formação da via campesina no mundo e atualidade das ações

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FORMAÇÃO DA VIA CAMPESINA NO MUNDO E ATUALIDADE DAS
AÇÕES NO BRASIL (2000-2011)
Leandro Nieves Ribeiro
Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária- NERA
Universidade Estadual de São Paulo-UNESP/Campus de Presidente Prudente
[email protected]
José Sobreiro Filho
Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária- NERA
Universidade Estadual de São Paulo-UNESP/Campus de Presidente Prudente
[email protected]
Resumo
Compreendemos a Via Campesina como articulador das organizações a nível mundial e
regional, objetivando se confrontar ao atual modelo de desenvolvimento no campo: o
agronegócio e também, constitui-se como um dos principais movimentos que lutam contra o
modelo neoliberalista. A Via Campesina Brasil se espacializa a partir de manifestações,
ocupações de terras e das propostas alternativas questionando sobre temas relevantes da nossa
sociedade, tais como: reforma agrária; soberania alimentar; campesinato; agricultura camponesa
sustentável; questão de gênero; direito humanos e outros.
Palavras-chave: Via Campesina Brasil. Espacialização. Camponês. Ocupação de Terra.
Manifestação.
Introdução
Nesse artigo realizamos uma abordagem sobre as ações territoriais e a espacialização da
Via Campesina Brasil de 2000 a 2011 com base nos dados do (DATALUTA)¹ - Banco
de Dados da Luta pela Terra. Tal análise justifica-se pela emergência das ações da Via
Campesina em diversos temas relevantes quanto à questão agrária brasileira.
Os movimentos camponeses articulados pela Via Campesina Brasil são o Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Movimento de Mulheres Camponesas
(MMC), o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e o Movimento dos
Pequenos Agricultores (MPA). Além desses, é ainda possível identificar outro três
movimentos articulados à Via Campesina Internacional, sendo: a Comissão Pastoral da
Terra (CPT), a Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil (FEAB) e a Pastoral
da Juventude Rural (PJR). Vieira (2011) esclarece que esses movimentos articulados
somente pela Via Campesina Internacional deve-se por não possuir uma base
camponesa, mas sim de outras bases, como religiosa e estudantil.
Como destacado no organograma 1, a maioria dos movimentos com exceção do FEAB
e do PJR, são considerados pelo DATALUTA como movimentos socioterritoriais, ou
1
seja, são movimentos que possuem como trunfo a terra e buscam territorializar-se com
ocupações de terra. E a partir disso questionamos se a própria Via Campesina Brasil
configura-se, também, como tal.
A estrutura desse artigo está organizada da seguinte forma: primeiramente
discorreremos sobre a formação da Via Campesina Internacional desdobrando-se sobre
o contexto da criação do movimento articulador em nível global; em seguida,
discorreremos sobres a espacialização da Via Campesina Brasil com base no
DATALUTA.
Formação da Via Campesina Internacional
Segundo Fernandes (2012) a proposta de criar a Via Campesina surge quando os lideres
de movimentos camponeses de diversas regiões reuniram-se no II Congresso da UNAG
– Unión Nacional de Agricultores y Granaderos de Nicarágua, no ano de 1992 na
cidade de Manágua (Nicarágua). Nesse congresso houve a intenção de criar um “projeto
coletivo no qual pudessem desenvolver alternativas ao neoliberalismo” (VIEIRA, 2009,
p.188). De acordo com Desmarais (2007) o documento produzido no evento,
denominado de Declaração de Manágua, destaca exatamente a necessidade de unirem os
movimentos europeus e americanos, a fim de que suas vozes e propostas sejam ouvidas
por aqueles que “querem usurpar o direito de cultivar a terra e garantir a dignidade de
nossas famílias” (p.98, tradução nossa). No entanto, a oficialização do movimento
ocorre um ano após o encontro, quando 46 líderes de diversas regiões reuniram-se em
Mons, na Bélgica. (DESMARAIS, 2007)
Nesse sentido afirmamos que a proposta da Via Campesina é de transformação da
sociedade. De acordo com Vieira (2011), o próprio nome do movimento destaca a
2
proposta contrária ao modelo vigente e conforme destaca Francisca Rodriguez, dirigente
de uma organização membro da Via Campesina a Asociación Nacional de Mujeres
Rurales e Indígenas (Anamuri):
E é por isso que se chama Via Campesina, não é a confederação, não é
a união internacional, é esse processo em que nós estamos levando a
cabo a construção de uma via alternativa, a partir dos camponeses,
frente às políticas neoliberais (RODRIGUEZ, 2007 apud VIEIRA,
2011, p. 181).
