1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP O jornalismo ambiental e a TV Digital no Brasil: novas perspectivas para a divulgação, interatividade e educação ZUZA, Erika RESUMO Por um lado a história do jornalismo ambiental no Brasil é marcada pela luta em prol da defesa do meio ambiente e a divulgação de ações individuais e coletivas importantes para a manutenção do lugar em que vivemos. Por outro a cobertura do meio ambiente está caracterizada pelas denúncias de crimes contra a natureza, em alguns casos praticados por empresas e indústrias, mas ao mesmo tempo praticamente silenciadas pela própria imprensa que - para se manter financeiramente - acaba atendendo outros interesses, sejam eles políticos e/ou econômicos, omitindo informações fundamentais para o conhecimento massivo. Ainda assim, nos dias de hoje é possível visualizar ações jornalísticas eficazes na área ambiental, existem páginas especializadas nos jornais impressos, diversos programas de rádio e TV e sites de notícias voltados para a prática do jornalismo ambiental. Um cenário que vem sendo renovado no Brasil sobretudo diante de acontecimentos que tiraram a ecologia do foco estritamente acadêmico e científico. Para este artigo, leva-se em consideração três aspectos essenciais: 01. A realização de encontros mundiais que tornaram as questões ambientais temas de discussões públicas, como a Conferência de Meio Ambiente da ONU, em 1972, em Estocolmo (Suécia) e a Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO-92), ocorrida no Rio de Janeiro em 1992; 02. A assinatura de tratados para o combate ao aquecimento global, através da redução da emissão de gases tóxicos na atmosfera, com destaque para o Protocolo de Kyoto; e 03. A publicação dos resultados alarmantes de pesquisas científicas que atestam alterações graves nos mais variados ecossistemas do planeta, como os relatórios do Painel Intergovernamental de Estudos sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e o Relatório Stern, encomendado pelo governo britânico ao economista Nicholas Stern (2006) que mostra os efeitos das mudanças climáticas na economia global. Diante deste cenário e observando as características que marcam o telejornalismo ambiental brasileiro e sua importância no contexto da educação ambiental, o artigo apresenta uma proposta de reflexão sobre as novas possibilidades de comunicação que serão disponibilizadas pelo Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre (SBTVD-T), em processo de implantação no país desde dezembro de 2007. PALAVRAS-CHAVE: Jornalismo Ambiental. TV Digital. SBTVD-T. Meio Ambiente. Telejornalismo. Educação Ambiental. 1109 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP Introdução Escrever sobre meio ambiente é difícil! Requer dedicação, leituras e a busca constante por uma visão holística da sociedade da informação e do consumo em que vivemos. E compreender os desafios que nascem das novas tecnologias de comunicação social para a divulgação das temáticas ambientais se torna um grande desafio, sobretudo em um artigo científico, onde a síntese dos conhecimentos é premissa básica para o alcance dos objetivos do trabalho. Não é possível abarcar tudo o que se quer, nem tudo o que se pensa! Afinal, são muitas as vertentes sociais inerentes a temática ambiental que vem aos poucos ganhando visibilidade num mundo globalizado. Por isso, a busca por um foco informativo que proporcione aos leitores deste trabalho um breve apanhado do campo jornalístico ambiental e as perspectivas que vão se configurando com a implantação da televisão digital interativa brasileira, nortearam a pesquisa. Alicerçando a bibliografia estão estudos sobre jornalismo ambiental, SBTVD-T, ética jornalística, telejornalismo no contexto da ecologia e a função da TV perante a educação ambiental num país em que este veículo é o principal meio de comunicação de massa presente em mais de 95,1% dos lares, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE - PNAD) publicada em 2009. Buscam-se fundamentações teóricas em obras dos autores Sergio Vilas Boas, Roberto Vilar Belmonte, Valdecir Becker, Carlos Montez, Valério Brittos, Cézar Bolaño, Ricardo Cruz, entre outros. 1. Primórdios da midiatização do meio ambiente: a ponta do iceberg “A tarefa não é tanto ver o que ninguém viu ainda, mas pensar o que ninguém pensou sobre algo que todos vêem”, Arthur Schopenhauer, filósofo alemão. (JENKINS, 2008, p.14) 1110 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP O olhar crítico à realidade em que vivemos requer iniciativa própria, atenção e conhecimento. Descobrir algo que já estava bem ali, mas camuflado pelas obviedades contemporâneas deve fazer parte do nosso dia-a-dia. A conscientização da degradação do meio ambiente causada pelo homem e a importância da preservação da natureza em nome da qualidade de vida de todos os seres são exemplos. Entretanto a tarefa lançada desde o início das discussões desses assuntos, em nível mundial, é buscar novos caminhos para educação ambiental, incentivar a indústria a criar soluções em prol do meio ambiente, além de procurar incessantemente novas trajetórias para conter o avanço das conseqüências do mau uso dos recursos naturais. A legitimação do meio ambiente enquanto campo social e institucional é bastante recente. Somente a partir da década de 1960 é que começam os debates sobre os impactos das ações do homem no meio ambiente. Isso quer dizer que faz apenas 49 anos que o homem iniciou sua preocupação com os impactos gerados ao meio ambiente. Uma exploração ininterrupta, a qual alguns autores creditam seu início à revolução industrial, no século XVIII. A fixação e dependência do homem pelo