TEP) durante a marcha, medido pré-cirurgia e em mais cinco momentos.
Os resultados mostram aumentos no TEP em todos os grupos após a lesão; e,
naqueles tratados com ultra-som terapêutico, houve diminuição significativa da
TEP, restaurando-se os valores iniciais, sendo mais precoce e intensa em G2.
Conclui-se que a entrega na forma continua do ultra-som terapêutico foi eficaz na
redução da dor ciática.
DESCRITORES: Analgesia; Doenças da coluna vertebral; Nervo ciático; Terapia por
ultra-som
ABSTRACT: Therapeutic ultrasound is a physical therapy resource for relieving sciatic
pain. The aim of this study was to assess the effectiveness of continuous therapeutic
ultrasound in two different power densities (0,5 W/cm² and 1 W/cm²), on reducing
pain in rats submitted to a sciatica experimental model. Twenty rats were used,
divided into 3 groups: G1 (n=6) submitted to sciatica and placebo treatment; G2
(n=7) submitted to sciatica and treated with 0.5 W/cm² ultrasound; and G3 (n=7),
submitted to sciatica and treated with 1 W/cm² ultrasound. Sciatica was provoked
by surgical nerve compression on the right posterior limb of all animals. Treatment
on the surgical procedure region consisted in ten daily 5-minute sessions, starting
on the 3rd postoperative day. Pain was inferred by the time of paw elevation (TPE)
during gait, measured before the surgery and on five further moments. Results
showed TPE increase in all groups after surgery; but in both groups actually treated
with ultrasound a significant TEP decrease was noticed, practically reaching initial
values, the decrease being more precocious and intense in G2. Continuous
ultrasound such as was delivered was hence effective in reducing sciatic pain.
KEY WORDS: Analgesia; Sciatic nerve; Spinal diseases; Ultrasonic therapy
Fisioter Pesq. 2009;16(2):173-7
2009;16(2)
173
INTRODUÇÃO
Doenças da coluna vertebral como,
por exemplo, a síndrome de estenose
espinhal, proveniente do estreitamento
do forame intervertebral no nível de L4,
acometem indivíduos entre a quinta e
sexta décadas de vida, com presença primária de lombalgia, progredindo para
lombociatalgia e/ou ciatalgia. Os sinais
e sintomas incluem dor lombar, com
possível irradiação para o membro inferior, fraqueza muscular1, claudicação
intermitente, rigidez matinal, parestesia,
hipoestesia e hiporeflexia2.
O comprometimento na qualidade de
vida de pacientes com lombalgias3 tem
sido a razão mais freqüente de ausência
no trabalho4,5, com pertinentes agravos
socioeconômicos 6. A dor referida em
pacientes com ciatalgia constitui um
alarme à saúde pública mundial, sendo
a razão mais comum de visitas a centros
de saúde básicos e especializados7. Entre
os idosos, a dor crônica proveniente da
lombalgia é uma condição comum que
pode ter conseqüências devastadoras,
associadas com depressão, diminuição
de apetite, alteração no sono e diminuição da qualidade de vida8.
A ciatalgia procedente da compressão
nervosa, oriunda de um quadro de neuropraxia, caracteriza-se pela diminuição da
condutibilidade nervosa e acarreta
atrofia seletiva das fibras musculares
inervadas pelos motoneurônios acometidos9. Os efeitos colaterais da ciatalgia
podem apresentar alta morbidade, devido
ao declínio dos resultados perante os tratamentos conservadores e atividades
físicas. Na maioria dos casos, recorre-se
à administração de analgésicos, antiinflamatórios e a recursos da fisioterapia
como eletrotermofototerapêuticos e
exercícios2.
Dentre os recursos eletrotermofototerapêuticos para alívio dos sintomas da
ciatalgia, pode-se citar o ultra-som terapêutico, pulsado ou contínuo. A utilização em processos inflamatórios não
depende de ser pulsado ou contínuo,
mas do momento do processo em que é
aplicado. O uso analgésico do ultra-som
pode ser considerado efetivo na sintomatologia da ciatalgia. Esse efeito pode
ser elucidado, segundo Ng et al.10, pela
estimulação da síntese protéica, regene-
2009;16(2)
174 Fisioter Pesq. 2009;16(2):173-7
ração tecidual e diminuição do limiar
da dor11 com alteração na concentração
de Na2+; ainda, segundo a teoria das
comportas da dor12, a ação térmica teria
possível influência benéfica.
Bennett e Xie13 construíram um modelo de compressão isquiática em ratos
que reproduz a sintomatologia de humanos, conferindo a possibilidade de
avaliar, entre outros, o uso de ultra-som
contínuo como forma terapêutica em
casos de ciatalgia, verificando-se a
evolução do quadro álgico pela análise
de tempos da marcha do animal. Dessa
forma, o objetivo deste estudo consistiu
em verificar a eficácia do ultra-som
terapêutico, no modo contínuo, em duas
diferentes densidades de potência
térmica (0,5 W/cm2 e 1 W/cm2), na redução do quadro álgico em ratos submetidos ao modelo experimental de ciatalgia.
METODOLOGIA
Foram utilizados 20 ratos Wistar,
machos, adultos, obtidos no Biotério
Central da Unioeste – Universidade
Estadual do Oeste do Paraná –, com peso
de 408,0±14,0 g e 20±2 semanas de
idade, mantidos em fotoperíodo de 12 h,
com água e ração ad libitum. O estudo
foi conduzido segundo as normas internacionais de ética em experimentação
animal14. Os animais foram divididos
aleatoriamente em três grupos:
G1 (n=6): submetido à ciatalgia e a tratamento placebo (simulacro);
G2 (n=7): submetido à ciatalgia e tratado
com ultra-som contínuo, com densidade de potência de 0,5 W/cm2;
G3 (n=7): submetido à ciatalgia e tratado
com ultra-som contínuo, com densidade de potência de 1 W/cm2.
Modelo experimental
de ciatalgia
Os animais foram anestesiados com
injeção intramuscular de cloridrato de
ketamina (0,1 ml/100g) e cloridrato de
xilazina (0,1 ml/100g) no músculo bíceps
femoral esquerdo (contralateral ao lado
do procedimento cirúrgico). Após a tricotomia, no local do procedimento,
realizou-se uma incisão paralela às fibras
do bíceps femoral da coxa direita do
animal, expondo assim o nervo isquiático. Seguindo o modelo descrito por
Bennett e Xie13, foi efetuada compressão
em quatro regiões distintas ao redor do
nervo isquiático, com distância aproximada de 1 mm uma da outra, utilizando-se
fio catgut 4.0 cromado, com finalidade
de reproduzir dor crônica no trajeto do
nervo; em seguida foi feita a sutura por
planos.
Avaliação da dor
por inferência da marcha
Para avaliar a marcha dos animais –
que permite inferir a dor – foi utilizado
um cilindro metálico em movimento e
um programa de computador com
conexão a botas metálicas adaptadas às
patas do animal, descrito originalmente
por Tonussi e Ferreira 15. Os animais
deambularam sobre o cilindro, de 30 cm
de diâmetro e recoberto por tela de aço
inoxidável que, por meio de um motor
elétrico, efetuava 3 rpm. Nos membros
posteriores dos animais eram adaptadas
botas, confeccionadas em metal, que
conduziam a informação da pata direita
por meio de um fio a um programa de
computador que mostra os valores do
tempo de pata no ar do animal ao deambular em um minuto; o membro posterior esquerdo também foi mantido com
bota, porém sem entrada de informações
para o computador. Normalmente,
durante um minuto de marcha, os animais
sem alterações mantêm a pata no ar em
torno de 10 segundos, sendo que os
animais com dor apresentam maiores
tempos de elevação da pata (TEP)16.
O experimento foi iniciado com o
treino dos animais sobre o cilindro; no
dia seguinte foram anotados os valores
de tempo da marcha normal. Em seguida, houve o procedimento cirúrgico de
compressão do isquiático, ocorrendo
reavaliações no 3o, 7o, 10o e no 14o dias
de pós-operatório.
Aplicação do ultra-som
terapêutico
No 3o dia pós-operatório, iniciou-se
o tratamento utilizando o equipamento
de ultra-som marca Ibramed, com 1 cm²
de área de radiação efetiva e freqüência
Ciena et al.
Ultra-som em ciatalgia de ratos
de 1 MHz, previamente calibrado. Para
a aplicação do ultra-som precisamente
sobre a incisão cirúrgica, os animais foram imobilizados em um contensor, confeccionado de material termoplástico
(PVC) por ser atóxico e inerte, descrito
previamente por Lirani17. Utilizou-se gel
hidrossolúvel como meio acoplador,
mantendo-se movimentos circulatórios
lentos e rítmicos do cabeçote durante o
tempo de aplicação11.
Tabela 2
O tratamento consistiu em 10 sessões
diárias de cinco minutos, com intervalo
de 24 horas entre as aplicações, intercalados por dois dias sem terapia, entre a
5a e 6a sessões. Os animais do G1 seguiram as etapas precedentes e receberam
aplicação com ultra-som desligado. No
15o dia pós-operatório, findas as aplicações do ultra-som terapêutico, os animais
foram submetidos à eutanásia.
Ao estabelecer comparações entre os
grupos nos mesmos momentos de avaliação, foi encontrada diferença significativa apenas no momento anterior à 6a
sessão entre os grupos G2 e G3, e na
avaliação após a 10a sessão entre os
grupos G1 e G2; em ambos os casos o
menor valor ocorreu em G2.
Análise dos dados
Os resultados foram expressos por
meio de estatística descritiva (média e
desvio padrão) e analisados por estatística inferencial, pela análise de variância
(ANOVA) com medidas repetidas, para
comparação dentro dos grupos, e ANOVA
unidirecional com pós-teste de Tukey,
para comparação entre os grupos; o nível
de significância estabelecido foi α=0,05.
RESULTADOS
Os resultados obtidos de tempo de
elevação da pata são apresentados na
Tabela 1.
Na Tabela 2 são mostradas a ocorrência de significância estatística e as
variações em porcentagem, ao comparar
os valores dos tempos de elevação da
pata antes da cirurgia com os demais
momentos de avaliação.
