ECOLOGIA NO CERRADO PROJETOS DE PESQUISA PRODUZIDOS NO SÉTIMO CURSO "MÉTODOS DE CAMPO EM ECOLOGIA" REALIZADO NA RESERVA ECOLÓGICA DO IBGE NO PERÍODO DE 1 A 15 DE MARÇO DE 1996 EDITADO POR Raimundo P. B. Henriques, Guarino R. Colli, e John Du Vall Hay UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA BRASÍLIA, DF POLINIZADORESDelano M. S. da Silva; Everton A. dos Santos; Rosane G. Colevatti. CONTEÚDO APRESENTAÇÃO iv Raimundo P. B. Henriques LISTA DE PROFESSORES LISTA DE ALUNOS 14 v v PROJETOS EM GRUPO DISTRIBUIÇÃO DIFERENCIAL DE INSETOS GALHADORES E MINADORES ENTRE HABITATS Flávia S. Pinto; Guilherme H. B. de Miranda; Saulo M. A. Andrade. 2 VISITAÇÃO DE FORMIGAS EM NECTÁRIOS EXTRAFLORAIS DE Qualea multiflora (VOCHISIACEAE) E SEU POTENCIAL COMO AGENTE ANTI-HERBIVORIA Delano M. S. da Silva; Rosane G. Colevatti; Everton A. dos Santos. 4 OCORRÊNCIA DE FORMIGAS EM GALHAS DE Diospyros hispida D. C. NA RESERVA ECOLÓGICA DO IBGE, DF Carlos A. Bianchi; Felipe A. P. L. Costa; Terezinha A. B. Dias. 6 ESTRATÉGIAS DE FORRAGEAMENTO DE LAGARTOS Flávia S. Pinto; Saulo M. A. Andrade; Guilherme H. B. de Miranda 9 APOSEMATISMO: ADVERTÊNCIA OU ATRAÇÃO? Carlos A. Bianchi; Felipe A. P. L. Costa; Terezinha A. B. Dias. 17 INFLUÊNCIA DO FOGO ANUAL NA FLORÍSTICA E DENSIDADE DE ESPÉCIES LENHOSAS DE CERRADÃO Delano M. S. da Silva; Everton A. dos Santos; Rosane G. Colevatti. 19 EFEITO DO FOGO NA ARQUITETURA DE ESPÉCIES LENHOSAS DO CERRADO Flávia S. Pinto; Guilherme H. B. de Miranda; Saulo M. A. Andrade. 22 COMPARAÇÃO DE CARACTERÍSTICAS DE FOLHAS DE PLANTAS DE CERRADO E MATA DE GALERIA Carlos A. Bianchi; Felipe A. P. L Costa; Terezinha A. B. Dias. 25 COMPARAÇÃO DO POTENCIAL DE ÁGUA DE ESPÉCIES LENHOSAS DE DIFERENTES GRUPOS FUNCIONAIS Delano M. S. da Silva; Everton A. dos Santos; Rosane G. Colevatti 27 DIVERSIDADE DE ORTHOPTERA RELACIONADA À HETEROGENEIDADE ESPACIAL Carlos A. Bianchi; Felipe A. P. L. Costa; Terezinha A. B. Dias. 11 COMPARAÇÃO DE MEDIDAS DE TRANSPIRAÇÃO ENTRE PLANTAS HEMIPARASITAS E SUAS HOSPEDEIRAS Flávia S. Pinto; Saulo M. A. Andrade; Guilherme H. B. de Miranda. 29 ECOLOGIA FLORAL DE QUATRO ESPÉCIES DO CERRADO: FREQUÊNCIA DE VISITAS E RELAÇÃO ENTRE CARACTERÍSTICAS FOLIARES E ii HERBIVORIA EM ESPÉCIES LENHOSAS DE MATA E DE CERRADO Delano M. S. da Silva; Everton A. dos Santos; Rosane G. Colevatti. 31 DISTRIBUIÇÃO DE PLANTAS PARASITAS SOBRE PLANTAS HOSPEDEIRAS NA RESERVA ECOLÓGICA DO IBGE (BRASÍLIA, D.F) Carlos A. Bianchi; Felipe A. P. L. Costa; Terezinha A. B. Dias. 33 PROJETOS INDIVIDUAIS PREDAÇÃO DE NINHOS ARTIFICIAIS NO CERRADO: UMA COMPARAÇÃO ENTRE DUAS FISIONOMIAS. Carlos Abs Bianchi 44 DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE QUALEA GRANDIFLORA MART. (VOCHYSIACEAE) EM UM CERRADO DE BRASÍLIA, DF. Delano Moody Simões da Silva 49 ESTRUTURA POPULACIONAL DE Pseudobombax longifolium (BOMBACACEA). DISTRIBUIÇÃO ETÁRIA E TABELA DE VIDA Delano M. S. da Silva; Everton A. dos Santos; Rosane G. Colevatti. 35 ATIVIDADE FORRAGEIRA DE Atta sexdens (LINNAEUS, 1758) (HYMENOPTERA, FORMICIDAE): RELAÇÃO COM TEMPERATURA E UMIDADE RELATIVA DO AR Everton Amancio dos Santos 55 TAXA DE OCORRÊNCIA DE ESPÉCIES LENHOSAS COM NECTÁRIOS EXTRAFLORAIS EM CERRADO Flávia S. Pinto; Guilherme H. B. de Miranda; Saulo M. A. Andrade. 37 ESTRUTURA POPULACIONAL DE UMA BORBOLETA “ESTALADEIRA”, Hamadryas feronia (L.) (LEPIDOPTERA: NYMPHALIDAE) Felipe A. P. L. Costa 58 A COEXISTÊNCIA DE ESPÉCIES CONGENÉRICAS E SEU NICHO MORFOLÓGICO Flávia S. Pinto; Guilherme H. B. de Miranda; Saulo M. A. Andrade. 39 SIMILARIDADE FLORÍSTICA ENTRE COMUNIDADES DE ESPÉCIES HERBÁCEAS EM FITOFISIONOMIAS EQUIVALENTES Carlos A. Bianchi; Felipe A. P. L. Costa; Terezinha A. B. Dias. 41 CONSIDERAÇÕES SOBRE A DISPERSÃO SECUNDÁRIA DE SEMENTES DE SOLANUM LYCOCARPUM (SOLANACEAE) POR FORMIGAS. Flávia dos Santos Pinto 65 PADRÃO DE ATIVIDADE DO MICOESTRELA (CALLITHRIX PENICILLATA) NO CERRADO DENSO E CERRADÃO DA RESERVA ECOLÓGICA DO IBGE, BRASÍLIA, DF Guilherme H. B. de Miranda 71 ARQUITETURA E RIQUEZA DE HERBÍVOROS EM Ouratea hexasperma Baill. (OCHNACEAE), EM UM CERRADO DA RESERVA ECOLÓGICA DO IBGE, BRASÍLIA, DF iii Rosane G. Collevatti 75 EFEITOS DE DIFERENTES REGIMES DE QUEIMA SOBRE A VEGETAÇÃO LENHOSA DE CERRADO SENSU STRICTO: TAXAS DIFERENCIAIS DE REBROTAS Saulo Marques de Abreu Andrade 82 iv APRESENTAÇÃO Nesta publicação são reunidas as contribuições de alunos e professores do sétimo curso "Métodos de Campo em Ecologia", desenvolvido pelo curso de Pós-graduação em Ecologia do Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília, na Reserva Ecológica do IBGE (DF), de 1 a 15 de março de 1996. Os trabalhos apresentados aqui são fruto de projetos diários orientados por professores, além de projetos finais realizados pelos alunos individualmente. Estes trabalhos, tratam de padrões e processos nas comunidades de Cerrado do Brasil Central. Alguns trabalhos são baseados em dados observacionais, porém outros foram realizados através de experimentação. O apoio financeiro ao curso foi proporcionado por Laercio Leonel Leite, Coordenador do curso de Pós-Graduação em Ecologia da UnB. Queremos também agradecer a Maria Iracema Gonzales, Diretora da Reserva Ecológica do IBGE, por sediar o curso na Reserva e Helena C. Morais pela ajuda na revisão dos projetos finais. A todos os participantes do curso, alunos e professores nossos sinceros agradecimentos, pela boa vontade e colaboração. R. P. B. H. G. R. C. J. D. V. H. v LISTA DE PROFESSORES ORIENTADORES Adriana G Moreira, Dr. Reserva Ecológica do IBGE Brasília, DF Alexandre Fernandes Bamberg de Araújo, Dr Departamento de Zoologia Universidade de Brasília Brasília, DF Augusto César Franco, Ph.D. Departamento de Botânica Universidade de Brasília Brasília, DF Carlos Augusto Klink, Ph.D. Departamento de Ecologia Universidade de Brasília Brasília, DF Fábio Rúbio Scarano, Ph.D. Departamento de Ecologia Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro, RJ Mercedes Bustamante, Ph.D. Departamento de Ecologia Universidade de Brasília Brasília, DF Paulo S. Oliveira, Dr. Departamento de Zoologia Universidade de Campinas Campinas, SP Raimundo P. B. Henriques, Dr. Departamento de Ecologia Universidade de Brasília Brasília, DF Regina Macedo, Ph.D. Departamento de Zoologia Universidade de Brasília Brasília, DF Tarcisio S. Filgueiras, Dr. Reserva Ecológica do IBGE Brasília, DF LISTA DE ALUNOS Geraldo Wilson Fernandes, Ph.D. Departamento de Biologia Geral Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte, MG Guarino Rinaldi Colli, Ph.D. Departamento de Zoologia Universidade de Brasília Brasília, DF Heloisa Sinatora Miranda, Ph.D. Departamento de Ecologia Universidade de Brasília Brasília, DF Jader Soares Marinho, Dr Departamento de Zoologia Universidade de Brasília Brasília, DF Alunos do Curso de Mestrado Carlos Abs Bianchi Delano Moody Simões da Silva Everton Amancio dos Santos Flávia dos Santos Pinto Guilherme H. B. de Miranda Saulo Marques de Abreu Andrade Terezinha Aparecida B. Dias Alunos do Curso de Doutorado Rosane Garcia Colevatti Pereira Felipe A. P. L. Costa John DuVall Hay, Ph.D. Departamento de Ecologia Universidade de Brasília Brasília, DF Mauro C. L. de Brito Ribeiro, Dr. Reserva Ecológica do IBGE Brasília, DF vi PROJETOS DE UM DIA 1 DISTRIBUIÇÃO DIFERENCIAL DE INSETOS GALHADORES E MINADORES ENTRE HABITATS1 Flávia S. Pinto; Guilherme H. B. de Miranda; Saulo M. A. Andrade. INTRODUÇÃO Galhas são estruturas onde as larvas de insetos se desenvolvem. Nestas estruturas, seja na folha ou no caule, ocorre uma hiperplasia seguida de uma hipertrofia originando um tipo de câncer que é prejudicial ao crescimento e à reprodução da planta, uma vez que os nutrientes são drenados para a galha. Insetos minadores são indivíduos que similarmente aos galhadores depositam sua larva na folha e esta come o tecido paliçado da folha, formando assim "trilhas" ou "túneis" na lâmina foliar. As hipóteses que tentam explicar as adaptações ecológicas das galhas são (1) que estas seriam um dreno das substâncias das quais as larvas se alimentam, (2) que estas formariam um microambiente para a larva, protegendo-a de alterações abruptas do ambiente e, (3) também seriam uma proteção contra inimigos como parasitóides, predadores e patógenos. Sabe-se que há uma distribuição diferencial das galhas em ambientes xéricos (limitação hidronutricional) e mésicos, uma vez que o inseto galhador escolhe o melhor habitat para a exposição. Dessa forma, propôs-se verificar se a limitação hídrica e nutricional é importante na distribuição de galhas de insetos em habitats diferindo na qualidade hídrico-nutricional. MATERIAL E MÉTODOS Em uma área de cerrado da Reserva Ecológica do IBGE, tomado aqui como o ambiente xérico, foram feitas 3 coletas de 20 minutos, coletando-se todas as galhas e minadores encontrados (totalizando 9 coletas, considerando cada espécie de planta uma galha). O mesmo foi feito para a mata de galeria, tomada aqui como ambiente mésico. Todas as espécies de galhas e minas foram contadas e separadas por habitat. significativa para galhas (p=0,009), mas não foi para minas (p=0,352). Estes resultados indicam que insetos galhadores usam preferencialmente ambientes xéricos, provavelmente porque o parasitismo, predação e a ação de patógenos são bem menores do que no mésico. E que apesar da limitação hídrica e nutricional ser bem acentuada no cerrado, o "dreno"que se forma na galha, supre a larva plenamente (G. W. Fernandes, com. pess.) Sugere-se também que a concentração de tanino, maior em espécies de ambiente xéricos, possibilite uma maior sobrevivência, uma vez que os patógenos são suscetíveis ao tanino, bem como a ambientes secos, já que a ação de patógenos, como fungos, é potencializada em ambientes úmidos. Um dado importante a ser levantado é que, mesmo com um maior número de espécies por metro quadrado , a mata possui menos galhadores, sugerindo que a ação de insetos galhadores independe da riqueza da flora, ou então que a pressão seletiva sobre grande parte das galhas presentes na mata fez com que apenas uma pequena parte resistisse à ação de parasitas, predadores e patógenos e, que insetos que no passado colocaram suas larvas em espécies de mata, hoje usam espécies do cerrado. Pode-se interpretar esta distribuição diferencial como resultante da maior sobrevivência e menor mortalidade das galhas em ambientes xéricos do em em mésicos. Por outro lado, a diferença não significativa encontrada para o número de minadores entre cerrado e mata pode ser interpretada supondose que as larvas dos minadores não ficam estabelecidas em galhas mas, sim, percorrem a falha para alimentar-se. Esperaria-se então que estas buscassem um padrão mais estável, com menos ou nenhuma limitação seja hídrica, térmica ou nutricional. Dessa forma, esperaria-se encontrar um maior número de minas na mata do que no cerrado, porém este padrão não foi observado, o que seria de se supor que talvez a pressão seletiva por parasitismo, predação ou ação de patógenos, bem como por estresse hídrico, não seja importante na taxa de sobrevivência e mortalidade e consequentemente não há uma distribuição diferencial. RESULTADOS E DISCUSÃO A Tabela 1 mostra que o número de galhas foi maior no cerrado do que na mata. Enquanto que não foi observada diferença nos minadores (Tab. 1, Figura1). Utilizou-se o teste do Wilcoxon para comparar a mata e o cerrado: a diferença foi 1Prof. Orientador: Geraldo W. Fernandes 2 NÚMERO MÉDIO DE ESPÉCIES 20 CERRADO MATA DE GALERIA 15 10 5 0 GALHAS MINAS Figura 1. Número médio de espécies de galhas e minas em plantas do cerrado e mata de galeria. Tabela 1. Número de espécies de galhadores e minadores em cerrado e mata de galeria da Reserva Ecológica do IBGE. cerrado mata de galeria amostra galhadores minadores galhadores minadores 1 9 6 1 5 2 12 8 4 8 3 13 4 4 8 4 13 4 2 4 5 9 1 4 6 6 10 3 5 9 7 15 20 5 9 8 15 9 7 15 9 14 11 5 15 total 110 66 37 79 12,22 7,33 4,11 8,78 x se 0,80 1,90 0,58 1,31 Tabela 2. Comparação das floras de mata de galeria e do cerrado (sensu lato) da Reserva Ecológica do IBGE (R. P. B. Henriques, dados não publicados). tipo de área (ha) família gênero espécie espécie / km2 espécie / vegetação gênero cerrado 981 83 318 742 75,6 2,3 mata de 104 110 290 529 508,6 1,8 galeria 3 VISITAÇÃO DE FORMIGAS EM NECTÁRIOS EXTRAFLORAIS DE Qualea multiflora (VOCHISIACEAE) E SEU POTENCIAL COMO AGENTE ANTI-HERBIVORIA2. Delano M. S. da Silva; Rosane G. Colevatti; Everton A. dos Santos. INTRODUÇÃO Interações entre formigas e plantas com nectários extraflorais (NEF) são bem descritas na literatura. Plantas com NEF são visitadas por formigas com dietas bem amplas, as quais passeiam pela planta (patrulham) atrás do néctar produzido pelos nectários. Em "troca" desse néctar as formigas protegeriam estas plantas contra insetos herbívoros. Nectários extraflorais têm uma grande ocorrência em espécies lenhosas do cerrado, cerca de 25%, ocorrendo numa grande variedade de táxons. Para algumas destas espécies já foi demonstrado que a presença de formigas na planta diminui a taxa de herbivoria nas folhas e ou flores, podendo inclusive aumentar o sucesso reprodutivo da planta. Este trabalho tem como objetivos verificar se: (1) plantas com NEF são mais visitadas por formigas do que plantas sem NEF; (2) o padrão de forrageamento das formigas sobre as plantas está relacionado à localização dos NEF na folhagem da planta; (3) formigas exibem comportamento agressivo em relação a herbívoros potenciais presentes nas plantas. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado numa área de cerrado denso próximo à sede da reserva. A planta com NEF utilizada foi Qualea multiflora (Vochysiaceae), uma planta com porte arbustivo arbóreo muito comum no cerrado do DF. Suas folhas são opostas e seus nectários localizam-se na inserção do pecíolo com o ramo. Foram utilizados 22 indivíduos de Q. multiflora e 22 indivíduos de outras espécies próximas que não possuíam NEF como controle. Em cada planta foram contados o número de formigas presentes na planta. Após esta contagem utilizamos cupins para simular um herbívoro em potencial e testamos a eficiência das formigas como protetores. Estes cupins eram colados na face adaxial de duas folhas com cola branca. Para verificar se a eficiência das formigas como protetoras era igual para toda a planta, pois os nectários só estão ativos em folhas jovens, utilizamos um par de folhas jovens e um par de folhas velhas, tanto em Q. multiflora quanto no vizinho sem NEF. Após colocarmos os cupins, acompanhamos o comportamento das formigas em relação aos cupins durante 10 minutos. Todo evento que ocorreu nesse intervalo era anotado e ao final dos 10 minutos as formigas eram coletadas para posterior identificação. RESULTADOS E DISCUSSÃO A tabela 1 apresenta as espécies de formigas encontradas tanto em Qualea multiflora quanto na planta vizinha. Dentro destas espécies, Camponotus rufipes, Camponotus crassus e Zacryptocerus pusillus foram as mais abundantes. Com relação ao número de formigas encontradas patrulhando as plantas observadas, encontramos que Q. multifora possui um número significativamente maior de formigas do que as plantas vizinhas sem NEF (Tab. 2). Além de visitarem mais as plantas com NEF as formigas atacam mais cupins (iscas) nas plantas com NEF do que nas plantas sem NEF ( χ 2 =9.95; p=0,0016). Ambos resultados conferem com os resultados encontrados na literatura mostrando a eficiência das formigas como agentes antiherbívoros. Podemos concluir que as formigas visitam mais Qualea multiflora do que plantas sem NEF e que além disso defendem melhor as plantas com NEF (Objetivos 1 e 3), porém quando comparamos se este ataque é maior em folhas novas (NEF ativos) que em folhas velhas, verificamos que não existe diferença significativa ( χ 2 =0,11; p=0,7385). Poderíamos pensar que apesar de não existir diferença do ataque poderia existir uma diferença do tempo para ocorrer o ataque, mas este também não mostra uma diferença significativa (Komogorov-Smirnov; Dmax=0,17; p=1,0; Fig. 2). Desse modo, mais uma vez foi comprovado que formigas que visitam NEF's atuam como agentes anti-herbívoros para estas plantas. 2 Prof. Orientador: Paulo Oliveira 4 FREQUÊNCIA (%) 5 Folha nova 4 Folha velha 3 2 1 0 1 2 3 4 5 6 7 TEMPO (MINUTOS) FIGURA 1. Tempo de ataque ao cupins pelas formigas em folhas novas e velhas de Qualea multiflora. Tabela 1. Espécies encontradas em Qualea multiflora e nas espécies vizinhas. Espécie Camponotus blandus Camponotus crassus Camponotus rufipes Camponotus sp Crematogaster sp Pachycondyla villosa Pseudomyrmex aff. flavidulus Pseudomyrmex aff. gracillis Pheidole sp Zacryptocerus pusillus Tabela 2. Número médio de formigas encontradas em cada espécie de planta. ESPÉCIE sd U x Qualea multiflora 6,64 4,60 25,2153 Vizinho mais 1,18 1,14 próximo p <0,001 5 OCORRÊNCIA DE FORMIGAS EM GALHAS DE Diospyros hispida D. C. NA RESERVA ECOLÓGICA DO IBGE, DF3 Carlos A. Bianchi; Felipe A. P. L. Costa; Terezinha A. B. Dias. INTRODUÇÃO Galhas ocorrem em espécies de plantas, provocadas pela deposição de larvas de insetos (chamados galhadores), promovendo uma hiperplasia e/ou hipertrofia no local da deposição (geralmente folhas e caule). As galhas entre outras funções, podem servir de abrigo e fornecer nutrientes para o desenvolvimento da larva. Entretanto é possível registrar a utilização das galhas por outros invertebrados, os quais podem predar ou não a larva do galhador, ocupando o espaço disponível no interior da mesma. Neste caso, a galha também funcionaria como um abrigo. Dentre aqueles ocupantes de galhas, podem ser citadas inúmeras espécies de formigas. Este trabalho analisa a ocorrência de formigas em galhas de Diospyros hispida DC. As questões a serem respondidas por este estudo são: (1) quais são as espécies de formigas ocupantes de galhas de D. hispida ; (2) as galhas ocupadas são maiores do que as galhas não ocupadas?; (3) o número de formigas aumenta com o tamanho da galha?; (4) o número de formigas varia com o tamanho da galha ocupada? MATERIAL E MÉTODOS Foram coletadas 71 galhas em 18 indivíduos de D. hispida(entre 3 a 7 galhas por indivíduo) numa área de cerrado próxima à sede da Reserva Ecológica do IBGE, Distrito Federal. Cada galha coletada foi acondicionada em sacos de papel individuais e, posteriormente, triada no laboratório. Foi efetuada a contagem dos orifícios presentes nas galhas, estimado seu volume total, através da imersão em água em proveta graduada (100 ml e 500 ml) e caracterizada sua arquitetura interna (número de cavidades). Após a abertura da galha, o número e a espécie de formigas presentes foram registrados, além da presença ou ausência da larva do galhador. RESULTADOS E DISCUSSÃO Dentre as 71 galhas coletadas, 31 delas estavam ocupadas por formigas, 34 não estavam ocupadas por formigas e 6 foram classificadas como "podres" (quando estavam vazias e bastante quebradiças) (Fig. 1). Dos 18 indivíduos de Diospyros hispida, dos quais foram coletadas galhas, 14 apresentaram galhas ocupadas por formigas (totalizando 15 galhas) de duas ou mais espécies. Segundo os resultados apresentados na figura 1, 31 galhas apresentaram formigas e, destas, 15 apresentaram 2 ou mais espécies de formigas. Foram encontradas 7 espécies de formigas em 5 gêneros, como ocupantes das galhas de Diospyros hispida. Um estudo similar realizado em área de cerrado próximo à Belo Horizonte, Minas Gerais, revelou a ocorrência de 7 espécies (6 gêneros) (Tab. 3). Não houve diferença significativa (t=1,01; p>0.05; N=65) entre o volume das galhas ocupadas por formigas (Tab. 1). A figura 2 mostra que existe correlação entre o número de formigas presentes nas galhas e o volume de cada galha, apresentando gêneros como Zacryptocerus sp que ocupou galhas de diferentes tamanhos com diferentes números de indivíduos. Quando são comparadas as espécies mais abundantes, Zacryptocerus sp e Camponotus sp , quanto ao volume das galhas que ocupavam, também não se verifica diferença significativa (t=0,14; p>0.005; N=24) (Tab. 2). Formigas de espécies diferentes ocupavam a mesma galha (com entradas para cavidades independentes) em um dos indivíduos de D. hispida. Outro fato foi a presença de formigas do gênero Zacryptocerus sp ocupando uma cavidade independente em certa galha e em outra cavidade, a presença de uma larva (possivelmente do galhador) na mesma galha. O estudo de ocorrência de formigas em galhas de D. hispida revelou a existência de 7 espécies de formiga como ocupantes das galhas. Estes resultados sugerem que as galhas são ambientes importantes para o estabelecimento de colônias de formigas. Paralelamente, as demais plantas de D. hispida que apresentaram suas galhas ocupadas por apenas uma espécie, sugerem a possível existência de colônias destas espécies, espalhadas por 3 a 5 galhas da mesma planta. Não houve diferença significativa entre o volume das galhas ocupadas quando foram usadas todas as formigas ou foram usadas as duas espécies mais abundantes (Zacryptocerus sp e Camponotus sp). Pode-se concluir que não ocorre preferência por tamanho de galhas, as formigas ocupam todas independente do tamanho. Outra explicação para os resultados encontrados é que o número de formigas poderá diferir com o tamanho da galha, dependendo do volume ocupado pelas formigas (seria necessário calcular o volume dos indivíduos que formam a colônia). 3 Prof. Orientador: Geraldo W. Fernandes 6 Número total de galhas Número de galhas ocupadas Número de galhas não ocupadas Número de galhas podres NÚMERO DE GALHAS 80 70 60 50 40 30 20 10 0 A B C D FIGURA 1. Número de galhas coletadas e distribuição nas quatro categorias de galhas. 140 NÚMERO DE FORMIGAS 120 100 80 60 40 20 0 0 10 20 30 40 TAMANHO DA GALHA (ML) FIGURA 2. Relação entre o tamanho das galhas e o número de formigas (r=0,39; P < 0,05; N=23). 7 Tabela 1. Média e desvio padrão para o volume de galhas ocupadas e não ocupadas. valor ocupadas 9,9 x s 7,6 t=1,01; p>0.05; N=65 não-ocupadas 11,7 7,6 Tabela 2. Comparação entre o volume das galhas ocupadas pelas espécies Camponotus sp e Zacryptocerus sp Camponotus sp Zacryptocerus sp N 7,0 17 13,4 10,4 x d.p 11,9 6,4 t=0,14; p>0,05; N=65 Tabela 3. Lista de gêneros e espécies na área do cerrado da reserva ecológica do IBGE e de um cerrado de Belo Horizonte. Brasília (IBGE) Belo Horizonte Camponotus pallescens Camponotus sp1 Crematogaster sp. Camponotus sp2 Pseudomyrmex aff. gracilis Crematogaster brevispinosa Solenopsis sp1 P. gracilis Solenopsis sp2 Solenopsis sp1 Zacryptocerus pusillus Lepthotorax sp Zacryptocerus sp1 Zacryptocerus pusillus 8 ESTRATÉGIAS DE FORRAGEAMENTO DE LAGARTOS4 Flávia S. Pinto; Saulo M. A. Andrade; Guilherme H. B. de Miranda INTRODUÇÃO Duas estratégias de forrageamento são conhecidas para lagartos não-herbívoros. As duas baseiam-se nas relações de custo e benefício que visam minimizar gastos energéticos, no caso, com a procura de itens alimentares. Os "senta-e-espera" são caracterizados por apresentarem sítios definidos de forrageamento, empreendendo pequenos deslocamentos para a obtenção de presas. São, por isso, geralmente territoriais e utilizam principalmente o estímulo visual na procura de presas. Os forrageadores ativos, ou "procuradores", são caracterizados por não apresentarem sítios definidos de forrageamento, saindo em busca das presas, utilizando principalmente o estímulo olfativo nesta procura. Estas duas estratégias, devido à demanda energética que está envolvida, determinariam o tipo e a quantidade das presas ingeridas. Teoricamente lagartos do tipo "senta-e-espera" apresentariam menor diversidade de itens na sua dieta, com preferência por alguns desses itens. Isto é esperado pois estes lagartos apresentam baixo gasto energético com a procura dos itens, podendo energeticamente esperar presas de maior retorno energético. Os procuradores, por sua vez, sujeitos a um déficit energético imposto pela procura ativa do alimento, apresentariam na composição da sua dieta maior diversidade de itens alimentares de diferentes retornos energéticos. O objetivo principal deste trabalho é verificar a existência desses padrões para duas espécies de lagartos do cerrado, uma considerada "senta-e-espera" e um modelo aleatório por nós produzido, através de medidas de frequência de deslocamento e do estímulo utilizado na procura das presas. MATERIAL E MÉTODOS Os dados foram obtidos através de censos realizados de minuto a minuto a partir da visualização direta dos lagartos. Foram registrados dois tipos de comportamento com relação à atividade desenvolvida no momento da observação (parado ou andando) e caracterizado o tipo de estímulo utilizado na procura de presas, através de visualização contínua, quantificados a partir do número de investidas em presas, considerando estímulos visuais ou olfativos. Os dados foram coletados na região da Cachoeira de Queimados no Município de Unaí (MG). A região é caracterizada pela existência de matas de galeria associadas à afloramentos de rocha às margens do rio. Escolhemos para este estudo a espécie Tropidurus oreadicus (Tropiduridae) bastante frequente na área, sabidamente ”senta-e-espera”. Para traçarmos comparações entre os dois modelos propostos criamos um modelo aleatório, que atribui uma mesma probabilidade de, para cada observação, um lagarto imaginário estar parado (50%) ou andando (50%), com relação ao padrão de atividade, e de utilizar um estímulo visual (50%) ou olfativo (50%), com relação ao estímulo utilizado. Os dados observados e os dados do modelo foram confrontados através do teste t pareado. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados brutos do censo realizado para atividade e estímulo de T. oreadicus são mostrados na tabela 1. Os mesmos dados obtidos para o modelo aleatório criado estão representados na tabela 2. Foram observados ao todo 20 indivíduos de T. oreadicus. Ao todo foram 260 observações para padrão de atividade e 64 observações para estímulo utilizado. O modelo não apresentou nenhum padrão comportamental segundo a teoria de forrageamento proposta. Em aproximadamente metade das observações os indivíduos estavam parados (45,8%) ou andando (54,2%) e utilizaram para a visualização das presas tanto o estímulo visual (54,2%) quanto o olfativo (48,4%). Encontramos diferença significativa no padrão de atividade quando comparamos o número de observações de indivíduos encontrados parados (t=-5,48 p=0,0001), o que corrobora o fato dos lagartos considerados "senta-e-espera" apresentarem baixa frequência de deslocamento. Devido à grande abundância de T. oreadicus na área vários comportamentos agonísticos foram observados entre os indivíduos que habitavam locais próximos mostrando a existência de territorialidade para a população amostrada, corroborando o modelo proposto para "senta-e-espera". A fim de identificar realmente a existência destes padrões, estudos considerando várias espécies diferentes e de diferentes grupos taxonômicos devem ser realizados, a fim de descartar possíveis relações filogenéticas existentes e abrangendo maior variação de padrões comportamentais. Além disso outras características devem ser consideradas como o número e a quantidade de itens alimentares ingeridos. 4 Prof. Orientador: Guarino R. Colli 9 Tabela 1. Padrão de atividade e estímulo utilizado por Tropidurus oreadicus. Os valores indicam o número de observações. atividade estímulo indivíduo parado andando visual olfativo 01 10 0 2 0 02 12 2 6 0 03 10 0 1 0 04 1 2 2 0 05 3 0 0 0 06 1 0 1 0 07 2 0 1 0 08 10 0 0 0 09 7 4 15 0 10 1 1 1 0 11 6 4 17 0 12 11 0 2 0 13 6 0 5 0 14 13 0 1 0 15 31 16 3 0 16 25 0 0 0 17 19 2 18 17 6 19 25 4 2 0 20 5 4 5 0 total 215 45 64 0 Tabela 2. Padrão de atividade e estímulo utilizado pelo modelo aleatório. atividade indivíduo parado andando 01 5 5 02 6 8 03 5 5 04 1 2 05 3 0 06 0 1 07 2 0 08 2 8 09 5 6 10 0 2 11 7 3 12 6 5 13 1 5 14 6 7 15 24 23 16 17 8 17 7 14 18 7 16 19 9 20 20 6 3 total 119 141 estímulo visual 2 2 0 1 0 0 0 0 8 0 10 11 4 0 1 0 1 1 31 olfativo 0 4 1 1 0 1 1 0 7 1 7 1 1 1 2 0 1 1 33 10 DIVERSIDADE DE ORTHOPTERA RELACIONADA À HETEROGENEIDADE ESPACIAL5 Carlos A. Bianchi; Felipe A. P. L. Costa; Terezinha A. B. Dias. INTRODUÇÃO A heterogeneidade espacial é importante na determinação da diversidade de espécies. Variações de tipo de solo acarretam mudanças na vegetação e, consequentemente, o mesmo efeito na fauna. Logo, ambientes mais heterogêneos tendem a suportar um maior número de espécies em relação à ambientes mais homogêneos, isto é, um aumento na heterogeneidade espacial pode representar um aumento na diversidade de espécies de flora e fauna. A diversidade de espécies pode ser caracterizada de 3 formas: a diversidade α (alfa) ou diversidade pontual, que se refere à diversidade de um ponto amostrado; a diversidade β (beta), que avalia o quanto a composição de espécies mudou de um ponto amostrado para outro e por fim a diversidade gama, que representa a diversidade regional. O cálculo de diversidade beta é feito através do Índice Whittaker (1960), dado pela fórmula: Bw = (c / α ) − 1 onde: c=riqueza total de espécies das duas áreas e α = soma do número de espécies das duas áreas dividida por 2. Este projeto teve por objetivos verificar a composição de espécies de Orthoptera em uma área de campo sujo, avaliando e investigando relações com a existência de um gradiente na vegetação. