HO CHI MINH

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“HO CHI MINH” ¿ ES TIGRE o ES POETA ?
(“El que ilumina”)
Por Augusto C. Buonicore
“É preciso armar de aço os versos do nosso tempo”.
Ho Chi Minh
Há 40 anos, no dia 3 de setembro de 1969, em plena ofensiva
revolucionária, morreu o presidente Ho Chi Minh. A dor causada pela
morte do velho líder derrubou as fronteiras impostas pelo imperialismo e,
naqueles dias de luto e luta, o Vietnã passou a ser um só povo, um só país.
Antes de morrer Ho havia escrito: “Após a minha morte é preciso evitar a
organização de grandes funerais para não desperdiçar o dinheiro e nem o
tempo do povo”. Mas, desta vez, o povo não atendeu seu pedido e lhe
prestou uma grande homenagem. Em Hanói centenas de milhares de
pessoas acompanharam seu funeral. E o poema que um dia dedicara a
Lênin poderia muito bem lhe servir de epitáfio: “Agora ele converteu na
brilhante estrela que nos ilumina o caminho da revolução socialista”.
A Indochina tem sido há milênios palco de lutas encarniçadas entre
colonizadores e colonizados. No século XVI a Europa descobriu suas
potencialidades econômicas. Primeiro vieram os portugueses e espanhóis,
depois os franceses. Diante da resistência crescente dos povos da região,
Napoleão III adotou uma política mais agressiva. Em 1897, a Indochina já
estava “pacificada”, se transformando num protetorado francês além-mar.
A opressão colonial, no entanto, aguçava o espírito nacionalista e
revolucionário do povo vietnamita. Neste período o centro da resistência
aos colonizadores estava localizado na província de Nghe Thim. Seria ali
que nasceria, no dia 19 de maio de 1890, Nguyen Sinh Cung, que mais
tarde seria mundialmente conhecido como Ho Chi Minh.
A juventude de Nguyen foi marcada pela aventura. Aos vinte anos de
idade matriculou-se numa escola de marinheiros e viajou pelo mundo afora.
Esteve, inclusive, no Brasil. No ano da Revolução Russa, 1917, instalou-se
em Paris, alterou seu nome para Nguyen Ali Quoc (o patriota) e entrou em
contato com o movimento socialista. Após ler as teses de Lênin sobre a
questão colonial e nacional passou a nutrir uma profunda admiração pelo
líder revolucionário russo. “Queridos compatriotas, escreveu ele, era disso
que necessitávamos, este é o caminho da nossa libertação”.
Três anos depois participou como delegado no Congresso do Partido
Socialista Francês em Tours, no qual defendeu intransigentemente posições
internacionalistas e criticou as posições vacilantes dos socialistas diante da
questão colonial, apontando para a necessidade de unificar a luta dos
operários pelo socialismo e a luta dos povos colonizados pela sua libertação
nacional. Neste congresso nasceu o Partido Comunista da França e o jovem
Nguyen se tornou um dos primeiros comunistas da Indochina.
Em fins de 1923 dirigiu-se a URSS, chegando em Moscou poucos
dias após a morte de Lênin, que aprendera a respeitar ainda que de tão
longe. Pelas páginas do Pravda demonstraria toda sua tristeza: “Lênin
morreu! A notícia golpeou cada um de nós, como um raio ela se espalhou
pelas ricas planícies da África e pelos verdes arrozais da Ásia. Os negros e
os amarelos, é verdade, não sabem ainda com exatidão quem é Lênin nem
onde fica a Rússia. Tudo fizeram para impedi-los de saber. No entanto, foi
passando de boca em boca que numa longínqua região do mundo, existe
um povo que soube derrotar seus exploradores e que agora dirige ele
mesmo seus assuntos sem precisar de patrões nem de governos gerais.”
Na Rússia participou ativamente do V Congresso da Internacional
Comunista e foi logo após foi enviado à China para assessorar o
Kuomitang – frente político-revolucionária composta de nacionalistas e
comunistas. Ali organizou o Thanh Nien (Associação da Juventude
Revolucionária do Vietnã), embrião do futuro Partido Comunista da
Indochina. Durante a repressão desencadeada pelas tropas de Chiang Kaishek contra os comunistas chineses, a direção do Thanh Nien se transferiu
para Hong-Kong e Nguyen retornou a Europa.