A forte influencia das lutas revolucionárias da América Latina foram essenciais para a
construção da Via Campesina, principalmente, na identidade das lutas latino-americanas
com a proposta da Via.
Segundo Vieira (2011), o contexto que culminou na formação da Via Campesina
Internacional, refere-se aos anos 80, quando ocorreu “uma crescente mercantilização e
internacionalização da agricultura”, levando a uma “concentração do sistema de
produção de alimentos nas mãos de pouca empresa multinacionais” (p.173) podendo ser
produzida por essas empresas ou as mesmas subcontratariam “agricultores, integrandoos todos ao mesmo sistema – e os pequenos de forma totalmente subordinada” (p.173).
Além dos desdobramentos no modo de produção, tais mudanças afetariam também a
circulação e o consumo de alimentos no mundo:
Essa concentração não se daria apenas no modo de produção, mas
também na distribuição dos produtos, acabando por homogeneizar até
mesmo o consumo de alimentos no mundo (VIERA, 2011, p. 173).
Outro desdobramento que reflete a perversidade do processo é que tal concentração, por
sua vez, provocaria também a concentração de terras, o êxodo rural, o empobrecimento
dos camponeses e também sua “total dependência” com as multinacionais (VIEIRA,
2011, p.173). Ainda destaca a autora que a intensificação da industrialização da
agricultura – isso é a produção em larga escala, a padronização mundial dos produtos e
a concentração da produção nas empresas multinacionais - são consequências das
políticas capitalistas que crescem incorporando e subordinando todas as regiões,
inclusive o mundo rural a essa lógica capitalista (VIEIRA, 2011, p. 179).
No entanto, no final do século XXI, a lógica passou a incorporar novos processos,
sobretudo, “a financeirização global da atividade agrícola, a privatização e concentração
de bens historicamente considerados públicos ou comunais como a terra, a água e o
patrimônio genético” (VIEIRA, 2011, p.179). Deste modo, como consequência e
3
resposta ao avanço das estratégias perversas de subordinação e desarticulação do
campesinato ocorreu o “ressurgimento dos movimentos em vários países e regiões do
mundo” (VIEIRA, 2011, p.174) e a partir da própria possibilidade de “articulação,
contato e intercâmbio” desenvolveu-se uma organização a nível global, como a Via
Campesina (VIEIRA, 2011, p.174). Assim, a Via Campesina surge como produto das
relações dialéticas produzidas pelo capitalismo, ou seja, é expressão da conflitualidade
intrínseca à existência e reprodução das relações capitalistas. Portanto, a Via Campesina
tem em sua criação as marcas da exasperação da questão agrária e também da
necessidade da articulação de diferentes e diversos movimentos camponeses e indígenas
na luta contra o capital.
Vale destacar que a mesmo não se contrapõe simplesmente ao modelo neoliberal, mas
procura resgatar as “[...] próprias lutas camponesas e da esquerda” (VIEIRA, 2011, p.
181). Desmarais (2007) afirma que a Via Campesina não apareceu do nada, mas sim,
materializou-se através de:
Its collective identity, positions, and strategies were further defined
through its opposition to the WTO and interactions with other civil
society organizations, namely, the International Federation of
Agricultural Producers (IFAP) and international development NGOs
[non-governmental organizations] ( p. 36).
Portanto, a Via Campesina surgiu com a “eclosão de expressivos protestos que
questionam exatamente os novos formatos do capitalismo mundial” (VIEIRA, 2011,
p.179), destacando-se em campanhas contra as organizações dominantes como, por
exemplo, a Organização Mundial do Comércio (OMC) e, também, contras as empresas
multinacionais como, o McDonalds, Monsanto e entre outros que defendem um modo
de vida neoliberal. (VIEIRA, 2011, p. 179).