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi realizado em uma área de campo sujo na Reserva Ecológica do IBGE, Brasília, DF; onde foram amostrados 6 pontos. Para cada ponto efetuamos um levantamento da vegetação, classificando as espécies ocorrentes em 3 categorias: arbórea, arbustiva e herbácea; indicando o número de espécies, o número de indivíduos para cada categoria, além da altura do estrato. Os cinco primeiros pontos estavam distantes 50 m um do outro, a distância do ponto 5 ao ponto 6 era de 200 m. Posteriormente 75 varreduras foram efetuados num raio de 30 m do ponto amostrado, coletando apenas os insetos Acridoidea (gafanhotos). Em seguida, foram cronometrados 15 minutos para uma nova coleta de gafanhotos, a qual era efetuada com a localização visual de um exemplar e consequentemente captura com rede de varredura. Os espécimes coletados foram separados em morfoespécies. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram identificadas 52 morfoespécies, num total de 213 indivíduos coletados. A tabela 1 mostra o número de morfoespécies e respectivo número de indivíduos coletados para cada ponto. A figura 1 apresenta uma relação entre o número de espécies e a distância percorrida. A curva apresentada na figura 1 mostra uma tendência à estabilização entre 50 e 60 morfoespécies, indicando que o número máximo de espécies para a área pode estar próximo destes valores. A diversidade beta entre os pontos amostrados é mostrada na tabela 2. Os valores encontrados situam-se entre 0,44 (pontos 5,6) até 1,0 (pontos 1,4 e 1,6). Não foi verificado um padrão de mudanças na diversidade entre as áreas amostradas. Áreas próximas (dist=50 m) apresentaram tanto valores altos de dissimilaridade (Bw1,2 =0,83) como valores baixos (Bw2,3=0,45). Do mesmo modo, áreas distantes apresentaram valores altos (Bw1,6=1,0) (dist=400 m) e valores baixos (Bw5,6=0,44; dist=200 m). Os dados de vegetação da tabela 3 podem ser agrupados em pares conforme riqueza e densidade em cada ponto. Desta forma, podemos afirmar que os pontos 1 e 3 são semelhantes em riqueza de espécies e densidade de indivíduos, porém, quanto aos Orthoptera, encontramos alto valor de dissimilaridade (Bw1,3=0,83; tabela 2). Os pares de pontos 2 e 4, e 2 e 5 foram agrupados de acordo com riqueza e densidade, respectivamente. Ambos apresentaram valores médios de dissimilaridade, situados em torno de 0,615 ((Bw2,4 + Bw2,5)/2). Quanto aos pares 4 e 6, e 5 e 6, podemos encontrar o mesmo padrão, com valor médio de dissimilaridade em torno de 0,55 ((Bw4,6 + Bw5,6)/2). A figura 2 apresenta os índices de dissimilaridade ao longo dos pontos amostrados, com valor alto de P1 a P2 (Bw1,3=0,83) e valores médios de P2 até P6 (v. figura 2). Apesar do número baixo de amostras de vegetação, o padrão encontrado foi equivalente em todos os pontos, revelando uma variação bastante sutil entre pontos. Quanto à composição de espécies de gafanhotos de cada ponto, é possível afirmar que tais variações estavam, de certa forma, relacionadas às diferenças na vegetação, entretanto, deve-se ressaltar novamente o número amostral utilizado. 5 Prof. Orientador: Alexandre F. B. de Araújo 11 Tabela 1. Número de espécies e indivíduos coletados na área de estudo. ponto nº espécies P1 08 P2 16 P3 21 P4 10 P5 27 P6 20 nº indivíduos 13 32 38 29 46 46 Tabela 2. Valores de diversidade usando o índice de Whittaker (1960) (Bw) na diagonal inferior e número de espécies comuns na diagonal superior pontos amostrados P1 P2 P3 P4 P5 P6 P1 2 2 0 1 0 P2 0,83 10 5 8 9 P3 0,86 0,45 5 10 9 P4 1,00 0,61 0,67 8 5 P5 0,94 0,62 0,58 0,56 13 P6 1,00 0,50 0,56 0,66 0,44 Tabela 3. Valores de densidade e riqueza de espécies para a vegetação nos pontos amostrados. ponto densidade (ind./m2) riqueza (nspp) agrup.dens.riq. P1 2,0 14 (1,3) P2 3,3 24 (1,3) P3 2,0 15 (2,5) P4 2,8 23 (2,4) P5 3,3 19 (4,6) P6 2,8 20 (5,6) 12 60 50 40 30 20 10 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 DISTÂNCIA (m) FIGURA 1. Relação entre o número de espécies e a distância. P1 P2 P3 P4 P5 P6 /____0,83____/____0,45___/____0,67____/____0,56____/____0,44___/ 50m 50m 50m 50m 50m FIGURA 2. Índice de dissimilaridade de Whittaker (Bw) ao longo da área de estudo. 13 ECOLOGIA FLORAL DE QUATRO ESPÉCIES DO CERRADO: FREQUÊNCIA DE VISITAS E POLINIZADORES6 Delano M. S. da Silva; Everton A. dos Santos; Rosane G. Colevatti. INTRODUÇÃO A polinização cruzada entre diferentes espécies de plantas, mesmo que não resulte em fertilização ou formação de híbridos, pode diminuir o valor adaptativo ("fitness") da planta. Isso pode ocorrer tanto no componente masculino, por perda de pólen, quanto no feminino, por ocupação do espaço estigmático com pólen de outras espécies, impedindo a germinação de pólen co-específico. As comunidades vegetais podem apresentar diversos mecanismos que impedem a polinização cruzada, como: (1) florescimento em épocas diferentes do ano; (2) ântese (cobertura da flor) em diferentes horários do dia; (3) utilização de diferentes tipos de polinizadores (abelhas, beija-flores, morcegos, etc); (4) partilha de polinizadores pelas espécies vegetais. As diferenças na morfologia floral, proporcionam uma deposição diferencial do pólen de cada planta no corpo do polinizador, que corresponde à posição de recepção pelo estigma. Assim, um mesmo polinizador que visita várias espécies de plantas de uma comunidade pode apresentar pólen de cada espécie de planta em diferentes partes do corpo. Além disso, espera-se que espécies com maior oferta de "recompensa" pelo "serviço" do polinizador (maior número de flores por planta, maior quantidade de néctar, pólen, óleo) apresentem uma maior frequência de visitas. Foram encontradas, em uma área de cerrado quatro espécies de plantas florindo em uma mesma época do ano (março), e com flores abertas durante o mesmo período do dia. Dessa forma, foi levantada a questão que foi o objetivo geral desse trabalho: há partição do recurso polinizador por estas quatro espécies de plantas co-ocorrentes? Especificamente, este trabalho tem como objetivo responder às seguintes questões para cada espécie vegetal: (1) quais os visitantes florais?; (2) quais os recursos oferecidos pela planta e utilizado pelos visitantes?; (3) qual a frequência das visitas?; (4) quais são os principais polinizadores de cada espécie?; (5) esses polinizadores são comuns às quatro espécies? Caso sejam, há partilha do recurso polinizador? MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho foi realizado na Reserva Ecológica do IBGE, numa área de cerrado onde co6 Prof. Orientador: Jader S. Marinho Filho ocorriam quatro espécies com hábito arbustivoherbáceo: Solanum lycocarpum (Solanaceae), Hyptis sp (Labiatae), Diplusodon oblongus (Lythraceae) e Banisteriopsis campestris (Malpighiaceae). Para observação dos visitantes foi utilizado o método "focal contínuo" de observação, no qual cada espécie foi observada no período entre 8:10 e 11:30 h por um observador. Foram registradas as seguintes observações: (1) espécie visitante; (2) horário da visita; (3) recurso utilizado; (4) comportamento de coleta do recurso. As frequências foram analisadas pela análise de variância nãoparamétrica (Kruskal-Wallis) e teste para diferença entre medianas. Não foi possível analisar as distribuições de frequências de visitas por espécie de abelha e frequência total devido ao número de observações. RESULTADOS E DISCUSSÃO A tabela 1 apresenta os visitantes encontrados nas quatro espécies estudadas e os principais polinizadores. Os recursos encontrados em cada flor e sua morfologia estão descritos abaixo: - Solanum lycocarpum (Solanaceae): possui anteras poricidas. Embora as flores sejam morfologicamente hermafroditas, há evidências de que há indivíduos funcionalmente femininos, masculinos e hermafroditas. As flores não possuem néctar, sendo o pólen o único recurso obtido pelas abelhas pela vibração das anteras ("buzz pollination"). A flor é actinomorfa e roxa. - Hyptis sp (Labiatae): apresenta flor zigomorfa, com as anteras dentro da corola. Essas são projetadas para fora quando a abelha "força" a flor, pousando na "plataforma" que possui guias de néctar púrpura, contrastando com a flor branca. Aparentemente há dicogamia (protandria), pois a projeção do estigma para a parte externa da flor só foi encontrada em flores cujas anteras estavam murchas. - Diplusodum oblongus (Lythraceae): a flor é púrpura e actinomorfa. O estigma é projetado acima da linha das anteras e, aparentemente, deve encostar na cabeça dos visitantes de tamanho corporal maior quando estão coletando néctar. - Banisteriopsis campestris (Malpighiaceae): A flor é branca, actinomorfa e possui 5 glândulas de óleo nas sépalas, que é o recurso principal coletado nessa flor, além do pólen. O gineceu é dialicarpelar (tricarpelar). A figura 1 mostra a frequência de visitas por intervalos de tempo de 30 min., para cada espécie de planta, somando todos os visitantes florais. Essas frequências foram diferentes, pela análise de variância de Kruskall-Wallis (Kw=14,5966; p= 0,0022). O teste para medianas mostra que há diferenças no pico de visitação entre S. lycocarpum e 14 Hyptis sp ( χ 2 =7,14; mediana=5,6; p=0,0075), S. lycocarpum e B. campestris ( χ 2 =7,14; mediana=5,5; p=0,0075); Hyptis sp e D. oblongus ( χ 2 =5,33; mediana=60; p=0,0209), D. oblongus e B. campestris ( χ 2 =7,14; mediana=7,5; p=0,0075), mas não entre S. lycocarpum e D. oblongus ( χ 2 espécies. Entretanto, um estudo mais detalhado, com coleta de pólen das plantas e exame do pólen no corpo da abelha, será necessário para conclusões mais precisas. Além disso, foram agrupados indivíduos machos e fêmeas dessa espécie de abelha. É possível que machos e fêmeas estivessem coletando recursos diferentes, como é comum para abelhas de outros grupos como Euglossini, Anthophorini, etc. =2,40; mediana=2,0; p=0,1217) e Hyptis sp e B. campestris ( χ 2 =2,57; mediana=11; p=1,1088). O principal polinizador potencial de S. lycocarpum foi Epicharis sp Em Hyptis sp foi o Lepidoptera Lycaenidae sp1., Epicharis sp e Myschocytharus sp (Vespidae). Para D. oblongus foram as espécies de abelha Trygona spineps, Epicharis sp e Megachilidae sp. Para B. campestris, Epicharis sp Anthophoridae sp1 e um grupo de abelhas Trygona spineps, Paratetrapedia sp1 e sp2, as quais foram reunidas na contagem de visitas, uma vez que era impossível distinguí-las no campo. A figura 2 mostra a distribuição de frequência de visitas dos principais polinizadores, para cada planta. Como Epicharis sp foi a espécie comum entre as quatro espécies de plantas, foi analisada a diferença entre a frequência de visitas para S. lycocarpum e B. campestris, uma vez que nas outras duas espécies a frequência de visitas foi muito baixa. A análise de Mann-Whitney mostrou que não há diferença entre elas (U=1,4610; p=0,2268). Apesar de não ter sido possível realizar uma análise para diferença nas distribuições de frequência de visita de Epicharis sp nessas duas plantas, o gráfico sugere (Fig. 2) que quando há um aumento de frequência de visitas em uma das espécies há uma diminuição na outra. Além disso a frequência total de visitas e a frequência de visita de Epicharis sp em B. campestris foi bem maior que as outras espécies. Isso ocorreu, provavelmente, porque B. campestris apresentava um grande número de flores por ramo e uma alta densidade de flores no que foi considerado a "mancha" da planta. Dessa forma, Epicharis sp além das outras abelhas, visitam várias flores dessa planta. Esse padrão de maior frequência de visitas a plantas com maior densidade de flores é bastante comum. Além disso Epicharis sp é uma espécie coletora de óleo, o que pode explicar sua maior frequência em B. campestris. Quanto à partição do recurso polinizador, considerando principalmente Epicharis sp, não foram encontradas evidências de deposição diferencial de pólen das várias espécies. Aparentemente Epicharis sp coletou principalmente óleo em B. campestris, pólen em S. lycocarpum e néctar nas outras duas 25 Solanum lycocarpum Diplusodon obolgus Hyptis sp. 20 Banisteriopsis campestris 15 10 5 0 1 2 3 4 5 6 7 INTERVALO DE TEMPO FIGURA 1. Frequência de visitas nas flores por intervalo de tempo para cada espécie de planta estudada. Intervalos 1: 8:10-8:39, 2: 8:40-9:09, 3: 9:10-9:39, 4: 9:40-10:09, 5:10:10-1039, 6: 10:4011:09, 7: 11:10-11:39. 15 12 10 8 6 4 A Epicharis 2 0 1 2 3 4 5 12 10 8 6 4 2 0 12 10 8 6 4 2 6 7 C Trigona spineps Epicharis sp. Megachilidaesp1 Myschocytharus sp Lycaenidae Epicharis sp B 0 12 10 8 Myschocytharus sp D Lycaenidae Epicharis sp. 6 4 2 0 FIGURA 2. Frequência de visitas por intervalos de tempo para os principais polinizadores de cada espécie de planta. A. Solanum lycocarpum; B. Hyptis sp; C. Diplusodon oblongus; D. Banisteriopsis campestris. 16 APOSEMATISMO: ADVERTÊNCIA OU ATRAÇÃO?7 Carlos A. Bianchi; Felipe A. P. L. Costa; Terezinha A. B. Dias. INTRODUÇÃO Camuflagem e aposematismo são consequências evolutivas da predação por organismos que se orientam visualmente. Enquanto a camuflagem diminui as chances de que uma presa potencial seja encontrada, o aposematismo diminui as chances de que um animal impalatável seja injuriado por predadores generalistas. Para testar a hipótese de que larvas aposemáticas de insetos são evitadas por aves insetívoras, foi conduzido um experimento utilizando larvas artificiais. Especificamente, foi testado se: (1) os danos e/ou a remoção seriam mais frequentes nas larvas monocromáticas (verdes ou amarelas) do que nas larvas coloridas (=aposemáticas; larvas pretas com 2 faixas transversais, uma vermelha e outra alaranjada); (2) os danos e/ou a remoção nas larvas evidentes (amarelas, contrastando com o fundo verde das folhas) seriam mais frequentes do que nas larvas camufladas (verdes) e aposemáticas. Em resumo, nós testamos se a frequência de danos foi decrescente entre os 3 tipos de larvas, a saber: amarelas>verdes>coloridas. MATERIAL E MÉTODOS Larvas artificiais (com 3,5 - 5,0 cm de comprimento e 0,35 - 0,50 cm de diâmetro) foram feitas com massa de modelar e colocadas sobre as folhas de uma planta, quase sempre ao longo da nervura principal. Dentro de uma área de "cerradão", na Reserva Ecológica do IBGE (Brasília, D.F.), nós estabelecemos 3 transectos paralelos e distantes 5 metros entre si. Ao longo de cada um deles, foram distribuídas, de modo alternado, 153 larvas (51 amarelas, 52 verdes e 50 coloridas), cada uma sobre uma planta (alturas entre 40 - 130 cm). Nós esperamos 3 horas para o início das vistorias, durante a qual os danos encontrados em cada larva foram classificados de acordo com o suposto agente causador; formigas (geralmente presentes), outros artrópodos (vespas) e aves. Especialmente nos 2 últimos casos, nós inferimos o agente dos danos de acordo com o aspecto das marcas encontradas. Ao final, apenas uma larva, entre as 153 colocadas, desapareceu e nós decidimos excluí-la das análises posteriores. RESULTADOS E DISCUSSÃO Das 153 larvas distribuídas, 52 foram reencontradas com algum tipo de dano. A ocorrência de danos não difere das proporções relativas dos 3 tipos de larvas (Tab. 1), sugerindo que as larvas foram danificadas independentemente da sua coloração. Assim, ao contrário do que era esperado, larvas "aposemáticas" foram tão frequentemente danificadas quanto larvas monocromáticas. Além Tabela 1. Visitantes florais das quatro espécies de plantas estudadas (V) e polinizadores potenciais (P). visitante S. lycocarpum Hyptis sp D. oblongous B. campestris Bruchidae sp1 V V V Chrysomelidae sp1 V V Curculionidae sp1 V Miridae sp1 V Camponotus sp1 V Lycaenidae sp1 P V V Brachigaster sp1 V Myschocytharus sp P V Anthophoridae sp1 P Anthophoridae sp2 P Anthophoridae sp3 P Anthophoridae sp4 P Epicharis sp P P P P Paratetrapedia sp1 P Paratetrapedia sp2 P Xylocopa sp P Megachilidae sp1 P Nanotrigona sp V Trigona spineps P P P 7razão 4/6 4/6 5/14 Profª.p/(p+v) Orientadora: Regina Macedo 4/4 17 disso, como as formigas foram responsáveis pela maioria dos danos, esses resultados indicam a ausência de discriminação por aqueles animais entre os 3 tipos de larvas. Nesse ponto, nós reanalizamos os dados, comparando apenas as larvas danificas por "vespas" contra todas as outras e o valor obtido para o χ 2 foi significativo (Tab. 2). Embora os baixos valores em algumas células exijam uma análise mais cuidadosa, a magnitude das diferenças e sua natureza (ca. 60 % devido à célula "colorida-vespa") apontam na direção de que as larvas aposemáticas foram preferencialmente danificadas. Ainda que a composição da massa de modelar utilizada possa diferir com as cores (e ter influenciado os resultados), nós imaginamos uma explicação alternativa: larvas aposemáticas podem ser mais facilmente encontradas e utilizadas por alguns artrópodos predadores. Sendo assim, é tentador imaginar os benefícios que esses predadores teriam utilizando um recurso alimentar (e.g., larvas aposemáticas) que é evitado ou pouco utilizado por predadores vertebrados (e.g., aves). Tabela 1. Comparação do número de larvas danificadas de acordo com a sua coloração. cor nº larvas nº larvas coletadas danificadas1 amarelo 51 17 verde 52 17 colorida 49 19 total 152 53 1 Número esperado de larvas danificadas, de acordo com a sua abundância relativa. t=0,298 (g.l=2; p>0,05) Tabela 2. Comparação das larvas danificadas por vespas contra os outros de diferentes cores. cor danos por outros danos + vespas sem danos amarelo 2 49 verde 1 51 colorida 10 39 total 13 139 Kolmogorov-Smirnov, p<0.001) 18 INFLUÊNCIA DO FOGO ANUAL NA FLORÍSTICA E DENSIDADE DE ESPÉCIES LENHOSAS DE CERRADÃO8 Delano M. S. da Silva; Everton A. dos Santos; Rosane G. Colevatti. INTRODUÇÃO O cerrado é uma savana tropical caracterizada por uma vegetação rasteira, na qual há predomínio de gramíneas, com árvores e arbustos esparsos. Este tipo de vegetação pode ser caracterizado ainda pela estacionalidade climática, com períodos secos bem marcados, onde é frequente a ocorrência de fogo. Atualmente, especula-se que a ocorrência de fogo no cerrado seja um dos fatores determinantes da vegetação. O objetivo deste estudo foi analisar a composição florística de duas áreas (uma afetada anualmente pelo fogo, e outra protegida), a fim de investigar a influência do fogo na composição, densidade e diversidade de espécies lenhosas. MATERIAIS E MÉTODOS Este estudo foi realizado numa área de cerrado denso, localizada na reserva ecológica do IBGE, e outra área adjacente, situada no Jardim Botânico de Brasília. Selecionamos duas áreas, das quais a primeira está protegida do fogo, tendo sofrido apenas uma queimada nos últimos 20 anos (em 1994). A segunda área, por sua vez, sofre queimadas anuais. Estas duas áreas estão separadas entre si apenas por um aceiro de 20 m. A densidade de plantas foi estimada usando o método de ponto-quadrante. Em cada uma das áreas, traçamos uma linha de 100m perpendicular ao aceiro. A cada cinco metros, medimos as distâncias do ponto até o vizinho mais próximo de cada quadrante, considerando a circunferência mínima do tronco de 15 cm. Ao todo, amostramos 20 pontos e 80 indivíduos em cada área. Calculamos o número de espécies e a densidade em cada área, as frequências absoluta e relativa e a densidade de cada espécie, comparamos as densidades absoluta e relativa das principais espécies de cada área e, por fim, fizemos uma análise gráfica para comparar as curvas de diversidade de cada área. RESULTADOS E DISCUSSÃO Ao compararmos o número de espécies e a densidade total das duas áreas (Tab. 1), verificamos que a área queimada apresenta tanto um maior número de espécies (32 spp. contra 25 spp. da área protegida), quanto uma maior densidade total (1733,22 contra 1597,49 da área protegida). Ao contrário do que esperávamos, o número de espécies e a densidade observados neste estudo foram maiores na área queimada. A alta densidade na área queimada pode ter ocorrido devido à resistência natural ao fogo, ou a uma alta taxa de recrutamento, ou ainda ao crescimento de estruturas vegetativas (caules) que são estimuladas pelo fogo. Porém, não são suficientes para uma análise conclusiva do problema. Quando comparamos as densidades absoluta e relativa das principais espécies de ambas as áreas (Tab. 2), notamos que apenas uma espécie, Eremanthus glomerulatus, ocorre somente na área queimada. É possível que esta espécie seja favorecida pelo fogo devido a adaptação especiais ainda desconhecidas. Observamos também que Didymopanax macrocarpum parece ser indiferente ao fogo, uma vez que sua densidade é alta tanto na área queimada quanto na área protegida. Vale notar ainda que no gênero Qualea houve inversão entre as áreas, com Q. parviflora sendo mais abundante na área queimada e Q. multiflora apresentando maior densidade na área protegida. Para verificar diferenças na diversidade de espécies nas duas áreas realizamos uma análise de valor de importância. A figura 1 mostra que as curvas de diversidade de ambas áreas são bastante semelhantes, o que nos leva a sugerir que o fogo não causou diferenças na diversidade de espécies. 1000 Cerradão Protegido Cerradão Queimado 100 10 1 0 10 20 30 40 SEQUÊNCIA DE ESPÉCIES FIGURA 1. Curvas de valor de importância vs. sequência de espécies para os cerradão protegido e cerradão queimado. 8 Prof. Orientador: Fábio R. Scarana 19 Tabela 1. Número de espécies e densidade de plantas nas áreas queimadas e não queimadas. área queimada área protegida nº de espécies 32 25 densidade (ind./ha) 1733 1597 Tabela 2. Densidade das principais espécies de plantas nas áreas queimadas e protegidas de cerradão. espécie área queimada área protegida densidade % densidade Eremanthus glomerulatus 210 12 Didymopanax macrocarpum 193 11 261 Sclerolobium paniculatum 175 10 16 Qualea multiflora 13 1 260 % 16 1 16 APÊNDICE 1. Densidade, frequência absoluta e relativa das espécies encontradas na área queimada. espécies frequência absoluta densidade relativa densidade absoluta Erementhus glomerulatus 10 0,12 210,08 Didymopanax macrocarpum 09 0,11 192,57 Qualea parviflora 08 0,10 175,07 Miconia ferruginata 04 0,05 87,53 Roupala montana 04 0,05 87,53 Blepharocalyx salicifolia 03 0,04 70,03 Byrsonima crassa 03 0,04 70,03 Guapira noxia 03 0,04 70,03 Myrcinia guianensis 03 0,04 70,03 Rourea induta 03 0,04 70,03 Ouratea hexasperma 03 0,04 70,03 Dalbergia violacea 02 0,03 52,52 Erythroxylum suberosum 02 0,03 52,52 Hymenaea stilbocarpa 02 0,03 52,52 Lafoensia pacari 02 0,03 52,52 Qualea multiflora 02 0,03 52,52 Symplocus rhamnyfolia 02 0,03 52,52 Vochysia thyrsoidea 02 0,03 52,52 Byrsonima coccolobifolia 01 0,01 17,51 Eriotheca pubescens 01 0,01 17,51 Kielmeyera coriacea 01 0,01 17,51 Lauracea 01 0,01 17,51 Copaifera langsdorfii 01 0,01 17,51 Caryocar brasiliensis 01 0,01 17,51 Neea theifera 01 0,01 17,51 Myrtaceae 01 0,01 17,51 Qualea grandiflora 01 0,01 17,51 Piptocarpha rotundifolia 01 0,01 17,51 Sclerolobium paniculatum 01 0,01 17,51 Stryphnodendron barbatimao 01 0,01 17,51 Strychnos pseudoquina 01 0,01 17,51 Palicourea rigida 01 0,01 17,51 TOTAL 1733,22 20 APÊNDICE 2.Densidade, frequência absoluta e relativa das espécies de plantas encontradas na área protegida. espécies frequência absoluta densidade relativa densidade absoluta Didymopanax macrocarpum 13 0,16 260,15 Sclerolobium paniculatum 13 0,16 260,15 Caryocar brasiliense 05 0,16 101,62 Qualea multiflora 06 0,08 130,07 Piptocarpha rotundifolia 06 0,08 130,07 Vochysia thyrsoidea 03 0,04 65,04 Stryphnodendron barbatimao 04 0,05 81,30 Dimorphandra mollis 02 0,03 48,78 Dalbergia violacea 02 0,03 48,78 Guapira noxia 02 0,03 48,78 Aspidosperma tomentosum 02 0,03 48,78 Miconia ferruginata 02 0,03 48,78 Blepharocalyx salicifolius 06 0,08 130,07 Myrtacea 1 01 0,01 16,26 Styrax ferruginea 01 0,01 16,26 Palicourea rigida 01 0,01 16,26 Connarus sp. 01 0,01 16,26 Rapanea guianensis 01 0,01 16,26 Rourea induta 01 0,01 16,26 Davilla elliptica 01 0,01 16,26 Qualea parviflora 01 0,01 16,26 Byrsonima verbascifolia 01 0,01 16,26 B. crassa 01 0,01 16.26 Eriotheca pubescens 01 0,01 16,26 Pterodon pubescens 01 0,01 16,26 TOTAL 1597,49 21 EFEITO DO FOGO NA ARQUITETURA DE ESPÉCIES LENHOSAS DO CERRADO9 Flávia S. Pinto; Guilherme H. B. de Miranda; Saulo M. A. Andrade. INTRODUÇÃO O fogo ocorre comumente no cerrado, afetando sua fauna e flora de diversas maneiras. Com respeito à vegetação, os efeitos do fogo podem ser classificados em três níveis de intensidade decrescente: (1) morte do indivíduo, com consequente diminuição da densidade populacional ; (2) dano total, com a parte aérea do indivíduo totalmente destruída e (3) dano parcial, com a parte aérea parcialmente destruída. A recuperação da planta após o fogo se dá por rebrotamento que pode ser: (1) subterrâneo, a partir de raízes ou outras estruturas subterrâneas; (2) basal, da base do caule remanescente ou (3) aéreo, das extremidades ou porção lateral do caule ou ramos remanescentes. A arquitetura da planta que sofreu a ação do fogo depende do tipo de investimento para recuperação pós-queima (rebrota). Os dois primeiros tipos citados de rebrota provocam alteração na arquitetura da planta. A distribuição horizontal e vertical da biomassa, por sua vez, é determinante das características do próximo fogo (tipo, intensidade e taxa de dispersão). Nosso objetivo neste projeto foi comparar a vegetação lenhosa de uma área sujeita a um regime regular (bienal) de queimada com uma área protegida por um período relativamente longo (> 20 anos). A hipótese é que espécies arbóreas de áreas queimadas possuem diferenças em relação à áreas não queimadas, aumentando o número de brotos após uma queimada (entouceiramento). Essas diferenças são temporárias, caso não haja recorrência do fogo. Como premissa, considerou-se que cada rebrota correspondia a um indivíduo. MATERIAL E MÉTODOS A coleta de dados foi feita em duas áreas de cerrado da Reserva Ecológica do IBGE : (1) área queimada em 1992 e 1994, após um período de 16 anos de proteção contra o fogo e (2) área protegida do fogo a mais de 20 anos. A primeira área localizase próximo à cerca de divisa com o Jardim Botânico, no limite leste da reserva e a outra área, atrás do refeitório nas proximidades das construções da sede da reserva. Em cada uma das áreas foram identificados e tiveram seus respectivos números de rebrotas vivas e de rebrotas mortas contados todas as plantas lenhosas que se encontravam a uma distância perpendicular não superior a um metro de uma linha de 50 metros estendida aleatoriamente e que tinham mais de cinco centímetros de diâmetro de caule. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na área queimada bienalmente foram identificadas 22 espécies lenhosas em 78 indivíduos amostradas. Ouratea hexasperma (N=11) foi a espécie mais frequente. Na área controle, 114 indivíduos de 41 espécies foram amostrados. Na Tabela 1 estão listadas as cinco espécies mais frequentes em cada uma das áreas, correspondendo a 55% (área queimada) e a 40% (área controle) dos indivíduos amostrados em cada área. Cinco das espécies do cerrado queimado foram encontrados apenas uma vez. O mesmo se deu com 11 espécies da área controle. O índice de similaridade de Jaccard para as duas áreas foi de 31%, uma vez que apenas 15 espécies eram comuns às duas áreas amostradas. O valor foi considerado baixo, não sendo possível precisar se o fogo seria o único responsável por isto, ou se seria parte do padrão de mosaico do cerrado, ou algum outro fator responsável não conhecido. A figura 1 mostra a frequência de rebrotas vivas (20) em 78 indivíduos. A classe mais frequente foi a de 1 rebrota (N=33). Apenas seis espécies não tiveram representantes nesta classe, cinco dessas seis espécies ausentes na classe de uma rebrota foram justamente as que foram encontradas uma única vez na área. Quarenta e um dos 78 indivíduos amostrados apresentaram mais de uma rebrota. O número máximo de rebrotas foi observado nas espécies com distribuição por classes mais variadas, apresentando alto grau de entouceiramento (figuras 3 e 4). As rebrotas mortas indicando a existência de queimadas anteriores à última também foram contadas (130 rebrotas, variando de 1 a 6 por indivíduo) (Fig. 2). O valor mais frequente foi na classe de uma rebrota. Na área controle foram contados 114 indivíduos, somente dois apresentaram mais de uma rebrota viva (uma Miconia fallax com 4 rebrotas vivas e uma Vellozia flavicans com 3 rebrotas vivas). Nenhuma rebrota morta foi encontrada. 