trabalho a partir da revolução industrial modificou a vida em sociedade e causou o desenvolvimento de formas mais eficientes para a fabricação de produtos, bem como impulsionou o progresso tecnológico, que por sua vez potencializou as dinâmicas comerciais e de serviços em todos os setores. Durante muitas décadas, o meio ambiente foi visto unicamente como fonte de recursos (água, petróleo, carvão, sal, terra, animais, etc.). Foi somente com a crise do petróleo, a partir de meados da década de 60, que o crescimento desenfreado da população e suas dinâmicas entre meio rural e urbano, com concentrações cada vez maiores de pessoas nas cidades, que a industrialização e seu modelo de desenvolvimento começaram a ser questionados. As discussões sobre a degradação ambiental ganharam tal proporção que levaram a ONU (Organização das Nações Unidas) a promover em 1972 um grande evento para tratar do meio ambiente. A Conferência de 1111 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP Estocolmo na Suécia reuniu 113 chefes de Estado e 400 representantes de organizações não governamentais e intergovernamentais. Os debates foram bastante influenciados pelo livro “Limites do Crescimento”, escrito por Dennis L. Meadows e lançado meses antes da Conferência. “Para alcançar a estabilidade econômica e ecológica, o relatório Meadows propõe o congelamento do crescimento da população global e do capital industrial; e que o modelo de desenvolvimento econômico mundial é ecologicamente insustentável.” (TREVISOL, 2003, apud FERREIRA, 2008, p. 149). A Conferência de Estocolmo desencadeou a realização de observações e estudos que contribuíram para o aumento das evidências dos impactos ambientais gerados pela industrialização. Além disso, a temática ambiental encontrou espaço de divulgação nos meios de comunicação. Um ano depois, em 1973, foi formulado por Ignacy Sachs o conceito de ecodesenvolvimento, cujos princípios norteavam a preocupação com as gerações futuras, a preservação dos recursos naturais, a elaboração de programas de educação, entre outros. Já em 1987 ganhou evidência o estudo de Gro Harlem Brundtland e Mansour Khalid. O documento chamado ‘Our Common Future’ ficou conhecido como Relatório Brundtland. Os autores presidiam a Comissão Mundial da ONU sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED). O relatório Brundtland consagrou o termo ‘desenvolvimento sustentável’ e ressaltou “o respeito à diversidade cultural dos povos, o atendimento prioritário das necessidades essenciais dos pobres e as limitações que o estágio da tecnologia e da organização social impõem ao meio ambiente, impedindo-o de atender às necessidades presentes e futuras”. (COSTA, 2008) Entre os anos 70 e 80 se solidificam o papel das ONGs na luta pela preservação do planeta, com a realização de protestos e ações voluntárias que ganharam repercussão internacional através da imprensa e das agências de 1112 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP notícias. Como exemplo, o Greenpeace, ONG criada em 1971 que atua na defesa do meio ambiente. Investigando, expondo e confrontando crimes ambientais, desafiamos os tomadores de decisão a reverem suas posições e mudarem seus conceitos. Também defendemos soluções economicamente viáveis e socialmente justas, que ofereçam esperança para esta e para as futuras gerações. (GREENPEACE). Os eventos que reuniam gestores públicos e representantes civis, somados às ações das ONGs, às pesquisas iniciais divulgadas e à cobertura precária da imprensa, tornaram evidentes nesta fase somente a ponta do iceberg1 de uma problemática que é atualmente a questão primordial de sobrevivência na Terra. Interrogação já constatada sobretudo nos meio acadêmicos, mas que ainda hoje, em pleno século XXI, carece de conscientização popular, de solidificação de políticas públicas em prol do meio ambiente e de uma cobertura eficaz dos meios de comunicação. 2. Brasil: o futuro do planeta em pauta Entender a vida na sua expressão mais holística, sistêmica e inter-relacional não constitui o único desafio do nosso tempo. É preciso comunicar esse saber, traduzi-lo sem o peso do jargão ecológico-científico, torná-lo inteligível ao maior número possível de pessoas. Jornalista e Professor André Trigueiro, (TRIGUEIRO, 2005, p. 264). 1 Popularmente, usa-se a expressão 'ponta do iceberg' para fazer referência a algo que aparentemente é simples mas que, de fato, se for investigado ou confrontado com profundidade, a complexidade do assunto, obstáculo ou problema tende a ser muito mais árdua do que, a princípio, pensaríamos que fosse. (BLOG Rastreio de Cozinha) 1113 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP No Brasil, a discussão a cerca do meio ambiente chega com os reflexos da Conferência de Estocolmo. As diretrizes da ONU resultaram na criação pelo governo da Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA), atualmente há o Ministério do Meio Ambiente. É a partir daí que surge a preocupação com a educação ambiental, algo que ficou ainda mais concreto após a realização da I Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental de Tbilise, na Geórgia, em 1977. Segundo SORRENTINO (2005, apud FERREIRA, 2008) a partir deste encontro a educação ambiental foi introduzida como estratégia para conduzir a sustentabilidade ambiental e social do planeta. Em 1992 o Brasil entrou de vez no cenário mundial de combate a exploração do meio ambiente. Foi realizado no Rio de Janeiro um dos maiores eventos da ONU, a Conferência das Nacões Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em que muitos países deixaram de ignorar as relações entre desenvolvimento sócio-econômico e qualidade de vida. A