X Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia

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MANUAL DO SIMPOSIASTA
22 a 26 de novembro de 2014,
Universidade Estadual de Montes
Claros (UNIMONTES), Minas Gerais
www.xsbee.unimontes.br
X Simpósio Brasileiro
de Etnobiologia e
Etnoecologia
Biodiversidade, Direitos e Territórios
Agradece-se à Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), à Universidade Estadual de Minas Gerais
(UEMG), ao Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais (ICA/ UFMG), ao
Centro de Agriculutura Alternativa do Norte de Minas (CAA-NM) e à Operação Amazônia Nativa (OPAN).
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Sumário
Apresentação .................................................................................................................5
Breve histórico da Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia ............................5
Atual composição Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia ............................6
Sobre o X Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia ..........................................7
Comissão Organizadora...................................................................................................8
Montes Claros e o Norte de Minas Gerais ........................................................................8
Espaços de participação ................................................................................................ 11
Programação ................................................................................................................ 14
Sábado, 22 de novembro de 2014....................................................................................... 14
Domingo, 23 de novembro de 2014 .................................................................................... 14
Segunda 24, de novembro de 2014..................................................................................... 15
Terça, 25 de novembro de 2014.......................................................................................... 17
Quarta, 26 de Novembro se 2014 ....................................................................................... 19
Anais do X Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia ....................................... 21
Agroecologia ........................................................................................................................ 21
Ecologia Política ................................................................................................................... 33
Etnobiologia aplicada à Educação ....................................................................................... 42
Etnobotânica ....................................................................................................................... 57
Etnoecologia ...................................................................................................................... 104
Etnoecologia da pesca ....................................................................................................... 142
Etnozoologia ...................................................................................................................... 156
Contos e causos do X Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia ..................... 172
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Apresentação
O X Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia (X SBEE) tem como
principal objetivo fortalecer as atividades de pesquisa, ensino e extensão da Sociedade
Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia (SBEE), tendo como eixo central:
“Biodiversidade, Direitos e Territórios”. Este tema se justifica e se qualifica pelo
crescente uso dos saberes locais como ferramenta de luta pelos direitos das
comunidades tradicionais. O avanço do modelo de desenvolvimento hegemônico,
baseado na concentração e exploração irracional dos recursos naturais, tem colocado
em risco faculdades fundamentais dessas populações e, em especial, o acesso ao seu
território, condição básica para reprodução de seus modos de vida. Como resultado,
observa-se uma crescente ameaça a sociobiodiversidade, representada por estes grupos
tradicionais. Neste contexto, cabe à Sociedade Brasileira de Etnobiologia e a
Etnoecologia realizar um diálogo entre o “fazer” acadêmico e os discursos que as
comunidades tradicionais elaboraram sobre seus saberes, além de fortalecer redes de
colaboração e partilha de experiências entre os grupos de pesquisa e as organizações
locais dessas populações. Acredita-se ser necessário avançar no diálogo entre as
pesquisas acadêmicas e as demandas das comunidades, as quais são também sujeitos
do processo de construção do conhecimento científico.
Finalmente, como o X SBEE é um evento organizado para uma sociedade científica,
espera-se que as atividades presentes também reflitam as demandas e os atuais avanços
dos etnobiólogos e etnoecólogos brasileiros. Espera-se o desenvolvimento destas
discussões ocorram em comunhão com experiências de profissionais de outros países,
onde este campo do conhecimento recebe destaque mundial.
Breve histórico da Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia
A Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia é uma organização civil sem
fins lucrativos de caráter científico-cultural, que visa representar e desenvolver as
etnociências no Brasil. A SBEE foi fundada durante o I Simpósio Brasileiro de
Etnobiologia e Etnoecologia, promovido na Universidade Estadual de Feira de Santana
(UEFS) em Feira de Santana, Bahia, em 1996, reunindo naquele ano um total de 250
participantes.
A SBEE defende a adoção de modelos de desenvolvimento que respeitem os
ambientes das populações locais e reconheçam seus direitos de uso dos recursos e
conhecimentos e seus territórios. A SBEE vem desenvolvendo esforços para a
manutenção da diversidade biológica e cultural, reconhecendo a necessidade de
participação efetiva destas populações na elaboração de políticas públicas que afetem
os ambientes dos quais dependem. Desta forma, a SBEE vem trabalhando no sentido de
valorizar o saber local no desenvolvimento de políticas públicas culturalmente
apropriadas.
Os pesquisadores associados à SBEE devem promover, divulgar e implementar os
princípios da “Carta de Belém” (“código de ética” orientado para os etnobiólogos
redigido em 1988 durante o I Congresso Internacional de Etnobiologia), além de seguir
os princípios do “Código de Ética da Sociedade Internacional de Etnobiologia (ISE)”. As
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principais finalidades desta entidade são as de congregar as pessoas interessadas no
desenvolvimento dos estudos etnobiológicos e etnoecológicos, incrementando a
formação e reconhecimento profissional, como elementos indispensáveis no inventário
e estudo do patrimônio natural e cultural brasileiro, de modo que novos pesquisadores
tenham um suporte técnico e que se estabeleçam normas de ética profissional.
Dentre as atividades fomentadas e sob responsabilidade da entidade, está a
realização bianual do Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia, fórum de
debate de temas correlacionados com a problemática socioambiental, apresentação da
produção dos associados e pesquisadores que atuam nesta área e de troca de
experiências. Embora tenha caráter científico, considerando que o alvo dos estudos
etnobiológicos são as populações humanas e seu conhecimento sobre o ambiente e
recursos naturais, recaímos obrigatoriamente na necessidade de abordar questões
éticas relacionadas ao destino destes estudos, principalmente no contexto atual,
matizado com denúncias e regulamentações que buscam coibir a biopirataria. Neste
sentido, este Simpósio tradicionalmente mobiliza não somente os pesquisadores, mas
representantes e lideranças de populações tradicionais, profissionais e representantes
de setores públicos e da iniciativa privada envolvidos com a temática socioambiental.
Atual composição Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia
Dra. Rumi Regina Kubo
(Presidente - Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Dr. Reinaldo Duque Brasil
(Vice-presidente - Universidade Federal de Juiz de Fora)
Dr. Emmanuel Duarte Almada
(1ª. Secretário - Universidade do Estado de Minas Gerais)
Dra. Cecília de Fátima Castelo Branco Rangel de Almeida
(2ª. Secretário - Centro de Ensino Superior do Vale do São Francisco)
Dr. Lin Chau Ming
(1° Tesoureiro - Universidade Estadual de São Paulo)
Dr. Gustavo Taboada Soldati
(2ª. Tesoureiro - Universidade Federal Rural de Pernambuco)
Conselho:
Dra. Elaine Elisabetsky (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Dr. Hiroshi Noda
(Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas), Dr. José Geraldo W. Marques
(Universidade Estadual de Feira de Santana), Dra. Maria Christina M. Amorozo
(Universidade Estadual de São Paulo), Dra. Maria das Graças Pires Sablayrolles
(Universidade Federal do Pará), Dra. Maria de Fátima Barbosa Coelho (Universidade
Federal do Mato Grosso).
Representantes Regionais:
Região Sudeste: MSc. Marco Túlio da Silva Ferreira (Operação Amazônia Nativa); Região
Sul: Dra. Vanilde Citadini Zanette (Universidade do Estado de Santa Catarina) e MSc.
Sofia Zank (Universidade Federal de Santa Catarina); Região Centro-Oeste: MSc.
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Cajetano Vera (Secretaria Municipal de Educação de Dourados) e Dra. Maria Nazaré
Stevaux (Universidade Federal de Goiás); Região Nordeste: Dr. Reinaldo Farias Paiva de
Lucena (Universidade Federal da Paraíba); Região Norte: MSc. Nivaldo Aureliano Leo
Neto (Universidade Federal da Paraíba), Dra. Sandra do Nascimento Noda (Universidade
Federal do Amazonas) e Dr. Valdely Ferreira Kinupp (Instituto de Nacional de Pesquisas
Amazônicas).
Sobre o X Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia
Em sua décima edição, depois de Feira de Santana, Bahia (1996), São Carlos, São
Paulo (1998), Piracicaba, São Paulo (2000), Recife, Pernambuco (2002), Chapada dos
Guimarães, Mato Grosso (2004), Porto Alegre, Rio Grande do Sul (2006), Belém, Pará
(2008), Recife, Pernambuco (2010) e Florianópolis, Santa Catarina (2012), o Simpósio
Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia se realiza em Montes Claros, Minas Gerais, no
período de 22 a 26 de novembro 2014.
Nesta edição, partindo da discussão e do acúmulo de informações proporcionados
pelos simpósios anteriores, buscar-se-á avançar nas discussões, abordando as
especificidades de pesquisas etnobiológicas, tanto do ponto de vista conceitual e
epistemológico, como metodológico. Também busca-se aprofundar o debate relativo às
conexões entre conhecimento cientifico e tradicional (local) e suas consequências para
o debate socioambiental e, sobretudo as relações entre o conhecimento gerado pela
Etnobiologia e sua contribuição para a melhoria das condições de vida das populações
locais e a sociedade em geral.
Além destas atividades, serão oferecidos três prêmios, a saber: Prêmio científico
Darell Posey, de Fotografia João Zinclar e Prêmio de Contos e Causos Guimarães Rosa.
O Prêmio Darrell Posey foi criado em 2002, durante o Simpósio realizado em Recife, para
homenagear o antropólogo pioneiro no Brasil no desenvolvimento científico da
Etnobiologia e Etnoecologia e na luta pelos direitos dos povos tradicionais, tendo sido
um dos sócios-fundadores da SBEE. É uma atividade realizada durante os Simpósios da
Sociedade e tem por objetivos: estimular a formação de novos pesquisadores; apoiar o
desenvolvimento de trabalhos que contribuam para a materialização da visão de Darrell
Posey, no sentido de promover a compreensão das relações dinâmicas e complexas
entre as pessoas e o seu meio ambiente, e dar apoio às populações indígenas e
comunidades locais para uma gestão sustentável dos seus recursos biológicos, bem
como garantir e salvaguardar todos os seus direitos sobre os respectivos recursos. Para
este prêmio podem concorrer trabalhos nas categorias: a) conclusão de graduação, b)
dissertação de mestrado e c) tese de doutorado.
O Prêmio de Fotografia tem como tema “A Luta por território e vida”. Nesta edição
será denominado prêmio João Zinclar em homenagem ao fotógrafo e sindicalista de
Campinas, falecido em 2013, tendo atuado ativamente junto aos movimentos em defesa
dos territórios tradicionais dos povos do Sertão do São Francisco. O prêmio é aberto a
todos os inscritos no IX Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia. As fotos
inscritas serão analisadas por uma Comissão Julgadora com base nos critérios de
originalidade, beleza, composição, criatividade e adequação ao tema do concurso.
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Finalmente, o prêmio de Contos e Causos Guimarães Rosa trata-se de incentivar a
publicação de experiências de campo, pessoais ou coletivas, hilárias ou tristes, escritas
em um formato mais livre, evidentemente, em contos, causos ou crônicas. Estas
vivências em campo que tanto enriquecem os olhares e condutas dos pesquisadores
terão a possibilidade de serem socializadas através da escrita.
Comissão Organizadora
Profa. Dra. Ana Paula Glinfskoi Thé
(Presidente – Universidade Estadual de Montes Claros)
Prof. Dr. Mário Marcos do Espírito Santo
(Vice Presidente – Universidade Estadual de Montes Claros)
Profa. Dra. Rumi Regina Kubo
(Presidente de honra – Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Dr. Gustavo Taboada Soldati
(Secretaria e Comissão científica – Universidade Federal de Juiz de Fora)
Prof. Dr. Emmanuel Almada
(Infra-estrutura – Universidade Estadual de Minas Gerais)
MSc. Marco Túlio Ferreira
(Articulação com as Comunidades Tradicionais – Operação Amazônia Nativa)
Carine Guedes Ramos
(Secretaria e Infra-estrutura – Universidade Estadual de Montes Claros)
Edson A. Lima
(Coordenação de atividades culturais e sociais – Orquestra Catrumana do Groove
Solto)
Montes Claros e o Norte de Minas Gerais
Ao longe vê-se uma cidade, encravada entre montes que, no fim da tarde, com a
luz tenra do pôr do sol, se pintam de um azul claro. Qualquer um, mesmo que
desavisado, sabe que chegou em Montes Claros, passagem obrigatória dos viajantes de
longa jornada que cruzam os rincões do país. Principal cidade do norte mineiro,
reconhecida pela integração econômica, social e cultural da região, onde confluem as
atividades de 150 municípios. Portanto, a diversidade caracteriza o lugar, e toma a sua
máxima expressão no mercado municipal, onde dividem espaços, temperos que
aromatizam o ar, plantas medicinais das diferentes formações vegetais que ocorrem na
região, chapéus de palha e couro, artesanatos, fumos de rolo, rapé de emburana, e,
sobretudo, a culinária norte mineira. Paçoca, carne de sol, tropeiro, torresmo, frango
com quiabo, costelinha. Adeptos de outra opção política provam feijão verde, macassa,
catador, farofa de andú, caxixa e mandioca. Mas um ar de encantamento e felicidade
generalizada se instaura a partir do mês de Janeiro, única e exclusivamente porque
frutificou o pequi (Caryocar brasiliense Cambess). Mas o que seria um arroz de pequi
sem uma cachacinha artesanal? Nada difícil em Minas, ainda mais quando estamos a
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menos de duzentos quilômetros de Salinas. Para aqueles que preferem um peixe, é só
pedir, pois o Velho Chico corre bem próximo.
Toda a diversidade existente em Montes Claros deve-se ás características culturais
e ambientais da região. O norte de Minas Gerais é por excelência um ecótono, uma faixa
de transição entre o Domínio do Cerrado que cobrem chapadões, da Caatinga que
cobrem depressões semi-áridas, e o Domínio Atlântico a leste. Nesse contexto, no qual
diferentes tipos vegetacionais se encontram, ocorreu também a formação de uma vasta
riqueza de identidades culturais, frutos de distintos processos civilizatórios. Inicialmente
destacamos os indígenas que, organizadas em diferentes sociedades, habitaram a região
norte mineira desde os primórdios, como os Abatirá, Catolé, Dendy, Kiriri. Atualmente,
destaca-se na região a presença dos Xakriabá, grupo que resistiu contra a opressão
histórica e atualmente luta pela reconquista do seu território ancestral, expropriado
pelos fazendeiros locais.
As bandeiras, oriundas do processo civilizatório europeu, adentraram o sertão
mineiro a partir do ano 1610, fundando a economia pastoril decorrente da aptidão da
vegetação local em nutrir o gado, criado, naquela época, solto. Tais bandeiras,
sobretudo os grupos submissos a Mathias Cardoso de Almeida, lutavam contra os
indígenas locais inicialmente para escravizá-los e vendê-los em Salvador ou na Vila de
São Paulo e, posteriormente, pelejaram visando “pacificar” a região diante dos motins
indígenas. A carne produzida no norte mineiro, em princípio destinada ao Recôncavo
Baiano, foi de fundamental importância para o estabelecimento das zonas de extração
de ouro na Zona da Mata mineira, de pouca aptidão agrícola e pastoril. A partir do
momento histórico em que o ouro passou a ter maior importância que o gado, a
organização política foi modificada drasticamente e a autonomia regional de Mathias
Cardoso é subjugada à ideia de unificação da então concebida Capitania de Minas
Gerais. Nasceu desta nova conjuntura mais um processo típico da formação histórica do
país, o desejo de independência econômica e política, no caso do norte mineiro frente
às minas auríferas do sul, com planejamentos de ataque a Vila Rica, capital na época. Tal
revolta foi nomeada de “Conjuração São Franciscana”, que não chegou a vingar.
Além destes processos civilizatórios de influência europeia, muitos grupos de
negros, habitando principalmente as florestas secas e caatingas, originaram diferentes
quilombos. Dentre estes, alguns não queriam contato direto com a sociedade
escravocrata e ocuparam lacunas territoriais não habitadas pelos indígenas, enquanto
outros descendentes africanos que mantinham um contato incipiente com a economia
colonial se estabeleceram em territórios limítrofes às cidades, desdenhados pelos
portugueses. Atualmente diversos quilombos se articulam na região e lutam, recebendo
destaque as comunidades negras do Gurutuba e Brejo dos Crioulos, que teve seu
território tradicional reconhecido pelo governo brasileiro, além das comunidades
quilombolas que vivem nas vazantes do rio São Francisco, como Pau Preto e Lapinha.
Como fruto da riqueza ecológica local, descrita anteriormente, e da diversidade de
matrizes étnicas e processos civilizatórios, desenvolveu-se um vasto leque de
identidades locais que, apesar de compartilharem características, como a produção
pautada na unidade familiar com tecnologias de baixo impacto, estabeleceram-se em
territórios restritos e produziram um modo de vida peculiar com características
diacríticas, como por exemplo, os geraizeiros, caatingueiros e vazanteiros. Os primeiros,
são denominados geraizeiros por que vivem nos “Gerais”, nome este dado aos
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chapadões e tabuleiros nos domínios do Cerrado norte mineiro. Sua agricultura consiste
no plantio de lavouras diversificadas de mandioca, feijões, milho, cana, abóboras, batata
doce, associado com a criação de animais soltos e com o extrativismo vegetal. Também
se caracterizam pela produção de café consorciado, geralmente com ingá (Inga spp.) em
sistemas agroflorestais domésticos denominados “chácaras”, bem como a fabricação
artesanal de farinha de mandioca. Além disso, o plantio de cana-de-açúcar para
produção de cachaça em alambiques tradicionais, a manutenção de indivíduos de
jenipapo (Genipa americana L.) nos quintais e o consumo alimentício do pequi também
caracterizam a identidade geraizeira. É típico dos geraizeiros dizer “quando pensa que
não...”, expressão vocativa para ressaltar algum fato importante durante as prosas,
indicando uma guinada na história ou uma mudança de rumo na conversa que culmina
em algum acontecimento supreendente.
Os caatingueiros habitam as matas secas e caatingas situadas no pé da Serra Geral
(como é denominada a Cadeia do Espinhaço na região), onde a mesma entra em contato
com a depressão interplanáltica meridional no extremo norte mineiro. Também se
destinam à produção familiar de feijão, mandioca e milho, mas, devido a maior falta
hídrica da região, a sua produção é mais suscetível e incerta diante da severidade e
irregularidade climática. Anos chuvosos e de muita produção, devido aos solos férteis,
se alternam com anos pouco produtivos, quando os “veranicos”, períodos de estiagem
durante a época chuvosa, são longos por demais. Como a falta de água é um fator
limitante, desenvolveram diferentes estratégias adaptativas para conviver com a seca,
como prever o tempo ideal de plantio utilizando-se sinais ambientais e bioindicadores.
Segundo os caatingueiros, “o fruto do juá [Ziziphus joazeiro Mart.] só cai na lama...” ou
“tem que plantá no pó...”. Talvez devido ao clima e a sazonalidade da atividade agrícola,
restrita às épocas chuvosas, “nas caatingas” a criação de gado é mais expressiva que
“nos gerais” e as atividades pastoris contribuem para a construção de uma cultura
sertaneja-vaqueira que permeia o cotidiano dos caatingueiros.
Os vazanteiros, em algumas localidades também conhecidos como barranqueiros,
habitam as vazantes do São Francisco e apresentam práticas de manejo e valores
relacionados à dinâmica temporal e espacial do rio. Conjugam a atividade de pesca com
a agricultura, cultivando milho, feijão, abóbora e mandioca. Manejam as vazantes do
rio, terras férteis que garantem a alimentação e o sustento familiar. Para tanto, seguem
a dinâmica de expansão e retração das águas são-franciscanas. Ou seja, os vazanteiros
tem que sincronizar suas atividades produtivas de acordo com os pulsos de inundação
sazonais do Velho Chico. Seus quintais não são tão desenvolvidos como nos “gerais” e
nas “caatingas”, porque as cheias do rio matam os propágulos das plantas manejadas.
Em suas próprias palavras: “o rio come os pé de fruta tudo”. Além disso, esta mesma
movimentação faz com que as moradas sejam permanentemente reconstruídas,
realocadas na paisagem para que não sejam atingidas pelas águas. Portanto, os quintais
não sofrem um manejo contínuo. A cosmovisão vazanteira também segue a fluidez das
águas dos rios, como evidencia a seguinte citação, registrada em Matias Cardoso: “o
mesmo rio que leva, é o mesmo rio que traz...”.
Em resumo, no norte mineiro “organizou-se uma sociedade com características
próprias, em que o eixo crucial consiste na articulação de diversidades culturais, de
identidades contrastivas, de racionalidades díspares, mas complementares, e de
projetos civilizatórios construtores da civilização brasileira, que permitem pensar o
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Norte de Minas como a síntese de nossa nacionalidade”. É justamente neste complexo
contexto sócio ambiental que organizamos o nosso X Simpósio Nacional de Etnobiologia
e Etnoecologia.
Texto de apresentação fortemente influenciado por Costa, J. B. A. 2006. Cultura, natureza e
populações tradicionais: o Norte de Minas como síntese da nação brasileira. Revista Verde
Grande 1(3): 8-51.
Espaços de participação
O XSBEE será conduzido a partir dos seguintes espaços: Pré-Simpósio, Encontro
com os Povos Tradicionais, Minicursos, Conferência de Abertura, Mesas Redondas,
Palestras, Mesa de Encerramento, Etnodoc, Painéis de Troca de Saberes, Grupos de
Discussão e Assembleia Ordinária da Sociedade Brasileira de Etnobiologia e
Etnoecologia, que passa a serem descritos agora.
Pré-simpósio: Uma das demandas apontadas para a Sociedade Brasileira de
Etnobiologia e Etnoecologia (SBEE) durante a sua última reunião, em Florianópolis, foi
um avanço na discussão sobre os aspectos éticos e legais associados à pesquisa. O précongresso foi concebido para suprir esta necessidade. Neste dia que precede o X
Simpósio Nacional de Etnobiologia e Etnoecologia alguns profissionais convidados,
utilizando uma metodologia de Grupo de Trabalho, concentrarão esforços para
desenvolver esta discussão no seio da SBEE e, quiçá, propor um posicionamento oficial
a ser respaldado na Assembleia Ordinária. No Pré-simpósio contaremos ainda com a
presença do Prof. Dr. Arturo Argueta, presidente da Sociedad Latino Americana de
Etnobiología (SOLAE) e de MSc. Erêndira Cano (SOLAE). A proposta de suas presenças é
apresentar e analisar o código de ética da Sociedad Latino Americana de Etnobiología.
Ainda estará presente neste mesmo espaço Prof. Dr. James R. Welch da Society of
Ethnobiology.
Encontro com Povos Tradicionais: Outra demanda apresentada a Sociedade
Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia foi a aproximação com as estâncias de
organização e reinvindicação das comunidades tradicionais, nossos principais parceiros
de pesquisa. Neste sentido, estamos tentando viabilizar um contato direto da SBEE com
representantes da Comissão Nacional dos Povos Tradicionais e representantes de
diversas comunidades tradicionais. O objetivo principal desse espaço dentro do X
Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia é propiciar um fórum político para
fortalecimento das articulações e empoderamento das comunidades tradicionais a nível
nacional, trazendo maior aproximação entre a Academia e as demandas postas por tais
atores sociais, comumente vistos apenas sob a ótica de “sujeitos de pesquisa”.
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Sábado, 22
Domingo, 23
08:00
08:30
09:00
09:30
Recepção e
credenciamento
Credenciamento
10:00
Coffee break
10:30
11:00
11:30
12:00
12:30
13:00
13:30
14:00
14:30
15:00
15:30
16:00
16:30
17:00
17:30
18:00
18:30
19:00
19:30
20:00
20:30
21:00
21:30
22:00
Minicursos
Encontro dos Povos
Tradicionais
Coffee break
Pré-simpósio
Minicursos
Almoço
Pré-simpósio
Almoço
Minicursos
Coffee break
Pré-simpósio
Encontro dos Povos
Tradicionais
Encontro dos Povos
Tradicionais
Coffee break
Minicursos
Encontro dos Povos
Tradicionais
Segunda, 24
Terça, 25
Quarta, 26
Mesa Redonda 1 e 2
Mesa Redonda 2 e 3
Mesa Redonda 5 e 6
Coffee break
Coffee break
Coffee break
Palestra 1 e 2
Palestra 5 e 6
Palestra 9 e 10
Palestra 3 e 4
Palestra 7 e 8
Palestra 11 e 12
Almoço
Almoço
Almoço
Etnodoc e banners
Etnodoc e banners
Etnodoc e banners
Troca de saberes
Grupo de Discussão
Grupo de Discussão
Coffee break
Coffee break
Coffee break
Troca de saberes
Grupo de Discussão
Assembleia da SBEE
Mesa em homenagem ao
Prof. José G. Marques,
varal de poesias e Cultural
Solenidade de
encerramento e
conferência espetáculo
Encerramento das atividades diurnas
Conferência de Abertura
Cultural de
recepção
Coquetel de Abertura
Lançamento exposição
fotográfica e livros.
Contação de causos e
Cultural
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Acredita-se que, ao promover esse tipo de interação, a Sociedade Brasileira de
Etnobiologia e Etnoecologia cumpre seus objetivos de promoção e valorização da
sociobiodiversidade e sua função enquanto instância de representação política dos
interesses relacionados às comunidades tradicionais e indígenas do Brasil. As discussões
serão organizadas em três distintos eixos, a saber: 1) Gestão Ambiental e Territorial
Comunitária; 2) Conservação e Promoção da Sociobiodiversidade; e 3) Estratégias
Comunitárias de Reterritorialização e Resolução de Conflitos Territoriais.
Minicursos: Espaço comum em todos os eventos científicos. Cursos curtos de sete
horas em temas básicos e avançados da Etnobiologia e Etnoecologia. Os minicursos são
opcionais e a participação demanda uma taxa adicional de inscrição.
Conferência de Abertura: Momento para a abertura oficial do X Simpósio
Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia, quando, depois das apresentações formais,
será proferida uma palestra com objetivo de incitar a discussão sobre o tema principal
do simpósio. Temos o prazer de receber uma das principais lideranças indígenas do país.
Mesas Redondas: Espaços com duas horas de duração, nos quais três profissionais
terão a oportunidade de dialogar sobre um tema de interesse ao desenvolvimento da
Etnobiologia e Etnoecologia. Também será destinado um tempo para a intervenção dos
participantes. Optamos, para diversificar a programação e abranger as expectativas dos
participantes, realizar duas mesas paralelas em cada um dos dias em que estejam
programadas. Totalizamos seis mesas redondas, além de uma mesa de abertura e outra
de encerramento.
Palestras: Apresentações individuais de profissionais com experiência
reconhecida em áreas de interesse da Etnobiologia e Etnoecologia, com cinquenta
minutos de duração. Espera-se que estes espaços tragam atualidades ao nosso campo
de atuação. Optamos, para diversificar a programação e abranger as expectativas dos
participantes, realizar duas palestras paralelas em cada um dos dias em que estejam
programadas. Totalizamos doze palestras.
Etnodoc: No horário de almoço iremos exibir curtas e documentários
contextualizados à nossa prática científica e associados ao tema do X Simpósio Brasileiro
de Etnobiologia e Etnoecologia.
Troca de saberes: Buscando aproximar cada vez mais os pesquisadores em
Etnobiologia e Etnoecologia das demandas sociais dos grupos parceiros das
investigações científicas propormos a realização de Painéis. Nestes espaços,
representantes locais terão a possibilidade de relatar a sua realidade e evidenciar como
o contato com a academia e pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento
modificou, para melhor ou pior, a sua realidade. Pensamos ser um rico momento para
uma reflexão compartilhada sobre “como”, “porque” e “para quem” realizamos nossas
pesquisas e atividades acadêmicas. Contamos com a presença de algumas etnias
indígenas e alguns representantes outros de grupos sociais de destaque.
Grupos de Discussão (GD’s): No X Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e
Etnoecologia, além das tradicionais exposições de “banners”, teremos uma outra
possibilidade para os diálogo e troca de experiência entre todos os participantes
pesquisadores. Alguns resumos submetidos e aprovados foram selecionados e serão
apresentados oralmente para todos os participantes presentes. Alguns pesquisadores
da área temática ficarão responsáveis por fomentar a discussão. Os GD’s visam
preencher uma lacuna nos eventos, pois entendemos que muitas vezes a simples
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exposição dos trabalhos em “banners” não propicia uma discussão satisfatória,
tampouco o desenvolvimento de futuros recursos humanos.
Assembleia da Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia: Reunião
Ordinária da Sociedade Brasileira de Etnoecologia e Etnobiologia é realizada a cada dois
anos em seu simpósio nacional. Todos podem participar, mas apenas os sócios quites
têm o direito de votação. É um espaço importante para o fortalecimento e legitimação
da sociedade que nos representa.
Conferência de encerramento: Durante a mesa de encerramento será proferida
uma palestra com objetivo de consolidar toda a discussão sobre o tema principal do
simpósio. Além disso, serão revelados os ganhadores dos Prêmios Darell Posey, João
Zinclar e Guimarães Rosa. Nosso adeus e os votos de nos encontrarmos em dois anos
serão desejados.
Programação
Sábado, 22 de novembro de 2014
08h00 às 10h00 - Recepção, credenciamento e inscrição de participantes
Local: Escola Técnica de Saúde da Universidade Estadual de Montes Claros
10h30 às 19h00 - Pré Simpósio: ética na pesquisa em Etnobiologia e Etnoecologia.
Discussão do Código de Ética da Sociedad Latino Americana de Etnobiología.
Coordenadores: Dra. Rumi Regina Kubo (Universidade Federal do Rio Grande do Sul e
Presidente da Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia - SBEE), Dr. Lin Chau
Ming (Universidade Estadual de São Paulo) com participação do Prof. Dr. Arturo
Argueta Villamar (Universidad Nacional Autónoma de México e Presidente da Sociedad
Latino Americana de Etnobiología - SOLAE), MSc. Eréndira Juanita Cano Contreras
(Sociedad Latino Americana de Etnobiología - SOLAE) e Dr. James R. Welch (Escola
Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz e representante da Ethnobiology
Society).
Local: Escola Técnica de Saúde da Universidade Estadual de Montes Claros
19h30 às 22h00 - Cultural de recepção
Participação musical: Vitor Hugo e Edson Lima
Local: Solar do Sertão do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA)
Domingo, 23 de novembro de 2014
08h00 às 09h00 - Recepção, credenciamento e inscrição de participantes
Local: Escola Técnica de Saúde da Universidade Estadual de Montes Claros
09h00 às 19h00 – Minicursos
1. Princípios de Etnoecologia
Dr. Francisco José Bezzera Souto (Universidade Estadual de Feira de Santana)
2. Introdução à Etnobotânica: conexões entre histórias e mitos dos nomes
populares e científicos de plantas medicinais
Dr. Lin Chau Ming (Universidade Estadual Paulista)
3. Ferramentas multivariadas na análise de dados etnobiológicos
14
Dra. Patrícia Muniz de Medeiros (Universidade Federal do Oeste da Bahia)
4. Teorias ecológicas aplicadas a Etnobiologia e Etnoecologia
Msc. Washington Soares Júnior (Universidade Federal Rural de Pernambuco)
5.Metodologias participativas aplicadas aos estudos de Etnobiologia e Etnoecologia
Dra. Maria Auxiliadora Drummound (Universidade Federal de Minas Gerais)
6. O retorno das pesquisas etnobiológicas: o uso de materiais audiovisuais
Msc. Juliana Loureiro (Universidade Federal Rural de Pernambuco)
7. Economia solidária, cadeia produtiva e sociobiodiversidade
Leninha Souza (Cooperativa Grande Sertão - Montes Claros)
8. Produtos Florestais Não Madeireiros: extração e conservação
Dra. Cristina Baldaulf (Universidade Federal Rural do Semiárido)
9. Agroecologia e Etnobiologia
Dr. Claudenir Fávero (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri)
10. Etnografia Visual e narrativas visuais
Dra. Rumi Regina Kubo (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
11. Grupos Tradicionais no Brasil: de população a povo e comunidade
Dr. José Geraldo Marques
Local: Salas da Escola Técnica de Saúde da Universidade Estadual de Montes Claros
09h00 às 19h00 – Encontro dos Povos e Comunidades Tradicionais
Coordenadores: Dra. Ana Paula Glinfskoi Thé (Universidade Estadual de Montes
Claros), MSc. Marco Túlio (Operação Amazônia Nativa - OPAN) e MSc. Carlos Dayrell
(Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas - CAA). Participantes
confirmados: Lideranças Manoki (Brasnorte, Mato Grosso), Representantes
Nambikwara/Sabanê (Comodoro, Mato Grosso), Representante Paresí (Tangará da
Serra, Mato Grosso), Representantes Xakriabá (São João das Missões, Minas Gerais),
Representantes Nambikwara/Sabanê (Pirineus de Souza, Mato Grosso), Carolina
Rewaptu Xavante (São Félix do Araguaia, Mato Grosso), Lideranças Maxakali (Santa
Helena de Minas, Minas Gerais), Professores Xavante (São Félix do Araguaia, Mato
Grosso), Representantes da AMAU (Belo Horizonte, Minas Gerais), Seu Geraldo,
Representante Caatingueiro (Serranópolis de Minas), Representante Geraizeiro
(Articulação Rosalino, Minas Gerais), Representante Vazanteiro (Articulação
Rosalino, Minas Gerais), Representante Pescador (Movimento de Pescadores e
Pescadoras do Brasi, Minas Gerais), Representante Quilombola (Articulação Rosalino,
Minas Gerais).
19h30 às 20h30 - Conferência de Abertura
Direitos dos Povos e Comunidades Tradicionais no Brasil
Profa. Dra. Rumi Kubo (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Local: Escola Técnica de Saúde da Universidade Estadual de Montes Claros
20h30 às 22h00 - Coquetel de abertura
Participação musical: Projeto Acadêmicos do Samba
Local: Bar e restaurante Quintal
Segunda 24, de novembro de 2014
08h30 às 10h30 - Mesas Redondas
Mesa 1. Saberes tradicionais e a luta por direitos territoriais
15
Dr. João Batista de Almeida Costa (Universidade do Estadual de Montes Claros)
Dra. France Maria Gontijo Coelho (Universidade Federal de Viçosa)
Dr. Emmanuel Duarte Almada (Universidade do Estado de Minas Gerais)
Local: Auditório do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Universidade
Estadual de Montes Claros
Mesa 2. Etnobiologia evolutiva e resiliência de sistemas sócio ecológicos
Dra. Patrícia Muniz de Medeiros (Universidade Federal do Oeste da Bahia)
Dra. Cristiana Simão Seixas (Universidade Estadual de Campinas)
Dr. Gustavo Taboada Soldati (Universidade Federal de Juiz de Fora)
Local: Auditório do Centro de Ciências Humanas (CCH) da Universidade Estadual de
Montes Claros
11h00 às 12h00 - Palestras
Palestra 1. Sistemas agrícolas tradicionales y soberanía alimentaria en México
MSc. Erêndira Cano (Sociedad Latino Americana de Etnobiología)
Local: Auditório do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Universidade
Estadual de Montes Claros
Palestra 2. Etnoecologia Abrangente: um novo olhar depois de certos anos
Dr. José Geraldo Marques (Universidade Estadual de Feira de Santana)
Local: Auditório do Centro de Ciências Humanas (CCH) da Universidade Estadual de
Montes Claros
12h00 às 13h00 - Palestras
Palestra 3. Conhecimento local, identidade e direitos: o caso da Farmacopéia do
Cerrado
Jaqueline Evangelista (Articulação Pacari)
Local: Auditório do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Universidade
Estadual de Montes Claros
Palestra 4. Similaridade florística e diversidade cultural em quintais agroflorestais
Dr. Reinaldo Duque Brasil (Universidade Federal de Juiz de Fora)
Local: Auditório do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Universidade
Estadual de Montes Claros
14h00 às 15h00 – Exposição de “banners”
Local: Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da Universidade Estadual de
Montes Claros
14h00 às 15h00 - Etnodoc
Vaqueiro Waldomiro: O Espelho da Saudade (Jaco Gadino e Josino Medina, 2014, 36’)
e A Pontinha e o Pequi (Projeto Pequi da Universidade Federal de Minas Gerais, 2014,
12’)
Local: Auditório do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da Universidade
Estadual de Montes Claros
15h00 às 19h00 - Troca de Saberes
Grupo 1: Lideranças Manoki (Brasnorte, Mato Grosso), discutindo o plano de gestão
da TI Manoki; Grupo 2: Representantes Nambikwara/Sabanê (Comodoro, Mato
Grosso), discutindo o plano de gestão da TI Pirineus de Souza; Grupo 3:
Representante Paresí (Tangará da Serra, Mato Grosso), discutindo o intercâmbio de
sementes Paresí; Grupo 4: Representantes Xakriabá (São João das Missões, Minas
Gerais), discutindo a feira de sementes e a ampliação da TI Xakriabá; Grupo 5:
16
Representantes Nambikwara/Sabanê (Pirineus de Souza, Mato Grosso), discutindo a
cadeia produtiva da banana; Grupo 6: Carolina Rewaptu Xavante (São Félix do
Araguaia, Mato Grosso), discutindo a rede de sementes do Xingu e o grupo de
mulheres coletoras de semente da TI Marãiwatsédé; Grupo 7: Lideranças Maxakali
(Santa Helena de Minas, Minas Gerais), discutindo o esbulho da terra e resistência
cultural na TI Maxakali; Grupo 8: Professores Xavante (São Félix do Araguaia, Mato
Grosso) discutindo a diáspora forçada e reterritorialização na TI Marãiwatsédé;
Grupo 11: Representantes da AMAU (Belo Horizonte, Minas Gerais), discutindo a
agricultura urbana e sociobiodiversidade; Grupo 12: Seu Geraldo, Representante
Caatingueiro (Serranópolis de Minas), discutindo o papel dos guardiões de sementes
criolas e a agrobiodiversidade; Grupo 13: Representante Geraizeiro (Articulação
Rosalino, Minas Gerais), discutindo a agricultura geraizeira; Representante
Vazanteiro (Articulação Rosalino, Minas Gerais), discutindo a luta pelos territórios
tradicionais e identidade vazanteira; Grupo 14: Representante Pescador (Movimento
de Pescadores e Pescadoras do Brasil, Minas Gerais), discutindo a gestão participativa
dos recursos naturais; Grupo 15: Representante Quilombola (Articulação Rosalino,
Minas Gerais), discutindo a luta pelos territórios tradicionais e identidade
quilombola; Grupo 16: Representante atingido por barragem e mineração
(Movimento dos Atingidos por Barragens), discutindo a luta por direitos e território
e a construção da resistência e agroecologia.
Local: Salas de aula do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da Universidade
Estadual de Montes Claros
19h30 às 22h00 - Lançamento da Exposição Fotográfica e do Prêmio de Fotografia João
Zinclar; Lançamento de livros; Contação de causos; Cultural
Participação musical: “O Cabaret”
Local: Solar do Sertão do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas - CAA
Terça, 25 de novembro de 2014
08h30 às 10h30 - Mesas Redondas
Mesa 3. Conflitos ambientais e modelos de desenvolvimento
Dr. Rômulo Soares Barbosa (Universidade Estadual de Montes Claros)
Dra. Felisa Cançado Anaya (Universidade Estadual de Montes Claros)
Dr. Francisco José Bezerra Souto (Universidade Estadual de Feira de Santana)
Local: Auditório do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Universidade
Estadual de Montes Claros
Mesa 4. Etnobiologia histórica
Dra. Maria Franco Trindade Medeiros (Universidade Federal de Campina Grande)
Dr. Lin Chau Ming (Universidade Estadual de São Paulo)
Dr. Luci de Senna Valle (Universidade Federal do Rio de Janeiro – Museu Nacional)
Local: Auditório do Centro de Ciências Humanas (CCH) da Universidade Estadual de
Montes Claros
11h00 às 12h00 - Palestras
Palestra 5. Avanços teóricos na Etnozoologia brasileira
Dr. Eraldo Medeiros Costa Neto (Universidade Estadual de Feira de Santana)
17
Local: Auditório do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Universidade
Estadual de Montes Claros
Palestra 6. Religiosidade, saberes locais e lutas sociais
Frei Chico (Articulação Popular São Francisco Vivo)
Local: Auditório do Centro de Ciências Humanas (CCH) da Universidade Estadual de
Montes Claros
12h00 às 13h00 - Palestras
Palestra 7. Entomofilia en las Montañas: los P'urhépecha y las Uauapu (Polybia
diguetana Buysson) en las tierras altas de Michoacán, México
Dr. Arturo Argueta Villamar (Presidente da Sociedad Latinoamericana de
Etnobíologia)
Local: Auditório do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Universidade
Estadual de Montes Claros
Palestra 8. Conhecimentos marginais e epistemologias do sul
Dr. Mateus Moraes de Servilha (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e
Mucuri)
Local: Auditório do Centro de Ciências Humanas (CCH) da Universidade Estadual de
Montes Claros
14h00 às 15h00 – Exposição de “banners”
Local: Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da Universidade Estadual de
Montes Claros
14h00 às 15h00 - Etnodoc
Conversando com o Rio (Luciano Dayrell, 2011, 25’54’’) e Arvorar (Zé Diniz e Naiana
Lunelli, 2013, 16’41”)
Local: Auditório do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da Universidade
Estadual de Montes Claros
15h00 às 19h00 – Grupos de Trabalho
Grupo de Trabalho 1: Agroecologia
Coordenadores: Dr. Emmanuel Duarte Almada (Universidade do Estado de Minas
Gerais) e Dr. Claudenir Fávero (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e
Mucuri)
Grupo de Trabalho 2: Ecologia Política
Coordenadoras: Dra. Felisa Cançado Anaya (Universidade Estadual de Montes Claros)
e Dra. Ana Beatriz Vianna Mendes (Universidade Federal de Minas Gerais)
Grupo de Trabalho 3: Etnobiologia e Educação
Coordenadoras: MSc. Juliana Loureiro (Universidade Federal Rural de Pernambuco)
e Dra. Geilsa Costa Baptista (Universidade Estadual de Feira de Santana)
Grupo de Trabalho 4: Etnobotânica 1
Coordenadoras: Dra. Patrícia Muniz de Medeiros (Universidade Federal do Oeste da
Bahia)
Grupo de Trabalho 5: Etnobotânica 2
Coordenadores: Dr. Nelson Leal Alencar (Universidade Estadual do Piauí) e MSc.
Washington Soares (Universidade Federal Rural de Pernambuco)
Grupo de Trabalho 6: Etnoecologia 1
18
Coordenador e Coordenadora: Dr. Francisco José Bezerra Souto (Universidade
Estadual de Feira de Santana) e Lucilene Lima dos Santos Vieira (Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco)
Grupo de Trabalho 7: Etnoecologia 2
Coordenador e Coordenadora: Dr. Ângelo Giuseppe Chaves Alves (Universidade
Estadual de Feira de Santana) e Dra. Cristina Baldaulf (Universidade Federal Rural do
Semiárido)
Grupo de Trabalho 8: Etnoecologia da Pesca
Coordenadoras: Dra. Cristiana Simão Seixas (Universidade Estadual de Campinas) e
Dra. Paula Chamy (Universidade Estadual de Campinas/ CG Commons)
Grupo de Trabalho 9: Etnozoologia
Coordenadores: Dr. Dr. Eraldo Medeiros Costa Neto (Universidade Estadual de Feira
de Santana) e Dr. Fábio José Vieira (Universidade Estadual do Piauí)
Local: Salas de aula do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da Universidade
Estadual de Montes Claros
19h30 às 20h00 – Mesa de Homenagem ao Prof. Dr. José Geraldo Marques e abertura
do seu Varal de Poesias (exposição permanente)
Mediadora: Dra. Paula Chamy (Universidade Estadual de Campinas e CG Commons)
com participação de Dr. Francisco José Bezerra Souto, Dr. Ângelo Giuseppe Alves,
Dra. Flávia de Barros Prado Moura e Dr. Emmanuel Duarte Almada
Local: Auditório do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da Universidade
Estadual de Montes Claros
20h00 às 22h00 – Contação de causos e Cultural
Participação musical: Grupo de Maracatu, Pão e Circo como show “a palavra moída
entre meus dentes” e “Palco livre”
Local: Solar do Sertão do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas - CAA
Quarta, 26 de Novembro se 2014
08h30 às 10h30 - Mesas Redondas
Mesa 5. Patrimônio Biocultural: instrumentos jurídicos e ferramentas políticas
Dra. Patrícia Goulart Bustamante (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária)
MSc. Fernanda Testa Monteiro (Rede de Agrobiodiversidade do Semiárido Mineiro)
Dra. Thiago Mota Cardoso (Universidade Federal de Santa Catarina)
Local: Auditório do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Universidade
Estadual de Montes Claros
Mesa 6. Etnobiologia e Educação
Dr. Charbel Niño El-Hani (Universidade Estadual de Feira de Santana)
Dr. Willer Araújo Barbosa (Universidade Federal de Viçosa)
Dr. Ângelo Giuseppe Chaves Alves (Universidade Federal Rural de Pernambuco)
Local: Auditório do Centro de Ciências Humanas (CCH) da Universidade Estadual de
Montes Claros
11h00 às 12h00 – Palestras
Palestra 9. Agroecologia e a luta pelos territórios tradicionais
Dr. Claudenir Fávero (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri)
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Local: Auditório do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Universidade
Estadual de Montes Claros
Palestra 10.“Movimento dos povos e comunidades tradicionais do Semiárido Norte
mineiro: histórico, possibilidades e desafios”
Ms. Carlos Dayrell – Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas
Local: Auditório do Centro de Ciências Humanas (CCH) da Universidade Estadual de
Montes Claros
12h00 às 13h00 – Palestras
Palestra 11. A institucionalização dos saberes populares sobre plantas medicinais
Dr. Daniel Sales Pimenta (Universidade Federal de juiz de Fora)
Local: Auditório do Centro de Ciências Humanas (CCH) da Universidade Estadual de
Montes Claros
Palestra 12. Para além da dicotomia conhecimento tradicional x conhecimento
científico: o manejo de produtos florestais sob uma perspectiva dialética
Dra. Cristina Baldaulf (Universidade Federal Rural do Semiárido)
Local: Auditório do Centro de Ciências Humanas (CCH) da Universidade Estadual de
Montes Claros
14h00 às 15h00 – Exposição de “banners”
Local: Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da Universidade Estadual de
Montes Claros
14h00 às 15h00 – Etnodoc
Babaçu no Araripe (Juliana Loureiro e Alexandre Salomão, 2013, 37’16”) e Profetas
da Chuva e da esperança (Marcia Paraiso, 2007, 15’51’’)
Local: Auditório do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da Universidade
Estadual de Montes Claros
15h00 às 17h00 – Grupos de Trabalho
Grupo de Trabalho 4: Etnobotânica 1
Coordenadoras: Dra. Patrícia Muniz de Medeiros (Universidade Federal do Oeste da
Bahia)
Grupo de Trabalho 5: Etnobotânica 2
Coordenadores: Dr. Nelson Leal Alencar (Universidade Estadual do Piauí) e MSc.
Washington Soares (Universidade Federal Rural de Pernambuco)
Grupo de Trabalho 6: Etnoecologia 1
Coordenador e Coordenadora: Dr. Francisco José Bezerra Souto (Universidade
Estadual de Feira de Santana) e Lucilene Lima dos Santos Vieira (Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco)
Grupo de Trabalho 7: Etnoecologia 2
Coordenador e Coordenadora: Dr. Ângelo Giuseppe Chaves Alves (Universidade
Estadual de Feira de Santana) e Dra. Cristina Baldaulf Universidade Federal Rural
do Semiárido
Local: Salas de aula do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da Universidade
Estadual de Montes Claros
17h30 às 19h00 – Assembleia Geral da Sociedade Brasileira de Etnobiologia e
Etnoecologia
Local: Auditório do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da Universidade
Estadual de Montes Claros
20
19h30 às ... - Solenidade de encerramento e resultado dos prêmios Darrel Posey, João
Zinclar e Guimarães Rosa
Coordenadores Dra. Rumi Kubo e Dra. Ana Paula Glinfskoi Thé
Conferência-Espetáculo
Professor e Poeta Dr. Carlos Rodrigues Brandão e Músico e Educador Popular Josino
Medina com a participação especial da Orquestra Catrumana do Groove Solto
Local: Solar do Sertão do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas - CAA.
Anais do X Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia
Agroecologia
A experiência agroecológica da implantação de unidades de experimentação participativa no
âmbito do PBSM, nos municípios de Monte Alegre e Gararu em Sergipe
Tereza Cristina de Oliveira (Embrapa Tabuleiros Costeiros), Edson Diogo Tavares (Embrapa
Tabuleiros Costeiros), Fernando Fleury Curado (Embrapa Tabuleiros Costeiros), Amaury da Silva
dos Santos (Embrapa Tabuleiros Costeiros), Allana do Nascimento Santos (Universidade Federal
de Sergipe). Contato: [email protected].
A abordagem agroecológica permite o diálogo de saberes na construção e reconhecimento do
conhecimento agroecológico local. Nesta perspectiva, o objetivo deste trabalho foi implantar
unidades de experimentação agroecológica (UEA) por meio do diálogo entre o conhecimento
local dos agricultores e o conhecimento formal dos técnicos como estratégia de inclusão
socioprodutiva de famílias agricultoras no âmbito do Programa Brasil Sem Miséria (PBSM).
Foram realizadas reuniões, visitas técnicas, caminhadas transversais e rodas de conversa nas
comunidades com a participação efetiva dos agricultores, agricultoras e técnicos. Realizou-se,
nos municípios, a caracterização da realidade local, a identificação dos locais de instalações das
unidades de experimentação coletivas, a identificação dos arranjos produtivos, formação de
Grupos de Interesse (GI) e a identificação de temas de interesse. Em conjunto com o GI foram
realizadas oficinas de produção agroecológica de hortas, produção de compostagem, com
aproveitamento dos insumos locais, criação e manejo de ovinos, produção de sementes e
mudas, usos diversificados da gliricídea, instalações e reformas de estruturas de galinheiros e
apriscos, intercâmbios de experiências entre os GI. Nas UEA implantadas foram gerados
conhecimentos adaptados à realidade das famílias agricultoras. A constituição dos GI e das UEA
permitiu a construção de um novo conhecimento sobre a realidade local, promovendo o diálogo
entre o conhecimento dos agricultores e o conhecimento dos técnicos, gerando novos sistemas
agroecológicos de produção que estão, agora, se disseminando para as áreas dos membros
participantes dos GI.
Agradece-se ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Diretoria de Transferência de Tecnologia
da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) - DTTEMDAGRO e Empresa de
Desenvolvimento e Assistência Técnica do Estado de Sergipe.
21
A tradicional produção de farinha de mandioca na baixada cuiabana, Mato Grosso, Brasil
Gisele Soares Dias Duarte (Universidade Federal de Mato Grosso), Eulalia Soler Sobreira
Hoogerheide (Embrapa Agrossilvilpastoril), Marco Antônio Aparecido Barelli (Universidade
Estadual de Mato Grosso), Maria Corette Pasa ( Universidade Federal de Mato Grosso). Contato:
[email protected].
A agricultura tradicional é um importante mantenedor da agrobiodiveridade e dos costumes
tradicionais nos sistemas agrícolas. A espécie mais cultivada pelos pequenos produtores é a
mandioca (Manihot esculenta Crantz), no estado do Mato Grosso. Este trabalho teve por
objetivo realizar um levantamento das farinheiras na Baixada Cuiabana, a fim de quantificar a
produção total do produto na região. O trabalho foi realizado no período de dezembro de 2013
à abril de 2014, em comunidades dos municípios de Acorizal, Barão de Melgaço, Campo Verde,
Chapada dos Guimarães, Cuiabá, Jangada, Nobres, Nossa Senhora do Livramento, Poconé,
Rosário Oeste, Santo Antônio do Leverger, Várzea Grande e Nova Brasilândia. Foram aplicadas
entrevistas semi-estruturadas junto aos produtores e ex-produtores de farinha, contendo
perguntas sobre cultivo, mão-de-obra, produtividade, custos e dificuldades encontradas na
atividade. Os resultados apontaram que 65% das farinheiras são instaladas nos quintais, e a
produção de farinha era feita de forma manual ou artesanal, os conhecimentos sobre a
produção foram transmitidos de pais para filho. As outras farinheiras são comunitárias e
algumas inativas. Quanto às dificuldades de funcionamento das farinheiras, a maioria das
pessoas informou algum tipo de dificuldade como: manutenção dos equipamentos, ausência de
matéria prima e escassez de mão de obra. De modo geral, para todas as farinheiras ativas
entrevistadas da Baixada Cuiabana, obteve-se uma estimativa média de 99,790 kg/mês de
farinha e esse valor garante, para maioria dos produtores, a subsistência da família. Os desafios
enfrentados por eles que impedem uma maior produção das farinheiras não deixam de lado o
esforço dos produtores em manter a tradição na produção de farinha. A produção de farinha de
mandioca na baixada cuiabana possui mercado para alcançar maiores índices de produção,
principalmente pela tradição e aceitação dos consumidores, porém é preciso apoio por parte
dos órgãos públicos e sociais como forma de incentivar as famílias produtoras da região.
Agradece-se à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela concessão de
bolsa de estudo à Gisele Soares Dias Duarte, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso
(FAPEMAT), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e FINEP, pelo apoio no projeto.
Agrobiodiversidade: resgate de sementes crioulas por camponeses do território alto sertão
de Sergipe
Edson Diogo Tavares (Embrapa Tabuleiros Costeiros), Amaury da Silva dos Santos (Embrapa
Tabuleiros Costeiros), Fernando Fleury Curado (Embrapa Tabuleiros Costeiros), Elielma Barros
de Vasconcelos (Movimento dos Pequenos Agricultores). Contato: [email protected].
A manutenção da agrobiodiversidade é essencial para garantir a autonomia e soberania
alimentar de povos, comunidades tradicionais e camponeses. No Território Alto Sertão de
Sergipe o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e a Embrapa Tabuleiros Costeiros
iniciaram, em 2013, atividades para o resgate e a conservação da agrobiodiversidade. O objetivo
deste trabalho foi identificar camponeses que conservam sementes crioulas de milho e de feijão
e multiplicar essas variedades em campos comunitários. O trabalho teve início com visitas às
22
comunidades, rodas de conversa e identificação de camponeses guardiões de sementes que
conservam sementes crioulas, algumas das quais cultivadas por seus pais e avós. Em junho de
2014, após rodas de conversa nas comunidades, os guardiões disponibilizaram suas sementes e
foram definidos coletivamente os materiais que seriam plantados. Assim, foram implantados
dois campos de multiplicação de sementes, sendo um deles no município de Monte Alegre, na
comunidade Retiro, e outro, no município de Poço Redondo, na comunidade Garrote do
Emiliano. Nos dois campos foram plantadas, em consórcio, variedades de milho e de feijão,
conduzidas em sistema de mutirão pelas comunidades, seguindo sua forma de cultivo
tradicional e princípios agroecológicos. Por falta de chuva no período da colheita não foi possível
colher o milho nos dois campos. Quanto ao feijão, foi possível colher, na comunidade Retiro,
sementes de quatro variedades: “amarelinho”, “badajoz”, “carioca” e “ligeirinho”. Já na
comunidade Garrote do Emiliano, três variedades completaram o ciclo: “cachinho”, “carioca” e
“riqueza”. As sementes desses materiais serão conservadas para o plantio de novos campos de
multiplicação no ano de 2015. A identificação de camponeses detentores de sementes crioulas
permitiu a discussão, nas comunidades, sobre a importância da preservação do seu patrimônio
genético, a implantação coletiva de campos de multiplicação de sementes e o resgate pelas
comunidades das sementes, do trabalho em mutirão e das práticas de cultivo tradicionais. Os
novos campos serão implantados no início do período chuvoso (abril/maio) e será feita a
caracterização agronômica das variedades crioulas, fundamentais na construção participativa
de soluções agroecológicas no território Alto Sertão de Sergipe, no âmbito do Programa Brasil
Sem Miséria (PBSM).
Agradece-se à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). O projeto de pesquisa que
embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê Técnico Interno (CTI) da Embrapa
Tabuleiros Costeiros e pelo Comitê Gestor da Programação da Embrapa (CGP). O projeto tem por título:
"Construção participativa de soluções agroecológicas junto ao Plano Brasil Sem Miséria no Território Alto
Sertão Sergipano", código: 04.12.09.005.00.00, executado no período 2011-2014.
Agroecologia urbana: a experiência da horta comunitária do Cafezal e das feiras da
agricultura urbana no Aglomerado da Serra
Luana do Carmo Araujo de Oliveira (Universidade Federal de Minas Gerais), Bruno Martins Dala
Paula (Universidade Federal de Minas Gerais), João Henrique de Azevedo Xavier (Universidade
Federal de Minas Gerais), Letícia Oliveira Moraes Starling (Universidade Federal de Minas
Gerais). Contato: [email protected].
A agroecologia urbana se pauta em estratégias para cultivar uma cidade sustentável e que
promova qualidade de vida a todos os citadinos. Visando estimular a segurança alimentar e o
desenvolvimento local, a promoção da Agricultura Urbana (AU) é uma dessas estratégias. Além
de uma prática espontânea, a AU vem sendo estudada como ferramenta política para a gestão
urbana, uma vez que contribui com a manutenção da biodiversidade nas cidades e
transformação de terrenos baldios em espaços produtivos, como é o caso da Horta Comunitária
do Cafezal, no Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte. Desde 2008, o Grupo Aroeira, um
coletivo de extensionistas criado na Universidade Federal de Minas Gerais, acompanha os
trabalhos da Horta do Cafezal e busca formas de apoiar, em diálogo com os princípios da
agroecologia e da economia popular solidária (EPS), a organização comunitária para autogestão
da produção e geração de renda aos agricultores. Com esse intuito, o Grupo propôs um resgate
das feiras livres locais esperando aumentar a comercialização dos produtos da horta e dinamizar
a economia local. Em parceria com a Horta do Cafezal e o Fundo Nacional de Solidariedade (FNS)
23
foram organizadas feiras mensais no segundo semestre de 2013 na Vila do Cafezal. Foram
convidados a participar iniciativas locais de farmácias caseiras e agricultores urbanos de outros
bairros, como o Grupo Frutos da União do Ribeiro de Abreu, o CEVAE (Centro de Vivências
Agroecológicas) do Capitão Eduardo e o Grupo Semear do Alto Vera Cruz, além de contar com
apresentações culturais, incluindo o grupo de teatro local, MorroEncena. As feiras possibilitaram
aos moradores da comunidade alimentos frescos, de origem conhecida e a preços solidários,
além de trazer visibilidade ao trabalho na Horta Comunitária e ao consumo de alimentos isentos
de agrotóxico. A Horta Comunitária do Cafezal passou a ser mais procurada pela comunidade,
fortalecendo as relações entre produtor/consumidor, além de melhorar a renda aos
agricultores. As experiências vividas nessa horta e nas demais ações do Grupo Aroeira no
Aglomerado da Serra repercutiu em movimentos sociais presentes em outros pontos da cidade,
como na Ocupação Eliana Silva, em que os moradores demandaram junto ao Grupo a construção
democrática e coletiva de uma Horta, com a intenção de prove-los com alimentos de qualidade,
especialmente a creche comunitária. O Grupo Aroeira espera que tais ações continuem
inspirando outras comunidades, e que a agroecologia urbana cultive uma cidade com mais
responsabilidade socioambiental.
Agradece-se aos moradores do Aglomerado da Serra, a Horta Comunitária do Cafezal, especialmente S.
Durval e D. Dirinha, a Pró Reitoria de Extensão da Universidade Federal de Minas Gerais e ao Fundo
Nacional de Solidariedade, que, através do Padre Wagner, nos financia.
Avaliação de técnicas para amostragem da entomofauna na pesquisa etnoecológica em
agroecossistemas
Daniele Cristina de Oliveira Lima (Universidade Federal Rural de Pernambuco), Ângelo Giuseppe
Chaves Alves (Universidade Federal Rural de Pernambuco), Marcelo Alves Ramos (Universidade
de Pernambuco), Henrique Costa Hermenegildo da Silva (Universidade Federal de Alagoas),
Alaide Maria Silva Santos (Universidade Federal de Alagoas), Lúcia dos Santos Rodrigues
(Universidade Federal de Alagoas), Cledson dos Santos Magalhães (Universidade Federal de
Alagoas). Contato: [email protected].
O monitoramento de insetos é um dos fundamentos do Manejo Integrado de Pragas, porém
configura-se em um processo lento e dispendioso. Dessa forma, surge a necessidade em
desenvolver métodos que promovam ganho de tempo no monitoramento sem comprometer
sua eficiência. A presente pesquisa objetiva avaliar a eficiência do levantamento convencional
de insetos e levantamento do conhecimento entomológico local na amostragem rápida da
entomofauna. A pesquisa de campo para levantamento convencional da entomofauna foi
realizada em uma propriedade particular de quiabeiro (Abelmoschus esculentus) no
Assentamento Irrigado Jacaré Curituba, Sergipe, Brasil. Os dados foram coletados em um
período de 120 dias, e analisados através dos índices de freqüência, abundância, constância e
dominância. O levantamento etnoentomológico foi conduzido com 41 produtores de quiabo
deste Assentamento. Analisou-se a freqüência e a riqueza obtida nas técnicas “Lista livre” e
amostragem convencional através do coeficiente de correlação de Spearman e teste do Qui
quadrado e o uso combinado da entrevista projetiva com dois estímulos visuais (banco de
imagens e caixa entomológica) através do teste de Cochran. Durante o levantamento
convencional foram coletados 54936 indivíduos distribuídos em 3 ordens, 12 famílias e 15
espécies, sendo 11 espécies de insetos fitófagos e 4 de insetos predadores. As espécies Bemisia
tabaci (Gennadius, 1889) biótipo B, Aphis gossypii (Glover, 1877), Phenacoccus sp., Icerya
purchasi (Maskell, 1879) e Lagria vilosa (Fabricius, 1783) apresentaram os maiores índices
24
faunísticos. Comparando as riquezas registradas no levantamento convencional e na lista livre
não houve diferenças significativas (χ=0,66, p=0,54). Houve uma forte associação por meio da
correlação de Spearman (r = 0,8286, p = 0, 0415) entre o índice de frequência dos insetos nas
duas técnicas. Comparando a entrevista com estimulo visual utilizando imagem e espécimes
montados observou-se que este último foi mais eficaz do que aquele, e que o reconhecimento
dos insetos foi influenciado pelo fator tamanho. Essas diferenças foram significativas pelo teste
de Chocran (χ2=118, GL=1, p < 0,0001). Conclui-se que técnicas que se baseiam no registro e
analise de conhecimentos locais são eficazes para o monitoramento e amostragem rápida da
entomofauna. Recomenda-se a utilização de insetos montados nas entrevistas.
Agradece-se aos agricultores e Equipe Técnica do Assentamento. Ao Núcleo de Estudos Etnobiológicos e
Ecológicos da Universidade Federal de Alagoas. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES). O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi avaliado e aprovada pelo
Comitê de Ética da Universidade de Pernambuco sob o protocolo CAAE- 24844813.0.0000.5207.
Cultura popular e Agroecologia: uma proposta de arte-educação ambiental
Hana Brener Mockdece (Universidade Federal de Viçosa), Thaís Almeida Cardoso (Universidade
Federal de Viçosa), Ananda Deva Assis Trivelato (Universidade Federal de Viçosa). Contato:
[email protected].
O fazer de uma educação ambiental transformadora pode ser entendido sob uma ótica de interrelação com os saberes agroecológicos e sua dinâmica de construção coletiva, na qual tem sido
crucial a proposição de metodologias inseridas em um processo educacional menos estéril, mais
contextualizado e sensível, que valorize os sujeitos, suas culturas e especificidades. Nesse
sentido, o grupo Micorrizas, formado por estudantes e professores da Universidade Federal de
Viçosa e membros da comunidade de Viçosa, MG, em parceria ao Programa Teia-UFV, buscou,
através do estudo das identidades culturais tradicionais e sua associação com a Agroecologia, as
ferramentas que auxiliam na (re)apropriação dessa diversidade cultural em nossa memória
corporal. No período de Maio a Setembro de 2013 fomos a campo vivenciar os contextos
populares, realizando diálogos abertos com agricultores da Zona da Mata Mineira. Por meio dos
relatos das experiências destes agricultores, seus gestos e expressividades, refletimos e
assimilamos elementos culturais dos saberes e valores ancestrais brasileiros. A partir disso,
trabalhamos com o conceito de performance instalação artístico pedagógica para guiar a
construção de uma obra artística com possibilidades pedagógicas, tanto em seu processo de
criação como em sua apreciação pelo público. Essa performance de dança-teatro, valorizando
os saberes populares, discutiu aspectos como a luta contra o agronegócio a favor da
Agroecologia e o empoderamento da mulher. Envolveu também temas associados à água e a
terra, em uma comunhão de lutas e energias, buscando a harmonia entre os povos e destes com
o universo. As performances foram apresentadas no I Seminário Regional de Educação do campo
e popular da Zona da Mata mineira, na Escola Familia Agrícola Dom Luciano – Catas Altas da
Noruega, Minas Gerais, em Dezembro de 2013. Dentre os presentes encontravam-se
agricultores e agricultoras, estudantes e professores(as) da UFV e EFAs. Nesse espaço foram
captadas as impressões dos sujeitos observadores, através de gravação de áudio e vídeo de suas
falas. Posteriormente, foram interpretadas a partir de agrupamentos de sentido e idéias
aglutinadoras constituindo-se categorias de análise. As análises demonstraram a capacidade
dessas performances instalações artístico pedagógicas de envolver os participantes, tanto
intérpretes quanto público, em uma reflexão sobre a realidade em que se inserem. Dessa arte
que se pauta nos valores agroecológicos originaram-se falas carregadas de emoções e
25
simbolismo, reforçando o próprio movimento da agroecologia e sua importância, abrindo
espaços e possibilidades que se renovam em metodologias de entrelaçamento dos saberes.
Agradece-se, dentre muitos, à Universidade Federal de Viçosa, ao Programa Teia e às Micorrizas pelas
oportunidades e vivências fundamentais na realização deste trabalho.
Diálogos entre a pesquisa e a extensão junto a famílias agricultoras no âmbito do Plano
Brasil Sem Miséria, no estado de Sergipe
Tereza Cristina de Oliveira (Embrapa Tabuleiros Costeiros), Edson Diogo Tavares (Embrapa
Tabuleiros Costeiros), Amaury da Silva dos Santos (Embrapa Tabuleiros Costeiros), Fernando
Fleury Curado (Embrapa Tabuleiros Costeiros), Allana do Nascimento Santos (Universidade
Federal de Sergipe). Contato: [email protected].
Esse trabalho apresenta a construção de diálogos entre a pesquisa e a extensão agroecológica
junto a famílias agricultoras beneficiadas pela política pública, denominada Plano Brasil Sem
Miséria (PBSM), no Território Alto Sertão em Sergipe. As metodologias tradicionalmente
utilizadas pela Embrapa na transferência de tecnologia não preveem a participação de
agricultores e extensionistas na construção, na execução e no acompanhamento das estratégias
de desenvolvimento local propostas para os agricultores familiares. As ações foram iniciadas em
2011 com a realização de reuniões e de um seminário territorial onde foram apresentadas as
demandas das famílias agricultoras dos municípios e as ações, até então, realizadas em extensão
pela Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe e em pesquisa pela Embrapa
Tabuleiros Costeiros. A partir dessas informações, construiu-se um projeto pela Embrapa
validado em reunião do colegiado territorial, constituindo-se um Comitê Gestor
Interinstitucional. Foram formados Grupos de Interesse constituídos por famílias agricultoras,
técnicos e extensionistas em seis municípios do território. Em cada município foram criados
espaços coletivos de experimentação participativa e troca de experiências. As atividades de
campo visavam testar alternativas para aumentar e diversificar a produção de alimentos das
comunidades, diminuir o uso de insumos externos e promover o aproveitamento dos recursos
locais, visando a segurança alimentar das famílias beneficiadas pelo PBSM. As atividades de
campo se estenderam até 2014. Nos espaços coletivos de experimentação adotou-se uma
abordagem agroecológica, permitindo que as inovações tecnológicas fossem discutidas e
experimentadas com as famílias, a partir das suas próprias experiências, de suas necessidades e
das potencialidades locais. Sobretudo, permitiram o resgate do seu conhecimento, transmitido
de geração a geração, e a utilização de sistemas praticados há muitos anos pelos agricultores.
Verificou-se, nas ações de caracterização, planejamento, instalações e capacitações coletivas,
que a criação de espaços de diálogo envolvendo a pesquisa, a extensão rural e as famílias
agricultoras vêm promovendo a aproximação dos conhecimentos científico e popular,
estabelecendo e valorizando o diálogo de saberes na construção do conhecimento
agroecológico.
Agradece-se ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, Ministério do Desenvolvimento Social e Emdagro.
Do projeto à realidade: as oficinas no Sítio de Saluzinho no Instituto de Ciências Agrárias,
Universidade Federal de Mimas Gerais
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Yara Janaina Gusmão (Universidade Federal de Minas Gerais), Fernanda Oliveira Cirino
(Universidade Federal de Minas Gerais), Giliarde de Souza Brito (Universidade Federal de Minas
Gerais), Marcos Antônio Maltez (Universidade Federal de Minas Gerais), Áureo Eduardo
Magalhães (Universidade Federal de Minas Gerais), Flávia Maria Galizoni (Universidade Federal
de Minas Gerais), Ana Luiza Tauffer Caldas (Universidade Federal de Minas Gerais). Contato:
[email protected].
O Centro de Referência da Cultura Material da Agricultura Familiar – Sítio de Saluzinho - é um
programa desenvolvido no Campus do Instituto de Ciências Agrárias, Universidade Federal de
Mimas Gerais (ICA/UFMG). O Sítio realiza atividades de extensão universitária, oferecendo
oficinas para crianças do ensino fundamental de escolas públicas de Montes Claros e
disponibiliza conhecimento de modo diferenciado àquele que as escolas ofertam. As oficinas
têm duração de trinta minutos cada, as crianças participam de todas as oficinas por meio de
rodízio nos quiosques que o espaço possui. No primeiro semestre do ano de 2014 o Sítio de
Saluzinho recebeu três escolas públicas, sendo elas a Escola Estadual Francisco Sá que levou 14
turmas, a Escola Estadual Irmã Beata com 10 turmas e a Escola Estadual Gonçalves Chaves que
participou com uma turma, totalizando 750 crianças de seis a dez anos que partilharam das
atividades ofertadas pelo Sítio. As temáticas das oficinas do Sítio foram bastante diferentes: 45%
delas abordaram agricultura, agroecologia e produção de alimentos, 25% tinham como tema
brincadeiras tradicionais, 12% trataram de segurança alimentar e nutrição saudável, 10%
reciclagem de materiais, 7% sustentabilidade, 3% conservação das águas, e 2% de outros
assuntos. Todos os temas são embasados no conceito de conhecer, respeitar, e conviver com o
meio rural. As oficinas que tinham como tema agricultura, agroecologia e produção de alimentos
tratavam da produção orgânica como fonte de fornecedora de alimentos saudáveis, produzida
sem intervenção da química ou de sementes industriais. Produzir brinquedos tradicionais, além
de ajudar a natureza reciclando materiais que iriam para o lixo, dá oportunidade de participar
de divertidas brincadeiras já esquecidas pelo tempo. Oficinas também tinham por objetivo
abordar assuntos relacionados à alimentação saudável e nutrição, a partir dos alimentos
consumidos no cotidiano. Todas as atividades eram realizadas com linguagem simples e lúdica
para atrair a atenção das crianças. Dessa forma, as crianças podem compreender que a vida está
ligada à natureza, seja por ser uma fonte de alimento ou pelas plantas que fazem fotossíntese
melhorando a qualidade do ar. Mas, principalmente, a criança resgata o que com o tempo se
perdeu, que é o contato com as pessoas do campo e seus ensinamentos, além de ser uma
maneira de estudantes colocarem em exercício o conhecimento adquirido na Universidade e
praticar extensão. Essa interação pode trazer inúmeros benefícios e ajudar na formação do
indivíduo e do cidadão.
Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ministério do
Desenvolvimento Social (MDS) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).
Estudo sobre a agrobiodiversidade de mandioca na Aldeia Ipatse, etnia Kuikuro, PIX, Mato
Grosso, Brasil
Helena Pagliaro Cooper (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Carlos Fausto (Universidade
Federal do Rio de Janeiro) e Cassia Sakuragui (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Contato:
[email protected].
27
A Mandioca, Manihot esculenta (Crantz.), por sua considerável base nutricional e plasticidade
genética morfológica, está bem adaptada ao solo do Bioma Cerrado e é o recurso vegetal mais
cultivado pelos índios Kuikuro, do Alto Xingu, Mato Grosso, Brasil. Esse estudo tem por objetivo
descrever a dinâmica de manejo da agrobiodiversidade de mandioca entre os Kuikuro, bem
como fornecer dados atuais sobre o estado do conhecimento da mandioca na aldeia. Buscou-se
identificar, através de entrevistas estruturadas e listas livres com toda a comunidade, o número
de roças e de variedades recordadas. Ademais, foram verificadas e mensuradas as variedades
atualmente cultivadas nas roças. Os dados coletados nas roças sobre essas variedades foram
tratados através de morfometria geométrica e análise de componentes principais, para assim,
ter mecanismos de quantificá-las. Foi obtido a curva de acumulação de conhecimento através
de citações das variedades cultivadas e colacionou-se as diferenças de conhecimento entre as
faixas etárias dos homens da comunidade. Havia a hipótese de estaria ocorrendo uma mudança
significativa na relação entre os índios Kuikuro com sua agrobiodiversidade de mandioca, fruto,
principalmente, da crescente influência da sociedade nacional sobre os indígenas. Os dados
qualitativos coletados sobre o manejo tradicional mostram a substituição de diversas
ferramentas de trabalho por utensílios modernos não-indígenas, como machados, motosserras
e motocicletas, que diminui o tempo em roças e possibilita relações mercantilizadas na cidade,
que por sua vez, valorizam o produto gerado por apenas uma variedade. Os 68 homens
entrevistados cultivam um total de 81 roças e tinham ciência de 21 variedades. Os jovens
demonstraram pouco conhecimento, assim como desinteresse em manejar ou diversificar suas
roças. Como resultado das análises de componentes principais da morfometria geométrica,
obteve-se um total de 17 variedades distintas entre si, que foram cotejadas com listas anteriores
que identificaram um total de 32 em 1983 e 28 em 2002. Demonstrou-se a necessidade de
aplicação de práticas e políticas locais que valorizem a agrodiversidade e as práticas tradicionais
de plantio como resistência à politica mercantil de produção de alimentos. Como retorno foi
proposta uma atividade escolar lúdica visando o resgate das variedades e a produção de um
livro didático sobre a mandioca.
Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e à Pró-reitoria
de Pós-Graduação e Pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Guardiões de sementes e suas trajetórias de vida no contexto do assentamento Olga
Benário, Sergipe
Ana Cristina Oliveira de Almeida (Universidade Federal de Sergipe) e Eliane Dalmora. Contato:
[email protected].
Considerados atores chave para a conservação da agrobiodiversidade, os guardiões, por entre
as gerações e sob a memória das mudanças ambientais, apresentam flexibilidade para se
adaptar às mudanças de ambiente. As sementes que conservam e armazenam ao longo dos anos
são parte desse processo. Este trabalho teve o objetivo de analisar a caracterização social dos
guardiões de sementes e as formas de transmissão do conhecimento estabelecidas nas relações
intercomunitárias como forma de contribuição para a agrobiodiversidade do local. O trabalho
foi realizado no Assentamento Olga Benário, situado no município de Santo Amaro das Brotas
no estado de Sergipe, onde foram aplicadas entrevistas semiestruturadas em vinte e três
agricultores. Foi observado que 50% são provenientes de municípios vizinhos ou mesmo de
povoados do próprio local, inclusive trabalhadores da antiga fazenda que deu lugar ao
assentamento. Dentre os guardiões, 65,22% são mulheres predominando as de idade acima de
28
quarenta anos. Algumas mulheres se identificaram como sendo agricultoras e pescadoras,
inclusive utilizando instrumentos de pesca artesanal. Quanto à idade dos guardiões, 65,22% são
maiores de quarenta anos, denotando pouco envolvimento dos jovens na conservação de
sementes no assentamento. Sobre a transmissão da prática de conservação das sementes,
91,30% dos que conservam afirmaram aprender com os parentes, principalmente com os pais e
avós, e 65,22% afirmaram ter apenas uma pessoa em casa conhecedora e atuante nesta prática
de conservação de sementes. Dentre os motivos pelos quais os agricultores mantêm a prática
de guardar e doar as sementes estão: por ser uma vantagem financeira (as sementes estão caras
para comprar), garante qualidade nos próximos plantios (semente bem guardada e de
procedência conhecida), por ser um método de controle (prevê o novo plantio) e é cíclico (todo
ano tem e não perde a tradição). Os agricultores também afirmaram ter seus métodos de
escolha e forma de armazenamento das sementes como esperar secar e guardar, em vaso de
vidro ou garrafa Pet, e em local seco, outros têm a escolha influenciada pela produção das
melhores plantas e sementes sadias. Pode-se concluir que, ainda que as influências externas
estejam cada vez mais presentes no dia-a-dia dos agricultores familiares, seus referenciais são
reconstruídos a todo tempo, considerando sua memória coletiva como reflexo do aprendizado
e transmissão do conhecimento principalmente entre os familiares.
