Anais da X Semana de Estudos Florestais e I Seminário de Atualização Florestal AVES E MAMÍFEROS REGISTRADOS NO CAMPUS DE IRATI DA UNICENTRO Vânia Rossetto Marcelino*, Matheus Moraes e Silva *Departamento de Engenharia Florestal – Universidade Estadual do Centro-Oeste Rodovia PR 153, km 7- Bairro Riozinho, CEP 84.500-000, Irati/Paraná, [email protected] RESUMO A fauna silvestre pode ser utilizada como bioindicadora de ecossistemas. No Campus de Irati procedeu-se ao levantamento das espécies de aves e mamíferos silvestres que residem ou passaram em migração, o que indica o quanto o local se aproxima do ecossistema natural original que é a Floresta Ombrófila Mista. Para tanto, foram feitas observações aleatórias em todos os ambientes, procurando-se identificar visual ou auditivamente as espécies, ou ainda por meio de vestígios. Os objetivos foram gerar uma lista de espécies de aves e outra de mamíferos registrados, e descrever o atual estado de conservação da vegetação nativa, com base na diversidade desses dois grupos taxonômicos. Foram registradas 59 espécies de aves e 5 espécies de mamíferos. Apesar de bastante degradado, o bosque florestal ao longo do Rio Riozinho apresenta potencial para abrigar boa parte das espécies de aves e mamíferos nativos. Recomenda-se o enriquecimento deste fragmento com espécies arbóreas nativas, a retirada de espécies exóticas agressivas, a proteção contra a caça e a perturbação por cães domésticos e a ampliação dessa área ao longo do rio como forma de incrementar sua função de corredor ecológico. Fonte Times New Roman, tamanho 11, deve conter os objetivos do trabalho, o resumo do desenvolvimento e as principais conclusões. Introdução Dois grupos bastante utilizados como bioindicadores de ecossistemas são o das aves e dos mamíferos. Em geral, quanto mais espécies nativas do ecossistema em questão, melhor conservado se encontra o mesmo e, de modo contrário, quanto mais espécies exóticas, mais alterada se encontra a vegetação nativa. É uma forma de investigar o estado de conservação de áreas com vegetação nativa, isto é, se estão mais próximas do ecossistema original ou de ecossistemas antrópicos/antropizados. As aves são muito utilizadas como bioindicadores por ser um dos grupos mais bem estudados no país, com conhecimento sobre a biologia e a ecologia da maioria das espécies, além da facilidade de reconhecimento em campo (o que significa também economia de tempo e recursos financeiros) e do fato de ocuparem tanto ecossistemas terrestres quanto aquáticos e também todos os estratos de uma floresta. O grupo dos mamíferos de médio e grande porte apresentam, além da vantagem de também serem muito bem estudados, o fato de serem de fácil reconhecimento através de vestígios, sem a necessidade de captura na maioria dos casos. O objetivo do trabalho foi gerar uma lista de espécies de aves e de mamíferos terrestres de médio e grande porte, descrevendo qualitativamente o atual estado de conservação da fauna e flora nativas no Campus de Irati da Unicentro. Anais da X Semana de Estudos Florestais e I Seminário de Atualização Florestal Materiais e Métodos A área de estudo foi o Campus de Irati, da UNICENTRO, abrangendo pequenos fragmentos de Floresta Ombrófila Mista degradada, campos antrópicos e áreas urbanizadas. O trabalho de campo consistiu em observações ao longo de caminhadas aleatórias por todos os ambientes. Tais observações ocorreram entre março de 2007 e agosto de 2008, em diversos dias, sem contagem de tempo. Apenas o mês de janeiro de 2008 não foi amostrado. Foram utilizados equipamentos auxiliares na identificação das aves e mamíferos, como binóculos, guias de campo (Develey e Endrigo, 2004; Souza, 1998) e literatura especializada (Grantsau, 1988; Sick, 1997; Sigrist, 2006). Resultados e Discussão Foram registradas 58 espécies de aves, distribuídas em 28 famílias (Tabela 1) e 5 espécies de mamíferos, distribuídas em 5 famílias (Tabela 2). Entre as aves, 35 espécies são de hábito generalista, ou seja, ocupam áreas abertas e antropizadas, como campos e lavouras, além de eventualmente freqüentarem florestas. Outras 23 são de hábito essencialmente florestal, apesar de serem esporadicamente observadas forrageando nas imediações dos fragmentos. Tabela 1 – Espécies de aves registradas no Campus de Irati Crypturellus obsoletus Colaptes campestris Troglodytes musculus Penelope obscura Dryocopus lineatus Turdus