Grupo
G1 (n=6)
G2 (n=7)
G3 (n=7)
Comparação dos valores iniciais de TEP (pré) com os das demais
avaliações, dos grupos controle (G1), tratados com ultra-som contínuo
0,5 W/cm² (G2) e 1 W/cm² (G3)
Pré/Pós
p
%
*
*
*
171,4
96,9
127,4
Pré/1a sessão Pré/5a sessão Pré/6a sessão‡ Pré/10a sessão
p
%
p
%
p
%
p
%
*
*
*
216,8
124,3
147,6
Pré
8,0±0,8
8,0±0,8
8,3±1,4
Pós
21,7±0,9
18,5±2,9
18,9±4,5
*
123,6
27,9
72,3
*
†
*
108,6
26,2
122,7
*
†
†
86,4
11,7
65,2
TEP = tempo de elevação da pata no ar; Pré = 1a avaliação, antes da cirurgia; Pós = pós-cirurgia;
sessão = após sessão de tratamento; ‡ = antes da 6a sessão; * p<0,05; † p>0,05
DISCUSSÃO
Modelos experimentais de compressão do nervo isquiático, em ratos, vêm
sendo utilizados para avaliar a compressão nervosa e dor crônica, devido à sua
semelhança com o nervo isquiático de
humanos9,13,18,19. O isquiático é o maior
nervo do corpo humano, facilmente
acessível, com vários fascículos, e está
sujeito à lesão em uma variedade de circunstâncias, tais como esmagamento,
transecção, estiramento e congelamento20.
No presente estudo, utilizou-se um
modelo de compressão isquiática em
ratos que reproduz a sintomatologia da
ciatalgia13, visando o uso terapêutico do
ultra-som com emissão contínua, verificando-se a evolução do quadro álgico
por meio da análise da marcha, em modelo validado por Tonussi e Ferreira15.
Segundo Bennett e Xie13, depois de
submetidos ao modelo de compressão
isquiática, os animais apresentam marcha alterada, com claudicação do mem-
Tabela 1 Tempo (s) de elevação da pata no ar (média ± desvio padrão), nas seis
avaliações, dos grupos controle (G1), tratados com ultra-som contínuo
0,5 W/cm² (G2) e 1 W/cm² (G3)
Grupo
G1 (n=6)
G1 (n=7)
G3 (n=7)
*
†
1a sessão
25,3±1,2
21,0±4,6
20,6±3,9
5a sessão
17,9±5,8
12,0±3,2
14,3±4,2
6a sessão* 10a sessão
16,7±2,2 14,9±0,6
11,8±3,1 10,5±2,2
18,5±5,8 13,7±3,7
Pré = 1a avaliação, antes da cirurgia; Pós = pós-cirurgia; sessão = após sessão de tratamento; * =
antes da 6a sessão
bro posterior submetido à cirurgia e dor,
além de eversão e apoio na margem
medial do membro, enquanto os artelhos
do animal mantêm-se aduzidos e ligeiramente fletidos. De acordo com Cunha
et al. 21, animais submetidos a esse
modelo de compressão nervosa apresentam TEP superior a 10 s. Tais alterações
foram visualizadas no presente estudo:
ao observar a marcha livre do animal
idoso, e ao comparar os valores dos tempos de elevação da pata pré-ciatalgia e
pós-ciatalgia, houve evolução para um
maior TEP, caracterizando a claudicação
e menor utilização do membro.
De acordo com Oliveira et al.18, a recuperação da lesão nervosa periférica
nem sempre é completa, dependendo de
uma série de fatores que podem ser
influenciados por condutas terapêuticas,
reforçando então a importância de
estudos que avaliem os resultados das
diferentes formas de intervenção
fisioterapêutica. Assim, neste estudo
utilizou-se o ultra-som terapêutico visando a diminuição do quadro álgico em
animais submetidos a modelo de compressão nervosa. O ultra-som conseguiu
produzir efeitos analgésicos significativos na sintomatologia da ciatalgia, visto
que os valores do TEP apresentaram
diminuição com ambos os tratamentos,
que se revelaram efetivos.
A inferência de dor no animal, por
meio da marcha após a lesão por compressão, mostrou que a dor estava presente no 3o dia pós-operatório, estendendose pelo menos até o 14o dia pós-operatório.
Segundo Bennett19, as evidências do
quadro doloroso nos animais se iniciam
a partir do 2o dia pós-operatório, alcançando o máximo entre o 10o e 14o dias
pós-operatório, desaparecendo após o
2o mês, restando apenas hipoestesia.
Neste estudo, no 3o dia pós-operatório,
quando se iniciou o tratamento, foi obser-
Fisioter Pesq. 2009;16(2):173-7
2009;16(2)
175
vado que as doses empregadas não reduziram o quadro álgico após a primeira
sessão. Após a 5a e 6a sessões, examinando os valores do grupo tratado com
intensidade de 0,5 W/cm2 (G2) e comparando-os com o período pré-ciatalgia,
não houve diferença significativa, sugerindo efeitos positivos da terapia; o
mesmo, porém, não foi observado no
grupo tratado com intensidade de 1 W/
cm2 (G3). Tal fato, após cinco dias consecutivos de tratamento, ilustra a relevância
clínica de tratamentos efetivos, em determinados períodos e com freqüência
regular das aplicações terapêuticas.
Após a 10a e última sessão, o valor
de TEP foi estatisticamente semelhante
ao valor pré-lesão nos grupos que receberam tratamento efetivo, sugerindo
redução do quadro álgico pela restauração dos valores iniciais. No grupo
submetido ao tratamento placebo, tal
fato não ocorreu; mas é importante levar
em conta possíveis alterações decorrentes do simulacro: segundo Oztas et al.22,
podem ocorrer alterações via efeito placebo, decorrentes das trocas de eletrólitos na membrana celular, mediadas
pelos movimentos circulatórios promovendo massagem, atribuída à ação
mecânica exercida pelo cabeçote do
ultra-som desligado.
De acordo com Ter Haar23, os efeitos
positivos de diminuição do quadro álgi-
co, como aqueles verificados em G2, são
atribuídos às alterações vasculares, decorrentes da conversão de energia em
calor, por absorção do feixe das ondas
mecânicas, o que promove aumento do
fluxo sangüíneo e da densidade
capilar24. No presente estudo, utilizaramse densidades de potência do ultra-som
contínuo de 0,5 e 1 W/cm², com base
no estudo de Hong et al.25, que efetuaram
compressão do nervo tibial de ratos,
submetendo-os a irradiação com ultrasom contínuo sobre a área da lesão.
Esses autores demonstraram que a
recuperação da velocidade de condução
nos nervos tratados com intensidade de
0,5 W/cm2 (como foi o caso de G2 neste
estudo) foi significativamente mais rápida,
em relação ao grupo tratado com
intensidade de 1 W/cm2, sugerindo forte
evidência de que o ultra-som de baixa
intensidade pode acelerar a regeneração
dos nervos periféricos com lesão
compressiva e efeitos adversos podem
se fazer presentes com intensidades
elevadas.
Paik, Cho e Han26 utilizaram duas
diferentes densidades de potência contínua – 1,5 e 0,2 W/cm2 – ao avaliar os
efeitos do uso do ultra-som durante duas
semanas em modelo experimental de
síndrome do túnel do carpo agudo em
coelhos. Observaram melhoras significativas do potencial de ação após
utilização de dose térmica (1,5 W/cm2),
verificada por meio de análise eletrofisiológica. No presente estudo optou-se
por utilizar apenas a forma contínua do
ultra-som terapêutico, mas sugere-se o
uso no modo pulsado em futuras pesquisas. Salienta-se, ainda, como restrição deste estudo, a inobservância de
alterações de temperatura locais; contudo, com base na literatura disponível27,
acredita-se que principalmente o grupo
3, com dose de 1,0 W/cm2, pode ter
produzido aumentos de temperatura
significantes, o que poderia ter contribuído para piores resultados, visto que houve
início precoce do tratamento, durante
uma fase inflamatória reativa aguda; é
possível que, no grupo 2, tratado com
dose de 0,5 W/cm2, o efeito positivo
sobre os sintomas de ciatalgia já a partir
da 5a sessão, com praticamente restauração dos valores iniciais dos tempos de
elevação da pata, pode ter ocorrido
devido à menor emissão térmica.
CONCLUSÃO
Conclui-se que, com a aplicação do
ultra-som terapêutico contínuo, nas densidades de potência de 0,5 e 1 W/cm2,
houve redução no quadro álgico, sendo
que a utilização da densidade de
potência 0,5 W/cm2 apresentou maior
eficácia em animais submetidos a modelo experimental de ciatalgia.
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Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.16, n.2, p.178-82, abr./jun. 2009
ISSN 1809-2950
Avaliação do ácido lático em indivíduos com hemiparesia pós-acidente vascular
encefálico após estimulação elétrica para fortalecimento muscular
Lactic acid assessment in post-stroke hemiparetic subjects following electrical
stimulation for muscle strengthening
Fernanda Ishida Corrêa1, João Carlos Ferrari Corrêa2, André de Almeida Tessarolo3, André de Souza Melo3,
Luciana Maria Malosá Sampaio2, Maricilia Silva Costa4, Cláudia Santos Oliveira2
Estudo desenvolvido no
Laboratório de Biodinâmica
Humana da Uninove –
Universidade Nove de Julho,
São Paulo, SP, Brasil
1
Fisioterapeuta; Profa. Ms. do
Curso de Fisioterapia da
Uninove
2
Profs. Drs. do Programa de
Mestrado em Ciências da
Reabilitação da Uninove
3
Graduandos em Fisioterapia na
Uninove
4
Profa. Dra. do Curso de
Engenharia Biomédica do
Instituto de Pesquisa e
Desenvolvimento da
Universidade do Vale do
Paraíba, São José dos Campos,
SP
ENDEREÇO PARA
CORRESPONDÊNCIA
Fernanda I. Corrêa
Av. Francisco Matarazo, 612
Água Branca
05001-100 São Paulo SP
e-mail: [email protected]
APRESENTAÇÃO
abr. 2009
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO
jun. 2009
2009;16(2)
178 Fisioter Pesq. 2009;16(2):178-82
RESUMO: O fortalecimento da musculatura parética promove melhora da capacidade
funcional, o que pode ser obtido pela estimulação elétrica funcional (EEF), porém
são necessários parâmetros específicos para evitar fadiga muscular. Este estudo
visou verificar, em indivíduos com hemiparesia pós-AVE, o tempo de repouso (time
off) necessário para reabsorção do ácido lático durante a EEF, de modo a evitar a
fadiga – detectada por lactacidemia (concentração excessiva de ácido lático). Foram
coletadas amostras de sangue de 18 indivíduos portadores de hemiparesia em sete
momentos, antes, durante e após a EEF. A corrente quadrada bifásica, de 50 Hz, foi
usada com time on de 10 segundos (s) e o time off variou de 10 s (protocolo 1) a 30 s
(protocolo 2), sobre o ponto motor do músculo tibial anterior. Na análise do sangue
coletado, não foi encontrada diferença estatisticamente significante (p>0,05) entre
os dois protocolos; tampouco foi registrada diferença no período imediatamente
pós-terapia. Pode-se pois afirmar que a ferramenta utilizada para mensurar
lactacidemia não se mostrou eficaz na detecção da fadiga muscular, inviabilizando
verificar o tempo ideal de repouso (time off), sendo necessários mais estudos em
busca de protocolos seguros. Sugere-se a continuidade deste estudo, com alteração
do músculo e atividade funcional eliciada pela estimulação elétrica, bem como
uma ferramenta alternativa na mensuração e detecção da fadiga muscular.