9 Profª. Orientadora: Heloisa S. Miranda 22 Tabela 1. Espécies lenhosas mais frequêntes nas áreas amostradas. cerrado queimado espécies Ouratea hexasperma Kielmeyera coriacea Miconia fallax Davila elliptica Byrsonima coccolobifolia cerrado controle espécies Rourea induta Rapanea guianensis Dalbergia violacea Qualea parviflora Roupala montana n 11 9 6 6 6 n 18 8 7 6 6 35 30 25 REBROTOS VIVOS 20 REBROTOS MORTOS 15 10 5 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 NÚMERO DE REBROTOS FIGURA 1. Número de plantas com rebrotos vivos e rebrotos mortos em um cerrado submetido a queimada bienais modais. 23 6 6 Miconia fallax 5 Ouratea hexasperma 5 4 4 REBROTOS VIVOS 3 REBROTOS MORTOS REBROTOS VIVOS 3 REBROTOS MORTOS 2 2 1 1 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 NÚMERO DE REBROTOS 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 NÚMERO DE REBROTOS FIGURA 2. Número de rebrotos em duas espécies de plantas em um cerrado sumetido a queimadas bienais modais. 24 COMPARAÇÃO DE CARACTERÍSTICAS DE FOLHAS DE PLANTAS DE CERRADO E MATA DE GALERIA10 Carlos A. Bianchi; Felipe A. P. L Costa; Terezinha A. B. Dias. INTRODUÇÃO Características foliares como tamanho, dureza e coloração afetam a interação das plantas com fatores físicos e bióticos do ambiente. Por exemplo se a quantidade de energia luminosa varia entre dois habitats, nós deveríamos esperar que as plantas ajustassem suas características para manter um mesmo nível de eficiência. O objetivo desse trabalho foi comparar características entre plantas de um trecho de cerrado com outro de mata ciliar. Mais especificamente nós testamos se: 1) o tamanho, a dureza e a coloração das folhas diferia entre estes habitats, 2) de modo semelhante, a presença de pêlos e látex. Tabela 1. Tamanho médio e desvio padrão de folhas de mata de galeria e cerrado (t=2,74; p<0,05; GL=58) área(cm2) cerrado mata X 52,2 112,4 s 49,8 109,7 20 CERRADO MATA DE GALERIA 18 16 14 12 10 8 6 MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho foi realizado em dois tipos de vegetação: uma área cerrado e uma área de mata de galeria, dentro da Reserva Ecológica do IBGE (Brasília, DF). Em cada área amostramos plantas de 30 espécies (altura mínima de 1m), ao longo de uma linha de 50 metros. Para cada planta foram registradas as seguintes características foliares: comprimento e largura máxima; área foliar, coloração; presença ou não de pêlos e látex. A dureza relativa de cada folha foi estimada como uso de um "penetrômetro" (3 folhas/planta e 3 medições/folha). 4 2 0 1 3 4 5 6 7 8 9 10 11 CLASSES DE DUREZA FIGURA 1. Número de espécies de plantas de cerrado e mata de galeria por classes de dureza de folha. Classes: 1: 0-1; 2: 1-2; 3: 2-3; ...; 11: 10-11. 30 25 RESULTADOS E DISCUSSÃO O tamanho médio das folhas do cerrado foi menor do que as folhas de mata de galeria (Tab. 1). A diferença observada foi significativa, indicando que as plantas da mata apresentavam folhas maiores. O grau de dureza média das folhas do cerrado parece ser maior do que das folhas da mata (Fig. 1). A figura 2 mostra o resultado da classificação das folhas segundo a cor. Nota-se que a mata de galeria apresenta maior frequência de folhas escuras que as folhas do cerrado. Por fim, não parece haver diferença na presença de látex e pêlos entre as folhas das duas áreas (Fig. 3) 2 CERRADO MATA DE GALERIA 20 15 10 5 0 5GY(Clara) 7,5GY(Escura) FIGURA 2. Distribuição das folhas de indivíduos em duas classe de verde em plantas do cerrado e mata de galeria. 10 Prof. Orientador: John Du Vall Hay 25 30 25 COM PÊLO SEM PÊLO COM LÁTEX 20 SEM LÁTEX 15 10 5 0 CERRADO MATA DE GALERIA FIGURA 3. Número de indivíduos em relação a presença de pilosidade e presença de látex nas folhas de plantas do cerrado e mata de galeria. 26 COMPARAÇÃO DO POTENCIAL DE ÁGUA DE ESPÉCIES LENHOSAS DE DIFERENTES GRUPOS FUNCIONAIS11 Delano M. S. da Silva; Everton A. dos Santos; Rosane G. Colevatti. INTRODUÇÃO A água para as plantas além das funções já conhecidas para outros organismos tem um importante papel no transporte de nutrientes do solo (raízes) para as partes aéreas (folhas). Este transporte ocorre devido a um gradiente do potencial de água (v) das raízes para as folhas sendo que o fluxo vai do potencial menos negativo para o mais negativo. Isso é de grande importância para as plantas pois elas podem controlar a direção deste gradiente da seguinte forma: os estômatos presentes nas folhas abrem-se criando um potencial negativo que deslocará o fluxo de água das raízes para as folhas, pois o v das raízes é menos negativo. Quando esta água desloca-se leva consigo os nutrientes armazenados na raiz. Vários fatores estão influenciando este potencial de água como podemos ver na fórmula descrita abaixo: v= p + m, onde v=potencial osmótico; m=potencial de matriz e p=potencial de pressão. O potencial osmótico está relacionado à quantidade de soluto e o aumento deste diminui o potencial de água. O potencial de matriz está relacionado à permeabilidade das paredes e o aumento deste potencial diminui o potencial de água. O potencial de pressão está relacionado à pressão dos vasos e este aumenta o potencial de água. O objetivo deste trabalho é comparar o potencial de água das folhas de espécies lenhosas de diferentes grupos funcionais do cerrado. na câmara com o seu pecíolo de fora. Lacra-se esta câmara e introduz-se um gás inerte (N2), o qual aumenta a pressão da câmara. Quando sai uma gota de água do pecíolo fecha-se o sistema e considera-se estabelecido o equilíbrio entre as células da folha e a seiva do xilema, admitindo-se que a pressão do gás contrabalance exatamente o potencial de água das células da folha. A unidade de pressão utilizado foi o bar. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados obtidos na câmara de pressão estão reunidos na tabela 2. Os resultados apresentados na tabela 1 mostram que obtivemos diferenças apenas nas espécies que são justamente as espécies coletadas antes de uma chuva. MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho foi realizado numa área de cerrado localizada na Reserva Ecológica do IBGE/DF, em dois horários distintos: 7:00 e 12:00. O primeiro funciona como nosso "ponto zero", pois imagina-se que nesse horário tanto folhas como raízes estão no seu grau máximo de saturação. O outro período mostraria a variação do v. As espécies utilizadas e o grupo funcional de cada uma estão descritas na tabela 1. Para cada espécie foram utilizados 3 indivíduos e de cada um foram retiradas 3 folhas. Estas folhas foram colocadas num isopor com gelo para manutenção do v. Para medirmos o v utilizamos uma câmara de pressão. O método consiste em colocar uma folha 11 Profª. Orientadora: Mercedes Bustamante 27 Tabela 1. Lista das espécies lenhosas estudadas e seus grupos funcionais (al= acumuladora de alumínio, n-al= não acumuladora de alumínio). grupo funcional espécie perene al Vochysia elliptica (Vochysiaceae) n-al Roupala montana (Proteaceae) n-al Ourateae hexasperma (Ochnaceae) n-al Styrax ferrugineus (Styracaceae) n-al Sclerolobium paniculatum (Leguminosae) decídua al Qualea grandiflora (Vochysiaceae) al Qualea parviflora (Vochysiaceae) n-al Dalbergia violacea (Leguminosae) n-al Pterodon pubescens (Leguminosae) Tabela 2. Potencial de água médio (bar) para as espécies estudadas. ESPÉCIES 7:00 Vochysia elliptica* -1,7 (0,3) Roupala montana* -3,0 (0,5) Ourateae hexasperma* -2,2 (0,6) Styrax ferrugineus -2,0 (0,0) Sclerolobium paniculatum -2,7 (0,3) Qualea grandiflora -1,3 (0,6) Qualea parviflora* -1,5 (0,5) Dalbergia violacea -1,2 (0,3) Pterodon pubescens* -2,2 (0,6) * Espécies medidas antes da chuva. 14:00 -5,0 (2,7) -14,0 (8,4) -7,0 (4,8) -2,3 (1,1) -2,7 (0,6) -2,0 (0,0) -5,0 (1,0) -4,1 (0,6) -7,6 (5,8) ∆ 3,3 11,0 4,8 0,3 0,0 0,7 3,5 0,9 5,7 28 COMPARAÇÃO DE MEDIDAS DE TRANSPIRAÇÃO ENTRE PLANTAS HEMIPARASITAS E SUAS HOSPEDEIRAS1 Flávia S. Pinto; Saulo M. A. Andrade; Guilherme H. B. de Miranda. INTRODUÇÃO As plantas parasitas apresentam especializações radiculares (haustórios) que permitem a sua fixação em outras plantas (hospedeiras), de onde retiram nutrientes e água. O haustório retira seiva (bruta ou elaborada) do hospedeiro para a planta parasita. Algumas parasitas entretanto não perderam a capacidade de fazer fotossíntese e são portanto chamadas de hemiparasitas. A condução de seiva é possível devido à relação entre o potencial hídrico dentro dos vasos da condução e o potencial hídrico do ar, em plantas não submetidas a estresse hídrico. A diferença de potencial hídrico entre esses dois sistemas possibilita a condução da seiva dentro dos vasos da planta. Essa diferença é obtida principalmente através da perda de vapores d'água das folhas realizadas através dos estômatos. A perda d'água por transpiração produz um potencial hídrico negativo que permitiria a condução da seiva da raiz para os sítios de fotossíntese. Entretanto vários fatores afetam a abertura estomática e consequentemente a taxa de transpiração, com a concentração de CO2, estresse hídrico e patógeno. Como se comportariam plantas hemiparasitas neste sistema? Espera-se que plantas para obterem seiva dos vasos condutores da hospedeira deveriam criar um potencial hídrico negativo maior do que o criado pela hospedeira, através, principalmente, do aumento da transpiração foliar. Espera-se, portanto, um aumento na condutância das espécies hemiparasitas em comparação com suas hospedeiras. O objetivo deste trabalho é determinar condutâncias estomáticas: (1) se plantas hemiparasitas apresentam condutância maior do que suas hospedeiras e (2) se plantas parasitas afetam o comportamento fisiológico das hospedeiras. Q. multifora foi Psittacanthus robustus e em K. coriacea. foi Phthirusa ovata. Medidas de condutânica (c), densidade de fluxo de fóton fotossintéticos (PPFD) e temperatura (T) foram feitas em cinco folhas, previamente marcadas, para os seis indivíduos, com o auxílio de um porômetro. As medidas foram tomadas de hora em hora, no intervalo da 8:00 hs às 12:30 hs. Ao todo cinco repetições foram feitas para cada planta observada. Nas plantas parasitas as medidas foram tomadas na porção abaxial e adaxial da folha, e para as espécies hospedeiras apenas na porção abaxial, devido à distribuição de estômatos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Tanto Qualea multiflora quanto Kielmeyera coriacea não parasitadas apresentaram valores de condutância menores que plantas parasitadas da mesma espécie (Fig. 1 e 2, respectivamente). Tais resultados sugerem que plantas parasitadas apresentam resposta fisiológica à presença de parasitas. As espécies parasitas também apresentaram respostas às variações de aumento da condutância com a variação da PPFD. Isto é mais marcante em Phthirusa ovata (Fig. 4 e 5). As espécies parasitas apresentaram taxas de transpiração maiores que as espécies hospedeiras parasitadas ou não (Fig. 1 e 2) indicando que tais plantas utilizariam em parte a diferença de condutância na formação de uma pressão hidrostática positiva que permitiria a obtenção de seiva da planta hospedeira. Entretanto nos horários da manhã em que a PPFD era baixa o mesmo padrão não foi observado, indicando, mais uma vez, que a condutância destas espécies parasitas é afetada pelo grau de insolação na planta. MATERIAL E MÉTODOS Foram estudados dois indivíduos de Kielmeyera coriacea e dois de Qualea multifora com e sem plantas parasitas em um cerrado da Reserva do IBGE (Brasília D.F). A planta parasita encontrada em 1 Prof. Orientador: Fábio Scarano 29 2500 2000 800 Psittacanthus robustus Qualea parviflora (parasitada) Qualea paarviflora (não parasitada) 700 600 500 1500 400 300 1000 Psittacanthus robustus 200 500 100 Qualea paarviflora (não parasitada) 0 0 8:00 Qualea parviflora (parasitada) 9:00 10:00 11:00 8:00 12:00 9:00 TEMPO (hora) 1400 Phithirusa ovata Kielmeyera coriaceae (parasitada) 1200 Kielmeyera coriaceae (não parasitada) 1000 11:00 12:00 700 600 500 400 800 300 600 Phithirusa ovata 200 400 Kielmeyera coriaceae (parasitada) 100 200 Kielmeyera coriaceae (não parasitada) 0 0 8:30 10:00 TEMPO (hora) 9:30 10:30 TEMPO (hora) 11:30 12:30 8:30 9:30 10:30 11:30 12:30 TEMPO (hora) FIGURA 1. PPFD e condutância estomática em Qualea parviflora parasitada e não parasitada por Psithacanthus robustus. FIGURA 2. PPFD e condutância estomática de Kielmeyera coriacea parasitada e não parasitada por Phitirusa ovata. 30 RELAÇÃO ENTRE CARACTERÍSTICAS FOLIARES E HERBIVORIA EM ESPÉCIES LENHOSAS DE MATA E DE CERRADO13 Delano M. S. da Silva; Everton A. dos Santos; Rosane G. Colevatti. INTRODUÇÃO As características fenotípicas dos organismos servem, geralmente, como indicadores do tipo de habitat que eles ocupam, bem como podem fornecer evidências do tipo de nicho ocupado por esses mesmos organismos. Nas plantas, o tipo de folha e outras características como cor, dureza, pilosidade, presença ou ausência de látex, entre outros, são importantes para proteção contra a herbívoros. Neste trabalho, procuramos investigar as características foliares presentes em espécies lenhosas de cerrado e de mata, com o objetivo de correlacionar algumas características das folhas com a presença de herbivoria. Analisamos principalmente a relação entre a dureza foliar e a incidência de herbivoria. MATERIAIS E MÉTODOS Este trabalho foi realizado na reserva ecológica do IBGE, em Brasília, em duas áreas distintas: uma de cerrado, outra de mata. Em cada uma das áreas, traçamos uma linha de 50 m de comprimento. Ao longo de cada linha, coletamos 30 espécies de plantas lenhosas com altura média de 2m. De cada espécie, amostramos 25 folhas e verificamos a ocorrência ou não de sinais de herbivoria produzidos por galhadores, minadores, mastigadores ou sugadores e, em seguida, anotamos o número de folhas afetadas em cada espécie. Paralelamente, retiramos 3 folhas de cada espécie, para medidas de dureza foliar. As medidas foram realizadas com um perfurômetro. Na figura 2, podemos observar o grau de dureza foliar das espécies de cerrado e de mata, projetados contra a percentagem de folhas afetadas por herbívoros. Neste gráfico, notamos que as espécies de mata estão concentradas principalmente nas menores classes de dureza, enquanto as de cerrado estão distribuídas em todas as classes de dureza, com a maioria das espécies colocadas nos grupos de maior dureza. Ainda na figura 2, constatamos que existem tanto espécies de cerrado com alta dureza e baixa herbivoria, quanto espécies de mata com baixa dureza e baixíssima taxa de herbivoria. Guapira noxia possui um grau de dureza relativamente alto, e uma taxa de herbivoria altíssima. Além destes dois exemplos, Vochysia elliptica, que é uma espécie encontrada no cerrado, apresenta um grau de dureza relativamente alto, e uma taxa de herbivoria quase nula. O cerrado apresentou uma dureza ( x =4,86) maior do que a mata de galeria ( x =0,82), estas diferenças foram significativas (t=7,01; p<0,001) A partir dos resultados obtidos, podemos concluir que: (1) as espécies de cerrado geralmente apresentam um grau de dureza foliar maior que o das plantas de mata; (2) Parece que não há relação significativa entre a dureza foliar e a taxa de herbivoria, nem nas espécies de cerrado, nem nas de mata. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados relacionados à dureza foliar das espécies lenhosas de cerrado e de mata estão representados na figura 1. Neste gráfico, podemos observar que as folhas da maioria das espécies de mata são moles (tenras), ao passo que as das espécies de cerrado são duras. Estes resultados sugerem que as plantas de cerrado são geralmente esclerotizadas, a fim de protegê-las contra perdas de água. Por outro lado, as espécies de mata apresentam folhas mais finas, pois nesse tipo de ambiente a umidade é maior que a do cerrado. Portanto, o risco de perder água é bem menor nas plantas da mata do que no cerrado. 13 Prof. Orientador: John Du Vall Hay 31 20 CERRADO MATA DE GALERIA 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 CLASSES DE DUREZA FIGURA 1. Distribuição das folhas por classes de durezas em plantas de cerrado e mata de galeria. 100 MATA DE GALERIA CERRADO 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 0 5 10 15 DUREZA FOLIAR FIGURA 2. Relação entre dureza foliar e a porcentagem de herbivoria em espécies lenhosas de cerrado e mata de galeria. 32 DISTRIBUIÇÃO DE PLANTAS PARASITAS SOBRE PLANTAS HOSPEDEIRAS NA RESERVA ECOLÓGICA DO IBGE (BRASÍLIA, D.F)14 Carlos A. Bianchi; Felipe A. P. L. Costa; Terezinha A. B. Dias. INTRODUÇÃO Plantas hemi-parasitas ocorrem nas plantas do Cerrado. A infecção das plantas hospedeiras ocorre quando uma semente da planta hemi-parasita é nela depositada e se estabelece. Como a dispersão de Phthiruza ovata e Psittacanthus sp é ornitocórica, é de se supor que plantas hospedeiras que também tenham este tipo de dispersão, sejam mais infectadas por estas hemi-parasitas devido à maior visitação por pássaros. Também quando estabelecido um parâmetro mínimo de altura das plantas hospedeiras, aquelas mais abundantes em determinada área seriam mais infectadas. Além disso poderia se supor que a ocorrência de plantas hemi-parasitas estaria mais concentrada em plantas hospedeiras mais altas do que baixas, uma vez que os pássaros evitariam o solo por pressão da predação. Com o objetivo de levantar dados que corroborassem as hipóteses anteriormente descritas realizou-se um levantamento das espécies vegetais presentes e das plantas hemi-parasitas associadas em uma área de cerrado da Reserva Ecológica do IBGE (Brasília, D.F). Considerando-se todas as 56 espécies (parasitadas e não-parasitadas), existe uma relação significativa entre o número de plantas encontradas e o número com hemi-parasitas. (Fig. 1). Quando as plantas não infectadas são excluídas da análise, a correlação é maior (r=0,57; p < 0,005; N=17). O número de plantas parasitadas por classe de altura é apresentado na Tabela 2. Utilizando apenas as duas primeiras classes de altura não houve diferença significativa ( χ 2 =0,99; p>0,05; GL=1). MATERIAL E MÉTODOS Percorremos ao longo de uma trilha, cerca de 180m, amostrando plantas com altura superior a 1,0m que estavam até 5 m de cada lado desta trilha. Estas plantas foram identificadas botânicamente no campo e posteriormente classificadas pelo tipo de dispersão de frutos. A altura delas foi estimada, anotando-se a presença ou ausência e o número de hemi-parasitas em cada planta hospedeira. Para as análises estatísticas, nós utilizamos o teste do quiquadrado e análise de regressão pelo método dos mínimos quadrados. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram amostradas 407 plantas de 61 espécies. Comparou-se o número de plantas com e sem parasitas de dispersão ornitocórica com plantas dispersas por outros agentes (Tab. 1) e verificamos que a diferença não foi significativa. Este resultado indica que plantas de dispersão ornitocórica não estão necessariamente mais infectadas por plantas hemiparasitas do que plantas que possuem outro tipo de dispersão. 14 Prof. Orientador: Raimundo P. B. Henriques 33 10 8 6 4 2 0 0 10 20 30 40 NÚMERO DE PLANTAS FIGURA 1. Número de plantas infectadas em relação ao número total de plantas de cada espécie. Cada ponto se refere a uma espécie, existem pontos superpostos. r=0,42; p=0,001; N=56. 10 8 6 4 2 0 0 10 20 30 40 NÚMERO DE PLANTAS FIGURA 2. Número de plantas infectadas em função do número total de plantas de cada espécie. Existem pontos superpostos. r=0,57; p=0,02; N=17. Tabela 1. Número de plantas com e sem parasita e tipo de dispersor da semente. tipo de dispersão com parasitas sem parasitas pássaros 25 (22,9) 249 (251,1) não pássaros 9 (11,1) 124 (121,9) total 34 373 χ 2 total 274 133 407 =0,062; P > 0,05; GL=1 Tabela 2. Frequência de parasitas em plantas de diferentes classes de altura. altura (m) com parasitas sem parasitas 1,00 - 3,99 308 25 4,00 - 6,99 56 7 > 7,00 11 0 total 375 32 total 333 63 11 407 34 ESTRUTURA POPULACIONAL DE Pseudobombax longifolium (BOMBACACEA). DISTRIBUIÇÃO ETÁRIA E TABELA DE VIDA15 Delano M. S. da Silva; Everton A. dos Santos; Rosane G. Colevatti. INTRODUÇÃO O cerrado apresenta duas estações bem definidas, que podem ser caracterizadas pela precipitação: uma estação chuvosa, que ocorre entre os meses de outubro a abril, e uma estação seca que ocorre entre maio a setembro. Muitas das espécies desse ambiente desenvolveram um padrão de crescimento relacionado a esse padrão sazonal de chuvas e, portanto, de disponibilidade de água: uma estação de crescimento, na época chuvosa e uma estação onde há perda das folhas e o crescimento é interrompido. Algumas das espécies que apresentam este tipo de estratégia de crescimento apresentam uma diferenciação nos caules e ramos, com a presença de nós ou cicatrizes correspondentes à queda das folhas e parada no crescimento. Cada entre-nó tem a idade de um ano (do início da estação chuvosa ao fim). Dessa forma pela contagem do número de entre-nós podemos calcular a idade de uma planta. A partir desses dados é possível determinar a distribuição etária da população, obter uma Tabela de Vida Estática e traçar curvas de sobrevivência. Esses dados nos dão uma idéia da estrutura da população indicando, além do padrão de mortalidade nas faixas etárias, aspectos da dinâmica populacional relacionados ao recrutamento de indivíduos. Pseudobombax longifolium (Bombacaceae) é uma das espécies do cerrado que apresenta o padrão de crescimento sazonal, com diferenciação dos módulos de crescimento de cada estação de crescimento (estação chuvosa). Ocorre, preferencialmente, próximo às matas de galeria. Assim, os objetivos do nosso trabalho foram determinar a distribuição etária de uma população de P. longifolium, obter a Tabela de Vida Estática e traçar a curva de sobrevivência. MATERIAL E MÉTODOS Em uma área de 10.400 m2 (1,04 ha) foram registrados todos os indivíduos de P. longifolium, medindo-se a circunferência na base do caule, próximo ao solo. Nos indivíduos em que era possível contar o número de módulos de cada estação a idade era determinada. Foi possível determinar através das 15 Prof. Orientador: Raimundo P. B. Henriques marcas de carvão deixadas nas plantas depois da última queimada na área (1994), que cada módulo cresce apenas uma vez por ano. Com os dados de circunferência e idade desses indivíduos foi feita uma Regressão Linear Simples, para estimar a idade daqueles indivíduos cuja contagem de módulos não foi possível, utilizando o modelo: y=a + bx onde "y"= idade em anos, e "x"= circunferência, em centímetros, na base do caule. Com a estimativa da idade dos indivíduos, estes foram agrupados em classes de idade, para obtenção da Tabela de Vida Estática da população. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram encontrados 119 indivíduos na área, resultando em uma densidade de aproximadamente 114 indivíduos/ha. A Figura 1 mostra a relação entre a circunferência na base do tronco e a idade dos indivíduos, além da reta de regressão obtida. A partir da equação de regressão (y=- 6,6985 + 0,91332x) foi obtida a idade de todos indivíduos da população, cujos módulos não foi possível contar. A maioria dos indivíduos estão concentrados nas classes etárias 0 - 19 anos. Esse resultado sugere que a população está se regenerando localmente, recrutando indivíduos jovens. A Tabela 1 apresenta a Tabela de Vida Estática da população que mostra a curva de sobrevivência mostrada na Figura 3, sugere um padrão intermediário entre as curvas do Tipo II e Tipo III. Nas curvas de sobrevivência do Tipo II, a taxa de mortalidade é constante nas classes etárias (padrão comum para mortalidade de sementes), já no tipo III a taxa de mortalidade é alta nas faixas etárias mais baixas, caindo rapidamente e se estabilizando para as faixas etárias maiores. 50 40 30 20 10 0 0 10 20 30 40 50 CIRCUNFERÊNCIA (cm) FIGURA 1. Relação entre a circunferência na base do tronco e idade em indivíduos de Pseudobombax 35 longiflorum em uma área de cerrado. O ponto aberto no gráfico não foi incluído nas análises. Equação de regressão: Y=0,91X - 6,69; r=0,84; p<0,001; N=25. 50 40 30 20 10 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 CLASSES DE IDADE FIGURA 2. Distribuição de idades de uma população de Pseudobombax longiflorum em uma área de cerrado. Classes de idade: 1: 0-9; 2: 9-19,4; 3: 19,4-29,7; ...; 11: 101,7-112,0 (veja Tabela 1). 1 0,1 0,01 0,001 0 20 40 60 80 100 120 IDADE (ANOS) FIGURA 3. Curva de sobrevivência para uma população de Pseudobombax longiflorum em área de cerrado. Tabela 1. Tabela de vida estática para uma população de Pseudobombax longiflorum em uma área de cerrado. idade (anos) meio da classe indivíduos sobreviventes taxa de sobrevivência (anos) 0-9 4,5 44 119 1,00 9-19,4 14,2 48 75 0,63 19,4-29,7 24,5 15 27 0,23 29,7-39,9 34,8 04 12 0,10 39,9-50,3 45,1 03 08 0,07 50,3-60,6 55,4 01 05 0,04 60,6-70,9 65,7 01 04 0,03 70,9-81,1 75,9 00 03 0,03 81,1-91,4 86,2 01 03 0,03 91,4-101,7 96,6 01 02 0,02 101,7-112,0 106,9 01 01 0,01 36 TAXA DE OCORRÊNCIA DE ESPÉCIES LENHOSAS COM NECTÁRIOS EXTRAFLORAIS EM CERRADO16 Flávia S. Pinto; Guilherme H. B. de Miranda; Saulo M. A. Andrade. INTRODUÇÃO Os nectários extraflorais (NEF) são estruturas presentes em diversas espécies de plantas, sendo responsáveis pela liberação de dissacarídeos excedentes que atraem insetos nectarívoros, em especial formigas. Estes insetos podem desempenhar um papel de proteção da planta hospedeira contra seus inimigos naturais, aumentando a aptidão das plantas com NEF o que resulta em uma interação mutualística "frouxa". Diversos estudos mostram a existência de uma alta correlação negativa da frequência de NEF e formigas (diversidade, dominância e taxa de predação) e a latitude ou altitude. Neste projeto, foram obtidos, as frequências de espécies e de indivíduos lenhosos com NEF em uma área de cerrado da Reserva Ecológica do IBGE e comparando com dados publicados sobre áreas de cerrado vizinhas (Jardim Botânico e Fazenda Água Limpa). Na Tabela 2, estão listadas as 14 espécies com NEF e a posição dessas estruturas nestas espécies. A maior parte dos NEF (108ind/5spp) ocorre nas folhas. Em menor escala, ocorrem em ramos (35 ind/3spp), tricomas glandulares (13ind/25spp), estípulas (12ind/1sp), sépalas (8ind/1sp) e ráquis (6ind/2spp). Duas espécies com NEF nas folhas Rapanea guianensis e Banisteriopsis sp respondem por mais de 50% dos indivíduos com NEF e por quase 20% do total de indivíduos amostrados (Tab. 2). A porcentagem das espécies com NEF em folhas e estruturas associadas alcança cerca de 70% (127). Este valor pode ser resultante do alto valor adaptativo decorrente da presença dos NEF mais perto ou na própria folha, aumentando a proteção desta contra herbívoros. Algumas das espécies arbóreas mais abundantes do cerrado (Qualea parviflora, Qualea grandiflora, Caryocar brasiliense) possuem NEF. Na Tabela 3, uma síntese dos dados de frequência de espécies com NEF e de abundância dessas espécies para outras regiões é mostrada. Estes resultados somados aos obtidos no presente trabalho corroboram a hipótese do gradiente latitudinal sugerindo que os NEF são mais importantes nos trópicos. MATERIAL E MÉTODOS Para o levantamento das espécies lenhosas com mais de um metro de altura, foi percorrido um trecho de cerrado denso no sudeste da Reserva Ecológica do IBGE. Neste trecho, foram identificados, a nível de espécie, os 500 primeiros indivíduos lenhosos ao longo de uma linha. Foram incluídas plantas a uma distância máxima da linha. Exemplares de identificação duvidosa ou ignorada tiveram amostras coletadas e foram posteriormente identificadas em laboratório. Nas listas de espécies, foram identificadas a espécies com NEF e contados os números de indivíduos de cada espécie a fim de se obter a frequência. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram identificadas 66 espécies lenhosas para 500 indivíduos encontrados no cerrado. Cerca de 21,2% das espécies (14) e 36,4% dos indivíduos (182) possuem NEF (Tab. 1). Estes valores assemelham-se aos valores calculados em outros levantamentos florísticos do cerrado na APA do Gama-Cabeça de Veado, em particular àqueles que apresentam maior número de indivíduos. Eventuais diferenças metodológicas de diferentes levantamentos de campo foram desconsiderados. 