Como o mau humor age na mente e os benefícios de ser bem

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Os dias bons e
ruins do cérebro
Como o mau humor age na mente e
os benefícios de ser bem-humorado
TEXTO E ENTREVISTAS GIOVANE ROCHA/COLABORADOR
Q
Imagens: Shutterstock Images
uase todo mundo já teve que
lidar com os altos e baixos do seu
próprio humor. Às vezes, somos
surpreendidos por situações que
mudam nosso comportamento de
um segundo para o outro, sejam
elas surpresas boas, ou nem tanto. As causas por
trás destas mudanças podem variar de acordo com
cada pessoa e envolvem o cotidiano, ambiente
de trabalho, estudo e convivência por escolha
ou, até mesmo, por obrigação. Assim como em
muitas outras funções, a central responsável
por todas estas mudanças está no cérebro. É lá
que as sensações passam de pura alegria para o
fim do seu dia.
Segredos da Mente | 25
ALIMENTOS E O HUMOR
Sabia a alimentação
pode influenciar no seu
humor? Confira dicas de
profissionais sobre vilões
e mocinhos presentes nas
refeições!
“O chocolate,
principalmente o
amargo com 70% de
cacau, contém tirosina
(substância que estimula
a liberação de serotonina)
e importantes minerais
que aceleram a produção
de endorfina e dopamina,
responsáveis pelo
relaxamento”, ressalta
a nutricionista Patrícia
Bertoni.
“Incluir na rotina o
consumo de ômega 3
auxiliará na proteção
do desgaste prematuro
do cérebro”, aconselha
Patrícia. Você pode
encontrar a substância em
peixes de água fria, como
o salmão, e em hortaliças.
“Os fast-foods são
famosos por conterem
um alto teor de gordura e
baixo, ou nulo, índice de
ácidos graxos e ômega
3, também responsáveis
pela sensação de bemestar e pela produção
dos neutoransmissores
do bom humor”, afirma a
nutricionista Danielle dos
Santos. Por isso, evite-os!
“Gorduras trans, ácidos
graxos saturados,
álcool e açúcares são
grandes vilões para
corpo e a mente”, alerta
a nutricionista Regina
Moraes Teixeira. Então,
cuidado com o excesso!
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Conhecendo o humor
Segundo o psicólogo Armando Brito,
“o humor é um estado de ânimo cuja intensidade representa o grau de disposição
e de bem-estar psicológico e emocional de
um indivíduo”.
O mau humor no cérebro é resultado
da alteração ou falta de serotonina, neurotransmissor responsável por funções
importantes como a própria regulação do
humor, do sono e a sensação de saciedade.
É sempre bom lembrar as vantagens de
levar a vida no ritmo do bom humor. Os
benefícios refletem em toda sua rotina, visto
que pessoas bem-humoradas tendem a ser
mais produtivas e criativas e, consequentemente,
a ter um salário melhor. Para o psicanalista
Paulo Paiva, o mal-humorado pode criar “um
autoboicote em sua evolução profissional”. Sem
contar o fato de que esses indivíduos encontram
mais problemas nos seus relacionamentos. Seja
com namorada(o), na faculdade ou no trabalho,
é difícil conviver com aquela pessoa ranzinza.
Nem tudo está perdido
Assim como uma febre, o mau humor pode
ser um sinal de alerta de que alguma coisa não
está bem. Apesar de alguns estudos mostrarem
que o mau humor pode beneficiar as pessoas
tornando-as mais racionais e otimistas, Brito
ressalta que, “a longo prazo, pode levá-las
à desmotivação, conflitos interpessoais e sintomas depressivos”.
É possível utilizar aquela
sensação ruim de raiva com tudo
e todos para analisar a situação
e melhorar as atitudes. Parece
uma frase clichê, mas pode ser
um sinal de que é preciso ver o
mundo com outros olhos.
De um dia ruim para um
problema maior
Como saber se seu humor passou para um quadro crônico? Muitos
podem se fazer esta pergunta, e a resposta
vem com uma simples observação do dia a dia.
Brito aponta que “o mau humor pode ser considerado normal quando é de curta duração,
baixa intensidade e não chega a interferir em
as atividades regulares da pessoa”, como escola,
trabalho, momentos de lazer e relacionamentos. A sobrecarga do cérebro
no cotidiano pode desequilibrá-lo,
levando à produção desregulada dos
hormônios do estresse – noradrenalina,
adrenalina e cortisol. Além destes fatores,
Paiva ressalta que “pessoas com um alto nível
de desorganização tendem a apresentar maior
irritabilidade e, com isso, o mau humor. Começar
diversas coisas e não concluir, sentimentos de
pessimismo e inadequação, angústia, autocrítica, baixa autoestima, cansaço constante,
ceticismo e preocupação, tudo isso deixa
as pessoas mais suscetíveis ao mau humor.”
Essa combinação de fatores pode desencadear outros transtornos e existem alguns
graus destes distúrbios:
“O ‘exercício da gratidão’
é uma das maneiras de
promover o bem-estar e
as emoções positivas no
dia a dia.”
agravem ao ponto de prejudicar a vida social,
um acompanhamento médico é recomendado.
Para finalizar, Brito dá um conselho importante: “O ‘exercício da gratidão’ é uma
das maneiras de promover o bem-estar e as
emoções positivas no dia a dia”.
Armando Brito, psicólogo
Depressão: o nível máximo do mau humor, que
tem como principais sintomas a perda do prazer,
ganho ou considerável perda de peso, agitação
ou retardo psicomotor, fadiga, sentimentos de
inutilidade ou culpa, insônia ou hipersonia, falta
de concentração, dentre outros.
Distimia: um nível abaixo, diferente da
depressão, não surge de repente. Neste caso,
a pessoa apresenta um mau humor constante e
uma baixa autoestima.
Hipotimia: é o estágio mais baixo da depressão.
A pessoa se sente melancólica, em uma espécie
de zona de conforto com o mau humor.
CONSULTORIAS Armando Brito, psicólogo da
Beneficência Portuguesa, em São Paulo (SP); Danielle dos
Santos, nutricionista; Patrícia BertonI, nutricionista; Paulo
Paiva, psicanalista.
Porém, não só o mau humor pode causar
problemas. Acredite ou não, mas o alto nível de
bom humor também pode ser considerado um
distúrbio. São eles:
Mania: o bom humor em excesso vira um
empecilho. A convivência é complicada. Sabe
aquele amigo que exagera na piada e acha que
está arrasando? Então, pode ser necessária ajuda
profissional.
Hipomania: a pessoa continua com um excesso
de bom humor, porém, menos que na mania, já
que os sintomas não refletem tanto no dia a dia
do indivíduo.
Hipertimia: um grau abaixo da hipomania,
pode diminuir a necessidade de dormir e traz
aquela felicidade em viver a vida. Em geral, não
traz consequências negativas para a pessoa.
Atividades como ioga, uma simples caminhada, dar-se ao luxo de uma massagem e a própria
meditação são saídas em busca do bom humor.
Organização no dia a dia também é fundamental para a luta contra o mau humor, segundo
Paiva: “tentar se planejar com horários e fazer
suas refeições a cada três horas (uma atitude
que pode gerar o mau humor é não se alimentar
em horários corretos) podem contribuir nessa
batalha”. Mas, caso os sintomas persistam ou se
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Ao combate
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