DESCRITORES: Acidose láctica; Fadiga muscular; Paresia; Terapia por estimulação
elétrica
ABSTRACT: Strengthening paretic muscles improves functional capacity, which can be
achieved by functional electric stimulation (FES), but specific parameters are needed
in order to prevent muscle fatigue. The purpose of this study was to assess, in poststroke hemiparetic patients, the necessary time of rest (time off) for re-absorption of
lactic acid during FES, so as to prevent fatigue – detected by lactic acid testing.
Blood samples of 18 hemiparetic subjects were collected at seven moments: pretreatment rest, after each of three series of 15 repetitions stimuli, and at the third,
sixth, and ninth minutes following therapy session. Electrical, two-phase pulses at
50 Hz were applied, 10 seconds on and 10 seconds off (protocol 1), and 10 seconds
on and 30 seconds off (protocol 2), on the motor point of tibialis anterior muscle.
The blood sample analysis showed no statistically significant differences (p>0.05)
between protocols 1 and 2; neither could differences be found at immediate postsession measures. It may thus be said that the measuring tool here employed to
infer fatigue did not prove efficient to detect it, therefore preventing the assessment
of the ideal time of rest (time off). Thus a continuity of this study is suggested, with
changes in the muscle and the functional activity elicited by electric stimulation,
and relying on an alternative tool for measuring and detecting muscle fatigue.
KEY WORDS: Acidosis, lactic; Electrical stimulation therapy; Muscle fatigue; Paresis
Corrêa et al.
EE e fadiga na hemiparesia pós-AVE
INTRODUÇÃO
O acidente vascular encefálico (AVE),
responsabilizado como a terceira causa
de morte nos Estados Unidos e por um
terço dos óbitos no Brasil, é doença vascular caracterizada por um deficit neurológico focal, repentino e não-convulsivo,
causado por lesão cerebral conseqüente a um mecanismo vascular não-traumático, por embolia arterial ou venosa,
cursando com isquemia ou hemorragia
cerebral1. A síndrome mais comumente
vista após um AVE, síndrome do neurônio
motor superior, é causada pelo infarto no
território de irrigação da artéria cerebral
média, levando ao acometimento do
neurônio motor superior e de suas vias
e conexões2,3. As seqüelas deixadas pelo
AVE são variáveis e incluem alterações
sensitivas, cognitivas e motoras, como
fraqueza muscular4, espasticidade, padrões anormais de movimento5 e descondicionamento físico, incluindo fadiga muscular2,6.
Vários estudos 7-9 têm utilizado a
estimulação elétrica funcional (EEF) para
diminuir essas alterações, mas os parâmetros para otimizar a força, enquanto
simultaneamente minimizam a fadiga,
não são tão bem conhecidos.
A EEF é uma técnica que produz contração muscular, despolarizando o nervo motor e produzindo uma resposta
sincrônica em todas as unidades motoras
do músculo. Esse sincronismo promove
a contração eficiente, mas é necessário
treinamento específico, a fim de se evitar a fadiga precoce, que impediria a
utilização funcional do método com
objetivos reabilitacionais10.
Não é possível obter um movimento
funcional de um membro paralisado por
um simples pulso elétrico; faz-se necessária uma série de estímulos, com certa
duração, seguida por uma freqüência
apropriada de repetição. Essa seqüência
de estímulos recebe o nome de trem de
pulsos2,7,11. Já foi relatado que freqüências
variáveis no tempo, em torno de 20 a
40 Hz, são mais efetivas para manter a
força quando comparadas a freqüências
contínuas, e, portanto, possibilitam o adiamento da fadiga precoce em pacientes
pós-AVE2.
Nos regimes de treinamento existe
uma relação direta entre a intensidade
da contração produzida eletricamente e
o aumento da força muscular. Quanto
maior a intensidade tolerada, maior será
o número de unidades motoras recrutadas e maior a profundidade de ativação,
a partir dos eletrodos de superfície12.
Além disso, sobretudo quando se objetiva
o fortalecimento muscular, a contração
estimulada contínua do músculo esquelético leva à fadiga muscular muito rápida, o que implica queda da força gerada; é essencial então assegurar o estímulo de forma intermitente, mantendo
uma taxa de repetição de trens de pulso,
por meio dos controles time on (com estímulo) e time off (sem estímulo). O período time on de estimulação muscular para
muitas aplicações é geralmente ajustado em até 10 ou 15 segundos; o time off
é geralmente de 1 ou 2 minutos, sendo
mais comumente praticado em 60 segundos2,8-10; tem sido sugerido pela literatura2,8-10 que esse intervalo, de aproximadamente 60 segundos, é necessário
após contrações de 10 segundos de duração, para prevenir fadiga muscular
durante o processo de fortalecimento
com estimulação elétrica.
Como evidências10,11 sugerem que
altas forças contráteis são necessárias
para aumentar a força muscular (isto é,
treiná-lo efetivamente), a geração desses níveis de contração apenas pode ser
alcançada usando-se altas intensidades
de estimulação, o que pode ser muito
fatigante, levando a uma rápida queda
de força se o time off for muito curto. O
objetivo das aplicações da estimulação
elétrica, quando se procura o fortalecimento muscular, é atingir o máximo de
intensidade tolerável nas contrações. À
medida que o tratamento é continuado, a
amplitude de estimulação deve ser aumentada gradualmente até que o limiar motor
seja alcançado e excedido10.
Por tudo isso, este estudo justifica-se
com o objetivo de verificar se os tempos de repouso (time off) entre um estímulo elétrico e outro de 10 segundos
(protocolo 1) e de 30 segundos (protocolo 2) são suficientes para evitar o aparecimento da fadiga muscular em indivíduos hemiparéticos por AVE; foi utilizada a dosagem de ácido lático como
ferramenta de mensuração da fadiga
muscular após a aplicação da terapia por
estimulação elétrica funcional.
METODOLOGIA
Este foi um estudo transversal, cego e
cruzado, no qual foram analisados pacientes portadores de hemiparesia em decorrência de AVE. A pesquisa foi aprovada
pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição. Todos os envolvidos foram informados e consentiram em participar
do estudo por meio da assinatura de termo de consentimento livre e esclarecido.
Após cálculo estatístico da amostra
(n=18), foi realizada a triagem dos indivíduos portadores de hemiparesia em
decorrência de AVE no Ambulatório de
Neurologia da Universidade Nove de
Julho, onde 29 pacientes com idades
entre 35 e 50 anos foram avaliados. Não
apresentar algum comprometimento associado que contra-indique o uso da estimulação elétrica, distúrbios de coagulação e distúrbio cognitivo que leve à
dificuldade de compreensão foram outros
critérios de inclusão. Após a triagem,
foram selecionados 18 pacientes, que
receberam explicações sobre a finalidade do estudo e orientações sobre os procedimentos a serem executados.
O programa de fortalecimento muscular por estimulação elétrica funcional,
sobre o ponto motor do músculo tibial
anterior, foi feito com um aparelho portátil (Quark VIF 475), de corrente quadrada e bifásica, freqüência de estimulação de 50 Hz, período time on (t on)
de 10 segundos, três séries de 15 contrações (repetições) com intervalo de 60
segundos entre cada série; a variável
deste estudo foi o período time off (t off)
de 10 segundos (protocolo 1) e 30 segundos (protocolo 2). Entre os dois protocolos foi mantido um intervalo para repouso de uma semana, para evitar o efeito
de somação da terapia anterior.
A fadiga muscular foi avaliada pela
dosagem de ácido lático. Foram efetuadas coletas de sangue nos seguintes
momentos: uma em repouso antes do
tratamento; uma coleta após cada série
de 15 repetições; e três coletas no 3o, 6o
e 9o minutos subseqüentes ao término
da terapia. Para a coleta, foram utilizadas luvas cirúrgicas descartáveis e, após
a assepsia com álcool da região do lóbulo da orelha, realizou-se a punção por
meio de uma lanceta descartável. Desprezou-se a primeira gota de sangue para
Fisioter Pesq. 2009;16(2):178-82
2009;16(2)
179
Após coletadas, as amostras foram estocadas em freezer a -10oC e, posteriormente, analisadas por meio de um
analisador de lactato pelo método eletroenzimático, com o aparelho YSI 1500
Sports (Yellow Springs Inc., Estados Unidos).
Na análise dos dados de concentração de lactato, foi aplicado o teste de
Kolmogorov-Smirnov e observou-se distribuição normal para todos os dados.
O nível de significância adotado foi de
5%, sendo então estabelecido um a de
0,05 e um ß de 0,20. Como os dados
foram paramétricos, o teste t de Student
foi utilizado para comparar a média dos
dados entre os dois protocolos e o teste
de comparação múltipla de médias DHS
de Tukey, na presença de significância,
para análise entre postos. O pacote estatístico utilizado foi o Instat.
RESULTADOS
Participaram deste estudo 18 indivíduos
portadores de hemiparesia em decorrência
de AVE. Na amostra inicial havia 29
pacientes, sendo que 11 foram excluídos,
4 por apresentarem doenças associadas
que contra-indicavam o uso da estimulação elétrica, 3 com episódios de internação nas últimas quatro semanas que
antecederam a avaliação, e 3 por não
comparecerem na data marcada para
avaliação. Os voluntários eram adultos,
com idade entre 35 e 50 anos, sendo 10
homens e 8 mulheres, com média de
idade semelhante entre os sexos, porém
com massa e altura de 85,6 kg e 1,77
cm no sexo masculino e 65,16 kg e 1,59
cm no sexo feminino.
Conforme mostra a Tabela 1, os grupos mostraram-se semelhantes, sem diferença estatisticamente significante, em
relação à coleta de repouso antes do tratamento e uma coleta após cada série
de 15 repetições (p< 0,05).
2009;16(2)
180 Fisioter Pesq. 2009;16(2):178-82
Tabela 1
Concentração de lactato (mmmol/L, média ± desvio padrão), nas coletas
em repouso (pré-tratamento) e nas coletas após cada série de 15
repetições, para os protocolos 1 e 2
Protocolo
1 (t off 10 s)
2 (t off 30 s)
Repouso (prétratamento)
1,56±0,68
1,13±0,49
Série 1
Série 2
Série 3
1,18±0,53
1,25±0,48
1,38±0,62)
1,18±0,52
1,53±0,85
1,23±0,51
Não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes
2,6
Protocolo 1
2,4
Concentração de lactato (mmol/L)
evitar sua contaminação com o lactato
eliminado pelo suor. Em seguida, foram
coletados 25 microlitros de sangue
arterializado. Com o uso de capilares de
vidro herarinizados e calibrados, o sangue coletado foi depositado em tubos
(Ependorfs) contendo 50 µl de fluoreto
de sódio a 1% para evitar a continuação da glicólise.