16 Prof. Orientador: Paulo S. Oliveira 37 Tabela 1. Porcentagem de espécies com nectários extraflorais (NEF) e suas abundâncias em diferentes áreas do Distrito Federal. FAL JBB IBGE/JBB presente estudo Nº de espécie 49 37 25 / 33 66 Nº de espécie c/ NEF (%) 16 (N=8) 19 (7) 20 (5) / 12 (4) 21 (14) Nº de indivíduos 461 2010 80/80 500 Nº de indivíduos c/ NEF (%) 39 (181) 34 (686) 25 (20) / 20 (16) 36,4 (182) fonte Ratter (1986) Azevedo et al. Silva et al. com. (1990) pes. FAL Fazenda Água Limpa; JBB Jardim Botânico de Brasília; IBGE Reserva Ecológica do IBGE Tabela 2. Lista de espécies lenhosas com nectários extraflorais e a porcentagem de indivíduos amostrados. espécies local do NEF % (no. de indivíduos) Rapanea guianensis folhas 28,6 (52) Banisteriopsis sp folhas 25,3 (46) Qualea multiflora ramos 13,2 (24) Ouratea hexaspema estípulas 6,6 (12) Bauhinia sp 1 tricomas glandulares 6,0 (11) Caryocar brasiliense sépalas 4,4 (8) Qualea parviflora ramos 3,9 (5) Jacaranda sp. folhas 2,8 (5) Qualea grandiflora ramos 2,2 (4) Stryphnodendron adstringens ráquis 1,7 (3) Enterolobium gomiferum ráquis 1,7 (3) Arrabidea sp. folhas 1,7 (3) Tabebuia ochracea folhas 1,1 (2) Bauhinia sp.2 tricomas glandulares 1,1 (2) total 100(182) Tabela 3. Porcentagem de espécies com NEF e suas abundâncias em diferentes regiões. área espécies com NEF % de indivíduos com fonte NEF Regiões Temperadas 5 14 Keeler, 1981 América Central até 80 Bentley, 1977 Floresta de terra firme* 19 Morelatto & Oliveira, 1991 Canga* 50 Morelatto & Oliveira, 1991 Mato Grosso 25 30 Oliveira & Oliveira Filho, 1991 São Paulo 20 8-22 Oliveira & Leitão Filho, 1987 * Floresta Amazônica 38 A COEXISTÊNCIA DE ESPÉCIES CONGENÉRICAS E SEU NICHO MORFOLÓGICO17 Flávia S. Pinto; Guilherme H. B. de Miranda; Saulo M. A. Andrade. INTRODUÇÃO Segundo a "Teoria de Competição", espécies com nichos semelhantes não podem coexistir uma vez que pode ocorrer exclusão competitiva com extinção de uma das espécies. Espécies que são ecologicamente parecidas, vivem juntas, logicamente há uma diferenciação entre seus nichos. Assim podese assumir que entre espécies congenéricas a competição é maior, já que são mais semelhantes entre si do que com espécies de outros gêneros. Com isso o objetivo do projeto foi verificar diferenças nas existência do nicho morfógico de espécies congenéricas de plantas em uma área de cerrado. MATERIAL E MÉTODOS Numa simplificação do nicho morfológico das espécies, já que o nicho não é bidimensional mas sim, multidimensional, tomou-se a relação área foliar X comprimento foliar, como uma representação do nicho das espécies congenéricas de plantas. E assim comparar as diferenças entre estes nichos morfológicos. Para isso, foram escolhidos 10 indivíduos de cada uma das espécies de Miconia, Qualea e Byrsonima (Tab. 1) e coletadas 5 folhas de cada indivíduo. Mediu-se então a largura e o comprimento de cada folha e, utilizou-se a forma da elipse para o cálculo da área foliar. Área de uma elipse (Ae)=πab/4, onde a=largura da folha e b=comprimento da folha. diferenciação dos nichos foliares, uma vez que suas 3 espécies possuem o mesmo porte. A separação do nicho foliar das espécies pode ser que esteja, não no nicho foliar mas sim, em outros nichos morfológicos das plantas como, sistema radicular, arquitetura da copa, estratégia de utilização dos nutrientes, etc. Outra explicação é a de que constrangimentos filogenéticos, não permitem grandes diferenças nos nichos foliares das espécies estudadas. Tabela 1. Espécies estudadas e suas formas de vida. espécie forma de vida Byrsonima coccolobifolia arbusto grosso Byrsonima verbascifolia arbusto grosso Byrsonima crassa arbusto grosso Miconia ferruginata arbusto grosso Miconia phalax arbusto fino Miconia albicans arbusto fino Qualea parviflora arbórea Qualea grandiflora arbórea Qualea multiflora arbórea RESULTADOS E DISCUSSÃO A figura 1 mostra a relação do nicho para as 3 espécies de Miconia. O porte das espécies de M. phalax e M. albicans é a mesma (Tab. 1), dessa forma esperaria-se que o nicho morfológico fosse mais "distante", já que possuem o mesmo porte, isto é, para não possuírem o mesmo nicho as espécies buscariam mudanças na área de suas folhas para uma diferente aptidão de cada uma e consequente diferenciação de seus nichos. A mesma relação pode ser apresentada para o gênero Qualea (Fig. 2), onde todas as espécies são arbóreas (Tab. 1) e esperaria-se uma diferenciação de seus nichos foliares (Fig. 2). Para o gênero Byrsonima assumiu-se que o resultado encontrado exemplificou melhor a 17 Prof. Orientador: Raimundo P. B. Henriques 39 500 Miconia albicans Reta de regressão Miconia fallax Reta de regressão Miconia ferruginata Reta de regressão 400 300 200 100 0 -3 2 7 12 17 22 27 COMPRIMENTO DA FOLHA (cn) FIGURA 1. Relação entre área e comprimento de folhas de Miconia emárea de cerrado. 300 Qualea parviflora Reta de regressão Qualea multiflora Reta de regressão Qualea grandiflora Reta de regressão 200 100 0 0 5 10 15 20 COMPRIMENTO DA FOLHA (cn) FIGURA 2. Relação entre área e comprimento de folhas de Qualea em área de cerrado. 600 Byrsonima crassa Reta de regressão Byrsonima coccolobifolia Reta de regressão Byrsonima verbascifolia Reta de regressão 500 400 300 200 100 0 0 5 10 15 20 25 COMPRIMENTO DA FOLHA (cn) FIGURA 3. Relação entre área e comprimento de folhas de três espécies de Byrsonima em área de cerrado. 40 SIMILARIDADE FLORÍSTICA ENTRE COMUNIDADES DE ESPÉCIES HERBÁCEAS EM FITOFISIONOMIAS EQUIVALENTES18 Carlos A. Bianchi; Felipe A. P. L. Costa; Terezinha A. B. Dias. INTRODUÇÃO Na vegetação dos Cerrados, muitas formações campestres são de fisionomias semelhantes, sugerindo um alto grau de similaridade na composição específica. O objetivo desse trabalho foi descrever e comparar a composição em espécies herbáceas de três fisionomias campestres numa área de Cerrado. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho de campo foi desenvolvido em 3 áreas destro da Reserva Ecológica do IBGE (Brasília, DF), a saber: campo limpo (CL), brejo (BR) e "cascalheira"(CAS), (todas são de fisionomias campestre, apresentando arbustos). Para descrever a composição específica, nós amostramos aleatoriamente 2 parcelas (1 x 1m) em cada uma das 3 áreas. Ainda no campo, nós identificamos e contamos o número de indivíduos de cada espécie presente nas parcelas. Como índices de similaridade entre 2 áreas, nós utilizamos os seguintes índices de similaridade: (a) Jaccard (Sj): Sj=a/a+b+c; (b) Sorensen (Ss): Ss=2a/2a+b+c; (c) Czekanowski (Sc): Sc=2 min (xi, i)/ (xi+i); onde, a= número de espécies comuns as 2 áreas; b e c = número de espécies exclusivas nas áreas 1 e 2, respectivamente; min (xi, i)=menor número de indivíduos para as espécies encontradas nas 2 amostras; xi e i=número de indivíduos da espécie "i" encontrados nas 2 áreas. Além disso, nós comparamos a diversidade específica das áreas, utilizando o índice de ShannonWiener (H'): H'= - ∑pi ln pi ; onde pi é a abundância relativa da espécies "i". O número de indivíduos e espécies encontradas variam entre as áreas, a saber: "CL"(153 indivíduos de 30 espécies); "BR" (39 de 7) e "CAS"(58 de 16). Na verdade, a composição específica de cada área foi virtualmente exclusiva, com apenas 1 espécie ocorrendo no "CL" e na "CAS". Os valores obtidos para os índices de similaridade entre "CL" e "CAS" são mostrados na Tabela 1. O fato da única espécie em comum ter sido, ao mesmo tempo, uma das mais abundantes, explica o aumento obtido para Sc, quando comparado aos outros índices. Deve-se notar que Sc mede a similaridade entre amostras, levando em conta as abundâncias relativas das espécies em comum. Os índices de diversidade para as 3 áreas estão mostrados na Tabela 2. A diferença nos valores obtidos para "CL" e "CAS" parece resultar mais do número de espécies do que da equitabilidade. Por outro lado, o baixo valor obtido par "BR" se deve tanto à sua pobreza específica como também à baixa equitabilidade (mais de 50% dos indivíduos pertenciam a uma única espécie). Por fim, a Tabela 3 apresenta o número de espécies "invasoras" encontradas. Curiosamente, essas plantas só foram encontradas na "CAS", onde chegam a compor mais de 60% do total de espécies. Concluindo, nossos resultados indicam que as Graminae dominam a paisagem das formações campestres no Cerrado estudado, tanto pela riqueza como pela abundância das espécies. Por sua vez, a riqueza específica parece ser o resultado de que as espécies se substituem ao longo de certos habitats encontrados nos Cerrados. RESULTADOS E DISCUSSÃO Considerando todas as 6 parcelas amostradas, contamos 250 indivíduos, pertencentes a 52 espécies de 17 famílias botânicas. O número de espécies por família é mostrado na Figura 1, onde é fácil notar a predominância das Graminae (ca. 31% do total). Essa predominância aumenta tremendamente quando comparamos as abundâncias relativas (Fig. 1). Esses resultados sustentam nossa impressão original de que as Graminae constituem o principal componentes das formações campestres. 18 Prof. Orientador: Tarcisio S. Filgueiras 41 35 NÚMERO DE ESPÉCIES 30 NÚMERO DE INDIVÍDUOS 25 20 15 10 5 0 GRAMÍNEA LEGUMINOSAE COMPOSITAE MELASTOMATACEA OUTRAS 13 FAMÍLIAS FIGURA 1. Número de espécies e indivíduos por famílias. Tabela 1. Similaridade florística entre campo limpo e cascalheira. índice de similaridade (%) Jaccard Sorensen 2,2 4,3 Tabela 2. Diversidade e equitabilidade em três tipos de vegetação no cerrado. tipo de vegetação campo limpo brejo diversidade 2,754 1,409 equitabilidade 0,810 0,724 Czekanowski 8,5 cascalheira 2,366 0,874 Tabela 3. Número de espécies nativas, invasoras e espécie dominante em relação ao total de espécies na área da cascalheira. número de espécies (%) espécie dominante % do total nativas 6 (37,5) Mesosetum lolliforme 17 invasoras 10 (62,5) Vernonia ferruginata 7 total 16 (100,0) 42 PROJETOS INDIVIDUAIS 43 PREDAÇÃO DE NINHOS ARTIFICIAIS NO CERRADO: UMA COMPARAÇÃO ENTRE DUAS FISIONOMIAS. Carlos Abs Bianchi RESUMO A predação de ninhos em aves representa um dos principais fatores de mortalidade para a classe. Estudos com ninhos artificiais têm sido utilizados para investigar padrões de predação em diversos ambientes. Este trabalho investigou a predação de ninhos artificiais em duas fisionomias de Cerrado (sensu lato): mata de galeria e cerradão, na Reserva Ecológica do Roncador (IBGE), Brasília, DF; comparando taxas de predação, freqüência de retirada de ovos e efeitos de borda. Os resultados obtidos mostraram não haver diferenças nas taxas de predação entre as duas fisionomias, entretanto, o padrão de retirada entre mata e cerradão foi diferente, na mata de galeria a taxa de predação atingiu o máximo no segundo dia enquanto que no cerradão a taxa de predação se mantave constante ao longo do período de estudo. Os ovos colocados na borda da mata foram estatisticamente mais predados do que aqueles colocados no interior; porém, não houve diferença entre borda e interior para o cerradão; sugerindo que o efeito de borda é mais intenso na mata de galeria. INTRODUÇÃO A predação representa uma importante variável na determinação de diversas características das comunidades; diversos estudos já foram realizados em várias partes do mundo (Sih et al. 1985), enfocando a interação predador-presa. A predação pode ser definida como qualquer interação na qual ocorre fluxo de energia de um organismo para outro ou, de uma forma mais simples, como o consumo de um indivíduo (a presa) por outro (o predador) (Begon 1990). Predação de ninhos é a causa principal de mortalidade em diversas espécies de aves (Cintra 1988; Martin 1987; Angelstam 1986; Gates e Gysel 1978) e certamente apresenta padrões variáveis de intensidade entre espécies e entre áreas. A intensidade da predação sobre os ninhos pode ser influenciada por vários fatores, tais como, o sítio de nidificação (Martin 1987), a fragmentação de ambientes (Santos e Tellería 1992, Angelstam 1986), ou ainda a densidade e atividade de predadores (Gates e Gysel 1978; Ruxton e Gurney 1994). A realização de experimentos utilizando ninhos artificiais tem sido uma ferramenta bastante importante para testar algumas predições em ecologia; entretanto, segundo Martin (1987), os ninhos artificiais são mais conspícuos em relação aos naturais, porém menos predados, devido à imagem de procura desenvolvida pelos predadores associada aos ninhos naturais. Tal aspecto representa uma restrição para comparações de taxas de predação obtidas por este tipo de experimento com taxas de predação de ninhos naturais. Sih et al. (1985), em revisão sobre o tema, afirmam não haver diferenças marcantes nos padrões gerais de predação quando considerada a variação latitudinal, entretanto a quantidade de estudos comparativos ainda é pequena. Os estudos comparativos de taxas de predação entre áreas mais abertas e áreas de cobertura vegetal mais densa revelam haver diferenças entre as duas, sendo mais alta em áreas de formações florestais. Os objetivos deste trabalho foram: (1) comparar as taxas de predação entre duas formações florestais do bioma Cerrado: mata de galeria e cerradão (Ratter, 1991); (2) comparar a freqüência de retirada e os padrões de predação para as duas fisionomias (3) comparar as taxas de predação entre dois subgrupos de ninhos: ninhos de borda e ninhos de interior, em ambas as áreas, visando testar o efeito de borda sobre a predação. MATERIAL E MÉTODOS O presente trabalho foi realizado na Reserva Ecológica do Roncador - IBGE (15˚ 55’ 58” S e 47˚ 51’ 02” W), Brasília-DF; no período de 12 a 15 de março de 1996, durante o curso “Métodos em Ecologia de Campo” do Programa de Pós-graduação em Ecologia da Universidade de Brasília. Foram selecionadas para o estudo uma área de Mata de Galeria e uma área de Cerradão (Ratter 1991), distantes aproximadamente 2 quilômetros entre si, onde foi estabelecido um gradeado para cada área. Cada gradeado era formado por cinco linhas compostas por sete pontos, e uma linha composta por cinco pontos, totalizando 40 pontos por gradeado. A distância entre as linhas e os pontos foi estabelecida em 10 metros, a mesma fixada entre os pontos de cada linha (Figura 1). O gradeado foi dividido em dois subgrupos: subgrupo “borda” e subgrupo “interior”. A primeira linha de cada área foi estabelecida paralelamente a estrada, a 5 metros de distância desta, no sentido borda-interior e, as três primeiras linhas (A, B, C) representaram o subgrupo “borda”, enquanto as linhas subsequentes (D, E, F) representaram o subgrupo “interior”. Os ninhos artificiais foram confeccionados manualmente com palha seca e, para cada ponto, foi depositado no chão, um ninho com dois ovos de codorna (Coturnix coturnix). Tendo em vista o 44 objetivo de apenas efetuar-se registros de predação, sem testar a capacidade dos predadores em localizar os ninhos, estes foram colocados nos pontos dos gradeados sem qualquer camuflagem. Os ninhos foram considerados predados quando o ninho e/ou um ou ambos os ovos foram removidos. As revisões aos ninhos eram feitas no turno da manhã, num intervalo de 24 horas para as duas fisionomias. Durante a revisão, eram registrados a ocorrência ou não de ataque ao ninho, as coordenadas dentro do gradeado dos ninhos atacados, o número de ovos predados e a presença ou ausência de cascas e/ou a distância destas (quando encontradas) dos ninhos predados. Os ninhos atacados não tinham seus ovos repostos, reduzindo desta forma, ao longo do tempo, a disponibilidade de ovos nos sítios de estudo. Para as análises dos resultados, foram aplicados teste de qui-quadrado (χ2) para testar a significância das taxas de predação de ovos em cada fisionomia (mata e cerradão) e as taxas de predação entre borda e interior, além das representações gráficas dos valores de predação do experimento. RESULTADOS Foram predados 66 (41,25%) dos 160 ovos utilizados no experimento, sendo 37 (23,12% do total) na mata e 29 (18,13% do total) no cerradão. A Figura 1 mostra os gradeados estabelecidos dentro de cada fisionomia e o dia de predação dos ninhos. As taxas de predação para a mata e o cerradão corresponderam a 46,25% e 36,25%, respectivamente, em relação ao total de ovos para cada fisionomia. O número de ovos predados em cada área é apresentado na Tabela 1, onde pode-se verificar que não houve diferença significativa entre áreas (χ2= 1,65; P= 0,1989; g.l.=1; n= 80). A freqüência de retirada de ovos para a mata foi bastante diferente daquela obtida para o cerradão. A Figura 2 mostra que a taxa de predação foi aproximadamente a mesma ao longo do estudo no cerradão, contrastando com os valores obtidos para a mata, onde verifica-se um pico no segundo dia do experimento, diminuindo depois. A predação em ambas as áreas, quanto ao efeito de borda, apresentou resultados diferentes (Tabela 2). Para a mata, houve diferença significativa (χ2= 9,95; P= 0,0016; g.l.= 1; n= 40) entre os ninhos predados na borda (n= 14) e os ninhos do interior (n= 5). No cerradão, o ataque aos ninhos da borda (n= 8) foi semelhante ao ataque dos ninhos do interior (n= 6) (χ2= 0,80; P= 0,3702; g.l.= 1; n= 40). Apenas um ninho na mata e três ninhos no cerradão tiverem seus ovos predados em diferentes dias do experimento. Os demais ninhos tiveram os dois ovos predados num mesmo dia. DISCUSSÃO Os resultados obtidos neste experimento mostram não haver diferença entre as taxas de predação na mata de galeria e no cerradão. Santos e Tellería (1992), encontraram valores diferentes para predação entre um ambiente aberto (área de plantio de fazenda) e um ambiente florestal. Entretanto, Andrén et al. (1985) e Angelstam (1986) não encontraram diferenças significativas entre ambientes abertos contra ambientes fechados na Escandinávia. Sugere-se que diferenças na densidade vegetal estariam associadas a diferenças nas taxas de predação, isto é, ambientes tipicamente florestais sofreriam uma pressão de predação maior em relação aos ambientes mais abertos, devido, entre outros fatores, à maior diversidade. Embora neste estudo a taxa de predação na mata de galeria tenha sido maior que no cerradão a diferença não foi significativa. As taxas de predação poderiam variar em um gradiente de acordo com o aumento na densidade e diversidade da vegetação de uma determinada área. A mata de galeria representa um típico ambiente florestal, com vegetação bastante densa. Dentre as fisionomias do bioma cerrado (sensu lato), o cerradão é aquela com características mais próximas de uma formação florestal, podendo inclusive apresentar espécies de plantas típicas de mata (Ratter 1991). A freqüência de retirada dos ovos para cada dia foi diferente entre as duas fisionomias (Figura 2), tendo o cerradão apresentado uma taxa constante de predação, quando comparado com aquele registrado para a mata. A disposição dos ninhos neste experimento (gradeados com ninhos distantes 10 metros entre si) foi diferente de outros estudos que utilizaram ninhos artificiais. Santos e Tellería (1992) utilizaram transectos com 30 metros de distância mínima entre ninhos; Andrén et al. (1985) colocaram transectos com distância mínima de 300 metros entre ninhos e Angelstam (1986), utilizou transectos com distância mínima de 500 metros. A disposição dos ninhos em transectos pode diminuir as chances de ataque por um mesmo predador, supondo-se que este tenha uma área de vida radial. Ninhos dispostos em gradeados, estão mais sujeitos à predação se a maior parte do gradeado estiver dentro da área de vida de um predador potencial. Logo, distâncias maiores entre os ninhos e a disposição destes em transectos, diminuiriam relativamente as chances de ataque por um mesmo indivíduo. O pico de predação registrado para a mata no segundo dia (Figura 2) pode ou não representar a ação de um único predador, visto que os ninhos atacados neste dia estão próximos entre si (Figura 1); entretanto, não existem evidências maiores que comprovem este fato. As taxas de predação (Tabela 2) correspondentes aos subgrupos “borda” e “interior” foram significativamente diferentes apenas na mata, 45 enquanto no cerradão, o ataque aos ninhos do primeiro subgrupo não diferiram do segundo. O resultado obtido para a mata não difere dos dados existentes na literatura. Santos e Tellería (1992) encontraram maior incidência de predação em ninhos colocados na borda, assim como Angelstam (1986) e Andrén et al. (1985). Este diferente resultado obtido entre mata e cerradão sugere que o efeito de borda pode ser mais intenso na mata do que no cerradão, e pode estar relacionado a uma variação abrupta da fisionomia da mata de galeria para o cerrado, o que não ocorre no cerradão onde a variação é mais gradual. Entretanto, outras variáveis devem ser investigadas para melhor interpretação destes resultados. homogeneity. American Naturalist 144(3): 537541. SANTOS, T. e TELLERÍA, J. L. 1992. Edge effects on nest predation in Mediterranean fragmented forests. Biological Conservation 60: 1-5. SIH, A.; CROWLEY, P.; MCPEEK, M.; PETRANKA, J. e STROHMEIER, K. 1985. Predation, competition and prey communities: a review of field experiments. Ann. Rev. Ecol. Syst. 16: 269-311. AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer a H. C. Morais, J. D. Hay e R. Colevatti pelas sugestões nas análises estatísticas do manuscrito. A D. M. Silva pelo auxílio nas análises estatísticas e pela leitura e sugestões ao manuscrito. A Reserva Ecológica do Roncador (IBGE) por fornecer apoio logístico ao curso “Métodos em Ecologia de Campo”. A R. P. B. Henriques por organizar o curso, pelas sugestões ao trabalho e auxílio em algumas etapas do trabalho de campo. A C. A. Moreira pela assistência na elaboração do manuscrito. E aos colegas que participaram do curso de campo, pelas inúmeras horas de trabalho e descontração em conjunto. BIBLIOGRAFIA ANDRÉN, H.; ANGELSTAN, P.; LINDSTRÖM, E. e WIDÉN, P. 1985. Differences in predation pressure in relation to habitat fragmentation: an experiment. Oikos 45(2): 273-277. ANGELSTAM, P. 1986. Predation on groundnesting birds' nests in relation to predator densities and habitat edge. Oikos 47(3): 365-373. BEGON, M.; TOWSEND, J. L. e HARPER, C. R. 1990. Ecology. Individuals, Populations and Communities. 2nd edition, Blackwell Science Inc. New York, USA. CINTRA, R. 1988. Reproductive Ecology of the Ruddy Ground-Dove on the Central Plateau of Brazil. Wilson Bulletin 100(3): 443-457. GATES, J. E. e GYSEL, L. W. 1978. Avian nest dispersion and fledging success in field-forest. Ecology 59(5): 871-883. MARTIN, T. E. 1987. Artificial nest experiments: effects of the nest appearance and type of predator. Condor 89: 925-928. RATTER, J. A. 1991. Guia para a vegetação da Fazenda Água Limpa. (Brasília, DF). Editora da Universidade de Brasília, Brasília, DF. RUXTON, G.D. e GURNEY, W.S.C. 1994. Deriving the functional response without assuming 46 CERRADÃO 7 MATA 7 6 6 5 5 4 4 3 3 2 2 1 A B C D E F 1 A B C D E F LEGENDA PREDAÇÃO NO 1° DIA PREDAÇÃO NO 2° DIA PREDAÇÃO NO 3° DIA PREDAÇÃO NO 4° DIA NINHOS NÃO-PREDADOS Figura 1. Mapa das áreas de estudo com a representação dos gradeados e data de predação dos ninhos depositados para o estudo realizado na Reserva Ecológica do Roncador (IBGE), Brasília, DF (letras= colunas; números= linhas). Tabela 1. Comparação do número total de ovos predados e não-predados entre a mata de galeria e o cerradão na Reserva Ecológica do Roncador (IBGE), Brasília-DF. Categoria Mata de Galeria Cerradão Total Predados 37 29 66 Não-predados 43 51 94 Total 80 80 160 (χ2= 1.65; P= 0.1989; n= 80) Tabela 2. Comparação de predação dos ninhos nos subgrupos “borda” e “interior” nas duas áreas de estudo na Reserva Ecológica do Roncador (IBGE), Brasília, DF. Categoria Mata de Galeria Cerradão Borda Interior Borda Interior Predados 14 5 8 6 Não-predados 5 16 11 15 (mata): (χ2= 9,95; P= 0,0016; g.l.= 1; n= 40) (cerradão): (χ2= 0,80; P= 0,3702; g.l.= 1; n= 40) 47 35 MATA 30 CERRADÃO 25 20 15 10 5 0 1 2 3 4 Tempo (dias Figura 2. Número de ovos predados na mata e no cerradão para os quatro dias do experimento na Reserva Ecológica do Roncador (IBGE), Brasília, DF. 48 DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE QUALEA GRANDIFLORA MART. (VOCHYSIACEAE) EM UM CERRADO DE BRASÍLIA, DF. Delano Moody Simões da Silva RESUMO Este estudo tem como objetivo comparar o padrão de distribuição espacial de Q. grandiflora em duas áreas de cerrado sensu stricto, sendo uma protegida contra o fogo a aproximadamente 20 anos e a outra sofendo queimadas bienais desde 1989, localizadas na Reserva Ecológica do IBGE, BrasíliaDF. Foram encontrados 75 indivíduos de Q. grandiflora na área de cerrado protegida e 19 na outra área. Em ambas as áreas o padrão foi agrupado, indicando que o fogo não altera o padrão de distribuição. A distribuição das freqüências de circunferência do fuste para as duas áreas, não difere estatisticamente, porém na área protegida indivíduos com menos de 11 cm de circunferência foram mais freqüentes, talvez indicando um maior recrutamento nesta área. INTRODUÇÃO A maioria dos estudos fitossociológicos realizados no cerrado tiveram como principais objetivos determinar a riqueza e a densidade das espécies vegetais de uma determinada área. Os poucos estudos realizados sobre o padrão de distribuição espacial de árvores do cerrado geralmente dão maior ênfase ao padrão do conjunto de árvores de uma comunidade e não ao padrão de cada população presente na comunidade (Meirelles & Luiz, 1995). Poucos estudos foram realizados com ênfase na população (Oliveira et al., 1989). Indivíduos de populações vegetais podem estar distribuídos no espaço de três maneiras: regular, aleatório e agregado. O padrão de distribuição regular é o menos encontrado na natureza (Kershaw, 1958), sendo o agregado o mais comum (Kershaw, 1958; Hubbell, 1979; Gerig-Smith, 1979; San Jose et al., 1991; Silberbauer-Gottsberger & Eiten, 1987, Oliveira et al., !989). Segundo Kershaw (1959) o padrão de distribuição de uma dada população pode ser atribuído à vários fatores, como: 1.Características da espécie: crescimento vegetativo ou o modo de dispersão de suas sementes; 2.Sociológicos: interação animal-planta ou plantaplanta; 3.Fisiográficos: ambientes em mosaico (microhabitat). O fogo é um fator de perturbação importante para o cerrado (Coutinho, 1979), sendo que o modo como ele afeta o cerrado tanto ao nível de populações como de comunidades vegetais ainda não é bem conhecido. Dessa forma pouco se sabe sobre a influência do fogo na distribuição espacial de espécies vegetais no cerrado. Os objetivos deste trabalho são (1) identificar e comparar o padrão de distribuição espacial de Qualea grandiflora em duas áreas de cerrado com diferentes regimes de queimada; (2) e comparar a estrutura destas duas populações. MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho foi realizado na Reserva Ecológica do IBGE (15˚ 55’ 58” S e 47˚ 51’ 02” W), Brasília-DF, durante a disciplina “Métodos em Ecologia de Campo” pelo curso de Pós-graduação em Ecologia da Universidade de Brasília no período de 11 a 14 de março de 1996. Foram utilizadas duas área adjacentes de cerrado sensu stricto (Coutinho, 1978; Ratter, 1991) com dois históricos de queimada diferentes. Uma das áreas é queimada de dois em dois anos desde 1989, enquanto a outra foi queimada uma única vez através de uma queimada acidental em outubro de 1994, depois de 20 anos de proteção contra o fogo. Ao longo deste trabalho nós chamaremos a primeira área de cerrado bienal e a segunda de cerrado controle. Qualea grandiflora Mart. (Vochysiaceae) é uma espécie de hábito arbóreo-arbustivo comum nos cerrados de Brasília (Ratter, 1991), possuindo uma ampla distribuição geográfica (Ratter & Dargie, 1990). Perde suas folhas uma vez por ano no final da estação seca (Morais et al., 1995), iniciando em seguida a brotação foliar e floral (Barbosa, 1983). Dentre os diversos métodos de amostragem e índices que podem ser usados para detectarmos o padrões de distribuição espacial e a densidade de plantas (Brower et al., 1989), optou-se por utilizar a amostragem por parcelas, com diferentes dimensões, pois no caso de uma espécies de padrão agregado o tamanho da unidade amostral que conseguirá detectar o tipo de padrão espacial é influenciado pelo tamanho do grupo de indivíduos (Meirelles & Luiz, 1995). Foi demarcada uma área de 80x80m, tanto no cerrado bienal quanto no controle, dividida em 64 parcelas de 10x10m. Dentro de cada parcela foi contado o número total de indivíduos de Q. grandiflora e medida a circunferência do fuste ao nível do solo de cada indivíduo. Para detectarmos o grau de agrupamento ou a distribuição espacial de Q. grandiflora utilizamos dois índices (Brower et al., 1989): Morisita(Id) e o coeficiente de