ESTUDOS CULTURAIS: RELAÇÕES ENTRE INFÂNCIA, ESCOLA E MÍDIA Milene dos Santos Figueiredo1 Elisete Medianeira Tomazetti2 Resumo: Esse, trabalho, resultante de uma parte das discussões realizadas em uma pesquisa de mestrado do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Maria, tem por objetivos compreender as relações estabelecidas entre a televisão e as diferentes culturas infantis, assim como as formas com que docentes e escolas vêm buscando integrar essa discussão em seus espaços pedagógicos de formação e ensino. Para tanto, buscamos investigar professores de Educação Infantil de escolas públicas e particulares da cidade de Santa Maria/RS, além de alunas na fase final da formação inicial do curso de Pedagogia-Habilitação Educação Pré-escolar da UFSM. A pesquisa conta com um referencial teórico-metodológico-político baseado nos Estudos Culturais, que busca, a partir da década de 60, compreender de outras formas as culturas e as relações de poder estabelecidas na sociedade contemporânea. As discussões sobre cultura passam então a tomar uma posição de centralidade na sociedade moderna, que para Hall (1997) podem ser justificadas pelo grande crescimento e monopólio econômico das empresas ligadas à comunicação e entretenimento. Essas empresas acabam gerando o que Moreira (2003) denomina de “oligopólios midiáticos” e que resultam na formação de um grande “sistema midiático-cultural”. Esse sistema, ou então, essa cultura midiática constitui-se como elemento-chave da cultura contemporânea, e invade o cotidiano das mais diversas representações culturais. E, como um dos elementos de maior difusão dessa cultura midiática temos a televisão, que predomina nos cenários infantis através de programas destinados a sua faixa etária, mas que também povoa seus imaginários constituindo suas noções de consumo, sexualidade, violência, entretenimento, etc., através dos programas destinados ao público adulto. Investigamos assim as novas representações de infância na sociedade atual, permeadas por aparatos tecnológicos, e, principalmente, de que maneiras as escolas estão incorporando em seus currículos e ações pedagógicas o trabalho voltado à mídia-educação, que busca uma leitura crítica das mensagens e imagens veiculadas 1 Pedagoga, Professora Substituta do Departamento de Metodologia de Ensino/MEN/CE/UFSM e Aluna do Programa de Pós-graduação em Educação/ PPGE/UFSM. E-mail: [email protected] 2 Profª Drª do Departamento de Metodologia de Ensino/MEN/CE/UFSM e do Programa de Pós-graduação em Educação/PPGE/UFSM. E-mail: [email protected] 2 tanto na televisão quanto nos jogos eletrônicos, nos sites de relacionamento da internet, nos filmes, nas novas formas de escrita contemporânea... Palavras-chave: Mídia. Educação Infantil. Culturas. Introdução As idéias que serão apresentadas no decorrer desse artigo são resultantes de uma parte de uma pesquisa de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE, da Universidade Federal de Santa Maria, ainda em andamento. Esse trabalho tem por objetivos investigar a influência da televisão no trabalho de professores de Educação Infantil de escolas de caráter público e privado da cidade de Santa Maria, assim como de acadêmicas do curso de Pedagogia-Habilitação Educação Pré-escolar da UFSM. No entanto, para tentarmos identificar que práticas educativas estão sendo tomadas nos âmbitos escolares em relação a influência da televisão no cotidiano das crianças, é necessário que possamos buscar profundamente a compreensão das relações estabelecidas, na sociedade contemporânea, entre a cultura midiática e as culturas infantis. Para tanto, utilizamos como referência teórico-metodológica-política o campo de estudos denominado Estudos Culturais, que, a partir da década de 60, iniciou uma nova forma de pensar a cultura e, principalmente, as relações de poder estabelecidas em seu interior. A cultura, anteriormente às pesquisas desenvolvidas dentro da proposta dos Estudos Culturais, era considerada como um fator de hierarquização da sociedade. Segundo teóricos como Mathew Arnold e Frank Raymond Leavis, a cultura era uma