Protocolo 2
2,2
2
1,8
1,6
1,4
1,2
1
0,8
0,6
0,4
Repouso
Série 1
Série 2
Série 3
Após 3'
Após 6'
Após 9'
Gráfico 1 Concentração de lactato (média e desvio padrão) obtida em repouso
(pré-tratamento), nas coletas após cada série de 15 repetições, e nas
coletas no 3o, 6o e 9o minutos subseqüentes ao término da terapia, nos
protocolos 1 (t off de 10 seg) e 2 (t off de 30 seg)
No Gráfico 1 pode-se observar que
tanto no primeiro (t off de 10 seg) como
no segundo protocolo (t off de 30 seg) não
houve acúmulo de lactato que levasse ao
limiar de anaerobiose, inferindo-se a possibilidade de o músculo não fadigar, nessas condições de aplicação da EEF.
DISCUSSÃO
Este estudo teve como principal objetivo verificar o tempo necessário de
repouso, entre um estímulo elétrico e
outro, para evitar o aparecimento da fadiga muscular em indivíduos hemiparéticos em decorrência de AVE; para isso,
optamos pela utilização da dosagem de
ácido lático (lactacidemia), como ferramenta de mensuração da fadiga muscular
após utilização da terapia por estimulação
elétrica funcional. De acordo com os
resultados, pode-se afirmar que a ferramenta de mensuração utilizada, avaliação de lactacidemia, não se mostrou eficaz na detecção e mensuração da fadiga muscular do músculo tibial anterior,
inviabilizando, conseqüentemente, verificar qual o tempo ideal de repouso (t
off ), de 10 ou 30 segundos.
O músculo esquelético é composto
por diferentes tipos de fibras. Sua estrutura histológica tem fibras musculares
rápidas, lentas e, ainda, outras fibras com
características intermediárias. Os músculos que reagem rapidamente são compostos, em sua grande maioria, por fibras rápidas (tipo II) com um número
reduzido de fibras lentas (tipo I). Ao contrário, os que respondem de forma lenta
com contrações longas, são compostos
por uma maioria de fibras lentas. As fibras musculares rápidas apresentam
grande quantidade de enzimas glicolíticas, menor número de mitocôndrias e
suprimento sangüíneo menos extenso,
visto que o metabolismo oxidativo tem
importância secundária13,14.
As características metabólicas desses
diferentes tipos de fibras exercem importante influência na fadigabilidade do
músculo. A eletroestimulação crônica
Corrêa et al.
em músculos esqueléticos é capaz de
provocar alterações importantes no perfil metabólico das fibras musculares,
convertendo as fibras com características do tipo II em tipo I pelo aumento no
volume mitocondrial, crescimento capilar, densidade capilar e suprimento de
oxigênio. Dessa forma, esse recurso
terapêutico aumenta a capacidade
aeróbica oxidativa e a resistência à fadiga
dos músculos isquêmicos12,14. Provoca,
ainda, alterações na atividade das enzimas oxidativas, associada com a redução
na atividade enzimática glicolítica13,14.
A fadiga surge após os exercícios nos
quais se acumularam quantidades máximas de ácido lático; a recuperação plena implica a remoção desse ácido tanto
do sangue quanto dos músculos esqueléticos que estiveram ativos durante o
período precedente de exercícios 15.
Neste estudo, o ácido lático acumulado
no sangue do sistema circulatório sistêmico, pela análise do lactato, não evidenciou alteração alguma que denotasse o aparecimento da fadiga muscular
causada pela estimulação elétrica funcional localizada em um músculo do membro inferior. Pode-se sugerir que tal fadiga, se gerada pela estimulação elétrica no músculo especificamente, não é
suficiente para registrar qualquer diferença na dosagem de lactato sistemicamente.
O ácido lático acumulado no sangue
e nos músculos durante o exercício
aeróbio e anaeróbio é removido durante o período de recuperação. A velocidade dessa remoção depende do fato de
se ficar em repouso durante a recuperação (repouso-recuperação) ou de realizar um exercício leve (30 a 65 % do VO2
máximo) durante a recuperação (exercício-recuperação). O ácido lático é removido mais rapidamente durante o
exercício-recuperação, e seu destino
principal é a oxidação, processada principalmente no músculo esquelético, mas
que também ocorre nos tecidos cardíaco, renal, hepático e cerebral e pelo sistema tampão15. Os resultados deste estudo não permitem avaliar se esse pro-
EE e fadiga na hemiparesia pós-AVE
cesso de remoção se deu no protocolo
de estimulação elétrica realizado, conforme descrito na literatura, devido à
não-detecção e evidenciação do aumento de ácido lático acumulado no sangue sistêmico.
A literatura demonstra que a ativação
muscular por eletroestimulação neuromuscular ativa primeiramente as fibras musculares do tipo IIb, que são fibras “brancas” de contração rápida, glicolíticas,
que possuem poucas redes de capilares
e poucas mitocôndrias, utilizando principalmente o metabolismo anaeróbio
para a produção de energia e assim realizar a contração muscular. A utilização
do metabolismo anaeróbio para a síntese de ATP (trifosfato de adenosina) faz
com que ocorra um aumento da produção de ácido lático; quando essa produção é maior que sua reabsorção, ocorre o fenômeno chamado acidose metabólica; com isso, ocorre uma diminuição das reações enzimáticas, o que gera
a diminuição da liberação de cálcio, que
estimula a troponina e tropomiosina, não
ocorrendo a formação da ponte cruzada; assim, os filamentos de miosina não
se interligam com os filamentos de actina
para realizar a contração muscular, ou
seja, geram fadiga muscular16,17.
Considerando pesquisas anteriores,
que citam o intervalo de 60 segundos
como o tempo necessário para prevenir
a fadiga muscular durante o processo de
eletroestimulação2,8-10,18, buscou-se com
este trabalho investigar dois diferentes
protocolos de eletroestimulação, com
dois diferentes parâmetros do t off (10 e
30 segundos). Ambos podem ter se mostrado eficazes, pois todos os pacientes
que participaram da pesquisa não apresentaram aumento do ácido lático ou
manifestações de fadiga muscular; mas
também se pode inferir o não-aumento
do ácido lático na ferramenta de mensuração utilizada neste estudo, como já
discutido. Não foi investigado o tempo
de 60 segundos de t off porque o aparelho de estimulação elétrica utilizado não
permitia esse intervalo de descanso para
um t on fixado previamente em 10 seg.
A escolha dos outros parâmetros,
como a freqüência de 50 Hz, aconteceu por ser a freqüência mais utilizada
pelos estudos19-22, que utilizaram a EENM
para fortalecimento muscular, inclusive
em portadores de hemiparesia, com resultados positivos para fortalecimento.
Contudo, em outro estudo18 que analisou o efeito da eletro estimulação com
duas freqüências diferentes, baixa (50
Hz) e média freqüência (2000 Hz), avaliando a fadiga pela eletromiografia,
mostrou que o grupo estimulado com
baixa freqüência gerou maior fadiga
muscular que o grupo estimulado com
média freqüência, portanto, a EENM com
corrente de média freqüência mostrou-se
mais vantajosa, neste estudo.
Em virtude de nossos limitados resultados, além de outras divergências acima relatadas, e sabendo da importância
da eletroestimulação como coadjuvante na melhora funcional dos pacientes
hemiparéticos – com aumento da amplitude de movimento, diminuição da
espasticidade e aumento de força muscular –, tornam-se necessários mais estudos em busca de protocolos seguros.
Assim sugere-se uma continuidade deste estudo, com alteração do músculo e
atividade funcional eliciada pela estimulação elétrica, bem como uma ferramenta alternativa para mensuração e detecção
da fadiga muscular.
CONCLUSÃO
Os resultados permitem afirmar que
a ferramenta de mensuração utilizada neste estudo, lactacidemia, não se mostrou
eficaz na detecção e mensuração da fadiga muscular do músculo tibial anterior,
uma vez que o ácido lático acumulado
no sangue do sistema circulatório sistêmico, pela análise do lactato, não evidenciou nenhuma alteração que denotasse o aparecimento da fadiga muscular.
Pode-se sugerir que tal fadiga, se gerada
pela estimulação elétrica no músculo especificamente, não é suficiente para registrar qualquer diferença na dosagem
de lactato sistemicamente.
Fisioter Pesq. 2009;16(2):178-82
2009;16(2)
181
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ISSN 1809-2950
Declínio funcional de idosa institucionalizada: aplicabilidade do modelo da
Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde
Functional decline of an institutionalized elderly woman: applicability of the model
of the International Classification of Functioning, Disability and Health
Carolina Depolito1, Priscilla Lassi Losano de Faria Leocadio2, Renata Cereda Cordeiro3
Estudo desenvolvido no Depto.
de Medicina Preventiva da
EPM/Unifesp – Escola Paulista
de Medicina da Universidade
Federal de São Paulo, São
Paulo, SP, Brasil
1
Fisioterapeuta especializada
em Reabilitação Gerontológica
2
Fisioterapeuta especializada
em Gerontologia
3
Fisioterapeuta Ms.;
Coordenadora do Setor de
Reabilitação Gerontológica do
Lar Escola São Francisco,
vinculado ao Depto. de
Medicina Preventiva da EPM/
Unifesp
ENDEREÇO PARA
CORRESPONDÊNCIA
Carolina Depolito
R. das Laranjeiras, 690 ap. 71
Terra Nova I
09820-480 São Bernardo do
Campo SP
e-mail:
[email protected]
APRESENTAÇÃO
nov. 2008
RESUMO: O objetivo deste estudo é relatar a evolução clínico-funcional de uma idosa
residente em instituição de longa permanência (ILPI), descrevendo a influência
das condições contextuais (socioeconômicas e familiares) em sua saúde, bem como
discutir a provável relação entre os eventos e seu declínio funcional utilizando o
modelo conceitual da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade
e Saúde (CIF). A CIF foi elaborada pela Organização Mundial de Saúde para atender
a diferentes setores e estabelecer uma linguagem comum na descrição da saúde,
permitindo uma abrangência multidimensional dos fatores direta e indiretamente
relacionados ao quadro clínico-funcional, bem como intervenções de caráter
interprofissional na clínica ou no ambiente institucional. A paciente passou por
diferentes momentos na ILP e foi a óbito após 12 meses. A discussão do caso
permite planejar melhores estratégias para lidar com os eventos adversos à saúde
que podem ocorrer nesse contexto.