dispersão (CD). Para o índice de Morisita, se Id= 1,0 a distribuição é aleatória; se Id= 49 0 a distribuição é uniforme e se Id >1,0 a distribuição tende a ser agrupada. O coeficiente de dispersão é calculado através da razão da variância sobre a média. Se CD < 1 então a população é uniforme; se CD > 1 a população é agrupada e se CD= 1 a população é aleatória. A significância de ambos os testes é testada através de um teste qui-quadrado (χ2) (Brower et al., 1989). Além do índice de Morisita e do coeficiente de dispersão, analisamos graficamente os padrões de agrupamento pelo método descrito por Goldsmith & Harrisson (1976), que possibilita visualizar melhor em que escala e em qual intensidade está ocorrendo o agrupamento, através da análise da variância do número de indivíduos que ocorrem em diferentes tamanhos de parcelas. A utilização de mais de um índice ou método indica com melhor segurança o padrão a ser aceito (Usher, 1975). RESULTADOS Foram encontrados 75 indivíduos de Q. grandiflora no cerrado controle e 19 no cerrado bienal. A figura 1 mostra um croqui das áreas marcadas com o número de indivíduos encontrados em cada parcela para as duas áreas. Analisando desta forma parece que no cerrado controle a distribuição tende a ser homogênea, enquanto no cerrado bienal parece ser agrupada, porém é necessário se testar se isto é verdade e em que tamanho de parcela isto está ocorrendo. A Tabela 1 resume os resultados encontrados para o índice de Morisita (Id) para três tamanhos de parcelas (10x10, 20x20 e 40x40) com os seus respectivos χ2. No caso do cerrado controle só no primeiro tamanho não detectou-se o padrão agrupado, enquanto no cerrado bienal em todos os tamanhos foi detectado este padrão. Este mesmo resultado foi encontrado para o coeficiente de dispersão (Tab. 2). A figura 2 mostra através da variância encontrada em cada unidade de amostragem onde ocorrem os agrupamentos e em que intensidade eles ocorrem. Em ambas as áreas os indivíduos tendem a ser agrupados, sendo que no cerrado controle os picos ocorrem nos tamanhos de parcelas 4 e 16 (20x20m e 40x40m) e no cerrado bienal ocorrem picos nos tamanhos 8 e 32 (40x20m e 80x40m). As distribuições de circunferência de fuste encontradas nas duas áreas estão resumidas na figura 3. Não existe uma diferença significativa entre essas duas distribuições (Komogorov-Smirnov= 0,09; p= 1,0). É importante salientar que a divisão das classes foi feita de maneira arbitrária e não biológica. Isso se deve ao fato de que no cerrado controle a maioria dos indivíduos estavam rebrotando com vários ramos da base (observ. pess.) e isto mascara a circunferência real de indivíduos com mais de 10 cm de circunferência (< 10 cm= plântula ou jovem). Levando este fato em consideração podemos notar que no cerrado controle indivíduos com circunferência inferior a 11 cm são mais freqüentes. Isto pode indicar um maior recrutamento nesta área quando comparada ao cerrado bienal (Fig. 3). Além disso, se as rebrotas estão ocorrendo principalmente na base, como foi dito acima, uma maior circunferência pode indicar um maior número rebrotas na base no cerrado controle, mas este dado não foi quantificado. Porém se isso for uma verdade pode explicar as maiores circunferências encontradas nesta área. DISCUSSÃO Os dados aqui apresentados sobre a distribuição espacial de Q. grandiflora, não diferem dos dados encontrados na literatura. Meirelles & Luiz (1995) estudando várias espécies de árvores do cerrado encontraram 65 indivíduos de Q. grandiflora em uma área de 100x100m com um padrão de distribuição agregado. Gottsberger & SilberbauerGottsberger (1983), também em um hectare, encontraram 183 indivíduos de Q. grandiflora com um padrão com alguns agrupamentos. Este padrão agrupado segundo alguns autores não tem relação com o modo de dispersão ou pelo menos este não é tão determinante para o padrão (Gottsberger & Silberbauer-Gottsberger, 1983; San Jose et al., 1991). Talvez este padrão no caso de Q. grandiflora esteja mais associado ao microhabitat. Como o cerrado é um ambiente em mosaico talvez isto explique melhor a formação de agrupamentos, porém não temos dados para fazer este tipo de afirmação. O cerrado bienal apresentou uma menor densidade total de indivíduos e um menor número de indivíduos com menos de 11 cm de circunferência quando comparado com o cerrado controle (Fig. 3). Ramos (1990) sugere que o fogo pode levar a uma diminuição da densidade quando este ocorre em altas freqüências, apesar de seus dados não mostrarem isto pelo pouco tempo de estudo. A autora sugere que queimadas frequentes levam a uma diminuição no recrutamento, uma alta mortalidade de plântulas e um grande impacto em indivíduos com menor porte. Outra questão que a autora levanta é que plantas que são freqüentemente queimadas sempre estão repondo suas folhas, tornando-se cada vez mais susceptíveis ao ataque de patógenos, parasitas e herbívoros, sendo que estes poderiam aumentar a taxa de mortalidade destas. Kellman (1986) também sugere que plântulas têm maior mortalidade e que plantas com rebrota basal também teriam maior mortalidade. O autor ainda sugere que regimes freqüentes de queimadas poderiam levar algumas populações à extinção naquele local. Q. grandiflora tem um crescimento 50 inicial muito lento (Paulilo et al., 1993), além de uma baixa taxa fotossintética nesse período (Felippe & Dale, 1990). Sendo assim, talvez isso indique que ela demore um tempo relativamente longo para atingir um tamanho suficiente para que o fogo ao passar, mate apenas a parte aérea e não o indivíduo como um todo, explicando o menor número de indivíduos com circunferência inferior a 11 cm no cerrado bienal. Outro fato que reforça esta hipótese é que mais importante que o tamanho seria a circunferência do indivíduo para que este sobreviva após uma queimada (Ramos, 1990). No caso de Q. grandiflora além de suas plântulas com tamanho e circunferência reduzido, suas rebrotas da base, apesar de serem de um indivíduos já estabelecido, também têm estas características. Desse modo além das rebrotas estarem na base, mais susceptíveis à morte (Kellman, 1986), elas têm uma circunferência muito pequena, talvez assim explicando uma possível maior mortalidade destas. Desse modo com relação ao padrão de distribuição encontrado para Q. grandiflora parece que a freqüência de queimadas não está influenciando este, pois nas duas áreas o padrão é agregado. Por outro lado, ocorreu uma redução da densidade de Q. grandiflora na área bienal em todas as classes de tamanho, provavelmente devido à freqüente destruição da parte aérea e da mortalidade de plântulas e rebrotas a cada queimada. AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer a J. D. Hay pelas críticas e sugestões ao manuscrito. A F. S. Pinto e L. C. Baumgartem pelo leitura e críticas do manuscrito. À Reserva Ecológica do IBGE por ceder o local e pelo apoio logístico ao curso “Métodos em ecologia de Campo”. A R. P. B. Henriques por organizar o curso e pelas sugestões ao trabalho. A S. Marques pelo apoio e descontração no campo. E a todos os companheiros do curso de campo de 1996 pelos momentos de trabalho e diversão em conjunto. BIBLIOGRAFIA BARBOSA, A. A. A. 1983. Aspectos da ecologia reprodutiva de três espécies de Qualea (Vochysiaceae) num cerrado de Brasília, DF. Tese de Mestrado, UnB, Brasília, DF. BROWER, J. E., J. H. ZAR & C. N. VON ENDE. Field and Laboratory methods for general Ecology, 3rd edition, Wm. C. Brown Publishers, Dubuque, Iowa. COUTINHO, L. M. 1978. O conceito de cerrado. Revta. brasil. Bot. 1: 17-23. COUTINHO, L. M. 1979. Aspectos ecológicos do fogo no cerrado. III. A preciptação de nutrientes minerais. Revta. brasil. Bot. 2: 97-102. FELIPPE, G. M. & J. E. DALE. 1990. The effects of phosphate supply on growth of plants from Brazilian cerrado: Experiments with seedlings of the annual weed, Bidens gardneri Baker (Compositae) and the tree, Qualea grandiflora Mart. (Vochysiaceae). Oecologia 82: 81-86. GREIG-SMITH, P. 1979. Pattern in vegetation. J. Ecol. 67: 755-779. GOLDSMITH, F. B. & C. N. M. HARRISSON. 1976. Description and analysis of vegetation, 116-118. In Methods in Plant Ecology, S. B. Chapman, editor, Osney Mead, Oxford. GOTTSBERGER, G & I. SILBERBAUERGOTTSBERGER. 1983. Dispersal and distribution in a cerrado vegetation of Brazil, 315-351. In Dispersal and Distribution. K. Kubizki, editor. Parey, Hamburg. HENRRIQUES, R. P. B. & E. C. E. G. SOUSA. 1986. Population structure , dispersion and microhabitat regeneration of Carapa guianensis in Northeastern Brazil. Biotropica 21(3): 204209. HUBBELL, S. P. 1959. Tree dispersion, abundance and diversity in a tropical dry forest. Science 203: 1299-1309. KELLMAN, M. 1986. Fire sensivity of Casuaria torulosa in North Queensland, Australia. Biotropica 18(2): 107-110. KERSHAW, K. A. 1958. An investigation of the structure of a grassland community. II. The pattern of Agrostis temus. J. Ecol. 46: 571-592. KERSHAW, K. A. 1959. An investigation os structure of a grassland community. II. The pattern of Dactylis glomerata, Lolium perenne e Trifolium repens. III Discution and Conclusions. J. Ecol. 47: 31-53. MEIRELLES, M. L. & A. J. B. LUIZ. 1995. Padrões espaciais de árvores de um cerrado em Brasília, DF. Revta. brasil. Bot. 18(2): 185-189. MORAIS, H. C., I. R. DINIZ & L. C. BAUMGARTEN. 1995. Padrões de produção de folhas e sua utilização por larvas de Lepidoptera em um cerrado de Brasília. Revta. brasil. Bot. 18(2): 163-170. OLIVEIRA, P. E. A. M.; J. F. RIBEIRO & M. I. GONZALES. 1989. Estrutura e distribuição espacial de uma população de Kielmeyera coriacea Mart. de cerrados de Brasília. Revta. brasil. Bot. 12: 39-47. PAULILO, M. T. S.; G. M. FELIPPE & J. E. DALE. 1993. Crescimento inicial de Qualea grandiflora. Revta. brasil. Bot. 16(1): 37-46. RAMOS, A. B. 1990. Efeitos da queima sobre a vegetação lenhosa do cerrado. Tese de Mestrado, UnB, Brasília, DF. RATTER, J. A. & T. C. D. DARGIE. 1990. An analysis of floristic composition of 26 cerrado 51 factors in a Trachypogon savanna of Orinoco Lianos. Biotropica 23(2): 114-123. SILBERBAUER-GOTTSBERGER, I & G. EITEN. 1987. A hectare of cerrado. I. General aspects of the trees and thick stemmed shrubs. Phyton (Austria) 27: 55-91. USHER, M. B. 1975. Analysis of patterns in real and artificial plant populations. J. Ecol. 63: 569-589. Tabela 1 - Resultados obtidos para o índice de Morisita em três tamanhos de parcelas, para Q. grandiflora em duas áreas de cerrado na Reserva do IBGE. areas in Brazil. VIII Congresso da Sociedade Botânica de São Paulo. RATTER, J. A. 1991. Guia para a vegetação da Fazenda Água Limpa (Brasília, DF). Ed. Universidade de Brasília, DF. SAN JOSE, J. J.; M. R. FARIÑAS & J. ROSALES. 1991. Spatial pattern of trees and structuring Tamanho 10x10 20x20 40x40 * p < 0,001 Cerrado controle Id χ2 Cerrado Bienal Id 1,18 1,13 1,13 76,04 36,15* 12,74* 2,62 2,43 1,57 χ2 92,16* 40,79* 13,21* Tabela 2 - Resultados obtidos para o coeficiente de dispersão (CD) em três tamanhos de parcelas, para Q. grandiflora em duas áreas de cerrado na Reserva do IBGE. Tamanho Cerrado controle Cerrado Bienal 2 CD CD χ χ2 10x10 1,21 76,04 1,46 92,16* 20x20 2,41 34,14* 2,72 40,79* 40x40 4,24 12,74* 5,12 15,34* * p < 0,001 52 13 3 3 4 3 2 1 2 1 3 3 1 1 1 1 1 1 2 3 1 1 1 1 1 1 1 3 1 2 3 3 1 1 2 1 4 2 1 1 1 3 80 m 80 M Cerrado Controle 1 2 1 2 2 1 2 1 2 1 2 80 m 2 80 m CERRADO BIENAL Figura 1- Esquema da área marcada nos dois tratamentos com o número de indivíduos de Q. grandiflora encontrados em cada parcela. 53 8 7 6 5 CC 4 CB Variâ3 2 1 0 0 1 2 4 8 16 32 Tamanho das parcelas Figura 2- Gráfico demonstrando a intensidade do agrupamento e em que tamanho de parcela ele ocorre, através da variância do número de indivíduos em cada tamanho de parcela, para Q. grandilfora em duas áreas de cerrado na Reserva do IBGE. CC= Cerrado controle; CB= Cerrado Bienal. Tamanhos correspondem: 1= 10x10 (64 par.); 2= 20x10 (32 par.); 4= 20x20 (16 par.); 8= 40x20 (8 par.); 16= 40x40 (4 par.) e 32= 80x40 m (2 par.). 25 20 CC 15 CB 10 5 0 0-10 11-20 21-30 31-40 41-50 >50 Classes de circunferência Figura 3- Distribuição das freqüências de circunferências do fuste para Q. grandiflora em duas áreas de cerrado na Reserva do IBGE nas duas áreas. CC= Cerrado controle; CB= Cerrado bienal. 54 ATIVIDADE FORRAGEIRA DE Atta sexdens (LINNAEUS, 1758) (HYMENOPTERA, FORMICIDAE): RELAÇÃO COM TEMPERATURA E UMIDADE RELATIVA DO AR Everton Amancio dos Santos RESUMO O ritmo de atividade diária da formiga cortadeira Atta sexdens foi estudado durante três dias numa área de cerrado situada na Reserva Ecológica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em Brasília. As observações foram feitas em um ninho, com intervalos de uma hora. Em cada observação, registrou-se o número de formigas que entravam e saíam do formigueiro, durante o intervalo de um minuto. No minuto seguinte, coletou-se com uma pinça todo o material vegetal que estava sendo forrageado pelas formigas. Medidas de temperatura e umidade relativa do ar foram tomadas em cada observação, utilizando-se um psicrômetro. Os resultados obtidos mostram que o forrageamento ocorre tanto à noite quanto durante o dia, desde que não seja interrompido por chuvas. No início da manhã, entre 6 e 7h, foi observado o retorno intenso de formigas ao ninho, com subsequente reinício das atividades por volta das 8h, sugerindo uma espécie de "mudança de turno". Aparentemente, a chuva tem um papel mais importante do que a temperatura e a umidade sobre o forrageamento de Atta sexdens. INTRODUÇÃO Entre as mais de 800 espécies de formigas, estão as cortadeiras dos gêneros Atta (saúvas) e Acromyrmex (quenquéns), que possuem o hábito de cortar e transportar fragmentos vegetais diversos para seus ninhos subterrâneos (Della Lucia & Oliveira 1993), os quais são usados como substrato para o cultivo de fungos que lhes servem de alimento (Weber 1966). Tais hábitos fazem dessas formigas uma das principais pragas da agricultura das regiões tropicais e subtropicais (Mariconi 1970). Devido aos prejuízos causados à agricultura, essas formigas têm despertado a atenção das pessoas desde o século XVI e várias pesquisas têm tratado desses insetos. Contudo, embora a quantidade de estudos sobre as saúvas e quenquéns seja imensa, a maioria dos trabalhos trata de aspectos ligados ao controle das formigas, restando muito ainda por fazer no campo da ecologia e do comportamento desses organismos. Entre os trabalhos relacionados à ecologia e ao comportamento dessas formigas, alguns tratam do comportamento forrageiro (e.g. Hodgson 1955; Cherrett 1968; Lewis et al. 1974a; Gamboa 1975; Mintzer 1979; Fowler & Robinson 1979; Brener & Protomastro 1992; Brener 1993), outros tratam de aspectos como ritmo diário e sazonal de atividade (e.g. Wetterer 1990), influência dos fatores ambientais no padrão de forrageamento (e.g. Lewis et al. 1974b; Gamboa 1976; Maciel et al. 1995), distribuição de espécies de plantas atacadas ao longo das trilhas e estratégias territoriais (e.g. Brener & Sierra 1993), padrão de movimentação ao longo das trilhas (e.g. Forti et al. 1984) e impacto da atividade forrageira no fluxo de energia dos ecosistemas (e.g. Lugo et al. 1973). Neste trabalho, procurou-se investigar a relação entre o padrão diário de forrageamento da formiga Atta sexdens e os fatores ambientais temperatura e umidade relativa do ar. MATERIAL E MÉTODOS Este estudo foi realizado na Reserva Ecológica do IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, também conhecida como RECOR. A área constitui-se numa das Unidades de Conservação Permanentes do Bioma Cerrado e está situada a 35Km ao sul do centro de Brasília, entre 15€ 56'41"S e 47o53'07''W. A RECOR está localizada na Chapada Brasília, com uma altitude média de 1100 metros. O clima local é estacional, com duas estações bem definidas: uma seca, de abril a setembro; outra chuvosa, que vai de outubro a março. A vegetação é dividida em ceradão, cerrado, campos, brejos e veredas e matas ciliares. O presente estudo foi realizado numa antiga área de cerrado, atualmente bastante modificada por espécies exóticas. O ritmo de atividade diária de forrageamento de Atta sexdens foi monitorado durante um período de três dias (12, 13 e 14 de março de 1996). Nos dias 12 e 13, não foi possível cobrir 24 horas de observação, devido a fortes chuvas que impediram a atividade das formigas. As medidas foram tomadas em intervalos de uma hora. A cada observação, registrou-se, durante um minuto, o número de formigas que entrava e saía do ninho e coletou-se com uma pinça todo o material vegetal que estava sendo forrageado pelas formigas. Paralelamente, foram tomadas medidas de umidade relativa do ar e de temperatura, utilizando-se um psicrômetro. Nas observações noturnas, utilizou-se uma lanterna de testa, o que pode ter alterado o comportamento das formigas, segundo Hodgson 1955 e Maciel et al. 1995. No laboratório, todo o material vegetal coletado foi seco em estufa a 60oC, durante 24 horas, e o peso seco (biomassa) medido com precisão de 0,01g. 55 RESULTADOS Durante o primeiro dia de observação, a atividade das formigas teve sequência ao longo de todo o dia, tendo sido interrompida por uma forte chuva a partir das 18h. Embora as formigas estivessem ativas durante todo o dia, o forrageamento ocorreu apenas das 7 às 14h. A temperatura oscilou entre 18 e 27 oC, com atividade forrageira em todo o intervalo de temperatura, sendo que os picos ocorreram entre 23 e 27oC. A umidade do ar variou entre 61 e 90% ao longo do dia, com pico de forrageamento entre 61 e 74%. Os picos de forrageamento aconteceram entre as 12 e 14h. No segundo dia de observação, a atividade das formigas foi monitorada das 6 às 19h. A temperatura variou entre 18 e 28oC, com máxima às 15h e mínima entre 6 e 7h. A umidade relativa do ar variou entre 60 e 95%, com màxima às 7h e mínima às 16h. O pico máximo de forrageamento ocorreu às 16h, sob temperatura de 26oC e umidade do ar de 60%. O último dia de observação compreendeu um período de 24 horas de atividade. A temperatura variou entre 16 e 27oC, com máxima às 13h e mínima à zero hora. A umidade do ar oscilou entre 64 e 90%, com máximas entre zero hora e 6h e mínimas entre 12 e 14h. O forrageamento teve seu pico máximo entre 21 e 23h, mas apresentou um pico menor das 2 às 4h. Ao longo dos três dias de observação, verificou-se que no início da manhã houve uma interrupção quase total e, por vezes, total nas atividades das formigas. Este fato pode ser comparado a uma espécie de "mudança de turno", em que um grupo de formigas substitui outro em suas atividades. DISCUSSÃO Os efeitos da temperatura, luminosidade e umidade sobre o comportamento forrageiro de formigas dos gêneros Atta e Acromyrmex tém sido amplamente estudado tanto nos trópicos quanto nas zonas subtropicais e temperadas, porém as conclusões ainda são muito diversas. Hodgson (1955), por exemplo, afirma que o aumento da intensidade luminosa e da temperatura determina o ritmo de atividade da espécie tropical Atta cephalotes. Cherrett (1968), também trabalhando com Atta cephalotes, verificou que as mudanças diárias e sazonais no padrão de atividade forrageira estão relacionadas com a temperatura e a umidade, ao menos em espécies tropicais. Lugo et al. (1973) observaram que Atta colombica tem seu pico de forrageio ao meio dia, quando as temperaturas são mais elevadas. Em Acromyrmex versicolor versicolor, Gamboa (1976) constatou que a temperatura do solo, mais que a temperatura do ar, determina a presença ou ausência de atividade de formigas na superfície, assim como o término do forrageio. Porém, ele observou que outros fatores como umidade e intensidade luminosa podem estar agindo conjuntamente para provocar tais respostas. Mintzer (1979) verificou que em Atta mexicana o forrageio se inicia após temperaturas de 12oC e que é interrompido quando a temperatura chega a 14oC. Fowler & Robinson (1979) trabalharam com Atta sexdens no Paraguai e notaram que fatores ambientais como temperatura podem determinar os períodos de forrageamento em formigas do gênero Atta, mas outros fatores como disponibilidade de recursos podem estar envolvidos. Hölldobler & Wilson (1990) dizem que as formigas são extremamente termofílicas; por isso, as variações climáticas são consideradas determinantes de seus ritmos forrageiros, especialmente nos climas subtropicais e temperados. Segundo Hölldobler & Wilson (1990), cada espécie de formiga opera numa faixa de temperatura e umidade que funciona como um envelope. Brener (1993) sugere que os padrões de atividades forrageiras de Atta laevigata não são determinados por fatores ambientais, e sim por necessidades nutricionais. Contudo, ele ressalta que fatores climáticos extremos poderiam também ocasionar mudanças nos padrões de forrageio e alguns desses fatores, especialmente temperatura, possuem nos ambientes tropicais um papel mais importante como limitante e/ou disparador do que como regulador da atividade das formigas. Contrariamente, Maciel et al. (1995) atribuem um papel muito importante à temperatura como reguladora da atividade forrageira de Acromyrmex subterraneus subterraneus. Vale notar que a correlação de Spearman realizada por Maciel et al. (1995) mostrou-se positiva e significativa apenas quando relacionava temperatura mínima e número de operárias em atividade. Este resultado pode ser uma evidência de que, conforme sugerido por Brener (1993), a temperatura atua mais como um fator limitante e/ou disparador do que como um regulador. A partir dessas informações, é possível notar o quanto as opiniões relativas ao comportamento forrageiro dos Attini são divergentes. Os resultados obtidos neste trabalho mostram que Atta sexdens forrageia tanto durante o dia quanto à noite, exceto quando chuvas fortes interrompem o forrageamento. A atuação da chuva como bloqueadora da atividade das formigas já havia sido notada por vários pesquisadores (e.g. Hodgson 1955; Lugo et al. 1973; Lewis et al. 1974a, 1974b; Holldobler & Wilson 1990). As medidas relativas à 56 temperatura e à umidade mostram que esta espécie forrageia sob temperaturas que variam de 16 a 28oC, e umidade relativa do ar de 58 a 95%. AGRADECIMENTOS Sou muito grato ao Saulo Marques, por ter cedido o psicrômetro; à Rosane Collevatti, pelo empréstimo do relógio e pela ajuda na análise dos dados; ao Felipe Costa, pelas críticas e sugestões; ao Raimundo Henriques, pela orientação e auxílio com bibliografia; à June Springer de Freitas, por ter permitido o uso do seu computador e, por fim, ao pessoal do IBGE, por ter viabilizado a realização do Curso de Campo em sua Reserva Ecológica.. REFERÊNCIAS BRENER, A. J. F. 1993. Influencia de la estacionalidad sobre los ritmos forrajeros de Atta laevigata (Hymenoptera: Formicidae) en una sabana tropical. Revista de Biologia Tropical 41: 897-899. BRENER, A. J. F., AND PROTOMASTRO, J. 1992. Patrones forrajeros de dos especies simpatricas de hormigas cortadoras de hojas (Attini, Acromyrmex) en un bosque subtropical. Ecotropicos 5: 32-43 BRENER, A. J. F., AND SIERRA, C. 1993. Distribution of attacked plants along trails in leaf-cutting ants (Hymenoptera: Formicidae): consequences in territorial strategies. Revista de Biologia Tropical 41: 891-896. CHERRETT, J. M. 1968. The foraging behaviour of Atta cephalotes L. (Hymenoptera: Formicidae): I. Foraging pattern and plant species attacked in tropical rain forest. Journal of Animal Ecology 37: 387-403. DELLA LUCIA, T. M. C., AND OLIVEIRA, M. A. 1993. Forrageamento. In T. M. C. Della Lucia (Ed.). As formigas cortadeiras, pp.84-105. Folha de Viçosa, Viçosa, Minas Gerais. FORTI, L. C., SILVEIRA-NETO, S., AND PEREIRA-DA-SILVA, V. 1984. Atividade forrageira de Atta sexdens rubropilosa Forel, 1908 (Hymenoptera, Formicidae): fluxo e velocidade dos indivíduos na trilha, caracterização dos indivíduos forrageiros e duração e número de jornadas de coleta de vegetais. Revista Brasileira de Entomologia 28: 275-284. FOWLER, H. G., AND ROBINSON, S. W. 1979. Foraging by Atta sexdens (Formicidae: Attini): seasonal patterns, caste and efficiency. Ecological Entomology 4: 239-247. GAMBOA, G. J. 1975. Foraging and leaf-cutting of the desert gardening ant Acromyrmex versicolor versicolor (Pergande) (Hymenoptera: Formicidae). Oecologia (Berlin) 20: 103-110. GAMBOA, G. J. 1976. Effects of temperature on the surface activity of the desert leaf-cutter ant, Acromyrmex versicolor versicolor (Pergande) (Hymenoptera: Formicidae). American Midland Naturalist 95: 485-491. HODGSON, E. S. 1955. An ecological study of the behaviour of the leaf-cutting ant Atta cephalotes. Ecology 36: 293-304. HÖLLDOBLER, B., AND WILSON, E. O. 1990. The ants. Harvard University Press, Cambridge. LEWIS, T., POLLARD, G. V., AND DIBLEY, G. C. 1974a. Rhythmic foraging in the leaf-cutting ant Atta cephalotes (L.) (Formicidae: Attini). Journal of Animal Ecology 43: 129-141. LEWIS, T., POLLARD, G. V., AND DIBLEY, G. C. 1974b. Micro-environmental factors affecting diel patterns of foraging in the leaf-cutting ant Atta cephalotes (L.) (Formicidae: Attini). Journal of Animal Ecology 43: 143-153. LUGO, A. E., FARNWORTH, E. G., POOL, D., JEREZ, P., AND KAUFMAN, G. 1973. The impact of the leaf cutter ant Atta colombica on the energy flow of a tropical wet forest. Ecology 54: 1292-1301. MACIEL, M. A. F., DELLA LUCIA, T. M. C., ARAÚJO, M. S., AND OLIVEIRA, M. A. 1995. Ritmo diário de atividade forrageadora da formiga cortadeira Acromyrmex subterraneus subterraneus Forel. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil 24: 371-378. MARICONI, F. A. M. 1970. As saúvas. São Paulo, Editora Agronômica CERES. 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Hamadryas feronia L. é uma espécie de ampla distribuição, encontrada desde o sul dos EUA (Ehrlich & Ehrlich, 1961), passando pela América Central (DeVries, 1987) e chegando ao sul do Brasil (Brown, 1992). Não há dimorfismo sexual e a distinção entre machos e fêmeas depende do exame da genitália. Os adultos se alimentam de frutos e seiva fermentados (Brown, 1992) e as larvas utilizam como hospedeiras plantas da família Euphorbiaceae, notadamente espécies dos gêneros Dalechampia Plum. e Tragia Plum. (DeVries, 1987; Brown, 1992). Como de resto acontece com todas as espécies dos gênero, machos e fêmeas de H. feronia pousam de cabeça para baixo e com as asas abertas sobre o tronco de árvores. Nessas circunstâncias, um indivíduo pode facilmente passar desapercebido. Quando perturbada, uma borboleta em repouso pode exibir um vôo breve, retornando ao mesmo tronco, ou, se a perturbação for brusca ou persistente, ela pode abandonar seu sítio original e, depois de um vôo errático, pousar em outro substrato mais ou menos próximo. Nesse trabalho, eu apresento os resultados de um programa de captura-marcação-recaptura (CM-R) com uma população (sensu Brown & Ehrlich, 1980) de H. feronia. Os resultados obtidos mostram que (1) pelo menos a curto prazo, machos e fêmeas podem permanecer fiéis e restritos a uma área de vida reduzida; (2) entre os machos, o grau de dano nas asas influencia o acesso a uma fonte potencial de alimentação e, talvez indiretamente, a sua probabilidade de acasalamento. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho de campo foi realizado, entre os dias 11 e 14 de março de 1996, na Reserva Ecológica do IBGE (15˚50’ S e 47˚50’ W), Brasília, DF. Um sítio de estudo foi estabelecido em torno de uma árvore de “ipê-roxo”, Tabebuia impetiginosa (Mart. ex DC) Standl. (Bignoniacae), plantada à margem de uma estrada asfaltada dentro da Reserva. Essa árvore, com ca. 3,5 m de altura, estava com uma ferida na base do tronco que atraia muitos visitantes: abelhas, vespas, drosófilas, mariposas, um besouro Curculionidae e, além de H. feronia, pelo menos 7 espécies de borboletas, com destaque para uma borboleta “80”, Callicore (= Catagramma) sorana (Godart), e uma “canoa-azul”, Prepona laertes (Hübner). Aproveitando a descontinuidade da 2 vegetação, eu delimitei uma “ilha”, com ca. 1950 m , em torno da árvore de T. impetiginosa (doravante referida apenas como “ipê”), contendo 85 “troncos” (arbustos e árvores, as mais altas com 8-9 m de altura, além de 3 postes de iluminação) e afastada de ilhas vizinhas por trechos de vegetação predominantemente herbácea. Além de um certo isolamento, o local foi escolhido pela aparente facilidade de se encontrar indivíduos de H. feronia. Há registros de que outras espécies de Hamadryas ocorrem dentro da Reserva (Ferreira, 1982), mas nenhuma delas foi vista durante a realização desse trabalho. Outras duas agregações de H. feronia foram notadas nas proximidades do sítio de estudo: a primeira (A-50), distante ca. 50 m na direção NE, e a segunda (A-240), distante ca. 240 m e em torno do alojamento da Reserva; além disso, apenas mais 2 indivíduos foram observados a ca. 70 m na direção SW. Depois de iniciado esse trabalho, ca. 15 borboletas foram capturadas e/ou observadas nessas agregações, mas nenhum indivíduo havia sido anteriormente capturado no sítio de estudo. A única evidência direta de movimentação entre essas áreas foi a recaptura de um macho (#22), no dia 14, nas proximidades de A-50. Contudo, menos de 2 horas depois, ele foi novamente capturado no limite nordeste do sítio de estudo. No último dia de trabalho de campo, eu medi a posição dos troncos em relação à estrada e fiz um mapa detalhado do local. Sobre o mapa, e considerando apenas os 24 troncos nos quais houve pelo menos uma captura, foram calculadas as distâncias entre troncos vizinhos (os lados de um polígono ligando todos os 24 troncos) e a distância de cada tronco em relação ao ipê. Para a captura das borboletas dentro do sítio de estudo, foi estabelecida uma rotina de inspeção, tomando-se o ipê como ponto de partida. No início de cada inspeção, eu registrei a hora do dia, as espécies e o número de borboletas pousadas no ipê. Ao final, foram executadas 55 rotinas de inspeção pela manhã e à tarde (exceto no dia 12, quando o turno da tarde foi suspenso com a chegada das chuvas). Na noite do dia 11, foi feita uma rápida visita ao local. 