Agradece-se à Pós-Graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Rural da Universidade Federal de São
Carlos (UFSCar). Agradeço ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e aos agricultores e
agricultoras do Assentamento Olga Benário por terem me recebido de braços abertos. O projeto de
pesquisa que embasou o presenta trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade
Federal de São Carlos sob o registro 246.184.
Observatório das Agroflorestas: uma avaliação multiescalar das ações no Rio Grande do Sul
Gabriela Coelho-de-Souza (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Cristina Grabher
(Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Ricardo Silva Pereira Mello (Universidade Estadual
do Rio Grande do Sul), Endrigo Rotta Moreira (Universidade Estadual do Rio Grande do Sul),
Grégori Heck Turra (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Marcia dos Santos Ramos
Berreta (Universidade Estadual do Rio Grande do Sul), Daniela Garcez Wives (Universidade
Federal do Rio Grande do Sul), Lucas Rocha, Fábio Dal Soglio (Universidade Federal do Rio
Grande do Sul), Rumi Regina Kubo (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Contato:
[email protected].
As agroflorestas são agroecossistemas que promovem a manutenção da dinâmica sucessional
dos ecossistemas nativos e estão sendo consideradas em políticas ambientais como ferramenta
para a produção sustentável e para a conexão dos corredores ecológicos, garantindo a
viabilidade dos ecossistemas e fluxos gênicos. A legislação brasileira está estimulando esta
prática na restauração da Reserva Legal (RL) e das Áreas de Preservação Permanente (APP), por
meio da Lei da Mata Atlântica, Código Florestal de 2012, Resolução do CONAMA 429/2011 e
Programa Produtor Recebedor (ANA). O objetivo deste trabalho é avaliar as ações multiescalares
que vêm sendo desenvolvidas no Rio Grande do Sul para fortalecer as práticas agroflorestais.
Com este intuito foi criado o Observatório das Agroflorestas o qual atua: a) em nível local no
estabelecimento de Unidades de Observação Participante em Sistemas Agroflorestais; b)
identificação e sistematização das iniciativas em agroflorestas, para disponibilização pública por
meio de um web site (http://www.ufrgs.br/obssan/agroflorestas/index.php); c) articulação dos
arranjos institucionais no Estado, junto à Câmara Técnica de Agroecologia da SDR (CTA/SDR). A
implantação das agroflorestas está sendo realizada em São Francisco de Paula, junto a
29
pecuaristas familiares da Comunidade do Caconde, nas nascentes da Bacia do Rio dos Sinos. A
implantação das Unidades consiste no enriquecimento com espécies nativas, principalmente
erva-mate, nas áreas de vegetação secundária das áreas de RL e APPs, por meio das ações
participativas de plantio de mudas, manejo de baixo impacto e monitoramento. O Observatório
identificou 149 experiências agroflorestais manejadas por agricultores familiares, povos
indígenas e comunidades tradicionais no RS (entre 2011 a 2013), abarcando 75 municípios.
Destas, 23 foram sistematizadas e integram o banco de dados do Observatório. Em nível
estadual a CTA/SDR apoiou o trabalho do Departamento de Florestas e Áreas Protegidas (SEMA),
no desenvolvimento da Certificação Agroflorestal, mecanismo que está promovendo a
regularização das práticas agroflorestais no Estado. As ações multiescalares vem contribuindo
no fortalecimento das agroflorestas como uma ação estratégica na conservação e uso
sustentável da agrobiodiversidade no RS que está sendo fortalecida pela implementação da
Rede Sul de Núcleos de Estudo de Agroecologia e Sistemas de Produção Orgânica (RESNEA).
Agradece-se à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)/PNPD
Institucional, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Secretaria de
Ensino Superior do Ministério da Educação.
Plantas medicinais: saberes e práticas de moradores da Vila de Alter do Chão, Santarém,
Pará
Franciane Aguiar Santana (Universidade Federal do Oeste do Pará), Helionora da Silva Alves
(Universidade Federal do Oeste do Pará), Thiago Almeida Vieira (Universidade Federal do Oeste
do Pará), Jackson Fernando Rego Matos (Universidade Federal do Oeste do Pará). Contato:
[email protected].
Estudos etnobotânicos de plantas medicinais podem subsidiar trabalhos sobre o uso sustentável
e o aproveitamento de tais recursos naturais, além de valorizar o conhecimento tradicional.
Sendo assim, o objetivo deste estudo foi conhecer a percepção dos moradores da Vila de Alter
do Chão, Santarém, Pará, em relação às plantas medicinais. A metodologia baseou-se em
pesquisa qualitativa, no método descritivo, sendo realizadas entrevistas semiestruturadas, com
informantes chaves (indicados por moradores locais, como detentores do conhecimento objeto
de estudo). A pesquisa foi realizada após a aprovação, mediante leitura e explicação do Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) aos sujeitos da pesquisa, com autorização por meio
de assinatura do TCLE. Os resultados mostraram que 65% dos entrevistados nasceram na própria
comunidade. Sendo a maioria, 90%, do sexo feminino e também aposentados, 70%. Os mais
idosos detêm mais informações sobre as plantas medicinais, o conhecimento foi construído
através do repasse das informações dos moradores mais antigos de Alter do Chão. Dos
entrevistados, 40% aprenderam com suas mães sobre o uso dessas plantas, e consideram o uso
de plantas medicinais uma maneira de valorizar e preservar a cultura e tradição local.
Informaram as vantagens das plantas medicinais: não tem efeitos colaterais, fácil acesso, o
efeito de ação é mais rápido que dos medicamentos industrializados, não há necessidade gastar
dinheiro e não precisar ir a Unidade de saúde local. Quanto às principais plantas medicinais
citadas, foram indicados 36 nomes populares, sendo as mais citadas: Boldo, Arruda, CapimSanto, Canela, Cumaru, Salva de Marajó e São João do Ca. O total de plantas citadas atende ao
tratamento de 34 acometimentos de saúde, desses, os que apresentaram maiores quantidades
de plantas potenciais para tratamento foram: os problemas de estômago, tosse, cólicas,
ferimentos de pele e gripe. Sendo utilizadas folhas, cascas, frutos e sementes. Quanto ao
procedimento de preparo, a maioria é utilizada na forma de Chá, seguido por óleo, suco, banho,
30
tintura, inalação, xarope e pó. Assim, o uso de plantas medicinais na Vila de Alter do Chão é uma
prática comum, que dá credibilidade ao uso dessas plantas por esses moradores. Além disso, é
uma forma de valorizar a cultura e preservar a tradição local. Apesar do uso dessas plantas fazer
parte do cotidiano de alguns moradores locais, os mesmos, fazem também o uso de
medicamentos industrializados e procuram ajuda médica, quando necessário, demonstrando
que aliar a medicina tradicional com a popular pode ter boa aceitação pela população, sendo
fruto da confiança da população no médico e também no efeito das plantas medicinais.
Agradece-se aos moradores de Alter do Chão que participaram desta pesquisa e a Universidade Federal
do Oeste do Pará.
Sítio de Saluzinho: espaço de construção de conhecimentos agroecológicos
Yara Janaina Gusmão (Universidade Federal de Minas Gerais), Fernanda Oliveira Cirino
(Universidade Federal de Minas Gerais), Giliarde de Souza Brito (Universidade Federal de Minas
Gerais), Marcos Antônio Maltez (Universidade Federal de Minas Gerais), Áureo Eduardo
Magalhães (Universidade Federal de Minas Gerais), Flávia Maria Galizoni (Universidade Federal
de Minas Gerais). Contato: [email protected].
O Sítio de Saluzinho/Centro de Referência da Cultura Material da Agricultura Familiar, é uma
área de 2 hectares localizada no Instituto de Ciências Agrárias (ICA/UFMG), com finalidade de
estimular interesse de crianças pelo rural. O programa foi articulado com as escolas para que as
oficinas oferecidas pelo Sítio coincidam com os conteúdos didáticos em temas relacionados a
ambiente e alimentação. As oficinas, que acontecem 2 vezes por semana, são ministradas por
universitários do ICA/UFMG, por voluntárias da Pastoral da Criança e por agricultores urbanos.
Este resumo tem como objetivo registrar contribuições das oficinas para a construção de
conhecimentos dessas crianças. A metodologia utilizada foi a observação direta, os relatos das
crianças e educadores na avaliação final de cada visita. As atividades desenvolvidas no Sítio
contemplam: i) apresentação da UFMG, do Centro e dos participantes, ii) separação das crianças
em grupos, iii) realização de duas oficinas, iv) merenda, v) realização de duas oficinas, vi)
avaliação, vii) entrega de materiais produzidos durante as atividades, fotos e despedida.
Observou-se que, no espaço rural do Sítio de Saluzinho, crianças e educadores que as
acompanham se sentem no campo, e isso concretiza parte dos objetivos. Além de apresentar
plantas medicinais, agricultoras urbanas estimulam os sentidos das crianças, que visualizam
plantas, cheiram, tocam e degustam chás. Nas oficinas de produção de mudas, as crianças
aprendem a plantar e leva uma muda para cuidar. Na oficina de beneficiamento de alimentos
ofertada por agricultores urbanos, as crianças aprendem sobre sementes, seus usos, plantio,
cultivo e colheita, valorizando o agricultor tradicional e sua forma sustentável de lidar com a
terra. Plantam mandioca, feijão ou cana-de-açúcar, degustam cana, e o que mais chama a
atenção dos agricultores é que muitas não sabem chupar cana, mas gostam de aprender. Na
oficina de frutos do cerrado percebe-se que os frutos são desconhecidos, passam a conhecê-los
e aprendem seus diferentes usos. A oficina de reciclagem, além de refletir conceitos, produz ao
final o biloquê. Observou-se que muitas crianças não conhecem brincadeiras tradicionais, não
tendo o hábito de brincar no coletivo. As visitas ao Sítio tem sido importantes para estimular a
educação alimentar de crianças, ampliando seu interesse e respeito pela agricultura
agroecológica, pelas suas raízes culturais, pelas técnicas próprias do território e pelo valor da
agricultura familiar.
31
Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ministério do
Desenvolvimento Social (MDS) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).
Sustentabilidade: uma reflexão à luz Teoria do Valor
Meire Joisy Almeida Pereira (Universidade Federal do Amazonas), Hiroshi Noda (Instituto
Nacional de Pesquisa da Amazônia e Universidade Federal do Amazonas), Sandra do Nascimento
Noda (Universidade Federal do Amazonas). Contato: [email protected].
O objetivo proposto no presente artigo consiste na problematização das questões relacionadas
à sustentabilidade, mais detidamente nos aspectos que dizem respeito a categoria do valor e do
consumo. O consumo entendido num viés dual, de uma lado inscrito na dimensão social do
modo de produção capitalista, e do outro, inscrito na agro-sociobiodiversidade ambiental. Esse
duplo movimento visa contrastar com as formas impressas pelo ser humano dito civilizado,
desenvolvido e o ambiente, entendido como o espaço constituído da totalidade terrestre. Esse
contrate denota o caráter da sustentabilidade. Ela de fato existe? Na aparência do fenômeno
ambiental sim, visto que conseguimos nos manter por milhões de anos no planeta Terra,
especialmente a partir da revolução neolítica. Entretanto, com o atual padrão de consumo e o
valor que se dá a esse movimento, conseguiremos chegar ao futuro? Ao projetarmos a vida
futura estamos tratando do campo da sustentabilidade. Inserimos nesse debate a categoria
saber ambiental, ação protagonizada pelos povos que vivem em espaços diversos como o meio
rural, as margens dos rios, as florestas, as tribos, os quilombos, enfim, locais onde o ambiente é
fundamental para reprodutibilidade sociobiológica dos seres humanos e dos seres vivos,
portanto, locus de sustentabilidade. Já o espaço da insustentabilidade pode ser atribuído às
cidades, aos ambientes urbanos, com destaque aqueles cujo adensamento populacional é
vigoroso e o consumo exacerbado, embora promovam relativa qualidade de vida, ao mesmo
tempo e, contraditoriamente, são responsáveis por altos índices da degradação ambiental,
desigualdade social, pobreza, desemprego, violência e mais recentemente endividamentos
familiares e individuais. A estratégia metodológica do estudo usou a pesquisa-ação junto a
grupos de assentados da reformas agrária de Roraima, a revisão bibliográfica acerca da
sustentabilidade, a análise dos discursos dos trabalhadores da agricultura familiar assentados e
usou a perspectiva interdisciplinar para refletir e analisar o fenômeno. Os resultados ainda
preliminares, apontam para evidenciarmos a relevância da agrobiodiversidade produzidas
nesses espaços ocupados por seres humanos que valorizam os bens comuns - a água, terra, o ar
e o fogo (energia) - em detrimento ao consumo e a valoração descontextualizada das coisas.
Esses sujeitos promovem com seu modus operandi de viver a conservação do ambiente e, ao
mesmo tempo, a sustentabilidade.
Agradece-se ao Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia,
por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa no Amazonas (FAPEMA).
Uso de árvores nativas: dialogando com o conhecimento tradicional
Aroldo Felipe de Freitas (Universidade Federal de Lavras), Raphael B. A. Fernandes (Universidade
Federal de Viçosa), Nelson Venturin (Universidade Federal de Lavras), Irene Maria Cardoso
(Universidade Federal de Viçosa), Gil Pedro de Oliveira Lara (Universidade Federal de Lavras),
Rafael de Moura Miranda (Universidade Federal de Lavras), Maria de Lourdes Souza Oliveira
32
(Universidade Federal de Lavras), Fatima Maria de Souza Moreira (Universidade Federal de
Lavras), Diêgo Peña Marquez (Universidade Federal de Viçosa), Fernanda Carvalho
(Universidade Federal de Lavras), Silvia Dantas Costa Furtado (Universidade Federal de Viçosa).
Contato: [email protected].
O conhecimento tradicional tem sido a base do trabalho da parceria do Centro de Tecnologias
Alternativas (CTA), organizações dos trabalhadores rurais da Zona da Mata Mineira, alguns
destes realizados em parcerias com as Universidades Federais de Viçosa e de Lavras. O objetivo
deste trabalho foi compreender como a articulação entre os conhecimentos tradicional e
científico pode gerar ganhos para a família rural e a ciência. Os trabalhos do CTA e parceiros
ocorrem desde 1995 com metodologia de observações a campo e entrevistas semi-estruturadas.
O presente trabalho estudou propriedades rurais dos municípios de Divino e Araponga/MG,
onde o uso principal do solo é por cafezais e pastagens. Pastagem é aqui entendida como tudo
aquilo que serve de alimento para o animal. Assim, árvores nativas são consideradas pastagens,
pois o gado as comem para se manter saudável. As famílias observaram os animais se
alimentando de folhas das árvores capoeira branca (Solanum mauritianum Scop.), fedegoso
(Senna macranthera Irwin and Barneby), papagaio (Aegiphila sellowiana Cham.) e dos frutos de
abacate (Persea americana Mill., oferecidos no cocho) e ingá (Inga edulis Mart.). As famílias
informaram que a maioria das árvores já estava na área antes do capim, uma vez que a
introdução dessas na pastagem necessita de cuidados pela agressividade do capim. Além disso,
os animais comem as mudas de árvores que surgem da regeneração natural. O que, a princípio,
parece ser ruim reafirma o potencial das árvores nativas como forragem. Devido ao trabalho
continuado, as famílias reconhecem e valorizam a presença de espécies leguminosas arbóreas
que fixam biologicamente o nitrogênio atmosférico. Verificou-se ainda que a regeneração
natural de leguminosas arbóreas como angico rosa (Parapiptadenia rigida Brenan) e pau jacaré
(Piptadenia gonoacantha Macbr.) são consumidas pelos animais durante todo o ano, enquanto
outras espécies não leguminosas só na estação seca. Também observou-se que a forragem sob
a copa de algumas leguminosas como jacarandá caviúna (Dalbergia nigra Benth.) se mantém
verde mesmo na época mais seca do ano. Atualmente, os parceiros investigam a influência das
árvores nativas leguminosas sobre a qualidade das forragens, a microbiologia e fertilidade dos
solos sob pastagens. Alguns estudos apontam as qualidades das árvores em pastagem, mas é
necessário aprofundamento que dialogue e estimule o aprendizado contínuo de famílias
agricultoras que constroem o conhecimento tradicional.
Agradece-se à FAPEMIG, à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Ecologia Política
Do Velho ao Novo Airão: a interface entre conservação ambiental e a urbanização
Gizele Melo Uchoa (Universidade Federal do Amazonas), Wagner de Deus Mateus (Universidade
Federal do Amazonas). Contato: [email protected].
O adjetivo no nome do município de Novo Airão nos remete a uma discussão que coaduna
espaço e tempo, um cenário motivado pelo processo de arruinamento da primeira sede do local,
o Airão, uma peculiaridade que se fez presente em outras cidades amazônicas, trata-se,
portanto, de um fenômeno que oportunizou a construção de um novo espaço e território de
33
reprodução social. Ao nos referirmos ao arruinamento de Airão fitam-se a finitude dos bens
naturais, as práticas de Etnoconservação, a urbanização, a economia, assim como cultura local
e como estes sofrem transformações e adaptações a uma nova episteme, a ambiental. Com isso,
percebe-se o cenário de conflitos socioambientais ocasionados pelo processo de (des)
urbanização, degradação ambiental, especulação imobiliária e omissão do estado. E, ao analisar
as transformações que ocorrem nos perfis geográficos de municípios amazonenses que
passaram a integrar a região metropolitana de Manaus, a partir da construção da Ponte Rio
Negro, tornou-se necessária à verificação fenomênica dessas transformações e mediante uma
atividade de campo realizada ao município de Novo Airão, e utilizando-se do método de
observação sistemática, entrevistas e registro fotográfico a presente sintetização analisou as
transformações na organização desse ambiente baseado no acesso aos bens comuns, conflitos
socioambientais, as práticas de etnoconservação, o processo urbanização, integração
rodoviária, a economia e a cultura local. O cenário de cidade interiorana sofreu transformações
com o crescente processo de conurbação, urbanização e mudanças de infraestruturas advindas
com a institucionalização da região Metropolitana de Manaus e a construção da Ponte Rio Negro
integrando Manaus, Iranduba, Manacapuru e Novo Airão. Com essa integração houve a
diversificação econômica, influenciando a cultura e intensificando conflitos socioambientais
aumentando os riscos sobre a conservação dos bens naturais ao longo prazo. A expansão da
urbanização disputa campo com as lutas de conservação dos bens naturais e as práticas
cotidianas da população local. O ontem e o hoje do município de Nova Airão é um espectro
influenciado pela condição econômica de cada período, pois, no inicio, foi associado ao declínio
das atividades extrativistas, despovoamentos sucessivos na época da colonização e isolamento
geográfico, atualmente pela falta de investimento em bens de produção, ausência de soluções
estatais para educação e saúde e conflitos socioambientais.
Agradece-se à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CNPq).
Estratégias de reprodução do modo de vida e conservação da biodiversidade na Resex Rio
Jutaí, Amazonas
Guilherme Oliveira Freitas (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia). Contato:
[email protected].
As Reservas Extrativistas no Brasil surgiram na Amazônia no final dos anos 80 e inicio dos anos
90, especificamente no Estado do Acre. São reconhecidas pelas tentativas de integrar a
conservação de recursos naturais e a execução de atividades produtivas possuindo grande
potencial no impacto regional. Na Amazônia, as reservas extrativistas são compostas por solos
de terra firme, margens de rios florestados e o que predomina como principal atividade
econômica dos povos tradicionais é o trabalho com a produção de farinha, venda de hortaliças,
manejo e preservação do pirarucu (Arapaima gigas), extração de óleos essenciais e a
comercialização de plantas medicinais. Este trabalho teve como objetivo analisar o uso social da
biodiversidade na Reserva Extrativista Rio Jutaí, no Estado do Amazonas, pautado no Modo de
Vida em Marx que é identificado através do trabalho familiar, dos agricultores que são donos
dos meios de produção e de sua terra, além de praticarem ajuda mútua, como os mutirões e
como esse fator se aplica ao limite territorial da Resex que se justifica pelo fato da região ser
caracterizada pela conservação da biodiversidade e, sobretudo, pela luta e resistência
camponesa. Para execução desta pesquisa foram realizados trabalhos de campo entre os anos
de 2011 á 2012 com o uso de entrevistas semi-estruturadas, fotos, mapas, bibliografia e
34
depoimentos para identificar o uso social do sistema ambiental. O trabalho direto com espaços
herdados da natureza produz paisagens próprias criadas a partir do modo de vida e da relação
com a terra principal instrumento de trabalho dos povos tradicionais. A agricultura está inserida
em tabuleiros bem drenados e a caracterização dos sistemas de produção nas comunidades
ocorre das técnicas do etnoconhecimento, gerando as espacialidades e a economicidade que se
constitui direcionada no processo de trabalho transformando a natureza ou utilizando-a como
matéria-prima, como no caso da coleta de sementes de Andiroba (Carapa Procera DC.) e
Copaíba (Copaifera multijuga Hayne), mas persistem deficiências de estrutura como técnicas
agrícolas e de comercialização. O modo de vida camponês tem por característica a formação em
ambientes tropicais biodiversos, como a Amazônia, um conjunto de procedimentos de variados
usos dos espaços naturais tal processo de trabalho permite a segurança alimentar da família e
um grau de contato com o mercado.
Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Guerras nos mares do sul: a produção de uma monocultura marítima e os processos de
resistência
Gustavo Goulart Moreira Moura (Universidade de São Paulo). Contato: [email protected].
A pesca no estuário da Lagoa dos Patos é uma atividade em disputa. De um lado, as comunidades
de pesca produzem seus territórios de pesca através dos seus respectivos Conhecimentos
Ecológicos Tradicionais (CET) que embasam os diferentes modos de usos dos recursos
pesqueiros, os sistemas de manejo de recursos pesqueiros tradicionais (MT). De outro, o Estado
Moderno implementa políticas públicas de manejo de recursos pesqueiros, sobretudo a partir
da segunda metade da década de 1970, que resultam na implementação de um sistema de
manejo de recursos pesqueiros moderno (MM), característico de um projeto colonial de
dominação. Como resultado da implementação do MM, a pesca entra em colapso na primeira
metade da década de 1970 e as indústrias pesqueiras decretam falência na década de 1980.
Para solucionar a crise no setor pesqueiro, na segunda metade da década de 1990 cria-se o
Fórum da Lagoa dos Patos (FLP) onde se formula a atual legislação que regulamenta a pesca no
estuário da Lagoa dos Patos, a Instrução Normativa Conjunta de 2004 (INC 2004). A INC 2004
implementa um MM através da imposição de um calendário de pesca que se torna
institucionalizado e, por isso, oficializado. O objetivo desta tese é descrever o processo de desre territorialização das comunidades de pesca do estuário da Lagoa dos Patos gerado pelo
Estado Moderno na implementação da INC 2004. Para atingir tal objetivo, foram utilizadas
basicamente duas técnicas de pesquisa para coleta de dados do CET e dos conhecimentos,
verdades e valores mobilizados na formulação da INC 2004: entrevistas e levantamento
bibliográfico. A partir dos dados obtidos, foi necessário o desenvolvimento de uma proposta
própria que se enquadra na perspectiva integradora de território: território como
conhecimento. Segundo esta proposta, território é um espaço epistêmico produzido a partir do
espaço. Com a tentativa de implementação da INC 2004, emerge um conflito ambiental
territorial na produção de um espaço através do controle do uso de recursos pesqueiros no
estuário da Lagoa dos Patos. O Estado Moderno, que exibe caráter colonial, opera
estrategicamente sobre o espaço tentando forçar o curso da modernidade às comunidades de
pesca na produção de um espaço epistêmico disciplinar. O resultado, se o Estado Moderno fosse
bem sucedido em seu projeto de colonialismo cultural, seria um epistemicídio: a eliminação dos
multiterritórios operados pelo CET com uma dinâmica multicalendárica em cada uma das
35
comunidades de pesca artesanal do estuário e a sua substituição por um território operado por
uma racionalidade ocidental com um ritmo mecânico através da imposição do Calendário
Oficializado da INC 2004. As comunidades de pesca, por sua vez, resistem silenciosa e
abertamente operando taticamente via CET na produção de espaços de R-existência.
Surpreendentemente, em movimentos diagramáticos infinitos, ambos, Estado Moderno e
comunidades de pesca, des-re-territorializam um ao outro.
Agradece-se à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
Mapeamentos participativos em Terras Indígenas: refletindo os rumos da ação indigenista
Marina Gomes Drehmer
[email protected].
(Universidade
Federal
do
Rio
de
Janeiro).
Contato:
A pesquisa desenvolve-se no âmbito do projeto Cartografia Social, Terra e Território, que tem
por objetivo identificar, sistematizar e analisar as experiências de cartografia social e
mapeamento participativo desenvolvidas no território brasileiro ao longo dos últimos 20 anos,
totalizando 284 experiências. A escolha está relacionada ao potencial emancipador que as
práticas apontam, sendo que muitas delas têm se revelado, para os sujeitos sociais que se
cartografam, uma importante ferramenta na luta pela construção não-hegemônica de sentidos
e territórios, além de contribuir para desvelar as disputas territorias tanto materiais como
simbólicas. A vertente em questão procura investigar as experiências de mapeamento
participativo em Terras Indígenas com foco nos discursos formulados pelos seus promotores.
Sob uma diversidade de nomes, as experiências, que envolvem distintos agentes (instituições
estatais, ONGs, entidades ambientalistas, asssociações indígenas) chamam atenção por
acionarem discursos de ordens distintas, combinando cultura indígena, sustentabilidade, gestão
e planejamento territorial. Diante disso, propomos-nos analisar como vem sendo construída a
retórica resultante do cruzamento de discursos. Este desdobramento do projeto surgiu diante
da percepção da especificidade dessas experiências, que divergiam daquelas associadas ao
reconhecimento identitário e territorial. Assim, intenta-se compreender para o que as
experiências apontam, refletindo a relação que vem sendo travada com os grupos indígenas. A
partir do banco de dados foram identificados 68 casos que se enquadram nesta modalidade.
Traçou-se então um perfil de cada experiência a por meio de informações como localização, data
de realização, etnia envolvida, agentes promotores e financiadores, em quais termos os
promotores definem as experiências e qual o repertório vocabular acionado. As informações
possibilitaram esboçar uma análise de conjunto que tem dado pistas sobre por onde seguir.
Juntamente com as contribuições teóricas de autores como Maria Barroso-Hoffmann, a
pesquisa tem nos colocado diante do questionamento sobre os rumos da ação indigenista,
percepção que se reforça ao ter em vista que os mapeamentos participativos, no que diz
respeito aos aspectos procedimentais, tem sido o instrumento por excelência para planejar a
gestão de TIS, passando a ter sua versão institucional em 2012 com a lei que implementou a
Política Nacional de Gestão Terriotial e Ambiental das Terras Indígenas.
Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Ford
Foundation.
36
Os sinais das plantas na construção dos saberes ambientais locais
Arthur Lima da Silva (Universidade do Estado da Bahia) e Feliciano de Mira (Universidade do
Estado da Bahia). Contato: [email protected].
A semiótica estuda o papel dos signos nas linguagens que permitem a existência humana
enquanto fenômeno sociohistórico. Assumindo que os fenômenos biológicos são possibilitados
por uma ‘linguagem da vida’, a biossemiótica busca entender os processos viventes enquanto
processos sígnicos. A pesquisa investigou a importância dos sinais das plantas na construção dos
saberes ambientais locais na comunidade quilombola Baixa dos Quelés, Jeremoabo, Bahia, e
suas implicações na conservação dos recursos vegetais. Foram utilizados questionários fechados
(38) e conversas informais entre 06.2013 e 09.2014, com informantes selecionados por
amostragem aleatória, observando os requisitos legais, pela assinatura do TCLE, e a anuência
prévia da comunidade. Os sinais das plantas relatados foram de ordem olfativa (cheiro de folhas
e flores), sonora (som das plantas rangendo ou pingando água), visual (floração e/ou
frutificação) e de intensidade (floração e/ou frutificação intensas) com a função de anunciar as
condições climáticas e predizer o início das chuvas. Sinais como cor, forma e textura das
sementes, espigas e da seiva ajudam na seleção das espécies cultivadas. O lugar de ocorrência
da planta na natureza atua como indicador dos solos mais adequados para o plantio, além da
existência de água subterrânea, minações ou grotas d’água. Cor, forma e cheiro, além do
conhecimento antepassado e do lugar de ocorrência na natureza, estão presentes na seleção de
plantas utilizadas em ritos religiosos, preparo de banhos e alimentos, rezas e ornamentação de
altares e terreiros. Na constituição dos saberes ambientais locais, os sinais das plantas estão
ligados à memória, através da reprodução e manutenção do conhecimento antepassado e das
experiências de vida; às crenças, junto às plantas utilizadas com finalidades religiosas e
medicinais; ao aprendizado, nas trocas de informações com outros universos culturais; e aos
movimentos naturais, pelos períodos do ano, as fases da lua e a observação dos movimentos
animais. Os saberes ambientais locais da comunidade atuam como fator regulador no uso e
manejo das plantas, determinando sua seleção e utilização. A presença destes sinais estrutura
uma linguagem do conhecimento vegetal que está ancorada na representação social do grupo
e permeada por princípios de respeito aos vegetais e pelo cuidado com as condições físicas que
garantem a reprodução cultural do grupo.
Agradece-se ao Programa de Pós Graduação em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental
(PPGEcoH/UNEB/DEDC), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa concedida. À
Comunidade Baixa dos Quelés. À organização não governamental Assessoria e Gestão em Estudos da
Natureza, Desenvolvimento Humano e Agroecologia (AGENDHA). O projeto de pesquisa que embasou o
presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado
da Bahia (CEP/UNEB) sob o registro no. 541.895.
Os sistemas socioecológicos no extrativismo do jaborandi, Pilocarpus microphyllus Stapf ex
Wardlew, Rutaceae, na Amazônia e região de transição com a Caatinga e Cerrado
Cristina Grabher (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Camila Vieira da Silva
(Universidade Federal do Pará), Gabriela Coelho-de-Souza (Universidade Federal do Rio Grande
do Sul). Contato: [email protected].
37
A semiótica estuda o papel dos signos nas linguagens que permitem a existência humana
enquanto fenômeno sociohistórico. Assumindo que os fenômenos biológicos são possibilitados
por uma ‘linguagem da vida’, a biossemiótica busca entender os processos viventes enquanto
processos sígnicos. A pesquisa investigou a importância dos sinais das plantas na construção dos
saberes ambientais locais na comunidade quilombola Baixa dos Quelés, Jeremoabo, Bahia, e
suas implicações na conservação dos recursos vegetais. Foram utilizados questionários fechados
(38) e conversas informais entre 06.2013 e 09.2014, com informantes selecionados por
amostragem aleatória, observando os requisitos legais, pela assinatura do TCLE, e a anuência
prévia da comunidade. Os sinais das plantas relatados foram de ordem olfativa (cheiro de folhas
e flores), sonora (som das plantas rangendo ou pingando água), visual (floração e/ou
frutificação) e de intensidade (floração e/ou frutificação intensas) com a função de anunciar as
condições climáticas e predizer o início das chuvas. Sinais como cor, forma e textura das
sementes, espigas e da seiva ajudam na seleção das espécies cultivadas. O lugar de ocorrência
da planta na natureza atua como indicador dos solos mais adequados para o plantio, além da
existência de água subterrânea, minações ou grotas d’água. Cor, forma e cheiro, além do
conhecimento antepassado e do lugar de ocorrência na natureza, estão presentes na seleção de
plantas utilizadas em ritos religiosos, preparo de banhos e alimentos, rezas e ornamentação de
altares e terreiros. Na constituição dos saberes ambientais locais, os sinais das plantas estão
ligados à memória, através da reprodução e manutenção do conhecimento antepassado e das
experiências de vida; às crenças, junto às plantas utilizadas com finalidades religiosas e
medicinais; ao aprendizado, nas trocas de informações com outros universos culturais; e aos
movimentos naturais, pelos períodos do ano, as fases da lua e a observação dos movimentos
animais. Os saberes ambientais locais da comunidade atuam como fator regulador no uso e
manejo das plantas, determinando sua seleção e utilização. A presença destes sinais estrutura
uma linguagem do conhecimento vegetal que está ancorada na representação social do grupo
e permeada por princípios de respeito aos vegetais e pelo cuidado com as condições físicas que
garantem a reprodução cultural do grupo.
Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O projeto de
pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade do Estado da Bahia (CEP/UNEB) sob o registro no. 541.895.
Parque Nacional da Serra do Cipó e suas populações locais: reflexões sobre paradigmas de
conservação
Amanda Cristina Nunes Pacífico (Universidade Federal de Minas Gerais), Leonardo Vasconcelos
de Souza (Universidade Federal de Minas Gerais), Giulia Volpini Soares de Gouvêa (Universidade
Federal de Minas Gerais), Iara Oliveira Silva e Freitas (Universidade Federal de Minas Gerais),
Ana Beatriz Vianna Mendes (Universidade Federal de Minas Gerais). Contato:
[email protected].
Alguns paradigmas de conservação defendem a importância de se definir áreas “apartadas” da
presença humana para lograr da preservação ambiental. Observa-se, no entanto, que com
frequência isso tem levado á práticas de conservação autoritárias, que implicam o deslocamento
forçado de populações locais e a imposição de uma nova lógica sobre os territórios. O projeto
de pesquisa e extensão “O Parque Nacional da Serra do Cipó (MG) e populações locais:
desvelando conflitos e histórias marginalizadas” se debruça justamente sobre um contexto
como este. Busca refletir junto à comunidade local sobre a gestão da sociobiodiversidade na
Serra do Cipó, buscando: (i) descrever mudanças na vida das pessoas após a implementação do
38
Parque, (ii) fomentar sua organização sociopolítica e (iii) refletir sobre o modelo de conservação
ambiental adotado pelo Estado brasileiro e os conhecimentos e modos de relacionamento das
comunidades locais com o ambiente. Através de reuniões coletivas, entrevistas
semiestruturadas com atores chaves, observação participante e pesquisa documental e
bibliográfica, temos percebido em diversos momentos e através de mecanismos diversos,
desrespeito e invisibilização com relação às populações locais ao longo de todo o processo de
implantação do Parque. Cabe salientar as várias facetas do desrespeito aos saberes locais que
esse modelo traz: além de excludente e criminalizador com relação aos modos de vida das
populações locais, ele se constitui como necessidade de compensar práticas degradantes do
modelo hegemônico de sociedade, e fomenta a “educação ambiental” baseada num modelo
dissociado entre homem e natureza. A pesquisa indica que a expulsão sumária de várias famílias
e o deficiente diálogo entre população e órgão ambiental estão presentes ao longo da maior
parte da história do Parque. A atual gestão tem buscado entender o processo histórico referente
à desapropriação dessas famílias com o objetivo de regularizar a questão fundiária da Unidade
de Conservação. Percebe-se, entretanto, que não tem sido observado o dever do Estado em
proteger, respeitar e fomentar o patrimônio social e cultural brasileiro, o que reflete também
uma dificuldade de diálogo entre as pastas ambiental e cultural do Estado. Neste sentido, a
pesquisa também visa contribuir para fomentar um maior diálogo entre Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.
Agradece-se à PROEXT do Ministério da Educação, Pró Reitoria de Extensão da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG). Agradecimentos aos grupos de Pesquisa GESTA/UFMG e ao Cidade e
Alteridade/UFMG.
Percepção de conflitos socioambientais por uma organização aborígene na ilha Stradbroke,
Austrália
Daniel Ganzarolli Martins (Universidade de Queensland). Contato: [email protected].
Apesar dos grandes impactos advindos da colonização europeia aos modos de vida dos povos
aborígenes australianos, muitas comunidades ainda se utilizam de saberes tradicionais no
manejo de seus territórios. O objetivo deste estudo foi avaliar a percepção de conflitos
socioambientais enfrentados por uma organização aborígene no contexto australiano. A
pesquisa foi desenvolvida junto a Corporação Aborígene Quandamooka Yoolooburrabee
(CAQY), atuante na ilha Stradbroke, Austrália. Foi realizada a análise de documentos
institucionais da organização e uma entrevista com sua reconhecida liderança comunitária, o
presidente do Conselho Territorial Quandamooka. A entrevista foi baseada em um roteiro
semiestruturado, composto por 15 questões sobre a relação da organização com os conflitos
socioambientais presentes no seu território, abarcando aspectos sobre: organização
administrativa, conhecimento tradicional, participação comunitária e gestão ambiental. A
CAQY, que atua na comunidade principalmente por ações de conservação ambiental e de
valorização da cultura aborígene, teve em 2011 parte de seus direitos territoriais garantidos pela
declaração de título nativo, sendo esta uma importante demarcação de área indígena que
assegura práticas de manejo tradicional e a proteção de sítios cerimoniais, porém que não
garante posse ou atuação sobre áreas de particulares preexistentes. A maior problemática
socioambiental apontada pela liderança, sendo também reiterada pela revisão bibliográfica, foi
o acentuado desequilíbrio no regime de incêndios no território aborígene. Quando utilizado de
acordo com seu conhecimento tradicional, o fogo é compreendido na cultura aborígene como
um importante regenerador da paisagem. Entretanto, o manejo do fogo em Stradbroke é visto
39
como desregulado devido a décadas de gestão inadequada, onde ocorreram divergências entre
o manejo feito pelos aborígenes com o realizado por não-aborígenes e entidades
governamentais. Outra problemática levantada pela liderança inclui os impactos da mineração
de areia em parte de seu território, pois embora a atividade cause prejuízos ambientais, ela
também gera empregos para os comunitários, dividindo as opiniões e posições destes sobre a
continuidade da mesma. A CAQY está mobilizada na busca de soluções para essas e outras
questões complexas, onde as lideranças aborígenes visam salvaguardar seu ambiente e
tradições em meio a disputas políticas e econômicas.
Agradece-se ao Programa Ciência Sem Fronteiras, Universidade de Queensland, professoras Natalia
Hanazaki e Helen Ross, bióloga Rubana Palhares.
Produtos Florestais Não-Madeireiros (PFNM): o que o pequi tem a ver com isso? A ecologia
política por traz do conceito e sua utilidade em um projeto de geração de renda comunitária
no Quilombo de Pontinha, Paraopeba, Minas Gerais
Lidia Maria de Oliveira Morais (Universidade Federal de Minas Gerais), Miguel Alexiades
(University of Kent), Lorena Cristina Lana Pinto (Universidade Federal de Minas Gerais), Maria
Auxiliadora
Drumond
(Universidade
Federal
de
Minas
Gerais).
Contato:
[email protected].
Produtos Florestais Não-Madeireiros (PFNMs) são definidos pela "Food and Agriculture
Organization of the United Nations" (FAO) como produtos de origem biológica outra que a
madeira, extraídos da floresta, e outros tipos vegetacionais. No entanto, sob a perspectiva de
quem vive e faz da floresta sua forma de vida, a interação com o mundo material se dá de forma
contínua, sendo a distinção entre produtos “madeireiros” ou “não madeireiros” irrelevante. Por
que então discutir essa divisão? Política e economicamente, o que demarca a fronteira entre
produtos madeireiros ou não é a escala da produção e o direito ao acesso aos recursos
produtivos. O uso da categoria de PFNM é recente no vocabulário jurídico e acadêmico, mas traz
em si o embate histórico entre diferentes formas de apropriação do mundo natural. Dentro
deste contexto, este trabalho analisa o caso do Quilombo de Pontinha, Paraopeba, Minas Gerais,
e sua relação com o Pequi (Caryocar brasiliense Camb.). Produto do extrativismo no cerrado, o
pequi é aparentemente abundante no território de Pontinha e em regiões próximas, aonde já
existe um histórico de exploração e beneficiamento e relações de mercado que apontam
possibilidades para geração de renda através do fruto. Propõe-se então uma abordagem da
Ecologia Política para analisar o conceito de PFNM e sua utilidade no caso do pequi em Pontinha.
Ao reunir formas tradicionais de saber e utilizar os frutos da flora nativa com uma abordagem
científica e comercial, os PFNMs associam diferentes sistemas de significação e apropriação de
recursos sob um mesmo rótulo. Esse confronto proporciona uma oportunidade para a análise
crítica das possibilidades de utilização de frutos como o pequi enquanto fontes de renda
comunitária, ao mesmo tempo em que abre portas para o diálogo entre as perspectivas
envolvidas. Avaliar as possibilidades e desafios que se apresentam para o extrativismo do pequi
em Pontinha é parte de uma pesquisa desenvolvida pelo Laboratório de Sistemas
Socioecológicos da Universidade Federal de minas Gerais que envolve uma pesquisa
etnoecológica, análises de produtividade baseadas na ecologia da espécie, visitas de formação
e apoio técnico, pesquisa de mercado e reuniões conjuntas com a comunidade para
planejamento e avaliações periódicas. Estabelece-se assim uma pesquisa-ação em Pontinha com
potencial para encorajar a autonomia no uso comercial do pequi, além de produzir
40
conhecimento capaz de subsidiar a elaboração e implementação de políticas públicas e projetos
coerentes com as formas de viver da comunidade.
Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ciências Sem
Fronteiras, University of Kent, Laboratorio de Sistemas Socioecológicos da Universidade Federal deMinas
Gerais (UFMG), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), Proex/UFMG,
Proext-UFMG. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo
Comitê de Ética da Universidade Federal de Minas Gerais sob o registro CAAE – 03888812.2.0000.5149.
Resiliência socioecológica frente à expansão portuária em áreas estuarinas: o caso da
comunidade caiçara da Ilha Diana, Santos, São Paulo
Fernanda Terra Stori (Universidade Federal de São Carlos), Denis Moledo De Souza Abessa
(Universidade Estadual Paulista), Nivaldo Nordi (Universidade Federal de São Carlos). Contato:
[email protected].
A comunidade caiçara da Ilha Diana, Santos, São Paulo, vivencia, desde 2005, a controvérsia da
instalação de um terminal portuário, cujas licenças ambientais foram concedidas mesmo
contrariando instrumentos legais que dispõem sobre conservação de áreas de manguezais,
gerenciamento costeiro e concessão de áreas da União para fins privativos. Este estudo
objetivou discutir aspectos de resiliência socioecológica, buscando integrar a análise das lógicas
de ação dos atores da rede sociotécnica que estabeleceu os acordos no licenciamento
ambiental, à análise institucional dos mecanismos sociais que geram adaptatividade e resiliência
em sistemas socioecológicos. Para a primeira análise, foram entrevistados 20 residentes da Ilha
Diana (10% da população) e identificados os mecanismos sociais e práticas de manejo baseadas
no Conhecimento Ecológico Local (CEL) que constituem Resiliência Socioecológica. Para a
segunda análise, foram entrevistados 11 atores sociais representantes de instituições envolvidas
na controvérsia da expansão portuária e dezoito horas de falas foram transcritas e classificadas
de acordo com os referenciais das Economias de Grandeza e Sociologia da Tradução. A primeira
análise identificou que há na Ilha Diana mecanismos sociais e práticas de manejo capazes de
promover resiliência, tais como, a habilidade e flexibilidade em interagir com o restante da
sociedade - fatores que poderão contrabalançar aspectos negativos da crise e promover a
reorganização do sistema socioecológico. Contudo, na segunda análise identificamos a
assimetria de poder dentre as instituições avaliadas, sendo que as lógicas de ação comerciais e
industriais foram as visões de mundo dominantes no território estudado, que pressionaram o
órgão ambiental para a concessão das licenças ambientais, fato que interferiu negativamente
na manutenção das práticas pesqueiras e mecanismos sociais da Ilha Diana. As lógicas cívica,
doméstica, de inspiração e opinião apenas exerceram o contraponto às visões dominantes, uma
vez que colaboraram para que o projeto do terminal portuário sofresse adaptações e
incorporasse 32 condicionantes socioambientais. Não foi observado um processo de
concertação na rede sociotécnica, apenas negociações que resultaram em desconfianças e
conflitos internos na comunidade da Ilha Diana. Conclui-se que a promoção de resiliência
socioecológica na área estudada não é dependente apenas dos mecanismos sociais e práticas
de manejo presentes na Ilha Diana, mas também, do resultado dos acordos estabelecidos pela
rede sociotécnica em decorrência do processo de participação social adotado.
Agradece-se à bolsa de Doutorado-Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq). Agradecemos aos moradores da Ilha Diana e aos atores sociais entrevistados pela confiança
depositada.
41
Etnobiologia aplicada à Educação
A (des)construção do olhar sobre a seca no nordeste brasileiro: uma contribuição da
educação ambiental crítica
Lakshmi Juliane Vallim Hofstatter (Universidade Federal de São Carlos), Haydée Torres de
Oliveira (Universidade Federal de São Carlos), Francisco José Bezerra Souto (Universidade
Estadual de Feira de Santana). Contato: [email protected].
A Caatinga já foi descrita como um bioma pobre, com baixa biodiversidade, solo improdutivo e
habitado por sertanejos sofredores. A mídia, os materiais didáticos, as políticas públicas, ainda
hoje, propagam uma imagem estereotipada do semiárido e de sua população. A forma como
as/os professoras/es o percebem e transmitem seus valores pode colaborar com o rompimento
desta visão, pois formam crianças e jovens reflexo do que a sociedade pode vir a ser. Este
pesquisa foi realizada na Escola Municipal Espírito Santo, comunidade de Brejo dos Olhos
d’Água, com um grupo de 19 professoras/es e 6 integrantes desta comunidade na região
semiárida de Barra, Bahia. A coleta de dados ocorreu durante uma formação em educação
ambiental, na perspectiva crítica, pautada em metodologias participativas. Utilizamos o método
de foto-elicitação, que consiste no uso de fotografias para evocar memórias e proporcionar
diálogos, objetivando compreender a percepção socioambiental das/os participantes; também
aplicamos um questionário e entrevistamos coletivamente pela técnica do grupo focal. Devido
à complexidade dos fatores tratados e a subjetividade inerente ao trabalho com pessoas, a
análise e a interpretação de dados percorreu o caminho qualitativo hermenêutico, procurando
desvelar o que está implícito no explícito. Dentre as 61 fotografias feitas pela turma, 23 eram
relacionadas à seca. Uma das formas de representá-la foi através do gado magro, que remete a
uma imagem mental presente no imaginário social diretamente influenciada pela mídia, pelos
materiais didáticos e por discursos que o consolidam enquanto símbolo da seca. Durante o
grupo focal, apenas três pessoas remeteram a questão da seca aos aspectos sociais e somente
duas incluem a responsabilidade governamental pelo que se vive no semiárido. As outras
pessoas acreditam que suas dificuldades são devido às condições naturais da seca. Assim,
percebemos que parte das/os professoras/es ainda traz uma visão estereotipada e reproduzem
discursos difundidos historicamente. Para a (des)construção destes olhares, precisamos formar
sujeitos críticos para atuarem sobre suas realidades. Estes sujeitos devem ser capazes de ler e
interpretar o seu meio, compreendendo as diversas influências sociais que compõem suas
percepções sobre a seca. A intervenção educacional pode, portanto, contribuir para mudança
conceptual do semiárido, para tanto se evidencia a necessidade de investimento na formação
continuada de professoras/es.
Agradece-se à Rede SISBIOTA - Predadores de Cadeia, FAPESP e Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), pelo apoio à pesquisa.
A Apicultura no ensino escolar do semiárido
Ana Cristina Ximenes Leite (Universidade Estadual do Ceará), Irislane Gomes da Silva
(Universidade Estadual do Ceará), Deyvanilson Rodrigues Pereira (Universidade Estadual do
Ceará), Robson Lincoln Alves Loyolla (Universidade Estadual do Ceará), Maria Gilmara Vieira da
Silva (Universidade Estadual do Ceará), Marcelo Campêlo Dantas (Universidade Estadual do
Ceará). Contato: [email protected].
42
A apicultura é considerada como um meio valioso para o desenvolvimento de conceitos
ecológicos, como a inibição do desmatamento de espécies nativas da caatinga, que abrigam as
flores produtoras de pólen. Projetos desenvolvidos em escolas, por associações de apicultores,
são ferramentas que proporcionam enriquecimento desse conteúdo. Diante o exposto, o
trabalho teve como objetivo a análise do conhecimento de alunos da zona rural do semiárido
brasileiro sobre o processo da apicultura e as ações da associação de produtores local perante
a escola. Foram aplicados questionários semiestruturados com oito questões a 45 alunos do 6º,
8º e 9º anos da Escola Centro Educacional Rural, localizada na comunidade de Lagoa da Areia,
no município de Novo Oriente, Ceará. Foi observado que a maioria dos alunos entrevistados
afirmou conhecer a apicultura (76,0%) e a associação (71,0%). Contudo, 20,0% dos entrevistados
relataram que a família não participava da associação mesmo trabalhando com a apicultura. A
falta de ação do órgão também foi verificada pela desinformação dos alunos sobre as técnicas
de recolhimento e da destinação final do mel (80,0%). Dos alunos entrevistados, 96,0% sabiam
que a espécie Apis mellifera era a utilizada na produção. Contudo o mesmo percentual não
soube citar quais plantas da caatinga eram polinizadas por aquelas. Foi avaliado ainda que uma
parcela significativa de 44,0% dos alunos relatou a intenção de trabalhar no futuro com o
processo da apicultura. Conclui-se que deve haver uma intervenção mais significativa da
associação na escola, por meio de palestras, cursos, dentre outros, por se tratar de uma entidade
voltada ao desenvolvimento rural. No mesmo prisma, torna-se necessário o fomento da
transversalidade do tema, pelos professores em sala de aula, como subsídio ao conteúdo
programático adotado pela escola. Espécies da fauna e flora nativas deixam de ser conhecidas e
exploradas no universo estudantil.
Agradece-se à Universidade Estadual do Ceará (UECE) e a Escola de Ensino Fundamental Centro
Educacional Rural.
A Etnoecologia como ferramenta de valorização do Conhecimento Ecológico Local em cursos
da área de turismo
Elisa Serena Gandolfo (Instituto Federal de Santa Catarina). Contato: [email protected].
O Condutor Ambiental Local é o profissional que atua na condução de visitantes em áreas
naturais, orientando e interpretando aspectos ambientais e socioculturais dos atrativos
turísticos. O Campus Garopaba do Instituto Federal de Santa Catarina oferece cursos de
formação de Condutor Ambiental Local dos municípios de Garopaba e Imbituba desde 2012,
tendo formado até o momento 47 condutores ambientais. Com objetivo de aproximação dos
alunos dos cursos ao conhecimento ecológico local das comunidades tradicionais de agricultores
e pescadores da região, foi proposta a realização de uma pesquisa com entrevistas
semiestruturadas, envolvendo a listagem livre de 10 espécies animais e vegetais, seguida de
perguntas sobre utilização e curiosidades sobre as espécies utilizadas. Os dados obtidos foram
apresentados em sala, e a saliência cultural foi calculada com o uso do software Anthropac. As
espécies mais salientes foram selecionadas para aprofundamento dos conhecimentos através
da identificação científica e pesquisa bibliográfica. Foram realizadas 42 entrevistas, sendo a
análise dos resultados realizada em sala de aula, contribuindo para estimular a percepção da
possibilidade de relacionar o conhecimento local ao conhecimento científico e ampliar a visão
sobre aspectos da biodiversidade local. Observou-se que as espécies com maior saliência
refletem a identidade do território, tendo sido a espécie vegetal com maior saliência o butiá,
43
Butia catarinensis Noblick & Lorenzi (0,360), importante recurso tanto no passado quanto no
presente e endêmica da região, distribuída em grandes adensamentos denominados
“butiazais”, seguida por marcela, Achirocline satureoides (Lam.) DC (0,320), importante recurso
no passado e araçá, Psidium cattleyanum Sabine (0,280), recurso alimentar muito apreciado pela
comunidade. Entre os animais os mais salientes foram aracuã, Ortalis guttata guttata Spix
(0,320) e tatu, Dasypus spp. (0,280), utilizados como alimento no passado, seguidos pela Baleia
Franca, Eubalaena australis Desmoulins (0,280), caçada na região no passado e atual atrativo
turístico. A experiência da realização das entrevistas e a análise da saliência discutida em sala de
aula podem ser consideradas uma inovação em cursos profissionalizantes de áreas distintas
daquelas em que usualmente se insere a etnobiologia. Com essa experiência, indica-se que a
etnobiologia pode ser uma importante ferramenta em cursos da área de turismo que procurem
valorizar a cultura e a identidade local.
Agradece-se à todos os condutores ambientais locais formados pelo IFSC Campus Garopaba, bem como
aos entrevistados que gentilmente compartilharam seus conhecimentos com os estudantes.
Aplicação de estudos etnoecológicos sobre o pequi, Caryocar brasiliense Cambess., na
elaboração de materiais educativos e em oficina de capacitação
Júlia de Matos Nogueira, Luana do Carmo Araújo de Oliveira, Maysa Regina Gomes, Irla Paula
Stopa Rodrigues, Lorena Cristina Lana Pinto, Maria Auxiliadora Drumond (Universidade Federal
de Minas Gerais). Contato: [email protected].
Na comunidade quilombola de Pontinha situada no município de Paraopeba, região central de
Minas Gerais, vários frutos do Cerrado são tradicionalmente consumidos, tendo o pequi, C.
brasiliense, relevante importância pelo seu uso na culinária, medicinal e ainda pela sua
abundância no território quilombola. Um estudo etnoecológico e levantamentos dos usos locais
do pequi pela comunidade fundamentaram a elaboração de materiais educativos, na forma de
uma cartilha e de um vídeo-documentário intitulados “Os pequis e os pequizeiros na
comunidade de Pontinha”. A partir do levantamento de expectativas futuras de uso familiar e
comercial da espécie foi desenvolvida uma oficina de produção de óleo artesanal da polpa de
caroços de pequi. A cartilha demonstra os conhecimentos da comunidade a respeito dos
períodos de floração e frutificação, variedades de pequi encontrados na comunidade (amargos,
doces, carnosos, rançosos), os principais visitantes florais, como morcegos, aves e abelhas,
principais predadores e possíveis dispersores, como aves e formigas. O vídeo, de 12 minutos de
duração, tem depoimentos dos comunitários a respeito de algumas características
etnoecológicas e sobre usos atuais e expectativas de uso, como “extrair o puro óleo do pequi”.
Ambos os materiais foram apresentados inicialmente a moradores, em uma reunião na
Associação Comunitária de Pontinha, na qual participaram 11 pessoas. A necessidade de
capacitação sobre a extração do óleo foi, então, reforçada e, a partir daí, buscamos auxílio em
outra comunidade próxima, onde “D. Nenzinha” se dispôs a oferecer uma oficina de produção
de óleo realizada na Floresta Nacional de Paraopeba, que contou com a participação de 10
moradores, que se prontificaram a multiplicar seus conhecimentos na comunidade. A cartilha e
o vídeo foram divulgados posteriormente na escola municipal de Pontinha, para 185 estudantes,
do primeiro até o nono ano do ensino fundamental e foram consideradas importantes
ferramentas didáticas entre crianças, jovens e adultos. A valorização dos conhecimentos locais
sobre o pequi e seus usos e momentos de capacitação são, sobretudo, formas de
empoderamento e estímulo à organização comunitária.
44
Agradece-se à comunidade de Pontinha, à FLONA e Prefeitura Municipal de Paraopeba. Ao Campestris
LTDA, Catavento Filmes, ProExt/MEC, ProEx/UFMG, Cenex ICB-UFMG, FAPEMIG e PPG-ECMVS/UFMG. O
projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da
Universidade Federal de Minas Gerais sob o registro 0388812.2005149.
Conhecimento etnozoológico sobre os mamíferos aquáticos em contextos de escolas
públicas no estado do Pará: possibilidades de diálogos entre os saberes para a conservação
Angélica Lúcia Figueiredo Rodrigues (Universidade Federal do Pará), Ana Marta Andrade
(Universidade Federal do Pará), Gabriel Melo dos Santos (Universidade Federal do Pará), Maria
Luisa da Silva (Universidade Federal do Pará). Contato: [email protected].
O objetivo do presente trabalho é identificar as percepções de estudantes sobre as espécies de
mamíferos aquático da Amazônia. Para isso utilizamos metodologias e referenciais teóricos do
campo da etnozoologia, capazes de suscitar diálogo entre os saberes prévios e a educação
científica. Na aquisição das percepções, utilizamos entrevistas semi-estruturadas, fichas
topográficas e fotografias que pudessem explicitar quão familiarizados os alunos (N=241) da
sexta e sétima séries do ensino fundamental de escolas públicas (N=4) estão com as espécies
em questão e quais as influências que cooperam para que haja tais apreensões dos
conhecimentos quando evidenciados, em virtude da temática “seres vivos” abordado nessas
séries. Os resultados apontam que em locais onde se vive essencialmente dos recursos
pesqueiros os jovens tendem a confirmar com detalhes aspectos do comportamento, ecologia
e ameaças sofridas pelos botos, baleias e peixes-boi. A principal via de aprendizado sobre os
botos se dá pelo contato direto com os familiares, principalmente, aqueles que vivem da pesca,
de forma direta ou indireta. Quanto ao conhecimento formal da biologia dos mamíferos
aquáticos, biologia dos mamíferos aquáticos, os alunos relataram que os mesmos alimentam-se
de peixes, mas que peixes-boi também comem vegetais. Diversos nomes foram atribuídos pelos
alunos às diversas partes do corpo dos animais, podendo ter variações para um mesmo membro
ou órgão e também variações por município. Os conhecimentos prévios aliados à educação
científica podem corroborar na efetivação de planos de ações para a de conservação dos
mamíferos aquáticos da Amazônia, principalmente, quando esta interação de saberes permite
que comportamentos aversivos possam ser substituídos por atitudes favoráveis a manutenção
da mastofauna aquática.
Agradece-se às comunidades e escolas participantes. Ao CSI pelo apoio às pesquisas. Ao Alexandre Huber
pela ilustração da cartilha e a Profª Danielle Couto pela criação do game dos botos.
Diagnóstico participativo e calendário sazonal de recursos tradicionais do povo Xavante de
Marãiwatsédé
Sayonara Maria Oliveira Silva (Operação Amazônia Nativa), Marco Túlio da Silva Ferreira
(Operação Amazônia Nativa), Carolina Rewaptu (E.E.I Marãiwatsédé), Lázaro
Tserẽnhẽnhẽmẽwẽ (E.E.I Marãiwatsédé), Aldo Tsimrῖhu (E.E.I Marãiwatsédé), Davi Tserẽrurã
(E.E.I Marãiwatsédé), Domingos Tserẽ'õmõrãte Hö'awari(Operação Amazônia Nativa), Cosme
Waiadzarebe (Comunidade Marãiwatsédé), Marcelo Aba'ré (Comunidade Marãiwatsédé),
45
Cosme Rité (E.E.I Marãiwatsédé), Boaventura Walua Xanon (E.E.I Marãiwatsédé) e Elídio
Tsõrõné (E.E.I Marãiwatsédé). Contato: [email protected].
No atual contexto brasileiro envolvendo Terras Indígenas, ferramentas inclusivas para a gestão
ambiental comunitária vem sendo cada vez mais utilizadas. Buscando elucidar melhor as
relações entre a cultura Xavante e suas práticas e tempos de manejo da biodiversidade, de modo
a embasar, com a reunião de informações etnoecológicas, o planejamento da gestão ambiental
sustentável de seu território, os professores indígenas da TI Marãiwatsédé (NE do Mato Grosso),
apoiados pela Operação Amazônia Nativa, realizaram um Diagnóstico Participativo das
atividades anuais e elaboraram três Calendários Sazonais junto à sua comunidade.
Primeiramente, elaborou-se o Diagnóstico, contendo informações sobre as atividades e
respectivos períodos sazonais, bem como das espécies úteis para a caça, pesca, coleta e roçado.
Foram discutidas e sistematizadas informações sobre tais espécies, como: nome indígena, época
de disponibilidade e/ou abundância, habitat, entre outras. A partir das informações reunidas,
elaboraram-se os Calendários, levando em consideração as divisões de gênero. Tendo coleta e
plantio como principais atividades anuais, as mulheres da comunidade elaboraram um
calendário para os recursos vegetais, ao passo que os homens elaboraram dois calendários, um
para a caça (abadzé) e outro para a pesca (tebe) caracterizadas como atividades masculinas. O
ano Xavante começa em maio, na estação tsa’u’u, início do período seco, que se caracteriza por
ser época de coleta de espécies vegetais do Cerrado, através de longas expedições. O robró’ó é
o auge da seca (agosto-setembro), período de preparo das roças e caçadas coletivas com fogo.
Entre outubro e dezembro, no começo das chuvas, a estação é denominada utsu, época de
plantios vários; e, entre janeiro e abril, no auge das chuvas, ocorre o a’ẽta, época de colheita
dos produtos da roça, e de subida do nível das águas. Antigamente, as referências dos períodos
e atividades se davam a partir das constelações presentes em cada época. Algumas das
constelações que guiam os períodos sazonais e atividades ao longo do ano são a watsitsiwaptó
(age como relógio, tem duas estrelas, sendo que uma brilha mais que a outra; sinaliza a época
da seca e do fogo) e dawatsa (também na estação seca). O estudo dos marcadores Xavante do
tempo se mostrou importante ferramenta para o planejamento da gestão sustentável do
território e dos recursos naturais, e será um componente do futuro Plano de Gestão Territorial
e Ambiental da TI Marãiwatsédé.
Agradece-se ao Projeto Demonstrativo de Povos Indígenas/MMA. À todos os professores da comunidade
Xavante da Terra Indígena Marãiwatsédé.
Diálogo de saberes em Etnobiologia e Educação Ambiental
Ricardo Monteles. Contato: [email protected].
Saberes e práticas desenvolvidos pelas coletividades sobre as floras locais representam, num
pensar etnobiológico, modos próprios de perceber, conhecer, classificar, manejar e se apropriar
culturalmente do mundo vegetal. Como resultado de uma prática pedagógica, este trabalho
teve por objetivo articular possíveis pontos de contato epistêmico entre o corpus teórico e os
procedimentos etnobiológicos com a prática da educação ambiental. A pesquisa-ação envolveu
uma turma de nível técnico em meio ambiente do Colégio de Aplicação da Universidade Federal
do Maranhão (Colun), cujo propósito consistiu em identificar, por meio do conhecimento local,
espécies arbóreas potencialmente úteis em processos de recomposição florestal. Para tanto,
foram consultados 22 informantes adultos, moradores de quatro localidades periurbanas
46
intencionalmente amostradas, de modo a ampliar a diversidade das espécies ocorrentes na ilha
de São Luís, Maranhão. Foram estudadas as localidades ‘Rio dos Cachorros’, ‘APA do Maracanã’,
‘Vila Militar’ e ‘Alto da Esperança’. Através de listas livres, conversas informais e turnês guiadas,
foram identificados saberes etnobiológicos sobre 30 espécies de árvores nativas, as quais foram
exibidas em imagens digitalizadas, apresentando aspectos morfológicos gerais e detalhes das
partes vegetais. Como retorno e ferramenta de sensibilização ambiental, os estudantes
elaboraram uma produção iconográfica sob a forma de um guia de espécies arbóreas. Nesta
produção, encontram-se informações como nomes populares, identidade botânica, fenologia,
formas de propagação e usos múltiplos referentes a cada espécie. O exame, fruto da observação
experiencial de orientação do trabalho indicou aplicabilidade dos pressupostos etnobiológicos
como instrumentos de investigação, ação e formação no campo da educação ambiental.
Mediada por uma ação comunicativa dinâmica, o processo educativo se estabeleceu através de
um conteúdo vivencial, tendo suscitado nos estudantes, atitudes autônomas e participativas na
construção de um ‘saber etnoecopedagógico’, no qual dialogam a razão prática e as práticas de
saberes de povos e culturas sobre a natureza.
Agradece-se ao Colun- Universidade Federal do Maranhão.
Educação intercultural indígena e o Laboratório de Etnobiologia da Universidade Federal de
Goiás
Carlos A. Bianchi (Universidade Federal de Goiás), Lorena D. Guimarães (Universidade Federal
de Goiás), Arthur A. Bispo (Universidade Federal de Goiás) e Kátia A. Kopp (Universidade Federal
de Goiás). Contato: [email protected].
O curso de Educação Intercultural da Universidade Federal de Goiás (UFG) possui mais de 220
estudantes indígenas pertencentes a dezoito etnias dos vales dos rios Araguaia e Tocantins. Os
princípios pedagógicos do curso, voltados para abordagens interculturais e transdisciplinares,
fazem com que diferentes áreas do conhecimento sejam discutidas de forma articulada, visando
compreender a relação do homem e suas práticas culturais com o meio ambiente. Assim, o
Laboratório de Etnobiologia da UFG busca ser o ponto de confluência dos conhecimentos
gerados pelas ciências da natureza e os conhecimentos tradicionais dos povos envolvidos.
Seguindo os princípios filosóficos da etnobiologia, nossa experiência tem dado amplo espaço à
visão dos indígenas sobre o que é e do que trata a ciência, confrontando as concepções de cada
povo acerca de temas como a origem e a evolução das espécies, a classificação dos seres vivos
e das paisagens naturais, as transformações do meio ambiente, os aspectos relacionados à
saúde e seus mecanismos de tratamento e cura, entre outros. Os debates de temas promovidos
em sala e nas aldeias mostram que as ciências da natureza não podem ser contempladas apenas
por meio de uma única perspectiva. A forma pela qual os povos indígenas vislumbram suas
relações com os elementos naturais são regidas diretamente por suas percepções e
entendimentos específicos acerca do meio ambiente, influenciados também por aspectos
culturais. Entendemos que estes saberes devem ser perpetuados ao longo do tempo, pois além
de fazerem parte da identidade destes povos, são fundamentais para a compreensão das
relações entre o homem e a biodiversidade. Por esta razão, o conhecimento etnobiológico dos
alunos indígenas da UFG vem sendo trabalhado também como tema dos estágios pedagógicos
e projetos de conclusão de curso, visando preservar e difundir a visão e os saberes tradicionais
destes povos, sobretudo nas escolas indígenas. Concluímos que a oportunidade de revelar e
debater diversas interpretações sobre as ciências da natureza, provenientes de tantas
47
comunidades distintas, tem se mostrado como uma chance valiosa para impulsionar os ainda
escassos estudos etnobiológicos acerca das populações indígenas do bioma Cerrado.
Agradece-se à Universidade Federal de Goiás.
Educação Kaingang em Tenente Portela, Rio Grande do Sul: o currículo de ciências na escola
indígena
Tais Agnoletto Balzan (Universidade Federal de Santa Maria), Patrícia Hagemann (Universidade
Federal de Santa Maria), André Boccasius Siqueira (Universidade Federal de Santa Maria), Jessé
Renan Scapini Sobczak (Universidade Federal do Paraná) e Fernanda Lima Oliveira (Universidade
Federal da Fronteira Sul). Contato: [email protected].
A educação escolar intercede diretamente na vida das comunidades, possibilitando espaço onde
possa ser desenvolvido o conhecimento crítico. No entanto, quando trata-se da educação
indígena, específica e diferenciada, a qual vem sendo construída por diversos povos desde a
promulgação da Constituição Federal (1988), seguida da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (1996) e o atual Plano Nacional de Educação (2014-2024), considerados os documentos
de maiores avanços, é um desafio aos docentes, uma vez que lhes é pertinente seguir um regime
de seriação formal como é o currículo tradicional. O presente trabalho visa dar continuidade a
um projeto de pesquisa apoiado pelo Programa IC-REUNI/UFSM sobre o modo como os saberes
indígenas adentram na instituição escolar, objetivando analisar o currículo e a metodologia do
ensino da disciplina de Ciências. O cenário escolhido foi a Escola Estadual Indígena de Ensino
Fundamental Gomercindo Jete Tehn Ribeiro, Tenente Portela, Rio Grande do Sul, Terra Indígena
do Guarita. É a maior área indígena Kaingang em extensão do estado e mais populosa do país.
A escola oferece educação infantil e ensino fundamental, constituída por 5 professores
permanentes e 237 alunos matriculados. Nesta nova etapa, partindo das reflexões inicias sobre
o Plano Político Pedagógico (PPP) e do Plano de Ensino de Ciências (PEC), procurou-se analisar
percepções dos professores (2) do ensino fundamental sobre o tema através da aplicação de
entrevistas semiestruturadas em outubro de 2014, almejando como produto final a elaboração
de uma proposta metodológica. Dos resultados encontrados, notou-se o pouco tempo que
lecionam, o conhecimento do PPP e ausência de conteúdos curriculares indígenas no PEC.
Abordam temas transversais de forma superficial, sendo aulas expositivas e práticas, planejadas
(plano de aula) e com apoio de material didático. Não há uso de instrumento multimídia,
mencionando que o recurso tira a atenção dos educandos, priorizando a escrita. A avaliação é
feita através de trabalhos, provas e relatórios. A educação é vista de forma diferente pelos
professores, avaliando-a como evoluindo lentamente e em plena construção, tanto em âmbito
estrutural quanto do conhecimento. Por fim, constata-se similaridade com a escola tradicional
não-indígena sobre os métodos utilizados e também lacunas no conhecimento que servirão de
subsídios para o andamento do projeto com os educandos, prezando uma educação
multicultural e emancipatória.
Agradece-se ao Programa IC-REUNI/UFSM e à Escola Estadual Indígena de Ensino Fundamental
Gomercindo Jete Tehn Ribeiro.
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Etnobiologia, tecnologia e educação ambiental: uma contribuição para o ensino e
conservação dos mamíferos aquáticos em escolas públicas do Pará
Ana Marta Andrade (Universidade Federal do Pará), Tayná Leão Miranda (Universidade Federal
do Pará), Danielle Costa Carrara Couto (Universidade Federal do Pará), Angélica Lúcia Figueiredo
Rodrigues (Universidade Federal do Pará) e Maria Luisa da Silva (Universidade Federal do Pará).
Contato: [email protected].
Objetivamos verificar os conhecimentos etnobiológicos de estudantes de Belém e testar novas
metodologias que articulem os conhecimentos prévios e formal em prol da conservação dos
mamíferos aquáticos. As atividades foram feitas no espaço de uma escola pública municipal em
Belém, totalizando 27 alunos dos 7º e 8º anos do ensino fundamental, em virtude do conteúdo
“seres vivos” ser abordado nesses anos. As ações foram feitas em três dias distintos, com
intervalo de uma semana para atividade, primeiramente o diagnóstico dos saberes dos alunos
através de questionário sobre biologia das espécies da Amazônia: baleia jubarte (Megaptera
novaeangliae Borowski, 1781); tucuxi (Sotalia sp. Gray, 1866); peixe-boi (Trichechus inunguis
Natterer, 1883); boto-vermelho (Inia geoffrensis Blainville, 1817). Posteriormente, a intervenção
através de palestras, oficinas discursivas e um jogo para computador sobre ao biologia e
conservação dos botos. As ações foram concebidas a partir do saber etnobológico dos alunos
em diálogo com o conhecimento científico, visando aproximar a realidade dos alunos com o
currículo escolar. Por fim um questionário foi feito para averiguar o saber obtido. Percebemos
que os alunos conhecem os animais, influenciados sobretudo pela televisão, já no pós-teste a
escola é apontada como principal fonte de acepção do conhecimento. Em relação a
nomenclatura tanto no pré quanto no pós-teste os alunos identificam os animais utilizando
termos genéricos como “boto”, “golfinho”, “peixe-boi” e “baleia”. Destacamos no pós-teste a
inserção de termos usados no meio científico como boto-rosa, jubarte e para topografia,
“dorsal”, “nadadeira peitoral” e “rostro”. Sobre o sentimento acerca dos animais houve o
predomínio de respostas em branco no pré-teste e no pós-teste o predomínio da curiosidade
pelos animais. Quando perguntados se conheciam alguma situação que ameaçasse os animais,
no pré-teste 54,6% das repostas foi em branco, já no pós-teste, 44,4% afirmam conhecer
situações de ameaças, porém para peixe-boi e baleia as respostas ausentes prevaleceram.
Infere-se que pesquisas dessa natureza, ainda que a curto prazo, possibilitam a adição de novos
conhecimentos e o diálogo entre os saberes, mostrando-se uma metodologia eficaz na
construção e difusão do conhecimento sobre mamíferos aquáticos. Sugerimos esforços em
escala de tempo maior, para verificar se os saberes estão se consolidando entre os estudantes,
além de torná-los agentes multiplicadores do conhecimento.
Agradece-se à comunidade escolar, Profª Danielle Couto, Universidade Federal do Pará, Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Cetacean Society International.
Etnobiologia/Etnoecologia e o Ensino de Ciências: caminhando para um diálogo?
Lis Soares Pereira (Universidade Federal de Viçosa), Pablo Andres Penteado Aguilar
(Universidade Federal de Viçosa), Marco Paulo Andrade (Universidade Federal de Viçosa), Letícia
Maria Freitas de Castro Gomes (Universidade Federal de Viçosa), Iza Abreu Carnelós
(Universidade Federal de Viçosa), Lucas Braga de Ávila Salgado (Universidade Federal de Viçosa),
Josimara Aparecida Lessa Silveira (Universidade Federal de Viçosa), Uyrá Elizabeth Gomes
49
Cabral (Universidade Federal de VIçosa) e Thaís Almeida Cardoso Fernandez (Universidade
Federal de Viçosa).. Contato: [email protected].
A ciência convencional apresenta enfoque disciplinário, reducionista e isento de envolvimento
em questões sociais, apesar disso, ela é supervalorizada em detrimento de outras formas de
conhecimento, como as das populações tradicionais. Em consequência, é essa ciência que chega
e é reproduzida na escola. Considerando a importância do diálogo entre os saberes, objetiva-se
entender o universo de trabalhos acadêmicos que relacionam os saberes populares ao Ensino
de Ciências. Realizou-se uma revisão bibliográfica utilizando o banco de teses e portal de
periódicos CAPES e os anais dos Encontros Nacionais de Pesquisa em Educação em Ciências
(ENPEC), de 2000 a 2014. Foram identificados 52 trabalhos: quatro artigos (2009 a 2013), oito
dissertações (2007 a 2013), uma tese (2005) e 39 trabalhos nos ENPECs (2003 a 2013);
concentrados na região sudeste (50%), nordeste (27%), sul (10%), norte (8%), centro-oeste (8%),
sendo alguns de mais de um estado. Provenientes de diversas universidades, estes não estão
restritos a determinados núcleos de pesquisa. Nos trabalhos apresentados nos ENPECs pôde-se
verificar um crescente aumento, passando de dois trabalhos a 20, em 2013. No entanto, em
2013, estes correspondem a apenas 1% dos trabalhos apresentados. As áreas de atuação
principais foram: diversidade e multiculturalismo (48%), processos e materiais educativos (15%)
e currículo (10%). Destacou-se as escolas indígenas (12%) e rurais (10%), e entre os temas,
poucos foram recorrentes, como: educação indígena (15%) e plantas medicinais (13%). Dos
trabalhos, apenas seis (11%) envolveram formação de professores. Apesar de caracterizar-se em
uma área de pesquisa ainda incipiente, o aumento dos trabalhos pode estar ligado ao
reconhecimento da Etnobiologia pela área da Educação e pelos direitos conquistados pelas
populações tradicionais, ainda que restritos. A fragilidade da área de formação de professores
em Ensino de Ciências, com foco no diálogo entre os saberes, pode ser considerada uma lacuna
de pesquisa. Alguns trabalhos podem favorecer o (re)pensar da formação de professores. Estes
retratam o uso dos saberes populares, contextualizados localmente, também como saberes
escolares, por trazer sentido a escola e ampliar as conexões de observação do mundo natural.
O diálogo entre os saberes, entendendo as formas de poder que os hierarquizam, também
enriquece a formação política dos estudantes, por meio do conhecimento dos direitos dos povos
tradicionais e de seus movimentos sociais.
O retorno das pesquisas etnobiológicas: o caso da Floresta Nacional do Araripe, Nordeste do
Brasil
Maria Clara Bezerra Tenório Cavalcanti (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), Juliana
Loureiro de Almeida Campos (Universidade Federal Rural de Pernambuco), Letícia Zenóbia de
Oliveira Campos (Universidade Federal Rural de Pernambuco), Rosemary da Silva Sousa
(Universidade Federal Rural de Pernambuco), Taline Cristina da Silva (Universidade Federal Rural
de Pernambuco), Josivan Soares da Silva (Universidade Federal Rural de Pernambuco), Ulysses
Paulino de Albuquerque (Universidade Federal Rural de Pernambuco). Contato:
[email protected].
Algumas comunidades humanas, que são foco de estudos etnobiológicos, ainda carecem do
desenvolvimento de trabalhos de extensão e atividades de retorno por parte dos pesquisadores.