DESCRITORES: Idoso fragilizado; Instituição de longa permanência para idosos;
Classificação internacional de funcionalidade, incapacidade e saúde
ABSTRACT: The purpose of this study was to analyse the clinical functional evolution
of an elderly institutionalized woman, focussing on the way socioeconomic context
and family-related conditions influenced her health, as well as to discuss the
probable relationship between contextual events and the patient’s functional decline,
by following the conceptual model of the International Classification of Functioning,
Disability, and Health (ICF). ICF was created by the World Health Organization to
address different areas of health and to establish a common language in health
description, allowing a multidimensional description of direct and indirect factors
related to the clinical-functional framework, targeting interprofessional interventions
both in outpatient clinics and in institutional environment. The patient went through
distinct stages in the long-term care facility, and deceased after 12 months. The
discussion of the case allows for planning better strategies that can be used to deal
with similar events.
KEY WORDS: Frail elderly; Home for the aged; International classification of
functioning, disability and health
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO
maio 2009
Fisioter Pesq. 2009;16(2):183-9
2009;16(2)
183
INTRODUÇÃO
Estudos apontam preocupação com
o envelhecimento populacional que
ocorre de forma muito rápida nos países
em desenvolvimento1. No Brasil, o grupo
etário idoso passou a liderar o crescimento populacional, como reflexo da
queda da fecundidade e da mortalidade
no país nos anos 602. Atualmente ainda
não há uma rede adequada de ações
voltadas para os idosos no país. O Estatuto do Idoso e as políticas nacionais voltadas para essa população descrevem os
direitos e as obrigações da sociedade e
do Estado para com os idosos em todos
os âmbitos (habitação, saúde, rede de
suporte social e familiar e outros), mas
na prática essas leis ainda não são efetivamente cumpridas.
Segundo a Política Nacional de Saúde do Idoso, de 19963, a própria família
deve priorizar a assistência ao idoso na
comunidade em detrimento ao atendimento asilar, à exceção daqueles que não
garantam sua própria sobrevivência, o
que nem sempre é possível devido às
mais variadas condições socioeconômicas
e familiares onde os idosos estão inseridos. O cuidado aos idosos é atribuído historicamente aos descendentes, o que foi
se tornando cada vez mais difícil pela
modificação da organização familiar e
ao ingresso da mulher no mercado de
trabalho, deixando de ser a provável
cuidadora. Essas mudanças conjunturais e
culturais do país transformam o papel da
família no sistema de apoio aos idosos4,5.
Esse processo de transição demográfica exige transformações sociais e aumentam a demanda de instituições de longa
permanência para idosos (ILPI) no país.
São uma alternativa importante de assistência e devem assegurar qualidade de
vida e satisfação dos idosos atendidos e
suas famílias. As famílias buscam na ILPI
uma parceria para o cuidado e as instituições esperam sua reciprocidade6,7.
As ILPI surgiram com a nomenclatura de “asilos” na Europa no século XVI e
abrigavam idosos, deficientes mentais e
meliantes, considerados estereótipos
negativos associados a pobreza, abandono ou rejeição familiar. Esse quadro
justifica o clima de insegurança, culpa
e indecisão no momento da institucionalização atualmente. Esse processo pode
2009;16(2)
184 Fisioter Pesq. 2009;16(2):183-9
ocorrer por diversas razões: situação financeira desfavorável, ausência de um
familiar que disponibilize tempo para o
cuidado, falta de estrutura domiciliar
que atenda as necessidades das limitações físicas e funcionais dos idosos5,7.
O idoso institucionalizado quase
sempre constitui uma pessoa distante do
convívio familiar, da própria casa e dos
amigos, o que contribui para a perda de
sua autonomia, dificultando a elaboração de novos projetos. Essa exclusão
social pode estar associada às seqüelas
de doenças crônicas não-transmissíveis
que são a principal causa das admissões
em instituições8. Tais seqüelas freqüentemente acarretam prejuízos funcionais
que tornam os idosos dependentes de
cuidados especiais, justificando a institucionalização.
A Organização Mundial da Saúde
publicou em 1976 a Classificação internacional das deficiências, incapacidades
e desvantagens (Cidid). O modelo dispunha em uma seqüência linear doença –
deficiência – incapacidade – desvantagem. As revisões desse modelo apontaram fragilidades conceituais, como a
falta de relação entre as dimensões abordadas e a não-abordagem de aspectos
sociais e ambientais. Em maio de 2001,
após extensa revisão, a Assembléia Mundial da Saúde aprovou a Classificação
internacional de funcionalidade, incapacidade e saúde (CIF)9*.
A CIF é uma classificação com finalidades múltiplas, elaborada para atender
a vários setores diferentes e tem como
principal objetivo estabelecer uma lingua* No Brasil, a tradução passou a estar disponível
a partir de 2003.
gem comum para descrição da saúde e
dos estados de saúde, melhorando a
comunicação entre seus usuários10. Essa
classificação é baseada em uma abordagem biopsicossocial, incorporando
saúde nos níveis sociais e corporais, tornando mais clara a percepção de que o
mesmo diagnóstico pode apresentar limitações funcionais diferentes9,11.
O objetivo do presente estudo é relatar a evolução clinica funcional de uma
idosa residente em ILPI, descrevendo a
influência das condições contextuais –
socioeconômicas,familiares – em sua
saúde, bem como discutir a provável relação entre os eventos e seu declínio
funcional, utilizando para tanto o modelo conceitual da CIF.
METODOLOGIA
Este trabalho utilizou uma abordagem
qualitativa do tipo relato de caso. As fontes de informação utilizadas foram indiretas e retrospectivas.
Trata-se de uma idosa de 65 anos,
residente durante 12 meses em uma ILPI
na cidade de São Paulo, de caráter filantrópico, que oferece várias atividades
aos idosos, algumas das quais por meio
de serviços voluntários. Para os residentes com autonomia preservada (capacidade para decidir, participar), são desenvolvidas atividades como coral, aulas de
artesanato, eventos esporádicos, e oferecidos serviços como o odontológico.
Além do benefício ao idoso, é oferecida
à população a oportunidade do trabalho
voluntário para os que assim desejarem
ou se comprometerem. Estabelece também parcerias com universidades (graduação e pós-graduação) que oferecem
Quadro 1 Interação dos conceitos da CIF. Essa classificação é subdividida em duas
partes: (1) Funcionalidade e incapacidade e (2) Fatores contextuais10,11
Condição de saúde
(transtorno ou doença)
Funções e estruturas
do corpo
Fatores pessoais
Fonte: OPAS & OMS10
Atividades
Participação
Fatores ambientais
PARTE 1:
Funcionalidade e
incapacidade
PARTE 2:
Fatores
contextuais
Depolito et al.
Declínio funcional de idosa e a CIF
estagiários de graduação e especialização nas áreas da Medicina (residência
em Geriatria), Fisioterapia, Fonoaudiologia, Musicoterapia, Terapia Ocupacional, Psicologia e Enfermagem.
Foram analisados os aspectos socioeconômicos e clínico-funcionais durante o
período de internação. Todos os dados foram coletados a partir do cadastro social,
prontuário e evolução da equipe de saúde.
APRESENTAÇÃO DO
CASO
O caso refere-se a uma idosa de 65
anos, analfabeta, doméstica e com renda mensal inferior a um salário mínimo.
Foi empregado o modelo da Classificação internacional de funcionalidade, incapacidade e saúde para dispor e discutir as
informações do caso. Os conceitos e termos utilizados na CIF estão dispostos no
Quadro 1. A visualização do diagrama
é útil para a compreensão da interação
de seus vários componentes10.
Segundo relato da assistente social,
após a visita no domicilio pré-admissão,
as condições de vida da idosa foram
consideradas “subumanas”. Foi admitida na ILPI em 12 de junho de 2006, em
caráter de urgência. Em janeiro de 2007
a paciente estava no pátio da instituição, adormeceu e sofreu uma queda da
cadeira de rodas, resultando em escoriações e fratura em terço proximal da tíbia.
A paciente foi imobilizada e assim permaneceu por três meses.
O presente estudo foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo. O consentimento pós-informado do gestor da instituição para o uso das informações foi obtido em conformidade às diretrizes legais.
Após a retirada da imobilização, foi
encaminhada e avaliada pelo serviço de
fisioterapia e as sessões tiveram início
em março de 2007. Os atendimentos
seguiram até 26 de junho, quando foi
realizada a última sessão. Nesta, a pacien-
Quadro2 Situação anterior à institucionalização da idosa segundo o modelo da CIF
HAS, seqüela motora devido a um AVE, epilepsia pós-AVE, incontinência
urinária mista,obesidade, diabetes melito, insuficiência venosa periférica,
osteoporose e depressão
- Orientada, utilizando lentes
corretivas
- Diminuição da propriocepção
- Boa fluência e ritmo da fala
- Pressão arterial elevada,
excesso de peso,
dislipidemia, hiperglicemia
- Incontinente
- Hemiparesia à direita, hipotonia, redução da força muscular, pouco controle motor
fino da mão e braço direito
- Pele ressecada
- Analfabeta
- Doméstica
- Mãe solteira de um único
filho
- Apresentava
comunicação verbal e
não-verbal normais
- Dificuldade para
alimentar-se, banhar-se,
vestir-se, usar vaso
sanitário, e transferir-se
- Não deambulava
- Dificuldade nos
trabalhos domésticos;
- Dependente para a
maioria das AVD e AIVD
- Relacionava-se
com o filho e
vizinhos
próximos
- Raramente
frequentava
igreja
- Não tinha acesso a produtos de
tecnologia de comunicação,
educação ou trabalho
- Vivia num único cômodo, sem
banheiro, sem móveis e dividia o
espaço com animais domésticos
- Não usava adequadamente as
medicações
- Não se alimentava corretamente e
não realizava tratamentos –
fisioterapêutico ou qualquer outro
Fonte: diagrama adaptado de OPAS & OMS10 e preenchido com dados coletados em fontes indiretas
HAS = Hipertensão arerial sistêmica; AVE = acidente vascular encefálico; AVD = atividades da
vida diária; AIVD = atividades instrumentais da vida diária
te estava apática, motivo pelo qual fora
realizada movimentação passiva e posicionamento. No dia seguinte, a paciente saiu
da instituição para coletar material para
exames e, ao retornar, apresentou uma
crise de hipotermia, desenvolvendo-se
posteriormente para choque. A equipe
de saúde acionou a remoção por ambulância até o hospital público, onde evoluiu
para coma e foi a óbito na madrugada
de 29 de junho de 2007.
Do ponto de vista funcional, a paciente passou por três períodos distintos: (1)
condição geral de saúde antes de ser institucionalizada; (2) condição geral de
saúde após a institucionalização e antes da queda; (3) condição geral de saúde após a queda. Os Quadros 2, 3 e 4
apresentam a caracterização e evolução
da paciente nos três momentos, classificados segundo a CIF.