58 Durante as inspeções, eu evitei capturar borboletas que não estivessem pousadas, com exceção daquelas capturadas voando em torno do ipê (nesse caso, eu evitei capturar as borboletas exibindo “vôos de perseguição”, muitas vezes envolvendo 3 ou 4 indivíduos). Borboletas em fuga, depois de uma primeira tentativa de captura malsucedida, foram perseguidas e eventualmente capturadas até uma distância de ca. 10 m do tronco original. Para cada borboleta capturada, eu registrei o tronco de pouso, o estado das asas (numa escala de 1 a 5, de acordo com a quantidade de danos) e o sexo. A avaliação do estado das asas visou, basicamente, estimar a proporção da superfície perdida e não o seu estado de descamação ou senescência. Embora houvesse um componente temporal no acúmulo de danos, alguns fatores podem ter reduzido bruscamente a superfície útil das asas. Por exemplo, em duas ocasiões, eu flagrei lagartos sobre árvores com borboletas pousadas e desconfio que certos danos (particularmente na base das asas anteriores) tenham sido produzidos durante investidas desses predadores. Machos e fêmeas começaram a ser reconhecidos com segurança apenas na manhã do dia 12 e os indivíduos capturados antes disso foram classificados quanto ao sexo na primeira recaptura. Na primeira captura, as borboletas receberam uma marca e um número nos dois lados das asas anteriores (escritos com uma caneta Pilot vermelha de ponta fina), tomando-se o cuidado de não atrapalhar o padrão de camuflagem. O tempo de retenção na primeira captura de cada borboleta foi cronometrado e elas foram liberadas no ponto exato em que foram encontradas ou defronte do tronco em que estavam pousadas. Eu não registrei o comportamento das borboletas após a liberação, mas em algumas ocasiões elas voltaram a pousar sobre o tronco original. Utilizando o mapa feito para o sítio de estudo, foram calculados dois parâmetros da movimentação dos indivíduos recapturados: (1) di: a distância percorrida pelo indivíduo i entre a primeira e a segunda capturas (di1), entre a segunda e a terceira (di2), e assim por diante. Para as recapturas no mesmo tronco, d= 0; (2) D1: a distância total percorrida pelo indivíduo i, que foi igual à soma dos seus valores de d. Para as borboletas recapturadas apenas uma vez, Di= di1. Como um teste preliminar, eu investiguei se o tempo de retenção (tR) afetou os parâmetros de movimentação das borboletas recapturadas. Para isso, foi feita uma análise de regressão linear (mínimos quadrados) entre tR vs. di1 e tR vs. Di. Nenhuma das análises produziu índices significativos (maior valor absoluto de t= 0,95; P > 0,3; mantendo-se H0: b= 0), mesmo quando os valores iguais a zero (i.e., di1 ou Di= 0) foram ignorados (maior valor absoluto de t= 0,79; P > 0,4). Esses resultados mostram que a variação registrada em tR (amplitude: 51-282 sec; média= 118 sec; N= 61) não foi suficiente para afetar a movimentação das borboletas posteriormente recapturadas. Em outras palavras, o “trauma” da captura parece não ter alterado a probabilidade de recaptura dos indivíduos (mas veja Morton, 1984) e, sendo assim, o tempo de retenção foi excluído das análises posteriores. Como um exemplo, circunstancial e drástico dessa conclusão, vale registrar sobre um casal capturado em cópula no dia 13. Após a captura (16:15 h), a fêmea (#58) e o macho (#59) permaneceram retidos por ca. 90 min (na sombra, dentro de um saco de papel). Depois disso, eles foram marcados e liberados e, embora o macho não tenha sido reencontrado, a fêmea foi recapturada no dia seguinte, próxima ao ponto de liberação. Os testes estatísticos empregados nesse artigo seguem Siegel (1971) e Sokal & Rohlf (1981). Os valores críticos obtidos foram comparados com valores tabelados fornecidos por Fisher & Yates (1971) e Rohlf & Sokal (1981). O valor crítico obtido para o teste-G foi submetido, quando apropriado (veja Sokal & Rohlf, 1981, p. 704 e 727), a uma correção pelo método de Williams. No que se segue, “g.l.” indica os respectivos graus de liberdade. RESULTADOS Esforço de Amostragem Durante os 4 dias de trabalho de campo, foram capturados 64 indivíduos de H. feronia dentro do sítio de estudo: 28 fêmeas (F), 27 machos (M) e 9 cujo sexo permaneceu desconhecido (?) (2 na Tabela I). O número de capturas aumentou com o esforço de amostragem, de tal modo que o “tempo de espera” para uma captura foi semelhante em 3 dos 4 dias (4 na Tabela I). No dia 13, a redução no tempo de espera provavelmente refletiu um aumento no nível de atividades das borboletas, depois de um dia (12/III) parcialmente chuvoso. Nos períodos sem chuvas, o nível de atividade, como medido pelo número de borboletas encontradas no ipê, se manteve ao longo do dia, com um aumento acentuado apenas no final da tarde (Fig. 2). Levando em conta todas as recapturas, 53% das borboletas (34/64: 16F + 14M + 4?) foram reencontradas pelo menos uma vez, em 82 episódios de recaptura (3 na Tabela I). Deixando de lado as recapturas no mesmo dia, 51% das borboletas marcadas nos 3 primeiros dias (29/57: 13F + 12M + 4?) foram reencontradas pelo menos uma vez nos dias seguintes, em 43 episódios de recaptura (Tabela 59 II). Com esses resultados, e admitindo uma razão sexual de 1:1 (veja adiante), foi possível estimar o tamanho da população dentro do sítio de estudo. Usando o Índice de Lincoln-Petersen, o tamanho final estimado foi de 79 borboletas (Tabela II). Essa estimativa está muito próxima do número de troncos no local (85) e levanta a suspeita de que um limite superior ao número de indivíduos residentes foi imposto pelo número de troncos disponíveis. Uma suspeita que é reforçada se comparamos o número de capturas em diferentes setores dentro do sítio de estudo (Fig. 1). Razão Sexual As proporções finais de machos (27/55) e fêmeas (28/55) capturados suportam facilmente a hipótese de uma razão sexual de 1:1. Além disso, a proporção de machos e fêmeas recapturados ao menos uma vez foram semelhantes, não importando se a comparação incluía (14/27 M e 16/28 F; G= 0,15; P > 0,5) ou não (12/25 M; 13/23 F; G= 0,35; P > 0,5) recapturas no mesmo dia. Em outras palavras, machos e fêmeas foram igualmente abundantes e igualmente prováveis de serem recapturados, indicando semelhanças comportamentais entre indivíduos dos dois sexos. Nos 3 dias com amostragens pela manhã e à tarde (o que exclui o dia 12), a proporção de capturas envolvendo machos e fêmeas oscilou (2 e 3 na Tabela I), mas sem nenhum desvio significativo de uma razão sexual de 1:1. Houve, entretanto, uma diferença consistente entre os sexos quanto ao principal turno de amostragem (manhã vs. tarde): 71% (40/56) das capturas de machos aconteceram pela manhã, enquanto, no mesmo período, foram feitas apenas 44% (27/61) das capturas envolvendo fêmeas. Para os machos, mas não para as fêmeas, esse resultado é significativamente diferente do esperado sob a hipótese de igualdade no número de captura nos dois turnos (Tabela III). Isso mostra que a “disponibilidade” dos machos efetivamente diminui durante o dia, talvez por eles terem reduzido seu nível de atividades, permanecendo mais tempo em “refúgios” (dentro ou fora do sítio de estudo). Movimentação A movimentação de machos e fêmeas dentro do sítio de estudo, medida pelos parâmetros d e D, foram semelhantes. A distância total percorrida pelos machos (DM= 43,94 m; s= 29,88 m; N= 14) foi um pouco maior que a das fêmeas (DF= 36,22 m; s= 21,9 m; N= 16), mas a diferença não foi significativa (t= 0,814; P > 0,4). A distância média percorrida entre recapturas foi virtualmente idêntica entre os dois sexos: dM= 16,64 m (N= 37 recapturas) e dF= 16,56 m (N= 35). Esses resultados sustentam a observação feita anteriormente sobre semelhanças comportamentais entre machos e fêmeas. Embora a distância percorrida entre recaptura tenha variado inversamente com o tempo de espera (4 e 5 na Tabela I), sugerindo um efeito da densidade na movimentação diária das borboletas, uma análise de regressão mostrou que essa relação não foi significativa (H0: b= 0; t= -2,64; gl= 2; P > 0,1). Ainda que o reduzido tamanho amostral tenha impedido a descoberta de uma eventual relação entre a densidade e a movimentação das borboletas, devese notar que os resultados dos dois primeiros dias provavelmente representaram subestimativas. Assim, enquanto as médias para os dias 13 e 14 incluíram tanto a distância entre capturas sucessivas no mesmo dia como também a distância percorrida desde a última captura no dia anterior, a média para o dia 11 envolveu apenas a distância entre recapturas naquele dia. Por fim, como já foi notado, no dia 12 o esforço de amostragem esteve restrito ao turno da manhã. Em função dos resultados acima, todos os valores obtidos foram agrupados (machos + fêmeas + desconhecidos) e a distribuição de frequências das distâncias percorridas foi comparada com a distância entre os troncos dentro do sítio de estudo. Se a movimentação das borboletas foi predominantemente uma movimentação entre troncos vizinhos seria de se esperar que as respectivas distribuições mostrassem uma certa concordância. Alternativamente, foi feita uma comparação entre a distribuição de frequências das distâncias percorridas e as distâncias entre os troncos e o ipê. A Figura 3 mostra a distribuição de frequências das distâncias percorridas pelos indivíduos recapturados ao lado das frequências esperadas de acordo com (1) as distâncias entre troncos vizinhos; (2) as distâncias dos troncos em relação ao ipê. Um teste-G para bondade de ajuste mostrou que a distância percorrida pelas borboletas foi muito semelhante à distância dos troncos em relação ao ipê (G= 1,004; gl=2; P > 0,5), mas não em relação à distância entre troncos vizinhos (G= 26,304; gl= 1; P < 0,001), sustentando a interpretação de que a movimentação dentro do sítio de estudo foi principalmente pelo acesso ao ipê. Esse resultado é mais facilmente interpretado se levamos em conta que o ipê foi a única fonte evidente de alimentação para os adultos dentro do sítio de estudo. Danos nas Asa e o Acesso ao Ipê A classificação das borboletas capturadas de acordo com o estado das asas é mostrado na Figura 4. Uma comparação entre machos e fêmeas (teste-U de Mann-Whitney), mostrou que ambos estavam igualmente danificados (t= 0,164; g.l.= 52; P > 0,8). Apesar disso, deve-se notar a presença exclusiva de fêmeas na última classe, supostamente as mais velhas 60 entre todas as borboletas capturadas. Uma dessas fêmeas já tinha perdido metade das asas posteriores quando foi capturada. Agrupando os resultados de machos e fêmeas, uma comparação entre os indivíduos capturados ao menos uma vez no ipê (15/27 M; 18/28 F) contra aqueles que foram capturados apenas nos outros troncos (12/27 M; 10/28 F), produziu resultados distintos. Para as fêmeas, o resultados obtido (U= 83; P > 0,1) indicou que o grau de danos não diferiu entre as borboletas dos dois grupos, enquanto, entre os machos, a diferença encontrada foi significativa (U= 126; P < 0,05) e mostrou que os machos capturados no ipê tinham asas menos danificadas. Aparentemente, os machos com as asas mais danificadas tinham chances reduzidas de acesso e/ou permaneciam menos tempo no ipê. Evidências circunstanciais sugerem que essas borboletas podem permanecer pousadas por períodos prolongados de tempo. Assim, no dia 11, eu cheguei a registrar a permanência de um macho (#15, classe 4 de dano) por quase 6 horas (11:45 até 17:06 h, voando em seguida) num mesmo sítio de pouso. A diferença no estado das asas entre os indivíduos dos dois sexos capturados no ipê levanta a suspeita de que os machos foram mais tolerantes com as fêmeas danificadas, talvez por elas ainda representarem parceiras potenciais. DISCUSSÃO A população estudada de H. feronia pode ser descrita como um conjunto de machos e fêmeas igualmente abundantes e gravitando em torno de uma fonte potencial de alimentação (a seiva do ipê). A presença de indivíduos de H. feronia no ipê durante todo o dia (i.e., entre 8:30 e 17:30 h), ao lado de outras espécies de borboletas e de outros insetos, sugere que a disponibilidade de seiva foi mais ou menos permanente. Além do fluxo de seiva, um limite superior ao número de indivíduos residentes parece ter sido imposto pela disponibilidade de troncos nas proximidades do ipê. Por qualquer dos critérios utilizados (i.e., incluindo capturas no mesmo dia ou não), a taxa de recaptura foi elevada, principalmente se compararmos com os valores normalmente obtidos em estudos com populações de borboletas (e.g., Ehrlich, 1984) e, mais importante, com outros estudos envolvendo espécies de Hamadryas (e.g., Ross, 1963; DeVries, 1983; veja ainda Young, 1974). Como os recursos alimentares normalmente explorados pelos adultos são relativamente efêmeros (i.e., frutos em decomposição) seria de se esperar uma alta vagilidade e, assim, uma probabilidade reduzida de recaptura. No entanto, recursos que permanecem disponíveis por mais tempo podem permitir o estabelecimento de populações com membros mais sedentários, como parece ter sido o caso do presente estudo. A diferença observada na captura de machos, mas não na de fêmeas, de acordo com o turno de amostragem, sugere, num primeiro momento, a existência de padrões distintos na exploração de uma mesma fonte de alimentação. Por outro lado, é possível que essas diferenças tenham sido reflexo de uma hierarquia mais acentuada entre os machos pelo acesso ao ipê (veja Marini-Filho, 1996). Machos com as asas mais danificadas podiam estar reduzindo seu nível de atividades, permanecendo mais tempo empoleirados em "refúgios", dentro ou fora do próprio sítio de estudo. O acesso dos machos ao ipê foi influenciado pelo estado das suas asas, talvez porque os machos com as asas danificadas (i.e., com um tamanho efetivo reduzido) fossem mais frequentemente afastados pelos outros. O acúmulo de danos, além de reduzir o tamanho efetivo das asas, pode alterar sua funcionalidade em determinados contextos, como, por exemplo, em disputas entre machos (veja Otero, 1986; Marini-Filho, 1996). Existem evidências de que o tamanho das asas em Hamadryas afeta o resultado de disputas intra- e interespecíficas pelo acesso a uma fonte potencial de alimento (veja Marini-Filho, 1996). O presente trabalho foi realizado no final da estação chuvosa de Brasília (dezembro a março) e o encontro do casal #58 e #59 (um macho da classe 2 com uma fêmea da classe 5 de danos) indica que as fêmeas ainda estavam receptivas, ao mesmo tempo que sugere que elas são capazes de acasalamentos múltiplos (veja Ehrlich & Ehrlich, 1978). A presença de fêmeas no ipê, a despeito do estado das suas asas, pode ter tido um componente sexual. Sendo mais tolerantes com as fêmeas danificadas, os machos com acesso ao ipê podiam aumentar o número de parceiras potenciais. Por outro lado, se o ipê, além de um sítio de alimentação foi usado como um local para encontro de parceiros, os machos com as asas danificadas tiveram chances reduzidas de acasalamento. BIBLIOGRAFIA BROWN, K.S., JR. 1992. Borboletas da Serra do Japi: diversidade, habitats, recursos alimentares e variação temporal. In: L.P.C. Morellato (Ed.). História Natural da Serra do Japi, p. 142-87. Unicamp, Campinas. BROWN, I.R. & P.R. EHRLICH. 1980. Population biology of the checkerspot butterfly, Euphydryas chalcedona structure of the Jasper Ridge Colony. Oecologia 47: 239-51. 61 DEVRIES, P.J. 1983. Hamadryas februa. In: D.H. Janzen (Ed.). Costa Rican Natural History, p. 729-30. Chicago University Press, Chicago. _____. 1987. 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Estimativas do tamanho da população (Ni) de H. feronia . 11/MAR 13/MAR (b) 12/MAR Marcados (Mi) 0 8 18 Não Marcados 22 7 28 Soma (Ci) 22 15 46 Ni 39,11 71,74 14/MAR 17 7 24 79,17 (a) usando-se o Índice de Lincoln-Petersen, com a correção de Bailey (veja Southwood, 1978), Ni= Ri(Ci + 1) / (Mi + 1); onde Ni é a estimativa para o tamanho da população no dia i; Ri é o total de indivíduos marcados antes do dia i; Ci é o total de indivíduos capturados no dia i; Mi é o número de indivíduos capturados no dia i que já estavam marcados; (b) capturas apenas pela manhã. 63 Tabela III. Capturas envolvendo machos e fêmeas de H. feronia, com teste-G para heterogeneidade sob a hipótese de que metade das capturas diárias aconteceram em cada turno de amostragem. a. Machos manhã tarde g.l. G 11/MAR 13 3 1 6,738 P < 0,01 13/MAR 19 11 1 2,159 P > 0,1 14/MAR 8 2 1 3,855 P < 0,05 40 16 Total 3 12,752 P < 0,01 Agrupado 1 10,626 P < 0,01 Heterogeneidade 2 2,126 P > 0,3 b. Fêmeas manhã tarde 11/MAR 5 4 1 0,111 P > 0,7 13/MAR 11 22 1 3,738 P > 0,1 14/MAR 11 8 1 0,476 P > 0,3 27 34 Total 3 4,325 P > 0,2 Agrupado 1 0,805 P > 0,3 Heterogeneidade 2 3,520 P > 0,1 64 CONSIDERAÇÕES SOBRE A DISPERSÃO SECUNDÁRIA DE SEMENTES DE SOLANUM LYCOCARPUM (SOLANACEAE) POR FORMIGAS. Flávia dos Santos Pinto RESUMO Este trabalho sugere mais um caso de benefício do grupo Attine sobre plantas do cerrado, indicando formigas do gênero Atta como possíveis dispersoras secundárias de Solanum lycocarpum. Na reserva Ecológica do IBGE (Brasília - D.F.) S. lycocarpum (Solanaceae) ocorre associada a ninhos de formigas do gênero Atta (sauveiros). Um censo realizado em cerrado sensu stricto mostrou que dos 23 sauveiros amostrados, 65,2 % possuíam um ou mais indivíduos de lobeira. Apenas 23% dos indivíduos de Solanum estavam sobre sauveiros, e 44,6% estavam associados com outros grupos de formigas. Atta cf. goiana foi observada coletando sementes desta espécie localizadas nas fezes de Chrysocyon brachyurus (Mammalia - Canidae), seu principal dispersor, assim como sementes no fruto. As sementes foram carregadas para dentro do ninho, o que poderia estar explicando a alta ocorrência desta espécie associada à sauveiros. INTRODUÇÃO A dispersão de sementes e o estabelecimento das plântulas representam os estágios mais sensíveis na história de vida de uma planta (Terbogh 1990); sendo essencial para essas duas fases a qualidade do microhabitat onde estas sementes são depositadas (Hladik & Miquel 1990). O comportamento dos dispersores pode determinar o padrão de distribuição dessas sementes e, consequentemente, definir as condições nas quais as plântulas se estabelecerão (Howe 1990; Howe & Smalwood 1982). O consumo de frutos por vertebrados, que ingerem ou não as sementes, tende a dispersá-las em grupos, e em vários locais, levando a uma grande variação de microambientes onde elas são depositadas (Hartgerink & Bazzard 1984). Este locais, entretanto, podem ser propícios ou não para o seu estabelecimento. As sementes descartadas nas fezes são, por vezes, utilizadas por formigas que atuam como pósdispersores (Roberts & Heithaus 1986; Kaspari 1993; Levey & Byrne 1993; Loiselle 1990), causando um rearranjamento delas no ambiente. Esta relocação permite maior variação de microambientes que, muitas vezes, representam sítios seguros para o estalecimento das plântulas (Culver & Beattie 1983; Heithaus 1981; Horvitz & Schemske 1986; Andersen 1988; Levey & Byrne 1993). A dispersão de sementes por formigas, denominada mirmecocoria, não é uma síndrome comum (van der Pijl 1969), tendo sido assumida como uma interação mutualística ainda pouco documentada (Beattie 1985). A mirmecocoria geralmente está relacionada à presença de elaiosomas nas sementes, sendo escassos os estudos sobre a dispersão de sementes de plantas não mirmecócoras, por formigas. Estudos conduzidos por Gottsberger & Silbebauer-Gottsberger (1983) confirmam a baixa ocorrência de mirmecocoria também para o cerrado. Das 271 espécies estudadas apenas 10% tinham formigas como seu dispersor principal. Entretanto 52% apresentaram dispersão zoocórica (realizada por animais, principalmente vertebrados) mostrando a importância da possível utilização das sementes depositadas nas fezes. Essas relações entretanto são pouco conhecidas para o cerrado. Solanum lycocarpum St. Hil. (Solanaceae) é uma espécie arbustiva comum em ambientes perturbados (Sacco et al 1985; Oliveira-Filho & Oliveira 1988), estando entre as espécies de distribuição mais ampla nos Cerrados (Sarmiento 1983). Esta espécie possue frutos grandes, de casca grossa e resistente, com grande quantidade de sementes (de 600 a 800 segundo Lombardi & Motta Junior 1993). Quando maduros caem ao chão sem entretanto romper a casca, estando sujeitos à ação de patógenos. É conhecida comumente como lobeira ou fruta-de-lobo por ser amplamente utilizada na dieta de Chrysocyon brachyurus Illiger (Canidae), o loboguará (Dietz 1984), que é o maior consumidor e provavelmente seu principal dispersor, sendo comum encontrar grande quantidade de sementes nas fezes. Na Reserva Ecológica do IBGE (Brasília D.F.) é comum encontrar indivíduos de S. lycocarpum associados à ninhos de formigas do gênero Atta (sauveiros), tendo sido observado o carregamento de sementes de fezes de lobo-guará por essas formigas (R. P. B. Henriques, comunicação pessoal). O objetivo deste trabalho é determinar as relações existentes entre S. lycocarpum e formigas como possíveis pós-dispersores de suas sementes. MATERIAL E MÉTODOS A coleta de dados foi realizada na Reserva Ecológica do IBGE (RECOR) (15˚ 56’ 41’’ S e 47˚ 53’ 07’’ W) localizada no Distrito Federal à 35 km ao Sul de Brasília. A RECOR faz parte da Área de Proteção Ambiental Gama-Cabeça do Veado e possui uma área de 1350 hectares com a predominância de cerrados e campos. O estudo foi conduzido no período de 11 a 14 de março de 1996. Foi realizado um censo de indivíduos de S. lycocarpum localizados ao longo de estrada de terra 65 (3km), que cerca uma área de cerrado sensu stricto sujeito a queimada bienais. Foram amostrados todos os indivíduos de lobeira, bem como os sauveiros encontrados e registrados a altura da planta, tamanho do sauveiro, ocorrência de associação de um com o outro, e espécies de formigas que possuíam formigueiro localizado embaixo das plantas. Alguns exemplares de cada morfotipo de formiga encontrado foram coletados para posterior identificação. Uma avaliação preliminar das espécies vegetais existentes sobre os formigueiros foi realizada. Um gradeado com dez amostras de fezes frescas de Chrysocyon brachyurus contendo sementes de lobeira foi montado dentro de uma área de cerrado sensu stricto, e cinco ao longo da estrada adjacente, sendo vistoriados a cada uma hora, para a captura de formigas. Porções de fezes de lobo-guará contendo sementes de lobeira também foram oferecidas a Atta cf. goiana, assim como polpa de fruto maduro com sementes a fim de determinar a possibilidade de utilização das sementes nas duas condições. RESULTADOS Censo de Solanum e Formigueiros Foram registrados 65 indivíduos de lobeira e 23 ninhos de saúvas nos 3km de trilha percorridos. S. lycocarpum apareceu 44,6% das vezes associado a formigas. Ocorrendo 23,1% das vezes sobre sauveiros e 21,5% sobre ninhos de outras espécies de formiga não pertencentes ao gênero Atta (Apêndice I), apenas 8,69% possuíam indícios de antigos formigueiros. Em 65,2% dos 23 sauveiros amostrados foram registrados um ou mais indivíduos de lobeira. A altura das lobeiras variou de 30 cm até 4 m, estando a maioria entre 1-2 m. Foram registradas de 1 a 5 plantas nos formigueiros, tendo sido encontrada correlação positiva entre o número de 2 plantas sobre o formigueiro e seu tamanho (r =0,82 p<0,05). O tamanho dos formigueiros variou desde pequenos buracos no chão até montes de terra de 5 m. Não foi encontrada correlação entre o tamanho destes formigueiros e o tamanho das plantas sobre eles. Espécies de Plantas Encontradas Sobre Formigueiros Sete espécies de plantas foram encontradas sobre os sauveiros, além da lobeira. A Tabela 1 mostra a relação das espécies encontradas, sua porcentagem de ocorrência associado a sauveiros, e seu modo de dispersão. S. lycocarpum foi oito vezes mais frequente que a segunda espécie de maior ocorrência. Quatro das espécies apresentaram dispersão endozoocórica realizada por pássaros e/ou mamíferos, duas apresentaram dispersão pelo vento (anemocoria) e uma dispersão autocórica. Nenhuma delas apresentou formigas como seu dispersor principal segundo Gottsberger & SilbebauerGottsberger (1983). Guilda de Formigas Associadas a Fezes Duas subfamílias, quatro tribos, dez gêneros e treze morfotipos de formigas foram observados utilizando fezes de C. brachyurus durante as quatro horas de observação (Apêndice II). Nenhuma espécie de Atta foi coletada durante as observações. Também não foi observado deslocamento das sementes realizado pelas formigas. Espécies de Formigas Associadas a S. lycocarpum Três espécies de formigas foram encontradas nos formigueiros sob S. lycocarpum (Apêndice I): Atta cf. sexdens, Camponotus rufipes e Megalomyrmex sp; tendo sido encontradas utilizando fezes apenas as duas últimas. Oferta de Frutos e Fezes a Atta goiana Foram oferecidas, à Atta cf. goiana, no campo, porções de frutos de lobeira e fezes de loboguará, ambas contendo sementes. As amostras foram colocadas a aproximadamente um metro da entrada do formigueiro. Nos dois casos A. cf. goiana foi capaz de cortar pedaços de fruto e da polpa fibrosa das fezes de C. brachyurus, e carregar as sementes para dentro do formigueiro. Tanto a polpa do fruto, sementes da polpa, massa das fezes quanto as semente das fezes foram utilizados. DISCUSSÃO O censo realizado mostrou uma maior ocorrência de S. lycocarpum sobre sauveiros em comparação com outras plantas do cerrado, nessa área de estudo. Acredita-se que esta relação ocorra devido ao carregamento das sementes de lobeira por estas formigas, entretanto não obtivemos dados conclusivos a este respeito. Observações mostraram que saúvas carregam sementes de S. lycocarpum provenientes de fezes de lobo-guará, o principal dispersor desta espécie e de frutos de Solanum para o interior do ninho. Atta cf. goiana foi a espécie observada carregando as sementes nestas duas condições. Outras espécies do cerrado foram observadas associadas a sauveiros mas nenhuma com frequência comparável à da lobeira. Quais seriam as vantagens para S. lycocarpum ter suas sementes carregadas para um sauveiro? Nutrientes e Mudanças Físicas do Solo Segundo a hipótese do nutriente (Beattie 1985), o solo de ninhos de formigas é diferente 66 química e físicamente do solo à sua volta, podendo diferir em temperatura, porosidade, umidade, pH, conteúdo orgânico e mineral; representando assim, local propício para a germinação e estabelecimento de plântulas. Espécies de Atta e Acromyrmex são conhecidas como promovedoras de acúmulo de matéria orgânica e pelo aumento de nutrientes no solo dos ninhos (Haines 1978; Alvaredo et al. 1981, Brener & Silva 1995), indicando sua importância em ambientes savânicos, uma vez que savanas tropicais estão geralmente associadas a solos pobres (Montgomery & Askewe 1983). Alguns trabalhos tentaram relacionar esta riqueza no solo de formigueiros à facilidade de estabelecimento de espécies de plantas mirmecócoras (Westoby et al. 1991;Culver & Beattie. 