Eco-92 (ou Rio-92) foi uma cúpula sem precedentes na história: participaram 104 reis, rainhas e chefes de Estado, além de 10 mil delegados de 180 países e 12 mil representantes de 5.600 ONGs. Nove mil jornalistas foram credenciados para a cobertura do evento, o que mudou a rotina nas redações, onde pautas antes desprezadas eram publicadas. (TRIGUEIRO, 2005). Resultaram da conferência duas convenções que obrigam as partes relativas às mudanças climáticas e biodiversidade, bem como duas declarações: a declaração do Rio (Carta da Terra e das Florestas) e a Agenda XXI: O objetivo desses documentos foi criar regras de direito internacional que assegurassem, em nível mundial, proteção ao meio ambiente, levando em conta a necessidade de garantir aos países menos ricos o direito ao desenvolvimento, mas evitando a acentuada degradação ambiental que hoje se nota e que coloca em risco o direito das gerações futuras a um ambiente sadio. (FERREIRA, 2008, p. 152-153). 1114 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP Em termos jornalísticos, a Eco-92 resultou no fortalecimento da cobertura ambiental, ainda incipiente no Brasil. Foram criados cadernos e suplementos especiais nos jornais impressos, programas segmentados transmitidos por rádio, pela TV eram exibidas reportagens aprofundadas que explicavam fenômenos e termos já comuns no campo científico, mas que a partir de então ganharam a opinião pública. 3. O verde na telinha da TV brasileira No Brasil, a televisão é considerada o principal meio de comunicação. Chegou na década de 1950 e revolucionou o modo de acessar a informação e ter entretenimento. Em 1972 a televisão passou por uma transformação, ficou colorida, e a paixão dos brasileiros pela ‘telinha’ aumentou ainda mais. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (IBGE - PNAD 2008), a televisão está presente em 95,1% dos domicílios brasileiros, sendo a fonte de informação mais consumida no país. Por isso, é perceptível a relevância da TV enquanto veículo de comunicação das causas ambientais no Brasil, tanto no sentido de colaborar no processo de conscientização da população a cerca da preservação do meio ambiente, como no desempenho do papel de fiscalizador dos agentes públicos responsáveis pelo planejamento e execução de políticas públicas que atuem na mitigação e adaptação das cidades às mudanças climáticas. A presença do ‘verde’ na tela da TV brasileira é fundamental. E há muitos exemplos: nos próximos itens seguem-se breves apontamentos resultantes de observação empírica de programas exibidos pela televisão aberta e em canais por assinatura - cujos conteúdos versam sobre o meio ambiente, a natureza e sua biodiversidade. 1115 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP Vale lembrar que existem outros exemplos que merecem estudos posteriores. Os produtos midiáticos delimitados para este trabalho foram escolhidos por terem o jornalismo ambiental como foco de conteúdo em sua totalidade de edições ou em um conjunto de edições. Por eles visualizam-se marcas inerentes à cobertura televisiva jornalística desta especialidade, como a busca por explicações de termos e fenômenos, a contextualização com outras temáticas como economia e política e a transmissão de mensagens positivas em favor da causa ambiental. 3.1 Globo Repórter O programa Globo Repórter, atualmente exibido às sextas-feiras pela Rede Globo, às 22h05, não é um programa estritamente ecológico, ele é caracterizado pela diversificação de assuntos. Mas sua ênfase na transmissão de diversos documentários nacionais e internacionais sobre a fauna e a flora dos mais variados lugares do planeta o colocaram como fonte importante de conteúdos relativos a natureza, bem como, em virtude da grande audiência, peça essencial na disseminação popular no Brasil da beleza dos sistemas de vidas animal, vegetal, terrestre e marinho. A primeira edição foi ao ar em abril de 1973. O programa se destinava a analisar com mais profundidade os principais acontecimentos jornalísticos nacionais e internacionais do mês, que, por uma questão de tempo, não podiam ser detalhados nos telejornais. Em 1993, o programa adota um único tema por edição. Três anos depois, a partir de 1996, o Globo Repórter passa a enfatizar temas relacionados à natureza e ecologia, mostrando as paisagens e a vida em localidades distantes dos grandes centros urbanos. Segundo TRIGUEIRO (2005), entre 1998 e 2003 o Programa exibiu mais de 100 edições que tinham em comum pautas relacionadas à vida selvagem. “Dos 30 programas de maior audiência exibidos pelo Globo repórter 1116 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP nos anos de 2000 e 2001, mais da metade mostraa a exuberância da fauna e da flora”. (2005, p. 287). 3.2 Globo Ecologia Programa pioneiro no Brasil focado no tema ecologia, o Globo Ecologia estreou em 1990. É considerado um programa voltado para questões de educação ambiental e consciência ecológica e visa contribuir para a preservação do patrimônio natural. Uma curiosidade é que embora trate de temas jornalísticos o programa sempre foi apresentado por atores e não jornalistas. O Globo Ecologia é transmitido nas manhãs de sábado pela TV Globo - junto a outros programas educativos como Globo Ciência, Globo Educação, Globo Universidade e Ação – e reprisado pelo Canal Futura aos domingos, à 1h e às 17h; às terças, à meia-noite; às quartas, às 16h; às quintas, às 4h45 e aos sábados, às 15h30. (GLOBO Ecologia, 2009). O programa já exibiu várias séries internacionais de países como Argentina, Uruguai, Chile, Canadá, Cabo Verde, Timor Leste e Costa Rica. O ano de 1992 também marcou uma mudança na linha editorial do Globo Ecologia, com a realização da ECO-92. O programa produziu reportagens a partir do material coletado durante o evento, temas como a biodiversidade e a relação entre o meio-ambiente e a desigualdade social. A partir de janeiro de 2008, o Globo Ecologia passou a exibir a série O mundo em movimento, sobre a relação entre a dinâmica das populações e o meio-ambiente. O primeiro episódio mostrou as conseqüências da transformação da Terra num planeta cada vez mais urbano, com mais pessoas nas cidades do que no campo. (GLOBO Ecologia). 