De acordo com Desmarais (2007) e Vieira (2008), a Via Campesina destacou-se no
mundo quando na Assembleia Global sobre Segurança Alimentar, realizado na cidade
de Quebec no Canadá em 1995, as lideranças do movimento denunciaram as péssimas
consequências provocadas pelo avanço descontrolado do capitalismo no campo.
Conforme explica Desmarais (2007)
[...] in the Quebec events peasant and farm voices came through loud
and clear as one farm leader after another eagerly came to the
microphone to explain how things really were in the countryside.
Most began their interventions by proudly declaring their allegiance to
the Vía Campesina. For the first time in an international arena
dominated by NGOs [non-governmental organizations], farm leader
4
worked in a concerted and collective fashion to speak about their own
realities in their own voices and reflecting their own analysis (p.124).
Neste contexto, compreendemos que há uma disputa territorial provocada pela
reprodução ampliada do capital e que é representada de um lado pelo território de
resistência da Via Campesina e do outro pelo território das organizações multilaterais
que se configuram em “dimensões de poder e controle social” (FERNANDES, 2005,
p.32). Nessa disputa, a Via Campesina busca territorializar-se por meio de suas
propostas contra hegemônicas, desafiando as organizações capitalistas dominantes
(RAMOS FILHO, 2008; VIEIRA, 2008; FERNANDES, 2004).
Neste sentido, de acordo com Vieira (2011), a Via Campesina procura formular
propostas para dar um “rumo diferente às políticas econômicas e agrárias” e, também,
“influenciar os centros de poder e de tomada de decisão dentro dos governos e nas
instituições multilaterais” (p.200). Visto tais intentos, a Via Campesina discute, articula
e promove estratégias e ações combativas e propositivas em relação a assuntos
relevantes para/com sua luta contra hegemônica, tais como: “reforma agrária,
biodiversidade e recurso genéticos, soberania alimentar, direitos humanos, agricultura
camponesa sustentável, migração e trabalhadores rurais, questão de gênero” (VIEIRA,
2011, p.200).
Dentre essas, a proposta de soberania alimentar é a que tem marcado a construção de
uma “identidade interna e da imagem externa da Via Campesina” (p.224), justamente,
por essa ideia se contrapor com a ideia de “segurança alimentar” defendida pela
Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (DESMARAIS, 2007;
VIEIRA, 2011, 2008). Para o movimento:
la ideia [de soberania alimentar] fue creciendo y actualmente forma un
movimento popular global promovido por uma gran variedad de
sectores
sociales
tales
como pobres
urbanos,
grupos
medioambientales, grupos de consumidores, asociaciones de mujeres,
pescadores, pastores y otros muchos. Además, cuenta con el
reconocimiento de numerosas instituciones y gobiernos (VIA
CAMPESINA, 2011, p.2)
Os temas destacados acima são coordenados por uma Comissão Técnica, contendo a
participação dos movimentos articulados em pelo menos uma das comissões. Na Via
Campesina Brasil, o MST compõe a comissão da reforma agrária, enquanto o MPA
encontra-se na de soberania alimentar (VIEIRA, 2011, p.200).
5
Segundo a socióloga e militante da Via Campesina, Flávia Braga Vieira, em entrevista a
um website, afirma que o movimento “conseguiu revalorizar a internacionalização da
luta política, recuperando valores importantes da tradição da esquerda” (NUNOMURA,
2011, não paginado).
Em seguida destacamos o Organograma 2 que demonstra a estrutura organizativa e
funcional da Via Campesina.
Conforme o organograma, a Conferencia Internacional (CI) é o órgão principal da Via
Campesina, pois nessa delibera-se as políticas do movimento, reunindo-se a cada 4 anos
em lugares diferentes a fim de atingir todas as regiões. O Comitê Coordenador
Internacional (CCI) é escolhido a cada CI, sendo as 8 regiões representadas por um
coordenador e uma coordenadora de distintos movimento, com intuito de dividir as
responsabilidades. De acordo com Desmarais:
[...] cada coordenador deve refletir as necessidades, concepções e
decisões da sua própria região. É apenas através das extensas
comunicações e consultas que os coordenadores regionais ganham
autoridade para apresentar posições e resoluções aoo CCI. Para a Via
Campesina, as regiões são os pontos centrais de interseção entre as
comunidades e as lutas nacionais e internacionais (DESMARAIS,
2007,p. 30 apud, VIEIRA, 2011, p.201).