DISCUSSÃO
O caso em questão será aqui discutido à luz do modelo da CIF em três seções, focalizando o peso dos fatores
ambientais, as relações entre fatores
contextuais, funcionalidade, autonomia
e incapacidade.
O peso dos fatores contextuais
A questão da autonomia versus independência funcional: no momento da
admissão na instituição, a paciente não
apresentava condições mínimas de cuidados pessoais e saúde, assim como seu
filho não dispunha de tempo nem condições financeiras para auxiliá-la em
suas necessidades. As causas que levaram à institucionalização envolveram
tanto aspectos de saúde – doenças crônico-degenerativas, grau de dependência e limitação na realização das atividades de vida diária, diminuição da capacidade funcional – como aspectos
sociais, associados à falta de condições
financeiras e de apoio familiar5,7.
Nem sempre a autonomia do idoso é
respeitada. Ele acaba sendo institucionalizado por filhos, familiares ou vizinhos sem seu consentimento. No Brasil
a indisponibilidade de cuidado familiar, a falta de serviços de apoio social e
de saúde, o alto custo do cuidado domiciliar e os espaços físicos inadequa-
2009;16(2)
Fisioter Pesq. 2009;16(2):183-9
185
Quadro 3 Situação da paciente após ser admitida na ILPI (os asteriscos indicam
alterações ocorridas na funcionalidade e nos fatores contextuais na nova etapa)
dos para idosos fragilizados são fatores
para a institucionalização5,7.
HAS, seqüela motora devido a um AVE, epilepsia pós-AVE, incontinência
urinária mista,obesidade, diabetes melito, insuficiência venosa periférica,
osteoporose e depressão
A paciente não foi encaminhada para
a instituição por vontade própria, visto
que manifestava saudades dos vizinhos
e de seus animais. Contudo, as barreiras
contextuais com as quais convivia impossibilitavam condições mínimas de
viver com dignidade na comunidade,
tornando a instituição de longa permanência uma alternativa viável de residência e que, além disso, possibilitaria cuidados à sua saúde debilitada. Frente à
gravidade de sua depressão, ela fora
considerada incompetente para exercer
sua autonomia. Para preservar sua integridade e saúde, houve imposição da
internação institucional. Em Bioética,
apesar de não haver um acordo universalmente aceito quanto ao conceito de
competência devido à sua complexidade, a pessoa é geralmente considerada
incompetente quando não pode, temporária ou permanentemente, exercer sua
autonomia12,13. A competência é colocada em pauta quando se questiona se
a pessoa está tomando decisões que sejam realmente de seu próprio interesse,
baseadas em sua capacidade de entender, avaliar e racionalizar12,13. Mesmo
contra sua vontade, a idosa foi institucionalizada para garantir seu bem-estar, decisão tomada na época por um familiar.
- Utilizando lentes corretivas
- Diminuição da propriocepção
- Boa fluência e ritmo da fala
- Pressão arterial controlada*
- Em dieta hipocalórica*
- Dislipidemia controlada*,
diabetes melito controlado*
- Incontinente
- Manteve-se hemiparesia à
direita com hipotonia e
pouco controle motor
- Hidratação da pele*
- Recebia auxílio no banho,
para vestir-se e na higiene
pessoal*
- Uso de fraldas geriátricas*
- Auxilio nas transferências
posturais e na locomoção
com cadeira de rodas*
- Alimentava-se
independentemente*
- Dependente para a
maioria das AVD e AIVD
- Relacionamento interpessoal
restrito*
- Participava de
aulas de
pintura em
pano de prato*
- Era levada ao
pátio para
banho de sol*
- Dobrava as
meias de todas
da enfermaria*
- Não recebia visitas de familiares ou amigos*
- Analfabeta
- Doméstica
- Mãe solteira de um
único filho
- Residia na enfermaria da instituição com
outras idosas, em sua maioria demenciadas*
- Na enfermaria havia poltronas, televisores,
serviço de auxiliares de enfermagem 24 h*
- Local bem iluminado de fácil acesso*
- Voluntários tocavam violão e liam livros na
enfermaria*
- Teve medicação e alimentação adequadas*
- Passou a ser atendida pela equipe médica*
Fonte: idem. HAS = Hipertensão arerial sistêmica; AVE = acidente vascular encefálico; AVD =
atividades da vida diária; AIVD = atividades instrumentais da vida diária
Quadro 4 Condições gerais de saúde e funcionalidade após uma queda na ILPI (os
asteriscos indicam alterações na funcionalidade e nos fatores contextuais
nessa nova situação)
HAS, seqüela motora devido a um AVE, epilepsia pós-AVE, incontinência
urinária mista,obesidade, diabetes melito, insuficiência venosa periférica,
osteoporose, depressão, inapetência* e delirium*
- Hiperglicemia*; apatia*
- Hemiplegia à direita* com
redução da ADM do joelho
esquerdo*, dificuldade no
controle de tronco e
cabeça*,redução da força
muscular global*, dor leve
próximo ao joelho esquerdo*
- Dificuldade de deglutição sem
diagnóstico que justificasse*
- Emagrecimento* e úlceras
por pressão*
- Recebia auxílio no banho,
para vestir-se e na higiene
pessoal
- Uso de fraldas geriátricas
- Auxilio nas transferências
posturais e na locomoção
com cadeira de rodas
- Dependente para
alimentar-se*
- Dependente para todas
as AVD e AIVD*
- Nenhum
relacionamento interpessoal
*
- Recebeu uma visita do filho*
- Analfabeta
- Doméstica
- Mãe solteira de um
único filho
- Permaneceu na enfermaria da instituição com
outras idosas, em sua maioria demenciadas
- Enfermaria nas mesmas condições, com
serviço de auxiliares de enfermagem 24 h
- Voluntários mantinham atividades
- Medicação e alimentação adequadas
- Passou a ser atendida pela equipe médica
diariamente*
- Passou a ser atendida pelos serviços de
Psicologia* e Fisioterapia*
Fonte: idem. HAS = Hipertensão arerial sistêmica; AVE = acidente vascular encefálico; ADM = amplitude
de movimento; AVD = atividades da vida diária; AIVD = atividades instrumentais da vida diária
2009;16(2)
186 Fisioter Pesq. 2009;16(2):183-9
A queda: inter-relações entre
ambiente e funcionalidade
Mesmo tendo a instituição atendido
às suas necessidades básicas, oferecendo
suporte e abrigo, assistência e cuidados
básicos de saúde, a paciente mantinha o
desejo do convívio familiar, importante
componente da participação social. Isso
sinaliza como a institucionalização pode
segregar e provocar solidão nos idosos,
apesar de todos os serviços de saúde,
sociais e de lazer que a mesma oferece.
Na literatura há relatos de que idosos
institucionalizados confundem solidão
com saudade e que esses sentimentos
podem gerar isolamento, incapacidade
de interação com outras pessoas, levando a angústia e depressão – diagnóstico
apresentado pela idosa neste caso14.
Apesar de as instituições manterem
equipe de enfermagem durante 24 horas, as intercorrências surgem, às vezes
Depolito et al.
com conseqüências imprevisíveis. A
queda é considerada uma intercorrência
comum entre idosos e deve ser valorizada pelas conseqüências incapacitantes
e onerosas que podem causar15.
Os indivíduos podem sofrer quedas
em qualquer idade, porém são os idosos que correm maior risco de desenvolver incapacidade ou morrer em decorrência de queda16. A diminuição da
capacidade funcional é um fator de risco para quedas em idosos, principalmente pelo comprometimento da execução das atividades de vida diária, limitação de força muscular, equilíbrio,
marcha e mobilidade17. Estima-se que
aproximada-mente 66% dos idosos
institucionalizados sofram um episódio
de queda por ano18.
A paciente estudada sofreu uma queda da cadeira de rodas, onde estava contida mecanicamente por um lençol
amarrado na cintura visando prevenir
quedas por deslocamento anterior do
tronco. Definida como uma forma de
inibir os movimentos livres, a contenção mecânica é utilizada para evitar
movimentos que possam de alguma forma trazer algum prejuízo para o paciente19. No caso a contenção não foi eficaz,
uma vez que a paciente adormeceu e
deslizou pela cadeira, caindo para frente juntamente com a cadeira de rodas.
Normalmente, a contenção mecânica na
cadeira de rodas, com cintas ou correias,
e nas camas, com proteção lateral, é utilizada visando a prevenção de quedas;
entretanto, a necessidade da utilização
desses meios de auxílio deve ser avaliada, assim como seus riscos20.
Até a atualidade, poucos estudos
abordam as indicações de limitações físicas para contenção; alguns têm amostras pequenas ou, ainda, não permitem
estabelecer uma relação clara com a
causa de quedas; e estudos retrospectivos
são dificultados pela falta de documentação relativa a esses casos. A literatura
sugere que a razão principal da utilização das contenções é o interesse dos
cuidadores na segurança, tentando impedir quedas ou a interferência no tratamento e monitoramento dos pacientes.
Outros motivos citados incluem impedimento da perambulação, controle da
agitação e manutenção do posicionamento na cadeira de rodas. No entanto,
Declínio funcional de idosa e a CIF
apesar dos motivos terapêuticos e ligados à segurança, em boa parte das vezes
as contenções são soluções convenientes para aliviar o volume de trabalho da
equipe – ou podem mesmo adquirir o
caráter de punição ao paciente que frustra a equipe por seu comportamento
agressivo ou disfuncional. Se empregadas, as contenções devem seguir normas
de segurança e os motivos pelos quais
foram adotadas devem ser continuamente avaliados19. Não há evidências na literatura que apontem redução do risco
de quedas ou minimização de lesões
relacionadas a seu uso19. Ao contrário,
foi relatado que a retirada das contenções mecânicas não promoveu diferença quanto ao número total de quedas;
contudo, a proporção de quedas sem
lesões diminui significantemente em relação às quedas com lesões21.
Este caso ilustra o achado recorrente
na literatura quanto ao risco de fraturas
ocasionadas por quedas em idosos frágeis.
Relatos de idosos, cuidadores e familiares apontam o aumento da limitação
funcional e da dependência na realização das atividades de vida diária após
uma queda16,20. As fraturas são citadas
como conseqüências comuns juntamente com a imobilidade, a restrição nas atividades, prejuízos sociais e psicológicos
e declínio no estado geral de saúde22.
A partir da queda a paciente permaneceu três meses com imobilização
gessada da perna e não mais realizou
suas atividades cotidianas. O tempo de
imobilização e recuperação nesse caso
foi de suma importância: foi durante esse
tempo que se agravaram os sintomas
depressivos, aumentaram as dificuldades
motoras e apareceram as úlceras por
pressão.