Devido a esta necessidade, a equipe do Laboratório de Etnobiologia Aplicada e Teórica (LEA)
objetivou realizar algumas ações nas comunidades do entorno da Floresta Nacional (FLONA) do
Araripe, Ceará, Nordeste do Brasil. As atividades propostas foram: realização da Semana do
50
Meio Ambiente (junho/2012) na comunidade rural Horizonte (H); elaboração de cartilhas com
informações sobre espécies vegetais úteis localmente (uso alimentício, medicinal e madeireiro);
documentário envolvendo o beneficiamento da palmeira babaçu (Attalea speciosa Mart. ex
Spreng.) na comunidade rural Sítio Macaúba, como a produção de artesanatos e óleo de coco.
Especificamente sobre as diferentes atividades desenvolvidas na Semana Mundial do Meio
Ambiente, com estudantes da Escola Municipal Padre Cícero em H, destacou-se a realização de
uma oficina de desenhos e contos, com participação de 32 crianças e adolescentes. Este trabalho
visou abordar aspectos relacionados à conservação da biodiversidade local e promover o diálogo
e a troca de experiências entre os pesquisadores e o público jovem. Foi solicitado aos
participantes que desenhassem situações reais vivenciadas por eles na FLONA e contassem a
história que os levou a desenhar tal situação. Foi notório o envolvimento do pequi (Caryocar
coriaceum Wittm.) nos contos, possivelmente, por se tratar de uma importante espécie para a
manutenção das tradições e subsistência da comunidade. Ao término do evento, foram
premiados os seis jovens mais criativos de cada grupo. A intenção da equipe LEA é, futuramente,
publicar um livro que englobará os “contos e causos” das crianças registrados nesta atividade,
bem como aqueles contados por outros membros da comunidade, divulgando tais informações
para a população local. Vale salientar também a importância da apresentação do vídeo
elaborado sobre a palmeira babaçu. As primeiras cenas e diálogos do documentário foram
gravados em junho de 2012, sendo que a sua primeira versão foi exibida na comunidade em
abril de 2013. Nesse momento, foram dadas sugestões de novas cenas e diálogos, que foram
gravados para a produção da versão final, exibida em novembro de 2013. Todos os participantes
da pesquisa receberam uma cópia da versão final do DVD. Todos os trabalhos de retorno
realizados foram bem aceitos entre os participantes.
Agradece-se às comunidades Novo Horizonte e Sítio Macaúba que tanto contribuíram com o nosso
trabalho, ajudando-nos a amadurecer como pessoas e pesquisadores. À FACEPE, PNPD-Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Este trabalho foi embasado em diversos projetos
de pesquisa individuais, os quais foram analisados e aprovados pelos comitês de ética, com os seguintes
registros: Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Pernambuco (UPE). Registros: CAAE
05424712.4.0000.5207; CAAE 01457712.7.0000.5207; 113.740; 139.813/CAAE: 02187512.8.0000.5207;
CAAE: 05193512.9.0000.5207; Comitê de Ética da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Registro:
399/11.
Os saberes da pesca na escola: a pesca e os botos amazônicos Inia sp. (d’Orbigny, 1842;
Iniidae) e Sotalia sp. (Gray, 1866; Delphinidae) na visão de estudantes pescadores na
Amazônia
Iara Ramos dos Santos (Universidade Federal do Pará), Ana Marta Andrade Costa (Universidade
Federal do Pará), Renata Danielle da Silva Sousa (Universidade Federal do Pará), Leonardo dos
Santos Sena (Universidade Federal do Pará). Contato: [email protected].
Os botos amazônicos Inia sp. (boto rosa) e Sotalia sp. (boto cinza) fazem parte do cotidiano da
pesca e do imaginário popular, relações reconhecidas como conflituosas na região. Neste
cenário a etnoecologia é facilitadora da conservação do patrimônio biocultural propiciando o
diálogo entre o conhecimento local e acadêmico. Investigamos as interações dos botos com a
atividade de pesca discutindo a conservação dessas espécies e sua abordagem no ensino. Os
registros são de estudantes da Casa-Escola da Pesca (CEPe), localizada na ilha de Caratateua,
regimentada pela alternância e direcionada a jovens pescadores das regiões ribeirinhas de
Belém e municípios próximos. Questionários abordando a interação dos botos com a pesca e
51
conservação das espécies foram direcionados a 18 estudantes pescadores do ensino
fundamental e médio (média=19 anos de idade). Nenhum dos gêneros é apontado como
benéfico à atividade de pesca (Sotalia sp. 61%N=11; Inia sp. 83% N=15). O “roubo” de peixe da
rede de pesca (Sotalia sp. 28% N=5; Inia sp. 72% N=13) é a interação mais citada seguida por
emalhe (Sotalia sp. 22% N=4; Inia sp. 28% N =5), colisão (Sotalia sp. 28% N=5; Inia sp. 22% N =4),
espreita (Sotalia sp. 16% N=3; Inia sp. 5% N =1). O artefato de maior impacto na mortalidade
dos botos é a rede de arrasto (Sotalia sp. 44% N= 8; Inia sp. 61% N=11), nessa oportunidade as
carcaças são destinadas à isca para peixe (Sotalia sp. 39% N=7; Inia sp. 39% N=7), uso medicinal
(Sotalia sp. 16% N=3; Inia sp. 5% N=1) e alimentação apenas para Inia sp. (11% N=2). A
importância da conservação dos botos é sinalizada (Sotalia sp. 44% N=8; Inia sp. 44% N=8), haja
incerteza sobre o tema (Sotalia sp. 33% N=6; Inia sp. 44% N=6). Os botos são descritos como
seres que compõem a natureza por isso devem ser conservados (Sotalia sp. 40% N=7; Inia sp.
40% N=7). Os diferentes registros de interações estão relacionados aos comportamentos de
forrageio específicos de cada gênero. A dualidade entre o utilitarismo e a biofilia dos botos
sobrepõe sua valorização zoológica, temática não discutida na formação do ensino de ciências.
Promover a construção do conhecimento através do diálogo entre os diferentes saberes
promovendo a conservação das espécies é fundamental para uma formação educacional e
cidadã sensível a importância do patrimônio biocultural.
Agradece-se à Universidade Federal do Pará (PROEG) e Casa-Escola da Pesca. Agradecimentos aos
estudantes pescadores e comunidade escilar da Casa- Escola da Pesca.
Pegada ecológica: contexto e práticas no ensino superior do semiárido
Abidão Bezerra Camelo Neto (Universidade Estadual do Ceará), Alercia Araújo Fortunato
(Universidade Estadual do Ceará), Maria Alyne da Costa Onofre (Universidade Estadual do
Ceará), Felicia Maria Rodrigues da Silva (Universidade Estadual do Ceará), Marcelo Campêlo
Dantas (Universidade Estadual do Ceará). Contato: [email protected].
A Pegada Ecológica é uma metodologia de contabilidade ambiental que avalia a pressão do
consumo das populações humanas sobre os recursos naturais. Mais atenção deve ser voltada
ao assunto, com o ensino de novas propostas que busquem reverter às tendências do estilo de
vida consumista atual. O trabalho apresenta uma avaliação da percepção de estudantes
universitários de biologia sobre o tema pegada ecológica. Foram aplicados questionários
semiestruturados, aos alunos do 1° ao 9° semestres, nos turnos da manhã e noite, do curso de
Licenciatura Plena em Ciências Biológicas da Faculdade de Educação de Crateús (FAEC) da
Universidade Estadual do Ceará (UECE). Os resultados mostraram que 67,0 % dos alunos
desconhecem o tema. A parcela restante de 33,0 % acha relevante o ensino do tema e
corresponde aos alunos que cursaram a disciplina de Educação Ambiental, única a trabalhar a
questão. Dos entrevistados, 79,0 % relacionaram a falta de informação como uma das causas
que interferem no conhecimento do tópico. Vale ressaltar que 9,0 % afirmaram não contribuir
completamente para a pegada, o que se torna preocupante, pois as consequências para o meio
ambiente poderão ser imensuráveis. A redução da pegada foi verificada por 13,0 % dos alunos,
somente à reciclagem do lixo. O cálculo da pegada dos entrevistados variou de 160 a 615, com
uma média baixa, provavelmente por se tratar de consumidores potenciais. Conclui-se que a
maioria dos alunos avaliados, sobretudo os dos primeiros semestres, apresenta carência no
conhecimento sobre o tema abordado. Destaca-se, portanto, como um dos principais fatores, à
falta de informação dos meios midiáticos, bem como da literatura atual. Para tanto, torna-se
52
necessária uma maior integração das redes de ensino na abordagem deste tema, para melhor
conscientização dos educandos e da sociedade em geral.
Agradece-se aos alunos e professores colaboradores do curso de Ciencias Biologicas da Faculdade de
Educaçao de Crateús da Universidade Estadual do Ceará.
Percepção da população urbana sobre o plantio e poda de árvores no semiárido nordestino
Antonio Júnior Ferreira Martins (Universidade Estadual do Ceará), Bento Vieira Lima Neto
(Universidade Estadual do Ceará), Carla Manoela Costa Rodrigues (Universidade Estadual do
Ceará), Luiz Carlos Aurelio Vieira (Universidade Estadual do Ceará), Maria Gilmara Vieira da Silva
(Universidade Estadual do Ceará), Marcelo Campêlo Dantas (Universidade Estadual do Ceará).
Contato: [email protected].
A arborização tem um papel diferenciado aos habitantes das cidades. Proporciona melhorias em
aspectos paisagísticos, beneficia o microclima, provê abrigo a grupos variados de animais e
mantém o equilíbrio em relação às pragas. O trabalho teve como objetivo analisar a percepção
dos moradores da zona urbana da cidade de Crateús, Ceará, sobre o plantio de espécies vegetais
nas calçadas, bem como o uso de podas das copas dessas. Foram aplicados 126 formulários aos
residentes de quatro bairros do município. O principal motivo, citado pelos moradores, para o
plantio de árvores foi o benefício climático (99,2 %), para a obtenção de sombra. Dessa parcela,
85,71 % justificaram o plantio por morarem do lado da rua com alta incidência solar. A maioria
dos moradores (71,42 %) não sabia que as árvores plantadas na região eram exóticas, enquanto
14,28 % eram completamente alheios ao assunto. Muitas espécies foram consideradas como
típicas por suportarem o déficit hídrico, sem a necessidade de receberem água diariamente. O
ato de remoção drástica das copas é realizado por 92,0 % da população estudada, enquanto
25,0 % dessa parcela executa a retirada total. Dentre os principais motivos destacam-se os
relacionados à estética, no que concerne uma copa mais fechada; à saúde da planta, com a
renovação das folhas; ao contato com a fiação elétrica e ao acúmulo de folhas no chão. Ressaltase que as lesões de podas inadequadas podem resultar na falta de energia pela planta, bem
como na entrada de microrganismos e insetos, o que provoca doenças. Conclui-se que a maioria
dos moradores da região plantam espécies vegetais exóticas nas calçadas de suas residências,
por proporcionarem conforto térmico, porém não tomam conhecimento do fato de serem
exóticas. O fator principal de escolha da planta é a alta resistência ao déficit hídrico. Há ainda o
desconhecimento dos malefícios de podas drásticas sem o acompanhamento de profissionais
preparados.
Agradece-se à Universidade Estadual do Ceará e à todas as pessoas que colaboraram com a pesquisa.
Percepções de diferentes povos indígenas sobre a fauna de vertebrados de seus territórios
no bioma Cerrado
Lorena Dall´Ara Guimarães (Universidade Federal de Goiás), Carlos Abs da Cruz Bianchi
(Universidade Federal de Goiás) e Arthur Angelo Bispo de Oliveira (Universidade Federal de
Goiás). Contato: [email protected].
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O Cerrado abriga um grande mosaico de etnias e fitofisionomias, com fauna e flora de grande
riqueza e que vêm desaparecendo rapidamente em razão de várias atividades antrópicas. Assim,
conhecer as relações dos povos tradicionais com a biodiversidade do bioma torna-se essencial
para a conservação da sociobiodiversidade. O objetivo deste trabalho foi colher informações
sobre o conhecimento desses povos acerca da diversidade de vertebrados de suas regiões, por
meio da elaboração de um texto ilustrado de oito alunos indígenas das etnias Xerente, Karajá e
Tapirapé do Curso de Educação Intercultural da Universidade Federal de Goiás, durante a
disciplina “Seres vivos e Biodiversidade". Os alunos deveriam escrever livremente sobre suas
relações com a fauna, seu uso na caça, pesca, artesanato, domesticação, medicina, rituais, entre
outros. Além disso, deveriam escrever sobre os fatores que consideram como ameaças à fauna.
Os resultados apresentados mostram que os animais apresentam grande importância na
alimentação, mitos e rituais, artesanato, decorações, domesticação e medicina tradicional.
Muitos animais têm o mesmo simbolismo em diferentes culturas, sobretudo naquelas
originadas do mesmo tronco linguístico ou localizadas em regiões geográficas próximas. Para os
três povos, é comum a classificação dos animais como sendo da água, da terra e do ar. Também
é comum distinguirem várias espécies de peixes, aves e mamíferos, porém quase nenhuma
espécie de anfíbio e réptil foi classificada. O conhecimento das espécies está associado à sua
utilidade, com destaque para a alimentação. Todos são grandes consumidores de peixes, aves e
mamíferos, mas muitos destes são proibidos para mulheres grávidas e bebês. As ilustrações dos
Tapirapé destacaram os seguintes vertebrados: veado, jaburu, jacaré, onça-pintada, beija-flor,
catitu, paca, cobra, jabuti, sapo, lagarto, pato, capivara, pirarucu; os Karajá destacaram boto,
porco-do-mato e diferentes espécies de peixes; e os Xerente destacaram tamanduá, seriema,
tucano, jacaré, diferentes espécies de peixes e onça-pintada. Dentre as principais ameaças à
fauna foram citadas atropelamento em rodovias, caça e pesca, agricultura intensiva, pecuária,
hidrovia, desmatamento e queimadas. A sobrevivência de povos indígenas com suas culturas
está muito ligada à preservação da natureza, logo, reconhecer as relações destes povos com o
ambiente torna-se fundamental para a conservação da biodiversidade.
Agradece-se à Universidade Federal de Goiás e Instituto Boitatá: Etnobiologia e Conservação.
Percepções de moradores locais acerca da Área de Proteção Ambiental de Anhatomirim,
Santa Catarina: implicações para atividades educativas
Daniel Ganzarolli Martins (Universidade Federal de Santa Catarina), Rubana Palhares Alves
(Universidade Federal de Santa Catarina) e Natalia Hanazaki (Universidade Federal de Santa
Catarina). Contato: [email protected].
Programas educativos em unidades de conservação necessitam considerar as percepções e os
conhecimentos da população local para serem mais efetivos, atendendo demandas locais reais.
O objetivo deste estudo foi analisar as fontes de informações e as percepções de moradores
locais sobre as atividades educativas relacionadas à Área de Proteção Ambiental de
Anhatomirim (APAA), assim como a importância da unidade para suas vidas. No ano de 2012
foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 50 moradores (1,16% da população total
estimada) das comunidades na APAA, uma unidade federal marinho-costeira situada em
Governador Celso Ramos, Santa Catarina. O critério de seleção para entrevistados foi possuir
uma idade igual ou maior que 18 anos, morar na área há pelo menos cinco anos e saber da
existência da APAA. As entrevistas contemplaram questões sobre o perfil socioeconômico dos
entrevistados; fontes de informações acerca da existência da APAA; conhecimento da existência
54
de práticas educativas; e percepção da importância da unidade. Os entrevistados apresentavam
idade entre 20-86 anos, sendo 56% homens. Metade dos entrevistados possuía ensino
fundamental incompleto e outros 36% concluíram o ensino médio ou ensino superior. As
principais formas através das quais eles ficaram sabendo da existência da APAA foram: através
de contato com familiares, amigos e vizinhos (28%); órgãos governamentais e reuniões (16%);
ações fiscalizadoras (10%); e pela televisão (8%). Sobre as atividades educativas, 86% afirmaram
desconhecer a existência das mesmas, e o restante mencionou que elas eram praticadas por
universidades, escolas, projetos municipais e o Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio). 76% dos entrevistados reconheceram a APAA como importante, contra
12% que foram negativos e 14% que não souberam responder. Dentre os que reconheceram a
importância, o aspecto de proteção ao meio ambiente foi citado por 84%, seguido por questões
econômicas ligadas ao turismo (13%), e valores culturais, históricos ou educativos (11%). Os
entrevistados que não consideraram a APAA como importante o afirmaram devido às restrições
que ela impõe às atividades de pesca e agricultura e a uma fiscalização ineficiente. Os resultados
demonstram a necessidade de promover e fortalecer ações educativas abrangentes que
reforcem a importância da APAA não apenas quanto às questões ambientais, mas também
socioculturais, sobretudo na manutenção das tradições pesqueiras e seus conhecimentos
associados.
Agradece-se à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nivel Superior (CAPES) e Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Saberes e desafios de uma comunidade inserida no garimpo
Pedro Candido de Abreu Junior (Universidade Estadual do Ceará), Carlos Valclécio Gomes de
Vasconcelos (Universidade Estadual do Ceará), Francisca Aparecida Martins Cavalcante
(Universidade Estadual do Ceará), Felícia Maria Rodrigues da Silva (Universidade Estadual do
Ceará), Irislane Gomes da Silva (Universidade Estadual do Ceará) e Marcelo Campêlo Dantas
(Universidade Estadual do Ceará). Contato: [email protected].
O garimpo é visto como deteriorador da natureza e dos bens minerais por ser predatório e sua
forma de uso primitiva. Este trabalho teve como finalidade o debate da percepção dos
habitantes de uma comunidade do semiárido sobre a exploração de ouro e as mudanças que
essa prática possivelmente originará. Foi aplicado um questionário com questões subjetivas a
35 moradores do distrito de Oiticica no município de Crateús, Ceará. Os principais temas
abordados foram uma discussão sobre o conhecimento dos moradores da comunidade quanto
à legalização dessa exploração, e os possíveis benefícios que isso trará, fundamentando a
exposição dos fatos pelo debate, através da preocupação ambiental e profundidade de sua
informação a cerca da localidade em que habitam. A maioria (72%) sabe sobre o processo de
extração de ouro em Oiticica, no entanto (52%) não acreditam que essa extração se dá de forma
legalizada, ainda que (22%) creiam que a exploração trará entre outros benefícios, empregos e
melhoria nas estradas. É preocupante saber que a maioria (76%) não se preocupe e/ou acredite
que não irá haver algum prejuízo para a região e para os moradores. Conclui-se que há
desconhecimento de causa, pelos habitantes da localidade, sobre o garimpo em geral, pois não
fazem relação direta da extração com a degradação ambiental. Fator este que poderá contribuir
com danos diretos no cotidiano do distrito, bem como na área ambiental do lugar. Desta forma,
urge a necessidade da escola local intervir na conscientização voltada aos princípios de
sustentabilidade ambiental, com palestras educativas, respeitando os saberes locais.
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Agradece-se à Universidade Estadual do Ceará e aos moradores do distrito de Oiticica.
Um pé de cultura e de milho, angico e mangaba
Clara de Carvalho Machado (Universidade Federal Fluminense) e Marise Basso Amaral
(Universidade Federal Fluminense). Contato: [email protected].
Grande parte das alternativas encontradas que visam melhorias no ensino de botânica restringese a elaboração de recursos didáticos e aulas práticas. É notável a pouca atenção dedicada às
plantas, o que é reflexo de um processo que, para além do ensino, é marcado pela dificuldade
em notar as plantas em nosso cotidiano. Identificamos muitas formas de narrar e produzir
conhecimento sobre as plantas no dia-a-dia os quais, muitas vezes, não são considerados no
planejamento escolar. Uma produção cultural que tenciona essas questões é o programa “Um
Pé de Quê?”. Nesse sentido, o presente trabalho é resultado de uma investigação que teve como
objeto de análise três episódios deste artefato cultural. Nas análises realizadas, procuramos
identificar as estratégias utilizadas que ajudam na construção de uma identidade própria para
as plantas. Os episódios foram assistidos observando sua estrutura geral, a forma como os
sujeitos botânicos são apresentados, os entrevistados em cada episódio, as falas privilegiadas,
a amarração das histórias e as particularidades encontradas para cada planta. O episódio da
Mangaba, conta com os saberes de vendedoras de beira de estrada, holandeses do século XVII,
um feirante de látex medicinal e um agrônomo. Todos trazem diferentes contribuições para a
construção da identidade botânica, seja a exploração do látex por americanos, seja a gíria que
leva o nome da fruta. O episódio do milho busca tornar um produto alimentício em uma planta
histórica que envolve culturas americanas ancestrais, mas conta, sobretudo com as informações
de um pesquisador da EMBRAPA. O angico, por sua vez, que nos leva ao século XIX, ao curtume
no sertão, ao vaqueiro, ao cangaceiro e ao agricultor orgânico. Todos os episódios apresentam
os nomes populares e científicos dos vegetais, outro aspecto comum é a busca pela
caracterização morfológica da planta. Os entrevistados mesclam-se tanto nas aparições quanto
nos saberes apresentados. O mesmo conhecimento é frequentemente mencionado mais de
uma vez por entrevistados diferentes, assim como um conhecimento histórico pode vir de um
cientista. Assim, não foi identificada uma hierarquia nestes conhecimentos. Destacamos que,
mais que uma ferramenta didática, o programa Um Pé de Quê? nos apresenta outro modo de
inserir a Botânica na nossa vida, tornando-a uma ciência que dialoga com saberes populares,
que se aproxima das histórias de pessoas e lugares, facilitando o grande desafio da
contextualização no ensino de botânica.
Vozes das minhas vozes: causos contados e encantados por moradores do povoado de
Alecrim Miúdo em um diálogo com a Educação Ambiental Crítica
Damile de Jesus Ferreira (Universidade Estadual de Feira de Santana) e Antonio Almeida da Silva
(Universidade Estadual de Feira de Santana). Contato: [email protected].
A tradição oral conceitua-se como um agregado de costumes e práticas que não foram colocadas
na sua forma escrita, mas contribuem para a formação da visão de mundo de grupos sociais.
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Tendo em vista a importância da tradição oral, visamos à necessidade de registrar, potencializar,
legitimar e, possivelmente, utilizar, essas vozes em práticas educativas de caráter ambiental
crítica (EAC) e ecológica. Assim, a presente investigação relata os causos contados por
moradores do Povoado de Alecrim Miúdo, localizado no município de Feira de Santana, Bahia.
Nestes, analisamos os sujeitos e suas narrativas orais, buscando pontos de encontro entre o
conhecimento popular através dos causos. A pesquisa é qualitativa, com coleta de dados
realizada a partir de entrevistas guiadas pelos pesquisadores e registradas por gravação áudio
visual. A análise dos dados foi feita de acordo com o referencial da análise de conteúdo, de
natureza etnográfica. Assim, dentre todos os seis contadores e seus causos contados, em sua
maioria estes relatavam o processo de antropomorfização de animais. Segundo nossa
interpretação, esta categoria, tal qual uma figura de linguagem, expõe a tentativa de provocar
uma ligação íntima entre ser humano e animais, sendo o reflexo da relação estabelecida entre
o homem e a natureza. Este fenômeno só é possível pelo surgimento da alteridade, que
estabelece a consciência do outro, legitimando sua existência. Aqui, visualiza-se o meio
ambiente como o “outro”, neste caso os animais, provocando um processo de alteridade
singular que nos surpreende. Foi possível analisar também, o papel do contador intergeracional,
o qual tem a importante função de reproduzir os causos, transmitindo com estes diversos
conhecimentos embutidos e saberes populares. Além disso, a partir das vivências cotidianas é
que o contador cria suas experiências para a constituição de suas narrativas. A atribuição de
valores, significados e simbologias aos elementos pertencentes a sua pratica rotineira, é o que
leva estes sujeitos a direcionarem sua práxis, atuando na natureza, de maneira consciente e
ecológica. Com isso, concluímos este estudo na tentativa de fazer emergir atitudes e práticas
que reconheçam a dinâmica natural e cultural do meio, visualizando a EAC, enquanto campo
que permite e dá espaço, para que estes saberes populares se legitimem na sociedade,
reafirmando a cultura e apresentando novas formas de compreender e se relacionar com a
natureza.
Agradece-se à todos contadores e contadoras que nos deu o prazer de ouvi-los. à meu orientador pela
sua atenção e ensinamento. À todos os meus amigos e familiares.
Etnobotânica
A abundância local de um recurso afeta o conhecimento sobre as espécies vegetais em uma
área de Cerrado?
Ely Márley de Souza Ribeiro Rocha,(Universidade do Estado da Bahia), Aline Santos Silva
(Universidade do Estado da Bahia), Patrícia Muniz de Medeiros (Universidade Federal do Oeste
da Bahia) e Viviany Teixeira do Nascimento (Universidade do Estado da Bahia). Contato: [email protected].
A Hipótese da Aparência Ecológica (HAE) é uma das teorias que pode explicar a influência do
ambiente sobre a escolha das espécies úteis para as pessoas num ambiente. Esta argumenta
que as plantas mais utilizadas por uma comunidade são as mais fáceis de serem encontradas ou
as mais aparentes. Neste sentido, este estudo objetivou identificar se o total de usos atribuídos
às espécies nativas do Cerrado pela comunidade rural do Sucruiú, situada no Oeste da Bahia, é
influenciado pela abundância local desses recursos. Para tal, foram identificadas as pessoas de
idade ≥18 anos, sendo explicitados os objetivos da pesquisa a estas, e as que aceitaram
participar da mesma assinaram o TCLE. Em seguida realizou-se um levantamento etnobotânico
através de entrevistas semiestruturadas contendo questões sobre a utilidade das plantas,
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formas de uso, entre outras. Um inventário fitossociológico foi realizado em 2 áreas, sendo
alocados em cada uma 5 transectos de 100m de comprimento, 10 pontos quadrantes em cada
transecto e quatro indivíduos em cada quadrante. Para análise dos dados, foi calculado o Valor
de uso (VU) e a Densidade Relativa das espécies. Vinte e sete entrevistas foram realizados e 122
etnoespécies citadas, divididas em 8 categorias de uso. O inventário fitossociológico registrou
na área de capoeira de floresta estacional decidual (A1) 57 espécies, destas, 45,6% foram citadas
pelos informantes, enquanto na área de campo sujo (A2), 54 foram inventariadas e 46,2%
referidas pelos informantes. As espécies de maior representatividade de uso para a comunidade
segundo o cálculo de VU foram Camaçari (Terminalia fagifolia Benth) (2,89), Barbatimão
(Dimorphandra mollis Benth) (2,63), Jatobá (Hymenaea sp.) (2,37), Pequi (Caryocar brasiliense
Cambess.) (1,59) e Aroeira (Myracrodrum urundeuva Allemao) (2,15), destas apenas a Aroeira
foi inventariada na A1 (1%), enquanto as demais na A2, exceto o Camaçari, não encontrado em
nenhuma das áreas. Das cinco espécies mais conhecidas o Jatobá é a de maior
representatividade no levantamento (4,25%), ocupando a 4ª posição. A comunidade atribuiu
usos a boa parte das espécies disponíveis localmente, embora, nota-se que a HAE não pode ser
aplicada, já que as plantas mais conhecidas não são as de maior disponibilidade local, exceto o
Jatobá. Na comunidade, uma análise da HAE pode ser necessária para avaliar as diferentes
categorias de uso das espécies, uma vez que a abundância local pode ser um bom parâmetro
para explicar os usos em certas categorias.
Agradece-se aos moradores da comunidade Sucruiú, à Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado da
Bahia (FAPESB) pelo apoio financeiro, e a equipe de pesquisa pelo companheirismo. O projeto de pesquisa
que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo
Seres Humanos da Universidade do Estado da Bahia sob o registro 343.778.
A disponibilidade de recursos vegetais influencia nos conhecimentos e usos sobre as
plantas? Estudo de caso em três comunidades quilombolas de Santa Catarina, Brasil.
Julia Vieira da Cunha Avila (Universidade Federal de Santa Catarina) e Natália Hanazaki
(Universidade Federal de Santa Catarina). Contato: [email protected].
Compreender os aspectos principais que influenciam no conhecimento e uso de recursos
vegetais é importante devido ao interesse de muitas comunidades em perpetuar práticas
tradicionais ao longo do tempo. Assim, o objetivo desse trabalho foi verificar se há relação entre
a disponibilidade de recursos vegetais nos quintais e os conhecimentos e usos das plantas em
três comunidades quilombolas de Santa Catarina: Morro do Fortunato e Aldeia, município de
Garopaba, e Toca, Paulo Lopes. Para registrar o conhecimento e uso das plantas, realizou-se
entrevistas semiestruturadas, incluindo questionário socioeconômico e listagem livre, com
todos os quilombolas maiores de 18 anos que se dispuseram a participar da pesquisa. Para
verificar as plantas disponíveis nos quintais realizou-se um levantamento florístico nesses
ambientes (29 quintais no Fortunato, com tamanho médio de 350m2; 24 na Aldeia, média
978m2; e 16 na Toca, média 419m2). Para verificar se as espécies citadas por cada entrevistado
depende da disponibilidade de plantas no seu quintal aplicou-se uma regressão linear simples.
Realizaram-se 63 entrevistas no Fortunato (822 citações e 187 plantas identificadas), 65 na
Aldeia (1252 citações e 256 plantas) e 56 entrevistas na Toca (785 citações e 151 plantas).
Identificaram-se 268 plantas nos quintais do Fortunato, 348 plantas na Aldeia e 161 plantas na
Toca. Na Aldeia, comunidade que demonstrou maiores saberes e disponibilidade de plantas,
existe relação entre a disponibilidade nos quintais e as plantas citadas nas entrevistas
(Rusada=0,7007, p > 0,001), porém no Fortunato e Toca essas relações não foram significativas.
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Quintais maiores e um maior uso desses para plantio na Aldeia podem ser os principais fatores
que explicam esses resultados, além da transmissão de conhecimentos sobre as plantas e seu
fornecimento pela benzedeira da comunidade, cujo saber é notável, bem como pela dona de
uma floricultura existente dentro da comunidade. Mesmo que apenas uma comunidade tenha
apresentado resultado positivo para essa análise, devido à intensa especulação imobiliária,
diminuição de áreas do território ao longo do tempo e aumento populacional em todas as
comunidades, esse resultado demonstra a importância que os quintais podem ter para a
manutenção de tradições importantes às culturas locais. Outras análises se fazem necessárias
para verificar se as plantas disponíveis nos quintais influenciam nas plantas que foram citadas
como obtidas nos próprios quintais.
Agradece-se às Comunidades Quilombolas Morro do Fortunato, Toca e Aldeia, aos ajudantes de campo,
ao Gaia Village, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao Programa de
Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Federal de Santa Catarina. O projeto de pesquisa que
embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética de Pesquisa com Seres
Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina sobo número 18847013.0.0000.0121. O projeto de
pesquisa que embasou o presente trabalho também foi analisado e aprovado pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) recebendo autorização de Acesso ao Conhecimento Tradicional
Associado pela autorização 03/2014, referente ao Processo nº: 01450.012607/2013-20.
A feijoada como instrumento de resistência para o Quilombo do Grotão, Niterói, Rio de
Janeiro
Caio Lopes (Universidade Federal Fluminense), Odara Boscolo (Universidade Federal
Fluminense) e Renata Sirimarco (Universidade Federal Fluminense). Contato:
[email protected].
Os quilombolas são descendentes de escravos negros que se reúnem em comunidades e, muitas
vezes, vivem na antiga fazenda deixada pelos proprietários. O Quilombo do Grotão é uma
comunidade tradicional que vive no bairro Engenho do Mato, na cidade de Niterói, RJ, dentro
das limitações do Parque Estadual da Serra da Tiririca (PESET). A criação de Unidades de
Conservação sobrepostas a territórios de comunidades tradicionais têm resultado em conflitos
ambientais, pois essas unidades não permitem a habitação de seres humanos em suas
delimitações. O objetivo deste trabalho foi investigar a história de formação do Quilombo do
Grotão e o que esta manifestação cultural representa para a comunidade, verificar a
possibilidade de proteção do serviço da feijoada através de Indicação Geográfica e servir de
subsídio para o estabelecimento de pedido de registro de Indicação de Procedência no Instituto
Nacional de Propriedade Intelectual. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com 9
moradores da comunidade, escolhidos através da técnica “bola de neve”, onde o informante
que demonstra possuir mais conhecimento sobre a comunidade indica outros informantes.
Além disso, investigações sobre o reconhecimento do serviço nas mídias e com a população
próxima à região. As duas primeiras entrevistas revelaram que essa comunidade tradicional
reside no local há aproximadamente 50 anos e, com a criação do PESET, houve um afastamento
dos costumes quilombolas devido à proibição de manipulação da terra. Para a recuperação
destes costumes, os moradores procuraram alternativas que não infringissem as regras do
parque, como a realização da feijoada, da capoeira, das rodas de samba e dos ritos religiosos da
Umbanda. A feijoada se tornou destaque devido à qualidade e reconhecimento fora da
comunidade. Atualmente constitui seu principal meio de sustento, trazendo mais de 200
visitantes ao local em dias de “samba da comunidade”. Foi verificada a possibilidade de proteção
59
do serviço e a feijoada atende aos requisitos necessários à Indicação Geográfica. Será realizada
uma etnoinvestigação para reunir os documentos necessários e servir de subsídio para o pedido
de registro de Indicação de Procedência no INPI. A proteção deste serviço por meio de Indicação
de Procedência trará desenvolvimento econômico para a região, além da valorização das
manifestações culturais e auxiliará a garantir o pleno exercício dos direitos culturais da
comunidade.
Agradece-se à Universidade Federal Fluminense (UFF).
A hipótese da sazonalidade pode explicar o uso de plantas medicinais em uma área rural do
oeste da Bahia?
Fernanda Novais Barros (Universidade Federal do Oeste da Bahia), Camilla de Carvalho de Brito
(Universidade Federal do Oeste da Bahia), Viviany Teixeira do Nascimento (Universidade do
Estado da Bahia), Patrícia Muniz de Medeiros (Universidade Federal do Oeste da Bahia).
Contato: [email protected].
Há muito tempo que os seres humanos incorporam plantas e animais em sua em cultura.
Contudo, o conhecimento sobre os fatores que induzem a seleção de determinado recurso e a
incorporação destes em um sistema cultural ainda é reduzido. Assim, algumas hipóteses
etnobôtanicas têm sido propostas a fim de tentar preencher essa lacuna do conhecimento.
Dentre estas, a hipótese da sazonalidade, a qual profere que pessoas que residem em ambientes
com climas sazonais demarcados tendem a selecionar plantas ou partes de plantas que estão
disponíveis durante o ano, como estratégia de segurança na obtenção de recursos. Deste modo,
objetivou-se neste estudo verificar se existe predomínio de plantas medicinais de hábito lenhoso
e partes persistentes das plantas no sistema médico da comunidade rural do Sucruiuzinho,
Barreiras, Bahia. Para obtenção dos dados referentes aos usos medicinais de plantas nesta
comunidade, foram realizadas entrevistas semiestruturadas, somando um total de 24
entrevistados. As plantas foram classificadas quanto ao hábito em ‘lenhosas’ e ‘não lenhosas’, e
quanto à parte usada em ‘persistente’ e não ‘persistente’. Posteriormente para análise de
dados, utilizou-se o teste do qui-quadrado, por meio do qual se calculou as diferenças entre o
número de espécies lenhosas e não lenhosas e entre o número de espécies com uso de partes
persistentes e não persistentes. Os resultados evidenciaram diferenças significativas (p<0,05)
paro o habito, sendo o hábito lenhoso predominante em 61,2% das espécies, contra 38,8% de
espécies não lenhosas. Já para as partes utilizadas, obteve-se o uso de partes não persistentes
em 88,8% das espécies, e o uso de partes persistentes em 71,6% delas, de modo que não houve
diferenças significativas (p>0,05). Assim, os dados apresentaram-se parcialmente a favor da
hipótese de sazonalidade (apenas para o habito). No entanto, é preciso investigar se o
predomínio de plantas lenhosas no sistema médico reflete a maior proporção deste grupo no
ambiente ou se de fato este é privilegiado do ponto de vista da seleção. Estudos com tal aporte
necessitam ser realizados, uma vez que, compreender os processos de seleção de plantas,
auxilia no desenvolvimento de estratégias de prospecção adequadas para recursos medicinais
específicos.
Agradece-se à Universidade Federal do Oeste da Bahia.
60
A utilização de plantas medicinais pela comunidade de remanescentes quilombolas de
Palmeirinha, Minas Gerais
Renata Francisca Vieira (Faculdade de Saúde Ibituruna), Maria Aparecida Lopes Limeira Macedo
(Faculdade de Saúde Ibituruna), Kimberly Marie Jones (Sociedade Educativa do Brasil),
Guilherme Araújo Lacerda (Universidade Estadual de Montes Claros). Contato:
[email protected].
Alguns Quilombos mais antigos, carregam entre si as crenças e costumes que foram adquiridos
com seus antepassados e com eles alguns costumes como o uso de plantas medicinais, ainda
permanecem confrontando com a sociedade moderna. Foi realizado um levantamento
etnobotânico na comunidade Quilombolas de Palmeirinha, Minas Gerais, com o propósito de
identificar espécies nativas ou exóticas utilizadas na medicina popular relacionando a um
possível extrativismo ou cultivo doméstico. Investigou-se também, a finalidade para as quais as
plantas são utilizadas e quais são suas formas de preparo. Foram amostrados dois especialistas
indicados pelos líderes comunitários e três informantes direcionados por eles através do método
snowball. Os instrumentos foram entrevistas semi-estruturadas e conversas informais onde
foram identificadas 42 espécies distintas de plantas medicinais, agrupadas em 27 famílias sendo
que as mais representativas foram as Laminaceaes (seis), Asteraceaes (cinco) e a Rutaceaes
(três). O maior numero de espécies indicadas foram 29 exóticas (69%) destacando-se dentre as
13 nativas (31%) com mais de uma utilização medicinal: Erva-de-são-João (Ageratum conyzoides
L.) voucher 775, Jurubeba (Solanum paniculatum L.) voucher 762 e Quixabeira (Sideroxylon
obtusifolium (Roem. & Schult.) T.D.Penn.) voucher 766. Dentre as partes mais utilizadas,
observou-se que as folhas são as mais usadas com cerca de 65,90% em relação ao número total
de espécies informadas. No que se diz respeito ao modo de preparo, destacou-se o uso de
plantas em forma de cozimento (62,79%). Conclui-se que o as plantas medicinais utilizadas na
comunidade Quilombolas de Palmeirinha correspondem a mais espécies exóticas do que nativas
denotando um menor extrativismo e maior cultivo doméstico das plantas de interesse.
Agradece-se à Sociedade Educativa do Brasil (SOEBRAS). O projeto de pesquisa que embasou o presente
trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da Associação Educativa do Brasil (SOEBRAS) /
Faculdades Unidas do Norte de Minas sob o registro 557.994
Agricultores guardiões da agrobiodiversidade na conservação “on farm” do algodão Mocó no
estado da Paraíba
Lanna Cecília Lima de Oliveira (Universidade Federal da Paraíba), Amaury da Silva Santos
(Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Fernando Fleury Curado (Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária) e Nair Helena Castro Arriel (Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária). Contato: [email protected].
A conservação “on farm” pode ser considerada a mais antiga prática de conservação de recursos
genéticos. O algodão Mocó (Gossypium hirsutum L. r. marie galante Hutch), entrou em processo
de extinção por um conjunto de fatores, dentre eles a infestação dos cultivos pelo bicudo
(Anthonomus grandis Boheman) e a seca que assolou o nordeste em 1979, porém alguns
agricultores ainda o conservam no estado da Paraíba. Este estudo tem como objetivo
compreender as razões que motivaram a conservação on farm e identificar as principais
61
demandas relacionadas a conservação do algodão Mocó. Foram realizadas entrevistas
semiestruturadas com dez agricultores dos municípios de Solânea e Casserengue, Paraíba, no
sentido de identificar os principais usos do Mocó, as razões pelas quais os agricultores o
conservam. A técnica Linha do Tempo também foi utilizada com o objetivo de conhecer a
história do algodão através da sucessão dos acontecimentos ao longo do tempo. Também
chamado de algodão preto, a malvácea foi sinônimo de bons tempos para os participantes da
pesquisa até os anos 1980, os mesmos afirmaram que era com a renda advinda da colheita do
algodão que eles compravam o que não era produzido nos sítios, no entanto a cultura entrou
em declínio e a situação econômica dos agricultores familiares mudou. Porém, os entrevistados
mantêm a cultura em seus sítios, não mais por razões comerciais. A principal motivação para a
conservação do Mocó diz respeito ao uso na alimentação dos animais. O fato de a planta ser
resistente à seca e uma alternativa alimentar para os animais nesse período explica a razão de
conserva-la. Outras utilidades também foram destacadas pelos entrevistados: valor estético,
medicinal, tradição, comercialização e fazer pavio. O principal desafio para ampliar o cultivo,
segundo os agricultores, está relacionado ao acesso ao mercado, que é praticamente
inexistente. A partir do estudo foi possível perceber que os agricultores são guardiões do
algodão Mocó, e que o conhecimento sobre a planta é geracional, fator imprescindível para a
manutenção desta variedade. Seu cultivo é uma prática histórico-cultural e a lembrança dos
tempos em que o Mocó era considerado o ouro branco é marcante e influencia diretamente na
conservação dessa planta. Observa-se que é necessário que instituições de ensino, pesquisa e
extensão somem esforços para apoiar esses sujeitos e consequentemente fortalecer a
conservação on farm do algodão Mocó no Curimataú Paraíbano.
Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa
concedida e aos guardiões do Mocó pela partilha do conhecimento.
As principais espécies vegetais medicinais de uma comunidade atendem a diferentes
propriedades? Um estudo de caso em uma comunidade rural do Cerrado no oeste da Bahia,
nordeste do Brasil
Luana Silva Porto (Universidade do Estado da Bahia), Patricia Muniz de Medeiros (Universidade
Federal do Oeste da Bahia) e Viviany Teixeira do Nascimento (Universidade do Estado da Bahia).
Contato: [email protected].
Geralmente as plantas utilizadas nos sistemas medicinais de comunidades tradicionais estão
associadas a diversas indicações terapêuticas, estas plantas são consideradas como mais
versáteis por atenderem a um maior número de doenças, pertencentes a um ou mais sistemas
corporais. No entanto, será que as plantas mais mencionadas em um levantamento
correspondem aquelas de maior versatilidade? Diante disso, este trabalho teve como objetivo
registrar o conhecimento sobre plantas medicinais na comunidade do Sucruiú, distrito do Vau
da Boa Esperança, Barreiras, Bahia, e verificar se as principais espécies do sistema local são
aquelas que atendem a um maior número propriedades. A pesquisa foi realizada entre julho de
2013 e agosto de 2014 em três fases: Primeiro realizou-se a técnica de lista livre, seguida de
entrevista semi-estruturada e por último realizou-se uma turnê guiada para a coleta do material
botânico. A avaliação dos dados foi feita pelos seguintes cálculos: Frequência relativa de citações
(FR) e Importância Relativa (IR). Foram entrevistados 24 informantes, sendo 56% homens e 44%
mulheres. Registrou-se 74 etnoespécies, 42 foram identificadas até o momento. As espécies de
maior freqüência foram: Terminalia fagifolia Mart. (70,83%), Caryocar brasiliensis Cambess.
62
(62,50%), Mauritia flexuosa L., Amburana cearensis (Allemão) AC Sm. e Dimorphandra mollis
Benth. (45,83%). Com relação a IR, T. fagifolia (2,00) foi a espécie mais versátil, seguida por A.
cearensis (1,88), M. flexuosa (1,54), Lafoensia pacari (1,42) e D. mollis (1,33), ou seja, atendem
a um maior número de enfermidades, portanto são as espécies mais versáteis dentro do sistema
terapêutico da comunidade. Das cinco espécies mais citadas, quatro estão entre as mais
versáteis sugerindo que na comunidade em questão as principais espécies da farmacopéia são
aquelas que podem tratar um maior número de doenças. T. fagifolia, M. flexuosa, A. cearensis
e D. mollis são espécies muito importante para a comunidade devido a sua versatilidade e
podem se tornar vulneráveis, uma vez que atendem ao tratamento de um maior número de
indisposições pertencentes a vários sistemas corporais, o que também sugere que possam ser
as espécies com maior potencial de uso real.
Agradece-se aos moradores da comunidade Sucruiú e aos integrantes do grupo de pesquisa pela
disponibilidade e contribuições. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) pelo apoio financeiro.
Cadeia de mercado de Operculina sp. em Floriano, Piauí: dos coletores à Industria
Farmacêutica
Diêgo Nava Moura (Universidade Federal do Piauí) e Nelson Leal Alencar (Universidade Federal
do Piauí). Contato: [email protected].
No Brasil pesquisas demonstram que 91,9% da população fazem uso de alguma planta, sendo
que 46% desta mantém cultivo caseiro dessas plantas. A utilização e a comercialização de
plantas medicinais são estimuladas, em parte, pela crescente demanda da indústria por novas
fontes naturais e, também, devido aos efeitos colaterais causados pelos fármacos sintéticos que
estimulam o aproveitamento de medicamentos de origem vegetal ou até, em muitos casos,
porque representam a única fonte de medicamentos especialmente nos lugares mais isolados e
distantes. Atualmente, plantas medicinais são comercializadas em feiras livres, mercados
populares e abastecem a indústria farmacêutica sem que haja estudos sobre a cadeia de
mercado e sua sustentabilidade ambiental e comercial. Mediante isso, o presente trabalho
busca conhecer a cadeia produtiva da batata de purga (Operculina sp.) no município de Floriano,
Piauí, identificando as etapas envolvidas na cadeia de mercado e seus atores sociais, assim como
a sua forma de comercialização e seus usos. A pesquisa foi realizada no município de Floriano.
Coletas foram realizadas por entrevistas e formulários semiestruturados em feiras livres da
cidade, em localidades rurais do munícipio e na Indústria farmacêutica da cidade que utiliza a
planta na formulação de medicamentos. A cadeia produtiva da espécie envolve três etapas: 1.
Coletores que fornecem, nos meses de março a maio, raízes para a indústria e comércio erveiro.
As plantas são obtidas por extrativismo sem reposição ou atenção à conservação e informaram
que há, a cada ano, dificuldades progressivas de aceso à coleta devido escassez da planta
exigindo coletas mais distantes e volumosas. 2. O comércio erveiro (oito comerciantes em
mercados públicos da cidade) recebe dos coletores a planta por meio de porções de raízes
(cabeças) com o custo de R$ 10,00 (2 kg em média), que são pagos na medida em que são
comercializadas. Os comerciantes vendem a raiz na forma de goma (20g de raiz triturada) ou
tora (fatias de raiz desidratada), com preços entre R$ 1,00 a 2,00, em média, para consumidores
finais. 3. A Indústria recebe o material vegetal (20t – 60t/mês) diretamente de coletores e paga
melhores valores que o comércio (R$ 3,00/Kg); existem em torno de 30 coletores cadastrados
pela Indústria como fornecedores de matéria prima. As raízes são utilizadas para a confecção de
um medicamento, na forma de tintura, em frascos de 30 mL, 100 mL, 200 mL, 500 mL e 1000 mL
63
com a indicações de laxativo e purgativo, com um preço final, no varejo de R$ 4,00 à 8,00. Os
produtos são comercializados em toda a região nordeste em farmácias e drogarias. Concluímos
que a cadeia de mercado da espécie apresenta pontos entre suas etapas que precisam de mais
estudos sobre a sua sustentabilidade o que afeta a disponibilidade para o comércio bem como
seu valor nas diferentes etapas.
Agradece-se à Universidade Federal do Piauí/CAFS.
Como se estrutura o conhecimento tradicional sobre plantas medicinais? Estudo de caso em
uma comunidade rural do oeste baiano
Camilla de Carvalho de Brito (Universidade Federal do Oeste da Bahia), Eraldo Medeiros Costa
Neto (Universidade Estadual de Feira de Santana), Viviany Teixeira do Nascimento (Universidade
do Estado da Bahia) e Patrícia Muniz de Medeiros (Universidade Federal do Oeste da Bahia).
Contato: [email protected].
Objetivou-se com esta pesquisa, verificar a via predominante de distribuição do conhecimento
botânico tradicional na comunidade do Sucruiuzinho, Barreiras-Bahia. Para isto foi realizada a
verificação das vias de transmissão de conhecimento com maior número de citações (vertical,
horizontal ou obliqua) e análise da similaridade de conhecimento sobre plantas medicinais entre
os moradores da comunidade. Foram realizadas 24 entrevistas no período de Janeiro a Maio de
2014, com moradores de ambos os sexos, e idade superior a 14 anos para conhecer quais plantas
medicinais eles conheciam e a indicação terapêutica das mesmas. Foi confeccionada uma lista
com o nome de todos os moradores da comunidade, onde os mesmos eram questionados sobre
com quem das pessoas da lista eles aprenderam e para quem ensinaram sobre plantas
medicinais. As citações de ensino e aprendizagem foram classificadas nas vias vertical, horizontal
e obliqua. O teste de Qui-quadrado goodness-of-fit foi usado para comparar os valores de
citações para cada via. Em seguida foi gerada uma matriz binária de conhecimento de plantas
medicinais, contendo entrevistados como objetos e as plantas como descritores, gerando-se
uma matriz de similaridade (Jaccard) entre os entrevistados. A partir dessa matriz, foi utilizado
o teste de Mann-Whitey para comparar a relação de similaridade de conhecimento. Os
moradores da comunidade são em sua maioria do sexo masculino, pertencentes a três principais
núcleos familiares, sendo os homens trabalhadores rurais e as mulheres donas de casas. A idade
média dos moradores da comunidade é de 51,95 anos de idade. Não houve diferenças
significativas de citações entre as vias (p>0,05). Os dados obtidos pela matriz de similaridade
entre os entrevistados evidenciam que, em geral, a similaridade é baixa, demonstrando uma
heterogeneidade do conhecimento. Os indivíduos aparentados na comunidade possuem
conhecimentos mais similares do que os não aparentados (Z(U) = 2,89; p <0,05). Indivíduos de
mesma geração também têm conhecimentos mais similares que indivíduos não parentes de
gerações diferentes. (Z(U) =3,09; p<0,05). As pessoas não aparentadas de gerações diferentes
tiveram menor similaridade no conhecimento que as de mesma geração (H=12,39; p<0,05).
Observa-se, portanto, que o parentesco e a geração interferem de forma expressiva no
conhecimento local sobre plantas medicinais e que há um equilíbrio entre as vias de transmissão
de conhecimento.
Agradece-se à CAPPES e Universidade Federal do Oeste da Bahia. O projeto de pesquisa que embasou o
presente trabalho foi analisado e aprovado pelo comitê de ética da Plataforma Brasil
(CAAE07488513.4.0000.5026).
64
Conhecimento de espécies medicinais e tóxicas para animais: a influência dos fatores
socioeconômicos
Juliane Souza Luiz Hora (Universidade do Estado da Bahia), Patrícia Muniz de Medeiros
(Universidade Federal do Oeste Baiano) e Viviany Teixeira do Nascimento (Universidade do
Estado da Bahia). Contato: [email protected].
Os fatores socioeconômicos influenciam na escolha e uso dos recursos vegetais presentes em
determinadas áreas em que populações humanas estão inseridas. Muitos são os estudos
etnobiológicos que fazem o diagnóstico da influência destes fatores. Contudo, ocorre uma
carência de tais levantamentos, principalmente no que diz respeito a interferência no
conhecimento e utilização de plantas em animais nas áreas do Cerrado Brasileiro. Diante disto,
o presente estudo objetivou analisar se estes fatores (idade, renda, escolaridade, ocupação,
tempo de moradia) influenciam no conhecimento de plantas medicinais e tóxicas utilizadas em
animais em uma comunidade do Oeste da Bahia. Para isto os dados foram coletados através de
entrevistas semi-estruturadas e analisados pelo Modelo Linear Generalizado, utilizando as
variáveis inde pendentes que relacionaram-se de modo significativo com as dependentes.
Para a categoria medicinal ao analisar o “número de citações”, a idade foi a variável que explicou
a interferência no conhecimento (R²=0,17/ p>0,05), já na análise sobre o “número de espécies
citadas”, a renda juntamente com a idade foram as variáveis que explicaram a interferência nas
informações (R²=0,32/p>0,05). Já para as plantas tóxicas, ao analisar o “número de citações”
desta categoria, observou-se que não houve nenhuma variável socioeconômica explicativa, ou
seja, para o número de citações não há interferência de fatores socioeconômicos, entretanto,
para o “número de espécies citadas” a renda foi a variável que mostrou interferência no
conhecimento (R²=0,21/p>0,05). Sendo assim, conclui-se que o número de espécies é um
indicativo mais variável que número de citações. Inferiu-se que a idade e a renda foram as
variáveis que mostraram maior interferência nas citações dos informantes, na dinâmica da
comunidade as pessoas mais velhas são aquelas possuidoras de maior criação animal, e
correspondem àqueles indivíduos que tiveram maior experiência com o manejo animal do
decorrer da vida de acordo com os relatos.
Agradece-se à Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado da Bahia (FAPESB). O projeto de pesquisa que
embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade do Estado
da Bahia (Parecer nº 343.778).
Conhecimento dos agricultores agroflorestais sobre as espécies arbóreas em uma área de
Mata Atlântica, Brasil
Naiana Pereira Lunelli (Instituto de Botânica), Clovis Jose Fernandes de Oliveira Júnior (Instituto
de Botânica), Marcelo Alves Ramos (Universidade de Pernambuco). Contato:
[email protected].
As árvores constituem importante fonte de recursos para as populações humanas, além de
representarem o principal componente estrutural de áreas florestais. O presente estudo visou
analisar o conhecimento e uso de agricultores agroflorestais do Vale do Ribeira, São Paulo e
Paraná, sobre as espécies arbóreas. A coleta de dados foi conduzida por meio de entrevistas
65
semi-estruturadas, lista livre, turnê guiada, observação direta, coleta e identificação de material
botânico. Utilizou-se a técnica “snowball” para selecionar os informantes e para avaliar a
suficiência amostral foi elaborada uma curva de rarefação, associada ao índice Jacknife1 o qual
demonstrou que aproximadamente 80% da riqueza esperada (Sobs = 218, Sest = 272,6) foi
amostrada em 40 entrevistas. Durante as entrevistas foram identificadas as plantas conhecidas,
seus respectivos usos, domínios biogeográficos e ambientes de obtenção. As plantas foram
analisadas com base na frequência de citação das etnoespécies, quando mais de uma
etnoespécie se referiu a mesma espécie botânica contabilizou-se apenas um nome durante as
análises. Utilizou-se o teste de Qui-quadrado para verificar se as variáveis eram
significativamente diferentes. Foram mencionadas 220 etnoespécies, sendo identificadas 186
espécies, pertencentes a 54 famílias botânicas. As espécies mais citadas foram Artocarpus
heterophyllus Lam (85%), Persea americana Mill (82,5%) e Inga marginata Willd. (80%). Os usos
citados remeteram a nove categorias: alimentação humana (82 spp.), matéria orgânica (81 spp.),
construção (81 spp.), combustível (66 spp.), medicinal (63 spp.), alimentação animal (59 spp.),
tecnologia (53 spp.), mel (43 spp.) e outros (45 spp.). A riqueza de espécies nativas conhecidas
(136 spp.) apresentou-se significativamente maior que a riqueza de plantas exóticas (50 spp.)
(X2 = 39,76, p < 0,0001), inclusive em todas as categorias de uso com exceção ao uso alimentício.
As áreas antropogênicas como capoeiras finas, trilhas, beira de estradas, roças e quintais
agroflorestais foram os ambientes com o maior número de plantas citadas (77 spp.). O
entendimento do conhecimento local sobre a utilidade das espécies arbóreas pode contribuir
com um melhor planejamento das agroflorestas, assim como novas iniciativas para o uso
econômico da biodiversidade, podendo proporcionar o aumento da autonomia local, geração
de renda e qualidade de vida a partir de processos e produtos que auxiliem, por exemplo, na
implantação de uma agroindústria na região.
Agradece-se aos agricultores que concordaram em contribuir com a pesquisa. Ao Programa de PósGraduação do IBt pelo apoio oferecido. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) pela bolsa de mestrado concedida à primeira autora. O projeto de pesquisa que embasou o
presente trabalho foi analisado pelo Intituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) sob o
processo nº 01450.004903/2013-5.
Conhecimento e uso de plantas bioinseticidas e repelentes pela comunidade Sussuapara,
município de Nazaré do Piauí, Brasil
Brunna Laryelle Silva Bomfim (Universidade Federal do Piauí), Juliana Cardozo de Farias
(Universidade Federal do Piauí), Santina Barbosa de Sousa (Universidade Federal do Piauí),
Irineu Campelo da Fonseca Filho ( Universidade Federal do Piauí), Paulo Roberto Ramalho Silva
(Universidade Federal do Piauí) e Roseli Farias Melo de Barros (Universidade Federal do Piauí)..
Contato: [email protected].
Como consequência da evolução, diversas plantas apresentam toxinas inseticidas ou repelentes,
se tornando alternativa no controle de pragas e trazendo benefícios para o meio ambiente e
para a saúde pública. O uso de plantas repelentes é comum em diversas comunidades devido
seu baixo custo em comparação aos repelentes e inseticidas comerciais. O presente trabalho
objetivou levantar as plantas utilizadas como repelentes e bioinseticidas pela comunidade
Sussuapara, município de Nazaré do Piauí, Piauí. Foram entrevistadas 46 famílias, totalizando 89
pessoas, sendo escolhido em cada unidade familiar o pai, a mãe e, quando houvesse, um filho
maior de 18 anos. Nas entrevistas foram utilizados formulários semiestruturados. As plantas
foram coletadas seguindo-se metodologia usual durante as turnês-guiadas e estão incorporadas
66
no acervo do Herbário Graziela Barroso (TEPB) da Universidade Federal do Piauí. Para análise
dos dados de uso, calculou-se o Valor de Uso para cada etnoespécie citada. A maioria dos
entrevistados (60%) disse não conhecer nenhuma planta para uso no combate a insetos.
Apontaram ao menos uma espécie vegetal que conheciam ou utilizavam como repelente 36%
dos entrevistados, e 8% citaram que a fumaça de qualquer planta serve para repelir pernilongos
e mosquitos. Dentre aqueles que citaram que qualquer espécie pode ser usada como repelente,
14% destacaram o nome de uma espécie usada para esse fim. Foram apontadas 14 espécies
utilizadas como repelentes e nenhuma com ação bioinseticida conhecida. A espécie mais citada
(66%) foi o alecrim (Lippia sp.), apresentando também maior Valor de Uso (VU= 0,4) . A fumaça
da folha foi a principal forma de utilização, sendo apontada em 93% dos casos. O fumo
(Nicotiana tabacum L.) foi a única espécie em que se usava o pó da folha ou o próprio fumo
como repelente. Independente do uso ou conhecimento acerca de plantas bioinseticidas e
repelentes, 77% citaram o veneno comercial como principal forma de combate a insetos em
suas casas e 100% citaram uso de veneno comercial em suas plantações. Pode-se perceber que
a maioria da comunidade não conhece ou utiliza plantas com ação repelente ou bioinseticida,
fazendo uso de venenos comercias, prática utilizada inclusive por alguns que afirmaram
conhecer alguma etnoespécie repelente. Vale ainda ressaltar o risco de efeitos adversos, tais
como alergias e crises em pessoas com problemas respiratórios dentre aqueles que utilizam a
fumaça de alguma espécie na repelência de insetos.
Agradece-se ao Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade
Federal do Piauí.
Conhecimento e uso de recursos vegetais na Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca,
Santa Catarina
Mayana Lacerda Leal (Universidade Federal de Santa Catarina), Rubana Palhares Alves
(Universidade Federal de Santa Catarina) e Natalia Hanazaki (Universidade Federal de Santa
Catarina). Contato: [email protected].
As unidades de conservação (UC) são uma das vias legais para a proteção dos recursos naturais.
Analisar o uso de recursos vegetais pelas populações humanas locais é fundamental para uma
boa gestão dessas áreas, ainda que estas sejam criadas com ênfase a um elemento marinho,
como Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca (APABF). O objetivo deste estudo foi analisar
o conhecimento e uso de recursos vegetais por moradores locais em três regiões da APABF:
norte (APABFN), central (APABFC) e sul (APABFS). A UC se estende ao longo do litoral centro-sul
de Santa Catarina, com 156 mil hectares. A divisão considerada no estudo é realizada pelos
gestores da APABF e reflete características distintas dessas três regiões As comunidades foram
divididas em áreas numeradas, sendo sorteadas tanto as áreas quanto as casas a serem
acessadas. Utilizamos o mesmo esforço amostral em cada região da APABF, totalizando 150
moradores entrevistados. Registramos as plantas utilizadas, obtidas tanto por extrativismo
quanto por cultivo. A identificação das plantas citadas foi feita através de coletas botânicas no
interior e entorno da APABF, informações bibliográficas e observações in situ. Nas 150
entrevistas foram feitas 1232 citações de plantas, das quais foi possível fazer a identificação de
889 citações em nível de espécie, totalizando 92 espécies. Nas três regiões as espécies mais
citadas foram as mesmas: alho (Allium fistulosum L.), salsinha (Petroselinum crispum (Mill.)
Fuss), alface (Lactuca sativa L.), couves (Brassica oleracea L.), aipim/mandioca (Manihot
esculenta Crantz) e milho (Zea mays L.). Juntas, estas espécies representam 45% do total das
67
citações identificadas. Exemplos de espécies nativas menos citadas são butiá (Butia catarinensis
Noblick & Lorenzi) e pitanga (Eugenia uniflora L.). Apesar da grande extensão da APABF, há
consonância quanto aos recursos vegetais usados, sendo as plantas alimentícias cultivadas as
mais utilizadas, sobretudo para o consumo próprio, demonstrando a importância dessas para a
subsistência e segurança alimentar da população local. O uso incipiente de espécies nativas
indica que estas atividades não são uma ameaça à conservação dos recursos vegetais e
tampouco um bom argumento em prol da conservação. No entanto, a manutenção das
atividades de cultivo deve ser estimulada propiciando uma melhor qualidade de vida para os
moradores locais e freando uma ocupação e urbanização sem planejamento.
Agradece-se à Rufford Foundation, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nivel Superior
(CAPES), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Agradecemos aos
moradores entrevistados, gestores das Unidades de Conservação e colaboradores João Ferreira, Julia
Ávila, Bruna Raupp, João Leal e Tatiana Miranda.
Diagnóstico Rápido Participativo: ferramenta para caracterização etnoecológica e
etnobotânica em processos de delimitação de territórios quilombolas
Juliana de Lima Passos Rezende (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais), Welinson
Ferreira Brito (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais) eThais Silva de Paula (Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais). Contato: [email protected].
O Diagnóstico Rápido Participativo (DRP) estabelece um processo dialógico de análise da
realidade e interação entre os sujeitos de uma pesquisa. Estimulando a troca de experiências e
percepções dos participantes, estrutura e organiza a forma como os atores sociais percebem,
coletivamente, sua comunidade. Utilizou-se técnicas de DRP em trabalho de caracterização
ambiental para delimitação de território de duas comunidades quilombolas, na região do Serro
(convênio Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais/Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária). A caracterização ambiental é um dos estudos que componentes do processo
de demarcação de territórios quilombolas e é através dele que são fornecidos subsídios que
indicam o uso e ocupação do solo, tanto em áreas nativas quanto em áreas agriculturáveis.
Através de entrevistas semi-estruturadas, caminhadas, mapas mentais, coleta e identificação de
material botânico, pôde-se verificar como os moradores, em sua maioria trabalhadores rurais,
de ambas as comunidades usam seu território. Nas entrevistas, os membros mais atuantes das
comunidades, reportaram o extrativismo em diversos ambientes naturais e a existência de
plantas utilizadas, numa perspectiva histórica, na alimentação e medicina caseira (humana e
animal), na fabricação de utensílios e construção (ferramentas, mourões, telhados e fibras);
usadas como colas, corantes e outras extraídas para artesanato, além daquelas com usos
simbólicos e religiosos. Diversas espécies de “sempre vivas”, capins, frutos e peças florais, estão
entre as mais coletadas nos diferentes ambientes e que foram/são comercializadas,
constituindo importante fator de renda para as comunidades. Destas, algumas são diferentes
espécies de liquens e musgos (briopsida), genericamente denominados como “laginha e
musgo”. Pesquisadores e moradores percorreram e verificaram in loco as fitofisionomias
retratadas nos mapas mentais: cerrado, floresta semidecídua, campo de altitude e rupestre,
cerrado rupestre e áreas de várzea, o que possibilitou a coleta de amostras vegetais. A
metodologia de Diagnóstico Rápido Participativa, aliada aos trabalhos de campo, permitiu o
(re)conhecimento do uso e ocupação do território no passado e presente, fornecendo dados
importantes para a construção de uma proposta de território que seja sustentável, e que
68
permita que as atividades humanas e econômicas destas comunidades possam garantir suas
necessidades básicas aliadas à preservação ecossistêmica.
Agradece-se à PROEX/ Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e ao Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária.
Espécies arbóreas conhecidas e utilizadas por agricultores agroflorestais em uma área de
Mata Atlântica, Brasil: a influência do gênero e idade
Naiana Pereira Lunelli (Instituto de Botânica), Marcelo Alves Ramos (Universidade de
Pernambuco), Clovis Jose Fernandes de Oliveira Júnior (Instituto de Botânica). Contato:
[email protected].
Populações locais são capazes de interagir e modificar o ambiente para garantir sua
sobrevivência. Para tanto, verificou-se se a proporção de espécies arbóreas conhecidas por
agricultores agroflorestais do Vale do Ribeira, São Paulo e Paraná, é afetada em função do
gênero e da idade. Conduziu-se a coleta de dados por meio de entrevistas semi-estruturadas,
turnê guiada, observação direta, coleta e identificação de material botânico. Utilizou-se a
técnica “snowball” para selecionar os informantes. A suficiência amostral foi avaliada pela curva
de rarefação, associada ao índice Jacknife1 o qual demonstrou que aproximadamente 80% da
riqueza esperada (Sobs = 218, Sest = 272,6) foi amostrada em 40 entrevistas. Os participantes
foram classificados em gêneros (masculino e feminino) e classes etárias (18 - 24 anos - jovens;
25 - 59 anos - adultos; ≥ 60 anos - idosos). Utilizou-se o teste de Kruskal-Wallis e Qui-quadrado
para verificar se as variáveis diferiram significativamente. Os testes foram realizados com base
na frequência de citação das etnoespécies, contabilizando apenas um nome quando houvesse
referencia a mesma espécie botânica. Foram entrevistados 17 mulheres e 23 homens, média de
idade igual a 50 anos, variando de 18 a 78 anos. Observou-se que a riqueza total (X2 = 1,94, p =
018) e a média de citação (H = 2,83, p = 0,09) das espécies conhecidas entre os gêneros é
homogênea, com os homens mencionando 173 (44,13±17,33) e as mulheres 148 (34,76±10,09).
No entanto foram encontradas diferenças na riqueza de espécies citadas exclusivamente entre
os gêneros (X2 = 13,29, p = 0,0005). Os jovens apresentaram menor citação quando comparado
aos adultos (X2 = 33,42, p < 0,0001) e idosos (X2 = 30,12, p < 0,0001). A riqueza total de espécies
mencionadas foi igual a 74 (33,25±20,55) para os jovens, 163 (39,08±12,96) para os adultos e
150 (45,09±18,19) para os idosos, não ocorrendo diferenças significativas para a média de
citação de espécies entre as três faixas etárias (H = 1,93, p = 0,16; H = 1,71, p = 0,19; H = 1,06, p
= 0,30). Uma maior citação de espécies que são exclusivas ao gênero masculino pode indicar a
existência de um conhecimento especializado neste grupo para determinadas categorias de uso.
As experiências que ocorrem ao longo da vida de cada indivíduo, podem estar relacionadas com
o maior acúmulo de saberes entre os mais velhos. Por outro lado, às restrições ambientais e a
disponibilidade dos recursos vegetais também podem ter limitado o conhecimento dos jovens.
Agradece-se aos agricultores que concordaram em contribuir com a pesquisa. Ao Programa de PósGraduação do IBt pelo apoio oferecido. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) pela bolsa de mestrado concedida à primeira autora. O projeto de pesquisa que embasou o
presente trabalho foi analisado pelo Intituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) sob o
processo nº 01450.004903/2013-5
69
Estudo anatômico da estrutura foliar de Morinda citrifolia L., Rubiaceae: uma espécie com
potencial terapêutico
Veridiana Soares dos Santos (Universidade Federal da Paraíba), Haymee Nascimento de Alencar
(Universidade Federal da Paraíba), Emily Dias da silva (Universidade Federal da Paraíba), Silvanio
Antonio da Silva (Universidade Federal da Paraíba) e Evelise Márcia Locatelli de Souza
(Universidade Federal da Paraíba). Contato: [email protected].
Morinda citrifolia L., popularmente conhecida por “noni”, é uma espécie originária do Sudeste
Asiático, sendo amplamente difundido em todas as regiões brasileiras. O fruto do noni possui
sabor muito amargo e cheiro pouco atraente, além disso, possui um polissacarídeo que
comprovadamente possui ação antitumoral sendo utilizado como analgésico, anestésico,
antidiabético e hipotensor. Além do fruto, também utilizam as flores, folhas e cascas de noni.
No estudo da Etnobotânica são utilizadas várias técnicas auxiliares, como a análise das
estruturas anatômicas que, por exemplo, podem identificar as possíveis estruturas vegetais que
proporcionam efeitos terapêuticos importantes para a manutenção do bem-estar das
comunidades tradicionais. Sendo assim, esta pesquisa tem como objetivo realizar o estudo
anatômico da estrutura foliar da Morinda citrifolia L e relatar as principais utilidades dessa
espécie para a comunidade pesqueira artesanal do sítio Tanques situada na Área de Proteção
Ambiental (APA) da Barra do Rio Mamanguape, Estado da Paraíba. A fim de proporcionar
informações que possam auxiliar os estudos etnobotânicos. Nos estudos anatômicos, para a
observação da epiderme foram efetuados cortes paradérmicos à mão livre, os cortes foram
montados entre lâmina e lamínula com glicerina a 50%. O corte paradérmico da lâmina foliar
demonstrou a presença de células estomáticas na face abaxial, caracterizando uma folha
hipoestomática com estômatos do tipo paracítico. Nas observações, não participativas,
constatou-se um grande número de espécies de “noni” na comunidade. Os consumidores a
utilizam como fonte de cura para doenças tais como: inflamações, reumatismo, artrite, diabetes,
dores de cabeça, hipertensão, asma, dores, entre outras. É considerada, pela comunidade
pesqueira, uma fonte de cura nociva à saúde sem riscos ou efeito colateral. O preparo é feito de
maneira totalmente caseira, denominada de garrafada, feito a partir do fruto, geralmente, com
suco de uva para minimizar o sabor amargo, em outros casos utiliza-se a folha para fazer o chá
e a casca é aplicada na pintura, comunidades tradicionais indígenas circunvizinhas utilizam-na
em épocas de escassez do jenipapo, durante as cerimonias religiosas. O uso de M. citrifolia não
se restringe às zonas rurais ou regiões desprovidas de assistência médica e farmacêutica, são
também utilizadas no meio urbano, como forma alternativa ou complementar aos
medicamentos da medicina oficial.
Agradece-se ao Laboratório de Ecologia Vegetal, Universidade Federal da Paraíba – Campus IV.
Estudo etnobotânico com vistas à sustentabilidade local do distrito de São Bartolomeu, Ouro
Preto, Minas Gerais
Amanda Cristina Costa Prado (Universidade Federal de Ouro Preto), Eliane Barbosa Rangel
(Universidade Federal de Ouro Preto), Sara Gonçalves Barbosa (Universidade Federal de Ouro
Preto), Bruna Rossi dos Santos (Universidade Federal de Ouro Preto), Mariana F. M. de
Guimarães (Universidade Federal de Ouro Preto) e Maria Cristina Teixeira Braga Messias
(Universidade Federal de Ouro Preto). Contato: [email protected].
70
Estudos etnobotânicos permitem registrar o conhecimento sobre a flora, gerando informações
úteis para projetos de uso sustentável dos recursos. Este estudo foi realizado no distrito de São
Bartolomeu, inserido na Área de Proteção Ambiental da Cachoeira das Andorinhas, Ouro Preto,
Minas Gerais. Objetivou-se resgatar o conhecimento popular sobre plantas úteis e verificar se
as características socioeconômicas, gênero, idade, renda, ocupação, escolaridade e forma de
aquisição do saber, influenciam o conhecimento de plantas úteis (riqueza de espécies).
Entrevistaram-se 43 pessoas, selecionados ao acaso. Foram utilizados questionários
semiestruturados, listagem livre, turnê guiada, observação direta e análise de discurso. As
espécies foram herborizadas, identificadas e descritas de acordo com a categoria de uso em:
alimento, artesanato, combustível, corante, forragem, madeireira, medicinal, mística,
ornamental e tóxica. Para comparar o efeito das categorias socioeconômicas no saber
tradicional utilizou-se o teste de Qui-quadrado. Identificou-se 232 espécies, reunidas em 74
famílias e 191 gêneros. As famílias com maior riqueza de espécies foram Asteraceae (25),
Fabaceae (15), Solanaceae (14), Lamiaceae (13), Myrtaceae e Poaceae (12). A maior parte das
espécies tem uso medicinal, seguidas por alimentares e madeireiras. Houve diferença
significativa no número de espécies conhecidas em relação ao gênero, sendo as mulheres
principais conhecedoras de plantas medicinais e alimentares e os homens de espécies
madeireiras. Pessoas cuja ocupação está ligada ao uso de recursos naturais conhecem mais
plantas. Embora pessoas mais idosas conheçam mais espécies, a idade não mostrou diferença
significativa. No entanto, relatos indicam uma perda de interesse dos mais jovens pelo
conhecimento tradicional do uso de plantas. As demais características socioeconômicas não
mostraram interferir significativamente no saber popular das plantas. Pessoas que adquiriram o
conhecimento através da oralidade, somados ou não de outras fontes (livros, internet,
televisão), conhecem mais espécies. Este estudo fornece informações uteis para o
desenvolvimento de políticas de manejo e uso sustentável dos recursos.
Agradece-se à Universidade Federal de Ouro Preto e Comunidade de São Bartolomeu. O projeto de
pesquisa que embasou o trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Federal de Ouro Preto sob o registro CAAE:05301712.4.1001.5150
Estudo etnobotânico de Calea uniflora Less, Asteraceae, no município de Balneário Rincão,
Santa Catarina, Brasil
Luan de Souza Ramos (Universidade do Extremo Sul Catarinense), Marília Schutz Borges
(Universidade do Extremo Sul Catarinense), Michele Daros Freitas (Universidade do Extremo Sul
Catarinense), Paula da Silva Cardoso (Universidade do Extremo Sul Catarinense), Patrícia de
Aguiar Amaral (Universidade do Extremo Sul Catarinense), Renato Panhan (Universidade do
Extremo Sul Catarinense), Sílvia Dal Bó (Universidade do Extremo Sul Catarinense) e Vanilde
Citadini-Zanette
(Universidade
do
Extremo
Sul
Catarinense).
Contato:
[email protected].
Calea uniflora Less., espécie vegetal da família Asteraceae e conhecida popularmente como
arnica-da-praia, é amplamente utilizada na região sul de Santa Catarina, porém não existem
registros científicos da sua utilização para fins terapêuticos. No entanto, a realização deste
estudo pode garantir a preservação do conhecimento tradicional, através da documentação das
informações. O presente trabalho teve como objetivos identificar o percentual de uso de C.
uniflora e verificar qual o conhecimento que a população detém sobre a espécie. O estudo foi
realizado no município de Balneário Rincão, por considerar que os capítulos florais da planta são
71
largamente utilizados pelos pescadores artesanais e comunidade de entorno, além da planta ser
naturalmente encontrada nesta região. Para a obtenção dos dados, foram realizadas entrevistas
semiestruturadas através de formulários. Como prática metodológica, uma foto da planta foi
mostrada a cada entrevistado a fim de que reconhecesse a espécie, sendo mencionado o seu
nome popular nas situações em que houve dificuldade no reconhecimento. A amostra foi
constituída por homens e mulheres, com idade igual ou superior a 18 anos e residentes no
município, que foram selecionados de forma aleatória, totalizando 372 indivíduos, visando a
determinar o percentual de usuários da planta. Pela análise dos resultados, observou-se que
50% dos entrevistados reconheceram a espécie pela foto, 44,1% pelo nome popular, enquanto
apenas 5,9% relataram não conhecê-la. Dos que conheciam a espécie, 74,3% faz seu uso como
planta medicinal e destes 65,4% a conhece desde a infância, principalmente através dos
familiares (84,6%). Em relação à forma de utilização, 93% utilizam as inflorescências da planta
maceradas em álcool ou cachaça, sendo este extrato geralmente utilizado por via tópica em
feridas e machucados, para picadas de insetos, hematomas e dores musculares. Alguns
entrevistados relataram utilizar algumas gotas deste extrato por via oral para gripe, resfriado e
infecção. Sobre a efetividade e segurança, 97% afirmaram que percebem melhora com a sua
utilização, 98,5% disseram que ela não demonstra toxicidade e 85% que ela não apresenta
contraindicações ou interações medicamentosas. Frente aos resultados, observa-se a relevância
deste estudo para o resgate do conhecimento tradicional, assim como para o direcionamento
de outros estudos fitoquímicos e farmacológicos com C. uniflora, a fim de comprovar os usos
populares citados.
