MANUAL DO SIMPOSIASTA 22 a 26 de novembro de 2014, Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), Minas Gerais www.xsbee.unimontes.br X Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia Biodiversidade, Direitos e Territórios Agradece-se à Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), à Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG), ao Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais (ICA/ UFMG), ao Centro de Agriculutura Alternativa do Norte de Minas (CAA-NM) e à Operação Amazônia Nativa (OPAN). 3 Sumário Apresentação .................................................................................................................5 Breve histórico da Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia ............................5 Atual composição Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia ............................6 Sobre o X Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia ..........................................7 Comissão Organizadora...................................................................................................8 Montes Claros e o Norte de Minas Gerais ........................................................................8 Espaços de participação ................................................................................................ 11 Programação ................................................................................................................ 14 Sábado, 22 de novembro de 2014....................................................................................... 14 Domingo, 23 de novembro de 2014 .................................................................................... 14 Segunda 24, de novembro de 2014..................................................................................... 15 Terça, 25 de novembro de 2014.......................................................................................... 17 Quarta, 26 de Novembro se 2014 ....................................................................................... 19 Anais do X Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia ....................................... 21 Agroecologia ........................................................................................................................ 21 Ecologia Política ................................................................................................................... 33 Etnobiologia aplicada à Educação ....................................................................................... 42 Etnobotânica ....................................................................................................................... 57 Etnoecologia ...................................................................................................................... 104 Etnoecologia da pesca ....................................................................................................... 142 Etnozoologia ...................................................................................................................... 156 Contos e causos do X Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia ..................... 172 4 Apresentação O X Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia (X SBEE) tem como principal objetivo fortalecer as atividades de pesquisa, ensino e extensão da Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia (SBEE), tendo como eixo central: “Biodiversidade, Direitos e Territórios”. Este tema se justifica e se qualifica pelo crescente uso dos saberes locais como ferramenta de luta pelos direitos das comunidades tradicionais. O avanço do modelo de desenvolvimento hegemônico, baseado na concentração e exploração irracional dos recursos naturais, tem colocado em risco faculdades fundamentais dessas populações e, em especial, o acesso ao seu território, condição básica para reprodução de seus modos de vida. Como resultado, observa-se uma crescente ameaça a sociobiodiversidade, representada por estes grupos tradicionais. Neste contexto, cabe à Sociedade Brasileira de Etnobiologia e a Etnoecologia realizar um diálogo entre o “fazer” acadêmico e os discursos que as comunidades tradicionais elaboraram sobre seus saberes, além de fortalecer redes de colaboração e partilha de experiências entre os grupos de pesquisa e as organizações locais dessas populações. Acredita-se ser necessário avançar no diálogo entre as pesquisas acadêmicas e as demandas das comunidades, as quais são também sujeitos do processo de construção do conhecimento científico. Finalmente, como o X SBEE é um evento organizado para uma sociedade científica, espera-se que as atividades presentes também reflitam as demandas e os atuais avanços dos etnobiólogos e etnoecólogos brasileiros. Espera-se o desenvolvimento destas discussões ocorram em comunhão com experiências de profissionais de outros países, onde este campo do conhecimento recebe destaque mundial. Breve histórico da Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia A Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia é uma organização civil sem fins lucrativos de caráter científico-cultural, que visa representar e desenvolver as etnociências no Brasil. A SBEE foi fundada durante o I Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia, promovido na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) em Feira de Santana, Bahia, em 1996, reunindo naquele ano um total de 250 participantes. A SBEE defende a adoção de modelos de desenvolvimento que respeitem os ambientes das populações locais e reconheçam seus direitos de uso dos recursos e conhecimentos e seus territórios. A SBEE vem desenvolvendo esforços para a manutenção da diversidade biológica e cultural, reconhecendo a necessidade de participação efetiva destas populações na elaboração de políticas públicas que afetem os ambientes dos quais dependem. Desta forma, a SBEE vem trabalhando no sentido de valorizar o saber local no desenvolvimento de políticas públicas culturalmente apropriadas. Os pesquisadores associados à SBEE devem promover, divulgar e implementar os princípios da “Carta de Belém” (“código de ética” orientado para os etnobiólogos redigido em 1988 durante o I Congresso Internacional de Etnobiologia), além de seguir os princípios do “Código de Ética da Sociedade Internacional de Etnobiologia (ISE)”. As 5 principais finalidades desta entidade são as de congregar as pessoas interessadas no desenvolvimento dos estudos etnobiológicos e etnoecológicos, incrementando a formação e reconhecimento profissional, como elementos indispensáveis no inventário e estudo do patrimônio natural e cultural brasileiro, de modo que novos pesquisadores tenham um suporte técnico e que se estabeleçam normas de ética profissional. Dentre as atividades fomentadas e sob responsabilidade da entidade, está a realização bianual do Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia, fórum de debate de temas correlacionados com a problemática socioambiental, apresentação da produção dos associados e pesquisadores que atuam nesta área e de troca de experiências. Embora tenha caráter científico, considerando que o alvo dos estudos etnobiológicos são as populações humanas e seu conhecimento sobre o ambiente e recursos naturais, recaímos obrigatoriamente na necessidade de abordar questões éticas relacionadas ao destino destes estudos, principalmente no contexto atual, matizado com denúncias e regulamentações que buscam coibir a biopirataria. Neste sentido, este Simpósio tradicionalmente mobiliza não somente os pesquisadores, mas representantes e lideranças de populações tradicionais, profissionais e representantes de setores públicos e da iniciativa privada envolvidos com a temática socioambiental. Atual composição Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia Dra. Rumi Regina Kubo (Presidente - Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Dr. Reinaldo Duque Brasil (Vice-presidente - Universidade Federal de Juiz de Fora) Dr. Emmanuel Duarte Almada (1ª. Secretário - Universidade do Estado de Minas Gerais) Dra. Cecília de Fátima Castelo Branco Rangel de Almeida (2ª. Secretário - Centro de Ensino Superior do Vale do São Francisco) Dr. Lin Chau Ming (1° Tesoureiro - Universidade Estadual de São Paulo) Dr. Gustavo Taboada Soldati (2ª. Tesoureiro - Universidade Federal Rural de Pernambuco) Conselho: Dra. Elaine Elisabetsky (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Dr. Hiroshi Noda (Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas), Dr. José Geraldo W. Marques (Universidade Estadual de Feira de Santana), Dra. Maria Christina M. Amorozo (Universidade Estadual de São Paulo), Dra. Maria das Graças Pires Sablayrolles (Universidade Federal do Pará), Dra. Maria de Fátima Barbosa Coelho (Universidade Federal do Mato Grosso). Representantes Regionais: Região Sudeste: MSc. Marco Túlio da Silva Ferreira (Operação Amazônia Nativa); Região Sul: Dra. Vanilde Citadini Zanette (Universidade do Estado de Santa Catarina) e MSc. Sofia Zank (Universidade Federal de Santa Catarina); Região Centro-Oeste: MSc. 6 Cajetano Vera (Secretaria Municipal de Educação de Dourados) e Dra. Maria Nazaré Stevaux (Universidade Federal de Goiás); Região Nordeste: Dr. Reinaldo Farias Paiva de Lucena (Universidade Federal da Paraíba); Região Norte: MSc. Nivaldo Aureliano Leo Neto (Universidade Federal da Paraíba), Dra. Sandra do Nascimento Noda (Universidade Federal do Amazonas) e Dr. Valdely Ferreira Kinupp (Instituto de Nacional de Pesquisas Amazônicas). Sobre o X Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia Em sua décima edição, depois de Feira de Santana, Bahia (1996), São Carlos, São Paulo (1998), Piracicaba, São Paulo (2000), Recife, Pernambuco (2002), Chapada dos Guimarães, Mato Grosso (2004), Porto Alegre, Rio Grande do Sul (2006), Belém, Pará (2008), Recife, Pernambuco (2010) e Florianópolis, Santa Catarina (2012), o Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia se realiza em Montes Claros, Minas Gerais, no período de 22 a 26 de novembro 2014. Nesta edição, partindo da discussão e do acúmulo de informações proporcionados pelos simpósios anteriores, buscar-se-á avançar nas discussões, abordando as especificidades de pesquisas etnobiológicas, tanto do ponto de vista conceitual e epistemológico, como metodológico. Também busca-se aprofundar o debate relativo às conexões entre conhecimento cientifico e tradicional (local) e suas consequências para o debate socioambiental e, sobretudo as relações entre o conhecimento gerado pela Etnobiologia e sua contribuição para a melhoria das condições de vida das populações locais e a sociedade em geral. Além destas atividades, serão oferecidos três prêmios, a saber: Prêmio científico Darell Posey, de Fotografia João Zinclar e Prêmio de Contos e Causos Guimarães Rosa. O Prêmio Darrell Posey foi criado em 2002, durante o Simpósio realizado em Recife, para homenagear o antropólogo pioneiro no Brasil no desenvolvimento científico da Etnobiologia e Etnoecologia e na luta pelos direitos dos povos tradicionais, tendo sido um dos sócios-fundadores da SBEE. É uma atividade realizada durante os Simpósios da Sociedade e tem por objetivos: estimular a formação de novos pesquisadores; apoiar o desenvolvimento de trabalhos que contribuam para a materialização da visão de Darrell Posey, no sentido de promover a compreensão das relações dinâmicas e complexas entre as pessoas e o seu meio ambiente, e dar apoio às populações indígenas e comunidades locais para uma gestão sustentável dos seus recursos biológicos, bem como garantir e salvaguardar todos os seus direitos sobre os respectivos recursos. Para este prêmio podem concorrer trabalhos nas categorias: a) conclusão de graduação, b) dissertação de mestrado e c) tese de doutorado. O Prêmio de Fotografia tem como tema “A Luta por território e vida”. Nesta edição será denominado prêmio João Zinclar em homenagem ao fotógrafo e sindicalista de Campinas, falecido em 2013, tendo atuado ativamente junto aos movimentos em defesa dos territórios tradicionais dos povos do Sertão do São Francisco. O prêmio é aberto a todos os inscritos no IX Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia. As fotos inscritas serão analisadas por uma Comissão Julgadora com base nos critérios de originalidade, beleza, composição, criatividade e adequação ao tema do concurso. 7 Finalmente, o prêmio de Contos e Causos Guimarães Rosa trata-se de incentivar a publicação de experiências de campo, pessoais ou coletivas, hilárias ou tristes, escritas em um formato mais livre, evidentemente, em contos, causos ou crônicas. Estas vivências em campo que tanto enriquecem os olhares e condutas dos pesquisadores terão a possibilidade de serem socializadas através da escrita. Comissão Organizadora Profa. Dra. Ana Paula Glinfskoi Thé (Presidente – Universidade Estadual de Montes Claros) Prof. Dr. Mário Marcos do Espírito Santo (Vice Presidente – Universidade Estadual de Montes Claros) Profa. Dra. Rumi Regina Kubo (Presidente de honra – Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Dr. Gustavo Taboada Soldati (Secretaria e Comissão científica – Universidade Federal de Juiz de Fora) Prof. Dr. Emmanuel Almada (Infra-estrutura – Universidade Estadual de Minas Gerais) MSc. Marco Túlio Ferreira (Articulação com as Comunidades Tradicionais – Operação Amazônia Nativa) Carine Guedes Ramos (Secretaria e Infra-estrutura – Universidade Estadual de Montes Claros) Edson A. Lima (Coordenação de atividades culturais e sociais – Orquestra Catrumana do Groove Solto) Montes Claros e o Norte de Minas Gerais Ao longe vê-se uma cidade, encravada entre montes que, no fim da tarde, com a luz tenra do pôr do sol, se pintam de um azul claro. Qualquer um, mesmo que desavisado, sabe que chegou em Montes Claros, passagem obrigatória dos viajantes de longa jornada que cruzam os rincões do país. Principal cidade do norte mineiro, reconhecida pela integração econômica, social e cultural da região, onde confluem as atividades de 150 municípios. Portanto, a diversidade caracteriza o lugar, e toma a sua máxima expressão no mercado municipal, onde dividem espaços, temperos que aromatizam o ar, plantas medicinais das diferentes formações vegetais que ocorrem na região, chapéus de palha e couro, artesanatos, fumos de rolo, rapé de emburana, e, sobretudo, a culinária norte mineira. Paçoca, carne de sol, tropeiro, torresmo, frango com quiabo, costelinha. Adeptos de outra opção política provam feijão verde, macassa, catador, farofa de andú, caxixa e mandioca. Mas um ar de encantamento e felicidade generalizada se instaura a partir do mês de Janeiro, única e exclusivamente porque frutificou o pequi (Caryocar brasiliense Cambess). Mas o que seria um arroz de pequi sem uma cachacinha artesanal? Nada difícil em Minas, ainda mais quando estamos a 8 menos de duzentos quilômetros de Salinas. Para aqueles que preferem um peixe, é só pedir, pois o Velho Chico corre bem próximo. Toda a diversidade existente em Montes Claros deve-se ás características culturais e ambientais da região. O norte de Minas Gerais é por excelência um ecótono, uma faixa de transição entre o Domínio do Cerrado que cobrem chapadões, da Caatinga que cobrem depressões semi-áridas, e o Domínio Atlântico a leste. Nesse contexto, no qual diferentes tipos vegetacionais se encontram, ocorreu também a formação de uma vasta riqueza de identidades culturais, frutos de distintos processos civilizatórios. Inicialmente destacamos os indígenas que, organizadas em diferentes sociedades, habitaram a região norte mineira desde os primórdios, como os Abatirá, Catolé, Dendy, Kiriri. Atualmente, destaca-se na região a presença dos Xakriabá, grupo que resistiu contra a opressão histórica e atualmente luta pela reconquista do seu território ancestral, expropriado pelos fazendeiros locais. As bandeiras, oriundas do processo civilizatório europeu, adentraram o sertão mineiro a partir do ano 1610, fundando a economia pastoril decorrente da aptidão da vegetação local em nutrir o gado, criado, naquela época, solto. Tais bandeiras, sobretudo os grupos submissos a Mathias Cardoso de Almeida, lutavam contra os indígenas locais inicialmente para escravizá-los e vendê-los em Salvador ou na Vila de São Paulo e, posteriormente, pelejaram visando “pacificar” a região diante dos motins indígenas. A carne produzida no norte mineiro, em princípio destinada ao Recôncavo Baiano, foi de fundamental importância para o estabelecimento das zonas de extração de ouro na Zona da Mata mineira, de pouca aptidão agrícola e pastoril. A partir do momento histórico em que o ouro passou a ter maior importância que o gado, a organização política foi modificada drasticamente e a autonomia regional de Mathias Cardoso é subjugada à ideia de unificação da então concebida Capitania de Minas Gerais. Nasceu desta nova conjuntura mais um processo típico da formação histórica do país, o desejo de independência econômica e política, no caso do norte mineiro frente às minas auríferas do sul, com planejamentos de ataque a Vila Rica, capital na época. Tal revolta foi nomeada de “Conjuração São Franciscana”, que não chegou a vingar. Além destes processos civilizatórios de influência europeia, muitos grupos de negros, habitando principalmente as florestas secas e caatingas, originaram diferentes quilombos. Dentre estes, alguns não queriam contato direto com a sociedade escravocrata e ocuparam lacunas territoriais não habitadas pelos indígenas, enquanto outros descendentes africanos que mantinham um contato incipiente com a economia colonial se estabeleceram em territórios limítrofes às cidades, desdenhados pelos portugueses. Atualmente diversos quilombos se articulam na região e lutam, recebendo destaque as comunidades negras do Gurutuba e Brejo dos Crioulos, que teve seu território tradicional reconhecido pelo governo brasileiro, além das comunidades quilombolas que vivem nas vazantes do rio São Francisco, como Pau Preto e Lapinha. Como fruto da riqueza ecológica local, descrita anteriormente, e da diversidade de matrizes étnicas e processos civilizatórios, desenvolveu-se um vasto leque de identidades locais que, apesar de compartilharem características, como a produção pautada na unidade familiar com tecnologias de baixo impacto, estabeleceram-se em territórios restritos e produziram um modo de vida peculiar com características diacríticas, como por exemplo, os geraizeiros, caatingueiros e vazanteiros. Os primeiros, são denominados geraizeiros por que vivem nos “Gerais”, nome este dado aos 9 chapadões e tabuleiros nos domínios do Cerrado norte mineiro. Sua agricultura consiste no plantio de lavouras diversificadas de mandioca, feijões, milho, cana, abóboras, batata doce, associado com a criação de animais soltos e com o extrativismo vegetal. Também se caracterizam pela produção de café consorciado, geralmente com ingá (Inga spp.) em sistemas agroflorestais domésticos denominados “chácaras”, bem como a fabricação artesanal de farinha de mandioca. Além disso, o plantio de cana-de-açúcar para produção de cachaça em alambiques tradicionais, a manutenção de indivíduos de jenipapo (Genipa americana L.) nos quintais e o consumo alimentício do pequi também caracterizam a identidade geraizeira. É típico dos geraizeiros dizer “quando pensa que não...”, expressão vocativa para ressaltar algum fato importante durante as prosas, indicando uma guinada na história ou uma mudança de rumo na conversa que culmina em algum acontecimento supreendente. Os caatingueiros habitam as matas secas e caatingas situadas no pé da Serra Geral (como é denominada a Cadeia do Espinhaço na região), onde a mesma entra em contato com a depressão interplanáltica meridional no extremo norte mineiro. Também se destinam à produção familiar de feijão, mandioca e milho, mas, devido a maior falta hídrica da região, a sua produção é mais suscetível e incerta diante da severidade e irregularidade climática. Anos chuvosos e de muita produção, devido aos solos férteis, se alternam com anos pouco produtivos, quando os “veranicos”, períodos de estiagem durante a época chuvosa, são longos por demais. Como a falta de água é um fator limitante, desenvolveram diferentes estratégias adaptativas para conviver com a seca, como prever o tempo ideal de plantio utilizando-se sinais ambientais e bioindicadores. Segundo os caatingueiros, “o fruto do juá [Ziziphus joazeiro Mart.] só cai na lama...” ou “tem que plantá no pó...”. Talvez devido ao clima e a sazonalidade da atividade agrícola, restrita às épocas chuvosas, “nas caatingas” a criação de gado é mais expressiva que “nos gerais” e as atividades pastoris contribuem para a construção de uma cultura sertaneja-vaqueira que permeia o cotidiano dos caatingueiros. Os vazanteiros, em algumas localidades também conhecidos como barranqueiros, habitam as vazantes do São Francisco e apresentam práticas de manejo e valores relacionados à dinâmica temporal e espacial do rio. Conjugam a atividade de pesca com a agricultura, cultivando milho, feijão, abóbora e mandioca. Manejam as vazantes do rio, terras férteis que garantem a alimentação e o sustento familiar. Para tanto, seguem a dinâmica de expansão e retração das águas são-franciscanas. Ou seja, os vazanteiros tem que sincronizar suas atividades produtivas de acordo com os pulsos de inundação sazonais do Velho Chico. Seus quintais não são tão desenvolvidos como nos “gerais” e nas “caatingas”, porque as cheias do rio matam os propágulos das plantas manejadas. Em suas próprias palavras: “o rio come os pé de fruta tudo”. Além disso, esta mesma movimentação faz com que as moradas sejam permanentemente reconstruídas, realocadas na paisagem para que não sejam atingidas pelas águas. Portanto, os quintais não sofrem um manejo contínuo. A cosmovisão vazanteira também segue a fluidez das águas dos rios, como evidencia a seguinte citação, registrada em Matias Cardoso: “o mesmo rio que leva, é o mesmo rio que traz...”. Em resumo, no norte mineiro “organizou-se uma sociedade com características próprias, em que o eixo crucial consiste na articulação de diversidades culturais, de identidades contrastivas, de racionalidades díspares, mas complementares, e de projetos civilizatórios construtores da civilização brasileira, que permitem pensar o 10 Norte de Minas como a síntese de nossa nacionalidade”. É justamente neste complexo contexto sócio ambiental que organizamos o nosso X Simpósio Nacional de Etnobiologia e Etnoecologia. Texto de apresentação fortemente influenciado por Costa, J. B. A. 2006. Cultura, natureza e populações tradicionais: o Norte de Minas como síntese da nação brasileira. Revista Verde Grande 1(3): 8-51. Espaços de participação O XSBEE será conduzido a partir dos seguintes espaços: Pré-Simpósio, Encontro com os Povos Tradicionais, Minicursos, Conferência de Abertura, Mesas Redondas, Palestras, Mesa de Encerramento, Etnodoc, Painéis de Troca de Saberes, Grupos de Discussão e Assembleia Ordinária da Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia, que passa a serem descritos agora. Pré-simpósio: Uma das demandas apontadas para a Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia (SBEE) durante a sua última reunião, em Florianópolis, foi um avanço na discussão sobre os aspectos éticos e legais associados à pesquisa. O précongresso foi concebido para suprir esta necessidade. Neste dia que precede o X Simpósio Nacional de Etnobiologia e Etnoecologia alguns profissionais convidados, utilizando uma metodologia de Grupo de Trabalho, concentrarão esforços para desenvolver esta discussão no seio da SBEE e, quiçá, propor um posicionamento oficial a ser respaldado na Assembleia Ordinária. No Pré-simpósio contaremos ainda com a presença do Prof. Dr. Arturo Argueta, presidente da Sociedad Latino Americana de Etnobiología (SOLAE) e de MSc. Erêndira Cano (SOLAE). A proposta de suas presenças é apresentar e analisar o código de ética da Sociedad Latino Americana de Etnobiología. Ainda estará presente neste mesmo espaço Prof. Dr. James R. Welch da Society of Ethnobiology. Encontro com Povos Tradicionais: Outra demanda apresentada a Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia foi a aproximação com as estâncias de organização e reinvindicação das comunidades tradicionais, nossos principais parceiros de pesquisa. Neste sentido, estamos tentando viabilizar um contato direto da SBEE com representantes da Comissão Nacional dos Povos Tradicionais e representantes de diversas comunidades tradicionais. O objetivo principal desse espaço dentro do X Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia é propiciar um fórum político para fortalecimento das articulações e empoderamento das comunidades tradicionais a nível nacional, trazendo maior aproximação entre a Academia e as demandas postas por tais atores sociais, comumente vistos apenas sob a ótica de “sujeitos de pesquisa”. 11 Sábado, 22 Domingo, 23 08:00 08:30 09:00 09:30 Recepção e credenciamento Credenciamento 10:00 Coffee break 10:30 11:00 11:30 12:00 12:30 13:00 13:30 14:00 14:30 15:00 15:30 16:00 16:30 17:00 17:30 18:00 18:30 19:00 19:30 20:00 20:30 21:00 21:30 22:00 Minicursos Encontro dos Povos Tradicionais Coffee break Pré-simpósio Minicursos Almoço Pré-simpósio Almoço Minicursos Coffee break Pré-simpósio Encontro dos Povos Tradicionais Encontro dos Povos Tradicionais Coffee break Minicursos Encontro dos Povos Tradicionais Segunda, 24 Terça, 25 Quarta, 26 Mesa Redonda 1 e 2 Mesa Redonda 2 e 3 Mesa Redonda 5 e 6 Coffee break Coffee break Coffee break Palestra 1 e 2 Palestra 5 e 6 Palestra 9 e 10 Palestra 3 e 4 Palestra 7 e 8 Palestra 11 e 12 Almoço Almoço Almoço Etnodoc e banners Etnodoc e banners Etnodoc e banners Troca de saberes Grupo de Discussão Grupo de Discussão Coffee break Coffee break Coffee break Troca de saberes Grupo de Discussão Assembleia da SBEE Mesa em homenagem ao Prof. José G. Marques, varal de poesias e Cultural Solenidade de encerramento e conferência espetáculo Encerramento das atividades diurnas Conferência de Abertura Cultural de recepção Coquetel de Abertura Lançamento exposição fotográfica e livros. Contação de causos e Cultural 12 Acredita-se que, ao promover esse tipo de interação, a Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia cumpre seus objetivos de promoção e valorização da sociobiodiversidade e sua função enquanto instância de representação política dos interesses relacionados às comunidades tradicionais e indígenas do Brasil. As discussões serão organizadas em três distintos eixos, a saber: 1) Gestão Ambiental e Territorial Comunitária; 2) Conservação e Promoção da Sociobiodiversidade; e 3) Estratégias Comunitárias de Reterritorialização e Resolução de Conflitos Territoriais. Minicursos: Espaço comum em todos os eventos científicos. Cursos curtos de sete horas em temas básicos e avançados da Etnobiologia e Etnoecologia. Os minicursos são opcionais e a participação demanda uma taxa adicional de inscrição. Conferência de Abertura: Momento para a abertura oficial do X Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia, quando, depois das apresentações formais, será proferida uma palestra com objetivo de incitar a discussão sobre o tema principal do simpósio. Temos o prazer de receber uma das principais lideranças indígenas do país. Mesas Redondas: Espaços com duas horas de duração, nos quais três profissionais terão a oportunidade de dialogar sobre um tema de interesse ao desenvolvimento da Etnobiologia e Etnoecologia. Também será destinado um tempo para a intervenção dos participantes. Optamos, para diversificar a programação e abranger as expectativas dos participantes, realizar duas mesas paralelas em cada um dos dias em que estejam programadas. Totalizamos seis mesas redondas, além de uma mesa de abertura e outra de encerramento. Palestras: Apresentações individuais de profissionais com experiência reconhecida em áreas de interesse da Etnobiologia e Etnoecologia, com cinquenta minutos de duração. Espera-se que estes espaços tragam atualidades ao nosso campo de atuação. Optamos, para diversificar a programação e abranger as expectativas dos participantes, realizar duas palestras paralelas em cada um dos dias em que estejam programadas. Totalizamos doze palestras. Etnodoc: No horário de almoço iremos exibir curtas e documentários contextualizados à nossa prática científica e associados ao tema do X Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia. Troca de saberes: Buscando aproximar cada vez mais os pesquisadores em Etnobiologia e Etnoecologia das demandas sociais dos grupos parceiros das investigações científicas propormos a realização de Painéis. Nestes espaços, representantes locais terão a possibilidade de relatar a sua realidade e evidenciar como o contato com a academia e pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento modificou, para melhor ou pior, a sua realidade. Pensamos ser um rico momento para uma reflexão compartilhada sobre “como”, “porque” e “para quem” realizamos nossas pesquisas e atividades acadêmicas. Contamos com a presença de algumas etnias indígenas e alguns representantes outros de grupos sociais de destaque. Grupos de Discussão (GD’s): No X Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia, além das tradicionais exposições de “banners”, teremos uma outra possibilidade para os diálogo e troca de experiência entre todos os participantes pesquisadores. Alguns resumos submetidos e aprovados foram selecionados e serão apresentados oralmente para todos os participantes presentes. Alguns pesquisadores da área temática ficarão responsáveis por fomentar a discussão. Os GD’s visam preencher uma lacuna nos eventos, pois entendemos que muitas vezes a simples 13 exposição dos trabalhos em “banners” não propicia uma discussão satisfatória, tampouco o desenvolvimento de futuros recursos humanos. Assembleia da Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia: Reunião Ordinária da Sociedade Brasileira de Etnoecologia e Etnobiologia é realizada a cada dois anos em seu simpósio nacional. Todos podem participar, mas apenas os sócios quites têm o direito de votação. É um espaço importante para o fortalecimento e legitimação da sociedade que nos representa. Conferência de encerramento: Durante a mesa de encerramento será proferida uma palestra com objetivo de consolidar toda a discussão sobre o tema principal do simpósio. Além disso, serão revelados os ganhadores dos Prêmios Darell Posey, João Zinclar e Guimarães Rosa. Nosso adeus e os votos de nos encontrarmos em dois anos serão desejados. Programação Sábado, 22 de novembro de 2014 08h00 às 10h00 - Recepção, credenciamento e inscrição de participantes Local: Escola Técnica de Saúde da Universidade Estadual de Montes Claros 10h30 às 19h00 - Pré Simpósio: ética na pesquisa em Etnobiologia e Etnoecologia. Discussão do Código de Ética da Sociedad Latino Americana de Etnobiología. Coordenadores: Dra. Rumi Regina Kubo (Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Presidente da Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia - SBEE), Dr. Lin Chau Ming (Universidade Estadual de São Paulo) com participação do Prof. Dr. Arturo Argueta Villamar (Universidad Nacional Autónoma de México e Presidente da Sociedad Latino Americana de Etnobiología - SOLAE), MSc. Eréndira Juanita Cano Contreras (Sociedad Latino Americana de Etnobiología - SOLAE) e Dr. James R. Welch (Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz e representante da Ethnobiology Society). Local: Escola Técnica de Saúde da Universidade Estadual de Montes Claros 19h30 às 22h00 - Cultural de recepção Participação musical: Vitor Hugo e Edson Lima Local: Solar do Sertão do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA) Domingo, 23 de novembro de 2014 08h00 às 09h00 - Recepção, credenciamento e inscrição de participantes Local: Escola Técnica de Saúde da Universidade Estadual de Montes Claros 09h00 às 19h00 – Minicursos 1. Princípios de Etnoecologia Dr. Francisco José Bezzera Souto (Universidade Estadual de Feira de Santana) 2. Introdução à Etnobotânica: conexões entre histórias e mitos dos nomes populares e científicos de plantas medicinais Dr. Lin Chau Ming (Universidade Estadual Paulista) 3. Ferramentas multivariadas na análise de dados etnobiológicos 14 Dra. Patrícia Muniz de Medeiros (Universidade Federal do Oeste da Bahia) 4. Teorias ecológicas aplicadas a Etnobiologia e Etnoecologia Msc. Washington Soares Júnior (Universidade Federal Rural de Pernambuco) 5.Metodologias participativas aplicadas aos estudos de Etnobiologia e Etnoecologia Dra. Maria Auxiliadora Drummound (Universidade Federal de Minas Gerais) 6. O retorno das pesquisas etnobiológicas: o uso de materiais audiovisuais Msc. Juliana Loureiro (Universidade Federal Rural de Pernambuco) 7. Economia solidária, cadeia produtiva e sociobiodiversidade Leninha Souza (Cooperativa Grande Sertão - Montes Claros) 8. Produtos Florestais Não Madeireiros: extração e conservação Dra. Cristina Baldaulf (Universidade Federal Rural do Semiárido) 9. Agroecologia e Etnobiologia Dr. Claudenir Fávero (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri) 10. Etnografia Visual e narrativas visuais Dra. Rumi Regina Kubo (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) 11. Grupos Tradicionais no Brasil: de população a povo e comunidade Dr. José Geraldo Marques Local: Salas da Escola Técnica de Saúde da Universidade Estadual de Montes Claros 09h00 às 19h00 – Encontro dos Povos e Comunidades Tradicionais Coordenadores: Dra. Ana Paula Glinfskoi Thé (Universidade Estadual de Montes Claros), MSc. Marco Túlio (Operação Amazônia Nativa - OPAN) e MSc. Carlos Dayrell (Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas - CAA). Participantes confirmados: Lideranças Manoki (Brasnorte, Mato Grosso), Representantes Nambikwara/Sabanê (Comodoro, Mato Grosso), Representante Paresí (Tangará da Serra, Mato Grosso), Representantes Xakriabá (São João das Missões, Minas Gerais), Representantes Nambikwara/Sabanê (Pirineus de Souza, Mato Grosso), Carolina Rewaptu Xavante (São Félix do Araguaia, Mato Grosso), Lideranças Maxakali (Santa Helena de Minas, Minas Gerais), Professores Xavante (São Félix do Araguaia, Mato Grosso), Representantes da AMAU (Belo Horizonte, Minas Gerais), Seu Geraldo, Representante Caatingueiro (Serranópolis de Minas), Representante Geraizeiro (Articulação Rosalino, Minas Gerais), Representante Vazanteiro (Articulação Rosalino, Minas Gerais), Representante Pescador (Movimento de Pescadores e Pescadoras do Brasi, Minas Gerais), Representante Quilombola (Articulação Rosalino, Minas Gerais). 19h30 às 20h30 - Conferência de Abertura Direitos dos Povos e Comunidades Tradicionais no Brasil Profa. Dra. Rumi Kubo (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Local: Escola Técnica de Saúde da Universidade Estadual de Montes Claros 20h30 às 22h00 - Coquetel de abertura Participação musical: Projeto Acadêmicos do Samba Local: Bar e restaurante Quintal Segunda 24, de novembro de 2014 08h30 às 10h30 - Mesas Redondas Mesa 1. Saberes tradicionais e a luta por direitos territoriais 15 Dr. João Batista de Almeida Costa (Universidade do Estadual de Montes Claros) Dra. France Maria Gontijo Coelho (Universidade Federal de Viçosa) Dr. Emmanuel Duarte Almada (Universidade do Estado de Minas Gerais) Local: Auditório do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Universidade Estadual de Montes Claros Mesa 2. Etnobiologia evolutiva e resiliência de sistemas sócio ecológicos Dra. Patrícia Muniz de Medeiros (Universidade Federal do Oeste da Bahia) Dra. Cristiana Simão Seixas (Universidade Estadual de Campinas) Dr. Gustavo Taboada Soldati (Universidade Federal de Juiz de Fora) Local: Auditório do Centro de Ciências Humanas (CCH) da Universidade Estadual de Montes Claros 11h00 às 12h00 - Palestras Palestra 1. Sistemas agrícolas tradicionales y soberanía alimentaria en México MSc. Erêndira Cano (Sociedad Latino Americana de Etnobiología) Local: Auditório do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Universidade Estadual de Montes Claros Palestra 2. Etnoecologia Abrangente: um novo olhar depois de certos anos Dr. José Geraldo Marques (Universidade Estadual de Feira de Santana) Local: Auditório do Centro de Ciências Humanas (CCH) da Universidade Estadual de Montes Claros 12h00 às 13h00 - Palestras Palestra 3. Conhecimento local, identidade e direitos: o caso da Farmacopéia do Cerrado Jaqueline Evangelista (Articulação Pacari) Local: Auditório do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Universidade Estadual de Montes Claros Palestra 4. Similaridade florística e diversidade cultural em quintais agroflorestais Dr. Reinaldo Duque Brasil (Universidade Federal de Juiz de Fora) Local: Auditório do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Universidade Estadual de Montes Claros 14h00 às 15h00 – Exposição de “banners” Local: Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da Universidade Estadual de Montes Claros 14h00 às 15h00 - Etnodoc Vaqueiro Waldomiro: O Espelho da Saudade (Jaco Gadino e Josino Medina, 2014, 36’) e A Pontinha e o Pequi (Projeto Pequi da Universidade Federal de Minas Gerais, 2014, 12’) Local: Auditório do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da Universidade Estadual de Montes Claros 15h00 às 19h00 - Troca de Saberes Grupo 1: Lideranças Manoki (Brasnorte, Mato Grosso), discutindo o plano de gestão da TI Manoki; Grupo 2: Representantes Nambikwara/Sabanê (Comodoro, Mato Grosso), discutindo o plano de gestão da TI Pirineus de Souza; Grupo 3: Representante Paresí (Tangará da Serra, Mato Grosso), discutindo o intercâmbio de sementes Paresí; Grupo 4: Representantes Xakriabá (São João das Missões, Minas Gerais), discutindo a feira de sementes e a ampliação da TI Xakriabá; Grupo 5: 16 Representantes Nambikwara/Sabanê (Pirineus de Souza, Mato Grosso), discutindo a cadeia produtiva da banana; Grupo 6: Carolina Rewaptu Xavante (São Félix do Araguaia, Mato Grosso), discutindo a rede de sementes do Xingu e o grupo de mulheres coletoras de semente da TI Marãiwatsédé; Grupo 7: Lideranças Maxakali (Santa Helena de Minas, Minas Gerais), discutindo o esbulho da terra e resistência cultural na TI Maxakali; Grupo 8: Professores Xavante (São Félix do Araguaia, Mato Grosso) discutindo a diáspora forçada e reterritorialização na TI Marãiwatsédé; Grupo 11: Representantes da AMAU (Belo Horizonte, Minas Gerais), discutindo a agricultura urbana e sociobiodiversidade; Grupo 12: Seu Geraldo, Representante Caatingueiro (Serranópolis de Minas), discutindo o papel dos guardiões de sementes criolas e a agrobiodiversidade; Grupo 13: Representante Geraizeiro (Articulação Rosalino, Minas Gerais), discutindo a agricultura geraizeira; Representante Vazanteiro (Articulação Rosalino, Minas Gerais), discutindo a luta pelos territórios tradicionais e identidade vazanteira; Grupo 14: Representante Pescador (Movimento de Pescadores e Pescadoras do Brasil, Minas Gerais), discutindo a gestão participativa dos recursos naturais; Grupo 15: Representante Quilombola (Articulação Rosalino, Minas Gerais), discutindo a luta pelos territórios tradicionais e identidade quilombola; Grupo 16: Representante atingido por barragem e mineração (Movimento dos Atingidos por Barragens), discutindo a luta por direitos e território e a construção da resistência e agroecologia. Local: Salas de aula do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da Universidade Estadual de Montes Claros 19h30 às 22h00 - Lançamento da Exposição Fotográfica e do Prêmio de Fotografia João Zinclar; Lançamento de livros; Contação de causos; Cultural Participação musical: “O Cabaret” Local: Solar do Sertão do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas - CAA Terça, 25 de novembro de 2014 08h30 às 10h30 - Mesas Redondas Mesa 3. Conflitos ambientais e modelos de desenvolvimento Dr. Rômulo Soares Barbosa (Universidade Estadual de Montes Claros) Dra. Felisa Cançado Anaya (Universidade Estadual de Montes Claros) Dr. Francisco José Bezerra Souto (Universidade Estadual de Feira de Santana) Local: Auditório do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Universidade Estadual de Montes Claros Mesa 4. Etnobiologia histórica Dra. Maria Franco Trindade Medeiros (Universidade Federal de Campina Grande) Dr. Lin Chau Ming (Universidade Estadual de São Paulo) Dr. Luci de Senna Valle (Universidade Federal do Rio de Janeiro – Museu Nacional) Local: Auditório do Centro de Ciências Humanas (CCH) da Universidade Estadual de Montes Claros 11h00 às 12h00 - Palestras Palestra 5. Avanços teóricos na Etnozoologia brasileira Dr. Eraldo Medeiros Costa Neto (Universidade Estadual de Feira de Santana) 17 Local: Auditório do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Universidade Estadual de Montes Claros Palestra 6. Religiosidade, saberes locais e lutas sociais Frei Chico (Articulação Popular São Francisco Vivo) Local: Auditório do Centro de Ciências Humanas (CCH) da Universidade Estadual de Montes Claros 12h00 às 13h00 - Palestras Palestra 7. Entomofilia en las Montañas: los P'urhépecha y las Uauapu (Polybia diguetana Buysson) en las tierras altas de Michoacán, México Dr. Arturo Argueta Villamar (Presidente da Sociedad Latinoamericana de Etnobíologia) Local: Auditório do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Universidade Estadual de Montes Claros Palestra 8. Conhecimentos marginais e epistemologias do sul Dr. Mateus Moraes de Servilha (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri) Local: Auditório do Centro de Ciências Humanas (CCH) da Universidade Estadual de Montes Claros 14h00 às 15h00 – Exposição de “banners” Local: Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da Universidade Estadual de Montes Claros 14h00 às 15h00 - Etnodoc Conversando com o Rio (Luciano Dayrell, 2011, 25’54’’) e Arvorar (Zé Diniz e Naiana Lunelli, 2013, 16’41”) Local: Auditório do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da Universidade Estadual de Montes Claros 15h00 às 19h00 – Grupos de Trabalho Grupo de Trabalho 1: Agroecologia Coordenadores: Dr. Emmanuel Duarte Almada (Universidade do Estado de Minas Gerais) e Dr. Claudenir Fávero (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri) Grupo de Trabalho 2: Ecologia Política Coordenadoras: Dra. Felisa Cançado Anaya (Universidade Estadual de Montes Claros) e Dra. Ana Beatriz Vianna Mendes (Universidade Federal de Minas Gerais) Grupo de Trabalho 3: Etnobiologia e Educação Coordenadoras: MSc. Juliana Loureiro (Universidade Federal Rural de Pernambuco) e Dra. Geilsa Costa Baptista (Universidade Estadual de Feira de Santana) Grupo de Trabalho 4: Etnobotânica 1 Coordenadoras: Dra. Patrícia Muniz de Medeiros (Universidade Federal do Oeste da Bahia) Grupo de Trabalho 5: Etnobotânica 2 Coordenadores: Dr. Nelson Leal Alencar (Universidade Estadual do Piauí) e MSc. Washington Soares (Universidade Federal Rural de Pernambuco) Grupo de Trabalho 6: Etnoecologia 1 18 Coordenador e Coordenadora: Dr. Francisco José Bezerra Souto (Universidade Estadual de Feira de Santana) e Lucilene Lima dos Santos Vieira (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco) Grupo de Trabalho 7: Etnoecologia 2 Coordenador e Coordenadora: Dr. Ângelo Giuseppe Chaves Alves (Universidade Estadual de Feira de Santana) e Dra. Cristina Baldaulf (Universidade Federal Rural do Semiárido) Grupo de Trabalho 8: Etnoecologia da Pesca Coordenadoras: Dra. Cristiana Simão Seixas (Universidade Estadual de Campinas) e Dra. Paula Chamy (Universidade Estadual de Campinas/ CG Commons) Grupo de Trabalho 9: Etnozoologia Coordenadores: Dr. Dr. Eraldo Medeiros Costa Neto (Universidade Estadual de Feira de Santana) e Dr. Fábio José Vieira (Universidade Estadual do Piauí) Local: Salas de aula do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da Universidade Estadual de Montes Claros 19h30 às 20h00 – Mesa de Homenagem ao Prof. Dr. José Geraldo Marques e abertura do seu Varal de Poesias (exposição permanente) Mediadora: Dra. Paula Chamy (Universidade Estadual de Campinas e CG Commons) com participação de Dr. Francisco José Bezerra Souto, Dr. Ângelo Giuseppe Alves, Dra. Flávia de Barros Prado Moura e Dr. Emmanuel Duarte Almada Local: Auditório do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da Universidade Estadual de Montes Claros 20h00 às 22h00 – Contação de causos e Cultural Participação musical: Grupo de Maracatu, Pão e Circo como show “a palavra moída entre meus dentes” e “Palco livre” Local: Solar do Sertão do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas - CAA Quarta, 26 de Novembro se 2014 08h30 às 10h30 - Mesas Redondas Mesa 5. Patrimônio Biocultural: instrumentos jurídicos e ferramentas políticas Dra. Patrícia Goulart Bustamante (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) MSc. Fernanda Testa Monteiro (Rede de Agrobiodiversidade do Semiárido Mineiro) Dra. Thiago Mota Cardoso (Universidade Federal de Santa Catarina) Local: Auditório do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Universidade Estadual de Montes Claros Mesa 6. Etnobiologia e Educação Dr. Charbel Niño El-Hani (Universidade Estadual de Feira de Santana) Dr. Willer Araújo Barbosa (Universidade Federal de Viçosa) Dr. Ângelo Giuseppe Chaves Alves (Universidade Federal Rural de Pernambuco) Local: Auditório do Centro de Ciências Humanas (CCH) da Universidade Estadual de Montes Claros 11h00 às 12h00 – Palestras Palestra 9. Agroecologia e a luta pelos territórios tradicionais Dr. Claudenir Fávero (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri) 19 Local: Auditório do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Universidade Estadual de Montes Claros Palestra 10.“Movimento dos povos e comunidades tradicionais do Semiárido Norte mineiro: histórico, possibilidades e desafios” Ms. Carlos Dayrell – Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas Local: Auditório do Centro de Ciências Humanas (CCH) da Universidade Estadual de Montes Claros 12h00 às 13h00 – Palestras Palestra 11. A institucionalização dos saberes populares sobre plantas medicinais Dr. Daniel Sales Pimenta (Universidade Federal de juiz de Fora) Local: Auditório do Centro de Ciências Humanas (CCH) da Universidade Estadual de Montes Claros Palestra 12. Para além da dicotomia conhecimento tradicional x conhecimento científico: o manejo de produtos florestais sob uma perspectiva dialética Dra. Cristina Baldaulf (Universidade Federal Rural do Semiárido) Local: Auditório do Centro de Ciências Humanas (CCH) da Universidade Estadual de Montes Claros 14h00 às 15h00 – Exposição de “banners” Local: Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da Universidade Estadual de Montes Claros 14h00 às 15h00 – Etnodoc Babaçu no Araripe (Juliana Loureiro e Alexandre Salomão, 2013, 37’16”) e Profetas da Chuva e da esperança (Marcia Paraiso, 2007, 15’51’’) Local: Auditório do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da Universidade Estadual de Montes Claros 15h00 às 17h00 – Grupos de Trabalho Grupo de Trabalho 4: Etnobotânica 1 Coordenadoras: Dra. Patrícia Muniz de Medeiros (Universidade Federal do Oeste da Bahia) Grupo de Trabalho 5: Etnobotânica 2 Coordenadores: Dr. Nelson Leal Alencar (Universidade Estadual do Piauí) e MSc. Washington Soares (Universidade Federal Rural de Pernambuco) Grupo de Trabalho 6: Etnoecologia 1 Coordenador e Coordenadora: Dr. Francisco José Bezerra Souto (Universidade Estadual de Feira de Santana) e Lucilene Lima dos Santos Vieira (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco) Grupo de Trabalho 7: Etnoecologia 2 Coordenador e Coordenadora: Dr. Ângelo Giuseppe Chaves Alves (Universidade Estadual de Feira de Santana) e Dra. Cristina Baldaulf Universidade Federal Rural do Semiárido Local: Salas de aula do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da Universidade Estadual de Montes Claros 17h30 às 19h00 – Assembleia Geral da Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia Local: Auditório do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da Universidade Estadual de Montes Claros 20 19h30 às ... - Solenidade de encerramento e resultado dos prêmios Darrel Posey, João Zinclar e Guimarães Rosa Coordenadores Dra. Rumi Kubo e Dra. Ana Paula Glinfskoi Thé Conferência-Espetáculo Professor e Poeta Dr. Carlos Rodrigues Brandão e Músico e Educador Popular Josino Medina com a participação especial da Orquestra Catrumana do Groove Solto Local: Solar do Sertão do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas - CAA. Anais do X Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia Agroecologia A experiência agroecológica da implantação de unidades de experimentação participativa no âmbito do PBSM, nos municípios de Monte Alegre e Gararu em Sergipe Tereza Cristina de Oliveira (Embrapa Tabuleiros Costeiros), Edson Diogo Tavares (Embrapa Tabuleiros Costeiros), Fernando Fleury Curado (Embrapa Tabuleiros Costeiros), Amaury da Silva dos Santos (Embrapa Tabuleiros Costeiros), Allana do Nascimento Santos (Universidade Federal de Sergipe). Contato: [email protected]. A abordagem agroecológica permite o diálogo de saberes na construção e reconhecimento do conhecimento agroecológico local. Nesta perspectiva, o objetivo deste trabalho foi implantar unidades de experimentação agroecológica (UEA) por meio do diálogo entre o conhecimento local dos agricultores e o conhecimento formal dos técnicos como estratégia de inclusão socioprodutiva de famílias agricultoras no âmbito do Programa Brasil Sem Miséria (PBSM). Foram realizadas reuniões, visitas técnicas, caminhadas transversais e rodas de conversa nas comunidades com a participação efetiva dos agricultores, agricultoras e técnicos. Realizou-se, nos municípios, a caracterização da realidade local, a identificação dos locais de instalações das unidades de experimentação coletivas, a identificação dos arranjos produtivos, formação de Grupos de Interesse (GI) e a identificação de temas de interesse. Em conjunto com o GI foram realizadas oficinas de produção agroecológica de hortas, produção de compostagem, com aproveitamento dos insumos locais, criação e manejo de ovinos, produção de sementes e mudas, usos diversificados da gliricídea, instalações e reformas de estruturas de galinheiros e apriscos, intercâmbios de experiências entre os GI. Nas UEA implantadas foram gerados conhecimentos adaptados à realidade das famílias agricultoras. A constituição dos GI e das UEA permitiu a construção de um novo conhecimento sobre a realidade local, promovendo o diálogo entre o conhecimento dos agricultores e o conhecimento dos técnicos, gerando novos sistemas agroecológicos de produção que estão, agora, se disseminando para as áreas dos membros participantes dos GI. Agradece-se ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Diretoria de Transferência de Tecnologia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) - DTTEMDAGRO e Empresa de Desenvolvimento e Assistência Técnica do Estado de Sergipe. 21 A tradicional produção de farinha de mandioca na baixada cuiabana, Mato Grosso, Brasil Gisele Soares Dias Duarte (Universidade Federal de Mato Grosso), Eulalia Soler Sobreira Hoogerheide (Embrapa Agrossilvilpastoril), Marco Antônio Aparecido Barelli (Universidade Estadual de Mato Grosso), Maria Corette Pasa ( Universidade Federal de Mato Grosso). Contato: [email protected]. A agricultura tradicional é um importante mantenedor da agrobiodiveridade e dos costumes tradicionais nos sistemas agrícolas. A espécie mais cultivada pelos pequenos produtores é a mandioca (Manihot esculenta Crantz), no estado do Mato Grosso. Este trabalho teve por objetivo realizar um levantamento das farinheiras na Baixada Cuiabana, a fim de quantificar a produção total do produto na região. O trabalho foi realizado no período de dezembro de 2013 à abril de 2014, em comunidades dos municípios de Acorizal, Barão de Melgaço, Campo Verde, Chapada dos Guimarães, Cuiabá, Jangada, Nobres, Nossa Senhora do Livramento, Poconé, Rosário Oeste, Santo Antônio do Leverger, Várzea Grande e Nova Brasilândia. Foram aplicadas entrevistas semi-estruturadas junto aos produtores e ex-produtores de farinha, contendo perguntas sobre cultivo, mão-de-obra, produtividade, custos e dificuldades encontradas na atividade. Os resultados apontaram que 65% das farinheiras são instaladas nos quintais, e a produção de farinha era feita de forma manual ou artesanal, os conhecimentos sobre a produção foram transmitidos de pais para filho. As outras farinheiras são comunitárias e algumas inativas. Quanto às dificuldades de funcionamento das farinheiras, a maioria das pessoas informou algum tipo de dificuldade como: manutenção dos equipamentos, ausência de matéria prima e escassez de mão de obra. De modo geral, para todas as farinheiras ativas entrevistadas da Baixada Cuiabana, obteve-se uma estimativa média de 99,790 kg/mês de farinha e esse valor garante, para maioria dos produtores, a subsistência da família. Os desafios enfrentados por eles que impedem uma maior produção das farinheiras não deixam de lado o esforço dos produtores em manter a tradição na produção de farinha. A produção de farinha de mandioca na baixada cuiabana possui mercado para alcançar maiores índices de produção, principalmente pela tradição e aceitação dos consumidores, porém é preciso apoio por parte dos órgãos públicos e sociais como forma de incentivar as famílias produtoras da região. Agradece-se à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela concessão de bolsa de estudo à Gisele Soares Dias Duarte, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (FAPEMAT), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e FINEP, pelo apoio no projeto. Agrobiodiversidade: resgate de sementes crioulas por camponeses do território alto sertão de Sergipe Edson Diogo Tavares (Embrapa Tabuleiros Costeiros), Amaury da Silva dos Santos (Embrapa Tabuleiros Costeiros), Fernando Fleury Curado (Embrapa Tabuleiros Costeiros), Elielma Barros de Vasconcelos (Movimento dos Pequenos Agricultores). Contato: [email protected]. A manutenção da agrobiodiversidade é essencial para garantir a autonomia e soberania alimentar de povos, comunidades tradicionais e camponeses. No Território Alto Sertão de Sergipe o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e a Embrapa Tabuleiros Costeiros iniciaram, em 2013, atividades para o resgate e a conservação da agrobiodiversidade. O objetivo deste trabalho foi identificar camponeses que conservam sementes crioulas de milho e de feijão e multiplicar essas variedades em campos comunitários. O trabalho teve início com visitas às 22 comunidades, rodas de conversa e identificação de camponeses guardiões de sementes que conservam sementes crioulas, algumas das quais cultivadas por seus pais e avós. Em junho de 2014, após rodas de conversa nas comunidades, os guardiões disponibilizaram suas sementes e foram definidos coletivamente os materiais que seriam plantados. Assim, foram implantados dois campos de multiplicação de sementes, sendo um deles no município de Monte Alegre, na comunidade Retiro, e outro, no município de Poço Redondo, na comunidade Garrote do Emiliano. Nos dois campos foram plantadas, em consórcio, variedades de milho e de feijão, conduzidas em sistema de mutirão pelas comunidades, seguindo sua forma de cultivo tradicional e princípios agroecológicos. Por falta de chuva no período da colheita não foi possível colher o milho nos dois campos. Quanto ao feijão, foi possível colher, na comunidade Retiro, sementes de quatro variedades: “amarelinho”, “badajoz”, “carioca” e “ligeirinho”. Já na comunidade Garrote do Emiliano, três variedades completaram o ciclo: “cachinho”, “carioca” e “riqueza”. As sementes desses materiais serão conservadas para o plantio de novos campos de multiplicação no ano de 2015. A identificação de camponeses detentores de sementes crioulas permitiu a discussão, nas comunidades, sobre a importância da preservação do seu patrimônio genético, a implantação coletiva de campos de multiplicação de sementes e o resgate pelas comunidades das sementes, do trabalho em mutirão e das práticas de cultivo tradicionais. Os novos campos serão implantados no início do período chuvoso (abril/maio) e será feita a caracterização agronômica das variedades crioulas, fundamentais na construção participativa de soluções agroecológicas no território Alto Sertão de Sergipe, no âmbito do Programa Brasil Sem Miséria (PBSM). Agradece-se à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê Técnico Interno (CTI) da Embrapa Tabuleiros Costeiros e pelo Comitê Gestor da Programação da Embrapa (CGP). O projeto tem por título: "Construção participativa de soluções agroecológicas junto ao Plano Brasil Sem Miséria no Território Alto Sertão Sergipano", código: 04.12.09.005.00.00, executado no período 2011-2014. Agroecologia urbana: a experiência da horta comunitária do Cafezal e das feiras da agricultura urbana no Aglomerado da Serra Luana do Carmo Araujo de Oliveira (Universidade Federal de Minas Gerais), Bruno Martins Dala Paula (Universidade Federal de Minas Gerais), João Henrique de Azevedo Xavier (Universidade Federal de Minas Gerais), Letícia Oliveira Moraes Starling (Universidade Federal de Minas Gerais). Contato: [email protected]. A agroecologia urbana se pauta em estratégias para cultivar uma cidade sustentável e que promova qualidade de vida a todos os citadinos. Visando estimular a segurança alimentar e o desenvolvimento local, a promoção da Agricultura Urbana (AU) é uma dessas estratégias. Além de uma prática espontânea, a AU vem sendo estudada como ferramenta política para a gestão urbana, uma vez que contribui com a manutenção da biodiversidade nas cidades e transformação de terrenos baldios em espaços produtivos, como é o caso da Horta Comunitária do Cafezal, no Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte. Desde 2008, o Grupo Aroeira, um coletivo de extensionistas criado na Universidade Federal de Minas Gerais, acompanha os trabalhos da Horta do Cafezal e busca formas de apoiar, em diálogo com os princípios da agroecologia e da economia popular solidária (EPS), a organização comunitária para autogestão da produção e geração de renda aos agricultores. Com esse intuito, o Grupo propôs um resgate das feiras livres locais esperando aumentar a comercialização dos produtos da horta e dinamizar a economia local. Em parceria com a Horta do Cafezal e o Fundo Nacional de Solidariedade (FNS) 23 foram organizadas feiras mensais no segundo semestre de 2013 na Vila do Cafezal. Foram convidados a participar iniciativas locais de farmácias caseiras e agricultores urbanos de outros bairros, como o Grupo Frutos da União do Ribeiro de Abreu, o CEVAE (Centro de Vivências Agroecológicas) do Capitão Eduardo e o Grupo Semear do Alto Vera Cruz, além de contar com apresentações culturais, incluindo o grupo de teatro local, MorroEncena. As feiras possibilitaram aos moradores da comunidade alimentos frescos, de origem conhecida e a preços solidários, além de trazer visibilidade ao trabalho na Horta Comunitária e ao consumo de alimentos isentos de agrotóxico. A Horta Comunitária do Cafezal passou a ser mais procurada pela comunidade, fortalecendo as relações entre produtor/consumidor, além de melhorar a renda aos agricultores. As experiências vividas nessa horta e nas demais ações do Grupo Aroeira no Aglomerado da Serra repercutiu em movimentos sociais presentes em outros pontos da cidade, como na Ocupação Eliana Silva, em que os moradores demandaram junto ao Grupo a construção democrática e coletiva de uma Horta, com a intenção de prove-los com alimentos de qualidade, especialmente a creche comunitária. O Grupo Aroeira espera que tais ações continuem inspirando outras comunidades, e que a agroecologia urbana cultive uma cidade com mais responsabilidade socioambiental. Agradece-se aos moradores do Aglomerado da Serra, a Horta Comunitária do Cafezal, especialmente S. Durval e D. Dirinha, a Pró Reitoria de Extensão da Universidade Federal de Minas Gerais e ao Fundo Nacional de Solidariedade, que, através do Padre Wagner, nos financia. Avaliação de técnicas para amostragem da entomofauna na pesquisa etnoecológica em agroecossistemas Daniele Cristina de Oliveira Lima (Universidade Federal Rural de Pernambuco), Ângelo Giuseppe Chaves Alves (Universidade Federal Rural de Pernambuco), Marcelo Alves Ramos (Universidade de Pernambuco), Henrique Costa Hermenegildo da Silva (Universidade Federal de Alagoas), Alaide Maria Silva Santos (Universidade Federal de Alagoas), Lúcia dos Santos Rodrigues (Universidade Federal de Alagoas), Cledson dos Santos Magalhães (Universidade Federal de Alagoas). Contato: [email protected]. O monitoramento de insetos é um dos fundamentos do Manejo Integrado de Pragas, porém configura-se em um processo lento e dispendioso. Dessa forma, surge a necessidade em desenvolver métodos que promovam ganho de tempo no monitoramento sem comprometer sua eficiência. A presente pesquisa objetiva avaliar a eficiência do levantamento convencional de insetos e levantamento do conhecimento entomológico local na amostragem rápida da entomofauna. A pesquisa de campo para levantamento convencional da entomofauna foi realizada em uma propriedade particular de quiabeiro (Abelmoschus esculentus) no Assentamento Irrigado Jacaré Curituba, Sergipe, Brasil. Os dados foram coletados em um período de 120 dias, e analisados através dos índices de freqüência, abundância, constância e dominância. O levantamento etnoentomológico foi conduzido com 41 produtores de quiabo deste Assentamento. Analisou-se a freqüência e a riqueza obtida nas técnicas “Lista livre” e amostragem convencional através do coeficiente de correlação de Spearman e teste do Qui quadrado e o uso combinado da entrevista projetiva com dois estímulos visuais (banco de imagens e caixa entomológica) através do teste de Cochran. Durante o levantamento convencional foram coletados 54936 indivíduos distribuídos em 3 ordens, 12 famílias e 15 espécies, sendo 11 espécies de insetos fitófagos e 4 de insetos predadores. As espécies Bemisia tabaci (Gennadius, 1889) biótipo B, Aphis gossypii (Glover, 1877), Phenacoccus sp., Icerya purchasi (Maskell, 1879) e Lagria vilosa (Fabricius, 1783) apresentaram os maiores índices 24 faunísticos. Comparando as riquezas registradas no levantamento convencional e na lista livre não houve diferenças significativas (χ=0,66, p=0,54). Houve uma forte associação por meio da correlação de Spearman (r = 0,8286, p = 0, 0415) entre o índice de frequência dos insetos nas duas técnicas. Comparando a entrevista com estimulo visual utilizando imagem e espécimes montados observou-se que este último foi mais eficaz do que aquele, e que o reconhecimento dos insetos foi influenciado pelo fator tamanho. Essas diferenças foram significativas pelo teste de Chocran (χ2=118, GL=1, p < 0,0001). Conclui-se que técnicas que se baseiam no registro e analise de conhecimentos locais são eficazes para o monitoramento e amostragem rápida da entomofauna. Recomenda-se a utilização de insetos montados nas entrevistas. Agradece-se aos agricultores e Equipe Técnica do Assentamento. Ao Núcleo de Estudos Etnobiológicos e Ecológicos da Universidade Federal de Alagoas. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi avaliado e aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade de Pernambuco sob o protocolo CAAE- 24844813.0.0000.5207. Cultura popular e Agroecologia: uma proposta de arte-educação ambiental Hana Brener Mockdece (Universidade Federal de Viçosa), Thaís Almeida Cardoso (Universidade Federal de Viçosa), Ananda Deva Assis Trivelato (Universidade Federal de Viçosa). Contato: [email protected]. O fazer de uma educação ambiental transformadora pode ser entendido sob uma ótica de interrelação com os saberes agroecológicos e sua dinâmica de construção coletiva, na qual tem sido crucial a proposição de metodologias inseridas em um processo educacional menos estéril, mais contextualizado e sensível, que valorize os sujeitos, suas culturas e especificidades. Nesse sentido, o grupo Micorrizas, formado por estudantes e professores da Universidade Federal de Viçosa e membros da comunidade de Viçosa, MG, em parceria ao Programa Teia-UFV, buscou, através do estudo das identidades culturais tradicionais e sua associação com a Agroecologia, as ferramentas que auxiliam na (re)apropriação dessa diversidade cultural em nossa memória corporal. No período de Maio a Setembro de 2013 fomos a campo vivenciar os contextos populares, realizando diálogos abertos com agricultores da Zona da Mata Mineira. Por meio dos relatos das experiências destes agricultores, seus gestos e expressividades, refletimos e assimilamos elementos culturais dos saberes e valores ancestrais brasileiros. A partir disso, trabalhamos com o conceito de performance instalação artístico pedagógica para guiar a construção de uma obra artística com possibilidades pedagógicas, tanto em seu processo de criação como em sua apreciação pelo público. Essa performance de dança-teatro, valorizando os saberes populares, discutiu aspectos como a luta contra o agronegócio a favor da Agroecologia e o empoderamento da mulher. Envolveu também temas associados à água e a terra, em uma comunhão de lutas e energias, buscando a harmonia entre os povos e destes com o universo. As performances foram apresentadas no I Seminário Regional de Educação do campo e popular da Zona da Mata mineira, na Escola Familia Agrícola Dom Luciano – Catas Altas da Noruega, Minas Gerais, em Dezembro de 2013. Dentre os presentes encontravam-se agricultores e agricultoras, estudantes e professores(as) da UFV e EFAs. Nesse espaço foram captadas as impressões dos sujeitos observadores, através de gravação de áudio e vídeo de suas falas. Posteriormente, foram interpretadas a partir de agrupamentos de sentido e idéias aglutinadoras constituindo-se categorias de análise. As análises demonstraram a capacidade dessas performances instalações artístico pedagógicas de envolver os participantes, tanto intérpretes quanto público, em uma reflexão sobre a realidade em que se inserem. Dessa arte que se pauta nos valores agroecológicos originaram-se falas carregadas de emoções e 25 simbolismo, reforçando o próprio movimento da agroecologia e sua importância, abrindo espaços e possibilidades que se renovam em metodologias de entrelaçamento dos saberes. Agradece-se, dentre muitos, à Universidade Federal de Viçosa, ao Programa Teia e às Micorrizas pelas oportunidades e vivências fundamentais na realização deste trabalho. Diálogos entre a pesquisa e a extensão junto a famílias agricultoras no âmbito do Plano Brasil Sem Miséria, no estado de Sergipe Tereza Cristina de Oliveira (Embrapa Tabuleiros Costeiros), Edson Diogo Tavares (Embrapa Tabuleiros Costeiros), Amaury da Silva dos Santos (Embrapa Tabuleiros Costeiros), Fernando Fleury Curado (Embrapa Tabuleiros Costeiros), Allana do Nascimento Santos (Universidade Federal de Sergipe). Contato: [email protected]. Esse trabalho apresenta a construção de diálogos entre a pesquisa e a extensão agroecológica junto a famílias agricultoras beneficiadas pela política pública, denominada Plano Brasil Sem Miséria (PBSM), no Território Alto Sertão em Sergipe. As metodologias tradicionalmente utilizadas pela Embrapa na transferência de tecnologia não preveem a participação de agricultores e extensionistas na construção, na execução e no acompanhamento das estratégias de desenvolvimento local propostas para os agricultores familiares. As ações foram iniciadas em 2011 com a realização de reuniões e de um seminário territorial onde foram apresentadas as demandas das famílias agricultoras dos municípios e as ações, até então, realizadas em extensão pela Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe e em pesquisa pela Embrapa Tabuleiros Costeiros. A partir dessas informações, construiu-se um projeto pela Embrapa validado em reunião do colegiado territorial, constituindo-se um Comitê Gestor Interinstitucional. Foram formados Grupos de Interesse constituídos por famílias agricultoras, técnicos e extensionistas em seis municípios do território. Em cada município foram criados espaços coletivos de experimentação participativa e troca de experiências. As atividades de campo visavam testar alternativas para aumentar e diversificar a produção de alimentos das comunidades, diminuir o uso de insumos externos e promover o aproveitamento dos recursos locais, visando a segurança alimentar das famílias beneficiadas pelo PBSM. As atividades de campo se estenderam até 2014. Nos espaços coletivos de experimentação adotou-se uma abordagem agroecológica, permitindo que as inovações tecnológicas fossem discutidas e experimentadas com as famílias, a partir das suas próprias experiências, de suas necessidades e das potencialidades locais. Sobretudo, permitiram o resgate do seu conhecimento, transmitido de geração a geração, e a utilização de sistemas praticados há muitos anos pelos agricultores. Verificou-se, nas ações de caracterização, planejamento, instalações e capacitações coletivas, que a criação de espaços de diálogo envolvendo a pesquisa, a extensão rural e as famílias agricultoras vêm promovendo a aproximação dos conhecimentos científico e popular, estabelecendo e valorizando o diálogo de saberes na construção do conhecimento agroecológico. Agradece-se ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, Ministério do Desenvolvimento Social e Emdagro. Do projeto à realidade: as oficinas no Sítio de Saluzinho no Instituto de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Mimas Gerais 26 Yara Janaina Gusmão (Universidade Federal de Minas Gerais), Fernanda Oliveira Cirino (Universidade Federal de Minas Gerais), Giliarde de Souza Brito (Universidade Federal de Minas Gerais), Marcos Antônio Maltez (Universidade Federal de Minas Gerais), Áureo Eduardo Magalhães (Universidade Federal de Minas Gerais), Flávia Maria Galizoni (Universidade Federal de Minas Gerais), Ana Luiza Tauffer Caldas (Universidade Federal de Minas Gerais). Contato: [email protected]. O Centro de Referência da Cultura Material da Agricultura Familiar – Sítio de Saluzinho - é um programa desenvolvido no Campus do Instituto de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Mimas Gerais (ICA/UFMG). O Sítio realiza atividades de extensão universitária, oferecendo oficinas para crianças do ensino fundamental de escolas públicas de Montes Claros e disponibiliza conhecimento de modo diferenciado àquele que as escolas ofertam. As oficinas têm duração de trinta minutos cada, as crianças participam de todas as oficinas por meio de rodízio nos quiosques que o espaço possui. No primeiro semestre do ano de 2014 o Sítio de Saluzinho recebeu três escolas públicas, sendo elas a Escola Estadual Francisco Sá que levou 14 turmas, a Escola Estadual Irmã Beata com 10 turmas e a Escola Estadual Gonçalves Chaves que participou com uma turma, totalizando 750 crianças de seis a dez anos que partilharam das atividades ofertadas pelo Sítio. As temáticas das oficinas do Sítio foram bastante diferentes: 45% delas abordaram agricultura, agroecologia e produção de alimentos, 25% tinham como tema brincadeiras tradicionais, 12% trataram de segurança alimentar e nutrição saudável, 10% reciclagem de materiais, 7% sustentabilidade, 3% conservação das águas, e 2% de outros assuntos. Todos os temas são embasados no conceito de conhecer, respeitar, e conviver com o meio rural. As oficinas que tinham como tema agricultura, agroecologia e produção de alimentos tratavam da produção orgânica como fonte de fornecedora de alimentos saudáveis, produzida sem intervenção da química ou de sementes industriais. Produzir brinquedos tradicionais, além de ajudar a natureza reciclando materiais que iriam para o lixo, dá oportunidade de participar de divertidas brincadeiras já esquecidas pelo tempo. Oficinas também tinham por objetivo abordar assuntos relacionados à alimentação saudável e nutrição, a partir dos alimentos consumidos no cotidiano. Todas as atividades eram realizadas com linguagem simples e lúdica para atrair a atenção das crianças. Dessa forma, as crianças podem compreender que a vida está ligada à natureza, seja por ser uma fonte de alimento ou pelas plantas que fazem fotossíntese melhorando a qualidade do ar. Mas, principalmente, a criança resgata o que com o tempo se perdeu, que é o contato com as pessoas do campo e seus ensinamentos, além de ser uma maneira de estudantes colocarem em exercício o conhecimento adquirido na Universidade e praticar extensão. Essa interação pode trazer inúmeros benefícios e ajudar na formação do indivíduo e do cidadão. Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG). Estudo sobre a agrobiodiversidade de mandioca na Aldeia Ipatse, etnia Kuikuro, PIX, Mato Grosso, Brasil Helena Pagliaro Cooper (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Carlos Fausto (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e Cassia Sakuragui (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Contato: [email protected]. 27 A Mandioca, Manihot esculenta (Crantz.), por sua considerável base nutricional e plasticidade genética morfológica, está bem adaptada ao solo do Bioma Cerrado e é o recurso vegetal mais cultivado pelos índios Kuikuro, do Alto Xingu, Mato Grosso, Brasil. Esse estudo tem por objetivo descrever a dinâmica de manejo da agrobiodiversidade de mandioca entre os Kuikuro, bem como fornecer dados atuais sobre o estado do conhecimento da mandioca na aldeia. Buscou-se identificar, através de entrevistas estruturadas e listas livres com toda a comunidade, o número de roças e de variedades recordadas. Ademais, foram verificadas e mensuradas as variedades atualmente cultivadas nas roças. Os dados coletados nas roças sobre essas variedades foram tratados através de morfometria geométrica e análise de componentes principais, para assim, ter mecanismos de quantificá-las. Foi obtido a curva de acumulação de conhecimento através de citações das variedades cultivadas e colacionou-se as diferenças de conhecimento entre as faixas etárias dos homens da comunidade. Havia a hipótese de estaria ocorrendo uma mudança significativa na relação entre os índios Kuikuro com sua agrobiodiversidade de mandioca, fruto, principalmente, da crescente influência da sociedade nacional sobre os indígenas. Os dados qualitativos coletados sobre o manejo tradicional mostram a substituição de diversas ferramentas de trabalho por utensílios modernos não-indígenas, como machados, motosserras e motocicletas, que diminui o tempo em roças e possibilita relações mercantilizadas na cidade, que por sua vez, valorizam o produto gerado por apenas uma variedade. Os 68 homens entrevistados cultivam um total de 81 roças e tinham ciência de 21 variedades. Os jovens demonstraram pouco conhecimento, assim como desinteresse em manejar ou diversificar suas roças. Como resultado das análises de componentes principais da morfometria geométrica, obteve-se um total de 17 variedades distintas entre si, que foram cotejadas com listas anteriores que identificaram um total de 32 em 1983 e 28 em 2002. Demonstrou-se a necessidade de aplicação de práticas e políticas locais que valorizem a agrodiversidade e as práticas tradicionais de plantio como resistência à politica mercantil de produção de alimentos. Como retorno foi proposta uma atividade escolar lúdica visando o resgate das variedades e a produção de um livro didático sobre a mandioca. Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e à Pró-reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Guardiões de sementes e suas trajetórias de vida no contexto do assentamento Olga Benário, Sergipe Ana Cristina Oliveira de Almeida (Universidade Federal de Sergipe) e Eliane Dalmora. Contato: [email protected]. Considerados atores chave para a conservação da agrobiodiversidade, os guardiões, por entre as gerações e sob a memória das mudanças ambientais, apresentam flexibilidade para se adaptar às mudanças de ambiente. As sementes que conservam e armazenam ao longo dos anos são parte desse processo. Este trabalho teve o objetivo de analisar a caracterização social dos guardiões de sementes e as formas de transmissão do conhecimento estabelecidas nas relações intercomunitárias como forma de contribuição para a agrobiodiversidade do local. O trabalho foi realizado no Assentamento Olga Benário, situado no município de Santo Amaro das Brotas no estado de Sergipe, onde foram aplicadas entrevistas semiestruturadas em vinte e três agricultores. Foi observado que 50% são provenientes de municípios vizinhos ou mesmo de povoados do próprio local, inclusive trabalhadores da antiga fazenda que deu lugar ao assentamento. Dentre os guardiões, 65,22% são mulheres predominando as de idade acima de 28 quarenta anos. Algumas mulheres se identificaram como sendo agricultoras e pescadoras, inclusive utilizando instrumentos de pesca artesanal. Quanto à idade dos guardiões, 65,22% são maiores de quarenta anos, denotando pouco envolvimento dos jovens na conservação de sementes no assentamento. Sobre a transmissão da prática de conservação das sementes, 91,30% dos que conservam afirmaram aprender com os parentes, principalmente com os pais e avós, e 65,22% afirmaram ter apenas uma pessoa em casa conhecedora e atuante nesta prática de conservação de sementes. Dentre os motivos pelos quais os agricultores mantêm a prática de guardar e doar as sementes estão: por ser uma vantagem financeira (as sementes estão caras para comprar), garante qualidade nos próximos plantios (semente bem guardada e de procedência conhecida), por ser um método de controle (prevê o novo plantio) e é cíclico (todo ano tem e não perde a tradição). Os agricultores também afirmaram ter seus métodos de escolha e forma de armazenamento das sementes como esperar secar e guardar, em vaso de vidro ou garrafa Pet, e em local seco, outros têm a escolha influenciada pela produção das melhores plantas e sementes sadias. Pode-se concluir que, ainda que as influências externas estejam cada vez mais presentes no dia-a-dia dos agricultores familiares, seus referenciais são reconstruídos a todo tempo, considerando sua memória coletiva como reflexo do aprendizado e transmissão do conhecimento principalmente entre os familiares. Agradece-se à Pós-Graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Rural da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Agradeço ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e aos agricultores e agricultoras do Assentamento Olga Benário por terem me recebido de braços abertos. O projeto de pesquisa que embasou o presenta trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de São Carlos sob o registro 246.184. Observatório das Agroflorestas: uma avaliação multiescalar das ações no Rio Grande do Sul Gabriela Coelho-de-Souza (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Cristina Grabher (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Ricardo Silva Pereira Mello (Universidade Estadual do Rio Grande do Sul), Endrigo Rotta Moreira (Universidade Estadual do Rio Grande do Sul), Grégori Heck Turra (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Marcia dos Santos Ramos Berreta (Universidade Estadual do Rio Grande do Sul), Daniela Garcez Wives (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Lucas Rocha, Fábio Dal Soglio (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Rumi Regina Kubo (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Contato: [email protected]. As agroflorestas são agroecossistemas que promovem a manutenção da dinâmica sucessional dos ecossistemas nativos e estão sendo consideradas em políticas ambientais como ferramenta para a produção sustentável e para a conexão dos corredores ecológicos, garantindo a viabilidade dos ecossistemas e fluxos gênicos. A legislação brasileira está estimulando esta prática na restauração da Reserva Legal (RL) e das Áreas de Preservação Permanente (APP), por meio da Lei da Mata Atlântica, Código Florestal de 2012, Resolução do CONAMA 429/2011 e Programa Produtor Recebedor (ANA). O objetivo deste trabalho é avaliar as ações multiescalares que vêm sendo desenvolvidas no Rio Grande do Sul para fortalecer as práticas agroflorestais. Com este intuito foi criado o Observatório das Agroflorestas o qual atua: a) em nível local no estabelecimento de Unidades de Observação Participante em Sistemas Agroflorestais; b) identificação e sistematização das iniciativas em agroflorestas, para disponibilização pública por meio de um web site (http://www.ufrgs.br/obssan/agroflorestas/index.php); c) articulação dos arranjos institucionais no Estado, junto à Câmara Técnica de Agroecologia da SDR (CTA/SDR). A implantação das agroflorestas está sendo realizada em São Francisco de Paula, junto a 29 pecuaristas familiares da Comunidade do Caconde, nas nascentes da Bacia do Rio dos Sinos. A implantação das Unidades consiste no enriquecimento com espécies nativas, principalmente erva-mate, nas áreas de vegetação secundária das áreas de RL e APPs, por meio das ações participativas de plantio de mudas, manejo de baixo impacto e monitoramento. O Observatório identificou 149 experiências agroflorestais manejadas por agricultores familiares, povos indígenas e comunidades tradicionais no RS (entre 2011 a 2013), abarcando 75 municípios. Destas, 23 foram sistematizadas e integram o banco de dados do Observatório. Em nível estadual a CTA/SDR apoiou o trabalho do Departamento de Florestas e Áreas Protegidas (SEMA), no desenvolvimento da Certificação Agroflorestal, mecanismo que está promovendo a regularização das práticas agroflorestais no Estado. As ações multiescalares vem contribuindo no fortalecimento das agroflorestas como uma ação estratégica na conservação e uso sustentável da agrobiodiversidade no RS que está sendo fortalecida pela implementação da Rede Sul de Núcleos de Estudo de Agroecologia e Sistemas de Produção Orgânica (RESNEA). Agradece-se à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)/PNPD Institucional, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Secretaria de Ensino Superior do Ministério da Educação. Plantas medicinais: saberes e práticas de moradores da Vila de Alter do Chão, Santarém, Pará Franciane Aguiar Santana (Universidade Federal do Oeste do Pará), Helionora da Silva Alves (Universidade Federal do Oeste do Pará), Thiago Almeida Vieira (Universidade Federal do Oeste do Pará), Jackson Fernando Rego Matos (Universidade Federal do Oeste do Pará). Contato: [email protected]. Estudos etnobotânicos de plantas medicinais podem subsidiar trabalhos sobre o uso sustentável e o aproveitamento de tais recursos naturais, além de valorizar o conhecimento tradicional. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi conhecer a percepção dos moradores da Vila de Alter do Chão, Santarém, Pará, em relação às plantas medicinais. A metodologia baseou-se em pesquisa qualitativa, no método descritivo, sendo realizadas entrevistas semiestruturadas, com informantes chaves (indicados por moradores locais, como detentores do conhecimento objeto de estudo). A pesquisa foi realizada após a aprovação, mediante leitura e explicação do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) aos sujeitos da pesquisa, com autorização por meio de assinatura do TCLE. Os resultados mostraram que 65% dos entrevistados nasceram na própria comunidade. Sendo a maioria, 90%, do sexo feminino e também aposentados, 70%. Os mais idosos detêm mais informações sobre as plantas medicinais, o conhecimento foi construído através do repasse das informações dos moradores mais antigos de Alter do Chão. Dos entrevistados, 40% aprenderam com suas mães sobre o uso dessas plantas, e consideram o uso de plantas medicinais uma maneira de valorizar e preservar a cultura e tradição local. Informaram as vantagens das plantas medicinais: não tem efeitos colaterais, fácil acesso, o efeito de ação é mais rápido que dos medicamentos industrializados, não há necessidade gastar dinheiro e não precisar ir a Unidade de saúde local. Quanto às principais plantas medicinais citadas, foram indicados 36 nomes populares, sendo as mais citadas: Boldo, Arruda, CapimSanto, Canela, Cumaru, Salva de Marajó e São João do Ca. O total de plantas citadas atende ao tratamento de 34 acometimentos de saúde, desses, os que apresentaram maiores quantidades de plantas potenciais para tratamento foram: os problemas de estômago, tosse, cólicas, ferimentos de pele e gripe. Sendo utilizadas folhas, cascas, frutos e sementes. Quanto ao procedimento de preparo, a maioria é utilizada na forma de Chá, seguido por óleo, suco, banho, 30 tintura, inalação, xarope e pó. Assim, o uso de plantas medicinais na Vila de Alter do Chão é uma prática comum, que dá credibilidade ao uso dessas plantas por esses moradores. Além disso, é uma forma de valorizar a cultura e preservar a tradição local. Apesar do uso dessas plantas fazer parte do cotidiano de alguns moradores locais, os mesmos, fazem também o uso de medicamentos industrializados e procuram ajuda médica, quando necessário, demonstrando que aliar a medicina tradicional com a popular pode ter boa aceitação pela população, sendo fruto da confiança da população no médico e também no efeito das plantas medicinais. Agradece-se aos moradores de Alter do Chão que participaram desta pesquisa e a Universidade Federal do Oeste do Pará. Sítio de Saluzinho: espaço de construção de conhecimentos agroecológicos Yara Janaina Gusmão (Universidade Federal de Minas Gerais), Fernanda Oliveira Cirino (Universidade Federal de Minas Gerais), Giliarde de Souza Brito (Universidade Federal de Minas Gerais), Marcos Antônio Maltez (Universidade Federal de Minas Gerais), Áureo Eduardo Magalhães (Universidade Federal de Minas Gerais), Flávia Maria Galizoni (Universidade Federal de Minas Gerais). Contato: [email protected]. O Sítio de Saluzinho/Centro de Referência da Cultura Material da Agricultura Familiar, é uma área de 2 hectares localizada no Instituto de Ciências Agrárias (ICA/UFMG), com finalidade de estimular interesse de crianças pelo rural. O programa foi articulado com as escolas para que as oficinas oferecidas pelo Sítio coincidam com os conteúdos didáticos em temas relacionados a ambiente e alimentação. As oficinas, que acontecem 2 vezes por semana, são ministradas por universitários do ICA/UFMG, por voluntárias da Pastoral da Criança e por agricultores urbanos. Este resumo tem como objetivo registrar contribuições das oficinas para a construção de conhecimentos dessas crianças. A metodologia utilizada foi a observação direta, os relatos das crianças e educadores na avaliação final de cada visita. As atividades desenvolvidas no Sítio contemplam: i) apresentação da UFMG, do Centro e dos participantes, ii) separação das crianças em grupos, iii) realização de duas oficinas, iv) merenda, v) realização de duas oficinas, vi) avaliação, vii) entrega de materiais produzidos durante as atividades, fotos e despedida. Observou-se que, no espaço rural do Sítio de Saluzinho, crianças e educadores que as acompanham se sentem no campo, e isso concretiza parte dos objetivos. Além de apresentar plantas medicinais, agricultoras urbanas estimulam os sentidos das crianças, que visualizam plantas, cheiram, tocam e degustam chás. Nas oficinas de produção de mudas, as crianças aprendem a plantar e leva uma muda para cuidar. Na oficina de beneficiamento de alimentos ofertada por agricultores urbanos, as crianças aprendem sobre sementes, seus usos, plantio, cultivo e colheita, valorizando o agricultor tradicional e sua forma sustentável de lidar com a terra. Plantam mandioca, feijão ou cana-de-açúcar, degustam cana, e o que mais chama a atenção dos agricultores é que muitas não sabem chupar cana, mas gostam de aprender. Na oficina de frutos do cerrado percebe-se que os frutos são desconhecidos, passam a conhecê-los e aprendem seus diferentes usos. A oficina de reciclagem, além de refletir conceitos, produz ao final o biloquê. Observou-se que muitas crianças não conhecem brincadeiras tradicionais, não tendo o hábito de brincar no coletivo. As visitas ao Sítio tem sido importantes para estimular a educação alimentar de crianças, ampliando seu interesse e respeito pela agricultura agroecológica, pelas suas raízes culturais, pelas técnicas próprias do território e pelo valor da agricultura familiar. 31 Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG). Sustentabilidade: uma reflexão à luz Teoria do Valor Meire Joisy Almeida Pereira (Universidade Federal do Amazonas), Hiroshi Noda (Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia e Universidade Federal do Amazonas), Sandra do Nascimento Noda (Universidade Federal do Amazonas). Contato: [email protected]. O objetivo proposto no presente artigo consiste na problematização das questões relacionadas à sustentabilidade, mais detidamente nos aspectos que dizem respeito a categoria do valor e do consumo. O consumo entendido num viés dual, de uma lado inscrito na dimensão social do modo de produção capitalista, e do outro, inscrito na agro-sociobiodiversidade ambiental. Esse duplo movimento visa contrastar com as formas impressas pelo ser humano dito civilizado, desenvolvido e o ambiente, entendido como o espaço constituído da totalidade terrestre. Esse contrate denota o caráter da sustentabilidade. Ela de fato existe? Na aparência do fenômeno ambiental sim, visto que conseguimos nos manter por milhões de anos no planeta Terra, especialmente a partir da revolução neolítica. Entretanto, com o atual padrão de consumo e o valor que se dá a esse movimento, conseguiremos chegar ao futuro? Ao projetarmos a vida futura estamos tratando do campo da sustentabilidade. Inserimos nesse debate a categoria saber ambiental, ação protagonizada pelos povos que vivem em espaços diversos como o meio rural, as margens dos rios, as florestas, as tribos, os quilombos, enfim, locais onde o ambiente é fundamental para reprodutibilidade sociobiológica dos seres humanos e dos seres vivos, portanto, locus de sustentabilidade. Já o espaço da insustentabilidade pode ser atribuído às cidades, aos ambientes urbanos, com destaque aqueles cujo adensamento populacional é vigoroso e o consumo exacerbado, embora promovam relativa qualidade de vida, ao mesmo tempo e, contraditoriamente, são responsáveis por altos índices da degradação ambiental, desigualdade social, pobreza, desemprego, violência e mais recentemente endividamentos familiares e individuais. A estratégia metodológica do estudo usou a pesquisa-ação junto a grupos de assentados da reformas agrária de Roraima, a revisão bibliográfica acerca da sustentabilidade, a análise dos discursos dos trabalhadores da agricultura familiar assentados e usou a perspectiva interdisciplinar para refletir e analisar o fenômeno. Os resultados ainda preliminares, apontam para evidenciarmos a relevância da agrobiodiversidade produzidas nesses espaços ocupados por seres humanos que valorizam os bens comuns - a água, terra, o ar e o fogo (energia) - em detrimento ao consumo e a valoração descontextualizada das coisas. Esses sujeitos promovem com seu modus operandi de viver a conservação do ambiente e, ao mesmo tempo, a sustentabilidade. Agradece-se ao Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa no Amazonas (FAPEMA). Uso de árvores nativas: dialogando com o conhecimento tradicional Aroldo Felipe de Freitas (Universidade Federal de Lavras), Raphael B. A. Fernandes (Universidade Federal de Viçosa), Nelson Venturin (Universidade Federal de Lavras), Irene Maria Cardoso (Universidade Federal de Viçosa), Gil Pedro de Oliveira Lara (Universidade Federal de Lavras), Rafael de Moura Miranda (Universidade Federal de Lavras), Maria de Lourdes Souza Oliveira 32 (Universidade Federal de Lavras), Fatima Maria de Souza Moreira (Universidade Federal de Lavras), Diêgo Peña Marquez (Universidade Federal de Viçosa), Fernanda Carvalho (Universidade Federal de Lavras), Silvia Dantas Costa Furtado (Universidade Federal de Viçosa). Contato: [email protected]. O conhecimento tradicional tem sido a base do trabalho da parceria do Centro de Tecnologias Alternativas (CTA), organizações dos trabalhadores rurais da Zona da Mata Mineira, alguns destes realizados em parcerias com as Universidades Federais de Viçosa e de Lavras. O objetivo deste trabalho foi compreender como a articulação entre os conhecimentos tradicional e científico pode gerar ganhos para a família rural e a ciência. Os trabalhos do CTA e parceiros ocorrem desde 1995 com metodologia de observações a campo e entrevistas semi-estruturadas. O presente trabalho estudou propriedades rurais dos municípios de Divino e Araponga/MG, onde o uso principal do solo é por cafezais e pastagens. Pastagem é aqui entendida como tudo aquilo que serve de alimento para o animal. Assim, árvores nativas são consideradas pastagens, pois o gado as comem para se manter saudável. As famílias observaram os animais se alimentando de folhas das árvores capoeira branca (Solanum mauritianum Scop.), fedegoso (Senna macranthera Irwin and Barneby), papagaio (Aegiphila sellowiana Cham.) e dos frutos de abacate (Persea americana Mill., oferecidos no cocho) e ingá (Inga edulis Mart.). As famílias informaram que a maioria das árvores já estava na área antes do capim, uma vez que a introdução dessas na pastagem necessita de cuidados pela agressividade do capim. Além disso, os animais comem as mudas de árvores que surgem da regeneração natural. O que, a princípio, parece ser ruim reafirma o potencial das árvores nativas como forragem. Devido ao trabalho continuado, as famílias reconhecem e valorizam a presença de espécies leguminosas arbóreas que fixam biologicamente o nitrogênio atmosférico. Verificou-se ainda que a regeneração natural de leguminosas arbóreas como angico rosa (Parapiptadenia rigida Brenan) e pau jacaré (Piptadenia gonoacantha Macbr.) são consumidas pelos animais durante todo o ano, enquanto outras espécies não leguminosas só na estação seca. Também observou-se que a forragem sob a copa de algumas leguminosas como jacarandá caviúna (Dalbergia nigra Benth.) se mantém verde mesmo na época mais seca do ano. Atualmente, os parceiros investigam a influência das árvores nativas leguminosas sobre a qualidade das forragens, a microbiologia e fertilidade dos solos sob pastagens. Alguns estudos apontam as qualidades das árvores em pastagem, mas é necessário aprofundamento que dialogue e estimule o aprendizado contínuo de famílias agricultoras que constroem o conhecimento tradicional. Agradece-se à FAPEMIG, à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ecologia Política Do Velho ao Novo Airão: a interface entre conservação ambiental e a urbanização Gizele Melo Uchoa (Universidade Federal do Amazonas), Wagner de Deus Mateus (Universidade Federal do Amazonas). Contato: [email protected]. O adjetivo no nome do município de Novo Airão nos remete a uma discussão que coaduna espaço e tempo, um cenário motivado pelo processo de arruinamento da primeira sede do local, o Airão, uma peculiaridade que se fez presente em outras cidades amazônicas, trata-se, portanto, de um fenômeno que oportunizou a construção de um novo espaço e território de 33 reprodução social. Ao nos referirmos ao arruinamento de Airão fitam-se a finitude dos bens naturais, as práticas de Etnoconservação, a urbanização, a economia, assim como cultura local e como estes sofrem transformações e adaptações a uma nova episteme, a ambiental. Com isso, percebe-se o cenário de conflitos socioambientais ocasionados pelo processo de (des) urbanização, degradação ambiental, especulação imobiliária e omissão do estado. E, ao analisar as transformações que ocorrem nos perfis geográficos de municípios amazonenses que passaram a integrar a região metropolitana de Manaus, a partir da construção da Ponte Rio Negro, tornou-se necessária à verificação fenomênica dessas transformações e mediante uma atividade de campo realizada ao município de Novo Airão, e utilizando-se do método de observação sistemática, entrevistas e registro fotográfico a presente sintetização analisou as transformações na organização desse ambiente baseado no acesso aos bens comuns, conflitos socioambientais, as práticas de etnoconservação, o processo urbanização, integração rodoviária, a economia e a cultura local. O cenário de cidade interiorana sofreu transformações com o crescente processo de conurbação, urbanização e mudanças de infraestruturas advindas com a institucionalização da região Metropolitana de Manaus e a construção da Ponte Rio Negro integrando Manaus, Iranduba, Manacapuru e Novo Airão. Com essa integração houve a diversificação econômica, influenciando a cultura e intensificando conflitos socioambientais aumentando os riscos sobre a conservação dos bens naturais ao longo prazo. A expansão da urbanização disputa campo com as lutas de conservação dos bens naturais e as práticas cotidianas da população local. O ontem e o hoje do município de Nova Airão é um espectro influenciado pela condição econômica de cada período, pois, no inicio, foi associado ao declínio das atividades extrativistas, despovoamentos sucessivos na época da colonização e isolamento geográfico, atualmente pela falta de investimento em bens de produção, ausência de soluções estatais para educação e saúde e conflitos socioambientais. Agradece-se à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CNPq). Estratégias de reprodução do modo de vida e conservação da biodiversidade na Resex Rio Jutaí, Amazonas Guilherme Oliveira Freitas (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia). Contato: [email protected]. As Reservas Extrativistas no Brasil surgiram na Amazônia no final dos anos 80 e inicio dos anos 90, especificamente no Estado do Acre. São reconhecidas pelas tentativas de integrar a conservação de recursos naturais e a execução de atividades produtivas possuindo grande potencial no impacto regional. Na Amazônia, as reservas extrativistas são compostas por solos de terra firme, margens de rios florestados e o que predomina como principal atividade econômica dos povos tradicionais é o trabalho com a produção de farinha, venda de hortaliças, manejo e preservação do pirarucu (Arapaima gigas), extração de óleos essenciais e a comercialização de plantas medicinais. Este trabalho teve como objetivo analisar o uso social da biodiversidade na Reserva Extrativista Rio Jutaí, no Estado do Amazonas, pautado no Modo de Vida em Marx que é identificado através do trabalho familiar, dos agricultores que são donos dos meios de produção e de sua terra, além de praticarem ajuda mútua, como os mutirões e como esse fator se aplica ao limite territorial da Resex que se justifica pelo fato da região ser caracterizada pela conservação da biodiversidade e, sobretudo, pela luta e resistência camponesa. Para execução desta pesquisa foram realizados trabalhos de campo entre os anos de 2011 á 2012 com o uso de entrevistas semi-estruturadas, fotos, mapas, bibliografia e 34 depoimentos para identificar o uso social do sistema ambiental. O trabalho direto com espaços herdados da natureza produz paisagens próprias criadas a partir do modo de vida e da relação com a terra principal instrumento de trabalho dos povos tradicionais. A agricultura está inserida em tabuleiros bem drenados e a caracterização dos sistemas de produção nas comunidades ocorre das técnicas do etnoconhecimento, gerando as espacialidades e a economicidade que se constitui direcionada no processo de trabalho transformando a natureza ou utilizando-a como matéria-prima, como no caso da coleta de sementes de Andiroba (Carapa Procera DC.) e Copaíba (Copaifera multijuga Hayne), mas persistem deficiências de estrutura como técnicas agrícolas e de comercialização. O modo de vida camponês tem por característica a formação em ambientes tropicais biodiversos, como a Amazônia, um conjunto de procedimentos de variados usos dos espaços naturais tal processo de trabalho permite a segurança alimentar da família e um grau de contato com o mercado. Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Guerras nos mares do sul: a produção de uma monocultura marítima e os processos de resistência Gustavo Goulart Moreira Moura (Universidade de São Paulo). Contato: [email protected]. A pesca no estuário da Lagoa dos Patos é uma atividade em disputa. De um lado, as comunidades de pesca produzem seus territórios de pesca através dos seus respectivos Conhecimentos Ecológicos Tradicionais (CET) que embasam os diferentes modos de usos dos recursos pesqueiros, os sistemas de manejo de recursos pesqueiros tradicionais (MT). De outro, o Estado Moderno implementa políticas públicas de manejo de recursos pesqueiros, sobretudo a partir da segunda metade da década de 1970, que resultam na implementação de um sistema de manejo de recursos pesqueiros moderno (MM), característico de um projeto colonial de dominação. Como resultado da implementação do MM, a pesca entra em colapso na primeira metade da década de 1970 e as indústrias pesqueiras decretam falência na década de 1980. Para solucionar a crise no setor pesqueiro, na segunda metade da década de 1990 cria-se o Fórum da Lagoa dos Patos (FLP) onde se formula a atual legislação que regulamenta a pesca no estuário da Lagoa dos Patos, a Instrução Normativa Conjunta de 2004 (INC 2004). A INC 2004 implementa um MM através da imposição de um calendário de pesca que se torna institucionalizado e, por isso, oficializado. O objetivo desta tese é descrever o processo de desre territorialização das comunidades de pesca do estuário da Lagoa dos Patos gerado pelo Estado Moderno na implementação da INC 2004. Para atingir tal objetivo, foram utilizadas basicamente duas técnicas de pesquisa para coleta de dados do CET e dos conhecimentos, verdades e valores mobilizados na formulação da INC 2004: entrevistas e levantamento bibliográfico. A partir dos dados obtidos, foi necessário o desenvolvimento de uma proposta própria que se enquadra na perspectiva integradora de território: território como conhecimento. Segundo esta proposta, território é um espaço epistêmico produzido a partir do espaço. Com a tentativa de implementação da INC 2004, emerge um conflito ambiental territorial na produção de um espaço através do controle do uso de recursos pesqueiros no estuário da Lagoa dos Patos. O Estado Moderno, que exibe caráter colonial, opera estrategicamente sobre o espaço tentando forçar o curso da modernidade às comunidades de pesca na produção de um espaço epistêmico disciplinar. O resultado, se o Estado Moderno fosse bem sucedido em seu projeto de colonialismo cultural, seria um epistemicídio: a eliminação dos multiterritórios operados pelo CET com uma dinâmica multicalendárica em cada uma das 35 comunidades de pesca artesanal do estuário e a sua substituição por um território operado por uma racionalidade ocidental com um ritmo mecânico através da imposição do Calendário Oficializado da INC 2004. As comunidades de pesca, por sua vez, resistem silenciosa e abertamente operando taticamente via CET na produção de espaços de R-existência. Surpreendentemente, em movimentos diagramáticos infinitos, ambos, Estado Moderno e comunidades de pesca, des-re-territorializam um ao outro. Agradece-se à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Mapeamentos participativos em Terras Indígenas: refletindo os rumos da ação indigenista Marina Gomes Drehmer [email protected]. (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Contato: A pesquisa desenvolve-se no âmbito do projeto Cartografia Social, Terra e Território, que tem por objetivo identificar, sistematizar e analisar as experiências de cartografia social e mapeamento participativo desenvolvidas no território brasileiro ao longo dos últimos 20 anos, totalizando 284 experiências. A escolha está relacionada ao potencial emancipador que as práticas apontam, sendo que muitas delas têm se revelado, para os sujeitos sociais que se cartografam, uma importante ferramenta na luta pela construção não-hegemônica de sentidos e territórios, além de contribuir para desvelar as disputas territorias tanto materiais como simbólicas. A vertente em questão procura investigar as experiências de mapeamento participativo em Terras Indígenas com foco nos discursos formulados pelos seus promotores. Sob uma diversidade de nomes, as experiências, que envolvem distintos agentes (instituições estatais, ONGs, entidades ambientalistas, asssociações indígenas) chamam atenção por acionarem discursos de ordens distintas, combinando cultura indígena, sustentabilidade, gestão e planejamento territorial. Diante disso, propomos-nos analisar como vem sendo construída a retórica resultante do cruzamento de discursos. Este desdobramento do projeto surgiu diante da percepção da especificidade dessas experiências, que divergiam daquelas associadas ao reconhecimento identitário e territorial. Assim, intenta-se compreender para o que as experiências apontam, refletindo a relação que vem sendo travada com os grupos indígenas. A partir do banco de dados foram identificados 68 casos que se enquadram nesta modalidade. Traçou-se então um perfil de cada experiência a por meio de informações como localização, data de realização, etnia envolvida, agentes promotores e financiadores, em quais termos os promotores definem as experiências e qual o repertório vocabular acionado. As informações possibilitaram esboçar uma análise de conjunto que tem dado pistas sobre por onde seguir. Juntamente com as contribuições teóricas de autores como Maria Barroso-Hoffmann, a pesquisa tem nos colocado diante do questionamento sobre os rumos da ação indigenista, percepção que se reforça ao ter em vista que os mapeamentos participativos, no que diz respeito aos aspectos procedimentais, tem sido o instrumento por excelência para planejar a gestão de TIS, passando a ter sua versão institucional em 2012 com a lei que implementou a Política Nacional de Gestão Terriotial e Ambiental das Terras Indígenas. Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Ford Foundation. 36 Os sinais das plantas na construção dos saberes ambientais locais Arthur Lima da Silva (Universidade do Estado da Bahia) e Feliciano de Mira (Universidade do Estado da Bahia). Contato: [email protected]. A semiótica estuda o papel dos signos nas linguagens que permitem a existência humana enquanto fenômeno sociohistórico. Assumindo que os fenômenos biológicos são possibilitados por uma ‘linguagem da vida’, a biossemiótica busca entender os processos viventes enquanto processos sígnicos. A pesquisa investigou a importância dos sinais das plantas na construção dos saberes ambientais locais na comunidade quilombola Baixa dos Quelés, Jeremoabo, Bahia, e suas implicações na conservação dos recursos vegetais. Foram utilizados questionários fechados (38) e conversas informais entre 06.2013 e 09.2014, com informantes selecionados por amostragem aleatória, observando os requisitos legais, pela assinatura do TCLE, e a anuência prévia da comunidade. Os sinais das plantas relatados foram de ordem olfativa (cheiro de folhas e flores), sonora (som das plantas rangendo ou pingando água), visual (floração e/ou frutificação) e de intensidade (floração e/ou frutificação intensas) com a função de anunciar as condições climáticas e predizer o início das chuvas. Sinais como cor, forma e textura das sementes, espigas e da seiva ajudam na seleção das espécies cultivadas. O lugar de ocorrência da planta na natureza atua como indicador dos solos mais adequados para o plantio, além da existência de água subterrânea, minações ou grotas d’água. Cor, forma e cheiro, além do conhecimento antepassado e do lugar de ocorrência na natureza, estão presentes na seleção de plantas utilizadas em ritos religiosos, preparo de banhos e alimentos, rezas e ornamentação de altares e terreiros. Na constituição dos saberes ambientais locais, os sinais das plantas estão ligados à memória, através da reprodução e manutenção do conhecimento antepassado e das experiências de vida; às crenças, junto às plantas utilizadas com finalidades religiosas e medicinais; ao aprendizado, nas trocas de informações com outros universos culturais; e aos movimentos naturais, pelos períodos do ano, as fases da lua e a observação dos movimentos animais. Os saberes ambientais locais da comunidade atuam como fator regulador no uso e manejo das plantas, determinando sua seleção e utilização. A presença destes sinais estrutura uma linguagem do conhecimento vegetal que está ancorada na representação social do grupo e permeada por princípios de respeito aos vegetais e pelo cuidado com as condições físicas que garantem a reprodução cultural do grupo. Agradece-se ao Programa de Pós Graduação em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental (PPGEcoH/UNEB/DEDC), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa concedida. À Comunidade Baixa dos Quelés. À organização não governamental Assessoria e Gestão em Estudos da Natureza, Desenvolvimento Humano e Agroecologia (AGENDHA). O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado da Bahia (CEP/UNEB) sob o registro no. 541.895. Os sistemas socioecológicos no extrativismo do jaborandi, Pilocarpus microphyllus Stapf ex Wardlew, Rutaceae, na Amazônia e região de transição com a Caatinga e Cerrado Cristina Grabher (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Camila Vieira da Silva (Universidade Federal do Pará), Gabriela Coelho-de-Souza (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Contato: [email protected]. 37 A semiótica estuda o papel dos signos nas linguagens que permitem a existência humana enquanto fenômeno sociohistórico. Assumindo que os fenômenos biológicos são possibilitados por uma ‘linguagem da vida’, a biossemiótica busca entender os processos viventes enquanto processos sígnicos. A pesquisa investigou a importância dos sinais das plantas na construção dos saberes ambientais locais na comunidade quilombola Baixa dos Quelés, Jeremoabo, Bahia, e suas implicações na conservação dos recursos vegetais. Foram utilizados questionários fechados (38) e conversas informais entre 06.2013 e 09.2014, com informantes selecionados por amostragem aleatória, observando os requisitos legais, pela assinatura do TCLE, e a anuência prévia da comunidade. Os sinais das plantas relatados foram de ordem olfativa (cheiro de folhas e flores), sonora (som das plantas rangendo ou pingando água), visual (floração e/ou frutificação) e de intensidade (floração e/ou frutificação intensas) com a função de anunciar as condições climáticas e predizer o início das chuvas. Sinais como cor, forma e textura das sementes, espigas e da seiva ajudam na seleção das espécies cultivadas. O lugar de ocorrência da planta na natureza atua como indicador dos solos mais adequados para o plantio, além da existência de água subterrânea, minações ou grotas d’água. Cor, forma e cheiro, além do conhecimento antepassado e do lugar de ocorrência na natureza, estão presentes na seleção de plantas utilizadas em ritos religiosos, preparo de banhos e alimentos, rezas e ornamentação de altares e terreiros. Na constituição dos saberes ambientais locais, os sinais das plantas estão ligados à memória, através da reprodução e manutenção do conhecimento antepassado e das experiências de vida; às crenças, junto às plantas utilizadas com finalidades religiosas e medicinais; ao aprendizado, nas trocas de informações com outros universos culturais; e aos movimentos naturais, pelos períodos do ano, as fases da lua e a observação dos movimentos animais. Os saberes ambientais locais da comunidade atuam como fator regulador no uso e manejo das plantas, determinando sua seleção e utilização. A presença destes sinais estrutura uma linguagem do conhecimento vegetal que está ancorada na representação social do grupo e permeada por princípios de respeito aos vegetais e pelo cuidado com as condições físicas que garantem a reprodução cultural do grupo. Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado da Bahia (CEP/UNEB) sob o registro no. 541.895. Parque Nacional da Serra do Cipó e suas populações locais: reflexões sobre paradigmas de conservação Amanda Cristina Nunes Pacífico (Universidade Federal de Minas Gerais), Leonardo Vasconcelos de Souza (Universidade Federal de Minas Gerais), Giulia Volpini Soares de Gouvêa (Universidade Federal de Minas Gerais), Iara Oliveira Silva e Freitas (Universidade Federal de Minas Gerais), Ana Beatriz Vianna Mendes (Universidade Federal de Minas Gerais). Contato: [email protected]. Alguns paradigmas de conservação defendem a importância de se definir áreas “apartadas” da presença humana para lograr da preservação ambiental. Observa-se, no entanto, que com frequência isso tem levado á práticas de conservação autoritárias, que implicam o deslocamento forçado de populações locais e a imposição de uma nova lógica sobre os territórios. O projeto de pesquisa e extensão “O Parque Nacional da Serra do Cipó (MG) e populações locais: desvelando conflitos e histórias marginalizadas” se debruça justamente sobre um contexto como este. Busca refletir junto à comunidade local sobre a gestão da sociobiodiversidade na Serra do Cipó, buscando: (i) descrever mudanças na vida das pessoas após a implementação do 38 Parque, (ii) fomentar sua organização sociopolítica e (iii) refletir sobre o modelo de conservação ambiental adotado pelo Estado brasileiro e os conhecimentos e modos de relacionamento das comunidades locais com o ambiente. Através de reuniões coletivas, entrevistas semiestruturadas com atores chaves, observação participante e pesquisa documental e bibliográfica, temos percebido em diversos momentos e através de mecanismos diversos, desrespeito e invisibilização com relação às populações locais ao longo de todo o processo de implantação do Parque. Cabe salientar as várias facetas do desrespeito aos saberes locais que esse modelo traz: além de excludente e criminalizador com relação aos modos de vida das populações locais, ele se constitui como necessidade de compensar práticas degradantes do modelo hegemônico de sociedade, e fomenta a “educação ambiental” baseada num modelo dissociado entre homem e natureza. A pesquisa indica que a expulsão sumária de várias famílias e o deficiente diálogo entre população e órgão ambiental estão presentes ao longo da maior parte da história do Parque. A atual gestão tem buscado entender o processo histórico referente à desapropriação dessas famílias com o objetivo de regularizar a questão fundiária da Unidade de Conservação. Percebe-se, entretanto, que não tem sido observado o dever do Estado em proteger, respeitar e fomentar o patrimônio social e cultural brasileiro, o que reflete também uma dificuldade de diálogo entre as pastas ambiental e cultural do Estado. Neste sentido, a pesquisa também visa contribuir para fomentar um maior diálogo entre Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Agradece-se à PROEXT do Ministério da Educação, Pró Reitoria de Extensão da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Agradecimentos aos grupos de Pesquisa GESTA/UFMG e ao Cidade e Alteridade/UFMG. Percepção de conflitos socioambientais por uma organização aborígene na ilha Stradbroke, Austrália Daniel Ganzarolli Martins (Universidade de Queensland). Contato: [email protected]. Apesar dos grandes impactos advindos da colonização europeia aos modos de vida dos povos aborígenes australianos, muitas comunidades ainda se utilizam de saberes tradicionais no manejo de seus territórios. O objetivo deste estudo foi avaliar a percepção de conflitos socioambientais enfrentados por uma organização aborígene no contexto australiano. A pesquisa foi desenvolvida junto a Corporação Aborígene Quandamooka Yoolooburrabee (CAQY), atuante na ilha Stradbroke, Austrália. Foi realizada a análise de documentos institucionais da organização e uma entrevista com sua reconhecida liderança comunitária, o presidente do Conselho Territorial Quandamooka. A entrevista foi baseada em um roteiro semiestruturado, composto por 15 questões sobre a relação da organização com os conflitos socioambientais presentes no seu território, abarcando aspectos sobre: organização administrativa, conhecimento tradicional, participação comunitária e gestão ambiental. A CAQY, que atua na comunidade principalmente por ações de conservação ambiental e de valorização da cultura aborígene, teve em 2011 parte de seus direitos territoriais garantidos pela declaração de título nativo, sendo esta uma importante demarcação de área indígena que assegura práticas de manejo tradicional e a proteção de sítios cerimoniais, porém que não garante posse ou atuação sobre áreas de particulares preexistentes. A maior problemática socioambiental apontada pela liderança, sendo também reiterada pela revisão bibliográfica, foi o acentuado desequilíbrio no regime de incêndios no território aborígene. Quando utilizado de acordo com seu conhecimento tradicional, o fogo é compreendido na cultura aborígene como um importante regenerador da paisagem. Entretanto, o manejo do fogo em Stradbroke é visto 39 como desregulado devido a décadas de gestão inadequada, onde ocorreram divergências entre o manejo feito pelos aborígenes com o realizado por não-aborígenes e entidades governamentais. Outra problemática levantada pela liderança inclui os impactos da mineração de areia em parte de seu território, pois embora a atividade cause prejuízos ambientais, ela também gera empregos para os comunitários, dividindo as opiniões e posições destes sobre a continuidade da mesma. A CAQY está mobilizada na busca de soluções para essas e outras questões complexas, onde as lideranças aborígenes visam salvaguardar seu ambiente e tradições em meio a disputas políticas e econômicas. Agradece-se ao Programa Ciência Sem Fronteiras, Universidade de Queensland, professoras Natalia Hanazaki e Helen Ross, bióloga Rubana Palhares. Produtos Florestais Não-Madeireiros (PFNM): o que o pequi tem a ver com isso? A ecologia política por traz do conceito e sua utilidade em um projeto de geração de renda comunitária no Quilombo de Pontinha, Paraopeba, Minas Gerais Lidia Maria de Oliveira Morais (Universidade Federal de Minas Gerais), Miguel Alexiades (University of Kent), Lorena Cristina Lana Pinto (Universidade Federal de Minas Gerais), Maria Auxiliadora Drumond (Universidade Federal de Minas Gerais). Contato: [email protected]. Produtos Florestais Não-Madeireiros (PFNMs) são definidos pela "Food and Agriculture Organization of the United Nations" (FAO) como produtos de origem biológica outra que a madeira, extraídos da floresta, e outros tipos vegetacionais. No entanto, sob a perspectiva de quem vive e faz da floresta sua forma de vida, a interação com o mundo material se dá de forma contínua, sendo a distinção entre produtos “madeireiros” ou “não madeireiros” irrelevante. Por que então discutir essa divisão? Política e economicamente, o que demarca a fronteira entre produtos madeireiros ou não é a escala da produção e o direito ao acesso aos recursos produtivos. O uso da categoria de PFNM é recente no vocabulário jurídico e acadêmico, mas traz em si o embate histórico entre diferentes formas de apropriação do mundo natural. Dentro deste contexto, este trabalho analisa o caso do Quilombo de Pontinha, Paraopeba, Minas Gerais, e sua relação com o Pequi (Caryocar brasiliense Camb.). Produto do extrativismo no cerrado, o pequi é aparentemente abundante no território de Pontinha e em regiões próximas, aonde já existe um histórico de exploração e beneficiamento e relações de mercado que apontam possibilidades para geração de renda através do fruto. Propõe-se então uma abordagem da Ecologia Política para analisar o conceito de PFNM e sua utilidade no caso do pequi em Pontinha. Ao reunir formas tradicionais de saber e utilizar os frutos da flora nativa com uma abordagem científica e comercial, os PFNMs associam diferentes sistemas de significação e apropriação de recursos sob um mesmo rótulo. Esse confronto proporciona uma oportunidade para a análise crítica das possibilidades de utilização de frutos como o pequi enquanto fontes de renda comunitária, ao mesmo tempo em que abre portas para o diálogo entre as perspectivas envolvidas. Avaliar as possibilidades e desafios que se apresentam para o extrativismo do pequi em Pontinha é parte de uma pesquisa desenvolvida pelo Laboratório de Sistemas Socioecológicos da Universidade Federal de minas Gerais que envolve uma pesquisa etnoecológica, análises de produtividade baseadas na ecologia da espécie, visitas de formação e apoio técnico, pesquisa de mercado e reuniões conjuntas com a comunidade para planejamento e avaliações periódicas. Estabelece-se assim uma pesquisa-ação em Pontinha com potencial para encorajar a autonomia no uso comercial do pequi, além de produzir 40 conhecimento capaz de subsidiar a elaboração e implementação de políticas públicas e projetos coerentes com as formas de viver da comunidade. Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ciências Sem Fronteiras, University of Kent, Laboratorio de Sistemas Socioecológicos da Universidade Federal deMinas Gerais (UFMG), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), Proex/UFMG, Proext-UFMG. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Minas Gerais sob o registro CAAE – 03888812.2.0000.5149. Resiliência socioecológica frente à expansão portuária em áreas estuarinas: o caso da comunidade caiçara da Ilha Diana, Santos, São Paulo Fernanda Terra Stori (Universidade Federal de São Carlos), Denis Moledo De Souza Abessa (Universidade Estadual Paulista), Nivaldo Nordi (Universidade Federal de São Carlos). Contato: [email protected]. A comunidade caiçara da Ilha Diana, Santos, São Paulo, vivencia, desde 2005, a controvérsia da instalação de um terminal portuário, cujas licenças ambientais foram concedidas mesmo contrariando instrumentos legais que dispõem sobre conservação de áreas de manguezais, gerenciamento costeiro e concessão de áreas da União para fins privativos. Este estudo objetivou discutir aspectos de resiliência socioecológica, buscando integrar a análise das lógicas de ação dos atores da rede sociotécnica que estabeleceu os acordos no licenciamento ambiental, à análise institucional dos mecanismos sociais que geram adaptatividade e resiliência em sistemas socioecológicos. Para a primeira análise, foram entrevistados 20 residentes da Ilha Diana (10% da população) e identificados os mecanismos sociais e práticas de manejo baseadas no Conhecimento Ecológico Local (CEL) que constituem Resiliência Socioecológica. Para a segunda análise, foram entrevistados 11 atores sociais representantes de instituições envolvidas na controvérsia da expansão portuária e dezoito horas de falas foram transcritas e classificadas de acordo com os referenciais das Economias de Grandeza e Sociologia da Tradução. A primeira análise identificou que há na Ilha Diana mecanismos sociais e práticas de manejo capazes de promover resiliência, tais como, a habilidade e flexibilidade em interagir com o restante da sociedade - fatores que poderão contrabalançar aspectos negativos da crise e promover a reorganização do sistema socioecológico. Contudo, na segunda análise identificamos a assimetria de poder dentre as instituições avaliadas, sendo que as lógicas de ação comerciais e industriais foram as visões de mundo dominantes no território estudado, que pressionaram o órgão ambiental para a concessão das licenças ambientais, fato que interferiu negativamente na manutenção das práticas pesqueiras e mecanismos sociais da Ilha Diana. As lógicas cívica, doméstica, de inspiração e opinião apenas exerceram o contraponto às visões dominantes, uma vez que colaboraram para que o projeto do terminal portuário sofresse adaptações e incorporasse 32 condicionantes socioambientais. Não foi observado um processo de concertação na rede sociotécnica, apenas negociações que resultaram em desconfianças e conflitos internos na comunidade da Ilha Diana. Conclui-se que a promoção de resiliência socioecológica na área estudada não é dependente apenas dos mecanismos sociais e práticas de manejo presentes na Ilha Diana, mas também, do resultado dos acordos estabelecidos pela rede sociotécnica em decorrência do processo de participação social adotado. Agradece-se à bolsa de Doutorado-Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Agradecemos aos moradores da Ilha Diana e aos atores sociais entrevistados pela confiança depositada. 41 Etnobiologia aplicada à Educação A (des)construção do olhar sobre a seca no nordeste brasileiro: uma contribuição da educação ambiental crítica Lakshmi Juliane Vallim Hofstatter (Universidade Federal de São Carlos), Haydée Torres de Oliveira (Universidade Federal de São Carlos), Francisco José Bezerra Souto (Universidade Estadual de Feira de Santana). Contato: [email protected]. A Caatinga já foi descrita como um bioma pobre, com baixa biodiversidade, solo improdutivo e habitado por sertanejos sofredores. A mídia, os materiais didáticos, as políticas públicas, ainda hoje, propagam uma imagem estereotipada do semiárido e de sua população. A forma como as/os professoras/es o percebem e transmitem seus valores pode colaborar com o rompimento desta visão, pois formam crianças e jovens reflexo do que a sociedade pode vir a ser. Este pesquisa foi realizada na Escola Municipal Espírito Santo, comunidade de Brejo dos Olhos d’Água, com um grupo de 19 professoras/es e 6 integrantes desta comunidade na região semiárida de Barra, Bahia. A coleta de dados ocorreu durante uma formação em educação ambiental, na perspectiva crítica, pautada em metodologias participativas. Utilizamos o método de foto-elicitação, que consiste no uso de fotografias para evocar memórias e proporcionar diálogos, objetivando compreender a percepção socioambiental das/os participantes; também aplicamos um questionário e entrevistamos coletivamente pela técnica do grupo focal. Devido à complexidade dos fatores tratados e a subjetividade inerente ao trabalho com pessoas, a análise e a interpretação de dados percorreu o caminho qualitativo hermenêutico, procurando desvelar o que está implícito no explícito. Dentre as 61 fotografias feitas pela turma, 23 eram relacionadas à seca. Uma das formas de representá-la foi através do gado magro, que remete a uma imagem mental presente no imaginário social diretamente influenciada pela mídia, pelos materiais didáticos e por discursos que o consolidam enquanto símbolo da seca. Durante o grupo focal, apenas três pessoas remeteram a questão da seca aos aspectos sociais e somente duas incluem a responsabilidade governamental pelo que se vive no semiárido. As outras pessoas acreditam que suas dificuldades são devido às condições naturais da seca. Assim, percebemos que parte das/os professoras/es ainda traz uma visão estereotipada e reproduzem discursos difundidos historicamente. Para a (des)construção destes olhares, precisamos formar sujeitos críticos para atuarem sobre suas realidades. Estes sujeitos devem ser capazes de ler e interpretar o seu meio, compreendendo as diversas influências sociais que compõem suas percepções sobre a seca. A intervenção educacional pode, portanto, contribuir para mudança conceptual do semiárido, para tanto se evidencia a necessidade de investimento na formação continuada de professoras/es. Agradece-se à Rede SISBIOTA - Predadores de Cadeia, FAPESP e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo apoio à pesquisa. A Apicultura no ensino escolar do semiárido Ana Cristina Ximenes Leite (Universidade Estadual do Ceará), Irislane Gomes da Silva (Universidade Estadual do Ceará), Deyvanilson Rodrigues Pereira (Universidade Estadual do Ceará), Robson Lincoln Alves Loyolla (Universidade Estadual do Ceará), Maria Gilmara Vieira da Silva (Universidade Estadual do Ceará), Marcelo Campêlo Dantas (Universidade Estadual do Ceará). Contato: [email protected]. 42 A apicultura é considerada como um meio valioso para o desenvolvimento de conceitos ecológicos, como a inibição do desmatamento de espécies nativas da caatinga, que abrigam as flores produtoras de pólen. Projetos desenvolvidos em escolas, por associações de apicultores, são ferramentas que proporcionam enriquecimento desse conteúdo. Diante o exposto, o trabalho teve como objetivo a análise do conhecimento de alunos da zona rural do semiárido brasileiro sobre o processo da apicultura e as ações da associação de produtores local perante a escola. Foram aplicados questionários semiestruturados com oito questões a 45 alunos do 6º, 8º e 9º anos da Escola Centro Educacional Rural, localizada na comunidade de Lagoa da Areia, no município de Novo Oriente, Ceará. Foi observado que a maioria dos alunos entrevistados afirmou conhecer a apicultura (76,0%) e a associação (71,0%). Contudo, 20,0% dos entrevistados relataram que a família não participava da associação mesmo trabalhando com a apicultura. A falta de ação do órgão também foi verificada pela desinformação dos alunos sobre as técnicas de recolhimento e da destinação final do mel (80,0%). Dos alunos entrevistados, 96,0% sabiam que a espécie Apis mellifera era a utilizada na produção. Contudo o mesmo percentual não soube citar quais plantas da caatinga eram polinizadas por aquelas. Foi avaliado ainda que uma parcela significativa de 44,0% dos alunos relatou a intenção de trabalhar no futuro com o processo da apicultura. Conclui-se que deve haver uma intervenção mais significativa da associação na escola, por meio de palestras, cursos, dentre outros, por se tratar de uma entidade voltada ao desenvolvimento rural. No mesmo prisma, torna-se necessário o fomento da transversalidade do tema, pelos professores em sala de aula, como subsídio ao conteúdo programático adotado pela escola. Espécies da fauna e flora nativas deixam de ser conhecidas e exploradas no universo estudantil. Agradece-se à Universidade Estadual do Ceará (UECE) e a Escola de Ensino Fundamental Centro Educacional Rural. A Etnoecologia como ferramenta de valorização do Conhecimento Ecológico Local em cursos da área de turismo Elisa Serena Gandolfo (Instituto Federal de Santa Catarina). Contato: [email protected]. O Condutor Ambiental Local é o profissional que atua na condução de visitantes em áreas naturais, orientando e interpretando aspectos ambientais e socioculturais dos atrativos turísticos. O Campus Garopaba do Instituto Federal de Santa Catarina oferece cursos de formação de Condutor Ambiental Local dos municípios de Garopaba e Imbituba desde 2012, tendo formado até o momento 47 condutores ambientais. Com objetivo de aproximação dos alunos dos cursos ao conhecimento ecológico local das comunidades tradicionais de agricultores e pescadores da região, foi proposta a realização de uma pesquisa com entrevistas semiestruturadas, envolvendo a listagem livre de 10 espécies animais e vegetais, seguida de perguntas sobre utilização e curiosidades sobre as espécies utilizadas. Os dados obtidos foram apresentados em sala, e a saliência cultural foi calculada com o uso do software Anthropac. As espécies mais salientes foram selecionadas para aprofundamento dos conhecimentos através da identificação científica e pesquisa bibliográfica. Foram realizadas 42 entrevistas, sendo a análise dos resultados realizada em sala de aula, contribuindo para estimular a percepção da possibilidade de relacionar o conhecimento local ao conhecimento científico e ampliar a visão sobre aspectos da biodiversidade local. Observou-se que as espécies com maior saliência refletem a identidade do território, tendo sido a espécie vegetal com maior saliência o butiá, 43 Butia catarinensis Noblick & Lorenzi (0,360), importante recurso tanto no passado quanto no presente e endêmica da região, distribuída em grandes adensamentos denominados “butiazais”, seguida por marcela, Achirocline satureoides (Lam.) DC (0,320), importante recurso no passado e araçá, Psidium cattleyanum Sabine (0,280), recurso alimentar muito apreciado pela comunidade. Entre os animais os mais salientes foram aracuã, Ortalis guttata guttata Spix (0,320) e tatu, Dasypus spp. (0,280), utilizados como alimento no passado, seguidos pela Baleia Franca, Eubalaena australis Desmoulins (0,280), caçada na região no passado e atual atrativo turístico. A experiência da realização das entrevistas e a análise da saliência discutida em sala de aula podem ser consideradas uma inovação em cursos profissionalizantes de áreas distintas daquelas em que usualmente se insere a etnobiologia. Com essa experiência, indica-se que a etnobiologia pode ser uma importante ferramenta em cursos da área de turismo que procurem valorizar a cultura e a identidade local. Agradece-se à todos os condutores ambientais locais formados pelo IFSC Campus Garopaba, bem como aos entrevistados que gentilmente compartilharam seus conhecimentos com os estudantes. Aplicação de estudos etnoecológicos sobre o pequi, Caryocar brasiliense Cambess., na elaboração de materiais educativos e em oficina de capacitação Júlia de Matos Nogueira, Luana do Carmo Araújo de Oliveira, Maysa Regina Gomes, Irla Paula Stopa Rodrigues, Lorena Cristina Lana Pinto, Maria Auxiliadora Drumond (Universidade Federal de Minas Gerais). Contato: [email protected]. Na comunidade quilombola de Pontinha situada no município de Paraopeba, região central de Minas Gerais, vários frutos do Cerrado são tradicionalmente consumidos, tendo o pequi, C. brasiliense, relevante importância pelo seu uso na culinária, medicinal e ainda pela sua abundância no território quilombola. Um estudo etnoecológico e levantamentos dos usos locais do pequi pela comunidade fundamentaram a elaboração de materiais educativos, na forma de uma cartilha e de um vídeo-documentário intitulados “Os pequis e os pequizeiros na comunidade de Pontinha”. A partir do levantamento de expectativas futuras de uso familiar e comercial da espécie foi desenvolvida uma oficina de produção de óleo artesanal da polpa de caroços de pequi. A cartilha demonstra os conhecimentos da comunidade a respeito dos períodos de floração e frutificação, variedades de pequi encontrados na comunidade (amargos, doces, carnosos, rançosos), os principais visitantes florais, como morcegos, aves e abelhas, principais predadores e possíveis dispersores, como aves e formigas. O vídeo, de 12 minutos de duração, tem depoimentos dos comunitários a respeito de algumas características etnoecológicas e sobre usos atuais e expectativas de uso, como “extrair o puro óleo do pequi”. Ambos os materiais foram apresentados inicialmente a moradores, em uma reunião na Associação Comunitária de Pontinha, na qual participaram 11 pessoas. A necessidade de capacitação sobre a extração do óleo foi, então, reforçada e, a partir daí, buscamos auxílio em outra comunidade próxima, onde “D. Nenzinha” se dispôs a oferecer uma oficina de produção de óleo realizada na Floresta Nacional de Paraopeba, que contou com a participação de 10 moradores, que se prontificaram a multiplicar seus conhecimentos na comunidade. A cartilha e o vídeo foram divulgados posteriormente na escola municipal de Pontinha, para 185 estudantes, do primeiro até o nono ano do ensino fundamental e foram consideradas importantes ferramentas didáticas entre crianças, jovens e adultos. A valorização dos conhecimentos locais sobre o pequi e seus usos e momentos de capacitação são, sobretudo, formas de empoderamento e estímulo à organização comunitária. 44 Agradece-se à comunidade de Pontinha, à FLONA e Prefeitura Municipal de Paraopeba. Ao Campestris LTDA, Catavento Filmes, ProExt/MEC, ProEx/UFMG, Cenex ICB-UFMG, FAPEMIG e PPG-ECMVS/UFMG. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Minas Gerais sob o registro 0388812.2005149. Conhecimento etnozoológico sobre os mamíferos aquáticos em contextos de escolas públicas no estado do Pará: possibilidades de diálogos entre os saberes para a conservação Angélica Lúcia Figueiredo Rodrigues (Universidade Federal do Pará), Ana Marta Andrade (Universidade Federal do Pará), Gabriel Melo dos Santos (Universidade Federal do Pará), Maria Luisa da Silva (Universidade Federal do Pará). Contato: [email protected]. O objetivo do presente trabalho é identificar as percepções de estudantes sobre as espécies de mamíferos aquático da Amazônia. Para isso utilizamos metodologias e referenciais teóricos do campo da etnozoologia, capazes de suscitar diálogo entre os saberes prévios e a educação científica. Na aquisição das percepções, utilizamos entrevistas semi-estruturadas, fichas topográficas e fotografias que pudessem explicitar quão familiarizados os alunos (N=241) da sexta e sétima séries do ensino fundamental de escolas públicas (N=4) estão com as espécies em questão e quais as influências que cooperam para que haja tais apreensões dos conhecimentos quando evidenciados, em virtude da temática “seres vivos” abordado nessas séries. Os resultados apontam que em locais onde se vive essencialmente dos recursos pesqueiros os jovens tendem a confirmar com detalhes aspectos do comportamento, ecologia e ameaças sofridas pelos botos, baleias e peixes-boi. A principal via de aprendizado sobre os botos se dá pelo contato direto com os familiares, principalmente, aqueles que vivem da pesca, de forma direta ou indireta. Quanto ao conhecimento formal da biologia dos mamíferos aquáticos, biologia dos mamíferos aquáticos, os alunos relataram que os mesmos alimentam-se de peixes, mas que peixes-boi também comem vegetais. Diversos nomes foram atribuídos pelos alunos às diversas partes do corpo dos animais, podendo ter variações para um mesmo membro ou órgão e também variações por município. Os conhecimentos prévios aliados à educação científica podem corroborar na efetivação de planos de ações para a de conservação dos mamíferos aquáticos da Amazônia, principalmente, quando esta interação de saberes permite que comportamentos aversivos possam ser substituídos por atitudes favoráveis a manutenção da mastofauna aquática. Agradece-se às comunidades e escolas participantes. Ao CSI pelo apoio às pesquisas. Ao Alexandre Huber pela ilustração da cartilha e a Profª Danielle Couto pela criação do game dos botos. Diagnóstico participativo e calendário sazonal de recursos tradicionais do povo Xavante de Marãiwatsédé Sayonara Maria Oliveira Silva (Operação Amazônia Nativa), Marco Túlio da Silva Ferreira (Operação Amazônia Nativa), Carolina Rewaptu (E.E.I Marãiwatsédé), Lázaro Tserẽnhẽnhẽmẽwẽ (E.E.I Marãiwatsédé), Aldo Tsimrῖhu (E.E.I Marãiwatsédé), Davi Tserẽrurã (E.E.I Marãiwatsédé), Domingos Tserẽ'õmõrãte Hö'awari(Operação Amazônia Nativa), Cosme Waiadzarebe (Comunidade Marãiwatsédé), Marcelo Aba'ré (Comunidade Marãiwatsédé), 45 Cosme Rité (E.E.I Marãiwatsédé), Boaventura Walua Xanon (E.E.I Marãiwatsédé) e Elídio Tsõrõné (E.E.I Marãiwatsédé). Contato: [email protected]. No atual contexto brasileiro envolvendo Terras Indígenas, ferramentas inclusivas para a gestão ambiental comunitária vem sendo cada vez mais utilizadas. Buscando elucidar melhor as relações entre a cultura Xavante e suas práticas e tempos de manejo da biodiversidade, de modo a embasar, com a reunião de informações etnoecológicas, o planejamento da gestão ambiental sustentável de seu território, os professores indígenas da TI Marãiwatsédé (NE do Mato Grosso), apoiados pela Operação Amazônia Nativa, realizaram um Diagnóstico Participativo das atividades anuais e elaboraram três Calendários Sazonais junto à sua comunidade. Primeiramente, elaborou-se o Diagnóstico, contendo informações sobre as atividades e respectivos períodos sazonais, bem como das espécies úteis para a caça, pesca, coleta e roçado. Foram discutidas e sistematizadas informações sobre tais espécies, como: nome indígena, época de disponibilidade e/ou abundância, habitat, entre outras. A partir das informações reunidas, elaboraram-se os Calendários, levando em consideração as divisões de gênero. Tendo coleta e plantio como principais atividades anuais, as mulheres da comunidade elaboraram um calendário para os recursos vegetais, ao passo que os homens elaboraram dois calendários, um para a caça (abadzé) e outro para a pesca (tebe) caracterizadas como atividades masculinas. O ano Xavante começa em maio, na estação tsa’u’u, início do período seco, que se caracteriza por ser época de coleta de espécies vegetais do Cerrado, através de longas expedições. O robró’ó é o auge da seca (agosto-setembro), período de preparo das roças e caçadas coletivas com fogo. Entre outubro e dezembro, no começo das chuvas, a estação é denominada utsu, época de plantios vários; e, entre janeiro e abril, no auge das chuvas, ocorre o a’ẽta, época de colheita dos produtos da roça, e de subida do nível das águas. Antigamente, as referências dos períodos e atividades se davam a partir das constelações presentes em cada época. Algumas das constelações que guiam os períodos sazonais e atividades ao longo do ano são a watsitsiwaptó (age como relógio, tem duas estrelas, sendo que uma brilha mais que a outra; sinaliza a época da seca e do fogo) e dawatsa (também na estação seca). O estudo dos marcadores Xavante do tempo se mostrou importante ferramenta para o planejamento da gestão sustentável do território e dos recursos naturais, e será um componente do futuro Plano de Gestão Territorial e Ambiental da TI Marãiwatsédé. Agradece-se ao Projeto Demonstrativo de Povos Indígenas/MMA. À todos os professores da comunidade Xavante da Terra Indígena Marãiwatsédé. Diálogo de saberes em Etnobiologia e Educação Ambiental Ricardo Monteles. Contato: [email protected]. Saberes e práticas desenvolvidos pelas coletividades sobre as floras locais representam, num pensar etnobiológico, modos próprios de perceber, conhecer, classificar, manejar e se apropriar culturalmente do mundo vegetal. Como resultado de uma prática pedagógica, este trabalho teve por objetivo articular possíveis pontos de contato epistêmico entre o corpus teórico e os procedimentos etnobiológicos com a prática da educação ambiental. A pesquisa-ação envolveu uma turma de nível técnico em meio ambiente do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Maranhão (Colun), cujo propósito consistiu em identificar, por meio do conhecimento local, espécies arbóreas potencialmente úteis em processos de recomposição florestal. Para tanto, foram consultados 22 informantes adultos, moradores de quatro localidades periurbanas 46 intencionalmente amostradas, de modo a ampliar a diversidade das espécies ocorrentes na ilha de São Luís, Maranhão. Foram estudadas as localidades ‘Rio dos Cachorros’, ‘APA do Maracanã’, ‘Vila Militar’ e ‘Alto da Esperança’. Através de listas livres, conversas informais e turnês guiadas, foram identificados saberes etnobiológicos sobre 30 espécies de árvores nativas, as quais foram exibidas em imagens digitalizadas, apresentando aspectos morfológicos gerais e detalhes das partes vegetais. Como retorno e ferramenta de sensibilização ambiental, os estudantes elaboraram uma produção iconográfica sob a forma de um guia de espécies arbóreas. Nesta produção, encontram-se informações como nomes populares, identidade botânica, fenologia, formas de propagação e usos múltiplos referentes a cada espécie. O exame, fruto da observação experiencial de orientação do trabalho indicou aplicabilidade dos pressupostos etnobiológicos como instrumentos de investigação, ação e formação no campo da educação ambiental. Mediada por uma ação comunicativa dinâmica, o processo educativo se estabeleceu através de um conteúdo vivencial, tendo suscitado nos estudantes, atitudes autônomas e participativas na construção de um ‘saber etnoecopedagógico’, no qual dialogam a razão prática e as práticas de saberes de povos e culturas sobre a natureza. Agradece-se ao Colun- Universidade Federal do Maranhão. Educação intercultural indígena e o Laboratório de Etnobiologia da Universidade Federal de Goiás Carlos A. Bianchi (Universidade Federal de Goiás), Lorena D. Guimarães (Universidade Federal de Goiás), Arthur A. Bispo (Universidade Federal de Goiás) e Kátia A. Kopp (Universidade Federal de Goiás). Contato: [email protected]. O curso de Educação Intercultural da Universidade Federal de Goiás (UFG) possui mais de 220 estudantes indígenas pertencentes a dezoito etnias dos vales dos rios Araguaia e Tocantins. Os princípios pedagógicos do curso, voltados para abordagens interculturais e transdisciplinares, fazem com que diferentes áreas do conhecimento sejam discutidas de forma articulada, visando compreender a relação do homem e suas práticas culturais com o meio ambiente. Assim, o Laboratório de Etnobiologia da UFG busca ser o ponto de confluência dos conhecimentos gerados pelas ciências da natureza e os conhecimentos tradicionais dos povos envolvidos. Seguindo os princípios filosóficos da etnobiologia, nossa experiência tem dado amplo espaço à visão dos indígenas sobre o que é e do que trata a ciência, confrontando as concepções de cada povo acerca de temas como a origem e a evolução das espécies, a classificação dos seres vivos e das paisagens naturais, as transformações do meio ambiente, os aspectos relacionados à saúde e seus mecanismos de tratamento e cura, entre outros. Os debates de temas promovidos em sala e nas aldeias mostram que as ciências da natureza não podem ser contempladas apenas por meio de uma única perspectiva. A forma pela qual os povos indígenas vislumbram suas relações com os elementos naturais são regidas diretamente por suas percepções e entendimentos específicos acerca do meio ambiente, influenciados também por aspectos culturais. Entendemos que estes saberes devem ser perpetuados ao longo do tempo, pois além de fazerem parte da identidade destes povos, são fundamentais para a compreensão das relações entre o homem e a biodiversidade. Por esta razão, o conhecimento etnobiológico dos alunos indígenas da UFG vem sendo trabalhado também como tema dos estágios pedagógicos e projetos de conclusão de curso, visando preservar e difundir a visão e os saberes tradicionais destes povos, sobretudo nas escolas indígenas. Concluímos que a oportunidade de revelar e debater diversas interpretações sobre as ciências da natureza, provenientes de tantas 47 comunidades distintas, tem se mostrado como uma chance valiosa para impulsionar os ainda escassos estudos etnobiológicos acerca das populações indígenas do bioma Cerrado. Agradece-se à Universidade Federal de Goiás. Educação Kaingang em Tenente Portela, Rio Grande do Sul: o currículo de ciências na escola indígena Tais Agnoletto Balzan (Universidade Federal de Santa Maria), Patrícia Hagemann (Universidade Federal de Santa Maria), André Boccasius Siqueira (Universidade Federal de Santa Maria), Jessé Renan Scapini Sobczak (Universidade Federal do Paraná) e Fernanda Lima Oliveira (Universidade Federal da Fronteira Sul). Contato: [email protected]. A educação escolar intercede diretamente na vida das comunidades, possibilitando espaço onde possa ser desenvolvido o conhecimento crítico. No entanto, quando trata-se da educação indígena, específica e diferenciada, a qual vem sendo construída por diversos povos desde a promulgação da Constituição Federal (1988), seguida da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) e o atual Plano Nacional de Educação (2014-2024), considerados os documentos de maiores avanços, é um desafio aos docentes, uma vez que lhes é pertinente seguir um regime de seriação formal como é o currículo tradicional. O presente trabalho visa dar continuidade a um projeto de pesquisa apoiado pelo Programa IC-REUNI/UFSM sobre o modo como os saberes indígenas adentram na instituição escolar, objetivando analisar o currículo e a metodologia do ensino da disciplina de Ciências. O cenário escolhido foi a Escola Estadual Indígena de Ensino Fundamental Gomercindo Jete Tehn Ribeiro, Tenente Portela, Rio Grande do Sul, Terra Indígena do Guarita. É a maior área indígena Kaingang em extensão do estado e mais populosa do país. A escola oferece educação infantil e ensino fundamental, constituída por 5 professores permanentes e 237 alunos matriculados. Nesta nova etapa, partindo das reflexões inicias sobre o Plano Político Pedagógico (PPP) e do Plano de Ensino de Ciências (PEC), procurou-se analisar percepções dos professores (2) do ensino fundamental sobre o tema através da aplicação de entrevistas semiestruturadas em outubro de 2014, almejando como produto final a elaboração de uma proposta metodológica. Dos resultados encontrados, notou-se o pouco tempo que lecionam, o conhecimento do PPP e ausência de conteúdos curriculares indígenas no PEC. Abordam temas transversais de forma superficial, sendo aulas expositivas e práticas, planejadas (plano de aula) e com apoio de material didático. Não há uso de instrumento multimídia, mencionando que o recurso tira a atenção dos educandos, priorizando a escrita. A avaliação é feita através de trabalhos, provas e relatórios. A educação é vista de forma diferente pelos professores, avaliando-a como evoluindo lentamente e em plena construção, tanto em âmbito estrutural quanto do conhecimento. Por fim, constata-se similaridade com a escola tradicional não-indígena sobre os métodos utilizados e também lacunas no conhecimento que servirão de subsídios para o andamento do projeto com os educandos, prezando uma educação multicultural e emancipatória. Agradece-se ao Programa IC-REUNI/UFSM e à Escola Estadual Indígena de Ensino Fundamental Gomercindo Jete Tehn Ribeiro. 