1117 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP 3.3 Planeta Terra À medida que avançam os efeitos da civilização sobre o meio ambiente torna-se evidente a necessidade de alertar os homens sobre as conseqüências de tal devastação sobre suas próprias vidas. Planeta Terra é o sinal de alerta da TV Cultura. (PLANETA Terra). O programa é exibido aos Domingos, às 16h30, e focado nas curiosidades e mistérios do meio ambiente. No site da TV Cultura destinado ao programa, não há informações a cerca do ano inicial de sua exibição no formato atual. Porém uma visita à história da TV Cultura nos revela que o primeiro programa exibido pela emissora em 1969, na inauguração de sua transmissão em São Paulo se chamava ‘Planeta Terra’. O programa fala das civilizações em documentários produzidos por renomadas emissoras estrangeiras como a BBC e NHK, além de produtoras da Holanda, Suécia, Dinamarca e Inglaterra. A camada de Ozônio, o mundo desconhecido da Patagônia, a exploração pesqueira na Noruega e seus problemas, as ilhas do raro Iguana, além da vida das focas são alguns dos assuntos de interesse ecológico. 3.4 Ecoprático De acordo com informações da TV Cultura, o programa EcoPrático é considerado o primeiro reality show ecológico da televisão brasileira. A exibição ocorre aos domingos, 21h e às quartas-feiras, 19h30. Didático e divertido, EcoPrático trata a sustentabilidade com leveza e bom humor. A cada programa, uma casa (família) é 1118 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP escolhida para uma reciclagem de hábitos relacionados a sustentabilidade no dia-a-dia. (…) O programa vai proporcionar mudanças físicas e comportamentais nos participantes aumentando as eco-práticas da casa e da família. (Ecoprático). Além do programa na TV, as informações do Ecoprático são disponibilizadas em um site de maneira a contribuir para a conscientização. Entre os assuntos expostos no blog do programa, estão: ‘Captação de águas da chuva: dicas’; ‘Banho sustentável: dicas para você e sua casa’; ‘Coleta e reciclagem de Pneus’, ‘Condomínios e Sustentabilidade’, entre outros. O site publica ainda entrevistas com especialistas, os vídeos dos episódios já exibidos e informações sobre o que é sustentabilidade. 3.5 Repórter Eco A revista semanal Repórter Eco é especializada em meio ambiente. Atualmente é exibida aos domingos, 19h30, com reapresentação aos sábados, às 2h30. O programa foi ao ar em 1992 como o primeiro telelejornal da televisão brasileira especializado em meio ambiente. O objetivo era antecipar e aprofundar os assuntos que seriam abordados na Rio-92 (…). Em setembro de 92, o Eco ganhou espaço e foi transformado pela equipe de criação em um programa de meio ambiente, com informações do Brasil e do mundo, que hoje é respeitado por cientistas, ONGs ambientalistas, estudantes e pelo público em geral (…). (Repórter Eco). O conteúdo é formado por pesquisas sobre o desenvolvimento sustentável e conservação dos biomas brasileiros, proteção da rica diversidade biológica e cultural do país, projetos para o futuro dos recursos hídricos, 1119 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP estudos de controle da poluição do ar, solo, terra e água, ecologia urbana, fontes de energia alternativas e renováveis, astronomia, antropologia, arqueologia, arquitetura ecológica, redução, reuso e reciclagem de resíduos sólidos, comércio justo, patrimônio histórico, cultural e arquitetônico, e ecoturismo. 3.6 Cidades e Soluções Na temática ambiental, o canal por assinatura Globo News exibe semanalmente o programa ‘Cidades e Soluções’, cujas reportagens focalizam temáticas relacionadas ao meio ambiente e ações sociais que auxiliam na construção de um mundo sustentável, assuntos permeados pelas causas e conseqüências das mudanças climáticas. Soluções criativas e inteligentes estão mudando para melhor a vida nas cidades brasileiras. Vamos mostrar alguns projetos inovadores que reduzem custos, multiplicam benefícios e mudam a paisagem das cidades. E o melhor, aumentam a qualidade de vida da população. Quando não há dinheiro sobrando, o jeito é transformar problema em solução! (PATERNOSTRO, 2006). O programa “abre espaço na televisão para as experiências que transformam para melhor a vida das pessoas através do uso inteligente e sustentável dos recursos.”, (GLOBO News, 2009). O ‘Cidades e Soluções’ foi idealizado pelo jornalista e professor André Trigueiro. É exibido aos domingos, 21h30, com os horários alternativos às segundas-feiras, 08h30 e 16h30 e às quartas-feiras, 05h05 e 23h30. 