Agradece-se ao Laboratório de Plantas Medicinais (LAPLAM), Unidade Acadêmica de Ciências Ambientais
(UNAHCE), Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC). O projeto de pesquisa que embasou o
presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Extremo
Sul Catarinense (UNESC) sob o parecer Consubstanciado nº 278.216.
Estudo etnobotânico de Varronia curassavica Jacq. “erva-baleeira” (Boraginaceae) no sul de
Santa Catarina, Brasil
Samara Fenilli Bristot (Universidade do Extremo Sul Catarinense), Angela Erna Rossato
(Universidade do Extremo Sul Catarinense), Patrícia de Aguiar Amaral (Universidade do Extremo
Sul Catarinense) e Vanilde Citadini-Zanette (Universidade do Extremo Sul Catarinense)..
Contato: [email protected].
A cultura da utilização de plantas medicinais ainda é o recurso terapêutico utilizado por muitas
comunidades e grupos étnicos. Nesse contexto, o presente estudo propõe realizar um
levantamento etnobotânico de Varronia curassavica Jacq. conhecida popularmente como “erva
–baleeira”, por ser a base de um fitoterápico genuinamente brasileiro, compilando e resgatando
o conhecimento popular com intuito de perpetuar tais informações, colaborando para futuras
pesquisas científicas e acadêmicas. O estudo faz parte do projeto “Fitoterapia Racional: aspectos
taxonômicos, agroecológicos, etnobotânicos e terapêuticos”. Foram realizadas 10 entrevistas
semiestruturadas, por meio de formulários, com as Agentes da Pastoral da Saúde, Regional Sul
4, levantando dados obtidos de seus antepassados sobre V. curassavica. A faixa etária das
entrevistadas variou de 50 a 88 anos de idade, quatro delas são professoras aposentadas, sendo
uma graduada em Ciências Biológicas. Das entrevistadas, sete relataram adquirir o
conhecimento em plantas medicinais através de seus pais e avós, ao longo das gerações, duas
Agentes através da Pastoral da Saúde e uma entrevistada através de freiras em convento. Todas
relataram usar apenas as folhas para preparações fitoterápicas caseiras. Foram relatadas 12
72
formas farmacêuticas de uso da planta: infuso, decocto, tintura, alcoolatura/espírito, xarope,
cataplasma, óleo medicinal, pomada, gel, creme/loção, sabão e xampu. A partir das formas
farmacêuticas foram relatadas 39 indicações de usos. Vários estudos verificam a atividade antiinflamatória, outros efeito antialérgico, potencial antiofídico, atividades antimicrobiana,
antiulcerogênica, antioxidante e citotóxica na redução de tumor. Estudos clínicos fase I, II, III
verificaram eficácia da atividade anti-inflamatória do creme da planta, no qual foi aprovada sua
ação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Contudo, percebe-se a importância
em resgatar o conhecimento popular pela quantidade de informações levantadas através das
Agentes, pois esses dados servem como ponto de partida para novas investigações de outras
possíveis ações terapêuticas.
Agradece-se à UNAHCE/EXTENSÃO/UNESC. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi
analisado e aprovado pelo Comitê de Ética de Pesquisa em Humanos da Universidade do Extremos Sul
Catarinense sob o registro 340/2006.
Estudo etnobotânico e levantamento florístico em quintais, Porto Murtinho, Mato Grosso do
Sul
Simone de Souza Moura (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul) e Ieda Maria Bortolotto
(Universidade Federal do Mato Grosso do Sul). Contato: [email protected].
A etnobotânica estuda as relações entre os seres humanos e as plantas e esses estudos são de
fundamental importância para a conservação da biodiversidade. O Chaco brasileiro ocupa uma
pequena área ao sul do Pantanal e tem espécies que não ocorrem em outras regiões do país,
mas ainda é pouco estudado. Os quintais da área urbana de Porto Murtinho mantêm diversas
espécies nativas do Chaco associadas com outras introduzidas, oferecendo uma boa
oportunidade para estudos sobre o conhecimento popular sobre os usos das espécies. A
presente pesquisa teve como objetivo avaliar a importância dos quintais para a conservação de
espécies de plantas do Chaco. Para avaliação, foram feitos estudos sobre a composição florística
dos quintais associado a um estudo etnobotânico. Com base num mapa da área urbana do
município de Porto Murtinho, Mato Grosso do Sul, foram sorteados 50 quintais, onde foi
realizado o levantamento da composição florística, todas as espécies de plantas encontradas
nos mesmos nos vários hábitos de crescimento foram coletados, identificados e fotografadas, e
também realizamos entrevistas semi estruturadas com os moradores, para levantar os dados
etnobotânicos. As plantas mantidas foram agrupadas por categorias de uso nas seguintes
formas: alimentar, medicinal, ornamental, sombramento, místico e espontâneas. A hipótese
deste trabalho é que os quintais mantêm um número importante de espécies do Chaco e que a
manutenção dessas espécies nos quintais está associado a importância delas no cotidiano dos
moradores, seja para sua subsistência (alimento, medicinal ou outro) ou pelo seu valor social e
cultural. Identificamos 768 angiospermas, distribuídas em 221 espécies, pertencentes a 67
famílias botânicas. As famílias que apresentaram maior riqueza de espécies foram: Fabaceae
(15) Rutaceae e Lamiaceae (13 cada), Araceae e Euphorbiaceae (10 cada), Poaceae (8), os
quintais de Porto Murtinho possuem 35% de espécies nativas do estado de Mato Grosso do Sul
e 20 espécies são nativas do Chaco. As espécies encontradas foram agrupadas de acordo com a
categoria de uso: sendo: 42% das espécies ornamentais, 21% alimentícias, 16% medicinal, 13%
sombreamento, 6% espontâneas e 2% místico. Os quintais podem se constituir como espaços
para a conservação do Chaco considerando que ele está entre as fisionomias mais ameaçadas
do Pantanal e não há unidades de conservação para a proteção dessas espécies. A presença de
espécies endêmicas nos quintais estudados como Prosopis ruscifolia Griseb., Tabebuia nodosa
73
Griseb. e Myracrodruon urundeuva Allemão, indica que os quintais são espaços para a
conservação de espécies. Considerando as ameaças ao Chaco e à presença de espécies
endêmicas nos quintais, outros estudos sobre a diversidade das espécies, bem como estudos
etnobotânicos são necessários para avaliar o potencial desses quintais para a conservação do
Chaco.
Agradece-se ao Projeto “Casadinho” (Angiospermas do Chaco brasileiro: sistemática, diversidade,
fenologia e adaptações) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). O
projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) sob o registro 675.236.
Estudo morfoanatômico, atividade antimicrobial e uso popular de Dalbergia ecastophyllum
(L.) Taub., Leguminosae
Silvanio Antonio da Silva (Universidade Federal da Paraíba/UFPB), Viviane Araújo da
Silva(Universidade Federal da Paraíba/UFPB), Emely Dias da Silva (Universidade Federal da
Paraíba/UFPB), Micheline Azevedo de Lima (Universidade Federal da Paraíba/UFPB)& Evelise
Locatelli (Universidade Federal da Paraíba/UFPB). Contato: [email protected].
Dalbergia ecastophyllum (L.) Taub., popularmente conhecida como rabo-de-bugio, é a partir da
sua resina que a própolis vermelha é produzida, apresentando alta atividade anti-microbiana e
anti-radical livre. O presente trabalho teve como objetivo a caracterização morfoanatômica,
atividade antimicrobial e uso de D. ecastophyllum. Para os estudos das epidermes foliares
efetuaram-se cortes paradérmicos e transversais, executados à mão livre, com lâmina cortante,
clarificados com hipocloríto de sódio, corados com safranina e azul de astra, e posteriormente
montados entre lâmina e lamínula com glicerina a 50%. Dados de literatura mostram que D.
ecastophyllum está sendo amplamente utilizada por populações tradicionais como
antimicrobiana, anti-inflamatória, cicatrizante e anticariogênica. Além disso, a própolis
vermelha é utilizada no tratamento de feridas, inflamações e doenças de pele. Utilizam a mesma
com o mel, produzindo uma pasta que é aplicada na enfermidade. Também pode ser utilizado
via oral através de garrafadas. A lâmina foliar de D. ecastophyllum apresenta, em ambas as faces,
células epidérmicas com paredes anticlinais retas e relativamente delgadas sendo
uniestratificada e revestida por cutícula delgada. Estômatos paracíticos, presentes
exclusivamente na face abaxial, caracterizando a folha como hipoestomática. O mesófilo é
heterogêneo dorsiventral possuindo duas camadas de parênquima paliçádico. O parênquima
lacunoso é constituído de células de tamanhos e formatos variados com espaços intercelulares
bastante pronunciados. Em corte transversal do caule de D. escastophyllum foi demonstrado
vasos lacticíferos com resina avermelhada. O estudo fitoquímico da fase hexânica da planta
revelou alguns metabólitos secundários responsáveis por atividades antimicrobianas, a exemplo
do lupeol, alfa e beta amirina e alguns terpenos como a fridelina. Já a microdiluição testada
tanto de extrato etanólico como hexânico, evidenciou atividade antibacteriana contra cepas
testadas. Com relação ao teste antimicrobial de substâncias isoladas, a melhor atividade se deu
com a fridelina contra cepas de Staphylococcus aureus e Escherichia coli mostrando um MIC 512
e 256 µg/ml, respectivamente. Os resultados fitoquímicos e microbiológicos da fase hexânica,
mais especificamente da fridelina, de D. ecastophyllum, indicaram que esta planta é potente
moduladora da capacidade de resistência a micro-organismos comprovando assim a eficiência
na sua utilização popular.
74
Agradece-se à Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Centro de Ciências Aplicadas e Educação/CCAE,
Departamento de Engenharia e Meio Ambiente/DEMA, Laboratório de Ecologia Vegetal (LABEV).
Estudos do léxico e a Etnobotânica
Cristina Martins Fargetti (Universidade do Estado de São Paulo) e Márcia Martins (Universidade
Federal de Minas Gerais). Contato: [email protected].
Serão discutidas dificuldades observadas em dicionários de línguas indígenas em descrever o
léxico referente a plantas, quer sejam espécies nativas ou introduzidas; serão apontados
motivos para tais dificuldades e propostas de melhor tratamento de dados. Em tais obras, a
identificação de plantas, por ser incompleta, pela ausência de descrições e de abonação, gera
dificuldade de comparação com outras línguas e culturas. Numa breve análise de vários
dicionários disponíveis, delimitando-se a citação de plantas, comestíveis ou não, constata-se que
estas não estão corretamente identificadas. Esta é uma falha lamentável, se pensarmos que os
indígenas detêm conhecimentos aprofundados sobre a biodiversidade de seu local de moradia,
a qual é de extrema importância para sua sobrevivência, inclusive. Autores apontam que a
biodiversidade está relacionada com a diversidade cultural e linguística, ou seja, onde existe
maior biodiversidade, existe maior diversidade de culturas e línguas. Apesar disso, percebe-se
uma defasagem na documentação e estudo, com a perda da formação de novos pesquisadores
sobre a biodiversidade; este quadro compromete os estudos linguísticos, envolvendo o léxico
de línguas indígenas. Este texto apresenta apenas dados parciais de uma pesquisa, de longa
duração, que está em andamento. Quanto a abordagem, esta é uma pesquisa qualitativa, que
neste caso, preocupa-se com o aprofundamento do estudo do léxico de um grupo social e
emprega como metodologia a observação participante e a etnografia. Considerações serão
feitas para uma busca de uma metodologia adequada nesse sentido, relacionando as áreas de
etnobotânica e lingüística, tendo em vista estudos recentes realizados pelas autoras.
Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Universidade do
Estado deSão Paulo, Comunidade Juruna, LINBRA.
Etnobotânica e resgate da cultura alimentar Xavante, Mato Grosso
Carlos E. A. Coimbra Jr. (Fundação Oswaldo Cruz) e James R. Welch (Fundação Oswaldo Cruz).
Contato: [email protected].
O povo Xavante habita uma região coberta por extensos cerrados no centro-leste de Mato
Grosso, onde abunda grande diversidade de alimentos vegetais. A utilização desses recursos
pelos Xavante segue um padrão sazonal, por vezes implicando na organização de grupos de
coleta que podem durar um ou vários dias, cobrindo distintas paisagens do território (cerrados
propriamente ditos, campos, matas de galeria, etc.). Historicamente, face à importância dos
produtos vegetais silvestres em sua alimentação, os Xavante chegaram a ser caracterizados na
literatura antropológica como sendo “caçador-coletores” com agricultura “incipiente”, apesar
de evidências que falam a favor da sofisticação de suas técnicas agrícolas. No presente, os
Xavante atravessam uma fase de profundas mudanças socioeconômicas, com impactos sobre
sua nutrição e saúde geral. Nesta apresentação introduziremos, em linhas gerais, a diversidade
de alimentos vegetais silvestres utilizados pelos Xavante, segundo informações que nos foram
75
fornecidas por informantes de ambos os sexos e diversos grupos de idade, por ocasião da
realização de levantamento ambiental para subsidiar processo de demarcação de terra indígena
desta etnia na região do Rio das Mortes, entre 2009 e 2010. Ênfase será dada aos principais
táxons botânicos, às partes das plantas utilizadas na alimentação e, quando possível, forma de
consumo. Dentre as famílias botânicas com maior diversidade de espécies de interesse na
alimentação, destacam-se as Arecaceae (10 espécies) e Fabaceae (cinco espécies). A família
Dioscoreaceae, com pelo menos 12 espécies nomeadas pelos Xavante, é de destaque na
alimentação, assim como outros raízes e tubérculos não identificadas. O conhecimento acerca
desse grupo de plantas é de domínio das mulheres. No presente, os Xavante encontram-se sob
a pressão de mudanças socioeconômicas, com impactos sobre sua ecologia, alimentação e
saúde. No bojo dessas mudanças, novas doenças vêm surgindo, como obesidade, diabetes
mellitus e hipertensão arterial, em decorrência de mudanças verificadas em seus padrões
dietéticos e de atividade física. A erosão de conhecimentos tradicionais sobre os alimentos
vegetais do cerrado constitui real ameaça para os Xavante, considerando-se que os
conhecimentos sobre plantas alimentares, sua ocorrência na paisagem e época de coleta são
passados dos mais velhos para os jovens por meio de tradição oral. Esta pesquisa está tendo
continuidade e objetiva estabelecer pontes para o diálogo com os diferentes setores da
comunidade, com vistas a promover a valorização dos alimentos tradicionais juntos aos jovens
e ampliar a discussão sobre comportamentos e práticas alimentares que minimizem os impactos
da transição nutricional na população.
Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Museu do
Índio/FUNAI.
Etnoespécies de plantas rituais panamazônicas no nordeste brasileiro
Ricardo Monteles. Contato: [email protected].
Da flora nativa de uso ritual, talvez as espécies que mais têm despertado o interesse
psiconáutico, embora não necessariamente acadêmico no Brasil, sejam as espécies
panamazônicas do chamado ‘complexo da Ayahuasca’. Este trabalho teve como objetivo
identificar as etnoespécies e descrever as principais práticas de manejo e domesticação do cipó
jagube (Banisteriopsis caapi Morton) e da folha chacrona (Psychotria viridis Ruiz & Pav.) na ilha
de São Luís, Maranhão, entre adeptos de duas igrejas do Santo Daime e de um centro espiritual
de estudos da Ayahuasca. Através de observação participante e experiencial, além de conversas
informais sobre/nos plantios ao longo do presente ano, registrou-se a utilização preferencial de
espécies arbóreas nativas (Anacardium occidentale L. e Byrsonima spp.) para sombreamento da
chacrona e como tutor vivo no estabelecimento vertical do cipó. Foram identificadas cinco
etnoespécies de chacrona por listagem livre: cabôca, caboquinha, amazonense, rainha branca e
orelha-de-onça, esta última menos observada nos preparos rituais ou feitios da bebida. Foram
reconhecidas quatro etnoespécies de jagube, sendo elas: caupuri, cabi, ourinho e tucunacá. As
duas primeiras são as mais disseminadas dentre os grupos estudados, podendo indicar melhor
desempenho adaptativo em relação às demais variedades no contexto ecológico regional ou
ainda, concentrações mais elevadas dos princípios ativos das plantas – as beta-carbolinas
harmala e harmalina. Registra-se a expansão recente do uso destas plantas entre grupos
urbanos e consequentemente, sua ampliação biogeográfica. Considerando a diversidade de
usos e manejos observada durante os trabalhos de campo, é expressiva a presença deste
quantitativo de variedades de ‘cipó’ e ‘folha’, quando se compara a outras localidades urbanas
76
no nordeste brasileiro. A expansão do uso desta bebida sacramental nos centros urbanos pode
estar contribuindo para o estabelecimento e etnoconservação destas espécies para além das
fronteiras amazônicas, o que do ponto de vista biogeográfico abre novas possibilidades
interpretativas sobre usos, manejos e domesticação de plantas utilizadas em contexto ritual.
Sugere-se o desenvolvimento de pesquisas sobre os saberes e práticas de distintos grupos que
lidam com a Ayahuasca, no sentido de contribuir com a discussão de questões etnobotânicas e
biogeográficas ainda não resolvidas, assim como para a prospecção de novos agentes
terapêuticos na farmacopeia brasileira.
Agradece-se ao Colun-UFMA.
Etnoveterinária: uma análise sobre versatilidade e redundância das espécies vegetais em
uma comunidade rural do extremo oeste baiano
Juliane Souza Luiz Hora (Universidade do Estado da Bahia), Patrícia Muniz de Medeiros
(Universidade Federak do Oeste Baiano) e Viviany Teixeira do Nascimento (Universidade do
Estado da Bahia). Contato: [email protected].
Em um sistema médico local, podem existir espécies que atendam a vários alvos terapêuticos,
sendo consideradas versáteis, como também ocorrem espécies usadas tradicionalmente para
funções semelhantes, sendo redundantes em relação às indicações de uso. Nesta conjuntura,
percebeu-se uma carência de estudos no Cerrado relativos ao conhecimento sobre espécies
utilizadas nos animais, tantos os de pastagem como os domésticos. Diante disso, o presente
estudo objetivou identificar as espécies etnoveterinárias mais versáteis e redundantes dentro
da comunidade do Sucruiú, Barreiras, Bahia, para isto, os dados foram coletados por meio de
entrevistas semi-estruturadas e analisados utilizando uma simplificação da Análise da
Importância Relativa e pelo Mvsp (análise multivariada). O universo amostral é de 27
informantes presentes na comunidade, mas apenas 21 relataram adquirir informações sobre
plantas medicinais utilizadas em animais. O informantes são indivíduos acima de 18 anos,
divididos em 9 mulheres e 12 homens, foram registradas 23 etnospécies, tendo sido apenas 9
identificadas a nível de espécie até o momento, das quais se destacaram em relação à
Importância Relativa: Pra-tudo (não identificada) (1,0); Sucupira (Pterodon pubescens Benth.)
(0,7); Barbatimão (Dimorphandra mollis Benth.) (0,5); Camaçari (Terminalia fagifolia Benth.)
(0,4); Ameixa (não identificada) (0,3); Batata de pulga (não identificada) (0,75); Buriti (Mauritia
flexuosa L.) (0,3); Geriroba (não identificada) (0,3); Mastruz (Chenopodium ambroisoides L.) (0,3)
e Pau d’ óleo (não identificada) (0,3). Dentro da análise, dez grupos de etnoespécies
redundantes foram levantados, tendo: Pacari/Ameixa (100%), Camaçari/Ameixa (70%),
Mastruz/Camaçari (70%), como os 3 principais. Os resultados das análises mostraram que,
algumas das espécies redundantes correspondem aquelas com maior versatilidade, pelo fato de
que, ao atender a vários alvos terapêuticos, a sua utilização torna-se similar a de outras espécies
da comunidade que atendem a apenas uma indicação terapêutica.
Agradece-se à Fundação de Amparo a Pesquisa no Estado da Bahia (FAPESB) por ter concedido a bolsa ao
primeiro autor. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo
Comitê de Ética da Universidade do Estado da Bahia (Parecer nº 343.778).
77
Fatores que interferem no uso diferencial dos alimentos funcionais por especialistas locais
da Chapada Diamantina
Karina Ferreira Figueiredo (Universidade Federal do Oeste da Bahia), Viviany Nascimento
(Universidade Estadual da Bahia), Ana Maria Mapeli (Universidade Federal do Oeste da Bahia) e
Patrícia Muniz de Medeiros (Universidade Federal do Oeste da Bahia). Contato:
[email protected].
Atualmente, os alimentos funcionais têm obtido destaque em diversas áreas de pesquisa, a
exemplo da farmácia, da ciência dos alimentos e da etnobotânica. Estes garantem tanto os
benefícios nutricionais, semelhantes aos alimentos comuns, como também possuem
propriedades medicinais, capazes de combater e prevenir doenças. Entretanto, ainda não há
estudos na etnobotânica que testem os fatores que interferem no uso diferencial desses
alimentos, ou seja, o maior uso de algumas espécies em detrimento de outras. Assim, esse
trabalho teve como objetivo a análise da interferência de seis variáveis na escolha dos alimentos
funcionais (sabor, potencial nutricional, cheiro, valor medicinal, disponibilidade da parte da
planta de interesse e tempo para aquisição). O estudo foi desenvolvido a partir dos dados
coletados do inventário etnobotânico realizado com os especialistas locais nativos do Vale do
Capão, Chapada Diamantina. A seleção dos informantes para o estudo foi feita por meio do
método “bola de neve”. Com cada informante foram realizadas listas livres relativas aos
alimentos funcionais, pelas quais as pessoas foram estimuladas a ordenar as plantas quanto ao
maior uso, melhor sabor, maior potencial nutricional, melhor propriedade medicinal, melhor
cheiro, maior disponibilidade e menor tempo de aquisição da parte de interesse após plantio.
Usou-se nas análises estatísticas o modelo linear generalizado (GLM) para testar a relação entre
as variáveis independentes e o ranking médio de uso (variável dependente). Foram retiradas do
modelo as variáveis independentes de alta correlação com outras variáveis independentes,
ficando as que apresentaram o maior poder explicativo. Também foi calculado o índice de
saliência das 58 espécies citadas nas listas, no qual S=Nx/(Rx*Nt) (número de pessoas que
mencionou a planta x dividido pelo produto do ranking médio dessa planta pelo número total
de entrevistados). A bola de neve abrangeu um total 14 informantes. As cinco espécies que se
destacaram quanto ao índice de saliência foram: Anredera baselloides (Kunth) Baill. (Quiabinho;
folha) e Ipomoea sp. (Batata da Serra; tubérculo) com o mesmo valor de saliência = 0,113;
Micranthocereus purpureus (Gürke) F. Ritter (Xique-xique; cladódio) = 0,111; Pothomorphe
umbellata (L.) Miq. (Capeba; folha) = 0,109 e Passiflora edulis Sims (Maracujina; fruto) = 0,107.
Os principais usos medicinais atribuídos aos alimentos funcionais foram: garantir sustância (43
citações), melhor funcionamento do intestino (42), poder calmante (21), problemas estomacais
(14) e problemas do fígado (11). Todas as variáveis se correlacionam com o ranking de uso
(p<0,05), mas o GLM manteve apenas sabor e potencial nutricional como variáveis explicativas,
O poder explicativo dessas variáveis juntamente com as outras variáveis é de 59% (R2 =0,59),
contudo, essas duas variáveis juntas possuem o poder explicativo de 53% (R²=0,53). Com os
dados obtidos pelo GLM, pode-se concluir que as principais variáveis na seleção de alimentos
funcionais foram o sabor e o potencial nutricional, ou seja, os aspectos mais diretamente
relacionados ao ato de alimentar-se. Outros atributos teriam, portanto, influência secundária
no uso diferencial de alimentos funcionais.
Agradece-se à Universidade Federal do Oeste da Bahia e Universidade Rural de Pernambuco pela ajuda
na realização da pesquisa e a instituição de formento Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq).
78
Gênero e conhecimento sobre plantas antimaláricas em Barcelos, Amazonas.
Bernardo Tomchinsky (Universidade Estadual Paulista) e Lin Chau Ming (Universidade Estadual
Paulista). Contato: [email protected].
A malária persiste como a principal doença parasitária do mundo, ameaçando um terço da
população mundial e causando a morte direta de mais de um milhão de pessoas todos os anos.
No Brasil a região mais afetada pela doença é a amazônia onde a população aprendeu a conviver
com a doença a partir dos recursos naturais disponíveis. Apesar dos tratamentos farmacêuticos
existentes a doença tem apresentado resistência aos principais compostos utilizados o que
aumenta a necessidade pela descoberta de novos fármacos. Estudos etnobotânico são uma
importante ferramenta para a descoberta de novas drogas, porem nestes tipos de trabalho é
necessário compreender como a doença é compreendida pelo grupo estudado, pois a percepção
pode variar de acordo com sua organização, aspectos culturais e o papel de cada individuo neste
grupo, inclusive considerando possíveis diferenças de gênero entre os entrevistados. O objetivo
deste trabalho foi compreender de que forma a questão de gênero dos entrevistados pode
influenciar sobre o conhecimento das plantas medicinais antimaláricas. Foram entrevistados 52
pessoas reconhecidas localmente como conhecedoras sobre o uso de plantas medicinais em
sete comunidades da região de Barcelos, Amazonas, indicadas através da metodologia bola de
neve. Deste total de colaboradores, 18 eram mulheres e 34 homens, entretanto esta proporção
variou muito entre as diferentes comunidades visitadas, provavelmente de acordo com a
organização de cada comunidade e o papel das mulheres em cada comunidade, nas
comunidades onde a liderança era uma mulher foram entrevistadas mais mulheres do que
homens. Ao todo foram indicadas 118 plantas para o tratamento da malária e de seus males
associados, enquanto as mulheres citaram em média 8,1 plantas por entrevista os homens
citaram 6,3 plantas. Em relação ao ambiente de ocorrência das plantas citadas para o
tratamento da malária e de seus males associados pelos homens, apenas 22% delas ocorrem em
quintais ou roçados enquanto 42% ocorrem nas matas, 19% em igapós e 17% em capoeiras;
enquanto das citações realizadas pelas mulheres, 54% das plantas ocorrem nos quintais, 13%
em capoeiras, 25% em matas e 7% em igapós. Estes dados evidenciam que o conhecimento
sobre o uso de plantas medicinais antimaláricas bem como o conhecimento sobre os diferentes
ambientes de ocorrência destas é diferente entre homens e mulheres em comunidades de
Barcelos, Amazonas.
Agradece-se à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O projeto de pesquisa que embasou o presente
trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Medicina de Botucatu da
Universidade Estadual Paulista sob o protocolo CEP 3425-2010. O projeto de pesquisa que embasou o
presenta trabalho também foi analisado pelo Conselho de Gestão do Patrimônio Genético Nacional
(CGEN) sob o Processo administrativo no 02000.001373/2010-11, Deliberação do CGEN no 333, de 19 de
setembro de 2012, autorização do CGEN no 111/2012.
Grupos rurais e o uso de recursos vegetais na Mata Atlântica no sul e sudeste do Brasil: uma
revisão
Karla Beatriz Lopes Baldini (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), Mariana Martins da
Costa Quinteiro (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) e Luis Mauro Sampaio Magalhães
(Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro). Contato: [email protected].
79
O conhecimento sobre a relação homem - natureza é um tema importante para compreender
os mecanismos de uso e conservação dos recursos naturais. O texto reúne dados de uma revisão
feita de artigos publicados e indexados em base de dados acessada pelo Portal CAPES. Os
objetivos são quantificar e qualificar os trabalhos publicados sobre grupos rurais na Mata
Atlântica nos últimos dez anos (2004 a 2013), através de uma revisão bibliográfica realizada no
Periódicos CAPES, e enumerar o conhecimento e uso de plantas por grupos rurais nas regiões
sudeste e sul do Brasil. Foi feita uma revisão dos artigos levantados com as seguintes palavraschave: comunidade rural/caipiras/sitiantes/pequenos agricultores - etnobotânica - paisagem Mata Atlântica feitos nas regiões sul e sudeste do Brasil. Como resultados, foram encontrados
26 artigos publicados no período de 10 anos. No Espírito Santo não houve nenhum artigo
publicado, enquanto Santa Catarina teve o maior número de trabalhos (n=09). A categoria de
uso mais estudada foi a "medicinal" (n=13). O termo mais usado para nomear o grupo estudado
foi "comunidade rural" (n=16). O número de entrevistas variou de 06 (mínimo) a 65 pessoas
(máximo), com concentração em mais de 30 entrevistas por artigo. Sobre o número de plantas
pesquisadas, identificou-se o uso de mais de 60 espécies (n=16). As áreas de estudo concentram
em regiões descritas como “dentro e/ou no entorno de Unidades de Conservação" (n=14) e
“bairros/distritos rurais” (N=12). Conclui-se que nas regiões sul e sudeste o número de artigos
publicados nos últimos dez anos sobre "rurais" é pequeno, levando-se em consideração a
presença e tamanho das áreas rurais, áreas protegidas existentes e o desenvolvimento
econômico que muda as tradições nas áreas. Nos artigos não se identificou um conceito de
"rural", que caracteriza-se o grupo. Apenas um trabalho feito no Vale do Paraíba Paulista,
descreve que a comunidade é rural pela relação que tem com a terra, com produção de
subsistência e venda do excedente, utilizando basicamente mão-de-obra familiar, e ajuda mútua
entre vizinhos e parentes nas localidades. Destaca-se a necessidade de se entender a dinâmica
dessas comunidades nos aspectos sociais e econômicos, como a mudança das atividades
econômicas, que alteram o uso da terra, com o abandono das atividades agrícolas e florestais e
a busca por serviços como caseiro ou no centro urbano. O entendimento desses aspectos é
importante na proposição de formas/regras de manejo mais sustentáveis dessas áreas e sua
influência na conservação.
Agradece-se à Universidade Federal Rural do Rio de janeiro( UFRRJ), Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Fatores que interferem nas escolhas terapêuticas dos frequentadores da feira livre de
Barreiras, Bahia
Indiria Tibolla Alexandre de Souza (Universidade Federal do Oeste da Bahia), Pablo Alves de
Souza e Souza (Universidade Federal do Oeste da Bahia), Viviany Teixeira do Nascimento
(Universidade do Estado da Bahia) e Patrícia Muniz de Medeiros (Universidade Federal do Oeste
da Bahia). Contato: [email protected].
A feira livre de um município é a representação de um espaço sociobiodiverso, pois nela é
possível perceber a reprodução cultural, biológica e econômica de uma região. O presente
trabalho foi realizado com os frequentadores da Feira livre de Barreiras, BA, e teve como
objetivo verificar se os fatores gênero, idade e quantidade de plantas compradas, ida ao posto
de saúde e doença interferem nas escolhas terapêuticas de quem frequenta a feira livre. Assim,
foi utilizada uma amostragem ocasional, com dias, semanas e turnos intercalados
80
(matutino/vespertino), levando a um total de 200 entrevistados. A entrevista consistia em obter
informações sobre idade, sexo, local de residência, plantas compradas e suas utilidades e um
recall terapêutico das doenças tidas pelos frequentadores no ultimo ano, acompanhado da sua
ida ou não ao posto de saúde, sua forma de tratamento (uso de plantas/alopáticos, ou ambos)
e a sequencia que se deu este uso. Foi utilizado um modelo linear generalizado (GLM) para
verificar a influencia das variáveis gênero, idade e quantidade de plantas compradas no
percentual de escolha de plantas x alopáticos e de priorização por plantas x alopáticos. Um QuiQuadrado em tabela de contingência foi empregado para verificar se a ida ao posto de saúde e
o tipo de doença apresentavam alguma influencia na escolha e priorização por elementos
terapêuticos. Deste modo observou-se que dos frequentadores entrevistados, 14,4% escolhem
principalmente o uso por alopáticos, 10,1% escolhem o uso por plantas e 75,5% fazem uso de
ambos, caracterizando um sistema médico plural. Notou-se também que destes
frequentadores, 62,4% priorizam o uso de alopáticos, seguidos de 37,6% que priorizam o uso de
plantas. Foi observado que os fatores gênero, idade e número de plantas compradas não
explicam as escolhas terapêuticas dos frequentadores da feira (p > 0,05). O que melhor explica
as escolhas terapêuticas dos mesmos é a ida ao posto de saúde local (p < 0,05) e o tipo da doença
apresentada (p < 0,05). Desse modo, conclui-se que aspectos de saúde pública (ida ao posto e
tipo de doença) demonstraram ter uma maior interferência nas escolhas terapêuticas dos
frequentadores da feira do que aspectos socioeconômicos propriamente ditos.
Agradece-se a Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), por apoiar as pesquisas no Centro das
Ciências Biológicas e da Saúde, aos colaboradores desta produção científica, em especial a orientadora
Patrícia M. de Medeiros.
Fatores que interferem nas escolhas terapêuticas: uma análise com usuários do Sistema
Único de Saúde em Barreiras, Bahia
Giuliana Maria Gabancho Barrenechea Bueno (Universidade Federal do Oeste da Bahia), Viviany
Teixeira do Nascimento (Universidade do Estado da Bahia) e Patricia Muniz Medeiros
(Universidade Federal do Oeste da Bahia). Contato: [email protected].
Poucos estudos tentam entender o que faz as pessoas de áreas urbanas optarem por diferentes
elementos terapêuticos. Assim, o objetivo deste trabalho foi identificar os fatores que
interferem nas escolhas terapêuticas dos frequentadores de um posto de saúde no município
de Barreira, Bahia. Foi realizada uma amostragem ocasional, levando a 211 entrevistas. Tais
entrevistas foram baseadas em um recall terapêutico, por meio do qual as pessoas foram
estimuladas a indicar (1) os eventos de adoecimento que as acometeram no último ano, (2) se
recorreram ao sistema oficial de saúde, (3) o que empregaram na cura (plantas, alopáticos ou
ambos) e (4) que elemento foi priorizado (usado em primeiro lugar). Um teste G em tabela de
contingência foi empregado para testar (1) se a necessidade de recorrer ao sistema oficial de
saúde interfere nas escolhas terapêuticas e na priorização por elementos e (2) se a doença pela
qual as pessoas foram acometidas interfere na escolha e priorização por elementos. Também
foi usado um modelo linear generalizado (GLM) com o objetivo de analisar a influencia de
variáveis categóricas e quantitativas no percentual de priorização de plantas dos entrevistados.
As variáveis explicativas testadas foram idade, tempo de residência, renda, escolaridade,
gênero, estado civil, religião e presença de filhos. A visita a um posto de saúde, clínica ou hospital
leva proporcionalmente à maior escolha e priorização por alopáticos (p < 0,01). A doença
interferiu na escolha terapêutica (p < 0,001), mas não interferiu na priorização (p > 0,05). A
escolaridade, o estado civil e a presença ou não de filhos interferem no percentual de priorização
81
de plantas entre os entrevistados (R²=0,37 para o modelo com as três variáveis; p < 0,05). Desse
modo, pessoas casadas e divorciadas tendem a priorizar mais o uso de plantas medicinais do
que pessoas solteiras e viúvas. Pessoas com filhos e pessoas menos instruídas também tendem
a priorizar mais o uso de plantas medicinais. Observa-se com esse estudo, que são muitas as
variáveis que interferem nas escolhas terapêuticas da população, variáveis estas relacionadas
ao perfil socioeconômico e a questões de saúde pública.
Agradece-se à professora Dra. Patricia Muniz.
Influência dos fatores socioeconomicos no conhecimento de plantas medicinais em uma
comunidade do Cerrado do oeste da Bahia, nordeste do Brasil
Luana Silva Porto (Universidade do Estado da Bahia), Patricia Muniz de Medeiros (Universidade
Federal do Oeste da Bahia) e Viviany Teixeira do Nascimento (Universidade do Estado da Bahia).
Contato: [email protected].
Em geral, o conhecimento acerca dos recursos vegetais medicinais se distribui de forma
heterogênea entre os membros de uma comunidade, sendo assim é importante saber as
variáveis que podem influenciar na distribuição de tal conhecimento. Posto isto, objetivou-se
verificar a influência de fatores socioeconômicos (idade, escolaridade e renda familiar) no
número de plantas medicinais conhecidas pelos membros da comunidade de Sucruiú, distrito
do Vau da Boa Esperança, Barreiras, Bahia. A pesquisa foi realizada entre julho de 2013 e agosto
de 2014. As técnicas utilizadas foram: lista livre, entrevista semiestruturada e turnê guiada para
a coleta do material botânico. Para a avaliação dos dados obtidos utilizou-se a Análise de
Regressão Linear Múltipla, tendo como variáveis independentes a idade, escolaridade e renda
familiar, e como variáveis dependentes o número de citações e o número de espécies
medicinais. Vinte e quatro informantes foram consultados, o levantamento resultou em 74
etnoespécies indicadas para vários fins medicinais. Os moradores encontram-se no intervalo de
19-75 anos, Praticamente toda a comunidade é alfabetizada (95,8%), porém deste percentual
56,5% possui o ensino fundamental incompleto. O que indica um grau de escolaridade muito
baixo. A renda familiar varia de no mínimo um salário e no máximo três. A idade foi o único fator
que influenciou no número de estnoespécies citadas (R²=0,31; p<0,05) bem como na quantidade
de usos mencionados (R²=0,27; p<0,05). Pelo que foi observado a idade interfere no
conhecimento dos indivíduos, sendo este maior quanto mais velha for a pessoa. Isto pode ser
explicado pelo fato das pessoas com mais idade terem contato a mais tempo com os recursos
vegetais disponíveis na localidade e também por serem mais vulnerais a doenças, devido a
fragilidade que a idade acomete.
Agradece-se aos moradores da comunidade Sucruiú e aos integrantes do grupo de pesquisa pela
disponibilidade e contribuições. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) pelo apoio financeiro.
Levantamento de espécies lenhosas conhecidas, usadas e preferidas como combustíveis no
Assentamento Rendeiras em Girau do Ponciano, Alagoas
82
Cledson dos Santos Magalhães (Universidade Federal de Alagoas), Marcelo Alves Ramos
(Universidade de Pernambuco), Henrique Costa Hermenegildo da Silva (Professor da
Universidade Federal de Alagoas). Contato: [email protected].
Este trabalho objetivou realizar um levantamento das espécies lenhosas conhecidas e usadas
como combustível (lenha e/ou carvão) num assentamento do Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra denominado Complexo Dom Helder Câmara, localizado no município de Girau
do Ponciano, microrregião de Arapiraca, região agreste do estado de Alagoas. A região é
caracterizada como caatinga do tipo xerófila e clima semi-árido quente, e dentre as agrovilas
existentes, esta pesquisa se deteve à Sete Casas, por apresentar maior dimensão territorial e
uma vegetação adjacente. Este trabalho foi divido em duas etapas: a) todas as residências foram
visitadas (75 casas habitadas) e através de formulários semi-estruturados o morador presente
na visita era entrevistado com questionário socioeconômico; b) Seleção de casas que utilizavam
combustíveis de origem florestal às quais seus moradores foram questionados sobre as plantas
conhecidas e usadas para tais fins e nesse momento houve análise do peso dos estoques de
lenha através da técnica de weight survey. Analisaram-se as espécies culturalmente mais
importantes através da análise de Saliência pelo software Anthropac. Na agrovila em questão,
24 residências utilizavam combustíveis de origem vegetal para uso doméstico, entretanto,
somente quatro dependiam deste como fonte única e o restante fazia associações com gás
natural. A melhor época de coleta foi o verão, embora as respostas tenham variado entre verão
e inverno. Quanto ao uso de carvão vegetal, responderam que o utilizavam e que a maior parte
era adquirida por compra, tendo cinco relatos de produção de carvão na área estudada. Foram
citadas 15 espécies vegetais utilizadas como combustíveis, sendo todas identificadas. Aquelas
mais comumente utilizadas para lenha e seus respectivos valores de saliência são catingueira
(Poincianella pyramidalis (Tul.) L.P.Queiroz) 0,767; marmeleiro (Croton blanchetianus Baill.)
0,473; e jurema (Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir.) 0,374. As espécies mais utilizadas para carvão
são Catingueira 0,738 e Jurema 0,379. A verificação de estoques, demonstrou que são utilizados
cotidianamente de 8,25 à 15 kg de lenha por residência. Portanto a utilização de lenha e carvão
torna-se imprescindível na comunidade estudada, pois fornece subsídios para sua manutenção
e desenvolvimento.
Agradece-se aos moradores do Assentamento Rendeiras e também ao Centro de Recuperação de Áreas
Degradadas do Baixo São Francisco pelo apoio concedido para execução desta pesquisa. O projeto foi
aprovado pelo Comitê de Ética do CESMAC sob protocolo 1377/12.
Levantamento etnobotânico de plantas medicinais utilizadas por moradores do bairro
Baixão, zona urbana de Arapiraca, Alagoas
Priscilla Cavalcante Rocha (Universidade Estadual de Alagoas) e Edijane Silva Barbosa
(Universidade Estadual de Alagoas). Contato: [email protected].
O uso de plantas medicinais no Brasil é bastante comum, apresentando uma acentuada
diversidade em plantas espalhadas por diferentes estados, tendo uma grande importância para
as comunidades. Em Arapiraca a prática não é diferente, o município está localizado na área
central do Estado de Alagoas, apresenta clima tropical chuvoso com verão seco, onde a
comercialização de plantas medicinais em mercados públicos, feiras e lojas são bastante
comuns, grande parte dos moradores cultiva em seus quintais mudas e utilizam para várias
enfermidades. O presente trabalho teve como objetivo investigar quais as espécies de plantas
medicinais cultivadas nos quintais das casas no Bairro Baixão, localizado no município de
83
Arapiraca, Alagoas. A pesquisa foi realizada entre julho de 2013 a agosto de 2014, a coleta de
dados foi realizada através da aplicação de entrevistas estruturadas e visitas periódicas em 12
casas, com o intuito de obter informações sobre quais plantas são cultivadas pelos moradores e
como os mesmos adquiriram os conhecimentos sobre a utilização das plantas medicinais. Foram
entrevistados 12 moradores, sendo 10 do sexo feminino e dois do sexo masculino, com faixa
etária entre 42 e 82 anos. Foram citadas ao todo 15 espécies usadas para fins medicinais sendo
as mais comuns entre o conhecimento tradicional dos informantes Cymbopogon citratus (DC.)
Stapf, capim santo indicado como calmante, hipertensão e analgésico; Lippia alba (Mill.) N. E.
Brown, erva cidreira anti-inflamatória e analgésico; Alpinia speciosa Schum, colônia diurética e
hipertensão; Mentha x villosa Huds, hortelã miúda é anestésico, infecções respiratórias,
náuseas, tosse e bronquite; Chenopodium ambrosioides L., mastruz é utilizada para parasitas
intestinais, gripe e gastrite: Phyllanthus sp., quebra-pedra para pedra nos rins, diurético, fígado
e úlceras. Observou-se que apesar de se tratar de um bairro localizado na zona urbana, o
conhecimento sobre a utilização de plantas medicinais para fins terapêuticos está presente, os
quais foram adquiridos através dos mais velhos para os mais jovens, onde há o costume de
cultivar nos quintais das casas espécies simples e que tenha um manejo fácil.
Agradece-se aos moradores do Bairro Baixão só agradecimentos ao acolhimento e disponibilidade
durante o período da pesquisa.
Macaúba: entre a feira e os quintais de Jaboticatubas
Luana do Carmo Araujo de Oliveira (Universidade Federal de Minas Gerais), Maria Auxiliadora
Drumond (Universidade Federal de Minas Gerais), Lorena Cristina Lana Pinto (Universidade
Federal de Minas Gerais) e Emmanuel Duarte Almada (Universidade Estadual de Minas Gerais).
Contato: [email protected].
As feiras livres são alternativas para a comercialização de produtos da agricultura familiar,
favorecendo a economia local, popular e solidária. Ao mesmo tempo, a comercialização de
produtos tradicionais está ligada a circulação dos saberes associados as práticas agroecológicas
comunitárias. Esses espaços permitem ainda o resgate das dimensões sócio-históricas e
culturais dos alimentos tradicionais frente a crescente urbanização dos modos de vida. A
presente pesquisa teve como objetivo principal investigar o papel do extrativismo vegetal na
composição dos produtos comercializados por comunidades rurais em uma feira agroecológica
em Jaboticatubas, Minas Gerais, a Feira Agroecológica Raízes do Campo. Entrevistas semiestruturadas com os 17 feirantes foram realizadas para o levantamento das espécies dos
agroecossistemas comercializadas, especialmente as espécies do Cerrado, bem como os saberes
ecológicos a elas associadas. Também foram realizadas observações diretas nas propriedades
rurais para melhor identificação das espécies e acompanhamento da feitura artesanal de alguns
produtos. Ao todo foram registradas 91 espécies de plantas comercializadas na feira, sendo 9
destas de origem do extrativismo no Cerrado. Das plantas do Cerrado, a palmeira macaúba,
Acrocomia aculeata (lacq) Lood. ex Mart, apresentou destaque na diversidade de usos e
produtos. Segundo os feirantes “do coco você aproveita tudo, não joga nada fora”. As folhas são
utilizadas na fabricação de esteiras e vassouras. O epicarpo é moído e processado na forma de
“torta”, utilizada como ração para os animais. O mesocarpo é prensado e dele se extrai o
“azeite” usado na produção do sabão. O azeite também tem uso medicinal para dor, torção e
reumatismo. A casca da castanha (endocarpo) é usada como lenha e suas cinzas integram o
processo tradicional de produção de sabão “decoada”. Já da castanha (endosperma) se faz o
84
óleo usado na alimentação. O processo artesanal de beneficiamento do coco é muitas vezes
realizado de forma coletiva entre familiares e vizinhos, sendo que frequentemente as mulheres
se reúnem para quebrar os cocos. Nossos resultados indicam que a feira representa um
importante espaço de circulação dos produtos do extrativismo bem como dos saberes a eles
associados, sendo A. aculeata a espécie de maior importância cultural e econômica.
Agradece-se aos feirantes que solicitamente participaram da pesquisa e nos acolheram em suas casas, a
AMANU, especialmente a Daya, Luiz e Filipe pela imensa colaboração e parceria.
Malária: saliência dos sintomas e uso de plantas medicinais tradicionais
Bernardo Tomchinsky (Universidade Estadual Paulista) e Lin Chau Minga (Universidade Estadual
Paulista). Contato: [email protected].
A malária persiste como uma das doenças parasitarias com maior impacto em todo o mundo
ameaçando um terço da população mundial e causando a morte direta de mais de um milhão
de pessoas todos os anos. No Brasil a região amazônica é a mais afetada, onde as populações
aprenderam a conviver com a doença a partir do uso dos recursos naturais disponíveis. Apesar
dos tratamentos farmacêuticos existentes a malária tem apresentado cada vez mais resistência
aos medicamentos disponíveis e estudos etnobotânicos são alternativas eficientes para
prospectar novas substâncias ativas para o tratamento da doença. O objetivo deste trabalho foi
procurar entender de que forma a compreensão sobre a malária e seus sintomas pode
influenciar no uso de medicamentos tradicionais. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 52 pessoas de sete comunidades do Município de Barcelos, Amazonas,
indicadas localmente por serem reconhecidas como detentoras de conhecimento sobre o uso
de plantas medicinais. As plantas indicadas foram coletadas e depositadas no herbário EAFMIFAM de Manaus. Os principais sintomas da malária descritos pelos entrevistados foram febres
(90%), dores-no-corpo (68%), dores de cabeça (56%), anemia (37%), problemas no fígado (36%),
vômitos (17%), diarreia (10%) e menos frequentemente mal estar, inapetência e inflamações. A
intensidade e a persistência de cada sintoma varia, enquanto alguns ocorrem apenas durante as
crises da doença (febres, dores de cabeça, diarreia, vômitos, e dores no corpo), outros persistem
por um período mais longo deixando sequelas (anemia, problemas no fígado, fraqueza), além
disto alguns destes sintomas também podem ser relacionados a outras doenças (febres, fígado,
diarreia) e por isto são recorrentes na população mesmo sem a incidência da malária. Foram
indicadas ao todo 118 espécies vegetais para o tratamento da malária e de seus males
associados, das quais 58 especificamente para a malária, 51 para o tratamento do fígado, 27
para o tratamento de febres, 17 para anemia, 15 para dores-de-cabeça, 14 anti-inflamatórias e
três plantas para dores-no-corpo. A partir destas informações, é possível considerar que a
relação entre o número de espécies medicinais conhecidas para o tratamento de cada sintoma
da malária é complexa e que somente a saliência de cada sintoma não explica a quantidade de
espécies conhecidas para cada tratamento.
Agradece-se à FAPESP e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O
projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da
Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista sob o protocolo CEP 3425-2010. O
projeto de pesquisa que embasou o presenta trabalho também foi analisado pelo Conselho de Gestão do
Patrimônio Genético Nacional (CGEN) sob o Processo administrativo no 02000.001373/2010-11,
Deliberação do CGEN no 333, de 19 de setembro de 2012, autorização do CGEN no 111/2012.
85
Mapeamento participativo como ferramenta de conexão entre demandas comunitárias e a
pesquisa etnobotânica: estudo de caso em comunidades quilombolas do litoral e Santa
Catarina, Brasil
Julia Vieira da Cunha Avila (Universidade Federal de Santa Catarina) e Natália Hanazaki
(Universidade Federal de Santa Catarina). Contato: [email protected].
Atualmente doze comunidades possuem certificação da Fundação Palmares como Quilombolas
em Santa Catarina. Entretanto, até o presente momento apenas a comunidade Invernada dos
Negros possui a titulação de algumas terras pelo Instituto Nacional de Colonizacao e Reforma
Agraria (INCRA). Para subsidiar tais discussões, o objetivo desse trabalho é realizar um estudo
etnobotânico das plantas conhecidas e utilizadas em três comunidades quilombolas: Morro do
Fortunato e Aldeia, Garopaba, e Santa Cruz, Paulo Lopes, identificando áreas onde seus
moradores obtêm esses recursos vegetais, dentro e fora do que atualmente consideram como
seu território, a fim de apontar áreas prioritárias de obtenção de tais recursos. Todos os
quilombolas adultos, maiores de 18 anos, que aceitaram participar da pesquisa, foram
entrevistados, sobre aspectos socioeconômicos e sobre plantas conhecidas e usadas. Turnês
guiadas e coletas botânicas permitiriam a identificação das plantas citadas. Mapeamentos com
base em imagens de satélite, em reuniões participativas, permitiram identificar em cada uma
das comunidades os locais de obtenção das plantas e de criação dos animais que também delas
se alimentam: áreas de mata nativa, roças, pastos, terrenos baldios, restinga e banhado. A partir
de 63 entrevistas no Morro do Fortunato, 65 na Aldeia e 56 na Toca, foram identificadas 187,
256 e 151 plantas respectivamente. A maioria das espécies são obtidas nos quintais (62%),
seguidos dos mercados ou feiras (34%) e áreas de mata (7%), sendo menos representativa a
coleta em outros locais. Combinando dados de entrevistas com o mapeamento identificamos
que para as três comunidades a maior parte das pessoas obtém recursos vegetais em áreas
dentro do que consideram seu território. Porém, áreas que extrapolam o que consideram ser
seu território são também acessadas para perpetuação de práticas tradicionais, principalmente
nas comunidades Aldeia e Toca, cujas localizações se dão em ambiente mais urbanizado. Na
comunidade Aldeia, cuja área sofre forte especulação imobiliária, há a produção de roças e
criação de animais em terrenos arrendados. Espera-se que a partir dessa pesquisa as
comunidades tenham um melhor panorama dos locais mais importantes para manutenção de
suas práticas culturais ao longo do tempo, bem como tenham uma maior clareza na organização
espacial dessas áreas, processo que pode contribuir no empoderamento comunitário e para que
a futura demarcação de seus territórios contribua para continuidade de traços culturais próprios
desses grupos.
Agradece-se às Comunidades Quilombolas Morro do Fortunato, Toca e Aldeia, aos ajudantes de campo,
ao Gaia Village , Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao Programa
de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Federal de Santa Catarina. O projeto de pesquisa que
embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética de Pesquisa com Seres
Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina sobo número 18847013.0.0000.0121. O projeto de
pesquisa que embasou o presente trabalho também foi analisado e aprovado pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) recebendo autorização de Acesso ao Conhecimento Tradicional
Associado pela autorização 03/2014, referente ao Processo nº: 01450.012607/2013-20
86
O saber local e a agricultura familiar na Comunidade-Açu, Mato Grosso, Brasil
Gisele Soares Dias Duarte (Universidade Federal de Mato Grosso), Karina Gondolo Gonçalves
(Universidade Federal de Mato Grosso) e Maria Corette Pasa (Universidade Federal de Mato
Grosso). Contato: [email protected].
O conhecimento das plantas por uma comunidade faz parte da sua cultura e é transmitido entre
os pares sociais, por isso encontra-se relacionado com sua história de vida. Objetivou-se neste
trabalho catalogar, sistematizar e analisar, de forma integrada, o conhecimento dos moradores
rurais da comunidade de Conceição-Açu, Mato Grosso. As coletas foram realizadas em 2013,
através das técnicas de entrevista semiestruturada, observação direta, registro fotográfico e
turnê guiada, após o Consentimento Livre Esclarecido assinado pelas pessoas locais. As
principais atividades econômicas são a agricultura de subsistência, a fabricação de farinha de
mandioca, a pesca e a caça, todas para o consumo familiar. Entre os entrevistados, o número
mínimo de explorações agrícolas é de 3 (mandioca, mamão e banana) e o máximo 7 (feijão,
milho, mandioca, banana, mamão, melancia e cana de açúcar), Apenas 15% dos entrevistados
se dispõem ainda a plantar o milho e o feijão e, 10% plantam o arroz, mas não em todos os anos.
Entre os produtos cultivados, a mandioca constitui o cultivo principal e caracteriza-se como uma
exploração tipicamente regional, sem fins de comercialização. Em Conceição-Açu a mesma é
cultivada por 100% dos entrevistados, seguido de outros cultivos como mamão, melancia,
laranja, etc. A expressividade do cultivo da mandioca sobre os demais ocorre, talvez, por ser um
cultivo de baixo risco e que necessita da utilização de poucos insumos para a sua produção. A
espécie mais plantada são as variedades de Manihot esculenta Crantz através de uma
distribuição aleatória na terra. O processamento doméstico da mandioca para a produção de
farinha é de pequena escala e artesanal, apenas para o consumo familiar sendo o método
tradicional o que ainda vigora entre a população local. Diante da realidade econômica na qual
vive a população de Conceição-Açu 65% das pessoas de saber local acreditam que de acordo
com sua realidade, simples e com pouca tecnologia esta ainda é a melhor opção econômica para
o momento. Com base nas observações de campo, de modo geral os moradores locais praticam
uma agricultura com elementos definidores de uma agricultura de subsistência. São
considerados tradicionais ao oferecerem resistência à prática de uma agricultura envolvida
pelos avanços da tecnologia voltados para o mundo da globalização.
Agradece-se à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela concessão de
bolsa de estudo à Gisele Soares Dias Duarte.
O uso de plantas por duas comunidades ribeirinhas em um ambiente frágil e pouco
conhecido da Amazônia, as Campinaranas: processo de substituição e identificação de
espécies em risco
Layon Oreste Demarchi (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), Maria Teresa Fernandez
Piedade (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), Veridiana Vizzoni Scudeller
(Universidade Federal do Amazonas). Contato: [email protected].
As Campinaranas são formações florestais únicas e constituem uma paisagem de exceção dentro
da Amazônia. No presente estudo foi analisado o conhecimento e uso das espécies arbóreas de
Campinarana, por duas comunidades da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Tupé, com
87
os objetivos de: 1) Identificar as espécies mais importantes das Campinaranas utilizadas pelos
comunitários; 2) Analisar se e como diferentes características sociais dos comunitários
influenciam seu conhecimento sobre as plantas; 3) Identificar as plantas que estão
desaparecendo localmente por conta da coleta excessiva. Para isso foram realizadas entrevistas
semi-estruturadas e listagens livres e atráves destas foram calculados o Valor de Uso (VU) e o
índice de Saliência Cognitiva (S) para as espécies consideradas as mais importantes (Si), e
também para as espécies consideradas em risco pelos moradores (Sr). Foram entrevistados 69
moradores que citaram a categoria Construção, seguida da Alimentar como as mais usadas,
sendo a madeira a parte da planta mais utilizada pelos moradores. As espécies que mais se
destacaram em VU foram o macucu (Aldina heterophylla Spruce ex Benth.) e o cedrinho
(Scleronema micranthum (Ducke) Ducke); para Si as espécies mais importantes foram o cedrinho
e o louro-aritú (Licaria sp.); o Sr destacou o cedrinho e o angelim (Hymenolobium modestum
Ducke). O fato das Campinaranas apresentarem escleromorfismo em diversas espécies faz com
que o uso seja direcionado a poucas espécies. Os homens citaram significativamente mais usos
nas categorias tipicamente de domínio masculino, como Construção, Tecnologia e Atração de
Caça; nas categorias Medicinal e Alimentar, onde se esperava um destaque para as mulheres,
não houve diferenças significativas entre os sexos, acredita-se que a falta de amostragem em
locais de coleta tipicamente femininos, como os quintais e capoeiras colaboraram para este
resultado. A variável que mais explicou o conhecimento dos moradores sobre as plantas foi o
tempo de residência na comunidade. Também se observou um processo de substituição de uso
das espécies, onde as espécies de Campinarana aparentam ser usadas quando outras de maior
interesse, ocorrentes em outras formações florestais sofreram significativas reduções em suas
populações. Os dados obtidos são de grande importância para identificar espécies vegetais
consideradas em risco em um ambiente frágil como as Campinaranas e para embasar estratégias
de manejo e gestão da Unidade de Conservação de uso sustentável em questão.
Agradece-se à Fapeam e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Agradeço ao grupo MAUA, a todos que participarão dos campos e principalmente aos moradores da RDS
do Tupé. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê
de Ética do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) sob o registro 213.634
Observações etnobotânicas sobre o biribá, Annona mucosa Jacq., na Amazônia Brasileira
Leonardo Kumagai (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e Charles Roland Clement
(Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia). Contato: [email protected].
O biribá, Annona mucosa Jacq., já foi considerado uma das fruteiras mais populares nos quintais
amazônicos. Seu fruto, descrito com sabor de “torta de merengue de limão”, deve ser
consumido logo após a colheita, pois escurece rapidamente com o manuseio se tornando pouco
atraente. É uma espécie considerada domesticada, dependente do manejo humano, e
possivelmente tem origem na Amazônia Ocidental. O presente estudo teve como objetivo
entender as preferências de seu cultivo por ribeirinhos na Amazônia brasileira. Visitou-se 41
comunidades nos rios Madeira, Negro e Solimões-Amazonas (01/2013 - 05/2014). Sua presença
foi contabilizada, e calculada media e desvio padrão da presença de indivíduos por comunidade.
Perguntas abertas sobre seu cultivo e suas preferencias foram feitas aos moradores presentes
no momento da pesquisa (n = 55; idade 18-88 anos). Foi registrada a presença de 312
biribazeiros. A propagação sempre é por semente; em apenas uma entrevista foi relatado o
cultivo por enxertia. Diversas mudas foram trazidas de outras localidades. Em geral foi relatada
a sua intolerância ao excesso de água e a necessidade de zelar pela planta (limpar o entorno).
88
Nas comunidades do médio rio Amazonas registrou-se de um a três indivíduos/comunidade
(2,67 ± 1,03), normalmente no quintal da matriarca/patriarca; suas frutas são consumidas
também por parentes e vizinhos. No alto Solimões a presença é maior (7 ± 4,36). Ao longo do
rio Madeira foi encontrada alta densidade (6,73 ± 4,98), presentes em quintais, roças e sítios, e
foram registrados indivíduos com mais de 88 anos cultivados em Terra Preta de Índio. No alto
rio Negro é pouco cultivado em quintais (1,67 ± 0,58), e no baixo rio Negro é presente
normalmente no quintal da matriarca e em maior frequência (6,0 ± 6,75). No baixo rio Solimões
foi registrado dois cultivos com intuito de comercialização (Coari, Amazonas). As diferentes
situações que o biribá se encontra podem ser reflexos do cultivo depender da demanda do
mercado, onde foi registrado cultivo em comunidades com acesso terrestre a centros urbanos
e também a preferencia ao cultivo de anonas mais resistentes a manuseio, como A. squamosa
e A. muricata. Conclui-se que o biribá já não é mais um dos frutos “mais populares dos quintais
amazônicos”, pois há pouca demanda de mercado, o que pode levar suas populações a declínio,
uma vez que se trata de uma planta perene de ciclo de vida curto (± 10 anos), com alta
dependência do ser humano para sobreviver.
Agradece-se à participação dos moradores das comunidades visitadas e ao apoio Fapeam 3137/2012,
CNPq 473422/2012-3. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado
pelo Comitê de Ética do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazonia sob o registro
10926212.6.0000.0006.
Os contornos sociais da propriedade intelectual etnobotânica entre os Xavante
James R. Welch (Fundação Oswaldo Cruz). Contato: [email protected].
O respeito à propriedade intelectual dos povos indígenas é central à prática ética da pesquisa
em etnobotânica e outros campos da etnobiologia. Apesar dos importantes avanços verificados
recentemente no reconhecimento e na proteção desses direitos no Brasil, pressupostos
etnocêntricos com relação à coletividade ou individualidade do conhecimento etnobiológico
resultaram em mecanismos, tais como a anuência prévia, que não necessariamente protegem
os detentores dos conhecimentos de maneira consistente com seus próprios valores culturais.
Nesta apresentação, ilustrarei este problema com exemplos de como o conhecimento
etnobiológico pode ser restrito segundo contornos sociais culturalmente específicos nas aldeias
Xavante da Terra Indígena Pimentel Barbosa, Mato Grosso. Em alguns casos, mulheres e homens
Xavante guardam em segredo conhecimentos etnobiológicos em relação uns aos outros. Em
outros, a informação etnobiológica pode ser restrita aos membros de uma dada classe de idade,
metade ou outros grupos sociais. Cada um desses grupos sociais compartilham diferentes
conteúdos etnobiológicos, indo desde o mais pragmático, como matérias-primas vegetais que
as mulheres usam para temperar a argila na confecção de cerâmica, ao esotérico, como os
materiais empregados na confecção de brincos de madeira usados pelos homens. Os integrantes
dos grupos que possuem segredos frequentemente os protegem daqueles que não pertencem
ao grupo, inclusive de membros de suas próprias casas ou aldeias, de maneira a assegurar que
o mesmo não seja roubado ou mal utilizado por outrem. O atual modelo de anuência prévia,
através do qual os pesquisadores buscam obter permissão de indivíduos e/ou comunidades
antes de acessar e publicar informação de cunho etnobotânico e etnobiológico em geral é
inconsistente com as diversas configurações de propriedade intelectual reconhecidas
internamente pela sociedade Xavante. Entre os Xavante, o acesso a cada pedaço de informação
pode requerer a permissão de uma conjunto distinto de pessoas que detém conhecimentos,
muitas vezes não conhecidas por pesquisadores até o ato de acessar o conhecimento específico.
89
A visão segundo a qual seria suficiente a obtenção antecipada das permissões protocolares pode
levar a situações em que conhecimentos ou mesmo segredos venham a público sem a devida
permissão de seus proprietários culturalmente reconhecidos. O atual modelo de anuência
prévia deve ser reconsiderado de modo a reconhecer a diversidade de princípios culturais locais
que podem estar implicados na regulação da propriedade intelectual.
Agradece-se à Fulbright-Hays Dissertation Research Abroad Program, Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e INOVA-ENSP.
Padrões de uso e consumo de fitocombustíveis em duas comunidades rurais no semiárido do
nordeste do Brasil
Fábio José Vieira (Universidade Estadual do Piauí), Washington Soares Ferreira Júnior
(Universidade Federal Rural de Pernambuco), Lucilene Lima dos Santos Vieira (Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco), Ulysses Paulino de Albuquerque
(Universidade Federal Rural de Pernambuco) e Roseli Farias Melo de Barros (Universidade
Federal do Piauí). Contato: [email protected].
O uso de fitocombustível é considerado como uma das maiores fontes geradoras de extrativismo
nas florestas tropicais. Entender como se dá o processo de uso e preferência de espécies desta
região pode dar bases para desenvolvimento de alternativas que possam atender essa demanda
de forma sustentável. O trabalho foi desenvolvido em duas comunidades rurais no semiárido
brasileiro: Juazeiro e Quilombola dos Macacos, localizadas no município de São Miguel do
Tapuio, Piauí. Os objetivos do presente trabalho foram verificar se existe diferença entre o
conhecimento, uso e preferência de espécies para fitocombustível entre e dentro das
comunidades, levando também em consideração o ambiente em que estão inseridas, bem
como, variáveis socioeconômicas envolvidas. Para isso, realizou-se entrevistas semiestruturadas
em 55 domicílios. Utilizou-se o teste não paramétrico de Wilcoxon, qui-quadrado e o teste G
(Williams) para verificar se existe diferença entre o conhecimento, uso e preferência das
espécies entre e dentro das comunidades e se há diferença entre os ambientes (caatinga e
cerrado), e análise de GLM para as variáveis socioeconômicas. Foram reportadas 57 espécies
como fitocombustível nas duas comunidades, das quais 48 são efetivamente utilizadas e 19 são
citadas como preferidas, distribuídas em 19 famílias botânicas e 46 gêneros. As duas
comunidades se diferenciam no número de espécies conhecidas como fitocombustível
(X²=4,878; p=0,0359). Os principais resultados desta investigação mostram que o ambiente não
parece ser um fator importante na seleção de plantas, uma vez que não foram encontradas
diferenças no número de espécies conhecidas entre os tipos vegetacionais (caatinga/cerrado).
Quanto ao tipo de uso (carvão ou lenha) das espécies preferidas, Macacos apresentou um maior
número de espécies preferidas no uso de carvão que Juazeiro (G=7,7098; p=0,0061). Porém, no
uso de lenha não foram encontradas diferenças significativas entre as comunidades (G=0,1113;
p=0,7453). Somente houve relação significativa entre o consumo médio diário e o número de
pessoas na residência. Esses dados são importantes para esclarecer fatores que podem interferir
na seleção e consumo de lenha, além de fornecerem direções para futuras estratégias de
conservação de espécies na região.
90
Participação comunitária em alternativas de geração de trabalho e renda na comunidade
quilombola de Pontinha, Paraopeba, Minas Gerais
Maysa Regina Gomes (Universidade Federal de Minas Gerais), Irla Paula Stopa Rodrigues
(Universidade Federal de Minas Gerais), Lídia Maria de Oliveira Moraes (Universidade Federal
de Minas Gerais), Lorena Cristina Lana Pinto (Universidade Federal de Minas Gerais), Paulina
Maia Barbosa (Universidade Federal de Minas Gerais) e Maria Auxiliadora Drumond
(Universidade Federal de Minas Gerais). Contato: [email protected]. Contato:
[email protected].
O pequi, Caryocar brasiliense Camb., é uma espécie típica do Cerrado e exerce importante
contribuição econômica e alimentar em muitas comunidades que vivem nesse bioma. Na região
central de Minas Gerais, a comunidade quilombola de Pontinha obtém sua fonte de renda a
partir da extração de minhocuçus da espécie Rhinodrilus alatus. Considerando que esta
atividade ainda não é regulamentada, foi feita uma proposta de implementação de comanejo
adaptativo do minhocuçu, onde constam, dentre outros temas, alternativas de renda para os
extrativistas. Estudos preliminares desenvolvidos em Pontinha apontam o pequi como um fruto
viável para comercialização local, uma vez que seu período de frutificação coincide com o
período de reprodução do minhocuçu, quando a extração deve ser suprimida. Embora o pequi
ainda não seja comercializado em Pontinha, a comunidade está mobilizada e considera
importante a execução de estudos que propiciem alternativas de renda e trabalho. Dentre eles,
foi desenvolvido um estudo etnobotânico e sobre os usos do pequi pela comunidade e um
estudo da produtividade C. brasiliense em Pontinha. A coleta de dados foi feita nos anos de 2013
e 2014, sendo utilizadas as ferramentas: caminhada transversal, observação participante e
entrevistas semiestruturadas com 30 comunitários. Os moradores usam o pequi na alimentação,
produção de sabão e com fins medicinais, mas anseiam utilizá-lo comercialmente para outros
produtos, como óleo, licor e doce. Segundo os entrevistados, a safra do pequi em Pontinha é de
outubro a fevereiro, sendo o pico de frutificação entre dezembro e janeiro. Informações sobre
a produtividade dos pequizeiros no ano de 2013 foram obtidas com ajuda de nove moradores,
por meio da contagem diária de todos os frutos de cada pequizeiro, caídos no chão. A mesma
metodologia foi usada na safra de 2014, com a participação de 25 moradores, sendo que quatro
deles contaram os mesmos pequizeiros da safra anterior. A produtividade em 2013 foi de 1771
frutos/ ind. e em 2014 foi de 533 frutos/ind. Essa diferença pode estar relacionada à variação
de produtividade bianual citada pelos comunitários nas entrevistas e já reportada na literatura.
Uma vez que a produtividade de pequis em Pontinha é um fator determinante para a análise da
viabilidade de seu uso comercial, este estudo será ampliado nas próximas safras.
Agradece-se à comunidade de Pontinha, à FLONA e Prefeitura Municipal de Paraopeba, ProExt/MEC,
ProEx/UFMG, Cenex ICB-UFMG, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e
PPG-ECMVS/UFMG. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado
pelo Comitê de Ética da Universidade Federal deMinas Gerais sob o registro 0388812.2005149.
Plantas de diferentes origens e hábitos ocupam distintos nichos terapêuticos? Uma análise
no oeste da Bahia
Fernanda Novais Barros (Universidade Federal do Oeste da Bahia), Camilla de Carvalho de Brito
(Universidade Federal do Oeste da Bahia), Viviany Teixeira do Nascimento (Universidade do
91
Estado da Bahia) e Patrícia Muniz de Medeiros (Universidade Federal do Oeste da Bahia).
Contato: [email protected].
Atualmente algumas hipóteses são propostas na etnobotânica a fim de discutir certos “padrões”
de coleta de recursos vegetais por seres humanos. A hipótese da aparência ecológica, por
exemplo, profere que existem diferenças referentes aos compostos secundários presentes em
plantas “aparentes” (lenhosas) e “não aparentes” (não lenhosas). Caso estas diferenças existam,
considerando que diferentes compostos teriam o potencial de tratar distintas doenças, esperarse-ia que plantas lenhosas e não lenhosas tratassem diferentes doenças. Já a hipótese de
diversificação enuncia que plantas exóticas ingressam em um sistema médico para diversificar,
do ponto de vista químico e utilitário, o repertório de plantas medicinais, e que se esperaria que
plantas nativas tratassem doenças diferentes das plantas exóticas. Diante disso, o objetivo do
referido estudo foi verificar se existe sobreposição de usos medicinais entre plantas nativas e
exóticas e entre plantas lenhosas e não lenhosas. A fim de obter dados referentes aos usos
medicinais de plantas na comunidade rural Sucruizinho, Barreiras, Bahia, um total de 24 pessoas
foram entrevistadas mediante entrevista semiestruturada, contendo questionamentos a
respeito do conhecimento e uso medicinal de plantas e suas indicações terapêuticas. A
comunidade possui uma estrutura simples, e a maioria da população sobrevive da agricultura
(subsistência e comércio de excedentes) e do extrativismo de frutos do cerrado para
comercialização na feira de Barreiras. A maioria dos habitantes está acima dos 40 anos, tendo
em vista a expressiva migração dos jovens para os grandes centros urbanos. Portanto, por meio
das informações coletadas, foi gerada, então, uma matriz multivariada binária, tendo as plantas
como objetos, e as indicações terapêuticas como descritores. Os dados foram analisados por
meio do teste estatístico ANOSIM, ora considerando a origem como indicador ora considerando
o hábito. Não houve diferenças significativas para origem, de maneira que houve alta
sobreposição de indicações terapêuticas tratadas por plantas nativas e exóticas (R=0,01;
p>0,05). O mesmo pôde ser observado para o hábito, o qual obteve uma alta sobreposição de
indicações terapêuticas entre lenhosas e não lenhosas (R=-0,01; p>0,05). Assim, conclui-se que,
plantas de diferentes origens e hábitos não ocupam nichos terapêuticos distintos, o que desafia
as premissas de ambas as hipóteses apresentadas e reforça que devem ser investigadas com
parcimônia. Análises químicas precisam ser agregadas a essa discussão.
Agradece-se Universidade Federal do Oeste da Bahia.
Plantas medicinais de uso feminino na comunidade indígena Pankararu, sertão de
Pernambuco
Paola Andrea Londoño Castañeda (Universidade Federal de Pernambuco), Carmen Marangoni
(Universidade Federal de Pernambuco), Antônio Fernando Morais de Oliveira (Universidade
Federal de Pernambuco) e Laise de Holanda Cavalcanti Andrade (Universidade Federal de
Pernambuco). Contato: [email protected].
A comunidade indígena Pankararu fica assentada no sertão de Pernambuco, em várias aldeias
distribuídas nos municípios de Petrolândia, Tacaratu e Jatobá, com uma população de
aproximadamente 5000 pessoas. Embora esse povo manteve muito contato com a sociedade
ocidental ainda conserva práticas tradicionais; o conhecimento sobre o uso das plantas para o
cuidado da saúde representa um importante aspecto cultural e de sobrevivência na tribo. O
enfoque desse estudo foi registrar a flora medicinal empregada no atendimento da saúde
92
feminina, assim como para o auxílio do nascimento, puerpério e cuidados do recém-nascido.
Foram entrevistados 46 especialistas entre parteiras, curandeiros e rezadeiros, selecionados por
meio do método da "bola de neve". Empregando-se metodologias participativas e técnicas
qualitativas e quantitativas da etnobotânica, se retratam aspectos etnofarmacológicos que
incluem os diversos usos das plantas, indicações terapêuticas, formas de preparo e emprego,
posologia e contraindicações populares. As espécies citadas foram coletadas em ambientes de
caatinga e brejo localizados nas proximidades das aldeias, exsicatas representativas das espécies
registradas foram depositadas nos hérbarios Geraldo Mariz (UFP) da UFPE e Dárdano da
Andrade-Lima do IPA e identificadas por especialistas. Foram identificadas 98 espécies
pertencentes a 50 famílias, sendo mais representativas as Anacardiaceae, Asteraceae,
Euphorbiaceae e Fabaceae. As espécies que receberam maior número de indicações de uso
foram: Hyptis mutabilis Briq., sambacaitá (49); Myracrodruon urundeuva (Allemão) Engler,
aroeira (47); Anacardium occidentale L., cajueiro vermelho (45); Ximenia americana L., ameixa
(43); Pterocaulon alopecuroides (Lam.) DC., quetoco (25); Spondias tuberosa Arr. Câm.,
umbuzeiro (22); Aristolochia brasiliensis Mart. Ex Zucc., jarrinha (20) e Pilosocereus gounellei
(Weber) Byl. et Rowl., xique-xique(20). Os principais usos indicados foram: antiinflamatório,
cicatrizante vaginal, complicações no puerpério, regulação do ciclo menstrual, antisséptico e
tratamento das infecções das vias gênito-urinárias. O conhecimento tradicional sobre ações
terapêuticas e restrições de uso de algumas plantas coincide com informações farmacológicas e
toxicológicas encontradas na literatura, mas ainda pouco é conhecido sobre a atividade
biológica e toxicidade de muitas espécies de uso medicinal tradicional.
Agradece-se à Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE). O projeto
de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da
Universidade Federal de Pernambuco sob o registro 130/09.
Plantas medicinais de uso popular no distrito de São Bartolomeu, Ouro Preto, Minas Gerais
Eliane Barbosa Rangel (Universidade Federal de Ouro Preto), Amanda C. Costa Prado
(Universidade Federal de Ouro Preto), Sara G. Barbosa (Universidade Federal de Ouro Preto) e
Maria Cristina T. Braga Messias (Universidade Federal de Ouro Preto). Contato:
[email protected].
Ouro Preto é conhecida mundialmente pela sua história e cultura, incluindo o saber de plantas
medicinais. O presente estudo desenvolveu-se no distrito de São Bartolomeu, comunidade
tradicional, inserida na APA da Cachoeira das Andorinhas, Ouro Preto, Minas Gerais. Objetivouse a identificação das plantas medicinais conhecidas pelos moradores de São Bartolomeu assim
como o resgate deste aprendizado, mantido e modificado ao longo de gerações. Verificou-se
também se há diferença entre as categorias socioeconômicas (gênero, renda, escolaridade e
idade) no conhecimento de plantas medicinais, usando ANOVA e teste de Tukey. O
levantamento realizou-se por entrevistas semiestruturadas, técnicas de listagem livre, turnê
guiada e feedback. Entrevistou-se 43 pessoas, das quais apenas 2 não usam plantas medicinais.