Os Escritórios Regionais (ER) possibilitam as relações e as articulações em cada região,
denominado de “trabalho central” da Via Campesina (VIA CAMPESINA, 2006). Por
fim, a Secretaria Operativa Internacional (SOI) é responsável pela comunicação e pelo
cumprimento das resoluções políticas.
Desse modo, podemos entender que a Via Campesina está estruturada na forma
horizontal, ou seja, sem hierarquias, possibilitando a participação de todos os
movimentos articulados nas deliberações políticas.
6
A espacialização da Via Campesina na atualidade: uma leitura a partir do
DATALUTA
Para compreender e mensurar a luta pela terra realizada pela Via Campesina tomamos
como base a concepção de espacialização de Fernandes (1994, p. 120) e sob sua luz
realizamos uma leitura detalhada dos dados obtidos no DATALUTA de manifestações e
famílias em ocupações de terra de 2000 a 2010. Segundo Fernandes:
Espacializar é registrar no espaço social um processo de luta. É o
muntidimensionamento do espaço de socialização política. É
"escrever" no espaço através de ações concretas como manifestações,
passeatas, caminhadas, ocupações de prédios públicos, negociações,
ocupações e reocupações de terras, etc. É na espacialização da luta
pela terra que os trabalhadores organizados no MST conquistam a
fração do território e, dessa forma, desenvolvem o processo de
territorialização do MST. (FERNANDES, 1994, p. 120, grifo do
autor)
Esta concepção ganha representatividade no contexto da luta pela Via Campesina por
revelar, promover e gravar as marcas de suas lutas, disseminando-as e imprimindo na
história agrária nacional a necessidade de mudanças e as profundas contradições da
questão agrária brasileira. Neste sentido visando deixar claras as marcas da luta pela
terra promovida pela Via Campesina no cenário nacional, optamos por representar suas
ações em elaborações cartográficas como forma de representação da espacialização da
luta pela terra. A opção em representar as marcas da Luta no espaço está embasada na
própria concepção que utilizamos de espacialização, visto que a luta pela terra deixa sua
escrita/marca/impressões no espaço e tempo conforme apresentam os mapas 1 e 2.
No Mapa 1 podemos identificar uma relativa intensificação de ações da Via Campesina
na região sul do Brasil, principalmente, no Rio Grande do Sul, contando com 21 ações
somente no município de Porto Alegre. Percebe-se, também, que as duas regiões que
não apresentam nenhuma ação são o Amazonas e o Amapá.
7
Em relação ao que caracterizamos de manifestação, seguimos a classificação do
DATALUTA, sendo essa ação: os acampamentos, os bloqueios, as caminhadas, as
celebrações religiosas, os cercos a construções, as concentrações públicas, as
interdições, os jejuns, as marchas, as romarias, as vigílias, as ocupações de agências
bancárias e as de prédios privados e públicos. Através da Tabela 1, destacamos os tipos
de manifestação realizada a cada ano, totalizando 366 manifestações ao longo de 20002010. Dessas, 30,6% das manifestações ocorreram através das concentrações públicas,
14% de bloqueios e 11% de marchas.
8
A
ca
m
pa
m
en
to
Ano/Tipologia
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
Total
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1
2
2
4
4
14
10
6
1
8
13
8
5
51
1
5
1
2
3
6
18
Bl
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l
Tabela 1 -Tipos de manifestações da Via Campesina Brasil por ano
2
3
2
7
1
1
2
2
5
9
8
22
27
29
10
112
1
1
1
1
2
6
6
9
4
11
1
39
8
1
1
10
2
9
1
3
14
3
1
33
1
2
3
4
12
8
5
35
10
3
1
14
1
1
1
2
2
5
5
3
2
20
1
1
1
4
1
8
0
0
1
5
44
34
27
57
81
79
38
366
Org.: Leandro Nieves Ribeiro Fonte: Dataluta.