1120 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP 4. A TVD brasileira e o meio ambiente: um mar de perspectivas Como qualquer mídia ou veículo de comunicação, a TV também está envolvida em constante processo de evolução e adaptação às novas necessidades sociais. Desde o primeiro canal de TV, a BBC de Londres, fundada em 1936, a televisão já passou por várias mudanças. Alem da cor, que a deixou muito mais atraente ainda na década de 1950, também aumentou o número de canais, originando as primeiras escolhas do telespectador. Com o aumento dos canais, o controle remoto tornou-se necessário, dispensando a locomoção e aumentando o conforto de quem assiste; era o primeiro componente digital integrado aos aparelhos receptores do sinal televisivo. (MONTEZ; BECKER, 2005, p. 22). Desde dezembro de 2007 a televisão brasileira vivencia uma nova evolução, com a inauguração do processo de implantação do Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre (SBTVD-T), através do início da transmissão em sinal digital em São Paulo. Atualmente a transmissão digital é realizada em 23 cidades brasileiras e quatro países da América Latina já anunciaram a adoção do padrão brasileiro de TV Digital para suas transmissões: Argentina, Peru, Chile e Venezuela. As negociações comandadas pelo Governo brasileiro através do Ministério das Comunicações estão adiantadas e prosseguem com outros dois países: Equador e Cuba. (MINISTÉRIO das Comunicações, 2009). Trata-se também de uma fase de realização de pesquisas nas áreas tecnológicas, engenharias de computação, informática e de informação e comunicação, bem como, um período de expectativas, sobretudo por parte dos telespectadores, em conhecer na prática o que muda com a chegada desta televisão renovada. CRUZ (2008), lembra que durante o período de transição do analógico para o digital, os dois sistemas de transmissão irão conviver conjuntamente. 1121 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP O consumidor não precisa mudar imediatamente de equipamento. Durante esse período, seu aparelho antigo continua a funcionar. Quem não quer comprar um televisor novo, mas mesmo assim desfrutar da nova tecnologia, tem a opção de comprar um conversor, o set-top-box, que, apesar de não garantir toda a qualidade da imagem digital nos televisores de tubo, dará acesso a recursos como multiprogramação e interatividade, se estiverem disponíveis. (CRUZ, 2008, p. 18). Por enquanto a divulgação midiática sobre a TV digital (TVD) tem-se concentrado na mudança que ocorre na qualidade da imagem e áudio. Através da transmissão em HDTV - Televisão de Alta Definição (do inglês: High Definition Television) a imagem perde antigos problemas como ruídos indesejáveis e as interferências - popularmente conhecidas como ‘chuviscos’ e ganha estabilidade, pureza e melhor nitidez. A transmissão e recepção em HDTV permite ao usuário visualizar com muito mais qualidade uma imagem em tela 16:9 (widescreen) com 1080 linhas de resolução (Full HD), ao contrário da imagem recebida por transmissão analógica em aparelhos mais antigos com a proporção 4:3 de tela e 480 linhas de resolução. De acordo com o cronograma estabelecido pelo Ministério das Comunicações, até 2013 o sinal digital estará cobrindo todo o país. Já o desligamento do sistema analógico está previsto para 2016. A equação da televisão digital envolve o funcionamento afinado dos elementos produtores de conteúdo, plataformas de distribuição, fabricantes de equipamentos industriais e domésticos e regulamentadores, com vistas na conquista do receptor, sem o qual uma mídia não se configura efetivamente. (BOLAÑO e BRITTOS, 2007, p. 26). Em síntese a TV Digital é caracterizada pela mobilidade, portabilidade, multiprogramação e interatividade. Assuntos ainda pouco discutidos na imprensa brasileira, e por isso ainda desconhecidos do público. Entretanto, são 1122 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP objetos de estudos em inúmeras pesquisas acadêmicas e em laboratórios de empresas de informática e de comunicação. Dentre os recursos que poderão ser disponibilizados pelos conversores interativos na televisão, estão o acesso às informações extras do conteúdo exibido, ao guia de programação da emissora, à internet e aos serviços de governo (t-gov), jurídicos, bancários (tbanking), compras (t-commerce), trânsito, meteorologia, entre outros. Com relação a interatividade, foi criado no Brasil uma tecnologia própria, o middleware Ginga, desenvolvido nos laboratórios da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e no Laboratório de Aplicações de Vídeo Digital (LAVID) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), onde são experimentadas aplicações para a interatividade. Já no interior de São Paulo, na cidade de Bauru, pesquisas sobre TV Digital estão sendo realizadas desde 2008 pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), através do Mestrado Profissionalizante em Televisão Digital: Informação e Conhecimento. Diante deste contexto e refletindo sobre a divulgação de informações sobre o meio ambiente, a TV Digital Interativa (TVDI) abre um enorme leque de possibilidades. Serão novos espaços na tela disponibilizados para se editar informações detalhadas, imagens ao vivo, glossário, links para reportagens, entrevistas especiais, áreas para participação do telespectador (interagente), tudo ao alcance do controle remoto, e com recurso de navegação parecidos com os da internet na tela da TV. Num contexto amplo, os recursos da TVDI deverão ajudar na melhoria do exercício do jornalismo ambiental e científico, criando condições favoráveis para a ampliação das discussões ainda pouco visíveis na imprensa atual e podendo assegurar o debate na esfera pública de temáticas preteridas pelos tradicionais meios de comunicação, mas que são cada vez mais essenciais na busca de qualidade de vida, do uso sustentável dos recursos naturais e para o progresso social, político e econômico. 