Identificou-se 153 espécies, reunidas em 55 famílias. As famílias com maior riqueza de espécies
foram Asteraceae (22) e Lamiaceae (15). A população local detém uma estreita relação com o
ambiente, sendo 56% das espécies cultivadas, 14% ruderais e 25% somam a extração das
fitofisionomias de mata e campo rupestre. Dentre as espécies utilizadas 71 são nativas e 82
exóticas. As mulheres conhecem mais espécies medicinais do que homens (F= 4,14; p= 0,048)
que relataram conhecer outras plantas úteis. A escolaridade também demonstrou diferença
significativa no conhecimento (F=4,58; p=0,002), em que pessoas analfabetas e com nível
93
superior mostraram uma maior percepção de plantas medicinais. Embora pessoas com menor
faixa salarial e de maior idade tenham relatado um maior número de espécies medicinais, não
houve diferença estatística significativa para idade e renda. O modo de preparo é variado, sendo
chá em infusão o mais empregado e folha a parte da planta mais usada. Com base na CID 10, as
principais moléstias tratadas se inserem nas categorias: Doenças do sistema respiratório (16,7%)
e Doenças do sistema digestório (11%). As espécies mais citadas foram Mentha x villosa Huds.
seguida da Chamaemelum nobile (L.) All. Efeitos indesejados foram relatados e associados ao
uso prolongado ou inapropriado das plantas. Plantas de uso místico também foram citadas. Os
resultados alcançados indicam um rico conhecimento local da flora medicinal e permeiam
estratégias para o manejo sustentável, conservação da diversidade genética e valorização da
tradição do uso de plantas medicinais.
Agradece-se PROBIC/Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG)
eUniversidade Federal de Ouro Preto. O projeto de pesquisa que embasou o trabalho foi analisado e
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Ouro Preto sob o registro
10708912.4.0000.5150.
Plantas medicinais utilizadas para o tratamento de doenças respiratórias no município de
Siderópolis, Santa Catarina
Paula da Silva Cardoso (Universidade do Extremo Sul Catarinense), Marília Schutz Borges
(Universidade do Extremo Sul Catarinense), Marina Trento (Universidade do Extremo Sul
Catarinense), Renato Panhan (Universidade do Extremo Sul Catarinense), Michele Daros Freitas
(Universidade do Extremo Sul Catarinense), Luan de Souza Ramos (Universidade do Extremo Sul
Catarinense), Silvia Dal Bó (Universidade do Extremo Sul Catarinense), Vanilde Citadini Zanette
(Universidade do Extremo Sul Catarinense) e Patrícia de Aguiar Amaral (Universidade do
Extremo Sul Catarinense). Contato: [email protected].
As plantas medicinais são recursos amplamente utilizados na região sul de Santa Catarina para
tratamento de doenças respiratórias decorrentes da extração de carvão mineral, uma das
principais atividades econômicas de Siderópolis. Estudos afirmam que a poeira resultante da
atividade carbonífera causou impactos na saúde da população ao longo dos anos. Neste
contexto, o objetivo deste estudo foi realizar um levantamento sobre o uso terapêutico
(indicações, forma de preparo, contra-indicações, etc.) e verificar o percentual de uso dE quatro
plantas medicinais, sendo estas: Adiantum raddianum C. Presl (avenca), Lippia alba (Mill.)
N.E.Br. (sálvia-do-rio-grande), Coronopus didymus (L.) Sm. (mastruço) e Arctium minus (Hill)
Bernh. (bardana). As espécies foram definidas através de uma conversa com uma agente
detentora do conhecimento empírico da Pastoral da Saúde Regional Sul 4. Esta agente informou
que as espécies são muito procuradas para tratamento de doenças respiratórias em Siderópolis,
município em que reside. Após identificação taxonômica destas plantas foram realizadas
entrevistas, com questionários semiestruturados, com a população do município referente ao
uso destas quatro plantas medicinais. Foram entrevistados 368 individuos com idade igual ou
superior a 20 anos, que residiam em Siderópolis. Dos 368 entrevistados, aproximadamente 53%
conheciam e utilizavam no mínimo uma das plantas selecionadas, 29% (105) conheciam algumas
delas, mas não as utilizavam e 18% não conheciam nenhuma das plantas. Aproximadamente
52% dos entrevistados preferem a utilização de L. alba, 40% C. didymus, 8% A. raddianum.
Nenhum entrevistado teve preferência por A. minus. Foram mencionadas para estas três plantas
ações terapêuticas semelhantes, como sua utilização para tratamento de tosse, gripe,
problemas de pulmão, bronquite, entre outras. Conforme literatura, a L. alba possui 8 artigos
94
que relacionados a problemas respiratórios, a C. didymus 2 artigos e A. raddianum não possui
nenhum estudo nesta área. Este levantamento pode impulsionar novas pesquisas sobre ações
biológicas destas plantas bem como reforçar identidades regionais, visto que estas são espécies
nativas. Além disso, estas plantas carecem de mais estudos para comprovar seus efeitos
terapêuticos.
Agradece-se ao Laboratório de Plantas Medicinais da Universidade do Extremo Sul Catarinense. O projeto
de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética do Ministério
da Universidade do Extremos Sul Catarinesne sob o registro 668.733 e 668.742
Plantas toxicas conhecidas por uma comunidade rural do Cerrado, município de São
Desidério, oeste da Bahia.
Tulio Fleury Oliveira de Jesus (Universidade do estado da Bahia) e Viviane Teixeira do
Nascimento (Universidade do Estado da Bahia). Contato: [email protected].
Apesar de suas amplas propriedades medicinais, muitas plantas possuem também propriedades
tóxicas, cultivadas muitas vezes como ornamentais por sua beleza e atratividade, as mesmas
podem trazer riscos às pessoas que as cultivam. Além dos problemas causados às pessoas, a
intoxicação por plantas também causa problemas em animais, podendo afetar a situação
econômica dos produtores. Assim, o objetivo desse estudo foi avaliar o conhecimento que os
residentes da comunidade de Cabeceira Grande, têm a respeito da diversidade de plantas
tóxicas da região, tanto para humanos quanto para animais. Os dados foram coletados por meio
de lista-livre, nas quais os entrevistados listaram as plantas que consideram tóxicas, para
humanos e/ou animais. O material botânico foi coletado, identificado e incorporado ao Herbário
da UNEB - Campus IX. As plantas coletadas foram classificadas como cultivadas ou espontâneas.
A similaridade entre o conhecimento de espécies citadas por homens e mulheres foi dada
através do índice de similaridade de Jacard (JI). Realizou-se 19 entrevistas, sendo 10 homens e
09 mulheres. Foram citadas 19 plantas, agrupadas em 09 famílias botânicas e 17 gêneros.
Fabaceae com 06 gêneros e 07 espécies (35% das espécies), seguida por Euphorbiaceae com 04
gêneros e 05 espécies (25%). Das espécies, Manihot sp. (mandioca), foi a mais freqüente,
(47,37%), seguido da Dimorphandra mollis Benth (faveira) (42,10%) e Enterolobium
contortisiliquum (Vell.) Mor. (tamburi) (26,31%). Das 19 plantas, 08 eram tóxicas apenas para
animal, 06 para pessoas e 05 para ambos. A similaridade das espécies conhecidas por homens e
mulheres foi de JI= 26%. Das espécies citadas pelos moradores 06 são cultivadas pelos mesmos
em seus quintais, algumas com o objetivo de ornamentação, como é o caso da Euphorbia milii
L. (coroa-de-cristo), outras como uma espécie mágico-religiosa (amuleto), a exemplo da
Dieffenbachia seguine (Jacq.) Schott (comigo-ninguém-pode). Já outras como Manihot sp.
(mandioca), apesar de ser alimentícia, possui partes tóxicas que, quando ingeridas, podem
provocar a intoxicação, sobretudo dos animais. As outras 13 espécies são espontâneas da região
e encontradas na vegetação próxima as residências. O conhecimento sobre plantas tóxicas nessa
comunidade é diferenciado entre os moradores, sendo ligeiramente maior sobre plantas tóxicas
para animais, o que torna necessária a realização de mais trabalhos e pesquisas voltadas para
questão do conhecimento sobre plantas tóxicas para humanos.
Agradece-se aos moradores da comunidade Cabeceira Grande, pessoas extremamente amorosas e
acolhedoras. Muito obrigado pela receptividade, pelo apoio com as entrevistas e idas ao campo.
95
Potencial utilitário, reconhecimento local e importância cultural de plantas invasoras em
florestas secas do Nordeste do Brasil
Lucilene Lima dos Santos Vieira (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Pernambuco), André Luiz Borba do Nascimento (Universidade Federal Rural de Pernambuco),
Fábio José Vieira (Universidade Estadual do Piauí), Valdeline Atanázio da Silva (Universidade
Federal Rural de Pernambuco), Robert Voeks (California State University) e Ulysses Paulino de
Albuquerque (Universidade Federal Rural de Pernambuco). Contato: [email protected].
O presente trabalho traz informações acerca do uso, reconhecimento e importância de plantas
invasoras com uma abordagem que leva em consideração as definições acadêmicas e locais
acerca do tema e tem como objetivos: 1. Descrever os usos de espécies invasoras e suas relações
com o hábito das plantas e categorias taxonômicas, 2. Descrever como ocorre o reconhecimento
local de tais plantas e 3. Testar a aplicação de um modelo teórico de importância cultural para
espécies invasoras, avaliando se as mesmas enquadram-se localmente no enriquecimento,
empobrecimento e facilitação cultural. As comunidades selecionadas foram Minguiriba no
estado do Ceará e Riachão de Malhada de Pedra localizada no estado de Pernambuco.
Inicialmente foi realizada uma amostragem da vegetação (180 parcelas de 1x1m em cada
comunidade), em ambientes antropogênicos. Foram realizadas entrevistas-semiestruturadas e
checklist-entrevista com os chefes de família, totalizando 106 entrevistados nas duas áreas. Um
total de 56 espécies foi registrado. Foi calculado o valor de uso (VU), o teste de Mann-Wittney
foi utilizado para verificar diferença entre o VU nas duas comunidades. Também foram utilizados
os testes G (Williams) para verificar diferenças entre categorias taxonômicas (espécies, gêneros
e famílias) e usos das espécies e o Kruskal-Wallis para verificar diferenças entre invasoras locais
e exóticas. A correlação de Spermann foi utilizada para verificar diferenças entre
reconhecimento e uso das espécies. O uso predominante foi o forrageiro, seguido pelas plantas
medicinais, alimentícias e tecnologia. As plantas herbáceas são a grande maioria. Existem
diferenças significativas entre as relações analisadas entre usos e categorias taxonômicas. As
plantas mais reconhecidas apresentam percentuais acima de 60% de reconhecimento,
demonstrando que é um grupo de plantas bem reconhecido localmente. As plantas mais
reconhecidas também são as plantas mais utilizadas localmente (p<0,05). Com relação à
importância cultural, observou-se que tal “modelo” não se aplicou fidedignamente para todas
as categorias, havendo relatos locais para o enriquecimento e facilitação cultural, já o
empobrecimento não foi mencionado. Tais dados são importantes, pois apresentam um
panorama geral sobre os usos, reconhecimento local e importância cultural de plantas invasoras
por populações locais em duas regiões semiáridas do nordeste do Brasil.
Agradece-se à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nivel Superior (CAPES).
Práticas fitoterápicas em unidades territoriais no estado do Amazonas
Guilherme Oliveira Freitas (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e Fúlvia Maria Gomes
Rodrigues (Universidade Federal do Amazonas). Contato: [email protected].
Este trabalho tem como objetivo principal a análise do uso de plantas medicinais pelos povos
tradicionais inseridos na Reserva Extrativista (Resex) Rio Jutaí e dos assentados do Projeto de
Assentamento (PA) Tarumã – Mirim. Os trabalhos de campo ocorreram entre 2011 á 2013 e as
96
entrevistas foram realizadas através de questionários abertos semi estruturados
concomitantemente a bibliografia pertinente consistente ao objetivo central deste artigo. O
paralelismo que se faz entre essas duas unidades territoriais está relacionado aos serviços
básicos de saúde e as práticas fitoterápicas que são executadas através do etnoconhecimento.
Apesar de serem duas unidades territoriais distintas e com diferentes influências por parte das
centralidades e das políticas públicas, o uso das plantas medicinais correspondem a satisfação
das necessidades físicas, sociais, materiais e culturais e compõem um conjunto de
conhecimentos pois a partir do aprendizado com as pessoas mais idosas da família que as
informações perpassam de geração para geração. Atualmente, a fitoterapia é uma alternativa
reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e constitui extrema importância para os
povos tradicionais dos países em desenvolvimento. A constituição dessa prática utiliza diversas
partes das plantas como raízes, cascas, folhas, frutos e sementes de acordo com a espécie em
questão. No assentamento o uso de plantas como remédio é um reflexo de fatores que são
estritamente separados, pois apesar da proximidade com a cidade de Manaus a prática do
etnoconhecimento torna-se ameaçada pelo o uso dos medicamentos industrializados. Na Resex,
o uso de plantas medicinais ocorre de forma ativa, isto porque os postos de saúde se localizam
na sede municipal de Jutaí e devido à distância o presidente de cada comunidade passa por um
curso de formação ministrado pelos enfermeiros das Unidades Básicas de Saúde (UBS)
formando-os como microscopistas para atuarem em suas comunidades de origem. Em cada
comunidade há uma casa de saúde que tem como finalidade diagnosticar o tratamento da
Malária. Quando as doenças são mais graves, o presidente de cada comunidade desloca-se até
o município de Jutaí encaminhando os moradores as unidades competentes. Entretanto, a
utilização da fitoterapia na resex quanto no assentamento caracteriza o modo de vida dos
sujeitos sociais inclusos nos processos de territorialização do espaço.
Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Prioridade de conservação de plantas alimentícias em uma área de Cerrado, Bahia, nordeste
do Brasil
Aline Santos Silva (Universidade do Estado da Bahia), Ely Márley de Souza Ribeiro Rocha
(Universidade do Estado da Bahia), Patrícia Muniz de Medeiros (Universidade Federal do Oeste
da Bahia) e Viviany Teixeira do Nascimento (Universidade do Estado da Bahia). Contato: [email protected].
O Cerrado é considerado a savana mais rica do mundo, porém uma das mais ameaçadas. Nesta
região, não há trabalhos que contemplem a prioridade de conservação de plantas alimentícias.
O objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento das plantas alimentícias nativas e
apontar as espécies prioritárias para a conservação em uma área de cerrado, localizada na
comunidade do Sucruiu, zona rural do município de Barreiras, Bahia. Os dados etnobotânicos
foram coletados por meio da lista-livre, entrevistas semi-estruturadas, turnê guiada e inventário
florístico por meio do método do ponto quadrante. Para calcular a prioridade de conservação
(PC) das espécies foram estabelecidas 3 categorias: (1) insustentável, (2) potencial para coleta
com cotas e (3) coleta sem grandes impactos, com base na seguinte equação: PC =
0,5*(EB*(DR*10)) + 0,5*(RU*(0,5*(H)+0,5*(U*(L*V)*10)), em que EB = Escore biológico, DR=
Densidade relativa, RU= Escore de risco de utilização, H= risco de coleta, U=Valor de uso, L=
Importância local e V= Diversidade de uso. Foram registradas 27 etnoespécies com usos
alimentícios nas entrevistas. Destas, apenas dez espécies foram encontradas até o momento
97
nos dez transectos analisados. As três espécies com maior densidade relativa nos transectos são
Hymenaea stigonocarpa Mart. ex Hayne (4,25), Eugenia dysenterica DC. (3,25) e Alibertia edulis
(Rich.) A. Rich. ex DC. (2,25). Com relação ao valor de importância local, as três espécies de maior
valor para a comunidade são Caryocar brasiliense Cambess. (62,50), E. dysenterica (33,33) e H.
stigonocarpa (12,50). Todas as espécies encontradas até o momento no inventário florestal
foram classificadas na categoria 3 (escore ≤ 60) e podem de acordo com o índice utilizado ser
coletadas sem grandes impactos, pois a parte coletada é o fruto, não oferecendo risco de morte
à planta. Todavia novos estudo são necessários pois a coleta exacerbada dos frutos pode
comprometer o recrutamento de novos indivíduos da espécie, o que pode sugerir a inclusão
desta variável para o estabelecimento de prioridades de conservação para plantas alimentícias.
Agradece-se A todos os moradores da comunidade do Sucruiú pela gentileza em participar do trabalho. O
projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Universidade do Estado da Bahia sob parecer 343.778.
Quintais urbanos e a situação de (in) segurança alimentar de famílias beneficiárias do
Programa Bolsa Família, no município de Viçosa, Minas Gerais
Natália Sant’Anna de Medeiros (Universidade Federal de Viçosa), Carina Aparecida Pinto
(Universidade Federal de Viçosa), Thais Mendes Orlando (Universidade Federal de Viçosa) e
Sílvia Eloíza Priore (Universidade Federal de Viçosa). Contato: [email protected].
A segurança alimentar e nutricional (SAN) é um tema importante nas estratégias de políticas
públicas no Brasil. No sudeste cerca de 80% dos beneficiários do Programa Bolsa Família - PBF
encontram-se em situação de insegurança alimentar. Estratégias como agricultura urbana
podem ser ferramentas que contribuam para promoção da SAN. Este trabalho propõe
caracterizar quintais urbanos e verificar a contribuição destes na situação de segurança
alimentar em famílias beneficiárias do PBF do município de Viçosa, MG. Espera-se que famílias
com quintais produtivos que façam uso dos vegetais disponíveis sejam classificadas como em
segurança alimentar, segundo a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA). Realizou-se
visitas domiciliares a 262 famílias beneficiárias do PBF residentes na zona urbana do município
de Viçosa, no período de fevereiro a julho/2014. Aplicou-se entrevistas semi-estruturadas para
levantamento de dados sociodemográficos e etnobotânicos. A observação dos quintais baseouse na identificação das espécies cultivadas ou espontâneas classificando-as quanto ao uso. Para
realização do diagnóstico de SAN utilizou-se a EBIA. Realizou-se estatística descritiva e teste de
qui-quadrado de Pearson para avaliar associação do quintal com a situação de SAN, com
significância p<0,05. Todas famílias participantes do estudo apresentaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido assinado pelo titular do benefício. Este estudo foi aprovado
pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Viçosa.
Dentre as 262 famílias visitadas, 46,6% (n=122) possuíam quintal produtivo. Segundo a EBIA,
80,9% (n= 212), encontraram-se em insegurança alimentar destes, 54,7% (n=116) não possuíam
quintal; não observou-se associação entre possuir quintal e a SAN (p=0,267). Nos 123 quintais
observados encontraram-se 68,7% (n=1109) de plantas alimentares, 20,4% (n=330) medicinais,
4% (n=64) classificadas como outras, 5,4% (n=88) apresentaram mais de uma classificação. A
EBIA é uma escala de percepção que avalia apenas a falta do alimento, acredita-se que este
instrumento não avalie todas as dimensões da SAN, não contemplando questões relacionadas à
produção de alimentos em quintais, por exemplo: alimentos de qualidade livres de
contaminantes químicos. Encontrou-se a alta prevalência de insegurança alimentar em famílias
98
com e sem quintal produtivo, sendo necessárias estratégias para promoção da SAN, sobretudo
em famílias beneficiárias do PBF.
Agradece-se à todas as famílias que gentilmente nos receberam e tornaram essa pesquisa possível e à
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior pela bolsa concedida. O projeto de
pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa com
Seres humanos da Universidade Federal de Viçosa, conforme parecer consubstanciado anexo, sob o
registro 442.561.
Resgate histórico e valorização cultural de comunidades pesqueiras tradicionais do Sul da
Bahia: preservando saberes e fazeres tradicionais da pesca e culinária
Carolina Rüde (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e Marcelo Vianna (Universidade Federal
do Rio de Janeiro). Contato: [email protected].
Uma boa gestão dos recursos pesqueiros depende da participação ativa dos múltiplos atores
sociais envolvidos na exploração destes. Contudo, o processo histórico de marginalização dos
pescadores tradicionais junto à queda na autoestima destes tem dificultado agregá-los ao
processo de gestão. Assim, o estudo visa resgatar e valorizar o conhecimento tradicional a
respeito da pesca e culinária de frutos do mar de comunidades pesqueiras no litoral Sul da Bahia,
próxima ao Parque Marinho do Recife de Fora, de Coroa Alta, entre outras unidades de
conservação. A metodologia utilizada foi etnografia clássica, por meio de observações diretas,
entrevistas semiestruturadas e conversas informais, com registros da história oral em vídeo,
som e fotografia, tendo como alvo os “especialistas nativos” dentro da comunidade. Foram
realizadas excursões trimestrais, com permanência de aproximadamente cinco dias na região.
Foram identificadas e registradas diferentes artes de pesca utilizadas pelos pescadores
artesanais entrevistados, como rede de arrasto, cerco e linha e anzol. As principais mudanças
observadas na pesca pelos entrevistados (n=8) foram: chegada do nylon para confecção de
redes, que antes eram feitas de fio de algodão ou fibra de tucum; surgimento do moto e a vinda
do gelo para conservação do pescado, que antes era feita com sal. As cozinheiras (n=2) tem uma
estreita relação com os frutos do mar, estando entre as principais receitas descritas: frigideira
de ouriço com ovos, mingau de “bugigão”, caldo e arroz de polvo, moqueca de peixe e camarão,
guaiamum com pirão e licor de biri-biri. Haverá a realização um evento gastronômico com
receitas tradicionais descritas, além de uma exposição fotográfica das artes e petrechos de pesca
de modo a valorizar estas culturas associadas ao mar. O registro da história oral possibilita que
estas populações tradicionais possam ser ouvidas, registrando e preservando seus saberes. Se
apresentando, assim, como importante ferramenta no processo de construção da memória
coletiva e fortalecendo o reconhecimento da identidade cultural dentro da comunidade.
Estudos como este divulgam saberes e técnicas tradicionais que complementam o
conhecimento científico, contribuindo tanto para o uso sustentável dos recursos naturais locais,
quanto na gestão participativa em uma Unidade de Conservação.
Agradece-se ao Laboratório de Biologia e Tecnologia Pesqueira da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
ao Projeto Coral Vivo pelo financiamento da pesquisa e aos pescadores e cozinheiras tradicionais pela
receptividade.
99
Testes de atividade antimicrobiana de remédios tradicionais para o tratamento de infecções
das vias gênito-urinárias femininas
Carmen Marangoni (Universidade Federal de Pernambuco), Márcia Vanusa Silva (Universidade
Federal de Pernambuco) e Laise de Holanda Cavalcanti Andrade (Universidade Federal de
Pernambuco). Contato: [email protected].
Levantamento efetuado sobre as plantas que compõem a farmacopéia da população indígena
Pankararu, que habita o sertão pernambucano, evidenciou um vasto número de espécies
indicadas para tratamento de doenças relacionadas com o sistema gênito-urinário feminino,
assim como para o atendimento do parto, período puerperal e cuidados com o recém-nascido.
Neste trabalho, enfoca-se a atividade antimicrobiana de oito plantas ocorrentes na Caatinga,
entre as mais citadas pelos Pankararu para o tratamento de vaginite, das infecções das vias
urinárias e/ou como desinfetantes no puerpério. Foram testados extratos realizados com o
método adotado pelos Pankararu (infusão ou decoto) com a parte da planta indicada pelos
informantes (parte aérea ou casca), contra microrganismos potencialmente causadores desses
transtornos (Candida albicans, Enterococcus faecalis, Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae,
Proteus mirabilis, Pseudomonas aeruginosa, Staphylococcus aureus e Staphylococcus
saprophyticus). As espécies testadas foram: Myracrodruon urundeuva (Allemão) Engl. – Aroeirado-sertão (casca, decoto), Spondias tuberosa Arr. Câm. – Imbu (casca, decoto), Anadenanthera
colubrina (Vell.) Brenan – Angico (casca, decoto), Sideroxylon obtusifolium (Roem. & Schult.) T.
D. Penn – Quixaba (casca, decoto), Anacardium occidentale L. – Cajueiro (casca, decoto), Croton
heliotropiifolius Kunth. – Velame (folhas, infusão), Hyptis mutabilis Briq. – Sambacaitá (parte
aérea, infusão), Maytenus rigida Mart. – Bom Nome (casca, decoto). A Concentração Mínima
Inibitória (MIC) e a Concentração Mínima Bactericida (MBC) foram avaliadas com a técnica de
microdiluição em placas de 96 poços. Todos os extratos mostraram atividade bacteriostática e
bactericida contra S. aureus e S. saprophyticus, E. faecalis e P. mirabilis. Os outros
microrganismos resultaram suscetíveis somente aos extratos de M. urundeuva, S. tuberosa, A.
colubrina, H. mutabilis, A. occidentale e M. rigida. A atividade maior registrou-se contra S.
saprophyticus ocasionada pelos extratos de M. rigida (MIC 0,097mg/mL e MBC 0,195mg/mL) e
de S. tuberosa (MIC 0,195mg/mL e MBC 0,390 mg/mL). Esses resultados confirmam o potencial
antibacteriano das plantas utilizadas pelos Pankararu no tratamento de infecções gênitourinárias e valoram preliminarmente a eficácia desses remédios tradicionais.
Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O projeto de
pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade
Federal de Pernambuco sob o registro 130/09.
Uma proposta de avaliação da perda de conhecimento sobre plantas medicinais na
comunidade de Sucruizinho, Barreiras, Bahia
Camilla de Carvalho de Brito (Universidade Federal do Oeste da Bahia), Eraldo Medeiros Costa
Neto (Universidade Estadual de Feira de Santana), Viviany Teixeira do Nascimento (Universidade
do Estado da Bahia) e Patrícia Muniz de Medeiros (Universidade Federal do Oeste da Bahia).
Contato: [email protected].
100
Analisar como se distribui e desenvolve o conhecimento tradicional em uma comunidade é
indispensável para evidenciar se há um processo de perda deste conhecimento. A maioria dos
estudos referentes a essa temática afirma que está acontecendo um processo de perda do
conhecimento, fazendo uso de metodologias que não são suficientes para atestar tal resultado.
Nesse estudo, foram integradas três metodologias para acessar perda de conhecimento,
utilizadas em conjunto devido às limitações das mesmas quando utilizadas individualmente;
oferecendo dados mais conclusivos. Assim, objetivou-se responder se há perda de
conhecimento médico tradicional na comunidade do Sucruizinho, Barreiras, Bahia. Para tal,
foram empregados os seguintes indicadores: escolhas terapêuticas, posição nas redes de
transmissão de conhecimento e número de plantas citadas. Para comparar a escolha terapêutica
dos moradores da comunidade (plantas x alopáticos) foi realizado o Extrato de Fisher, para o
qual os moradores foram classificados em três faixas etárias: classe a) entre 14 a 37 anos, classe
b) entre 38 a 61 anos e classe c) entre 62 a 84 anos. Calculou-se a conectância de aprendizado
para cada morador (número de entrevistados com quem o entrevistado x afirma haver
aprendido sobre plantas medicinais / número total de entrevistados – 1). Em seguida foi
realizada uma regressão linear simples para verificar se a idade interfere na conectância de
aprendizado (dados transformados em raiz quadrada). A mesma análise foi usada para testar a
relação entre idade e número de plantas citadas. De um modo geral, a idade não interferiu no
número de plantas medicinais conhecidas (R²=0,11; p>0,05). No entanto, quando a análise é
realizada com um recorte até os 50 anos, há uma forte relação positiva entre idade e número
de plantas (R²=0,5; p<0,01). Esse dado, considerado de forma isolada, poderia levar a
interpretações equivocadas sobre perda de conhecimento. No entanto, a idade não interferiu
nas escolhas terapêuticas (P > 0,05), assim como não interferiu na conectância de aprendizado
(R²=0,04; P > 0,05. Assim, os resultados nos levam a afirmar que não está havendo perda de
conhecimento de plantas medicinais por parte dos mais jovens na comunidade do Sucruizinho.
Agradece-se à CAPPES e Universidade Federal do Oeste da Bahia.
Uso de plantas medicinais com ação antiparasitária na etnia Kantarure, Aldeia Baixa das
Pedras, nordeste do Brasil
Thayse Macedo dos Santos-Lima (Universidade do Estado da Bahia), Elaine Larissa Cardoso Lima (Universidade do Estado da Bahia), Marcella -Gomez (Universidade do Estado da Bahia) e
Artur Gomes Dias-Lima (Universidade do Estado da Bahia). Contato: [email protected].
A contribuição dos povos indígenas é de extrema importância para a formação da cultura
brasileira. Esses povos são representados por diversas etnias, que mantém costumes e
conhecimentos sobre utilização de produtos naturais como alternativa terapêutica na cura de
enfermidades, o que aumenta a importância das pesquisas com plantas medicinais. O presente
trabalho objetivou realizar um estudo das plantas medicinais indicadas pelos índios da etnia
Kantaruré, aldeia Baixa das Pedras, utilizadas na cura e tratamento das doenças parasitárias
gastrointestinais. Para a coleta de dados foram realizadas entrevistas semiestruturadas com
quatorze pessoas, pertencentes a uma população de 150 indígenas, selecionadas pela técnica
da bola de neve, reconhecidas pela comunidade como maiores detentores do conhecimento
sobre a realidade local e sobre plantas. Os resultados indicam que 15 espécies são utilizadas na
medicina tradicional local, com ação antiparasitária. Pode-se destacar a caçatinga (Croton
argyrophylloides Muell. Arg.) com seis indicações, mastruz (Chenopodium ambrosioides L.) e
hortelã miúdo (Mentha piperita L.) com cinco indicações, babosa (Aloe vera (L.) Burm f.) e
101
goiabeira (Psidium guajava L.) com quatro indicações, e as outras dez citadas com uma ou duas
indicações. Entre as famílias mencionadas estão a Euphorbiaceae, Amaranthaceae, Lamiaceae,
Asphodelaceae e Myrtaceae. As plantas citadas pertencem á vegetação nativa, sendo que as
espécies cultivadas são encontradas principalmente nos quintais, nas proximidades das
residências e em locais de cultivo próprio. Os dados levantados nesta pesquisa evidenciam a
importância terapêutica, cultural e histórica do uso de espécies botânicas na prevenção e cura
de enfermidades. A aldeia estudada depende diretamente dos recursos vegetais para as suas
práticas de cura. Os resultados dessa pesquisa podem servir como base para bioprospecção bem
como para seleção de espécies da caatinga para estudos futuros visando o seu uso e manejo
sustentável.
Agradece-se à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nivel Superior (CAPES) pelo incentivo a
pesquisa. À etnia indígena Kantaruré pelo acolhimento, receptividade, colaboração e contribuição que
foram fundamentais para a realização deste trabalho. A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de
Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade do Estado da Bahia, sob o CAAE 11009812000000057 e número
de parecer 336.845.
Variação temporal do uso de recursos vegetais na Área de Proteção Ambiental da Baleia
Franca, Santa Catarina
Mayana Lacerda Leal (Universidade Federal de Santa Catarina), Rubana Palhares Alves
(Universidade Federal de Santa Catarina) e Natalia Hanazaki (Universidade Federal de Santa
Catarina). Contato: [email protected].
As Áreas de Proteção Ambiental (APA) são consideradas a categoria de manejo mais permissiva
das unidades de conservação (UC) e podem contribuir para a manutenção de atividades
tradicionais e modos de vida rurais, como a realização de atividades de cultivo e extração de
recursos vegetais. O objetivo deste estudo foi analisar a variação temporal do uso de recursos
vegetais por moradores da APA da Baleia Franca (APABF). A APABF é uma UC Federal MarinhoCosteira situada no litoral centro-sul de Santa Catarina. Em 2012, realizamos 150 entrevistas
com moradores locais, selecionados por sorteio. Os informantes eram em sua maioria (39%)
aposentados, os demais trabalhavam com pesca, comércio, entre outras ocupações. As idades
variaram entre 18 e 88 anos (média de 51 anos). Registramos informações sobre o uso atual e
passado dos recursos vegetais cultivados e coletados; para comparar as citações de usos atuais
e passados, utilizamos o teste de qui-quadrado (α= 5%). Dos 150 moradores, 88 cultivam plantas
atualmente e 62 não o fazem; no passado, 87 o faziam, 57 não e seis não responderam; essas
diferenças não foram significativas (X²=0,09; gl=1; p=0,76). Entretanto, houve mudanças quanto
às finalidades dos recursos cultivados atualmente: um aumento de 15% de plantas destinadas
ao consumo familiar e redução de 95% daquelas relacionadas ao comércio. Dentre os
entrevistados que interromperam o cultivo, a redução do espaço foi o motivo mais citado pelos
moradores (21%). Sobre a extração de recursos vegetais, 73 moradores o realizam, enquanto 76
não o fazem e um não respondeu; no passado, 63 entrevistados coletavam recursos vegetais,
40 não o faziam e 48 não responderam. As diferenças quanto à extração de recursos vegetais
no passado e no presente não foram significativas (X²=3,39; gl=1; p=0,07). No entanto, foram
encontradas diferenças quanto à finalidade de uso dos recursos: no presente houve redução de
51% no uso dos recursos coletados para a lenha e aumento de 63% para fins medicinais e de
36% para alimentação. Dentre os entrevistados que interromperam a prática, o principal motivo
relatado foi o surgimento do fogão a gás (26%). Concluímos que, apesar das diferenças não
serem significativas no uso dos recursos vegetais, o tipo de uso se modificou ao longo dos anos,
102
acompanhando as mudanças de vida dos moradores. A APABF pode contribuir com a
sustentabilidade local através do incentivo à manutenção de atividades associadas ao
conhecimento sobre os recursos vegetais.
Agradece-se à Rufford Foundation, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nivel Superior
(CAPES), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Agradecemos aos
moradores entrevistados, gestores das Unidades de Conservação e colaboradores João Ferreira, Julia
Ávila, Bruna Raupp, João Leal e Tatiana Miranda.
Vendendo o que não se planta: o papel da feira livre de Barreiras, Bahia, no provimento local
de plantas medicinais
Indiria Tibolla Alexandre de Souza (Universidade Federal do Oeste da Bahia), Pablo Alves de
Souza e Souza (Universidade Federal do Oeste da Bahia), Viviany Teixeira do Nascimento
(Universidade do Estado da Bahia) e Patrícia Muniz de Medeiros (Universidade Federal do Oeste
da Bahia). Contato: [email protected].
Este trabalho foi realizado com os vendedores de plantas medicinais da Feira livre de Barreiras,
Bahia, e teve como objetivo avaliar o papel da feira de Barreiras no provimento de plantas
medicinais, de modo a identificar o perfil das plantas que são comercializadas no local. Foram
entrevistados dez feirantes, que informaram as plantas por eles comercializadas, as plantas mais
vendidas, parte utilizada, indicações de uso, de onde vem e com quem adquirem o material.
Utilizou-se o χ² goodness-of-fit para verificar diferenças no número de plantas lenhosas x não
lenhosas e nativas x exóticas. O χ² em tabela de contingência foi empregado para verificar a
associação entre hábito e origem. Das 58 plantas citadas, 53 foram identificadas pertencendo a
51 gêneros e 28 famílias. Observou-se que as plantas mais frequentes nas barracas foram
Dimorphandra mollis Benth. (barbatimão), Não identificada (chapadão), Pterodon emarginatus
Vogel (sucupira), Amburana cearensis (Allemao) A. C. Sm. (imburana) e Zingiber officinale
Roscoe (gengibre), sendo as quatro primeiras nativas do cerrado. O barbatimão (D. mollis) foi a
espécie considerada mais vendida por 60% dos feirantes. Um total de 64,3% das espécies é
nativo do cerrado, contra 35,7% de exóticas, com diferenças significativas (p<0,01). Houve
predomínio de plantas lenhosas (71,4%, contra 28,6% não lenhosas), sendo tais diferenças
significativas (p<0,01). Também foi observada uma alta associação entre a origem e o hábito de
cada planta, de tal forma que a maioria das plantas nativas são lenhosas e a maioria das exóticas
não são lenhosas (p<0,01). O predomínio de espécies nativas e lenhosas se deve pelo fato de o
estudo haver sido desenvolvido em uma cidade média do interior baiano, não se tratando de
um grande centro de convergência de material (centro urbano para onde são encaminhadas
plantas de diferentes locais). E, se tratando de uma cidade média, com predomínio de casas e
grandes áreas de quintais, as pessoas tendem a plantar as espécies exóticas e herbáceas de alta
popularidade (conhecidas e utilizadas em vários locais do mundo), de modo a adquirir nos
mercados apenas as nativas e lenhosas como complemento terapêutico.
Agradece-se à Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB) por apoiar as pesquisas no Centro das
Ciências Biológicas e da Saúde, aos colaboradores desta produção científica, em especial a orientadora
Patrícia M. de Medeiros.
103
Etnoecologia
"Depois da barragem tudo mudou”: o drama da pesca e dos pescadores artesanais do Médio
Rio Tocantins
Vonínio Brito de Castro (Universidade Federal do Pará) e Flávio Bezerra Barros (Universidade
Federal do Pará). Contato: [email protected].
O objetivo deste estudo foi analisar o contexto do conhecimento ictiológico e o modus vivendi
de agricultores pescadores artesanais do médio rio Tocantins, diante dos problemas causados
pela Usina Hidrelétrica Lajeado, Tocantins. A hipótese é que os problemas encadeados pelos
reservatórios atingem não somente às populações que estão à montante, mas também, as que
vivem à jusante. Utilizou-se o método etnográfico com a observação participante seguida de
entrevistas abertas com 40 agricultores pescadores de ambos os sexos, no município de
Palmeirantes, Tocantis. Os dados coletados desde 2007 foram analisados pela abordagem
qualitativa. O objeto da pesquisa é o universo da pesca local antes e após a instalação da
barragem. Os resultados mostram que o fechamento das comportas desse empreendimento
comprometeu o ciclo natural das águas à jusante proporcionando transições drásticas na relação
entre os sujeitos e a pesca artesanal. Isto se intensificou quando o controle hidrológico que
gerencia o nível do reservatório fez com que esses atores fossem surpreendidos com cheias
intermitentes que alteraram o ciclo biótico. Esses problemas causaram profundas rupturas no
modo de vida local e nos ecossistemas, gerando angústia, insegurança e a falta de perspectivas
futuras aos moradores. A redução da pesca proporcionou transições no conhecimento
ictiológico local à medida que novas estratégias tiveram que ser estudadas. Antes da barragem,
a exploração dos recursos pesqueiros era controlada, característica seletiva própria da pesca
artesanal. A estreita familiaridade com o anzol não arrefece a estrutura do conhecimento
etnoictiológico local, pelo contrário, funciona como estratégia positiva na tentativa de conhecer
a biologia e o comportamento biótico. As narrativas revelam o alto conhecimento temporal e
espacial sobre a dinâmica do peixe, do rio e suas diversidades. A instabilidade dos ambientes
aquáticos reduziu o interesse local pela pesca artesanal e a relação com o rio. Este era, antes,
articulado como um elemento subjetivo, cosmogênico, parecendo se personificar no discurso
local. Portanto, há muito por se fazer diante desse antagonismo exposto. As políticas de
mitigação raramente atendem os atingidos à jusante, ficando esses, à mercê de suas próprias
forças. Assim, as culturas dessas populações parece se distanciar dos interesses econômicos, o
que pode desconfigurar a estrutura societária, destruindo as práticas e costumes que são o
alicerce, sua base de sustentação no lugar.
Agradece-se à Universidade Federal do Pará (UFPA). Estendo os agradecimentos ao IFTO-Campus Porto
Nacional.
A articulação da etnofenologia de plantas e de animais na produção de tempos ecológicos
por pescadores artesanais do Rio Grande do Sul, Brasil.
Gustavo Goulart Moreira Moura (Universidade de São Paulo) e Emmanuel Almada (Universidade
Estadual de Minas Gerais). Contato: [email protected].
104
Nas etnociências, muito se tem investigado sobre ciclos ecológicos e astronômicos de acordo
com os modos de conhecer das comunidades tradicionais. Esse campo de pesquisa tem
demonstrado que nas etnociências os ciclos ecológicos tendem a ser estudados de forma
compartimentada e fragmentada operando nos modos de conhecer das comunidades
tradicionais de acordo com a lógica da ciência positivo-reducionista. Na contramão dessa
tendência, algumas pesquisas têm formulado ciclos conceituais (ou tempos ecológicos), onde se
articulam diversos ciclos ecológicos e até ciclos astronômicos descritos por populações
tradicionais, tal como na perspectiva etnooceanográfica. Neste sentido, este trabalho tem como
objetivo descrever e analisar os ciclos conceituais produzidos por comunidades de pescadores
artesanais do Rio Grande do Sul (RS) em uma perspectiva etnooceanográfica. Para atingir tal
objetivo, foram realizadas 153 entrevistas semi-estruturadas com 80 moradores de duas
comunidades de pesca do estuário da Lagoa dos Patos (RS), a da Coréia e a da Ilha da Torotama.
No ciclo conceitual produzido pelas comunidades, os ciclos descritos e analisados
prioritariamente são os hidrodinâmicos e os fenológicos de recursos pesqueiros (camarão-rosa,
Farfantepenaeus paulensis, e do bagre, Genidens barbus), de plantas (Maricá, Mimosa
bimucronata (DC.) Kuntze, Araçá, Psidium littorale Raddi, e Butiá, Butia capitata (Mart.) Becc.) e
de animais terrestres (mosquito, Familia Culicidae). Como resultado, tem-se uma densa
descrição destes ciclos, com a formulação pelas comunidades de pesca de diferentes teses de
movimentos migratórios para cada um dos recursos pesqueiros. Apenas em uma das
comunidades há uma evidenciação pelos pescadores de intersecções entre os ciclos
hidrodinâmicos, os movimentos migratórios dos recursos pesqueiros e a fenologia das plantas.
No ciclo dos Culicidae, é evidenciada a intersecção entre o tempo de sua abundância e a do
camarão-rosa, em todas as três teses de movimento migratório identificadas nas duas
comunidades. Neste sentido, os ciclos mais densamente descritos são os hidrodinâmicos e os
biológicos dos recursos pesqueiros enquanto que os das plantas e o do mosquito servem apenas
como complemento dos dois primeiros na construção do tempo ecológico. Portanto, a
etnofenologia das plantas e dos animais pesquisados nas comunidades junto aos ciclos
hidrodinâmicos estabelecem um continuum entre mar-terra-ar na construção do tempo
ecológico nas tomadas de decisão na pesca
Agradece-se aos pescadores artesanais do Rio Grande do Sul.
A complexidade taxonômica da Família Mugilidae: da classificação Lineana aos diferentes
tipos de classificação folk
Dannieli Firme Herbst (Universidade Federal de Santa Catarina) e Natalia Hanazaki (Universidade
Federal de Santa Catarina). Contato: [email protected].
A identificação e taxonomia da família Mugilidae é conflituosa e complexa, no Brasil e no mundo.
Existem vários estudos científicos sobre o genêro Mugil e a família Mugilidae, porém
dificilmente os pesquisadores são consensuais sobre a nomenclatura das espécies desta família.
Frente à complexidade taxonômica encontrada, buscamos estudar como os pescadores do
litoral de Santa Catarina reconhecem e classificam as espécies desta família, uma vez que
partimos da premissa que a integração dos saberes popular e científico pode contribuir com a
polêmica discussão que permeia a sua classificação. As amostragens abrangeram oito
municípios do litoral de Santa Catarina (de Laguna a São Francisco do Sul) e o universo amostral
foi uma parcela dos pescadores artesanais da tainha escolhidos intencionalmente através da
técnica bola-de-neve. Os dados foram coletados através de entrevistas semiestruturadas
105
(agosto de 2011 a março de 2012). Durante as entrevistas, foram utilizadas pranchas com as
imagens das espécies de Mugilídeos que ocorrem no litoral de Santa Catarina para a
identificação das espécies conhecidas e capturadas pelos pescadores. Foram entrevistados 45
pescadores de tainha. Os pescadores reconhecem duas espécies de ‘genéricos folk’ associados
à tainha: tainha, Mugil liza, e parati, Mugil curema, e atribuem 21 e 10 diferentes nomes
‘específicos folk’ para elas, respectivamente. Os nomes variam de acordo com aspectos
etológicos, morfológicos, ontogenéticos, ecológicos (eg. locais de procedência) e culturais. Os
dados foram analisados de acordo com diferentes tipologias de classificação folk: Classificação
berlineana, cíclica, concêntrica e sequencial. Observamos que a classificação folk também é
complexa e diversa, e isto, possivelmente é reflexo de um conhecimento passado por várias
gerações, dada a importância cultural e econômica que permeia a relação dos pescadores com
a tainha, principalmente devido ao seu comportamento migratório e de formação de grandes
cardumes. Os dados encontrados apontam que tainhas procedentes dos estuários do litoral de
Santa Catarina e Paraná são menores que as provenientes do litoral do Rio Grande do Sul e
principalmente do Uruguai/Argentina e podem caracterizar diferentes morfotipos de Mugil liza
no sul do Brasil e Uruguai/Argentina.
A etnobiologia Pataxó da Reserva da Jaqueira, Bahia: co-investigação e o estudo da
biodiversidade
Jade Silva dos Santos (Universidade Estadual de Feira de Santana) e Fábio Pedro Souza de
Ferreira Bandeira (Universidade Estadual de Feira de Santana). Contato:
[email protected].
A Reserva da Jaqueira é uma área de reserva comunitária ambiental gerida por uma associação
indígena. Criada em agosto de 1998, localiza-se na Terra Indígena Coroa Vermelha em Santa
Cruz Cabrália, Bahia, e possui 827 hectares de Mata Atlântica, onde se desenvolve o etnoturismo
atrelado a um trabalho de reafirmação étnica e resgate cultural. Compreendendo a importância
do etnoconhecimento Pataxó e da Reserva da Jaqueira para preservação ambiental da Mata
Atlântica, um dos biomas mais ameaçados do Brasil, esse projeto teve o objetivo de contribuir
para realização de um levantamento etnobiológico na Reserva da Jaqueira, através da
abordagem co-investigativa e participativa. A pesquisa conduziu-se pelo levantamento
bibliográfico de trabalhos etnobiológicos realizados em diferentes aldeias da região e por meio
da pesquisa participante dentro da abordagem co-investigativa do projeto COMBIOSERVE
(Assessing the effectiveness of community-based management strategies for biocultural
diversity conservation), na qual os Pataxó são pesquisadores do seu próprio conhecimento. Os
índios do grupo intitulado Suniatá Jikytaiá (canto dos pássaros) realizou o levantamento da flora
e da fauna da Reserva da Jaqueira culturalmente relevantes, com apoio e suporte técnico de
pesquisadores acadêmicos, e caracterizaram os ambientes encontrados segundo a percepção
Pataxó. O levantamento bibliográfico permitiu produzir uma lista com 121 espécies de plantas
e 14 espécies de animais de conhecidas pelos Pataxó, citadas em 5 trabalhos. Já os
pesquisadores Pataxó registraram um total de 117 etnoespécies de plantas e 113 etnoespécies
de animais. A comparação entre as listas de plantas e animais produzidas pelos pesquisadores
Pataxó e a partir da pesquisa bibliográfica permitiu observar que, ainda que os sistemas de
classificação indígena e cientifico não coincidem, a maioria das espécies listadas pelos
pesquisadores indígenas não haviam sido catalogadas nos trabalhos bibliográficos. O fato do
número total de espécies encontrado na literatura ser reduzido em relação ao levantamento
Pataxó, revela que a abordagem co-investigativa tem um grande potencial para apoiar e
complementar os estudos e inventários da biodiversidade. Este trabalho contribuiu com o
106
registro mais acurado do conhecimento etnobiológico Pataxó e para ampliação dos
conhecimentos acerca da Mata Atlântica da Reserva da Jaqueira, além de proporcionar um
intercâmbio entre o conhecimento tradicional e científico.
Agradece-se à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB). Agradeço por toda
aprendizagem e satisfação ao Prof. Fábio Bandeira, ao Povo Pataxó e aos membros do Projeto
COMBIOSERVE.
A influência do conhecimento etnobotânico na remuneração pelo trabalho extrativista dos
coletores de pinhão, Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze, Araucariaceae
Camila Vieira da Silva (Universidade Federal do Pará), Gabriela Coelho-de-Souza (Universidade
Federal do Rio Grande do Sul) e Lovois de Andrade Miguel (Universidade Federal do Rio Grande
do Sul). Contato: [email protected].
O pinhão é uma importante fonte de alimento e renda para comunidades rurais que residem na
região de ocorrência da Floresta de Araucária. Embora sua coleta seja praticada por muitos, é
pouco conhecida. Assim, objetivou-se compreender os aspectos sociais e econômicos referentes
ao extrativismo do pinhão em São Francisco de Paula, Rio Grande do Sul. Para tanto, entrevistouse 22 extrativistas e utilizaram-se indicadores agrosocioeconomicos para fazer um diagnóstico
dos sistemas de produção (SP). Os indicadores estão divididos nos fatores de produção: Terra,
Trabalho e Capital, que integram e interagem em uma unidade de produção agrícola (UPA).
Destes indicadores foram estimados: renda, produtividade do trabalho, valor agregado entre
outros, de forma a caracterizar as UPAs e o extrativismo do pinhão. Através do diagnóstico
socioeconômico dos SPs, constatou-se a existência de 2 grupos sociais de extrativistas, os
Trabalhadores Rurais e Urbanos e os Pecuaristas, ambos subdivididos em tipos sociais. No que
tange à etnobotânica, é interessante ressaltar o indicador remuneração pelo trabalho
extrativista, que consiste na relação entre a renda obtida com o extrativismo (Rextr=corresponde
à renda líquida do extrativismo obtida no estabelecimento, excluídas as despesas com salários,
arrendamento, impostos e taxas e despesas financeiras) e a mão de obra disponível para o
extrativismo do pinhão (UTHextr=somatório da mão de obra utilizada diretamente para o
extrativismo). A partir deste indicador, constatou-se que dentro e entre os tipos sociais existe
uma grande diferença na remuneração pelo trabalho extrativista (mín=R$ 5278,89/UTH;
máx=R$ 39436,30/UTH), chegando a 6 e a 7,5 vezes, dentro e entre os tipos, respectivamente.
Tal variação foi associada, principalmente, ao conhecimento acerca do recurso e da área da
coleta, esta inferência foi feita com base no relato dos informantes. A fala a seguir ilustra esta
afirmação “Eu tiro quase sempre nas mesmas áreas ... tá vendo aquele pinheiro ali, o mais alto
deles, ele é um kaiuvá, nem adianta eu perder tempo subindo nele agora, as pinhas tão verde e
eu só vou perder tempo ... quando eu sei que um pinheiro é falhado eu nem perco tempo
debulhando, vendo a pinha inteira ... eu já olho a safra seguinte do lugar, se eu perceber que não
vale a pena, no outro ano já nem vou lá, ainda mais se for aquelas áreas muito longe, daí só
perco tempo, a não ser em último caso de eu tê muita precisão” (Infor. 1). Assim, se evidenciou
que o conhecimento acerca do recurso possibilita ao coletor obter uma maior remuneração pelo
trabalho.
Agradece-se à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nivel Superior (CAPES).
107
A percepção local sobre o ecozoneamento dos pescadores tradicionais do Rio Uruguai
Lindacir Zornitta (Universidade Comunitária da Região de Chapecó), Arlene Anélia Renk
(Universidade Comunitária da Região de Chapecó) e Gilza Souza Franco (Universidade
Comunitária da Região de Chapecó). Contato: [email protected].
Pescadores tradicionais possuem conhecimentos próprios e uso de técnicas de manejo dos
recursos naturais baseados na essência do cuidado com a natureza. Este trabalho traz como
objetivo descrever o etnoconhecimento local dos pescadores sobre a distribuição dos recursos
naturais que compõem o seu espaço, e verificar a percepção local sobre o ecozoneamento do
espaço através de mapas mentais. Os dados foram coletados entre outubro de 2013 a fevereiro
de 2014 no município de São Carlos, Santa Catarina, com pescadores (as) ribeirinhos da colônia
Z35 que se encontram na área de influência da UHE Foz do Chapecó. Utilizou-se o modelo de
mapa metal com entrevistas semiestruturadas, além da observação registrada em diário de
campo com vinte e quatro pescadores (as), com faixa etária entre 38 a 68 anos os quais foram
selecionados de acordo com a disponibilidade de participar da pesquisa. A análise ocorreu sob
a perspectiva da Antropologia Ecológica. Através desta perspectiva percebemos que os
pescadores acumulam grande conhecimento sobre o clima, comportamento hidrológico do rio,
ecologia trófica da ictiofauna local e principalmente a respeito das mudanças ambientais por
atividades antrópicas. Quanto à percepção espacial do rio os pescadores demonstraram um
amplo conhecimento espacial falando desde os pontos de maior atividade pesqueira até sobre
a relação da vegetação ciliar que havia antes da instalação da UHE com a ictiofauna. É nítida a
relação sinergética entre pescadores e o rio como espaço de suas vivências cotidianas
determinando um modo de vida na comunidade assim como sua identidade perante esta
comunidade. O sentido para isto se dá no emocionante relato do encontro do barco com a água,
da rede com o pescador, da linha com o anzol, tornando este aglomerado de fios um complexo
fluxo de materiais que dão forma ao trabalho de simples pescador, e é isto que dá sentido para
a vida do pescador. Concluímos que os pescadores possuem uma capacidade de orientar-se
geograficamente através de pontos estratégicos associando locais com elementos da natureza
como pedras no fundo do rio e árvores nas margens do rio que possam estabelecendo
coordenadas geográficas. Através dos desenhos elaborados pelos pescadores concluímos que o
fato deles possuírem o etnoconhecimento ecológico e espacial do espaço não significa que eles
possuam o conhecimento de elaborar um mapa cartográfico, mas sim, sua percepção local sobre
o ecozoneamento pode ser representada por trilhas baseadas em simples linhas.
Agradece-se à bolsa do Programa de suporte a Pós-Graduação de instituições de Ensino Superior
Particulares (PROSUP) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). O
projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da
Universidade Comuitária da Região de Chapecó (UNOCHAPECO) sob o registro 037/13.
Alterações climáticas, minhocas gigantes e atividade extrativista: um futuro incerto
Raquel Hosken Pereira da Silva (Universidade Federal de Minas Gerais), Irla Paula Stopa
Rodrigues (Universidade Federal de Minas Gerais), Ana Luísa Cordeiro (Universidade Federal de
Minas Gerais), Hélio de Magalhães Júnior (Universidade Federal de Minas Gerais), Eric Reno
Souza Xavier (Universidade Federal de Minas Gerais) e Maria Auxiliadora Drumond
(Universidade Federal de Minas Gerais). Contato: [email protected].
108
O minhocuçu (Rhinodrilus alatus) é endêmico da região central de Minas Gerais. Sua extração e
comércio são importantes fontes de renda para comunidades da região, incluindo moradores
do Quilombo de Pontinha, em Paraopeba. Durante décadas os extratores vêm acumulando
informações ecológicas sobre o minhocuçu, que são repassadas entre gerações. O ciclo anual e
o comportamento de R. alatus são sazonais e, segundo os extratores, podem ser alterados pelo
clima. Uma vez que desde 2011 há mudanças visíveis no regime de chuvas da região, é
necessário avaliar como a espécie reage a essas alterações, que podem impactar negativamente
as populações de minhocuçus e as comunidades que dela dependem. Atividades de extração
foram acompanhadas em 2014 e comparadas a anos anteriores, anotando-se a profundidade
das câmaras de estivação, onde permanecem durante a estação seca. Para avaliar a percepção
dos comunitários sobre os fatores que influenciam a abundância de minhocuçus foram
realizadas 26 entrevistas semiestruturadas com especialistas locais. A média de profundidade
das câmaras de estivação variou entre os anos de 2006, 2007, 2010, 2011 e 2014 (mín: 24,4 cm
em 2006; máx: 29,4 cm em 2011), com diferença significativa (p<0,01) entre os valores de 2006
e de 2011 e 2014. A construção de câmaras mais profundas pode ser consequência de alterações
no padrão de chuvas. Variações bruscas na precipitação foram observadas no mês de fevereiro,
sendo a média de precipitação de 133,48 mm no período de 2006 a 2010 e de 39 mm nos anos
de 2011 a 2014. A precipitação em fevereiro é importante na construção das câmaras de
estivação no final da estação chuvosa. A maioria dos entrevistados (65%) relata que a
quantidade de minhocuçus está diminuindo e 30% afirma que, apesar da quantidade continuar
a mesma, está mais difícil encontrá-los, principalmente por construírem câmaras mais
profundas. Alterações climáticas, como chuvas escassas ou fora de época, são os fatores que
mais influenciam na abundância de minhocuçus (96% das citações), seguidos do número de
extratores e intensidade de extração (30%), reprodução da espécie (26%), interferência de
formigas e cupins (19%) e substâncias químicas utilizadas em plantios (15%). Os extrativistas
sugerem que o aumento da temperatura e diminuição da umidade do solo poderiam reduzir as
populações de minhocuçus em curto prazo. Tais mudanças já os preocupam, uma vez que em
anos com seca mais prolongada há registros de elevada mortalidade de minhocuçus.
Agradece-se Departamento de Biologia Geral do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG), Pró-reitoria de Extensão da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
Ministério da Educação (MEC), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). O projeto de pesquisa que
embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Federal de Minas Gerais sob o registro CAAE 03329412.1.0000.5149.
Anfíbios como etnobioindicadores a exposição de riscos aos ataques de crocodilos-do-nilo
(Crocodylus niloticus): o caso do distrito de Panda, Moçambique
Carlitos Luís Sitoie (Universidade Federal do Amazonas) e Vanessa Kerolin Araujo Meireles.
Contato: [email protected].
Moçambique é atravessado por catorze dos maiores rios da África, que nascem nos países
vizinhos e desaguam no oceano indico. Tem cerca de sessenta e seis (66) afluentes e
subafluentes, que nascem dentro do país percorrendo diferentes regiões do território nacional
até seus a jusantes. Com isso, 80% da população moçambicana que vive na região rural em
bacias hidrográficas utilizam esses recursos hídricos para práticas de subsistência familiar. Nesse
contexto socioambiental surgem nichos ecológicos que afetam o cotidiano dessas pessoas,
como exemplo tem-se episódios em que crocodilos-do-nilo (Crocodylus niloticus) atacam esses
109
habitantes resultando na morte de cerca de 120 pessoas e deixando outras 68 feridas por ano.
Essas interações ocorrem na região do ecótono, onde diferentes comunidades ecológicas
entram em contato. Com isso, as populações rurais criaram ao longo do tempo estratégias para
evitar que tais ataques continuassem a ocorrer. Essas estratégias baseiam-se em experiências
empíricas e cotidianas das populações rurais que utilizam o coaxar de sapos e rãs como
indicadores de lugares de abundância de crocodilos-do-nilo e assim evitar tais locais. Trata-se,
portanto do saber teórico-prático dos habitantes locais, que por ser de fácil interpretação,
observação e representar a dinâmica das interações ecológicas caracterizam os
etnobioindicadores. A sistematização dessas práticas locais e socialização a sociedade em geral
tornar-se-á um forma de legitimar este saber em conhecimento, e assim salvar vidas em
Moçambique. A metodologia usada baseou-se na análise de notícias de jornais que relatam o
conflito homem/animal, triangulada com entrevistas feitas às populações rurais sobre sua
relação com os rios e os crocodilos. Os dados da pesquisa, quando analisados mostram que o
número de vítimas reduziu em 60% nos últimos dois anos, devido ao mapeamento de áreas de
riscos aos ataques através de controle da vocalização de sapos e rás. Isto significa que a
população rural moçambicana, apesar de ser considerada na sua maioria analfabeta, apresenta
um saber ambiental legitimo de ser valorizado tal como o dito conhecimento científico. Tratase, portanto de um etnoconhecimento utilizado para resolver problemas que afetam sua
sobrevivência.
Agradece-se à Universidade Pedagógica de Moçambique e Universidade Federal do Amazonas.
Áreas de uso comum e uso dos recursos pelos Vazanteiros da Ilha do Pau de Légua: um
estudo etnobiológico
Francine Kateriny Santos (Universidade Estadual de Montes Claros) e Ana Paula Glinfskoi Thé
(Universidade Estadual de Montes Claros). Contato: [email protected].
As populações tradicionais são grupos humanos diferenciados, que desenvolvem seu modo de
vida a partir de uma intensa relação para com a natureza, proporcionando-lhes um vasto
conhecimento acerca dos ciclos naturais. Dentre esses, podem ser citados os vazanteiros, grupo
tradicional que desenvolve suas práticas e modo de vida a partir de uma relação direta com o
rio São Francisco, pela prática da agricultura em ambientes inundáveis e da pesca no rio e lagoas.
O trabalho aqui apresentado teve como objetivo descrever o modo de vida e das práticas de
manejo de áreas pelos vazanteiros da Ilha do Pau de Légua, comunidade com aproximadamente
100 anos de existência formada por 52 famílias, que atualmente ocupam um território em frente
ao Parque Estadual da Mata Seca, margem esquerda do rio São Francisco, município de Manga,
Minas Gerais, como consequência de um longo processo histórico de expropriação. Foram
realizadas entrevistas semi-estruturadas e aplicados questionários com 14 vazanteiros de
diferentes famílias, no período compreendido entre outubro de 2013 e julho de 2014. As
informações acerca da história de manejo mostraram a presença das áreas chamadas de
carrasco (áreas mais altas, pouco férteis), lagadiços (áreas com maior umidade e matéria
orgânica), capão de umbu (área de mata nativa), barranco (áreas altas com remanesceste de
mata nativa), capoeira (área em que havia o processo de plantio em curso), vazantes (áreas
próximas ao rio que ficam acima dos lagadiços), sangradores (conectores entre o rio e as lagoas
e dentre as lagoas, onde não podiam ser feitos plantios) além das lagoas e do rio São Francisco
como fonte de pescados. Estas áreas foram manejadas durante o período anterior ao processo
de expropriação da comunidade, respeitando os períodos de seca, cheia e vazante do rio São
110
Francisco. Atualmente é feito o manejo das áreas conhecidas como lameiro (área de encosta ao
rio), vazante (área intermediária) e sequeira (áreas altas). Cada área era, portanto utilizada para
o cultivo de espécies e práticas de manejo especificas respeitando as características do solo,
deposição de nutrientes e umidade. O acesso às diferentes áreas e a soma das atividades de
agricultura e pesca garantiam a obtenção de maior quantidade de recursos ao longo do ano de
modo a respeitar os ciclos naturais e os intervalos para a recuperação das áreas exploradas. A
não realização da prática do manejo pelos vazanteiros tem trazido impactos negativos sobre a
biodiversidade local.
Agradece-se à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) pela concessão da
bolsa de mestrado à autora do trabalho. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi
analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros sob
o registro 250.017 /2013.
Classificação, utilização e manejo de solos no sítio Carás do Massapé no município de
Juazeiro do Norte, Ceará: etnopedologia e etnoconservação.
Jose Thiago Olegário Alves (Universidade Regional do Cariri) e Simone Cardoso Ribeiro
(Universidade Regional do Cariri). Contato: [email protected].
O presente estudo objetiva compreender como os agricultores do Sítio Carás do Massapé no
município de Juazeiro do Norte, Ceará, compreendem, classificam e nomeiam os solos e
também apresentar uma técnica de etnoconservação de solo em relação aos processos erosivos
descrito pela comunidade. Foram realizadas dez entrevistas no modelo semiestruturado com os
produtores rurais com idades entre quarenta e três anos e sessenta e sete anos, está é uma
pesquisa que se baseia no método Geossistema-Cultura-Percepção. A área de estudo está
localizada na zona rural no município de Juazeiro do Norte situado na Mesorregião Sul Cearense.
Inserido na Bacia Sedimentar do Araripe onde encontramos litologias neoproterozóicas;
Formação Cariri; Formação Missão Velha e depósitos aluviais. Está localizado no Planalto
Sertanejo, formado por morfologias onduladas. O clima é o Tropical Quente Semiárido Brando,
a vegetação é secundária e a Floresta Caducifólia Espinhosa. Encontramos as classes dos
Neossolos Flúvicos e Neossolos Litólicos. Os solos reconhecidos em campo juntamente com
agricultores são descrito de terra de barro ou massapé (Neossolos Flúvicos) encontrada nos
baixios (depressões); terras de alto ou piçarra (Neossolos Litólicos) encontrado nos topos dos
morros. Nas terras de barro ou massapê são plantados arroz e milho, quando a abundantes
chuvas e os baixios fica alagados a planta do milho não se desenvolve, segundo os agricultores
o milho morre afogado. Nas terras de alto ou piçarra é plantado feijão, fava, maxixi, jerimum,
milho e o capim. Os agricultores descreveram uma técnica de conservação do solo quando
ocorrem os chamando por ele de “valado” (ravinas bem desenvolvidas). Segundo eles é uma
técnica que eles aprenderam com seus pais e com suas observações próprias. Consisti em
colocar sacos de areia no final e no meio do “valado”, quando for com um (1) ano depois da
época das chuvas o “valado” está controlado e não prejudicará mais a terra. Mencionam ainda
ele que se esta técnica não for realizada dessa forma a água “vai abrir mais valado na terra”.
Compreendemos que os solos dessa comunidade são diferenciados pelas suas propriedades
agrícolas, localização e utilização. Tendo em vista também que está técnica de controle da
erosão é uma prática de etnoconservação que busca associar a conservação da natureza com os
conhecimentos tradicionais na utilização e no manejo dos recursos naturais.
Agradece-se à Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP).
111
Conhecimento etnoecológico de pescadores acerca de peixe-boi, Trichechus spp. (Linnaeus,
1758) (Mammalia, Sirenia), no Estuário Amazônico
Tayná Leão Miranda (Universidade Federal do Pará), Ana Marta Andrade Costa (Universidade
Federal do Pará), Gabriel Melo Alves dos Santos (Universidade Federal do Pará), Angélica
Figueiredo Rodrigues (Universidade Federal do Pará), Danilo Leal Arcoverde (Universidade
Federal do Pará) e Leonardo Sena (Universidade Federal do Pará). Contato:
[email protected].
A etnoecologia estuda a interação do homem e a natureza, assim como os fatores que afetam
essa relação: degradação do habitat e caça, os quais são as principais ameaças a conservação
das espécies de peixe-boi-da-amazônia, Trichechus inunguis (Natterer, 1883), e peixe-boi
marinho, Trichechus manatus (Linnaeus, 1758). Segundo International Union for Conservation
of Nature (IUCN) as duas espécies estão classificadas como “vulnerável”. Esta pesquisa objetivou
descrever o conhecimento local dos pescadores do estuário Amazônico acerca dessas espécies,
pois os pescadores tem o conhecimento prático do ambiente que os circunda, o que facilita a
avistagem de espécies como peixe-boi, que são inconspícuos e de difícil visualização no meio
ambiente. Os dados foram coletados através de entrevistas semiestruturadas aplicadas a 26
pescadores de Belém e área insular sobre a biologia, conservação e interação do peixe-boi com
a pesca. Para as abordagens foi utilizado o método de amostragem do tipo “snow ball”, em que
o pescador entrevistado indica outros potenciais informantes. Toda contribuição nesta pesquisa
foi de caráter voluntário e a identificação do entrevistado mantida em sigilo. De acordo com as
características descritas pelos entrevistados a espécie de possível ocorrência é Trichechus
inunguis, por possuir a colocação “preta”, sem presença de unha e podendo ter uma mancha de
cor rósea/branco na região ventral. Os relatos sobre a ecologia sugerem que há padrões de
movimentação dentro do estuário Amazônico e possível motivo é a procura de alimento e/ou
de reservatórios de água doce. Em todas as localidades o período do ano relatado como de
maior frequência de avistamento é o chuvoso. Registramos captura acidental nas áreas
estudadas, este pode ser solto ou ter seus subprodutos direcionados ao uso, para fins de
consumo ou medicinal. Os artefatos utilizados para a caça intencional foram rede (N=7) e uso
de arpão (N= 12). Com relação aos potenciais alimentos consumidos pelos peixe-bois estão
aninga, Montrichardia linifera (Arruda), gramínea, Eleocharis geniculata (L.) (Roem. & Schult.),
gramínea, Eleocharis mínima (Kunt) e embaúba, Cecropia angustifolia (Trecul). As percepções
dos entrevistados mostram a riqueza dos conhecimentos sobre Trichechus spp. e sua interação
com o ecossistema. A partir dos saberes etnoecológicos dos pescadores é possível desenvolver
pesquisas com foco na ecologia alimentar, uso de habitat, padrões de movimento e delinear
áreas de ocorrência das espécies. E ainda, fornecer informações importantes para subsidiar
projetos envolvendo as comunidades locais na conservação do peixe-boi.
Agradece-se ao PIBIC – FAPESP. À FAPESPA e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) pela concessão da bolsa que possibilitou o desenvolvimento desta pesquisa.
Conhecimento etnoecológico do Anomolocardia brasiliana (marisco) pelas marisqueiras na
Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape, Paraíba
112
Emely Dias da Silva (Universidade Federal da Paraíba), Haymée Nascimento de Alencar
(Universidade Federal da Paraíba), Ewerton da Costa Pessoa (Universidade Federal da Paraíba),
Veridiana Soares dos Santos (Universidade Federal da Paraíba) e Anderson Alves dos Santos
(Universidade Federal da Paraíba). Contato: [email protected].
A etnoecologia abrangente é o campo de pesquisa transdisciplinar que estuda pensamentos,
sentimentos e comportamentos que intermediam as interações entre populações humanas que
os possuem e os demais elementos dos ecossistemas que as incluem. Anomolocardia brasiliana
(Marisco) é um molusco bivalve caracterizado como um importante elemento do ecossistema
Manguezal, desempenha funções ecológicas e serve de subsistência e renda das comunidades
pesqueiras artesanais, sendo sua coleta realizada, geralmente, pelas mulheres (marisqueiras).
O presente trabalho tem como objetivo descrever o conhecimento das marisqueiras sobre a
ecologia do marisco, utilizando-se para isto observações participantes e pesquisas informais. O
estudo foi realizado na comunidade de Barra do Rio Mamanguape, situada no Litoral Norte do
Estado da Paraíba. A. brasiliana é coletada e consumida pela comunidade ribeirinha e
comercializada nos restaurantes locais, pois apresenta uma fonte expressiva de proteínas e
minerais. Várias ferramentas como: balaio, balde, colher, frasco de manteiga e o jereré são
utilizadas durante a coleta, sendo que os homens são os principais responsáveis pelo manejo do
"jereré". As marisqueiras são cadastradas em uma colônia de pescadores, mas pescam de forma
individual. Pode-se observar que a extração do marisco é realizada em ambientes com substrato
mole constituído por sedimentos finos de silte e argila, rico em matéria orgânica e por isso tende
a apresentar uma densidade populacional alta. As marisqueiras sabem em quais tipos de solos
que A. brasiliana apresenta tamanhos maiores, quais os locais onde haverá maior incidência e
os horários que a maré estará boa para a extração do mesmo. Na área de estudo a coleta de A.
brasiliana é realizada durante todo ano, não sendo demonstrado uma redução de sua
população. Entretanto, essa extração ininterrupta prejudica o crescimento da espécie. As
conchas deixadas pelas marisqueiras em seus quintais podem prejudicá-las uma vez que pode
ocorrer a deposição de microrganismos patogênicos. Dependendo do grau de impacto, a espécie
pode ser extinta nessa área e com isso prejudicará a comunidade ribeirinha. Contudo, pode-se
observar que as marisqueiras possuem um conhecimento etnoecológico acerca do marisco e de
seu ambiente e que esses conhecimentos obtidos provêm de gerações passadas que também
desenvolviam a mesma atividade.
Agradece-se à Universidade Federal da Paraíba (UFPB) pela oportunidade de proporcionar o aprendizado
referentes aos resumos.
Conhecimento etnoecológico sobre recursos faunísticos de diferentes povos indígenas do
Cerrado
Lorena D. Guimarães (Universidade Federal de Goiás), Kátia A. Kopp (Universidade Federal de
Goiás), Carlos A. Bianchi (Universidade Federal de Goiás) e Arthur A. Bispo (Universidade Federal
de Goiás). Contato: [email protected].
O curso de Educação Intercultural da Universidade Federal de Goiás possui mais de 220
estudantes indígenas pertencentes a dezoito etnias do vale dos rios Araguaia e Tocantins. O
presente trabalho foi desenvolvido durante uma aula da disciplina Seres vivos e Biodiversidade,
onde foi proposto para 15 alunos das etnias Xerente, Javaé, Krikati, Gavião, Kraho, Karajá e
Tapirapé uma atividade na qual eles descrevessem um pouco sobre os recursos mais utilizados
113
da fauna de suas Terras Indígenas, bem como suas utilidades. O objetivo foi sistematizar e
analisar o conhecimento tradicional dos diferentes povos sobre o manejo desses recursos
faunísticos de sua região. Para obtenção dos dados foram analisados textos produzidos pelos
alunos indígenas durante a disciplina. De acordo com os Xerente a anta é o animal mais usado
nas festas tradicionais para fazer um prato típico chamado Moqueado. Alguns animais como a
anta e o catitu são capturados quando filhotes e criados nas aldeias e consumidos ou vendidos
quando adultos. Os Krikati afirmam que nunca matam os animais para esporte ou comércio,
apenas para alimentação e em grande quantidade apenas durante as festas culturais. Alguns
animais consumidos por eles são: paca, cutia, rato, morcego, papagaio, entre outras aves. Na
Festa do Gavião é exigido muitas plumas e, nessa ocasião eles caçam muitas aves, onde a carne
é consumida e as penas usadas como adornos. O artesanato também é confeccionado a partir
de elementos da fauna, como um cinto que é usado pelos homens feito de unhas de veadomateiro e catitu. Os Kraho citam que entre os animais mais caçados estão o veado, a anta, a
paca, o tatu, a cutia, a ema, o quati e o catitu. Os Tapirapé destacam o cateto como sendo um
animal muito caçado no tempo da chuva. Os ossos do cateto são colocados nas pontas das
flechas usadas pelos homens para caçar aves, peixes e mamíferos. Os Karajá destacam que os
animais mais caçados são a anta e o porcão, mas as principais fontes de proteína dos Karajá são
o peixe e tartarugas. Para os Javaé, a tartaruga é o alimento preferido. Os animais mais caçados
são pacas, veados campeiros, porco do mato e catitus. Os indígenas, de um modo geral, têm
consciência das interelações entre os animais e as plantas, bem como da sua dependência, não
apenas física, mas sobretudo cosmológica, em relação ao meio ambiente. Em função disso,
desenvolveram formas de manejo dos recursos naturais que têm se mostrado fundamentais
para a preservação da natureza.
Agradece-se à Universidade Federal de Goiás.
Criação de animais silvestres em ambiente doméstico no semiárido nordestino
Ester Rodrigues Freire (Universidade Estadual do Ceará), Josilane da Silva Ferreira (Universidade
Estadual do Ceará), Shirley Silva Sales (Universidade Estadual do Ceará), Felícia Maria Rodrigues
da Silva (Universidade Estadual do Ceará), Eva Pereira Sales (Universidade Estadual do Ceará) e
Marcelo
Campêlo
Dantas
(Universidade
Estadual
do
Ceará).
Contato:
[email protected].
Tirar uma espécie silvestre do seu habitat, para uma convivência diária, não traz conforto algum
à mesma, mas sim, sofrimento. A domesticação de animais não é um processo simples, e que
pode levar centenas de anos. Assim, o objetivo da pesquisa foi compreender quais fatores
influenciam a domesticação da fauna silvestre em área urbana do semiárido brasileiro. Foi
aplicado um questionário semiestruturado a 45 habitantes moradores no bairro dos Venâncios,
município de Crateús, Ceará. Foi observado que 67,0% dos entrevistados mostraram
conhecimento sobre a definição de animais silvestres. Um total de 275 espécimes, consideradas
silvestres, foi citado na pesquisa, dentre os quais 23 espécies de aves e uma de réptil. As
principais motivações para o ato foram a distração pessoal (55,0%) e a beleza do animal (24,0%).
Em relação à alimentação, uma parcela de 44,5% usa ração e 42,3% sementes, o restante faz
uso de frutas ou restos de alimentos cozidos. Para o período de tempo que o animal permanecia
em cativeiro, sobressaiu o período superior a um ano, com 54,0%. A maioria dos entrevistados
(76,0%) afirmou que os animais nunca apresentaram agressividade. Ressalta-se que somente as
espécies citadas pelos entrevistados fizeram parte da amostra, porém, muitos possuíam outras
114
espécies nos domicílios. Dentre esses se destacam preás (Cavia Aperea), tatus bola e peba
(Tolypentis tricinctus, Euphractus sexcintus) e um sagui (Callithrix jacchus). O medo de
fiscalização era o principal fator para não responderem de forma fidedigna. Observa-se o
conhecimento sobre os riscos de domesticar animais silvestres, bem como a compreensão que
estão à margem da lei. Todavia, por ser uma atividade difundida por gerações, continuam
mantendo-os em cativeiro como algo inofensivo. O fato de passarem em média um ano em
cativeiro indica que muitos padecem por estresse, depressão ou por alimentação nem sempre
adequada à espécie. Os prejuízos à qualidade de vida do animal é fator secundário, em meio à
vontade humana de suprir seus desejos.