Com o agravamento da depressão, a
paciente passou a apresentar sintomas
típicos como apatia, desinteresse, falta
de apetite e alterações no ciclo do sono.
Foi tratada com antidepressivos e psicoterapia, não apresentando melhora significativa. A própria situação de institucionalização favorece a retroalimentação
de um ciclo marcado por incapacidade
e quadro depressivo: a limitação física e
conseqüente limitação funcional verificadas em idosos institucionalizados provocam isolamento e negação, no intuito
de diminuir a percepção de um ambi-
ente que não lhes é agradável23. Sabese que a depressão é de grande prevalência entre idosos institucionalizados
e nessa faixa etária normalmente vem
acompanhada de problemas clínicos e
sociais que dificultam o diagnóstico e o
tratamento 24. Estudos internacionais
apontam uma variação de 14% a 42%
de prevalência da depressão em idosos
institucionalizados, sendo que a maior
incidência ocorre em mulheres com
mais de 65 anos25. No Brasil podemos
encontrar a prevalência de 21,1% em
instituições no nordeste do país e 20,9%
no sudeste22.
Família: barreira ou facilitador
da capacidade funcional?
Os idosos residentes em instituições
acabam sofrendo afastamento de filhos
e outros familiares, podendo culminar na
perda total de contato com a família24.
Quando sofreu a queda, a paciente estava na instituição há aproximadamente
seis meses e havia recebido apenas uma
visita do filho, no início de sua institucionalização. A atividade ocupacional deste
era coletar papelão para reciclagem;
pelos parcos registros da ILPI, não há
dados para dimensionar os motivos pelo
qual ele não a visitava.
Com a piora do quadro clínico da
paciente, o filho fora convocado a comparecer na instituição, já que era responsável por ela. No dia de sua visita, a
paciente apresentou melhora significativa
na alimentação, expressões não-verbais de
felicidade e mesmo verbais – até perguntando sobre seus animais de estimação.
Creutzberg et al.7 perceberam também
que a participação dos familiares no
cuidado tem efeitos positivos, especialmente quando estes são filhos. A equipe da casa solicitou então ao filho que
a visitasse nos próximos dias, mas, apesar de ter se comprometido com a equipe, este não compareceu mais à ILPI.
Na semana seguinte, a paciente sofreu uma piora do quadro geral, apresentando piúria e infecção nas úlceras
por pressão. Evoluiu para um quadro de
delirium e, ao retornar da realização de
exames, apresentou uma crise de hipotermia, entrou em choque, coma e foi a
óbito.
2009;16(2)
Fisioter Pesq. 2009;16(2):183-9
187
O reconhecimento do papel central
do meio ambiente no estado funcional
dos pacientes, atuando como barreira ou
facilitador – neste caso, a falta de envolvimento da família tornou-se uma barreira – muda o foco do problema da natureza biológica individual para a interação
entre disfunção e contexto ambiental9. O
modelo conceitual da CIF agrega esses
fatores no processo multidimensional de
explicação do nível de funcionalidade
e de saúde de uma pessoa, possibilitando relações de determinação que vão
além dos diagnósticos clínicos. Conhecer a influência do contexto ambiental
e pessoal permite às instituições traçar
estratégias sistemáticas para minimizar
as barreiras e potencializar os facilitadores.
Este relato de caso, organizado e descrito dentro da lógica conceitual da CIF,
expõe a urgência de seu uso efetivo nas
equipes. No nível individual, possibilita
basicamente a avaliação do nível de funcionalidade do idoso, o planejamento
do tratamento e seus efeitos, e a comunicação eficaz entre os membros da
equipe; no nível institucional, serve a propósitos educacionais e de treinamento,
planejamento de recursos necessários para
a assistência, avaliação de gerenciamento
e resultados e oferta de serviços, melhorando resultados e reduzindo riscos; por
fim, no nível social, possibilita concessão de benefícios, desenvolvimento de
política social, avaliação de necessidades e do ambiente físico a fim de garantir a acessibilidade10.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
A interpretação da sucessão temporal
dos eventos por meio do modelo teórico
da CIF neste caso possibilitou uma visão
detalhada, crítica, objetiva e contextual,
de fácil compreensão por todos os membros de uma equipe que presta assistência
à saúde do idoso. Sugere-se que esse
modelo conceitual seja efetivamente
empregado nos diversos serviços de atenção à saúde do idoso, devido a sua capacidade de abarcar múltiplos aspectos
passíveis de intervenção apropriada, à
medida que forem emergindo. O modelo facilita a comunicação entre os profissionais e propicia integralidade na
assistência.
A CIF se mostrou aplicável à compreensão da situação institucional no decorrer do tempo. Portanto, sugere-se que
seja utilizada em outros estudos como
norteadora da relação multidimensional
entre os eventos, unificando a linguagem e facilitando a interpretação de relações de determinação mais complexas, não-lineares.
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2009;16(2)
Fisioter Pesq. 2009;16(2):183-9
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INSTRUÇÕES PARA AUTORES
A revista FISIOTERAPIA E PESQUISA, editada pelo Curso
de Fisioterapia do Departamento de Fisioterapia,
Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, prioriza a publicação
de pesquisas originais, cujos resultados possam ser replicados, publicando também ensaios de revisão sistemática ou
crítica de literatura, relatos de casos e cartas ao editor.
Os manuscritos apresentados à Revista devem ser originais, redigidos em português. Caso uma versão semelhante,
em qualquer língua, já tiver sido publicada ou enviada a outro veículo, essa informação deve constar da folha de rosto,
para que o Conselho Editorial possa ponderar sobre a
pertinência de sua publicação.
Processo de julgamento
Todo manuscrito enviado para FISIOTERAPIA E PESQUISA é examinado pelo Conselho Editorial, para consideração
de sua adequação às normas e à política editorial da Revista.
Os manuscritos que não estiverem de acordo com estas normas serão devolvidos aos autores para adequação antes de
serem submetidos à apreciação dos pares. Em seguida, o
manuscrito é apreciado por dois pareceristas de reconhecida
competência na temática abordada, garantindo-se o anonimato de autores e pareceristas. Dependendo dos pareceres
recebidos, os autores podem ser solicitados a fazer ajustes
(no prazo de um mês), que serão examinados para aceitação.
Uma vez aceito, o manuscrito é submetido à edição de texto,
podendo ocorrer nova solicitação de ajustes formais – nesse
caso, os autores têm o prazo máximo de duas semanas para
efetuá-los. O não-cumprimento dos prazos de ajuste será
considerado desistência, sendo o artigo retirado da pauta da
Revista. Os manuscritos aprovados são publicados de acordo
com a ordem cronológica do aceite na secretaria da Revista.
Responsabilidade e ética
O conteúdo e as opiniões expressas são de inteira responsabilidade de seus autores. Artigos de pesquisa envolvendo sujeitos humanos devem indicar, na seção Metodologia, sua expressa concordância com os padrões éticos e com o devido
consentimento livre e esclarecido dos participantes (de acordo com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que trata do Código de Ética para Pesquisa em Seres Humanos). As pesquisas com humanos devem trazer na folha de
rosto o número do parecer de aprovação pela respectiva Comissão de Ética em Pesquisa, que deve estar registrada no
Conselho Nacional de Saúde. Estudos envolvendo animais
devem explicitar o acordo com os princípios éticos internacionais e instruções nacionais (Leis 6638/79, 9605/98, Decreto 24665/34) que regulamentam pesquisas com animais.
A menção a instrumentos, materiais ou substâncias de propriedade privada deve ser acompanhada da indicação de seus
fabricantes. A reprodução de imagens ou outros elementos
de autoria de terceiros, que já tiverem sido publicados, deve
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Fisioter Pesq. 2009;16(2)
vir acompanhada da autorização de reprodução pelos detentores dos direitos autorais; se não acompanhados dessa indicação, tais elementos serão considerados originais do/s autor/es do manuscrito.
Autoria
Deve ser feita explícita distinção entre autor/es e colaborador/es. O crédito de autoria deve ser atribuído a quem preencher os três requisitos: (1) deu contribuição substantiva à
concepção, desenho ou coleta de dados da pesquisa, ou à
análise e interpretação dos dados; (2) redigiu ou procedeu à
revisão crítica do conteúdo intelectual; e (3) deu sua aprovação final à versão a ser publicada.
No caso de trabalho realizado por um grupo ou em vários
centros, devem ser identificados os indivíduos que assumem
inteira responsabilidade pelo manuscrito (que devem preencher os três critérios acima e serão considerados autores). Os
nomes dos demais integrantes do grupo serão listados como
colaboradores. A ordem de indicação de autoria é decisão
conjunta dos co-autores. Em qualquer caso, deve ser indicado o endereço para correspondência do autor principal. A
carta que acompanha o envio dos manuscritos deve ser assinada por todos os autores, tal como acima definidos.
Envio dos manuscritos
Os manuscritos devem ser submetidos por via eletrônica
pelo site www.mdpesquisa.com.br/FP. Ao submeter um manuscrito para publicação os autores devem enviar:
ƒ Declaração de responsabilidade, de conflitos de interesse e de autoria do conteúdo do artigo. Os autores
devem declarar a existência ou não de eventuais conflitos de interesse (profissionais, financeiros e benefícios
diretos e indiretos) que possam influenciar os resultados da pesquisa e a responsabilidade do(s) autor(es) pelo
conteúdo do manuscrito. Ver modelo no site
www.mdpesquisa.com.br/FP.
ƒ Declaração de transferência de direitos autorais
(copyright) para Fisioterapia e Pesquisa, assinada por todos os autores, com os respectivos números de CPF, caso
o artigo venha a ser aceito para publicação (modelo também no site acima).
ƒ No caso de ensaio clínico, informar o número de registro validado pela Organização Mundial da Saúde (OMS)
e International Committee of Medical Journal Editors
(ICMJE), cujos endereços estão disponíveis no site do
ICMJE: www.icmje.org/faq.pdf.
Preparação dos manuscritos
1 Apresentação – O texto deve ser digitado em
processador de texto Word ou compatível, em tamanho A4,
com espaçamento de linhas e tamanho de letra que permitam plena legibilidade. O texto completo, incluindo páginas
de rosto e de referências, tabelas e legendas de figuras, deve
conter no máximo 25 mil caracteres com espaços.