4.1. Século XXI: Mudanças Climáticas na crista da onda 1123 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP É preciso abandonar o velho hábito de considerar o meio ambiente, e agora especificamente a questão climática, como um assunto à parte das grandes decisões. Essa agenda deve estar no centro do debate do desenvolvimento. Jornalista Washington Novaes, (MUDANÇA Climática, 2009). Nos últimos anos foram divulgados os resultados e apontamentos de pesquisas científicas - alicerçadas por diversas metodologias - que confirmaram em uníssono as transformações irreversíveis no planeta terra provocadas pelas mudanças climáticas devido ao aquecimento global. Uma das primeiras ações efetivas em busca da redução dos efeitos do aquecimento global foi a assinatura do Protocolo de Kyoto, um tratado que começou a ser discutido na Eco-92 e que culminou na assinatura de diversos países do compromisso em agir para a redução dos índices de emissão de gases tóxicos na atmosfera. “Diante da efetivação do Protocolo de Kyoto, metas de redução de gases foram implantadas, algo em torno de 5,2% entre os anos de 2008 e 2012. O Protocolo de Kyoto foi implantado de forma efetiva em 1997, na cidade japonesa de Kyoto, nome que deu origem ao protocolo.”, (BRASIL Escola). Em 2006 o economista britânico Nicholas Stern, afirmou em relatório feito sob encomenda do governo britânico que as mudanças climáticas apresentam riscos globais muito sérios e demandam uma resposta global urgente: “As nossas ações durante as próximas décadas poderão criar riscos de grave perturbação para a atividade econômica e social, no final deste século e no próximo, a uma escala semelhante às associadas com as grandes guerras e a depressão econômica da primeira metade do século XX.”, (Relatório Stern, 2006). Um ano depois, as previsões apresentadas pelo Painel Intergovernamental de Estudos sobre Mudanças Climáticas (IPCC – na sigla 1124 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP em inglês) através do quarto relatório - o mais recente até a conclusão deste artigo - mostraram que até o fim do século XXI a temperatura na terra poderá subir entre 1,8 e 4,0˚C; Até 2100, o nível dos oceanos deverá aumentar de 18 a 59 centímetros, o que pode desabrigar cerca de 200 milhões de pessoas; O encolhimento das geleiras ameaçará o suprimento de água para, pelo menos, 50 milhões de pessoas. O IPCC é uma agência especializada da ONU. É considerado a autoridade científica máxima que assessora as Partes à Convenção do Clima2. Os estudos contam com a participação de cientistas de diversos países, entre eles o Brasil. As projeções revelam que as conseqüências do agravamento do aquecimento global são aparentes em nível planetário e em nível local, variando de região para região. A vulnerabilidade das sociedades humanas e dos sistemas naturais às condições climáticas extremas é percebida através dos danos e mortes ocasionados com o aumento das ocorrências de chuvas, secas, ondas de calor, avalanches, furações, tsunamis e tempestades. As evidências existentes (...) – particularmente, o aumento da temperatura – já afetaram um conjunto de sistemas físicos e biológicos em diversas partes do mundo. Os exemplos incluem o encolhimento das geleiras, o derretimento parcial de camadas de gelo permanente, o congelamento tardio e descongelamento precoce do gelo em rios e lagos, o declínio das populações de algumas plantas e animais, a antecipação da floração de algumas árvores, do surgimento de insetos e da postura de ovos de algumas aves”. (CLIMATE Change 2001, apud TRIGUEIRO, 2005, p. 234). Preocupados com a maneira com que os assuntos ligados ao clima vem sendo tratados e divulgados pela imprensa, em 2008, a Agência de Notícias 2 Entre 07 e 18 de dezembro de 2009 será realizado em Copenhagen, na Dinamarca, a 15ª Conferência das Partes (COP-15) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima. Será uma das mais importantes reuniões entre governos de todo o mundo. “Olhares atentos de todas as nações seguirão os passos dos negociadores reunidos na COP 15, ansiosos por um consenso em torno de um acordo global ambicioso para o período pós-2012. Espera-se que esse acordo faça com que a Convenção atinja seu objetivo maior que é a estabilização das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera em níveis que permitam evitar interferências perigosas sobre o sistema climático global. (RITTL, 2009). 1125 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP dos Direitos da Infância (ANDI) e a Embaixada Britânica divulgaram uma pesquisa até então inédita no Brasil: ‘Mudanças Climáticas na Imprensa Brasileira: Uma análise dos 50 jornais no período de julho de 2005 a junho de 2007’. O trabalho apresentou informações sobre como os principais jornais impressos do país abordaram o tema mudanças climáticas, bem como analisou os pontos positivos e negativos da cobertura, evidenciando lacunas e possibilidades de melhoria. Os resultados do estudo mostram um crescimento expressivo da cobertura sobre mudanças climáticas a partir do último trimestre de 2006, especialmente nos jornais nacionais e de cunho econômico. A partir da pesquisa, a ANDI passou a (www.mudancasclimaticas.andi.org.br) coordenar um voltado para portal na jornalistas, internet com a divulgação e explicação dos fenômenos climáticos. Em entrevista ao site, o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), José Marengo, ressaltou o amadurecimento da cobertura, que teve como ponto de partida a divulgação do quarto relatório do IPCC, em 2006. Segundo ele, a atenção aos assuntos nacionais teve como base iniciativas importantes a exemplo do lançamento do Plano Nacional sobre o Clima, e ações de combate ao desmatamento. (MUDANÇAS Climáticas, 2009). No segundo semestre de 2009 a ANDI e a Embaixada Britânica no Brasil publicaram a segunda etapa do monitoramento de 50 jornais de 26 estados brasileiros e do Distrito Federal, com dados colhidos entre julho de 2007 a dezembro de 2008. Em síntese, os resultados