1980, 1983; Horvitz & Schemske 1986; Davidson & Morton 1981), entretanto dados conclusivos sobre esta hipótese ainda não foram obtidos. Outra característica dos sauveiros é de provocar mudança físicas além de químicas no solo, o que facilitaria o crescimento de estruturas vegetais, tendo sido observado um aumento na biomassa de raízes encontradas nos ninhos destas formigas em comparação com o solo adjacente (Moutinho 1995; Nepstad et al. 1995; Brener and Silva 1995). Estas mudanças físicas e químicas poderiam estar influenciando a germinabilidade e o estabelecimento de S. lycocarpum sobre formigueiros. Trabalhos conduzidos por Lombardi & Motta Junior (1993) mostram um aumento na porcentagem de sementes germinadas em solo retirado de áreas perturbadas, em comparação com solos do cerrado, entretanto as características do solo destas áreas perturbadas não são mencionadas no artigo. Fuga Contra Predação e Patógenos Durante o censo de formigueiros foi comum encontrar sementes localizadas na entrada dos ninhos, entretanto nenhuma semente de S. lycocarpum foi encontrada nesta condição. Sementes nesta condição desprotegida estariam mais suceptíveis ao ataque por predadores (O’Dowd & Hay 1980, Heithaus 1981), e por fungos patógenos (Augspurger 1990). Os frutos de S. lycocarpum quando não consumidos são utilizados por uma série de insetos que facilitam a entrada de patógenos, sendo bastante comum encontrar frutos completamente atacados por fungos. Testes de viabilidade das sementes (teste de tetrazólio) de frutos coletados no chão em alto grau de decomposição mostraram que apenas 42% das sementes se mostraram viáveis, enquanto que sementes retiradas de fezes frescas de C. brachyurus mostraram 82% de viabilidade. O mesmo teste realizado com frutos maduros recém coletados mostrou aproximadamente 100% de viabilidade das sementes (F. Borghetti comunicação pessoal), sugerindo que o ataque deste patógenos poderiam estar afetando a viabilidade das sementes. As observações de saúvas carregando sementes de S. lycocarpum para o interior do ninho, a ausência de sementes dessa planta na entrada dos ninhos e o grande número de plantas sobre sauveiros sugere que as sementes permaneçam protegidas e podem germinar dentro ou sobre o monte de terra sobre os sauveiros. A ocorrência de sementes de espécies do cerrado na abertura de formigueiros é bastante alta. Durante o período de realização deste trabalho foi comum encontrar várias sementes de Emmotun nitens (Icacinaceae) na abertura de formigueiros localizados próximo à planta, assim como de outras espécies não identificadas. Vantagens da Dispersão Secundária para S. lycocarpum A dispersão secundária de sementes de S. lycocarpum por formigas traz uma série de vantagens à espécie. Duas delas já foram citadas: a fuga contra predadores e patógenos, e a deposição das sementes em ambiente favorável à germinação e ao estabelecimento das plântulas. C. brachyurus, o principal dispersor de S. lycocarpum, deposita suas fezes preferencialmente sobre rochas, cupinzeiros e estradas ou trilhas (34,7%, 27,8% e 27,3%, respectivamente, segundo Dietz 1984). Depositando, portanto, as sementes descartadas nas fezes sobre substratos pouco propícios para a germinação. A dispersão secundária por formigas possibilitaria o deslocamento dessas sementes para ambientes mais seguros, além de possibilitar o rearranjo das sementes, que são depositadas em grupos nas fezes. Algumas desvantagens poderiam surgir com a associação de formigas com S. lycocarpum como, por exemplo, herbivoria. As formigas do gênero Atta são particularmente conhecidas como formigas cortadeiras, representando uma ameaça ao estabeleciemento de plantas sobre formigueiros. Entretanto S. lycocarpum possue grande quantidade de pêlos nas folhas, mesmo nas mais jovens, além da presença de alcalóides nas folhas (Ribeiro & Machado 1950), dificultando ou mesmo impedindo sua utilização pelas formigas, o que poderia estar explicando sua alta ocorrência sobre formigueiros. Associações Benéficas Entre Attini e Plantas A existência de relações frouxas entre formigas e sementes começa a ser investigada para o grupo Attini. Oliveira et al. (1995) apresenta um exemplo de interação entre Micocepurus goeldii e sementes de Hymenaea courbaril (Caesalpiniaceae), no sudeste do Brasil, como coadjuvantes na 67 sobrevivência das sementes encontradas em mata de galeria, onde estão sujeitas à infestação por fungos dependendo da quantidade de polpa deixada pelos dispersores primários. Os autores mostraram o primeiro caso benéfico causado por este grupo como facilitadora da germinação de sementes. Levantam também a hipótese de que outras espécies do grupo Attini promovam benefícios similares a outras plantas. Os resultados mostrados neste trabalho sugerem uma relação benéfica entre Atta cf. goiana, e provavelmente outras espécies do grupo Attine, sobre o estabelecimento e possivelmente sobre a germinabilidade de S. lycocarpum. Seleção de Substratos Pelo Gênero Atta Novas considerações surgiram com este trabalho sobre a seleção de substratos para o crescimento de fungos para o gênero Atta que é considerado como utilizador exclusivo de flores e folhas (Holldobler & Wilson 1990). Roberts & Heithaus (1986) mostram a utilização de frutos por Atta sexdens. Este trabalho é o primeiro a mostrar a utilização de fezes por Atta sp e confirma a utilização de frutos para este gênero. AGRADECIMENTOS Este trabalho foi realizado durante o curso “Métodos em Ecologia de Campo” do Curso de Pósgraduação em Ecologia da Universidade de Brasília. Meu muito obrigado ao Prof. Raimundo P. B. Henriques pela organização do curso, e pela idéia inicial que resultou neste trabalho. Ao Prof. Paulo S. Oliveira pelo esclarecimento quanto à metodologia e estímulo. À Profa. Helena C. de Moraes pelas aulas sobre formigas e críticas ao manuscrito. Ao Prof. Fabian Borghetti pelas aulas sobre sementes e apoio aos meus “excessos” de criatividade. À Inara R. Leal pela identificação de Atta cf. goiana. Ao Carlos A. Bianchi pela ajuda no campo e sugestões metodológicas. Ao Delano M. S. Silva e Fernanda P. Pinheiro pelas críticas ao manuscrito. BIBLIOGRAFIA ALVAREDO, A., C. W. BERISH, & F. PERALTA. 1981. Leaf-cut ant (Atta cephalotes) influence on the morphology of andepts in Costa Rica. Soil Sci. Soc. Am. J. 45: 790-794. ANDERSEN, A. N. 1988. Dispersal distance as a benefit of myrmecochory. Oecologia 75: 507511. AUGSPURGER, C. K. 1990. The potencial impact of fungal pathogens on tropical plant reproductive biology. In: Reproductive ecology of tropical forest plants. 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SUBFAMÍLIA FORMICINAE Tribo Camponotini Camponotus rufipes SUBFAMÍLIA MYRMICINAE Megalomyrmex sp 1. Tribo Attini Atta sexdens APÊNDICE II. Lista de formigas encontradas utilizando fezes de C. brachyurus. SUBFAMÍLIA FORMICINAE Tribo Camponotini Camponotus rufipes Camponotus sp.1 Camponotus sp.2 SUBFAMÍLIA MYRMICINAE Allomerus sp. Megalomyrmex sp. 69 Tribo Cephalotini Cephalotes attratus Tribo Attini Acromyrmex sp. Trachymyrmex sp. Tribo Crematogastrini Crematogaster sp. Tribo Myrmicini Pheidole sp. Pheidole sp. 1. Pheidole sp. 2. 70 PADRÃO DE ATIVIDADE DO MICOESTRELA (CALLITHRIX PENICILLATA) NO CERRADO DENSO E CERRADÃO DA RESERVA ECOLÓGICA DO IBGE, BRASÍLIA, DF Guilherme H. B. de Miranda RESUMO A família Callitrichidae de primatas Platyrrhini possui adaptações (porte reduzido, dentição especializada, presença de garras, etc.) ligadas à ocupação pioneira de nichos, ocorrendo em quase todos os hábitats arbóreos neotropicais. O único primata encontrado no cerrado (excluindo-se as matas ciliares) é o Callithrix penicillata (micoestrela). O objetivo deste trabalho foi comparar as atividades desempenhadas por esta espécie singular em diferentes feições de cerrado. Durante quatro dias, na Reserva Ecológica do IBGE foram realizadas observações (ecologia e comportamento) de dois grupos naturais de C. penicillata (um grupo composto por oito indivíduos habitando uma área de cerrado denso e o outro, com quatro membros, ocupando uma mancha de cerradão). Foram feitos registros individuais por varredura a cada cinco minutos e registros oportunísticos sempre que possível. No cerrado denso, foi usado como alimento pelos sagüis o exsudato proveniente de quatro espécies: Vochysia thyrsoidea, Didymopanax macrocarpum, Qualea grandiflora e Qualea parviflora. No cerradão, foi observado apenas o uso da goma de V. thyrsoidea. Em ambos os ambientes, a maior parte da atividade registrada foi locomoção (57% para o cerrado denso e 50% no cerradão). Os animais passaram a maior parte do tempo no estrato médio (altura entre 2 e 5 metros). A atividade de C. penicillata não diferiu muito nos dois hábitats, exceto pela maior porcentagem de locomoção na área de cerrado denso. INTRODUÇÃO Os calitriquídeos dos gêneros Callithrix e Cebuella possuem a dentição adaptada para a exploração alimentar de exsudatos vegetais (seiva e goma). Esses dois gêneros de calitriquídeos são os únicos primatas que danificam ativamente árvores gumíferas a fim de estimular a liberação dos exsudatos (Lacher et al, 1984). São encontrados em quase todos os hábitats arbóreos neotropicais. O gênero Callithrix é o único encontrado tanto na Mata Atlântica quanto na Amazônia, bem como no cerrado e caatinga, que separam os dois grandes biomas florestais brasileiros. A comunidade de primatas das matas do cerrado do Planalto Central é constituída por três espécies: Callithrix penicillata, Cebus apella e Alouatta caraya. Destas espécies, somente C. penicillata tem sua presença registrada em formas fisionômicas mais abertas do cerrado (cerrado s.s. e cerradão) o que foi atribuído a seu alto potencial adaptativo resultante da gumivoria (Fonseca e Lacher, 1984). O cerradão é a forma fisionômica mais alta de cerrado, fisionomicamente florestal, com dossel fechado de 7 m ou mais de altura e 30% ou mais de cobertura, ou arvoredo, com dossel aberto da mesma altura (Eiten, 1993). Na região dos cerrados, o cerradão está presente em manchas com solos mesotróficos, podendo ocorrer também em solos distróficos caso seu estabelecimento tenha ocorrido anteriormente ao empobrecimento do solo (Haridasan, 1992) ou como sucessão arbórea (por adensamento) a um cerrado sensu stricto sujeito a longos períodos (vários anos) sem fogo. Callithrix penicillata é uma espécie de hábitos diurnos, que vive em grupos familiares de 5 a 15 membros, insetívoro/gumívoro, com alto índice de sucesso ecológico, sendo considerado um ectoparasita de árvores (Lacher et al, 1984). A dieta de exsudatos, de baixo valor nutritivo, mas muito abundantes, permite suprir a escassez local e/ou sazonal de recursos de maior qualidade nutritiva (insetos, outras presas animais e frutos). MATERIAL E MÉTODOS O presente estudo foi conduzido, entre os dias 11 e 14/03/96, na Reserva Ecológica do IBGE RECOR (15˚56’41” S e 047˚53’07” W), que conta com cerca de 1350 ha de área, situada no km 0 da BR-251, que liga Brasília a Unaí, 35 km ao sul do centro da capital federal. O relevo local é suave e a altitude média é de 1100 metros. As observações de campo restringiram-se a duas áreas: uma mancha de cerradão distrófico (cerca de 10 ha) que ocorre no extremo sudeste da reserva e parte ( 3 ha) de um trecho de cerrado denso (protegido do fogo por mais de 22 anos) ao sul das construções da sede da reserva (Figura 1). Durante todo o período iluminado de cada um dos quatro dias de observação, um grupo de C. penicillata foi acompanhado em uma das áreas, desde o momento em que foi avistado (a partir das 6 hs. e 22 min.) até o fim das atividades diárias (por volta de 18 hs.), sendo determinados o tamanho do grupo e o número de membros em cada faixa etária (adulto, juvenil e infantil). Foram também feitos registros comportamentais por varredura de todos os indivíduos do grupo, a cada 5 minutos e registros oportunísticos sempre que possível (Altmann, 1974). As categorias comportamentais consideradas nos registros de varredura foram: locomoção (deslocamento individual vertical ou horizontal), descanso (qualquer posição em que o indivíduo permaneça sem deslocamento), escarificação 71 (produzir ou ampliar ferida na casca/câmbio de árvore gumífera, com o uso dos dentes, lamber e ingerir o exsudato resultante) e alimentação (ingestão de outros itens da dieta, como insetos, frutos, folhas, etc.). A altura do animal observado em relação ao solo foi estimada em um de três níveis pré-definidos (baixo, até dois metros de altura; médio, de 2 a 5 metros e alto, mais de 5 metros de altura). Desta forma, foram feitos 90 registros de varredura do nível de altura dos micos-estrela. Os itens alimentares consumidos foram anotados. Considerando em conjunto os quatro dias de observação e ambos os grupos observados, os animais foram vistos durante 9 horas e 8 minutos, totalizando 27% do tempo no campo (548/2029 minutos). O grupo do cerrado denso foi acompanhado por mais tempo (6 h e 53 min), correspondendo a 28% (413/1474 minutos) do esforço de observação para este grupo. Já o grupo do cerradão foi observado por apenas 2 h e 14 min, ou seja, cerca de 24,3% do tempo de observação do grupo (134/555 minutos). Como os esforços de observação em cada local foram bastante distintos (totalizando 1474 minutos para a área de cerrado denso e apenas 555 minutos para a área de cerradão), a fim de permitir uma comparação equilibrada entre os resultados obtidos, os registros do cerradão foram multiplicados por um fator de equiparação de esforço amostral (f), que consiste na razão entre os tempos de observação em cada área de estudo (f= 1474/555= 2.656). RESULTADOS No cerrado denso, o grupo de C. penicillata observado contava com oito indivíduos: cinco adultos, dois juvenis e um infantil. Um dos machos adultos possuía apenas metade da cauda. No cerradão, apenas quatro indivíduos compunham o grupo: um casal adulto, um filhote juvenil macho e um infantil de sexo indeterminado. Os sagüis utilizaram exsudatos de pelo menos quatro espécies arbóreas de duas famílias durante este estudo (Tabela 1). Na área de cerrado denso, Didymopanax macrocarpum e Vochysia thyrsoidea foram as espécies observadas com sinais de escarificação dos troncos e ramos, ao passo que, no cerradão, a escarificação e o consumo de goma foram vistos apenas em V. thyrsoidea, espécie bastante abundante nesta forma fisionômica. Mesmo considerando a ponderação dos valores obtidos para o cerradão de acordo com o fator de equiparação de esforço amostral, nas quatro categorias comportamentais observadas, o número de registros do grupo do cerrado denso foi maior que o do grupo do cerradão (Fig. 2). Para o grupo do cerrado denso, o número de registros de varredura obtidos na categoria locomoção correspondeu a 57% (193 registros) do total. No caso do cerradão, exatamente 50% (82) dos registros foram locomoção, ou seja, de uma maneira geral, em ambos os grupos, os sagüis locomoviam-se a maior parte do tempo observado. É possível notar ainda que a participação da categoria descanso no grupo que habita o fragmento de cerradão (66 registros) foi maior (40% das atividades do grupo) em relação ao grupo do cerrado denso (33% para descanso). Devido ao pequeno número obtido de registros de altura, estes foram analisados em conjunto, independentemente do hábitat. Na maior parte das vezes (60,0%), os animais foram avistados no nível médio, ou seja, numa altura entre 2 e 5 metros. O segundo nível mais freqüentado foi o nível alto (altura igual ou superior a 5 metros), correspondendo a 26,7% dos registros obtidos. Por último, o nível baixo (menos de 2 metros de altura) com apenas 13,3% dos registros. Esta tendência de ocupação espacial ocorreu nas diversas categorias comportamentais observadas. (Tabela 2). DISCUSSÃO Fonseca e Lacher (1984) indicaram para C. penicillata no cerradão, que mais de 70% do tempo total gasto com alimentação relacionou-se com consumo de exsudato. No presente trabalho, o valor encontrado foi 83% para o cerradão e 78% para o cerrado denso. O grupo que ocupa a área de cerradão parece ser recente, o que é evidenciado pelo seu pequeno tamanho (somente quatro indivíduos) e pela composição (com apenas dois indivíduos adultos). Esta possibilidade se encaixa com o fato do local ter sido submetido à grande queimada do final de 1994. O menor tamanho deste grupo explica a menor quantidade de registros de varredura obtida mesmo com a utilização do fator de equiparação. Uma explicação para o maior deslocamento do grupo do cerrado denso em relação aos animais do cerradão é uma menor concentração espacial dos recursos alimentares (goma/insetos) no primeiro hábitat em relação ao segundo. De acordo com a literatura (Queiroz, 1991; Ferrari, 1995), C. penicillata é um primata que ocupa preferencialmente o extrato inferior da vegetação, onde há mais fontes alimentares (insetos, pequenos frutos e árvores gumíferas) e onde estão mais protegidos dos seus predadores mais comuns (aves de rapina). Todavia, os resultados do presente estudo não estão de acordo com os estudos prévios. A ausência de outras espécies de primatas no local, o que permitiria a ocupação de um nicho espacial mais amplo; a não-habituação dos animais com a presença do observador no estrato inferior, o que os levaria a um “recuo” para os níveis mais altos e o menor porte 72 e maior espaçamento do estrato arbóreo do cerrado em relação ao das matas mesofíticas seriam os principais fatores responsáveis por esse resultado aparentemente contraditório. Foram feitos alguns registros oportunísticos de deslocamento ao nível do solo, especialmente quando o grupo passava por áreas mais abertas (tendendo a cerrado s. s.) ou cruzava uma estrada. Devido ao alto risco de exposição à predação (e à presença do observador), estes deslocamentos foram feitos com extrema atenção e rapidez, em geral, após alguma hesitação. Possivelmente, existe uma certa convergência fisionômica entre o cerradão e o cerrado s.s. estudados, como conseqüência do impacto do fogo (relativamente freqüente no primeiro hábitat e ausente no segundo, nos últimos vinte e dois anos). De maneira que, atualmente, localmente, o cerrado apresenta um estrato arbóreo mais fechado que o cerradão. Em síntese, apesar de haver distinção de tamanho e composição dos grupos estudados, não foram constatadas grandes diferenças na atividade comportamental desses grupos que pudessem ser atribuídas ao tamanho do grupo ou hábitat. HARIDASAN, M. 1992. Observations on soils, foliar nutrient concentrations and floristic composition of cerrado sensu stricto and cerradão communities in central Brazil. In: P. A. Furley, J. Proctor and J. A. Ratter (Eds.). Nature and Dynamics of Forest-Savanna Boundaries, pp. 171-184. Chapman-Hall, London. LACHER, T. E. , JR., G. A. B. DA FONSECA, C. ALVES, JR. AND B. MAGALHÃES-CASTRO. 1984. Parasitism of trees by marmosets in a central brazilian gallery forest. Biotropica16(3):202-209. QUEIROZ, H. L. DE. 1991. Levantamento das populações de três espécies de primatas na Fazenda Sucupira, Brasília, D.F. In: A. B. Rylands & A. T. Bernardes (Eds.), A Primatologia no Brasil - 3. Fundação Biodiversitas, Belo Horizonte, pp.369-374. AGRADECIMENTOS O autor gostaria de agradecer ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) pela permissão para usar a reserva e suas instalações. Ao Raimundo P. B. Henriques e à Dóris S. de Faria, pelas sugestões e esclarecimentos prestados em diferentes etapas do trabalho. À Regina Macedo, pela leitura crítica de uma versão preliminar do artigo. Ao Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília pelo apoio logístico. À CAPES pelo apoio financeiro, através da bolsa de mestrado. BIBLIOGRAFIA ALTMANN, J. 1974. Observational study of behavior: sampling methods. Behavior (49):226267. EITEN, G. 1993. Vegetação. In: M. N. Pinto (Org.). Cerrado: caracterização, ocupação e a perspectivas, 2 Edição, pp. 17-73. Editora Universidade de Brasília, Brasília. FERRARI, S. F. 1995. Ecologia de primatas neotropicais: comunidades e estratégias de forrageio. Apostila do mini-curso ministrado durante o VII Congresso da Sociedade Brasileira de Primatologia. Natal, 23 a 27 de julho de 1995. FONSECA, G. A. B. DA AND T. E. LACHER, JR. Exudate-feeding by Callithrix jacchus penicillata in semideciduous woodland (Cerradão) in Central Brazil. Primates 25(4):441-449. 73 TABELA 1. Espécies arbóreas escarificadas por C. penicillata em duas fitofisionomias de cerrado da Reserva Ecológica do IBGE cerrado denso cerradão Espécie (Família) Espécie (Família) Vochysia thyrsoidea (Vochysiacea) Vochysia thyrsoidea (Vochysiacea) Didymopanax macrocarpum (Araliacea) Qualea grandiflora (Vochysiacea) Qualea parviflora (Vochysiacea) TABELA 2. Distribuição vertical do mico-estrela, C. penicillata, no cerrado (cerradão e cerrado denso juntos) da Reserva Ecológica do IBGE Nível Descanso Locomoção Escarificação Total baixo (menos de 2m de altura) médio (entre 2 e 5m de altura) alto (mais de 5m de altura) Total 8(8,9%) 20(22,2%) 12(13,3%) 40(44,4%) 4(4,4%) 31(34,4%) 12(13,3%) 47(52,2%) 3(3,3%) 3(3,3%) 12(13,3%) 54(60,0%) 24(26,7%) 90(100,0%) Reserva Ecológica do IBGE 1 km Drenagens Limites Estradas Sede da Reserva Cerrado Denso Cerradão Fig. 1. Mapa da Reserva Ecológica do IBGE, mostrando as áreas de estudo utilizadas. 200 cerrado denso 180 cerradão (equiparado) 160 140 120 100 80 60 40 20 0 locomoção descanso escarificação alimentação Categoria comportamental Fig. 2. Partição da atividade de C. penicillata na Reserva Ecológica do IBGE, de acordo com os registros comportamentais obtidos pelo método de varredura. 74 ARQUITETURA E RIQUEZA DE HERBÍVOROS EM Ouratea hexasperma Baill. (OCHNACEAE), EM UM CERRADO DA RESERVA ECOLÓGICA DO IBGE, BRASÍLIA, DF Rosane G. Collevatti RESUMO Foi testada a hipótese de que indivíduos de Ouratea hexasperma com arquitetura mais complexa têm maior riqueza de espécies de herbívoros, em uma região de cerrado, na reserva do IBGE, Brasília, DF. Foi investigado, também, se a herbivoria está relacionada à arquitetura, dureza e área foliar; como a área foliar está relacionada ao comprimento da nervura principal e largura da folha; se a dureza foliar aumenta com a área foliar; se os elementos de arquitetura (diâmetro no eixo maior e menor da copa, altura da planta e da copa, número de folhas e de módulos e volume de copa) estão correlacionados. Foram encontrados 29 morfoespécies de herbívoros. A área foliar foi explicada pelo comprimento da nervura e largura da folha (89,4%) e a dureza foliar tendeu a diminuir com o aumento da área foliar. Os elementos da arquitetura foram correlacionados entre si, sendo que o número de folhas e de módulos foram mais correlacionados com o diâmetro. Plantas menores tiveram tendência a ter menor herbivoria, o que pode estar correlacionado à menor dureza e palatabilidade. Plantas com menor quantidade de folhas e módulos apresentaram maior número de espécies. Porém, o número de folhas foi relacionado positivamente para os grupos taxonômicos, separadamente. Os resultados indicam que a riqueza de espécies de herbívoros em O. hexasperma, é afetada pela diversidade de recursos, expressa pela “densidade de folhas” na copa. INTRODUÇÃO A riqueza de espécies de herbívoros em um determinado hospedeiro pode ser explicada por diversos fatores. A nível regional, plantas com distribuição geográfica mais ampla tendem a ter maior diversidade de herbívoros que plantas com distribuição mais restrita, uma relação existente em espécies taxonomicamente distintas, como Zingiberales, Rosaceae, e outras (Lawton & Schröder 1977, Strong 1977, Strong et al. 1977, Strong & Levin 1979, Leather 1986). A nível local, a riqueza de espécies de herbívoros pode estar ligada à abundância local, ao tempo de colonização, ao isolamento taxonômico e à complexidade estrutural do hospedeiro (Strong et al. 1977, Strong & Levin 1979, Neuvonen & Niemelä 1981, Southwood et al 1982, Lawton 1983, Leather 1986, Lewinsohn 1991, Marquis 1991). Em um gradiente de aumento de complexidade estrutural desde plantas herbáceas até árvores, espera-se encontrar um aumento de diversidade de herbívoros no sentido ervas, arbustos e árvores. Da mesma forma, dentro de uma mesma espécie, haveria uma tendência a um aumento da diversidade de herbívoros com o aumento da complexidade estrutural da planta, ao longo do seu desenvolvimento (plântula, jovem e adulto) e de modificações sazonais (Strong & Levin 1979, Lawton 1983). A arquitetura da planta está relacionada aos componentes: (1) tamanho da planta; (2) forma de crescimento; (3) desenvolvimento sazonal (mudanças sazonais no tamanho e forma de crescimento); (4) variedade e longevidade de módulos (Lawton & Schröder 1977, Harper 1981, Lawton 1983), que descrevem aspetos gerais do tamanho da planta, forma de crescimento e complexidade estrutural. Basicamente duas hipóteses são utilizadas para explicar essa relação na qual o número de espécies aumenta com o aumento da complexidade estrutural: (1) área per se, na qual plantas maiores seriam mais “aparentes” (sensu Feeny 1976) e portanto seriam mais facilmente “descobertas” por herbívoros, além de suportarem populações maiores que teriam taxas de extinção menor; (2) diversidade de recursos, na qual plantas mais complexas teriam uma maior diversidade de microhabitats (alimento, local para nidificar, espaço livre de inimigos naturais) e possibilidade de estratificação vertical ou horizontal na ocupação hospedeiro, dando oportunidade para a colonização por uma maior variedade de espécies, com diferentes necessidades de recursos (Lawton & Schöder 1977, Strong & Levin 1979, Neuvonen & Niemelä 1981). Essa tendência tem sido verificada, principalmente em plantas de região temperada, havendo uma carência de trabalhos que comprovem essa relação em regiões tropicais, principalmente no Cerrado (mas veja Cytrynowicz 1991). Esse trabalho teve como objetivo testar a hipótese de que indivíduos de Ouratea hexasperma com arquitetura mais complexa têm maior riqueza de espécies de herbívoros e relacionar herbivoria com arquitetura, dureza e área foliar. Além disso, esse trabalho teve como objetivos secundários verificar: (1) como a área foliar pode ser explicada pelas variáveis comprimento da nervura principal e largura da folha; (2) se folhas maiores têm maior dureza; (3) se os elementos da arquitetura estão correlacionados entre si. MATERIAL E MÉTODOS 75 Ouratea hexasperma (St.Hil.) Baill. (Ochnaceae) é uma espécie arbustiva, muito comum nos cerrados do Brasil Central. Sua arquitetura é bastante variável, podendo atingir mais de 2 m de altura (Ratter 1986), apresentando rebrotas aparentemente induzidas após queimadas. A planta é perenifólia, apresentando folhas velhas e novas o ano todo, não ocorrendo queda acentuada e sincrônica de folhas (Morais et al. 1995). Apresenta nectários extraflorais nas estípulas e base do pedicelo do botão floral, visitados principalmente por Camponotus crassus e Zacryptoceus pusillus (Oliveira & OliveiraFilho 1991, Oliveira et al. 1995). O trabalho foi desenvolvido entre os dias 10 e 14 de março de 1996, na Reserva Ecológica do IBGE (15˚55’58’’S, 47˚51’02’’W), situada na Área de Preservação Ambiental (APA) Cabeça de Veado, Brasília, DF, em uma área de cerrado sensu stricto (Eiten 1990) que é submetida a queimada anual. 