forma de distinção entre “o que melhor se tenha pensado no mundo”3, ou seja, a alta cultura e a cultura popular, que segundo Arnold constituía-se como “a outra face de uma suposta verdadeira cultura” (Costa, 2004, p.16). Ainda dentro dessa vertente de pensamento, o crítico literário Frank Raymond Leavis, junto a seus seguidores, lançou trabalhos advertindo sobre o declínio cultural que ocorreria diante os movimentos de democratização cultural e o avanço da cultura de massa, que segundo ele acabaria levando a sociedade ao caos. A citação de Costa possibilita-nos entender melhor o pensamento de Leavis e seus seguidores a respeito do processo de democratização cultural conseqüentes da Revolução Industrial: 3 Expressão de Mathew Arnold, citada por Costa; Silveira; Sommer, 2003, p.37. 3 Para Leavis e seus seguidores, as mudanças decorrentes da Revolução Industrial haviam fragmentado em duas a vigorosa cultura comum inglesa dos séculos XVII e XVIII. De um lado estava a cultura das minorias – “o que de melhor se havia pensado e dito” – e de outro, em posição antagônica, estava a cultura de massas, uma cultura comercial consumida pela maioria “inculta”. (Costa, 2004, p. 17-18) Dentro dessa vertente de pensamento, a cultura popular ou cultura de massas nada mais seria do que uma forma do declínio da sociedade, ou melhor, a expressão da inculturação da grande maioria da população, que não possuía acesso às grandes obras da literatura e das artes. Esse panorama então começou a ser contestado com o surgimento de obras que percebiam a cultura popular como parte integrante da cultura como um todo. São os chamados Estudos Culturais, que iniciam seus estudos na Inglaterra, no final da década de 50, tendo como obras inaugurais os trabalhos de Richard Hoggart – The uses of literacy (1957) e Raymond Williams – Culture and society (1958). Mais tarde ainda, Edward P. Thompson com a obra The making oh the english working class (1963) junta-se a eles compondo os principais precursores dos Estudos Culturais britânicos. A institucionalização desse grupo de pesquisas ocorre no Centro de Estudos Culturais Contemporâneos – Centre for Contemporary Cultural Studies, da Universidade de Birmingham, em 1964. No entanto, a análise dos Estudos Culturais ganha destaque por tratar-se não somente de um campo teórico, mas sim pela sua constituição política. Escosteguy diferencia as vertentes adotadas pelos Estudos Culturais Sob o ponto de vista político, os Estudos Culturais podem ser vistos como sinônimo de correção política, podendo ser identificados como a política cultural dos vários movimentos sociais da época do seu surgimento. Sob a perspectiva teórica, refletem a insatisfação com os limites de algumas disciplinas, propondo, então, a interdisciplinaridade. (Escosteguy, 2004, p. 137). Basicamente, podemos afirmar que os Estudos Culturais surgem não unívocos (devido as diferentes abordagens das principais obras anteriormente citadas), com a intenção de analisarem as relações entre o conjunto da produção cultural contemporânea e a sociedade, ou seja, as formas como as práticas sociais dos indivíduos influenciam no comportamento e nas relações entre os mesmos. Após essa breve introdução sobre a história dos Estudos Culturais, podemos entender que a cultura torna-se o centro das discussões e revoluciona a maneira como as questões 4 sociais vinham sendo explicadas. Veremos a seguir as justificativas para essa nova forma de entendermos as relações na sociedade contemporânea, tendo como base os estudos das diferentes culturas. A “revolução cultural” da sociedade moderna Stuart Hall, um dos mais importantes integrantes da Escola de Birmingham, destaca o papel de centralidade das discussões culturais a partir da segunda metade do século XX A cultura tem assumido uma função de importância sem igual no que diz respeito à estrutura e à organização da sociedade moderna tardia, aos processos de desenvolvimento do meio ambiente global e à disposição de seus recursos econômicos e materiais. Os meios de produção, circulação e troca cultural, em particular, têm se