48 Etnobiologia, tecnologia e educação ambiental: uma contribuição para o ensino e conservação dos mamíferos aquáticos em escolas públicas do Pará Ana Marta Andrade (Universidade Federal do Pará), Tayná Leão Miranda (Universidade Federal do Pará), Danielle Costa Carrara Couto (Universidade Federal do Pará), Angélica Lúcia Figueiredo Rodrigues (Universidade Federal do Pará) e Maria Luisa da Silva (Universidade Federal do Pará). Contato: [email protected]. Objetivamos verificar os conhecimentos etnobiológicos de estudantes de Belém e testar novas metodologias que articulem os conhecimentos prévios e formal em prol da conservação dos mamíferos aquáticos. As atividades foram feitas no espaço de uma escola pública municipal em Belém, totalizando 27 alunos dos 7º e 8º anos do ensino fundamental, em virtude do conteúdo “seres vivos” ser abordado nesses anos. As ações foram feitas em três dias distintos, com intervalo de uma semana para atividade, primeiramente o diagnóstico dos saberes dos alunos através de questionário sobre biologia das espécies da Amazônia: baleia jubarte (Megaptera novaeangliae Borowski, 1781); tucuxi (Sotalia sp. Gray, 1866); peixe-boi (Trichechus inunguis Natterer, 1883); boto-vermelho (Inia geoffrensis Blainville, 1817). Posteriormente, a intervenção através de palestras, oficinas discursivas e um jogo para computador sobre ao biologia e conservação dos botos. As ações foram concebidas a partir do saber etnobológico dos alunos em diálogo com o conhecimento científico, visando aproximar a realidade dos alunos com o currículo escolar. Por fim um questionário foi feito para averiguar o saber obtido. Percebemos que os alunos conhecem os animais, influenciados sobretudo pela televisão, já no pós-teste a escola é apontada como principal fonte de acepção do conhecimento. Em relação a nomenclatura tanto no pré quanto no pós-teste os alunos identificam os animais utilizando termos genéricos como “boto”, “golfinho”, “peixe-boi” e “baleia”. Destacamos no pós-teste a inserção de termos usados no meio científico como boto-rosa, jubarte e para topografia, “dorsal”, “nadadeira peitoral” e “rostro”. Sobre o sentimento acerca dos animais houve o predomínio de respostas em branco no pré-teste e no pós-teste o predomínio da curiosidade pelos animais. Quando perguntados se conheciam alguma situação que ameaçasse os animais, no pré-teste 54,6% das repostas foi em branco, já no pós-teste, 44,4% afirmam conhecer situações de ameaças, porém para peixe-boi e baleia as respostas ausentes prevaleceram. Infere-se que pesquisas dessa natureza, ainda que a curto prazo, possibilitam a adição de novos conhecimentos e o diálogo entre os saberes, mostrando-se uma metodologia eficaz na construção e difusão do conhecimento sobre mamíferos aquáticos. Sugerimos esforços em escala de tempo maior, para verificar se os saberes estão se consolidando entre os estudantes, além de torná-los agentes multiplicadores do conhecimento. Agradece-se à comunidade escolar, Profª Danielle Couto, Universidade Federal do Pará, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Cetacean Society International. Etnobiologia/Etnoecologia e o Ensino de Ciências: caminhando para um diálogo? Lis Soares Pereira (Universidade Federal de Viçosa), Pablo Andres Penteado Aguilar (Universidade Federal de Viçosa), Marco Paulo Andrade (Universidade Federal de Viçosa), Letícia Maria Freitas de Castro Gomes (Universidade Federal de Viçosa), Iza Abreu Carnelós (Universidade Federal de Viçosa), Lucas Braga de Ávila Salgado (Universidade Federal de Viçosa), Josimara Aparecida Lessa Silveira (Universidade Federal de Viçosa), Uyrá Elizabeth Gomes 49 Cabral (Universidade Federal de VIçosa) e Thaís Almeida Cardoso Fernandez (Universidade Federal de Viçosa).. Contato: [email protected]. A ciência convencional apresenta enfoque disciplinário, reducionista e isento de envolvimento em questões sociais, apesar disso, ela é supervalorizada em detrimento de outras formas de conhecimento, como as das populações tradicionais. Em consequência, é essa ciência que chega e é reproduzida na escola. Considerando a importância do diálogo entre os saberes, objetiva-se entender o universo de trabalhos acadêmicos que relacionam os saberes populares ao Ensino de Ciências. Realizou-se uma revisão bibliográfica utilizando o banco de teses e portal de periódicos CAPES e os anais dos Encontros Nacionais de Pesquisa em Educação em Ciências (ENPEC), de 2000 a 2014. Foram identificados 52 trabalhos: quatro artigos (2009 a 2013), oito dissertações (2007 a 2013), uma tese (2005) e 39 trabalhos nos ENPECs (2003 a 2013); concentrados na região sudeste (50%), nordeste (27%), sul (10%), norte (8%), centro-oeste (8%), sendo alguns de mais de um estado. Provenientes de diversas universidades, estes não estão restritos a determinados núcleos de pesquisa. Nos trabalhos apresentados nos ENPECs pôde-se verificar um crescente aumento, passando de dois trabalhos a 20, em 2013. No entanto, em 2013, estes correspondem a apenas 1% dos trabalhos apresentados. As áreas de atuação principais foram: diversidade e multiculturalismo (48%), processos e materiais educativos (15%) e currículo (10%). Destacou-se as escolas indígenas (12%) e rurais (10%), e entre os temas, poucos foram recorrentes, como: educação indígena (15%) e plantas medicinais (13%). Dos trabalhos, apenas seis (11%) envolveram formação de professores. Apesar de caracterizar-se em uma área de pesquisa ainda incipiente, o aumento dos trabalhos pode estar ligado ao reconhecimento da Etnobiologia pela área da Educação e pelos direitos conquistados pelas populações tradicionais, ainda que restritos. A fragilidade da área de formação de professores em Ensino de Ciências, com foco no diálogo entre os saberes, pode ser considerada uma lacuna de pesquisa. Alguns trabalhos podem favorecer o (re)pensar da formação de professores. Estes retratam o uso dos saberes populares, contextualizados localmente, também como saberes escolares, por trazer sentido a escola e ampliar as conexões de observação do mundo natural. O diálogo entre os saberes, entendendo as formas de poder que os hierarquizam, também enriquece a formação política dos estudantes, por meio do conhecimento dos direitos dos povos tradicionais e de seus movimentos sociais. O retorno das pesquisas etnobiológicas: o caso da Floresta Nacional do Araripe, Nordeste do Brasil Maria Clara Bezerra Tenório Cavalcanti (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), Juliana Loureiro de Almeida Campos (Universidade Federal Rural de Pernambuco), Letícia Zenóbia de Oliveira Campos (Universidade Federal Rural de Pernambuco), Rosemary da Silva Sousa (Universidade Federal Rural de Pernambuco), Taline Cristina da Silva (Universidade Federal Rural de Pernambuco), Josivan Soares da Silva (Universidade Federal Rural de Pernambuco), Ulysses Paulino de Albuquerque (Universidade Federal Rural de Pernambuco). Contato: [email protected]. Algumas comunidades humanas, que são foco de estudos etnobiológicos, ainda carecem do desenvolvimento de trabalhos de extensão e atividades de retorno por parte dos pesquisadores. Devido a esta necessidade, a equipe do Laboratório de Etnobiologia Aplicada e Teórica (LEA) objetivou realizar algumas ações nas comunidades do entorno da Floresta Nacional (FLONA) do Araripe, Ceará, Nordeste do Brasil. As atividades propostas foram: realização da Semana do 50 Meio Ambiente (junho/2012) na comunidade rural Horizonte (H); elaboração de cartilhas com informações sobre espécies vegetais úteis localmente (uso alimentício, medicinal e madeireiro); documentário envolvendo o beneficiamento da palmeira babaçu (Attalea speciosa Mart. ex Spreng.) na comunidade rural Sítio Macaúba, como a produção de artesanatos e óleo de coco. Especificamente sobre as diferentes atividades desenvolvidas na Semana Mundial do Meio Ambiente, com estudantes da Escola Municipal Padre Cícero em H, destacou-se a realização de uma oficina de desenhos e contos, com participação de 32 crianças e adolescentes. Este trabalho visou abordar aspectos relacionados à conservação da biodiversidade local e promover o diálogo e a troca de experiências entre os pesquisadores e o público jovem. Foi solicitado aos participantes que desenhassem situações reais vivenciadas por eles na FLONA e contassem a história que os levou a desenhar tal situação. Foi notório o envolvimento do pequi (Caryocar coriaceum Wittm.) nos contos, possivelmente, por se tratar de uma importante espécie para a manutenção das tradições e subsistência da comunidade. Ao término do evento, foram premiados os seis jovens mais criativos de cada grupo. A intenção da equipe LEA é, futuramente, publicar um livro que englobará os “contos e causos” das crianças registrados nesta atividade, bem como aqueles contados por outros membros da comunidade, divulgando tais informações para a população local. Vale salientar também a importância da apresentação do vídeo elaborado sobre a palmeira babaçu. As primeiras cenas e diálogos do documentário foram gravados em junho de 2012, sendo que a sua primeira versão foi exibida na comunidade em abril de 2013. Nesse momento, foram dadas sugestões de novas cenas e diálogos, que foram gravados para a produção da versão final, exibida em novembro de 2013. Todos os participantes da pesquisa receberam uma cópia da versão final do DVD. Todos os trabalhos de retorno realizados foram bem aceitos entre os participantes. Agradece-se às comunidades Novo Horizonte e Sítio Macaúba que tanto contribuíram com o nosso trabalho, ajudando-nos a amadurecer como pessoas e pesquisadores. À FACEPE, PNPD-Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Este trabalho foi embasado em diversos projetos de pesquisa individuais, os quais foram analisados e aprovados pelos comitês de ética, com os seguintes registros: Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Pernambuco (UPE). Registros: CAAE 05424712.4.0000.5207; CAAE 01457712.7.0000.5207; 113.740; 139.813/CAAE: 02187512.8.0000.5207; CAAE: 05193512.9.0000.5207; Comitê de Ética da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Registro: 399/11. Os saberes da pesca na escola: a pesca e os botos amazônicos Inia sp. (d’Orbigny, 1842; Iniidae) e Sotalia sp. (Gray, 1866; Delphinidae) na visão de estudantes pescadores na Amazônia Iara Ramos dos Santos (Universidade Federal do Pará), Ana Marta Andrade Costa (Universidade Federal do Pará), Renata Danielle da Silva Sousa (Universidade Federal do Pará), Leonardo dos Santos Sena (Universidade Federal do Pará). Contato: [email protected]. Os botos amazônicos Inia sp. (boto rosa) e Sotalia sp. (boto cinza) fazem parte do cotidiano da pesca e do imaginário popular, relações reconhecidas como conflituosas na região. Neste cenário a etnoecologia é facilitadora da conservação do patrimônio biocultural propiciando o diálogo entre o conhecimento local e acadêmico. Investigamos as interações dos botos com a atividade de pesca discutindo a conservação dessas espécies e sua abordagem no ensino. Os registros são de estudantes da Casa-Escola da Pesca (CEPe), localizada na ilha de Caratateua, regimentada pela alternância e direcionada a jovens pescadores das regiões ribeirinhas de Belém e municípios próximos. Questionários abordando a interação dos botos com a pesca e 51 conservação das espécies foram direcionados a 18 estudantes pescadores do ensino fundamental e médio (média=19 anos de idade). Nenhum dos gêneros é apontado como benéfico à atividade de pesca (Sotalia sp. 61%N=11; Inia sp. 83% N=15). O “roubo” de peixe da rede de pesca (Sotalia sp. 28% N=5; Inia sp. 72% N=13) é a interação mais citada seguida por emalhe (Sotalia sp. 22% N=4; Inia sp. 28% N =5), colisão (Sotalia sp. 28% N=5; Inia sp. 22% N =4), espreita (Sotalia sp. 16% N=3; Inia sp. 5% N =1). O artefato de maior impacto na mortalidade dos botos é a rede de arrasto (Sotalia sp. 44% N= 8; Inia sp. 61% N=11), nessa oportunidade as carcaças são destinadas à isca para peixe (Sotalia sp. 39% N=7; Inia sp. 39% N=7), uso medicinal (Sotalia sp. 16% N=3; Inia sp. 5% N=1) e alimentação apenas para Inia sp. (11% N=2). A importância da conservação dos botos é sinalizada (Sotalia sp. 44% N=8; Inia sp. 44% N=8), haja incerteza sobre o tema (Sotalia sp. 33% N=6; Inia sp. 44% N=6). Os botos são descritos como seres que compõem a natureza por isso devem ser conservados (Sotalia sp. 40% N=7; Inia sp. 40% N=7). Os diferentes registros de interações estão relacionados aos comportamentos de forrageio específicos de cada gênero. A dualidade entre o utilitarismo e a biofilia dos botos sobrepõe sua valorização zoológica, temática não discutida na formação do ensino de ciências. Promover a construção do conhecimento através do diálogo entre os diferentes saberes promovendo a conservação das espécies é fundamental para uma formação educacional e cidadã sensível a importância do patrimônio biocultural. Agradece-se à Universidade Federal do Pará (PROEG) e Casa-Escola da Pesca. Agradecimentos aos estudantes pescadores e comunidade escilar da Casa- Escola da Pesca. Pegada ecológica: contexto e práticas no ensino superior do semiárido Abidão Bezerra Camelo Neto (Universidade Estadual do Ceará), Alercia Araújo Fortunato (Universidade Estadual do Ceará), Maria Alyne da Costa Onofre (Universidade Estadual do Ceará), Felicia Maria Rodrigues da Silva (Universidade Estadual do Ceará), Marcelo Campêlo Dantas (Universidade Estadual do Ceará). Contato: [email protected]. A Pegada Ecológica é uma metodologia de contabilidade ambiental que avalia a pressão do consumo das populações humanas sobre os recursos naturais. Mais atenção deve ser voltada ao assunto, com o ensino de novas propostas que busquem reverter às tendências do estilo de vida consumista atual. O trabalho apresenta uma avaliação da percepção de estudantes universitários de biologia sobre o tema pegada ecológica. Foram aplicados questionários semiestruturados, aos alunos do 1° ao 9° semestres, nos turnos da manhã e noite, do curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas da Faculdade de Educação de Crateús (FAEC) da Universidade Estadual do Ceará (UECE). Os resultados mostraram que 67,0 % dos alunos desconhecem o tema. A parcela restante de 33,0 % acha relevante o ensino do tema e corresponde aos alunos que cursaram a disciplina de Educação Ambiental, única a trabalhar a questão. Dos entrevistados, 79,0 % relacionaram a falta de informação como uma das causas que interferem no conhecimento do tópico. Vale ressaltar que 9,0 % afirmaram não contribuir completamente para a pegada, o que se torna preocupante, pois as consequências para o meio ambiente poderão ser imensuráveis. A redução da pegada foi verificada por 13,0 % dos alunos, somente à reciclagem do lixo. O cálculo da pegada dos entrevistados variou de 160 a 615, com uma média baixa, provavelmente por se tratar de consumidores potenciais. Conclui-se que a maioria dos alunos avaliados, sobretudo os dos primeiros semestres, apresenta carência no conhecimento sobre o tema abordado. Destaca-se, portanto, como um dos principais fatores, à falta de informação dos meios midiáticos, bem como da literatura atual. Para tanto, torna-se 52 necessária uma maior integração das redes de ensino na abordagem deste tema, para melhor conscientização dos educandos e da sociedade em geral. Agradece-se aos alunos e professores colaboradores do curso de Ciencias Biologicas da Faculdade de Educaçao de Crateús da Universidade Estadual do Ceará. Percepção da população urbana sobre o plantio e poda de árvores no semiárido nordestino Antonio Júnior Ferreira Martins (Universidade Estadual do Ceará), Bento Vieira Lima Neto (Universidade Estadual do Ceará), Carla Manoela Costa Rodrigues (Universidade Estadual do Ceará), Luiz Carlos Aurelio Vieira (Universidade Estadual do Ceará), Maria Gilmara Vieira da Silva (Universidade Estadual do Ceará), Marcelo Campêlo Dantas (Universidade Estadual do Ceará). Contato: [email protected]. A arborização tem um papel diferenciado aos habitantes das cidades. Proporciona melhorias em aspectos paisagísticos, beneficia o microclima, provê abrigo a grupos variados de animais e mantém o equilíbrio em relação às pragas. O trabalho teve como objetivo analisar a percepção dos moradores da zona urbana da cidade de Crateús, Ceará, sobre o plantio de espécies vegetais nas calçadas, bem como o uso de podas das copas dessas. Foram aplicados 126 formulários aos residentes de quatro bairros do município. O principal motivo, citado pelos moradores, para o plantio de árvores foi o benefício climático (99,2 %), para a obtenção de sombra. Dessa parcela, 85,71 % justificaram o plantio por morarem do lado da rua com alta incidência solar. A maioria dos moradores (71,42 %) não sabia que as árvores plantadas na região eram exóticas, enquanto 14,28 % eram completamente alheios ao assunto. Muitas espécies foram consideradas como típicas por suportarem o déficit hídrico, sem a necessidade de receberem água diariamente. O ato de remoção drástica das copas é realizado por 92,0 % da população estudada, enquanto 25,0 % dessa parcela executa a retirada total. Dentre os principais motivos destacam-se os relacionados à estética, no que concerne uma copa mais fechada; à saúde da planta, com a renovação das folhas; ao contato com a fiação elétrica e ao acúmulo de folhas no chão. Ressaltase que as lesões de podas inadequadas podem resultar na falta de energia pela planta, bem como na entrada de microrganismos e insetos, o que provoca doenças. Conclui-se que a maioria dos moradores da região plantam espécies vegetais exóticas nas calçadas de suas residências, por proporcionarem conforto térmico, porém não tomam conhecimento do fato de serem exóticas. O fator principal de escolha da planta é a alta resistência ao déficit hídrico. Há ainda o desconhecimento dos malefícios de podas drásticas sem o acompanhamento de profissionais preparados. Agradece-se à Universidade Estadual do Ceará e à todas as pessoas que colaboraram com a pesquisa. Percepções de diferentes povos indígenas sobre a fauna de vertebrados de seus territórios no bioma Cerrado Lorena Dall´Ara Guimarães (Universidade Federal de Goiás), Carlos Abs da Cruz Bianchi (Universidade Federal de Goiás) e Arthur Angelo Bispo de Oliveira (Universidade Federal de Goiás). Contato: [email protected]. 53 O Cerrado abriga um grande mosaico de etnias e fitofisionomias, com fauna e flora de grande riqueza e que vêm desaparecendo rapidamente em razão de várias atividades antrópicas. Assim, conhecer as relações dos povos tradicionais com a biodiversidade do bioma torna-se essencial para a conservação da sociobiodiversidade. O objetivo deste trabalho foi colher informações sobre o conhecimento desses povos acerca da diversidade de vertebrados de suas regiões, por meio da elaboração de um texto ilustrado de oito alunos indígenas das etnias Xerente, Karajá e Tapirapé do Curso de Educação Intercultural da Universidade Federal de Goiás, durante a disciplina “Seres vivos e Biodiversidade". Os alunos deveriam escrever livremente sobre suas relações com a fauna, seu uso na caça, pesca, artesanato, domesticação, medicina, rituais, entre outros. Além disso, deveriam escrever sobre os fatores que consideram como ameaças à fauna. Os resultados apresentados mostram que os animais apresentam grande importância na alimentação, mitos e rituais, artesanato, decorações, domesticação e medicina tradicional. Muitos animais têm o mesmo simbolismo em diferentes culturas, sobretudo naquelas originadas do mesmo tronco linguístico ou localizadas em regiões geográficas próximas. Para os três povos, é comum a classificação dos animais como sendo da água, da terra e do ar. Também é comum distinguirem várias espécies de peixes, aves e mamíferos, porém quase nenhuma espécie de anfíbio e réptil foi classificada. O conhecimento das espécies está associado à sua utilidade, com destaque para a alimentação. Todos são grandes consumidores de peixes, aves e mamíferos, mas muitos destes são proibidos para mulheres grávidas e bebês. As ilustrações dos Tapirapé destacaram os seguintes vertebrados: veado, jaburu, jacaré, onça-pintada, beija-flor, catitu, paca, cobra, jabuti, sapo, lagarto, pato, capivara, pirarucu; os Karajá destacaram boto, porco-do-mato e diferentes espécies de peixes; e os Xerente destacaram tamanduá, seriema, tucano, jacaré, diferentes espécies de peixes e onça-pintada. Dentre as principais ameaças à fauna foram citadas atropelamento em rodovias, caça e pesca, agricultura intensiva, pecuária, hidrovia, desmatamento e queimadas. A sobrevivência de povos indígenas com suas culturas está muito ligada à preservação da natureza, logo, reconhecer as relações destes povos com o ambiente torna-se fundamental para a conservação da biodiversidade. Agradece-se à Universidade Federal de Goiás e Instituto Boitatá: Etnobiologia e Conservação. Percepções de moradores locais acerca da Área de Proteção Ambiental de Anhatomirim, Santa Catarina: implicações para atividades educativas Daniel Ganzarolli Martins (Universidade Federal de Santa Catarina), Rubana Palhares Alves (Universidade Federal de Santa Catarina) e Natalia Hanazaki (Universidade Federal de Santa Catarina). Contato: [email protected]. Programas educativos em unidades de conservação necessitam considerar as percepções e os conhecimentos da população local para serem mais efetivos, atendendo demandas locais reais. O objetivo deste estudo foi analisar as fontes de informações e as percepções de moradores locais sobre as atividades educativas relacionadas à Área de Proteção Ambiental de Anhatomirim (APAA), assim como a importância da unidade para suas vidas. No ano de 2012 foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 50 moradores (1,16% da população total estimada) das comunidades na APAA, uma unidade federal marinho-costeira situada em Governador Celso Ramos, Santa Catarina. O critério de seleção para entrevistados foi possuir uma idade igual ou maior que 18 anos, morar na área há pelo menos cinco anos e saber da existência da APAA. As entrevistas contemplaram questões sobre o perfil socioeconômico dos entrevistados; fontes de informações acerca da existência da APAA; conhecimento da existência 54 de práticas educativas; e percepção da importância da unidade. Os entrevistados apresentavam idade entre 20-86 anos, sendo 56% homens. Metade dos entrevistados possuía ensino fundamental incompleto e outros 36% concluíram o ensino médio ou ensino superior. As principais formas através das quais eles ficaram sabendo da existência da APAA foram: através de contato com familiares, amigos e vizinhos (28%); órgãos governamentais e reuniões (16%); ações fiscalizadoras (10%); e pela televisão (8%). Sobre as atividades educativas, 86% afirmaram desconhecer a existência das mesmas, e o restante mencionou que elas eram praticadas por universidades, escolas, projetos municipais e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). 76% dos entrevistados reconheceram a APAA como importante, contra 12% que foram negativos e 14% que não souberam responder. Dentre os que reconheceram a importância, o aspecto de proteção ao meio ambiente foi citado por 84%, seguido por questões econômicas ligadas ao turismo (13%), e valores culturais, históricos ou educativos (11%). Os entrevistados que não consideraram a APAA como importante o afirmaram devido às restrições que ela impõe às atividades de pesca e agricultura e a uma fiscalização ineficiente. Os resultados demonstram a necessidade de promover e fortalecer ações educativas abrangentes que reforcem a importância da APAA não apenas quanto às questões ambientais, mas também socioculturais, sobretudo na manutenção das tradições pesqueiras e seus conhecimentos associados. Agradece-se à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nivel Superior (CAPES) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Saberes e desafios de uma comunidade inserida no garimpo Pedro Candido de Abreu Junior (Universidade Estadual do Ceará), Carlos Valclécio Gomes de Vasconcelos (Universidade Estadual do Ceará), Francisca Aparecida Martins Cavalcante (Universidade Estadual do Ceará), Felícia Maria Rodrigues da Silva (Universidade Estadual do Ceará), Irislane Gomes da Silva (Universidade Estadual do Ceará) e Marcelo Campêlo Dantas (Universidade Estadual do Ceará). Contato: [email protected]. O garimpo é visto como deteriorador da natureza e dos bens minerais por ser predatório e sua forma de uso primitiva. Este trabalho teve como finalidade o debate da percepção dos habitantes de uma comunidade do semiárido sobre a exploração de ouro e as mudanças que essa prática possivelmente originará. Foi aplicado um questionário com questões subjetivas a 35 moradores do distrito de Oiticica no município de Crateús, Ceará. Os principais temas abordados foram uma discussão sobre o conhecimento dos moradores da comunidade quanto à legalização dessa exploração, e os possíveis benefícios que isso trará, fundamentando a exposição dos fatos pelo debate, através da preocupação ambiental e profundidade de sua informação a cerca da localidade em que habitam. A maioria (72%) sabe sobre o processo de extração de ouro em Oiticica, no entanto (52%) não acreditam que essa extração se dá de forma legalizada, ainda que (22%) creiam que a exploração trará entre outros benefícios, empregos e melhoria nas estradas. É preocupante saber que a maioria (76%) não se preocupe e/ou acredite que não irá haver algum prejuízo para a região e para os moradores. Conclui-se que há desconhecimento de causa, pelos habitantes da localidade, sobre o garimpo em geral, pois não fazem relação direta da extração com a degradação ambiental. Fator este que poderá contribuir com danos diretos no cotidiano do distrito, bem como na área ambiental do lugar. Desta forma, urge a necessidade da escola local intervir na conscientização voltada aos princípios de sustentabilidade ambiental, com palestras educativas, respeitando os saberes locais. 55 Agradece-se à Universidade Estadual do Ceará e aos moradores do distrito de Oiticica. Um pé de cultura e de milho, angico e mangaba Clara de Carvalho Machado (Universidade Federal Fluminense) e Marise Basso Amaral (Universidade Federal Fluminense). Contato: [email protected]. Grande parte das alternativas encontradas que visam melhorias no ensino de botânica restringese a elaboração de recursos didáticos e aulas práticas. É notável a pouca atenção dedicada às plantas, o que é reflexo de um processo que, para além do ensino, é marcado pela dificuldade em notar as plantas em nosso cotidiano. Identificamos muitas formas de narrar e produzir conhecimento sobre as plantas no dia-a-dia os quais, muitas vezes, não são considerados no planejamento escolar. Uma produção cultural que tenciona essas questões é o programa “Um Pé de Quê?”. Nesse sentido, o presente trabalho é resultado de uma investigação que teve como objeto de análise três episódios deste artefato cultural. Nas análises realizadas, procuramos identificar as estratégias utilizadas que ajudam na construção de uma identidade própria para as plantas. Os episódios foram assistidos observando sua estrutura geral, a forma como os sujeitos botânicos são apresentados, os entrevistados em cada episódio, as falas privilegiadas, a amarração das histórias e as particularidades encontradas para cada planta. O episódio da Mangaba, conta com os saberes de vendedoras de beira de estrada, holandeses do século XVII, um feirante de látex medicinal e um agrônomo. Todos trazem diferentes contribuições para a construção da identidade botânica, seja a exploração do látex por americanos, seja a gíria que leva o nome da fruta. O episódio do milho busca tornar um produto alimentício em uma planta histórica que envolve culturas americanas ancestrais, mas conta, sobretudo com as informações de um pesquisador da EMBRAPA. O angico, por sua vez, que nos leva ao século XIX, ao curtume no sertão, ao vaqueiro, ao cangaceiro e ao agricultor orgânico. Todos os episódios apresentam os nomes populares e científicos dos vegetais, outro aspecto comum é a busca pela caracterização morfológica da planta. Os entrevistados mesclam-se tanto nas aparições quanto nos saberes apresentados. O mesmo conhecimento é frequentemente mencionado mais de uma vez por entrevistados diferentes, assim como um conhecimento histórico pode vir de um cientista. Assim, não foi identificada uma hierarquia nestes conhecimentos. Destacamos que, mais que uma ferramenta didática, o programa Um Pé de Quê? nos apresenta outro modo de inserir a Botânica na nossa vida, tornando-a uma ciência que dialoga com saberes populares, que se aproxima das histórias de pessoas e lugares, facilitando o grande desafio da contextualização no ensino de botânica. Vozes das minhas vozes: causos contados e encantados por moradores do povoado de Alecrim Miúdo em um diálogo com a Educação Ambiental Crítica Damile de Jesus Ferreira (Universidade Estadual de Feira de Santana) e Antonio Almeida da Silva (Universidade Estadual de Feira de Santana). Contato: [email protected]. A tradição oral conceitua-se como um agregado de costumes e práticas que não foram colocadas na sua forma escrita, mas contribuem para a formação da visão de mundo de grupos sociais. 56 Tendo em vista a importância da tradição oral, visamos à necessidade de registrar, potencializar, legitimar e, possivelmente, utilizar, essas vozes em práticas educativas de caráter ambiental crítica (EAC) e ecológica. Assim, a presente investigação relata os causos contados por moradores do Povoado de Alecrim Miúdo, localizado no município de Feira de Santana, Bahia. Nestes, analisamos os sujeitos e suas narrativas orais, buscando pontos de encontro entre o conhecimento popular através dos causos. A pesquisa é qualitativa, com coleta de dados realizada a partir de entrevistas guiadas pelos pesquisadores e registradas por gravação áudio visual. A análise dos dados foi feita de acordo com o referencial da análise de conteúdo, de natureza etnográfica. Assim, dentre todos os seis contadores e seus causos contados, em sua maioria estes relatavam o processo de antropomorfização de animais. Segundo nossa interpretação, esta categoria, tal qual uma figura de linguagem, expõe a tentativa de provocar uma ligação íntima entre ser humano e animais, sendo o reflexo da relação estabelecida entre o homem e a natureza. Este fenômeno só é possível pelo surgimento da alteridade, que estabelece a consciência do outro, legitimando sua existência. Aqui, visualiza-se o meio ambiente como o “outro”, neste caso os animais, provocando um processo de alteridade singular que nos surpreende. Foi possível analisar também, o papel do contador intergeracional, o qual tem a importante função de reproduzir os causos, transmitindo com estes diversos conhecimentos embutidos e saberes populares. Além disso, a partir das vivências cotidianas é que o contador cria suas experiências para a constituição de suas narrativas. A atribuição de valores, significados e simbologias aos elementos pertencentes a sua pratica rotineira, é o que leva estes sujeitos a direcionarem sua práxis, atuando na natureza, de maneira consciente e ecológica. Com isso, concluímos este estudo na tentativa de fazer emergir atitudes e práticas que reconheçam a dinâmica natural e cultural do meio, visualizando a EAC, enquanto campo que permite e dá espaço, para que estes saberes populares se legitimem na sociedade, reafirmando a cultura e apresentando novas formas de compreender e se relacionar com a natureza. Agradece-se à todos contadores e contadoras que nos deu o prazer de ouvi-los. à meu orientador pela sua atenção e ensinamento. À todos os meus amigos e familiares. Etnobotânica A abundância local de um recurso afeta o conhecimento sobre as espécies vegetais em uma área de Cerrado? Ely Márley de Souza Ribeiro Rocha,(Universidade do Estado da Bahia), Aline Santos Silva (Universidade do Estado da Bahia), Patrícia Muniz de Medeiros (Universidade Federal do Oeste da Bahia) e Viviany Teixeira do Nascimento (Universidade do Estado da Bahia). Contato: [email protected]. A Hipótese da Aparência Ecológica (HAE) é uma das teorias que pode explicar a influência do ambiente sobre a escolha das espécies úteis para as pessoas num ambiente. Esta argumenta que as plantas mais utilizadas por uma comunidade são as mais fáceis de serem encontradas ou as mais aparentes. Neste sentido, este estudo objetivou identificar se o total de usos atribuídos às espécies nativas do Cerrado pela comunidade rural do Sucruiú, situada no Oeste da Bahia, é influenciado pela abundância local desses recursos. Para tal, foram identificadas as pessoas de idade ≥18 anos, sendo explicitados os objetivos da pesquisa a estas, e as que aceitaram participar da mesma assinaram o TCLE. Em seguida realizou-se um levantamento etnobotânico através de entrevistas semiestruturadas contendo questões sobre a utilidade das plantas, 57 formas de uso, entre outras. Um inventário fitossociológico foi realizado em 2 áreas, sendo alocados em cada uma 5 transectos de 100m de comprimento, 10 pontos quadrantes em cada transecto e quatro indivíduos em cada quadrante. Para análise dos dados, foi calculado o Valor de uso (VU) e a Densidade Relativa das espécies. Vinte e sete entrevistas foram realizados e 122 etnoespécies citadas, divididas em 8 categorias de uso. O inventário fitossociológico registrou na área de capoeira de floresta estacional decidual (A1) 57 espécies, destas, 45,6% foram citadas pelos informantes, enquanto na área de campo sujo (A2), 54 foram inventariadas e 46,2% referidas pelos informantes. As espécies de maior representatividade de uso para a comunidade segundo o cálculo de VU foram Camaçari (Terminalia fagifolia Benth) (2,89), Barbatimão (Dimorphandra mollis Benth) (2,63), Jatobá (Hymenaea sp.) (2,37), Pequi (Caryocar brasiliense Cambess.) (1,59) e Aroeira (Myracrodrum urundeuva Allemao) (2,15), destas apenas a Aroeira foi inventariada na A1 (1%), enquanto as demais na A2, exceto o Camaçari, não encontrado em nenhuma das áreas. Das cinco espécies mais conhecidas o Jatobá é a de maior representatividade no levantamento (4,25%), ocupando a 4ª posição. A comunidade atribuiu usos a boa parte das espécies disponíveis localmente, embora, nota-se que a HAE não pode ser aplicada, já que as plantas mais conhecidas não são as de maior disponibilidade local, exceto o Jatobá. Na comunidade, uma análise da HAE pode ser necessária para avaliar as diferentes categorias de uso das espécies, uma vez que a abundância local pode ser um bom parâmetro para explicar os usos em certas categorias. Agradece-se aos moradores da comunidade Sucruiú, à Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado da Bahia (FAPESB) pelo apoio financeiro, e a equipe de pesquisa pelo companheirismo. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Universidade do Estado da Bahia sob o registro 343.778. A disponibilidade de recursos vegetais influencia nos conhecimentos e usos sobre as plantas? Estudo de caso em três comunidades quilombolas de Santa Catarina, Brasil. Julia Vieira da Cunha Avila (Universidade Federal de Santa Catarina) e Natália Hanazaki (Universidade Federal de Santa Catarina). Contato: [email protected]. Compreender os aspectos principais que influenciam no conhecimento e uso de recursos vegetais é importante devido ao interesse de muitas comunidades em perpetuar práticas tradicionais ao longo do tempo. Assim, o objetivo desse trabalho foi verificar se há relação entre a disponibilidade de recursos vegetais nos quintais e os conhecimentos e usos das plantas em três comunidades quilombolas de Santa Catarina: Morro do Fortunato e Aldeia, município de Garopaba, e Toca, Paulo Lopes. Para registrar o conhecimento e uso das plantas, realizou-se entrevistas semiestruturadas, incluindo questionário socioeconômico e listagem livre, com todos os quilombolas maiores de 18 anos que se dispuseram a participar da pesquisa. Para verificar as plantas disponíveis nos quintais realizou-se um levantamento florístico nesses ambientes (29 quintais no Fortunato, com tamanho médio de 350m2; 24 na Aldeia, média 978m2; e 16 na Toca, média 419m2). Para verificar se as espécies citadas por cada entrevistado depende da disponibilidade de plantas no seu quintal aplicou-se uma regressão linear simples. Realizaram-se 63 entrevistas no Fortunato (822 citações e 187 plantas identificadas), 65 na Aldeia (1252 citações e 256 plantas) e 56 entrevistas na Toca (785 citações e 151 plantas). Identificaram-se 268 plantas nos quintais do Fortunato, 348 plantas na Aldeia e 161 plantas na Toca. Na Aldeia, comunidade que demonstrou maiores saberes e disponibilidade de plantas, existe relação entre a disponibilidade nos quintais e as plantas citadas nas entrevistas (Rusada=0,7007, p > 0,001), porém no Fortunato e Toca essas relações não foram significativas. 58 Quintais maiores e um maior uso desses para plantio na Aldeia podem ser os principais fatores que explicam esses resultados, além da transmissão de conhecimentos sobre as plantas e seu fornecimento pela benzedeira da comunidade, cujo saber é notável, bem como pela dona de uma floricultura existente dentro da comunidade. Mesmo que apenas uma comunidade tenha apresentado resultado positivo para essa análise, devido à intensa especulação imobiliária, diminuição de áreas do território ao longo do tempo e aumento populacional em todas as comunidades, esse resultado demonstra a importância que os quintais podem ter para a manutenção de tradições importantes às culturas locais. Outras análises se fazem necessárias para verificar se as plantas disponíveis nos quintais influenciam nas plantas que foram citadas como obtidas nos próprios quintais. Agradece-se às Comunidades Quilombolas Morro do Fortunato, Toca e Aldeia, aos ajudantes de campo, ao Gaia Village, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Federal de Santa Catarina. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética de Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina sobo número 18847013.0.0000.0121. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho também foi analisado e aprovado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) recebendo autorização de Acesso ao Conhecimento Tradicional Associado pela autorização 03/2014, referente ao Processo nº: 01450.012607/2013-20. A feijoada como instrumento de resistência para o Quilombo do Grotão, Niterói, Rio de Janeiro Caio Lopes (Universidade Federal Fluminense), Odara Boscolo (Universidade Federal Fluminense) e Renata Sirimarco (Universidade Federal Fluminense). Contato: [email protected]. Os quilombolas são descendentes de escravos negros que se reúnem em comunidades e, muitas vezes, vivem na antiga fazenda deixada pelos proprietários. O Quilombo do Grotão é uma comunidade tradicional que vive no bairro Engenho do Mato, na cidade de Niterói, RJ, dentro das limitações do Parque Estadual da Serra da Tiririca (PESET). A criação de Unidades de Conservação sobrepostas a territórios de comunidades tradicionais têm resultado em conflitos ambientais, pois essas unidades não permitem a habitação de seres humanos em suas delimitações. O objetivo deste trabalho foi investigar a história de formação do Quilombo do Grotão e o que esta manifestação cultural representa para a comunidade, verificar a possibilidade de proteção do serviço da feijoada através de Indicação Geográfica e servir de subsídio para o estabelecimento de pedido de registro de Indicação de Procedência no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com 9 moradores da comunidade, escolhidos através da técnica “bola de neve”, onde o informante que demonstra possuir mais conhecimento sobre a comunidade indica outros informantes. Além disso, investigações sobre o reconhecimento do serviço nas mídias e com a população próxima à região. As duas primeiras entrevistas revelaram que essa comunidade tradicional reside no local há aproximadamente 50 anos e, com a criação do PESET, houve um afastamento dos costumes quilombolas devido à proibição de manipulação da terra. Para a recuperação destes costumes, os moradores procuraram alternativas que não infringissem as regras do parque, como a realização da feijoada, da capoeira, das rodas de samba e dos ritos religiosos da Umbanda. A feijoada se tornou destaque devido à qualidade e reconhecimento fora da comunidade. Atualmente constitui seu principal meio de sustento, trazendo mais de 200 visitantes ao local em dias de “samba da comunidade”. Foi verificada a possibilidade de proteção 59 do serviço e a feijoada atende aos requisitos necessários à Indicação Geográfica. Será realizada uma etnoinvestigação para reunir os documentos necessários e servir de subsídio para o pedido de registro de Indicação de Procedência no INPI. A proteção deste serviço por meio de Indicação de Procedência trará desenvolvimento econômico para a região, além da valorização das manifestações culturais e auxiliará a garantir o pleno exercício dos direitos culturais da comunidade. Agradece-se à Universidade Federal Fluminense (UFF). A hipótese da sazonalidade pode explicar o uso de plantas medicinais em uma área rural do oeste da Bahia? Fernanda Novais Barros (Universidade Federal do Oeste da Bahia), Camilla de Carvalho de Brito (Universidade Federal do Oeste da Bahia), Viviany Teixeira do Nascimento (Universidade do Estado da Bahia), Patrícia Muniz de Medeiros (Universidade Federal do Oeste da Bahia). Contato: [email protected]. Há muito tempo que os seres humanos incorporam plantas e animais em sua em cultura. Contudo, o conhecimento sobre os fatores que induzem a seleção de determinado recurso e a incorporação destes em um sistema cultural ainda é reduzido. Assim, algumas hipóteses etnobôtanicas têm sido propostas a fim de tentar preencher essa lacuna do conhecimento. Dentre estas, a hipótese da sazonalidade, a qual profere que pessoas que residem em ambientes com climas sazonais demarcados tendem a selecionar plantas ou partes de plantas que estão disponíveis durante o ano, como estratégia de segurança na obtenção de recursos. Deste modo, objetivou-se neste estudo verificar se existe predomínio de plantas medicinais de hábito lenhoso e partes persistentes das plantas no sistema médico da comunidade rural do Sucruiuzinho, Barreiras, Bahia. Para obtenção dos dados referentes aos usos medicinais de plantas nesta comunidade, foram realizadas entrevistas semiestruturadas, somando um total de 24 entrevistados. As plantas foram classificadas quanto ao hábito em ‘lenhosas’ e ‘não lenhosas’, e quanto à parte usada em ‘persistente’ e não ‘persistente’. Posteriormente para análise de dados, utilizou-se o teste do qui-quadrado, por meio do qual se calculou as diferenças entre o número de espécies lenhosas e não lenhosas e entre o número de espécies com uso de partes persistentes e não persistentes. Os resultados evidenciaram diferenças significativas (p<0,05) paro o habito, sendo o hábito lenhoso predominante em 61,2% das espécies, contra 38,8% de espécies não lenhosas. Já para as partes utilizadas, obteve-se o uso de partes não persistentes em 88,8% das espécies, e o uso de partes persistentes em 71,6% delas, de modo que não houve diferenças significativas (p>0,05). Assim, os dados apresentaram-se parcialmente a favor da hipótese de sazonalidade (apenas para o habito). No entanto, é preciso investigar se o predomínio de plantas lenhosas no sistema médico reflete a maior proporção deste grupo no ambiente ou se de fato este é privilegiado do ponto de vista da seleção. Estudos com tal aporte necessitam ser realizados, uma vez que, compreender os processos de seleção de plantas, auxilia no desenvolvimento de estratégias de prospecção adequadas para recursos medicinais específicos. Agradece-se à Universidade Federal do Oeste da Bahia. 60 A utilização de plantas medicinais pela comunidade de remanescentes quilombolas de Palmeirinha, Minas Gerais Renata Francisca Vieira (Faculdade de Saúde Ibituruna), Maria Aparecida Lopes Limeira Macedo (Faculdade de Saúde Ibituruna), Kimberly Marie Jones (Sociedade Educativa do Brasil), Guilherme Araújo Lacerda (Universidade Estadual de Montes Claros). Contato: [email protected]. Alguns Quilombos mais antigos, carregam entre si as crenças e costumes que foram adquiridos com seus antepassados e com eles alguns costumes como o uso de plantas medicinais, ainda permanecem confrontando com a sociedade moderna. Foi realizado um levantamento etnobotânico na comunidade Quilombolas de Palmeirinha, Minas Gerais, com o propósito de identificar espécies nativas ou exóticas utilizadas na medicina popular relacionando a um possível extrativismo ou cultivo doméstico. Investigou-se também, a finalidade para as quais as plantas são utilizadas e quais são suas formas de preparo. Foram amostrados dois especialistas indicados pelos líderes comunitários e três informantes direcionados por eles através do método snowball. Os instrumentos foram entrevistas semi-estruturadas e conversas informais onde foram identificadas 42 espécies distintas de plantas medicinais, agrupadas em 27 famílias sendo que as mais representativas foram as Laminaceaes (seis), Asteraceaes (cinco) e a Rutaceaes (três). O maior numero de espécies indicadas foram 29 exóticas (69%) destacando-se dentre as 13 nativas (31%) com mais de uma utilização medicinal: Erva-de-são-João (Ageratum conyzoides L.) voucher 775, Jurubeba (Solanum paniculatum L.) voucher 762 e Quixabeira (Sideroxylon obtusifolium (Roem. & Schult.) T.D.Penn.) voucher 766. Dentre as partes mais utilizadas, observou-se que as folhas são as mais usadas com cerca de 65,90% em relação ao número total de espécies informadas. No que se diz respeito ao modo de preparo, destacou-se o uso de plantas em forma de cozimento (62,79%). Conclui-se que o as plantas medicinais utilizadas na comunidade Quilombolas de Palmeirinha correspondem a mais espécies exóticas do que nativas denotando um menor extrativismo e maior cultivo doméstico das plantas de interesse. Agradece-se à Sociedade Educativa do Brasil (SOEBRAS). O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da Associação Educativa do Brasil (SOEBRAS) / Faculdades Unidas do Norte de Minas sob o registro 557.994 Agricultores guardiões da agrobiodiversidade na conservação “on farm” do algodão Mocó no estado da Paraíba Lanna Cecília Lima de Oliveira (Universidade Federal da Paraíba), Amaury da Silva Santos (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Fernando Fleury Curado (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e Nair Helena Castro Arriel (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Contato: [email protected]. A conservação “on farm” pode ser considerada a mais antiga prática de conservação de recursos genéticos. O algodão Mocó (Gossypium hirsutum L. r. marie galante Hutch), entrou em processo de extinção por um conjunto de fatores, dentre eles a infestação dos cultivos pelo bicudo (Anthonomus grandis Boheman) e a seca que assolou o nordeste em 1979, porém alguns agricultores ainda o conservam no estado da Paraíba. Este estudo tem como objetivo compreender as razões que motivaram a conservação on farm e identificar as principais 61 demandas relacionadas a conservação do algodão Mocó. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com dez agricultores dos municípios de Solânea e Casserengue, Paraíba, no sentido de identificar os principais usos do Mocó, as razões pelas quais os agricultores o conservam. A técnica Linha do Tempo também foi utilizada com o objetivo de conhecer a história do algodão através da sucessão dos acontecimentos ao longo do tempo. Também chamado de algodão preto, a malvácea foi sinônimo de bons tempos para os participantes da pesquisa até os anos 1980, os mesmos afirmaram que era com a renda advinda da colheita do algodão que eles compravam o que não era produzido nos sítios, no entanto a cultura entrou em declínio e a situação econômica dos agricultores familiares mudou. Porém, os entrevistados mantêm a cultura em seus sítios, não mais por razões comerciais. A principal motivação para a conservação do Mocó diz respeito ao uso na alimentação dos animais. O fato de a planta ser resistente à seca e uma alternativa alimentar para os animais nesse período explica a razão de conserva-la. Outras utilidades também foram destacadas pelos entrevistados: valor estético, medicinal, tradição, comercialização e fazer pavio. O principal desafio para ampliar o cultivo, segundo os agricultores, está relacionado ao acesso ao mercado, que é praticamente inexistente. A partir do estudo foi possível perceber que os agricultores são guardiões do algodão Mocó, e que o conhecimento sobre a planta é geracional, fator imprescindível para a manutenção desta variedade. Seu cultivo é uma prática histórico-cultural e a lembrança dos tempos em que o Mocó era considerado o ouro branco é marcante e influencia diretamente na conservação dessa planta. Observa-se que é necessário que instituições de ensino, pesquisa e extensão somem esforços para apoiar esses sujeitos e consequentemente fortalecer a conservação on farm do algodão Mocó no Curimataú Paraíbano. Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa concedida e aos guardiões do Mocó pela partilha do conhecimento. As principais espécies vegetais medicinais de uma comunidade atendem a diferentes propriedades? Um estudo de caso em uma comunidade rural do Cerrado no oeste da Bahia, nordeste do Brasil Luana Silva Porto (Universidade do Estado da Bahia), Patricia Muniz de Medeiros (Universidade Federal do Oeste da Bahia) e Viviany Teixeira do Nascimento (Universidade do Estado da Bahia). Contato: [email protected]. Geralmente as plantas utilizadas nos sistemas medicinais de comunidades tradicionais estão associadas a diversas indicações terapêuticas, estas plantas são consideradas como mais versáteis por atenderem a um maior número de doenças, pertencentes a um ou mais sistemas corporais. No entanto, será que as plantas mais mencionadas em um levantamento correspondem aquelas de maior versatilidade? Diante disso, este trabalho teve como objetivo registrar o conhecimento sobre plantas medicinais na comunidade do Sucruiú, distrito do Vau da Boa Esperança, Barreiras, Bahia, e verificar se as principais espécies do sistema local são aquelas que atendem a um maior número propriedades. A pesquisa foi realizada entre julho de 2013 e agosto de 2014 em três fases: Primeiro realizou-se a técnica de lista livre, seguida de entrevista semi-estruturada e por último realizou-se uma turnê guiada para a coleta do material botânico. A avaliação dos dados foi feita pelos seguintes cálculos: Frequência relativa de citações (FR) e Importância Relativa (IR). Foram entrevistados 24 informantes, sendo 56% homens e 44% mulheres. Registrou-se 74 etnoespécies, 42 foram identificadas até o momento. As espécies de maior freqüência foram: Terminalia fagifolia Mart. (70,83%), Caryocar brasiliensis Cambess. 62 (62,50%), Mauritia flexuosa L., Amburana cearensis (Allemão) AC Sm. e Dimorphandra mollis Benth. (45,83%). Com relação a IR, T. fagifolia (2,00) foi a espécie mais versátil, seguida por A. cearensis (1,88), M. flexuosa (1,54), Lafoensia pacari (1,42) e D. mollis (1,33), ou seja, atendem a um maior número de enfermidades, portanto são as espécies mais versáteis dentro do sistema terapêutico da comunidade. Das cinco espécies mais citadas, quatro estão entre as mais versáteis sugerindo que na comunidade em questão as principais espécies da farmacopéia são aquelas que podem tratar um maior número de doenças. T. fagifolia, M. flexuosa, A. cearensis e D. mollis são espécies muito importante para a comunidade devido a sua versatilidade e podem se tornar vulneráveis, uma vez que atendem ao tratamento de um maior número de indisposições pertencentes a vários sistemas corporais, o que também sugere que possam ser as espécies com maior potencial de uso real. Agradece-se aos moradores da comunidade Sucruiú e aos integrantes do grupo de pesquisa pela disponibilidade e contribuições. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo apoio financeiro. Cadeia de mercado de Operculina sp. em Floriano, Piauí: dos coletores à Industria Farmacêutica Diêgo Nava Moura (Universidade Federal do Piauí) e Nelson Leal Alencar (Universidade Federal do Piauí). Contato: [email protected]. No Brasil pesquisas demonstram que 91,9% da população fazem uso de alguma planta, sendo que 46% desta mantém cultivo caseiro dessas plantas. A utilização e a comercialização de plantas medicinais são estimuladas, em parte, pela crescente demanda da indústria por novas fontes naturais e, também, devido aos efeitos colaterais causados pelos fármacos sintéticos que estimulam o aproveitamento de medicamentos de origem vegetal ou até, em muitos casos, porque representam a única fonte de medicamentos especialmente nos lugares mais isolados e distantes. Atualmente, plantas medicinais são comercializadas em feiras livres, mercados populares e abastecem a indústria farmacêutica sem que haja estudos sobre a cadeia de mercado e sua sustentabilidade ambiental e comercial. Mediante isso, o presente trabalho busca conhecer a cadeia produtiva da batata de purga (Operculina sp.) no município de Floriano, Piauí, identificando as etapas envolvidas na cadeia de mercado e seus atores sociais, assim como a sua forma de comercialização e seus usos. A pesquisa foi realizada no município de Floriano. Coletas foram realizadas por entrevistas e formulários semiestruturados em feiras livres da cidade, em localidades rurais do munícipio e na Indústria farmacêutica da cidade que utiliza a planta na formulação de medicamentos. A cadeia produtiva da espécie envolve três etapas: 1. Coletores que fornecem, nos meses de março a maio, raízes para a indústria e comércio erveiro. As plantas são obtidas por extrativismo sem reposição ou atenção à conservação e informaram que há, a cada ano, dificuldades progressivas de aceso à coleta devido escassez da planta exigindo coletas mais distantes e volumosas. 2. O comércio erveiro (oito comerciantes em mercados públicos da cidade) recebe dos coletores a planta por meio de porções de raízes (cabeças) com o custo de R$ 10,00 (2 kg em média), que são pagos na medida em que são comercializadas. Os comerciantes vendem a raiz na forma de goma (20g de raiz triturada) ou tora (fatias de raiz desidratada), com preços entre R$ 1,00 a 2,00, em média, para consumidores finais. 3. A Indústria recebe o material vegetal (20t – 60t/mês) diretamente de coletores e paga melhores valores que o comércio (R$ 3,00/Kg); existem em torno de 30 coletores cadastrados pela Indústria como fornecedores de matéria prima. As raízes são utilizadas para a confecção de um medicamento, na forma de tintura, em frascos de 30 mL, 100 mL, 200 mL, 500 mL e 1000 mL 63 com a indicações de laxativo e purgativo, com um preço final, no varejo de R$ 4,00 à 8,00. Os produtos são comercializados em toda a região nordeste em farmácias e drogarias. Concluímos que a cadeia de mercado da espécie apresenta pontos entre suas etapas que precisam de mais estudos sobre a sua sustentabilidade o que afeta a disponibilidade para o comércio bem como seu valor nas diferentes etapas. Agradece-se à Universidade Federal do Piauí/CAFS. Como se estrutura o conhecimento tradicional sobre plantas medicinais? Estudo de caso em uma comunidade rural do oeste baiano Camilla de Carvalho de Brito (Universidade Federal do Oeste da Bahia), Eraldo Medeiros Costa Neto (Universidade Estadual de Feira de Santana), Viviany Teixeira do Nascimento (Universidade do Estado da Bahia) e Patrícia Muniz de Medeiros (Universidade Federal do Oeste da Bahia). Contato: [email protected]. Objetivou-se com esta pesquisa, verificar a via predominante de distribuição do conhecimento botânico tradicional na comunidade do Sucruiuzinho, Barreiras-Bahia. Para isto foi realizada a verificação das vias de transmissão de conhecimento com maior número de citações (vertical, horizontal ou obliqua) e análise da similaridade de conhecimento sobre plantas medicinais entre os moradores da comunidade. Foram realizadas 24 entrevistas no período de Janeiro a Maio de 2014, com moradores de ambos os sexos, e idade superior a 14 anos para conhecer quais plantas medicinais eles conheciam e a indicação terapêutica das mesmas. Foi confeccionada uma lista com o nome de todos os moradores da comunidade, onde os mesmos eram questionados sobre com quem das pessoas da lista eles aprenderam e para quem ensinaram sobre plantas medicinais. As citações de ensino e aprendizagem foram classificadas nas vias vertical, horizontal e obliqua. O teste de Qui-quadrado goodness-of-fit foi usado para comparar os valores de citações para cada via. Em seguida foi gerada uma matriz binária de conhecimento de plantas medicinais, contendo entrevistados como objetos e as plantas como descritores, gerando-se uma matriz de similaridade (Jaccard) entre os entrevistados. A partir dessa matriz, foi utilizado o teste de Mann-Whitey para comparar a relação de similaridade de conhecimento. Os moradores da comunidade são em sua maioria do sexo masculino, pertencentes a três principais núcleos familiares, sendo os homens trabalhadores rurais e as mulheres donas de casas. A idade média dos moradores da comunidade é de 51,95 anos de idade. Não houve diferenças significativas de citações entre as vias (p>0,05). Os dados obtidos pela matriz de similaridade entre os entrevistados evidenciam que, em geral, a similaridade é baixa, demonstrando uma heterogeneidade do conhecimento. Os indivíduos aparentados na comunidade possuem conhecimentos mais similares do que os não aparentados (Z(U) = 2,89; p <0,05). Indivíduos de mesma geração também têm conhecimentos mais similares que indivíduos não parentes de gerações diferentes. (Z(U) =3,09; p<0,05). As pessoas não aparentadas de gerações diferentes tiveram menor similaridade no conhecimento que as de mesma geração (H=12,39; p<0,05). Observa-se, portanto, que o parentesco e a geração interferem de forma expressiva no conhecimento local sobre plantas medicinais e que há um equilíbrio entre as vias de transmissão de conhecimento. Agradece-se à CAPPES e Universidade Federal do Oeste da Bahia. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo comitê de ética da Plataforma Brasil (CAAE07488513.4.0000.5026). 64 Conhecimento de espécies medicinais e tóxicas para animais: a influência dos fatores socioeconômicos Juliane Souza Luiz Hora (Universidade do Estado da Bahia), Patrícia Muniz de Medeiros (Universidade Federal do Oeste Baiano) e Viviany Teixeira do Nascimento (Universidade do Estado da Bahia). Contato: [email protected]. Os fatores socioeconômicos influenciam na escolha e uso dos recursos vegetais presentes em determinadas áreas em que populações humanas estão inseridas. Muitos são os estudos etnobiológicos que fazem o diagnóstico da influência destes fatores. Contudo, ocorre uma carência de tais levantamentos, principalmente no que diz respeito a interferência no conhecimento e utilização de plantas em animais nas áreas do Cerrado Brasileiro. Diante disto, o presente estudo objetivou analisar se estes fatores (idade, renda, escolaridade, ocupação, tempo de moradia) influenciam no conhecimento de plantas medicinais e tóxicas utilizadas em animais em uma comunidade do Oeste da Bahia. Para isto os dados foram coletados através de entrevistas semi-estruturadas e analisados pelo Modelo Linear Generalizado, utilizando as variáveis inde pendentes que relacionaram-se de modo significativo com as dependentes. Para a categoria medicinal ao analisar o “número de citações”, a idade foi a variável que explicou a interferência no conhecimento (R²=0,17/ p>0,05), já na análise sobre o “número de espécies citadas”, a renda juntamente com a idade foram as variáveis que explicaram a interferência nas informações (R²=0,32/p>0,05). Já para as plantas tóxicas, ao analisar o “número de citações” desta categoria, observou-se que não houve nenhuma variável socioeconômica explicativa, ou seja, para o número de citações não há interferência de fatores socioeconômicos, entretanto, para o “número de espécies citadas” a renda foi a variável que mostrou interferência no conhecimento (R²=0,21/p>0,05). Sendo assim, conclui-se que o número de espécies é um indicativo mais variável que número de citações. Inferiu-se que a idade e a renda foram as variáveis que mostraram maior interferência nas citações dos informantes, na dinâmica da comunidade as pessoas mais velhas são aquelas possuidoras de maior criação animal, e correspondem àqueles indivíduos que tiveram maior experiência com o manejo animal do decorrer da vida de acordo com os relatos. Agradece-se à Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado da Bahia (FAPESB). O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade do Estado da Bahia (Parecer nº 343.778). Conhecimento dos agricultores agroflorestais sobre as espécies arbóreas em uma área de Mata Atlântica, Brasil Naiana Pereira Lunelli (Instituto de Botânica), Clovis Jose Fernandes de Oliveira Júnior (Instituto de Botânica), Marcelo Alves Ramos (Universidade de Pernambuco). Contato: [email protected]. As árvores constituem importante fonte de recursos para as populações humanas, além de representarem o principal componente estrutural de áreas florestais. O presente estudo visou analisar o conhecimento e uso de agricultores agroflorestais do Vale do Ribeira, São Paulo e Paraná, sobre as espécies arbóreas. A coleta de dados foi conduzida por meio de entrevistas 65 semi-estruturadas, lista livre, turnê guiada, observação direta, coleta e identificação de material botânico. Utilizou-se a técnica “snowball” para selecionar os informantes e para avaliar a suficiência amostral foi elaborada uma curva de rarefação, associada ao índice Jacknife1 o qual demonstrou que aproximadamente 80% da riqueza esperada (Sobs = 218, Sest = 272,6) foi amostrada em 40 entrevistas. Durante as entrevistas foram identificadas as plantas conhecidas, seus respectivos usos, domínios biogeográficos e ambientes de obtenção. As plantas foram analisadas com base na frequência de citação das etnoespécies, quando mais de uma etnoespécie se referiu a mesma espécie botânica contabilizou-se apenas um nome durante as análises. Utilizou-se o teste de Qui-quadrado para verificar se as variáveis eram significativamente diferentes. Foram mencionadas 220 etnoespécies, sendo identificadas 186 espécies, pertencentes a 54 famílias botânicas. As espécies mais citadas foram Artocarpus heterophyllus Lam (85%), Persea americana Mill (82,5%) e Inga marginata Willd. (80%). Os usos citados remeteram a nove categorias: alimentação humana (82 spp.), matéria orgânica (81 spp.), construção (81 spp.), combustível (66 spp.), medicinal (63 spp.), alimentação animal (59 spp.), tecnologia (53 spp.), mel (43 spp.) e outros (45 spp.). A riqueza de espécies nativas conhecidas (136 spp.) apresentou-se significativamente maior que a riqueza de plantas exóticas (50 spp.) (X2 = 39,76, p < 0,0001), inclusive em todas as categorias de uso com exceção ao uso alimentício. As áreas antropogênicas como capoeiras finas, trilhas, beira de estradas, roças e quintais agroflorestais foram os ambientes com o maior número de plantas citadas (77 spp.). O entendimento do conhecimento local sobre a utilidade das espécies arbóreas pode contribuir com um melhor planejamento das agroflorestas, assim como novas iniciativas para o uso econômico da biodiversidade, podendo proporcionar o aumento da autonomia local, geração de renda e qualidade de vida a partir de processos e produtos que auxiliem, por exemplo, na implantação de uma agroindústria na região. Agradece-se aos agricultores que concordaram em contribuir com a pesquisa. Ao Programa de PósGraduação do IBt pelo apoio oferecido. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa de mestrado concedida à primeira autora. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado pelo Intituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) sob o processo nº 01450.004903/2013-5. Conhecimento e uso de plantas bioinseticidas e repelentes pela comunidade Sussuapara, município de Nazaré do Piauí, Brasil Brunna Laryelle Silva Bomfim (Universidade Federal do Piauí), Juliana Cardozo de Farias (Universidade Federal do Piauí), Santina Barbosa de Sousa (Universidade Federal do Piauí), Irineu Campelo da Fonseca Filho ( Universidade Federal do Piauí), Paulo Roberto Ramalho Silva (Universidade Federal do Piauí) e Roseli Farias Melo de Barros (Universidade Federal do Piauí).. Contato: [email protected]. Como consequência da evolução, diversas plantas apresentam toxinas inseticidas ou repelentes, se tornando alternativa no controle de pragas e trazendo benefícios para o meio ambiente e para a saúde pública. O uso de plantas repelentes é comum em diversas comunidades devido seu baixo custo em comparação aos repelentes e inseticidas comerciais. O presente trabalho objetivou levantar as plantas utilizadas como repelentes e bioinseticidas pela comunidade Sussuapara, município de Nazaré do Piauí, Piauí. Foram entrevistadas 46 famílias, totalizando 89 pessoas, sendo escolhido em cada unidade familiar o pai, a mãe e, quando houvesse, um filho maior de 18 anos. Nas entrevistas foram utilizados formulários semiestruturados. As plantas foram coletadas seguindo-se metodologia usual durante as turnês-guiadas e estão incorporadas 66 no acervo do Herbário Graziela Barroso (TEPB) da Universidade Federal do Piauí. Para análise dos dados de uso, calculou-se o Valor de Uso para cada etnoespécie citada. A maioria dos entrevistados (60%) disse não conhecer nenhuma planta para uso no combate a insetos. Apontaram ao menos uma espécie vegetal que conheciam ou utilizavam como repelente 36% dos entrevistados, e 8% citaram que a fumaça de qualquer planta serve para repelir pernilongos e mosquitos. Dentre aqueles que citaram que qualquer espécie pode ser usada como repelente, 14% destacaram o nome de uma espécie usada para esse fim. Foram apontadas 14 espécies utilizadas como repelentes e nenhuma com ação bioinseticida conhecida. A espécie mais citada (66%) foi o alecrim (Lippia sp.), apresentando também maior Valor de Uso (VU= 0,4) . A fumaça da folha foi a principal forma de utilização, sendo apontada em 93% dos casos. O fumo (Nicotiana tabacum L.) foi a única espécie em que se usava o pó da folha ou o próprio fumo como repelente. Independente do uso ou conhecimento acerca de plantas bioinseticidas e repelentes, 77% citaram o veneno comercial como principal forma de combate a insetos em suas casas e 100% citaram uso de veneno comercial em suas plantações. Pode-se perceber que a maioria da comunidade não conhece ou utiliza plantas com ação repelente ou bioinseticida, fazendo uso de venenos comercias, prática utilizada inclusive por alguns que afirmaram conhecer alguma etnoespécie repelente. Vale ainda ressaltar o risco de efeitos adversos, tais como alergias e crises em pessoas com problemas respiratórios dentre aqueles que utilizam a fumaça de alguma espécie na repelência de insetos. Agradece-se ao Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal do Piauí. Conhecimento e uso de recursos vegetais na Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca, Santa Catarina Mayana Lacerda Leal (Universidade Federal de Santa Catarina), Rubana Palhares Alves (Universidade Federal de Santa Catarina) e Natalia Hanazaki (Universidade Federal de Santa Catarina). Contato: [email protected]. As unidades de conservação (UC) são uma das vias legais para a proteção dos recursos naturais. Analisar o uso de recursos vegetais pelas populações humanas locais é fundamental para uma boa gestão dessas áreas, ainda que estas sejam criadas com ênfase a um elemento marinho, como Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca (APABF). O objetivo deste estudo foi analisar o conhecimento e uso de recursos vegetais por moradores locais em três regiões da APABF: norte (APABFN), central (APABFC) e sul (APABFS). A UC se estende ao longo do litoral centro-sul de Santa Catarina, com 156 mil hectares. A divisão considerada no estudo é realizada pelos gestores da APABF e reflete características distintas dessas três regiões As comunidades foram divididas em áreas numeradas, sendo sorteadas tanto as áreas quanto as casas a serem acessadas. Utilizamos o mesmo esforço amostral em cada região da APABF, totalizando 150 moradores entrevistados. Registramos as plantas utilizadas, obtidas tanto por extrativismo quanto por cultivo. A identificação das plantas citadas foi feita através de coletas botânicas no interior e entorno da APABF, informações bibliográficas e observações in situ. Nas 150 entrevistas foram feitas 1232 citações de plantas, das quais foi possível fazer a identificação de 889 citações em nível de espécie, totalizando 92 espécies. Nas três regiões as espécies mais citadas foram as mesmas: alho (Allium fistulosum L.), salsinha (Petroselinum crispum (Mill.) Fuss), alface (Lactuca sativa L.), couves (Brassica oleracea L.), aipim/mandioca (Manihot esculenta Crantz) e milho (Zea mays L.). Juntas, estas espécies representam 45% do total das 67 citações identificadas. Exemplos de espécies nativas menos citadas são butiá (Butia catarinensis Noblick & Lorenzi) e pitanga (Eugenia uniflora L.). Apesar da grande extensão da APABF, há consonância quanto aos recursos vegetais usados, sendo as plantas alimentícias cultivadas as mais utilizadas, sobretudo para o consumo próprio, demonstrando a importância dessas para a subsistência e segurança alimentar da população local. O uso incipiente de espécies nativas indica que estas atividades não são uma ameaça à conservação dos recursos vegetais e tampouco um bom argumento em prol da conservação. No entanto, a manutenção das atividades de cultivo deve ser estimulada propiciando uma melhor qualidade de vida para os moradores locais e freando uma ocupação e urbanização sem planejamento. Agradece-se à Rufford Foundation, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nivel Superior (CAPES), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Agradecemos aos moradores entrevistados, gestores das Unidades de Conservação e colaboradores João Ferreira, Julia Ávila, Bruna Raupp, João Leal e Tatiana Miranda. Diagnóstico Rápido Participativo: ferramenta para caracterização etnoecológica e etnobotânica em processos de delimitação de territórios quilombolas Juliana de Lima Passos Rezende (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais), Welinson Ferreira Brito (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais) eThais Silva de Paula (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais). Contato: [email protected]. O Diagnóstico Rápido Participativo (DRP) estabelece um processo dialógico de análise da realidade e interação entre os sujeitos de uma pesquisa. Estimulando a troca de experiências e percepções dos participantes, estrutura e organiza a forma como os atores sociais percebem, coletivamente, sua comunidade. Utilizou-se técnicas de DRP em trabalho de caracterização ambiental para delimitação de território de duas comunidades quilombolas, na região do Serro (convênio Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais/Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). A caracterização ambiental é um dos estudos que componentes do processo de demarcação de territórios quilombolas e é através dele que são fornecidos subsídios que indicam o uso e ocupação do solo, tanto em áreas nativas quanto em áreas agriculturáveis. Através de entrevistas semi-estruturadas, caminhadas, mapas mentais, coleta e identificação de material botânico, pôde-se verificar como os moradores, em sua maioria trabalhadores rurais, de ambas as comunidades usam seu território. Nas entrevistas, os membros mais atuantes das comunidades, reportaram o extrativismo em diversos ambientes naturais e a existência de plantas utilizadas, numa perspectiva histórica, na alimentação e medicina caseira (humana e animal), na fabricação de utensílios e construção (ferramentas, mourões, telhados e fibras); usadas como colas, corantes e outras extraídas para artesanato, além daquelas com usos simbólicos e religiosos. Diversas espécies de “sempre vivas”, capins, frutos e peças florais, estão entre as mais coletadas nos diferentes ambientes e que foram/são comercializadas, constituindo importante fator de renda para as comunidades. Destas, algumas são diferentes espécies de liquens e musgos (briopsida), genericamente denominados como “laginha e musgo”. Pesquisadores e moradores percorreram e verificaram in loco as fitofisionomias retratadas nos mapas mentais: cerrado, floresta semidecídua, campo de altitude e rupestre, cerrado rupestre e áreas de várzea, o que possibilitou a coleta de amostras vegetais. A metodologia de Diagnóstico Rápido Participativa, aliada aos trabalhos de campo, permitiu o (re)conhecimento do uso e ocupação do território no passado e presente, fornecendo dados importantes para a construção de uma proposta de território que seja sustentável, e que 68 permita que as atividades humanas e econômicas destas comunidades possam garantir suas necessidades básicas aliadas à preservação ecossistêmica. Agradece-se à PROEX/ Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Espécies arbóreas conhecidas e utilizadas por agricultores agroflorestais em uma área de Mata Atlântica, Brasil: a influência do gênero e idade Naiana Pereira Lunelli (Instituto de Botânica), Marcelo Alves Ramos (Universidade de Pernambuco), Clovis Jose Fernandes de Oliveira Júnior (Instituto de Botânica). Contato: [email protected]. Populações locais são capazes de interagir e modificar o ambiente para garantir sua sobrevivência. Para tanto, verificou-se se a proporção de espécies arbóreas conhecidas por agricultores agroflorestais do Vale do Ribeira, São Paulo e Paraná, é afetada em função do gênero e da idade. Conduziu-se a coleta de dados por meio de entrevistas semi-estruturadas, turnê guiada, observação direta, coleta e identificação de material botânico. Utilizou-se a técnica “snowball” para selecionar os informantes. A suficiência amostral foi avaliada pela curva de rarefação, associada ao índice Jacknife1 o qual demonstrou que aproximadamente 80% da riqueza esperada (Sobs = 218, Sest = 272,6) foi amostrada em 40 entrevistas. Os participantes foram classificados em gêneros (masculino e feminino) e classes etárias (18 - 24 anos - jovens; 25 - 59 anos - adultos; ≥ 60 anos - idosos). Utilizou-se o teste de Kruskal-Wallis e Qui-quadrado para verificar se as variáveis diferiram significativamente. Os testes foram realizados com base na frequência de citação das etnoespécies, contabilizando apenas um nome quando houvesse referencia a mesma espécie botânica. Foram entrevistados 17 mulheres e 23 homens, média de idade igual a 50 anos, variando de 18 a 78 anos. Observou-se que a riqueza total (X2 = 1,94, p = 018) e a média de citação (H = 2,83, p = 0,09) das espécies conhecidas entre os gêneros é homogênea, com os homens mencionando 173 (44,13±17,33) e as mulheres 148 (34,76±10,09). No entanto foram encontradas diferenças na riqueza de espécies citadas exclusivamente entre os gêneros (X2 = 13,29, p = 0,0005). Os jovens apresentaram menor citação quando comparado aos adultos (X2 = 33,42, p < 0,0001) e idosos (X2 = 30,12, p < 0,0001). A riqueza total de espécies mencionadas foi igual a 74 (33,25±20,55) para os jovens, 163 (39,08±12,96) para os adultos e 150 (45,09±18,19) para os idosos, não ocorrendo diferenças significativas para a média de citação de espécies entre as três faixas etárias (H = 1,93, p = 0,16; H = 1,71, p = 0,19; H = 1,06, p = 0,30). Uma maior citação de espécies que são exclusivas ao gênero masculino pode indicar a existência de um conhecimento especializado neste grupo para determinadas categorias de uso. As experiências que ocorrem ao longo da vida de cada indivíduo, podem estar relacionadas com o maior acúmulo de saberes entre os mais velhos. Por outro lado, às restrições ambientais e a disponibilidade dos recursos vegetais também podem ter limitado o conhecimento dos jovens. Agradece-se aos agricultores que concordaram em contribuir com a pesquisa. Ao Programa de PósGraduação do IBt pelo apoio oferecido. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa de mestrado concedida à primeira autora. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado pelo Intituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) sob o processo nº 01450.004903/2013-5 69 Estudo anatômico da estrutura foliar de Morinda citrifolia L., Rubiaceae: uma espécie com potencial terapêutico Veridiana Soares dos Santos (Universidade Federal da Paraíba), Haymee Nascimento de Alencar (Universidade Federal da Paraíba), Emily Dias da silva (Universidade Federal da Paraíba), Silvanio Antonio da Silva (Universidade Federal da Paraíba) e Evelise Márcia Locatelli de Souza (Universidade Federal da Paraíba). Contato: [email protected]. Morinda citrifolia L., popularmente conhecida por “noni”, é uma espécie originária do Sudeste Asiático, sendo amplamente difundido em todas as regiões brasileiras. O fruto do noni possui sabor muito amargo e cheiro pouco atraente, além disso, possui um polissacarídeo que comprovadamente possui ação antitumoral sendo utilizado como analgésico, anestésico, antidiabético e hipotensor. Além do fruto, também utilizam as flores, folhas e cascas de noni. No estudo da Etnobotânica são utilizadas várias técnicas auxiliares, como a análise das estruturas anatômicas que, por exemplo, podem identificar as possíveis estruturas vegetais que proporcionam efeitos terapêuticos importantes para a manutenção do bem-estar das comunidades tradicionais. Sendo assim, esta pesquisa tem como objetivo realizar o estudo anatômico da estrutura foliar da Morinda citrifolia L e relatar as principais utilidades dessa espécie para a comunidade pesqueira artesanal do sítio Tanques situada na Área de Proteção Ambiental (APA) da Barra do Rio Mamanguape, Estado da Paraíba. A fim de proporcionar informações que possam auxiliar os estudos etnobotânicos. Nos estudos anatômicos, para a observação da epiderme foram efetuados cortes paradérmicos à mão livre, os cortes foram montados entre lâmina e lamínula com glicerina a 50%. O corte paradérmico da lâmina foliar demonstrou a presença de células estomáticas na face abaxial, caracterizando uma folha hipoestomática com estômatos do tipo paracítico. Nas observações, não participativas, constatou-se um grande número de espécies de “noni” na comunidade. Os consumidores a utilizam como fonte de cura para doenças tais como: inflamações, reumatismo, artrite, diabetes, dores de cabeça, hipertensão, asma, dores, entre outras. É considerada, pela comunidade pesqueira, uma fonte de cura nociva à saúde sem riscos ou efeito colateral. O preparo é feito de maneira totalmente caseira, denominada de garrafada, feito a partir do fruto, geralmente, com suco de uva para minimizar o sabor amargo, em outros casos utiliza-se a folha para fazer o chá e a casca é aplicada na pintura, comunidades tradicionais indígenas circunvizinhas utilizam-na em épocas de escassez do jenipapo, durante as cerimonias religiosas. O uso de M. citrifolia não se restringe às zonas rurais ou regiões desprovidas de assistência médica e farmacêutica, são também utilizadas no meio urbano, como forma alternativa ou complementar aos medicamentos da medicina oficial. Agradece-se ao Laboratório de Ecologia Vegetal, Universidade Federal da Paraíba – Campus IV. Estudo etnobotânico com vistas à sustentabilidade local do distrito de São Bartolomeu, Ouro Preto, Minas Gerais Amanda Cristina Costa Prado (Universidade Federal de Ouro Preto), Eliane Barbosa Rangel (Universidade Federal de Ouro Preto), Sara Gonçalves Barbosa (Universidade Federal de Ouro Preto), Bruna Rossi dos Santos (Universidade Federal de Ouro Preto), Mariana F. M. de Guimarães (Universidade Federal de Ouro Preto) e Maria Cristina Teixeira Braga Messias (Universidade Federal de Ouro Preto). Contato: [email protected]. 70 Estudos etnobotânicos permitem registrar o conhecimento sobre a flora, gerando informações úteis para projetos de uso sustentável dos recursos. Este estudo foi realizado no distrito de São Bartolomeu, inserido na Área de Proteção Ambiental da Cachoeira das Andorinhas, Ouro Preto, Minas Gerais. Objetivou-se resgatar o conhecimento popular sobre plantas úteis e verificar se as características socioeconômicas, gênero, idade, renda, ocupação, escolaridade e forma de aquisição do saber, influenciam o conhecimento de plantas úteis (riqueza de espécies). Entrevistaram-se 43 pessoas, selecionados ao acaso. Foram utilizados questionários semiestruturados, listagem livre, turnê guiada, observação direta e análise de discurso. As espécies foram herborizadas, identificadas e descritas de acordo com a categoria de uso em: alimento, artesanato, combustível, corante, forragem, madeireira, medicinal, mística, ornamental e tóxica. Para comparar o efeito das categorias socioeconômicas no saber tradicional utilizou-se o teste de Qui-quadrado. Identificou-se 232 espécies, reunidas em 74 famílias e 191 gêneros. As famílias com maior riqueza de espécies foram Asteraceae (25), Fabaceae (15), Solanaceae (14), Lamiaceae (13), Myrtaceae e Poaceae (12). A maior parte das espécies tem uso medicinal, seguidas por alimentares e madeireiras. Houve diferença significativa no número de espécies conhecidas em relação ao gênero, sendo as mulheres principais conhecedoras de plantas medicinais e alimentares e os homens de espécies madeireiras. Pessoas cuja ocupação está ligada ao uso de recursos naturais conhecem mais plantas. Embora pessoas mais idosas conheçam mais espécies, a idade não mostrou diferença significativa. No entanto, relatos indicam uma perda de interesse dos mais jovens pelo conhecimento tradicional do uso de plantas. As demais características socioeconômicas não mostraram interferir significativamente no saber popular das plantas. Pessoas que adquiriram o conhecimento através da oralidade, somados ou não de outras fontes (livros, internet, televisão), conhecem mais espécies. Este estudo fornece informações uteis para o desenvolvimento de políticas de manejo e uso sustentável dos recursos. Agradece-se à Universidade Federal de Ouro Preto e Comunidade de São Bartolomeu. O projeto de pesquisa que embasou o trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Ouro Preto sob o registro CAAE:05301712.4.1001.5150 Estudo etnobotânico de Calea uniflora Less, Asteraceae, no município de Balneário Rincão, Santa Catarina, Brasil Luan de Souza Ramos (Universidade do Extremo Sul Catarinense), Marília Schutz Borges (Universidade do Extremo Sul Catarinense), Michele Daros Freitas (Universidade do Extremo Sul Catarinense), Paula da Silva Cardoso (Universidade do Extremo Sul Catarinense), Patrícia de Aguiar Amaral (Universidade do Extremo Sul Catarinense), Renato Panhan (Universidade do Extremo Sul Catarinense), Sílvia Dal Bó (Universidade do Extremo Sul Catarinense) e Vanilde Citadini-Zanette (Universidade do Extremo Sul Catarinense). Contato: [email protected]. Calea uniflora Less., espécie vegetal da família Asteraceae e conhecida popularmente como arnica-da-praia, é amplamente utilizada na região sul de Santa Catarina, porém não existem registros científicos da sua utilização para fins terapêuticos. No entanto, a realização deste estudo pode garantir a preservação do conhecimento tradicional, através da documentação das informações. O presente trabalho teve como objetivos identificar o percentual de uso de C. uniflora e verificar qual o conhecimento que a população detém sobre a espécie. O estudo foi realizado no município de Balneário Rincão, por considerar que os capítulos florais da planta são 71 largamente utilizados pelos pescadores artesanais e comunidade de entorno, além da planta ser naturalmente encontrada nesta região. Para a obtenção dos dados, foram realizadas entrevistas semiestruturadas através de formulários. Como prática metodológica, uma foto da planta foi mostrada a cada entrevistado a fim de que reconhecesse a espécie, sendo mencionado o seu nome popular nas situações em que houve dificuldade no reconhecimento. A amostra foi constituída por homens e mulheres, com idade igual ou superior a 18 anos e residentes no município, que foram selecionados de forma aleatória, totalizando 372 indivíduos, visando a determinar o percentual de usuários da planta. Pela análise dos resultados, observou-se que 50% dos entrevistados reconheceram a espécie pela foto, 44,1% pelo nome popular, enquanto apenas 5,9% relataram não conhecê-la. Dos que conheciam a espécie, 74,3% faz seu uso como planta medicinal e destes 65,4% a conhece desde a infância, principalmente através dos familiares (84,6%). Em relação à forma de utilização, 93% utilizam as inflorescências da planta maceradas em álcool ou cachaça, sendo este extrato geralmente utilizado por via tópica em feridas e machucados, para picadas de insetos, hematomas e dores musculares. Alguns entrevistados relataram utilizar algumas gotas deste extrato por via oral para gripe, resfriado e infecção. Sobre a efetividade e segurança, 97% afirmaram que percebem melhora com a sua utilização, 98,5% disseram que ela não demonstra toxicidade e 85% que ela não apresenta contraindicações ou interações medicamentosas. Frente aos resultados, observa-se a relevância deste estudo para o resgate do conhecimento tradicional, assim como para o direcionamento de outros estudos fitoquímicos e farmacológicos com C. uniflora, a fim de comprovar os usos populares citados. Agradece-se ao Laboratório de Plantas Medicinais (LAPLAM), Unidade Acadêmica de Ciências Ambientais (UNAHCE), Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC). O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC) sob o parecer Consubstanciado nº 278.216. Estudo etnobotânico de Varronia curassavica Jacq. “erva-baleeira” (Boraginaceae) no sul de Santa Catarina, Brasil Samara Fenilli Bristot (Universidade do Extremo Sul Catarinense), Angela Erna Rossato (Universidade do Extremo Sul Catarinense), Patrícia de Aguiar Amaral (Universidade do Extremo Sul Catarinense) e Vanilde Citadini-Zanette (Universidade do Extremo Sul Catarinense).. Contato: [email protected]. A cultura da utilização de plantas medicinais ainda é o recurso terapêutico utilizado por muitas comunidades e grupos étnicos. Nesse contexto, o presente estudo propõe realizar um levantamento etnobotânico de Varronia curassavica Jacq. conhecida popularmente como “erva –baleeira”, por ser a base de um fitoterápico genuinamente brasileiro, compilando e resgatando o conhecimento popular com intuito de perpetuar tais informações, colaborando para futuras pesquisas científicas e acadêmicas. O estudo faz parte do projeto “Fitoterapia Racional: aspectos taxonômicos, agroecológicos, etnobotânicos e terapêuticos”. Foram realizadas 10 entrevistas semiestruturadas, por meio de formulários, com as Agentes da Pastoral da Saúde, Regional Sul 4, levantando dados obtidos de seus antepassados sobre V. curassavica. A faixa etária das entrevistadas variou de 50 a 88 anos de idade, quatro delas são professoras aposentadas, sendo uma graduada em Ciências Biológicas. Das entrevistadas, sete relataram adquirir o conhecimento em plantas medicinais através de seus pais e avós, ao longo das gerações, duas Agentes através da Pastoral da Saúde e uma entrevistada através de freiras em convento. Todas relataram usar apenas as folhas para preparações fitoterápicas caseiras. Foram relatadas 12 72 formas farmacêuticas de uso da planta: infuso, decocto, tintura, alcoolatura/espírito, xarope, cataplasma, óleo medicinal, pomada, gel, creme/loção, sabão e xampu. A partir das formas farmacêuticas foram relatadas 39 indicações de usos. Vários estudos verificam a atividade antiinflamatória, outros efeito antialérgico, potencial antiofídico, atividades antimicrobiana, antiulcerogênica, antioxidante e citotóxica na redução de tumor. Estudos clínicos fase I, II, III verificaram eficácia da atividade anti-inflamatória do creme da planta, no qual foi aprovada sua ação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Contudo, percebe-se a importância em resgatar o conhecimento popular pela quantidade de informações levantadas através das Agentes, pois esses dados servem como ponto de partida para novas investigações de outras possíveis ações terapêuticas. Agradece-se à UNAHCE/EXTENSÃO/UNESC. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética de Pesquisa em Humanos da Universidade do Extremos Sul Catarinense sob o registro 340/2006. Estudo etnobotânico e levantamento florístico em quintais, Porto Murtinho, Mato Grosso do Sul Simone de Souza Moura (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul) e Ieda Maria Bortolotto (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul). Contato: [email protected]. A etnobotânica estuda as relações entre os seres humanos e as plantas e esses estudos são de fundamental importância para a conservação da biodiversidade. O Chaco brasileiro ocupa uma pequena área ao sul do Pantanal e tem espécies que não ocorrem em outras regiões do país, mas ainda é pouco estudado. Os quintais da área urbana de Porto Murtinho mantêm diversas espécies nativas do Chaco associadas com outras introduzidas, oferecendo uma boa oportunidade para estudos sobre o conhecimento popular sobre os usos das espécies. A presente pesquisa teve como objetivo avaliar a importância dos quintais para a conservação de espécies de plantas do Chaco. Para avaliação, foram feitos estudos sobre a composição florística dos quintais associado a um estudo etnobotânico. Com base num mapa da área urbana do município de Porto Murtinho, Mato Grosso do Sul, foram sorteados 50 quintais, onde foi realizado o levantamento da composição florística, todas as espécies de plantas encontradas nos mesmos nos vários hábitos de crescimento foram coletados, identificados e fotografadas, e também realizamos entrevistas semi estruturadas com os moradores, para levantar os dados etnobotânicos. As plantas mantidas foram agrupadas por categorias de uso nas seguintes formas: alimentar, medicinal, ornamental, sombramento, místico e espontâneas. A hipótese deste trabalho é que os quintais mantêm um número importante de espécies do Chaco e que a manutenção dessas espécies nos quintais está associado a importância delas no cotidiano dos moradores, seja para sua subsistência (alimento, medicinal ou outro) ou pelo seu valor social e cultural. Identificamos 768 angiospermas, distribuídas em 221 espécies, pertencentes a 67 famílias botânicas. As famílias que apresentaram maior riqueza de espécies foram: Fabaceae (15) Rutaceae e Lamiaceae (13 cada), Araceae e Euphorbiaceae (10 cada), Poaceae (8), os quintais de Porto Murtinho possuem 35% de espécies nativas do estado de Mato Grosso do Sul e 20 espécies são nativas do Chaco. As espécies encontradas foram agrupadas de acordo com a categoria de uso: sendo: 42% das espécies ornamentais, 21% alimentícias, 16% medicinal, 13% sombreamento, 6% espontâneas e 2% místico. Os quintais podem se constituir como espaços para a conservação do Chaco considerando que ele está entre as fisionomias mais ameaçadas do Pantanal e não há unidades de conservação para a proteção dessas espécies. A presença de espécies endêmicas nos quintais estudados como Prosopis ruscifolia Griseb., Tabebuia nodosa 73 Griseb. e Myracrodruon urundeuva Allemão, indica que os quintais são espaços para a conservação de espécies. Considerando as ameaças ao Chaco e à presença de espécies endêmicas nos quintais, outros estudos sobre a diversidade das espécies, bem como estudos etnobotânicos são necessários para avaliar o potencial desses quintais para a conservação do Chaco. Agradece-se ao Projeto “Casadinho” (Angiospermas do Chaco brasileiro: sistemática, diversidade, fenologia e adaptações) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) sob o registro 675.236. Estudo morfoanatômico, atividade antimicrobial e uso popular de Dalbergia ecastophyllum (L.) Taub., Leguminosae Silvanio Antonio da Silva (Universidade Federal da Paraíba/UFPB), Viviane Araújo da Silva(Universidade Federal da Paraíba/UFPB), Emely Dias da Silva (Universidade Federal da Paraíba/UFPB), Micheline Azevedo de Lima (Universidade Federal da Paraíba/UFPB)& Evelise Locatelli (Universidade Federal da Paraíba/UFPB). Contato: [email protected]. Dalbergia ecastophyllum (L.) Taub., popularmente conhecida como rabo-de-bugio, é a partir da sua resina que a própolis vermelha é produzida, apresentando alta atividade anti-microbiana e anti-radical livre. O presente trabalho teve como objetivo a caracterização morfoanatômica, atividade antimicrobial e uso de D. ecastophyllum. Para os estudos das epidermes foliares efetuaram-se cortes paradérmicos e transversais, executados à mão livre, com lâmina cortante, clarificados com hipocloríto de sódio, corados com safranina e azul de astra, e posteriormente montados entre lâmina e lamínula com glicerina a 50%. Dados de literatura mostram que D. ecastophyllum está sendo amplamente utilizada por populações tradicionais como antimicrobiana, anti-inflamatória, cicatrizante e anticariogênica. Além disso, a própolis vermelha é utilizada no tratamento de feridas, inflamações e doenças de pele. Utilizam a mesma com o mel, produzindo uma pasta que é aplicada na enfermidade. Também pode ser utilizado via oral através de garrafadas. A lâmina foliar de D. ecastophyllum apresenta, em ambas as faces, células epidérmicas com paredes anticlinais retas e relativamente delgadas sendo uniestratificada e revestida por cutícula delgada. Estômatos paracíticos, presentes exclusivamente na face abaxial, caracterizando a folha como hipoestomática. O mesófilo é heterogêneo dorsiventral possuindo duas camadas de parênquima paliçádico. O parênquima lacunoso é constituído de células de tamanhos e formatos variados com espaços intercelulares bastante pronunciados. Em corte transversal do caule de D. escastophyllum foi demonstrado vasos lacticíferos com resina avermelhada. O estudo fitoquímico da fase hexânica da planta revelou alguns metabólitos secundários responsáveis por atividades antimicrobianas, a exemplo do lupeol, alfa e beta amirina e alguns terpenos como a fridelina. Já a microdiluição testada tanto de extrato etanólico como hexânico, evidenciou atividade antibacteriana contra cepas testadas. Com relação ao teste antimicrobial de substâncias isoladas, a melhor atividade se deu com a fridelina contra cepas de Staphylococcus aureus e Escherichia coli mostrando um MIC 512 e 256 µg/ml, respectivamente. Os resultados fitoquímicos e microbiológicos da fase hexânica, mais especificamente da fridelina, de D. ecastophyllum, indicaram que esta planta é potente moduladora da capacidade de resistência a micro-organismos comprovando assim a eficiência na sua utilização popular. 74 Agradece-se à Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Centro de Ciências Aplicadas e Educação/CCAE, Departamento de Engenharia e Meio Ambiente/DEMA, Laboratório de Ecologia Vegetal (LABEV). Estudos do léxico e a Etnobotânica Cristina Martins Fargetti (Universidade do Estado de São Paulo) e Márcia Martins (Universidade Federal de Minas Gerais). Contato: [email protected]. Serão discutidas dificuldades observadas em dicionários de línguas indígenas em descrever o léxico referente a plantas, quer sejam espécies nativas ou introduzidas; serão apontados motivos para tais dificuldades e propostas de melhor tratamento de dados. Em tais obras, a identificação de plantas, por ser incompleta, pela ausência de descrições e de abonação, gera dificuldade de comparação com outras línguas e culturas. Numa breve análise de vários dicionários disponíveis, delimitando-se a citação de plantas, comestíveis ou não, constata-se que estas não estão corretamente identificadas. Esta é uma falha lamentável, se pensarmos que os indígenas detêm conhecimentos aprofundados sobre a biodiversidade de seu local de moradia, a qual é de extrema importância para sua sobrevivência, inclusive. Autores apontam que a biodiversidade está relacionada com a diversidade cultural e linguística, ou seja, onde existe maior biodiversidade, existe maior diversidade de culturas e línguas. Apesar disso, percebe-se uma defasagem na documentação e estudo, com a perda da formação de novos pesquisadores sobre a biodiversidade; este quadro compromete os estudos linguísticos, envolvendo o léxico de línguas indígenas. Este texto apresenta apenas dados parciais de uma pesquisa, de longa duração, que está em andamento. Quanto a abordagem, esta é uma pesquisa qualitativa, que neste caso, preocupa-se com o aprofundamento do estudo do léxico de um grupo social e emprega como metodologia a observação participante e a etnografia. Considerações serão feitas para uma busca de uma metodologia adequada nesse sentido, relacionando as áreas de etnobotânica e lingüística, tendo em vista estudos recentes realizados pelas autoras. Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Universidade do Estado deSão Paulo, Comunidade Juruna, LINBRA. Etnobotânica e resgate da cultura alimentar Xavante, Mato Grosso Carlos E. A. Coimbra Jr. (Fundação Oswaldo Cruz) e James R. Welch (Fundação Oswaldo Cruz). Contato: [email protected]. O povo Xavante habita uma região coberta por extensos cerrados no centro-leste de Mato Grosso, onde abunda grande diversidade de alimentos vegetais. A utilização desses recursos pelos Xavante segue um padrão sazonal, por vezes implicando na organização de grupos de coleta que podem durar um ou vários dias, cobrindo distintas paisagens do território (cerrados propriamente ditos, campos, matas de galeria, etc.). Historicamente, face à importância dos produtos vegetais silvestres em sua alimentação, os Xavante chegaram a ser caracterizados na literatura antropológica como sendo “caçador-coletores” com agricultura “incipiente”, apesar de evidências que falam a favor da sofisticação de suas técnicas agrícolas. No presente, os Xavante atravessam uma fase de profundas mudanças socioeconômicas, com impactos sobre sua nutrição e saúde geral. Nesta apresentação introduziremos, em linhas gerais, a diversidade de alimentos vegetais silvestres utilizados pelos Xavante, segundo informações que nos foram 75 fornecidas por informantes de ambos os sexos e diversos grupos de idade, por ocasião da realização de levantamento ambiental para subsidiar processo de demarcação de terra indígena desta etnia na região do Rio das Mortes, entre 2009 e 2010. Ênfase será dada aos principais táxons botânicos, às partes das plantas utilizadas na alimentação e, quando possível, forma de consumo. Dentre as famílias botânicas com maior diversidade de espécies de interesse na alimentação, destacam-se as Arecaceae (10 espécies) e Fabaceae (cinco espécies). A família Dioscoreaceae, com pelo menos 12 espécies nomeadas pelos Xavante, é de destaque na alimentação, assim como outros raízes e tubérculos não identificadas. O conhecimento acerca desse grupo de plantas é de domínio das mulheres. No presente, os Xavante encontram-se sob a pressão de mudanças socioeconômicas, com impactos sobre sua ecologia, alimentação e saúde. No bojo dessas mudanças, novas doenças vêm surgindo, como obesidade, diabetes mellitus e hipertensão arterial, em decorrência de mudanças verificadas em seus padrões dietéticos e de atividade física. A erosão de conhecimentos tradicionais sobre os alimentos vegetais do cerrado constitui real ameaça para os Xavante, considerando-se que os conhecimentos sobre plantas alimentares, sua ocorrência na paisagem e época de coleta são passados dos mais velhos para os jovens por meio de tradição oral. Esta pesquisa está tendo continuidade e objetiva estabelecer pontes para o diálogo com os diferentes setores da comunidade, com vistas a promover a valorização dos alimentos tradicionais juntos aos jovens e ampliar a discussão sobre comportamentos e práticas alimentares que minimizem os impactos da transição nutricional na população. Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Museu do Índio/FUNAI. Etnoespécies de plantas rituais panamazônicas no nordeste brasileiro Ricardo Monteles. Contato: [email protected]. Da flora nativa de uso ritual, talvez as espécies que mais têm despertado o interesse psiconáutico, embora não necessariamente acadêmico no Brasil, sejam as espécies panamazônicas do chamado ‘complexo da Ayahuasca’. Este trabalho teve como objetivo identificar as etnoespécies e descrever as principais práticas de manejo e domesticação do cipó jagube (Banisteriopsis caapi Morton) e da folha chacrona (Psychotria viridis Ruiz & Pav.) na ilha de São Luís, Maranhão, entre adeptos de duas igrejas do Santo Daime e de um centro espiritual de estudos da Ayahuasca. Através de observação participante e experiencial, além de conversas informais sobre/nos plantios ao longo do presente ano, registrou-se a utilização preferencial de espécies arbóreas nativas (Anacardium occidentale L. e Byrsonima spp.) para sombreamento da chacrona e como tutor vivo no estabelecimento vertical do cipó. Foram identificadas cinco etnoespécies de chacrona por listagem livre: cabôca, caboquinha, amazonense, rainha branca e orelha-de-onça, esta última menos observada nos preparos rituais ou feitios da bebida. Foram reconhecidas quatro etnoespécies de jagube, sendo elas: caupuri, cabi, ourinho e tucunacá. As duas primeiras são as mais disseminadas dentre os grupos estudados, podendo indicar melhor desempenho adaptativo em relação às demais variedades no contexto ecológico regional ou ainda, concentrações mais elevadas dos princípios ativos das plantas – as beta-carbolinas harmala e harmalina. Registra-se a expansão recente do uso destas plantas entre grupos urbanos e consequentemente, sua ampliação biogeográfica. Considerando a diversidade de usos e manejos observada durante os trabalhos de campo, é expressiva a presença deste quantitativo de variedades de ‘cipó’ e ‘folha’, quando se compara a outras localidades urbanas 76 no nordeste brasileiro. A expansão do uso desta bebida sacramental nos centros urbanos pode estar contribuindo para o estabelecimento e etnoconservação destas espécies para além das fronteiras amazônicas, o que do ponto de vista biogeográfico abre novas possibilidades interpretativas sobre usos, manejos e domesticação de plantas utilizadas em contexto ritual. Sugere-se o desenvolvimento de pesquisas sobre os saberes e práticas de distintos grupos que lidam com a Ayahuasca, no sentido de contribuir com a discussão de questões etnobotânicas e biogeográficas ainda não resolvidas, assim como para a prospecção de novos agentes terapêuticos na farmacopeia brasileira. Agradece-se ao Colun-UFMA. Etnoveterinária: uma análise sobre versatilidade e redundância das espécies vegetais em uma comunidade rural do extremo oeste baiano Juliane Souza Luiz Hora (Universidade do Estado da Bahia), Patrícia Muniz de Medeiros (Universidade Federak do Oeste Baiano) e Viviany Teixeira do Nascimento (Universidade do Estado da Bahia). Contato: [email protected]. Em um sistema médico local, podem existir espécies que atendam a vários alvos terapêuticos, sendo consideradas versáteis, como também ocorrem espécies usadas tradicionalmente para funções semelhantes, sendo redundantes em relação às indicações de uso. Nesta conjuntura, percebeu-se uma carência de estudos no Cerrado relativos ao conhecimento sobre espécies utilizadas nos animais, tantos os de pastagem como os domésticos. Diante disso, o presente estudo objetivou identificar as espécies etnoveterinárias mais versáteis e redundantes dentro da comunidade do Sucruiú, Barreiras, Bahia, para isto, os dados foram coletados por meio de entrevistas semi-estruturadas e analisados utilizando uma simplificação da Análise da Importância Relativa e pelo Mvsp (análise multivariada). O universo amostral é de 27 informantes presentes na comunidade, mas apenas 21 relataram adquirir informações sobre plantas medicinais utilizadas em animais. O informantes são indivíduos acima de 18 anos, divididos em 9 mulheres e 12 homens, foram registradas 23 etnospécies, tendo sido apenas 9 identificadas a nível de espécie até o momento, das quais se destacaram em relação à Importância Relativa: Pra-tudo (não identificada) (1,0); Sucupira (Pterodon pubescens Benth.) (0,7); Barbatimão (Dimorphandra mollis Benth.) (0,5); Camaçari (Terminalia fagifolia Benth.) (0,4); Ameixa (não identificada) (0,3); Batata de pulga (não identificada) (0,75); Buriti (Mauritia flexuosa L.) (0,3); Geriroba (não identificada) (0,3); Mastruz (Chenopodium ambroisoides L.) (0,3) e Pau d’ óleo (não identificada) (0,3). Dentro da análise, dez grupos de etnoespécies redundantes foram levantados, tendo: Pacari/Ameixa (100%), Camaçari/Ameixa (70%), Mastruz/Camaçari (70%), como os 3 principais. Os resultados das análises mostraram que, algumas das espécies redundantes correspondem aquelas com maior versatilidade, pelo fato de que, ao atender a vários alvos terapêuticos, a sua utilização torna-se similar a de outras espécies da comunidade que atendem a apenas uma indicação terapêutica. Agradece-se à Fundação de Amparo a Pesquisa no Estado da Bahia (FAPESB) por ter concedido a bolsa ao primeiro autor. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade do Estado da Bahia (Parecer nº 343.778). 77 Fatores que interferem no uso diferencial dos alimentos funcionais por especialistas locais da Chapada Diamantina Karina Ferreira Figueiredo (Universidade Federal do Oeste da Bahia), Viviany Nascimento (Universidade Estadual da Bahia), Ana Maria Mapeli (Universidade Federal do Oeste da Bahia) e Patrícia Muniz de Medeiros (Universidade Federal do Oeste da Bahia). Contato: [email protected]. Atualmente, os alimentos funcionais têm obtido destaque em diversas áreas de pesquisa, a exemplo da farmácia, da ciência dos alimentos e da etnobotânica. Estes garantem tanto os benefícios nutricionais, semelhantes aos alimentos comuns, como também possuem propriedades medicinais, capazes de combater e prevenir doenças. Entretanto, ainda não há estudos na etnobotânica que testem os fatores que interferem no uso diferencial desses alimentos, ou seja, o maior uso de algumas espécies em detrimento de outras. Assim, esse trabalho teve como objetivo a análise da interferência de seis variáveis na escolha dos alimentos funcionais (sabor, potencial nutricional, cheiro, valor medicinal, disponibilidade da parte da planta de interesse e tempo para aquisição). O estudo foi desenvolvido a partir dos dados coletados do inventário etnobotânico realizado com os especialistas locais nativos do Vale do Capão, Chapada Diamantina. A seleção dos informantes para o estudo foi feita por meio do método “bola de neve”. Com cada informante foram realizadas listas livres relativas aos alimentos funcionais, pelas quais as pessoas foram estimuladas a ordenar as plantas quanto ao maior uso, melhor sabor, maior potencial nutricional, melhor propriedade medicinal, melhor cheiro, maior disponibilidade e menor tempo de aquisição da parte de interesse após plantio. Usou-se nas análises estatísticas o modelo linear generalizado (GLM) para testar a relação entre as variáveis independentes e o ranking médio de uso (variável dependente). Foram retiradas do modelo as variáveis independentes de alta correlação com outras variáveis independentes, ficando as que apresentaram o maior poder explicativo. Também foi calculado o índice de saliência das 58 espécies citadas nas listas, no qual S=Nx/(Rx*Nt) (número de pessoas que mencionou a planta x dividido pelo produto do ranking médio dessa planta pelo número total de entrevistados). A bola de neve abrangeu um total 14 informantes. As cinco espécies que se destacaram quanto ao índice de saliência foram: Anredera baselloides (Kunth) Baill. (Quiabinho; folha) e Ipomoea sp. (Batata da Serra; tubérculo) com o mesmo valor de saliência = 0,113; Micranthocereus purpureus (Gürke) F. Ritter (Xique-xique; cladódio) = 0,111; Pothomorphe umbellata (L.) Miq. (Capeba; folha) = 0,109 e Passiflora edulis Sims (Maracujina; fruto) = 0,107. Os principais usos medicinais atribuídos aos alimentos funcionais foram: garantir sustância (43 citações), melhor funcionamento do intestino (42), poder calmante (21), problemas estomacais (14) e problemas do fígado (11). Todas as variáveis se correlacionam com o ranking de uso (p<0,05), mas o GLM manteve apenas sabor e potencial nutricional como variáveis explicativas, O poder explicativo dessas variáveis juntamente com as outras variáveis é de 59% (R2 =0,59), contudo, essas duas variáveis juntas possuem o poder explicativo de 53% (R²=0,53). Com os dados obtidos pelo GLM, pode-se concluir que as principais variáveis na seleção de alimentos funcionais foram o sabor e o potencial nutricional, ou seja, os aspectos mais diretamente relacionados ao ato de alimentar-se. Outros atributos teriam, portanto, influência secundária no uso diferencial de alimentos funcionais. Agradece-se à Universidade Federal do Oeste da Bahia e Universidade Rural de Pernambuco pela ajuda na realização da pesquisa e a instituição de formento Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 78 Gênero e conhecimento sobre plantas antimaláricas em Barcelos, Amazonas. Bernardo Tomchinsky (Universidade Estadual Paulista) e Lin Chau Ming (Universidade Estadual Paulista). Contato: [email protected]. A malária persiste como a principal doença parasitária do mundo, ameaçando um terço da população mundial e causando a morte direta de mais de um milhão de pessoas todos os anos. No Brasil a região mais afetada pela doença é a amazônia onde a população aprendeu a conviver com a doença a partir dos recursos naturais disponíveis. Apesar dos tratamentos farmacêuticos existentes a doença tem apresentado resistência aos principais compostos utilizados o que aumenta a necessidade pela descoberta de novos fármacos. Estudos etnobotânico são uma importante ferramenta para a descoberta de novas drogas, porem nestes tipos de trabalho é necessário compreender como a doença é compreendida pelo grupo estudado, pois a percepção pode variar de acordo com sua organização, aspectos culturais e o papel de cada individuo neste grupo, inclusive considerando possíveis diferenças de gênero entre os entrevistados. O objetivo deste trabalho foi compreender de que forma a questão de gênero dos entrevistados pode influenciar sobre o conhecimento das plantas medicinais antimaláricas. Foram entrevistados 52 pessoas reconhecidas localmente como conhecedoras sobre o uso de plantas medicinais em sete comunidades da região de Barcelos, Amazonas, indicadas através da metodologia bola de neve. Deste total de colaboradores, 18 eram mulheres e 34 homens, entretanto esta proporção variou muito entre as diferentes comunidades visitadas, provavelmente de acordo com a organização de cada comunidade e o papel das mulheres em cada comunidade, nas comunidades onde a liderança era uma mulher foram entrevistadas mais mulheres do que homens. Ao todo foram indicadas 118 plantas para o tratamento da malária e de seus males associados, enquanto as mulheres citaram em média 8,1 plantas por entrevista os homens citaram 6,3 plantas. Em relação ao ambiente de ocorrência das plantas citadas para o tratamento da malária e de seus males associados pelos homens, apenas 22% delas ocorrem em quintais ou roçados enquanto 42% ocorrem nas matas, 19% em igapós e 17% em capoeiras; enquanto das citações realizadas pelas mulheres, 54% das plantas ocorrem nos quintais, 13% em capoeiras, 25% em matas e 7% em igapós. Estes dados evidenciam que o conhecimento sobre o uso de plantas medicinais antimaláricas bem como o conhecimento sobre os diferentes ambientes de ocorrência destas é diferente entre homens e mulheres em comunidades de Barcelos, Amazonas. Agradece-se à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista sob o protocolo CEP 3425-2010. O projeto de pesquisa que embasou o presenta trabalho também foi analisado pelo Conselho de Gestão do Patrimônio Genético Nacional (CGEN) sob o Processo administrativo no 02000.001373/2010-11, Deliberação do CGEN no 333, de 19 de setembro de 2012, autorização do CGEN no 111/2012. Grupos rurais e o uso de recursos vegetais na Mata Atlântica no sul e sudeste do Brasil: uma revisão Karla Beatriz Lopes Baldini (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), Mariana Martins da Costa Quinteiro (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) e Luis Mauro Sampaio Magalhães (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro). Contato: [email protected]. 79 O conhecimento sobre a relação homem - natureza é um tema importante para compreender os mecanismos de uso e conservação dos recursos naturais. O texto reúne dados de uma revisão feita de artigos publicados e indexados em base de dados acessada pelo Portal CAPES. Os objetivos são quantificar e qualificar os trabalhos publicados sobre grupos rurais na Mata Atlântica nos últimos dez anos (2004 a 2013), através de uma revisão bibliográfica realizada no Periódicos CAPES, e enumerar o conhecimento e uso de plantas por grupos rurais nas regiões sudeste e sul do Brasil. Foi feita uma revisão dos artigos levantados com as seguintes palavraschave: comunidade rural/caipiras/sitiantes/pequenos agricultores - etnobotânica - paisagem Mata Atlântica feitos nas regiões sul e sudeste do Brasil. Como resultados, foram encontrados 26 artigos publicados no período de 10 anos. No Espírito Santo não houve nenhum artigo publicado, enquanto Santa Catarina teve o maior número de trabalhos (n=09). A categoria de uso mais estudada foi a "medicinal" (n=13). O termo mais usado para nomear o grupo estudado foi "comunidade rural" (n=16). O número de entrevistas variou de 06 (mínimo) a 65 pessoas (máximo), com concentração em mais de 30 entrevistas por artigo. Sobre o número de plantas pesquisadas, identificou-se o uso de mais de 60 espécies (n=16). As áreas de estudo concentram em regiões descritas como “dentro e/ou no entorno de Unidades de Conservação" (n=14) e “bairros/distritos rurais” (N=12). Conclui-se que nas regiões sul e sudeste o número de artigos publicados nos últimos dez anos sobre "rurais" é pequeno, levando-se em consideração a presença e tamanho das áreas rurais, áreas protegidas existentes e o desenvolvimento econômico que muda as tradições nas áreas. Nos artigos não se identificou um conceito de "rural", que caracteriza-se o grupo. Apenas um trabalho feito no Vale do Paraíba Paulista, descreve que a comunidade é rural pela relação que tem com a terra, com produção de subsistência e venda do excedente, utilizando basicamente mão-de-obra familiar, e ajuda mútua entre vizinhos e parentes nas localidades. Destaca-se a necessidade de se entender a dinâmica dessas comunidades nos aspectos sociais e econômicos, como a mudança das atividades econômicas, que alteram o uso da terra, com o abandono das atividades agrícolas e florestais e a busca por serviços como caseiro ou no centro urbano. O entendimento desses aspectos é importante na proposição de formas/regras de manejo mais sustentáveis dessas áreas e sua influência na conservação. Agradece-se à Universidade Federal Rural do Rio de janeiro( UFRRJ), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Fatores que interferem nas escolhas terapêuticas dos frequentadores da feira livre de Barreiras, Bahia Indiria Tibolla Alexandre de Souza (Universidade Federal do Oeste da Bahia), Pablo Alves de Souza e Souza (Universidade Federal do Oeste da Bahia), Viviany Teixeira do Nascimento (Universidade do Estado da Bahia) e Patrícia Muniz de Medeiros (Universidade Federal do Oeste da Bahia). Contato: [email protected]. A feira livre de um município é a representação de um espaço sociobiodiverso, pois nela é possível perceber a reprodução cultural, biológica e econômica de uma região. O presente trabalho foi realizado com os frequentadores da Feira livre de Barreiras, BA, e teve como objetivo verificar se os fatores gênero, idade e quantidade de plantas compradas, ida ao posto de saúde e doença interferem nas escolhas terapêuticas de quem frequenta a feira livre. Assim, foi utilizada uma amostragem ocasional, com dias, semanas e turnos intercalados 80 (matutino/vespertino), levando a um total de 200 entrevistados. A entrevista consistia em obter informações sobre idade, sexo, local de residência, plantas compradas e suas utilidades e um recall terapêutico das doenças tidas pelos frequentadores no ultimo ano, acompanhado da sua ida ou não ao posto de saúde, sua forma de tratamento (uso de plantas/alopáticos, ou ambos) e a sequencia que se deu este uso. Foi utilizado um modelo linear generalizado (GLM) para verificar a influencia das variáveis gênero, idade e quantidade de plantas compradas no percentual de escolha de plantas x alopáticos e de priorização por plantas x alopáticos. Um QuiQuadrado em tabela de contingência foi empregado para verificar se a ida ao posto de saúde e o tipo de doença apresentavam alguma influencia na escolha e priorização por elementos terapêuticos. Deste modo observou-se que dos frequentadores entrevistados, 14,4% escolhem principalmente o uso por alopáticos, 10,1% escolhem o uso por plantas e 75,5% fazem uso de ambos, caracterizando um sistema médico plural. Notou-se também que destes frequentadores, 62,4% priorizam o uso de alopáticos, seguidos de 37,6% que priorizam o uso de plantas. Foi observado que os fatores gênero, idade e número de plantas compradas não explicam as escolhas terapêuticas dos frequentadores da feira (p > 0,05). O que melhor explica as escolhas terapêuticas dos mesmos é a ida ao posto de saúde local (p < 0,05) e o tipo da doença apresentada (p < 0,05). Desse modo, conclui-se que aspectos de saúde pública (ida ao posto e tipo de doença) demonstraram ter uma maior interferência nas escolhas terapêuticas dos frequentadores da feira do que aspectos socioeconômicos propriamente ditos. Agradece-se a Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), por apoiar as pesquisas no Centro das Ciências Biológicas e da Saúde, aos colaboradores desta produção científica, em especial a orientadora Patrícia M. de Medeiros. Fatores que interferem nas escolhas terapêuticas: uma análise com usuários do Sistema Único de Saúde em Barreiras, Bahia Giuliana Maria Gabancho Barrenechea Bueno (Universidade Federal do Oeste da Bahia), Viviany Teixeira do Nascimento (Universidade do Estado da Bahia) e Patricia Muniz Medeiros (Universidade Federal do Oeste da Bahia). Contato: [email protected]. Poucos estudos tentam entender o que faz as pessoas de áreas urbanas optarem por diferentes elementos terapêuticos. Assim, o objetivo deste trabalho foi identificar os fatores que interferem nas escolhas terapêuticas dos frequentadores de um posto de saúde no município de Barreira, Bahia. Foi realizada uma amostragem ocasional, levando a 211 entrevistas. Tais entrevistas foram baseadas em um recall terapêutico, por meio do qual as pessoas foram estimuladas a indicar (1) os eventos de adoecimento que as acometeram no último ano, (2) se recorreram ao sistema oficial de saúde, (3) o que empregaram na cura (plantas, alopáticos ou ambos) e (4) que elemento foi priorizado (usado em primeiro lugar). Um teste G em tabela de contingência foi empregado para testar (1) se a necessidade de recorrer ao sistema oficial de saúde interfere nas escolhas terapêuticas e na priorização por elementos e (2) se a doença pela qual as pessoas foram acometidas interfere na escolha e priorização por elementos. Também foi usado um modelo linear generalizado (GLM) com o objetivo de analisar a influencia de variáveis categóricas e quantitativas no percentual de priorização de plantas dos entrevistados. As variáveis explicativas testadas foram idade, tempo de residência, renda, escolaridade, gênero, estado civil, religião e presença de filhos. A visita a um posto de saúde, clínica ou hospital leva proporcionalmente à maior escolha e priorização por alopáticos (p < 0,01). A doença interferiu na escolha terapêutica (p < 0,001), mas não interferiu na priorização (p > 0,05). A escolaridade, o estado civil e a presença ou não de filhos interferem no percentual de priorização 81 de plantas entre os entrevistados (R²=0,37 para o modelo com as três variáveis; p < 0,05). Desse modo, pessoas casadas e divorciadas tendem a priorizar mais o uso de plantas medicinais do que pessoas solteiras e viúvas. Pessoas com filhos e pessoas menos instruídas também tendem a priorizar mais o uso de plantas medicinais. Observa-se com esse estudo, que são muitas as variáveis que interferem nas escolhas terapêuticas da população, variáveis estas relacionadas ao perfil socioeconômico e a questões de saúde pública. Agradece-se à professora Dra. Patricia Muniz. Influência dos fatores socioeconomicos no conhecimento de plantas medicinais em uma comunidade do Cerrado do oeste da Bahia, nordeste do Brasil Luana Silva Porto (Universidade do Estado da Bahia), Patricia Muniz de Medeiros (Universidade Federal do Oeste da Bahia) e Viviany Teixeira do Nascimento (Universidade do Estado da Bahia). Contato: [email protected]. Em geral, o conhecimento acerca dos recursos vegetais medicinais se distribui de forma heterogênea entre os membros de uma comunidade, sendo assim é importante saber as variáveis que podem influenciar na distribuição de tal conhecimento. Posto isto, objetivou-se verificar a influência de fatores socioeconômicos (idade, escolaridade e renda familiar) no número de plantas medicinais conhecidas pelos membros da comunidade de Sucruiú, distrito do Vau da Boa Esperança, Barreiras, Bahia. A pesquisa foi realizada entre julho de 2013 e agosto de 2014. As técnicas utilizadas foram: lista livre, entrevista semiestruturada e turnê guiada para a coleta do material botânico. Para a avaliação dos dados obtidos utilizou-se a Análise de Regressão Linear Múltipla, tendo como variáveis independentes a idade, escolaridade e renda familiar, e como variáveis dependentes o número de citações e o número de espécies medicinais. Vinte e quatro informantes foram consultados, o levantamento resultou em 74 etnoespécies indicadas para vários fins medicinais. Os moradores encontram-se no intervalo de 19-75 anos, Praticamente toda a comunidade é alfabetizada (95,8%), porém deste percentual 56,5% possui o ensino fundamental incompleto. O que indica um grau de escolaridade muito baixo. A renda familiar varia de no mínimo um salário e no máximo três. A idade foi o único fator que influenciou no número de estnoespécies citadas (R²=0,31; p<0,05) bem como na quantidade de usos mencionados (R²=0,27; p<0,05). Pelo que foi observado a idade interfere no conhecimento dos indivíduos, sendo este maior quanto mais velha for a pessoa. Isto pode ser explicado pelo fato das pessoas com mais idade terem contato a mais tempo com os recursos vegetais disponíveis na localidade e também por serem mais vulnerais a doenças, devido a fragilidade que a idade acomete. Agradece-se aos moradores da comunidade Sucruiú e aos integrantes do grupo de pesquisa pela disponibilidade e contribuições. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo apoio financeiro. Levantamento de espécies lenhosas conhecidas, usadas e preferidas como combustíveis no Assentamento Rendeiras em Girau do Ponciano, Alagoas 82 Cledson dos Santos Magalhães (Universidade Federal de Alagoas), Marcelo Alves Ramos (Universidade de Pernambuco), Henrique Costa Hermenegildo da Silva (Professor da Universidade Federal de Alagoas). Contato: [email protected]. Este trabalho objetivou realizar um levantamento das espécies lenhosas conhecidas e usadas como combustível (lenha e/ou carvão) num assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra denominado Complexo Dom Helder Câmara, localizado no município de Girau do Ponciano, microrregião de Arapiraca, região agreste do estado de Alagoas. A região é caracterizada como caatinga do tipo xerófila e clima semi-árido quente, e dentre as agrovilas existentes, esta pesquisa se deteve à Sete Casas, por apresentar maior dimensão territorial e uma vegetação adjacente. Este trabalho foi divido em duas etapas: a) todas as residências foram visitadas (75 casas habitadas) e através de formulários semi-estruturados o morador presente na visita era entrevistado com questionário socioeconômico; b) Seleção de casas que utilizavam combustíveis de origem florestal às quais seus moradores foram questionados sobre as plantas conhecidas e usadas para tais fins e nesse momento houve análise do peso dos estoques de lenha através da técnica de weight survey. Analisaram-se as espécies culturalmente mais importantes através da análise de Saliência pelo software Anthropac. Na agrovila em questão, 24 residências utilizavam combustíveis de origem vegetal para uso doméstico, entretanto, somente quatro dependiam deste como fonte única e o restante fazia associações com gás natural. A melhor época de coleta foi o verão, embora as respostas tenham variado entre verão e inverno. Quanto ao uso de carvão vegetal, responderam que o utilizavam e que a maior parte era adquirida por compra, tendo cinco relatos de produção de carvão na área estudada. Foram citadas 15 espécies vegetais utilizadas como combustíveis, sendo todas identificadas. Aquelas mais comumente utilizadas para lenha e seus respectivos valores de saliência são catingueira (Poincianella pyramidalis (Tul.) L.P.Queiroz) 0,767; marmeleiro (Croton blanchetianus Baill.) 0,473; e jurema (Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir.) 0,374. As espécies mais utilizadas para carvão são Catingueira 0,738 e Jurema 0,379. A verificação de estoques, demonstrou que são utilizados cotidianamente de 8,25 à 15 kg de lenha por residência. Portanto a utilização de lenha e carvão torna-se imprescindível na comunidade estudada, pois fornece subsídios para sua manutenção e desenvolvimento. Agradece-se aos moradores do Assentamento Rendeiras e também ao Centro de Recuperação de Áreas Degradadas do Baixo São Francisco pelo apoio concedido para execução desta pesquisa. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética do CESMAC sob protocolo 1377/12. Levantamento etnobotânico de plantas medicinais utilizadas por moradores do bairro Baixão, zona urbana de Arapiraca, Alagoas Priscilla Cavalcante Rocha (Universidade Estadual de Alagoas) e Edijane Silva Barbosa (Universidade Estadual de Alagoas). Contato: [email protected]. O uso de plantas medicinais no Brasil é bastante comum, apresentando uma acentuada diversidade em plantas espalhadas por diferentes estados, tendo uma grande importância para as comunidades. Em Arapiraca a prática não é diferente, o município está localizado na área central do Estado de Alagoas, apresenta clima tropical chuvoso com verão seco, onde a comercialização de plantas medicinais em mercados públicos, feiras e lojas são bastante comuns, grande parte dos moradores cultiva em seus quintais mudas e utilizam para várias enfermidades. O presente trabalho teve como objetivo investigar quais as espécies de plantas medicinais cultivadas nos quintais das casas no Bairro Baixão, localizado no município de 83 Arapiraca, Alagoas. A pesquisa foi realizada entre julho de 2013 a agosto de 2014, a coleta de dados foi realizada através da aplicação de entrevistas estruturadas e visitas periódicas em 12 casas, com o intuito de obter informações sobre quais plantas são cultivadas pelos moradores e como os mesmos adquiriram os conhecimentos sobre a utilização das plantas medicinais. Foram entrevistados 12 moradores, sendo 10 do sexo feminino e dois do sexo masculino, com faixa etária entre 42 e 82 anos. Foram citadas ao todo 15 espécies usadas para fins medicinais sendo as mais comuns entre o conhecimento tradicional dos informantes Cymbopogon citratus (DC.) Stapf, capim santo indicado como calmante, hipertensão e analgésico; Lippia alba (Mill.) N. E. Brown, erva cidreira anti-inflamatória e analgésico; Alpinia speciosa Schum, colônia diurética e hipertensão; Mentha x villosa Huds, hortelã miúda é anestésico, infecções respiratórias, náuseas, tosse e bronquite; Chenopodium ambrosioides L., mastruz é utilizada para parasitas intestinais, gripe e gastrite: Phyllanthus sp., quebra-pedra para pedra nos rins, diurético, fígado e úlceras. Observou-se que apesar de se tratar de um bairro localizado na zona urbana, o conhecimento sobre a utilização de plantas medicinais para fins terapêuticos está presente, os quais foram adquiridos através dos mais velhos para os mais jovens, onde há o costume de cultivar nos quintais das casas espécies simples e que tenha um manejo fácil. Agradece-se aos moradores do Bairro Baixão só agradecimentos ao acolhimento e disponibilidade durante o período da pesquisa. Macaúba: entre a feira e os quintais de Jaboticatubas Luana do Carmo Araujo de Oliveira (Universidade Federal de Minas Gerais), Maria Auxiliadora Drumond (Universidade Federal de Minas Gerais), Lorena Cristina Lana Pinto (Universidade Federal de Minas Gerais) e Emmanuel Duarte Almada (Universidade Estadual de Minas Gerais). Contato: [email protected]. As feiras livres são alternativas para a comercialização de produtos da agricultura familiar, favorecendo a economia local, popular e solidária. Ao mesmo tempo, a comercialização de produtos tradicionais está ligada a circulação dos saberes associados as práticas agroecológicas comunitárias. Esses espaços permitem ainda o resgate das dimensões sócio-históricas e culturais dos alimentos tradicionais frente a crescente urbanização dos modos de vida. A presente pesquisa teve como objetivo principal investigar o papel do extrativismo vegetal na composição dos produtos comercializados por comunidades rurais em uma feira agroecológica em Jaboticatubas, Minas Gerais, a Feira Agroecológica Raízes do Campo. Entrevistas semiestruturadas com os 17 feirantes foram realizadas para o levantamento das espécies dos agroecossistemas comercializadas, especialmente as espécies do Cerrado, bem como os saberes ecológicos a elas associadas. Também foram realizadas observações diretas nas propriedades rurais para melhor identificação das espécies e acompanhamento da feitura artesanal de alguns produtos. Ao todo foram registradas 91 espécies de plantas comercializadas na feira, sendo 9 destas de origem do extrativismo no Cerrado. Das plantas do Cerrado, a palmeira macaúba, Acrocomia aculeata (lacq) Lood. ex Mart, apresentou destaque na diversidade de usos e produtos. Segundo os feirantes “do coco você aproveita tudo, não joga nada fora”. As folhas são utilizadas na fabricação de esteiras e vassouras. O epicarpo é moído e processado na forma de “torta”, utilizada como ração para os animais. O mesocarpo é prensado e dele se extrai o “azeite” usado na produção do sabão. O azeite também tem uso medicinal para dor, torção e reumatismo. A casca da castanha (endocarpo) é usada como lenha e suas cinzas integram o processo tradicional de produção de sabão “decoada”. Já da castanha (endosperma) se faz o 84 óleo usado na alimentação. O processo artesanal de beneficiamento do coco é muitas vezes realizado de forma coletiva entre familiares e vizinhos, sendo que frequentemente as mulheres se reúnem para quebrar os cocos. Nossos resultados indicam que a feira representa um importante espaço de circulação dos produtos do extrativismo bem como dos saberes a eles associados, sendo A. aculeata a espécie de maior importância cultural e econômica. Agradece-se aos feirantes que solicitamente participaram da pesquisa e nos acolheram em suas casas, a AMANU, especialmente a Daya, Luiz e Filipe pela imensa colaboração e parceria. Malária: saliência dos sintomas e uso de plantas medicinais tradicionais Bernardo Tomchinsky (Universidade Estadual Paulista) e Lin Chau Minga (Universidade Estadual Paulista). Contato: [email protected]. A malária persiste como uma das doenças parasitarias com maior impacto em todo o mundo ameaçando um terço da população mundial e causando a morte direta de mais de um milhão de pessoas todos os anos. No Brasil a região amazônica é a mais afetada, onde as populações aprenderam a conviver com a doença a partir do uso dos recursos naturais disponíveis. Apesar dos tratamentos farmacêuticos existentes a malária tem apresentado cada vez mais resistência aos medicamentos disponíveis e estudos etnobotânicos são alternativas eficientes para prospectar novas substâncias ativas para o tratamento da doença. O objetivo deste trabalho foi procurar entender de que forma a compreensão sobre a malária e seus sintomas pode influenciar no uso de medicamentos tradicionais. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 52 pessoas de sete comunidades do Município de Barcelos, Amazonas, indicadas localmente por serem reconhecidas como detentoras de conhecimento sobre o uso de plantas medicinais. As plantas indicadas foram coletadas e depositadas no herbário EAFMIFAM de Manaus. Os principais sintomas da malária descritos pelos entrevistados foram febres (90%), dores-no-corpo (68%), dores de cabeça (56%), anemia (37%), problemas no fígado (36%), vômitos (17%), diarreia (10%) e menos frequentemente mal estar, inapetência e inflamações. A intensidade e a persistência de cada sintoma varia, enquanto alguns ocorrem apenas durante as crises da doença (febres, dores de cabeça, diarreia, vômitos, e dores no corpo), outros persistem por um período mais longo deixando sequelas (anemia, problemas no fígado, fraqueza), além disto alguns destes sintomas também podem ser relacionados a outras doenças (febres, fígado, diarreia) e por isto são recorrentes na população mesmo sem a incidência da malária. Foram indicadas ao todo 118 espécies vegetais para o tratamento da malária e de seus males associados, das quais 58 especificamente para a malária, 51 para o tratamento do fígado, 27 para o tratamento de febres, 17 para anemia, 15 para dores-de-cabeça, 14 anti-inflamatórias e três plantas para dores-no-corpo. A partir destas informações, é possível considerar que a relação entre o número de espécies medicinais conhecidas para o tratamento de cada sintoma da malária é complexa e que somente a saliência de cada sintoma não explica a quantidade de espécies conhecidas para cada tratamento. Agradece-se à FAPESP e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista sob o protocolo CEP 3425-2010. O projeto de pesquisa que embasou o presenta trabalho também foi analisado pelo Conselho de Gestão do Patrimônio Genético Nacional (CGEN) sob o Processo administrativo no 02000.001373/2010-11, Deliberação do CGEN no 333, de 19 de setembro de 2012, autorização do CGEN no 111/2012. 85 Mapeamento participativo como ferramenta de conexão entre demandas comunitárias e a pesquisa etnobotânica: estudo de caso em comunidades quilombolas do litoral e Santa Catarina, Brasil Julia Vieira da Cunha Avila (Universidade Federal de Santa Catarina) e Natália Hanazaki (Universidade Federal de Santa Catarina). Contato: [email protected]. Atualmente doze comunidades possuem certificação da Fundação Palmares como Quilombolas em Santa Catarina. Entretanto, até o presente momento apenas a comunidade Invernada dos Negros possui a titulação de algumas terras pelo Instituto Nacional de Colonizacao e Reforma Agraria (INCRA). Para subsidiar tais discussões, o objetivo desse trabalho é realizar um estudo etnobotânico das plantas conhecidas e utilizadas em três comunidades quilombolas: Morro do Fortunato e Aldeia, Garopaba, e Santa Cruz, Paulo Lopes, identificando áreas onde seus moradores obtêm esses recursos vegetais, dentro e fora do que atualmente consideram como seu território, a fim de apontar áreas prioritárias de obtenção de tais recursos. Todos os quilombolas adultos, maiores de 18 anos, que aceitaram participar da pesquisa, foram entrevistados, sobre aspectos socioeconômicos e sobre plantas conhecidas e usadas. Turnês guiadas e coletas botânicas permitiriam a identificação das plantas citadas. Mapeamentos com base em imagens de satélite, em reuniões participativas, permitiram identificar em cada uma das comunidades os locais de obtenção das plantas e de criação dos animais que também delas se alimentam: áreas de mata nativa, roças, pastos, terrenos baldios, restinga e banhado. A partir de 63 entrevistas no Morro do Fortunato, 65 na Aldeia e 56 na Toca, foram identificadas 187, 256 e 151 plantas respectivamente. A maioria das espécies são obtidas nos quintais (62%), seguidos dos mercados ou feiras (34%) e áreas de mata (7%), sendo menos representativa a coleta em outros locais. Combinando dados de entrevistas com o mapeamento identificamos que para as três comunidades a maior parte das pessoas obtém recursos vegetais em áreas dentro do que consideram seu território. Porém, áreas que extrapolam o que consideram ser seu território são também acessadas para perpetuação de práticas tradicionais, principalmente nas comunidades Aldeia e Toca, cujas localizações se dão em ambiente mais urbanizado. Na comunidade Aldeia, cuja área sofre forte especulação imobiliária, há a produção de roças e criação de animais em terrenos arrendados. Espera-se que a partir dessa pesquisa as comunidades tenham um melhor panorama dos locais mais importantes para manutenção de suas práticas culturais ao longo do tempo, bem como tenham uma maior clareza na organização espacial dessas áreas, processo que pode contribuir no empoderamento comunitário e para que a futura demarcação de seus territórios contribua para continuidade de traços culturais próprios desses grupos. Agradece-se às Comunidades Quilombolas Morro do Fortunato, Toca e Aldeia, aos ajudantes de campo, ao Gaia Village , Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Federal de Santa Catarina. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética de Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina sobo número 18847013.0.0000.0121. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho também foi analisado e aprovado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) recebendo autorização de Acesso ao Conhecimento Tradicional Associado pela autorização 03/2014, referente ao Processo nº: 01450.012607/2013-20 86 O saber local e a agricultura familiar na Comunidade-Açu, Mato Grosso, Brasil Gisele Soares Dias Duarte (Universidade Federal de Mato Grosso), Karina Gondolo Gonçalves (Universidade Federal de Mato Grosso) e Maria Corette Pasa (Universidade Federal de Mato Grosso). Contato: [email protected]. O conhecimento das plantas por uma comunidade faz parte da sua cultura e é transmitido entre os pares sociais, por isso encontra-se relacionado com sua história de vida. Objetivou-se neste trabalho catalogar, sistematizar e analisar, de forma integrada, o conhecimento dos moradores rurais da comunidade de Conceição-Açu, Mato Grosso. As coletas foram realizadas em 2013, através das técnicas de entrevista semiestruturada, observação direta, registro fotográfico e turnê guiada, após o Consentimento Livre Esclarecido assinado pelas pessoas locais. As principais atividades econômicas são a agricultura de subsistência, a fabricação de farinha de mandioca, a pesca e a caça, todas para o consumo familiar. Entre os entrevistados, o número mínimo de explorações agrícolas é de 3 (mandioca, mamão e banana) e o máximo 7 (feijão, milho, mandioca, banana, mamão, melancia e cana de açúcar), Apenas 15% dos entrevistados se dispõem ainda a plantar o milho e o feijão e, 10% plantam o arroz, mas não em todos os anos. Entre os produtos cultivados, a mandioca constitui o cultivo principal e caracteriza-se como uma exploração tipicamente regional, sem fins de comercialização. Em Conceição-Açu a mesma é cultivada por 100% dos entrevistados, seguido de outros cultivos como mamão, melancia, laranja, etc. A expressividade do cultivo da mandioca sobre os demais ocorre, talvez, por ser um cultivo de baixo risco e que necessita da utilização de poucos insumos para a sua produção. A espécie mais plantada são as variedades de Manihot esculenta Crantz através de uma distribuição aleatória na terra. O processamento doméstico da mandioca para a produção de farinha é de pequena escala e artesanal, apenas para o consumo familiar sendo o método tradicional o que ainda vigora entre a população local. Diante da realidade econômica na qual vive a população de Conceição-Açu 65% das pessoas de saber local acreditam que de acordo com sua realidade, simples e com pouca tecnologia esta ainda é a melhor opção econômica para o momento. Com base nas observações de campo, de modo geral os moradores locais praticam uma agricultura com elementos definidores de uma agricultura de subsistência. São considerados tradicionais ao oferecerem resistência à prática de uma agricultura envolvida pelos avanços da tecnologia voltados para o mundo da globalização. Agradece-se à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela concessão de bolsa de estudo à Gisele Soares Dias Duarte. O uso de plantas por duas comunidades ribeirinhas em um ambiente frágil e pouco conhecido da Amazônia, as Campinaranas: processo de substituição e identificação de espécies em risco Layon Oreste Demarchi (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), Maria Teresa Fernandez Piedade (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), Veridiana Vizzoni Scudeller (Universidade Federal do Amazonas). Contato: [email protected]. As Campinaranas são formações florestais únicas e constituem uma paisagem de exceção dentro da Amazônia. No presente estudo foi analisado o conhecimento e uso das espécies arbóreas de Campinarana, por duas comunidades da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Tupé, com 87 os objetivos de: 1) Identificar as espécies mais importantes das Campinaranas utilizadas pelos comunitários; 2) Analisar se e como diferentes características sociais dos comunitários influenciam seu conhecimento sobre as plantas; 3) Identificar as plantas que estão desaparecendo localmente por conta da coleta excessiva. Para isso foram realizadas entrevistas semi-estruturadas e listagens livres e atráves destas foram calculados o Valor de Uso (VU) e o índice de Saliência Cognitiva (S) para as espécies consideradas as mais importantes (Si), e também para as espécies consideradas em risco pelos moradores (Sr). Foram entrevistados 69 moradores que citaram a categoria Construção, seguida da Alimentar como as mais usadas, sendo a madeira a parte da planta mais utilizada pelos moradores. As espécies que mais se destacaram em VU foram o macucu (Aldina heterophylla Spruce ex Benth.) e o cedrinho (Scleronema micranthum (Ducke) Ducke); para Si as espécies mais importantes foram o cedrinho e o louro-aritú (Licaria sp.); o Sr destacou o cedrinho e o angelim (Hymenolobium modestum Ducke). O fato das Campinaranas apresentarem escleromorfismo em diversas espécies faz com que o uso seja direcionado a poucas espécies. Os homens citaram significativamente mais usos nas categorias tipicamente de domínio masculino, como Construção, Tecnologia e Atração de Caça; nas categorias Medicinal e Alimentar, onde se esperava um destaque para as mulheres, não houve diferenças significativas entre os sexos, acredita-se que a falta de amostragem em locais de coleta tipicamente femininos, como os quintais e capoeiras colaboraram para este resultado. A variável que mais explicou o conhecimento dos moradores sobre as plantas foi o tempo de residência na comunidade. Também se observou um processo de substituição de uso das espécies, onde as espécies de Campinarana aparentam ser usadas quando outras de maior interesse, ocorrentes em outras formações florestais sofreram significativas reduções em suas populações. Os dados obtidos são de grande importância para identificar espécies vegetais consideradas em risco em um ambiente frágil como as Campinaranas e para embasar estratégias de manejo e gestão da Unidade de Conservação de uso sustentável em questão. Agradece-se à Fapeam e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Agradeço ao grupo MAUA, a todos que participarão dos campos e principalmente aos moradores da RDS do Tupé. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) sob o registro 213.634 Observações etnobotânicas sobre o biribá, Annona mucosa Jacq., na Amazônia Brasileira Leonardo Kumagai (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e Charles Roland Clement (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia). Contato: [email protected]. O biribá, Annona mucosa Jacq., já foi considerado uma das fruteiras mais populares nos quintais amazônicos. Seu fruto, descrito com sabor de “torta de merengue de limão”, deve ser consumido logo após a colheita, pois escurece rapidamente com o manuseio se tornando pouco atraente. É uma espécie considerada domesticada, dependente do manejo humano, e possivelmente tem origem na Amazônia Ocidental. O presente estudo teve como objetivo entender as preferências de seu cultivo por ribeirinhos na Amazônia brasileira. Visitou-se 41 comunidades nos rios Madeira, Negro e Solimões-Amazonas (01/2013 - 05/2014). Sua presença foi contabilizada, e calculada media e desvio padrão da presença de indivíduos por comunidade. Perguntas abertas sobre seu cultivo e suas preferencias foram feitas aos moradores presentes no momento da pesquisa (n = 55; idade 18-88 anos). Foi registrada a presença de 312 biribazeiros. A propagação sempre é por semente; em apenas uma entrevista foi relatado o cultivo por enxertia. Diversas mudas foram trazidas de outras localidades. Em geral foi relatada a sua intolerância ao excesso de água e a necessidade de zelar pela planta (limpar o entorno). 88 Nas comunidades do médio rio Amazonas registrou-se de um a três indivíduos/comunidade (2,67 ± 1,03), normalmente no quintal da matriarca/patriarca; suas frutas são consumidas também por parentes e vizinhos. No alto Solimões a presença é maior (7 ± 4,36). Ao longo do rio Madeira foi encontrada alta densidade (6,73 ± 4,98), presentes em quintais, roças e sítios, e foram registrados indivíduos com mais de 88 anos cultivados em Terra Preta de Índio. No alto rio Negro é pouco cultivado em quintais (1,67 ± 0,58), e no baixo rio Negro é presente normalmente no quintal da matriarca e em maior frequência (6,0 ± 6,75). No baixo rio Solimões foi registrado dois cultivos com intuito de comercialização (Coari, Amazonas). As diferentes situações que o biribá se encontra podem ser reflexos do cultivo depender da demanda do mercado, onde foi registrado cultivo em comunidades com acesso terrestre a centros urbanos e também a preferencia ao cultivo de anonas mais resistentes a manuseio, como A. squamosa e A. muricata. Conclui-se que o biribá já não é mais um dos frutos “mais populares dos quintais amazônicos”, pois há pouca demanda de mercado, o que pode levar suas populações a declínio, uma vez que se trata de uma planta perene de ciclo de vida curto (± 10 anos), com alta dependência do ser humano para sobreviver. Agradece-se à participação dos moradores das comunidades visitadas e ao apoio Fapeam 3137/2012, CNPq 473422/2012-3. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazonia sob o registro 10926212.6.0000.0006. Os contornos sociais da propriedade intelectual etnobotânica entre os Xavante James R. Welch (Fundação Oswaldo Cruz). Contato: [email protected]. O respeito à propriedade intelectual dos povos indígenas é central à prática ética da pesquisa em etnobotânica e outros campos da etnobiologia. Apesar dos importantes avanços verificados recentemente no reconhecimento e na proteção desses direitos no Brasil, pressupostos etnocêntricos com relação à coletividade ou individualidade do conhecimento etnobiológico resultaram em mecanismos, tais como a anuência prévia, que não necessariamente protegem os detentores dos conhecimentos de maneira consistente com seus próprios valores culturais. Nesta apresentação, ilustrarei este problema com exemplos de como o conhecimento etnobiológico pode ser restrito segundo contornos sociais culturalmente específicos nas aldeias Xavante da Terra Indígena Pimentel Barbosa, Mato Grosso. Em alguns casos, mulheres e homens Xavante guardam em segredo conhecimentos etnobiológicos em relação uns aos outros. Em outros, a informação etnobiológica pode ser restrita aos membros de uma dada classe de idade, metade ou outros grupos sociais. Cada um desses grupos sociais compartilham diferentes conteúdos etnobiológicos, indo desde o mais pragmático, como matérias-primas vegetais que as mulheres usam para temperar a argila na confecção de cerâmica, ao esotérico, como os materiais empregados na confecção de brincos de madeira usados pelos homens. Os integrantes dos grupos que possuem segredos frequentemente os protegem daqueles que não pertencem ao grupo, inclusive de membros de suas próprias casas ou aldeias, de maneira a assegurar que o mesmo não seja roubado ou mal utilizado por outrem. O atual modelo de anuência prévia, através do qual os pesquisadores buscam obter permissão de indivíduos e/ou comunidades antes de acessar e publicar informação de cunho etnobotânico e etnobiológico em geral é inconsistente com as diversas configurações de propriedade intelectual reconhecidas internamente pela sociedade Xavante. Entre os Xavante, o acesso a cada pedaço de informação pode requerer a permissão de uma conjunto distinto de pessoas que detém conhecimentos, muitas vezes não conhecidas por pesquisadores até o ato de acessar o conhecimento específico. 89 A visão segundo a qual seria suficiente a obtenção antecipada das permissões protocolares pode levar a situações em que conhecimentos ou mesmo segredos venham a público sem a devida permissão de seus proprietários culturalmente reconhecidos. O atual modelo de anuência prévia deve ser reconsiderado de modo a reconhecer a diversidade de princípios culturais locais que podem estar implicados na regulação da propriedade intelectual. Agradece-se à Fulbright-Hays Dissertation Research Abroad Program, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e INOVA-ENSP. Padrões de uso e consumo de fitocombustíveis em duas comunidades rurais no semiárido do nordeste do Brasil Fábio José Vieira (Universidade Estadual do Piauí), Washington Soares Ferreira Júnior (Universidade Federal Rural de Pernambuco), Lucilene Lima dos Santos Vieira (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco), Ulysses Paulino de Albuquerque (Universidade Federal Rural de Pernambuco) e Roseli Farias Melo de Barros (Universidade Federal do Piauí). Contato: [email protected]. O uso de fitocombustível é considerado como uma das maiores fontes geradoras de extrativismo nas florestas tropicais. Entender como se dá o processo de uso e preferência de espécies desta região pode dar bases para desenvolvimento de alternativas que possam atender essa demanda de forma sustentável. O trabalho foi desenvolvido em duas comunidades rurais no semiárido brasileiro: Juazeiro e Quilombola dos Macacos, localizadas no município de São Miguel do Tapuio, Piauí. Os objetivos do presente trabalho foram verificar se existe diferença entre o conhecimento, uso e preferência de espécies para fitocombustível entre e dentro das comunidades, levando também em consideração o ambiente em que estão inseridas, bem como, variáveis socioeconômicas envolvidas. Para isso, realizou-se entrevistas semiestruturadas em 55 domicílios. Utilizou-se o teste não paramétrico de Wilcoxon, qui-quadrado e o teste G (Williams) para verificar se existe diferença entre o conhecimento, uso e preferência das espécies entre e dentro das comunidades e se há diferença entre os ambientes (caatinga e cerrado), e análise de GLM para as variáveis socioeconômicas. Foram reportadas 57 espécies como fitocombustível nas duas comunidades, das quais 48 são efetivamente utilizadas e 19 são citadas como preferidas, distribuídas em 19 famílias botânicas e 46 gêneros. As duas comunidades se diferenciam no número de espécies conhecidas como fitocombustível (X²=4,878; p=0,0359). Os principais resultados desta investigação mostram que o ambiente não parece ser um fator importante na seleção de plantas, uma vez que não foram encontradas diferenças no número de espécies conhecidas entre os tipos vegetacionais (caatinga/cerrado). Quanto ao tipo de uso (carvão ou lenha) das espécies preferidas, Macacos apresentou um maior número de espécies preferidas no uso de carvão que Juazeiro (G=7,7098; p=0,0061). Porém, no uso de lenha não foram encontradas diferenças significativas entre as comunidades (G=0,1113; p=0,7453). Somente houve relação significativa entre o consumo médio diário e o número de pessoas na residência. Esses dados são importantes para esclarecer fatores que podem interferir na seleção e consumo de lenha, além de fornecerem direções para futuras estratégias de conservação de espécies na região. 90 Participação comunitária em alternativas de geração de trabalho e renda na comunidade quilombola de Pontinha, Paraopeba, Minas Gerais Maysa Regina Gomes (Universidade Federal de Minas Gerais), Irla Paula Stopa Rodrigues (Universidade Federal de Minas Gerais), Lídia Maria de Oliveira Moraes (Universidade Federal de Minas Gerais), Lorena Cristina Lana Pinto (Universidade Federal de Minas Gerais), Paulina Maia Barbosa (Universidade Federal de Minas Gerais) e Maria Auxiliadora Drumond (Universidade Federal de Minas Gerais). Contato: [email protected]. Contato: [email protected]. O pequi, Caryocar brasiliense Camb., é uma espécie típica do Cerrado e exerce importante contribuição econômica e alimentar em muitas comunidades que vivem nesse bioma. Na região central de Minas Gerais, a comunidade quilombola de Pontinha obtém sua fonte de renda a partir da extração de minhocuçus da espécie Rhinodrilus alatus. Considerando que esta atividade ainda não é regulamentada, foi feita uma proposta de implementação de comanejo adaptativo do minhocuçu, onde constam, dentre outros temas, alternativas de renda para os extrativistas. Estudos preliminares desenvolvidos em Pontinha apontam o pequi como um fruto viável para comercialização local, uma vez que seu período de frutificação coincide com o período de reprodução do minhocuçu, quando a extração deve ser suprimida. Embora o pequi ainda não seja comercializado em Pontinha, a comunidade está mobilizada e considera importante a execução de estudos que propiciem alternativas de renda e trabalho. Dentre eles, foi desenvolvido um estudo etnobotânico e sobre os usos do pequi pela comunidade e um estudo da produtividade C. brasiliense em Pontinha. A coleta de dados foi feita nos anos de 2013 e 2014, sendo utilizadas as ferramentas: caminhada transversal, observação participante e entrevistas semiestruturadas com 30 comunitários. Os moradores usam o pequi na alimentação, produção de sabão e com fins medicinais, mas anseiam utilizá-lo comercialmente para outros produtos, como óleo, licor e doce. Segundo os entrevistados, a safra do pequi em Pontinha é de outubro a fevereiro, sendo o pico de frutificação entre dezembro e janeiro. Informações sobre a produtividade dos pequizeiros no ano de 2013 foram obtidas com ajuda de nove moradores, por meio da contagem diária de todos os frutos de cada pequizeiro, caídos no chão. A mesma metodologia foi usada na safra de 2014, com a participação de 25 moradores, sendo que quatro deles contaram os mesmos pequizeiros da safra anterior. A produtividade em 2013 foi de 1771 frutos/ ind. e em 2014 foi de 533 frutos/ind. Essa diferença pode estar relacionada à variação de produtividade bianual citada pelos comunitários nas entrevistas e já reportada na literatura. Uma vez que a produtividade de pequis em Pontinha é um fator determinante para a análise da viabilidade de seu uso comercial, este estudo será ampliado nas próximas safras. Agradece-se à comunidade de Pontinha, à FLONA e Prefeitura Municipal de Paraopeba, ProExt/MEC, ProEx/UFMG, Cenex ICB-UFMG, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e PPG-ECMVS/UFMG. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal deMinas Gerais sob o registro 0388812.2005149. Plantas de diferentes origens e hábitos ocupam distintos nichos terapêuticos? Uma análise no oeste da Bahia Fernanda Novais Barros (Universidade Federal do Oeste da Bahia), Camilla de Carvalho de Brito (Universidade Federal do Oeste da Bahia), Viviany Teixeira do Nascimento (Universidade do 91 Estado da Bahia) e Patrícia Muniz de Medeiros (Universidade Federal do Oeste da Bahia). Contato: [email protected]. Atualmente algumas hipóteses são propostas na etnobotânica a fim de discutir certos “padrões” de coleta de recursos vegetais por seres humanos. A hipótese da aparência ecológica, por exemplo, profere que existem diferenças referentes aos compostos secundários presentes em plantas “aparentes” (lenhosas) e “não aparentes” (não lenhosas). Caso estas diferenças existam, considerando que diferentes compostos teriam o potencial de tratar distintas doenças, esperarse-ia que plantas lenhosas e não lenhosas tratassem diferentes doenças. Já a hipótese de diversificação enuncia que plantas exóticas ingressam em um sistema médico para diversificar, do ponto de vista químico e utilitário, o repertório de plantas medicinais, e que se esperaria que plantas nativas tratassem doenças diferentes das plantas exóticas. Diante disso, o objetivo do referido estudo foi verificar se existe sobreposição de usos medicinais entre plantas nativas e exóticas e entre plantas lenhosas e não lenhosas. A fim de obter dados referentes aos usos medicinais de plantas na comunidade rural Sucruizinho, Barreiras, Bahia, um total de 24 pessoas foram entrevistadas mediante entrevista semiestruturada, contendo questionamentos a respeito do conhecimento e uso medicinal de plantas e suas indicações terapêuticas. A comunidade possui uma estrutura simples, e a maioria da população sobrevive da agricultura (subsistência e comércio de excedentes) e do extrativismo de frutos do cerrado para comercialização na feira de Barreiras. A maioria dos habitantes está acima dos 40 anos, tendo em vista a expressiva migração dos jovens para os grandes centros urbanos. Portanto, por meio das informações coletadas, foi gerada, então, uma matriz multivariada binária, tendo as plantas como objetos, e as indicações terapêuticas como descritores. Os dados foram analisados por meio do teste estatístico ANOSIM, ora considerando a origem como indicador ora considerando o hábito. Não houve diferenças significativas para origem, de maneira que houve alta sobreposição de indicações terapêuticas tratadas por plantas nativas e exóticas (R=0,01; p>0,05). O mesmo pôde ser observado para o hábito, o qual obteve uma alta sobreposição de indicações terapêuticas entre lenhosas e não lenhosas (R=-0,01; p>0,05). Assim, conclui-se que, plantas de diferentes origens e hábitos não ocupam nichos terapêuticos distintos, o que desafia as premissas de ambas as hipóteses apresentadas e reforça que devem ser investigadas com parcimônia. Análises químicas precisam ser agregadas a essa discussão. Agradece-se Universidade Federal do Oeste da Bahia. Plantas medicinais de uso feminino na comunidade indígena Pankararu, sertão de Pernambuco Paola Andrea Londoño Castañeda (Universidade Federal de Pernambuco), Carmen Marangoni (Universidade Federal de Pernambuco), Antônio Fernando Morais de Oliveira (Universidade Federal de Pernambuco) e Laise de Holanda Cavalcanti Andrade (Universidade Federal de Pernambuco). Contato: [email protected]. A comunidade indígena Pankararu fica assentada no sertão de Pernambuco, em várias aldeias distribuídas nos municípios de Petrolândia, Tacaratu e Jatobá, com uma população de aproximadamente 5000 pessoas. Embora esse povo manteve muito contato com a sociedade ocidental ainda conserva práticas tradicionais; o conhecimento sobre o uso das plantas para o cuidado da saúde representa um importante aspecto cultural e de sobrevivência na tribo. O enfoque desse estudo foi registrar a flora medicinal empregada no atendimento da saúde 92 feminina, assim como para o auxílio do nascimento, puerpério e cuidados do recém-nascido. Foram entrevistados 46 especialistas entre parteiras, curandeiros e rezadeiros, selecionados por meio do método da "bola de neve". Empregando-se metodologias participativas e técnicas qualitativas e quantitativas da etnobotânica, se retratam aspectos etnofarmacológicos que incluem os diversos usos das plantas, indicações terapêuticas, formas de preparo e emprego, posologia e contraindicações populares. As espécies citadas foram coletadas em ambientes de caatinga e brejo localizados nas proximidades das aldeias, exsicatas representativas das espécies registradas foram depositadas nos hérbarios Geraldo Mariz (UFP) da UFPE e Dárdano da Andrade-Lima do IPA e identificadas por especialistas. Foram identificadas 98 espécies pertencentes a 50 famílias, sendo mais representativas as Anacardiaceae, Asteraceae, Euphorbiaceae e Fabaceae. As espécies que receberam maior número de indicações de uso foram: Hyptis mutabilis Briq., sambacaitá (49); Myracrodruon urundeuva (Allemão) Engler, aroeira (47); Anacardium occidentale L., cajueiro vermelho (45); Ximenia americana L., ameixa (43); Pterocaulon alopecuroides (Lam.) DC., quetoco (25); Spondias tuberosa Arr. Câm., umbuzeiro (22); Aristolochia brasiliensis Mart. Ex Zucc., jarrinha (20) e Pilosocereus gounellei (Weber) Byl. et Rowl., xique-xique(20). Os principais usos indicados foram: antiinflamatório, cicatrizante vaginal, complicações no puerpério, regulação do ciclo menstrual, antisséptico e tratamento das infecções das vias gênito-urinárias. O conhecimento tradicional sobre ações terapêuticas e restrições de uso de algumas plantas coincide com informações farmacológicas e toxicológicas encontradas na literatura, mas ainda pouco é conhecido sobre a atividade biológica e toxicidade de muitas espécies de uso medicinal tradicional. Agradece-se à Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE). O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Pernambuco sob o registro 130/09. Plantas medicinais de uso popular no distrito de São Bartolomeu, Ouro Preto, Minas Gerais Eliane Barbosa Rangel (Universidade Federal de Ouro Preto), Amanda C. Costa Prado (Universidade Federal de Ouro Preto), Sara G. Barbosa (Universidade Federal de Ouro Preto) e Maria Cristina T. Braga Messias (Universidade Federal de Ouro Preto). Contato: [email protected]. Ouro Preto é conhecida mundialmente pela sua história e cultura, incluindo o saber de plantas medicinais. O presente estudo desenvolveu-se no distrito de São Bartolomeu, comunidade tradicional, inserida na APA da Cachoeira das Andorinhas, Ouro Preto, Minas Gerais. Objetivouse a identificação das plantas medicinais conhecidas pelos moradores de São Bartolomeu assim como o resgate deste aprendizado, mantido e modificado ao longo de gerações. Verificou-se também se há diferença entre as categorias socioeconômicas (gênero, renda, escolaridade e idade) no conhecimento de plantas medicinais, usando ANOVA e teste de Tukey. O levantamento realizou-se por entrevistas semiestruturadas, técnicas de listagem livre, turnê guiada e feedback. Entrevistou-se 43 pessoas, das quais apenas 2 não usam plantas medicinais. Identificou-se 153 espécies, reunidas em 55 famílias. As famílias com maior riqueza de espécies foram Asteraceae (22) e Lamiaceae (15). A população local detém uma estreita relação com o ambiente, sendo 56% das espécies cultivadas, 14% ruderais e 25% somam a extração das fitofisionomias de mata e campo rupestre. Dentre as espécies utilizadas 71 são nativas e 82 exóticas. As mulheres conhecem mais espécies medicinais do que homens (F= 4,14; p= 0,048) que relataram conhecer outras plantas úteis. A escolaridade também demonstrou diferença significativa no conhecimento (F=4,58; p=0,002), em que pessoas analfabetas e com nível 93 superior mostraram uma maior percepção de plantas medicinais. Embora pessoas com menor faixa salarial e de maior idade tenham relatado um maior número de espécies medicinais, não houve diferença estatística significativa para idade e renda. O modo de preparo é variado, sendo chá em infusão o mais empregado e folha a parte da planta mais usada. Com base na CID 10, as principais moléstias tratadas se inserem nas categorias: Doenças do sistema respiratório (16,7%) e Doenças do sistema digestório (11%). As espécies mais citadas foram Mentha x villosa Huds. seguida da Chamaemelum nobile (L.) All. Efeitos indesejados foram relatados e associados ao uso prolongado ou inapropriado das plantas. Plantas de uso místico também foram citadas. Os resultados alcançados indicam um rico conhecimento local da flora medicinal e permeiam estratégias para o manejo sustentável, conservação da diversidade genética e valorização da tradição do uso de plantas medicinais. Agradece-se PROBIC/Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) eUniversidade Federal de Ouro Preto. O projeto de pesquisa que embasou o trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Ouro Preto sob o registro 10708912.4.0000.5150. Plantas medicinais utilizadas para o tratamento de doenças respiratórias no município de Siderópolis, Santa Catarina Paula da Silva Cardoso (Universidade do Extremo Sul Catarinense), Marília Schutz Borges (Universidade do Extremo Sul Catarinense), Marina Trento (Universidade do Extremo Sul Catarinense), Renato Panhan (Universidade do Extremo Sul Catarinense), Michele Daros Freitas (Universidade do Extremo Sul Catarinense), Luan de Souza Ramos (Universidade do Extremo Sul Catarinense), Silvia Dal Bó (Universidade do Extremo Sul Catarinense), Vanilde Citadini Zanette (Universidade do Extremo Sul Catarinense) e Patrícia de Aguiar Amaral (Universidade do Extremo Sul Catarinense). Contato: [email protected]. As plantas medicinais são recursos amplamente utilizados na região sul de Santa Catarina para tratamento de doenças respiratórias decorrentes da extração de carvão mineral, uma das principais atividades econômicas de Siderópolis. Estudos afirmam que a poeira resultante da atividade carbonífera causou impactos na saúde da população ao longo dos anos. Neste contexto, o objetivo deste estudo foi realizar um levantamento sobre o uso terapêutico (indicações, forma de preparo, contra-indicações, etc.) e verificar o percentual de uso dE quatro plantas medicinais, sendo estas: Adiantum raddianum C. Presl (avenca), Lippia alba (Mill.) N.E.Br. (sálvia-do-rio-grande), Coronopus didymus (L.) Sm. (mastruço) e Arctium minus (Hill) Bernh. (bardana). As espécies foram definidas através de uma conversa com uma agente detentora do conhecimento empírico da Pastoral da Saúde Regional Sul 4. Esta agente informou que as espécies são muito procuradas para tratamento de doenças respiratórias em Siderópolis, município em que reside. Após identificação taxonômica destas plantas foram realizadas entrevistas, com questionários semiestruturados, com a população do município referente ao uso destas quatro plantas medicinais. Foram entrevistados 368 individuos com idade igual ou superior a 20 anos, que residiam em Siderópolis. Dos 368 entrevistados, aproximadamente 53% conheciam e utilizavam no mínimo uma das plantas selecionadas, 29% (105) conheciam algumas delas, mas não as utilizavam e 18% não conheciam nenhuma das plantas. Aproximadamente 52% dos entrevistados preferem a utilização de L. alba, 40% C. didymus, 8% A. raddianum. Nenhum entrevistado teve preferência por A. minus. Foram mencionadas para estas três plantas ações terapêuticas semelhantes, como sua utilização para tratamento de tosse, gripe, problemas de pulmão, bronquite, entre outras. Conforme literatura, a L. alba possui 8 artigos 94 que relacionados a problemas respiratórios, a C. didymus 2 artigos e A. raddianum não possui nenhum estudo nesta área. Este levantamento pode impulsionar novas pesquisas sobre ações biológicas destas plantas bem como reforçar identidades regionais, visto que estas são espécies nativas. Além disso, estas plantas carecem de mais estudos para comprovar seus efeitos terapêuticos. Agradece-se ao Laboratório de Plantas Medicinais da Universidade do Extremo Sul Catarinense. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética do Ministério da Universidade do Extremos Sul Catarinesne sob o registro 668.733 e 668.742 Plantas toxicas conhecidas por uma comunidade rural do Cerrado, município de São Desidério, oeste da Bahia. Tulio Fleury Oliveira de Jesus (Universidade do estado da Bahia) e Viviane Teixeira do Nascimento (Universidade do Estado da Bahia). Contato: [email protected]. Apesar de suas amplas propriedades medicinais, muitas plantas possuem também propriedades tóxicas, cultivadas muitas vezes como ornamentais por sua beleza e atratividade, as mesmas podem trazer riscos às pessoas que as cultivam. Além dos problemas causados às pessoas, a intoxicação por plantas também causa problemas em animais, podendo afetar a situação econômica dos produtores. Assim, o objetivo desse estudo foi avaliar o conhecimento que os residentes da comunidade de Cabeceira Grande, têm a respeito da diversidade de plantas tóxicas da região, tanto para humanos quanto para animais. Os dados foram coletados por meio de lista-livre, nas quais os entrevistados listaram as plantas que consideram tóxicas, para humanos e/ou animais. O material botânico foi coletado, identificado e incorporado ao Herbário da UNEB - Campus IX. As plantas coletadas foram classificadas como cultivadas ou espontâneas. A similaridade entre o conhecimento de espécies citadas por homens e mulheres foi dada através do índice de similaridade de Jacard (JI). Realizou-se 19 entrevistas, sendo 10 homens e 09 mulheres. Foram citadas 19 plantas, agrupadas em 09 famílias botânicas e 17 gêneros. Fabaceae com 06 gêneros e 07 espécies (35% das espécies), seguida por Euphorbiaceae com 04 gêneros e 05 espécies (25%). Das espécies, Manihot sp. (mandioca), foi a mais freqüente, (47,37%), seguido da Dimorphandra mollis Benth (faveira) (42,10%) e Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Mor. (tamburi) (26,31%). Das 19 plantas, 08 eram tóxicas apenas para animal, 06 para pessoas e 05 para ambos. A similaridade das espécies conhecidas por homens e mulheres foi de JI= 26%. Das espécies citadas pelos moradores 06 são cultivadas pelos mesmos em seus quintais, algumas com o objetivo de ornamentação, como é o caso da Euphorbia milii L. (coroa-de-cristo), outras como uma espécie mágico-religiosa (amuleto), a exemplo da Dieffenbachia seguine (Jacq.) Schott (comigo-ninguém-pode). Já outras como Manihot sp. (mandioca), apesar de ser alimentícia, possui partes tóxicas que, quando ingeridas, podem provocar a intoxicação, sobretudo dos animais. As outras 13 espécies são espontâneas da região e encontradas na vegetação próxima as residências. O conhecimento sobre plantas tóxicas nessa comunidade é diferenciado entre os moradores, sendo ligeiramente maior sobre plantas tóxicas para animais, o que torna necessária a realização de mais trabalhos e pesquisas voltadas para questão do conhecimento sobre plantas tóxicas para humanos. Agradece-se aos moradores da comunidade Cabeceira Grande, pessoas extremamente amorosas e acolhedoras. Muito obrigado pela receptividade, pelo apoio com as entrevistas e idas ao campo. 95 Potencial utilitário, reconhecimento local e importância cultural de plantas invasoras em florestas secas do Nordeste do Brasil Lucilene Lima dos Santos Vieira (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco), André Luiz Borba do Nascimento (Universidade Federal Rural de Pernambuco), Fábio José Vieira (Universidade Estadual do Piauí), Valdeline Atanázio da Silva (Universidade Federal Rural de Pernambuco), Robert Voeks (California State University) e Ulysses Paulino de Albuquerque (Universidade Federal Rural de Pernambuco). Contato: [email protected]. O presente trabalho traz informações acerca do uso, reconhecimento e importância de plantas invasoras com uma abordagem que leva em consideração as definições acadêmicas e locais acerca do tema e tem como objetivos: 1. Descrever os usos de espécies invasoras e suas relações com o hábito das plantas e categorias taxonômicas, 2. Descrever como ocorre o reconhecimento local de tais plantas e 3. Testar a aplicação de um modelo teórico de importância cultural para espécies invasoras, avaliando se as mesmas enquadram-se localmente no enriquecimento, empobrecimento e facilitação cultural. As comunidades selecionadas foram Minguiriba no estado do Ceará e Riachão de Malhada de Pedra localizada no estado de Pernambuco. Inicialmente foi realizada uma amostragem da vegetação (180 parcelas de 1x1m em cada comunidade), em ambientes antropogênicos. Foram realizadas entrevistas-semiestruturadas e checklist-entrevista com os chefes de família, totalizando 106 entrevistados nas duas áreas. Um total de 56 espécies foi registrado. Foi calculado o valor de uso (VU), o teste de Mann-Wittney foi utilizado para verificar diferença entre o VU nas duas comunidades. Também foram utilizados os testes G (Williams) para verificar diferenças entre categorias taxonômicas (espécies, gêneros e famílias) e usos das espécies e o Kruskal-Wallis para verificar diferenças entre invasoras locais e exóticas. A correlação de Spermann foi utilizada para verificar diferenças entre reconhecimento e uso das espécies. O uso predominante foi o forrageiro, seguido pelas plantas medicinais, alimentícias e tecnologia. As plantas herbáceas são a grande maioria. Existem diferenças significativas entre as relações analisadas entre usos e categorias taxonômicas. As plantas mais reconhecidas apresentam percentuais acima de 60% de reconhecimento, demonstrando que é um grupo de plantas bem reconhecido localmente. As plantas mais reconhecidas também são as plantas mais utilizadas localmente (p<0,05). Com relação à importância cultural, observou-se que tal “modelo” não se aplicou fidedignamente para todas as categorias, havendo relatos locais para o enriquecimento e facilitação cultural, já o empobrecimento não foi mencionado. Tais dados são importantes, pois apresentam um panorama geral sobre os usos, reconhecimento local e importância cultural de plantas invasoras por populações locais em duas regiões semiáridas do nordeste do Brasil. Agradece-se à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nivel Superior (CAPES). Práticas fitoterápicas em unidades territoriais no estado do Amazonas Guilherme Oliveira Freitas (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e Fúlvia Maria Gomes Rodrigues (Universidade Federal do Amazonas). Contato: [email protected]. Este trabalho tem como objetivo principal a análise do uso de plantas medicinais pelos povos tradicionais inseridos na Reserva Extrativista (Resex) Rio Jutaí e dos assentados do Projeto de Assentamento (PA) Tarumã – Mirim. Os trabalhos de campo ocorreram entre 2011 á 2013 e as 96 entrevistas foram realizadas através de questionários abertos semi estruturados concomitantemente a bibliografia pertinente consistente ao objetivo central deste artigo. O paralelismo que se faz entre essas duas unidades territoriais está relacionado aos serviços básicos de saúde e as práticas fitoterápicas que são executadas através do etnoconhecimento. Apesar de serem duas unidades territoriais distintas e com diferentes influências por parte das centralidades e das políticas públicas, o uso das plantas medicinais correspondem a satisfação das necessidades físicas, sociais, materiais e culturais e compõem um conjunto de conhecimentos pois a partir do aprendizado com as pessoas mais idosas da família que as informações perpassam de geração para geração. Atualmente, a fitoterapia é uma alternativa reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e constitui extrema importância para os povos tradicionais dos países em desenvolvimento. A constituição dessa prática utiliza diversas partes das plantas como raízes, cascas, folhas, frutos e sementes de acordo com a espécie em questão. No assentamento o uso de plantas como remédio é um reflexo de fatores que são estritamente separados, pois apesar da proximidade com a cidade de Manaus a prática do etnoconhecimento torna-se ameaçada pelo o uso dos medicamentos industrializados. Na Resex, o uso de plantas medicinais ocorre de forma ativa, isto porque os postos de saúde se localizam na sede municipal de Jutaí e devido à distância o presidente de cada comunidade passa por um curso de formação ministrado pelos enfermeiros das Unidades Básicas de Saúde (UBS) formando-os como microscopistas para atuarem em suas comunidades de origem. Em cada comunidade há uma casa de saúde que tem como finalidade diagnosticar o tratamento da Malária. Quando as doenças são mais graves, o presidente de cada comunidade desloca-se até o município de Jutaí encaminhando os moradores as unidades competentes. Entretanto, a utilização da fitoterapia na resex quanto no assentamento caracteriza o modo de vida dos sujeitos sociais inclusos nos processos de territorialização do espaço. Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Prioridade de conservação de plantas alimentícias em uma área de Cerrado, Bahia, nordeste do Brasil Aline Santos Silva (Universidade do Estado da Bahia), Ely Márley de Souza Ribeiro Rocha (Universidade do Estado da Bahia), Patrícia Muniz de Medeiros (Universidade Federal do Oeste da Bahia) e Viviany Teixeira do Nascimento (Universidade do Estado da Bahia). Contato: [email protected]. O Cerrado é considerado a savana mais rica do mundo, porém uma das mais ameaçadas. Nesta região, não há trabalhos que contemplem a prioridade de conservação de plantas alimentícias. O objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento das plantas alimentícias nativas e apontar as espécies prioritárias para a conservação em uma área de cerrado, localizada na comunidade do Sucruiu, zona rural do município de Barreiras, Bahia. Os dados etnobotânicos foram coletados por meio da lista-livre, entrevistas semi-estruturadas, turnê guiada e inventário florístico por meio do método do ponto quadrante. Para calcular a prioridade de conservação (PC) das espécies foram estabelecidas 3 categorias: (1) insustentável, (2) potencial para coleta com cotas e (3) coleta sem grandes impactos, com base na seguinte equação: PC = 0,5*(EB*(DR*10)) + 0,5*(RU*(0,5*(H)+0,5*(U*(L*V)*10)), em que EB = Escore biológico, DR= Densidade relativa, RU= Escore de risco de utilização, H= risco de coleta, U=Valor de uso, L= Importância local e V= Diversidade de uso. Foram registradas 27 etnoespécies com usos alimentícios nas entrevistas. Destas, apenas dez espécies foram encontradas até o momento 97 nos dez transectos analisados. As três espécies com maior densidade relativa nos transectos são Hymenaea stigonocarpa Mart. ex Hayne (4,25), Eugenia dysenterica DC. (3,25) e Alibertia edulis (Rich.) A. Rich. ex DC. (2,25). Com relação ao valor de importância local, as três espécies de maior valor para a comunidade são Caryocar brasiliense Cambess. (62,50), E. dysenterica (33,33) e H. stigonocarpa (12,50). Todas as espécies encontradas até o momento no inventário florestal foram classificadas na categoria 3 (escore ≤ 60) e podem de acordo com o índice utilizado ser coletadas sem grandes impactos, pois a parte coletada é o fruto, não oferecendo risco de morte à planta. Todavia novos estudo são necessários pois a coleta exacerbada dos frutos pode comprometer o recrutamento de novos indivíduos da espécie, o que pode sugerir a inclusão desta variável para o estabelecimento de prioridades de conservação para plantas alimentícias. Agradece-se A todos os moradores da comunidade do Sucruiú pela gentileza em participar do trabalho. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Universidade do Estado da Bahia sob parecer 343.778. Quintais urbanos e a situação de (in) segurança alimentar de famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família, no município de Viçosa, Minas Gerais Natália Sant’Anna de Medeiros (Universidade Federal de Viçosa), Carina Aparecida Pinto (Universidade Federal de Viçosa), Thais Mendes Orlando (Universidade Federal de Viçosa) e Sílvia Eloíza Priore (Universidade Federal de Viçosa). Contato: [email protected]. A segurança alimentar e nutricional (SAN) é um tema importante nas estratégias de políticas públicas no Brasil. No sudeste cerca de 80% dos beneficiários do Programa Bolsa Família - PBF encontram-se em situação de insegurança alimentar. Estratégias como agricultura urbana podem ser ferramentas que contribuam para promoção da SAN. Este trabalho propõe caracterizar quintais urbanos e verificar a contribuição destes na situação de segurança alimentar em famílias beneficiárias do PBF do município de Viçosa, MG. Espera-se que famílias com quintais produtivos que façam uso dos vegetais disponíveis sejam classificadas como em segurança alimentar, segundo a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA). Realizou-se visitas domiciliares a 262 famílias beneficiárias do PBF residentes na zona urbana do município de Viçosa, no período de fevereiro a julho/2014. Aplicou-se entrevistas semi-estruturadas para levantamento de dados sociodemográficos e etnobotânicos. A observação dos quintais baseouse na identificação das espécies cultivadas ou espontâneas classificando-as quanto ao uso. Para realização do diagnóstico de SAN utilizou-se a EBIA. Realizou-se estatística descritiva e teste de qui-quadrado de Pearson para avaliar associação do quintal com a situação de SAN, com significância p<0,05. Todas famílias participantes do estudo apresentaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado pelo titular do benefício. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Viçosa. Dentre as 262 famílias visitadas, 46,6% (n=122) possuíam quintal produtivo. Segundo a EBIA, 80,9% (n= 212), encontraram-se em insegurança alimentar destes, 54,7% (n=116) não possuíam quintal; não observou-se associação entre possuir quintal e a SAN (p=0,267). Nos 123 quintais observados encontraram-se 68,7% (n=1109) de plantas alimentares, 20,4% (n=330) medicinais, 4% (n=64) classificadas como outras, 5,4% (n=88) apresentaram mais de uma classificação. A EBIA é uma escala de percepção que avalia apenas a falta do alimento, acredita-se que este instrumento não avalie todas as dimensões da SAN, não contemplando questões relacionadas à produção de alimentos em quintais, por exemplo: alimentos de qualidade livres de contaminantes químicos. Encontrou-se a alta prevalência de insegurança alimentar em famílias 98 com e sem quintal produtivo, sendo necessárias estratégias para promoção da SAN, sobretudo em famílias beneficiárias do PBF. Agradece-se à todas as famílias que gentilmente nos receberam e tornaram essa pesquisa possível e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior pela bolsa concedida. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa com Seres humanos da Universidade Federal de Viçosa, conforme parecer consubstanciado anexo, sob o registro 442.561. Resgate histórico e valorização cultural de comunidades pesqueiras tradicionais do Sul da Bahia: preservando saberes e fazeres tradicionais da pesca e culinária Carolina Rüde (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e Marcelo Vianna (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Contato: [email protected]. Uma boa gestão dos recursos pesqueiros depende da participação ativa dos múltiplos atores sociais envolvidos na exploração destes. Contudo, o processo histórico de marginalização dos pescadores tradicionais junto à queda na autoestima destes tem dificultado agregá-los ao processo de gestão. Assim, o estudo visa resgatar e valorizar o conhecimento tradicional a respeito da pesca e culinária de frutos do mar de comunidades pesqueiras no litoral Sul da Bahia, próxima ao Parque Marinho do Recife de Fora, de Coroa Alta, entre outras unidades de conservação. A metodologia utilizada foi etnografia clássica, por meio de observações diretas, entrevistas semiestruturadas e conversas informais, com registros da história oral em vídeo, som e fotografia, tendo como alvo os “especialistas nativos” dentro da comunidade. Foram realizadas excursões trimestrais, com permanência de aproximadamente cinco dias na região. Foram identificadas e registradas diferentes artes de pesca utilizadas pelos pescadores artesanais entrevistados, como rede de arrasto, cerco e linha e anzol. As principais mudanças observadas na pesca pelos entrevistados (n=8) foram: chegada do nylon para confecção de redes, que antes eram feitas de fio de algodão ou fibra de tucum; surgimento do moto e a vinda do gelo para conservação do pescado, que antes era feita com sal. As cozinheiras (n=2) tem uma estreita relação com os frutos do mar, estando entre as principais receitas descritas: frigideira de ouriço com ovos, mingau de “bugigão”, caldo e arroz de polvo, moqueca de peixe e camarão, guaiamum com pirão e licor de biri-biri. Haverá a realização um evento gastronômico com receitas tradicionais descritas, além de uma exposição fotográfica das artes e petrechos de pesca de modo a valorizar estas culturas associadas ao mar. O registro da história oral possibilita que estas populações tradicionais possam ser ouvidas, registrando e preservando seus saberes. Se apresentando, assim, como importante ferramenta no processo de construção da memória coletiva e fortalecendo o reconhecimento da identidade cultural dentro da comunidade. Estudos como este divulgam saberes e técnicas tradicionais que complementam o conhecimento científico, contribuindo tanto para o uso sustentável dos recursos naturais locais, quanto na gestão participativa em uma Unidade de Conservação. Agradece-se ao Laboratório de Biologia e Tecnologia Pesqueira da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ao Projeto Coral Vivo pelo financiamento da pesquisa e aos pescadores e cozinheiras tradicionais pela receptividade. 99 Testes de atividade antimicrobiana de remédios tradicionais para o tratamento de infecções das vias gênito-urinárias femininas Carmen Marangoni (Universidade Federal de Pernambuco), Márcia Vanusa Silva (Universidade Federal de Pernambuco) e Laise de Holanda Cavalcanti Andrade (Universidade Federal de Pernambuco). Contato: [email protected]. Levantamento efetuado sobre as plantas que compõem a farmacopéia da população indígena Pankararu, que habita o sertão pernambucano, evidenciou um vasto número de espécies indicadas para tratamento de doenças relacionadas com o sistema gênito-urinário feminino, assim como para o atendimento do parto, período puerperal e cuidados com o recém-nascido. Neste trabalho, enfoca-se a atividade antimicrobiana de oito plantas ocorrentes na Caatinga, entre as mais citadas pelos Pankararu para o tratamento de vaginite, das infecções das vias urinárias e/ou como desinfetantes no puerpério. Foram testados extratos realizados com o método adotado pelos Pankararu (infusão ou decoto) com a parte da planta indicada pelos informantes (parte aérea ou casca), contra microrganismos potencialmente causadores desses transtornos (Candida albicans, Enterococcus faecalis, Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae, Proteus mirabilis, Pseudomonas aeruginosa, Staphylococcus aureus e Staphylococcus saprophyticus). As espécies testadas foram: Myracrodruon urundeuva (Allemão) Engl. – Aroeirado-sertão (casca, decoto), Spondias tuberosa Arr. Câm. – Imbu (casca, decoto), Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan – Angico (casca, decoto), Sideroxylon obtusifolium (Roem. & Schult.) T. D. Penn – Quixaba (casca, decoto), Anacardium occidentale L. – Cajueiro (casca, decoto), Croton heliotropiifolius Kunth. – Velame (folhas, infusão), Hyptis mutabilis Briq. – Sambacaitá (parte aérea, infusão), Maytenus rigida Mart. – Bom Nome (casca, decoto). A Concentração Mínima Inibitória (MIC) e a Concentração Mínima Bactericida (MBC) foram avaliadas com a técnica de microdiluição em placas de 96 poços. Todos os extratos mostraram atividade bacteriostática e bactericida contra S. aureus e S. saprophyticus, E. faecalis e P. mirabilis. Os outros microrganismos resultaram suscetíveis somente aos extratos de M. urundeuva, S. tuberosa, A. colubrina, H. mutabilis, A. occidentale e M. rigida. A atividade maior registrou-se contra S. saprophyticus ocasionada pelos extratos de M. rigida (MIC 0,097mg/mL e MBC 0,195mg/mL) e de S. tuberosa (MIC 0,195mg/mL e MBC 0,390 mg/mL). Esses resultados confirmam o potencial antibacteriano das plantas utilizadas pelos Pankararu no tratamento de infecções gênitourinárias e valoram preliminarmente a eficácia desses remédios tradicionais. Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Pernambuco sob o registro 130/09. Uma proposta de avaliação da perda de conhecimento sobre plantas medicinais na comunidade de Sucruizinho, Barreiras, Bahia Camilla de Carvalho de Brito (Universidade Federal do Oeste da Bahia), Eraldo Medeiros Costa Neto (Universidade Estadual de Feira de Santana), Viviany Teixeira do Nascimento (Universidade do Estado da Bahia) e Patrícia Muniz de Medeiros (Universidade Federal do Oeste da Bahia). Contato: [email protected]. 100 Analisar como se distribui e desenvolve o conhecimento tradicional em uma comunidade é indispensável para evidenciar se há um processo de perda deste conhecimento. A maioria dos estudos referentes a essa temática afirma que está acontecendo um processo de perda do conhecimento, fazendo uso de metodologias que não são suficientes para atestar tal resultado. Nesse estudo, foram integradas três metodologias para acessar perda de conhecimento, utilizadas em conjunto devido às limitações das mesmas quando utilizadas individualmente; oferecendo dados mais conclusivos. Assim, objetivou-se responder se há perda de conhecimento médico tradicional na comunidade do Sucruizinho, Barreiras, Bahia. Para tal, foram empregados os seguintes indicadores: escolhas terapêuticas, posição nas redes de transmissão de conhecimento e número de plantas citadas. Para comparar a escolha terapêutica dos moradores da comunidade (plantas x alopáticos) foi realizado o Extrato de Fisher, para o qual os moradores foram classificados em três faixas etárias: classe a) entre 14 a 37 anos, classe b) entre 38 a 61 anos e classe c) entre 62 a 84 anos. Calculou-se a conectância de aprendizado para cada morador (número de entrevistados com quem o entrevistado x afirma haver aprendido sobre plantas medicinais / número total de entrevistados – 1). Em seguida foi realizada uma regressão linear simples para verificar se a idade interfere na conectância de aprendizado (dados transformados em raiz quadrada). A mesma análise foi usada para testar a relação entre idade e número de plantas citadas. De um modo geral, a idade não interferiu no número de plantas medicinais conhecidas (R²=0,11; p>0,05). No entanto, quando a análise é realizada com um recorte até os 50 anos, há uma forte relação positiva entre idade e número de plantas (R²=0,5; p<0,01). Esse dado, considerado de forma isolada, poderia levar a interpretações equivocadas sobre perda de conhecimento. No entanto, a idade não interferiu nas escolhas terapêuticas (P > 0,05), assim como não interferiu na conectância de aprendizado (R²=0,04; P > 0,05. Assim, os resultados nos levam a afirmar que não está havendo perda de conhecimento de plantas medicinais por parte dos mais jovens na comunidade do Sucruizinho. Agradece-se à CAPPES e Universidade Federal do Oeste da Bahia. Uso de plantas medicinais com ação antiparasitária na etnia Kantarure, Aldeia Baixa das Pedras, nordeste do Brasil Thayse Macedo dos Santos-Lima (Universidade do Estado da Bahia), Elaine Larissa Cardoso Lima (Universidade do Estado da Bahia), Marcella -Gomez (Universidade do Estado da Bahia) e Artur Gomes Dias-Lima (Universidade do Estado da Bahia). Contato: [email protected]. A contribuição dos povos indígenas é de extrema importância para a formação da cultura brasileira. Esses povos são representados por diversas etnias, que mantém costumes e conhecimentos sobre utilização de produtos naturais como alternativa terapêutica na cura de enfermidades, o que aumenta a importância das pesquisas com plantas medicinais. O presente trabalho objetivou realizar um estudo das plantas medicinais indicadas pelos índios da etnia Kantaruré, aldeia Baixa das Pedras, utilizadas na cura e tratamento das doenças parasitárias gastrointestinais. Para a coleta de dados foram realizadas entrevistas semiestruturadas com quatorze pessoas, pertencentes a uma população de 150 indígenas, selecionadas pela técnica da bola de neve, reconhecidas pela comunidade como maiores detentores do conhecimento sobre a realidade local e sobre plantas. Os resultados indicam que 15 espécies são utilizadas na medicina tradicional local, com ação antiparasitária. Pode-se destacar a caçatinga (Croton argyrophylloides Muell. Arg.) com seis indicações, mastruz (Chenopodium ambrosioides L.) e hortelã miúdo (Mentha piperita L.) com cinco indicações, babosa (Aloe vera (L.) Burm f.) e 101 goiabeira (Psidium guajava L.) com quatro indicações, e as outras dez citadas com uma ou duas indicações. Entre as famílias mencionadas estão a Euphorbiaceae, Amaranthaceae, Lamiaceae, Asphodelaceae e Myrtaceae. As plantas citadas pertencem á vegetação nativa, sendo que as espécies cultivadas são encontradas principalmente nos quintais, nas proximidades das residências e em locais de cultivo próprio. Os dados levantados nesta pesquisa evidenciam a importância terapêutica, cultural e histórica do uso de espécies botânicas na prevenção e cura de enfermidades. A aldeia estudada depende diretamente dos recursos vegetais para as suas práticas de cura. Os resultados dessa pesquisa podem servir como base para bioprospecção bem como para seleção de espécies da caatinga para estudos futuros visando o seu uso e manejo sustentável. Agradece-se à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nivel Superior (CAPES) pelo incentivo a pesquisa. À etnia indígena Kantaruré pelo acolhimento, receptividade, colaboração e contribuição que foram fundamentais para a realização deste trabalho. A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade do Estado da Bahia, sob o CAAE 11009812000000057 e número de parecer 336.845. Variação temporal do uso de recursos vegetais na Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca, Santa Catarina Mayana Lacerda Leal (Universidade Federal de Santa Catarina), Rubana Palhares Alves (Universidade Federal de Santa Catarina) e Natalia Hanazaki (Universidade Federal de Santa Catarina). Contato: [email protected]. As Áreas de Proteção Ambiental (APA) são consideradas a categoria de manejo mais permissiva das unidades de conservação (UC) e podem contribuir para a manutenção de atividades tradicionais e modos de vida rurais, como a realização de atividades de cultivo e extração de recursos vegetais. O objetivo deste estudo foi analisar a variação temporal do uso de recursos vegetais por moradores da APA da Baleia Franca (APABF). A APABF é uma UC Federal MarinhoCosteira situada no litoral centro-sul de Santa Catarina. Em 2012, realizamos 150 entrevistas com moradores locais, selecionados por sorteio. Os informantes eram em sua maioria (39%) aposentados, os demais trabalhavam com pesca, comércio, entre outras ocupações. As idades variaram entre 18 e 88 anos (média de 51 anos). Registramos informações sobre o uso atual e passado dos recursos vegetais cultivados e coletados; para comparar as citações de usos atuais e passados, utilizamos o teste de qui-quadrado (α= 5%). Dos 150 moradores, 88 cultivam plantas atualmente e 62 não o fazem; no passado, 87 o faziam, 57 não e seis não responderam; essas diferenças não foram significativas (X²=0,09; gl=1; p=0,76). Entretanto, houve mudanças quanto às finalidades dos recursos cultivados atualmente: um aumento de 15% de plantas destinadas ao consumo familiar e redução de 95% daquelas relacionadas ao comércio. Dentre os entrevistados que interromperam o cultivo, a redução do espaço foi o motivo mais citado pelos moradores (21%). Sobre a extração de recursos vegetais, 73 moradores o realizam, enquanto 76 não o fazem e um não respondeu; no passado, 63 entrevistados coletavam recursos vegetais, 40 não o faziam e 48 não responderam. As diferenças quanto à extração de recursos vegetais no passado e no presente não foram significativas (X²=3,39; gl=1; p=0,07). No entanto, foram encontradas diferenças quanto à finalidade de uso dos recursos: no presente houve redução de 51% no uso dos recursos coletados para a lenha e aumento de 63% para fins medicinais e de 36% para alimentação. Dentre os entrevistados que interromperam a prática, o principal motivo relatado foi o surgimento do fogão a gás (26%). Concluímos que, apesar das diferenças não serem significativas no uso dos recursos vegetais, o tipo de uso se modificou ao longo dos anos, 102 acompanhando as mudanças de vida dos moradores. A APABF pode contribuir com a sustentabilidade local através do incentivo à manutenção de atividades associadas ao conhecimento sobre os recursos vegetais. Agradece-se à Rufford Foundation, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nivel Superior (CAPES), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Agradecemos aos moradores entrevistados, gestores das Unidades de Conservação e colaboradores João Ferreira, Julia Ávila, Bruna Raupp, João Leal e Tatiana Miranda. Vendendo o que não se planta: o papel da feira livre de Barreiras, Bahia, no provimento local de plantas medicinais Indiria Tibolla Alexandre de Souza (Universidade Federal do Oeste da Bahia), Pablo Alves de Souza e Souza (Universidade Federal do Oeste da Bahia), Viviany Teixeira do Nascimento (Universidade do Estado da Bahia) e Patrícia Muniz de Medeiros (Universidade Federal do Oeste da Bahia). Contato: [email protected]. Este trabalho foi realizado com os vendedores de plantas medicinais da Feira livre de Barreiras, Bahia, e teve como objetivo avaliar o papel da feira de Barreiras no provimento de plantas medicinais, de modo a identificar o perfil das plantas que são comercializadas no local. Foram entrevistados dez feirantes, que informaram as plantas por eles comercializadas, as plantas mais vendidas, parte utilizada, indicações de uso, de onde vem e com quem adquirem o material. Utilizou-se o χ² goodness-of-fit para verificar diferenças no número de plantas lenhosas x não lenhosas e nativas x exóticas. O χ² em tabela de contingência foi empregado para verificar a associação entre hábito e origem. Das 58 plantas citadas, 53 foram identificadas pertencendo a 51 gêneros e 28 famílias. Observou-se que as plantas mais frequentes nas barracas foram Dimorphandra mollis Benth. (barbatimão), Não identificada (chapadão), Pterodon emarginatus Vogel (sucupira), Amburana cearensis (Allemao) A. C. Sm. (imburana) e Zingiber officinale Roscoe (gengibre), sendo as quatro primeiras nativas do cerrado. O barbatimão (D. mollis) foi a espécie considerada mais vendida por 60% dos feirantes. Um total de 64,3% das espécies é nativo do cerrado, contra 35,7% de exóticas, com diferenças significativas (p<0,01). Houve predomínio de plantas lenhosas (71,4%, contra 28,6% não lenhosas), sendo tais diferenças significativas (p<0,01). Também foi observada uma alta associação entre a origem e o hábito de cada planta, de tal forma que a maioria das plantas nativas são lenhosas e a maioria das exóticas não são lenhosas (p<0,01). O predomínio de espécies nativas e lenhosas se deve pelo fato de o estudo haver sido desenvolvido em uma cidade média do interior baiano, não se tratando de um grande centro de convergência de material (centro urbano para onde são encaminhadas plantas de diferentes locais). E, se tratando de uma cidade média, com predomínio de casas e grandes áreas de quintais, as pessoas tendem a plantar as espécies exóticas e herbáceas de alta popularidade (conhecidas e utilizadas em vários locais do mundo), de modo a adquirir nos mercados apenas as nativas e lenhosas como complemento terapêutico. Agradece-se à Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB) por apoiar as pesquisas no Centro das Ciências Biológicas e da Saúde, aos colaboradores desta produção científica, em especial a orientadora Patrícia M. de Medeiros. 103 Etnoecologia "Depois da barragem tudo mudou”: o drama da pesca e dos pescadores artesanais do Médio Rio Tocantins Vonínio Brito de Castro (Universidade Federal do Pará) e Flávio Bezerra Barros (Universidade Federal do Pará). Contato: [email protected]. O objetivo deste estudo foi analisar o contexto do conhecimento ictiológico e o modus vivendi de agricultores pescadores artesanais do médio rio Tocantins, diante dos problemas causados pela Usina Hidrelétrica Lajeado, Tocantins. A hipótese é que os problemas encadeados pelos reservatórios atingem não somente às populações que estão à montante, mas também, as que vivem à jusante. Utilizou-se o método etnográfico com a observação participante seguida de entrevistas abertas com 40 agricultores pescadores de ambos os sexos, no município de Palmeirantes, Tocantis. Os dados coletados desde 2007 foram analisados pela abordagem qualitativa. O objeto da pesquisa é o universo da pesca local antes e após a instalação da barragem. Os resultados mostram que o fechamento das comportas desse empreendimento comprometeu o ciclo natural das águas à jusante proporcionando transições drásticas na relação entre os sujeitos e a pesca artesanal. Isto se intensificou quando o controle hidrológico que gerencia o nível do reservatório fez com que esses atores fossem surpreendidos com cheias intermitentes que alteraram o ciclo biótico. Esses problemas causaram profundas rupturas no modo de vida local e nos ecossistemas, gerando angústia, insegurança e a falta de perspectivas futuras aos moradores. A redução da pesca proporcionou transições no conhecimento ictiológico local à medida que novas estratégias tiveram que ser estudadas. Antes da barragem, a exploração dos recursos pesqueiros era controlada, característica seletiva própria da pesca artesanal. A estreita familiaridade com o anzol não arrefece a estrutura do conhecimento etnoictiológico local, pelo contrário, funciona como estratégia positiva na tentativa de conhecer a biologia e o comportamento biótico. As narrativas revelam o alto conhecimento temporal e espacial sobre a dinâmica do peixe, do rio e suas diversidades. A instabilidade dos ambientes aquáticos reduziu o interesse local pela pesca artesanal e a relação com o rio. Este era, antes, articulado como um elemento subjetivo, cosmogênico, parecendo se personificar no discurso local. Portanto, há muito por se fazer diante desse antagonismo exposto. As políticas de mitigação raramente atendem os atingidos à jusante, ficando esses, à mercê de suas próprias forças. Assim, as culturas dessas populações parece se distanciar dos interesses econômicos, o que pode desconfigurar a estrutura societária, destruindo as práticas e costumes que são o alicerce, sua base de sustentação no lugar. Agradece-se à Universidade Federal do Pará (UFPA). Estendo os agradecimentos ao IFTO-Campus Porto Nacional. A articulação da etnofenologia de plantas e de animais na produção de tempos ecológicos por pescadores artesanais do Rio Grande do Sul, Brasil. Gustavo Goulart Moreira Moura (Universidade de São Paulo) e Emmanuel Almada (Universidade Estadual de Minas Gerais). Contato: [email protected]. 104 Nas etnociências, muito se tem investigado sobre ciclos ecológicos e astronômicos de acordo com os modos de conhecer das comunidades tradicionais. Esse campo de pesquisa tem demonstrado que nas etnociências os ciclos ecológicos tendem a ser estudados de forma compartimentada e fragmentada operando nos modos de conhecer das comunidades tradicionais de acordo com a lógica da ciência positivo-reducionista. Na contramão dessa tendência, algumas pesquisas têm formulado ciclos conceituais (ou tempos ecológicos), onde se articulam diversos ciclos ecológicos e até ciclos astronômicos descritos por populações tradicionais, tal como na perspectiva etnooceanográfica. Neste sentido, este trabalho tem como objetivo descrever e analisar os ciclos conceituais produzidos por comunidades de pescadores artesanais do Rio Grande do Sul (RS) em uma perspectiva etnooceanográfica. Para atingir tal objetivo, foram realizadas 153 entrevistas semi-estruturadas com 80 moradores de duas comunidades de pesca do estuário da Lagoa dos Patos (RS), a da Coréia e a da Ilha da Torotama. No ciclo conceitual produzido pelas comunidades, os ciclos descritos e analisados prioritariamente são os hidrodinâmicos e os fenológicos de recursos pesqueiros (camarão-rosa, Farfantepenaeus paulensis, e do bagre, Genidens barbus), de plantas (Maricá, Mimosa bimucronata (DC.) Kuntze, Araçá, Psidium littorale Raddi, e Butiá, Butia capitata (Mart.) Becc.) e de animais terrestres (mosquito, Familia Culicidae). Como resultado, tem-se uma densa descrição destes ciclos, com a formulação pelas comunidades de pesca de diferentes teses de movimentos migratórios para cada um dos recursos pesqueiros. Apenas em uma das comunidades há uma evidenciação pelos pescadores de intersecções entre os ciclos hidrodinâmicos, os movimentos migratórios dos recursos pesqueiros e a fenologia das plantas. No ciclo dos Culicidae, é evidenciada a intersecção entre o tempo de sua abundância e a do camarão-rosa, em todas as três teses de movimento migratório identificadas nas duas comunidades. Neste sentido, os ciclos mais densamente descritos são os hidrodinâmicos e os biológicos dos recursos pesqueiros enquanto que os das plantas e o do mosquito servem apenas como complemento dos dois primeiros na construção do tempo ecológico. Portanto, a etnofenologia das plantas e dos animais pesquisados nas comunidades junto aos ciclos hidrodinâmicos estabelecem um continuum entre mar-terra-ar na construção do tempo ecológico nas tomadas de decisão na pesca Agradece-se aos pescadores artesanais do Rio Grande do Sul. A complexidade taxonômica da Família Mugilidae: da classificação Lineana aos diferentes tipos de classificação folk Dannieli Firme Herbst (Universidade Federal de Santa Catarina) e Natalia Hanazaki (Universidade Federal de Santa Catarina). Contato: [email protected]. A identificação e taxonomia da família Mugilidae é conflituosa e complexa, no Brasil e no mundo. Existem vários estudos científicos sobre o genêro Mugil e a família Mugilidae, porém dificilmente os pesquisadores são consensuais sobre a nomenclatura das espécies desta família. Frente à complexidade taxonômica encontrada, buscamos estudar como os pescadores do litoral de Santa Catarina reconhecem e classificam as espécies desta família, uma vez que partimos da premissa que a integração dos saberes popular e científico pode contribuir com a polêmica discussão que permeia a sua classificação. As amostragens abrangeram oito municípios do litoral de Santa Catarina (de Laguna a São Francisco do Sul) e o universo amostral foi uma parcela dos pescadores artesanais da tainha escolhidos intencionalmente através da técnica bola-de-neve. Os dados foram coletados através de entrevistas semiestruturadas 105 (agosto de 2011 a março de 2012). Durante as entrevistas, foram utilizadas pranchas com as imagens das espécies de Mugilídeos que ocorrem no litoral de Santa Catarina para a identificação das espécies conhecidas e capturadas pelos pescadores. Foram entrevistados 45 pescadores de tainha. Os pescadores reconhecem duas espécies de ‘genéricos folk’ associados à tainha: tainha, Mugil liza, e parati, Mugil curema, e atribuem 21 e 10 diferentes nomes ‘específicos folk’ para elas, respectivamente. Os nomes variam de acordo com aspectos etológicos, morfológicos, ontogenéticos, ecológicos (eg. locais de procedência) e culturais. Os dados foram analisados de acordo com diferentes tipologias de classificação folk: Classificação berlineana, cíclica, concêntrica e sequencial. Observamos que a classificação folk também é complexa e diversa, e isto, possivelmente é reflexo de um conhecimento passado por várias gerações, dada a importância cultural e econômica que permeia a relação dos pescadores com a tainha, principalmente devido ao seu comportamento migratório e de formação de grandes cardumes. Os dados encontrados apontam que tainhas procedentes dos estuários do litoral de Santa Catarina e Paraná são menores que as provenientes do litoral do Rio Grande do Sul e principalmente do Uruguai/Argentina e podem caracterizar diferentes morfotipos de Mugil liza no sul do Brasil e Uruguai/Argentina. A etnobiologia Pataxó da Reserva da Jaqueira, Bahia: co-investigação e o estudo da biodiversidade Jade Silva dos Santos (Universidade Estadual de Feira de Santana) e Fábio Pedro Souza de Ferreira Bandeira (Universidade Estadual de Feira de Santana). Contato: [email protected]. A Reserva da Jaqueira é uma área de reserva comunitária ambiental gerida por uma associação indígena. Criada em agosto de 1998, localiza-se na Terra Indígena Coroa Vermelha em Santa Cruz Cabrália, Bahia, e possui 827 hectares de Mata Atlântica, onde se desenvolve o etnoturismo atrelado a um trabalho de reafirmação étnica e resgate cultural. Compreendendo a importância do etnoconhecimento Pataxó e da Reserva da Jaqueira para preservação ambiental da Mata Atlântica, um dos biomas mais ameaçados do Brasil, esse projeto teve o objetivo de contribuir para realização de um levantamento etnobiológico na Reserva da Jaqueira, através da abordagem co-investigativa e participativa. A pesquisa conduziu-se pelo levantamento bibliográfico de trabalhos etnobiológicos realizados em diferentes aldeias da região e por meio da pesquisa participante dentro da abordagem co-investigativa do projeto COMBIOSERVE (Assessing the effectiveness of community-based management strategies for biocultural diversity conservation), na qual os Pataxó são pesquisadores do seu próprio conhecimento. Os índios do grupo intitulado Suniatá Jikytaiá (canto dos pássaros) realizou o levantamento da flora e da fauna da Reserva da Jaqueira culturalmente relevantes, com apoio e suporte técnico de pesquisadores acadêmicos, e caracterizaram os ambientes encontrados segundo a percepção Pataxó. O levantamento bibliográfico permitiu produzir uma lista com 121 espécies de plantas e 14 espécies de animais de conhecidas pelos Pataxó, citadas em 5 trabalhos. Já os pesquisadores Pataxó registraram um total de 117 etnoespécies de plantas e 113 etnoespécies de animais. A comparação entre as listas de plantas e animais produzidas pelos pesquisadores Pataxó e a partir da pesquisa bibliográfica permitiu observar que, ainda que os sistemas de classificação indígena e cientifico não coincidem, a maioria das espécies listadas pelos pesquisadores indígenas não haviam sido catalogadas nos trabalhos bibliográficos. O fato do número total de espécies encontrado na literatura ser reduzido em relação ao levantamento Pataxó, revela que a abordagem co-investigativa tem um grande potencial para apoiar e complementar os estudos e inventários da biodiversidade. Este trabalho contribuiu com o 106 registro mais acurado do conhecimento etnobiológico Pataxó e para ampliação dos conhecimentos acerca da Mata Atlântica da Reserva da Jaqueira, além de proporcionar um intercâmbio entre o conhecimento tradicional e científico. Agradece-se à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB). Agradeço por toda aprendizagem e satisfação ao Prof. Fábio Bandeira, ao Povo Pataxó e aos membros do Projeto COMBIOSERVE. A influência do conhecimento etnobotânico na remuneração pelo trabalho extrativista dos coletores de pinhão, Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze, Araucariaceae Camila Vieira da Silva (Universidade Federal do Pará), Gabriela Coelho-de-Souza (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e Lovois de Andrade Miguel (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Contato: [email protected]. O pinhão é uma importante fonte de alimento e renda para comunidades rurais que residem na região de ocorrência da Floresta de Araucária. Embora sua coleta seja praticada por muitos, é pouco conhecida. Assim, objetivou-se compreender os aspectos sociais e econômicos referentes ao extrativismo do pinhão em São Francisco de Paula, Rio Grande do Sul. Para tanto, entrevistouse 22 extrativistas e utilizaram-se indicadores agrosocioeconomicos para fazer um diagnóstico dos sistemas de produção (SP). Os indicadores estão divididos nos fatores de produção: Terra, Trabalho e Capital, que integram e interagem em uma unidade de produção agrícola (UPA). Destes indicadores foram estimados: renda, produtividade do trabalho, valor agregado entre outros, de forma a caracterizar as UPAs e o extrativismo do pinhão. Através do diagnóstico socioeconômico dos SPs, constatou-se a existência de 2 grupos sociais de extrativistas, os Trabalhadores Rurais e Urbanos e os Pecuaristas, ambos subdivididos em tipos sociais. No que tange à etnobotânica, é interessante ressaltar o indicador remuneração pelo trabalho extrativista, que consiste na relação entre a renda obtida com o extrativismo (Rextr=corresponde à renda líquida do extrativismo obtida no estabelecimento, excluídas as despesas com salários, arrendamento, impostos e taxas e despesas financeiras) e a mão de obra disponível para o extrativismo do pinhão (UTHextr=somatório da mão de obra utilizada diretamente para o extrativismo). A partir deste indicador, constatou-se que dentro e entre os tipos sociais existe uma grande diferença na remuneração pelo trabalho extrativista (mín=R$ 5278,89/UTH; máx=R$ 39436,30/UTH), chegando a 6 e a 7,5 vezes, dentro e entre os tipos, respectivamente. Tal variação foi associada, principalmente, ao conhecimento acerca do recurso e da área da coleta, esta inferência foi feita com base no relato dos informantes. A fala a seguir ilustra esta afirmação “Eu tiro quase sempre nas mesmas áreas ... tá vendo aquele pinheiro ali, o mais alto deles, ele é um kaiuvá, nem adianta eu perder tempo subindo nele agora, as pinhas tão verde e eu só vou perder tempo ... quando eu sei que um pinheiro é falhado eu nem perco tempo debulhando, vendo a pinha inteira ... eu já olho a safra seguinte do lugar, se eu perceber que não vale a pena, no outro ano já nem vou lá, ainda mais se for aquelas áreas muito longe, daí só perco tempo, a não ser em último caso de eu tê muita precisão” (Infor. 1). Assim, se evidenciou que o conhecimento acerca do recurso possibilita ao coletor obter uma maior remuneração pelo trabalho. Agradece-se à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nivel Superior (CAPES). 107 A percepção local sobre o ecozoneamento dos pescadores tradicionais do Rio Uruguai Lindacir Zornitta (Universidade Comunitária da Região de Chapecó), Arlene Anélia Renk (Universidade Comunitária da Região de Chapecó) e Gilza Souza Franco (Universidade Comunitária da Região de Chapecó). Contato: [email protected]. Pescadores tradicionais possuem conhecimentos próprios e uso de técnicas de manejo dos recursos naturais baseados na essência do cuidado com a natureza. Este trabalho traz como objetivo descrever o etnoconhecimento local dos pescadores sobre a distribuição dos recursos naturais que compõem o seu espaço, e verificar a percepção local sobre o ecozoneamento do espaço através de mapas mentais. Os dados foram coletados entre outubro de 2013 a fevereiro de 2014 no município de São Carlos, Santa Catarina, com pescadores (as) ribeirinhos da colônia Z35 que se encontram na área de influência da UHE Foz do Chapecó. Utilizou-se o modelo de mapa metal com entrevistas semiestruturadas, além da observação registrada em diário de campo com vinte e quatro pescadores (as), com faixa etária entre 38 a 68 anos os quais foram selecionados de acordo com a disponibilidade de participar da pesquisa. A análise ocorreu sob a perspectiva da Antropologia Ecológica. Através desta perspectiva percebemos que os pescadores acumulam grande conhecimento sobre o clima, comportamento hidrológico do rio, ecologia trófica da ictiofauna local e principalmente a respeito das mudanças ambientais por atividades antrópicas. Quanto à percepção espacial do rio os pescadores demonstraram um amplo conhecimento espacial falando desde os pontos de maior atividade pesqueira até sobre a relação da vegetação ciliar que havia antes da instalação da UHE com a ictiofauna. É nítida a relação sinergética entre pescadores e o rio como espaço de suas vivências cotidianas determinando um modo de vida na comunidade assim como sua identidade perante esta comunidade. O sentido para isto se dá no emocionante relato do encontro do barco com a água, da rede com o pescador, da linha com o anzol, tornando este aglomerado de fios um complexo fluxo de materiais que dão forma ao trabalho de simples pescador, e é isto que dá sentido para a vida do pescador. Concluímos que os pescadores possuem uma capacidade de orientar-se geograficamente através de pontos estratégicos associando locais com elementos da natureza como pedras no fundo do rio e árvores nas margens do rio que possam estabelecendo coordenadas geográficas. Através dos desenhos elaborados pelos pescadores concluímos que o fato deles possuírem o etnoconhecimento ecológico e espacial do espaço não significa que eles possuam o conhecimento de elaborar um mapa cartográfico, mas sim, sua percepção local sobre o ecozoneamento pode ser representada por trilhas baseadas em simples linhas. Agradece-se à bolsa do Programa de suporte a Pós-Graduação de instituições de Ensino Superior Particulares (PROSUP) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Comuitária da Região de Chapecó (UNOCHAPECO) sob o registro 037/13. Alterações climáticas, minhocas gigantes e atividade extrativista: um futuro incerto Raquel Hosken Pereira da Silva (Universidade Federal de Minas Gerais), Irla Paula Stopa Rodrigues (Universidade Federal de Minas Gerais), Ana Luísa Cordeiro (Universidade Federal de Minas Gerais), Hélio de Magalhães Júnior (Universidade Federal de Minas Gerais), Eric Reno Souza Xavier (Universidade Federal de Minas Gerais) e Maria Auxiliadora Drumond (Universidade Federal de Minas Gerais). Contato: [email protected]. 108 O minhocuçu (Rhinodrilus alatus) é endêmico da região central de Minas Gerais. Sua extração e comércio são importantes fontes de renda para comunidades da região, incluindo moradores do Quilombo de Pontinha, em Paraopeba. Durante décadas os extratores vêm acumulando informações ecológicas sobre o minhocuçu, que são repassadas entre gerações. O ciclo anual e o comportamento de R. alatus são sazonais e, segundo os extratores, podem ser alterados pelo clima. Uma vez que desde 2011 há mudanças visíveis no regime de chuvas da região, é necessário avaliar como a espécie reage a essas alterações, que podem impactar negativamente as populações de minhocuçus e as comunidades que dela dependem. Atividades de extração foram acompanhadas em 2014 e comparadas a anos anteriores, anotando-se a profundidade das câmaras de estivação, onde permanecem durante a estação seca. Para avaliar a percepção dos comunitários sobre os fatores que influenciam a abundância de minhocuçus foram realizadas 26 entrevistas semiestruturadas com especialistas locais. A média de profundidade das câmaras de estivação variou entre os anos de 2006, 2007, 2010, 2011 e 2014 (mín: 24,4 cm em 2006; máx: 29,4 cm em 2011), com diferença significativa (p<0,01) entre os valores de 2006 e de 2011 e 2014. A construção de câmaras mais profundas pode ser consequência de alterações no padrão de chuvas. Variações bruscas na precipitação foram observadas no mês de fevereiro, sendo a média de precipitação de 133,48 mm no período de 2006 a 2010 e de 39 mm nos anos de 2011 a 2014. A precipitação em fevereiro é importante na construção das câmaras de estivação no final da estação chuvosa. A maioria dos entrevistados (65%) relata que a quantidade de minhocuçus está diminuindo e 30% afirma que, apesar da quantidade continuar a mesma, está mais difícil encontrá-los, principalmente por construírem câmaras mais profundas. Alterações climáticas, como chuvas escassas ou fora de época, são os fatores que mais influenciam na abundância de minhocuçus (96% das citações), seguidos do número de extratores e intensidade de extração (30%), reprodução da espécie (26%), interferência de formigas e cupins (19%) e substâncias químicas utilizadas em plantios (15%). Os extrativistas sugerem que o aumento da temperatura e diminuição da umidade do solo poderiam reduzir as populações de minhocuçus em curto prazo. Tais mudanças já os preocupam, uma vez que em anos com seca mais prolongada há registros de elevada mortalidade de minhocuçus. Agradece-se Departamento de Biologia Geral do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Pró-reitoria de Extensão da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ministério da Educação (MEC), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais sob o registro CAAE 03329412.1.0000.5149. Anfíbios como etnobioindicadores a exposição de riscos aos ataques de crocodilos-do-nilo (Crocodylus niloticus): o caso do distrito de Panda, Moçambique Carlitos Luís Sitoie (Universidade Federal do Amazonas) e Vanessa Kerolin Araujo Meireles. Contato: [email protected]. Moçambique é atravessado por catorze dos maiores rios da África, que nascem nos países vizinhos e desaguam no oceano indico. Tem cerca de sessenta e seis (66) afluentes e subafluentes, que nascem dentro do país percorrendo diferentes regiões do território nacional até seus a jusantes. Com isso, 80% da população moçambicana que vive na região rural em bacias hidrográficas utilizam esses recursos hídricos para práticas de subsistência familiar. Nesse contexto socioambiental surgem nichos ecológicos que afetam o cotidiano dessas pessoas, como exemplo tem-se episódios em que crocodilos-do-nilo (Crocodylus niloticus) atacam esses 109 habitantes resultando na morte de cerca de 120 pessoas e deixando outras 68 feridas por ano. Essas interações ocorrem na região do ecótono, onde diferentes comunidades ecológicas entram em contato. Com isso, as populações rurais criaram ao longo do tempo estratégias para evitar que tais ataques continuassem a ocorrer. Essas estratégias baseiam-se em experiências empíricas e cotidianas das populações rurais que utilizam o coaxar de sapos e rãs como indicadores de lugares de abundância de crocodilos-do-nilo e assim evitar tais locais. Trata-se, portanto do saber teórico-prático dos habitantes locais, que por ser de fácil interpretação, observação e representar a dinâmica das interações ecológicas caracterizam os etnobioindicadores. A sistematização dessas práticas locais e socialização a sociedade em geral tornar-se-á um forma de legitimar este saber em conhecimento, e assim salvar vidas em Moçambique. A metodologia usada baseou-se na análise de notícias de jornais que relatam o conflito homem/animal, triangulada com entrevistas feitas às populações rurais sobre sua relação com os rios e os crocodilos. Os dados da pesquisa, quando analisados mostram que o número de vítimas reduziu em 60% nos últimos dois anos, devido ao mapeamento de áreas de riscos aos ataques através de controle da vocalização de sapos e rás. Isto significa que a população rural moçambicana, apesar de ser considerada na sua maioria analfabeta, apresenta um saber ambiental legitimo de ser valorizado tal como o dito conhecimento científico. Tratase, portanto de um etnoconhecimento utilizado para resolver problemas que afetam sua sobrevivência. Agradece-se à Universidade Pedagógica de Moçambique e Universidade Federal do Amazonas. Áreas de uso comum e uso dos recursos pelos Vazanteiros da Ilha do Pau de Légua: um estudo etnobiológico Francine Kateriny Santos (Universidade Estadual de Montes Claros) e Ana Paula Glinfskoi Thé (Universidade Estadual de Montes Claros). Contato: [email protected]. As populações tradicionais são grupos humanos diferenciados, que desenvolvem seu modo de vida a partir de uma intensa relação para com a natureza, proporcionando-lhes um vasto conhecimento acerca dos ciclos naturais. Dentre esses, podem ser citados os vazanteiros, grupo tradicional que desenvolve suas práticas e modo de vida a partir de uma relação direta com o rio São Francisco, pela prática da agricultura em ambientes inundáveis e da pesca no rio e lagoas. O trabalho aqui apresentado teve como objetivo descrever o modo de vida e das práticas de manejo de áreas pelos vazanteiros da Ilha do Pau de Légua, comunidade com aproximadamente 100 anos de existência formada por 52 famílias, que atualmente ocupam um território em frente ao Parque Estadual da Mata Seca, margem esquerda do rio São Francisco, município de Manga, Minas Gerais, como consequência de um longo processo histórico de expropriação. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas e aplicados questionários com 14 vazanteiros de diferentes famílias, no período compreendido entre outubro de 2013 e julho de 2014. As informações acerca da história de manejo mostraram a presença das áreas chamadas de carrasco (áreas mais altas, pouco férteis), lagadiços (áreas com maior umidade e matéria orgânica), capão de umbu (área de mata nativa), barranco (áreas altas com remanesceste de mata nativa), capoeira (área em que havia o processo de plantio em curso), vazantes (áreas próximas ao rio que ficam acima dos lagadiços), sangradores (conectores entre o rio e as lagoas e dentre as lagoas, onde não podiam ser feitos plantios) além das lagoas e do rio São Francisco como fonte de pescados. Estas áreas foram manejadas durante o período anterior ao processo de expropriação da comunidade, respeitando os períodos de seca, cheia e vazante do rio São 110 Francisco. Atualmente é feito o manejo das áreas conhecidas como lameiro (área de encosta ao rio), vazante (área intermediária) e sequeira (áreas altas). Cada área era, portanto utilizada para o cultivo de espécies e práticas de manejo especificas respeitando as características do solo, deposição de nutrientes e umidade. O acesso às diferentes áreas e a soma das atividades de agricultura e pesca garantiam a obtenção de maior quantidade de recursos ao longo do ano de modo a respeitar os ciclos naturais e os intervalos para a recuperação das áreas exploradas. A não realização da prática do manejo pelos vazanteiros tem trazido impactos negativos sobre a biodiversidade local. Agradece-se à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) pela concessão da bolsa de mestrado à autora do trabalho. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros sob o registro 250.017 /2013. Classificação, utilização e manejo de solos no sítio Carás do Massapé no município de Juazeiro do Norte, Ceará: etnopedologia e etnoconservação. Jose Thiago Olegário Alves (Universidade Regional do Cariri) e Simone Cardoso Ribeiro (Universidade Regional do Cariri). Contato: [email protected]. O presente estudo objetiva compreender como os agricultores do Sítio Carás do Massapé no município de Juazeiro do Norte, Ceará, compreendem, classificam e nomeiam os solos e também apresentar uma técnica de etnoconservação de solo em relação aos processos erosivos descrito pela comunidade. Foram realizadas dez entrevistas no modelo semiestruturado com os produtores rurais com idades entre quarenta e três anos e sessenta e sete anos, está é uma pesquisa que se baseia no método Geossistema-Cultura-Percepção. A área de estudo está localizada na zona rural no município de Juazeiro do Norte situado na Mesorregião Sul Cearense. Inserido na Bacia Sedimentar do Araripe onde encontramos litologias neoproterozóicas; Formação Cariri; Formação Missão Velha e depósitos aluviais. Está localizado no Planalto Sertanejo, formado por morfologias onduladas. O clima é o Tropical Quente Semiárido Brando, a vegetação é secundária e a Floresta Caducifólia Espinhosa. Encontramos as classes dos Neossolos Flúvicos e Neossolos Litólicos. Os solos reconhecidos em campo juntamente com agricultores são descrito de terra de barro ou massapé (Neossolos Flúvicos) encontrada nos baixios (depressões); terras de alto ou piçarra (Neossolos Litólicos) encontrado nos topos dos morros. Nas terras de barro ou massapê são plantados arroz e milho, quando a abundantes chuvas e os baixios fica alagados a planta do milho não se desenvolve, segundo os agricultores o milho morre afogado. Nas terras de alto ou piçarra é plantado feijão, fava, maxixi, jerimum, milho e o capim. Os agricultores descreveram uma técnica de conservação do solo quando ocorrem os chamando por ele de “valado” (ravinas bem desenvolvidas). Segundo eles é uma técnica que eles aprenderam com seus pais e com suas observações próprias. Consisti em colocar sacos de areia no final e no meio do “valado”, quando for com um (1) ano depois da época das chuvas o “valado” está controlado e não prejudicará mais a terra. Mencionam ainda ele que se esta técnica não for realizada dessa forma a água “vai abrir mais valado na terra”. Compreendemos que os solos dessa comunidade são diferenciados pelas suas propriedades agrícolas, localização e utilização. Tendo em vista também que está técnica de controle da erosão é uma prática de etnoconservação que busca associar a conservação da natureza com os conhecimentos tradicionais na utilização e no manejo dos recursos naturais. Agradece-se à Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP). 111 Conhecimento etnoecológico de pescadores acerca de peixe-boi, Trichechus spp. (Linnaeus, 1758) (Mammalia, Sirenia), no Estuário Amazônico Tayná Leão Miranda (Universidade Federal do Pará), Ana Marta Andrade Costa (Universidade Federal do Pará), Gabriel Melo Alves dos Santos (Universidade Federal do Pará), Angélica Figueiredo Rodrigues (Universidade Federal do Pará), Danilo Leal Arcoverde (Universidade Federal do Pará) e Leonardo Sena (Universidade Federal do Pará). Contato: [email protected]. A etnoecologia estuda a interação do homem e a natureza, assim como os fatores que afetam essa relação: degradação do habitat e caça, os quais são as principais ameaças a conservação das espécies de peixe-boi-da-amazônia, Trichechus inunguis (Natterer, 1883), e peixe-boi marinho, Trichechus manatus (Linnaeus, 1758). Segundo International Union for Conservation of Nature (IUCN) as duas espécies estão classificadas como “vulnerável”. Esta pesquisa objetivou descrever o conhecimento local dos pescadores do estuário Amazônico acerca dessas espécies, pois os pescadores tem o conhecimento prático do ambiente que os circunda, o que facilita a avistagem de espécies como peixe-boi, que são inconspícuos e de difícil visualização no meio ambiente. Os dados foram coletados através de entrevistas semiestruturadas aplicadas a 26 pescadores de Belém e área insular sobre a biologia, conservação e interação do peixe-boi com a pesca. Para as abordagens foi utilizado o método de amostragem do tipo “snow ball”, em que o pescador entrevistado indica outros potenciais informantes. Toda contribuição nesta pesquisa foi de caráter voluntário e a identificação do entrevistado mantida em sigilo. De acordo com as características descritas pelos entrevistados a espécie de possível ocorrência é Trichechus inunguis, por possuir a colocação “preta”, sem presença de unha e podendo ter uma mancha de cor rósea/branco na região ventral. Os relatos sobre a ecologia sugerem que há padrões de movimentação dentro do estuário Amazônico e possível motivo é a procura de alimento e/ou de reservatórios de água doce. Em todas as localidades o período do ano relatado como de maior frequência de avistamento é o chuvoso. Registramos captura acidental nas áreas estudadas, este pode ser solto ou ter seus subprodutos direcionados ao uso, para fins de consumo ou medicinal. Os artefatos utilizados para a caça intencional foram rede (N=7) e uso de arpão (N= 12). Com relação aos potenciais alimentos consumidos pelos peixe-bois estão aninga, Montrichardia linifera (Arruda), gramínea, Eleocharis geniculata (L.) (Roem. & Schult.), gramínea, Eleocharis mínima (Kunt) e embaúba, Cecropia angustifolia (Trecul). As percepções dos entrevistados mostram a riqueza dos conhecimentos sobre Trichechus spp. e sua interação com o ecossistema. A partir dos saberes etnoecológicos dos pescadores é possível desenvolver pesquisas com foco na ecologia alimentar, uso de habitat, padrões de movimento e delinear áreas de ocorrência das espécies. E ainda, fornecer informações importantes para subsidiar projetos envolvendo as comunidades locais na conservação do peixe-boi. Agradece-se ao PIBIC – FAPESP. À FAPESPA e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela concessão da bolsa que possibilitou o desenvolvimento desta pesquisa. Conhecimento etnoecológico do Anomolocardia brasiliana (marisco) pelas marisqueiras na Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape, Paraíba 112 Emely Dias da Silva (Universidade Federal da Paraíba), Haymée Nascimento de Alencar (Universidade Federal da Paraíba), Ewerton da Costa Pessoa (Universidade Federal da Paraíba), Veridiana Soares dos Santos (Universidade Federal da Paraíba) e Anderson Alves dos Santos (Universidade Federal da Paraíba). Contato: [email protected]. A etnoecologia abrangente é o campo de pesquisa transdisciplinar que estuda pensamentos, sentimentos e comportamentos que intermediam as interações entre populações humanas que os possuem e os demais elementos dos ecossistemas que as incluem. Anomolocardia brasiliana (Marisco) é um molusco bivalve caracterizado como um importante elemento do ecossistema Manguezal, desempenha funções ecológicas e serve de subsistência e renda das comunidades pesqueiras artesanais, sendo sua coleta realizada, geralmente, pelas mulheres (marisqueiras). O presente trabalho tem como objetivo descrever o conhecimento das marisqueiras sobre a ecologia do marisco, utilizando-se para isto observações participantes e pesquisas informais. O estudo foi realizado na comunidade de Barra do Rio Mamanguape, situada no Litoral Norte do Estado da Paraíba. A. brasiliana é coletada e consumida pela comunidade ribeirinha e comercializada nos restaurantes locais, pois apresenta uma fonte expressiva de proteínas e minerais. Várias ferramentas como: balaio, balde, colher, frasco de manteiga e o jereré são utilizadas durante a coleta, sendo que os homens são os principais responsáveis pelo manejo do "jereré". As marisqueiras são cadastradas em uma colônia de pescadores, mas pescam de forma individual. Pode-se observar que a extração do marisco é realizada em ambientes com substrato mole constituído por sedimentos finos de silte e argila, rico em matéria orgânica e por isso tende a apresentar uma densidade populacional alta. As marisqueiras sabem em quais tipos de solos que A. brasiliana apresenta tamanhos maiores, quais os locais onde haverá maior incidência e os horários que a maré estará boa para a extração do mesmo. Na área de estudo a coleta de A. brasiliana é realizada durante todo ano, não sendo demonstrado uma redução de sua população. Entretanto, essa extração ininterrupta prejudica o crescimento da espécie. As conchas deixadas pelas marisqueiras em seus quintais podem prejudicá-las uma vez que pode ocorrer a deposição de microrganismos patogênicos. Dependendo do grau de impacto, a espécie pode ser extinta nessa área e com isso prejudicará a comunidade ribeirinha. Contudo, pode-se observar que as marisqueiras possuem um conhecimento etnoecológico acerca do marisco e de seu ambiente e que esses conhecimentos obtidos provêm de gerações passadas que também desenvolviam a mesma atividade. Agradece-se à Universidade Federal da Paraíba (UFPB) pela oportunidade de proporcionar o aprendizado referentes aos resumos. Conhecimento etnoecológico sobre recursos faunísticos de diferentes povos indígenas do Cerrado Lorena D. Guimarães (Universidade Federal de Goiás), Kátia A. Kopp (Universidade Federal de Goiás), Carlos A. Bianchi (Universidade Federal de Goiás) e Arthur A. Bispo (Universidade Federal de Goiás). Contato: [email protected]. O curso de Educação Intercultural da Universidade Federal de Goiás possui mais de 220 estudantes indígenas pertencentes a dezoito etnias do vale dos rios Araguaia e Tocantins. O presente trabalho foi desenvolvido durante uma aula da disciplina Seres vivos e Biodiversidade, onde foi proposto para 15 alunos das etnias Xerente, Javaé, Krikati, Gavião, Kraho, Karajá e Tapirapé uma atividade na qual eles descrevessem um pouco sobre os recursos mais utilizados 113 da fauna de suas Terras Indígenas, bem como suas utilidades. O objetivo foi sistematizar e analisar o conhecimento tradicional dos diferentes povos sobre o manejo desses recursos faunísticos de sua região. Para obtenção dos dados foram analisados textos produzidos pelos alunos indígenas durante a disciplina. De acordo com os Xerente a anta é o animal mais usado nas festas tradicionais para fazer um prato típico chamado Moqueado. Alguns animais como a anta e o catitu são capturados quando filhotes e criados nas aldeias e consumidos ou vendidos quando adultos. Os Krikati afirmam que nunca matam os animais para esporte ou comércio, apenas para alimentação e em grande quantidade apenas durante as festas culturais. Alguns animais consumidos por eles são: paca, cutia, rato, morcego, papagaio, entre outras aves. Na Festa do Gavião é exigido muitas plumas e, nessa ocasião eles caçam muitas aves, onde a carne é consumida e as penas usadas como adornos. O artesanato também é confeccionado a partir de elementos da fauna, como um cinto que é usado pelos homens feito de unhas de veadomateiro e catitu. Os Kraho citam que entre os animais mais caçados estão o veado, a anta, a paca, o tatu, a cutia, a ema, o quati e o catitu. Os Tapirapé destacam o cateto como sendo um animal muito caçado no tempo da chuva. Os ossos do cateto são colocados nas pontas das flechas usadas pelos homens para caçar aves, peixes e mamíferos. Os Karajá destacam que os animais mais caçados são a anta e o porcão, mas as principais fontes de proteína dos Karajá são o peixe e tartarugas. Para os Javaé, a tartaruga é o alimento preferido. Os animais mais caçados são pacas, veados campeiros, porco do mato e catitus. Os indígenas, de um modo geral, têm consciência das interelações entre os animais e as plantas, bem como da sua dependência, não apenas física, mas sobretudo cosmológica, em relação ao meio ambiente. Em função disso, desenvolveram formas de manejo dos recursos naturais que têm se mostrado fundamentais para a preservação da natureza. Agradece-se à Universidade Federal de Goiás. Criação de animais silvestres em ambiente doméstico no semiárido nordestino Ester Rodrigues Freire (Universidade Estadual do Ceará), Josilane da Silva Ferreira (Universidade Estadual do Ceará), Shirley Silva Sales (Universidade Estadual do Ceará), Felícia Maria Rodrigues da Silva (Universidade Estadual do Ceará), Eva Pereira Sales (Universidade Estadual do Ceará) e Marcelo Campêlo Dantas (Universidade Estadual do Ceará). Contato: [email protected]. Tirar uma espécie silvestre do seu habitat, para uma convivência diária, não traz conforto algum à mesma, mas sim, sofrimento. A domesticação de animais não é um processo simples, e que pode levar centenas de anos. Assim, o objetivo da pesquisa foi compreender quais fatores influenciam a domesticação da fauna silvestre em área urbana do semiárido brasileiro. Foi aplicado um questionário semiestruturado a 45 habitantes moradores no bairro dos Venâncios, município de Crateús, Ceará. Foi observado que 67,0% dos entrevistados mostraram conhecimento sobre a definição de animais silvestres. Um total de 275 espécimes, consideradas silvestres, foi citado na pesquisa, dentre os quais 23 espécies de aves e uma de réptil. As principais motivações para o ato foram a distração pessoal (55,0%) e a beleza do animal (24,0%). Em relação à alimentação, uma parcela de 44,5% usa ração e 42,3% sementes, o restante faz uso de frutas ou restos de alimentos cozidos. Para o período de tempo que o animal permanecia em cativeiro, sobressaiu o período superior a um ano, com 54,0%. A maioria dos entrevistados (76,0%) afirmou que os animais nunca apresentaram agressividade. Ressalta-se que somente as espécies citadas pelos entrevistados fizeram parte da amostra, porém, muitos possuíam outras 114 espécies nos domicílios. Dentre esses se destacam preás (Cavia Aperea), tatus bola e peba (Tolypentis tricinctus, Euphractus sexcintus) e um sagui (Callithrix jacchus). O medo de fiscalização era o principal fator para não responderem de forma fidedigna. Observa-se o conhecimento sobre os riscos de domesticar animais silvestres, bem como a compreensão que estão à margem da lei. Todavia, por ser uma atividade difundida por gerações, continuam mantendo-os em cativeiro como algo inofensivo. O fato de passarem em média um ano em cativeiro indica que muitos padecem por estresse, depressão ou por alimentação nem sempre adequada à espécie. Os prejuízos à qualidade de vida do animal é fator secundário, em meio à vontade humana de suprir seus desejos. Agradece-se à Universidade Estadual do Ceará e à todas as pessoas que colaboraram com a pesquisa. Definição de critérios de seleção de ovinos da raça Morada Nova em seu centro de origem com base no conhecimento local Janaina Kelli Gomes Arandas (Universidade Federal Rural de Pernambuco), Maria Norma Ribeiro (Universidade Federal Rural de Pernambuco), Ângelo Giuseppe Chaves Alves (Universidade Federal Rural de Pernambuco), Ernandes Barboza Belchior (Embrapa Caprinos e Ovinos), Luciana Shiotsuki (Embrapa Caprinos e Ovinos), Paulo Márcio Barbosa de Arruda Leite (Universidade Federal Rural de Pernambuco) e Olivardo Facó (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Contato: [email protected]. Estratégias de melhoramento adequadas à realidade dos sistemas de produção locais são necessárias para implementação de programas de desenvolvimento sustentável e, um dos primeiros passos é a escolha dos critérios de seleção de animais baseados no conhecimento dos guardiões desses recursos valiosos, os criadores. Esta pesquisa teve por objetivo fazer o estudo etnozootécnico da raça ovina Morada Nova em seu centro de origem, Morada Nova, Ceará, através do registro e análise dos conhecimentos e práticas dos criadores, no que se refere a critérios de seleção utilizados na escolha dos animais para reprodução de forma a gerar informações técnicas para subsidiar o programa de melhoramento participativo da raça. Para identificação dos critérios de seleção foram entrevistados 13 criadores. Desse grupo, cinco eram membros do programa de melhoramento (PPM) e oito deles não participantes do programa de melhoramento da raça (NPPM). Foram identificados critérios de seleção indicados pelos dois grupos de criadores, a partir das entrevistas. Para os animais machos as características citadas foram: cor da mucosa, cor da pelagem, tamanho da orelha, tamanho da cauda, conformação do corpo, aprumos, conformação dos testículos, ausência de chifre, conformação da cabeça, rusticidade e cor do casco. Para as fêmeas foram indicados os critérios: cor da mucosa, cor da pelagem, tamanho da orelha, tamanho da cauda, conformação do corpo, aprumos, ausência de chifre, conformação da cabeça, habilidade materna, produção de leite, conformação do úbere e cor do casco. Os critérios indicados para seleção de machos e fêmeas pelos dois grupos de criadores foram submetidos à análise de frequências utilizando o software Statistical Analysis System 1999. As características mais citadas na seleção de machos para os criadores do grupo PPM foram cor da mucosa, cor da pelagem e conformação do corpo (freq = 0,80) e para os criadores do grupo NPPM foram cor da pelagem (freq = 0,75) e cor do casco (freq = 0,88). Para as fêmeas, as características de maior frequencia foram cor da pelagem (freq = 0,50) para os criadores do grupo PPM e conformação do corpo (freq = 0,63) e cor do casco (freq = 0,75) para os criadores do grupo NPPM. Observou-se que as características de maior frequência indicadas pelo grupo PPM são distintas daquelas indicadas pelo grupo NPPM, mas todas fazem parte do 115 padrão oficial da raça. Essas informações podem ser úteis para avaliar o impacto dos critérios de seleção adotados por cada grupo na conservação e melhoramento da raça. Agradece-se à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). Determinantes do consumo doméstico de lenha em comunidades rurais do Parque Nacional do Catimbau, Pernambuco, Brasil Bárbara Cavalcante Felix da Silva (Universidade Federal de Pernambuco) e Felipe Pimentel Lopes de Melo (Universidade Federal de Pernambuco). Contato: [email protected]. A extração de madeira é um dos vetores de perturbação antrópica que mais afetam as florestas tropicais atualmente. Os fatores socioeconômicos têm sido apontados como importantes determinantes da demanda doméstica de recursos florestais madeireiros por populações rurais. Neste estudo, além da influência destes fatores na demanda doméstica por madeira para o uso de lenha, investigou-se também o papel da Prosopis juliflora (Sw) DC., algaroba, como uma alternativa ao uso de madeira de espécies nativas, pelo fato desta espécie invasora está amplamente distribuída no ecossistema de estudo (Caatinga), reunindo características favoráveis ao seu uso: acessibilidade, disponibilidade e madeira de boa qualidade. Testou-se a hipótese de que fatores socioeconômicos explicam a demanda doméstica por madeira; e, adicionalmente, que a P. juliflora atua como um recurso substituto a madeira de espécies nativas. Foram realizadas 92 entrevistas semiestruturadas com chefes de família, por meio das quais foi acessado o perfil socioeconômico das famílias e as informações relativas ao uso doméstico de madeira. Foi mensurado o consumo médio diário de lenha pelo método do "dia médio" onde o responsável pelo fogão reúne a quantidade de lenha utilizada normalmente em um dia e a biomassa é aferida com balança de mão. Para testar a relação entre o consumo doméstico de lenha e o perfil socioeconômico das famílias, utilizou-se dos Modelos Lineares Gerais. O teste foi realizado com o consumo anual de lenha (consumo diário de lenha x frequência de uso semanal x total de semanas em um ano). Para testar a influência da P. julifora na redução do uso de espécies nativas, utilizou-se um teste de Mann-Whitney comparando a riqueza de espécies citadas entre os entrevistados que usam e não usam P. julifora. Houve influencia da renda per capita (F= 6,77; GL= 1; p=0,01), do tamanho da família (F= 9,42; GL= 1; p=0,002) e da escolaridade (F= 2,93; GL=4; p= 0,025) na quantidade de lenha consumida, evidenciando que o uso de lenha é fortemente direcionado pela dependência econômica da atividade de extração, uma vez que há economia de dinheiro gerada pelo não uso de substitutos industrializados. A riqueza média de espécies usadas para lenha foi semelhante entre os entrevistados que usam lenha de P. juliflora e aqueles não usam esta espécie (U=1,5; p=0,69), indicando que a P. juliflora parece atuar mais como uma opção adicional de recurso do que como um substituto propriamente dito. Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Agradeço especialmente aos moradores do Parna Catimbau por compartilharem seus conhecimentos e modos de vida, permitindo a realização desse estudo. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Pernambuco sob o registro 32279814.4.0000.5208. 116 Diagnóstico do sistema de produção de agricultores da comunidade Ilha de Vera Cruz, Maués, Amazonas Jane Maciel Leão (Universidade Federal do Amazonas), Sandra do Nascimento Noda (Universidade Federal do Amazonas) e Maria Silvesnízia Paiva Mendonça (Universidade Federal do Amazonas). Contato: [email protected]. O sistema de produção da agricultura familiar amazonense expressa níveis de complexidade no manejo dos recursos disponíveis e na administração da força de trabalho familiar envolvida. O conhecimento da dinâmica da paisagem é fundamental para a prática agrícola e construção dos espaços permanentes e temporários. Buscou-se com este estudo caracterizar os componentes do sistema de produção dos agricultores familiares da comunidade Ilha de Vera Cruz localizada no Município de Maués, Amazonas. O diagnóstico do sistema de produção das famílias selecionadas realizou-se por meio de formulário previamente elaborado onde foram observadas a diversidade dos componentes do sistema de produção, junto as características sociais e culturais que envolvem a família e suas atividades dentro da comunidade. Os componentes roça e sítio encontraram-se em destaque e com maior frequência na localidade, sendo a roça inserida em um sistema agrícola espaço-temporalmente cíclico que envolve a integração entre períodos de cultivo e de descanso com a técnica de pousio até a reconstituição da vegetação através da sucessão ecológica. Comumente os cultivos de espécies alimentares são realizados em consórcio, raramente são apresentados em monocultivos, quando se trata do roçado, como observado durante o estudo realizado. O consórcio tem por finalidade diversificar a produção, disponibilizando variação na alimentação da família. No Amazonas, os sistemas promovem uma organização social favorecendo o emprego de estratégias no uso dos recursos, mantendo no local diversidade de espécies e variedades empregando-as para produção familiar e em alguns casos para comercialização, como a farinha de mandioca e os produtos do guaraná. Os sítios desempenham papel importante por apresentar grande quantidade de espécies vegetais frutíferas, medicinais e hortícolas, tendo também apresentado atividades de criação de animais. A proximidade desse componente à moradia do agricultor exerce papel ecológico. O universo diferenciado dos sistemas de produção nas regiões está composto de estratégias próprias de sobrevivência e de produção, que reagem de maneira diferenciada a desafios, oportunidades e restrições semelhantes e que, portanto, demandam tratamento compatível com as diferenças. Agradece-se à Universidade Federal do Amazonas, à Profa. Dra. Sandra Noda, a Profa. Janete Maciel Leão pelo apoio com as pesquisas e aos moradores da Comunidade Ilha de Vera Cruz. Diagnóstico rural participativo do manejo da Caatinga em assentamentos rurais no estado de Sergipe Lucas Oliveira do Amorim (Universidade Federal de Pernambuco), Lanna Cecília Lima de Oliveira (Universidade Federal da Paraíba), Fernando Fleury Curado (Embrapa Tabuleiros Costeiros), Amaury da Silva dos Santos (Embrapa Tabuleiros Costeiros) e Anabel Aparecida de Mello (Universidade Federal de Sergipe). Contato: [email protected]. As comunidades rurais do semiárido brasileiro manejam os recursos florestais visando obter seus produtos e subprodutos. Ao desenvolver tal atividade, os agricultores demonstram um conhecimento que é derivado da sua prática, de observações que, muitas vezes, são aplicadas 117 intuitivamente, sem que sejam codificadas pelo conhecimento científico. Partindo deste pressuposto, este trabalho objetivou identificar os principais usos dos fragmentos florestais e as práticas de manejo empregadas por agricultores de dois assentamentos rurais do semiárido sergipano. Esta pesquisa foi desenvolvida nos Projetos de Assentamento Santa Rita e José Gomes da Silva, nos municípios de Canindé de São Francisco e Lagarto, respectivamente, ambos com 40 famílias. Inicialmente foram realizadas oficinas e posteriormente entrevistas semiestruturadas individuais em 10% dos domicílios de cada assentamento, não sendo seguido nenhum modelo estatístico. Constatou-se que nas duas comunidades estudadas a utilização dos recursos florestais madereiros e não-madereiros, é algo bastante presente no cotidiano dos assentados. Durante as discussões os assentados relataram inúmeros usos possíveis dos remanescentes florestais, sendo observado o vasto conhecimento dos agricultores no tocante aos benefícios das florestas. Foi possível observar que nas comunidades estudadas há uma grande demanda por madeira, que é utilizada, principalmente como combustível ou na construção de cercas. No PA Santa Rita, os agricultores preferem produzir carvão, enquanto no José Gomes da Silva os agricultores optam por utilizar a própria lenha. Em relação aos tipos de corte que realizam para obter a madeira, percebeu-se que variam de acordo com o destino final do produto. No PA Santa Rita observou-se o corte raso e a poda dos ramos. Já no PA José Gomes da Silva foi observado a preferência pela poda de ramos e, em algumas situações, o corte raso. Esta diferença pode ser justificada pelo fato da madeira ser bastante utilizada para fabricação de carvão no primeiro assentamento, aproveitando-se toda a árvore para esta finalidade. Já no segundo assentamento, os galhos são cortados e destinados para construção de cercas e usados como lenha. Os resultados alcançados pelo estudo evidenciaram a existência de um profundo conhecimento empírico dos agricultores assentados em relação ao uso e manejo sustentável dos recursos florestais nestes assentamentos. Agradece-se aos agricultores que fizeram parte do estudo. Elaboração de Planos de Gestão Territorial Indígena na bacia do Rio Juruena e o conchecimento ecológico associado Artema Santana Almeida Lima (Operação Amazônia Nativa), Fabiano Rodrigues da Matta (Operação Amazônia Nativa) e Tarcísio da Silva Santos Júnior (Universidade Federal de Mato Grosso). Contato: [email protected]. A Operação Amazônia Nativa (OPAN) desenvolve o Projeto Berços das Águas com o patrocínio da Petrobras, junto aos povos Manoki, Myky, Nambiquara e Sabanê. Estes territórios abrangem um conjunto de 04 terras indígenas com uma área de 456881,28 hectares e uma população de 1017, localizados na bacia do rio Juruena, região de transição entre o cerrado e a floresta amazônica no Estado de Mato Grosso. Com o objetivo de elaborar e implementar planos de gestão territorial e ambiental em consonância com a Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial Indígena (PNGATI), facilitamos a partir de uma metodologia participativa a elaboração de 03 planos de gestão territorial das TIs Manoki, Myky e Pirineus de Souza. Os etnomapeamentos e expedições possibilitaram o registro do conhecimento ecológico sobre o uso e ocupação dos territórios. Para os Myky, Manoki e Sabanê, as paisagens possuem categorias próprias com maior ou menor frequência da caça, do extrativismo ou coleta (mata alta, patuazal, cerrado baixo, barreiro, cavernas etc). Outras categorias são denominadas para os locais de pesca (lagoas, rios etc) e zonas de uso. Eles alternam os lugares onde exercem suas atividades de caça de acordo com as espécies mais apreciadas na sua dieta alimentar e 118 sazonalidade e praticam a pesca com diferentes técnicas de captura (arpão, mascaras, anzol etc). Cada categoria de paisagem, ou zona de uso, vem a ser um sistema complexo com interações ecológicas entre animais, plantas, solos, rios e seres espirituais. O conhecimento ecológico está também relacionado às táticas de manejo como: a disseminação da variedade genética de sementes crioulas associadas às trocas interétnicas por meio dos intercâmbios, o manejo das abelhas que pressupõem diminuir e controlar o risco de incêndios dentro dos territórios, o extrativismo de frutos do cerrado com adensamento de espécies como o pequi e de produtos da floresta, como a seringa e o patuá, conservando não só as espécies manejadas, mas garantindo a integridade de outras espécies vegetais e animais, a dinâmica dos ecossistemas e a proteção dos locais sagrados correlacionados como exemplo das cavernas para a caça de morcegos pelos Sabanê. O resultado desta pesquisa evidencia que para os Manoki, Myky e Sabanê gestão territorial é cuidar do território, e ensinar para os mais jovens os saberes e práticas tradicionais de manejo e uso da biodiversidade para a garantia dos seus modos de vida e rituais associados. Agradece-se à Petrobras e aos povos indígenas envolvidos no projeto. Entre a Etnobotânica e a Etnozootecnia: problemas relativos à saúde animal e à conservação da biodiversidade no contexto da ovinocultura na Toscana, Itália Angelo G. C. Alves (Universidade Federal Rural de Pernambuco), Maria N. Ribeiro (Universidade Federal Rural de Pernambuco), Riccardo Bozzi (Unifi/Scuola di Agraria), Piero Bruschi (Unifi/Scuola di Agraria) e Roberto G. Costa (Universidade Federal da Paraíba). Contato: [email protected]. Os esforços para conservação da biodiversidade em agroecossistemas incluem também plantas e animais domesticados. Realizou-se uma pesquisa na Toscana, Itália, com pastores de ovinos das raças Zerasca e Pomarancina. Ambas são raças autóctones ameaçadas, pertencentes ao tronco apenínico e produtoras de carne. Buscou-se descrever e analisar os conhecimentos locais referentes aos cuidados com a vida e a saúde dos ovinos, com destaque para usos de plantas no tratamento de enfermidades desses animais. Utilizou-se como base o conceito de "estilos de agricultura" ("farming styles"), que permite relacionar as dimensões cultural, técnica e ambiental da produção agropecuária. Inicialmente fez-se um levantamento no campo para identificar temas e problemas relevantes na ovinocultura local. Verificou-se uma tendência de desconexão com as práticas ancestrais de uso veterinário de plantas, caracterizando neste aspecto uma situação de "extinção da experiência". Ainda em referência à proteção da vida e da saúde animal, observou-se um forte conflito dos pastores com os lobos (Canis lupus italicus Altobello, 1921), principais predadores de ovinos na região. Aproximadamente a metade das fazendas eram conduzidas por mulheres; a mão de obra era quase exclusivamente familiar; a criação de ovinos não era fonte principal de renda das famílias; o trabalho fora das fazendas representava, em geral, a fonte principal de renda familiar e o turismo rural era ainda uma atividade pouco explorada pelo conjunto dos pastores. Cerca de 75% reportou ataques de lobos aos seus rebanhos. Isto tem causado transformações no manejo, com aumento dos custos de produção, segundo a percepção dos pastores. A maioria deles afirmou que o aumento da população de lobos resulta de reintrodução intencional destes predadores, supostamente realizada por órgãos de defesa do meio ambiente. Essa versão é negada pelos órgãos estatais e pela comunidade científica italiana em geral. É, portanto, um conflito múltiplo, não apenas entre homens e carnívoros, mas também entre pastores e agentes do estado nacional. Os rumores 119 sobre a reintrodução intencional de lobos podem ser vistos como "folk social science", isto é, explicações do mundo que representam uma resistência cultural contra as narrativas dominantes e as estruturas de poder que as sustentam. Abordagens etnocientíficas podem contribuir para mediar esses conflitos. Estudo etnoecológico nos municípios do entorno do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, Rio de Janeiro, Brasil Victoria Macarena Ramos Anguita (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Nathalia Moura Muzy Fuentes (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e Christine Ruta (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Contato: [email protected]. A etnoecologia, um dos eixos da etnociência, aborda a relação das sociedades humanas com seus territórios, enfatizando as práticas de manejo e utilização dos seus recursos, considerando as características ecológicas das espécies e dos ecossistemas. Uma das áreas da etnociência é a etnobiologia, que através da etnozoologia e da etnobotânica, tem sido bastante utilizada em trabalhos sobre as relações entre homem/biodiversidade em Unidades de Conservação. O principal objetivo deste trabalho foi estudar a relação homem-natureza no Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba através do eixo da etnoecologia e realizar um levantamento sobre o conhecimento local dos moradores do entorno do parque sobre a biodiversidade, especialmente fauna e flora. O Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, criado em 1998 na região Norte Fluminense, é um ecossistema de grande importância ecológica representada pela fauna e flora peculiares de restinga. Para o presente estudo foram realizadas em 2012 entrevistas semi-estruturadas nos três municípios que abrangem o parque com nove moradores, o critério utilizado para a seleção dos entrevistados foi o tempo de moradia no local, sendo selecionados moradores que nasceram na região ou ali chegaram antes do ano de criação do parque. Algumas questões norteadoras durante as entrevistas foram realizadas sobre o conhecimento sobre o parque e a biodiversidade no ecossistema restinga. As entrevistas foram gravadas e transcritas, os nomes populares citados durante as entrevistas foram preservados e os organismos citados foram posteriormente classificados até o menor nível possível, sendo configurada uma lista de etnoespécies. Um total de 47 citações de fauna e 27 citações de flora foram feitas pelos entrevistados, resultando em 29 etnoespécies de fauna e 21 etnoespécies de flora diferentes. As principais conclusões deste estudo foram que os moradores reconhecem a importância da criação do parque para a preservação do ecossistema, e apesar de conhecerem a fauna e flora nativa da região, este conhecimento é escasso quando comparado com o número de espécies observado pelos pesquisadores para região. Agradece-se ao PELD do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), EXTPESQ-FAPERJ, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e PIBIC-UFRJ. Estudo etnoecológico sobre os usos do pequi, Caryocar brasiliense, Cambess., no quilombo de Pontinha, Minas Gerais: subsídios para geração de trabalho e renda. Lorena Cristina Lana Pinto (Universidade Federal de Minas Gerais), Irla Paula Stopa Rodrigues (Universidade Federal de Minas Gerais), Lídia Maria de Oliveira Morais (Universidade Federal de Minas Gerais), Paulina Maia Barbosa (Universidade Federal de Minas Gerais) e Maria 120 Auxiliadora Drumond (Universidade [email protected]. Federal de Minas Gerais). Contato: O conhecimento local sobre a biodiversidade vem sendo cada vez mais incorporado a projetos e programas voltados à conservação e manejo de recursos naturais. O pequi, C. brasiliense, destaca-se, por ser tradicionalmente consumido e comercializado por comunidades que vivem no cerrado. Em Minas Gerais, a comunidade quilombola de Pontinha obtém sua principal fonte de renda a partir do extrativismo de minhocuçus, Rhinodrilus alatus. O plano de manejo para essa espécie prevê que ela não seja capturada durante seu período reprodutivo e o desenvolvimento de alternativas de trabalho e renda para os extrativistas. Sendo o pequi abundante no território quilombola e frutificando no mesmo período de reprodução do minhocuçu, vislumbrou-se seu uso como possível alternativa econômica para essa comunidade. Visando dar subsídios à análise de viabilidade dessa alternativa, um estudo sobre os usos e a etnoecologia do pequi foi desenvolvido em Pontinha no ano de 2013. Ao todo foram aplicadas 30 entrevistas semiestruturadas com moradores de Pontinha, além das ferramentas observação participante e travessia. Os entrevistados foram selecionados por meio da metodologia bola de neve e, assim, participaram do estudo 19 mulheres e 11 homens, com idade entre 17 a 83 anos. O pequi é utilizado em Pontinha na alimentação, no preparo de medicamentos caseiros e na produção de sabão e óleo. Os entrevistados reconhecem os pequizeiros por algumas características de seus frutos: “doces”, “carnosos”, “marujentos”, “rançosos” e “amargos”. As três últimas denominações estão relacionadas ao sabor desagradável dos frutos, sendo estes empregados apenas na produção de sabão. A época de floração do pequizeiro ocorre geralmente de junho a outubro e a frutificação entre outubro a fevereiro, sendo o pico da safra nos meses de dezembro a janeiro. A maioria dos entrevistados (60%) identifica a ação de animais na dispersão dos frutos, tendo sido citados: morcegos, tatus, besouros, formigas, maritacas, tucanos e papagaios. As abelhas foram os visitantes florais com maior porcentagem de citação (70%). Brocas e lagartas foram apontadas como as principais pragas dos pequizeiros, trazendo prejuízos às folhas e frutos. Os entrevistados percebem que os indivíduos jovens são os mais afetados pelo fogo, devido ao seu menor porte e por terem a casca menos espessa. Embora o pequi ainda não seja utilizado em Pontinha como alternativa de geração de trabalho e renda para o minhocuçu, o reconhecimento da importância cultural e biológica deste fruto constitui subsídios relevantes para iniciativas de uso econômico deste recurso por esta comunidade quilombola. Agradece-se à comunidade de Pontinha e à Floresta Nacional de Paraopeba, ProExt/MEC, ProEx/UFMG, PRPq/UFMG, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e PPGECMVS/UFMG. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Minas Gerais sob o registro 0388812.2005149. Etnoecologia de Butia catarinensis (Noblick & Lorenzi 2010) em Laguna, Santa Catarina Isabela Barasuol Fogaça (Universidade Federal de Santa Catarina), Tatiana Mota Miranda (Universidade Federal de Santa Catarina) e Nivaldo Peroni (Universidade Federal de Santa Catarina). Contato: [email protected]. O Butia catarinensis Noblick & Lorenzi, família Arecaceae, é uma espécie endêmica da restinga centro-sul catarinense que, além de sua importância ecológica, tem sido usada há séculos pelas populações locais do litoral de Santa Catarina, que atualmente, extraem seus frutos para uso e sustento familiar. Neste contexto, este estudo buscou acessar e analisar o conhecimento 121 etnoecológico local dos extratores/vendedores de butiá situados no município de Laguna, Santa Catarina, especialmente no que se relaciona à sua biologia reprodutiva, técnicas de manejo e seus usos locais. Para isso, foram realizadas 15 entrevistas semiestruturadas, com escolha dos colaboradores através do método bola de neve, com extratores/vendedores de butiá cujo critério de inclusão foi estarem vendendo o mesmo na rodovia BR-101. As entrevistas ocorreram em bairros que sofrem grande influência da BR-101, a qual corta o município, possuindo estes, então, uma característica urbanizada. Os extratores/vendedores, com idade média de 46 anos, são predominantemente do sexo masculino (80%) e mais da metade deles (60%) vendem o butiá durante todo o ano, sendo caracterizados como fixos nesta ocupação, além de ser essa sua principal fonte de renda. Os colaboradores que vendem o butiá apenas no pico de produção de frutos (40%) foram caracterizados como temporários. Ambos possuem conhecimento específico da espécie, da extração dos frutos, dos seus principais polinizadores (abelha e marimbondo) e dos predadores (abelha, aracuã e formiga). Os períodos de floração e frutificação condizem com a literatura, e tem início em agosto e outubro, respectivamente. A maioria dos entrevistados não pratica manejo nas áreas usadas para extração. Os usos mais citados para os frutos foram: suco (100%), cachaça (73,3%), sorvete (46,6%) e picolé (46,6%). Evidenciou-se ainda, que a extração do butiá ocorre de forma intensa na época de frutificação, ocasião em que as áreas sofrem muita pressão de uso e pouco manejo. O conhecimento sobre os períodos de floração e frutificação, bem como os visitantes florais e frugívoros, foi considerável, pois a relação dos extratores/vendedores com a espécie ocorre predominantemente quanto a extração dos frutos, ou seja, com foco na estrutura reprodutiva, motivado pelo interesse econômico. Agradece-se à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Laboratório de Ecologia Humana e Etnobotânica, ao meu orientador Nivaldo Peroni, à Tatiana Mota Miranda e aos colegas que ajudaram na realização do trabalho. Etnoecologias urbanas: os saberes e sabores do quintal João Henrique de Azevedo Xavier (Universidade Federal de Minas Gerais), Letícia Oliveira Moraes Starling (Universidade Federal de Minas Gerais) e Luana do Carmo Araújo de Oliveira (Universidade Federal de Minas Gerais). Contato: [email protected]. Lar de pessoas vindas de diferentes contextos, as favelas expressam e ressignificam uma diversidade de saberes trazidos da roça, originando práticas de plantio, manejo e uso de alimentos, que são conjunção dos saberes da terra no ambiente urbano. O resultado é patrimônio para as cidades, por sua riqueza e por torná-las ambiente mais produtivo. O Aglomerado da Serra não é diferente. A maior favela de Belo Horizonte tem, em suas raízes, sábios da terra. Interessado em dialogar com essa realidade socioambiental, o Grupo Aroeira estabeleceu e fortalece ações junto à comunidade desde 2008. A partir de nossas experiências com a comunidade hipotetizamos que o estímulo ao diálogo e intercâmbio entre experiências enriqueceria a prática individual e ajudaria na construção de uma rede de troca de conhecimentos. Na busca da troca de saberes, o Grupo Aroeira articulou o ciclo de encontros temáticos “Saberes e Sabores do Quintal” nas vilas do Aglomerado da Serra no primeiro semestre de 2014, estendendo a participação a pessoas de outras partes da cidade. O intuito era realizar oficinas com receitas sobre alimentação saudável, reaproveitamento integral de alimentos, promoção da economia local e utilizando recursos disponíveis nos quintais. Nos encontros, sempre com a facilitação de um convidado, eram feitas conversas e produzidos alimentos dentro dos temas propostos, como pães, tortas, sucos e bolos. Também visitas em grupos as casas de moradores, com identificação da agrobiodiversidade dos quintais. Entre 122 plantas medicinais e hortaliças não convencionais, como umbigo de bananeira, bertália, peixinho, alfavaca e capuchinha foram resgatados saberes e sabores. Os encontros foram registrados em fotos e vídeos e os relatos refletem a riqueza dos saberes compartilhados e os bons vínculos de amizade cultivados entre extensionistas e moradores da comunidade, além dos participantes se mostrarem engajados em praticar modos mais saudáveis de cuidado com a alimentação e a saúde. O público era majoritariamente da terceira idade, o que explicita que estes saberes são mantidos, principalmente, pelos que viveram a experiência de agricultor. A manutenção destas práticas depende da participação de jovens, o que se busca estimular nos projetos do Grupo. Do ciclo resultaram troca de mudas, sementes, receitas, saberes e saudade. Agradece-se aos moradores do Aglomerado da Serra, ao Grupo SEMEAR, a Horta Comunitária do Cafezal, especialmente S. Durval e D. Dirinha, a Proex/UFMG e ao FNS, que nos financia. Etnogeomorfologia: classificação das formas de relevo e da erosão segundo a percepção dos agricultores do sítio Carás do Massapé no município de Juazeiro do Norte, Ceará Jose Thiago Olegário Alves (Universidade Regional do Cariri) e Simone Cardoso Ribeiro (Universidade Regional do Cariri). Contato: [email protected]. As comunidades tradicionais percebem, classificam e nomeiam os processos morfoesculturadores da superfície e suas formas correlatas e utilizam estes saberes na utilização e no manejo do complexo solo-relevo nas suas atividades cotidianas. O presente estudo objetiva compreender como os agricultores do Sítio Carás do Massapé no município de Juazeiro do Norte, Ceará, compreendem, classificam e nomeiam as formas de relevo e os processos erosivos. Foram realizadas dez entrevistas no modelo semiestruturado com os produtores rurais com idades entre quarenta e três anos e sessenta e sete anos, está é uma pesquisa que se baseia no método Geossistema-Cultura-Percepção. A área de estudo está localizada na zona rural no município de Juazeiro do Norte situado na Mesorregião Sul Cearense. Inserido na Bacia Sedimentar do Araripe onde encontramos litologias neoproterozóicas; Formação Cariri; Formação Missão Velha e depósitos aluviais. Está localizado no Planalto Sertanejo, formado por morfologias onduladas. O clima é o Tropical Quente Semiárido Brando, a vegetação é secundária e a Floresta Caducifólia Espinhosa. Encontramos as classes dos Neossolos Flúvicos e Neossolos Litólicos. Os entrevistados descrevem as formas do relevo como: baixa; pé da baixa e alto. As baixas são as depressões; os pé de baixa são os inícios dos morros; os altos são os topos dos morros. Os processos erosivos descritos e reconhecidos em campo são chamados de levadas, riacho e valado. As levadas e riachos são ravinas em desenvolvimento, valado são ravinas bem desenvolvidas, mas os chamados valados são reconhecidos por poucos agricultores, sendo o mais comum levada e riacho. Compreendem que as causas dessas levadas, riacho e valado, são consequência das águas das chuvas. Ocorrendo nos pé de baixa áreas mais inclinadas do relevo. Percebemos que os agricultores compreendem as formas de relevo pelas feições apresentadas na paisagem, sendo seus métodos de classificação a observações empíricas que por sua vez foram transmitidas através da oralidade. Compreendendo como as comunidades percebem as formas do relevo e os processos morfogenéticos, poderemos juntamente com os produtores do espaço rural desenvolver métodos ecologicamente viáveis de utilização e manejo do complexo relevo-solo. Agradece-se à Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP). 123 Hábitos alimentares e produção de alimentos na comunidade da Casca, Rio Grande do Sul: valorização da identidade quilombola na perspectiva da Segurança Alimentar Marina Guahnon (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Vanessa Chaves Rosa (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Karin Luísa Lütkemeier (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Alana Casagrande (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Marcia dos Santos Berreta (Universidade Estadual do Rio Grande do Sul), Gabriela Coelho-de-Souza (Universidade Federal do Rio Grande do sul) e Rumi Regina Kubo (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Contato: [email protected]. O Núcleo de Estudos e Pesquisas em Segurança Alimentar e Nutricional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul está desenvolvendo na comunidade quilombola da Casca, entre janeiro e dezembro de 2014, uma ação de extensão que contempla a promoção de práticas ligadas à Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) nesta comunidade. A comunidade fica localizada no município de Mostardas (RS), é composta por 85 famílias e foi o primeiro quilombo no meio rural do Rio Grande do Sul a ter reconhecida a titulação de suas terras e a receber uma escola tipicamente quilombola, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Quitéria Pereira do Nascimento, que possui atualmente 16 alunos. A proposta da ação é buscar uma interação local que promova estratégias de SAN a partir de suas demandas, resgatando elementos culturais e valorizando sua identidade, bem como fortalecer a produção local de alimentos, tendo como base o conceito de SAN definido na Lei nº11.346/2006, que enfatiza o respeito à diversidade cultural nas práticas alimentares e que estas sejam social, econômica e ambientalmente sustentáveis. Nesse sentido foi realizado um diagnóstico com as famílias dos estudantes da escola Quitéria através de questionários semiestruturados e visitas às propriedades, totalizando 10 entrevistas, bem como reuniões com instituições locais no intuito de firmar parcerias e delinear ações junto à escola e a comunidade, pois se observou nos diagnósticos prévios um forte envelhecimento do campo na região. Todas as famílias visitadas possuem algum tipo de cultivo (especialmente bata-doce, aipim, couve) e criação de animais (galinha, pato, vaca, cavalo, ganso), adicionalmente a presença da pesca e alguma caça. Há produção de algum excedente (60% das famílias), os quais são trocados com outras famílias ou em dois casos é vendido. Merece destaque também a presença de alguns cultivos considerados típicos do local como o feijão sopinha e a batata-abóbora. Relatam também o cultivo de ervas medicinais (marcela, erva-santa, guaco, boldo, entre outras). De forma geral, pode-se caracterizar que o cultivo e as criações destinam-se majoritariamente ao autoconsumo. Dentre os relatos mais frequentes sobre a qualidade da alimentação vinda da produção local, estava a dificuldade no plantio de hortaliças e frutas devido ao clima e ao solo, o que prejudica a variedade da produção local. Porém foi constatado que não há escassez de alimentos, mesmo com uma variedade aquém do desejado pode-se considerar que a comunidade não se encontra em situação de insegurança alimentar. Agradece-se à Proext/Mec/SESU. Históricos de conformação da agricultura africana à quilombola: elementos, processos e invenções Marcus Vinícius de Souza Mouzer (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Rumi R. Kubo (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Gabriela Coelho-de- Souza (Universidade Federal 124 do Rio Grande do Sul), Alana Casagrande (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e Vanessa Chaves Rosa (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Contato: [email protected]. Este trabalho pretende, a partir de aspectos da agricultura africana relatados na obra do historiador Mário José Maestri Filho, "A agricultura africana nos séculos XVI e XVII no litoral angolano" de 1978, perceber juntamente às perspectivas da etnoecologia, história e antropologia quais elementos, processos e invenções são ainda notáveis na agricultura quilombola do litoral médio do Rio Grande do Sul na atualidade, especialmente na constituição das chácaras da comunidade negra rural do Limoeiro, Rio Grande do Sul. Neste sentido, uma bio-antropologia propõe que concebamos a história como um processo no qual os seres humanos não são tanto transformadores do mundo, mas, principalmente, atores desempenhando um papel na transformação do mundo por ele mesmo. A história é, em síntese, um movimento de autopoiese. Neste processo, os organismos podem tanto desempenhar um papel de produtores quanto de produtos de sua própria evolução, uma vez que, por meio de suas ações, eles contribuem ao mesmo tempo para as condições ambientais de seu próprio desenvolvimento e para aquelas do desenvolvimento dos outros organismos com os quais eles estão em relação. Isso ilustra de forma interessante a arte e ciência de manejar (-se) ambientes (campos, florestas, agroflorestas, açudes, roças, animais, etc.) tão comuns nas chácaras dos agricultores negros do Limoeiro. Ao se realizar a leitura da obra de Mário Maestri e pesquisar (etnograficamente) os modos de vida etnoecológicos dos agricultores negros da Comunidade do Limoeiro, verifica-se a constituição de espaços, paisagens e culturalidades fortemente ligadas à manutenção e reatualização histórica da sócio, agro e bio-diversidade locais. Segundo Maestri, as práticas agrícolas pré-modernas apoiam-se, em essência, em procedimentos pragmáticos ancorados em tradições passadas de geração em geração. Elas dependem do conhecimento empírico do ciclo das chuvas, da qualidade dos terrenos, da germinação das plantas, etc., que habitualmente tem como referência o meio ambiente, a fauna, a flora, etc. de uma região determinada. Fato que tem se verificado tanto em elementos da agricultura africana no litoral angolano do século XVI-XVII como em práticas ambientais dos agricultores quilombolas do Limoeiro, entre outras. Agradece-se à UFRGS, PGDR, DESMA e financiamento Proext 2014, MEC/Sesu. Identificação e classificação de fitofisionomias por SIG-GIS em levantamentos etnoecológicos Juliana Lima Passos Rezande (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais), Welinson FerreiraBrito (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais) e Nilvande Ferreira de Oliveira. Contato: [email protected]. As geotecnologias são ferramentas indispensáveis ao planejamento e gestão do território, zoneamento ambiental, uso e ocupação do solo dentre outros. Este trabalho é parte do relatório antropológico de caracterização ambiental para fins de delimitação de território de 02 comunidades quilombolas, na região do Serro (convênio PUC Minas/INCRA). Utilizaram-se técnicas de Sistema de Informação Geográfica (SIG) e saberes de campo tradicionais, a fim de fazer a “identificação e explicitação da forma de ocupação quanto ao seu caráter tradicional, evidenciando as unidades de paisagem disponíveis no presente..., descrição das áreas imprescindíveis a proteção dos recursos naturais, tais como áreas de preservação permanente, reserva legal e zonas de amortecimento das unidades de conservação” (IN nº57/09 INCRA). O trabalho foi desenvolvido nas etapas de obtenção de base dados cartográficos, seleção, e edição 125 (geoprocessamento), vetorização e classificação fitofisionômica (sensoriamento remoto), identificação pelo saber tradicional e campo com a participação de pessoas da comunidade e produção de mapas temáticos e mentais. A etapa de geoprocessamento teve início com a identificação da área de estudo, obtenção e o georreferenciamento das imagens de satélite, com cartas topográficas IBGE 1:100.000 dos municípios do Serro, Diamantina, Presidente Kubistchek e Rio Vermelho, através do software Arc GIS. A etapa posterior foi a interpretação visual das imagens (sensoriamento remoto) para identificação e classificação preliminar das fitofisionomias. Percebeu-se nas imagens de satélite que espaçamentos maiores entre indivíduos vegetais geralmente estão relacionados a fisionomias do cerrado e áreas com maior adensamento representam áreas relacionadas às matas, assim como áreas de coloração amarelo avermelhado estão ligadas a cultivos, regiões esbranquiçadas, a solo exposto ou margens de cursos d’água, feições acinzentadas e rugosas com afloramentos rochosos; regiões com coloração verde de tonalidade clara e lisa foram interpretadas como áreas desmatadas e/ou de pasto. No trabalho de campo se confirmou os elementos identificados anteriormente pelas imagens. Desta forma foi possível admitir que o sensoriamento remoto foi eficaz e determinante na otimização do trabalho, planejamento da etapa de campo e redução no tempo desprendido na área; contudo o campo com a comunidade envolvida, é importante para confirmação e finalização do mapeamento. Agradece-se ao PROEX/PUC Minas e INCRA. Legados pré-colombianos em quintais modernos na Amazônia Central Juliana Lins (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), Helena P. Lima (Museu Paraense Emílio Goeldi), Fabrício B. Baccaro (Universidade Federal do Amazonas), Valdely F. Kinupp (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas), Glenn H. Shepard Jr (Museu Paraense Emílio Goeldi), Charles R. Clement (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia). Contato: [email protected]. Pesquisas em ecologia histórica têm demonstrado legados dos povos antigos na biodiversidade em paisagens domesticadas na Europa, América do Norte, Mesoamérica, África, Oceania e Amazônia. Exemplos podem ser encontrados em florestas sobre ou próximas a sítios arqueológicos, onde frequentemente encontram-se maiores concentrações de árvores úteis do que seria esperado ao acaso. Na Amazônia, as sociedades pré-colombianas possuíam sistemas horticulturais em torno de suas áreas de habitação e já foi demonstrado que capoeiras em terra preta de índio (TPI), solos altamente férteis criados pelas atividades diárias e de descarte de lixo dos indígenas entre 2.500 e 500 anos atrás, funcionam como reservatórios de agrobiodiversidade. O objetivo deste trabalho foi verificar se o legado de manejos antigos já demonstrados na composição florística de florestas e capoeiras também existe em sistemas ainda mais dinâmicos, que são os quintais. Inventários florísticos foram realizados em 40 quintais em TPI em cinco comunidades ribeirinhas no baixo rio Urubu, no Estado do Amazonas. Todas as espécies arbóreas, arbustivas e herbáceas foram incluídas, somente excluímos as ervas-daninhas do inventário. Dezenove quintais estavam em sítios arqueológicos que possuíam um só tipo de ocupação indígena pretérita e com pouco mais de mil anos de abandono (contexto arqueológico unicomponencial), e 21 quintais estavam em sítios arqueológicos com dois tipos de ocupação indígena pretérita com cerca de 300 anos de abandono (contexto arqueológico multicomponencial). A diversidade de espécies foi 10% maior em quintais situados em contexto arqueológico multicomponencial comparado a quintais em contexto unicomponencial. Para as 126 espécies exóticas, tanto do Velho Mundo, como americanas não amazônicas, não encontramos diferenças na composição florística, mas para espécies nativas da Amazônia a heterogeneidade de espécies marcadamente diferente (p = 0,009) entre os contextos arqueológicos, o que enfatiza o legado das ocupações indígenas pretéritas na composição dos quintais atuais. O contexto arqueológico é a variável que melhor explicou essas diferenças, correspondendo a 54% do total de variação florística encontrada. Nossos resultados mostram que o legado de ocupações indígenas pré-colombianas é visível mesmo em um ambiente manejado diariamente e reafirma a importância de compreender o passado indígena para entender a biodiversidade atual. Agradece-se à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas. Muita gratidão aos moradores das comunidades Pontão, Mucajatuba, Irmandade Terra Preta, Enseada e Taperebatuba. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (CEP-INPA), sob número de protocolo 024/11. Manejo da castanha-do-brasil na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Piagaçu Purus, Amazonas, Brasil Maria Julia Ferreira (Instituto Piagaçu) e Heloisa Dantas Brum (Instituto Piagaçu). Contato: [email protected]. Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) são Unidades de Conservação que tem como função a preservação do meio ambiente e a melhoria da qualidade de vida das comunidades tradicionais que nela habitam, estas têm o extrativismo de recursos naturais como uma das mais importantes fontes de renda. Na RDS Piagaçu Purus um dos principais produtos extrativistas é a castanha-do-Brasil, considerado um alimento de alto valor nutricional e econômico. A castanheira (Bertholletia excelsa Bonpl.) é uma árvore de grande porte, nativa da Amazônia, que inicia a produção de frutos (ouriços) em dezembro, sendo possível coletá-los no chão até abril. O objetivo geral do presente trabalho foi analisar o sistema de manejo realizado pelos coletores locais. Os objetivos específicos foram realizadas avaliações da importância da castanha-do-Brasil na renda e cultura familiar; descrições do perfil dos coletores; e definições das áreas de uso dos moradores para a coleta da castanha-do-Brasil; descrição dos cuidados com a castanha e o castanhal; e do retorno financeiro do produto. Foram realizadas entrevistas com questionários semi-estruturados e um mapeamento das castanheiras usadas pelas comunidades, marcandose coordenadas geográficas, diâmetro a altura do peito e altura de fuste. Os coletores são principalmente homens com idade média de 41 anos, havendo também da participação feminina na limpeza pré-venda e as crianças se inserem no processo bem cedo (8 anos), sendo que a média de anos na atividade é de 28 anos; 97,83% dos entrevistados realizam limpeza nos castanhais, alegando que esta prática aumenta a produtividade da árvore. A limpeza constitui da retirada de cipós das árvores, abertura de trilhas e a abertura de clareiras para quebra do ouriço; a limpeza fruto consiste na lavagem e retirada de indivíduos podres sendo conservada a casa interna, porém nenhum dos entrevistados seca o fruto, mesmo sabendo do risco de contaminação por aflotoxina; foram mapeados 6 castanhais mais usados pelos coletores, pela sua proximidade com as comunidades; o preço médio de venda da caixa de castanha é de R$26,52 e a média de caixas coletadas é de 75,25 por coletor; o retorno financeiro da atividade é em média R$1995,63 por ano, por coletor. O extrativismo da castanha-do-Brasil não é fonte de renda mais importante da família, pois está conciliada com a pesca e agricultura. Porém 127 contribui de forma significativa na renda, alimentação e cultura local, sendo repassada ao longo de gerações. Agradece-se ao Instituto Piagaçu e as famílias da Reserva. Ao Instituto Piagaçu e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM). O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e autorizado pelo Centro Estadual de Unidades de Conservação (CEUC) e Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (SDS) sob o registro 1117/2013. Mapeamento histórico da vegetação e avaliação da população sobre a perda da cobertura vegetal no assentamento Dom Helder Câmara em Girau do Ponciano, Alagoas Mony Cely Oliveira Guimarães (Universidade Federal de Alagoas) e Henrique Costa Hermenegildo da Silva (Universidade Federal de Alagoas). Contato: [email protected]. A vegetação é importante na proteção edáfica, removê-la acelera o processo de erosão do solo com sérias consequências à produção e conservação. Neste sentido, entender as inter-relações dos atores que manejam diretamente as terras cultiváveis auxilia o planejamento e manejo dos recursos naturais. Portanto, o presente trabalho objetivou avaliar a perda da cobertura vegetal após a instalação do assentamento Dom Helder Câmara, Girau do Ponciano, agreste alagoano, inserido no ecossistema Caatinga. O trabalho foi realizado neste assentamento que é o maior em extensão territorial de Alagoas. Teve início em 11/06/1999 e possui áreas comunitárias sociais como escolas, centro comunitário, posto de saúde, telefones públicos e espaços improvisados de lazer. Possui seis agrovilas e dentre estas a agrovila Sete Casas foi escolhida para a pesquisa, pois é adjacente a uma reserva legal. Para o estudo, foram selecionados cinco informantes que moram no assentamento desde sua formação para a confecção de um mapa mental participativo. O perímetro da reserva legal foi marcado com GPS e com dois dos moradores para identificar a extensão da vegetação. O mapa mental produzido apontou três locais mais degradados, um ponto no início da reserva, um perto de uma estrada que dá acesso a reserva e outro perto dos lotes que também próximo a reserva. Segundo eles, essa degradação se deve a um incêndio, ocorrido nos anos iniciais da instalação e a extração de madeira para lenha. Outros locais de uso como áreas para pastagens foram apontados, segundo os moradores isso se deve a criação de animais que existe em vários pontos da reserva. Foi feita uma análise da região por meio de fotos e imagens via satélite mostrando a semelhança do mapa mental com o mapa real do local. Locais de uso foram mostrados durante a marcação do perímetro da vegetação como locais para pastagens, rios, estradas e locais improvisados para alimentar os animais. Posteriormente foi analisado o produto obtido do GPS através do Google Earth indicando que a área total da reserva é de 323 hectares e seu perímetro são 12,21km. A metodologia participativa mostrou que através do conhecimento dos agentes envolvidos a redução da cobertura vegetal local está associada a atividades agropastoris e exploração da madeira. Adotadas constantemente nos projetos de gestão de recursos naturais as metodologias de mapeamento participativo permitem conhecer a realidade da vegetação local através das experiências dos próprios agentes envolvidos. Agradece-se aos moradores do Assentamento Rendeiras e também ao Centro de Recuperação de Áreas Degradadas do Baixo São Francisco pelo apoio concedido para execução desta pesquisa. 128 Monitoramento participativo como ferramenta para o estudo de caça de botos e jacarés usados na pesca de Piracatinga, Calophysus Macropterus Lichtenstein, 1819 (pisces: pimelodidade), na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Amazonas, Brasil Natalia Camps Pimenta (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), Ronbinson Botero-Arias (Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá) e Miriam Marmontel (Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá). Contato: [email protected]. A pesca da piracatinga, realizada principalmente com isca de jacarés e botos (Inia geoffrensis), é praticada em diversas áreas da calha do Amazonas. A atividade representa uma fonte de renda adicional para as comunidades ribeirinhas da região e uma possível ameaça às populações dos animais caçados para elaboração de isca. Este estudo buscou caracterizar e quantificar os botos e jacarés usados na pesca de piracatinga dentro da Reserva Mamirauá (RDSM) através do método de monitoramento participativo, a fim de gerar subsídios para estudos de impacto da atividade de pesca sobre as populações dos animais usados como isca. A pesquisa, realizada entre os meses de agosto de 2013 e fevereiro de 2014, contou com a participação de 33 pescadores de 12 comunidades da RDSM, selecionadas pela técnica de snwoball sampling. A proposta do monitoramento participativo foi apresentada às lideranças comunitárias e aos envolvidos diretamente na pesca de piracatinga (pescadores e caçadores de isca). Os participantes receberam capacitação para o preenchimento de fichas com os dados da caça (data, local, sexo, tamanho e espécie). Foram obtidos dados de 44 jacarés, sendo 86,4% jacaré açu (8 fêmeas e 30 machos) e 13,6% jacaretinga (5 machos e 1 fêmea). O comprimento médio dos jacarés açu foi de 274cm (machos 291cm; fêmeas 257cm), e dos jacaretingas foi 163cm (machos 196cm; fêmeas 130cm). Quanto aos locais utilizados para a caça temos 100% de jacaretingas e 79,2% de jacarés açu capturados em paranãs (outros 6,7% de jacarés açu caçados em rios e 14,1% em lagos). Não houve registro de caça de boto, embora pescadores que relataram ter experimentado a isca afirmam que o uso do animal torna a atividade mais rentável. Ainda assim, o boto tem deixado de ser usado na área estudada por ser um animal com “pitiu”, de difícil captura, pelo temor dos poderes do encantado e pela dificuldade em ocultar a carcaça. Os dados obtidos revelam que o jacaré açu, macho e adulto, é o principal foco de caça, e que as lendas sobre encantado e o receio de serem abordados pela fiscalização são fatores que limitam a pressão antrópica sobre a população dos cetáceos na RDSM. Através do monitoramento participativo pôde-se identificar e quantificar os animais alvo de caça para a pesca de piracatinga, fornecendo dados sobre a mortalidade de botos e jacarés, que somado ao levantamento de estimativas populacionais, pode vir a auxiliar estudos de dinâmica populacional dessas espécies. Agradece-se ao Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá- OS/MCTI. Monitoramento participativo da caça na Terra Indígena Xerente, Cerrado do Tocantins Milton José de Paula (Universidade Federal do Pará), Juarez Carlos de Brito Pezzuti (Universidade Federal do Pará), Odair Giraldin (Universidade Federal do Toantins) e Valcir Sumekwa Xerente (Universidade Federal do Tocantins). Contato: [email protected]. A caça fornece uma importante fonte de obtenção de proteína animal para subsistência para grupos indígenas. Entretanto, essa atividade pode ter um fator negativo sobre a fauna selvagem. 129 Neste contexto, o presente trabalho tem como objetivo apresentar resultados do sistema de monitoramento participativo da caça realizada na Terra Indígena Xerente, povo Jê-Central que vive no cerrado do Tocantins, como forma de obtenção de dados sobre a exploração da fauna local. Para isso foi iniciado no mês de fevereiro de 2014 o programa de monitoramento participativo da atividade de caça em dez aldeias. Para 52 caçadores (sendo 3 não indígena que vivem em uma das aldeias) foi entregue diários de caça e uma balança de carga máxima de 50kg. Os caçadores foram instruídos a preencher os diários com as informações referentes a todos os seus eventos de caça intencional ou oportunista. Os caçadores participantes representam 85% dos caçadores das aldeias monitoradas, e após sete meses de monitoramento, 318 eventos foram preenchidos, 276 com sucesso e 42 sem sucesso. Porém os resultados de eventos sem sucesso estão sub estimados, pois, a grande maioria dos caçadores não preencheu todos esses eventos. Ao todo 308 animais foram mortos distribuídos em 20 espécies de mamíferos, nove de aves e duas de répteis, totalizando 3995,1 kg abatidos. Mamíferos de médio e grande foram os mais representativos, contribuindo com 84% dos animais e 96% da biomassa. As espécies mais importantes foram: Tapirus terrestres, Kdâ (n=7; 1,098 kg), Pecari tajacu, Kuhârê (n=39; 634,8 kg), Hydrochoerus hydrochaeris, Kumdâ (n=11; 506 kg), Mazama americana, Ponẽ (n=11; 328,4 kg), Cuniculus paca, Krawa (n=47; 294 kg) e Mazama gouazoubira, Ponkẽrê (n=20; 506kg). O monitoramento ainda está em andamento, e tem demonstrado uma excelente ferramenta para obtenção de dados sobre a exploração da fauna. O não preenchimento dos eventos sem sucesso está relacionado provavelmente por razões culturais, talvez pela preocupação com o status de “grande caçador”. Os dados de monitoramento serão utilizados para futuras analises da pressão de caça sobre estas espécies como forma de traçar planos de conservação e uso sustentável da fauna local. Agradece-se à The Rufford Foudation. Nambiquaras do Cerrado de Mato Grosso: saberes e práticas tradicionais sobre a fauna e flora no cenário de transformações socioambientais da hapada dos Parecis entre 1910 e 2012 Artema Santana Almeida Lima (Operação Amazônia Nativa) e Tarcísio da Silva Santos Júnior (Universidade Federal de Mato Grosso). Contato: [email protected]. O coletivo indígena Nambiquara corresponde a aproximadamente 30 grupos associados a uma língua, os quais, originalmente, estavam amplamente distribuídos em três áreas culturais situadas na transição das bacias dos rios Madeira, Guaporé e Juruena, a saber: Vale do Guaporé, Serra do Norte e Chapada dos Parecis. Neste universo, esta pesquisa, foi realizada objetivando diagnosticar o conhecimento sobre fauna e flora, especificamente com os Nambiquara habitantes tradicionais das cabeceiras do Juruena, onde predominam fitofisionomias típicas do Cerrado. O trabalho foi desenvolvido no segundo semestre de 2012 no âmbito da elaboração do Plano de Gestão Territorial das Terras Indígenas Pyrineus de Souza e Tirecatinga, seguindo os trâmites legais necessários entre a instituição executora (OPAN), Funai e as comunidades indígenas. O estudo baseou-se na consulta a dados secundários e no levantamento de dados primários nas T.I.s mencionadas, permitindo obter informações relativas a três cenários: (A) 1910-1920, primeiros contatos com não-índios pela Comissão Rondon; (B) 1980-1985, pósinstalação de empreendimentos (BR-364, latifúndios, expropriação das terras tradicionais) e demarcação de T.I.s; (C) 2000-2012, pós-consolidação da presença de não-índios e “isolamento” dos indígenas em T.I.s pela fronteira agrícola e instalação/consolidação de outros 130 empreendimentos. A análise conjunta dos dados demonstra o plantio de pelos menos 26 cultivares nas roças tradicionais, o uso/coleta de 52 espécies vegetais e 37 invertebrados, a caça de pelo menos 30 espécies de mamíferos, 50 de aves, três de répteis e a pesca de 18 espécies de peixes. Os resultados demonstram alta semelhança de saberes/práticas tradicionais entre os cenários e as T.I.s, mas sugerem diminuição e/ou alteração temporal destes tendo-se como parâmetro a atualidade observada nas T.I.s Pyrineus e Tirecatinga. As diferenças sugeridas podem ser compreendidas no âmbito do cenário de influências político-econômicas a que os indígenas foram e estão submetidos. Os resultados obtidos nesta pesquisa compõem as informações dos Planos de Gestão Territorial. O da T.I. Pyrineus já foi concluído e o da Tirecatinga ainda está sendo elaborado. Agradece-se à Operação Amazônia Nativa e Programa Petrobrás socioambiental. O boto é pescador? As relações do boto, Inia sp. (de Blainville, 1817; Iniidae), com a pesca na Amazônia Oriental Iara Ramos dos Santos (Universidade Federal do Pará), Gabriel Melo Alves dos Santos (Universidade Federal do Pará) e Angélica Lúcia Figueiredo Rodrigues (Universidade Federal do Pará). Contato: [email protected]. O boto Inia sp. no imaginário popular é personificado como um ser mágico e desperta, principalmente, sentimentos de vingança e afinidade nas populações Amazônicas influenciando as relações desta espécie com a prática pesqueira, reconhecida como conflituosa na região. Neste cenário, o trabalho registra duas diferentes interações do boto com a atividade de pesca. O estudo foi realizado em dois municípios paraenses, Ourém, região do médio rio Guamá, em junho de 2012 e em Mocajuba, baixo rio Tocantins, em novembro de 2013. Foram entrevistados 17 pescadores, 10 em Ourém (média=48 anos de idade) e sete em Mocajuba (média=53 anos de idade). Duas percepções foram registradas, a primeira de que o animal é “malino” e “traiçoeiro”, tratam-se os botos que forrageiam oportunisticamente e predam os peixes emalhados danificando a rede de pesca. A segunda são os chamados botos mansos apontados como “amigos do pescador” que acompanham a pesca do paredão (curral de pesca) em Mocajuba, de março a junho, e a pesca da fisga (pescaria com arpão) em Ourém de setembro a novembro. Práticas onde o pescador aproxima os botos do seu artefato de pesca oferecendolhe pescado, e este com seu hábito de forrageio sinaliza os cardumes na pesca da fisga e os encurrala direcionando os peixes para o paredão, aumentando o rendimento pesqueiro. A prática pesqueira e seu respectivo artefato sustentam a inclinação dos pescadores em perceber o boto como uma espécie a ser conservada, pois esta prática reforça apenas o valor utilitarista do animal tendo como base a satisfação humana. Percebemos que o boto está na interface do real e do simbólico assumindo a função de animal bom ou mau dependendo da contribuição ou prejuízos econômicos gerados aos humanos por sua proximidade territorial e dependência dos mesmos recursos. Os estudos direcionados a esta temática devem levar em consideração os fatores sociais e ambientais que norteiam essas interações a fim de subsidiar medidas conservacionistas para Inia sp. Agradece-se à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e Cetacean Society International. Agradecemos aos pescadores e interlocutores pela troca de experiencias, em especial o Sr. Orlandino, pescador do município de Ourém. 131 O pensamento Suruwaha sobre animais e caça Miguel Aparicio (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Contato: [email protected]. No mundo em transformação que os Suruwaha do vale do Purus concebem, os animais são exhumanos, a partir de metamorfoses originadas em conflitos de socialidade. As narrativas sobre antas, queixadas, sucurijus, etc. insistem nesta dinâmica transformacional das pessoas que “viraram animais”, tornando-se para os humanos jadawakyba, “ex-pessoas”. Para os Suruwaha, há uma condição originária própria de humanos que, alterada pela quebra da socialidade, dá origem a um novo estado de humanos–transformados–em–animais, que produz a descontinuidade das espécies. Apresento os resultados de uma pesquisa de campo focada na etnografia da caça e atenta aos conceitos suruwaha sobre os animais, inscritos nas narrativas e nas práticas venatórias deste grupo indígena das terras-firmes do interflúvio Purus-Juruá, na Amazônia ocidental. Interessam-me as dinâmicas de subjetivação perspectivista que definem o pensamento suruwaha sobre fauna e caça. A dinâmica de produção de alteridades que a etiologia descrita nas narrativas suruwaha manifesta é atualizada na experiência da caça, onde reaparece o conflito de socialidade entre humanos e animais transformados em presas (bahi). A caça é concebida a partir de experiências de mal-estar e tensão entre os homens, os animais e seus mestres-donos. As relações com os animais oscilam entre movimentos de predação e domesticação, que fundam de modo paradoxal concepções de adoção predatória e de contrapredação. Para os Suruwaha, zamatymyru (“coisas saborosas”) se refere aos animais em que se destaca uma relação de predação (bahi, as presas dos caçadores), enquanto igiaty ressalta a condição de adoção (os animais familiarizáveis, wild pets). Os Suruwaha propõem um contraste qualitativo entre os seres ‘predáveis’ (os zamatymyru) e os seres ‘adotáveis’ (os igiaty), instaurando uma relação baseada em diferenças de socialidade. Estas diferenças são relevantes inclusive na concepção nativa de humanidade, como mostram as narrativas sobre os irmãos ancestrais (os “primeiros humanos”) e sua relação com os jaguares, demiurgos “fundadores da cultura”. No mito suruwaha, a relação de predação dos jaguares/avós-adotivos/predadores sobre os humanos/netos-adotivos/presas inverte-se num desfecho predador dos humanos sobre os jaguares. A ideologia suruwaha parece sustentar uma atitude proativa dos humanos, que movimenta um paradoxo entre a adoção predatória do jaguar sobre os humanos e a contrapredação, como atitude reversa destes sobre os jaguares. Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O tema solos nos livros didáticos: estudo de caso Tarcísio Tomas Cabral de Sousa (Universidade Federal de Campina Grande), Adriana de Fátima Meira Vital (Universidade Federal de Campina Grande), Leonardo Palhares da Silveira (Universidade Federal de Campina Grande) e Raunira da Costa Araujo (Universidade Federal da Paraíba). Contato: [email protected]. A degradação dos solos, resultado das ações antrópicas pouco sustentáveis, avança por todos os ambientes, com consequências comprometedoras para a manutenção da vida, tais ações se sustentam, entre outros fatores, na ausência de informações sobre este recurso natural e passam necessariamente pelo conhecimento do solo e de sua importância como componente essencial dos ecossistemas terrestres, que devem ser adquiridas desde os primeiros anos 132 escolares. Sendo urgente a disseminação dos conceitos sobre os solos, na perspectiva da Educação em Solos, buscando despertar a conscientização ambiental e a minimização dos impactos lesivos à Natureza. Assim considerando, objetivou-se com a presente pesquisa investigar a abordagem do tema solos nos livros didáticos de Geografia, Ciências e Biologia, adotados numa escola de ensino básico do município do Coxixola, microrregião do Cariri Paraibano. Foram analisados todos os capítulos dos livros em questão para verificar sua abordagem através de observações e leitura, observando se as ilustrações presente relatam a realidade e atividades de fixação de conhecimento sobre o tema solo. Através da pesquisa revelou uma situação bastante comum quando se considera o estudo do ‘solo’: que o tema não é abordado em todas as séries do ensino básico, dos 14 livros observado apenas 7 aborda o tema, estando ausente justamente quando há mais necessidade de ser discutida sua importância que são nas series iniciais do ensino fundamental, onde deveria ser uma formação continuada em todas as series do ensino fundamental e médio, porém não é o que observamos visto que os livros utilizados na disciplina de ciências e geografia do 6º ano do ensino fundamental o tema é abordado de forma leviana ou seja em poucas paginas, só então no 1º e 2º ano do ensino médio é que o tema novamente vai ser discutido no livro de Biologia do 1º ano do ensino médio e no livro de Geografia em todo os anos, porem abordado de forma paralela, abordado em pouco conteúdo e alguns parágrafos com afirmações incorretas quando fala que " O solo é um produtos renovável" e sabemos que esse recurso não é renovável. Foram analisada toda a coleção de Geografia ensino fundamental e médio, Ciências do ensino fundamental e Biologia do 1º ao 3º ano do ensino médio, através dos resultados obtidos foi possível evidenciam uma grande lacuna na abordagem do tema nos livros. Agradece-se ao Programa de Ações Sustentáveis para o Cariri (PASCAR). Palmas como lugar: a percepção dos agricultores familiares sobre a capital do estado do Tocantins, Brasil Eliane Marques dos Santos (Universidade Federal do Amazonas) e Sandra do Nascimento Noda (Universidade Federal do Amazonas). Contato: [email protected]. Palmas é a mais nova capital do Brasil e sua construção planejada atraiu muitos moradores pela possibilidade de emprego e geração de renda. O objetivo deste estudo é identificar os laços afetivos dos agricultores familiares da feira 304 Norte com a cidade de Palmas, estado do Tocantins. Para compreender as inter-relações no ambiente, adotou-se a abordagem sistêmica e como método de investigação o estudo de caso. Foram utilizadas as técnicas de pesquisa: observação simples e entrevista. Para estruturação da entrevista selecionou-se as questões: Há quanto tempo reside em Palmas? Porque você veio morar nessa região? O que você gosta e o que você não gosta em Palmas? Se não fosse agricultor, qual outra ocupação você teria? Como você acha que estará Palmas daqui a 10 anos? Discutiremos através das variáveis as respostas obtidas dos dez sujeitos, aqui categorizadas em grupos. Nas variáveis identidade e características individuais, foram investigadas 4 pessoas do sexo feminino e 6 do sexo masculino. Estes sujeitos representam 40% dos agricultores desta feira e foram selecionados por produzirem no município de Palmas. No que tange à experiência, sessenta por cento dos questionados vieram de outros estados atraídos pela nova capital e o tempo de permanência na cidade varia de 12 a 26 anos, sendo que como agricultor a maior parte do tempo. Estes dados foram relacionados com a variável sistema de valores, na qual procurou-se identificar os sentimentos topofílicos. Ao serem questionados sobre o que gosta em Palmas, a maioria 133 afirmou terem se acostumado ao lugar e o sentimento de pertencimento foi atribuído especificamente à área de sua propriedade. Nas falas afirmaram que lá possuem: “tranquilidade, a família, pessoas boas com quem convive, sustento” e apenas um entrevistado afirmou a “paisagem do lugar” como atrativo. E sobre o que não gostam, dois entrevistados apontaram que se mudaria para outro espaço, e os demais não manifestaram desgosto com o lugar. Todos apresentaram uma expectativa positiva de expansão da agricultura familiar de Palmas para os próximos dez anos, o que seria bom para eles. Constata-se que a necessidade de adequação ao espaço e sobrevivência através dele, faz com que as pessoas desenvolvam uma relação e um conhecimento do meio de maneira que lhe seja útil, nesta relação criam-se laços que unem o ser humano ao lugar ao qual ele atribui valores e constrói sua identidade cultural e histórica. Agradece-se à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Rede de Estudos Agroecológicos Amazônicos e NETNO. Papeis culturais de plantas conhecidas em comunidades quilombolas do litoral de Santa Catarina, Brasil Kenia Maria de Oliveira Valadares (Universidade Federal de Santa Catarina) e Natália Hanazaki (Universidade Federal de Santa Catarina). Contato: [email protected]. As relações entre comunidades humanas e espécies vegetais permitem compreender o valor prático que o conhecimento biológico tem para uma determinada cultura. Espécies com maior relevância cultural estão associadas ao modo de vida das comunidades, permitindo avaliar a importância cultural de espécies que possuem um papel fundamental no sistema sócioecológico. Os papeis culturais das espécies podem ser definidos a partir de métricas como o Índice de Significado Cultural (ISC) e Indicadores de Espécie Chave Cultural (ECC). Este trabalho objetiva investigar as espécies definidas como culturalmente importantes por três comunidades quilombolas, Aldeia (AL), Santa Cruz (SC) e Morro do Fortunato (MF), a partir da análise de padrões gerais no uso, manejo e significado cultural das plantas. De um total de 184 entrevistas, 174 informantes relataram plantas importantes (AL=64, SC=48, MF=62) e 147 reconheceram plantas imprescindíveis para a sobrevivência e persistência das comunidades (AL=45, SC=45, MF=57). Através do ISC, destacou-se Citrus sinensis (L.) Osbeck (AL, SC, MF=6), Musa paradisiaca (L.) (AL=4,65, SC=4,2, MF=6), Zea mays (L.) (AL=3,4, SC= 1,95, MF=5,4), Psidium guajava (L.) (AL=4,2, SC=2,8, MF= 3,2) e Manihot esculenta (Crantz) (AL=2,82, SC=1,68, MF=2,9). A partir dos indicadores de ECC, obteve-se maiores pontuações para M. esculenta (AL=31, SC=27, MF=32), C. sinensis (AL=30, SC=27, MF=29), M. paradisiaca (AL=29, SC=23, MF= 31) e P. guajava (AL=23, SC=22, MF= 27). Em relação às plantas eleitas como importantes e imprescindíveis, obteve-se correlação positiva na Aldeia (0,77), decrescendo em Morro do Fortunato (0,68) e Santa Cruz (0,55). O conjunto de plantas com maior importância cultural é similar nas três comunidades, com destaque para as plantas cultivadas, especialmente as alimentícias. O uso é um forte argumento para atribuição de importância, expresso nas justificativas dos informantes e nas métricas utilizadas. A maioria das plantas citadas como importantes e imprescindíveis possuem baixo valor de saliência e priorização. Tais inferências têm especial relevância como um parâmetro de conservação ecológica e cultural no atual contexto das comunidades quilombolas. Agradece-se ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Federal de Santa Catarina. 134 Papeis ecológicos de plantas conhecidas em comunidades quilombolas do litoral de Santa Catarina, Brasil Kenia Maria de Oliveira Valadares (Universidade Federal de Santa Catarina) e Natália Hanazaki (Universidade Federal de Santa Catarina). Contato: [email protected]. Interações ecológicas podem ser bons indicadores de funções ecológicas exercidas por diversas espécies. O Conhecimento Ecológico Local pode destacar espécies com diferentes papeis a partir do reconhecimento de interações ecológicas e suas implicações. Este trabalho objetiva analisar percepções humanas sobre os papeis ecológicos de recursos vegetais em três comunidades quilombolas, de acordo com o Conhecimento Ecológico Local. As comunidades estudadas foram Aldeia (AL), Santa Cruz (SC) e Morro do Fortunato (MF), e possuem gradiente decrescente de urbanização. Foram feitas 184 entrevistas, das quais 141 descreveram interações ecológicas (AL=50, SC=41, MF=50), classificadas pelas pesquisadoras a posteriori. Não houve diferença significativa na média de citações de plantas com interações ecológicas (Kruskall-Wallis H=0,9968, p=0,6075). Das espécies de plantas citadas, 78,14% (AL), 65,88% (SC) e 50,43% (MF) apresentaram interações com animais; e 21,86% (AL), 31,5% (SC) e 49,57% (MF) apresentaram interações com plantas. Tais diferenças foram significativas (= 57,376, p < 0,0001). As interações com plantas relataram competição (51,47%, 78,65%, 59,06%), inquilinismo (20,59%, 3,37%, 9,36%), facilitação (10,29%, 12,36%, 23,98%), inibição (8,82%, 2,25%, 6,43%) e tolerância (11,76%, 5,62%, 13,45%) na Aldeia, Santa Cruz e Morro do Fortunato, respectivamente. Parasitismo, amensalismo e mutualismo foram menos relatados. Quanto às interações com animais, houve relatos de herbivoria (69,55%, 81,96%, 81,03%), inquilinismo (8,23%, 20,62%, 10,34%), parasitismo (11,93%, 12,37% e 12,64%), polinização (11,52%, 10,31% e 12,64%), dispersão (0,41%, 14,43%, 6,32%) e amensalismo (6,58%, 14,43% e 6,32%), na Aldeia, Santa Cruz e Morro do Fortunato, respectivamente. As plantas que apresentaram maior número e diversidade de interações foram Citrus sinensis (L.) Osbeck, Musa paradisiaca (L.), Psidium guajava (L.), Zea mays (L.), Lactuca sativa (L.) e Phaseolus vulgaris (L.). Tais interações foram com animais predominantemente nativos das famílias Apidae, Atelidae, Canidae, Caviidae, Corvidae, Elapidae, Formicidae, Thraupidae, Trochilidae, Turdidae, Tyranidae, e Viperidae, principalmente. Conclui-se que os quilombolas percebem mais interações ecológicas entre plantas cultivadas e a fauna local. Tais percepções podem estar relacionadas ao contato com o meio natural, representado pela predominância de atividades rurais dos informantes que mais relataram interações ecológicas. Agradece-se ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Federal de Santa Catarina. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Santa Catarina sob o registro (18847013.0.0000.0121, 14/08/2013). O projeto de pesquisa que embasou o presenta trabalho também foi analisado pelo Instituto Patrimônio Histórico e Artístico Nacional sob o registro (01450.012607/2013-20). Percepção de cultivadoras sobre o clima na Amazônia e seus efeitos no agroecossistema de Várzea Sandra Helena da Silva (Universidade Federal do Amazonas) e Sandra do Nascimento Noda (Universidade Federal do Amazonas). Contato: [email protected]. 