Agradece-se à Universidade Estadual do Ceará e à todas as pessoas que colaboraram com a pesquisa.
Definição de critérios de seleção de ovinos da raça Morada Nova em seu centro de origem
com base no conhecimento local
Janaina Kelli Gomes Arandas (Universidade Federal Rural de Pernambuco), Maria Norma Ribeiro
(Universidade Federal Rural de Pernambuco), Ângelo Giuseppe Chaves Alves (Universidade
Federal Rural de Pernambuco), Ernandes Barboza Belchior (Embrapa Caprinos e Ovinos), Luciana
Shiotsuki (Embrapa Caprinos e Ovinos), Paulo Márcio Barbosa de Arruda Leite (Universidade
Federal Rural de Pernambuco) e Olivardo Facó (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
Contato: [email protected].
Estratégias de melhoramento adequadas à realidade dos sistemas de produção locais são
necessárias para implementação de programas de desenvolvimento sustentável e, um dos
primeiros passos é a escolha dos critérios de seleção de animais baseados no conhecimento dos
guardiões desses recursos valiosos, os criadores. Esta pesquisa teve por objetivo fazer o estudo
etnozootécnico da raça ovina Morada Nova em seu centro de origem, Morada Nova, Ceará,
através do registro e análise dos conhecimentos e práticas dos criadores, no que se refere a
critérios de seleção utilizados na escolha dos animais para reprodução de forma a gerar
informações técnicas para subsidiar o programa de melhoramento participativo da raça. Para
identificação dos critérios de seleção foram entrevistados 13 criadores. Desse grupo, cinco eram
membros do programa de melhoramento (PPM) e oito deles não participantes do programa de
melhoramento da raça (NPPM). Foram identificados critérios de seleção indicados pelos dois
grupos de criadores, a partir das entrevistas. Para os animais machos as características citadas
foram: cor da mucosa, cor da pelagem, tamanho da orelha, tamanho da cauda, conformação do
corpo, aprumos, conformação dos testículos, ausência de chifre, conformação da cabeça,
rusticidade e cor do casco. Para as fêmeas foram indicados os critérios: cor da mucosa, cor da
pelagem, tamanho da orelha, tamanho da cauda, conformação do corpo, aprumos, ausência de
chifre, conformação da cabeça, habilidade materna, produção de leite, conformação do úbere
e cor do casco. Os critérios indicados para seleção de machos e fêmeas pelos dois grupos de
criadores foram submetidos à análise de frequências utilizando o software Statistical Analysis
System 1999. As características mais citadas na seleção de machos para os criadores do grupo
PPM foram cor da mucosa, cor da pelagem e conformação do corpo (freq = 0,80) e para os
criadores do grupo NPPM foram cor da pelagem (freq = 0,75) e cor do casco (freq = 0,88). Para
as fêmeas, as características de maior frequencia foram cor da pelagem (freq = 0,50) para os
criadores do grupo PPM e conformação do corpo (freq = 0,63) e cor do casco (freq = 0,75) para
os criadores do grupo NPPM. Observou-se que as características de maior frequência indicadas
pelo grupo PPM são distintas daquelas indicadas pelo grupo NPPM, mas todas fazem parte do
115
padrão oficial da raça. Essas informações podem ser úteis para avaliar o impacto dos critérios
de seleção adotados por cada grupo na conservação e melhoramento da raça.
Agradece-se à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA).
Determinantes do consumo doméstico de lenha em comunidades rurais do Parque Nacional
do Catimbau, Pernambuco, Brasil
Bárbara Cavalcante Felix da Silva (Universidade Federal de Pernambuco) e Felipe Pimentel Lopes
de Melo (Universidade Federal de Pernambuco). Contato: [email protected].
A extração de madeira é um dos vetores de perturbação antrópica que mais afetam as florestas
tropicais atualmente. Os fatores socioeconômicos têm sido apontados como importantes
determinantes da demanda doméstica de recursos florestais madeireiros por populações rurais.
Neste estudo, além da influência destes fatores na demanda doméstica por madeira para o uso
de lenha, investigou-se também o papel da Prosopis juliflora (Sw) DC., algaroba, como uma
alternativa ao uso de madeira de espécies nativas, pelo fato desta espécie invasora está
amplamente distribuída no ecossistema de estudo (Caatinga), reunindo características
favoráveis ao seu uso: acessibilidade, disponibilidade e madeira de boa qualidade. Testou-se a
hipótese de que fatores socioeconômicos explicam a demanda doméstica por madeira; e,
adicionalmente, que a P. juliflora atua como um recurso substituto a madeira de espécies
nativas. Foram realizadas 92 entrevistas semiestruturadas com chefes de família, por meio das
quais foi acessado o perfil socioeconômico das famílias e as informações relativas ao uso
doméstico de madeira. Foi mensurado o consumo médio diário de lenha pelo método do "dia
médio" onde o responsável pelo fogão reúne a quantidade de lenha utilizada normalmente em
um dia e a biomassa é aferida com balança de mão. Para testar a relação entre o consumo
doméstico de lenha e o perfil socioeconômico das famílias, utilizou-se dos Modelos Lineares
Gerais. O teste foi realizado com o consumo anual de lenha (consumo diário de lenha x
frequência de uso semanal x total de semanas em um ano). Para testar a influência da P. julifora
na redução do uso de espécies nativas, utilizou-se um teste de Mann-Whitney comparando a
riqueza de espécies citadas entre os entrevistados que usam e não usam P. julifora. Houve
influencia da renda per capita (F= 6,77; GL= 1; p=0,01), do tamanho da família (F= 9,42; GL= 1;
p=0,002) e da escolaridade (F= 2,93; GL=4; p= 0,025) na quantidade de lenha consumida,
evidenciando que o uso de lenha é fortemente direcionado pela dependência econômica da
atividade de extração, uma vez que há economia de dinheiro gerada pelo não uso de substitutos
industrializados. A riqueza média de espécies usadas para lenha foi semelhante entre os
entrevistados que usam lenha de P. juliflora e aqueles não usam esta espécie (U=1,5; p=0,69),
indicando que a P. juliflora parece atuar mais como uma opção adicional de recurso do que
como um substituto propriamente dito.
Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Agradeço
especialmente aos moradores do Parna Catimbau por compartilharem seus conhecimentos e modos de
vida, permitindo a realização desse estudo. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi
analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Pernambuco sob o registro
32279814.4.0000.5208.
116
Diagnóstico do sistema de produção de agricultores da comunidade Ilha de Vera Cruz,
Maués, Amazonas
Jane Maciel Leão (Universidade Federal do Amazonas), Sandra do Nascimento Noda
(Universidade Federal do Amazonas) e Maria Silvesnízia Paiva Mendonça (Universidade Federal
do Amazonas). Contato: [email protected].
O sistema de produção da agricultura familiar amazonense expressa níveis de complexidade no
manejo dos recursos disponíveis e na administração da força de trabalho familiar envolvida. O
conhecimento da dinâmica da paisagem é fundamental para a prática agrícola e construção dos
espaços permanentes e temporários. Buscou-se com este estudo caracterizar os componentes
do sistema de produção dos agricultores familiares da comunidade Ilha de Vera Cruz localizada
no Município de Maués, Amazonas. O diagnóstico do sistema de produção das famílias
selecionadas realizou-se por meio de formulário previamente elaborado onde foram observadas
a diversidade dos componentes do sistema de produção, junto as características sociais e
culturais que envolvem a família e suas atividades dentro da comunidade. Os componentes roça
e sítio encontraram-se em destaque e com maior frequência na localidade, sendo a roça inserida
em um sistema agrícola espaço-temporalmente cíclico que envolve a integração entre períodos
de cultivo e de descanso com a técnica de pousio até a reconstituição da vegetação através da
sucessão ecológica. Comumente os cultivos de espécies alimentares são realizados em
consórcio, raramente são apresentados em monocultivos, quando se trata do roçado, como
observado durante o estudo realizado. O consórcio tem por finalidade diversificar a produção,
disponibilizando variação na alimentação da família. No Amazonas, os sistemas promovem uma
organização social favorecendo o emprego de estratégias no uso dos recursos, mantendo no
local diversidade de espécies e variedades empregando-as para produção familiar e em alguns
casos para comercialização, como a farinha de mandioca e os produtos do guaraná. Os sítios
desempenham papel importante por apresentar grande quantidade de espécies vegetais
frutíferas, medicinais e hortícolas, tendo também apresentado atividades de criação de animais.
A proximidade desse componente à moradia do agricultor exerce papel ecológico. O universo
diferenciado dos sistemas de produção nas regiões está composto de estratégias próprias de
sobrevivência e de produção, que reagem de maneira diferenciada a desafios, oportunidades e
restrições semelhantes e que, portanto, demandam tratamento compatível com as diferenças.
Agradece-se à Universidade Federal do Amazonas, à Profa. Dra. Sandra Noda, a Profa. Janete Maciel Leão
pelo apoio com as pesquisas e aos moradores da Comunidade Ilha de Vera Cruz.
Diagnóstico rural participativo do manejo da Caatinga em assentamentos rurais no estado de
Sergipe
Lucas Oliveira do Amorim (Universidade Federal de Pernambuco), Lanna Cecília Lima de Oliveira
(Universidade Federal da Paraíba), Fernando Fleury Curado (Embrapa Tabuleiros Costeiros),
Amaury da Silva dos Santos (Embrapa Tabuleiros Costeiros) e Anabel Aparecida de Mello
(Universidade Federal de Sergipe). Contato: [email protected].
As comunidades rurais do semiárido brasileiro manejam os recursos florestais visando obter
seus produtos e subprodutos. Ao desenvolver tal atividade, os agricultores demonstram um
conhecimento que é derivado da sua prática, de observações que, muitas vezes, são aplicadas
117
intuitivamente, sem que sejam codificadas pelo conhecimento científico. Partindo deste
pressuposto, este trabalho objetivou identificar os principais usos dos fragmentos florestais e as
práticas de manejo empregadas por agricultores de dois assentamentos rurais do semiárido
sergipano. Esta pesquisa foi desenvolvida nos Projetos de Assentamento Santa Rita e José
Gomes da Silva, nos municípios de Canindé de São Francisco e Lagarto, respectivamente, ambos
com 40 famílias. Inicialmente foram realizadas oficinas e posteriormente entrevistas
semiestruturadas individuais em 10% dos domicílios de cada assentamento, não sendo seguido
nenhum modelo estatístico. Constatou-se que nas duas comunidades estudadas a utilização dos
recursos florestais madereiros e não-madereiros, é algo bastante presente no cotidiano dos
assentados. Durante as discussões os assentados relataram inúmeros usos possíveis dos
remanescentes florestais, sendo observado o vasto conhecimento dos agricultores no tocante
aos benefícios das florestas. Foi possível observar que nas comunidades estudadas há uma
grande demanda por madeira, que é utilizada, principalmente como combustível ou na
construção de cercas. No PA Santa Rita, os agricultores preferem produzir carvão, enquanto no
José Gomes da Silva os agricultores optam por utilizar a própria lenha. Em relação aos tipos de
corte que realizam para obter a madeira, percebeu-se que variam de acordo com o destino final
do produto. No PA Santa Rita observou-se o corte raso e a poda dos ramos. Já no PA José Gomes
da Silva foi observado a preferência pela poda de ramos e, em algumas situações, o corte raso.
Esta diferença pode ser justificada pelo fato da madeira ser bastante utilizada para fabricação
de carvão no primeiro assentamento, aproveitando-se toda a árvore para esta finalidade. Já no
segundo assentamento, os galhos são cortados e destinados para construção de cercas e usados
como lenha. Os resultados alcançados pelo estudo evidenciaram a existência de um profundo
conhecimento empírico dos agricultores assentados em relação ao uso e manejo sustentável
dos recursos florestais nestes assentamentos.
Agradece-se aos agricultores que fizeram parte do estudo.
Elaboração de Planos de Gestão Territorial Indígena na bacia do Rio Juruena e o
conchecimento ecológico associado
Artema Santana Almeida Lima (Operação Amazônia Nativa), Fabiano Rodrigues da Matta
(Operação Amazônia Nativa) e Tarcísio da Silva Santos Júnior (Universidade Federal de Mato
Grosso). Contato: [email protected].
A Operação Amazônia Nativa (OPAN) desenvolve o Projeto Berços das Águas com o patrocínio
da Petrobras, junto aos povos Manoki, Myky, Nambiquara e Sabanê. Estes territórios abrangem
um conjunto de 04 terras indígenas com uma área de 456881,28 hectares e uma população de
1017, localizados na bacia do rio Juruena, região de transição entre o cerrado e a floresta
amazônica no Estado de Mato Grosso. Com o objetivo de elaborar e implementar planos de
gestão territorial e ambiental em consonância com a Política Nacional de Gestão Ambiental e
Territorial Indígena (PNGATI), facilitamos a partir de uma metodologia participativa a elaboração
de 03 planos de gestão territorial das TIs Manoki, Myky e Pirineus de Souza. Os
etnomapeamentos e expedições possibilitaram o registro do conhecimento ecológico sobre o
uso e ocupação dos territórios. Para os Myky, Manoki e Sabanê, as paisagens possuem
categorias próprias com maior ou menor frequência da caça, do extrativismo ou coleta (mata
alta, patuazal, cerrado baixo, barreiro, cavernas etc). Outras categorias são denominadas para
os locais de pesca (lagoas, rios etc) e zonas de uso. Eles alternam os lugares onde exercem suas
atividades de caça de acordo com as espécies mais apreciadas na sua dieta alimentar e
118
sazonalidade e praticam a pesca com diferentes técnicas de captura (arpão, mascaras, anzol
etc). Cada categoria de paisagem, ou zona de uso, vem a ser um sistema complexo com
interações ecológicas entre animais, plantas, solos, rios e seres espirituais. O conhecimento
ecológico está também relacionado às táticas de manejo como: a disseminação da variedade
genética de sementes crioulas associadas às trocas interétnicas por meio dos intercâmbios, o
manejo das abelhas que pressupõem diminuir e controlar o risco de incêndios dentro dos
territórios, o extrativismo de frutos do cerrado com adensamento de espécies como o pequi e
de produtos da floresta, como a seringa e o patuá, conservando não só as espécies manejadas,
mas garantindo a integridade de outras espécies vegetais e animais, a dinâmica dos
ecossistemas e a proteção dos locais sagrados correlacionados como exemplo das cavernas para
a caça de morcegos pelos Sabanê. O resultado desta pesquisa evidencia que para os Manoki,
Myky e Sabanê gestão territorial é cuidar do território, e ensinar para os mais jovens os saberes
e práticas tradicionais de manejo e uso da biodiversidade para a garantia dos seus modos de
vida e rituais associados.
Agradece-se à Petrobras e aos povos indígenas envolvidos no projeto.
Entre a Etnobotânica e a Etnozootecnia: problemas relativos à saúde animal e à conservação
da biodiversidade no contexto da ovinocultura na Toscana, Itália
Angelo G. C. Alves (Universidade Federal Rural de Pernambuco), Maria N. Ribeiro (Universidade
Federal Rural de Pernambuco), Riccardo Bozzi (Unifi/Scuola di Agraria), Piero Bruschi
(Unifi/Scuola di Agraria) e Roberto G. Costa (Universidade Federal da Paraíba). Contato:
[email protected].
Os esforços para conservação da biodiversidade em agroecossistemas incluem também plantas
e animais domesticados. Realizou-se uma pesquisa na Toscana, Itália, com pastores de ovinos
das raças Zerasca e Pomarancina. Ambas são raças autóctones ameaçadas, pertencentes ao
tronco apenínico e produtoras de carne. Buscou-se descrever e analisar os conhecimentos locais
referentes aos cuidados com a vida e a saúde dos ovinos, com destaque para usos de plantas no
tratamento de enfermidades desses animais. Utilizou-se como base o conceito de "estilos de
agricultura" ("farming styles"), que permite relacionar as dimensões cultural, técnica e
ambiental da produção agropecuária. Inicialmente fez-se um levantamento no campo para
identificar temas e problemas relevantes na ovinocultura local. Verificou-se uma tendência de
desconexão com as práticas ancestrais de uso veterinário de plantas, caracterizando neste
aspecto uma situação de "extinção da experiência". Ainda em referência à proteção da vida e
da saúde animal, observou-se um forte conflito dos pastores com os lobos (Canis lupus italicus
Altobello, 1921), principais predadores de ovinos na região. Aproximadamente a metade das
fazendas eram conduzidas por mulheres; a mão de obra era quase exclusivamente familiar; a
criação de ovinos não era fonte principal de renda das famílias; o trabalho fora das fazendas
representava, em geral, a fonte principal de renda familiar e o turismo rural era ainda uma
atividade pouco explorada pelo conjunto dos pastores. Cerca de 75% reportou ataques de lobos
aos seus rebanhos. Isto tem causado transformações no manejo, com aumento dos custos de
produção, segundo a percepção dos pastores. A maioria deles afirmou que o aumento da
população de lobos resulta de reintrodução intencional destes predadores, supostamente
realizada por órgãos de defesa do meio ambiente. Essa versão é negada pelos órgãos estatais e
pela comunidade científica italiana em geral. É, portanto, um conflito múltiplo, não apenas entre
homens e carnívoros, mas também entre pastores e agentes do estado nacional. Os rumores
119
sobre a reintrodução intencional de lobos podem ser vistos como "folk social science", isto é,
explicações do mundo que representam uma resistência cultural contra as narrativas
dominantes e as estruturas de poder que as sustentam. Abordagens etnocientíficas podem
contribuir para mediar esses conflitos.
Estudo etnoecológico nos municípios do entorno do Parque Nacional da Restinga de
Jurubatiba, Rio de Janeiro, Brasil
Victoria Macarena Ramos Anguita (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Nathalia Moura
Muzy Fuentes (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e Christine Ruta (Universidade Federal
do Rio de Janeiro). Contato: [email protected].
A etnoecologia, um dos eixos da etnociência, aborda a relação das sociedades humanas com
seus territórios, enfatizando as práticas de manejo e utilização dos seus recursos, considerando
as características ecológicas das espécies e dos ecossistemas. Uma das áreas da etnociência é a
etnobiologia, que através da etnozoologia e da etnobotânica, tem sido bastante utilizada em
trabalhos sobre as relações entre homem/biodiversidade em Unidades de Conservação. O
principal objetivo deste trabalho foi estudar a relação homem-natureza no Parque Nacional da
Restinga de Jurubatiba através do eixo da etnoecologia e realizar um levantamento sobre o
conhecimento local dos moradores do entorno do parque sobre a biodiversidade,
especialmente fauna e flora. O Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, criado em 1998 na
região Norte Fluminense, é um ecossistema de grande importância ecológica representada pela
fauna e flora peculiares de restinga. Para o presente estudo foram realizadas em 2012
entrevistas semi-estruturadas nos três municípios que abrangem o parque com nove
moradores, o critério utilizado para a seleção dos entrevistados foi o tempo de moradia no local,
sendo selecionados moradores que nasceram na região ou ali chegaram antes do ano de criação
do parque. Algumas questões norteadoras durante as entrevistas foram realizadas sobre o
conhecimento sobre o parque e a biodiversidade no ecossistema restinga. As entrevistas foram
gravadas e transcritas, os nomes populares citados durante as entrevistas foram preservados e
os organismos citados foram posteriormente classificados até o menor nível possível, sendo
configurada uma lista de etnoespécies. Um total de 47 citações de fauna e 27 citações de flora
foram feitas pelos entrevistados, resultando em 29 etnoespécies de fauna e 21 etnoespécies de
flora diferentes. As principais conclusões deste estudo foram que os moradores reconhecem a
importância da criação do parque para a preservação do ecossistema, e apesar de conhecerem
a fauna e flora nativa da região, este conhecimento é escasso quando comparado com o número
de espécies observado pelos pesquisadores para região.
Agradece-se ao PELD do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),
EXTPESQ-FAPERJ, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e PIBIC-UFRJ.
Estudo etnoecológico sobre os usos do pequi, Caryocar brasiliense, Cambess., no quilombo
de Pontinha, Minas Gerais: subsídios para geração de trabalho e renda.
Lorena Cristina Lana Pinto (Universidade Federal de Minas Gerais), Irla Paula Stopa Rodrigues
(Universidade Federal de Minas Gerais), Lídia Maria de Oliveira Morais (Universidade Federal
de Minas Gerais), Paulina Maia Barbosa (Universidade Federal de Minas Gerais) e Maria
120
Auxiliadora
Drumond
(Universidade
[email protected].
Federal
de
Minas
Gerais).
Contato:
O conhecimento local sobre a biodiversidade vem sendo cada vez mais incorporado a projetos
e programas voltados à conservação e manejo de recursos naturais. O pequi, C. brasiliense,
destaca-se, por ser tradicionalmente consumido e comercializado por comunidades que vivem
no cerrado. Em Minas Gerais, a comunidade quilombola de Pontinha obtém sua principal fonte
de renda a partir do extrativismo de minhocuçus, Rhinodrilus alatus. O plano de manejo para
essa espécie prevê que ela não seja capturada durante seu período reprodutivo e o
desenvolvimento de alternativas de trabalho e renda para os extrativistas. Sendo o pequi
abundante no território quilombola e frutificando no mesmo período de reprodução do
minhocuçu, vislumbrou-se seu uso como possível alternativa econômica para essa comunidade.
Visando dar subsídios à análise de viabilidade dessa alternativa, um estudo sobre os usos e a
etnoecologia do pequi foi desenvolvido em Pontinha no ano de 2013. Ao todo foram aplicadas
30 entrevistas semiestruturadas com moradores de Pontinha, além das ferramentas observação
participante e travessia. Os entrevistados foram selecionados por meio da metodologia bola de
neve e, assim, participaram do estudo 19 mulheres e 11 homens, com idade entre 17 a 83 anos.
O pequi é utilizado em Pontinha na alimentação, no preparo de medicamentos caseiros e na
produção de sabão e óleo. Os entrevistados reconhecem os pequizeiros por algumas
características de seus frutos: “doces”, “carnosos”, “marujentos”, “rançosos” e “amargos”. As
três últimas denominações estão relacionadas ao sabor desagradável dos frutos, sendo estes
empregados apenas na produção de sabão. A época de floração do pequizeiro ocorre
geralmente de junho a outubro e a frutificação entre outubro a fevereiro, sendo o pico da safra
nos meses de dezembro a janeiro. A maioria dos entrevistados (60%) identifica a ação de animais
na dispersão dos frutos, tendo sido citados: morcegos, tatus, besouros, formigas, maritacas,
tucanos e papagaios. As abelhas foram os visitantes florais com maior porcentagem de citação
(70%). Brocas e lagartas foram apontadas como as principais pragas dos pequizeiros, trazendo
prejuízos às folhas e frutos. Os entrevistados percebem que os indivíduos jovens são os mais
afetados pelo fogo, devido ao seu menor porte e por terem a casca menos espessa. Embora o
pequi ainda não seja utilizado em Pontinha como alternativa de geração de trabalho e renda
para o minhocuçu, o reconhecimento da importância cultural e biológica deste fruto constitui
subsídios relevantes para iniciativas de uso econômico deste recurso por esta comunidade
quilombola.
Agradece-se à comunidade de Pontinha e à Floresta Nacional de Paraopeba, ProExt/MEC, ProEx/UFMG,
PRPq/UFMG, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e PPGECMVS/UFMG.
O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética
da Universidade Federal de Minas Gerais sob o registro 0388812.2005149.
Etnoecologia de Butia catarinensis (Noblick & Lorenzi 2010) em Laguna, Santa Catarina
Isabela Barasuol Fogaça (Universidade Federal de Santa Catarina), Tatiana Mota Miranda
(Universidade Federal de Santa Catarina) e Nivaldo Peroni (Universidade Federal de Santa
Catarina). Contato: [email protected].
O Butia catarinensis Noblick & Lorenzi, família Arecaceae, é uma espécie endêmica da restinga
centro-sul catarinense que, além de sua importância ecológica, tem sido usada há séculos pelas
populações locais do litoral de Santa Catarina, que atualmente, extraem seus frutos para uso e
sustento familiar. Neste contexto, este estudo buscou acessar e analisar o conhecimento
121
etnoecológico local dos extratores/vendedores de butiá situados no município de Laguna, Santa
Catarina, especialmente no que se relaciona à sua biologia reprodutiva, técnicas de manejo e
seus usos locais. Para isso, foram realizadas 15 entrevistas semiestruturadas, com escolha dos
colaboradores através do método bola de neve, com extratores/vendedores de butiá cujo
critério de inclusão foi estarem vendendo o mesmo na rodovia BR-101. As entrevistas ocorreram
em bairros que sofrem grande influência da BR-101, a qual corta o município, possuindo estes,
então, uma característica urbanizada. Os extratores/vendedores, com idade média de 46 anos,
são predominantemente do sexo masculino (80%) e mais da metade deles (60%) vendem o butiá
durante todo o ano, sendo caracterizados como fixos nesta ocupação, além de ser essa sua
principal fonte de renda. Os colaboradores que vendem o butiá apenas no pico de produção de
frutos (40%) foram caracterizados como temporários. Ambos possuem conhecimento específico
da espécie, da extração dos frutos, dos seus principais polinizadores (abelha e marimbondo) e
dos predadores (abelha, aracuã e formiga). Os períodos de floração e frutificação condizem com
a literatura, e tem início em agosto e outubro, respectivamente. A maioria dos entrevistados
não pratica manejo nas áreas usadas para extração. Os usos mais citados para os frutos foram:
suco (100%), cachaça (73,3%), sorvete (46,6%) e picolé (46,6%). Evidenciou-se ainda, que a
extração do butiá ocorre de forma intensa na época de frutificação, ocasião em que as áreas
sofrem muita pressão de uso e pouco manejo. O conhecimento sobre os períodos de floração e
frutificação, bem como os visitantes florais e frugívoros, foi considerável, pois a relação dos
extratores/vendedores com a espécie ocorre predominantemente quanto a extração dos frutos,
ou seja, com foco na estrutura reprodutiva, motivado pelo interesse econômico.
Agradece-se à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), Laboratório de Ecologia Humana e Etnobotânica, ao meu orientador
Nivaldo Peroni, à Tatiana Mota Miranda e aos colegas que ajudaram na realização do trabalho.
Etnoecologias urbanas: os saberes e sabores do quintal
João Henrique de Azevedo Xavier (Universidade Federal de Minas Gerais), Letícia Oliveira
Moraes Starling (Universidade Federal de Minas Gerais) e Luana do Carmo Araújo de Oliveira
(Universidade Federal de Minas Gerais). Contato: [email protected].
Lar de pessoas vindas de diferentes contextos, as favelas expressam e ressignificam uma
diversidade de saberes trazidos da roça, originando práticas de plantio, manejo e uso de
alimentos, que são conjunção dos saberes da terra no ambiente urbano. O resultado é
patrimônio para as cidades, por sua riqueza e por torná-las ambiente mais produtivo. O
Aglomerado da Serra não é diferente. A maior favela de Belo Horizonte tem, em suas raízes,
sábios da terra. Interessado em dialogar com essa realidade socioambiental, o Grupo Aroeira
estabeleceu e fortalece ações junto à comunidade desde 2008. A partir de nossas experiências
com a comunidade hipotetizamos que o estímulo ao diálogo e intercâmbio entre experiências
enriqueceria a prática individual e ajudaria na construção de uma rede de troca de
conhecimentos. Na busca da troca de saberes, o Grupo Aroeira articulou o ciclo de encontros
temáticos “Saberes e Sabores do Quintal” nas vilas do Aglomerado da Serra no primeiro
semestre de 2014, estendendo a participação a pessoas de outras partes da cidade. O intuito
era realizar oficinas com receitas sobre alimentação saudável, reaproveitamento integral de
alimentos, promoção da economia local e utilizando recursos disponíveis nos quintais. Nos
encontros, sempre com a facilitação de um convidado, eram feitas conversas e produzidos
alimentos dentro dos temas propostos, como pães, tortas, sucos e bolos. Também visitas em
grupos as casas de moradores, com identificação da agrobiodiversidade dos quintais. Entre
122
plantas medicinais e hortaliças não convencionais, como umbigo de bananeira, bertália,
peixinho, alfavaca e capuchinha foram resgatados saberes e sabores. Os encontros foram
registrados em fotos e vídeos e os relatos refletem a riqueza dos saberes compartilhados e os
bons vínculos de amizade cultivados entre extensionistas e moradores da comunidade, além dos
participantes se mostrarem engajados em praticar modos mais saudáveis de cuidado com a
alimentação e a saúde. O público era majoritariamente da terceira idade, o que explicita que
estes saberes são mantidos, principalmente, pelos que viveram a experiência de agricultor. A
manutenção destas práticas depende da participação de jovens, o que se busca estimular nos
projetos do Grupo. Do ciclo resultaram troca de mudas, sementes, receitas, saberes e saudade.
Agradece-se aos moradores do Aglomerado da Serra, ao Grupo SEMEAR, a Horta Comunitária do Cafezal,
especialmente S. Durval e D. Dirinha, a Proex/UFMG e ao FNS, que nos financia.
Etnogeomorfologia: classificação das formas de relevo e da erosão segundo a percepção dos
agricultores do sítio Carás do Massapé no município de Juazeiro do Norte, Ceará
Jose Thiago Olegário Alves (Universidade Regional do Cariri) e Simone Cardoso Ribeiro
(Universidade Regional do Cariri). Contato: [email protected].
As comunidades tradicionais percebem, classificam e nomeiam os processos
morfoesculturadores da superfície e suas formas correlatas e utilizam estes saberes na utilização
e no manejo do complexo solo-relevo nas suas atividades cotidianas. O presente estudo objetiva
compreender como os agricultores do Sítio Carás do Massapé no município de Juazeiro do
Norte, Ceará, compreendem, classificam e nomeiam as formas de relevo e os processos
erosivos. Foram realizadas dez entrevistas no modelo semiestruturado com os produtores rurais
com idades entre quarenta e três anos e sessenta e sete anos, está é uma pesquisa que se baseia
no método Geossistema-Cultura-Percepção. A área de estudo está localizada na zona rural no
município de Juazeiro do Norte situado na Mesorregião Sul Cearense. Inserido na Bacia
Sedimentar do Araripe onde encontramos litologias neoproterozóicas; Formação Cariri;
Formação Missão Velha e depósitos aluviais. Está localizado no Planalto Sertanejo, formado por
morfologias onduladas. O clima é o Tropical Quente Semiárido Brando, a vegetação é secundária
e a Floresta Caducifólia Espinhosa. Encontramos as classes dos Neossolos Flúvicos e Neossolos
Litólicos. Os entrevistados descrevem as formas do relevo como: baixa; pé da baixa e alto. As
baixas são as depressões; os pé de baixa são os inícios dos morros; os altos são os topos dos
morros. Os processos erosivos descritos e reconhecidos em campo são chamados de levadas,
riacho e valado. As levadas e riachos são ravinas em desenvolvimento, valado são ravinas bem
desenvolvidas, mas os chamados valados são reconhecidos por poucos agricultores, sendo o
mais comum levada e riacho. Compreendem que as causas dessas levadas, riacho e valado, são
consequência das águas das chuvas. Ocorrendo nos pé de baixa áreas mais inclinadas do relevo.
Percebemos que os agricultores compreendem as formas de relevo pelas feições apresentadas
na paisagem, sendo seus métodos de classificação a observações empíricas que por sua vez
foram transmitidas através da oralidade. Compreendendo como as comunidades percebem as
formas do relevo e os processos morfogenéticos, poderemos juntamente com os produtores do
espaço rural desenvolver métodos ecologicamente viáveis de utilização e manejo do complexo
relevo-solo.
Agradece-se à Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP).
123
Hábitos alimentares e produção de alimentos na comunidade da Casca, Rio Grande do Sul:
valorização da identidade quilombola na perspectiva da Segurança Alimentar
Marina Guahnon (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Vanessa Chaves Rosa
(Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Karin Luísa Lütkemeier (Universidade Federal do
Rio Grande do Sul), Alana Casagrande (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Marcia dos
Santos Berreta (Universidade Estadual do Rio Grande do Sul), Gabriela Coelho-de-Souza
(Universidade Federal do Rio Grande do sul) e Rumi Regina Kubo (Universidade Federal do Rio
Grande do Sul). Contato: [email protected].
O Núcleo de Estudos e Pesquisas em Segurança Alimentar e Nutricional da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul está desenvolvendo na comunidade quilombola da Casca, entre janeiro e
dezembro de 2014, uma ação de extensão que contempla a promoção de práticas ligadas à
Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) nesta comunidade. A comunidade fica localizada no
município de Mostardas (RS), é composta por 85 famílias e foi o primeiro quilombo no meio
rural do Rio Grande do Sul a ter reconhecida a titulação de suas terras e a receber uma escola
tipicamente quilombola, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Quitéria Pereira do
Nascimento, que possui atualmente 16 alunos. A proposta da ação é buscar uma interação local
que promova estratégias de SAN a partir de suas demandas, resgatando elementos culturais e
valorizando sua identidade, bem como fortalecer a produção local de alimentos, tendo como
base o conceito de SAN definido na Lei nº11.346/2006, que enfatiza o respeito à diversidade
cultural nas práticas alimentares e que estas sejam social, econômica e ambientalmente
sustentáveis. Nesse sentido foi realizado um diagnóstico com as famílias dos estudantes da
escola Quitéria através de questionários semiestruturados e visitas às propriedades, totalizando
10 entrevistas, bem como reuniões com instituições locais no intuito de firmar parcerias e
delinear ações junto à escola e a comunidade, pois se observou nos diagnósticos prévios um
forte envelhecimento do campo na região. Todas as famílias visitadas possuem algum tipo de
cultivo (especialmente bata-doce, aipim, couve) e criação de animais (galinha, pato, vaca,
cavalo, ganso), adicionalmente a presença da pesca e alguma caça. Há produção de algum
excedente (60% das famílias), os quais são trocados com outras famílias ou em dois casos é
vendido. Merece destaque também a presença de alguns cultivos considerados típicos do local
como o feijão sopinha e a batata-abóbora. Relatam também o cultivo de ervas medicinais
(marcela, erva-santa, guaco, boldo, entre outras). De forma geral, pode-se caracterizar que o
cultivo e as criações destinam-se majoritariamente ao autoconsumo. Dentre os relatos mais
frequentes sobre a qualidade da alimentação vinda da produção local, estava a dificuldade no
plantio de hortaliças e frutas devido ao clima e ao solo, o que prejudica a variedade da produção
local. Porém foi constatado que não há escassez de alimentos, mesmo com uma variedade
aquém do desejado pode-se considerar que a comunidade não se encontra em situação de
insegurança alimentar.
Agradece-se à Proext/Mec/SESU.
Históricos de conformação da agricultura africana à quilombola: elementos, processos e
invenções
Marcus Vinícius de Souza Mouzer (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Rumi R. Kubo
(Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Gabriela Coelho-de- Souza (Universidade Federal
124
do Rio Grande do Sul), Alana Casagrande (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e Vanessa
Chaves Rosa (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Contato: [email protected].
Este trabalho pretende, a partir de aspectos da agricultura africana relatados na obra do
historiador Mário José Maestri Filho, "A agricultura africana nos séculos XVI e XVII no litoral
angolano" de 1978, perceber juntamente às perspectivas da etnoecologia, história e
antropologia quais elementos, processos e invenções são ainda notáveis na agricultura
quilombola do litoral médio do Rio Grande do Sul na atualidade, especialmente na constituição
das chácaras da comunidade negra rural do Limoeiro, Rio Grande do Sul. Neste sentido, uma
bio-antropologia propõe que concebamos a história como um processo no qual os seres
humanos não são tanto transformadores do mundo, mas, principalmente, atores
desempenhando um papel na transformação do mundo por ele mesmo. A história é, em síntese,
um movimento de autopoiese. Neste processo, os organismos podem tanto desempenhar um
papel de produtores quanto de produtos de sua própria evolução, uma vez que, por meio de
suas ações, eles contribuem ao mesmo tempo para as condições ambientais de seu próprio
desenvolvimento e para aquelas do desenvolvimento dos outros organismos com os quais eles
estão em relação. Isso ilustra de forma interessante a arte e ciência de manejar (-se) ambientes
(campos, florestas, agroflorestas, açudes, roças, animais, etc.) tão comuns nas chácaras dos
agricultores negros do Limoeiro. Ao se realizar a leitura da obra de Mário Maestri e pesquisar
(etnograficamente) os modos de vida etnoecológicos dos agricultores negros da Comunidade
do Limoeiro, verifica-se a constituição de espaços, paisagens e culturalidades fortemente ligadas
à manutenção e reatualização histórica da sócio, agro e bio-diversidade locais. Segundo Maestri,
as práticas agrícolas pré-modernas apoiam-se, em essência, em procedimentos pragmáticos
ancorados em tradições passadas de geração em geração. Elas dependem do conhecimento
empírico do ciclo das chuvas, da qualidade dos terrenos, da germinação das plantas, etc., que
habitualmente tem como referência o meio ambiente, a fauna, a flora, etc. de uma região
determinada. Fato que tem se verificado tanto em elementos da agricultura africana no litoral
angolano do século XVI-XVII como em práticas ambientais dos agricultores quilombolas do
Limoeiro, entre outras.
Agradece-se à UFRGS, PGDR, DESMA e financiamento Proext 2014, MEC/Sesu.
Identificação e classificação de fitofisionomias por SIG-GIS em levantamentos etnoecológicos
Juliana Lima Passos Rezande (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais), Welinson
FerreiraBrito (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais) e Nilvande Ferreira de Oliveira.
Contato: [email protected].
As geotecnologias são ferramentas indispensáveis ao planejamento e gestão do território,
zoneamento ambiental, uso e ocupação do solo dentre outros. Este trabalho é parte do relatório
antropológico de caracterização ambiental para fins de delimitação de território de 02
comunidades quilombolas, na região do Serro (convênio PUC Minas/INCRA). Utilizaram-se
técnicas de Sistema de Informação Geográfica (SIG) e saberes de campo tradicionais, a fim de
fazer a “identificação e explicitação da forma de ocupação quanto ao seu caráter tradicional,
evidenciando as unidades de paisagem disponíveis no presente..., descrição das áreas
imprescindíveis a proteção dos recursos naturais, tais como áreas de preservação permanente,
reserva legal e zonas de amortecimento das unidades de conservação” (IN nº57/09 INCRA). O
trabalho foi desenvolvido nas etapas de obtenção de base dados cartográficos, seleção, e edição
125
(geoprocessamento), vetorização e classificação fitofisionômica (sensoriamento remoto),
identificação pelo saber tradicional e campo com a participação de pessoas da comunidade e
produção de mapas temáticos e mentais. A etapa de geoprocessamento teve início com a
identificação da área de estudo, obtenção e o georreferenciamento das imagens de satélite,
com cartas topográficas IBGE 1:100.000 dos municípios do Serro, Diamantina, Presidente
Kubistchek e Rio Vermelho, através do software Arc GIS. A etapa posterior foi a interpretação
visual das imagens (sensoriamento remoto) para identificação e classificação preliminar das
fitofisionomias. Percebeu-se nas imagens de satélite que espaçamentos maiores entre
indivíduos vegetais geralmente estão relacionados a fisionomias do cerrado e áreas com maior
adensamento representam áreas relacionadas às matas, assim como áreas de coloração
amarelo avermelhado estão ligadas a cultivos, regiões esbranquiçadas, a solo exposto ou
margens de cursos d’água, feições acinzentadas e rugosas com afloramentos rochosos; regiões
com coloração verde de tonalidade clara e lisa foram interpretadas como áreas desmatadas
e/ou de pasto. No trabalho de campo se confirmou os elementos identificados anteriormente
pelas imagens. Desta forma foi possível admitir que o sensoriamento remoto foi eficaz e
determinante na otimização do trabalho, planejamento da etapa de campo e redução no tempo
desprendido na área; contudo o campo com a comunidade envolvida, é importante para
confirmação e finalização do mapeamento.
Agradece-se ao PROEX/PUC Minas e INCRA.
Legados pré-colombianos em quintais modernos na Amazônia Central
Juliana Lins (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), Helena P. Lima (Museu Paraense
Emílio Goeldi), Fabrício B. Baccaro (Universidade Federal do Amazonas), Valdely F. Kinupp
(Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas), Glenn H. Shepard Jr (Museu
Paraense Emílio Goeldi), Charles R. Clement (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia).
Contato: [email protected].
Pesquisas em ecologia histórica têm demonstrado legados dos povos antigos na biodiversidade
em paisagens domesticadas na Europa, América do Norte, Mesoamérica, África, Oceania e
Amazônia. Exemplos podem ser encontrados em florestas sobre ou próximas a sítios
arqueológicos, onde frequentemente encontram-se maiores concentrações de árvores úteis do
que seria esperado ao acaso. Na Amazônia, as sociedades pré-colombianas possuíam sistemas
horticulturais em torno de suas áreas de habitação e já foi demonstrado que capoeiras em terra
preta de índio (TPI), solos altamente férteis criados pelas atividades diárias e de descarte de lixo
dos indígenas entre 2.500 e 500 anos atrás, funcionam como reservatórios de
agrobiodiversidade. O objetivo deste trabalho foi verificar se o legado de manejos antigos já
demonstrados na composição florística de florestas e capoeiras também existe em sistemas
ainda mais dinâmicos, que são os quintais. Inventários florísticos foram realizados em 40
quintais em TPI em cinco comunidades ribeirinhas no baixo rio Urubu, no Estado do Amazonas.
Todas as espécies arbóreas, arbustivas e herbáceas foram incluídas, somente excluímos as
ervas-daninhas do inventário. Dezenove quintais estavam em sítios arqueológicos que possuíam
um só tipo de ocupação indígena pretérita e com pouco mais de mil anos de abandono (contexto
arqueológico unicomponencial), e 21 quintais estavam em sítios arqueológicos com dois tipos
de ocupação indígena pretérita com cerca de 300 anos de abandono (contexto arqueológico
multicomponencial). A diversidade de espécies foi 10% maior em quintais situados em contexto
arqueológico multicomponencial comparado a quintais em contexto unicomponencial. Para as
126
espécies exóticas, tanto do Velho Mundo, como americanas não amazônicas, não encontramos
diferenças na composição florística, mas para espécies nativas da Amazônia a heterogeneidade
de espécies marcadamente diferente (p = 0,009) entre os contextos arqueológicos, o que
enfatiza o legado das ocupações indígenas pretéritas na composição dos quintais atuais. O
contexto arqueológico é a variável que melhor explicou essas diferenças, correspondendo a 54%
do total de variação florística encontrada. Nossos resultados mostram que o legado de
ocupações indígenas pré-colombianas é visível mesmo em um ambiente manejado diariamente
e reafirma a importância de compreender o passado indígena para entender a biodiversidade
atual.
Agradece-se à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas. Muita gratidão aos moradores
das comunidades Pontão, Mucajatuba, Irmandade Terra Preta, Enseada e Taperebatuba. O projeto de
pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas
com Seres Humanos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (CEP-INPA), sob número de
protocolo 024/11.
Manejo da castanha-do-brasil na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Piagaçu Purus,
Amazonas, Brasil
Maria Julia Ferreira (Instituto Piagaçu) e Heloisa Dantas Brum (Instituto Piagaçu). Contato:
[email protected].
Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) são Unidades de Conservação que tem como
função a preservação do meio ambiente e a melhoria da qualidade de vida das comunidades
tradicionais que nela habitam, estas têm o extrativismo de recursos naturais como uma das mais
importantes fontes de renda. Na RDS Piagaçu Purus um dos principais produtos extrativistas é a
castanha-do-Brasil, considerado um alimento de alto valor nutricional e econômico. A
castanheira (Bertholletia excelsa Bonpl.) é uma árvore de grande porte, nativa da Amazônia, que
inicia a produção de frutos (ouriços) em dezembro, sendo possível coletá-los no chão até abril.
O objetivo geral do presente trabalho foi analisar o sistema de manejo realizado pelos coletores
locais. Os objetivos específicos foram realizadas avaliações da importância da castanha-do-Brasil
na renda e cultura familiar; descrições do perfil dos coletores; e definições das áreas de uso dos
moradores para a coleta da castanha-do-Brasil; descrição dos cuidados com a castanha e o
castanhal; e do retorno financeiro do produto. Foram realizadas entrevistas com questionários
semi-estruturados e um mapeamento das castanheiras usadas pelas comunidades, marcandose coordenadas geográficas, diâmetro a altura do peito e altura de fuste. Os coletores são
principalmente homens com idade média de 41 anos, havendo também da participação
feminina na limpeza pré-venda e as crianças se inserem no processo bem cedo (8 anos), sendo
que a média de anos na atividade é de 28 anos; 97,83% dos entrevistados realizam limpeza nos
castanhais, alegando que esta prática aumenta a produtividade da árvore. A limpeza constitui
da retirada de cipós das árvores, abertura de trilhas e a abertura de clareiras para quebra do
ouriço; a limpeza fruto consiste na lavagem e retirada de indivíduos podres sendo conservada a
casa interna, porém nenhum dos entrevistados seca o fruto, mesmo sabendo do risco de
contaminação por aflotoxina; foram mapeados 6 castanhais mais usados pelos coletores, pela
sua proximidade com as comunidades; o preço médio de venda da caixa de castanha é de
R$26,52 e a média de caixas coletadas é de 75,25 por coletor; o retorno financeiro da atividade
é em média R$1995,63 por ano, por coletor. O extrativismo da castanha-do-Brasil não é fonte
de renda mais importante da família, pois está conciliada com a pesca e agricultura. Porém
127
contribui de forma significativa na renda, alimentação e cultura local, sendo repassada ao longo
de gerações.
Agradece-se ao Instituto Piagaçu e as famílias da Reserva. Ao Instituto Piagaçu e Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM). O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi
analisado e autorizado pelo Centro Estadual de Unidades de Conservação (CEUC) e Secretaria de Estado
de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (SDS) sob o registro 1117/2013.
Mapeamento histórico da vegetação e avaliação da população sobre a perda da cobertura
vegetal no assentamento Dom Helder Câmara em Girau do Ponciano, Alagoas
Mony Cely Oliveira Guimarães (Universidade Federal de Alagoas) e Henrique Costa
Hermenegildo da Silva (Universidade Federal de Alagoas). Contato: [email protected].
A vegetação é importante na proteção edáfica, removê-la acelera o processo de erosão do solo
com sérias consequências à produção e conservação. Neste sentido, entender as inter-relações
dos atores que manejam diretamente as terras cultiváveis auxilia o planejamento e manejo dos
recursos naturais. Portanto, o presente trabalho objetivou avaliar a perda da cobertura vegetal
após a instalação do assentamento Dom Helder Câmara, Girau do Ponciano, agreste alagoano,
inserido no ecossistema Caatinga. O trabalho foi realizado neste assentamento que é o maior
em extensão territorial de Alagoas. Teve início em 11/06/1999 e possui áreas comunitárias
sociais como escolas, centro comunitário, posto de saúde, telefones públicos e espaços
improvisados de lazer. Possui seis agrovilas e dentre estas a agrovila Sete Casas foi escolhida
para a pesquisa, pois é adjacente a uma reserva legal. Para o estudo, foram selecionados cinco
informantes que moram no assentamento desde sua formação para a confecção de um mapa
mental participativo. O perímetro da reserva legal foi marcado com GPS e com dois dos
moradores para identificar a extensão da vegetação. O mapa mental produzido apontou três
locais mais degradados, um ponto no início da reserva, um perto de uma estrada que dá acesso
a reserva e outro perto dos lotes que também próximo a reserva. Segundo eles, essa degradação
se deve a um incêndio, ocorrido nos anos iniciais da instalação e a extração de madeira para
lenha. Outros locais de uso como áreas para pastagens foram apontados, segundo os moradores
isso se deve a criação de animais que existe em vários pontos da reserva. Foi feita uma análise
da região por meio de fotos e imagens via satélite mostrando a semelhança do mapa mental
com o mapa real do local. Locais de uso foram mostrados durante a marcação do perímetro da
vegetação como locais para pastagens, rios, estradas e locais improvisados para alimentar os
animais. Posteriormente foi analisado o produto obtido do GPS através do Google Earth
indicando que a área total da reserva é de 323 hectares e seu perímetro são 12,21km. A
metodologia participativa mostrou que através do conhecimento dos agentes envolvidos a
redução da cobertura vegetal local está associada a atividades agropastoris e exploração da
madeira. Adotadas constantemente nos projetos de gestão de recursos naturais as
metodologias de mapeamento participativo permitem conhecer a realidade da vegetação local
através das experiências dos próprios agentes envolvidos.
Agradece-se aos moradores do Assentamento Rendeiras e também ao Centro de Recuperação de Áreas
Degradadas do Baixo São Francisco pelo apoio concedido para execução desta pesquisa.
128
Monitoramento participativo como ferramenta para o estudo de caça de botos e jacarés
usados na pesca de Piracatinga, Calophysus Macropterus Lichtenstein, 1819 (pisces:
pimelodidade), na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Amazonas, Brasil
Natalia Camps Pimenta (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), Ronbinson Botero-Arias
(Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá) e Miriam Marmontel (Instituto de
Desenvolvimento Sustentável Mamirauá). Contato: [email protected].
A pesca da piracatinga, realizada principalmente com isca de jacarés e botos (Inia geoffrensis),
é praticada em diversas áreas da calha do Amazonas. A atividade representa uma fonte de renda
adicional para as comunidades ribeirinhas da região e uma possível ameaça às populações dos
animais caçados para elaboração de isca. Este estudo buscou caracterizar e quantificar os botos
e jacarés usados na pesca de piracatinga dentro da Reserva Mamirauá (RDSM) através do
método de monitoramento participativo, a fim de gerar subsídios para estudos de impacto da
atividade de pesca sobre as populações dos animais usados como isca. A pesquisa, realizada
entre os meses de agosto de 2013 e fevereiro de 2014, contou com a participação de 33
pescadores de 12 comunidades da RDSM, selecionadas pela técnica de snwoball sampling. A
proposta do monitoramento participativo foi apresentada às lideranças comunitárias e aos
envolvidos diretamente na pesca de piracatinga (pescadores e caçadores de isca). Os
participantes receberam capacitação para o preenchimento de fichas com os dados da caça
(data, local, sexo, tamanho e espécie). Foram obtidos dados de 44 jacarés, sendo 86,4% jacaré
açu (8 fêmeas e 30 machos) e 13,6% jacaretinga (5 machos e 1 fêmea). O comprimento médio
dos jacarés açu foi de 274cm (machos 291cm; fêmeas 257cm), e dos jacaretingas foi 163cm
(machos 196cm; fêmeas 130cm). Quanto aos locais utilizados para a caça temos 100% de
jacaretingas e 79,2% de jacarés açu capturados em paranãs (outros 6,7% de jacarés açu caçados
em rios e 14,1% em lagos). Não houve registro de caça de boto, embora pescadores que
relataram ter experimentado a isca afirmam que o uso do animal torna a atividade mais
rentável. Ainda assim, o boto tem deixado de ser usado na área estudada por ser um animal
com “pitiu”, de difícil captura, pelo temor dos poderes do encantado e pela dificuldade em
ocultar a carcaça. Os dados obtidos revelam que o jacaré açu, macho e adulto, é o principal foco
de caça, e que as lendas sobre encantado e o receio de serem abordados pela fiscalização são
fatores que limitam a pressão antrópica sobre a população dos cetáceos na RDSM. Através do
monitoramento participativo pôde-se identificar e quantificar os animais alvo de caça para a
pesca de piracatinga, fornecendo dados sobre a mortalidade de botos e jacarés, que somado ao
levantamento de estimativas populacionais, pode vir a auxiliar estudos de dinâmica
populacional dessas espécies.
Agradece-se ao Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá- OS/MCTI.
Monitoramento participativo da caça na Terra Indígena Xerente, Cerrado do Tocantins
Milton José de Paula (Universidade Federal do Pará), Juarez Carlos de Brito Pezzuti (Universidade
Federal do Pará), Odair Giraldin (Universidade Federal do Toantins) e Valcir Sumekwa Xerente
(Universidade Federal do Tocantins). Contato: [email protected].
A caça fornece uma importante fonte de obtenção de proteína animal para subsistência para
grupos indígenas. Entretanto, essa atividade pode ter um fator negativo sobre a fauna selvagem.
129
Neste contexto, o presente trabalho tem como objetivo apresentar resultados do sistema de
monitoramento participativo da caça realizada na Terra Indígena Xerente, povo Jê-Central que
vive no cerrado do Tocantins, como forma de obtenção de dados sobre a exploração da fauna
local. Para isso foi iniciado no mês de fevereiro de 2014 o programa de monitoramento
participativo da atividade de caça em dez aldeias. Para 52 caçadores (sendo 3 não indígena que
vivem em uma das aldeias) foi entregue diários de caça e uma balança de carga máxima de 50kg.
Os caçadores foram instruídos a preencher os diários com as informações referentes a todos os
seus eventos de caça intencional ou oportunista. Os caçadores participantes representam 85%
dos caçadores das aldeias monitoradas, e após sete meses de monitoramento, 318 eventos
foram preenchidos, 276 com sucesso e 42 sem sucesso. Porém os resultados de eventos sem
sucesso estão sub estimados, pois, a grande maioria dos caçadores não preencheu todos esses
eventos. Ao todo 308 animais foram mortos distribuídos em 20 espécies de mamíferos, nove de
aves e duas de répteis, totalizando 3995,1 kg abatidos. Mamíferos de médio e grande foram os
mais representativos, contribuindo com 84% dos animais e 96% da biomassa. As espécies mais
importantes foram: Tapirus terrestres, Kdâ (n=7; 1,098 kg), Pecari tajacu, Kuhârê (n=39; 634,8
kg), Hydrochoerus hydrochaeris, Kumdâ (n=11; 506 kg), Mazama americana, Ponẽ (n=11; 328,4
kg), Cuniculus paca, Krawa (n=47; 294 kg) e Mazama gouazoubira, Ponkẽrê (n=20; 506kg). O
monitoramento ainda está em andamento, e tem demonstrado uma excelente ferramenta para
obtenção de dados sobre a exploração da fauna. O não preenchimento dos eventos sem sucesso
está relacionado provavelmente por razões culturais, talvez pela preocupação com o status de
“grande caçador”. Os dados de monitoramento serão utilizados para futuras analises da pressão
de caça sobre estas espécies como forma de traçar planos de conservação e uso sustentável da
fauna local.
Agradece-se à The Rufford Foudation.
Nambiquaras do Cerrado de Mato Grosso: saberes e práticas tradicionais sobre a fauna e
flora no cenário de transformações socioambientais da hapada dos Parecis entre 1910 e
2012
Artema Santana Almeida Lima (Operação Amazônia Nativa) e Tarcísio da Silva Santos Júnior
(Universidade Federal de Mato Grosso). Contato: [email protected].
O coletivo indígena Nambiquara corresponde a aproximadamente 30 grupos associados a uma
língua, os quais, originalmente, estavam amplamente distribuídos em três áreas culturais
situadas na transição das bacias dos rios Madeira, Guaporé e Juruena, a saber: Vale do Guaporé,
Serra do Norte e Chapada dos Parecis. Neste universo, esta pesquisa, foi realizada objetivando
diagnosticar o conhecimento sobre fauna e flora, especificamente com os Nambiquara
habitantes tradicionais das cabeceiras do Juruena, onde predominam fitofisionomias típicas do
Cerrado. O trabalho foi desenvolvido no segundo semestre de 2012 no âmbito da elaboração do
Plano de Gestão Territorial das Terras Indígenas Pyrineus de Souza e Tirecatinga, seguindo os
trâmites legais necessários entre a instituição executora (OPAN), Funai e as comunidades
indígenas. O estudo baseou-se na consulta a dados secundários e no levantamento de dados
primários nas T.I.s mencionadas, permitindo obter informações relativas a três cenários: (A)
1910-1920, primeiros contatos com não-índios pela Comissão Rondon; (B) 1980-1985, pósinstalação de empreendimentos (BR-364, latifúndios, expropriação das terras tradicionais) e
demarcação de T.I.s; (C) 2000-2012, pós-consolidação da presença de não-índios e “isolamento”
dos indígenas em T.I.s pela fronteira agrícola e instalação/consolidação de outros
130
empreendimentos. A análise conjunta dos dados demonstra o plantio de pelos menos 26
cultivares nas roças tradicionais, o uso/coleta de 52 espécies vegetais e 37 invertebrados, a caça
de pelo menos 30 espécies de mamíferos, 50 de aves, três de répteis e a pesca de 18 espécies
de peixes. Os resultados demonstram alta semelhança de saberes/práticas tradicionais entre os
cenários e as T.I.s, mas sugerem diminuição e/ou alteração temporal destes tendo-se como
parâmetro a atualidade observada nas T.I.s Pyrineus e Tirecatinga. As diferenças sugeridas
podem ser compreendidas no âmbito do cenário de influências político-econômicas a que os
indígenas foram e estão submetidos. Os resultados obtidos nesta pesquisa compõem as
informações dos Planos de Gestão Territorial. O da T.I. Pyrineus já foi concluído e o da
Tirecatinga ainda está sendo elaborado.
Agradece-se à Operação Amazônia Nativa e Programa Petrobrás socioambiental.
O boto é pescador? As relações do boto, Inia sp. (de Blainville, 1817; Iniidae), com a pesca na
Amazônia Oriental
Iara Ramos dos Santos (Universidade Federal do Pará), Gabriel Melo Alves dos Santos
(Universidade Federal do Pará) e Angélica Lúcia Figueiredo Rodrigues (Universidade Federal do
Pará). Contato: [email protected].
O boto Inia sp. no imaginário popular é personificado como um ser mágico e desperta,
principalmente, sentimentos de vingança e afinidade nas populações Amazônicas influenciando
as relações desta espécie com a prática pesqueira, reconhecida como conflituosa na região.
Neste cenário, o trabalho registra duas diferentes interações do boto com a atividade de pesca.
O estudo foi realizado em dois municípios paraenses, Ourém, região do médio rio Guamá, em
junho de 2012 e em Mocajuba, baixo rio Tocantins, em novembro de 2013. Foram entrevistados
17 pescadores, 10 em Ourém (média=48 anos de idade) e sete em Mocajuba (média=53 anos
de idade). Duas percepções foram registradas, a primeira de que o animal é “malino” e
“traiçoeiro”, tratam-se os botos que forrageiam oportunisticamente e predam os peixes
emalhados danificando a rede de pesca. A segunda são os chamados botos mansos apontados
como “amigos do pescador” que acompanham a pesca do paredão (curral de pesca) em
Mocajuba, de março a junho, e a pesca da fisga (pescaria com arpão) em Ourém de setembro a
novembro. Práticas onde o pescador aproxima os botos do seu artefato de pesca oferecendolhe pescado, e este com seu hábito de forrageio sinaliza os cardumes na pesca da fisga e os
encurrala direcionando os peixes para o paredão, aumentando o rendimento pesqueiro. A
prática pesqueira e seu respectivo artefato sustentam a inclinação dos pescadores em perceber
o boto como uma espécie a ser conservada, pois esta prática reforça apenas o valor utilitarista
do animal tendo como base a satisfação humana. Percebemos que o boto está na interface do
real e do simbólico assumindo a função de animal bom ou mau dependendo da contribuição ou
prejuízos econômicos gerados aos humanos por sua proximidade territorial e dependência dos
mesmos recursos. Os estudos direcionados a esta temática devem levar em consideração os
fatores sociais e ambientais que norteiam essas interações a fim de subsidiar medidas
conservacionistas para Inia sp.
Agradece-se à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e Cetacean Society
International. Agradecemos aos pescadores e interlocutores pela troca de experiencias, em especial o Sr.
Orlandino, pescador do município de Ourém.
131
O pensamento Suruwaha sobre animais e caça
Miguel Aparicio (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Contato: [email protected].
No mundo em transformação que os Suruwaha do vale do Purus concebem, os animais são exhumanos, a partir de metamorfoses originadas em conflitos de socialidade. As narrativas sobre
antas, queixadas, sucurijus, etc. insistem nesta dinâmica transformacional das pessoas que
“viraram animais”, tornando-se para os humanos jadawakyba, “ex-pessoas”. Para os Suruwaha,
há uma condição originária própria de humanos que, alterada pela quebra da socialidade, dá
origem a um novo estado de humanos–transformados–em–animais, que produz a
descontinuidade das espécies. Apresento os resultados de uma pesquisa de campo focada na
etnografia da caça e atenta aos conceitos suruwaha sobre os animais, inscritos nas narrativas e
nas práticas venatórias deste grupo indígena das terras-firmes do interflúvio Purus-Juruá, na
Amazônia ocidental. Interessam-me as dinâmicas de subjetivação perspectivista que definem o
pensamento suruwaha sobre fauna e caça. A dinâmica de produção de alteridades que a
etiologia descrita nas narrativas suruwaha manifesta é atualizada na experiência da caça, onde
reaparece o conflito de socialidade entre humanos e animais transformados em presas (bahi).
A caça é concebida a partir de experiências de mal-estar e tensão entre os homens, os animais
e seus mestres-donos. As relações com os animais oscilam entre movimentos de predação e
domesticação, que fundam de modo paradoxal concepções de adoção predatória e de
contrapredação. Para os Suruwaha, zamatymyru (“coisas saborosas”) se refere aos animais em
que se destaca uma relação de predação (bahi, as presas dos caçadores), enquanto igiaty
ressalta a condição de adoção (os animais familiarizáveis, wild pets). Os Suruwaha propõem um
contraste qualitativo entre os seres ‘predáveis’ (os zamatymyru) e os seres ‘adotáveis’ (os igiaty),
instaurando uma relação baseada em diferenças de socialidade. Estas diferenças são relevantes
inclusive na concepção nativa de humanidade, como mostram as narrativas sobre os irmãos
ancestrais (os “primeiros humanos”) e sua relação com os jaguares, demiurgos “fundadores da
cultura”. No mito suruwaha, a relação de predação dos jaguares/avós-adotivos/predadores
sobre os humanos/netos-adotivos/presas inverte-se num desfecho predador dos humanos
sobre os jaguares. A ideologia suruwaha parece sustentar uma atitude proativa dos humanos,
que movimenta um paradoxo entre a adoção predatória do jaguar sobre os humanos e a
contrapredação, como atitude reversa destes sobre os jaguares.
Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O tema solos nos livros didáticos: estudo de caso
Tarcísio Tomas Cabral de Sousa (Universidade Federal de Campina Grande), Adriana de Fátima
Meira Vital (Universidade Federal de Campina Grande), Leonardo Palhares da Silveira
(Universidade Federal de Campina Grande) e Raunira da Costa Araujo (Universidade Federal da
Paraíba). Contato: [email protected].
A degradação dos solos, resultado das ações antrópicas pouco sustentáveis, avança por todos
os ambientes, com consequências comprometedoras para a manutenção da vida, tais ações se
sustentam, entre outros fatores, na ausência de informações sobre este recurso natural e
passam necessariamente pelo conhecimento do solo e de sua importância como componente
essencial dos ecossistemas terrestres, que devem ser adquiridas desde os primeiros anos
132
escolares. Sendo urgente a disseminação dos conceitos sobre os solos, na perspectiva da
Educação em Solos, buscando despertar a conscientização ambiental e a minimização dos
impactos lesivos à Natureza. Assim considerando, objetivou-se com a presente pesquisa
investigar a abordagem do tema solos nos livros didáticos de Geografia, Ciências e Biologia,
adotados numa escola de ensino básico do município do Coxixola, microrregião do Cariri
Paraibano. Foram analisados todos os capítulos dos livros em questão para verificar sua
abordagem através de observações e leitura, observando se as ilustrações presente relatam a
realidade e atividades de fixação de conhecimento sobre o tema solo. Através da pesquisa
revelou uma situação bastante comum quando se considera o estudo do ‘solo’: que o tema não
é abordado em todas as séries do ensino básico, dos 14 livros observado apenas 7 aborda o
tema, estando ausente justamente quando há mais necessidade de ser discutida sua
importância que são nas series iniciais do ensino fundamental, onde deveria ser uma formação
continuada em todas as series do ensino fundamental e médio, porém não é o que observamos
visto que os livros utilizados na disciplina de ciências e geografia do 6º ano do ensino
fundamental o tema é abordado de forma leviana ou seja em poucas paginas, só então no 1º e
2º ano do ensino médio é que o tema novamente vai ser discutido no livro de Biologia do 1º ano
do ensino médio e no livro de Geografia em todo os anos, porem abordado de forma paralela,
abordado em pouco conteúdo e alguns parágrafos com afirmações incorretas quando fala que
" O solo é um produtos renovável" e sabemos que esse recurso não é renovável. Foram analisada
toda a coleção de Geografia ensino fundamental e médio, Ciências do ensino fundamental e
Biologia do 1º ao 3º ano do ensino médio, através dos resultados obtidos foi possível evidenciam
uma grande lacuna na abordagem do tema nos livros.
Agradece-se ao Programa de Ações Sustentáveis para o Cariri (PASCAR).
Palmas como lugar: a percepção dos agricultores familiares sobre a capital do estado do
Tocantins, Brasil
Eliane Marques dos Santos (Universidade Federal do Amazonas) e Sandra do Nascimento Noda
(Universidade Federal do Amazonas). Contato: [email protected].
Palmas é a mais nova capital do Brasil e sua construção planejada atraiu muitos moradores pela
possibilidade de emprego e geração de renda. O objetivo deste estudo é identificar os laços
afetivos dos agricultores familiares da feira 304 Norte com a cidade de Palmas, estado do
Tocantins. Para compreender as inter-relações no ambiente, adotou-se a abordagem sistêmica
e como método de investigação o estudo de caso. Foram utilizadas as técnicas de pesquisa:
observação simples e entrevista. Para estruturação da entrevista selecionou-se as questões: Há
quanto tempo reside em Palmas? Porque você veio morar nessa região? O que você gosta e o
que você não gosta em Palmas? Se não fosse agricultor, qual outra ocupação você teria? Como
você acha que estará Palmas daqui a 10 anos? Discutiremos através das variáveis as respostas
obtidas dos dez sujeitos, aqui categorizadas em grupos. Nas variáveis identidade e
características individuais, foram investigadas 4 pessoas do sexo feminino e 6 do sexo masculino.
Estes sujeitos representam 40% dos agricultores desta feira e foram selecionados por
produzirem no município de Palmas. No que tange à experiência, sessenta por cento dos
questionados vieram de outros estados atraídos pela nova capital e o tempo de permanência na
cidade varia de 12 a 26 anos, sendo que como agricultor a maior parte do tempo. Estes dados
foram relacionados com a variável sistema de valores, na qual procurou-se identificar os
sentimentos topofílicos. Ao serem questionados sobre o que gosta em Palmas, a maioria
133
afirmou terem se acostumado ao lugar e o sentimento de pertencimento foi atribuído
especificamente à área de sua propriedade. Nas falas afirmaram que lá possuem: “tranquilidade,
a família, pessoas boas com quem convive, sustento” e apenas um entrevistado afirmou a
“paisagem do lugar” como atrativo. E sobre o que não gostam, dois entrevistados apontaram
que se mudaria para outro espaço, e os demais não manifestaram desgosto com o lugar. Todos
apresentaram uma expectativa positiva de expansão da agricultura familiar de Palmas para os
próximos dez anos, o que seria bom para eles. Constata-se que a necessidade de adequação ao
espaço e sobrevivência através dele, faz com que as pessoas desenvolvam uma relação e um
conhecimento do meio de maneira que lhe seja útil, nesta relação criam-se laços que unem o
ser humano ao lugar ao qual ele atribui valores e constrói sua identidade cultural e histórica.
Agradece-se à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Rede de Estudos
Agroecológicos Amazônicos e NETNO.
Papeis culturais de plantas conhecidas em comunidades quilombolas do litoral de Santa
Catarina, Brasil
Kenia Maria de Oliveira Valadares (Universidade Federal de Santa Catarina) e Natália Hanazaki
(Universidade Federal de Santa Catarina). Contato: [email protected].
As relações entre comunidades humanas e espécies vegetais permitem compreender o valor
prático que o conhecimento biológico tem para uma determinada cultura. Espécies com maior
relevância cultural estão associadas ao modo de vida das comunidades, permitindo avaliar a
importância cultural de espécies que possuem um papel fundamental no sistema sócioecológico. Os papeis culturais das espécies podem ser definidos a partir de métricas como o
Índice de Significado Cultural (ISC) e Indicadores de Espécie Chave Cultural (ECC). Este trabalho
objetiva investigar as espécies definidas como culturalmente importantes por três comunidades
quilombolas, Aldeia (AL), Santa Cruz (SC) e Morro do Fortunato (MF), a partir da análise de
padrões gerais no uso, manejo e significado cultural das plantas. De um total de 184 entrevistas,
174 informantes relataram plantas importantes (AL=64, SC=48, MF=62) e 147 reconheceram
plantas imprescindíveis para a sobrevivência e persistência das comunidades (AL=45, SC=45,
MF=57). Através do ISC, destacou-se Citrus sinensis (L.) Osbeck (AL, SC, MF=6), Musa paradisiaca
(L.) (AL=4,65, SC=4,2, MF=6), Zea mays (L.) (AL=3,4, SC= 1,95, MF=5,4), Psidium guajava (L.)
(AL=4,2, SC=2,8, MF= 3,2) e Manihot esculenta (Crantz) (AL=2,82, SC=1,68, MF=2,9). A partir dos
indicadores de ECC, obteve-se maiores pontuações para M. esculenta (AL=31, SC=27, MF=32),
C. sinensis (AL=30, SC=27, MF=29), M. paradisiaca (AL=29, SC=23, MF= 31) e P. guajava (AL=23,
SC=22, MF= 27). Em relação às plantas eleitas como importantes e imprescindíveis, obteve-se
correlação positiva na Aldeia (0,77), decrescendo em Morro do Fortunato (0,68) e Santa Cruz
(0,55). O conjunto de plantas com maior importância cultural é similar nas três comunidades,
com destaque para as plantas cultivadas, especialmente as alimentícias. O uso é um forte
argumento para atribuição de importância, expresso nas justificativas dos informantes e nas
métricas utilizadas. A maioria das plantas citadas como importantes e imprescindíveis possuem
baixo valor de saliência e priorização. Tais inferências têm especial relevância como um
parâmetro de conservação ecológica e cultural no atual contexto das comunidades quilombolas.
Agradece-se ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Federal de Santa Catarina.
134
Papeis ecológicos de plantas conhecidas em comunidades quilombolas do litoral de Santa
Catarina, Brasil
Kenia Maria de Oliveira Valadares (Universidade Federal de Santa Catarina) e Natália Hanazaki
(Universidade Federal de Santa Catarina). Contato: [email protected].
Interações ecológicas podem ser bons indicadores de funções ecológicas exercidas por diversas
espécies. O Conhecimento Ecológico Local pode destacar espécies com diferentes papeis a partir
do reconhecimento de interações ecológicas e suas implicações. Este trabalho objetiva analisar
percepções humanas sobre os papeis ecológicos de recursos vegetais em três comunidades
quilombolas, de acordo com o Conhecimento Ecológico Local. As comunidades estudadas foram
Aldeia (AL), Santa Cruz (SC) e Morro do Fortunato (MF), e possuem gradiente decrescente de
urbanização. Foram feitas 184 entrevistas, das quais 141 descreveram interações ecológicas
(AL=50, SC=41, MF=50), classificadas pelas pesquisadoras a posteriori. Não houve diferença
significativa na média de citações de plantas com interações ecológicas (Kruskall-Wallis
H=0,9968, p=0,6075). Das espécies de plantas citadas, 78,14% (AL), 65,88% (SC) e 50,43% (MF)
apresentaram interações com animais; e 21,86% (AL), 31,5% (SC) e 49,57% (MF) apresentaram
interações com plantas. Tais diferenças foram significativas (= 57,376, p < 0,0001). As interações
com plantas relataram competição (51,47%, 78,65%, 59,06%), inquilinismo (20,59%, 3,37%,
9,36%), facilitação (10,29%, 12,36%, 23,98%), inibição (8,82%, 2,25%, 6,43%) e tolerância
(11,76%, 5,62%, 13,45%) na Aldeia, Santa Cruz e Morro do Fortunato, respectivamente.
Parasitismo, amensalismo e mutualismo foram menos relatados. Quanto às interações com
animais, houve relatos de herbivoria (69,55%, 81,96%, 81,03%), inquilinismo (8,23%, 20,62%,
10,34%), parasitismo (11,93%, 12,37% e 12,64%), polinização (11,52%, 10,31% e 12,64%),
dispersão (0,41%, 14,43%, 6,32%) e amensalismo (6,58%, 14,43% e 6,32%), na Aldeia, Santa Cruz
e Morro do Fortunato, respectivamente. As plantas que apresentaram maior número e
diversidade de interações foram Citrus sinensis (L.) Osbeck, Musa paradisiaca (L.), Psidium
guajava (L.), Zea mays (L.), Lactuca sativa (L.) e Phaseolus vulgaris (L.). Tais interações foram
com animais predominantemente nativos das famílias Apidae, Atelidae, Canidae, Caviidae,
Corvidae, Elapidae, Formicidae, Thraupidae, Trochilidae, Turdidae, Tyranidae, e Viperidae,
principalmente. Conclui-se que os quilombolas percebem mais interações ecológicas entre
plantas cultivadas e a fauna local. Tais percepções podem estar relacionadas ao contato com o
meio natural, representado pela predominância de atividades rurais dos informantes que mais
relataram interações ecológicas.
Agradece-se ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Federal de Santa Catarina. O
projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da
Universidade Federal de Santa Catarina sob o registro (18847013.0.0000.0121, 14/08/2013). O projeto de
pesquisa que embasou o presenta trabalho também foi analisado pelo Instituto Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional sob o registro (01450.012607/2013-20).
Percepção de cultivadoras sobre o clima na Amazônia e seus efeitos no agroecossistema de
Várzea
Sandra Helena da Silva (Universidade Federal do Amazonas) e Sandra do Nascimento Noda
(Universidade Federal do Amazonas). Contato: [email protected].
135
O presente estudo é parte de um projeto de tese desenvolvido na área ambiental, o qual analisa
a participação de cultivadoras na sustentabilidade dos agroecossistemas de duas Ilhas fluviais
na Amazônia. Objetiva-se nesta produção sintetizar as percepções das cultivadoras quanto as
recentes mudanças climáticas e os efeitos nos agroecossistemas e no modo de vida de
agricultores de áreas de várzea. O estudo foi realizado nas Ilhas do Valha Me Deus e Chaves,
ambas localizadas em ambientes fluviais, à jusante do rio Amazonas, entre os extremos dos
Estados do Amazonas e Pará, pertencendo ao município de Juruti, Pará. Na Ilha do Valha Me
Deus residem uma população de 213 pessoas, sendo 114 homens e 99 mulheres distribuidas em
65 famílias. Na Ilha do Chaves residem 182 pessoas, sendo 91 homens e 91 mulheres,
distrubuídas em 37 famílias. Como matriz teórica tem-se o paradigma dialético da complexidade
sistêmica, permitindo a compreensão do ambiente como um complexus, no qual cada parte é
tecida juntamente com o todo, num movimento de circularidade e interdependência. Como
abordagem de pesquisa de campo foi realizado o estudo de caso, utilizando técnicas de
entrevista, observação e aplicação de formulário. Participaram da pesquisa dezessete
cultivadoras, sendo oito do Valha Me Deus e nove do Chaves. Como critério de inclusão na
pesquisa buscou-se aquelas mulheres que apresentavam uma interação direta com atividades
de cultivo no agroecossistema das Ilhas. Os resultados indicaram frequentes mudanças
climáticas na região Amazônica em decorrência dos fenômenos ‘El Nino’ e ‘La Nina’, e das
pressões antrópicas; o aumento médio de 1,0 metro no volume das aguas do rio Amazonas a
partir de 2009, influenciando diretamente no pulso das aguas e no ritmo de vida destes povos.
Os dados de campo indicaram, a partir das percepções das cultivadoras, uma diminuição na
diversidade dos sistemas produtivos agrícolas, no período pós enchente de 2009, abandono dos
plantios das espécies frutíferas; introdução da criação de gado branco e bubalinos, sem manejo
adequado, principalmente na Ilha do Valha Me Deus. As cultivadoras observaram maior lentidão
na vazante do rio, ocasionando atrasos e perdas nos plantios e prejuízos nas colheitas.
Observou-se a existência de uma associação simbiótica entre os seres humanos, as aguas e as
terras na Amazônia e que transformações em qualquer parte destes sistemas traz
consequências diretas para o todo ambiental.
Agradece-se à Universidade Federal do Amazonas (UFAM) pelo apoio e incentivo no desenvolvimento do
doutorado e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo incentivo
financeiro para o desenvolvimento da pesquisa.
Percepção humana sobre os prejuízos ambientais e socioeconômicos causados por invasões
biológicas: os javalis na região do Parque Nacional das Araucárias
Graziele Batista (Universidade Federal de Santa Catarina) e Nivaldo Peroni (Universidade Federal
de Santa Catarina). Contato: [email protected].