expandido, através das tecnologias e da revolução da informação. Uma proporção ainda maior de recursos humanos, materiais e tecnológicos no mundo inteiro são direcionados diretamente para esses setores. Ao mesmo tempo, indiretamente, as indústrias culturais têm se tornado elementos mediadores em muitos outros processos. (Hall, 1997, p.17) Para Hall (1997), uma das grandes modificações que essa apropriação dos estudos sobre a cultura traz é no sentido de que, somente as relações econômicas não são suficientes para explicar e justificar tamanhas alterações. Hall (1997, p.17) justifica sua posição quando questiona a distinção marxista entre superestrutura e base econômica e insere a presença da mídia, que “é, ao mesmo tempo, uma parte crítica da infra-estrutura material das sociedades modernas, e, também, um dos principais meios de circulação das idéias e imagens vigentes nestas sociedades”. Um exemplo dessa revolução nos espaços destinados à cultura tem sido o grande crescimento e monopólio mundial das empresas ligadas a comunicação e entretenimento, como, por exemplo, empresas de publicidade, cinema, música, televisão, informática, esportes, telecomunicações, etc. Essas empresas acabam por ocupar o papel de grandes responsáveis pela produção do capital mundial e formam o que Moreira (2003, p.1205) denomina de “oligopólios midiáticos”. Ainda, segundo Moreira (2003), a grande influência e o domínio desses oligopólios midiáticos constituem o que o autor denomina de um “sistema midiático-cultural” (p.1207), sistema esse que evoca transformações profundas às configurações culturais, ou seja, a formação da chamada “cultura midiática”. 5 Cultura midiática tem a ver com determinada visão de mundo, com valores e comportamentos, com a absorção de padrões de gosto e de consumo, com a internalização de “imagens de felicidade” e promessas de realização para o ser humano, produzindo e disseminando no capitalismo avançado por intermédio dos conglomerados empresariais da comunicação e do entretenimento, e principalmente por meio da publicidade. (Moreira, 2003, p. 1208). Kellner (2001), estudioso sobre os efeitos e relações de poder da cultura midiática na sociedade contemporânea, justifica o sentido de entendermos a apropriação do sistema midiático como uma representação da cultura moderna A expressão “cultura da mídia” também tem a vantagem de dizer que a nossa é uma cultura da mídia, que a mídia colonizou a cultura, que ela constitui o principal veículo de distribuição e disseminação da cultura, que os meios de comunicação de massa suplantaram os modos anteriores de cultura como o livro ou a palavra falada, que vivemos num mundo no qual a mídia domina o lazer e a cultura. Ela é, portanto, a forma dominante e o lugar da cultura nas sociedades contemporâneas. (Kellner, 2001, p. 54) E como elemento, aparato tecnológico constituinte desse sistema midiático e de grande difusão nas residências brasileiras temos a televisão, que, segundo estatísticas da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios – PNDA/IBGE, do ano de 20044, constatou-se que 90,3% das residências brasileiras possuem pelo menos um aparelho de televisão em suas residências. Esse dado não seria tão surpreendente se junto a ele não coincidisse a estatística de que apenas 87, 4% das mesmas residências possuem uma geladeira. Não apenas a grande distribuição de aparelhos de televisão, mas, principalmente, a grande audiência dos seus programas e conteúdos, e no caso desse trabalho, enfaticamente pela infância, é que entendemos e salientamos a relevância desse estudo, pela possibilidade de analisarmos de que maneira se constituem as relações entre as infâncias e a televisão, e de que maneiras a escola, integrante de uma cultura peculiar, estabelece mecanismos de leitura e crítica diante a grande difusão dos aparatos tecnológicos que permeiam a sociedade – não somente a televisão - mas também celulares, computadores, vídeo-game, internet, etc. Para além de um eletrodoméstico: outras faces da televisão 4 Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNDA/IBGE. Disponível