9
No Mapa 2 podemos visualizar o número de famílias em ocupações entre 2000-2010.
Consideramos que utilizar os dados de número de famílias presentes nas ocupações
demonstra a espacialização do movimento, ao invés, de utilizar apenas os dados de
ocupação de terra, que demonstra a territorialização da luta pela terra.
10
Pelo mapa, podemos identificar que as ocupações da Via Campesina Brasil foram
realizadas em apenas alguns estados, como: no Rio Grande do Sul, no Paraná, no oeste
de São Paulo, em Minas Gerais, no nordeste da Bahia, em Piauí e na Paraíba. Assim
como nas manifestações, a Via Campesina é relativamente ativa no Rio Grande do Sul.
De acordo com o DATALUTA, o município que contem o maior número de pessoas
por ocupação é o Cachoeira do Sul (RS), totalizando 1.000 famílias. Em contrapartida,
nesse mesmo estado, o município com menor participação de famílias por ocupação é o
Piratini, com apenas 15 famílias. Nesse ponto, vale mencionar que a ocupação feita pela
Via Campesina é direcionada em fazendas de empresas multinacionais, como a
Syngenta Seeds e Araracruz Celulose, que ao contrário do MST - Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra, que ocupam, sobretudo, os latifúndios improdutivos e
grilados.
Contudo, podemos confirmar que o objetivo do movimento não visa ocupar terras, pois
não é somente pela reforma agrária que o movimento luta, mas sim por outros temas,
como destacado anteriormente. Isso leva a uma condição diferencial da Via Campesina
Brasil em relação aos próprios movimentos que articula. Nos levando a questionar, qual
a importância das manifestações e/ou ocupações pela Via Campesina Brasil na luta pela
construção de uma outra via.
De acordo com Martínez-Torres e Rosset (2010) podemos compreender a essência das
manifestações, pois através dessa, a Via Campesina:
[...] has been built from the bottom up and is independent of
governments, funders, political parties, NGOs, and non-peasant
special interests. The agenda of La Vía Campesina is defined by La
Vía Campesina and not by any other actors. It has built up and shown
its strength in mobilisations and non-violent but radical direct actions,
opposing the real powers in the world as an alternative, democratic,
and mass-based peasant power base. (p.171).
De acordo com Fernandes (2001), com a “não realização da reforma agrária, a ocupação
de terra tem se tornado uma importante forma de acesso à terra” (p.2) e completa que
além disso “a ocupação da terra é uma forma de intervenção dos trabalhadores no
processo político e econômico da expropriação” (p.2). Já as manifestações, de acordo
com o mesmo autor:
[...] intensificam as lutas e aumentam o poder de pressão dos
trabalhadores nas negociações com os diferentes órgãos do governo.
Igualmente expõem suas realidades, recebendo apoio e críticas da
11
opinião pública e de diversos setores da sociedades. As caminhadas
são formas de manifestação política produzidas na espacialização e
produtores de espacialidades (p.10).
De acordo com Feliciano (2010) as manifestações são entendidas como práticas
transformadoras ou até conservadoras, e por possuir o “potencial de pensar” tornam-se
incomodas.
Por isso, afirmamos que essas duas formas de lutas são importantes para a Via
Campesina. Até mesmo com o escasso numero de ocupações de terras em relação com
as inúmeras manifestações, o movimento articulador consegue se expressar e confrontar
os modelos dominantes com as manifestações, constituindo-se essa forma elementar
para a sua condição de existência e consolidação no espaço da luta pelos seus projetos
alternativos.
Consideração final
Podemos compreender com a espacialização da Via Campesina Brasil a importância
desse movimento na luta por um projeto contra hegemônico desafiando as organizações
dominantes. Vimos que a manifestação é a forma fundamental para a construção e
expansão do movimento.
A Via Campesina é um movimento articulador de movimentos camponeses e não
camponeses, sendo uma expressão da conflitualidade da reprodução das relações
capitalistas.
Nota
___________
[1] Esse banco integra o Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária (NERA) localizado
na Faculdade de Ciências e Tecnologia – FCT/ Universidade Estadual Paulista – UNESP, Campus de
Presidente Prudente.
12
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14
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