rufiventris Syrigma sibilatrix Sittasomus griseicapillus Turdus amaurochalinus Rupornis magnirostris Xiphocolaptes albicollis Turdus subalaris Milvago chimachima Dendrocolaptes platyrostris Mimus saturninus Vanellus chilensis Xiphorhynchus fuscus Coereba flaveola Columbina talpacoti Furnarius rufus Thraupis sayaca Patagioenas picazuro Synallaxis cinerascens Zonotrichia capensis Zenaida auriculata Camptostoma obsoletum Ammodramus humeralis Leptotila verreauxi Myiodynastes maculatus Sicalis flaveola Leptotila rufaxilla Pitangus sulphuratus Sicalis luteola Aratinga leucophthalma Megarynchus pitangua Volatinia jacarina Piaya cayana Tyrannus melancholicus Sporophila caerulescens Crotophaga ani Tyrannus savana Saltator similis Guira guira Myiarchus swainsoni Basileuterus culicivorus Strix hylophila Vireo olivaceus Basileuterus leucoblepharus Athene cunicularia Cyanocorax chrysops Carduelis magellanica Trogon surrucura Tachycineta leucorrhoa Euphonia violacea Veniliornis spilogaster Progne chalybea Colaptes melanochloros Pygochelidon cyanoleuca Nota: a ordem de apresentação e nomenclatura das espécies segue o proposto pelo CBRO (2006). Anais da X Semana de Estudos Florestais e I Seminário de Atualização Florestal Tabela 2 – Espécies de mamíferos registradas no campus de Irati NOME CIENTÍFICO FAMÍLIA NOME POPULAR Lepus europaeus Leporidae lebre-européia Cavia sp. Caviidae preá Guerlinguetus ingrami Sciuridae serelepe, esquilo, caxinguelê Procyon cancrivorous Procionidae mão-pelada, guaxinim Cerdocyon thous Canidae cachorro-do-mato Essa proporção entre espécies de aves generalistas e especialistas florestais indica o que já era esperado para áreas rurais antropizadas com pequenos fragmentos florestais. A maioria das espécies é típica de campos, mas a quantidade de aves florestais é bastante significativa para fragmentos tão pequenos, especialmente se considerarmos espécies maiores e mais exigentes em termos de área de vida, como o inhambu-gruaçu (Crypturellus obsoletus) e o jacu-açu (Penelope obscura). A lebre-européia provavelmente utiliza as áreas abertas do campus, como os campos antrópicos das partes mais altas do relevo, onde foram encontradas fezes. Esta espécie é exótica ao nosso país, estando em plena expansão por todas as áreas onde predominam campos naturais e agroecossistemas. Sua dieta herbívora é prejudicial para pastagens e culturas como a do milho; e para ela não há predadores silvestres eficientes, já que é muito ágil. O preá ocupa naturalmente vários tipos de ambiente, como matas, campos e capoeiras. Os demais mamíferos são típicos de florestas, embora possam atravessar pequenas áreas abertas ou eventualmente forragear em agroecossistemas e campos naturais. Os trechos de mata junto a um rio favorecem a permanência da fauna e a passagem de indivíduos (fluxo gênico) que ocupam fragmentos maiores. Os fragmentos do campus, assim, estão caracterizados como corredores ecológicos, ligando biologicamente grandes manchas florestais através de algumas espécies de aves e mamíferos especialistas. As listas apresentadas devem ser revistas periodicamente, garantindo o monitoramento das comunidades faunísticas, cuja tendência pode ser o acréscimo ou o desaparecimento de espécies . Conclusões O bosque arbóreo localizado entre o Rio Riozinho e alguns prédios do campus é o que mais se aproxima da mata original da região e possui potencial para abrigar mais espécies e exemplares da fauna nativa, bastando que seja melhor protegido da caça, tanto por moradores como por cães domésticos. Recomenda-se fortemente o enriquecimento com espécies arbóreas nativas, a retirada de espécies exóticas agressivas e a recuperação de novas áreas ao longo do rio como forma de potencializar sua função de corredor florestal para a disseminação da fauna e flora nativas. Referências CBRO – Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (2006) Listas das aves do Brasil. Versão 10/12/2006. Disponível em http://www.cbro.org.br. Acesso em: 25/03/2006. FUNDAÇÃO DE PESQUISAS FLORESTAIS DO PARANÁ – FUPEF. Aspectos faunísticos da Floresta Nacional de Irati. Proj. Manejo de Florestas Nacionais. Curitiba: IBAMA/FUPEF, 1990. SICK, H. Ornitologia brasileira. Ed. Revista e ampliada por José Fernando Pacheco. 2. impressão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. SOUZA, D. Todas as aves do Brasil: guia de campo para identificação. Feira de Santana: Dall, 1998.