http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/trabalhoerendimento/pnad2004/comentarios2004.pdf em 6 Para a compreensão das outras faces da televisão em nossa cultura, buscamos a referência de alguns autores que, há alguns anos vêm caminhando no sentido de entenderem as relações estabelecidas entre a televisão e a formação dos sujeitos contemporâneos. Em seus trabalhos podemos encontrar importantes justificativas para a compreensão do papel que a televisão vem assumindo, não apenas como meio de comunicação e entretenimento, mas também enquanto construtora de significados e sentidos, de noções de consumo, como base na formação das identidades e subjetividades e ainda, em muitos casos, elemento exclusivo na mediação dos sujeitos com o mundo. Para Fischer (2001), por exemplo, a televisão ganha destaque como o principal elemento difusor dos sentidos que construímos sobre a realidade Defendo a tese de que a TV, na condição de meio de comunicação social, ou de uma linguagem audiovisual específica ou ainda na condição de simples eletrodoméstico que manuseamos e cujas imagens cotidianamente consumimos, tem uma participação decisiva na formação das pessoas – mais enfaticamente, na própria constituição do sujeito contemporâneo. Pode-se dizer que a TV, ou seja, todo esse complexo aparato cultural e econômico – de produção, veiculação e consumo de imagens e sons, informação, publicidade e divertimento, com uma linguagem própria – é parte integrante e fundamental de processos de produção e circulação de significados e sentidos, os quais por sua vez estão relacionados a modos de ser, a modos de pensar, a modos de conhecer o mundo, de se relacionar com a vida. (Fischer, 2001, p.15) Ainda pensando na televisão enquanto produtora de sentidos, de noções de realidade, Belloni (2001) nos indica que a televisão consegue produzir, nas diferentes culturas infantis, certas formas de socialização e, assim, igualar-se à escola enquanto reprodutora dos saberes acumulados e divulgadora dos elementos da realidade A televisão tem um papel muito importante também na dimensão semântica do processo de socialização na medida em que ela fornece as significações (mitos, símbolos, representações), preenchendo o universo simbólico das crianças com imagens irreais (representando significações inexistentes no mundo vivido). Além disso, ela transmite também o saber acumulado e informações sobre a atualidade, fornecendo aos jovens uma certa representação do mundo. Ela apresenta, ainda, as normas da integração social, o que é evidente nas telenovelas e desenhos animados infantis, por exemplo, onde a “moral da história” é muitas vexes explícita e recorrente. As significações transmitidas pela televisão são apropriadas e reelaboradas pelas 7 crianças a partir de suas experiências e integram-se ao mundo vivido no decorrer de novas experiências. (Belloni, 2001, p. 34) Moreira (2003) traz ainda a discussão em relação ao papel que a televisão assume enquanto instituição primária responsável pela produção de sentidos infantis. No entanto, interessante perceber que, para o autor, a televisão ainda não tomou o papel da família, da escola e da Igreja na função de construção das primeiras noções de educação e socialização das crianças. Moreira, porém, destaca a penetração da televisão mesmo nessas instituições primárias, o que nos leva a fortalecer nossas discussões diante a grande influência da televisão no cotidiano infantil Parece-me inequívoco que os diversos meios de comunicação exercem hoje uma função pedagógica básica, a de socializar os indivíduos e de transmitir-lhes os códigos de funcionamento do mundo. Sem dúvida instituições como a família, a escola e a religião continuam sendo, em graus variados, as fontes primárias da educação e da formação moral das crianças. Mas a influência da mídia está presente também por meio delas. A televisão, por exemplo, ocupa uma fatia considerável do tempo das crianças, sobretudo em meios sociais carentes de fontes alternativas de ocupação e lazer. (Moreira, 2003, p. 1216) Ainda na perspectiva de compreendermos a grande difusão da