mostram que aumentou a cobertura do tema mudanças climáticas com foco na realidade nacional. De acordo com o estudo, dentre as matérias que se prendem a localidades específicas, as referências ao contexto brasileiro aumentaram de 42,7%, no primeiro período analisado, para 72,3%. Outro dado que mostra uma abordagem mais ligada à realidade nacional diz respeito à percepção sobre as responsabilidades dos governos estrangeiros e as que cabem ao Brasil. No período de 2005 a 2007, líderes de outros países eram vistos como os principais responsáveis por apresentar respostas ao problema (24%). Já na segunda fase da 1126 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP investigação essa demanda foi transferida para o Executivo brasileiro (32,2%). (MUDANÇAS Climáticas, 2009). Sobre a pesquisa, o jornalista Adalberto Marcondes, diretor da Agência de Notícias Envolverde (www.envolverde.com.br), afirmou que em relação a cobertura brasileira “existe uma melhora nos últimos anos com trabalhos que muitas instituições estão realizando. (…) Porém, é preciso ir além do editor e do repórter. (…) Ainda não conseguimos envolver os diretores de jornais, de televisão, por exemplo. (…) Infelizmente, esse alto escalão enxerga o jornalista que trabalha com a pauta ambiental como eco-chato”, explica Marcondes. Este é um problema generalizado. Um trabalho publicado em agosto de 2009, confirma que apesar do número crescente de jornalistas monitorando as políticas públicas relativas ao clima, as notícias não aprofundam o tema. A pesquisa ‘Tempo para adaptar?’ (do inglês, Time to Adapt?) foi comandada pelo jornalista britânico, Mike Shanahan, coordenador de comunicação do International Institute for Enviromment (IIE), ele fez uma análise da cobertura em países em desenvolvimento. Ao pesquisar o comportamento da mídia em diversos países no segundo semestre de 2008, podemos concluir que o tema mudança climática está cada vez ganhando mais espaço. Entretanto, mesmo com os avanços alcançados até agora, ainda há um longo caminho a ser trilhado. O desafio de ampliar o agendamento desse tema persiste, assim como o de garantir a qualidade do conteúdo jornalístico, destaca Shanahan. (MUDANÇAS Climáticas, 2009). 5. Luz solar para a educação: O papel do Jornalismo ambiental brasileiro “ninguém educa ninguém, mas ninguém se educa sozinho”. Educador Paulo Freire. (FREIRE, apud Barredo, 2004, pg. 59) Nos dias atuais, a comunicação como instrumento de proliferação da informação ganha um novo fôlego com a plataforma digital. A acumulação e geração de conhecimento vem assegurar a inovação e o desenvolvimento 1127 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP social. Entretanto, não é mais possível perder de vista as premissas sustentáveis e ecológicas que devem acompanhar todo modelo de gestão, seja ele familiar, econômico ou político. Neste contexto temos o processo educacional contemporâneo, em que a convergência midiática passa a ser uma realidade cada vez mais tangível através do uso da informática, da internet e da futura utilização da televisão digital. Aqui cabe uma breve reflexão sobre o papel da educação na sociedade brasileira. De acordo com o professor Carlos Brandão, a educação é parte integrante do universo social da cultura. Segundo ele, cabe a educação “a tarefa de participar de todo o trabalho de criação de pessoas não apenas capacitadas para o trabalho produtivo segundo as leis do mercado, mas pessoas educadas para serem agentes críticos e criativos na criação de seus próprios mundos sociais. Sujeitos de suas vidas, atores de sua história”, (BRANDÃO, 2001, pg. 18). Nessa perspectiva e tendo por base o papel do jornalismo ambiental e as perspectivas de divulgação com a chegada da TV digital brasileira, é possível apontar como primeiros passos a geração e experimentação de pesquisas acadêmicas e de mercado, e a construção de conteúdos para a TVD que promovam a educação. É mediante o uso da interatividade, proporcionada através do canal de retorno da televisão digital que pode-se pensar em novas formas de ensino e de aprendizagem, exatamente como nas palavras de Paulo Freire (apud CASTRO, 2008, p. 177): “No mundo em mudanças que vivemos, estamos nos educando. O saber se faz por meio da superação constante”. O período é de transição entre o sistema analógico e o digital. Nestes tempos de convergências culturas e midiáticas, as Tecnologias de Informação e Conhecimento (TIC) possuem papel fundamental para a redução da exclusão digital, das diferenças sociais, econômicas e até mesmo nos níveis de acesso de aprendizado. “Da mesma forma elas [as TIC] exercem importante papel no intuito de reduzir as chamadas brechas digitais e possibilitar a democratização do aprendizado e o acesso ao conhecimento” (CASTRO, 2008, p. 178). 1128 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP Como forma de inclusão social, democratização da comunicação e da informação, a EaD (educação a distância) é uma potente ferramenta, mas que precisa do desenvolvimento de políticas públicas para o setor. Por EaD entende-se o processo de ensino-aprendizagem semipresencial mediado, nesse caso, pela tecnologia digital, e que pode representar uma verdadeira revolução no processo educacional. Já utilizado via web, a EaD tem seu potencial discutido para a TV Digital, e no sentido da educação ambiental, pode ser um caminho inovador e eficaz para o fomento de programas voltados para a disseminação de informações sobre o meio ambiente e a preservação da natureza. Diferentemente das demais editorias jornalísticas, o jornalismo ambiental trabalha assumidamente de maneira parcial, na medida em que denuncia crimes ambientais, fiscaliza