135 O presente estudo é parte de um projeto de tese desenvolvido na área ambiental, o qual analisa a participação de cultivadoras na sustentabilidade dos agroecossistemas de duas Ilhas fluviais na Amazônia. Objetiva-se nesta produção sintetizar as percepções das cultivadoras quanto as recentes mudanças climáticas e os efeitos nos agroecossistemas e no modo de vida de agricultores de áreas de várzea. O estudo foi realizado nas Ilhas do Valha Me Deus e Chaves, ambas localizadas em ambientes fluviais, à jusante do rio Amazonas, entre os extremos dos Estados do Amazonas e Pará, pertencendo ao município de Juruti, Pará. Na Ilha do Valha Me Deus residem uma população de 213 pessoas, sendo 114 homens e 99 mulheres distribuidas em 65 famílias. Na Ilha do Chaves residem 182 pessoas, sendo 91 homens e 91 mulheres, distrubuídas em 37 famílias. Como matriz teórica tem-se o paradigma dialético da complexidade sistêmica, permitindo a compreensão do ambiente como um complexus, no qual cada parte é tecida juntamente com o todo, num movimento de circularidade e interdependência. Como abordagem de pesquisa de campo foi realizado o estudo de caso, utilizando técnicas de entrevista, observação e aplicação de formulário. Participaram da pesquisa dezessete cultivadoras, sendo oito do Valha Me Deus e nove do Chaves. Como critério de inclusão na pesquisa buscou-se aquelas mulheres que apresentavam uma interação direta com atividades de cultivo no agroecossistema das Ilhas. Os resultados indicaram frequentes mudanças climáticas na região Amazônica em decorrência dos fenômenos ‘El Nino’ e ‘La Nina’, e das pressões antrópicas; o aumento médio de 1,0 metro no volume das aguas do rio Amazonas a partir de 2009, influenciando diretamente no pulso das aguas e no ritmo de vida destes povos. Os dados de campo indicaram, a partir das percepções das cultivadoras, uma diminuição na diversidade dos sistemas produtivos agrícolas, no período pós enchente de 2009, abandono dos plantios das espécies frutíferas; introdução da criação de gado branco e bubalinos, sem manejo adequado, principalmente na Ilha do Valha Me Deus. As cultivadoras observaram maior lentidão na vazante do rio, ocasionando atrasos e perdas nos plantios e prejuízos nas colheitas. Observou-se a existência de uma associação simbiótica entre os seres humanos, as aguas e as terras na Amazônia e que transformações em qualquer parte destes sistemas traz consequências diretas para o todo ambiental. Agradece-se à Universidade Federal do Amazonas (UFAM) pelo apoio e incentivo no desenvolvimento do doutorado e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo incentivo financeiro para o desenvolvimento da pesquisa. Percepção humana sobre os prejuízos ambientais e socioeconômicos causados por invasões biológicas: os javalis na região do Parque Nacional das Araucárias Graziele Batista (Universidade Federal de Santa Catarina) e Nivaldo Peroni (Universidade Federal de Santa Catarina). Contato: [email protected]. As invasões biológicas são um desafio para a conservação da biodiversidade e dos recursos naturais e podem representar uma ameaça para espécies nativas, ecossistemas e para o bemestar humano. O javali, Sus scrofa (Linnaeus, 1758), é uma espécie exótica invasora no Brasil, sua forma selvagem foi introduzida na década de 60, e pode causar diversos prejuízos ambientais e econômicos. A percepção das pessoas sobre as invasoras é decorrente de vários fatores, incluindo opinião pública, aparência, interação e conhecimento sobre a espécie. A hipótese deste trabalho é que as pessoas percebem o javali como uma espécie problema devido aos prejuízos causados na agricultura, embora possam considerar aspectos positivos relativos a prática da caça. Assim, o objetivo deste trabalho é compreender a percepção humana sobre os prejuízos ambientais e econômicos causados por javali na região do Parque Nacional das 136 Araucárias (PNA). O conhecimento sobre os prejuízos ambientais e econômicos causados pelo javali será utilizado para embasar discussões sobre o manejo do javali na região. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com pessoas residentes e/ou que trabalham em propriedades inseridas no PNA e em quatro comunidades do entorno. As entrevistas foram realizadas em 36 unidades familiares constituídas majoritariamente de proprietários rurais e a análise de dados foi descritiva. Os colaboradores relataram que javalis já foram observados na maioria das propriedades (94,4%) e que vestígios do animal são observados diariamente (69,4%). A convivência entre os proprietários rurais da região com o javali é vista como negativa (86,1%) por causa dos prejuízos na lavoura, entretanto algumas pessoas relatam que um aspecto positivo é a caça deste animal (11,1%). A maioria dos entrevistados relatou que o javali causa prejuízos nas plantações de milho (82,8%) e soja (34,5%). Em relação aos ambientes, a maioria considera que o javali traz algum impacto negativo (58,3%) e citaram prejuízos para outros animais (69,4%), para as plantas (41,7%), água (33,3%), solo (19,4%) e para Unidades de Conservação (11,1%). Os colaboradores relataram que a espécie interfere negativamente na regeneração de espécies nativas da flora (27,8%) e as plantas mais citadas utilizadas como alimento pelo javali foram araucaria (91,7%) e guabiroba (47,2%). Em relação a fauna, relataram que ele pode atacar filhotes de animais silvestres ou competir com esses por recursos (30,6%). A percepção das pessoas da região do PNA é que o javali têm causado prejuízos econômicos e ambientais na região afetando, principalmente, as plantações de milho e a fauna e flora nativas. Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ao PPG em Ecologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), ao IBAMA e ao ICMBio pelo apoio, ao gestor do PNA, à ADAMI pela parceria, aos colegas de campo (Juliano Bogoni e Anna da Silva) e colaboradores. Quintais como sistemas socioecológicos: efeitos da urbanização e tamanho na riqueza de espécies Yan Victor Leal da Silva (Universidade do Estado de Minas Gerais), Geisa Gabriela da Silva (Universidade do Estado de Minas Gerais), Alessandra Suriani Martins (Universidade do Estado de Minas Gerais), Danilo Vasconcelos de Morais (Universidade do Estado de Minas Gerais), Carine Silva Gonçalves (Universidade do Estado de Minas Gerais), Priscila Suely Rodrigues Costa (Universidade do Estado de Minas Gerais) e Emmanuel Duarte Almada (Universidade do Estado de Minas Gerais). Contato: [email protected]. Os quintais urbanos representam espaços de grande interesse para o estudo etnoecológico dos aspectos culturais da biodiversidade. Quintais e hortas comunitárias fornecem diversos serviços ecossistêmicos tais como o aumento da permeabilidade dos solos, fornecimento de alimentos, plantas medicinais e manutenção dos saberes ecológicos tradicionais. Ecologicamente, os quintais podem ser compreendidos como ilhas e investigados a partir de abordagens biogeográficas. O objetivo central do presente estudo é compreender os fatores biofísicos e socioculturais que regulam a biodiversidade associada a quintais urbanos. São objetivos específicos: i. avaliar as correlações entre o tamanho e impermeabilização dos quintais, grau de urbanização do bairro e a riqueza de espécies vegetais e ii. descrever os saberes e práticas associados ao manejo dos quintais. Utilizando abordagem quali-quantitativa, a pesquisa foi realizada em 105 quintais de dois bairros com diferentes graus de urbanização, Bairro A, altamente urbanizado e Bairro B, pouco urbanizado, do município de Ibirité, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Por meio da aplicação de entrevistas semi-estruturadas, registraram-se os saberes ecológicos dos moradores, a biodiversidade e as características físicas dos quintais. Ao todo foram encontradas 288 espécies nos quintais investigados. O Bairro B 137 apresentou a maior riqueza de espécies (244) enquanto no bairro urbanizado foram registradas 177 espécies. No Bairro A, o grau de impermeabilização dos quintais não apresentou efeito significativo na riqueza de espécies. Por outro lado, no Bairro B, os quintais mais impermeabilizados apresentaram os menos valores médios de riqueza de espécies. Esses resultados indicam que não apenas as características estruturas do quintal, tamanho e impermeabilização, mas também aspectos socioeculturais, influenciam na sua riqueza de espécies. Ressalta-se ainda que foram registradas nos quintais dezenas de espécies ruderais de uso alimentício e medicinal, reforçando a importância desses ambientes para políticas de fortalecimento da segurança alimentar e nutricional nas cidades. Saliente-se ainda que o registro dos saberes ecológicos tradicionais sobre o uso e manejo da biodiversidade torna-se cada vez mais urgente frente às rápidas mudanças culturais em curso. Esses saberes, historicamente marginalizados, podem se tornar, em um futuro próximo, a "pedra angular" de uma sociedade socialmente justa e ecologicamente viável. Agradece-se à todos os informantes pela disponibilidade em participar da pesquisa e ao PAPq/UEMG pela concessão das bolsas de pesquisa. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado de Minas Gerais sob o registro 30852514.5.0000.5525. Representações sobre mudanças temporais na paisagem de uma comunidade rural do oeste da Bahia Antônia Edna Magalhães Rêgo (Universidade Federal do Oeste da Bahia), Viviany Teixeira do Nascimento (Universidade do Estado da Bahia) e Patrícia Muniz de Medeiros (Universidade Federal do Oeste da Bahia). Contato: [email protected]. As populações locais detêm informações úteis sobre as mudanças na cobertura vegetal, uma vez que desempenham um importante papel na exploração do meio ambiente. Esse estudo se valeu de uma história oral temática conduzida com cinco representantes da comunidade e que foram reconhecidos pelos demais como detentores de conhecimento ecológico tradicional, e teve por objetivo capturar elementos da relação das pessoas com o ambiente em que vivem para verificar como as pessoas percebem as mudanças na paisagem ao longo do tempo. A partir dessa técnica, todos os entrevistados indicaram que, houve mudanças negativas do ponto de vista de conservação na paisagem da comunidade. Quanto aos motivos da tal mudança, não houve um consenso entre os entrevistados, pois 60% afirmaram que foi por falta de chuva, 20% por causa do plantio e os demais atribuíram outras causas ou não as indicaram. Dentre os entrevistados, 60% relataram que houve uma diminuição na oferta de trabalho na região, uma vez que as práticas agrícolas estão diminuindo nessa comunidade. Esse resultado é justificado pela migração dos homens mais jovens para centros urbanos, uma característica evidente nessa comunidade, que revela uma média de idade de 50 anos para os homens chefes de família. Foi possível observar também que, dentre os entrevistados que ressaltaram que houve mudanças negativas do ponto de vista de conservação, 80% relataram que houve mudança para melhor na qualidade de vida. Em relação aos principais eventos históricos ocorridos na comunidade que foram responsáveis pela modificação na paisagem, os entrevistados se restringiram a relatar apenas os eventos que de certa forma melhoram a qualidade de vida das pessoas, de forma que todos relataram a construção da estrada e a mudança na estética das casas e 60% relatam a chegada de energia. As informações geradas com este trabalho são importantes para implantação de um projeto de restauração florestal na região, que deve envolver a população 138 local, levando em consideração as necessidades de manejo e uso das espécies e tentando aliar aspectos ambientais com a qualidade de vida. Agradece-se à Universidade Federal do Oeste da Bahia. À comunidade de Sucruiu, Barreiras, bahia, pela acolhida e contribuição inestimável à execução deste trabalho. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, por meio da Plataforma Brasil sob o número CAAE 07488513.4.0000.5026. Representações sobre o Rio Grande por estudantes do 9º ano do ensino fundamental dos municípios Wanderley e Cotegipe, Bahia Claudina Barreto Chagas (Universidade do Estado da Bahia), Jaqueline Pereira Jorge (Universidade do Estado da Bahia), Luzivelte da Silva Matos (Universidade do Estado da Bahia), Antônia Edna Magalhães Rêgo (Universidade Federal do Oeste da Bahia), Viviany Teixeira do Nascimento (Universidade do Estado da Bahia) e Patrícia Muniz de Medeiros (Universidade Federal do Oeste da Bahia). Contato: [email protected]. Investigações sobre percepção ambiental vêm aumentando nos últimos anos, porém poucos estudos têm focado diretamente nos jovens. Esse estudo objetivou investigar as representações locais acerca do Rio Grande por estudantes do 9º ano de três escolas municipais, localizadas na zona urbana do município de Wanderley, Bahia, e nos povoados rurais de Macambira e Taguá, Cotegipe, Bahia. O referido rio banha diretamente os povoados rurais foco da pesquisa e, embora esteja próximo à zona urbana de Wanderley, não a banha diretamente. Os alunos foram estimulados a fazer redações e desenhos com o seguinte estímulo: “Quando penso no rio Grande, vejo...”. Os elementos dos desenhos e das redações foram classificados em categorias, de maneira que a frequência de tais categorias foi comparada entre as escolas por meio de teste G em tabelas de contingência. Os dados qualitativos foram analisados por meio do discurso do sujeito coletivo. Os alunos da zona rural, Macambira e Taguá, atribuíram ao Rio Grande maior número de elementos relacionados à ação e utilidade, enquanto que na zona urbana de Wanderley destacaram-se os adjetivos e os elementos antrópicos (barcos, cadeiras etc.). Houve diferenças significativas entre as três escolas quanto à proporção de elementos destacados nas redações (p<0,05). Observou-se que as representações de alunos da zona urbana de Wanderley, que não dependem diretamente do rio, remetem a aspectos contemplativos e descritivos, enquanto que os alunos das zonas rurais margeadas pelo mesmo possuem representações influenciadas pela importância do rio na subsistência de sua família. Também foram encontradas diferenças significativas nas proporções dos elementos representados nos desenhos (p<0,05), embora, com esse estímulo, os elementos bióticos obtiveram destaque nas três escolas. Esse estudo contribui para a ideia de que proximidade e dependência de um recurso ou paisagem exerce influência direta nas representações locais sobre estes. Agradece-se à Universidade do Estado da Bahia. Aos alunos do 9º ano de três escolas municipais, situadas no município de Wanderley, Bahia, e nos povoados rurais de Macambira e Taguá, Cotegipe, Bahia. Os autores declaram que o presente estudo não acessou o conhecimento tradicional. Territorialidade e segurança alimentar e nutricional entre Mbyá Guarani da Terra Indígena Cantagalo 139 Carolina Silveira Costa (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Araci da Silva (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Gregori Turra (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Rafaela Biehl Printes (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Gabriela Coelho-de-Souza (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e Rumi Regina Kubo (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Contato: [email protected]. Desde 2009 os Núcleos DESMA e NESAN vêm trabalhando junto aos indígenas Mbyá Guarani, estabelecendo uma interlocução com as comunidades do Rio Grande do Sul e acompanhando as dinâmicas sociais, políticas e cosmológicas desses grupos, como uma forma de contribuir para o reconhecimento dos seus direitos. Um dos temas transversais nas ações desenvolvidas referese à questão da segurança alimentar e nutricional (SAN). Com o objetivo de problematizar sobre a questão da segurança alimentar entre os Mbyá Guarani, foram construídos mapas temáticos da aldeia pelos próprios indígenas (por meio de técnicas de etnomapeamento), além disto, foram realizadas oficinas de uso de GPS e caminhadas guiadas na Terra Indígena Cantagalo (tekoá Jataí'ty e tekoá Ka’aguy mirim) para identificação dos pontos relacionados. Os etnomapas apresentaram dois cenários da situação territorial e ambiental dos Mbyá. Através de desenhos feitos em papel vegetal sobreposto à imagem de satélite, os indígenas representaram no primeiro etnomapa “aquilo que deixa o Mbyá feliz” (Orema kova’e roguero vy’a), como espécies da fauna e da flora nativa, a presença de roças com cultivos tradicionais, recursos hídricos e os animais de criação. O segundo etnomapa intitulado: “nós não queremos mais que os juruá nos incomodem” (Juruá kuery ndoroipotaveima oremo angueko), apresentou as problemáticas relacionadas ao constrangimento causado aos Mbyá pelas invasões na Terra Indígena por parte dos lindeiros. Nas caminhadas guiadas foi possível verificar nas áreas limítrofes da TI situações de invasão por parte de propriedades vizinhas, que vem utilizando dos recursos naturais locais, com derrubada de árvores nativas para uso da madeira, plantação de Pinus e eucalipto, lavouras de milho e aipim e uso ilegal do solo, contribuindo para a escassez de recursos disponíveis na TI e dificultando o acesso a sustentabilidade dos Mbyá no território. A partir dos dados gerados nas ações descritas acima, o grupo (indígenas e envolvidos no projeto) objetiva desenvolver ações condizentes com as demandas diagnosticadas, tais como a implantação de um viveiro de mudas de espécies nativas, necessárias como matéria prima para a produção de artesanato e incremento da biodiversidade, a fim de promover maior autonomia dos coletivos Mbyá Guarani. Agradece-se à comunidade Guarani mbyá. Uso tradicional do mandacaru, Cereus jamacaru DC., 1828, Cactaceae: uma opção forrageira de emergência (cattle famine food) em agrecossistemas do semiárido baiano Daniel Lima Martins (Universidade Estadual de Feira de Santana) e José Geraldo Wanderley Marques (Universidade Estadual de Feira de Santana). Contato: [email protected]. As secas nordestinas são um fenômeno imprevisível, recorrente e inevitável. Há notícia de que a mais recente (2007 a 2012) foi responsável pela mortandade e fome de mais de um milhão de bovinos no Semiárido baiano. Tal nível de mortandade é histórico, apesar de táticas que o sertanejo utiliza. Dentre estas, encontra-se o recurso a forrageiras nativas que só são utilizadas em períodos críticos (cattle famine foods), como a cactácea colunar Cereus jamacaru DC., 1828, conhecida por mandacaru. Este trabalho objetivou: 1) verificar e descrever o fluxo que vai desde o corte dos artículos até sua oferta aos animais; 2) verificar se há um momento ótimo para a 140 tomada de decisão quanto ao uso da planta; 3) explorar alternativas que venham a otimizar o seu uso; 4) avaliar possíveis implicações etnoconservacionistas. Para atingi-los recorreu-se aos arquivos do GEPEC-UEFS (Grupo de Estudos e Pesquisas em Ecologia & Cultura da Universidade Estadual de Feira de Santana), foram entrevistados pecuaristas de pequena escala (n=5,amostra intencional baseada no conhecimento prévio das capacidades individuais) e foi feita observação direta acompanhada de tomada de fotografias. Os dados foram analisados por meio de modelagem gráfica de fluxos e tomadas de decisão. Os resultados mostraram que se trata de uma conexão homem/vegetal do tipo trófico indireto antiga, forte e persistente, porém com sinais de evanescência. Os agricultores conectam-se com o cacto seguindo um fluxo comportamental geral e previsível com pequenas variações, geralmente com cinco passos que incluem a obtenção dos artículos por coleta, compra ou partilha de recursos. Para que se dê a conexão, antes são esgotadas de modo escalar todas as possibilidades forrageiras, normalmente seguindo-se sequencialmente três tomadas de decisão: pós-esgotamento das forragens nativas, pós-esgotamento do estoque de palma forrageira e pós-esgotamento dos recursos da silagem. . O plantio do mandacaru é raro, inclusive da variedade sem espinho, a qual poderia otimizar o seu uso forrageiro. Quanto à etnoconservação, há diferentes atitudes por parte dos agricultores, as quais podem ser conservacionistas intencionais (e.g., altura dos cortes) ou predatórias (e.g., derrubada intencional). Considerada a importância da conexão e a gravidade da previsível intensificação da seca nordestina pelas atuais mudanças climáticas, conclui-se pela necessidade urgente de uma avaliação geral e aprofundada da conexão, incluindo aspectos etnoecológicos, e de uma avaliação agronômica que possa otimizá-la, com conseqüente ação extensionista e de educação ambiental. Agradece-se ao Engenheiro Agrônomo Saullo Daniel e ao técnico agropecuário Manoel da EBDA por viabilizarem a coleta de informações e pela contribuição em campo. Usos de tracajá, Podocnemis unifilis (Testudine Troschel, 1848), na Estação Ecológica Terra do Meio, Pará, Amazônia Brasileira Ana Débora da Silva Lopes (Universidade Federal do Pará) e Cristiane Costa Carneiro (Universidade Federal do Pará). Contato: [email protected]. Os moradores da Estação Ecológica Terra do Meio (EETM) têm uma relação de pertencimento com o lugar, se reconhecem como sujeitos que fazem parte de um mesmo território, vivem uma cosmografia, entendida como os saberes ambientais, ideologias e identidades – coletivamente criados e historicamente situados – que utilizam para estabelecer e manter seu território. O presente texto trata das experiências vivenciadas em diferentes momentos com os beiradeiros da EETM, enfocando os usos do tracajá (Podocnemis unifilis Troschel, 1848 ). É muito comum no período de agosto a setembro a presença dos tracajás boiando o longo do rio Iriri, tanto o animal quanto os seus ovos são um recurso muito consumido pelos moradores. As experiências vivenciadas com os beiradeiros se deu em diferentes momentos, através da observação participante, observamos as formas de coleta de tracajá e seus ovos, o período e as formas de uso, além dos conhecimentos ecológicos. A coleta tanto dos adultos quanto dos ovos é um momento que envolve a família toda. Os tracajás são capturadas pelos moradores de várias maneiras, dentre elas pode ser no pulo (mergulho), que é quando a pessoa pula na água e agarra o animal, no momento que este sobe para respirar; no anzol, quando o animal é capturado com a utilização de linha e anzol com isca; com o puçá e pode ser coletado também na praia durante a desova. Os ovos são muito apreciados e são preparados de três maneiras, o mujangué, feito a 141 partir dos ovos batidos com açúcar e farinha de mandioca, podendo acrescentar leite ou não (dependendo da disponibilidade do produto e da preferência); cozido com água e sal; e outra forma de consumo dos ovos é o bolo, para o qual se demanda de 30 a 50 ovos. Os animais e os ovos são coletados tanto por adultos quanto por crianças que desde cedo são inseridas nas atividades familiar, aprendendo a identificar os ninhos das tracajás, capturar os animais, experimentando e copiando o “saber fazer” dos mais velhos. Esse copiar é um processo de redescobrimento dirigido, como tal, envolve um misto de imitação e improvisação, em que copiar é imitativo, na medida em que ocorre sob orientação; e improvisar, na medida em que o conhecimento que gera é o qual os iniciantes descobrem por si mesmos. Esse conhecimento etnoecológico tem facilitado e auxiliado o desenvolvimento de pesquisa cientifica, a conservação da espécie e a reprodução do modo de vida dos beiradeiros, sendo uma importante ferramenta para o manejo dessa espécie. Agradece-se à à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo fomento das bolsas de mestrado e doutorado. Ao Instituto Chico Mendes (ICMBio) e programa ARPA e à gestora da Unidade de Conservação EETM. Etnoecologia da pesca A prática tradicional de pesca do Mapará, Hypophthalmus marginatus, denominada borqueio na Ilha Maúba, estado do Pará Josivaldo Correa Pantoja (Universidade Federal do Pará), Antonio Wemerson de Lima Viana (Universidade Federal do Pará) e Silvana de Sousa Pantoja (Universidade Federal do Pará). Contato: [email protected]. O presente trabalho objetiva descrever uma prática tradicional de pesca do mapará Hypophthalmus marginatus, transmitida geracionalmente. Para a realização dessa pesquisa optou-se pela metodologia da história oral, registrando relatos de pescadores e moradores no Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Maúba, região do baixo Tocantins no município de Igarapé Miri, Pará. Os relatos explicam de forma detalhada como se realiza essa estratégia de pesca artesanal chamada de borqueio e sua importância na organização social da comunidade. O borqueio significa bloquear a passagem dos cardumes do mapará com auxilio de dois cascos, cada um com uma rede de pescar e consegue capturar até uma tonelada de peixe por pescaria. A pesca do mapará é realizada no período de março a novembro de cada ano, é realizada por cerca de vinte homens, denominados borqueiadores ou torma, que contam com o apoio e participação de agricultores, extrativistas, peconheiros, marreteiros e outros pescadores. Os borqueiadores incluem crianças, jovens e idosos e são divididos de acordo com as experiências de cada pessoa. Os pescadores mais experientes são chamados de taleiros: são eles que identificam o cardume de peixes, utilizando-se de uma tala e uma sonda. A tala é uma vara extraída da palmeira paxiúba (Socratea exorrhiza) com um diâmetro de aproximadamente 3cm3, seu tamanho varia de 5 a 7 metros. A sonda é um pedaço de chumbo amarrado com nylon em uma boia de isopor. Estes instrumentos são fundamentais para identificar o cardume, a espécie, a quantidade e o tamanho do peixe. A produção bruta da pesca é divida em três partes iguais: a primeira destinada à comunidade, a segunda para os borqueiadores e a terceira para ser comercializada no município de Igarapé-Miri. Vale ressaltar, nesta prática tradicional de pesca, as relações socioambientais e culturais. Os moradores desta comunidade não vão para o borqueio apenas para a captura do pescado, mas também para fortalecer os laços afetivos, as relações de reciprocidade e valorizar o saber tradicional, garantindo a sua apreensão pelas 142 gerações mais jovens; assim como para valorizar práticas culturais importantes para a organização social e econômica da comunidade. Agradece-se aos alunos do Curso de Especialização em Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agroambiental na Amazônia da Universidade Federal do Pará (UFPA), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)/MDA/INCRA nº 407096/2012-4), Bolsistas Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) ATP-A. Ações afirmativas junto as comunidades de pescadores artesanais da bacia hidrográfica do Rio Tramandaí Carolina Silveira Costa (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Loyvana Carolina Perucchi (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Marcia dos Santos Ramos Berreta (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Karin Luisa Lutkemeier (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Gabriela Coelho-de-Souza (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e Rumi Regina Kubo (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Contato: [email protected]. O trabalho visou fornecer subsídios e informações para grupos de pescadores do Litoral Norte do Rio Grande do Sul para reflexão e debate de temáticas referentes às questões que envolvem a categoria e contribuir para o fortalecimento e valorização destas comunidades. A partir do curso de Capacitação para o Fortalecimento da Organização Social das Comunidades de Pescadores Artesanais da Bacia do Rio Tramandaí, destinado às lideranças e demais interessados das comunidades de pescadores da região, desenvolvido em três locais: Barra dos Quirinos, município de Terra de Areia, Tramandaí e Quintão foram abordados temas como populações tradicionais; legislações relacionadas à pesca, gestão dos ambientes pesqueiros e temas genéricos como identidade e territórios. Durante cinco meses aconteceram os encontros nos quais, por meio de exposições de temas calcados em pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento, projeção de vídeos, debates e atividades com uso de metodologias participativas e envolvimento com, uma equipe multidisciplinar, foi possível problematizar sobre os pontos propostos com as comunidades. Nos últimos encontros foi desenvolvida uma atividade de construção de mapas temáticos do território pelos próprios pescadores, na qual foram identificados, na área de abrangência da Bacia Hidrográfica, locais de pesca, de conflitos socioambientais, entre outros. Ao longo das oficinas, foi possível observamos as percepções que os integrantes presentes têm em relação à importância da organização social, territorialidade, meio ambiente entre outras questões sociais, que refletem em sua organização enquanto grupo. Como fechamento das atividades, com o intuito de sensibilizar e aproximar a comunidade que convive com os pescadores artesanais, foram promovidas: exposição de fotos, oficina de manuseio e limpeza de peixes e palestra com pescadores e um representante da EMATER/RS, no Festival Maré de Artes. Os problemas abordados, por sua complexidade, não incorrem em uma situação de pronta resolução, porém, cabe ressaltar, como desdobramento de todas estas atividades, o fortalecimento da categoria para construção do conhecimento a possibilidade de troca de saberes e aproximação de horizontes entre estudantes universitários e locais, professores, pesquisadores e destes com os pescadores, seus problemas, seus dilemas, o que em nosso entender, contribui para a formação cidadã e profissional de todos os envolvidos. Agradece-se aos pescadores, a ONG Associação Nascente Maquiné (ANAMA), PETROBRÁS e EMATER/RS. 143 Compreensão da percepção local sobre mega empreendimento portuário e o futuro da pesca artesanal no norte do Rio de Janeiro, Sudeste do Brasil Camilah Antunes Zappes (Universidade Federal Fluminense), Gabriele Damasceno Simões (Universidade Federal Fluminense), Pablo da Costa Oliveira (Universidade Federal Fluminense) e Ana Paula Madeira Di Beneditto (Universidade Estadual do Norte Fluminense). Contato: [email protected]. O objetivo deste estudo é identificar através da percepção local a interferência do Complexo Logístico Industrial Portuário do Açu (CLIPA) na cultura e economia da pesca artesanal na Barra do Açu, Rio de Janeiro, onde residem 80 pescadores. Entre 2012/ 2013 foram realizadas 90 entrevistas: 30 pescadores artesanais, 30 esposas e 30 filhos. Questionários etnográficos foram aplicados a cada grupo contendo perguntas abertas e fechadas e as análises realizadas separadamente. Como critérios da escolha dos entrevistados: pescadores deveriam ter a pesca artesanal como principal atividade econômica e praticar esta atividade no litoral do norte fluminense; os cônjuges deveriam morar na mesma casa que o pescador há pelo menos 1 (um) ano e os filhos deveriam ter no máximo 18 anos, morar na mesma casa do pai ou mãe pescadores e cursar o ensino fundamental ou médio ou ter saído da escola há menos de 1 (um) ano. Os pescadores atuam principalmente nas lagoas costeiras e em menor escala em rios e no mar e o tempo de pesca na região varia entre 10 e mais de 50 anos. Em sua maioria são homens (87%; n=26) com idade entre 22 e 78 anos e esposas com idade entre 19 e 63 anos. Dos filhos, 57% (N=17) são do sexo masculino com idade entre oito (08) e 18 anos e 43% (N=13) do sexo feminino com idade entre nove (09) e 16 anos. Na percepção dos entrevistados a pesca artesanal será extinta da região: pescadores (70%; n=21); esposas (57%; n=17) e filhos (47%; n=14). Segundo 53% dos pescadores (n=16) o desaparecimento da atividade está relacionado principalmente às ‘atividades do CLIPA’. Para as esposas (47%; n=14) e filhos (67%; n=20) a principal causa do fim da pesca é a ‘poluição despejada ao mar’. Para os pescadores (47%; n=14) e esposas (47%; n=14) a principal solução para minimizar as interferências do CLIPA sobre a pesca e incrementar a atividade seria permitir a prática da mesma em qualquer lagoa costeira. Isso porque o acesso às principais lagoas foi impedido após a instalação do CLIPA. Na percepção dos filhos o incremento da pesca envolve capacitar os pescadores a fim de atuarem em outra profissão (37%; n=11). Alguns pescadores não pretendem parar de trabalhar com a pesca (67%; N=20), pois tal atividade é tradicional. A agricultura como outra atividade tradicional da região está em declínio devido à salinização dos lençóis d’água causada pela abertura do canal construído no CLIPA. Aqueles que desejam mudar de atividade descreveram que estão sendo obrigados a parar de pescar, devido à dificuldade de acesso às lagoas e à salinização. Há o interesse das famílias em mudar para outro município a fim de novas oportunidades de emprego. Torna-se urgente ao poder público planejar o desenvolvimento econômico e social a fim de garantir qualidade de capacitação e empregabilidade. A comunidade acadêmica deve se posicionar através da realização de estudos econômicos, ambientais e culturais do norte fluminense. Agradece-se à Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). Conhecimento dos pescadores artesanais a respeito da biologia e ecologia da pescadafoguete, Macrodon atricauda GÜNTER, 1880 (Perciformes: Sciaenidae) 144 Amanda Alves Gomes (Instituto de Pesca, SAA), Antônio Olinto Ávila da Silva (Instituto de Pesca, SAA). Contato: [email protected]. O conhecimento ecológico local (CEL) de pescadores, gerado de maneira empírica e transmitido de geração em geração, pode ser útil na gestão dos recursos pesqueiros quando combinados com o conhecimento científico. Partindo desta ideia, este estudo teve como objetivo principal investigar o CEL dos pescadores artesanais dos municípios de Praia Grande, Mongaguá e Itanhaém, litoral centro-sul do estado de São Paulo, sobre a Pescada-foguete, Macrodon atricauda, um importante recurso da região. Objetivou-se também verificar as similaridades dos conhecimentos dos pescadores com a literatura científica. O estudo foi desenvolvido durante os meses de Março a Junho de 2014, onde foram realizadas entrevistas através de questionários semi estruturados com 20 pescadores: 8 em Praia Grande, 6 em Mongaguá e 6 em Itanhaém. A escolha dos entrevistados foi feita baseada em indicações de agentes de campo (moradores da região que fazem parte do Programa de Monitoramento da Atividade Pesqueira (PMAP) do Instituto de Pesca-SP). Os aspectos abordados nas entrevistas foram habitat, alimentação e alterações nas capturas ao longo do tempo (aumento/diminuição). A análise dos questionários mostrou similaridades entre o conhecimento dos pescadores e a literatura científica, entretanto, as informações fornecidas pelos pescadores foram mais detalhadas com relação à alimentação da espécie. Em todos os municípios os pescadores citaram itens alimentares que não constam na literatura científica. Não houve diferenças entre o CEL dos pescadores nas localidades no que diz respeito à alimentação e habitat. Esta diferença foi notada apenas em relação às capturas da espécie ao longo do tempo, onde a maioria afirmou que houve uma diminuição nos últimos anos. Entretanto, em Praia Grande e Mongaguá alguns relataram um aumento recente, principalmente nos meses de verão. Por outro lado, em Itanhaém os pescadores relataram apenas o declínio das capturas. As causas mencionadas para o declínio são principalmente a pesca excessiva de grandes embarcações, a poluição marinha e a extração de petróleo. A comparação do conhecimento dos pescadores com a literatura científica sobre a Pescadafoguete revelou muitas similaridades. Além disso, novas informações sobre a dieta alimentar foram fornecidas. Por fim, os pescadores forneceram informações que podem ser úteis na avaliação do estoque de Pescada-foguete na região. Agradece-se à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nivel Superior (CAPES), agência financiadora. Conhecimento ecológico local sobre a garoupa, Epinephelus marginatus (Lowe, 1834) (Teleostei, Serranidae), pelos pescadores do sul da Bahia, Brasil Márcio Luiz Vargas Barbosa Filho (Universidade Estadual de Santa Cruz). Contato: [email protected]. A garoupa apresenta um alto valor econômico no Nordeste do Brasil. Na Bahia, historicamente, a pesca direcionada à espécie é uma atividade secular que apresenta alta saliência cultural, fato verificado, por exemplo, pela existência pretérita de um tipo de embarcação denominada “garoupeira”. Porém, atualmente, os pescadores do sul da Bahia relatam o desaparecimento da espécie dos desembarques e, por isso, essa foi a hipótese analisada no trabalho. Objetivou-se descrever os conhecimentos desses atores sociais, além de discutir suas percepções em relação à dinâmica da captura regional da garoupa ao longo do tempo. Realizaram-se entrevistas estruturadas pela utilização de um formulário e visualmente estimuladas por uma fotografia da espécie a 54 pescadores das cidades de Ilhéus e Uruçuca. Os dados foram analisados por 145 métodos qualitativos e quantitativos, estes últimos baseados em técnicas da estatística descritiva. A idade dos informantes variou entre 18 e 74 anos e todos pescam com linha e anzol em jangadas ou pequenos saveiros a motor. Regionalmente a espécie é conhecida como garoupa ou mero. Os informantes relataram que a espécie costuma habitar e reproduzir nas áreas de pedra (=recifes), mais precisamente nas paredes (=talude continental), região onde também se alimentam de pequenos peixes e mariscos. Tais conhecimentos etnoecológicos locais estão de acordo àqueles contidos na literatura científica. Quinze informantes (27,8%) relataram que há trinta anos conseguiam capturar um elevado número de garoupas em uma pescaria, o que demonstra o conhecimento sobre o comportamento e os locais de agregação da espécie. Entretanto, a maioria (n=47; 87%) argumentou que as garoupas desapareceram das pescarias, 40,7% (n=22) não captura um exemplar há pelo menos 10 anos e 77,7% (n=42) dos informantes acreditam que a espécie esteja localmente extinta. As principais razões apontadas foram os impactos provenientes da pesca considerada predatória (n=21; 38,9%), como o mergulho com compressor, espinhéis e o excesso de redes. Diante desse contexto, recomendase veementemente a adoção de operações de fiscalização que coíbam para a região aquelas formas de pesca proibidas por lei, como é o caso do mergulho com compressor. Ressalta-se a necessidade de que se realizem estudos mais detalhados como forma de viabilizar a implementação de ações de manejo e ordenamento pesqueiro participativo para a conservação da espécie e que considerem as particularidades da cultura pesqueira local. Agradece-se aos pescadores que participaram desse estudo. Conhecimento ecológico local utilizado para co-gestão na pesca: o caso do Tucunaré, Cichla spp. (Cichlidae), na Amazônia Central, Brasil Liane Galvão de Lima (Universidade Federal do Amazonas). Contato: [email protected]. O tucunaré é um peixe muito valorizado pela culinária local, por apresentar uma carne de alta qualidade na preparação de pratos típicos regionais. Além disso, é um peixe bastante perseguido pelos praticantes de pesca esportiva, devido algumas espécies atingirem grande porte, apresentar um ataque violento à isca e, também ter o comportamento agressivo. O objetivo do estudo foi registar o Conhecimento Ecológico Local (CEL) dos pescadores profissionais citadinos e dos pescadores ribeirinhos de subsistência sobre os aspectos bio-ecológicos do peixe, como também, relacionar os mesmos com o conhecimento disponível na literatura científica, a fim de promover a participação dos usuários diretos dos recursos nas atividades de manejo. Comparouse ainda, os conhecimentos entre os tipos de pescadores. Foram realizadas cerca de 57 entrevistas de modo individual, contendo perguntas chaves e também questões abertas, sendo 31 informantes na balsa de desembarque de pescado de Manaus, Amazonas, e 26 informantes na zona rural do município de Manacapuru, Amazonas, durante o período de julho a dezembro do ano de 2002. Foi realizada uma análise comparativa dos dados científicos com o CEL dos pescadores. Os testes estatísticos Z e T foram utilizados, respectivamente, na comparação de proporções, e de dados de valores quantitativos, sendo que a hipótese nula de que as informações eram iguais. Pode-se concluir que o CEL sobre a ecologia e a biologia do tucunaré demonstrado pelos pescadores estudados é detalhado e compatível com a literatura científica nos respectivos aspectos: tamanho e idade em que o peixe começa reproduzir, maturação plena, época de desova, local de desova, tipo de desova e comportamento de cuidados parentais, hábitos alimentares, predação, crescimento até a idade de 3 anos, mortalidade e tamanho de captura da espécie. Somente no aspecto referente a alimentação, os pescadores ribeirinhos 146 foram mais detalhados, indicando maior variedade na dieta do peixe. Observou-se ainda, que as informações sobre fatores relacionados ao uso do recurso são usualmente compatíveis, indicando que pescadores profissionais citadinos e ribeirinhos sejam observadores atentos, entretanto, se fenômenos não afetam diretamente aos interesses dos pescadores, estes tendem a serem ignorados, como verificado quando analisado seus conhecimentos em relação a fecundidade e idade do peixe. Agradece-se ao Programa Integrado de Recursos Aquáticos e da Várzea da Universidade Federal do Amazonas. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nivel Superior (CAPES). Estudo sobre o IV Encontro da Articulação Nacional das Pescadoras: histórico, organização, e principais desafios Marcela Pagani Heringer de Miranda (Universidade Federal do Paraná) e Jessé Renan Scapini Sobczak (Universidade Federal do Paraná). Contato: [email protected]. O referido trabalho é resultado da redação do relatório do IV Encontro da Articulação Nacional das Pescadoras (ANP), no compromisso firmado com as pescadoras de Pontal do Paraná participantes do evento que ocorreu entre os dias 26 e 29 de Agosto de 2014. A ANP surgiu em 2006 a partir da necessidade das trabalhadoras da pesca artesanal se afirmarem como protagonistas na busca pelo reconhecimento de seus direitos e equidade de gênero. Com representantes de 14 estados brasileiros, tem como principais pautas a saúde da mulher na atividade pesqueira, o combate à violência de gênero, a defesa do território pesqueiro e o fortalecimento da identidade das pescadoras artesanais. Como conquistas destacamos a atuação do movimento em nível nacional, promovendo condições para o auto-reconhecimento, para a comunicação e a ciência de direitos das pescadoras artesanais, e consequentemente o empoderamento como sujeitos políticos. Neste ano a Articulação reuniu mais de 100 pescadoras de diversas localidades do Brasil na cidade de Pontal do Paraná, Paraná, com foco nas questões relacionadas às doenças ocupacionais e na garantia dos direitos previdenciários. As pescadoras apontam como principais problemas que ameaçam os territórios e populações pesqueiras: as políticas desenvolvimentistas e o avanço de grandes projetos econômicos privados (carcinicultura, turismo de massa, indústria de energia eólica, indústria petroleira, pesca industrial, complexos portuários, etc). Criticam a froma como o governo respondeu ao convite de se fazer presente no encontro, enviando representantes locais que não tinham conhecimento das causas da ANP.Durante o encontro, as pescadoras apresentaram como principais desafios a regularização dos territórios pesqueiros; a efetivação dos direitos trabalhistas; identificação, reconhecimento e tratamento das doenças ocupacionais da trabalhadora da pesca; o legítimo atendimento do SUS às pescadoras; o combate ao racismo institucional presente nos órgãos governamentais, como: Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA). A ANP apresenta-se como um importante espaço de articulação política das pescadoras artesanais a nível nacional, atuando na efetivação da democracia, da participação nos planejamentos e nas tomadas de decisões, através da luta por direitos, do empoderamento das mulheres e, consequentemente, das comunidades que representam. Agradece-se aos pescadores que participaram desse estudo. 147 Etnoclassificação de Tuviras (Gymnotiformes) por pescadores artesanais no Pantanal sulmatogrossense Fernando Fleury Curado (Embrapa Tabuleiros Costeiros), Debora Karla Silvestre Marques (Embrapa Pantanal) e Rodrigo da Silva Lima (Universidade Federal de Sergipe). Contato: [email protected]. Os estudos de etnoclassificação permitem a compreensão mais aprofundada e qualitativa acerca da biodiversidade e do comportamento de espécies em realidades em que grupos sociais se relacionam intimamente com os recursos da Natureza. No Pantanal Sul Matogrossense, região da Serra do Amolar, a Embrapa, juntamente com pescadores artesanais, realizou a caracterização da diversidade de espécies de tuviras (Gymnotiformes), peixes comumente utilizados como iscas-vivas por pescadores esportivos. O objetivo deste estudo foi identificar o conhecimento tradicional associado à classificação e à ecologia destas espécies por pescadores artesanais. A oficina de etnoclassificação de tuviras foi realizada no Parque Nacional do Pantanal, em outubro de 2013, sendo facilitada por pesquisadores da Embrapa, com o apoio de técnicos da ONG Ecologia e Ação e ICMBio, contando com a participação de trinta pescadores artesanais residentes na Comunidade Ribeirinha da Barra do São Lourenço, Pantanal Sul. Inicialmente foram constituídos três grupos de pescadores (homens e mulheres) com a tarefa de realizar a classificação das espécies que foram previamente acondicionadas em recipientes. Estes peixes foram coletados por pescadores na noite anterior à oficina, por meio de demanda (empreita) realizada pela equipe do projeto para a efetivação do trabalho. Aos pescadores foi solicitada a coleta da maior diversidade possível de espécies nos diferentes locais onde poderiam ser encontradas. Assim, cada grupo se debruçou na classificação das espécies que dispunha. Ao final, os grupos se reuniram e organizaram a classificação numa grande tabela, previamente preparada para este fim. Ao todo foram identificados onze “tipos” de tuviras, sendo coletado, de todos, tecido suficiente para caracterização genética por marcadores moleculares, a fim de complementar as identificações realizadas pelos pescadores. Percebeu-se a significativa diversidade de cores (amarela, listrada, branca) e de formatos do corpo (roliça, arredondada, achatada) e da boca (de corneta, de bugio, com ou sem dente). Também foram obtidas informações sobre o comportamento, hábitat e importância no comércio de iscas. A etnoclassificação das tuviras permitiu o maior conhecimento sobre a importância destas espécies para os atores locais, fornecendo pistas para a definição de estratégias coletivas de manejo e conservação, favorecendo também a definição de políticas públicas relacionadas com a sustentabilidade da atividade pesqueira. Agradece-se aos pescadores artesanais da Barra do São Lourenço, Pantanal Sul. Etnoictiologia da pesca e composição do pescado na ilha de Curupu, Maranhão Layane Krisna Mendes Rilzer Lopes (Universidade Federal do Maranhão), Natannia Rubia Borges de Sousa (Universidade Federal do Maranhão) e Ricardo André Rocha Monteles (Universidade Federal do Maranhão). Contato: [email protected]. A pesca artesanal é uma das atividades econômicas mais importantes das regiões litorâneas brasileiras, fonte de alimento e renda para muitas famílias; é também conhecida por ser causar sérios impactos sobre espécies vulneráveis. A pesca artesanal no Brasil utiliza-se de uma ampla variedade de apetrechos e técnicas, como as malhadeiras, espinhéis, anzóis, currais, tarrafas, 148 tapagens, puçás, entre outros. Este trabalho teve por objetivo caracterizar a atividade pesqueira, seus principais métodos e técnicas e sua relação com a composição do pescado na ilha de Curupu, Maranhão. Foram realizadas conversas informais e entrevistas semiestruturadas com 10 pescadores da comunidade do Canto (formada por 32 famílias), inserida na ilha de Curupu. Utilizou-se o método da Bola de Neve para a seleção dos informantes. As entrevistas foram realizadas nas casas dos pescadores, no período de julho a outubro de 2014. A pesca nessa região é feita essencialmente por meio das redes malhadeira e de zangaria, em um sistema de revezamento, durante 7 dias, utilizam somente a pesca de zangaria; nos 7 dias seguintes somente a pesca com malhadeira, e assim sucessivamente. A zangaria é um apetrecho que se destina à captura de camarão e peixes menores; constitui-se na fixação de estacas que servem de suporte para a rede de malha bem pequena. A malhadeira consiste em uma rede de malha maior, com peso em um dos lados e boias no outro; é arrastada na vertical e voltada para a pesca de peixes maiores. Homens e mulheres participam juntos da pesca (não há divisão sexual das atividades), que ocorre geralmente à noite e não envolve o uso de embarcações, já que ninguém da comunidade possui. Entre as espécies mais capturadas na pesca de zangaria, estão o camarão (Litopenaeus schmitti Burkenroad), a tainha (Mugil curema Valenciennes), o jiquiri (Pomadasys corvaeniformes Steindachner) e a bandeirada (Bagre bagre Linnaeus). Entre as mais capturadas na malhadeira, estão a corvina (Macrodon ancylodon Bloch & Schneider), o bagre (Arius sp.), a pescada (Cynoscion sp.) e a enchova (Pomatomus saltatrix Linnaeus). Trinta por cento dos entrevistados utilizam também a rede pitiuzeira para a captura de tainha pitiu (Mugil gaimardianus Desmarest). Verifica-se que o critério básico de diferenciação da pesca é que um apetrecho pega camarão enquanto os outros não, e a principal distinção entre eles é o tamanho da malha. A pesca nessa comunidade se diferencia das demais por apresentar poucos tipos de apetrechos específicos e pela ausência de embarcações, fatores que restringem mais a variedade do pescado. Agradece-se à comunidade do Canto por sua disposição e boa vontade em colaborar com a nossa pesquisa. Impactos na ictiofauna e estratégias de conservação marinha no Brasil: uma meta-análise com enfoque na etnoecologia Dannieli Firme Herbst (Universidade Federal de Santa Catarina), Juliano André Bogoni (Universidade Federal de Santa Catarina), Natalia Hanazaki (Universidade Federal de Santa Catarina) e Nivaldo Peroni (Universidade Federal de Santa Catarina). Contato: [email protected]. Os ecossistemas marinhos brasileiros têm sofrido importantes impactos oriundos de diferentes fontes antropogênicas e essas ameaças têm implicações significativas para a biodiversidade e processos ecossistêmicos. A sobreexplotação dos estoques de peixes marinhos pela pesca tem gerado gargalos populacionais para diferentes espécies alvo da pesca, prejudicando substancialmente comunidades de pescadores artesanais. Nesse estudo nós realizamos uma meta-análise sobre pesquisas com peixes marinhos na costa brasileira publicadas entre 1950 e 2014, com o objetivo de analisar os principais impactos relatados, as principais propostas de conservação e manejo abordadas e em quantos estudos e de que forma são consideradas as populações tradicionais, seus conhecimentos e o uso dos recursos pesqueiros. Foram analisados 112 artigos e os resultados obtidos nos mostram que, espacialmente, os estudos estão bem distribuídos nas regiões sul, sudeste e nordeste do Brasil, representando 29%, 27% e 27% dos 149 estudos, respectivamente. Temporalmente eles estão limitados aos anos 2000 em diante e apenas 29% deles consideraram populações locais e/ou conhecimento ecológico local (CEL) na realização da pesquisa. A principal ameaça aos peixes é a sobreexplotação, de forma singular ou associada a outros fatores e as principais estratégias de conservação apontadas como necessárias são: definição de políticas públicas e implementação de planos de gestão e manejo, além do co-manejo e manejo adaptativo e criação de áreas marinhas protegidas. Em média, metade dos estudos considera as populações tradicionais e/ou o CEL nas propostas de conservação e manejo. Esses resultados nos fazem concluir que se deve dar prioridade de conservação para alguns tipos de espécies (e.g. ameaçadas, raras, chave cultural, de extrema importância ecológica) e de ecossistemas (e.g. manguezal e recife de coral), uma vez que o gasto com conservação no país é reduzido. É necessário envolver múltiplos atores e instituições no delineamento de políticas públicas, bem como integrar o conhecimento ecológico local/tradicional com o conhecimento científico no processo de planejamento e implementação de estratégias de manejo, pois ambos se complementam e possuem importância relevante neste momento de crise que o ecossistema marinho vem sofrendo. Interação de tartarugas marinhas com a pesca na ilha de Curupu, Maranhão Layane Krisna Mendes Rilzer Lopes (Universidade Federal do Maranhão), Natannia Rubia Borges de Sousa (Universidade Federal do Maranhão) e Ricardo André Rocha Monteles (Universidade Federal do Maranhão). Contato: [email protected]. Todas as espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil encontram-se em algum grau de ameaça de extinção segundo a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN). Dentre os fatores que levaram a este cenário está a pesca, apontada como uma das principais causas de mortalidade destes animais. Nesse contexto, o presente estudo teve por objetivo registrar a interação da atividade pesqueira com a captura acidental de tartarugas marinhas em uma comunidade de pescadores artesanais do Maranhão. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas e conversas informais com 10 pescadores da comunidade do Canto, formada por 32 famílias, localizada na ilha de Curupu, Maranhão, durante os meses de julho a outubro de 2014. Utilizou-se o método da Bola de Neve para a seleção dos informantes. Não foi verificado o uso de embarcações na atividade de pesca local. As principais artes de pesca são as redes de zangaria, destinadas à captura de camarão e peixes pequenos, e a malhadeira, apetrecho utilizado para a captura de peixes de maior porte. Quando questionados sobre a captura incidental de tartarugas marinhas, 80% dos entrevistados relataram que já houve captura em suas redes, embora não ocorra com muita frequência, e que quando aconteceu, eles devolveram os animais para o mar, algumas vezes ainda vivas. Segundo os informantes, a captura desses animais é mais comum na pesca de curral, prática não observada entre os pescadores da comunidade. Não foram observados hábitos herpetofágicos incidentes sobre os quelônios entre os pescadores locais. Contudo, há registros orais de consumo e venda de carne e ovos de tartarugas em comunidades vizinhas. Apenas uma pessoa relatou ter visto uma vez o consumo de ovos por moradores da comunidade do Canto. A maioria dos entrevistados afirma já ter visto tartarugas subindo à praia para desovar ou os rastros deixados por elas. Um pescador mais antigo assegura que não captura tartarugas marinhas porque elas estão em extinção, e relata que já encontrou exemplares com placas de identificação, indicando uma provável migração de áreas onde esse tipo de trabalho é feito. A partir destes dados, observa-se que a ilha de Curupu é uma área importante para o monitoramento desses quelônios, pois constituise em local de desova, sugerindo também uma possível oferta de recursos alimentares, além da 150 constatada interação com a pesca local. Entretanto, estudos mais aprofundados são necessários para que se compreenda melhor as interações da população humana com as populações locais de tartarugas. Agradece-se aos moradores da comunidade do Canto, pela boa recepção e disposição em colaborar com o nosso trabalho. Mecanismos sociais e práticas de manejo pesqueiro na comunidade caiçara da Ilha Diana, Santos, São Paulo, Brasil Fernanda Terra Stori (Universidade Federal de São Carlos), Nivaldo Nordi (Universidade Federal de São Carlos) e Denis Moledo De Souza Abessa (Universidade Estadual Paulista). Contato: [email protected]. Mecanismos sociais e práticas de manejo baseadas no Conhecimento Ecológico Local (CEL) são apontados por muitos autores como importantes agentes de resiliência e sustentabilidade nos sistemas socioecológicos. A comunidade da Ilha Diana, Santos, São Paulo, vivencia desde 2005 o conflito da expansão portuária sobre seu território de pesca. A hipótese é que há mecanismos sociais e práticas de manejo na Ilha Diana que possam promover adaptatividade e resiliência neste sistema socioecológico frente à crise atual. Este estudo objetivou analisar tais mecanismos sociais e práticas de manejo existentes na comunidade da Ilha Diana, bem como aspectos da cultura caiçara. Através de uma abordagem etnoecológica foram entrevistados 20 indivíduos (10% da população residente), com idades entre 18 a 90 anos e com equidade entre gêneros. Uma entrevistada experiente respondeu a uma entrevista etnoecológica abrangente, os demais responderam questionários semi-estruturados. Cinco pescadores ativos (42% do total de pescadores) responderam ao questionário sobre práticas de pesca. Foram identificados aspectos genuínos da cultura caiçara na Ilha Diana, como organização social interligada à pesca e o auto-reconhecimento como caiçara. Identificaram-se sete práticas de manejo baseadas no CEL: (1) Monitoramento de mudanças no ecossistema e na abundância de recursos; (2) Proteção de estágios vulneráveis na história de vida das espécies; (3) Proteção de habitats específicos; (4) Restrições temporais de captura; (5) Manejo integrado de múltiplas espécies; (6) Rotação de recursos; (7) Manejo sucessional. Identificaram-se quatro mecanismos sociais atrelados a estas práticas: (a) Geração e transmissão intergeracional do CEL e três inovações relacionadas à transferência geográfica de conhecimento: tarrafa italiana, gancho e gerival; (b) Estrutura e dinâmica das instituições: exclusão de pessoas que não tenham relações de parentesco, existência de uma associação incipiente e, habilidade de reorganização sob crise como as negociações com o empreendedor; (c) Internalização cultural: culto ao Bom Jesus da Ilha Diana; (d) Visão de mundo e valores culturais: respeito e reciprocidade próprios da cultura caiçara. Contudo, foi verificada a extinção da arte de pesca “cerco fixo” e o abandono da pesca pelas novas gerações. Conclui-se que os mecanismos sociais ainda existentes, bem como a habilidade em interagir com a sociedade capitalista e a flexibilidade de tais interações, podem contrabalançar aspectos negativos da crise, elevando a resiliência e promovendo a reorganização do sistema socioecológico. Agradece-se à Bolsa de Doutorado-Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Agradecemos aos moradores da Ilha Diana pela confiança depositada. 151 Peixes elasmobrânquios como promotores de zonas de exclusão de pesca no Brasil? Márcio Luiz Vargas Barbosa Filho (Universidade Estadual de Santa Cruz) e Andrielli Maryan Medeiros (Universidade Federal de Rio Grande). Contato: [email protected]. Os elasmobrânquios desempenham um papel crucial de estabilizadores ecológicos dos ecossistemas marinhos, aspecto que adquire particular relevância quando se considera as ameaças a que esses se encontram sujeitos. Apesar disso, infelizmente, uma análise exaustiva da literatura científica especializada revela a escassez de estudos que enfoquem os conhecimentos etnoecológicos de pescadores sobre esses animais. O presente trabalho objetivou descrever as percepções de pescadores brasileiros em relação aos elasmobrânquios e as suas consequentes implicações para a conservação desse importante grupo zoológico. Os dados proveem da compilação de dois trabalhos acadêmicos e foram coletados entre os anos de 2010 e 2012 por meio de entrevistas semiestruturadas a pescadores das Regiões Nordeste e Sul do Brasil. Nas cidades de Ilhéus, Una e Canavieiras, Bahia, foram entrevistados 65 pescadores sobre a pesca de tubarões. Já na Vila das Peças, no Complexo Estuarino de Paranaguá (CEP), Paraná, entrevistaram-se 20 pescadores sobre suas interações com a raia-manta (Manta birostris Walbaum, 1792). Os dados foram analisados por meio da abordagem qualitativa, seguindo o modelo da união de diversas competências individuais. Os dados coletados indicam que no verão, época em que raias-manta entram no CEP, os pescadores deixam de pescar no local, já que esses grandes peixes costumam carregar os espinhéis e âncoras que se prendem a eles, chegando até mesmo a afundar embarcações. Assim, a pesca é paralisada principalmente devido aos riscos de elevados prejuízos financeiros. No sul da Bahia, três informantes relataram que aqueles pescadores que se utilizam de arpão e compressor evitam capturar peixes e lagostas nas “buracas” (compartimentos formados por recifes de corais que apresenta uma alta produtividade biológica), por acreditarem que esses locais constituem a moradia de grandes tubarões. Sob a perspectiva da Ecologia Humana, essa atitude pode ser enquadrada como um tipo de predação sensível ao risco, no qual as capturas de recursos pesqueiros valiosos não geram benefícios suficientes para que os pescadores se sujeitem à possibilidade de sofrerem ataques. As informações compiladas, portanto, sugerem que, nos locais pesquisados, os pescadores percebem esses peixes como “protetores” de outros animais aquáticos, por impossibilitarem a realização da pesca, em determinados períodos e locais, criando verdadeiras zonas de exclusão de pesca. Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Ao professor Fábio Hazin pelas valiosas contribuições à melhoria do texto. Um agradecimento especial a todos os pescadores que participaram desse trabalho. Pescadores artesanais de Shangri-Lá e Recifes Artificiais Marinhos no litoral do Paraná, Sul do Brasil: a percepção da comunidade local e orientações ao manejo Gabriele Damasceno Simões (Universidade Federal Fluminense), Renata Montalvão Gama (Universidade Estadual do Norte Fluminense), Maurício Robert (Associação Mar Brasil), Camila Domit (Universidade Federal do Paraná), Lilyane de Oliveira Santos (Associação Mar Brasil) e Camilah Antunes Zappes (Universidade Federal Fluminense). Contato: [email protected]. 152 O Programa de Recuperação da Biodiversidade Marinha (REBIMAR) apresenta como um dos objetivos o ordenamento pesqueiro a partir da instalação de recifes artificiais marinhos (RAM) no litoral do Paraná. Neste sentido, o objetivo deste trabalho é compreender a interferência dos RAM’s na pesca artesanal por meio da percepção dos pescadores artesanais da comunidade de Shangri-lá, litoral do estado. Em abril de 2014 foram realizadas entrevistas etnográficas, guiadas por questionário semi-estruturado, com 30 pescadores artesanais desta comunidade. Triangulação foi utilizada para análise dos relatos bem como a técnica de informações repetidas em situação sincrônica. Os pescadores são do sexo masculino, com idade entre 18 e 79 anos, e o tempo de pesca na região entre cinco e 71 anos. Todos reconhecem a presença de RAM’s na região e 24 pescadores (80%) informaram que após a instalação destas estruturas passaram a verificar a presença de algumas espécies ícticas de interesse comercial como peixe porco (Balistes capriscus Gmelin, 1789), robalo (Centropomus spp.), saltera (Oligoplites sp.) e cavala (Scomberomorus brasiliensis Collette, Russo, Zavala-Camin, 1978). Vinte e cinco pescadores (83,3%) mostram-se favoráveis à instalação dos RAM’s, pois entendem que estes atraem mais espécies alvo da pesca e mantêm afastadas da área embarcações semi-industriais e industriais que realizam o arrasto. Contudo, nove (30%) consideram negativa a presença de RAM’s por estes danificarem suas redes. Quatro pescadores tiveram uma opinião ambígua quanto às vantagens dos RAM’s o que justifica o número de relatos superior ao número de entrevistados. A interferência positiva dos RAM’s sobre a pesca está relacionada ao incremento de espécies capturadas percebido e relatado pelos pescadores, entretanto a percepção negativa provavelmente foi exibida por pescadores que não obedecem ao distanciamento mínimo da área de pesca em relação aos RAM’s indicado pela Instrução Normativa 12 de 2012 do Ministério do Meio Ambiente e do Instituto de Meio Ambiente. Um Plano de Uso da área dos RAM’s foi elaborado ao longo de 2012 de forma integrada com os pescadores, porém, este não vem sendo seguido por todos os usuários. Os resultados demonstram a contribuição da etnoecologia ao diagnóstico das ações de pesquisa e co-gestão, bem como indicam a importância da manutenção da relação contínua entre pesquisa e atores locais para que através da gestão participativa sejam alcançados os objetivos de conservação e desenvolvimento de atividades econômicas viáveis. Agradece-se ao Programa Petrobras Socioambiental, por meio do Programa de Recuperação da Biodiversidade Marinha (REBIMAR), realizado pela Associação MarBrasil. Pescadores do Rio São Francisco e seu conhecimento sobre aspectos reprodutivos de peixes Thomás Toshio Yoshinaga (Universidade Estadual de Montes Claros), Ana Paula Glinfskoi Thé (Universidade Estadual de Montes Claros), Daniel Vieira Crepaldi (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Contato: [email protected]. O ser humano tem desenvolvido ao longo de sua história natural e social um conjunto de conhecimentos e crenças a respeito da biodiversidade. Estudos desenvolvidos no Brasil e em diversas partes do mundo têm demonstrado que as populações tradicionais têm um grande e acurado conhecimento sobre os recursos naturais e ressaltam que a utilização do Conhecimento Ecológico Tradicional (CET) produzido por estas populações pode auxiliar no manejo dos recursos naturais. Levantou-se junto aos pescadores da Barra do Urucuia, pertencentes a uma comunidade ribeirinha do Médio São Francisco, informações sobre o sistema socioambiental da pesca com ênfase nos aspectos reprodutivos dos peixes. A amostragem foi realizada através do método bola de neve e a coleta de dados foi através de entrevistas livres e estruturadas as quais 153 foram gravadas quando autorizadas e posteriormente transcritas. Foram entrevistados 17 pescadores da referida comunidade com média de idade de 41 anos e 30 anos de profissão. O CET mantido pelos pescadores entrevistados foi dividido em três categorias: aspectos reprodutivos, ciclo de migração pós-desova e fatores de previsão; tendo como fator em comum para todas as categorias a influência do fluxo de cheias. Sobre os aspectos reprodutivos possuem conhecimento sobre local, horário, época de ocorrência e descrevem o ato da desova (o carujo), além disso, relatam sobre dimorfismo sexual e cuidado parental, principalmente para o surubim (Pseudoplatystoma corruscans). Os pescadores também descrevem o ciclo reprodutivo dos peixes associados ao fluxo de cheias, assim, pelo conhecimento tradicional, na desova os ovos e larvas vão para as lagoas marginais onde crescem e aguardam a próxima cheia para retornar ao rio, a justificativa para o deslocamento é que nestes locais as larvas possuem alimento e refúgio contra predação. Sobre o fluxo de cheias, “enchentes do rio”, há uma compreensão no conhecimento tradicional sobre a previsibilidade tanto para a captura das quantidades maiores de pescado como a capacidade de previsão do carujo dos peixes. O estudo demonstra o conhecimento ecológico mantido por comunidades de pescadores é acurado e muitas vezes incipiente na literatura científica, desta forma o uso do CET pode contribuir para uma gestão da pesca igualitária e sustentável. Agradece-se à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao IBAMA. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual de Montes Claros sob o registro 250.017/2013. Relação entre etnoconhecimento dos pescadores artesanais do litoral centro-sul de São Paulo e a influência das variáveis ambientais na pesca da pescada-foguete Macrodon atricauda (Günther, 1880) (Perciformes: Sciaenidae) Amanda Alves Gomes (Instituto de Pesca - SAA), Antônio Olinto Ávila da Silva (Instituto de Pesca - SAA) e Gyrlene Aparecida Mendes da Silva (Universidade Federal de São Paulo). Contato: [email protected]. As variáveis ambientais exercem influência sobre a pesca e sobre os recursos pesqueiros. Os pescadores exibem um conhecimento empírico acerca dessas influências, que é transmitido de geração em geração. Este estudo tem como objetivo investigar o conhecimento dos pescadores artesanais dos municípios de Praia Grande, Mongaguá e Itanhaém, São Paulo, acerca das variáveis ambientais que influenciam a pesca da Pescada-foguete, Macrodon atricauda, e verificar a relação entre estas e as capturas desta espécie no período de Outubro de 2008 a Dezembro de 2013. Durante os meses de Março a Junho de 2014, foram realizadas 20 entrevistas com pescadores dos quatro municípios sobre a influência das variáveis ambientais e período do ano mais favorável à pesca. As variáveis ambientais citadas pelos pescadores foram: temperatura e transparência da superfície do mar, direção do vento, fases da lua e chuva. Já o período do ano mais apropriado para a pesca, segundo eles, variou entre primavera, verão e inverno, entretanto a maioria afirmou que a espécie ocorre o ano todo. Nesta primeira análise foi investigada a relação de dependência entre os dados de captura mensal da espécie, obtidos através do Programa de Monitoramento da Atividade Pesqueira (PMAP) do Instituto de Pesca– SP, e as médias mensais de Temperatura da Superfície do Mar (TSM), obtidas através da ferramenta IRI/LDEO Climate Data Library. As técnicas estatísticas utilizadas foram análise da variabilidade mensal das séries temporais e análise de correlação cruzada. Houve, ao longo do tempo, uma tendência de aumento das capturas de Pescada-foguete em Praia Grande e Mongaguá e uma diminuição destas em Itanhaém. As maiores capturas foram registradas no 154 verão, inverno e primavera, com maiores picos nos meses de primavera. Houve uma correlação significativa e inversa entre TSM e captura, com um ciclo anual e defasagem de 2 a 3 meses. Isso significa que valores altos da variável ambiental estão correlacionados a valores baixos da variável biológica, e vice-versa, mas com uma defasagem de resposta de 2 a 3 meses, indicando valores altos de captura na primavera e baixos no outono. Os conhecimentos apresentados pelos pescadores sobre os recursos pesqueiros são complementares aos resultados das análises estatísticas e explicações físicas associadas. Estudos que envolvam o conhecimento dos pescadores sobre variáveis ambientais devem ser mais explorados, pois podem gerar informações úteis para a gestão dos recursos pesqueiros. Agradece-se à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), agência financiadora. Saberes etnoictiológicos dos pescadores artesanais nos açudes do alto Rio Acaraú, Ceará, Brasil Thyara Costa Praciano Sampaio (Universidade Federal do Ceará), Leidiane Priscilla de Paiva Batista (Universidade Federal do Ceará), Edson Vicente da Silva (Universidade Federal do Ceará) e Jorge Iván Sanchez Botero (Universidade Federal do Ceará). Contato: [email protected]. A etnoictiologia busca descrever e valorizar os conhecimentos dos pescadores artesanais, através de estudos que evidenciam que estes são portadores de conhecimentos bioecológicos acerca dos peixes que capturam. Desta forma, objetivou-se comparar os conhecimentos etnoictiológicos dos pescadores artesanais dos açudes públicos Araras e Edson Queiroz, bacia do médio Rio Acaraú, Ceará, com a literatura científica. Com este fim, selecionou-se uma população representativa para cada um destes açudes. Assim, tem-se a Ilha de Esaú, para o açude Araras, e Vila São Cosme, para o Edson Queiroz. Foram realizadas observação participante, entrevistas semiestruturadas, estímulo visual e turnês-guiadas com pescadores destas populações. Foram entrevistados vinte pescadores na Vila São Cosme e vinte e quatro na Ilha de Esaú. As entrevistas abordaram aspectos etnoecológicos das principais espécies de peixes capturadas pelos pescadores. Foram citadas vinte etnoespécies de peixes e uma de camarão como sendo capturadas nos açudes. Dentre estas, as mais importantes, economicamente, foram: cará-tilápia (Oreochromis niloticus Linnaeus, 1758 e Tilapia rendalli Boulenger, 1897), curimatã (Prochilodus brevis Steindachner, 1874), pescada (Plagiossion squamossimus Heckel, 1840), piau (Leporinus sp.), traíra (Hoplias brasiliensis e Hoplias malabaricus Bloch, 1794) e tucunaré (Cichla cf. ocellaris Bloch; Schneider, 1801). Na classificação da ictiofauna, os pescadores utilizam aspectos morfológicos e etológicos, apresentando várias etnoespécies com nomes genéricos e poucas com nomes binomiais. Em sua dieta, estas populações consomem peixes, como principal fonte de proteína animal, havendo restrições por caráter social e cultural. Quanto à etnoictiologia, conclui-se que os pescadores possuem conhecimentos consistentes sobre a ecologia geral, trófica e reprodutiva da ictiofauna capturada, vivenciando empiricamente muitas das informações presentes na literatura acadêmica. Logo, pela consistência dos saberes dos pescadores da Ilha de Esaú e da Vila São Cosme, estes conhecimentos podem contribuir para futuros estudos científicos e ser incorporados na elaboração de planos de gestão e manejo sustentável dos recursos hídricos e pesqueiros da região média do Acaraú. Agradece-se ao Programa Primeiros Projetos-PPP/ FUNCAP/ Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Laboratório de Ecologia Aquática UFC, Laboratório de Geoecologia da 155 Paisagem e Planejamento Ambiental UFC. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) sob o registro 23837-1. Vivenciando os botos amazônicos, Inia sp. (de Blaiville, 1817) e Sotalia sp. (Gray, 1866; Delphiidae), com os estudantes pescadores na Amazônia oriental SOUZA, R.D.S; RAMOS, I.;RODRIGUES, [email protected]. A.L.F;ANDRADE, A.M.;SENA,L. Contato: O ensino de ciências dissemina o conhecimento científico e o etnoconhecimento incorpora a vivência das comunidades locais. Nesse sentido, o trabalho aproxima os conhecimentos prévios dos estudantes ao conhecimento científico através do estudo etnoecológico dos botos-rosa, Inia sp. e os botos do gênero Sotalia sp. a fim de fomentar ações de conservação para essas espécies. Os interlocutores são estudantes da Casa-Escola da Pesca (CEPe), localizada na ilha de Caratateua, escola que utiliza a pedagogia da alternância como proposta metodológica voltada aos jovens moradores de regiões ribeirinhas de Belém e municípios próximos interessados em profissionalizar-se no ofício da pesca. Foram utilizados questionários abordando o conhecimento local a respeito dos botos amazônicos com 43 estudantes do ensino fundamental e médio (média=16 anos de idade) moradores das ilhas (N=35) e de bairros próximos a escola (N=7). Os botos Inia sp. e Sotalia sp. são avistados geralmente na época da cheia (novembro a abril) (ambos com 70% N=30), embora a maioria dos interlocutores não saiba identificar o local de maior visualização das espécies. O habitat apontado entre o mais frequente para Inia sp. é o rio (14% N=6) e para Sotalia sp. a região do salgado paraense (9% N=4). Os estudantes visualizam os botos em agrupamentos de dois indivíduos, Inia sp. (40% N=17) e Sotalia sp. (35% N=15), descrição associada ao comportamento de alimentação para Inia sp.(47% N=20) e Sotalia sp. (33% N=14). A apropriação de conhecimento intergeracional (56% N=24) e a observação do animal em ambiente natural (6% N=5) representam a principal fonte de aprendizado. Embora de posse de resultados preliminares, podemos assumir que estudantes que têm a pesca como principal ofício a atividade de pesca apresentam um convívio mais estreito com a mastofauna aquática e, portanto, se apropriam de conhecimentos que vão além dos aprendidos no âmbito formal. Os conhecimentos desta natureza necessitam ser efetivados como subsídios à educação científica e principalmente, nortear ações educacionais para a conservação dos botos na Amazônia. Agradece-se à Universidade Federal do Pará (UFPA) e BioMA - Biologia e Conservação dos Mamíferos Aquáticos da Amazônia. Etnozoologia Aspectos socioambientais e econômicos da pesca artesanal no nordeste do Brasil Rosilda Alves Magalhães Menezes (Universidade Estadual da Bahia), Noeme Cabral da Silva Santos (Universidade Estadual da Bahia), Percília da Silva Ferreira (Universidade Estadual da Bahia), Tâmara de Almeida e Silva (Universidade Estadual da Bahia) e Eraldo Medeiros Costa Neto (Universidade Estadual da Bahia). Contato: [email protected]. 156 Para compreender as questões socioambientais no Brasil necessita-se discutir a complexidade das variáveis ambientais e seus efeitos socioeconômicos. No que concerne à atividade pesqueira artesanal, esta exerce papel socioeconômico e cultural para garantir sobrevivência e reprodução social das populações humanas que a desenvolvem. No Brasil, no final da década de 1970 e primeira metade dos anos de 1980, várias colônias de pescadores de alguns Estados do Nordeste começaram a ser dirigidas pelos próprios pescadores. O desenvolvimento da história das Colônias de Pescadores apresenta episódios quando os movimentos sociais de pescadores se fizeram presentes no século XIX. O objetivo deste trabalho foi identificar os aspectos socioambientais e econômicos da pesca artesanal no Nordeste do Brasil. Neste contexto, pesca artesanal apresenta necessidade de engajamento dos pescadores e apoio governamental. Para aquisição de dados foi utilizado levantamento bibliográfico, buscando-se artigos em banco de dados on line (Scielo, Google acadêmico, fishbase etc.). Dos resultados obtidos, o barramento do rio São Francisco mediante a construção das usinas hidrelétricas, dentre elas Sobradinho, Itaparica e Xingó, causaram muitas preocupações, pois a pesca artesanal de espécies nativas, a exemplo do dourado e surubim, foi diretamente impactada. Nos anos 2000, o setor pesqueiro apresentou um perfil de escassez e extinção de espécies de espécies. A degeneração do setor pesqueiro, cooperativas de pescadores e associações de comercialização causou novas realidades nas quais as atividades de pesca e grandes empresas de pescados decretaram falência, o que acarretou uma migração de pescadores para outras atividades econômicas. Neste contexto, à luz do debate contemporâneo sobre a sustentabilidade socioambiental e econômica, faz-se necessária uma reflexão sobre espaço de discussão e de orientações políticas, que envolvam associações, colônias de pescadores e demais organizações que têm apresentado um vasto campo para a educação política dos pescadores artesanais. No âmbito de gênero, é necessária uma abordagem teórica e prática para compreender a real importância do papel feminino no universo da pesca. A atividade pesqueira artesanal tem importância socioeconômica no Nordeste, entretanto, a sua vulnerabilidade exige uma maior atuação sob uma nova ótica dos recursos naturais, numa holística ambiental, social, cultural e econômica planetária. Agradece-se à FAPESB, agência de fomento. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho não foi apesentado a nenhum Comitê de Ética em Pesquisa nem a outro órgão, uma vez que, foi resultante de pesquisas envolvendo apenas dados de domínio público, que não identificam os participantes da pesquisa, ou seja, apenas revisão bibliográfica, sem envolvimento de seres humanos, conforme determina o Conseho Nacional de Ética em Pesquisa. Caça como recurso de subsistência por moradores de uma comunidade rural em Barreiras, oeste da Bahia, Brasil Loyana Docio (Universidade do Estado da Bahia), Marcelo Dourado Da Silva (Universidade do Estado da Bahia) e Valter José de Souza Filho (Universidade do Estado da Bahia). Contato: [email protected]. A etnozoologia auxilia trabalhos conservacionistas à medida que fornece pistas sobre ecologia de muitas espécies e apontam mecanismos de manejo que podem ser modelos sustentáveis de usos de animais silvestres. Diante disso, o estudo registrou os conhecimentos sobre a arte da caça e animais caçados. Os dados foram coletados entre agosto de 2013 e julho de 2014, na comunidade Vau da Boa Esperança, Barreiras, Bahia (coord.12° 12’ 07,87”S e 45° 13’ 29,29” W); utilizando questionário semiestruturado, turnês guiadas, observações ad libtum, lista livre e teste projetivo. As entrevistas iniciaram com a apresentação do Termo de Consentimento Livre 157 e Esclarecido. Para a análise, o conhecimento de homens e mulheres foi comparado pelo teste U de Mann-Whitiney. Para verificar se idade e renda influenciam no conhecimento, utilizou-se o teste H de Kruskal-Wallis (p<0,05 para ambos). Foi calculado frequência de citações (FCit) para saber o quanto um organismo é conhecido, e o valor de uso (VU) para verificar sua importância na comunidade. Participaram do estudo 20 dos 24 moradores da localidade, 11 homens e 9 mulheres, com idade média de 54 anos e tempo de moradia maior que 24 anos. Foram listados 130 animais, identificados por vestígios, fotografias e literatura específica até o menor nível taxonômico possível. Não houve diferença significativa para a média de citações entre homens e mulheres (U=36,00 p<0,3051). Renda (H2 =3,382; p=0,165) e idade (H2=2,580; p=0,350) não explicam variações nas citações. Observaram-se cinco formas de uso de animais: alimentício, zooterápico, estimação, controle populacional e místico. O primeiro foi o mais frequente 85%. Dos informantes 40% praticam ou já praticou atividade de caça, 80% conhecem arte de caça, 95% apreciam animal silvestre e 90% criam esses animais como bichos de estimação. Rhea americana (Linnaeus, 1758) (ema) foi o animal mais citado FCit=0,85 e de maior VU=1,55, seguidos de Mymecophaga tridactyla (Linnaeus, 1758) (tatu-bandeira) FCit=80; VU=80 e Masama americana (Erxleben, 1777) FCit=0,75; VU=1,35; (veado catingueiro). Cinco dos animais citados estão ameaçados de extinção e 43 vulneráveis. Conclui-se a caça não é mais praticada com veemência e que os conhecimentos remotos sobre ecologia e comportamento levantados, podem auxiliar na compreensão da dinâmica populacional dos organismos na região, oque auxilia trabalhos conservacionistas. Agradece-se à Deus, à minha família e amigos pelo apoio, à professora Loyana Docio pela oportunidade, à FAPESB pela bolsa, aos moradores do Vau da Boa Esperança pelo acolhimento. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa 541.649. Coabitação entre humanos e Sapajus libidinosus (Kerr, 1792): avaliação do contexto socioeconômico de uma comunidade rural no semiárido nordestino como primeiro passo para preservar a cultura dos primatas Noemi Spagnoletti (Universidade de São Paulo) e Patrícia Izar (Universidade de São Paulo). Contato: [email protected]. No semiárido nordestino, seres humanos e macacos-prego, Sapajus libidinosus, são parte do mesmo ecossistema, e podem ter interações conflituosas, como quando os macacos invadem as lavouras e causam prejuízo na produção dos moradores. Como resultado da ação antrópica, do uso não sustentável de recursos e com a expansão da agricultura extensiva, a degradação da área de vida desses animais representa um risco para a preservação da espécie e de seu comportamento. A partir de uma abordagem etnoprimatológica, este estudo teve por objetivo avaliar o contexto socioeconômico de uma comunidade rural do semiárido Cerrado/Caatinga, no município de Gilbués, Piauí, onde vive uma população de macacos-prego que habitualmente usa ferramentas. Avaliar os aspectos socioeconômicos da população humana que coabita com esses animais é importante para o planejamento de ações apropriadas que evitem conflitos entre seres humanos e macacos-prego, permitindo a preservação do ambiente em que essas espécies convivem. Ainda, o desenvolvimento da pesquisa, com participação da comunidade local, resgata os saberes locais e contribui para a conservação da cultura dos próprios moradores. Entre dezembro de 2012 e junho de 2013 foi realizado o censo da população humana na área de uso dos macacos-prego, e o levantamento do seu perfil socioeconômico, que foi avaliado através de entrevista semiestruturada. Foi constatada a presença de 48 famílias em uma área de cerca 110km2, e entrevistados 77 moradores. A vida dos residentes é baseada 158 na agricultura de subsistência. A renda de 81,7% dos entrevistados vem da agricultura, principalmente administrando uma pequena propriedade com poucas cabeças de gado. Durante o período chuvoso ocorre o plantio de lavouras de arroz, mandioca, feijão e milho. O nível de escolaridade é baixo: 70% dos entrevistados são analfabetos ou não completaram o Ensino Fundamental. O tipo de economia dos moradores e a produção agrícola local sugere que a invasão dos plantios pelos macacos pode causar prejuízo importante. O nível de escolaridade sugere que devem ser implementadas ações educativas que usam uma linguagem adequada para o publico interessado. Futuros planos de conservação dos macacos-prego e de sua cultura serão voltados a avaliar o relacionamento entre as pessoas e os macacos-prego, a promover programas de educação ambiental nos colégios locais, e também a quantificar os prejuízos causados pelos macacos-prego nas lavouras. Agradece-se à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nivel Superior (CAPES), Programa Ciência Sem Fronteira (#017/2012), FAPESP, Auxílio Jovem Pesquisador (#2013/19219-2). Agradecimentos ao Projeto Ethocebus e família Gomes de Oliveira. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo sob o registro CAAE: 14337013.9.0000.5561. Concepções de moradores de Bragança,Pará, Brasil, sobre o Caranguejo-uçá, Ucides cordatus Linnaeus 1763 (Brachyura, Ucididae) Bruna Patrícia Brito Matos (Universidade Federal do Pará) e Claudia Nunes-Santos (Universidade Federal do Pará). Contato: [email protected]. Em Bragança, como ao longo dos manguezais brasileiros, a captura do caranguejo-uçá é considerada a atividade extrativista mais antiga e importante, para auto-consumo ou comercialização. Apesar disso, os conhecimentos dos consumidores bragantinos sobre esta espécie não foram ainda sistematizados. Portanto, as concepções de moradores da área urbana deste município sobre Ucides cordatus foram investigadas. Através de amostragem aleatória simples e questionário estruturado com perguntas abertas, foram entrevistados 154 profissionais de diversas atividades, de ambos os sexos, com escolaridade variada e idades entre 14 e 86 anos. Mais de 30% das respostas para “o que é o caranguejo-uçá?” foram alocadas na categoria consensual cujo núcleo de sentido é “não sei”. As demais respostas ficaram distribuídas em outras 13 categorias, que incluem concepções utilitárias (“caranguejo comestível”, “caranguejo da feira”, “mina”, “marisco”), amistosas (“bichinho”), relacionada a aspecto morfológico (“vermelhinho”). Outras sete categorias o definem como um animal, de forma vaga (“ser vivo”, “animal”, “espécie da região bragantina”), aproximadas da classificação zoológica (“artrópode”, “crustáceo”) e algumas bem distantes (“molusco”, “réptil”). No Conhecimento Ecológico Local (CEL) aqui verificado, “caranguejo-uçá” não parece ser um etnotaxon local, uma vez que muitos desconhecem o nome, além de separar machos e fêmeas em espécies diferentes (“caranguejo do mange”/“caranguejo da feira” e “condurua”/ “cangurua”, respectivamente). Notou-se que a percepção predominante é de indiferença ou utilidade (renda e alimentação). E ainda que a percepção preservacionista deve-se mais à relação homem-manguezal do que homem-caranguejo. O defeso é entendido por esses cidadãos como instrumento legal para o controle das atividades de alguns atores da cadeia produtiva (coletores, vendedores), sem estendê-lo aos consumidores. O valor cultural atribuído a Ucides cordatus parece ser maior como alimento/renda, do que como elemento da fauna. Estudos que aprofundem as representações sociais a ele articuladas são necessários. A significação faunística-ecológica deste caranguejo, através de intervenções no ensino de 159 zoologia e inserção deste como elemento simbólico no calendário cultural, deve ser pensada pelos programas de preservação da espécie. Agradece-se ao Grupo de Estudos Socioambientais Costeiros (ESAC) da universidade Federal do Pará (UFPA). Conhecimento ictiológico tradicional dos pescadores da colônia Z -19 no município de Caicó, Rio Grande do Norte Jaedson Zeferino de Araújo (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), Rita de Cássia Silva, Valfredo Pereira de Araújo Filho e Alzira Gabriela da Silva Pause (Universidade Federal do Rio Grande do Norte). Contato: [email protected]. A forma com que os pescadores vivem e praticam a pesca é importante para compreender a relação entre o homem e os peixes. Face ao exposto, objetivou-se descrever o conhecimento local dos pescadores da colônia Z-19 sobre o comportamento reprodutivo, migratório, alimentar e de defesa dos peixes regionais, assim como caracterizar a atividade pesqueira nesta colônia. O estudo foi conduzido no município de Caicó, Rio Grande do Norte durante o mês de Agosto de 2014, quando foram realizadas vinte e uma entrevistas semiestruturadas de forma aleatória na sede da colônia. Observou-se que todos os pescadores entrevistados possuem embarcação própria do tipo canoa, sendo que apenas um pescador (4,8%) relatou possuir duas canoas. Quando questionados sobre mudanças na atividade pesqueira nos últimos 20 anos, 47,6% dos pescadores relataram que observaram um maior período de estiagem e menor de quantidade de peixes. Também citaram redução do tamanho dos peixes, poluição, menor vazão e assoreamento dos rios e açudes. Os principais métodos de captura descritos pelos entrevistados são anzol, rede e covo. Os peixes mais citados foram curimatã (Phochilodus argenteus), pescada (Cynoscion sp.), piau (Leporinus sp.), piranha (Serrasalmus sp.), tilápia (Oreochromis niloticus), traíra (Hoplias sp.), tucunaré (Cichla sp.) e também o camarão (Macrobrachium sp.). Com relação ao habitat destes peixes, os pescadores afirmaram que todos são de águas profundas e ressaltaram que estes se alimentam de lodo, peixes menores e crustáceos. Sobre o comportamento dos peixes da região os entrevistados destacaram que a pescada e curimatã “andam em manta”, que a tilápia “choca na boca” e “deixa cheiro ruim”, que o tucunaré é um peixe “mais forte”, de velocidade e que “pula”. Enquanto o pirarucu (Arapaima gigas) é um dos “mais bravos” e possuem “cheiro”, já a pescada é “fraca”, a traíra regurgita e o curimatã “ronca”. Por fim, quando indagados sobre a quantidade de peixes ao longo dos último anos, 61,9% dos pescadores disseram que observaram redução da pescada, pirarucu e tucunaré, 28,6% relataram aumento da tilápia e traíra, outros 33,3% não souberam responder e/ou não perceberam. Os pescadores mostraram ter um bom conhecimento etnobiológico sobre a ecologia, comportamento e a taxonomia das espécies de peixes da região. Tais informações podem contribuir para um planejamento sustentável da atividade pesqueira no Seridó Potiguar. Agradece-se aos pescadores da Colônia de Pescadores Z-19 pela disponibilidade em participar do estudo. Conhecimento popular sobre serpentes no bairro Guapiruvu, município de Sete Barras, São Paulo Naylien Barreda Leyva (Instituto Butantan), Bruno Gonçalves Augusta (Instituto Butantan), Mariana Galera Soler (Instituto Butantan), Heloisa Passarelli Santana Borges (Instituto 160 Butantan), Giuseppe Puorto (Instituto Butantan) e Erika Hingst-Zaher (Instituto Butantan). Contato: [email protected]. As serpentes são animais de grande importância ecológica, cultural e médica que infelizmente estão presentes de forma muito negativa no imaginário popular. Este trabalho faz parte de um projeto está que sendo desenvolvido no bairro Guapiruvu, Sete Barras, São Paulo, região escolhida por conta de uma alta diversidade local de serpentes e do alto número de acidentes ofídicos, e tem como objetivo realizar um levantamento do conhecimento popular sobre as serpentes na comunidade. A metodologia de coleta de dados sobre o conhecimento popular empregada é a Pesquisa-Ação-Participação. Até o presente momento, 50 entrevistas com questionários semiestruturados foram aplicadas, com as seguintes questões: 8 para definir o perfil socioeconômico, 18 sobre aspectos biológicos das serpentes e 15 sobre a percepção individual acerca das serpentes peçonhentas e acidentes ofídicos. O Instituto Butantan não dispõe de uma comissão de ética que regulamente pesquisas etnográficas, mas os autores garantem o anonimato dos entrevistados. O perfil socioeconômico geral foi: morador natural do município de Sete Barras, com Ensino Fundamental incompleto e principal fonte de renda ligada à agricultura. A maior parte dos entrevistados soube diferenciar, através de fotografias, as serpentes peçonhentas e não-peçonhentas da região, bem como reconhecer que acidentes ofídicos são mais propensos a ocorrer no verão e quando o animal se sente ameaçado de alguma maneira. Todos os entrevistados informaram que observam serpentes frequentemente na região (por volta de duas vezes por mês), tanto próximos de suas residências como nas áreas de agricultura. Os nomes das serpentes são aprendidos principalmente pela transmissão oral a partir de gerações mais antigas. Os sentimentos mais comuns que os entrevistados disseram sentir foram “medo” e “respeito” (92%), enquanto que “ódio” foi relativamente pouco citado (12%). A matança, o desmatamento e o uso de agrotóxicos foram as principais causas citadas para a diminuição da população de serpentes na região. Percebeu-se que os moradores da comunidade apresentam um bom conhecimento geral sobre as serpentes e sobre a prevenção de acidentes ofídicos, e a maioria reconhece a importância destes animais na natureza. As principais dificuldades dos entrevistados estavam relacionadas ao reconhecimento de serpentes não-peçonhentas que mimetizam características de serpentes peçonhentas, um fato que pode contribuir para a matança de espécies não perigosas ao homem na região. Agradece-se à FAPESP, projeto temático BIOTA nº 2011/50206-9 e bolsa de treinamento técnico à primeira autora, à Fundação Butantan e à Rufford Foundation. Conhecimentos etnozoológicos e zooterápicos de Gameleira dos Pimentas, Macaúbas, Bahia, Brasil. Alana Narcisia Jesus Souza (Universidade do Estado da Bahia), Loyana Dócio (Universidade do Estado da Bahia) e Rodrigo de Souza Bulhões (Universidade Salvador). Contato: [email protected]. Zooterapia é uma prática comum em comunidades rurais. A utilização de medicamentos feitos com animais se deve ao baixo custo e contato próximo com a natureza. Diante disso, o objetivo desse trabalho foi registrar os animais utilizados como ingredientes de zooterápicos. O estudo foi realizado entre julho de 2013 a maio 2014, em Gameleira dos Pimentas, Macaúbas, Bahia, pois em visitas informais foi percebido que a comunidade apresentava relação cultural com a fauna. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas, teste projetivo e turnê guiada. Após a 161 coleta, foram feitas análises pelas seguintes técnicas Qui-Quadrado, Nivel de Fidelidade (FL), Popularidade Relativa (RP), Classificação de Prioridade de Ordenamento (ROP), Fator Consenso do Informante (FCI) e Importância Relativa (IR). Quarenta e oito participantes foram contatados para a pesquisa através da técnica “bola de neve”. Os resultados mostraram 567 tipos de citações sobre 45 animais utilizados, os quais foram classificados em nove taxa distintos e identificados por meios de pistas taxonômicas, fotografias e doações de organismos. Os conhecimentos foram agrupados em quatro conexões homem-animal: terapêutica, místicoreligiosa, estética e ética. Ao nível de significância de 5%, o Qui-Quadrado mostrou que homens (58,8%), pessoas com idade > 50 (77,6%) trabalhadores rurais (56,4%) e com ensino fundamental incompleto (70,4%) possui mais saberes. Foram relatadas 73 doenças, a maioria relacionada ao sistema respiratório, porém o cálculo do FCI evidenciou maior consenso para desordens mentais e comportamentais. O FL mostrou 15 organismos com índice 1,0 e os maiores RP e IR foram atribuídos a galinha (Gallus gallus domesticus Linnaeus, 1758), enquanto o maior ROP (0,66) foi da galinha d’angola (Numida meleagris Linnaeus, 1758). Da fauna utilizada 37 (82,2%) são silvestres, obtidos pela caça, dentre técnicas listadas estão: uso de cachorros, espera e arapuca. Cinco animais relatados no estudo encontram-se no livro vermelho de espécies ameaçadas. O presente estudo contribui para a etnozoologia do ponto de vista da conservação e uso sustentável de espécies. O retorno à comunidade foi feito por meio de palestras, cartilhas e banco de dados sobre o conhecimento local. Agradece-se à Universidade do Estado da Bahia, a Fapesb e a comunidade de Gameleira dos Pimentas. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da Plataforma Brasil sob o registro nº 541.649. Distribuição de organismos utilizados como zooterápicos por mesorregiões do estado da Bahia, Brasil. Emilia Miguel Soares (Universidade do Estado da Bahia), Loyana Docio Santos (Universidade do Estado da Bahia) e Rodrigo de Souza Bulhões (Universidade de Salvador). Contato: [email protected]. A zooterapia é entendida como utilização mágico-medicinal de “remédios” feitos com animais, partes deles ou de seus derivados. Assim, a proposta da presente pesquisa foi verificar as utilizações de zooterápicos por mesorregiões no Estado da Bahia. Para tanto, foi feito um levantamento bibliográfico nos buscadores, Periódicos CAPES, Google Acadêmico e Web of Science, com as seguintes palavras-chaves: “Etnomedicina” (Ethnomedicine); “Medicina popular” (Folk medicine); e “Estado da Bahia” (Bahia State, Brazil). A pesquisa teve início no mês de maio. Foram levantados 22 artigos, compreendidos entre os anos de 1996 a 2014. Deles foram extraídos 284 espécimes, as quais estão classificadas nas categorias de família, gênero e espécie. Estas servem para tratar 163 doenças. Os organismos foram divididos nas seis mesorregiões a seguir: Centro Norte Baiano, com 135 espécimes e 437 citações em 10 artigos; Centro Sul Baiano, com 05 espécimes e 07 citações em 01 artigo; Nordeste Baiano, com 81 espécimes e 288 citações em 05 artigos; Sul Baiano, com 09 espécimes e 48 citações em 02 artigos; Vale São Francisco, com 132 espécimes em 09 artigos e 269 citações; e Metropolitana, com 34 espécimes e 163 citações em 03 artigos. Foi observada uma sobreposição de organismos utilizados para fins semelhantes entre as mesorregiões, o que demonstra um padrão de utilização dos mesmos. Foi possível verificar a existência de um padrão de uso dos animais como zooterápicos no Estado da Bahia. Esse padrão está relacionado às similaridades entre os usos e conhecimentos de zooterápicos entre as diferentes regiões da Bahia. 162 Agradece-se à todos os coloboradores da pesquisa. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética sob protocolo 541.649. Fauna cinegética utilizada na zooterapia dos índios Xerente, Cerrado do Tocantins Milton José de Paula (Universidade Federal do Pará), Juarez Carlos de Brito Pezzuti (Universidade Federal do Pará), Odair Giraldin (Universidade Federal do Tocantins) e Valcir Sumekwa Xerente (Universidade Federal do Tocantins). Contato: [email protected]. Povos indígenas exploram a fauna cinegética não somente para obtenção de proteína, mas para diversas finalidades, tais como: zooterapia (medicina tradicional), decoração corporal, cosmologia, confecção de artefatos, criação e simbolismo. Este trabalho tem o objetivo investigar quais espécies cinegéticas são utilizadas na medicina tradicional dos índios Xerente, povo Jê-Central que vive no cerrado do Tocantins. Para obtenção dos dados foi utilizadas entrevistas semi-estruturadas complementadas por entrevistas abertas e conversas informais, nas quais foram registradas as espécies cinegéticas utilizadas na medicina tradicional, partes dos animais utilizadas, doenças tratadas e modo de preparo dos zooterápicos. Entre os meses de fevereiro e agosto de 2014 foram investigados 49 caçadores Xerente, distribuídos em dez aldeias. Para identificação taxonômica e etno-taxanômica, foram utilizados pranchas contendo fotos de cada espécies e guias de identificação. Trinta e três espécies (22 mamíferos, sete répteis e quatro aves) foram indicadas para fins zooterápicos, dos quais 17 partes são indicadas para o tratamento de 43 doenças, sendo uma em cachorro doméstico. As espécies mais citadas são mamíferos de médio e grande porte: Tapirus terrestres, Kdâ (10%), Nasua nasua, Wakõ (9%), Myrmecophaga tridactyla, Padi (6%) e Lycalopex vetulus, Wapsã wara (5,7%). As partes dos animais mais citadas foram: gordura (58%), escudo dérmico (9,5%), ossos (9%) e pelos (7,8%). As doenças mais indicadas para tratamento foram: gripe (26%), reumatismo (20,5%) “derrame” (7%) e pneumonia (5,7%). De maneira geral as partes moles, tais como gorduras, são ingeridas puras, partes duras, tais como escudos dérmicos, ossos ou pelos, são queimados e transformados em pó, sendo ingeridos com água ou bebida alcoólica ou passados nos locais das doenças. Os resultados obtidos demonstram a importância da fauna cinegética na medicina tradicional Xerente. A diversidade de espécies exploradas, bem como a variedade de partes utilizadas, doenças tratadas e modo de preparo, revela um apurado e importante conhecimento zooterápico dos caçadores Xerente sobre sua fauna explorada. Agradece-se à The Rufford Foudation. Meliponicultura entre os Mbyá-Guarani: experiências nas aldeias da planície costeira interna da Laguna dos Patos e Serra do Sudeste, Rio Grande do Sul, Brasil Gabriel Collares Poester (Universidade Federal de Santa Catarina) e Guilherme Fuhr (Universidade Federal de Santa Catarina). Contato: [email protected]. O “Projeto Ei” visa à implantação de meliponários e o fomento às práticas de criação e manejo de abelhas nativas sem ferrão. Está sendo executado através do Subprograma de Apoio às Atividades Produtivas, vinculado ao Programa de Apoio às Comunidades Mbyá-Guarani no Âmbito das Obras de Duplicação da Rodovia BR-116, Rio Grande do Sul. Tal ação é fruto da 163 reflexão e da demanda das lideranças Mbyá para resgatarem e cultivarem seu mel sagrado, assim como as abelhas nativas e o conhecimento tradicional associado. Para a sua execução foi estruturado um plano de trabalho contendo as seguintes etapas: diagnóstico das relações entre os Mbyá e as abelhas, aquisição de colmeias e implantação dos meliponários concomitante ao curso de meliponicultura, além do acompanhamento permanente das ações. A partir do diagnóstico realizado por meio da vivência nas aldeias, rodas de conversas e viagens de intercâmbio foram coletados dados do conhecimento Mbyá sobre as abelhas. Conjuntamente com as lideranças, agentes ambientais e especialistas indígenas foi planejado um curso de meliponicultura, 60 horas, e a implantação dos meliponário nas aldeias. Nesta fase foram apresentadas fotos das 22 espécies de abelhas nativas do Rio Grande do Sul para a escolha das espécies de interesse. Os Mbyá, através dos especialistas indígenas, apresentaram um conhecimento minucioso sobre as abelhas em diversos aspectos, como biologia, produção de mel e produtos. Foram, então, escolhidas 5 espécies: Jataí (Jate’i), Manduri (Mandori), Tubuna (Tapechuá), Mandaçaia (Eira viju) e Guaraipo (Guarykuá). Outras foram citadas, porém sem intenção de criá-las no momento, como Ei vorá, Yvy ei, Pynguaréi, Ei miri, Ei ruxu, Ei`rapuá, Ei tatá, Yvyra’ija. Passadas estas etapas, foram adquiridos e distribuídos entre as nove aldeias envolvidas 100 enxames das cinco espécies selecionadas. A partir daí deu-se início ao curso, que foi realizado em quatro módulos de quinze horas, um em cada estação do ano; ou, segundo a divisão do ano Mbyá: dois no ara pyau e dois no ara yma. Além destes resultados objetivos, pode-se observar o inicio de um resgate por parte dos indígenas mais novos. Os Mbyá apresentam historicamente uma relação muito profunda com as abelhas nativas e que vem se perdendo devido à drástica redução das populações destes insetos. Frente a esta ameaça de extinção se tornam importantes ações de criação de abelhas nativas, como a que está sendo praticada pelos Mbyá nas aldeias da planície costeira interna da Laguna dos Patos e Serra do Sudeste. Agradece-se aos agentes ambientais Mbyá da planície costeira interna da Laguna dos Patos que envolveram suas comunidades no resgate das abelhas nativas. Nomes populares de aves do Espírito Santo segundo o naturalista e taxidermista Antonio Paviotti Fernando Augusto Valério (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais), Alexandre Palmieri Sad (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais), Marcelo Ferreira de Vasconcelos (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais) e Ana Teresa Galvagne Loss (Universidade Estadual de Feira de Santana). Contato: [email protected]. A questão de registrar e comentar os nomes populares das aves em certas localidades começou a ser desenvolvida por alguns ornitólogos e naturalistas que perceberam o valor cultural e as variações regionais e locais da nomenclatura popular. Apesar de alguns naturalistas do séc. XIX serem os primeiros a coligir, de forma sistemática, nomes populares de aves, ainda são poucos os estudos a este respeito no Brasil e os poucos estudiosos que pesquisam essa temática contribuem para a valorização e a preservação do conhecimento tradicional. Antonio Paviotti foi um exímio coletor e taxidermista de aves. Pouco se sabe sobre este célebre naturalista, exceto que ele acompanhou Helmut Sick em expedições e coletas científicas pelo Brasil Central junto aos irmãos Villas-Boas. Parte de seu material encontra-se na coleção ornitológica do Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Minas Gerais (DZUFMG). Foram analisadas as cadernetas originais de taxidermia de Antonio Paviotti, nas quais ele anotava o 164 nome popular da maioria das aves que eram preparadas, além de várias outras informações de valor científico, tais como peso, comprimento total, tamanho das gônadas, coloração das partes nuas e hábitat. Nos mais de 500 exemplares coletados por Paviotti e tombados no DZUFMG, este coletor registrou o nome popular de cerca de 90 espécies. Estes nomes foram o foco do presente estudo, no qual constatou-se que a maioria dos nomes populares das aves é associada a uma ou mais características da espécie, como coloração, tamanho, comportamento, hábitat, alimentação, morfologia e vocalização. Além disso, espécies de mesma família ou com características morfológicas de difícil diferenciação, quase sempre são agrupadas a um mesmo nome, a exemplo de alguns táxons pertencentes às famílias Dendrocolaptidae, Furnariidae e Tyrannidae. Os exemplares de Paviotti documentam a presença histórica de certas espécies em algumas localidades da região serrana do Espírito Santo, municípios de Santa Teresa e Santa Leopoldina, onde possivelmente podem ter sofrido extinções locais por alterações ambientais. Mesmo as espécies mais comuns registradas por este naturalista são de interesse por representarem registros históricos de ocorrência em certas regiões, suas informações sobre os nomes populares das aves segundo os habitantes locais coletadas há mais de 50 anos, podem ser comparadas com o conhecimento local atual, servindo de base para futuras pesquisas etnoornitológicas e/ou etnoecológicas. Agradece-se à Sete Soluções e Tecnologia Ambiental pelo apoio na participação do Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia. Percepção ambiental dos pescadores da colônia Z -19 no município de Caicó, Rio Grande do Norte Jaedson Zeferino de Araújo (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), Rita de Cássia Silva, Valfredo Pereira de Araújo Filho e Alzira Gabriela da Silva Pause (Universidade Federal do Rio Grande do Norte). Contato: [email protected]. As interações entre os pescadores e o ambiente, assim como os processos ecológicos e econômicos podem ser compreendidos a partir do estudo da percepção ambiental. Desta forma, objetivou-se caracterizar a percepção ambiental dos pescadores da colônia Z-19, com o propósito de diagnosticar a sua relação cognitiva e emocional com o ecossistema em que vivem e identificar quais são os principais problemas ambientais, dificuldades enfrentadas e anseios em relação à pesca no ambiente. O estudo foi conduzido no município de Caicó, Rio Grande do Norte, durante o mês de Agosto de 2014, quando foram realizadas vinte e uma entrevistas semiestruturadas de forma aleatória na sede da colônia. Com relação aos dados obtidos observou-se que, a faixa etária dos entrevistados variou entre 24 a 65 anos, sendo a maioria (57,1%) do sexo masculino. Dentre os pescadores 66,7% possuem ensino fundamental incompleto e apenas 9,5% não possuem escolaridade. Quando questionados sobre o que significa ambiente 66,7%, afirmaram que é a natureza em geral e 33,30% que é o lugar em que vive. Todos os entrevistados demonstraram preocupação com o meio ambiente, pois tentam economizar água potável durante o banho, 95,2% destes não jogam lixo na rua e 71,4% relataram que fazem reciclagem do lixo. Sobre a origem da água consumida, 61,9% relataram que o fornecimento é realizado pela Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte, seguida por açudes (28,6%) e por última água de poço (9,5%). Um total de 90,5% dos pescadores entrevistados nunca presenciou nenhuma visita de algum órgão ambiental. Porém, 76,0% dos mesmos nunca participaram de alguma atividade de educação ambiental realizada pela colônia de pescadores Z-19. Quando indagados sobre quais são os principais causadores da poluição dos 165 rios e açudes na região, 42,8% dos entrevistados culparam resíduo sólido doméstico, enquanto 38,0% citaram esgoto doméstico e agrotóxico e apenas 10,0% relataram que não sabiam. Segundo 47,6% dos pescadores em questão, ressaltaram que o problema da poluição deve ser solucionado pelos governantes, outros 19,0% atribuíram à própria comunidade e 33,3% acreditam que é uma tarefa para ambos. Com base no exposto foi possível concluir que os pescadores desta colônia possuem uma boa percepção ambiental e são conscientes de que a poluição das fontes hídricas, assim como de todo o ambiente, altera os padrões da pesca e consequentemente afeta a qualidade de vida da comunidade. Agradece-se aos pescadores da Colônia de Pescadores Z-19 pela disponibilidade em participar do estudo. Recursos faunísticos utilizados em publicidade na cidade de Macaúbas, Bahia: estudo de caso Alana Narcisia Jesus Souza (Universidade do Estado da Bahia), Pedro Paulo Alves Rocha Filho (Universidade do Estado da Bahia) e Edivania Souza Matos Machado (Universidade do Estado da Bahia). Contato: [email protected]. A utilização de animais como peças publicitárias passou a ser corriqueiro em fachadas de estabelecimentos, muros, outdoors, dentre outros nos grandes centros urbanos, porém em cidades interioranas também se faz presente. Desse modo esse estudo tem como objetivo documentar a fauna utilizada na área comercial do município baiano de Macaúbas. Para coleta dos dados visitou-se algumas áreas comerciais da cidade que compreende: a Praça da Feira, Praça Matriz, Rua Castro Alves, Avenida Professor Ático Mota e Rua Direita, entre os dias 28 de agosto a 01 de setembro de 2014 equipados de uma câmera Canon, SD 400 para registrar fachadas de lojas, bares, muros que possuíam representações de animais como anúncios de propagandas. Foram registrados 11 imagens pertencentes a quatro categorias taxonômicas distintas: Mamíferos, oito organismos; Lepidópteros, um organismo; Aves, um organismo; Ostheichtyes, um organismo. O maior número de mamíferos registrados se assemelha com estudos de mesmo cunho já realizados em outras localidades do mesmo estado, essa utilização pode estar relacionada à hipótese da biofilia de Wilson que trata do elo genético e a afinidade que seres humanos possuem por espécies filogeneticamente próximas, pode associar-se também a zoosemiótica no que se configura a representação de animais em publicidade denotando valor simbólico agregado e tendo como finalidade obter retornos financeiros sob os produtos e serviços prestados. Os animas catalogados em sua grande maioria, dez organismos, pertencem à fauna brasileira, existindo apenas um exótico. A espécie Bos taurus Linnaeus, 1758 se destacou devido a ter aparecido quatro vezes em anúncios de casas de carne, que compõe a principal forma de renda da cidade. Para etnozoologia esse estudo vem contribuir revelando as interações existentes entre a espécie humana, recursos faunísticos e a publicidade. A propaganda primariamente faz uso as imagens daqueles animais esteticamente atrativos e que induzem afetividade, enquanto aqueles considerados desagradáveis são recusados ou raramente inseridos nas campanhas de marketing. Agradece-se aos comerciantes da cidade de Macaúbas, Bahia, e todos as pessoas que contribuíram com a pesquisa. Não foi submetido a nenhum conselho de ética devido a não ter havido interação com seres humanos, nem aplicação de entrevistas, manipulação de material biológico e nem coleta de animais ou algo do tipo. 166 Tolerância à Puma concolor Linnaeus, 1771 (Carnivora, Felidae) por fazendeiros na zona rural de Itaetê, Bahia Luma de Souza Borges (Universidade Estadual de Feira de Santana), Eraldo Medeiros Costa-Neto (Universidade Estadual de Feira de Santana), Dídac Santos-Fita (Colegio de la Frontera Sur, México) e Ana Teresa Galvagne Loss (Universidade Estadual de Feira de Santana). Contato: [email protected]. As atitudes humanas em relação à vida selvagem são aspectos indispensáveis para a conservação das espécies animais. Puma concolor é considerada uma espécie problemática na zona rural do município de Itaetê, Chapada Diamantina, Estado da Bahia, por causar prejuízos financeiros a criações de caprinos. Neste contexto, o objetivo da pesquisa foi avaliar o nível de tolerância que os fazendeiros locais têm em relação a este felino. A hipótese é que as ocorrências de predação a caprinos por P. concolor em propriedades na zona rural de Itaetê levam os fazendeiros a ter uma percepção negativa deste animal. Os dados foram obtidos mediante entrevistas semiestruturadas realizadas a 24 gerentes e proprietários das fazendas, considerando cada propriedade como uma unidade de análise independente. Das 24 fazendas visitadas, houve eventos de predação em 13. Os resultados indicam que há uma maior proporção de pessoas que realizam o abatimento do animal (64,29%), considerada como atitude negativa, em locais onde ocorreram tais eventos por causa dos prejuízos econômicos relatados. Aqueles entrevistados que não foram acometidos por ataques de seus rebanhos, mas relataram ter atitude negativa, informaram que agem assim em função das perdas acometidas a fazendas próximas e por terem medo do animal. Dois entrevistados demonstraram ter atitudes positivas, expressando seu valor estético e ecológico, enquanto que entre os que não foram afetados não houve qualquer tipo de atitude em relação ao felino. Conclui-se que os aspectos culturais e a transmissão de conhecimentos são processos extremamente importantes na determinação das ações humanas sobre a fauna silvestre, o que nos leva a crer que a esfera cultural, mais do que os eventos vividos, determina o comportamento humano. Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O projeto de pesquisa que embasou o presenta trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS sob o registro CAAE: 17489113.2.0000.0053. Uso de Cerdocyon thous (Linnaeus 1766) (Carnivora: Canidae) por agricultores da Zona da Mata Norte Pernambucana Letícia Tereza da Silva (Universidade Federal de Pernambuco), Ana Patrícia da Costa (Universidade Federal de Pernambuco), Luis Augustinho Menezes da Silva (Universidade Federal de Pernambuco) e Anna Carla Feitosa Ferreira de Souza (Universidade Federal de Pernambuco). Contato: [email protected]. O conhecimento etnobiológico obtido junto às populações vem representado uma importante ferramenta de conservação, especialmente as pesquisas sobre uso, pois as mesmas contribuem não só sob o ponto de vista ecológico, mas também socioeconômico. Cerdocyon thous, conhecido popularmente como raposa, apesar de ser um animal que gera medo e conflitos entre as populações rurais, apresenta registro do uso para diversas finalidades. Assim, buscou-se identificar e interpretar o conhecimento local dos agricultores da Mata Norte Pernambucana 167 sobre o uso C. thous e suas implicações para conservação. As informações foram obtidas através de entrevistas semiestruturadas realizadas com 198 moradores dos municípios de Paudalho, Glória do Goitá, Feira Nova e Vitória de Santo Antão, nos períodos de junho de 2012 a junho de 2013, complementadas com entrevistas informais. Os questionários foram aplicados a moradores rurais, com faixa etária de 19 a 80 anos (µ= 53,89; s= 13,18) dos quais 74,75% são agricultores. A maioria (53,46%) associou este animal a aspectos negativos, como transmissor de doenças (48,74%) e causadores de prejuízos às lavouras e criações (42,72%), contudo, 21,34% relataram usos para o mesmo, enquadrando em cinco categorias: artesanal (52,63%); medicinal (15,79%); alimentar (15,79%); mágico/religioso (10,53%); e estimação (5,26%). A matéria–prima mais utilizada foi o couro (62,50%), presente na prática artesanal para confecção de instrumentos musicais, tapetes e cintos; na medicina tradicional para o tratamento de cansaços (chá) ou para cura de feridas e queimaduras na pele (aplicação do couro em pó); e, no aspecto mágico-religioso utilizando-o como amuletos para afastar morcegos de equinos. Observou-se que mesmo a espécie apresentando um aspecto negativo para a população estudada, ainda foi possível registrar determinados usos da mesma, demonstrando a relevância deste tipo de estudo para subsidiar medidas de conservação eficazes, tendo em vista que a área estudada compreende áreas degradadas, outrora Mata Atlântica. Portanto, há necessidade de implementar trabalhos de educação ambiental considerando o contexto social e cultural, visando informar a população da importância deste animal para o equilíbrio do ecossistema, e sua importância na questão de saúde pública. Agradece-se ao Centro Acadêmico de Vitória da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), pelo apoio físico e financeiro, e aos agricultores da mata norte pernambucana pela paciência e por compartilhar seus conhecimentos. Usos tradicionais de recursos zooterápicos no município de Soure, Ilha do Marajó, Pará, Brasil Thaiana do Socorro da C. Nascimento (Universidade Federal do Pará) e Claudia Nunes-Santos (Universidade Federal do Pará). Contato: [email protected]. Os animais utilizados pelas populações tradicionais de Soure, as formas de obtenção e as doenças tratadas com estes recursos zooterápicos, foram investigadas. Localizado na maior Ilha do Arquipélago do Marajó, este município paraense possui 3051 km² de território e 23000 habitantes. As entrevistas semiestruturadas com os sabedores locais foram gravadas e transcritas com o programa Listen N Write 1.0.14.4. A partir dos núcleos de sentido das respostas, foram criadas categorias para calcular o Valor de Uso das Espécies (importância relativa no conhecimento local) e o Fator de Consenso das doenças tratadas (consenso intracultural do uso medicinal). Com base no material observado com os entrevistados e nas distribuições geográficas das espécies, os etnotaxons citados foram correlacionados com a taxonomia cientifica,. As doenças relatadas foram agrupadas de acordo com a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionado à Saúde (CID-10) da Organização Mundial de Saúde (OMS). Registrou-se o uso de 37 animais, sendo 31 silvestres e seis domésticos. As espécies com maior Valor de Uso são Bicho do caroço do tucumã (Speciomerus ruficornis), Camaleão (Iguana iguana) e Jacurarú (Tubinambis sp.). O Conhecimento Ecológico Local (CEL), utilizando partes ou produtos metabólicos destes animais, trata de 16 categorias de doenças da medicina convencional (OMS). Destas, as que apresentaram maior Fator de Consenso foram as doenças: do sangue e dos órgãos hematopoiéticos e transtornos imunitários; da pele e tecido subcutâneo; infecto-parasitárias; e gravidez, parto e puerpério, confirmando a 168 importância dos estudos da etnobiodiversidade. Os recursos zooterápicos são obtidos, predominantemente, como subprodutos da caça de auto-consumo, e a inquietação com a crescente escassez dos recursos naturais foi verbalizada pelos entrevistados. Preocupação pertinente, já que, das espécies utilizadas, três estão na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza: Allouata belzebul (macaco guariba), Trichechus inunguis (Peixe-boi da Amazônia) e Melanosuchus niger (Jacaré-açú). Os dados revelam, ainda, que os especialistas nativos de Soure são cidadãos com baixa articulação com o mercado monetário envolvente. Já os pacientes deste sistema de cura pertencem a todos os estratos sociais, indicando que o uso dos recursos zooterápicos não é economicamente determinado, ainda que seja parte importante da medicina tradicional local. Agradece-se ao Grupo de Estudos Socioambientais Costeiros (ESAC) da universidade Federal do Pará (UFPA). Usos, conflitos e conservação de animais silvestres na Mata Atlântica por uma população tradicional: implicações para a conservação de áreas protegidas Camila Alvez Islas (Universidade Estadual de Campinas) e Cristiana Simão Seixas (Universidade Estadual de Campinas). Contato: [email protected]. Este estudo foi desenvolvido na comunidade Caiçara da Praia do Sono, localizada na Reserva Ecológica Estadual da Juatinga (REEJ), Paraty, Rio de Janeiro. A REEJ passa, desde 2010, por um processo de recategorização para adequar-se à legislação federal. Buscou-se fomentar, durante este processo, a discussão sobre os usos e conflitos de vertebrados silvestres pelas comunidades Caiçaras e suas implicações para a conservação da fauna da Reserva. Para isto foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 39 unidades familiares da comunidade para investigar os usos e conflitos da fauna realizados pelas famílias Caiçaras e, também, identificar os animais mais relevantes para o manejo na Reserva. Entrevistas estruturadas foram feitas posteriormente com sete informantes-chaves, com o auxílio de fotografias, para correlacionar os nomes populares e científicos (retirados de inventário anterior) dos 64 animais citados nas entrevistas. Como o estudo do conhecimento tradicional e da caça perpassam por discussões éticas e legislativas relacionadas ao direito das populações e a conservação da biodiversidade, esta pesquisa foi autorizada pelos comitês de ética específicos e um termo de consentimento foi entregue aos entrevistados. Dentre os usos encontrados, os mamíferos (58,5% das citações) são os animais mais usados para alimentação e as aves (85,1%) como animais de estimação, enquanto o lagarto é o único utilizado para fins medicinais. Os conflitos ocorrem com os mamíferos na agricultura (100%) e na criação de galinhas (72,5%), com serpentes (62,3%) e felinos (37,7%) por perigo ou medo e com aves por lazer (crianças que atiram pedras). As principais espécies envolvidas nessas atividades são paca, Cuniculus paca Linnaeus 1766, cutia, Dasyprocta leporina Linnaeus 1758, gambá, Didelphis sp., tatu, Dasypus sp., veado, Mazama americana Erxleben 1777, porco-domato, Pecari tajacu Linnaeus 1758, macaco, Sapajus nigritus Goldfuss 1809, jaguatirica, Leopardus sp., jacu, Penelope obscura Rafinesque 1815, macuco, Tinamus solitarius Gray 1840, tucano, Ramphastos sp. e lagarto, Tupinambis merianae Linnaeus 1758. Os usos e conflitos encontrados salientam a importância da fauna para a população local, não podendo estes serem negligenciados durante o processo de recategorização da Reserva. É preciso reconhecer essas interações, outrossim, buscar soluções para conservação da fauna e o seu uso sustentável. Agradece-se à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), aos funcionários da REEJ e, principalmente, aos Caiçaras da Praia do Sono, sem os quais este trabalho não teria sido 169 realizado. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas sob o registro nº 420.539, sendo também analisado pelo Instituto Chico Mendes de conservação da biodiversidade (ICMBIO - SISBIO) sob o registro nº 41340-1 e pelo Instituto Estadual do Ambiente sob o registro nº 041/2013. Utilização de subprodutos do peixe-boi-da-amazônia, Trichechus inunguis (Natter, 1883), por pescadores no estuário amazônico Tayná Leão Miranda (Universidade Federal do Pará), Ana Marta Andrade Costa (Universidade Federal do Pará), Gabriel Melo Alves dos Santos (Universidade Federal do Pará), Angélica Figueiredo Rodrigues (Universidade Federal do Pará), Danilo Leal Arcoverde (Universidade Federal do Pará) e Leonardo Sena (Universidade Federal do Pará). Contato: [email protected]. Historicamente, as populações de peixes-boi-da-Amazônia são alvo de intensa pressão de caça, por ser fonte de proteína apreciada na região e pela utilização de seus subprodutos (gordura e couro) para fins medicinais. Classificado pela International Union for Conservation of Nature (IUCN) como vulnerável, esse animal, mesmo protegido por lei, continua alvo de caça na Amazônia. Neste contexto, este trabalho objetivou descrever as diferentes formas de uso dos subprodutos de T. inunguis por uma população de pescadores no estuário Amazônico. Entrevistas semiestruturadas foram aplicadas a 14 pescadores na área de Belém e região insular, Pará, abordando as diferentes formas de utilização do peixe-boi. As formas de uso indicadas pelos pescadores foram consumo da carne e medicinal. Sobre o consumo da carne 50% dos entrevistados relataram caçar o animal para esse fim. Os modos de preparo da carne citados foram o cozido (82%), assado (9 %) e frito (9%). Do total de entrevistados 55% descriminam o sabor da carne do peixe-boi de acordo com a parte do corpo do animal: o dorso do animal teria gosto de carne de boi, parte ventral sabor de porco e nadadeira caudal com gosto de peixe, embora 36% referiram-se somente ao gosto de carne de boi. A venda dos subprodutos é visto como consequência da caça ao animal. Os pescadores relatam como destino dos subprodutos comercializados, as feiras livres na região: Ver-o-Peso e Icoaraci em Belém, e as feiras das cidades de Barcarena e Abaetetuba. A utilização dos subprodutos para fins medicinais foi indicada por 50% dos entrevistados, as citações envolvem o uso da gordura (N=7) e couro (N=5) do peixe-boi. O uso da gordura está relacionado ao tratamento de doenças como reumatismo (N=5) e paralisia (N=2), através de massagens no local afetado. O couro é utilizado em feridas (N=3) e infecções (N=2), ajudando no processo de cicatrização da pele lesionada e substitui o curativo comercial. Os resultados reforçam que apesar da existência de leis de proteção ao peixe-boi-da-Amazônia a caça a espécie continua, porém, de forma menos persistente comparado ao histórico de caça registrado na literatura. É necessário um enfoque maior sobre a caça e as consequências que ela traz a espécie, pois esses animais possuem baixa taxa de fecundidade, com geralmente nascimento de um filhote por gestação e longo período de tempo de dedicação à cria, tais fatos unidos à caça contribuem para a diminuição da espécie no ecossistema. A partir das informações sobre o uso da espécie, vemos uma perspectiva de diálogo entre a pesquisa científica e o saber local dos pescadores a fim de minimizar as pressões de caça e definir coletivamente medidas que culminem com a conservação do peixe-boi-da-Amazônia. Agradece-se ao PIBIC – FAPESPA. À FAPESPA e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela concessão da bolsa que possibilitou o desenvolvimento desta pesquisa. 170 Zoossemiótica e comunicação social: análise imagética de peças publicitárias na cidade de Barreiras, Bahia, Brasil Pedro Paulo Alves Rocha-Filho (Universidade do Estado da Bahia), Alana Narcisia Jesus Souza (Universidade do Estado da Bahia), Eraldo Medeiros Costa-Neto (Universidade Estadual de Feira de Santana). Contato: [email protected]. A propaganda é uma prática de venda de persuasão que objetiva induzir o comportamento dos consumidores em direção ao produto e/ou serviço, usando-se de textos e imagens com significados implícitos ou explícitos a ser entendidos. Os anúncios publicitários são elaborados para instigar e invocar emoções e desejos agradáveis. Mais especificamente, eles chegam aos centros cognitivos do cérebro, comunicando por meio de nossos desejos físicos básicos (oral, sexual) e nossas necessidades emocionais (segurança, status social, controle, benefícios potenciais). Considerando os animais, os propagandistas empregam suas imagens para atrair a atenção do público para um produto ou negócio. O presente estudo visou registrar a zoossemiótica presente em peças publicitárias da cidade de Barreiras, oeste do Estado da Bahia. Para coleta de dados, foram realizadas visitas nos bairros de Sandra Regina, Centro, Centro Histórico, Santa Luzia, Vila nova, Rio Grande e Novo Horizonte, no período de maio a agosto de 2014, fotografando-se os anúncios publicitários que continham imagens de animais, em seguida foram analisados quali-quantitativamente, considerando a forma como os animais eram retratados e a quantidade de vezes em que apareciam. Os resultados indicam o total de 66 animais, pertencentes a sete categorias zoológicas distintas, sendo elas: mamíferos (40; 60,6%), aves (21,2%), insetos (2; 3%), peixes (6; 9,2%), crustáceos (1; 1,5%) e répteis (3; 4,5%), tanto da fauna brasileira quanto exótica, os animais registrados apresentam suas imagens relacionadas a diversos artigos do comércio de Barreiras, a citar; bares, restaurantes, materiais de construção e materiais de informática. Determinados animais apresentam relação direta com o produto e ou serviço associado, como, por exemplo, o boi sendo utilizado como fetiche nas lojas agropecuárias e açougue, a imagem de um peixe para ilustrar equipamentos de pesca, o cachorro e o gato representando clinicas veterinárias. A maior quantidade de mamíferos explicase pelo fato de que os seres humanos, enquanto espécie biológica, apresentarem uma maior simpatia com os animais em proporção ao grau de similaridade e, consequentemente, de afinidade que têm com eles.A presença de mamíferos pode ser explicada porque a cidade de barreiras é um pólo comercial que consolida a maioria das vendas de produtos para pecuária, bem como o comércio direto de animais e produtos e serviços associados (pet shops). Agradece-se à Universidade do Estado da Bahia, e ao Professor Drº Eraldo Medeiros Costa Neto pela orientação. 171 Contos e causos do X Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia A qualidade do cipó Clara de Carvalho Machado (Universidade Federal Fluminense) Foi quando seus pais foram presos em Pernambuco que teve que vir fugido pro Rio de Janeiro. Naquela época, quem era contra o governo era preso, espancado, torturado. Teve que largar tudo e tentar a sorte por outras bandas, bem longe. Conseguiu serviço, foi vivendo como podia até seus pais serem soltos, dois anos depois. Aprendeu o seu lugar no mundo, a submissão, o calar-se, o não calar-se e todas as consequências. Aprendeu com a família a revolução, e sozinho, a revolta. Ganhou um terreno do partido do qual o pai era filiado. Um lugar no meio da cidade, mas rodeado de mata. Disseram pra ele que era posse. Herdou. Conheceu uma moça, conheceu outra, teve filhos, constituiu família. Naquele terreno abrigou filhos, sobrinhos, netos, cunhada. Houve quem se aproximasse demais, vizinhos tascando pedacinhos da terra. Mas brigar por causa de terra pra quê? Deixou que plantassem o que quisessem por ali, não havia problema. Até o momento em que percebeu a importância de colocar uma cerca. - Daqui pra cá é meu, dali pra lá é seu – Falou para os vizinhos, pensando o quanto incomodava esse negócio de ter que botar cerca. No mato, cultivava junto com banana, abóbora, aipim, toda a sua vida e suas ideias. Cultivava com o carinho abrutalhado dos que não recebem muito carinho da vida. Ali naquelas bandas sem asfalto, sem coleta de lixo, sem esgoto, com pouquíssimas casas, só queria uma vida em paz, descansada, esquecendo os dias de fuga. Fugindo, encontrou-se. Hoje, depois de tudo que passara, sentia-se rico. Aconteceu que com o tempo foi tudo mudando, teve gente demais chegando, cercando, jogando esgoto no rio onde costumava pescar. Certo dia pensava nisso enquanto descansava depois do almoço, até que a filha, interrompendo-o, anunciou: - Ô pai, faz uma semana já! O lixo tá lotado! - Eu sei, minha filha, to indo – Ele respondeu, mas na verdade havia perdido a noção do tempo. Tinha que levar o saco de lixo no asfalto, onde passava a coleta. Levava-o sempre duas vezes na semana, porém, dessa vez, a semana estava acabando e ainda não cumprira sua tarefa. Pensou que devia ser coisa da velhice. Carregava consigo a certeza absoluta de que a coleta de lixo e o asfalto acabariam com aquele lugar e, por isso, defendia que ficasse como estava, sem estrutura. Nesse dia, levando o saco de lixo nas costas, passou pela margem do rio, viu aqueles meninos se banhando, às gargalhadas, e sentiu pena. Gostaria que pudessem sentir a água limpa e fresca no corpo, como antigamente. Não reconheceu um rosto que pudesse cumprimentar, era gente nova. Passou olhando de cabeça baixa. Um dos meninos percebeu, mas desviou o olhar. Deixou o lixo no asfalto, e no caminho de volta os meninos ainda estavam ali. Pensou o quanto era mal educada e sem respeito essa nova geração de gente da cidade. - Vieram junto com o esgoto – sussurrou baixinho, repensando a pena que sentira no caminho de ida. Certa manhã, soube por um dos vizinhos que corriam o risco de serem expulsos daquelas terras. Iam levar gente pra lá, fazer condomínio, apartamento, shopping, pracinha. Sentiu o medo no ar, nas águas, na mata, nas ruas, nos rostos. Não demorou e a prefeitura veio bater em sua porta pedindo pra entrar. Ele ficou tonto quando soube, a pressão subiu, teve medo de morrer de tanta emoção misturada que transbordava. - Boa tarde, seu César. - Boa. 172 - Somos fiscais da prefeitura, gostaríamos de saber se o senhor autoriza a gente a avaliar o terreno do senhor. O senhor deve estar sabendo do projeto de melhorias da região. A associação de moradores permitiu a nossa entrada. Engolindo em seco, seu César lembrava os outros abusos que passara na vida. E pensou que na idade dele, as consequências não importavam tanto quanto antes. Teve vontade de gritar, bater, chorar. - E como cês vão avaliar o terreno? – perguntou enquanto analisava a calça cargo e o colete verde cheio de bolsos que vestiam. Teve a impressão de que estavam fantasiados. - Só precisamos capinar uma parte e fazer algumas medições, vamos deixar até mais bonito! Não conseguiu engolir, nem em seco, a ousadia de pensarem conseguir deixar o terreno mais bonito. Aquele terreno era lindo, era dele, era ele. E se era mato, é porque ele era mato. Ele amava o mato, e insistia em dizer pra todo mundo que não era preguiça de trabalhar a terra, mas porque o mato era lindo mesmo. Lembrou-se de que o seu vizinho, quando para ali se mudou, disse-lhe que o cipó era mato sem qualidade e que ele deveria arrancá-lo, pois agarrava no pé. Ele sabia que aquilo estava errado, que o cipó deixava a terra úmida, protegia as raízes das plantas e as minhocas. Ele conhecia a importância do cipó para as minhocas e das minhocas pra terra. Ele sabia de tudo isso, mas não falou, reduziu-se a olhar para o vizinho com aquele olhar desconfiado das pessoas do mato. Retomou a realidade, olhou naqueles olhos de fiscais de prefeitura, quis falar sobre os cipós. Lembrou-se do contexto, quis falar, quis calar-se. E falou: - Aqui não vai tirar uma coisa de capim. Do rio pra cá o senhor não vai mexer um nada. O senhor é um laranja, mandado pelo seu prefeito e o seu prefeito é um canalha, pode dizer que eu mandei dizer isso a ele. Aqui não vai entrar, não. O pobre, tá morrendo de fome, tá desempregado e se troca até por uma dentadura pra dar um voto a um safado desse. E eu não sou desse, minha qualidade não é essa. Mas num sou mermo. Porque eu passei fome pra caramba, muita coisa mermo, tá? Comi o lado ruim da maçã estragada, tá? Mas não precisei panhar dinheiro com político nenhum pra nada. Meu pai também nunca foi disso, minha mãe também, essa aí então nem se fala. O senhor pode sair daqui que dessa cerca o senhor não passa. Os fiscais foram embora. Seu César sentou-se na varanda tentando controlar a pressão com a respiração. Pensou que não devia ter falado daquele jeito. Teve medo. Depois pensou que devia ter falado ainda mais bravo. Teve orgulho. Pensou que era um homem revoltado e gostou da ideia. - Eu sou mais de brigar pra ficar dentro desse mato aqui igual um bicho mermo, não quero nem saber de nada – Falou em voz alta, pro mato em volta, pras galinhas e pros lagartos do quintal. Cientificidade caiçara... tendência! Jessé Renan Scapini Sobczak (Universidade Federal do Paraná) Muita coisa se busca saber sobre o conhecimento de comunidades ditas tradicionais e, no meio desse entrevero, há de se encarar dessa forma pois parafraseando o dito místico, “muita coisa existe entre o céu e a terra”, a subjetividade passa a ser um fator promotor de ciência; a postura nessa hora é fundamental para acessá-la. Mas não estou aqui para relatar algum contato, nem tampouco fazer uma distinção entre o certo e errado. No entanto, sem querer desbravar tais facetas, me deparei com algo que para mim foi visto de certa forma com estranheza; a utilização do linguajar científico por 173 comunidades rurais! Seria uma convergência de conhecimento? Ou quem sabe, uma tendência...? Oh tendência! Aí surge outra questão intrigante pois escuta-se bastante essa palavra para se referir à certas questões, análises e até mesmo esperança que vá se chegar à algo, utilizandoa como um artifício, que possa ou não validar mas almejar validação. Neste contexto, em certa reunião, escutei diversas vezes tais argumentações por ambas as partes presentes, órgãos / gestores públicos e profissionais da área de um lado e, pescadores artesanais de outro... E recentemente, em um evento da área realizado questionei a forma deliberada de utilização do termo como fator-causa de algo. Explicação convincente tive, levando-se e conta que fatores diversos podem ser factíveis de alterar o resultado final. Entretanto quando ao encerrar o discurso a respeito, foi utilizado o termo novamente para se referir a algo questionado inicialmente – talvez por força de expressão – mas que por fim deixa em evidência a fundamentação técnica do substantivo. No entanto, longe de explorar tais argumentações cabíveis para a busca de cientificidade do conhecimento caiçara e, tampouco isso seja realmente necessário para responder, o conhecimento nesse caso não estaria unicamente relacionado à forma, aproximando-se o linguajar. Acredito que o tempo de exposição à tais pesquisas, articulações, metodologias participativas e facilidade na obtenção de informações auxiliaram, moldando a forma no jeito de se expressar, almejando maior representatividade, talvez. Porém fica a dúvida: seria uma tendência? Plano B Naiana Pereira Lunelli (Instituto de Botânica de São Paulo) A procura de um tema e uma área de estudo pode ser um caminho interessante para os/as marinheiros/as de primeira viagem na etnobiologia, como no meu caso. Fui realmente apresentada a esta ciência somente depois da graduação. Nesta época, participei como auxiliar de campo em trabalhos de alguns colegas, mas realizar o próprio projeto de pesquisa aconteceu pela primeira vez apenas no mestrado. Antes do processo seletivo já tinha em mente qual seria a população, o local e as perguntas que desejaria investigar. Claro, os estudantes já devem estar com o projeto definido ao entrar no tal do mestrado! Pelo menos é como ocorre no programa de pós-graduação que faço parte. E assim, o projeto seguiu-se com base nessas ideias, mesmo sem eu ter ido sequer à área de estudo. Sabendo que tempo é o que menos você tem durante os próximos dois anos, comecei as tentativas de entrar em contato com a associação de agricultores que gostaria de estudar. A preocupação aumentava à medida que o tempo passava e não conseguia um retorno para agendar uma reunião em que pudesse apresentar a proposta de pesquisa. Foram três longos meses de espera até que alguém respondeu um dos diversos e-mails que enviei, porque via telefone sem chances, sempre dava ocupado. Depois fiquei sabendo que o município fica em “estado de sítio” por dias e às vezes até semanas, quando a única antena de comunicação é atingida por raios ou rajadas fortes de ventos. Ufa, finalmente consegui uma reunião! Bem, foi uma pequena comemoração porque dali em diante outros contratempos aconteceriam, como por exemplo realizar os procedimentos e dar início aos processos de autorização de pesquisa, mas esta é outra novela famosa na etnobiologia. Chegando à sede da associação fui recebida pelo coordenador de pesquisa, e ele foi bem sincero e direto durante nossa conversa. Ele comentou que havia uma verba destinada a pagar 174 a diária dos agricultores para receber pesquisadores. O ponto era que muitos dos agricultores estavam cansados de atender esse pessoal, pois preferiam cuidar de suas roças que são mais importantes. Então, não saberia me dizer como eu ia resolver essa questão. Como etnobióloga, eu deveria estar preparada para receber os nãos. Neste caso, não custava tentar a sorte e a boa vontade dos agricultores, né? Até aí, essa questão não era algo incomum no caminhar do estudo. Depois, chegamos ao assunto das demandas de pesquisa. Foi neste ponto que as ideias começaram a se desalinhar. No andar da conversa tentamos encaixar a temática que escolhi, mas não conseguimos ver como ela poderia contribuir com a associação. A solução que ele sugeriu foi alterar a proposta de pesquisa. Sim, aquela mesma que preparei durante tantos meses e achei o máximo, mas que não tinha função naquele momento e naquele local! Era tarde, a viagem foi longa e precisava descansar. O corpo pelo menos, porque a mente ficou inquieta despois dessa prosa. Eu pensava sobre a urgência de ter um plano B. Mas, mudar tudo era loucura. E ainda, naquela altura do campeonato, passados seis meses de mestrado. Estava perdida. Ao final do dia, fui convidada a me hospedar na casa de um dos agricultores que, por acaso, era o presidente da associação. Na manhã seguinte aproveitei a oportunidade para expor a ele a ideia do que seria o estudo e fazer algumas perguntas do roteiro de entrevista piloto. Esse agricultor tem uma experiência de mais de 17 anos na associação e sua resposta foi um grande ponto de reflexão para mim. Primeiramente, comentou que o tema era muito importante para quem trabalha com agrofloresta, mas não seria possível eu encontrar a resposta de minhas perguntas por aquelas bandas. Na verdade, disse que os agricultores de lá ainda não desenvolveram a percepção da natureza pela qual eu procurava, pois eles estavam preocupados em sanar a fome. Uau! Foi um “tapa na cara”! Senti-me tão pequenina. Eu preocupada com a percepção sobre a interação das árvores e eles com sua necessidade mais básica de sobrevivência. Desde o início sabia que essa não era a melhor forma de iniciar a pesquisa, mas infelizmente não tive oportunidade de ter o mínimo de intimidade com aquela população antes de construir o projeto e evitar cair nesta armadilha. Com esta resposta aprendi que as pessoas, independente do local onde moram, precisam estar com a barriga cheia o suficiente para pode prestar atenção nas sutilezas e subjetividades que estão ao seu redor. No final das contas, os impasses foram resolvidos, o projeto foi realmente redefinido para o plano B e adequado àquela realidade social. Confins Edna Maria Ferreira Chaves (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí) Corria o mês de fevereiro, e o chão seco denunciava a avidez por água naquelas paragens da Ibiapaba, localidade Oiticica, divisa entre os municípios de Buriti dos Montes/PI e Crateús/CE, onde nós colhíamos informações etnobotânicas. Alguns chuviscos haviam animado algumas plantas que esboçavam a intenção das primeiras folhas. Estas, de verde intenso e brilhante, contrastavam com outras, saindo de galhos cinza, como o olhar triste de um camponês em tempos de seca. A mata de Carrasco, outrora densa, fria, macia e cheirosa, que nos convidava a deitar em seu chão de areia branca e a dormir sob suas copas, dera lugar a um emaranhado de garranchos hostis aos seus visitantes. O toque acariciador das muitas flores e os incontáveis sons emanados pelos diversos animais foram substituídos pela aspereza dos galhos desnudos e pelos suspiros dos bichos sedentos. 175 O rio Poti, que há muito escorria majestoso e incansável serra abaixo a distribuir alimento e água a todos os habitantes, tal qual um trem de carca que descarrega mantimentos em cada estação, agora agoniza em poços, aprisionado por rochas e bancos de areia a esperar pelas chuvas tardias. Sem o rio em curso, os habitantes de suas margens desnutrem e desidratam lentamente a contemplarem o infortúnio e o prenúncio da morte. Em meio a esse cenário, homens e mulheres labutam dia após dia, incansáveis em seus afazeres, seja em busca de alimentos e água, seja para amparar as cabras, os cavalos, o gado bovino e os demais animais que suplicam por ajuda, ou, ainda, a preparar a terra para o semeio, se por acaso as chuvas chegarem. Enquanto uns desmatam novas áreas, outros capinam e reforçam as cercas de capoeiras, os cercados e quintais, num vai e vem estonteante. Quem chega, desavisado, de primeira vez não consegue compreender toda essa dinâmica, e algumas perguntas parecem inevitáveis. “Para que tanta labuta neste solo árido e tórrido? Por que estas pessoas permanecem neste lugar? Como resistem a tanta carência?” E observa, ainda sem compreender que no final do dia, todos se aquietam em suas casas, felizes e esperançosos. Entretanto, para quem, assim como nós, esteve nessa comunidade no período chuvoso, essa conduta se justifica pela certeza da próxima estação e das belezas e riquezas dela advindas. Esta é uma terra com atributos próprios, amada por poucos, mas com intensidade suficiente para suprir a ausência de atenção dos que não a souberam olhar ou não aprenderam a amá-la. Todas as vezes que chegamos a essa comunidade ficamos arranchados em uma casa grande, a maior da comunidade, muito antiga, com algumas paredes construídas com pedras e no estilo sertanejo comum por estas bandas, e contamos com o acolhimento aconchegante de seus donos, um amável casal que nos hospeda com a alegria de quem recebe um dos seus. No final da tarde de um dia ensolarado e seco, estávamos na calçada do nosso pouso a comtemplarmos o vai e vem dos moradores. Uns com latas d’água na cabeça ou penduradas em varas sobre os ombros; outros chegando dos roçados com enxadas, foices e machados; uns que chegavam dos poços do rio após o banho; uns que tangiam as cabras para o chiqueiro [...]; quando vimos um vaqueiro paramentado de gibão e perneira, montado em seu cavalo, chegando em sua casa depois de mais um dia de pesada lida com os animais em fazenda próxima dali. Continuando nossa missão de conhecer as potencialidades da vegetação desta área da Ibiapaba, a partir de entrevistas com os habitantes da localidade, aguardamos o tempo necessário ao asseio e a alimentação e fomos à casa do vaqueiro. Era um anoitecer amarelo de um dia especialmente quente. O horário, aparentemente impróprio, era o único possível para entrevistá-lo, visto que já havia sido observado que ele iniciava a lida às cinco horas e a findava ao cair da noite, dia após dia, sem descanso. Um tanto acanhadas, por não sabermos como seríamos recebidas após um dia cansativo de trabalho e no horário de descanso, aproximamo-nos. A casa simples fazia parte de uma vila construída pela Rede Ferroviária Federal nos tempos áureos, dos quais data também o início da comunidade, tendo sido abandonada por esta companhia. Posteriormente, a vila foi habitada por pessoas que residiam em áreas afastadas do núcleo populacional, nas terras do outro lado do rio e que ficavam ilhadas na estação das cheias. A casa, de cor amarela, com tinta possivelmente da época da construção, estava assentada sobre uma área de afloramento rochoso, de forma que um grande lajeiro irregular atapetava a frente, aqui chamada de terreiro da frente. Neste havia um cavalo com o cabresto atado a uma vara de sabiá, comendo milho em uma cuia e, do seu lado, um pouco distante, sentado sobre as pedras do lajeiro, um homem esguio, de aproximadamente 35 anos, fumando seu cigarro enquanto descansava e dava boas-vindas à chegada da noite. Em passos lentos, aproximamo-nos e, ainda um tanto distante, um pouco temerosas da reação do cavalo que estava entre nós e a casa, falei: – Boa noite, senhor! 176 –Boa noite, sinhora, se achegue. – E o cavalo? Podemos mesmo passar assim pertinho dele? – Pode sim, sinhora, ele é mansinho, num mexe não, sinhora. Então nos aproximamos do senhor e o cumprimentamos com um aperto de mão à moda da região. A mão áspera dava sinais de quanto atrito houvera sofrido e por quais agruras já passara. Levantou-se, pediu desculpas por estar sem camisa e foi vestir-se. Logo retornou e nos mandou entrar e sentar em um tamborete, cadeira sem encosto, confeccionada de madeira e coberta de couro de boi. Em seguida, nos apresentou sua esposa e seus filhos. Explicamos os motivos que nos trouxeram à sua residência, os quais ele relatou já estar ciente devido aos trabalhos realizados na comunidade quando do início do projeto. Após sua concordância em participar da pesquisa e cumpridos os trâmites legais, iniciamos uma longa conversa. O convidamos, incialmente, a nos contar a sua história de homem sertanejo, filho, esposo, pai e vaqueiro. Objetivávamos conhecer as raízes que o mantinham fincado naquele rincão e deixá-lo um tanto mais familiarizado conosco para, posteriormente, adentrarmos nas informações sobre as plantas do carrasco e suas utilidades no cotidiano da família. Para minha surpresa, aquele homem rústico e de feições duras deixou aflorar a serenidade de um menino e começou a lembrar da sua infância em uma fazenda do outro lado do rio, onde crescera em uma casa grande de alpendre na companhia dos pais e dos irmãos. Filho mais velho, coube a ele desde muito cedo ajudar o pai, cuja companhia muito desfruta ainda, na lida com o roçado e com os animais. A casa, que ainda existe e fomos visitar posteriormente, construída de adobo cru e telha, cercada por grandes cajueiros e protegida por muitas cercas de madeira e de arame, foi erguida em meio à mata, em um recanto nas cuestas da Serra da Ibiapaba, a alguns metros da margem direita do rio Poti, e ofereceu todos os sabores e odores necessários ao crescimento de um homem forte, íntegro e persistente, que falava com sentimento de todos os detalhes da sua feliz infância, adolescência e vida adulta. Logo ficou claro de onde vinha o seu apego por aquele lugar e as razões pelas quais para ele não havia lugar melhor para viver. Então, depois de certo tempo de relato, elogiamos a sua capacidade de lembrar-se de fatos há muito ocorridos. A conversa seguiu: – Nessa época vivida lá na fazenda, o senhor conhecia alguma planta do mato pelo nome? – Sim, sinhora. Meu pai e eu sempre andava no rasto. Me mostrava as planta e dizia: “óia, minino! Tá veno isso? é fulana de tal, se tiver cum fome no mato pode matar a danada cumeno isso. Tá veno que os passarim furarum aqui? É que eles sabe que é boa de cumer, prova aí!”. E eu cherava e provava e num é, sinhora, que era cheroso e bom! Então, daí pra diante, na mata que tinha essa fruita eu num passava mais fome não. E quando tava im casa e a cumida tava custano sair, se era tempo, corria no mato, cumia e enchia os bolso e o patuá e trazia prus meu irmão e pra cumer im casa. Tem muita coisa boa de cumer no mato e cum os ano eu fui cuincendo cada uma. Tem de saber o tempo bom de cumer pra num ficá de boca costada, de bucho inchado ou inté morrer invenenado, num sabe? Tem de saber, num é qualquer um que sabe. Mas eu sei. Ele continuou a falar sobre seus conhecimentos, quais plantas se podia comer e quando e como podiam ser colhidas na mata, com tom de quem era mestre no assunto. Quando fez uma pausa, perguntei: – O que é patuá? Ele sorriu demoradamente da nossa ignorância, escondendo o rosto com as mãos, num gesto típico de quem não queria nos afrontar. Acho que ficamos vermelhas de vergonha, pois sentimos o rosto aquecer. E em seguida, respondeu? – Quando as calça do pai num prestava mais, a mãe cortava os bolso e amarrava uma corda fina de imbira de tucum e nóis pindurava a tiracolo e inchia de pedra piquena, aquelas mais lisa, 177 num sabe? Era a nossa arma contra os bicho e às vez também caçava algum passarim, preá, rabudo, [...], bichim do mato. Era coisa de gente nova que num tem pena dos bichim. Percebemos que ficou envergonhado de lembrar que gostava de caçar quando era mais moço, uma vez que parecia não aprovar mais essa prática ou saber que não devia mais praticála. Fingindo não termos percebido o embaraço, perguntei: – Seu pai lhe mostrava algum outro mato que pudesse ser usado para curar doença ou ajudar na lida da fazenda? – Sim, sinhora. Todo o tempo que nós moramo do oto lado do rio e ainda agora a mata é de grande sirvintia. Nos tempo de lá, quando algum tinha febre ou dor de barriga, impinja ou ficava impachado, logo a mãe ia no mato ou pidia pro pai o remédio. Era chá, garrafada, lambedor, esfregança, purgante, toda sorte de jeito, um pra cada coisa. Às vez tinha um gosto muito rúin, mas nóis tinha de bebe tudo, logo tava bom ota vez. Cum o tempo nóis ia aprendendo cada um dos remédio e que mato era bom para cada coisa. Dispois que viemo pra essa casa num mudou muito não. Todo dia passo o rio pro lado de lá, vez de cavalo, quando tá seco, vez de cavalete quando cheio. Vou cuidar dos bicho e trago mato pros remédio de nós aqui. Então forneceu uma longa lista de plantas, de seus usos e dos cuidados na hora de colher e de preparar. E assim ficamos um bom tempo a conversar. Já se fazia tarde e nós sugerimos que continuássemos a conversa no dia seguinte, já que ele precisava acordar cedo para retomar a lida. Lamentou que as horas tivessem passado tão rápidas e disse ter muitas coisas mais que fazia questão de nos contar. Mostramos de forma enfática o quanto tínhamos interesse em ouvilo e, assim, nos despedimos dele e também da sua esposa e filhos, que ouviram toda a conversa, atentos, parecendo valorizar cada uma das lembranças daquele vaqueiro. Já passava das vinte horas e nosso corpo estava moído do dia de excursão pela mata em busca de algum espécime em estádio reprodutivo para registro botânico. Mas estávamos muito felizes com o andamento dos trabalhos e com a forma franca e confiante com que as pessoas daquela comunidade se dispunham a dividir conosco as suas lembranças mais nobres, os seus saberes familiares, as suas vidas. Saímos andando em passos lentos a rememorar tudo que havíamos escutado e visto naquele dia. A noite caíra suave e a brisa fria acariciava a nossa pele como a se desculpar pelo escaldar do recente dia. A vereda de areia branca, ladeada por subarbustos secos, em meio ao pátio central da comunidade, que, na vinda, ainda sob o calor do sol, pareceu hostil, agora nos recebeu acolhedora como um tapete a nos guiar sob a luz da lua. Paramos um pouco, para sentirmos melhor um odor suave e sui generis trazido pelo vento. Nunca o havíamos sentido antes. Talvez fosse o cheiro das vidas que não resistiram à estiagem, pensamos, e os nossos pelos eriçaram. Bobagem, pensamos rápido, devia ser o odor de alguma flor que desabrochara na seca para socorrer as abelhas e os beija-flores, concluímos lucidamente. Um tanto mais à frente paramos novamente, para contemplar a comunidade, que outrora vimos sob a luz do sol, agora iluminada por aquela luz lunar. As casas, em sua maioria dispostas em pequenas fileiras, se agregavam de tal forma que deixavam no centro uma área transitável de comum acesso, e, na nossa ilusão de óptica, a nós nos pareceu que a lua intensificava sua luz neste ponto, coincidentemente, sobre nós. A calma e tranquilidade da noite se opunham à labuta e ao suor do dia. Ao nos aproximarmos do nosso pouso, sentimos cheiro de café recém coado no pano e, ao chegarmos, vimos que um casal de compadres e seus filhos se encontravam na casa. As mulheres conversavam alegremente na cozinha enquanto coavam o café e os homens sorriam em torno de uma mesa de baralho. Nestas bandas, os vizinhos e os compadres costumam se juntar em noite de luar para conversarem, sorrirem ou brincarem de algum jogo, enquanto tomam café e esperam o sono chegar. Cumprimentamos todos, que já eram nossos conhecidos, 178 e nos juntamos às mulheres na cozinha, enquanto observávamos os acontecimentos por toda a casa. Quando as visitas se foram pensamos o quão felizes são essas pessoas que precisam apenas de um dia de trabalho e de uma noite de luar para encerrarem em paz o ciclo das 24 horas. Sob a proteção dos Céus e inundadas por certezas só delas, são sábias para extrair felicidade de um cenário desolador aos olhos da modernidade. A nossa alma provinciana encontra pouso nestes confins, onde a chuva, o sol e a lua são dádivas suficientes para se atingir a plenitude do ser. 179