televisão e suas conseqüências enquanto um aparato tecnológico constituidor dos nossos tempos, das diferentes representações culturais, da nossa formação enquanto sujeitos contemporâneas, Baccega (2003), de forma enfática, apresenta sua concepção em relação à televisão, onde levanta a discussão da exclusividade, em nosso país, desse meio de comunicação e reconhecimento social. Para Baccega, a televisão Apresenta um jeito próprio de ver o país e o mundo, de perceber as mazelas sociais, e contaminou com ele o modo de perceber dos cidadãos. Desse modo, ela exerce enorme influencia na nossa cultura, tendo-se transformado no que, às vezes, é o único suporte de reconhecimento dos brasileiros. Em uma sociedade como a nossa, diferentemente das sociedades desenvolvidas, a TV exerce essa enorme influência porque não existem outros canais de mediação: pouco se lê jornal, poucos tem acesso à literatura, a escola parece estar defasada, a família também é alvo da própria TV. (Baccega, 2003, p. 58) Após a apresentação breve desses vários autores, que contribuem para nossa melhor compreensão sobre a temática da televisão enquanto elemento constituinte de um sistema 8 midiático-cultural e a sua representatividade nas mais diversas culturas, tendemos a enfocar nossos estudos na influência desse aparato nas culturas infantis e a forma com que as escolas vêm caminhando para a compreensão desse fenômeno contemporâneo. Que práticas pedagógicas são adotadas por professores de Educação Infantil em formação e em atuação na cidade de Santa Maria para a realização de uma prática que proporcione uma alfabetização das imagens, das mensagens vistas através da televisão pelas crianças, e que povoam suas identidades e subjetividades, incitando noções de consumo, de personagens a serem tomados como heróis, ídolos ou vilões, de violência, de maniqueísmo, de sexualidade, etc.? Cultura da infância, cultura escolar e cultura midiática Nessa pesquisa, além de adotarmos como sujeitos docentes de Educação Infantil, ressaltamos a importância que as crianças possuem para o nosso trabalho. No entanto, não podemos compreender essas crianças apenas como elementos inseridos nas escolas ou instituições propriamente destinadas a Educação Infantil, pois partimos do pressuposto de que as diferentes culturas infantis se configuram nas relações com que essas estabelecem além das instituições escolares. Nossa compreensão sobre as infâncias busca entender quais leituras e interpretações essas crianças realizam com a televisão, fora do ambiente institucionalizado, mas que acabam chegando até essas instituições por meio dessas mesmas crianças, além dos outros sujeitos que constituem esses espaços educativos. Perguntamo-nos então, de que forma a escola percebe essa influência midiática nos seus espaços socializadores e educativos? De que forma escola e docentes percebem a importância do trabalho de alfabetização para as novas tecnologias, sendo que essas fazem parte da cultura de seus alunos? Nesse sentido, Gómez (2001) busca identificar que elementos constituem essa cultura escolar, assim como os objetivos que acabam sendo traçados ao se instituírem determinadas caracterizações. Para o autor, a cultura escolar, que abrange uma série de relações nas devidas instituições tem se apresentado restrita apenas às necessidades da sociedade neoliberal de quantificação dos resultados eficazes Como a intensa competitividade internacional está exigindo das empresas extremar a eficiência de seus procedimentos, de suas tarefas, estruturas organizacionais e interações pessoas, para alcançar e oferecer no mercado o produto mais competitivo, ou seja, o máximo de aceitação ao mínimo custo, também das escolas deve-se exigir 9 similar esforço e competência na elaboração eficaz de seus procedimentos, de suas estruturas organizativas e interações pessoas para produzir rendimentos acadêmicos ao menor custo (Gómez, 2001, p. 151) O que consideram relevante os docentes no seu contexto profissional? Será que as discussões referentes à influência da cultura midiática na sociedade contemporânea, principalmente