As invasões biológicas são um desafio para a conservação da biodiversidade e dos recursos
naturais e podem representar uma ameaça para espécies nativas, ecossistemas e para o bemestar humano. O javali, Sus scrofa (Linnaeus, 1758), é uma espécie exótica invasora no Brasil,
sua forma selvagem foi introduzida na década de 60, e pode causar diversos prejuízos
ambientais e econômicos. A percepção das pessoas sobre as invasoras é decorrente de vários
fatores, incluindo opinião pública, aparência, interação e conhecimento sobre a espécie. A
hipótese deste trabalho é que as pessoas percebem o javali como uma espécie problema devido
aos prejuízos causados na agricultura, embora possam considerar aspectos positivos relativos a
prática da caça. Assim, o objetivo deste trabalho é compreender a percepção humana sobre os
prejuízos ambientais e econômicos causados por javali na região do Parque Nacional das
136
Araucárias (PNA). O conhecimento sobre os prejuízos ambientais e econômicos causados pelo
javali será utilizado para embasar discussões sobre o manejo do javali na região. Foram
realizadas entrevistas semiestruturadas com pessoas residentes e/ou que trabalham em
propriedades inseridas no PNA e em quatro comunidades do entorno. As entrevistas foram
realizadas em 36 unidades familiares constituídas majoritariamente de proprietários rurais e a
análise de dados foi descritiva. Os colaboradores relataram que javalis já foram observados na
maioria das propriedades (94,4%) e que vestígios do animal são observados diariamente
(69,4%). A convivência entre os proprietários rurais da região com o javali é vista como negativa
(86,1%) por causa dos prejuízos na lavoura, entretanto algumas pessoas relatam que um aspecto
positivo é a caça deste animal (11,1%). A maioria dos entrevistados relatou que o javali causa
prejuízos nas plantações de milho (82,8%) e soja (34,5%). Em relação aos ambientes, a maioria
considera que o javali traz algum impacto negativo (58,3%) e citaram prejuízos para outros
animais (69,4%), para as plantas (41,7%), água (33,3%), solo (19,4%) e para Unidades de
Conservação (11,1%). Os colaboradores relataram que a espécie interfere negativamente na
regeneração de espécies nativas da flora (27,8%) e as plantas mais citadas utilizadas como
alimento pelo javali foram araucaria (91,7%) e guabiroba (47,2%). Em relação a fauna, relataram
que ele pode atacar filhotes de animais silvestres ou competir com esses por recursos (30,6%).
A percepção das pessoas da região do PNA é que o javali têm causado prejuízos econômicos e
ambientais na região afetando, principalmente, as plantações de milho e a fauna e flora nativas.
Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ao PPG em
Ecologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), ao IBAMA e ao ICMBio pelo apoio, ao gestor
do PNA, à ADAMI pela parceria, aos colegas de campo (Juliano Bogoni e Anna da Silva) e colaboradores.
Quintais como sistemas socioecológicos: efeitos da urbanização e tamanho na riqueza de
espécies
Yan Victor Leal da Silva (Universidade do Estado de Minas Gerais), Geisa Gabriela da Silva
(Universidade do Estado de Minas Gerais), Alessandra Suriani Martins (Universidade do Estado
de Minas Gerais), Danilo Vasconcelos de Morais (Universidade do Estado de Minas Gerais),
Carine Silva Gonçalves (Universidade do Estado de Minas Gerais), Priscila Suely Rodrigues Costa
(Universidade do Estado de Minas Gerais) e Emmanuel Duarte Almada (Universidade do Estado
de Minas Gerais). Contato: [email protected].
Os quintais urbanos representam espaços de grande interesse para o estudo etnoecológico dos
aspectos culturais da biodiversidade. Quintais e hortas comunitárias fornecem diversos serviços
ecossistêmicos tais como o aumento da permeabilidade dos solos, fornecimento de alimentos,
plantas medicinais e manutenção dos saberes ecológicos tradicionais. Ecologicamente, os
quintais podem ser compreendidos como ilhas e investigados a partir de abordagens
biogeográficas. O objetivo central do presente estudo é compreender os fatores biofísicos e
socioculturais que regulam a biodiversidade associada a quintais urbanos. São objetivos
específicos: i. avaliar as correlações entre o tamanho e impermeabilização dos quintais, grau de
urbanização do bairro e a riqueza de espécies vegetais e ii. descrever os saberes e práticas
associados ao manejo dos quintais. Utilizando abordagem quali-quantitativa, a pesquisa foi
realizada em 105 quintais de dois bairros com diferentes graus de urbanização, Bairro A,
altamente urbanizado e Bairro B, pouco urbanizado, do município de Ibirité, na Região
Metropolitana de Belo Horizonte. Por meio da aplicação de entrevistas semi-estruturadas,
registraram-se os saberes ecológicos dos moradores, a biodiversidade e as características físicas
dos quintais. Ao todo foram encontradas 288 espécies nos quintais investigados. O Bairro B
137
apresentou a maior riqueza de espécies (244) enquanto no bairro urbanizado foram registradas
177 espécies. No Bairro A, o grau de impermeabilização dos quintais não apresentou efeito
significativo na riqueza de espécies. Por outro lado, no Bairro B, os quintais mais
impermeabilizados apresentaram os menos valores médios de riqueza de espécies. Esses
resultados indicam que não apenas as características estruturas do quintal, tamanho e
impermeabilização, mas também aspectos socioeculturais, influenciam na sua riqueza de
espécies. Ressalta-se ainda que foram registradas nos quintais dezenas de espécies ruderais de
uso alimentício e medicinal, reforçando a importância desses ambientes para políticas de
fortalecimento da segurança alimentar e nutricional nas cidades. Saliente-se ainda que o
registro dos saberes ecológicos tradicionais sobre o uso e manejo da biodiversidade torna-se
cada vez mais urgente frente às rápidas mudanças culturais em curso. Esses saberes,
historicamente marginalizados, podem se tornar, em um futuro próximo, a "pedra angular" de
uma sociedade socialmente justa e ecologicamente viável.
Agradece-se à todos os informantes pela disponibilidade em participar da pesquisa e ao PAPq/UEMG pela
concessão das bolsas de pesquisa. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado
e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado de Minas Gerais sob o registro
30852514.5.0000.5525.
Representações sobre mudanças temporais na paisagem de uma comunidade rural do oeste
da Bahia
Antônia Edna Magalhães Rêgo (Universidade Federal do Oeste da Bahia), Viviany Teixeira do
Nascimento (Universidade do Estado da Bahia) e Patrícia Muniz de Medeiros (Universidade
Federal do Oeste da Bahia). Contato: [email protected].
As populações locais detêm informações úteis sobre as mudanças na cobertura vegetal, uma vez
que desempenham um importante papel na exploração do meio ambiente. Esse estudo se valeu
de uma história oral temática conduzida com cinco representantes da comunidade e que foram
reconhecidos pelos demais como detentores de conhecimento ecológico tradicional, e teve por
objetivo capturar elementos da relação das pessoas com o ambiente em que vivem para verificar
como as pessoas percebem as mudanças na paisagem ao longo do tempo. A partir dessa técnica,
todos os entrevistados indicaram que, houve mudanças negativas do ponto de vista de
conservação na paisagem da comunidade. Quanto aos motivos da tal mudança, não houve um
consenso entre os entrevistados, pois 60% afirmaram que foi por falta de chuva, 20% por causa
do plantio e os demais atribuíram outras causas ou não as indicaram. Dentre os entrevistados,
60% relataram que houve uma diminuição na oferta de trabalho na região, uma vez que as
práticas agrícolas estão diminuindo nessa comunidade. Esse resultado é justificado pela
migração dos homens mais jovens para centros urbanos, uma característica evidente nessa
comunidade, que revela uma média de idade de 50 anos para os homens chefes de família. Foi
possível observar também que, dentre os entrevistados que ressaltaram que houve mudanças
negativas do ponto de vista de conservação, 80% relataram que houve mudança para melhor
na qualidade de vida. Em relação aos principais eventos históricos ocorridos na comunidade que
foram responsáveis pela modificação na paisagem, os entrevistados se restringiram a relatar
apenas os eventos que de certa forma melhoram a qualidade de vida das pessoas, de forma que
todos relataram a construção da estrada e a mudança na estética das casas e 60% relatam a
chegada de energia. As informações geradas com este trabalho são importantes para
implantação de um projeto de restauração florestal na região, que deve envolver a população
138
local, levando em consideração as necessidades de manejo e uso das espécies e tentando aliar
aspectos ambientais com a qualidade de vida.
Agradece-se à Universidade Federal do Oeste da Bahia. À comunidade de Sucruiu, Barreiras, bahia, pela
acolhida e contribuição inestimável à execução deste trabalho. O projeto de pesquisa que embasou o
presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, por
meio da Plataforma Brasil sob o número CAAE 07488513.4.0000.5026.
Representações sobre o Rio Grande por estudantes do 9º ano do ensino fundamental dos
municípios Wanderley e Cotegipe, Bahia
Claudina Barreto Chagas (Universidade do Estado da Bahia), Jaqueline Pereira Jorge
(Universidade do Estado da Bahia), Luzivelte da Silva Matos (Universidade do Estado da Bahia),
Antônia Edna Magalhães Rêgo (Universidade Federal do Oeste da Bahia), Viviany Teixeira do
Nascimento (Universidade do Estado da Bahia) e Patrícia Muniz de Medeiros (Universidade
Federal do Oeste da Bahia). Contato: [email protected].
Investigações sobre percepção ambiental vêm aumentando nos últimos anos, porém poucos
estudos têm focado diretamente nos jovens. Esse estudo objetivou investigar as representações
locais acerca do Rio Grande por estudantes do 9º ano de três escolas municipais, localizadas na
zona urbana do município de Wanderley, Bahia, e nos povoados rurais de Macambira e Taguá,
Cotegipe, Bahia. O referido rio banha diretamente os povoados rurais foco da pesquisa e,
embora esteja próximo à zona urbana de Wanderley, não a banha diretamente. Os alunos foram
estimulados a fazer redações e desenhos com o seguinte estímulo: “Quando penso no rio
Grande, vejo...”. Os elementos dos desenhos e das redações foram classificados em categorias,
de maneira que a frequência de tais categorias foi comparada entre as escolas por meio de teste
G em tabelas de contingência. Os dados qualitativos foram analisados por meio do discurso do
sujeito coletivo. Os alunos da zona rural, Macambira e Taguá, atribuíram ao Rio Grande maior
número de elementos relacionados à ação e utilidade, enquanto que na zona urbana de
Wanderley destacaram-se os adjetivos e os elementos antrópicos (barcos, cadeiras etc.). Houve
diferenças significativas entre as três escolas quanto à proporção de elementos destacados nas
redações (p<0,05). Observou-se que as representações de alunos da zona urbana de Wanderley,
que não dependem diretamente do rio, remetem a aspectos contemplativos e descritivos,
enquanto que os alunos das zonas rurais margeadas pelo mesmo possuem representações
influenciadas pela importância do rio na subsistência de sua família. Também foram
encontradas diferenças significativas nas proporções dos elementos representados nos
desenhos (p<0,05), embora, com esse estímulo, os elementos bióticos obtiveram destaque nas
três escolas. Esse estudo contribui para a ideia de que proximidade e dependência de um
recurso ou paisagem exerce influência direta nas representações locais sobre estes.
Agradece-se à Universidade do Estado da Bahia. Aos alunos do 9º ano de três escolas municipais, situadas
no município de Wanderley, Bahia, e nos povoados rurais de Macambira e Taguá, Cotegipe, Bahia. Os
autores declaram que o presente estudo não acessou o conhecimento tradicional.
Territorialidade e segurança alimentar e nutricional entre Mbyá Guarani da Terra Indígena
Cantagalo
139
Carolina Silveira Costa (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Araci da Silva (Universidade
Federal do Rio Grande do Sul), Gregori Turra (Universidade Federal do Rio Grande do Sul),
Rafaela Biehl Printes (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Gabriela Coelho-de-Souza
(Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e Rumi Regina Kubo (Universidade Federal do Rio
Grande do Sul). Contato: [email protected].
Desde 2009 os Núcleos DESMA e NESAN vêm trabalhando junto aos indígenas Mbyá Guarani,
estabelecendo uma interlocução com as comunidades do Rio Grande do Sul e acompanhando
as dinâmicas sociais, políticas e cosmológicas desses grupos, como uma forma de contribuir para
o reconhecimento dos seus direitos. Um dos temas transversais nas ações desenvolvidas referese à questão da segurança alimentar e nutricional (SAN). Com o objetivo de problematizar sobre
a questão da segurança alimentar entre os Mbyá Guarani, foram construídos mapas temáticos
da aldeia pelos próprios indígenas (por meio de técnicas de etnomapeamento), além disto,
foram realizadas oficinas de uso de GPS e caminhadas guiadas na Terra Indígena Cantagalo
(tekoá Jataí'ty e tekoá Ka’aguy mirim) para identificação dos pontos relacionados. Os etnomapas
apresentaram dois cenários da situação territorial e ambiental dos Mbyá. Através de desenhos
feitos em papel vegetal sobreposto à imagem de satélite, os indígenas representaram no
primeiro etnomapa “aquilo que deixa o Mbyá feliz” (Orema kova’e roguero vy’a), como espécies
da fauna e da flora nativa, a presença de roças com cultivos tradicionais, recursos hídricos e os
animais de criação. O segundo etnomapa intitulado: “nós não queremos mais que os juruá nos
incomodem” (Juruá kuery ndoroipotaveima oremo angueko), apresentou as problemáticas
relacionadas ao constrangimento causado aos Mbyá pelas invasões na Terra Indígena por parte
dos lindeiros. Nas caminhadas guiadas foi possível verificar nas áreas limítrofes da TI situações
de invasão por parte de propriedades vizinhas, que vem utilizando dos recursos naturais locais,
com derrubada de árvores nativas para uso da madeira, plantação de Pinus e eucalipto, lavouras
de milho e aipim e uso ilegal do solo, contribuindo para a escassez de recursos disponíveis na TI
e dificultando o acesso a sustentabilidade dos Mbyá no território. A partir dos dados gerados
nas ações descritas acima, o grupo (indígenas e envolvidos no projeto) objetiva desenvolver
ações condizentes com as demandas diagnosticadas, tais como a implantação de um viveiro de
mudas de espécies nativas, necessárias como matéria prima para a produção de artesanato e
incremento da biodiversidade, a fim de promover maior autonomia dos coletivos Mbyá Guarani.
Agradece-se à comunidade Guarani mbyá.
Uso tradicional do mandacaru, Cereus jamacaru DC., 1828, Cactaceae: uma opção forrageira
de emergência (cattle famine food) em agrecossistemas do semiárido baiano
Daniel Lima Martins (Universidade Estadual de Feira de Santana) e José Geraldo Wanderley
Marques (Universidade Estadual de Feira de Santana). Contato: [email protected].
As secas nordestinas são um fenômeno imprevisível, recorrente e inevitável. Há notícia de que
a mais recente (2007 a 2012) foi responsável pela mortandade e fome de mais de um milhão de
bovinos no Semiárido baiano. Tal nível de mortandade é histórico, apesar de táticas que o
sertanejo utiliza. Dentre estas, encontra-se o recurso a forrageiras nativas que só são utilizadas
em períodos críticos (cattle famine foods), como a cactácea colunar Cereus jamacaru DC., 1828,
conhecida por mandacaru. Este trabalho objetivou: 1) verificar e descrever o fluxo que vai desde
o corte dos artículos até sua oferta aos animais; 2) verificar se há um momento ótimo para a
140
tomada de decisão quanto ao uso da planta; 3) explorar alternativas que venham a otimizar o
seu uso; 4) avaliar possíveis implicações etnoconservacionistas. Para atingi-los recorreu-se aos
arquivos do GEPEC-UEFS (Grupo de Estudos e Pesquisas em Ecologia & Cultura da Universidade
Estadual de Feira de Santana), foram entrevistados pecuaristas de pequena escala (n=5,amostra
intencional baseada no conhecimento prévio das capacidades individuais) e foi feita observação
direta acompanhada de tomada de fotografias. Os dados foram analisados por meio de
modelagem gráfica de fluxos e tomadas de decisão. Os resultados mostraram que se trata de
uma conexão homem/vegetal do tipo trófico indireto antiga, forte e persistente, porém com
sinais de evanescência. Os agricultores conectam-se com o cacto seguindo um fluxo
comportamental geral e previsível com pequenas variações, geralmente com cinco passos que
incluem a obtenção dos artículos por coleta, compra ou partilha de recursos. Para que se dê a
conexão, antes são esgotadas de modo escalar todas as possibilidades forrageiras, normalmente
seguindo-se sequencialmente três tomadas de decisão: pós-esgotamento das forragens nativas,
pós-esgotamento do estoque de palma forrageira e pós-esgotamento dos recursos da silagem.
. O plantio do mandacaru é raro, inclusive da variedade sem espinho, a qual poderia otimizar o
seu uso forrageiro. Quanto à etnoconservação, há diferentes atitudes por parte dos agricultores,
as quais podem ser conservacionistas intencionais (e.g., altura dos cortes) ou predatórias (e.g.,
derrubada intencional). Considerada a importância da conexão e a gravidade da previsível
intensificação da seca nordestina pelas atuais mudanças climáticas, conclui-se pela necessidade
urgente de uma avaliação geral e aprofundada da conexão, incluindo aspectos etnoecológicos,
e de uma avaliação agronômica que possa otimizá-la, com conseqüente ação extensionista e de
educação ambiental.
Agradece-se ao Engenheiro Agrônomo Saullo Daniel e ao técnico agropecuário Manoel da EBDA por
viabilizarem a coleta de informações e pela contribuição em campo.
Usos de tracajá, Podocnemis unifilis (Testudine Troschel, 1848), na Estação Ecológica Terra
do Meio, Pará, Amazônia Brasileira
Ana Débora da Silva Lopes (Universidade Federal do Pará) e Cristiane Costa Carneiro
(Universidade Federal do Pará). Contato: [email protected].
Os moradores da Estação Ecológica Terra do Meio (EETM) têm uma relação de pertencimento
com o lugar, se reconhecem como sujeitos que fazem parte de um mesmo território, vivem uma
cosmografia, entendida como os saberes ambientais, ideologias e identidades – coletivamente
criados e historicamente situados – que utilizam para estabelecer e manter seu território. O
presente texto trata das experiências vivenciadas em diferentes momentos com os beiradeiros
da EETM, enfocando os usos do tracajá (Podocnemis unifilis Troschel, 1848 ). É muito comum no
período de agosto a setembro a presença dos tracajás boiando o longo do rio Iriri, tanto o animal
quanto os seus ovos são um recurso muito consumido pelos moradores. As experiências
vivenciadas com os beiradeiros se deu em diferentes momentos, através da observação
participante, observamos as formas de coleta de tracajá e seus ovos, o período e as formas de
uso, além dos conhecimentos ecológicos. A coleta tanto dos adultos quanto dos ovos é um
momento que envolve a família toda. Os tracajás são capturadas pelos moradores de várias
maneiras, dentre elas pode ser no pulo (mergulho), que é quando a pessoa pula na água e agarra
o animal, no momento que este sobe para respirar; no anzol, quando o animal é capturado com
a utilização de linha e anzol com isca; com o puçá e pode ser coletado também na praia durante
a desova. Os ovos são muito apreciados e são preparados de três maneiras, o mujangué, feito a
141
partir dos ovos batidos com açúcar e farinha de mandioca, podendo acrescentar leite ou não
(dependendo da disponibilidade do produto e da preferência); cozido com água e sal; e outra
forma de consumo dos ovos é o bolo, para o qual se demanda de 30 a 50 ovos. Os animais e os
ovos são coletados tanto por adultos quanto por crianças que desde cedo são inseridas nas
atividades familiar, aprendendo a identificar os ninhos das tracajás, capturar os animais,
experimentando e copiando o “saber fazer” dos mais velhos. Esse copiar é um processo de
redescobrimento dirigido, como tal, envolve um misto de imitação e improvisação, em que
copiar é imitativo, na medida em que ocorre sob orientação; e improvisar, na medida em que o
conhecimento que gera é o qual os iniciantes descobrem por si mesmos. Esse conhecimento
etnoecológico tem facilitado e auxiliado o desenvolvimento de pesquisa cientifica, a
conservação da espécie e a reprodução do modo de vida dos beiradeiros, sendo uma importante
ferramenta para o manejo dessa espécie.
Agradece-se à à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo fomento
das bolsas de mestrado e doutorado. Ao Instituto Chico Mendes (ICMBio) e programa ARPA e à gestora
da Unidade de Conservação EETM.
Etnoecologia da pesca
A prática tradicional de pesca do Mapará, Hypophthalmus marginatus, denominada
borqueio na Ilha Maúba, estado do Pará
Josivaldo Correa Pantoja (Universidade Federal do Pará), Antonio Wemerson de Lima Viana
(Universidade Federal do Pará) e Silvana de Sousa Pantoja (Universidade Federal do Pará).
Contato: [email protected].
O presente trabalho objetiva descrever uma prática tradicional de pesca do mapará
Hypophthalmus marginatus, transmitida geracionalmente. Para a realização dessa pesquisa
optou-se pela metodologia da história oral, registrando relatos de pescadores e moradores no
Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Maúba, região do baixo Tocantins no município
de Igarapé Miri, Pará. Os relatos explicam de forma detalhada como se realiza essa estratégia
de pesca artesanal chamada de borqueio e sua importância na organização social da
comunidade. O borqueio significa bloquear a passagem dos cardumes do mapará com auxilio de
dois cascos, cada um com uma rede de pescar e consegue capturar até uma tonelada de peixe
por pescaria. A pesca do mapará é realizada no período de março a novembro de cada ano, é
realizada por cerca de vinte homens, denominados borqueiadores ou torma, que contam com
o apoio e participação de agricultores, extrativistas, peconheiros, marreteiros e outros
pescadores. Os borqueiadores incluem crianças, jovens e idosos e são divididos de acordo com
as experiências de cada pessoa. Os pescadores mais experientes são chamados de taleiros: são
eles que identificam o cardume de peixes, utilizando-se de uma tala e uma sonda. A tala é uma
vara extraída da palmeira paxiúba (Socratea exorrhiza) com um diâmetro de aproximadamente
3cm3, seu tamanho varia de 5 a 7 metros. A sonda é um pedaço de chumbo amarrado com nylon
em uma boia de isopor. Estes instrumentos são fundamentais para identificar o cardume, a
espécie, a quantidade e o tamanho do peixe. A produção bruta da pesca é divida em três partes
iguais: a primeira destinada à comunidade, a segunda para os borqueiadores e a terceira para
ser comercializada no município de Igarapé-Miri. Vale ressaltar, nesta prática tradicional de
pesca, as relações socioambientais e culturais. Os moradores desta comunidade não vão para o
borqueio apenas para a captura do pescado, mas também para fortalecer os laços afetivos, as
relações de reciprocidade e valorizar o saber tradicional, garantindo a sua apreensão pelas
142
gerações mais jovens; assim como para valorizar práticas culturais importantes para a
organização social e econômica da comunidade.
Agradece-se aos alunos do Curso de Especialização em Agricultura Familiar e Desenvolvimento
Agroambiental na Amazônia da Universidade Federal do Pará (UFPA), Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)/MDA/INCRA nº 407096/2012-4), Bolsistas Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) ATP-A.
Ações afirmativas junto as comunidades de pescadores artesanais da bacia hidrográfica do
Rio Tramandaí
Carolina Silveira Costa (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Loyvana Carolina Perucchi
(Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Marcia dos Santos Ramos Berreta (Universidade
Federal do Rio Grande do Sul), Karin Luisa Lutkemeier (Universidade Federal do Rio Grande do
Sul), Gabriela Coelho-de-Souza (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e Rumi Regina Kubo
(Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Contato: [email protected].
O trabalho visou fornecer subsídios e informações para grupos de pescadores do Litoral Norte
do Rio Grande do Sul para reflexão e debate de temáticas referentes às questões que envolvem
a categoria e contribuir para o fortalecimento e valorização destas comunidades. A partir do
curso de Capacitação para o Fortalecimento da Organização Social das Comunidades de
Pescadores Artesanais da Bacia do Rio Tramandaí, destinado às lideranças e demais interessados
das comunidades de pescadores da região, desenvolvido em três locais: Barra dos Quirinos,
município de Terra de Areia, Tramandaí e Quintão foram abordados temas como populações
tradicionais; legislações relacionadas à pesca, gestão dos ambientes pesqueiros e temas
genéricos como identidade e territórios. Durante cinco meses aconteceram os encontros nos
quais, por meio de exposições de temas calcados em pesquisas desenvolvidas ou em
desenvolvimento, projeção de vídeos, debates e atividades com uso de metodologias
participativas e envolvimento com, uma equipe multidisciplinar, foi possível problematizar
sobre os pontos propostos com as comunidades. Nos últimos encontros foi desenvolvida uma
atividade de construção de mapas temáticos do território pelos próprios pescadores, na qual
foram identificados, na área de abrangência da Bacia Hidrográfica, locais de pesca, de conflitos
socioambientais, entre outros. Ao longo das oficinas, foi possível observamos as percepções que
os integrantes presentes têm em relação à importância da organização social, territorialidade,
meio ambiente entre outras questões sociais, que refletem em sua organização enquanto grupo.
Como fechamento das atividades, com o intuito de sensibilizar e aproximar a comunidade que
convive com os pescadores artesanais, foram promovidas: exposição de fotos, oficina de
manuseio e limpeza de peixes e palestra com pescadores e um representante da EMATER/RS,
no Festival Maré de Artes. Os problemas abordados, por sua complexidade, não incorrem em
uma situação de pronta resolução, porém, cabe ressaltar, como desdobramento de todas estas
atividades, o fortalecimento da categoria para construção do conhecimento a possibilidade de
troca de saberes e aproximação de horizontes entre estudantes universitários e locais,
professores, pesquisadores e destes com os pescadores, seus problemas, seus dilemas, o que
em nosso entender, contribui para a formação cidadã e profissional de todos os envolvidos.
Agradece-se aos pescadores, a ONG Associação Nascente Maquiné (ANAMA), PETROBRÁS e EMATER/RS.
143
Compreensão da percepção local sobre mega empreendimento portuário e o futuro da pesca
artesanal no norte do Rio de Janeiro, Sudeste do Brasil
Camilah Antunes Zappes (Universidade Federal Fluminense), Gabriele Damasceno Simões
(Universidade Federal Fluminense), Pablo da Costa Oliveira (Universidade Federal Fluminense)
e Ana Paula Madeira Di Beneditto (Universidade Estadual do Norte Fluminense). Contato:
[email protected].
O objetivo deste estudo é identificar através da percepção local a interferência do Complexo
Logístico Industrial Portuário do Açu (CLIPA) na cultura e economia da pesca artesanal na Barra
do Açu, Rio de Janeiro, onde residem 80 pescadores. Entre 2012/ 2013 foram realizadas 90
entrevistas: 30 pescadores artesanais, 30 esposas e 30 filhos. Questionários etnográficos foram
aplicados a cada grupo contendo perguntas abertas e fechadas e as análises realizadas
separadamente. Como critérios da escolha dos entrevistados: pescadores deveriam ter a pesca
artesanal como principal atividade econômica e praticar esta atividade no litoral do norte
fluminense; os cônjuges deveriam morar na mesma casa que o pescador há pelo menos 1 (um)
ano e os filhos deveriam ter no máximo 18 anos, morar na mesma casa do pai ou mãe
pescadores e cursar o ensino fundamental ou médio ou ter saído da escola há menos de 1 (um)
ano. Os pescadores atuam principalmente nas lagoas costeiras e em menor escala em rios e no
mar e o tempo de pesca na região varia entre 10 e mais de 50 anos. Em sua maioria são homens
(87%; n=26) com idade entre 22 e 78 anos e esposas com idade entre 19 e 63 anos. Dos filhos,
57% (N=17) são do sexo masculino com idade entre oito (08) e 18 anos e 43% (N=13) do sexo
feminino com idade entre nove (09) e 16 anos. Na percepção dos entrevistados a pesca artesanal
será extinta da região: pescadores (70%; n=21); esposas (57%; n=17) e filhos (47%; n=14).
Segundo 53% dos pescadores (n=16) o desaparecimento da atividade está relacionado
principalmente às ‘atividades do CLIPA’. Para as esposas (47%; n=14) e filhos (67%; n=20) a
principal causa do fim da pesca é a ‘poluição despejada ao mar’. Para os pescadores (47%; n=14)
e esposas (47%; n=14) a principal solução para minimizar as interferências do CLIPA sobre a
pesca e incrementar a atividade seria permitir a prática da mesma em qualquer lagoa costeira.
Isso porque o acesso às principais lagoas foi impedido após a instalação do CLIPA. Na percepção
dos filhos o incremento da pesca envolve capacitar os pescadores a fim de atuarem em outra
profissão (37%; n=11). Alguns pescadores não pretendem parar de trabalhar com a pesca (67%;
N=20), pois tal atividade é tradicional. A agricultura como outra atividade tradicional da região
está em declínio devido à salinização dos lençóis d’água causada pela abertura do canal
construído no CLIPA. Aqueles que desejam mudar de atividade descreveram que estão sendo
obrigados a parar de pescar, devido à dificuldade de acesso às lagoas e à salinização. Há o
interesse das famílias em mudar para outro município a fim de novas oportunidades de
emprego. Torna-se urgente ao poder público planejar o desenvolvimento econômico e social a
fim de garantir qualidade de capacitação e empregabilidade. A comunidade acadêmica deve se
posicionar através da realização de estudos econômicos, ambientais e culturais do norte
fluminense.
Agradece-se à Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ).
Conhecimento dos pescadores artesanais a respeito da biologia e ecologia da pescadafoguete, Macrodon atricauda GÜNTER, 1880 (Perciformes: Sciaenidae)
144
Amanda Alves Gomes (Instituto de Pesca, SAA), Antônio Olinto Ávila da Silva (Instituto de Pesca,
SAA). Contato: [email protected].
O conhecimento ecológico local (CEL) de pescadores, gerado de maneira empírica e transmitido
de geração em geração, pode ser útil na gestão dos recursos pesqueiros quando combinados
com o conhecimento científico. Partindo desta ideia, este estudo teve como objetivo principal
investigar o CEL dos pescadores artesanais dos municípios de Praia Grande, Mongaguá e
Itanhaém, litoral centro-sul do estado de São Paulo, sobre a Pescada-foguete, Macrodon
atricauda, um importante recurso da região. Objetivou-se também verificar as similaridades dos
conhecimentos dos pescadores com a literatura científica. O estudo foi desenvolvido durante os
meses de Março a Junho de 2014, onde foram realizadas entrevistas através de questionários
semi estruturados com 20 pescadores: 8 em Praia Grande, 6 em Mongaguá e 6 em Itanhaém. A
escolha dos entrevistados foi feita baseada em indicações de agentes de campo (moradores da
região que fazem parte do Programa de Monitoramento da Atividade Pesqueira (PMAP) do
Instituto de Pesca-SP). Os aspectos abordados nas entrevistas foram habitat, alimentação e
alterações nas capturas ao longo do tempo (aumento/diminuição). A análise dos questionários
mostrou similaridades entre o conhecimento dos pescadores e a literatura científica, entretanto,
as informações fornecidas pelos pescadores foram mais detalhadas com relação à alimentação
da espécie. Em todos os municípios os pescadores citaram itens alimentares que não constam
na literatura científica. Não houve diferenças entre o CEL dos pescadores nas localidades no que
diz respeito à alimentação e habitat. Esta diferença foi notada apenas em relação às capturas da
espécie ao longo do tempo, onde a maioria afirmou que houve uma diminuição nos últimos
anos. Entretanto, em Praia Grande e Mongaguá alguns relataram um aumento recente,
principalmente nos meses de verão. Por outro lado, em Itanhaém os pescadores relataram
apenas o declínio das capturas. As causas mencionadas para o declínio são principalmente a
pesca excessiva de grandes embarcações, a poluição marinha e a extração de petróleo. A
comparação do conhecimento dos pescadores com a literatura científica sobre a Pescadafoguete revelou muitas similaridades. Além disso, novas informações sobre a dieta alimentar
foram fornecidas. Por fim, os pescadores forneceram informações que podem ser úteis na
avaliação do estoque de Pescada-foguete na região.
Agradece-se à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nivel Superior (CAPES), agência
financiadora.
Conhecimento ecológico local sobre a garoupa, Epinephelus marginatus (Lowe, 1834)
(Teleostei, Serranidae), pelos pescadores do sul da Bahia, Brasil
Márcio Luiz Vargas Barbosa Filho (Universidade Estadual de Santa Cruz). Contato:
[email protected].
A garoupa apresenta um alto valor econômico no Nordeste do Brasil. Na Bahia, historicamente,
a pesca direcionada à espécie é uma atividade secular que apresenta alta saliência cultural, fato
verificado, por exemplo, pela existência pretérita de um tipo de embarcação denominada
“garoupeira”. Porém, atualmente, os pescadores do sul da Bahia relatam o desaparecimento da
espécie dos desembarques e, por isso, essa foi a hipótese analisada no trabalho. Objetivou-se
descrever os conhecimentos desses atores sociais, além de discutir suas percepções em relação
à dinâmica da captura regional da garoupa ao longo do tempo. Realizaram-se entrevistas
estruturadas pela utilização de um formulário e visualmente estimuladas por uma fotografia da
espécie a 54 pescadores das cidades de Ilhéus e Uruçuca. Os dados foram analisados por
145
métodos qualitativos e quantitativos, estes últimos baseados em técnicas da estatística
descritiva. A idade dos informantes variou entre 18 e 74 anos e todos pescam com linha e anzol
em jangadas ou pequenos saveiros a motor. Regionalmente a espécie é conhecida como
garoupa ou mero. Os informantes relataram que a espécie costuma habitar e reproduzir nas
áreas de pedra (=recifes), mais precisamente nas paredes (=talude continental), região onde
também se alimentam de pequenos peixes e mariscos. Tais conhecimentos etnoecológicos
locais estão de acordo àqueles contidos na literatura científica. Quinze informantes (27,8%)
relataram que há trinta anos conseguiam capturar um elevado número de garoupas em uma
pescaria, o que demonstra o conhecimento sobre o comportamento e os locais de agregação da
espécie. Entretanto, a maioria (n=47; 87%) argumentou que as garoupas desapareceram das
pescarias, 40,7% (n=22) não captura um exemplar há pelo menos 10 anos e 77,7% (n=42) dos
informantes acreditam que a espécie esteja localmente extinta. As principais razões apontadas
foram os impactos provenientes da pesca considerada predatória (n=21; 38,9%), como o
mergulho com compressor, espinhéis e o excesso de redes. Diante desse contexto, recomendase veementemente a adoção de operações de fiscalização que coíbam para a região aquelas
formas de pesca proibidas por lei, como é o caso do mergulho com compressor. Ressalta-se a
necessidade de que se realizem estudos mais detalhados como forma de viabilizar a
implementação de ações de manejo e ordenamento pesqueiro participativo para a conservação
da espécie e que considerem as particularidades da cultura pesqueira local.
Agradece-se aos pescadores que participaram desse estudo.
Conhecimento ecológico local utilizado para co-gestão na pesca: o caso do Tucunaré, Cichla
spp. (Cichlidae), na Amazônia Central, Brasil
Liane Galvão de Lima (Universidade Federal do Amazonas). Contato: [email protected].
O tucunaré é um peixe muito valorizado pela culinária local, por apresentar uma carne de alta
qualidade na preparação de pratos típicos regionais. Além disso, é um peixe bastante perseguido
pelos praticantes de pesca esportiva, devido algumas espécies atingirem grande porte,
apresentar um ataque violento à isca e, também ter o comportamento agressivo. O objetivo do
estudo foi registar o Conhecimento Ecológico Local (CEL) dos pescadores profissionais citadinos
e dos pescadores ribeirinhos de subsistência sobre os aspectos bio-ecológicos do peixe, como
também, relacionar os mesmos com o conhecimento disponível na literatura científica, a fim de
promover a participação dos usuários diretos dos recursos nas atividades de manejo. Comparouse ainda, os conhecimentos entre os tipos de pescadores. Foram realizadas cerca de 57
entrevistas de modo individual, contendo perguntas chaves e também questões abertas, sendo
31 informantes na balsa de desembarque de pescado de Manaus, Amazonas, e 26 informantes
na zona rural do município de Manacapuru, Amazonas, durante o período de julho a dezembro
do ano de 2002. Foi realizada uma análise comparativa dos dados científicos com o CEL dos
pescadores. Os testes estatísticos Z e T foram utilizados, respectivamente, na comparação de
proporções, e de dados de valores quantitativos, sendo que a hipótese nula de que as
informações eram iguais. Pode-se concluir que o CEL sobre a ecologia e a biologia do tucunaré
demonstrado pelos pescadores estudados é detalhado e compatível com a literatura científica
nos respectivos aspectos: tamanho e idade em que o peixe começa reproduzir, maturação plena,
época de desova, local de desova, tipo de desova e comportamento de cuidados parentais,
hábitos alimentares, predação, crescimento até a idade de 3 anos, mortalidade e tamanho de
captura da espécie. Somente no aspecto referente a alimentação, os pescadores ribeirinhos
146
foram mais detalhados, indicando maior variedade na dieta do peixe. Observou-se ainda, que
as informações sobre fatores relacionados ao uso do recurso são usualmente compatíveis,
indicando que pescadores profissionais citadinos e ribeirinhos sejam observadores atentos,
entretanto, se fenômenos não afetam diretamente aos interesses dos pescadores, estes tendem
a serem ignorados, como verificado quando analisado seus conhecimentos em relação a
fecundidade e idade do peixe.
Agradece-se ao Programa Integrado de Recursos Aquáticos e da Várzea da Universidade Federal do
Amazonas. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nivel Superior (CAPES).
Estudo sobre o IV Encontro da Articulação Nacional das Pescadoras: histórico, organização, e
principais desafios
Marcela Pagani Heringer de Miranda (Universidade Federal do Paraná) e Jessé Renan Scapini
Sobczak (Universidade Federal do Paraná). Contato: [email protected].
O referido trabalho é resultado da redação do relatório do IV Encontro da Articulação Nacional
das Pescadoras (ANP), no compromisso firmado com as pescadoras de Pontal do Paraná
participantes do evento que ocorreu entre os dias 26 e 29 de Agosto de 2014. A ANP surgiu em
2006 a partir da necessidade das trabalhadoras da pesca artesanal se afirmarem como
protagonistas na busca pelo reconhecimento de seus direitos e equidade de gênero. Com
representantes de 14 estados brasileiros, tem como principais pautas a saúde da mulher na
atividade pesqueira, o combate à violência de gênero, a defesa do território pesqueiro e o
fortalecimento da identidade das pescadoras artesanais. Como conquistas destacamos a
atuação do movimento em nível nacional, promovendo condições para o auto-reconhecimento,
para a comunicação e a ciência de direitos das pescadoras artesanais, e consequentemente o
empoderamento como sujeitos políticos. Neste ano a Articulação reuniu mais de 100 pescadoras
de diversas localidades do Brasil na cidade de Pontal do Paraná, Paraná, com foco nas questões
relacionadas às doenças ocupacionais e na garantia dos direitos previdenciários. As pescadoras
apontam como principais problemas que ameaçam os territórios e populações pesqueiras: as
políticas desenvolvimentistas e o avanço de grandes projetos econômicos privados
(carcinicultura, turismo de massa, indústria de energia eólica, indústria petroleira, pesca
industrial, complexos portuários, etc). Criticam a froma como o governo respondeu ao convite
de se fazer presente no encontro, enviando representantes locais que não tinham conhecimento
das causas da ANP.Durante o encontro, as pescadoras apresentaram como principais desafios a
regularização dos territórios pesqueiros; a efetivação dos direitos trabalhistas; identificação,
reconhecimento e tratamento das doenças ocupacionais da trabalhadora da pesca; o legítimo
atendimento do SUS às pescadoras; o combate ao racismo institucional presente nos órgãos
governamentais, como: Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e Ministério da Pesca e
Aquicultura (MPA). A ANP apresenta-se como um importante espaço de articulação política das
pescadoras artesanais a nível nacional, atuando na efetivação da democracia, da participação
nos planejamentos e nas tomadas de decisões, através da luta por direitos, do empoderamento
das mulheres e, consequentemente, das comunidades que representam.
Agradece-se aos pescadores que participaram desse estudo.
147
Etnoclassificação de Tuviras (Gymnotiformes) por pescadores artesanais no Pantanal
sulmatogrossense
Fernando Fleury Curado (Embrapa Tabuleiros Costeiros), Debora Karla Silvestre Marques
(Embrapa Pantanal) e Rodrigo da Silva Lima (Universidade Federal de Sergipe). Contato:
[email protected].
Os estudos de etnoclassificação permitem a compreensão mais aprofundada e qualitativa
acerca da biodiversidade e do comportamento de espécies em realidades em que grupos sociais
se relacionam intimamente com os recursos da Natureza. No Pantanal Sul Matogrossense,
região da Serra do Amolar, a Embrapa, juntamente com pescadores artesanais, realizou a
caracterização da diversidade de espécies de tuviras (Gymnotiformes), peixes comumente
utilizados como iscas-vivas por pescadores esportivos. O objetivo deste estudo foi identificar o
conhecimento tradicional associado à classificação e à ecologia destas espécies por pescadores
artesanais. A oficina de etnoclassificação de tuviras foi realizada no Parque Nacional do
Pantanal, em outubro de 2013, sendo facilitada por pesquisadores da Embrapa, com o apoio de
técnicos da ONG Ecologia e Ação e ICMBio, contando com a participação de trinta pescadores
artesanais residentes na Comunidade Ribeirinha da Barra do São Lourenço, Pantanal Sul.
Inicialmente foram constituídos três grupos de pescadores (homens e mulheres) com a tarefa
de realizar a classificação das espécies que foram previamente acondicionadas em recipientes.
Estes peixes foram coletados por pescadores na noite anterior à oficina, por meio de demanda
(empreita) realizada pela equipe do projeto para a efetivação do trabalho. Aos pescadores foi
solicitada a coleta da maior diversidade possível de espécies nos diferentes locais onde
poderiam ser encontradas. Assim, cada grupo se debruçou na classificação das espécies que
dispunha. Ao final, os grupos se reuniram e organizaram a classificação numa grande tabela,
previamente preparada para este fim. Ao todo foram identificados onze “tipos” de tuviras,
sendo coletado, de todos, tecido suficiente para caracterização genética por marcadores
moleculares, a fim de complementar as identificações realizadas pelos pescadores. Percebeu-se
a significativa diversidade de cores (amarela, listrada, branca) e de formatos do corpo (roliça,
arredondada, achatada) e da boca (de corneta, de bugio, com ou sem dente). Também foram
obtidas informações sobre o comportamento, hábitat e importância no comércio de iscas. A
etnoclassificação das tuviras permitiu o maior conhecimento sobre a importância destas
espécies para os atores locais, fornecendo pistas para a definição de estratégias coletivas de
manejo e conservação, favorecendo também a definição de políticas públicas relacionadas com
a sustentabilidade da atividade pesqueira.
Agradece-se aos pescadores artesanais da Barra do São Lourenço, Pantanal Sul.
Etnoictiologia da pesca e composição do pescado na ilha de Curupu, Maranhão
Layane Krisna Mendes Rilzer Lopes (Universidade Federal do Maranhão), Natannia Rubia Borges
de Sousa (Universidade Federal do Maranhão) e Ricardo André Rocha Monteles (Universidade
Federal do Maranhão). Contato: [email protected].
A pesca artesanal é uma das atividades econômicas mais importantes das regiões litorâneas
brasileiras, fonte de alimento e renda para muitas famílias; é também conhecida por ser causar
sérios impactos sobre espécies vulneráveis. A pesca artesanal no Brasil utiliza-se de uma ampla
variedade de apetrechos e técnicas, como as malhadeiras, espinhéis, anzóis, currais, tarrafas,
148
tapagens, puçás, entre outros. Este trabalho teve por objetivo caracterizar a atividade
pesqueira, seus principais métodos e técnicas e sua relação com a composição do pescado na
ilha de Curupu, Maranhão. Foram realizadas conversas informais e entrevistas semiestruturadas com 10 pescadores da comunidade do Canto (formada por 32 famílias), inserida
na ilha de Curupu. Utilizou-se o método da Bola de Neve para a seleção dos informantes. As
entrevistas foram realizadas nas casas dos pescadores, no período de julho a outubro de 2014.
A pesca nessa região é feita essencialmente por meio das redes malhadeira e de zangaria, em
um sistema de revezamento, durante 7 dias, utilizam somente a pesca de zangaria; nos 7 dias
seguintes somente a pesca com malhadeira, e assim sucessivamente. A zangaria é um apetrecho
que se destina à captura de camarão e peixes menores; constitui-se na fixação de estacas que
servem de suporte para a rede de malha bem pequena. A malhadeira consiste em uma rede de
malha maior, com peso em um dos lados e boias no outro; é arrastada na vertical e voltada para
a pesca de peixes maiores. Homens e mulheres participam juntos da pesca (não há divisão sexual
das atividades), que ocorre geralmente à noite e não envolve o uso de embarcações, já que
ninguém da comunidade possui. Entre as espécies mais capturadas na pesca de zangaria, estão
o camarão (Litopenaeus schmitti Burkenroad), a tainha (Mugil curema Valenciennes), o jiquiri
(Pomadasys corvaeniformes Steindachner) e a bandeirada (Bagre bagre Linnaeus). Entre as mais
capturadas na malhadeira, estão a corvina (Macrodon ancylodon Bloch & Schneider), o bagre
(Arius sp.), a pescada (Cynoscion sp.) e a enchova (Pomatomus saltatrix Linnaeus). Trinta por
cento dos entrevistados utilizam também a rede pitiuzeira para a captura de tainha pitiu (Mugil
gaimardianus Desmarest). Verifica-se que o critério básico de diferenciação da pesca é que um
apetrecho pega camarão enquanto os outros não, e a principal distinção entre eles é o tamanho
da malha. A pesca nessa comunidade se diferencia das demais por apresentar poucos tipos de
apetrechos específicos e pela ausência de embarcações, fatores que restringem mais a
variedade do pescado.
Agradece-se à comunidade do Canto por sua disposição e boa vontade em colaborar com a nossa
pesquisa.
Impactos na ictiofauna e estratégias de conservação marinha no Brasil: uma meta-análise
com enfoque na etnoecologia
Dannieli Firme Herbst (Universidade Federal de Santa Catarina), Juliano André Bogoni
(Universidade Federal de Santa Catarina), Natalia Hanazaki (Universidade Federal de Santa
Catarina) e Nivaldo Peroni (Universidade Federal de Santa Catarina). Contato:
[email protected].
Os ecossistemas marinhos brasileiros têm sofrido importantes impactos oriundos de diferentes
fontes antropogênicas e essas ameaças têm implicações significativas para a biodiversidade e
processos ecossistêmicos. A sobreexplotação dos estoques de peixes marinhos pela pesca tem
gerado gargalos populacionais para diferentes espécies alvo da pesca, prejudicando
substancialmente comunidades de pescadores artesanais. Nesse estudo nós realizamos uma
meta-análise sobre pesquisas com peixes marinhos na costa brasileira publicadas entre 1950 e
2014, com o objetivo de analisar os principais impactos relatados, as principais propostas de
conservação e manejo abordadas e em quantos estudos e de que forma são consideradas as
populações tradicionais, seus conhecimentos e o uso dos recursos pesqueiros. Foram analisados
112 artigos e os resultados obtidos nos mostram que, espacialmente, os estudos estão bem
distribuídos nas regiões sul, sudeste e nordeste do Brasil, representando 29%, 27% e 27% dos
149
estudos, respectivamente. Temporalmente eles estão limitados aos anos 2000 em diante e
apenas 29% deles consideraram populações locais e/ou conhecimento ecológico local (CEL) na
realização da pesquisa. A principal ameaça aos peixes é a sobreexplotação, de forma singular ou
associada a outros fatores e as principais estratégias de conservação apontadas como
necessárias são: definição de políticas públicas e implementação de planos de gestão e manejo,
além do co-manejo e manejo adaptativo e criação de áreas marinhas protegidas. Em média,
metade dos estudos considera as populações tradicionais e/ou o CEL nas propostas de
conservação e manejo. Esses resultados nos fazem concluir que se deve dar prioridade de
conservação para alguns tipos de espécies (e.g. ameaçadas, raras, chave cultural, de extrema
importância ecológica) e de ecossistemas (e.g. manguezal e recife de coral), uma vez que o gasto
com conservação no país é reduzido. É necessário envolver múltiplos atores e instituições no
delineamento de políticas públicas, bem como integrar o conhecimento ecológico
local/tradicional com o conhecimento científico no processo de planejamento e implementação
de estratégias de manejo, pois ambos se complementam e possuem importância relevante
neste momento de crise que o ecossistema marinho vem sofrendo.
Interação de tartarugas marinhas com a pesca na ilha de Curupu, Maranhão
Layane Krisna Mendes Rilzer Lopes (Universidade Federal do Maranhão), Natannia Rubia Borges
de Sousa (Universidade Federal do Maranhão) e Ricardo André Rocha Monteles (Universidade
Federal do Maranhão). Contato: [email protected].
Todas as espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil encontram-se em algum grau
de ameaça de extinção segundo a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN).
Dentre os fatores que levaram a este cenário está a pesca, apontada como uma das principais
causas de mortalidade destes animais. Nesse contexto, o presente estudo teve por objetivo
registrar a interação da atividade pesqueira com a captura acidental de tartarugas marinhas em
uma comunidade de pescadores artesanais do Maranhão. Foram realizadas entrevistas
semiestruturadas e conversas informais com 10 pescadores da comunidade do Canto, formada
por 32 famílias, localizada na ilha de Curupu, Maranhão, durante os meses de julho a outubro
de 2014. Utilizou-se o método da Bola de Neve para a seleção dos informantes. Não foi
verificado o uso de embarcações na atividade de pesca local. As principais artes de pesca são as
redes de zangaria, destinadas à captura de camarão e peixes pequenos, e a malhadeira,
apetrecho utilizado para a captura de peixes de maior porte. Quando questionados sobre a
captura incidental de tartarugas marinhas, 80% dos entrevistados relataram que já houve
captura em suas redes, embora não ocorra com muita frequência, e que quando aconteceu, eles
devolveram os animais para o mar, algumas vezes ainda vivas. Segundo os informantes, a
captura desses animais é mais comum na pesca de curral, prática não observada entre os
pescadores da comunidade. Não foram observados hábitos herpetofágicos incidentes sobre os
quelônios entre os pescadores locais. Contudo, há registros orais de consumo e venda de carne
e ovos de tartarugas em comunidades vizinhas. Apenas uma pessoa relatou ter visto uma vez o
consumo de ovos por moradores da comunidade do Canto. A maioria dos entrevistados afirma
já ter visto tartarugas subindo à praia para desovar ou os rastros deixados por elas. Um pescador
mais antigo assegura que não captura tartarugas marinhas porque elas estão em extinção, e
relata que já encontrou exemplares com placas de identificação, indicando uma provável
migração de áreas onde esse tipo de trabalho é feito. A partir destes dados, observa-se que a
ilha de Curupu é uma área importante para o monitoramento desses quelônios, pois constituise em local de desova, sugerindo também uma possível oferta de recursos alimentares, além da
150
constatada interação com a pesca local. Entretanto, estudos mais aprofundados são necessários
para que se compreenda melhor as interações da população humana com as populações locais
de tartarugas.
Agradece-se aos moradores da comunidade do Canto, pela boa recepção e disposição em colaborar com
o nosso trabalho.
Mecanismos sociais e práticas de manejo pesqueiro na comunidade caiçara da Ilha Diana,
Santos, São Paulo, Brasil
Fernanda Terra Stori (Universidade Federal de São Carlos), Nivaldo Nordi (Universidade Federal
de São Carlos) e Denis Moledo De Souza Abessa (Universidade Estadual Paulista). Contato:
[email protected].
Mecanismos sociais e práticas de manejo baseadas no Conhecimento Ecológico Local (CEL) são
apontados por muitos autores como importantes agentes de resiliência e sustentabilidade nos
sistemas socioecológicos. A comunidade da Ilha Diana, Santos, São Paulo, vivencia desde 2005
o conflito da expansão portuária sobre seu território de pesca. A hipótese é que há mecanismos
sociais e práticas de manejo na Ilha Diana que possam promover adaptatividade e resiliência
neste sistema socioecológico frente à crise atual. Este estudo objetivou analisar tais mecanismos
sociais e práticas de manejo existentes na comunidade da Ilha Diana, bem como aspectos da
cultura caiçara. Através de uma abordagem etnoecológica foram entrevistados 20 indivíduos
(10% da população residente), com idades entre 18 a 90 anos e com equidade entre gêneros.
Uma entrevistada experiente respondeu a uma entrevista etnoecológica abrangente, os demais
responderam questionários semi-estruturados. Cinco pescadores ativos (42% do total de
pescadores) responderam ao questionário sobre práticas de pesca. Foram identificados
aspectos genuínos da cultura caiçara na Ilha Diana, como organização social interligada à pesca
e o auto-reconhecimento como caiçara. Identificaram-se sete práticas de manejo baseadas no
CEL: (1) Monitoramento de mudanças no ecossistema e na abundância de recursos; (2) Proteção
de estágios vulneráveis na história de vida das espécies; (3) Proteção de habitats específicos; (4)
Restrições temporais de captura; (5) Manejo integrado de múltiplas espécies; (6) Rotação de
recursos; (7) Manejo sucessional. Identificaram-se quatro mecanismos sociais atrelados a estas
práticas: (a) Geração e transmissão intergeracional do CEL e três inovações relacionadas à
transferência geográfica de conhecimento: tarrafa italiana, gancho e gerival; (b) Estrutura e
dinâmica das instituições: exclusão de pessoas que não tenham relações de parentesco,
existência de uma associação incipiente e, habilidade de reorganização sob crise como as
negociações com o empreendedor; (c) Internalização cultural: culto ao Bom Jesus da Ilha Diana;
(d) Visão de mundo e valores culturais: respeito e reciprocidade próprios da cultura caiçara.
Contudo, foi verificada a extinção da arte de pesca “cerco fixo” e o abandono da pesca pelas
novas gerações. Conclui-se que os mecanismos sociais ainda existentes, bem como a habilidade
em interagir com a sociedade capitalista e a flexibilidade de tais interações, podem
contrabalançar aspectos negativos da crise, elevando a resiliência e promovendo a
reorganização do sistema socioecológico.
Agradece-se à Bolsa de Doutorado-Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq). Agradecemos aos moradores da Ilha Diana pela confiança depositada.
151
Peixes elasmobrânquios como promotores de zonas de exclusão de pesca no Brasil?
Márcio Luiz Vargas Barbosa Filho (Universidade Estadual de Santa Cruz) e Andrielli Maryan
Medeiros (Universidade Federal de Rio Grande). Contato: [email protected].
Os elasmobrânquios desempenham um papel crucial de estabilizadores ecológicos dos
ecossistemas marinhos, aspecto que adquire particular relevância quando se considera as
ameaças a que esses se encontram sujeitos. Apesar disso, infelizmente, uma análise exaustiva
da literatura científica especializada revela a escassez de estudos que enfoquem os
conhecimentos etnoecológicos de pescadores sobre esses animais. O presente trabalho
objetivou descrever as percepções de pescadores brasileiros em relação aos elasmobrânquios e
as suas consequentes implicações para a conservação desse importante grupo zoológico. Os
dados proveem da compilação de dois trabalhos acadêmicos e foram coletados entre os anos
de 2010 e 2012 por meio de entrevistas semiestruturadas a pescadores das Regiões Nordeste e
Sul do Brasil. Nas cidades de Ilhéus, Una e Canavieiras, Bahia, foram entrevistados 65 pescadores
sobre a pesca de tubarões. Já na Vila das Peças, no Complexo Estuarino de Paranaguá (CEP),
Paraná, entrevistaram-se 20 pescadores sobre suas interações com a raia-manta (Manta
birostris Walbaum, 1792). Os dados foram analisados por meio da abordagem qualitativa,
seguindo o modelo da união de diversas competências individuais. Os dados coletados indicam
que no verão, época em que raias-manta entram no CEP, os pescadores deixam de pescar no
local, já que esses grandes peixes costumam carregar os espinhéis e âncoras que se prendem a
eles, chegando até mesmo a afundar embarcações. Assim, a pesca é paralisada principalmente
devido aos riscos de elevados prejuízos financeiros. No sul da Bahia, três informantes relataram
que aqueles pescadores que se utilizam de arpão e compressor evitam capturar peixes e lagostas
nas “buracas” (compartimentos formados por recifes de corais que apresenta uma alta
produtividade biológica), por acreditarem que esses locais constituem a moradia de grandes
tubarões. Sob a perspectiva da Ecologia Humana, essa atitude pode ser enquadrada como um
tipo de predação sensível ao risco, no qual as capturas de recursos pesqueiros valiosos não
geram benefícios suficientes para que os pescadores se sujeitem à possibilidade de sofrerem
ataques. As informações compiladas, portanto, sugerem que, nos locais pesquisados, os
pescadores percebem esses peixes como “protetores” de outros animais aquáticos, por
impossibilitarem a realização da pesca, em determinados períodos e locais, criando verdadeiras
zonas de exclusão de pesca.
Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Ao professor Fábio Hazin pelas valiosas
contribuições à melhoria do texto. Um agradecimento especial a todos os pescadores que participaram
desse trabalho.
Pescadores artesanais de Shangri-Lá e Recifes Artificiais Marinhos no litoral do Paraná, Sul
do Brasil: a percepção da comunidade local e orientações ao manejo
Gabriele Damasceno Simões (Universidade Federal Fluminense), Renata Montalvão Gama
(Universidade Estadual do Norte Fluminense), Maurício Robert (Associação Mar Brasil), Camila
Domit (Universidade Federal do Paraná), Lilyane de Oliveira Santos (Associação Mar Brasil) e
Camilah
Antunes
Zappes
(Universidade
Federal
Fluminense).
Contato:
[email protected].
152
O Programa de Recuperação da Biodiversidade Marinha (REBIMAR) apresenta como um dos
objetivos o ordenamento pesqueiro a partir da instalação de recifes artificiais marinhos (RAM)
no litoral do Paraná. Neste sentido, o objetivo deste trabalho é compreender a interferência dos
RAM’s na pesca artesanal por meio da percepção dos pescadores artesanais da comunidade de
Shangri-lá, litoral do estado. Em abril de 2014 foram realizadas entrevistas etnográficas, guiadas
por questionário semi-estruturado, com 30 pescadores artesanais desta comunidade.
Triangulação foi utilizada para análise dos relatos bem como a técnica de informações repetidas
em situação sincrônica. Os pescadores são do sexo masculino, com idade entre 18 e 79 anos, e
o tempo de pesca na região entre cinco e 71 anos. Todos reconhecem a presença de RAM’s na
região e 24 pescadores (80%) informaram que após a instalação destas estruturas passaram a
verificar a presença de algumas espécies ícticas de interesse comercial como peixe porco
(Balistes capriscus Gmelin, 1789), robalo (Centropomus spp.), saltera (Oligoplites sp.) e cavala
(Scomberomorus brasiliensis Collette, Russo, Zavala-Camin, 1978). Vinte e cinco pescadores
(83,3%) mostram-se favoráveis à instalação dos RAM’s, pois entendem que estes atraem mais
espécies alvo da pesca e mantêm afastadas da área embarcações semi-industriais e industriais
que realizam o arrasto. Contudo, nove (30%) consideram negativa a presença de RAM’s por
estes danificarem suas redes. Quatro pescadores tiveram uma opinião ambígua quanto às
vantagens dos RAM’s o que justifica o número de relatos superior ao número de entrevistados.
A interferência positiva dos RAM’s sobre a pesca está relacionada ao incremento de espécies
capturadas percebido e relatado pelos pescadores, entretanto a percepção negativa
provavelmente foi exibida por pescadores que não obedecem ao distanciamento mínimo da
área de pesca em relação aos RAM’s indicado pela Instrução Normativa 12 de 2012 do Ministério
do Meio Ambiente e do Instituto de Meio Ambiente. Um Plano de Uso da área dos RAM’s foi
elaborado ao longo de 2012 de forma integrada com os pescadores, porém, este não vem sendo
seguido por todos os usuários. Os resultados demonstram a contribuição da etnoecologia ao
diagnóstico das ações de pesquisa e co-gestão, bem como indicam a importância da
manutenção da relação contínua entre pesquisa e atores locais para que através da gestão
participativa sejam alcançados os objetivos de conservação e desenvolvimento de atividades
econômicas viáveis.
Agradece-se ao Programa Petrobras Socioambiental, por meio do Programa de Recuperação da
Biodiversidade Marinha (REBIMAR), realizado pela Associação MarBrasil.
Pescadores do Rio São Francisco e seu conhecimento sobre aspectos reprodutivos de peixes
Thomás Toshio Yoshinaga (Universidade Estadual de Montes Claros), Ana Paula Glinfskoi Thé
(Universidade Estadual de Montes Claros), Daniel Vieira Crepaldi (Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Contato: [email protected].
O ser humano tem desenvolvido ao longo de sua história natural e social um conjunto de
conhecimentos e crenças a respeito da biodiversidade. Estudos desenvolvidos no Brasil e em
diversas partes do mundo têm demonstrado que as populações tradicionais têm um grande e
acurado conhecimento sobre os recursos naturais e ressaltam que a utilização do Conhecimento
Ecológico Tradicional (CET) produzido por estas populações pode auxiliar no manejo dos
recursos naturais. Levantou-se junto aos pescadores da Barra do Urucuia, pertencentes a uma
comunidade ribeirinha do Médio São Francisco, informações sobre o sistema socioambiental da
pesca com ênfase nos aspectos reprodutivos dos peixes. A amostragem foi realizada através do
método bola de neve e a coleta de dados foi através de entrevistas livres e estruturadas as quais
153
foram gravadas quando autorizadas e posteriormente transcritas. Foram entrevistados 17
pescadores da referida comunidade com média de idade de 41 anos e 30 anos de profissão. O
CET mantido pelos pescadores entrevistados foi dividido em três categorias: aspectos
reprodutivos, ciclo de migração pós-desova e fatores de previsão; tendo como fator em comum
para todas as categorias a influência do fluxo de cheias. Sobre os aspectos reprodutivos possuem
conhecimento sobre local, horário, época de ocorrência e descrevem o ato da desova (o carujo),
além disso, relatam sobre dimorfismo sexual e cuidado parental, principalmente para o surubim
(Pseudoplatystoma corruscans). Os pescadores também descrevem o ciclo reprodutivo dos
peixes associados ao fluxo de cheias, assim, pelo conhecimento tradicional, na desova os ovos e
larvas vão para as lagoas marginais onde crescem e aguardam a próxima cheia para retornar ao
rio, a justificativa para o deslocamento é que nestes locais as larvas possuem alimento e refúgio
contra predação. Sobre o fluxo de cheias, “enchentes do rio”, há uma compreensão no
conhecimento tradicional sobre a previsibilidade tanto para a captura das quantidades maiores
de pescado como a capacidade de previsão do carujo dos peixes. O estudo demonstra o
conhecimento ecológico mantido por comunidades de pescadores é acurado e muitas vezes
incipiente na literatura científica, desta forma o uso do CET pode contribuir para uma gestão da
pesca igualitária e sustentável.
Agradece-se à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao IBAMA. O
projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da
Universidade Estadual de Montes Claros sob o registro 250.017/2013.
Relação entre etnoconhecimento dos pescadores artesanais do litoral centro-sul de São
Paulo e a influência das variáveis ambientais na pesca da pescada-foguete Macrodon
atricauda (Günther, 1880) (Perciformes: Sciaenidae)
Amanda Alves Gomes (Instituto de Pesca - SAA), Antônio Olinto Ávila da Silva (Instituto de Pesca
- SAA) e Gyrlene Aparecida Mendes da Silva (Universidade Federal de São Paulo). Contato:
[email protected].
As variáveis ambientais exercem influência sobre a pesca e sobre os recursos pesqueiros. Os
pescadores exibem um conhecimento empírico acerca dessas influências, que é transmitido de
geração em geração. Este estudo tem como objetivo investigar o conhecimento dos pescadores
artesanais dos municípios de Praia Grande, Mongaguá e Itanhaém, São Paulo, acerca das
variáveis ambientais que influenciam a pesca da Pescada-foguete, Macrodon atricauda, e
verificar a relação entre estas e as capturas desta espécie no período de Outubro de 2008 a
Dezembro de 2013. Durante os meses de Março a Junho de 2014, foram realizadas 20
entrevistas com pescadores dos quatro municípios sobre a influência das variáveis ambientais e
período do ano mais favorável à pesca. As variáveis ambientais citadas pelos pescadores foram:
temperatura e transparência da superfície do mar, direção do vento, fases da lua e chuva. Já o
período do ano mais apropriado para a pesca, segundo eles, variou entre primavera, verão e
inverno, entretanto a maioria afirmou que a espécie ocorre o ano todo. Nesta primeira análise
foi investigada a relação de dependência entre os dados de captura mensal da espécie, obtidos
através do Programa de Monitoramento da Atividade Pesqueira (PMAP) do Instituto de Pesca–
SP, e as médias mensais de Temperatura da Superfície do Mar (TSM), obtidas através da
ferramenta IRI/LDEO Climate Data Library. As técnicas estatísticas utilizadas foram análise da
variabilidade mensal das séries temporais e análise de correlação cruzada. Houve, ao longo do
tempo, uma tendência de aumento das capturas de Pescada-foguete em Praia Grande e
Mongaguá e uma diminuição destas em Itanhaém. As maiores capturas foram registradas no
154
verão, inverno e primavera, com maiores picos nos meses de primavera. Houve uma correlação
significativa e inversa entre TSM e captura, com um ciclo anual e defasagem de 2 a 3 meses. Isso
significa que valores altos da variável ambiental estão correlacionados a valores baixos da
variável biológica, e vice-versa, mas com uma defasagem de resposta de 2 a 3 meses, indicando
valores altos de captura na primavera e baixos no outono. Os conhecimentos apresentados
pelos pescadores sobre os recursos pesqueiros são complementares aos resultados das análises
estatísticas e explicações físicas associadas. Estudos que envolvam o conhecimento dos
pescadores sobre variáveis ambientais devem ser mais explorados, pois podem gerar
informações úteis para a gestão dos recursos pesqueiros.
Agradece-se à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), agência
financiadora.
Saberes etnoictiológicos dos pescadores artesanais nos açudes do alto Rio Acaraú, Ceará,
Brasil
Thyara Costa Praciano Sampaio (Universidade Federal do Ceará), Leidiane Priscilla de Paiva
Batista (Universidade Federal do Ceará), Edson Vicente da Silva (Universidade Federal do Ceará)
e Jorge Iván Sanchez Botero (Universidade Federal do Ceará). Contato: [email protected].
A etnoictiologia busca descrever e valorizar os conhecimentos dos pescadores artesanais,
através de estudos que evidenciam que estes são portadores de conhecimentos bioecológicos
acerca dos peixes que capturam. Desta forma, objetivou-se comparar os conhecimentos
etnoictiológicos dos pescadores artesanais dos açudes públicos Araras e Edson Queiroz, bacia
do médio Rio Acaraú, Ceará, com a literatura científica. Com este fim, selecionou-se uma
população representativa para cada um destes açudes. Assim, tem-se a Ilha de Esaú, para o
açude Araras, e Vila São Cosme, para o Edson Queiroz. Foram realizadas observação
participante, entrevistas semiestruturadas, estímulo visual e turnês-guiadas com pescadores
destas populações. Foram entrevistados vinte pescadores na Vila São Cosme e vinte e quatro na
Ilha de Esaú. As entrevistas abordaram aspectos etnoecológicos das principais espécies de
peixes capturadas pelos pescadores. Foram citadas vinte etnoespécies de peixes e uma de
camarão como sendo capturadas nos açudes. Dentre estas, as mais importantes,
economicamente, foram: cará-tilápia (Oreochromis niloticus Linnaeus, 1758 e Tilapia rendalli
Boulenger, 1897), curimatã (Prochilodus brevis Steindachner, 1874), pescada (Plagiossion
squamossimus Heckel, 1840), piau (Leporinus sp.), traíra (Hoplias brasiliensis e Hoplias
malabaricus Bloch, 1794) e tucunaré (Cichla cf. ocellaris Bloch; Schneider, 1801). Na
classificação da ictiofauna, os pescadores utilizam aspectos morfológicos e etológicos,
apresentando várias etnoespécies com nomes genéricos e poucas com nomes binomiais. Em sua
dieta, estas populações consomem peixes, como principal fonte de proteína animal, havendo
restrições por caráter social e cultural. Quanto à etnoictiologia, conclui-se que os pescadores
possuem conhecimentos consistentes sobre a ecologia geral, trófica e reprodutiva da ictiofauna
capturada, vivenciando empiricamente muitas das informações presentes na literatura
acadêmica. Logo, pela consistência dos saberes dos pescadores da Ilha de Esaú e da Vila São
Cosme, estes conhecimentos podem contribuir para futuros estudos científicos e ser
incorporados na elaboração de planos de gestão e manejo sustentável dos recursos hídricos e
pesqueiros da região média do Acaraú.
Agradece-se ao Programa Primeiros Projetos-PPP/ FUNCAP/ Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), Laboratório de Ecologia Aquática UFC, Laboratório de Geoecologia da
155
Paisagem e Planejamento Ambiental UFC. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi
analisado e aprovado pelo Comitê de Ética do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) sob o registro 23837-1.
Vivenciando os botos amazônicos, Inia sp. (de Blaiville, 1817) e Sotalia sp. (Gray, 1866;
Delphiidae), com os estudantes pescadores na Amazônia oriental
SOUZA, R.D.S; RAMOS, I.;RODRIGUES,
[email protected].
A.L.F;ANDRADE,
A.M.;SENA,L.
Contato:
O ensino de ciências dissemina o conhecimento científico e o etnoconhecimento incorpora a
vivência das comunidades locais. Nesse sentido, o trabalho aproxima os conhecimentos prévios
dos estudantes ao conhecimento científico através do estudo etnoecológico dos botos-rosa, Inia
sp. e os botos do gênero Sotalia sp. a fim de fomentar ações de conservação para essas espécies.
Os interlocutores são estudantes da Casa-Escola da Pesca (CEPe), localizada na ilha de
Caratateua, escola que utiliza a pedagogia da alternância como proposta metodológica voltada
aos jovens moradores de regiões ribeirinhas de Belém e municípios próximos interessados em
profissionalizar-se no ofício da pesca. Foram utilizados questionários abordando o
conhecimento local a respeito dos botos amazônicos com 43 estudantes do ensino fundamental
e médio (média=16 anos de idade) moradores das ilhas (N=35) e de bairros próximos a escola
(N=7). Os botos Inia sp. e Sotalia sp. são avistados geralmente na época da cheia (novembro a
abril) (ambos com 70% N=30), embora a maioria dos interlocutores não saiba identificar o local
de maior visualização das espécies. O habitat apontado entre o mais frequente para Inia sp. é o
rio (14% N=6) e para Sotalia sp. a região do salgado paraense (9% N=4). Os estudantes visualizam
os botos em agrupamentos de dois indivíduos, Inia sp. (40% N=17) e Sotalia sp. (35% N=15),
descrição associada ao comportamento de alimentação para Inia sp.(47% N=20) e Sotalia sp.
(33% N=14). A apropriação de conhecimento intergeracional (56% N=24) e a observação do
animal em ambiente natural (6% N=5) representam a principal fonte de aprendizado. Embora
de posse de resultados preliminares, podemos assumir que estudantes que têm a pesca como
principal ofício a atividade de pesca apresentam um convívio mais estreito com a mastofauna
aquática e, portanto, se apropriam de conhecimentos que vão além dos aprendidos no âmbito
formal. Os conhecimentos desta natureza necessitam ser efetivados como subsídios à educação
científica e principalmente, nortear ações educacionais para a conservação dos botos na
Amazônia.
Agradece-se à Universidade Federal do Pará (UFPA) e BioMA - Biologia e Conservação dos Mamíferos
Aquáticos da Amazônia.
Etnozoologia
Aspectos socioambientais e econômicos da pesca artesanal no nordeste do Brasil
Rosilda Alves Magalhães Menezes (Universidade Estadual da Bahia), Noeme Cabral da Silva
Santos (Universidade Estadual da Bahia), Percília da Silva Ferreira (Universidade Estadual da
Bahia), Tâmara de Almeida e Silva (Universidade Estadual da Bahia) e Eraldo Medeiros Costa
Neto (Universidade Estadual da Bahia). Contato: [email protected].
156
Para compreender as questões socioambientais no Brasil necessita-se discutir a complexidade
das variáveis ambientais e seus efeitos socioeconômicos. No que concerne à atividade pesqueira
artesanal, esta exerce papel socioeconômico e cultural para garantir sobrevivência e reprodução
social das populações humanas que a desenvolvem. No Brasil, no final da década de 1970 e
primeira metade dos anos de 1980, várias colônias de pescadores de alguns Estados do Nordeste
começaram a ser dirigidas pelos próprios pescadores. O desenvolvimento da história das
Colônias de Pescadores apresenta episódios quando os movimentos sociais de pescadores se
fizeram presentes no século XIX. O objetivo deste trabalho foi identificar os aspectos
socioambientais e econômicos da pesca artesanal no Nordeste do Brasil. Neste contexto, pesca
artesanal apresenta necessidade de engajamento dos pescadores e apoio governamental. Para
aquisição de dados foi utilizado levantamento bibliográfico, buscando-se artigos em banco de
dados on line (Scielo, Google acadêmico, fishbase etc.). Dos resultados obtidos, o barramento
do rio São Francisco mediante a construção das usinas hidrelétricas, dentre elas Sobradinho,
Itaparica e Xingó, causaram muitas preocupações, pois a pesca artesanal de espécies nativas, a
exemplo do dourado e surubim, foi diretamente impactada. Nos anos 2000, o setor pesqueiro
apresentou um perfil de escassez e extinção de espécies de espécies. A degeneração do setor
pesqueiro, cooperativas de pescadores e associações de comercialização causou novas
realidades nas quais as atividades de pesca e grandes empresas de pescados decretaram
falência, o que acarretou uma migração de pescadores para outras atividades econômicas.
Neste contexto, à luz do debate contemporâneo sobre a sustentabilidade socioambiental e
econômica, faz-se necessária uma reflexão sobre espaço de discussão e de orientações políticas,
que envolvam associações, colônias de pescadores e demais organizações que têm apresentado
um vasto campo para a educação política dos pescadores artesanais. No âmbito de gênero, é
necessária uma abordagem teórica e prática para compreender a real importância do papel
feminino no universo da pesca. A atividade pesqueira artesanal tem importância
socioeconômica no Nordeste, entretanto, a sua vulnerabilidade exige uma maior atuação sob
uma nova ótica dos recursos naturais, numa holística ambiental, social, cultural e econômica
planetária.
Agradece-se à FAPESB, agência de fomento. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho não
foi apesentado a nenhum Comitê de Ética em Pesquisa nem a outro órgão, uma vez que, foi resultante de
pesquisas envolvendo apenas dados de domínio público, que não identificam os participantes da
pesquisa, ou seja, apenas revisão bibliográfica, sem envolvimento de seres humanos, conforme determina
o Conseho Nacional de Ética em Pesquisa.
Caça como recurso de subsistência por moradores de uma comunidade rural em Barreiras,
oeste da Bahia, Brasil
Loyana Docio (Universidade do Estado da Bahia), Marcelo Dourado Da Silva (Universidade do
Estado da Bahia) e Valter José de Souza Filho (Universidade do Estado da Bahia). Contato:
[email protected].
A etnozoologia auxilia trabalhos conservacionistas à medida que fornece pistas sobre ecologia
de muitas espécies e apontam mecanismos de manejo que podem ser modelos sustentáveis de
usos de animais silvestres. Diante disso, o estudo registrou os conhecimentos sobre a arte da
caça e animais caçados. Os dados foram coletados entre agosto de 2013 e julho de 2014, na
comunidade Vau da Boa Esperança, Barreiras, Bahia (coord.12° 12’ 07,87”S e 45° 13’ 29,29” W);
utilizando questionário semiestruturado, turnês guiadas, observações ad libtum, lista livre e
teste projetivo. As entrevistas iniciaram com a apresentação do Termo de Consentimento Livre
157
e Esclarecido. Para a análise, o conhecimento de homens e mulheres foi comparado pelo teste
U de Mann-Whitiney. Para verificar se idade e renda influenciam no conhecimento, utilizou-se
o teste H de Kruskal-Wallis (p<0,05 para ambos). Foi calculado frequência de citações (FCit) para
saber o quanto um organismo é conhecido, e o valor de uso (VU) para verificar sua importância
na comunidade. Participaram do estudo 20 dos 24 moradores da localidade, 11 homens e 9
mulheres, com idade média de 54 anos e tempo de moradia maior que 24 anos. Foram listados
130 animais, identificados por vestígios, fotografias e literatura específica até o menor nível
taxonômico possível. Não houve diferença significativa para a média de citações entre homens
e mulheres (U=36,00 p<0,3051). Renda (H2 =3,382; p=0,165) e idade (H2=2,580; p=0,350) não
explicam variações nas citações. Observaram-se cinco formas de uso de animais: alimentício,
zooterápico, estimação, controle populacional e místico. O primeiro foi o mais frequente 85%.