2 A página de rosto deve conter:
a) título do trabalho (preciso e conciso) e sua versão para
o inglês;
b) título condensado (máximo de 50 caracteres)
c) nome completo dos autores, com números sobrescritos
remetendo à afiliação institucional e vínculo;
d) instituição que sediou, ou em que foi desenvolvido o
estudo (curso, laboratório, departamento, hospital, clínica etc.), faculdade, universidade, cidade, estado e país;
e) afiliação institucional dos autores (com respectivos números sobrescritos); no caso de docência, informar título; se em instituição diferente da que sediou o estudo,
fornecer informação completa, como em “d)”; no caso
de não-inserção institucional atual, indicar área de formação e eventual título (a Revista não indica em quê
nem em qual instituição o título foi obtido);
d) endereços postal e eletrônico do autor principal;
e) indicação de órgão financiador de parte ou todo o estudo, se for o caso;
f) indicação de eventual apresentação em evento científico;
g) no caso de estudos com seres humanos, indicação do
parecer de aprovação pelo comitê de ética; no caso de
ensaio clínico, o número de registro internacional.
3 Resumo, abstract, descritores e key words – A segunda
página deve conter os resumos do conteúdo em português e
inglês. O resumo em português deve ocupar o máximo de
1.500 caracteres com espaços (cerca de 220 a 230 palavras).
Resumo e abstract devem ser redigidos em um único parágrafo, buscando-se o máximo de precisão e concisão; seu
conteúdo deve seguir a estrutura formal do texto, ou seja,
indicar objetivo, procedimentos básicos, resultados mais importantes e principais conclusões. São seguidos, respectivamente, da lista de até cinco descritores e key words (sugerese a consulta aos DeCS – Descritores em Ciências da Saúde
da Biblioteca Virtual em Saúde do Lilacs (http://decs.bvs.br) e
ao MeSH – Medical Subject Headings do Medline
(www.nlm.nih.gov/mesh/MBrowser.html).
4 Estrutura do texto – Sugere-se que os trabalhos sejam
organizados mediante a seguinte estrutura formal: a) Introdução, estabelecendo o objetivo do artigo, justificando sua relevância frente ao estado atual em que se encontra o objeto
investigado; b) em Metodologia, descrever em detalhe a seleção da amostra, os procedimentos e materiais utilizados, de
modo a permitir a reprodução dos resultados, além dos métodos usados na análise estatística – lembrando que apoiar-se
unicamente nos testes estatísticos (como no valor de p) pode
levar a negligenciar importantes informações quantitativas;
c) os Resultados são a sucinta exposição factual da observação, em seqüência lógica, em geral com apoio em tabelas e
gráficos –cuidando tanto para não remeter o leitor unicamente
a estes quanto para não repetir no texto todos os dados dos
elementos gráficos; d) na Discussão, comentar os achados
mais importantes, discutindo os resultados alcançados comparando-os com os de estudos anteriores; e) a Conclusão
sumariza as deduções lógicas e fundamentadas dos Resultados e Discussão.
5 Tabelas, gráficos, quadros, figuras, diagramas – são considerados elementos gráficos. Só serão apreciados manuscritos contendo no máximo cinco desses elementos. Recomenda-se especial cuidado em sua seleção e pertinência, bem
como rigor e precisão nos títulos. Note que os gráficos só se
justificam para permitir rápida apreensão do comportamento
de variáveis complexas, e não para ilustrar, por exemplo, diferença entre duas variáveis. Todos devem ser fornecidos no
final do texto, mantendo-se neste marcas indicando os pontos
de sua inserção ideal. As tabelas (títulos na parte superior)
devem ser montadas no próprio processador de texto e numeradas (em arábicos) na ordem de menção no texto; decimais são separados por vírgula; eventuais abreviações devem
ser explicitadas por extenso, em legenda.
Figuras, gráficos, fotografias e diagramas trazem os títulos
na parte inferior, devendo ser igualmente numerados (em arábicos) na ordem de inserção. Abreviações e outras informações vêm em legenda, a seguir ao título.
6 Remissões e referências bibliográficas – Para as remissões no texto a obras de outros autores adota-se o sistema de
numeração seqüencial, por ordem de menção no texto. Assim,
a lista de referências ao final não vem em ordem alfabética.
Visando adequar-se a padrões internacionais de indexação, para
apresentação das referências a Revista adota a norma conhecida como de Vancouver, elaborada pelo Comitê Internacional
de Editores de Revistas Médicas (www.icmje.org), também disponível em http://www.icmje.org/index.html#references. Alguns
exemplos:
Forattini OP. Ecologia, epidemiologia e sociedade. São
Paulo: Edusp; 1992.
Laurenti R. A medida das doenças. In: Forattini OP,
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Fisioter Pesq. 2009;16(2)
191
7 Agradecimentos – Quando pertinentes, dirigidos a pessoas ou instituições que contribuíram para a elaboração do
trabalho, são apresentados ao final das referências.
Apresentação eletrônica da versão final
Após a comunicação do aceite do artigo, o autor deverá
proceder aos eventuais ajustes sugeridos pelos pareceristas,
para o quê terá o prazo de quatro semanas (findo esse prazo,
se a versão final não tiver sido enviada à Revista, será considerada desistência). A versão final será ainda editada, ocasião em que o editor poderá solicitar novos ajustes e esclarecimentos – e, nesse caso, o prazo para os ajustes será de apenas duas semanas.
Solicita-se que, na preparação da versão final, o autor:
• use fonte comum, simples; use itálico apenas para títulos
de obras e palavras em língua estrangeira; o negrito é reservado a títulos e intertítulos, claramente diferenciados;
• não use a barra de espaço para recuos nem a tecla “tab”,
apenas recursos de formatação do processador de texto;
• não separe parágrafos com sinal de parágrafo adicional;
• use o próprio processador de texto (e não planilhas) para
elaborar tabelas;
• use o próprio processador de texto (recurso “Desenho”)
para elaborar diagramas simples, organogramas etc. (não
insira figuras ou organogramas do Microsoft PowerPoint®);
• inversamente, use programa apropriado (como
Microsoft® Excel) para elaborar gráficos, e não o recurso “Gráficos” do processador de texto;
• no caso de gráficos ou diagramas elaborados por softwares
específicos, devem ser convertidos (exportados) em formatos que possam ser abertos por programas de uso comum (verifique os tipos de arquivos que podem ser aber-
tos no Adobe Photoshop®, para figuras em escala de cinza, no CorelDraw®, para desenhos, ou no Excel® ou
Origin®, para gráficos), para permitir eventuais ajustes,
adequação de fonte etc.;
• forneça fotografias ou outras ilustrações com resolução
mínima de 300 dpi, e em tamanho compatível;
• em qualquer caso, forneça simultaneamente um arquivo em TIFF do elemento gráfico, para permitir
visualização e conferência.
Envio dos arquivos
Os dados de texto (em Word ou compatível) e de ilustrações devem ser enviados em arquivos separados. Os dados
devem ser acompanhados da informação precisa de todos os
programas utilizados, inclusive de compressão, se for o caso;
sugere-se que os nomes dos arquivos sejam curtos e permitam rápida identificação (por exemplo, “sobrenome do autor
fig1....”).
Exemplares dos autores
Serão enviados ao autor principal dois exemplares do número da Revista em que seu artigo for publicado, mais um
exemplar para cada co-autor.
***
No bojo do processo de aprimoramento de FISIOTERAPIA E
PESQUISA, estas normas estão em construção, podendo sofrer
alterações. Para informação atualizada, sugere-se a consulta ao
site da Revista (http://medicina.fm.usp.br/fofito/fisio/revista.php) ou
às instruções do último número publicado. Para contato com a
secretaria da Revista, use [email protected].
O endereço completo da Revista encontra-se na terceira
capa, a seguir.
Assinatura
Para assinar Fisioterapia e Pesquisa, preencha o cupom abaixo e envie-o à revista, junto com um cheque nominal à Fundação
Faculdade de Medicina (ver endereço ao lado, na 3a capa) no valor de R$ 64,00 ou recibo de depósito no Banespa (banco 033),
agência 0201, cc 13004086-7. A ficha de assinatura está disponível no site da revista: <http://medicina.fm.usp.br/fofito/fisio/
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FICHA DE ASSINATURA
Assinatura anual (quatro números) de Fisioterapia e Pesquisa a contar de (data) _________________________
Nome: _______________________________________________________________________________________
Endereço: _____________________________________________________________________________________
CEP: ______________ Cidade: ___________________________________________________ Estado: _______
e-mail: _______________________________________________________________________________________
Instituição (opcional): __________________________________________________________________________
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Fisioterapia e Pesquisa
Fisioterapia e Pesquisa
Revista do Curso de Fisioterapia do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e
Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Fofito/FMUSP
em continuação a Revista de Fisioterapia da Universidade de São Paulo.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Reitora
Profa. Dra. Suely Vilela Sampaio
Vice-Reitor
Prof. Dr. Franco Maria Lajolo
SECRETARIA
Patrícia Pereira Alfredo
INDEXAÇÃO E NORMALIZAÇÃO BIBLIOGÁFICA
Serviço de Biblioteca e Documentação da FMUSP
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Faculdade de Medicina
Diretor
Prof. Dr. Marcos Boulos
EDIÇÃO DE TEXTO, PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO
Tina Amado, Alba A. G. Cerdeira Rodrigues e Daniel Carvalho
Pixeletra ME
Depto. Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional
IMPRESSÃO
Chefe
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Gráfica UNINOVE
Tiragem: 800 exemplares
Curso de Fisioterapia
Coordenadora
Profa. Dra. Silvia Maria Amado João
FISIOTERAPIA E PESQUISA
Fisioterapia e Pesquisa v.16, n.2, abr/jun. 2009
Fisioterapia e Pesquisa / (publicação do Curso de Fisioterapia
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo)
v.1, n.1 (1994). – São Paulo, 2005.
v. : il.
Continuação a partir de v.12, n.1, 2005 de Revista de
Fisioterapia da Universidade de São Paulo.
Semestral: 1994-2004
Quadrimestral: a partir do v.12, n.1, 2005
Trimestral: a partir do v.15, n.1, 2008
Sumários em português e inglês
ISSN 1809-2950
Curso de Fisioterapia
Fofito/FM/USP
R. Cipotânea 51 Cidade Universitária
05360-160 São Paulo SP
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http://medicina.fm.usp.br/fofito/fisio/revista.php
Telefone: 55 xx 11 3091 8416
INSTITUIÇÕES COLABORADORAS
INSTITUIÇÕES PARCEIRAS
FACULDADE DE MEDICINA
DE RIBEIRÃO PRETO / USP
ASSOCIAÇÃO DE
FISIOTERAPEUTAS DO BRASIL
APOIO
1. FISIOTERAPIA/periódicos I. Curso de Fisioterapia da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo
Filiada à
FACULDADE DE MEDICINA
DA UNIVERSIDADE
DE SÃO PAULO
ISSN: 1809-2950
FISIOTERAPIA e
PESQUISA
REVISTA DE FISIOTERAPIA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ÓRGÃO OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO DE FISIOTERAPEUTAS DO BRASIL
Volume 16 – número 2
Abril – Junho 2009
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