2 Foi delimitada uma parcela de 2500 m (50x50) onde foram registrados 93 indivíduos de O. hexasperma. Desses, 50 foram sorteados e marcados para o estudo. Foram medidos os seguintes componentes da arquitetura: diâmeto da copa no maior eixo (DMA) e no menor eixo (DME) perpendicular à “DMA”; altura da planta (APL); altura da copa (ACP); número total de folhas (NFL) e número total de módulos (NMD). O volume da copa foi estimado segundo um semi-elipsóide, onde VCP=(π*DMA*DME*ACP)/6. Além disso, foram coletadas folhas, ao acaso, para medir a dureza, área foliar, área foliar danificada, comprimento da nervura principal e largura maior da folha. O número de folhas coletada dependeu do número total de folhas do indivíduo (3 folhas, para indivíduos com até 60 folhas; 6 folhas para indíviduos com até 200 folhas; 9 folhas para indivíduos com mais de 200 folhas). A dureza foi medida em folhas frescas com um penetrômetro, que mede a força necessária (g*m-2) para perfurar um círculo de 0.5mm de diâmetro (Coley 1983). A área foliar foi determinada utilizando uma transparência 2 na qual foram desenhados quadrados de 1 cm de área. A herbivoria foi calculada como % área foliar danificada/área total da folha. Foi estimada, também, a área foliar total da planta (área foliar média*número total de folhas) e densidade foliar (área foliar total da planta/DMA). Em todas as plantas foram coletados ou registrados, durante quatro dias, todos os herbívoros avistados nas plantas. As plantas foram observadas durante o período da manhã e tarde, sequencialmente, permanecendo no máximo 5 minutos em cada planta. Para relacionar a área foliar ao comprimento da nervura e largura da folha foi realizada uma regressão linear, segundo o modelo Y=a+bx1+cx2, onde Y é a área foliar, x1 é o comprimento da nervura principal e x2 é a largura maior da folha. A relação entre dureza foliar (DFL) e área foliar (AFL) foi analisada, também, com uma regressão linear. Para verificar a existência de correlacão entre os elementos de arquitetura, foi utilizado o coeficiente de correlação de Pearson. As variáveis herbivoria e número de espécies foram transformadas em arcoseno e logarítmo, respectivamente (Zar 1974). A relação entre herbivoria e riqueza total de espécies e por grupos taxônomicos (ordem), com os elementos arquitetônicos, dureza foliar e área foliar foi analisada por regressão múltipla por passos (Stepwise multiple regression). As análises estatísticas foram feitas com o software Statistix 4.1. RESULTADOS Foram encontradas 29 morfoespécies de herbívoros (Tabela 1), sendo Homoptera, Orthoptera e Lepidoptera os grupos com maior número de morfoespécies. A nervura principal e largura da folha explicaram 89,36% da variação na área foliar 2 (r =0,8936, F=79,77, p<0,001, N=248, Y=50,024+2,845x1+12,5286x2, onde “x1” é o comprimento da nervura principal e “x2” a largura maior da folha). A dureza foliar tendeu a aumentar com o aumento da área foliar, embora a porcentagem de variação explicada por essa variável tenha sido muito 2 baixa (r =0,069, F=17,638, p<0,001, N=239, Y=5,202+0,0031*AFL). Os elementos de arquitetura foram positivamente correlacionados entre si (Tabela 2). O número de folhas (NFL) foi mais correlacionado com o número de módulos (NMD), diâmetro no menor eixo (DME) e volume da copa (VCP). Uma baixa porcentagem de variação da herbivoria foi explicada pelo diâmetro no maior eixo e área foliar (Tabelas 3 e 4). O número de folhas explicou a maior parte da variação da riqueza de espécies, mas com uma relação negativa (Tabelas 3 e 4). O número de folhas e a altura da planta foram as variáveis responsáveis pelas maiores porcentagens de explicação da variação de riqueza de espécies de Lepidoptera, isoladamente, com uma relação positiva (Tabelas 3 e 4). Para Orthoptera, somente o volume de copa foi significativo, porém, a variação explicada pelo modelo foi muito baixa (Tabelas 3 e 4). Para Coleoptera, a altura de copa explicou a maior parte da variação na riqueza de espécies, mas com uma relação negativa (Tabelas 3 e 4). Para Homoptera, o 76 número de folhas, que explicou a maior parte da variação, apresentou uma relação positiva, mas o volume de copa apresentou relação negativa (Tabelas 3 e 4). Para Hemiptera, o resultado foi similar, embora somente o número de folhas e o volume de copa tenha sido significativo (Tabelas 3 e 4). DISCUSSÃO O comprimento e a largura explicaram a área foliar, assim, essa pode ser determinada a priori, medindo-se somente essas variáveis. A dureza aumentou com ao aumento da área foliar. Folhas mais velhas acumulam mais fibras (Coley 1983, 1988, Coley et al. 1985,), sendo portanto mais duras. O. hexasperma apresentava, em um mesmo indivíduo, poucos botões foliares e indivíduos maiores e mais velhos apresentavam menor quantidade de folhas jovens que indivíduos mais jovens (observação pessoal). Entretanto, a porcentagem da variação na dureza foliar explicada pela variação na área foliar foi baixa. O. hexasperma apresenta botões foliares durante todo o ano, principalmente na estação chuvosa (Morais et al 1995). Assim, os indivíduos apresentavam folhas mais velhas e mais novas e como não houve diferenciação de estágios de desenvolvimento para coleta e medição da dureza isso se refletiu nessa variação. Plantas menores, com menor área foliar apresentaram maior herbivoria. Isso pode ter ocorrido por: (1) efeito amostral; (2) as folhas jovens são atacadas por espécies de Coleoptera que perfuram a folha antes da sua expansão, à medida que a folha esclerifica-se e expande-se lateralmente essas perfurações são cicatrizadas, provocando uma subestimativa da porcentagem de área foliar comida; (3) folhas jovens e menores têm menor dureza, sendo portanto mais palatáveis e mais comidas (Coley & Aide 1991, Loyola, Jr. & Fernandes 1993, mas veja Cooke et al. 1984). Além disso, a porcentagem de área foliar comida foi maior em plantas menores (diâmetro menor) que eram as plantas com maior frequência de folhas mais novas. Seyffarth et al. (1996) observaram que a porcentagem de ataque de folhas de O. hexasperma por lagartas de Lepidoptera não é afetada pelo comprimento foliar (que prevê a área foliar). Entretanto, áreas queimadas apresentam maior porcentagem de ataque que áreas não queimadas (17,5% contra 9,5%), indicando que o estresse causado pelo fogo pode resultar em um aumento do número de folhas jovens, mais susceptíveis ao ataque. O número de indivíduos de herbívoros por planta foi igual a um, praticamente para todas as espécies. Entretanto, algumas espécies foram mais freqüentes na área (encontrados em um maior número de plantas) que outras (Tabela 1). Embora o presente trabalho não tenha sido realizado com o objetivo de determinar a abundância, aparentemente o padrão de alta riqueza e baixa abundância encontrado parece ser comum para o cerrado. Esse resultado é semelhante ao encontrado por Price et al. (1995) para lagartas de Lepidoptera em Erythroxilum em um cerrado de Brasília, próximo à área do presente estudo. A riqueza e composição de espécies de herbívoros deve variar entre as estações (Cytrynowicz, 1991), mas a abundância de insetos no verão (estação chuvosa), quando foi realizado esse trabalho, pode ser mais que o dobro que no inverno (Morais & Diniz, não publicado). A relação entre complexidade estrutural e riqueza de espécies de herbívoros não apresentou um padrão marcado e esperado pela teoria. Por um lado, plantas com maior diâmetro e altura de copa apresentaram maior número de herbívoros. Por outro lado, plantas com maior número de folhas, responsável por 15,1% da variação do número total de espécies, tenderam a ter menor número de espécies. Esse resultado pode ter ocorrido por efeito de amostragem. Como as plantas eram observadas durante um mesmo tempo, plantas com maior número de folhas podem ter tido menor esforço amostral, relativamente a plantas menores. Além disso, O. hexasperma apresenta arquitetura tortuosa e bastante ramificada. Plantas maiores, com maior diâmetro e altura apresentavam maior número de folhas, mas também um maior espaço “aberto” no interior da copa. Plantas menores, com menor quantidade de folhas eram mais compactas, tendo uma maior “densidade” foliar, podendo proporcionar melhor refúgio, microclima e diversidade de recursos para os herbívoros. Para testar essa hipótese, a posteriori, foi feita uma análise de regressão linear múltipla por passos (stepwise) considerando os elementos de arquitetura, dureza foliar e a variável densidade foliar. O modelo foi ajustado após um passo, somente com a entrada da variável “densidade foliar”, e explicou 36,5% da variação da riqueza de espécies 2 (N=50, F=29,542, p<0,001, r =0,368, Y=1,154+0,001*DFL). Resultados diferentes podem ser encontrados quando a riqueza de espécies de herbívoros é estudada a nível de comunidade de plantas. Considerando 260 espécies de plantas em uma região de cerrado no Sudeste do Brasil, Cytrynowicz (1991) encontrou 36% de explicação da variação do número de espécies de herbívoros devido ao número de folhas. Os resultados de riqueza de espécies separados por ordem apresentaram a mesma tendência, sendo maior em plantas com maior densidade de folhas, mas com uma relação positiva com o número de folhas e negativa com o volume de copa. 77 A altura da planta pode ser uma variável arquitetônica importante para Lepidoptera (Neuvonen & Niemelä 1981) e explicou 71% da variação na riqueza de espécies de macrolepidopteras em árvores e arbustos na Finlândia. A riqueza de Lepidoptera foi maior em plantas mais altas, com maior número de folhas, porém, com menor volume de copa. Novamente aqui, a associação entre número de folhas e volume mostra a preferência por plantas mais “compactas”, mas, nesse caso, em plantas maiores. Isso pode estar relacionado ao volume de recurso utilizado por lagartas. Em plantas maiores com maior quantidade de folhas, a lagarta pode permanecer mais tempo em um mesmo indivíduo, sem necessidade de deslocamentos. Orthoptera foi mais diverso em plantas menores (volume de copa). Plantas menores apresentavam maior freqüência de folhas jovens, que são menos duras e, portanto, mais palatáveis, o que poderia estar influenciando na escolha de plantas por espécies de Orthoptera que são raspadores. Isso pode explicar, também, os resultados encontrados para Coleoptera, que fazem furos em folhas novas. Riqueza de espécies de homoptera foi maior em plantas com maior número de folhas, porém, com menor volume de copa, ou seja, em plantas com maior “densidade” de folhas. Murdoch et al. (1972) explicou 71% da variação do número de espécies de Homoptera, em uma comunidade de árvores, devido à altura da folhagem A relação entre riqueza de espécies de herbívoros e complexidade estrutural em O. hexasperma mostrou-se complexa. Os elementos da arquitetura, como a altura da planta, altura e diâmetro de copa, não explicaram, isoladamente, a riqueza de espécies. Isso pode estar relacionado ao desenho arquitetônico dessa planta: plantas maiores, apesar de possuírem maior número de folhas e módulos, apresentaram copas mais abertas, com maior espaço interno. Assim, a riqueza de herbívoros, aparentemente, foi melhor explicada pela “densidade de folhas” na copa. Nesse trabalho, a dureza foliar não explicou a variação na riqueza de espécies de herbívoros, ou na herbivoria. Folhas novas e velhas não foram separadas para a medição de dureza e o efeito da alta freqüência de folhas novas em plantas mais novas foi representado pelo efeito do tamanho da planta na herbivoria. AGRADECIMENTOS Ao IBGE, pela apoio logístico, ao Prof Dr. Raimundo P.B. Henriques, Delano Moody e Profa Helena C. Morais pelas valiosas sugestões. Ao Departamento de Ecologia, UnB, pela oportunidade de realizar este trabalho durante o curso de Doutorado. Ao Prof. Dr. John DuVall Hay e Prof. Dr. Guarino Colli pelas sugestões e leitura criteriosa do manuscrito. BIBLIOGRAFIA COLEY, P.D. 1983. Herbivory and defensive characterisitcs of tree species in a lowland tropical forest. Ecol. Monographs 53: 209-233. COLEY, P.D. 1988. Effects of plant growth rate and leaf lifetime on the amount and type of antiherbivore defense. Oecologia 74: 531-536. COLEY, P.D., BRYANT, J.P., AND CHAPIN, III, F.S. 1985. Resource availability and plant antiherbivore defense. Science 230: 895-899. COLEY, P.D., AND AIDE, T.M. 1991. Comparison of herbivory and plant defenses in temperate and tropical broad-leave forest. In. P.W. Price, T.M. Lewinsohn, G.W. Fernandes, and W.W. Benson (eds). Plant-animal interactions: evolutionary ecology in tropical and temperate regions. pp. 25-49, John Wiley & Sons, Inc., New York. COOKE, F.P., BROWN, J.P., AND MOLE, S. 1984. 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Ordem/Família Espécie Plantas Lepidoptera Megalopygidae Megalopyge albicollis 07 Geometridae Cyclomia ocana 01 Arctiidae Fregela semiluna 08 Indeterminado Lepidoptera sp1 05 Lepidoptera sp2 07 Lepidoptera sp3 07 Orthoptera Acrididae Acridinae sp1 15 Acridinae sp2 18 Acridinae sp3 04 Cyrtacanthacridina sp1 13 Cyrtacanthacridinae sp2 06 Cyrtacanthacridinae sp3 05 Tetigonidae Copiphorinae sp1 12 Phaneropterinae sp1 08 Coleoptera Buprestidae Buprestidae sp1 01 Cantharidae Cantharidae sp1 01 Bruchidae Bruchidae sp1 10 Scarabaeidae Melolonthinae sp1 01 Hemiptera Coriscidae Coriscidae sp1 05 Corizidae Corizidae sp1 11 Homoptera Cicadellidae Cicadellidae sp1 10 Cicadellidae sp2 10 Cicadellidae sp3 10 Cicadellidae sp4 12 Cicadellidae sp5 07 Cicadellidae sp6 01 Cicadellidae sp7 01 Membracidae Membracidae sp1 09 Fulgoroidae Fulgoroidae 01 80 Tabela 2. Correlação de Pearson para os elementos de arquitetura. (DMA) diâmetro do maior eixo da copa; (DME) diâmetro do menor eixo da copa; (APL) altura da planta; (ACP) altura da copa; (NFL) número de folhas; (NMD) número de módulos; (VCP) volume da copa. N=50, p<0,001 para todos os pares. DMA DME APL ACP NFL NMD DMA 1,00 DME 0,97 1,00 APL 0,87 0,87 1,00 ACP 0,74 0,78 0,80 1,00 NFL 0,87 0,92 0,78 0,79 1,00 NMD 0,94 0,95 0,83 0,77 0,94 1,00 VCP 0,86 0,90 0,75 0,83 0,89 0,91 2 Tabela 3. Coeficiente de regressão parcial (r ) para as variáveis independentes das análises de regressão múltipla por passos (stepwise multiple regressions). (DMA) diâmetro no eixo maior, (DME) diâmetro no eixo menor, (APL) altura da planta; (ACP) altura da copa, (NFL) número de folhas, (NMD) número de módulos, (VCP) volume da copa, (AFL) área foliar. A variável dureza foliar não foi significativa em nenhuma regressão. Variável Dependente 2 Variáveis Independentes - r DMA DME APL ACP NFL NMD VCP AFL Herbivoria 0.016 - - - - - - 0.020 Riqueza total 0.020 - - 0.015 0.151 0.056 0.079 - Lepidoptera Orthoptera Coleoptera Homoptera Hemiptera - 0.070 0.047 - 0.189 0.005 - 0.018 0.147 0.015 - 0.128 0.303 0.085 0.030 - 0.028 0.091 0.038 0.272 0.034 - Tabela 4. Equações de regressão múltipla entre herbivoria, riqueza total de herbívoros e por grupos taxonômicos (variáveis dependentes) e elementos arquitetônicos, dureza e área foliar (variáveis independentes ) para Ouratea hexasperma. (a-h) coeficientes da regressão; N=50, para todas as regressões. A variável dureza foliar não foi significativa em nenhuma regressão. Variável Dependente Const Variáveis Independentes - Elementos Arquitetônicos Herbivoria Riqueza Total Lepidoptera Orthoptera Coleoptera Homoptera Hemiptera 14,84 0,00 -0,70 1,38 0,00 0,75 0,00 a*DMA b*DME c*APL d*ACP e*NFL f*NMD g*VCP h*AFL 2 r F P -0,11 2,72 - 0,98 -0,65 - 3,76 1,99 0,73 1,56 - -0,02 0,01 0,01 0,01 -0,05 -0,02 - -0,62 -0,15 -0,09 -0,090 -0,26 -0,09 -2,76 - 0,04 0,45 0,40 0,09 0,17 0,67 0,14 5,05 33,27 26,52 12,24 11,66 82,14 9,72 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 0,44 3,12 - 81 EFEITOS DE DIFERENTES REGIMES DE QUEIMA SOBRE A VEGETAÇÃO LENHOSA DE CERRADO SENSU STRICTO: TAXAS DIFERENCIAIS DE REBROTAS Saulo Marques de Abreu Andrade RESUMO As rebrotas são eficientes mecanismos de sobrevivência das plantas adaptadas ao fogo. Em duas áreas de 10 ha de cerrado sensu stricto, submetidas a diferentes regimes de queimas, uma queimada bianualmente e outra vinte anos sem queima, foram amostrados todos os indivíduos, a uma distância de 1 metro de quatro transectos de 50 metros cada, com diâmetro de 5 centímetros a 30 cm do solo. Todas as rebrotas foram contadas e classificadas em aéreas, basais e subterrâneas. A porcentagem de rebrotas aéreas foi de 30 e 8 % respectivamente, de 51 e 67 % de rebrotas basais e, 19 e 25 % de rebrotas subterrâneas. Estes valores comparados com o do controle mostram que ocorre uma mudança temporária na arquitetura da vegetação. INTRODUÇÃO O fogo seleciona aquelas espécies de cerrado que apresentam estratégias de resistência a queimada (Guedes 1993). Cada espécie possui capacidade de recuperar-se frente um distúrbio conforme suas reservas de energia para rebrota, existência de bancos de semente no solo, capacidade de recolonização e habilidade de estabelecimento em condições extremas (Frost et al. 1986). Na comunidade lenhosa as estratégias frente ao fogo são distintas das do estrato rasteiro, visto que estes dois componentes do Cerrado possuem formas de vidas diferentes e se localizam diferentemente com respeito às zonas de maior impacto de calor. Sambuichi (1991), afirma que o fogo além de ralear a camada lenhosa, diminui sua diversidade. Segundo Ramos (1990), áreas protegidas contra queima, apresentam densidade arbórea, área basal viva e cobertura arbórea aproximadamente o dobro daquelas submetidas a queimas bienais. Proteção contra fogo em savanas aumenta a densidade de árvores, diminuindo a camada de gramíneas (Frost et al. 1986). Com relação às plantas lenhosas já estabelecidas, a mortalidade devida ao fogo é muito baixa, sendo a destruição parcial da copa o dano principal, exceto para plântulas. Este dano varia com a intensidade e regime das queimadas, podendo levar à exclusão de espécies sensíveis, e consequentemente, a uma mudança na composição florística (Ramos 1990). Ramos (1990), cita o dano estrutural nulo, isto é, aquele em que os indivíduos, principalmente arbóreos, com altura superior a três metros, apresentam apenas murchamento e queda das folhas. Este seria o menor efeito do fogo sobre as lenhosas. O que ocorre é que após a queima as folhas murcham e caem devido ao calor. Após esta queda, aquelas gemas que conseguiram resistir ao calor emitem novos brotos. Armando (1994), mediu o efeito do fogo na sobrevivência e no crescimento de espécies arbóreas nas fases iniciais de crescimento (até 30 cm de altura e 5 cm de circunferência), em cerrado. Seus resultados evidenciam aumento de mortalidade e diminuição da altura atingida por rebrota. O intervalo de um ano não foi suficiente para a recuperação da altura existente antes do fogo, em juvenis e plântulas. Deste modo, queimas anuais poderão levar à redução e eliminação das populações de certas espécies. Segundo Guedes (1993), temperaturas acima 0 de 60 C (inclusive), causam morte do câmbio vascular. Um incêndio que apresente 380 0C por 0,7 min. de duração (situação próxima à que ocorre no cerrado) alcança tal temperatura em árvores que apresentam casca de espessura menor que 6 mm. A capacidade de rebrota está relacionada ao tamanho da plântula (Armando 1994), ocorrendo com grande rapidez na época seca e chuvosa (Souza & Soares 1983; Warming 1973). A reserva em suas estruturas faz com que estas espécies mesmo após o fogo possam retomar seu crescimento, ultrapassando a altura crítica onde o fogo causa danos diretos. O início, a duração e o pico de brotamento variam conforme as adaptações de cada espécie e também com a disponibilidade de recursos. Água e nutrientes estão disponíveis no sistema subterrâneo da planta (xilopódios) ou no solo, permitindo o brotamento na estação seca (Souza & Soares 1983). O estrato rasteiro ganha grande importância na intensidade do fogo, pois quanto maior o acúmulo de combustível mais intenso será o fogo (Ramos e Rosa 1992), afetando, então o tipo de rebrota. Dependendo do dano ocorrido, as plantas poderão simplesmente repor suas folhas, regenerar a partir de gemas aéreas protegidas pela casca, ou a partir de gemas situadas abaixo do solo, quando todo o caule for destruído (Chandler et al. 1983). Quanto maior o tamanho da parte morta, maior o entouceiramento (Ramos 1990). Existem diversas vantagens ecológicas associadas com a persistência por brotamentos após distúrbios como o fogo, principalmente em ambientes quentes e com um estresse hídrico, uma vez que estas condições são desfavoráveis para o estabelecimento de sementes. Desta forma, a utilização de estruturas de armazenamento, que possuem água e nutrientes, é 82 extremamente benéfica ao indivíduo mesmo em épocas secas (Souza & Soares 1983). O objetivo deste estudo é documentar e quantificar o número de rebrotas basais (i.e. rebrotas logo na base do indivíduo), subterrâneas (rebrotas de estruturas vegetativas a uma distância máxima de 25 cm, para serem consideradas do mesmo indivíduo) e aéreas (rebrotas que saem de debaixo da casca do próprio caule) e, verificar se em diferentes regimes de queima há uma taxa diferencial entre esses dois tipos de rebrotas, isto é, como a frequência e a intensidade do fogo afetam o número e o crescimento das rebrotas. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado na Reserva Ecológica do IBGE (RECOR) localizada a 35 km ao sul de Brasília. Foram marcados 4 transectos de 50 m cada, em três áreas de 10 ha de cerrado sensu stricto do Projeto Fogo submetidas a diferentes regimes de queima. 1.Controle- vinte anos sem queima; 2.Bianual modal- com queima de 2 em 2 dois anos e que foi queimada pela primeira vez em 1992 após 20 anos sem queima e depois em 1994; 3.Cerrado de 1994- que era uma área de cerrado controle 20 anos sem queima mas, que durante um incêndio em outubro de 1994 foi queimado, simulando uma queimada 20 anos sem queima porém, não prescrita. Tomada neste trabalho como exemplo de um incêndio natural, onde pelo grande acúmulo de combustível espera-se uma maior intensidade do fogo. Todos os indivíduos à distância de um metro ao longo dos transectos e com diâmetro mínimo de 5 cm a 30 cm acima do solo foram anotados, contando-se o número de rebrotas e diferenciando-as em basais, subterrâneas e áreas (contando-se o indivíduo todo como uma rebrota já que continua vivo). RESULTADOS E DISCUSSÃO Utilizando-se o teste estatístico ANOVA, para comparar a diferença entre os valores médios de espécies e indivíduos entre as áreas, verificou-se que o número de espécies nas áreas controle e cerrado 1994 (Tabela 1) não se apresentaram significativamente diferentes (P<0,05), mesmo após uma queimada de 20 anos sem queima na área do cerrado 1994, sugerindo que apenas uma queimada em uma área de cerrado sensu stricto protegida, ainda que por 20 anos, não é tão prejudicial. Porém o número de espécies e de indivíduos na bienal modal é significativamente diferente (P<0,05) e menor que das áreas controle e cerrado 1994 (Tabela 1), indicando um raleamento da vegetação em conseqüência da freqüência de queima. Na Tabela 2 observa-se que o número de rebrotas basais na área do cerrado 1994 é significativamente diferente (P<0,05) e maior que na bienal controle assim como nesta o número de rebrotas aéreas é bem maior que na do cerrado 1994, estes valores são significativamente diferentes (P<0,05). É também nítido que no cerrado controle não há rebrotas, de todos os 337 indivíduos amostrados nenhum apresentou rebrotas. Porém, o tipo de rebrota está ligado diretamente à gravidade do dano ocorrido (Chandler et al. 1983), quanto maior o dano menor a capacidade de recuperação por gemas apicais debaixo da casca (Kauffman 1991), isto é, menor número de rebrotas aéreas. Ramos (1990) mostra que quanto maior o dano da parte aérea maior o entouceiramento. Isto significa um maior número de rebrotas basais e subterrâneas. Quando a parte aérea é toda destruída a planta não tem a capacidade de formar rebrotas aéreas, pois todas a gemas apicais foram destruídas. O grande número de rebrotas aéreas encontradas na bienal modal (Tabela 2) é significativamente diferente (P<0,05), segundo teste do X2, da área do cerrado 1994 sugerindo que a intensidade do fogo foi menor, não danificando a planta a ponto desta perder duas gemas apicais, isto em decorrência de um menor acúmulo de biomassa já que a área foi queimada em 1992. Entretanto, no cerrado 1994 o acúmulo de biomassa era grande, fazendo com que a intensidade do fogo fosse maior, pois este acúmulo tem grande importância na intensidade do fogo (Ramos e Rosa 1992). Cada espécie possui capacidade de recuperar-se frente um distúrbio conforme suas reservas de energia para rebrota (Frost et al.1986). Dessa forma pode-se especular que no cerrado 1994 estas reservas eram maiores uma vez que não era queimado há vinte anos, mostrando assim um número de rebrotas tanto basais quanto subterrâneas significativamente diferente (P<0,05) e maior que a da bienal modal, uma vez que esta já foi queimada duas vezes, esgotando assim a reservas para rebrotas. O número de fustes mortos indicam que a queimada do cerrado 1994 foi mais prejudicial às plantas. Diferentes regimes de queima afetam diferencialmente as taxas de rebrotas, sendo que quanto mais intenso, menor o número de rebrotas aéreas, uma vez que as gemas apicais são mortas. Isto determina um maior número de rebrotas basais e subterrâneas já que estas gemas, por se encontrarem protegidas abaixo do solo, não sofrem os efeitos das altas temperaturas da queimadas. As plantas que se reproduzem vegetativamente, se restabelecem predominantemente por rebrotas do tipo basal, após a queimadas. 83 O grande número de rebrotas, após as queimadas, causam uma mudança temporária na arquitetura da vegetação, decorrente do entouceiramento. Uma vez que no cerrado protegido do fogo por 20 anos, não se observam o grande número de rebrotas encontrado nas áreas queimadas. AGRADECIMENTOS Ao professor Raimundo Paulo Henriques pela organização do curso e grande ajuda na identificação das espécies. A Reserva Ecológica do IBGE pelo cessão do alojamento e toda a infraestrutura. A todos os professores que com o Rodiasol de suas inteligências exterminaram os pernilongos de nossas dúvidas. Aos queridos Fátima, Formigão e colaboradores pelas deliciosas refeições sem a quais não teríamos sobrevivido. A todos os meus queridos amigos que comigo desfrutaram de um grande curso e partilharam dias de muita alegria. Aos meus queridos parceiros de grupo que me ensinaram muito partilhando seus conhecimentos. E finalmente ao grande e incomparável The King pela inspiração em todos os momentos deste curso. BIBLIOGRAFIA ARMANDO, M. S. 1994. O impacto do fogo na rebrota de algumas espécies de árvores do cerrado. Dissertação de mestrado. Universidade de Brasília. 75 pp CHANDLER, C.; CHENEY, P.; THOMAS, P.;TRUSAND, L. & WILLIANS, S. 1983. Fire effects on vegetation. In: Fire in forestry: forest fire behavior and effects. John Willey and Sons. 1: 255-289. FROST, P.; MEDINA, E.; MENAUT, J. C.; SOLBRIG, O.; SWIFT. M & WALKER, B. H.. 1986. Responses of savannas to stress and disturbance: a proposal for a collaborative programme of research. IUBS. Special Issue 10. 82 pp. GUEDES, D. M. 1993. Resistência das árvores do Cerrado ao fogo: Papel da casca como isolante térmico. Dissertação de Mestrado. Universidade de Brasília. 113 pp. KAUFFMAN, J. B. 1991. Survival by sprouting following fire in tropical forests of the Eastern Amazon. Biotropica 23(3): 219-224. RAMOS, A. E. & ROSA, C. M. M. 1992. Impacto das queimadas. In: Alternativas de desenvolvimento dos Cerrados manejo e conservação dos recursos naturais renováveis. Dias, B. F. S. (coord.). IBAMA/FUNATURA, Brasília, 34-38. RAMOS, A. E. 1990. Efeitos da queima na vegetação lenhosa do cerrado. Dissertação de mestrado. Universidade de Brasília. 142 pp. ROSA, C. M. M. 1990. Recuperação pós-fogo do estrato rasteiro de um campo sujo de cerrado. Dissertação de mestrado. Universidade de Brasília. 162 pp. SAMBUICHI, R. H. R. 1991. Efeitos de longo prazo do fogo periódico sobre a fitossociologia da camada lenhosa de um cerrado em Brasília, DF. Dissertação de mestrado. Universidade de Brasília. 130 pp. SOUZA, M. H. A. O. & SOARES, J. J. 1983. Brotamento de espécies arbustivas e arbóreas, posteriormente a uma queimada, num cerradão. An. Sem. Reg. Ecol. III: 263-275. WARMING, E. 1973. Lagoa Santa, contribuição para a geographia phitobiológica. Livraria Itatiaia, Belo Horizonte & EDUSP, São Paulo, 279 pp. Tabela 1. Número médio de espécies e indivíduos por transecto encontrados nas três áreas. Área espécies indivíduos x (s) x (s) Bianual modal 18 (2) 61 (3) Cerrado 1994 23 (1) 73 (4) Controle 26 (2) 84 (8) Tabela 2. Porcentagem de rebrotas nas três áreas, com o número absoluto entre parênteses, e número de fustes mortos. Rebrotas (%) Área basais aéreas subterr. fustes mortos Bienal modal 51(244) 30(144) 19(89) 179 Cerrado 1994 67(506) 8(59) 25(185) 238 Controle 0 0 0 20 84 Apêndice: Listas das espécies inventariadas nas três áreas. Bianual Modal Acosmium dasycarpum Aegiphila lhotzkiana Aspidosperma dasycarpum Aspidosperma macrocarpum Banisteriopsis sp. Bauhinia sp. Blepharocalyx salicifolius X Brosimum gaudichaudii X Byrsonima coccolobifolia X Byrsonima crassa X Byrsonima verbascifolia X Caryocar brasiliense X Casearia sylvestris Chamaecrista sp. X Connarus suberosus X Couepia grandiflora Dalbergia violacea X Davilla elliptica X Didymopanax macrocarpum Dimorphandra mollis Eremanthus glomerulatus X Eremanthus goyazensis X Eriotheca pubescens X Erythroxylum suberosum X Erythroxylum tortuosum X Esenbeckia pumila Guapira noxia X Hymenaea stignocarpa X Kielmeyera coriacea X Lafoensia pacari X Machaerium acutifolium X Miconia albicans X Miconia fallax Miconia ferruginata X Myrsine guianensis Neea theifera Ouratea hexasperma X Palicourea rigida X Piptocarpha rotundifolia Qualea grandiflora X Qualea multiflora X Qualea parviflora X Rapanea guianensis X Roupala montana X Rourea induta X Salacia crassifolia X Sclerolobium paniculatum X Sthrychnos pseudochina Stryphnodendron adstringens X Styrax ferruginea X Tocoyena formosa X Vellozia flavicans Vochysia elliptica X Whalteria indica Total 36 Cerrado 1994 X X X X X X X X X X X X X Controle X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X 41 X X X X X X X X X X X X X X X X 45 85