Dos informantes 40% praticam ou já praticou atividade de caça, 80% conhecem arte de caça,
95% apreciam animal silvestre e 90% criam esses animais como bichos de estimação. Rhea
americana (Linnaeus, 1758) (ema) foi o animal mais citado FCit=0,85 e de maior VU=1,55,
seguidos de Mymecophaga tridactyla (Linnaeus, 1758) (tatu-bandeira) FCit=80; VU=80 e
Masama americana (Erxleben, 1777) FCit=0,75; VU=1,35; (veado catingueiro). Cinco dos animais
citados estão ameaçados de extinção e 43 vulneráveis. Conclui-se a caça não é mais praticada
com veemência e que os conhecimentos remotos sobre ecologia e comportamento levantados,
podem auxiliar na compreensão da dinâmica populacional dos organismos na região, oque
auxilia trabalhos conservacionistas.
Agradece-se à Deus, à minha família e amigos pelo apoio, à professora Loyana Docio pela oportunidade,
à FAPESB pela bolsa, aos moradores do Vau da Boa Esperança pelo acolhimento. O projeto de pesquisa
que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa 541.649.
Coabitação entre humanos e Sapajus libidinosus (Kerr, 1792): avaliação do contexto
socioeconômico de uma comunidade rural no semiárido nordestino como primeiro passo
para preservar a cultura dos primatas
Noemi Spagnoletti (Universidade de São Paulo) e Patrícia Izar (Universidade de São Paulo).
Contato: [email protected].
No semiárido nordestino, seres humanos e macacos-prego, Sapajus libidinosus, são parte do
mesmo ecossistema, e podem ter interações conflituosas, como quando os macacos invadem
as lavouras e causam prejuízo na produção dos moradores. Como resultado da ação antrópica,
do uso não sustentável de recursos e com a expansão da agricultura extensiva, a degradação da
área de vida desses animais representa um risco para a preservação da espécie e de seu
comportamento. A partir de uma abordagem etnoprimatológica, este estudo teve por objetivo
avaliar o contexto socioeconômico de uma comunidade rural do semiárido Cerrado/Caatinga,
no município de Gilbués, Piauí, onde vive uma população de macacos-prego que habitualmente
usa ferramentas. Avaliar os aspectos socioeconômicos da população humana que coabita com
esses animais é importante para o planejamento de ações apropriadas que evitem conflitos
entre seres humanos e macacos-prego, permitindo a preservação do ambiente em que essas
espécies convivem. Ainda, o desenvolvimento da pesquisa, com participação da comunidade
local, resgata os saberes locais e contribui para a conservação da cultura dos próprios
moradores. Entre dezembro de 2012 e junho de 2013 foi realizado o censo da população
humana na área de uso dos macacos-prego, e o levantamento do seu perfil socioeconômico,
que foi avaliado através de entrevista semiestruturada. Foi constatada a presença de 48 famílias
em uma área de cerca 110km2, e entrevistados 77 moradores. A vida dos residentes é baseada
158
na agricultura de subsistência. A renda de 81,7% dos entrevistados vem da agricultura,
principalmente administrando uma pequena propriedade com poucas cabeças de gado. Durante
o período chuvoso ocorre o plantio de lavouras de arroz, mandioca, feijão e milho. O nível de
escolaridade é baixo: 70% dos entrevistados são analfabetos ou não completaram o Ensino
Fundamental. O tipo de economia dos moradores e a produção agrícola local sugere que a
invasão dos plantios pelos macacos pode causar prejuízo importante. O nível de escolaridade
sugere que devem ser implementadas ações educativas que usam uma linguagem adequada
para o publico interessado. Futuros planos de conservação dos macacos-prego e de sua cultura
serão voltados a avaliar o relacionamento entre as pessoas e os macacos-prego, a promover
programas de educação ambiental nos colégios locais, e também a quantificar os prejuízos
causados pelos macacos-prego nas lavouras.
Agradece-se à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nivel Superior (CAPES), Programa Ciência
Sem Fronteira (#017/2012), FAPESP, Auxílio Jovem Pesquisador (#2013/19219-2). Agradecimentos ao
Projeto Ethocebus e família Gomes de Oliveira. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho
foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Psicologia da Universidade de
São Paulo sob o registro CAAE: 14337013.9.0000.5561.
Concepções de moradores de Bragança,Pará, Brasil, sobre o Caranguejo-uçá, Ucides cordatus
Linnaeus 1763 (Brachyura, Ucididae)
Bruna Patrícia Brito Matos (Universidade Federal do Pará) e Claudia Nunes-Santos (Universidade
Federal do Pará). Contato: [email protected].
Em Bragança, como ao longo dos manguezais brasileiros, a captura do caranguejo-uçá é
considerada a atividade extrativista mais antiga e importante, para auto-consumo ou
comercialização. Apesar disso, os conhecimentos dos consumidores bragantinos sobre esta
espécie não foram ainda sistematizados. Portanto, as concepções de moradores da área urbana
deste município sobre Ucides cordatus foram investigadas. Através de amostragem aleatória
simples e questionário estruturado com perguntas abertas, foram entrevistados 154
profissionais de diversas atividades, de ambos os sexos, com escolaridade variada e idades entre
14 e 86 anos. Mais de 30% das respostas para “o que é o caranguejo-uçá?” foram alocadas na
categoria consensual cujo núcleo de sentido é “não sei”. As demais respostas ficaram
distribuídas em outras 13 categorias, que incluem concepções utilitárias (“caranguejo
comestível”, “caranguejo da feira”, “mina”, “marisco”), amistosas (“bichinho”), relacionada a
aspecto morfológico (“vermelhinho”). Outras sete categorias o definem como um animal, de
forma vaga (“ser vivo”, “animal”, “espécie da região bragantina”), aproximadas da classificação
zoológica (“artrópode”, “crustáceo”) e algumas bem distantes (“molusco”, “réptil”). No
Conhecimento Ecológico Local (CEL) aqui verificado, “caranguejo-uçá” não parece ser um
etnotaxon local, uma vez que muitos desconhecem o nome, além de separar machos e fêmeas
em espécies diferentes (“caranguejo do mange”/“caranguejo da feira” e “condurua”/
“cangurua”, respectivamente). Notou-se que a percepção predominante é de indiferença ou
utilidade (renda e alimentação). E ainda que a percepção preservacionista deve-se mais à
relação homem-manguezal do que homem-caranguejo. O defeso é entendido por esses
cidadãos como instrumento legal para o controle das atividades de alguns atores da cadeia
produtiva (coletores, vendedores), sem estendê-lo aos consumidores. O valor cultural atribuído
a Ucides cordatus parece ser maior como alimento/renda, do que como elemento da fauna.
Estudos que aprofundem as representações sociais a ele articuladas são necessários. A
significação faunística-ecológica deste caranguejo, através de intervenções no ensino de
159
zoologia e inserção deste como elemento simbólico no calendário cultural, deve ser pensada
pelos programas de preservação da espécie.
Agradece-se ao Grupo de Estudos Socioambientais Costeiros (ESAC) da universidade Federal do Pará
(UFPA).
Conhecimento ictiológico tradicional dos pescadores da colônia Z -19 no município de Caicó,
Rio Grande do Norte
Jaedson Zeferino de Araújo (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), Rita de Cássia Silva,
Valfredo Pereira de Araújo Filho e Alzira Gabriela da Silva Pause (Universidade Federal do Rio
Grande do Norte). Contato: [email protected].
A forma com que os pescadores vivem e praticam a pesca é importante para compreender a
relação entre o homem e os peixes. Face ao exposto, objetivou-se descrever o conhecimento
local dos pescadores da colônia Z-19 sobre o comportamento reprodutivo, migratório, alimentar
e de defesa dos peixes regionais, assim como caracterizar a atividade pesqueira nesta colônia.
O estudo foi conduzido no município de Caicó, Rio Grande do Norte durante o mês de Agosto
de 2014, quando foram realizadas vinte e uma entrevistas semiestruturadas de forma aleatória
na sede da colônia. Observou-se que todos os pescadores entrevistados possuem embarcação
própria do tipo canoa, sendo que apenas um pescador (4,8%) relatou possuir duas canoas.
Quando questionados sobre mudanças na atividade pesqueira nos últimos 20 anos, 47,6% dos
pescadores relataram que observaram um maior período de estiagem e menor de quantidade
de peixes. Também citaram redução do tamanho dos peixes, poluição, menor vazão e
assoreamento dos rios e açudes. Os principais métodos de captura descritos pelos entrevistados
são anzol, rede e covo. Os peixes mais citados foram curimatã (Phochilodus argenteus), pescada
(Cynoscion sp.), piau (Leporinus sp.), piranha (Serrasalmus sp.), tilápia (Oreochromis niloticus),
traíra (Hoplias sp.), tucunaré (Cichla sp.) e também o camarão (Macrobrachium sp.). Com
relação ao habitat destes peixes, os pescadores afirmaram que todos são de águas profundas e
ressaltaram que estes se alimentam de lodo, peixes menores e crustáceos. Sobre o
comportamento dos peixes da região os entrevistados destacaram que a pescada e curimatã
“andam em manta”, que a tilápia “choca na boca” e “deixa cheiro ruim”, que o tucunaré é um
peixe “mais forte”, de velocidade e que “pula”. Enquanto o pirarucu (Arapaima gigas) é um dos
“mais bravos” e possuem “cheiro”, já a pescada é “fraca”, a traíra regurgita e o curimatã “ronca”.
Por fim, quando indagados sobre a quantidade de peixes ao longo dos último anos, 61,9% dos
pescadores disseram que observaram redução da pescada, pirarucu e tucunaré, 28,6%
relataram aumento da tilápia e traíra, outros 33,3% não souberam responder e/ou não
perceberam. Os pescadores mostraram ter um bom conhecimento etnobiológico sobre a
ecologia, comportamento e a taxonomia das espécies de peixes da região. Tais informações
podem contribuir para um planejamento sustentável da atividade pesqueira no Seridó Potiguar.
Agradece-se aos pescadores da Colônia de Pescadores Z-19 pela disponibilidade em participar do estudo.
Conhecimento popular sobre serpentes no bairro Guapiruvu, município de Sete Barras, São
Paulo
Naylien Barreda Leyva (Instituto Butantan), Bruno Gonçalves Augusta (Instituto Butantan),
Mariana Galera Soler (Instituto Butantan), Heloisa Passarelli Santana Borges (Instituto
160
Butantan), Giuseppe Puorto (Instituto Butantan) e Erika Hingst-Zaher (Instituto Butantan).
Contato: [email protected].
As serpentes são animais de grande importância ecológica, cultural e médica que infelizmente
estão presentes de forma muito negativa no imaginário popular. Este trabalho faz parte de um
projeto está que sendo desenvolvido no bairro Guapiruvu, Sete Barras, São Paulo, região
escolhida por conta de uma alta diversidade local de serpentes e do alto número de acidentes
ofídicos, e tem como objetivo realizar um levantamento do conhecimento popular sobre as
serpentes na comunidade. A metodologia de coleta de dados sobre o conhecimento popular
empregada é a Pesquisa-Ação-Participação. Até o presente momento, 50 entrevistas com
questionários semiestruturados foram aplicadas, com as seguintes questões: 8 para definir o
perfil socioeconômico, 18 sobre aspectos biológicos das serpentes e 15 sobre a percepção
individual acerca das serpentes peçonhentas e acidentes ofídicos. O Instituto Butantan não
dispõe de uma comissão de ética que regulamente pesquisas etnográficas, mas os autores
garantem o anonimato dos entrevistados. O perfil socioeconômico geral foi: morador natural do
município de Sete Barras, com Ensino Fundamental incompleto e principal fonte de renda ligada
à agricultura. A maior parte dos entrevistados soube diferenciar, através de fotografias, as
serpentes peçonhentas e não-peçonhentas da região, bem como reconhecer que acidentes
ofídicos são mais propensos a ocorrer no verão e quando o animal se sente ameaçado de alguma
maneira. Todos os entrevistados informaram que observam serpentes frequentemente na
região (por volta de duas vezes por mês), tanto próximos de suas residências como nas áreas de
agricultura. Os nomes das serpentes são aprendidos principalmente pela transmissão oral a
partir de gerações mais antigas. Os sentimentos mais comuns que os entrevistados disseram
sentir foram “medo” e “respeito” (92%), enquanto que “ódio” foi relativamente pouco citado
(12%). A matança, o desmatamento e o uso de agrotóxicos foram as principais causas citadas
para a diminuição da população de serpentes na região. Percebeu-se que os moradores da
comunidade apresentam um bom conhecimento geral sobre as serpentes e sobre a prevenção
de acidentes ofídicos, e a maioria reconhece a importância destes animais na natureza. As
principais dificuldades dos entrevistados estavam relacionadas ao reconhecimento de serpentes
não-peçonhentas que mimetizam características de serpentes peçonhentas, um fato que pode
contribuir para a matança de espécies não perigosas ao homem na região.
Agradece-se à FAPESP, projeto temático BIOTA nº 2011/50206-9 e bolsa de treinamento técnico à
primeira autora, à Fundação Butantan e à Rufford Foundation.
Conhecimentos etnozoológicos e zooterápicos de Gameleira dos Pimentas, Macaúbas, Bahia,
Brasil.
Alana Narcisia Jesus Souza (Universidade do Estado da Bahia), Loyana Dócio (Universidade do
Estado da Bahia) e Rodrigo de Souza Bulhões (Universidade Salvador). Contato:
[email protected].
Zooterapia é uma prática comum em comunidades rurais. A utilização de medicamentos feitos
com animais se deve ao baixo custo e contato próximo com a natureza. Diante disso, o objetivo
desse trabalho foi registrar os animais utilizados como ingredientes de zooterápicos. O estudo
foi realizado entre julho de 2013 a maio 2014, em Gameleira dos Pimentas, Macaúbas, Bahia,
pois em visitas informais foi percebido que a comunidade apresentava relação cultural com a
fauna. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas, teste projetivo e turnê guiada. Após a
161
coleta, foram feitas análises pelas seguintes técnicas Qui-Quadrado, Nivel de Fidelidade (FL),
Popularidade Relativa (RP), Classificação de Prioridade de Ordenamento (ROP), Fator Consenso
do Informante (FCI) e Importância Relativa (IR). Quarenta e oito participantes foram contatados
para a pesquisa através da técnica “bola de neve”. Os resultados mostraram 567 tipos de
citações sobre 45 animais utilizados, os quais foram classificados em nove taxa distintos e
identificados por meios de pistas taxonômicas, fotografias e doações de organismos. Os
conhecimentos foram agrupados em quatro conexões homem-animal: terapêutica, místicoreligiosa, estética e ética. Ao nível de significância de 5%, o Qui-Quadrado mostrou que homens
(58,8%), pessoas com idade > 50 (77,6%) trabalhadores rurais (56,4%) e com ensino fundamental
incompleto (70,4%) possui mais saberes. Foram relatadas 73 doenças, a maioria relacionada ao
sistema respiratório, porém o cálculo do FCI evidenciou maior consenso para desordens mentais
e comportamentais. O FL mostrou 15 organismos com índice 1,0 e os maiores RP e IR foram
atribuídos a galinha (Gallus gallus domesticus Linnaeus, 1758), enquanto o maior ROP (0,66) foi
da galinha d’angola (Numida meleagris Linnaeus, 1758). Da fauna utilizada 37 (82,2%) são
silvestres, obtidos pela caça, dentre técnicas listadas estão: uso de cachorros, espera e arapuca.
Cinco animais relatados no estudo encontram-se no livro vermelho de espécies ameaçadas. O
presente estudo contribui para a etnozoologia do ponto de vista da conservação e uso
sustentável de espécies. O retorno à comunidade foi feito por meio de palestras, cartilhas e
banco de dados sobre o conhecimento local.
Agradece-se à Universidade do Estado da Bahia, a Fapesb e a comunidade de Gameleira dos Pimentas. O
projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da
Plataforma Brasil sob o registro nº 541.649.
Distribuição de organismos utilizados como zooterápicos por mesorregiões do estado da
Bahia, Brasil.
Emilia Miguel Soares (Universidade do Estado da Bahia), Loyana Docio Santos (Universidade do
Estado da Bahia) e Rodrigo de Souza Bulhões (Universidade de Salvador). Contato: [email protected].
A zooterapia é entendida como utilização mágico-medicinal de “remédios” feitos com animais,
partes deles ou de seus derivados. Assim, a proposta da presente pesquisa foi verificar as
utilizações de zooterápicos por mesorregiões no Estado da Bahia. Para tanto, foi feito um
levantamento bibliográfico nos buscadores, Periódicos CAPES, Google Acadêmico e Web of
Science, com as seguintes palavras-chaves: “Etnomedicina” (Ethnomedicine); “Medicina
popular” (Folk medicine); e “Estado da Bahia” (Bahia State, Brazil). A pesquisa teve início no mês
de maio. Foram levantados 22 artigos, compreendidos entre os anos de 1996 a 2014. Deles
foram extraídos 284 espécimes, as quais estão classificadas nas categorias de família, gênero e
espécie. Estas servem para tratar 163 doenças. Os organismos foram divididos nas seis
mesorregiões a seguir: Centro Norte Baiano, com 135 espécimes e 437 citações em 10 artigos;
Centro Sul Baiano, com 05 espécimes e 07 citações em 01 artigo; Nordeste Baiano, com 81
espécimes e 288 citações em 05 artigos; Sul Baiano, com 09 espécimes e 48 citações em 02
artigos; Vale São Francisco, com 132 espécimes em 09 artigos e 269 citações; e Metropolitana,
com 34 espécimes e 163 citações em 03 artigos. Foi observada uma sobreposição de organismos
utilizados para fins semelhantes entre as mesorregiões, o que demonstra um padrão de
utilização dos mesmos. Foi possível verificar a existência de um padrão de uso dos animais como
zooterápicos no Estado da Bahia. Esse padrão está relacionado às similaridades entre os usos e
conhecimentos de zooterápicos entre as diferentes regiões da Bahia.
162
Agradece-se à todos os coloboradores da pesquisa. O projeto de pesquisa que embasou o presente
trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética sob protocolo 541.649.
Fauna cinegética utilizada na zooterapia dos índios Xerente, Cerrado do Tocantins
Milton José de Paula (Universidade Federal do Pará), Juarez Carlos de Brito Pezzuti (Universidade
Federal do Pará), Odair Giraldin (Universidade Federal do Tocantins) e Valcir Sumekwa Xerente
(Universidade Federal do Tocantins). Contato: [email protected].
Povos indígenas exploram a fauna cinegética não somente para obtenção de proteína, mas para
diversas finalidades, tais como: zooterapia (medicina tradicional), decoração corporal,
cosmologia, confecção de artefatos, criação e simbolismo. Este trabalho tem o objetivo
investigar quais espécies cinegéticas são utilizadas na medicina tradicional dos índios Xerente,
povo Jê-Central que vive no cerrado do Tocantins. Para obtenção dos dados foi utilizadas
entrevistas semi-estruturadas complementadas por entrevistas abertas e conversas informais,
nas quais foram registradas as espécies cinegéticas utilizadas na medicina tradicional, partes dos
animais utilizadas, doenças tratadas e modo de preparo dos zooterápicos. Entre os meses de
fevereiro e agosto de 2014 foram investigados 49 caçadores Xerente, distribuídos em dez
aldeias. Para identificação taxonômica e etno-taxanômica, foram utilizados pranchas contendo
fotos de cada espécies e guias de identificação. Trinta e três espécies (22 mamíferos, sete répteis
e quatro aves) foram indicadas para fins zooterápicos, dos quais 17 partes são indicadas para o
tratamento de 43 doenças, sendo uma em cachorro doméstico. As espécies mais citadas são
mamíferos de médio e grande porte: Tapirus terrestres, Kdâ (10%), Nasua nasua, Wakõ (9%),
Myrmecophaga tridactyla, Padi (6%) e Lycalopex vetulus, Wapsã wara (5,7%). As partes dos
animais mais citadas foram: gordura (58%), escudo dérmico (9,5%), ossos (9%) e pelos (7,8%).
As doenças mais indicadas para tratamento foram: gripe (26%), reumatismo (20,5%) “derrame”
(7%) e pneumonia (5,7%). De maneira geral as partes moles, tais como gorduras, são ingeridas
puras, partes duras, tais como escudos dérmicos, ossos ou pelos, são queimados e
transformados em pó, sendo ingeridos com água ou bebida alcoólica ou passados nos locais das
doenças. Os resultados obtidos demonstram a importância da fauna cinegética na medicina
tradicional Xerente. A diversidade de espécies exploradas, bem como a variedade de partes
utilizadas, doenças tratadas e modo de preparo, revela um apurado e importante conhecimento
zooterápico dos caçadores Xerente sobre sua fauna explorada.
Agradece-se à The Rufford Foudation.
Meliponicultura entre os Mbyá-Guarani: experiências nas aldeias da planície costeira interna
da Laguna dos Patos e Serra do Sudeste, Rio Grande do Sul, Brasil
Gabriel Collares Poester (Universidade Federal de Santa Catarina) e Guilherme Fuhr
(Universidade Federal de Santa Catarina). Contato: [email protected].
O “Projeto Ei” visa à implantação de meliponários e o fomento às práticas de criação e manejo
de abelhas nativas sem ferrão. Está sendo executado através do Subprograma de Apoio às
Atividades Produtivas, vinculado ao Programa de Apoio às Comunidades Mbyá-Guarani no
Âmbito das Obras de Duplicação da Rodovia BR-116, Rio Grande do Sul. Tal ação é fruto da
163
reflexão e da demanda das lideranças Mbyá para resgatarem e cultivarem seu mel sagrado,
assim como as abelhas nativas e o conhecimento tradicional associado. Para a sua execução foi
estruturado um plano de trabalho contendo as seguintes etapas: diagnóstico das relações entre
os Mbyá e as abelhas, aquisição de colmeias e implantação dos meliponários concomitante ao
curso de meliponicultura, além do acompanhamento permanente das ações. A partir do
diagnóstico realizado por meio da vivência nas aldeias, rodas de conversas e viagens de
intercâmbio foram coletados dados do conhecimento Mbyá sobre as abelhas. Conjuntamente
com as lideranças, agentes ambientais e especialistas indígenas foi planejado um curso de
meliponicultura, 60 horas, e a implantação dos meliponário nas aldeias. Nesta fase foram
apresentadas fotos das 22 espécies de abelhas nativas do Rio Grande do Sul para a escolha das
espécies de interesse. Os Mbyá, através dos especialistas indígenas, apresentaram um
conhecimento minucioso sobre as abelhas em diversos aspectos, como biologia, produção de
mel e produtos. Foram, então, escolhidas 5 espécies: Jataí (Jate’i), Manduri (Mandori), Tubuna
(Tapechuá), Mandaçaia (Eira viju) e Guaraipo (Guarykuá). Outras foram citadas, porém sem
intenção de criá-las no momento, como Ei vorá, Yvy ei, Pynguaréi, Ei miri, Ei ruxu, Ei`rapuá, Ei
tatá, Yvyra’ija. Passadas estas etapas, foram adquiridos e distribuídos entre as nove aldeias
envolvidas 100 enxames das cinco espécies selecionadas. A partir daí deu-se início ao curso, que
foi realizado em quatro módulos de quinze horas, um em cada estação do ano; ou, segundo a
divisão do ano Mbyá: dois no ara pyau e dois no ara yma. Além destes resultados objetivos,
pode-se observar o inicio de um resgate por parte dos indígenas mais novos. Os Mbyá
apresentam historicamente uma relação muito profunda com as abelhas nativas e que vem se
perdendo devido à drástica redução das populações destes insetos. Frente a esta ameaça de
extinção se tornam importantes ações de criação de abelhas nativas, como a que está sendo
praticada pelos Mbyá nas aldeias da planície costeira interna da Laguna dos Patos e Serra do
Sudeste.
Agradece-se aos agentes ambientais Mbyá da planície costeira interna da Laguna dos Patos que
envolveram suas comunidades no resgate das abelhas nativas.
Nomes populares de aves do Espírito Santo segundo o naturalista e taxidermista Antonio
Paviotti
Fernando Augusto Valério (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais), Alexandre Palmieri
Sad (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais), Marcelo Ferreira de Vasconcelos
(Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais) e Ana Teresa Galvagne Loss (Universidade
Estadual de Feira de Santana). Contato: [email protected].
A questão de registrar e comentar os nomes populares das aves em certas localidades começou
a ser desenvolvida por alguns ornitólogos e naturalistas que perceberam o valor cultural e as
variações regionais e locais da nomenclatura popular. Apesar de alguns naturalistas do séc. XIX
serem os primeiros a coligir, de forma sistemática, nomes populares de aves, ainda são poucos
os estudos a este respeito no Brasil e os poucos estudiosos que pesquisam essa temática
contribuem para a valorização e a preservação do conhecimento tradicional. Antonio Paviotti
foi um exímio coletor e taxidermista de aves. Pouco se sabe sobre este célebre naturalista,
exceto que ele acompanhou Helmut Sick em expedições e coletas científicas pelo Brasil Central
junto aos irmãos Villas-Boas. Parte de seu material encontra-se na coleção ornitológica do
Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Minas Gerais (DZUFMG). Foram
analisadas as cadernetas originais de taxidermia de Antonio Paviotti, nas quais ele anotava o
164
nome popular da maioria das aves que eram preparadas, além de várias outras informações de
valor científico, tais como peso, comprimento total, tamanho das gônadas, coloração das partes
nuas e hábitat. Nos mais de 500 exemplares coletados por Paviotti e tombados no DZUFMG,
este coletor registrou o nome popular de cerca de 90 espécies. Estes nomes foram o foco do
presente estudo, no qual constatou-se que a maioria dos nomes populares das aves é associada
a uma ou mais características da espécie, como coloração, tamanho, comportamento, hábitat,
alimentação, morfologia e vocalização. Além disso, espécies de mesma família ou com
características morfológicas de difícil diferenciação, quase sempre são agrupadas a um mesmo
nome, a exemplo de alguns táxons pertencentes às famílias Dendrocolaptidae, Furnariidae e
Tyrannidae. Os exemplares de Paviotti documentam a presença histórica de certas espécies em
algumas localidades da região serrana do Espírito Santo, municípios de Santa Teresa e Santa
Leopoldina, onde possivelmente podem ter sofrido extinções locais por alterações ambientais.
Mesmo as espécies mais comuns registradas por este naturalista são de interesse por
representarem registros históricos de ocorrência em certas regiões, suas informações sobre os
nomes populares das aves segundo os habitantes locais coletadas há mais de 50 anos, podem
ser comparadas com o conhecimento local atual, servindo de base para futuras pesquisas
etnoornitológicas e/ou etnoecológicas.
Agradece-se à Sete Soluções e Tecnologia Ambiental pelo apoio na participação do Simpósio Brasileiro de
Etnobiologia e Etnoecologia.
Percepção ambiental dos pescadores da colônia Z -19 no município de Caicó, Rio Grande do
Norte
Jaedson Zeferino de Araújo (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), Rita de Cássia Silva,
Valfredo Pereira de Araújo Filho e Alzira Gabriela da Silva Pause (Universidade Federal do Rio
Grande do Norte). Contato: [email protected].
As interações entre os pescadores e o ambiente, assim como os processos ecológicos e
econômicos podem ser compreendidos a partir do estudo da percepção ambiental. Desta forma,
objetivou-se caracterizar a percepção ambiental dos pescadores da colônia Z-19, com o
propósito de diagnosticar a sua relação cognitiva e emocional com o ecossistema em que vivem
e identificar quais são os principais problemas ambientais, dificuldades enfrentadas e anseios
em relação à pesca no ambiente. O estudo foi conduzido no município de Caicó, Rio Grande do
Norte, durante o mês de Agosto de 2014, quando foram realizadas vinte e uma entrevistas
semiestruturadas de forma aleatória na sede da colônia. Com relação aos dados obtidos
observou-se que, a faixa etária dos entrevistados variou entre 24 a 65 anos, sendo a maioria
(57,1%) do sexo masculino. Dentre os pescadores 66,7% possuem ensino fundamental
incompleto e apenas 9,5% não possuem escolaridade. Quando questionados sobre o que
significa ambiente 66,7%, afirmaram que é a natureza em geral e 33,30% que é o lugar em que
vive. Todos os entrevistados demonstraram preocupação com o meio ambiente, pois tentam
economizar água potável durante o banho, 95,2% destes não jogam lixo na rua e 71,4%
relataram que fazem reciclagem do lixo. Sobre a origem da água consumida, 61,9% relataram
que o fornecimento é realizado pela Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte,
seguida por açudes (28,6%) e por última água de poço (9,5%). Um total de 90,5% dos pescadores
entrevistados nunca presenciou nenhuma visita de algum órgão ambiental. Porém, 76,0% dos
mesmos nunca participaram de alguma atividade de educação ambiental realizada pela colônia
de pescadores Z-19. Quando indagados sobre quais são os principais causadores da poluição dos
165
rios e açudes na região, 42,8% dos entrevistados culparam resíduo sólido doméstico, enquanto
38,0% citaram esgoto doméstico e agrotóxico e apenas 10,0% relataram que não sabiam.
Segundo 47,6% dos pescadores em questão, ressaltaram que o problema da poluição deve ser
solucionado pelos governantes, outros 19,0% atribuíram à própria comunidade e 33,3%
acreditam que é uma tarefa para ambos. Com base no exposto foi possível concluir que os
pescadores desta colônia possuem uma boa percepção ambiental e são conscientes de que a
poluição das fontes hídricas, assim como de todo o ambiente, altera os padrões da pesca e
consequentemente afeta a qualidade de vida da comunidade.
Agradece-se aos pescadores da Colônia de Pescadores Z-19 pela disponibilidade em participar do estudo.
Recursos faunísticos utilizados em publicidade na cidade de Macaúbas, Bahia: estudo de
caso
Alana Narcisia Jesus Souza (Universidade do Estado da Bahia), Pedro Paulo Alves Rocha Filho
(Universidade do Estado da Bahia) e Edivania Souza Matos Machado (Universidade do Estado
da Bahia). Contato: [email protected].
A utilização de animais como peças publicitárias passou a ser corriqueiro em fachadas de
estabelecimentos, muros, outdoors, dentre outros nos grandes centros urbanos, porém em
cidades interioranas também se faz presente. Desse modo esse estudo tem como objetivo
documentar a fauna utilizada na área comercial do município baiano de Macaúbas. Para coleta
dos dados visitou-se algumas áreas comerciais da cidade que compreende: a Praça da Feira,
Praça Matriz, Rua Castro Alves, Avenida Professor Ático Mota e Rua Direita, entre os dias 28 de
agosto a 01 de setembro de 2014 equipados de uma câmera Canon, SD 400 para registrar
fachadas de lojas, bares, muros que possuíam representações de animais como anúncios de
propagandas. Foram registrados 11 imagens pertencentes a quatro categorias taxonômicas
distintas: Mamíferos, oito organismos; Lepidópteros, um organismo; Aves, um organismo;
Ostheichtyes, um organismo. O maior número de mamíferos registrados se assemelha com
estudos de mesmo cunho já realizados em outras localidades do mesmo estado, essa utilização
pode estar relacionada à hipótese da biofilia de Wilson que trata do elo genético e a afinidade
que seres humanos possuem por espécies filogeneticamente próximas, pode associar-se
também a zoosemiótica no que se configura a representação de animais em publicidade
denotando valor simbólico agregado e tendo como finalidade obter retornos financeiros sob os
produtos e serviços prestados. Os animas catalogados em sua grande maioria, dez organismos,
pertencem à fauna brasileira, existindo apenas um exótico. A espécie Bos taurus Linnaeus, 1758
se destacou devido a ter aparecido quatro vezes em anúncios de casas de carne, que compõe a
principal forma de renda da cidade. Para etnozoologia esse estudo vem contribuir revelando as
interações existentes entre a espécie humana, recursos faunísticos e a publicidade. A
propaganda primariamente faz uso as imagens daqueles animais esteticamente atrativos e que
induzem afetividade, enquanto aqueles considerados desagradáveis são recusados ou
raramente inseridos nas campanhas de marketing.
Agradece-se aos comerciantes da cidade de Macaúbas, Bahia, e todos as pessoas que contribuíram com
a pesquisa. Não foi submetido a nenhum conselho de ética devido a não ter havido interação com seres
humanos, nem aplicação de entrevistas, manipulação de material biológico e nem coleta de animais ou
algo do tipo.
166
Tolerância à Puma concolor Linnaeus, 1771 (Carnivora, Felidae) por fazendeiros na zona rural
de Itaetê, Bahia
Luma de Souza Borges (Universidade Estadual de Feira de Santana), Eraldo Medeiros Costa-Neto
(Universidade Estadual de Feira de Santana), Dídac Santos-Fita (Colegio de la Frontera Sur,
México) e Ana Teresa Galvagne Loss (Universidade Estadual de Feira de Santana). Contato:
[email protected].
As atitudes humanas em relação à vida selvagem são aspectos indispensáveis para a
conservação das espécies animais. Puma concolor é considerada uma espécie problemática na
zona rural do município de Itaetê, Chapada Diamantina, Estado da Bahia, por causar prejuízos
financeiros a criações de caprinos. Neste contexto, o objetivo da pesquisa foi avaliar o nível de
tolerância que os fazendeiros locais têm em relação a este felino. A hipótese é que as
ocorrências de predação a caprinos por P. concolor em propriedades na zona rural de Itaetê
levam os fazendeiros a ter uma percepção negativa deste animal. Os dados foram obtidos
mediante entrevistas semiestruturadas realizadas a 24 gerentes e proprietários das fazendas,
considerando cada propriedade como uma unidade de análise independente. Das 24 fazendas
visitadas, houve eventos de predação em 13. Os resultados indicam que há uma maior
proporção de pessoas que realizam o abatimento do animal (64,29%), considerada como atitude
negativa, em locais onde ocorreram tais eventos por causa dos prejuízos econômicos relatados.
Aqueles entrevistados que não foram acometidos por ataques de seus rebanhos, mas relataram
ter atitude negativa, informaram que agem assim em função das perdas acometidas a fazendas
próximas e por terem medo do animal. Dois entrevistados demonstraram ter atitudes positivas,
expressando seu valor estético e ecológico, enquanto que entre os que não foram afetados não
houve qualquer tipo de atitude em relação ao felino. Conclui-se que os aspectos culturais e a
transmissão de conhecimentos são processos extremamente importantes na determinação das
ações humanas sobre a fauna silvestre, o que nos leva a crer que a esfera cultural, mais do que
os eventos vividos, determina o comportamento humano.
Agradece-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O projeto de
pesquisa que embasou o presenta trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade
Estadual de Feira de Santana – UEFS sob o registro CAAE: 17489113.2.0000.0053.
Uso de Cerdocyon thous (Linnaeus 1766) (Carnivora: Canidae) por agricultores da Zona da
Mata Norte Pernambucana
Letícia Tereza da Silva (Universidade Federal de Pernambuco), Ana Patrícia da Costa
(Universidade Federal de Pernambuco), Luis Augustinho Menezes da Silva (Universidade Federal
de Pernambuco) e Anna Carla Feitosa Ferreira de Souza (Universidade Federal de Pernambuco).
Contato: [email protected].
O conhecimento etnobiológico obtido junto às populações vem representado uma importante
ferramenta de conservação, especialmente as pesquisas sobre uso, pois as mesmas contribuem
não só sob o ponto de vista ecológico, mas também socioeconômico. Cerdocyon thous,
conhecido popularmente como raposa, apesar de ser um animal que gera medo e conflitos entre
as populações rurais, apresenta registro do uso para diversas finalidades. Assim, buscou-se
identificar e interpretar o conhecimento local dos agricultores da Mata Norte Pernambucana
167
sobre o uso C. thous e suas implicações para conservação. As informações foram obtidas através
de entrevistas semiestruturadas realizadas com 198 moradores dos municípios de Paudalho,
Glória do Goitá, Feira Nova e Vitória de Santo Antão, nos períodos de junho de 2012 a junho de
2013, complementadas com entrevistas informais. Os questionários foram aplicados a
moradores rurais, com faixa etária de 19 a 80 anos (µ= 53,89; s= 13,18) dos quais 74,75% são
agricultores. A maioria (53,46%) associou este animal a aspectos negativos, como transmissor
de doenças (48,74%) e causadores de prejuízos às lavouras e criações (42,72%), contudo, 21,34%
relataram usos para o mesmo, enquadrando em cinco categorias: artesanal (52,63%); medicinal
(15,79%); alimentar (15,79%); mágico/religioso (10,53%); e estimação (5,26%). A matéria–prima
mais utilizada foi o couro (62,50%), presente na prática artesanal para confecção de
instrumentos musicais, tapetes e cintos; na medicina tradicional para o tratamento de cansaços
(chá) ou para cura de feridas e queimaduras na pele (aplicação do couro em pó); e, no aspecto
mágico-religioso utilizando-o como amuletos para afastar morcegos de equinos. Observou-se
que mesmo a espécie apresentando um aspecto negativo para a população estudada, ainda foi
possível registrar determinados usos da mesma, demonstrando a relevância deste tipo de
estudo para subsidiar medidas de conservação eficazes, tendo em vista que a área estudada
compreende áreas degradadas, outrora Mata Atlântica. Portanto, há necessidade de
implementar trabalhos de educação ambiental considerando o contexto social e cultural,
visando informar a população da importância deste animal para o equilíbrio do ecossistema, e
sua importância na questão de saúde pública.
Agradece-se ao Centro Acadêmico de Vitória da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), pelo apoio
físico e financeiro, e aos agricultores da mata norte pernambucana pela paciência e por compartilhar seus
conhecimentos.
Usos tradicionais de recursos zooterápicos no município de Soure, Ilha do Marajó, Pará,
Brasil
Thaiana do Socorro da C. Nascimento (Universidade Federal do Pará) e Claudia Nunes-Santos
(Universidade Federal do Pará). Contato: [email protected].
Os animais utilizados pelas populações tradicionais de Soure, as formas de obtenção e as
doenças tratadas com estes recursos zooterápicos, foram investigadas. Localizado na maior Ilha
do Arquipélago do Marajó, este município paraense possui 3051 km² de território e 23000
habitantes. As entrevistas semiestruturadas com os sabedores locais foram gravadas e
transcritas com o programa Listen N Write 1.0.14.4. A partir dos núcleos de sentido das
respostas, foram criadas categorias para calcular o Valor de Uso das Espécies (importância
relativa no conhecimento local) e o Fator de Consenso das doenças tratadas (consenso
intracultural do uso medicinal). Com base no material observado com os entrevistados e nas
distribuições geográficas das espécies, os etnotaxons citados foram correlacionados com a
taxonomia cientifica,. As doenças relatadas foram agrupadas de acordo com a Classificação
Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionado à Saúde (CID-10) da Organização
Mundial de Saúde (OMS). Registrou-se o uso de 37 animais, sendo 31 silvestres e seis
domésticos. As espécies com maior Valor de Uso são Bicho do caroço do tucumã (Speciomerus
ruficornis), Camaleão (Iguana iguana) e Jacurarú (Tubinambis sp.). O Conhecimento Ecológico
Local (CEL), utilizando partes ou produtos metabólicos destes animais, trata de 16 categorias de
doenças da medicina convencional (OMS). Destas, as que apresentaram maior Fator de
Consenso foram as doenças: do sangue e dos órgãos hematopoiéticos e transtornos imunitários;
da pele e tecido subcutâneo; infecto-parasitárias; e gravidez, parto e puerpério, confirmando a
168
importância dos estudos da etnobiodiversidade. Os recursos zooterápicos são obtidos,
predominantemente, como subprodutos da caça de auto-consumo, e a inquietação com a
crescente escassez dos recursos naturais foi verbalizada pelos entrevistados. Preocupação
pertinente, já que, das espécies utilizadas, três estão na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas
da União Internacional para a Conservação da Natureza: Allouata belzebul (macaco guariba),
Trichechus inunguis (Peixe-boi da Amazônia) e Melanosuchus niger (Jacaré-açú). Os dados
revelam, ainda, que os especialistas nativos de Soure são cidadãos com baixa articulação com o
mercado monetário envolvente. Já os pacientes deste sistema de cura pertencem a todos os
estratos sociais, indicando que o uso dos recursos zooterápicos não é economicamente
determinado, ainda que seja parte importante da medicina tradicional local.
Agradece-se ao Grupo de Estudos Socioambientais Costeiros (ESAC) da universidade Federal do Pará
(UFPA).
Usos, conflitos e conservação de animais silvestres na Mata Atlântica por uma população
tradicional: implicações para a conservação de áreas protegidas
Camila Alvez Islas (Universidade Estadual de Campinas) e Cristiana Simão Seixas (Universidade
Estadual de Campinas). Contato: [email protected].
Este estudo foi desenvolvido na comunidade Caiçara da Praia do Sono, localizada na Reserva
Ecológica Estadual da Juatinga (REEJ), Paraty, Rio de Janeiro. A REEJ passa, desde 2010, por um
processo de recategorização para adequar-se à legislação federal. Buscou-se fomentar, durante
este processo, a discussão sobre os usos e conflitos de vertebrados silvestres pelas comunidades
Caiçaras e suas implicações para a conservação da fauna da Reserva. Para isto foram realizadas
entrevistas semiestruturadas com 39 unidades familiares da comunidade para investigar os usos
e conflitos da fauna realizados pelas famílias Caiçaras e, também, identificar os animais mais
relevantes para o manejo na Reserva. Entrevistas estruturadas foram feitas posteriormente com
sete informantes-chaves, com o auxílio de fotografias, para correlacionar os nomes populares e
científicos (retirados de inventário anterior) dos 64 animais citados nas entrevistas. Como o
estudo do conhecimento tradicional e da caça perpassam por discussões éticas e legislativas
relacionadas ao direito das populações e a conservação da biodiversidade, esta pesquisa foi
autorizada pelos comitês de ética específicos e um termo de consentimento foi entregue aos
entrevistados. Dentre os usos encontrados, os mamíferos (58,5% das citações) são os animais
mais usados para alimentação e as aves (85,1%) como animais de estimação, enquanto o lagarto
é o único utilizado para fins medicinais. Os conflitos ocorrem com os mamíferos na agricultura
(100%) e na criação de galinhas (72,5%), com serpentes (62,3%) e felinos (37,7%) por perigo ou
medo e com aves por lazer (crianças que atiram pedras). As principais espécies envolvidas nessas
atividades são paca, Cuniculus paca Linnaeus 1766, cutia, Dasyprocta leporina Linnaeus 1758,
gambá, Didelphis sp., tatu, Dasypus sp., veado, Mazama americana Erxleben 1777, porco-domato, Pecari tajacu Linnaeus 1758, macaco, Sapajus nigritus Goldfuss 1809, jaguatirica,
Leopardus sp., jacu, Penelope obscura Rafinesque 1815, macuco, Tinamus solitarius Gray 1840,
tucano, Ramphastos sp. e lagarto, Tupinambis merianae Linnaeus 1758. Os usos e conflitos
encontrados salientam a importância da fauna para a população local, não podendo estes serem
negligenciados durante o processo de recategorização da Reserva. É preciso reconhecer essas
interações, outrossim, buscar soluções para conservação da fauna e o seu uso sustentável.
Agradece-se à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), aos funcionários
da REEJ e, principalmente, aos Caiçaras da Praia do Sono, sem os quais este trabalho não teria sido
169
realizado. O projeto de pesquisa que embasou o presente trabalho foi analisado e aprovado pelo Comitê
de Ética da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas sob o registro nº
420.539, sendo também analisado pelo Instituto Chico Mendes de conservação da biodiversidade
(ICMBIO - SISBIO) sob o registro nº 41340-1 e pelo Instituto Estadual do Ambiente sob o registro nº
041/2013.
Utilização de subprodutos do peixe-boi-da-amazônia, Trichechus inunguis (Natter, 1883), por
pescadores no estuário amazônico
Tayná Leão Miranda (Universidade Federal do Pará), Ana Marta Andrade Costa (Universidade
Federal do Pará), Gabriel Melo Alves dos Santos (Universidade Federal do Pará), Angélica
Figueiredo Rodrigues (Universidade Federal do Pará), Danilo Leal Arcoverde (Universidade
Federal do Pará) e Leonardo Sena (Universidade Federal do Pará). Contato:
[email protected].
Historicamente, as populações de peixes-boi-da-Amazônia são alvo de intensa pressão de caça,
por ser fonte de proteína apreciada na região e pela utilização de seus subprodutos (gordura e
couro) para fins medicinais. Classificado pela International Union for Conservation of Nature
(IUCN) como vulnerável, esse animal, mesmo protegido por lei, continua alvo de caça na
Amazônia. Neste contexto, este trabalho objetivou descrever as diferentes formas de uso dos
subprodutos de T. inunguis por uma população de pescadores no estuário Amazônico.
Entrevistas semiestruturadas foram aplicadas a 14 pescadores na área de Belém e região insular,
Pará, abordando as diferentes formas de utilização do peixe-boi. As formas de uso indicadas
pelos pescadores foram consumo da carne e medicinal. Sobre o consumo da carne 50% dos
entrevistados relataram caçar o animal para esse fim. Os modos de preparo da carne citados
foram o cozido (82%), assado (9 %) e frito (9%). Do total de entrevistados 55% descriminam o
sabor da carne do peixe-boi de acordo com a parte do corpo do animal: o dorso do animal teria
gosto de carne de boi, parte ventral sabor de porco e nadadeira caudal com gosto de peixe,
embora 36% referiram-se somente ao gosto de carne de boi. A venda dos subprodutos é visto
como consequência da caça ao animal. Os pescadores relatam como destino dos subprodutos
comercializados, as feiras livres na região: Ver-o-Peso e Icoaraci em Belém, e as feiras das
cidades de Barcarena e Abaetetuba. A utilização dos subprodutos para fins medicinais foi
indicada por 50% dos entrevistados, as citações envolvem o uso da gordura (N=7) e couro (N=5)
do peixe-boi. O uso da gordura está relacionado ao tratamento de doenças como reumatismo
(N=5) e paralisia (N=2), através de massagens no local afetado. O couro é utilizado em feridas
(N=3) e infecções (N=2), ajudando no processo de cicatrização da pele lesionada e substitui o
curativo comercial. Os resultados reforçam que apesar da existência de leis de proteção ao
peixe-boi-da-Amazônia a caça a espécie continua, porém, de forma menos persistente
comparado ao histórico de caça registrado na literatura. É necessário um enfoque maior sobre
a caça e as consequências que ela traz a espécie, pois esses animais possuem baixa taxa de
fecundidade, com geralmente nascimento de um filhote por gestação e longo período de tempo
de dedicação à cria, tais fatos unidos à caça contribuem para a diminuição da espécie no
ecossistema. A partir das informações sobre o uso da espécie, vemos uma perspectiva de diálogo
entre a pesquisa científica e o saber local dos pescadores a fim de minimizar as pressões de caça
e definir coletivamente medidas que culminem com a conservação do peixe-boi-da-Amazônia.
Agradece-se ao PIBIC – FAPESPA. À FAPESPA e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) pela concessão da bolsa que possibilitou o desenvolvimento desta pesquisa.
170
Zoossemiótica e comunicação social: análise imagética de peças publicitárias na cidade de
Barreiras, Bahia, Brasil
Pedro Paulo Alves Rocha-Filho (Universidade do Estado da Bahia), Alana Narcisia Jesus Souza
(Universidade do Estado da Bahia), Eraldo Medeiros Costa-Neto (Universidade Estadual de Feira
de Santana). Contato: [email protected].
A propaganda é uma prática de venda de persuasão que objetiva induzir o comportamento dos
consumidores em direção ao produto e/ou serviço, usando-se de textos e imagens com
significados implícitos ou explícitos a ser entendidos. Os anúncios publicitários são elaborados
para instigar e invocar emoções e desejos agradáveis. Mais especificamente, eles chegam aos
centros cognitivos do cérebro, comunicando por meio de nossos desejos físicos básicos (oral,
sexual) e nossas necessidades emocionais (segurança, status social, controle, benefícios
potenciais). Considerando os animais, os propagandistas empregam suas imagens para atrair a
atenção do público para um produto ou negócio. O presente estudo visou registrar a
zoossemiótica presente em peças publicitárias da cidade de Barreiras, oeste do Estado da Bahia.
Para coleta de dados, foram realizadas visitas nos bairros de Sandra Regina, Centro, Centro
Histórico, Santa Luzia, Vila nova, Rio Grande e Novo Horizonte, no período de maio a agosto de
2014, fotografando-se os anúncios publicitários que continham imagens de animais, em seguida
foram analisados quali-quantitativamente, considerando a forma como os animais eram
retratados e a quantidade de vezes em que apareciam. Os resultados indicam o total de 66
animais, pertencentes a sete categorias zoológicas distintas, sendo elas: mamíferos (40; 60,6%),
aves (21,2%), insetos (2; 3%), peixes (6; 9,2%), crustáceos (1; 1,5%) e répteis (3; 4,5%), tanto da
fauna brasileira quanto exótica, os animais registrados apresentam suas imagens relacionadas
a diversos artigos do comércio de Barreiras, a citar; bares, restaurantes, materiais de construção
e materiais de informática. Determinados animais apresentam relação direta com o produto e
ou serviço associado, como, por exemplo, o boi sendo utilizado como fetiche nas lojas
agropecuárias e açougue, a imagem de um peixe para ilustrar equipamentos de pesca, o
cachorro e o gato representando clinicas veterinárias. A maior quantidade de mamíferos explicase pelo fato de que os seres humanos, enquanto espécie biológica, apresentarem uma maior
simpatia com os animais em proporção ao grau de similaridade e, consequentemente, de
afinidade que têm com eles.A presença de mamíferos pode ser explicada porque a cidade de
barreiras é um pólo comercial que consolida a maioria das vendas de produtos para pecuária,
bem como o comércio direto de animais e produtos e serviços associados (pet shops).
Agradece-se à Universidade do Estado da Bahia, e ao Professor Drº Eraldo Medeiros Costa Neto pela
orientação.
171
Contos e causos do X Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia
A qualidade do cipó
Clara de Carvalho Machado (Universidade Federal Fluminense)
Foi quando seus pais foram presos em Pernambuco que teve que vir fugido pro Rio de
Janeiro. Naquela época, quem era contra o governo era preso, espancado, torturado. Teve que
largar tudo e tentar a sorte por outras bandas, bem longe. Conseguiu serviço, foi vivendo como
podia até seus pais serem soltos, dois anos depois. Aprendeu o seu lugar no mundo, a
submissão, o calar-se, o não calar-se e todas as consequências. Aprendeu com a família a
revolução, e sozinho, a revolta.
Ganhou um terreno do partido do qual o pai era filiado. Um lugar no meio da cidade, mas
rodeado de mata. Disseram pra ele que era posse. Herdou. Conheceu uma moça, conheceu
outra, teve filhos, constituiu família. Naquele terreno abrigou filhos, sobrinhos, netos, cunhada.
Houve quem se aproximasse demais, vizinhos tascando pedacinhos da terra. Mas brigar por
causa de terra pra quê? Deixou que plantassem o que quisessem por ali, não havia problema.
Até o momento em que percebeu a importância de colocar uma cerca.
- Daqui pra cá é meu, dali pra lá é seu – Falou para os vizinhos, pensando o quanto
incomodava esse negócio de ter que botar cerca.
No mato, cultivava junto com banana, abóbora, aipim, toda a sua vida e suas ideias.
Cultivava com o carinho abrutalhado dos que não recebem muito carinho da vida. Ali naquelas
bandas sem asfalto, sem coleta de lixo, sem esgoto, com pouquíssimas casas, só queria uma vida
em paz, descansada, esquecendo os dias de fuga. Fugindo, encontrou-se. Hoje, depois de tudo
que passara, sentia-se rico. Aconteceu que com o tempo foi tudo mudando, teve gente demais
chegando, cercando, jogando esgoto no rio onde costumava pescar. Certo dia pensava nisso
enquanto descansava depois do almoço, até que a filha, interrompendo-o, anunciou:
- Ô pai, faz uma semana já! O lixo tá lotado!
- Eu sei, minha filha, to indo – Ele respondeu, mas na verdade havia perdido a noção do
tempo.
Tinha que levar o saco de lixo no asfalto, onde passava a coleta. Levava-o sempre duas vezes
na semana, porém, dessa vez, a semana estava acabando e ainda não cumprira sua tarefa.
Pensou que devia ser coisa da velhice. Carregava consigo a certeza absoluta de que a coleta de
lixo e o asfalto acabariam com aquele lugar e, por isso, defendia que ficasse como estava, sem
estrutura. Nesse dia, levando o saco de lixo nas costas, passou pela margem do rio, viu aqueles
meninos se banhando, às gargalhadas, e sentiu pena. Gostaria que pudessem sentir a água limpa
e fresca no corpo, como antigamente. Não reconheceu um rosto que pudesse cumprimentar,
era gente nova. Passou olhando de cabeça baixa. Um dos meninos percebeu, mas desviou o
olhar. Deixou o lixo no asfalto, e no caminho de volta os meninos ainda estavam ali. Pensou o
quanto era mal educada e sem respeito essa nova geração de gente da cidade.
- Vieram junto com o esgoto – sussurrou baixinho, repensando a pena que sentira no
caminho de ida.
Certa manhã, soube por um dos vizinhos que corriam o risco de serem expulsos daquelas
terras. Iam levar gente pra lá, fazer condomínio, apartamento, shopping, pracinha. Sentiu o
medo no ar, nas águas, na mata, nas ruas, nos rostos. Não demorou e a prefeitura veio bater em
sua porta pedindo pra entrar. Ele ficou tonto quando soube, a pressão subiu, teve medo de
morrer de tanta emoção misturada que transbordava.
- Boa tarde, seu César.
- Boa.
172
- Somos fiscais da prefeitura, gostaríamos de saber se o senhor autoriza a gente a avaliar o
terreno do senhor. O senhor deve estar sabendo do projeto de melhorias da região. A associação
de moradores permitiu a nossa entrada.
Engolindo em seco, seu César lembrava os outros abusos que passara na vida. E pensou que
na idade dele, as consequências não importavam tanto quanto antes. Teve vontade de gritar,
bater, chorar.
- E como cês vão avaliar o terreno? – perguntou enquanto analisava a calça cargo e o colete
verde cheio de bolsos que vestiam. Teve a impressão de que estavam fantasiados.
- Só precisamos capinar uma parte e fazer algumas medições, vamos deixar até mais bonito!
Não conseguiu engolir, nem em seco, a ousadia de pensarem conseguir deixar o terreno
mais bonito. Aquele terreno era lindo, era dele, era ele. E se era mato, é porque ele era mato.
Ele amava o mato, e insistia em dizer pra todo mundo que não era preguiça de trabalhar a terra,
mas porque o mato era lindo mesmo. Lembrou-se de que o seu vizinho, quando para ali se
mudou, disse-lhe que o cipó era mato sem qualidade e que ele deveria arrancá-lo, pois agarrava
no pé. Ele sabia que aquilo estava errado, que o cipó deixava a terra úmida, protegia as raízes
das plantas e as minhocas. Ele conhecia a importância do cipó para as minhocas e das minhocas
pra terra. Ele sabia de tudo isso, mas não falou, reduziu-se a olhar para o vizinho com aquele
olhar desconfiado das pessoas do mato. Retomou a realidade, olhou naqueles olhos de fiscais
de prefeitura, quis falar sobre os cipós. Lembrou-se do contexto, quis falar, quis calar-se. E falou:
- Aqui não vai tirar uma coisa de capim. Do rio pra cá o senhor não vai mexer um nada. O
senhor é um laranja, mandado pelo seu prefeito e o seu prefeito é um canalha, pode dizer que
eu mandei dizer isso a ele. Aqui não vai entrar, não. O pobre, tá morrendo de fome, tá
desempregado e se troca até por uma dentadura pra dar um voto a um safado desse. E eu não
sou desse, minha qualidade não é essa. Mas num sou mermo. Porque eu passei fome pra
caramba, muita coisa mermo, tá? Comi o lado ruim da maçã estragada, tá? Mas não precisei
panhar dinheiro com político nenhum pra nada. Meu pai também nunca foi disso, minha mãe
também, essa aí então nem se fala. O senhor pode sair daqui que dessa cerca o senhor não
passa.
Os fiscais foram embora. Seu César sentou-se na varanda tentando controlar a pressão com
a respiração. Pensou que não devia ter falado daquele jeito. Teve medo. Depois pensou que
devia ter falado ainda mais bravo. Teve orgulho. Pensou que era um homem revoltado e gostou
da ideia.
- Eu sou mais de brigar pra ficar dentro desse mato aqui igual um bicho mermo, não quero
nem saber de nada – Falou em voz alta, pro mato em volta, pras galinhas e pros lagartos do
quintal.
Cientificidade caiçara... tendência!
Jessé Renan Scapini Sobczak (Universidade Federal do Paraná)
Muita coisa se busca saber sobre o conhecimento de comunidades ditas tradicionais e, no
meio desse entrevero, há de se encarar dessa forma pois parafraseando o dito místico, “muita
coisa existe entre o céu e a terra”, a subjetividade passa a ser um fator promotor de ciência; a
postura nessa hora é fundamental para acessá-la.
Mas não estou aqui para relatar algum contato, nem tampouco fazer uma distinção entre
o certo e errado. No entanto, sem querer desbravar tais facetas, me deparei com algo que para
mim foi visto de certa forma com estranheza; a utilização do linguajar científico por
173
comunidades rurais! Seria uma convergência de conhecimento? Ou quem sabe, uma
tendência...?
Oh tendência! Aí surge outra questão intrigante pois escuta-se bastante essa palavra para
se referir à certas questões, análises e até mesmo esperança que vá se chegar à algo, utilizandoa como um artifício, que possa ou não validar mas almejar validação. Neste contexto, em certa
reunião, escutei diversas vezes tais argumentações por ambas as partes presentes, órgãos /
gestores públicos e profissionais da área de um lado e, pescadores artesanais de outro...
E recentemente, em um evento da área realizado questionei a forma deliberada de
utilização do termo como fator-causa de algo. Explicação convincente tive, levando-se e conta
que fatores diversos podem ser factíveis de alterar o resultado final. Entretanto quando ao
encerrar o discurso a respeito, foi utilizado o termo novamente para se referir a algo
questionado inicialmente – talvez por força de expressão – mas que por fim deixa em evidência
a fundamentação técnica do substantivo.
No entanto, longe de explorar tais argumentações cabíveis para a busca de cientificidade
do conhecimento caiçara e, tampouco isso seja realmente necessário para responder, o
conhecimento nesse caso não estaria unicamente relacionado à forma, aproximando-se o
linguajar. Acredito que o tempo de exposição à tais pesquisas, articulações, metodologias
participativas e facilidade na obtenção de informações auxiliaram, moldando a forma no jeito
de se expressar, almejando maior representatividade, talvez.
Porém fica a dúvida: seria uma tendência?
Plano B
Naiana Pereira Lunelli (Instituto de Botânica de São Paulo)
A procura de um tema e uma área de estudo pode ser um caminho interessante para
os/as marinheiros/as de primeira viagem na etnobiologia, como no meu caso. Fui realmente
apresentada a esta ciência somente depois da graduação. Nesta época, participei como auxiliar
de campo em trabalhos de alguns colegas, mas realizar o próprio projeto de pesquisa aconteceu
pela primeira vez apenas no mestrado.
Antes do processo seletivo já tinha em mente qual seria a população, o local e as
perguntas que desejaria investigar. Claro, os estudantes já devem estar com o projeto definido
ao entrar no tal do mestrado! Pelo menos é como ocorre no programa de pós-graduação que
faço parte. E assim, o projeto seguiu-se com base nessas ideias, mesmo sem eu ter ido sequer à
área de estudo. Sabendo que tempo é o que menos você tem durante os próximos dois anos,
comecei as tentativas de entrar em contato com a associação de agricultores que gostaria de
estudar.
A preocupação aumentava à medida que o tempo passava e não conseguia um retorno
para agendar uma reunião em que pudesse apresentar a proposta de pesquisa. Foram três
longos meses de espera até que alguém respondeu um dos diversos e-mails que enviei, porque
via telefone sem chances, sempre dava ocupado. Depois fiquei sabendo que o município fica em
“estado de sítio” por dias e às vezes até semanas, quando a única antena de comunicação é
atingida por raios ou rajadas fortes de ventos. Ufa, finalmente consegui uma reunião! Bem, foi
uma pequena comemoração porque dali em diante outros contratempos aconteceriam, como
por exemplo realizar os procedimentos e dar início aos processos de autorização de pesquisa,
mas esta é outra novela famosa na etnobiologia.
Chegando à sede da associação fui recebida pelo coordenador de pesquisa, e ele foi bem
sincero e direto durante nossa conversa. Ele comentou que havia uma verba destinada a pagar
174
a diária dos agricultores para receber pesquisadores. O ponto era que muitos dos agricultores
estavam cansados de atender esse pessoal, pois preferiam cuidar de suas roças que são mais
importantes. Então, não saberia me dizer como eu ia resolver essa questão.
Como etnobióloga, eu deveria estar preparada para receber os nãos. Neste caso, não
custava tentar a sorte e a boa vontade dos agricultores, né? Até aí, essa questão não era algo
incomum no caminhar do estudo. Depois, chegamos ao assunto das demandas de pesquisa. Foi
neste ponto que as ideias começaram a se desalinhar. No andar da conversa tentamos encaixar
a temática que escolhi, mas não conseguimos ver como ela poderia contribuir com a associação.
A solução que ele sugeriu foi alterar a proposta de pesquisa. Sim, aquela mesma que preparei
durante tantos meses e achei o máximo, mas que não tinha função naquele momento e naquele
local!
Era tarde, a viagem foi longa e precisava descansar. O corpo pelo menos, porque a mente
ficou inquieta despois dessa prosa. Eu pensava sobre a urgência de ter um plano B. Mas, mudar
tudo era loucura. E ainda, naquela altura do campeonato, passados seis meses de mestrado.
Estava perdida. Ao final do dia, fui convidada a me hospedar na casa de um dos agricultores que,
por acaso, era o presidente da associação. Na manhã seguinte aproveitei a oportunidade para
expor a ele a ideia do que seria o estudo e fazer algumas perguntas do roteiro de entrevista
piloto.
Esse agricultor tem uma experiência de mais de 17 anos na associação e sua resposta foi
um grande ponto de reflexão para mim. Primeiramente, comentou que o tema era muito
importante para quem trabalha com agrofloresta, mas não seria possível eu encontrar a
resposta de minhas perguntas por aquelas bandas. Na verdade, disse que os agricultores de lá
ainda não desenvolveram a percepção da natureza pela qual eu procurava, pois eles estavam
preocupados em sanar a fome. Uau! Foi um “tapa na cara”! Senti-me tão pequenina. Eu
preocupada com a percepção sobre a interação das árvores e eles com sua necessidade mais
básica de sobrevivência.
Desde o início sabia que essa não era a melhor forma de iniciar a pesquisa, mas infelizmente
não tive oportunidade de ter o mínimo de intimidade com aquela população antes de construir
o projeto e evitar cair nesta armadilha. Com esta resposta aprendi que as pessoas, independente
do local onde moram, precisam estar com a barriga cheia o suficiente para pode prestar atenção
nas sutilezas e subjetividades que estão ao seu redor. No final das contas, os impasses foram
resolvidos, o projeto foi realmente redefinido para o plano B e adequado àquela realidade social.
Confins
Edna Maria Ferreira Chaves (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí)
Corria o mês de fevereiro, e o chão seco denunciava a avidez por água naquelas paragens
da Ibiapaba, localidade Oiticica, divisa entre os municípios de Buriti dos Montes/PI e Crateús/CE,
onde nós colhíamos informações etnobotânicas. Alguns chuviscos haviam animado algumas
plantas que esboçavam a intenção das primeiras folhas. Estas, de verde intenso e brilhante,
contrastavam com outras, saindo de galhos cinza, como o olhar triste de um camponês em
tempos de seca.
A mata de Carrasco, outrora densa, fria, macia e cheirosa, que nos convidava a deitar em
seu chão de areia branca e a dormir sob suas copas, dera lugar a um emaranhado de garranchos
hostis aos seus visitantes. O toque acariciador das muitas flores e os incontáveis sons emanados
pelos diversos animais foram substituídos pela aspereza dos galhos desnudos e pelos suspiros
dos bichos sedentos.
175
O rio Poti, que há muito escorria majestoso e incansável serra abaixo a distribuir alimento
e água a todos os habitantes, tal qual um trem de carca que descarrega mantimentos em cada
estação, agora agoniza em poços, aprisionado por rochas e bancos de areia a esperar pelas
chuvas tardias. Sem o rio em curso, os habitantes de suas margens desnutrem e desidratam
lentamente a contemplarem o infortúnio e o prenúncio da morte.
Em meio a esse cenário, homens e mulheres labutam dia após dia, incansáveis em seus
afazeres, seja em busca de alimentos e água, seja para amparar as cabras, os cavalos, o gado
bovino e os demais animais que suplicam por ajuda, ou, ainda, a preparar a terra para o semeio,
se por acaso as chuvas chegarem. Enquanto uns desmatam novas áreas, outros capinam e
reforçam as cercas de capoeiras, os cercados e quintais, num vai e vem estonteante.
Quem chega, desavisado, de primeira vez não consegue compreender toda essa dinâmica,
e algumas perguntas parecem inevitáveis. “Para que tanta labuta neste solo árido e tórrido? Por
que estas pessoas permanecem neste lugar? Como resistem a tanta carência?” E observa, ainda
sem compreender que no final do dia, todos se aquietam em suas casas, felizes e esperançosos.
Entretanto, para quem, assim como nós, esteve nessa comunidade no período chuvoso,
essa conduta se justifica pela certeza da próxima estação e das belezas e riquezas dela advindas.
Esta é uma terra com atributos próprios, amada por poucos, mas com intensidade suficiente
para suprir a ausência de atenção dos que não a souberam olhar ou não aprenderam a amá-la.
Todas as vezes que chegamos a essa comunidade ficamos arranchados em uma casa
grande, a maior da comunidade, muito antiga, com algumas paredes construídas com pedras e
no estilo sertanejo comum por estas bandas, e contamos com o acolhimento aconchegante de
seus donos, um amável casal que nos hospeda com a alegria de quem recebe um dos seus.
No final da tarde de um dia ensolarado e seco, estávamos na calçada do nosso pouso a
comtemplarmos o vai e vem dos moradores. Uns com latas d’água na cabeça ou penduradas em
varas sobre os ombros; outros chegando dos roçados com enxadas, foices e machados; uns que
chegavam dos poços do rio após o banho; uns que tangiam as cabras para o chiqueiro [...];
quando vimos um vaqueiro paramentado de gibão e perneira, montado em seu cavalo,
chegando em sua casa depois de mais um dia de pesada lida com os animais em fazenda próxima
dali.
Continuando nossa missão de conhecer as potencialidades da vegetação desta área da
Ibiapaba, a partir de entrevistas com os habitantes da localidade, aguardamos o tempo
necessário ao asseio e a alimentação e fomos à casa do vaqueiro. Era um anoitecer amarelo de
um dia especialmente quente. O horário, aparentemente impróprio, era o único possível para
entrevistá-lo, visto que já havia sido observado que ele iniciava a lida às cinco horas e a findava
ao cair da noite, dia após dia, sem descanso.
Um tanto acanhadas, por não sabermos como seríamos recebidas após um dia cansativo
de trabalho e no horário de descanso, aproximamo-nos. A casa simples fazia parte de uma vila
construída pela Rede Ferroviária Federal nos tempos áureos, dos quais data também o início da
comunidade, tendo sido abandonada por esta companhia. Posteriormente, a vila foi habitada
por pessoas que residiam em áreas afastadas do núcleo populacional, nas terras do outro lado
do rio e que ficavam ilhadas na estação das cheias.
A casa, de cor amarela, com tinta possivelmente da época da construção, estava assentada
sobre uma área de afloramento rochoso, de forma que um grande lajeiro irregular atapetava a
frente, aqui chamada de terreiro da frente. Neste havia um cavalo com o cabresto atado a uma
vara de sabiá, comendo milho em uma cuia e, do seu lado, um pouco distante, sentado sobre as
pedras do lajeiro, um homem esguio, de aproximadamente 35 anos, fumando seu cigarro
enquanto descansava e dava boas-vindas à chegada da noite.
Em passos lentos, aproximamo-nos e, ainda um tanto distante, um pouco temerosas da
reação do cavalo que estava entre nós e a casa, falei:
– Boa noite, senhor!
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–Boa noite, sinhora, se achegue.
– E o cavalo? Podemos mesmo passar assim pertinho dele?
– Pode sim, sinhora, ele é mansinho, num mexe não, sinhora.
Então nos aproximamos do senhor e o cumprimentamos com um aperto de mão à moda
da região. A mão áspera dava sinais de quanto atrito houvera sofrido e por quais agruras já
passara. Levantou-se, pediu desculpas por estar sem camisa e foi vestir-se. Logo retornou e nos
mandou entrar e sentar em um tamborete, cadeira sem encosto, confeccionada de madeira e
coberta de couro de boi. Em seguida, nos apresentou sua esposa e seus filhos.
Explicamos os motivos que nos trouxeram à sua residência, os quais ele relatou já estar
ciente devido aos trabalhos realizados na comunidade quando do início do projeto. Após sua
concordância em participar da pesquisa e cumpridos os trâmites legais, iniciamos uma longa
conversa.
O convidamos, incialmente, a nos contar a sua história de homem sertanejo, filho,
esposo, pai e vaqueiro. Objetivávamos conhecer as raízes que o mantinham fincado naquele
rincão e deixá-lo um tanto mais familiarizado conosco para, posteriormente, adentrarmos nas
informações sobre as plantas do carrasco e suas utilidades no cotidiano da família.
Para minha surpresa, aquele homem rústico e de feições duras deixou aflorar a
serenidade de um menino e começou a lembrar da sua infância em uma fazenda do outro lado
do rio, onde crescera em uma casa grande de alpendre na companhia dos pais e dos irmãos.
Filho mais velho, coube a ele desde muito cedo ajudar o pai, cuja companhia muito desfruta
ainda, na lida com o roçado e com os animais.
A casa, que ainda existe e fomos visitar posteriormente, construída de adobo cru e telha,
cercada por grandes cajueiros e protegida por muitas cercas de madeira e de arame, foi erguida
em meio à mata, em um recanto nas cuestas da Serra da Ibiapaba, a alguns metros da margem
direita do rio Poti, e ofereceu todos os sabores e odores necessários ao crescimento de um
homem forte, íntegro e persistente, que falava com sentimento de todos os detalhes da sua feliz
infância, adolescência e vida adulta.
Logo ficou claro de onde vinha o seu apego por aquele lugar e as razões pelas quais para
ele não havia lugar melhor para viver. Então, depois de certo tempo de relato, elogiamos a sua
capacidade de lembrar-se de fatos há muito ocorridos. A conversa seguiu:
– Nessa época vivida lá na fazenda, o senhor conhecia alguma planta do mato pelo nome?
– Sim, sinhora. Meu pai e eu sempre andava no rasto. Me mostrava as planta e dizia: “óia,
minino! Tá veno isso? é fulana de tal, se tiver cum fome no mato pode matar a danada cumeno
isso. Tá veno que os passarim furarum aqui? É que eles sabe que é boa de cumer, prova aí!”. E
eu cherava e provava e num é, sinhora, que era cheroso e bom! Então, daí pra diante, na mata
que tinha essa fruita eu num passava mais fome não. E quando tava im casa e a cumida tava
custano sair, se era tempo, corria no mato, cumia e enchia os bolso e o patuá e trazia prus meu
irmão e pra cumer im casa. Tem muita coisa boa de cumer no mato e cum os ano eu fui
cuincendo cada uma. Tem de saber o tempo bom de cumer pra num ficá de boca costada, de
bucho inchado ou inté morrer invenenado, num sabe? Tem de saber, num é qualquer um que
sabe. Mas eu sei.
Ele continuou a falar sobre seus conhecimentos, quais plantas se podia comer e quando e
como podiam ser colhidas na mata, com tom de quem era mestre no assunto. Quando fez uma
pausa, perguntei:
– O que é patuá?
Ele sorriu demoradamente da nossa ignorância, escondendo o rosto com as mãos, num
gesto típico de quem não queria nos afrontar. Acho que ficamos vermelhas de vergonha, pois
sentimos o rosto aquecer. E em seguida, respondeu?
– Quando as calça do pai num prestava mais, a mãe cortava os bolso e amarrava uma corda
fina de imbira de tucum e nóis pindurava a tiracolo e inchia de pedra piquena, aquelas mais lisa,
177
num sabe? Era a nossa arma contra os bicho e às vez também caçava algum passarim, preá,
rabudo, [...], bichim do mato. Era coisa de gente nova que num tem pena dos bichim.
Percebemos que ficou envergonhado de lembrar que gostava de caçar quando era mais
moço, uma vez que parecia não aprovar mais essa prática ou saber que não devia mais praticála. Fingindo não termos percebido o embaraço, perguntei:
– Seu pai lhe mostrava algum outro mato que pudesse ser usado para curar doença ou
ajudar na lida da fazenda?
– Sim, sinhora. Todo o tempo que nós moramo do oto lado do rio e ainda agora a mata é
de grande sirvintia. Nos tempo de lá, quando algum tinha febre ou dor de barriga, impinja ou
ficava impachado, logo a mãe ia no mato ou pidia pro pai o remédio. Era chá, garrafada,
lambedor, esfregança, purgante, toda sorte de jeito, um pra cada coisa. Às vez tinha um gosto
muito rúin, mas nóis tinha de bebe tudo, logo tava bom ota vez. Cum o tempo nóis ia
aprendendo cada um dos remédio e que mato era bom para cada coisa. Dispois que viemo pra
essa casa num mudou muito não. Todo dia passo o rio pro lado de lá, vez de cavalo, quando tá
seco, vez de cavalete quando cheio. Vou cuidar dos bicho e trago mato pros remédio de nós
aqui.
Então forneceu uma longa lista de plantas, de seus usos e dos cuidados na hora de colher e
de preparar. E assim ficamos um bom tempo a conversar. Já se fazia tarde e nós sugerimos que
continuássemos a conversa no dia seguinte, já que ele precisava acordar cedo para retomar a
lida. Lamentou que as horas tivessem passado tão rápidas e disse ter muitas coisas mais que
fazia questão de nos contar. Mostramos de forma enfática o quanto tínhamos interesse em ouvilo e, assim, nos despedimos dele e também da sua esposa e filhos, que ouviram toda a conversa,
atentos, parecendo valorizar cada uma das lembranças daquele vaqueiro.
Já passava das vinte horas e nosso corpo estava moído do dia de excursão pela mata em
busca de algum espécime em estádio reprodutivo para registro botânico. Mas estávamos muito
felizes com o andamento dos trabalhos e com a forma franca e confiante com que as pessoas
daquela comunidade se dispunham a dividir conosco as suas lembranças mais nobres, os seus
saberes familiares, as suas vidas.
Saímos andando em passos lentos a rememorar tudo que havíamos escutado e visto
naquele dia. A noite caíra suave e a brisa fria acariciava a nossa pele como a se desculpar pelo
escaldar do recente dia. A vereda de areia branca, ladeada por subarbustos secos, em meio ao
pátio central da comunidade, que, na vinda, ainda sob o calor do sol, pareceu hostil, agora nos
recebeu acolhedora como um tapete a nos guiar sob a luz da lua. Paramos um pouco, para
sentirmos melhor um odor suave e sui generis trazido pelo vento. Nunca o havíamos sentido
antes. Talvez fosse o cheiro das vidas que não resistiram à estiagem, pensamos, e os nossos
pelos eriçaram. Bobagem, pensamos rápido, devia ser o odor de alguma flor que desabrochara
na seca para socorrer as abelhas e os beija-flores, concluímos lucidamente.
Um tanto mais à frente paramos novamente, para contemplar a comunidade, que outrora
vimos sob a luz do sol, agora iluminada por aquela luz lunar. As casas, em sua maioria dispostas
em pequenas fileiras, se agregavam de tal forma que deixavam no centro uma área transitável
de comum acesso, e, na nossa ilusão de óptica, a nós nos pareceu que a lua intensificava sua luz
neste ponto, coincidentemente, sobre nós. A calma e tranquilidade da noite se opunham à
labuta e ao suor do dia.
Ao nos aproximarmos do nosso pouso, sentimos cheiro de café recém coado no pano e, ao
chegarmos, vimos que um casal de compadres e seus filhos se encontravam na casa. As
mulheres conversavam alegremente na cozinha enquanto coavam o café e os homens sorriam
em torno de uma mesa de baralho. Nestas bandas, os vizinhos e os compadres costumam se
juntar em noite de luar para conversarem, sorrirem ou brincarem de algum jogo, enquanto
tomam café e esperam o sono chegar. Cumprimentamos todos, que já eram nossos conhecidos,
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e nos juntamos às mulheres na cozinha, enquanto observávamos os acontecimentos por toda a
casa.
Quando as visitas se foram pensamos o quão felizes são essas pessoas que precisam apenas
de um dia de trabalho e de uma noite de luar para encerrarem em paz o ciclo das 24 horas. Sob
a proteção dos Céus e inundadas por certezas só delas, são sábias para extrair felicidade de um
cenário desolador aos olhos da modernidade. A nossa alma provinciana encontra pouso nestes
confins, onde a chuva, o sol e a lua são dádivas suficientes para se atingir a plenitude do ser.
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