as ações (ou a falta delas) dos gestores públicos ligados a causa ambiental, publica informações em benefício da qualidade de vida da população, entre outros assuntos ligados de forma direta ou indireta ao ‘guarda-chuva’ de conteúdos relativos ao meio ambiente. Desde 2003, os jornalistas brasileiros contam com o direito de ter acesso público aos dados e informações ambientais, assegurado pela lei nº 10.650/03. Os órgãos e as entidades da administração pública integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente são obrigados, por lei, a abrir a ‘caixa-preta’ para os jornalistas. Por sua vez, a população brasileira tem o direito de receber educação ambiental através das escolas. De acordo com a lei nº 9.795/99, que instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental, um dos objetivos primordiais desta educação é a garantia da democratização das informações ambientais (artigo 5º, inciso III), numa demonstração de uma relação direta entre educação ambiental e jornalismo. (BERMONTE, 2004). A prática do jornalismo ambiental ainda enfrenta muitos desafios no Brasil. Jornalistas que querem se aprofundar no assunto muitas vezes são boicotados nas empresas de comunicação. As temáticas ambientais já 1129 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP conquistaram muitos espaços, mas ainda hoje, costumam ser relegadas em troca das notícias ligadas ao modelos de produção e consumo em que vivemos. Mas é preciso buscar alternativas, principalmente porque é através do jornalismo ambiental que se tem a possibilidade de tornar público informações atualizadas sobre a degradação do meio ambiente e como agir para fazer a diferença num mundo marcado pela exploração indevida dos recursos naturais e pelo consumismo desenfreado. O jornalismo ambiental deve funcionar como uma fonte, ou metaforicamente como a luz do sol que vai iluminar e atualizar as ações de educação ambiental nas salas de aula de crianças, jovens e adultos, numa via de mão dupla, em que quanto mais se solidifica a educação ambiental, mais reflexos serão produzidos para a produção de um jornalismo ambiental aprofundado. Para BELMONTE, diante da crise ecológica, a imprensa também precisa assumir a responsabilidade de educar e transformar. Já BELTRÃO (2006) ressalta que a função da imprensa, não é informar pura e simplesmente sobre fatos e idéias em curso na sociedade mas também examiná-los à consideração pública; propor soluções, estabelecer e fundamentar ensinamentos deles extraídos. O jornalismo ambiental não pode ser apenas informativo, tem de estar engajado em um modelo de vida sustentável do ponto de vista ecológico e social. O que no contexto da implantação da Televisão digital brasileira e de suas possibilidades de comunicação interativa, torna ainda mais emergente a busca por soluções que possam contribuir para o processo de divulgação jornalística ambiental aliado ao ensino. Considerações finais Num país como o Brasil, onde a televisão determina o que é notícia, ou como destaca Eugênio Bucci (apud FISCHER, 2003, pg. 20), “o que é invisível para as objetivas da TV não faz parte do espaço público brasileiro”, espera-se 1130 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP que com a implantação e popularização da Televisão digital, os espaços para a cobertura de temas ligados ao meio ambiente se proliferem, tanto nas emissoras comerciais, quanto – e principalmente - nas emissoras públicas e educativas. Com as inovações tecnológicas e as possibilidades de interatividade com o espectador, o potencial da TV enquanto instrumento para a educação ambiental aumentará, sendo um integrante fundamental no processo de ensino-aprendizagem e na conscientização em escolas e nas comunidades. Este artigo propôs um caminho para reflexão sobre a utilidade do jornalismo ambiental como uma ferramenta multiuso: para transformação de hábitos sociais, políticos e econômicos, para a conscientização sobre a preservação da natureza, para o cuidado com os animais, para a proliferação de atitudes ecologicamente corretas e, principalmente, para a fiscalização das decisões e ações governamentais no Brasil e no mundo no que diz respeito aos impactos ambientais e ao planejamento de políticas públicas que valorizem, entre outras coisas, o saneamento básico nas cidades, a limpeza e preservação das riquezas naturais (rios, lagos, praias, florestas, etc.), a destinação do lixo, a economia de energia elétrica e de água, e o incentivo ao desenvolvimento das energias renováveis, além das demais áreas ambientais que necessitam de tempo e espaço na mídia para ganharem a esfera pública e se tornarem temas do cotidiano das pessoas. É um longo processo de mudança comunicacional e cultural, em que a televisão digital brasileira poderá ter papel determinante. Para concluir, é importante deixar registrado que o presente trabalho está inserido no contexto de produção da pesquisa de mestrado desta autora, cujo projeto é focado no papel do telejornalismo na divulgação de assuntos relacionados à meteorologia no Brasil, bem como sobre o que pode mudar com as novidades possibilitadas pelo SBTVD-T neste quesito. A intenção é que os conhecimentos fixados através deste artigo e sua apresentação e publicação no I Simpósio Internacional de Televisão Digital incentive novas pesquisas nos 1131 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP campos do jornalismo ambiental e da televisão digital brasileira, áreas do conhecimento ainda carentes de dados e reflexões no Brasil. Referências Bibliográficas BELMONTE, Roberto Villar. Cidades em Mutação – Menos catástrofes e mais ecojornalismo. 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