EM PEQUENOS RUMINANTES Maristela

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PALESTRA
Clamidofiloses (clamidioses)
em pequenos ruminantes.
CLAMIDOFILOSES (CLAMIDIOSES) EM PEQUENOS RUMINANTES
Maristela Vasconcellos Cardoso
Instituto Biológico, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Animal, Av. Cons. Rodrigues Alves,
1252, CEP 04014-002, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: [email protected]
As clamidofiloses, conhecidas anteriormente
como clamidioses, são doenças causadas por bactérias do gênero Chlamydophila, microrganismos intracelulares obrigatórios e, em pequenos ruminantes,
podem causar o Aborto Enzoótico dos Ovinos
(Chlamydophila abortus) ou enfermidades menos específicas como pneumonia, poliartrite, conjuntivite,
enterite, encefalomielite e problemas reprodutivos
(Chlamydophila pecorum).
Até 1992, todas espécies que não afetavam o Homem eram classificadas como Chlamydia psittaci, pois
apresentavam mesmo fenótipo, mesma morfologia nas
inclusões quando em cultivo celular, ausência de
glicogênio nas inclusões e resistência à sulfadiazina.
A partir de 1992, estes agentes foram reclassificados
de acordo com as doenças que produzem e a espécie
subdividida em Chlamydia psittaci e Chlamydia
pecorum. Em 1999, houve uma revisão na taxonomia
e, além da nomenclatura ter sido alterada, o gênero
foi expandido. Estas clamídias passaram a se chamar Chlamydophila e a espécie psittaci foi subdividida
em abortus, felis e caviae.
As clamidófilas possuem 2 formas distintas, de
acordo com o momento de seu ciclo de desenvolvimento, o Corpúsculo Elementar (CE), que é a forma
infectante, pequena (200-300 nm), densa, metabolicamente inativa, estável quando em meio ambiente, e o
Corpúsculos Reticulados (CR), forma não infectante,
metabolicamente ativa, 500-1.000 nm, sensível às condições ambientais, menos eletrodensa, sendo esta forma caracterizada como corpúsculo de inclusão quando da coloração bacteriana por métodos específicos.
A Chlamydophila abortus é transmitida pelo contato direto entre animais infectados e/ou saudáveis. A
transmissão pode se dar entre animais da mesma espécie ou as clamidófilas podem ser transmitidas para
animais de outras espécies susceptíveis caprinos e
bovinos. Este agente apresenta um alto potencial
zoonótico, informação importante especialmente para
os criatórios que estão localizados muito próximos a
residências. A introdução de animais com infecção
assintomática é a principal forma de disseminação
destes microrganismos.
No Brasil não existem relatos, porém, em vários
países a clamidofilose é endêmica nos ruminantes.
No primeiro episódio, os animais podem apresentar infecção assintomática e, em alguns casos, febre
baixa. Em um segundo episódio, ocorre uma rápida
colonização da placenta, com estabelecimento
bacteriano nas células epiteliais do córion, que evolui
para ulceração. Os placentomas gestacionais são afetados, desenvolvendo-se um quadro de placentite e, a
partir daí, a possibilidade de o feto apresentar uma
resposta inflamatória, levando ao abortamento, é
muito grande.
O abortamento, na maioria das vezes, ocorre no
último mês de gestação. As fêmeas gestantes acometidas apresentam sinais de mal estar de 2 à 5 dias antes
do abortamento, sinais que podem ser confundidos
com o inicio do trabalho de parto. Após abortarem, as
fêmeas podem apresentar descarga uterina purulenta com presença de microrganismos no muco por até
2 semanas pós-abortamento. Paralelamente, a fertilidade não é afetada, de 3 a 6 meses após o abortamento
a mucosa não apresenta mais Chlamydophila. Alguns
animais podem apresentar diminuição na taxa de
concepção, o que é resultado do processo de metrite e
não de infecção no embrião.
Nos machos, estes agentes podem causar orquite,
epididimite, vesiculite seminal, interferindo de forma
significativa na reprodução destes animais. Nestes
casos, pode-se utilizar o sêmen para o diagnóstico.
O diagnóstico da Chlamydophila abortus pode ser
realizado pela detecção do agente em esfregaços de
cotilédones placentários e/ou de membranas fetais,
corados pela coloração de Ziehl-Neelsen modificado.
O isolamento bacteriano em cultivo celular é tido
como a técnica de referência internacional (gold
standard) para o diagnóstico destes microrganismos,
porém, na prática, esta técnica é de difícil utilização.
No Brasil, os métodos que têm sido utilizados na
rotina são a detecção dos anticorpos circulantes de
Chlamydophila pela técnica de Fixação de Complemento e a detecção de Chlamydophila spp. pela PCR
(Polimerase Chain Reaction) em materiais clínicos
provenientes de animais problema.
O tratamento de rebanhos positivos é realizado de
forma preventiva, com oxitetraciclina de longa duração, IM, em duas doses de 20 mg/kg p. v., sendo a
primeira dose entre 95 e 110 dias de gestação e a segunda dose duas semanas depois.
A antibioticoterapia de rebanho pode reduzir de
forma significativa as perdas econômicas, especialmente em rebanhos onde tenham ocorrido os primeiros episódios de abortamento.
O controle da clamidofilose é realizado através da
segregação das parturientes, para se prevenir a disseminação dos agentes no parto, podendo os animais
Biológico, São Paulo, v.68, n.1/2, p.11-12, jan./dez., 2006
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retornarem ao rebanho após o total desaparecimento
da secreção uterina, o que ocorre aproximadamente
em 3 semanas pós-parto. Os materiais contaminados
devem ser apropriadamente eliminados e as áreas
contaminadas devem ser desinfectadas.
Até o momento, não existe nenhuma vacina disponível comercialmente para aChlamydophila abortus.
A Chlamydophila pecorum é responsável por quadros de poliartrite, ceratoconjuntivite, encefalites e
infecções intestinais em bovinos e ovinos, e pneumonia e abortamento em ovinos.
A transmissão, na maioria das vezes, se dá por via
oral. A maioria dos isolamentos obtidos destas bactérias são provenientes de materiais clínicos de portadores sãos, que defecam sobre o pasto, contaminado
o ambiente e disseminando as clamidófilas para outros animais.
Quando no trato reprodutivo, a Chlamydophila
pecorum produz um quadro semelhante à infecção
humana por C. trachomatis, ou seja, perda de gestação
e endometrite, diferentemente do quadro produzido
pela espécie abortus. Pode também produzir seqüelas
como doença inflamatória pélvica e infertilidade para
os animais.
Os quadros de enterite são, geralmente,
assintomáticos, caracterizando o estado de portador são.
O diagnóstico é realizado através da técnica de
Fixação de Complemento, porém, pode haver reação
cruzada com a espécie abortus, já que a técnica é gênero específica.
Biológico, São Paulo, v.68, n.1/2, p.11-12, jan./dez., 2006
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