sobre a cultura infantil são “valiosas” para essa categoria? Para Gómez (2001, p. 164) os docentes “se encontram cada dia mais inseguros e indefesos, se sentem ameaçados por uma evolução acelerada que não podem ou não sabem responder”. Com isso, são urgentes as reflexões a respeito de como as escolas criam seus mecanismos de resistência às exigências da sociedade neoliberal e abrangem em sua cultura institucional outras formas de manifestações culturais. Belloni (2001), ao entender a televisão como um mecanismo da cultura contemporânea, salienta a importância de, através de um trabalho da escola, compreendermos que mensagens e que narrativas são veiculadas nos mais diversos programas televisivos, já que essas mensagens caracterizam alguns elementos de uma cultura que precisamos desvendar e classificar O trabalho pedagógico insere-se justamente aí, na tarefa de discriminação, que inclui desde uma franca abertura à fruição (no caso, de programas de TV, comerciais, criações em vídeo, filmes veiculados pela TV etc.) até um trabalho detalhado e generoso sobre a construção de linguagem em questão e sobre a ampla gama de informações reunidas nesses produtos, sem falar nas emoções e sentimentos que cada uma das narrativas suscita no espectador. Tratase de uma proposta destinada, nos diferentes níveis de escolarização, a mergulhar na ampla diversidade de produção audiovisual disponível em filmes, vídeos, programas de televisão, e que certamente nos informará sobre profundas alterações ocorridas nas últimas décadas nos conceitos de cultura erudita, cultura popular, cultura de massa, artes visuais, e assim por diante. (Belloni, 2001, p. 27) Perguntamos então: pode a alfabetização para as mídias e novas tecnologias tornaremse conhecimentos escolares? Ao concluirmos que a sociedade contemporânea é constituída por diversas culturas, inclusive a cultura da mídia, que participa ativamente e até mesmo influência outras culturas podemos defender que a escola pode sim inserir em seu corpo de conhecimentos o estudo e leitura de imagens midiáticas. Para isso, é preciso, no entanto, que os educadores acreditem nessa postura multicultural da sociedade contemporânea, pois na forma como se apresentam acabam por constituir e caminhar no sentido de monopólio e transmissão de apenas uma cultura. Não 10 basta apenas criticar, rotular de forma pessimista os meios de comunicação. Como nos afirma Baccega, mesmo a escola impedindo as discussões em sala de aula, o discurso dos meios de comunicação adentrará em seus muros Enquanto a escola continua com sua retórica pedagógica conservadora, ocupando todo o tempo de sala de aula com esse discurso, o discurso dos meios de comunicação este presente no âmbito da escola, de maneira clandestina. Não adentram as salas de aula, mas estão nos corredores, nos intervalos, nas conversas informais, tanto de professores quanto de alunos. É urgente que esses discursos saiam da clandestinidade e passem a constituir parte dos diálogos que deveriam ocorrer em sala de aula. (Baccega, 2003, p. 61). Como afirma ainda Belloni (2001, p. 44), uma educação para as mídias é “condição sine qua non para a realização de uma cidadania plena”, de forma a promover no aluno e no docente uma capacidade de análise crítica e esclarecedora. Dessa forma, podemos desmistificar esse “bicho-papão” chamado televisão que costuma assombrar os sonhos e ainda as práticas de docentes... Referências Bibliográficas BACCEGA, M.A. Televisão e escola: uma mediação possível? São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2003. (Série Ponto Futuro;14) BELLONI, M. L. O que é mídia-educação. Campinas, SP: Autores Associados, 2001. COSTA, M. V. Estudos Culturais – para além das fronteiras disciplinares. In.: SILVA, T.T. da (org.).O que é, afinal, Estudos Culturais? Belo Horizonte: Autêntica, 2004. COSTA, M.V.; SILVEIRA, R. H.; SOMMER, L.H. Estudos culturais, educação e pedagogia. Revista Brasileira de Educação, n. 23, p. 36-61, Maio/Jun/Jul/Ago 2003. ESCOSTEGUY, A. C. Estudos Culturais: uma introdução. 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