No ano de 1929 delegados do Thanh Nien de todo o Vietnã se
reuniram para discutir o futuro da organização e sua possível transformação
em um partido de tipo leninista. Mas, divergências de ordem regionais
levaram a uma cisão do Congresso e ao surgimento de dois partidos
comunistas. Nguyen foi destacado para mediar o conflito e tentar a
unificação destas diversas organizações em um único partido. Em fevereiro
de 1930 realizou-se, sob sua coordenação, uma reunião na qual se decidiu
pela unificação e criação de um Partido Comunista da Indochina unitário.
O avanço da esquerda na França, que culminou com a vitória da
Frente Popular, trouxe novas esperanças para luta revolucionária no sudeste
asiático. O governo francês decretou anistia e a legalizou do PC da
Indonésia. Reascendeu-se, assim, o movimento de massas pela
independência no qual os comunistas eram vanguarda. Mas, o período
democrático durou pouco, pois com a queda do governo da Frente Popular,
em 1939, uma violenta repressão desceu sobre o povo do Vietnã e o Partido
Comunista foi colocado novamente na legalidade.
A China foi ocupada pelo Império japonês, aliado da Alemanha e
Itália fascistas. Ho foi enviado novamente para assessorar as tropas
nacionalistas e comunistas. Em 1940, quando seu próprio país foi ocupado,
retornou para comandar a resistência armada e criou a Liga pela
Independência do Vietnã, o Viet Minh - uma ampla frente antiimperialista.
No ano seguinte, quando retornou a China para estabelecer uma
estratégia comum de luta contra a intervenção do Japão na região, acabou
sendo preso pelas tropas de Chiang Kai-shek e passou quinze meses na
prisão. Segundo ele: “os piores anos da sua vida”. Para não morrer escrevia
poemas, que mais tarde seriam organizados sob o título Poemas do cárcere.
Escreveu: “Se não houvesse o luto, a morte, o frio do inverno, / quem
reconheceria o sol da primavera? / O acaso conduziu-me aos fornos da
desgraça/ para fazer-me forte e de consciência rija”. Naqueles anos muitos
acreditaram que ele estivesse morto, mas eis que reapareceu à frente do
Viet Nihn. Nguyen – Seu nome agora era Ho Chi Mihn, que significava:
“aquele que ilumina”.
Em 1945 a situação militar mais favorável permitiu a unificação dos
diversos agrupamentos guerrilheiros do Vietnã num Exército de Libertação
Nacional. No dia 23 de agosto os revolucionários tomaram Saigon e dois
dias depois todo o país estava nas mãos do povo em armas. A revolução
triunfara e Ho Chi Minh foi proclamado presidente. Na prisão havia
escrito: “Aqueles que saem da prisão podem reconstruir um país... / O
verdadeiro dragão voará para fora”.
O imperialismo não permitiria que o Vietnã escapasse facilmente de
suas mãos. Por isso fez de tudo para recuperá-lo. Em novembro de 1946 o
exército francês assassinou cerca de seis mil vietnamitas e se reiniciou a
guerra pela independência. Naqueles anos os ventos sopravam a favor da
revolução asiática.
No final de 1949 a revolução antiimperialista na China saiu vitoriosa
e os países sob hegemonia socialistas, encabeçados pela URSS, passaram a
reconhecer oficialmente o governo de Ho Chi Minh. Estes fatos dão grande
impulso à luta de libertação do povo do Vietnã e, em 1954, já havia sido
retomado mais da metade do país. Neste mesmo ano ocorreu a maior
batalha da guerra de independência em Dien Bien Phu, quando as tropas
francesas foram definitivamente derrotadas. A revolução, novamente,
vencia seus algozes. Afirmou Ho Chi Minh: “Para resistir aos aviões
canhões de inimigos, tínhamos somente lanças de bambus. Mas nosso
Partido era um Partido marxista-leninista, não enxergávamos apenas o
presente, mas também o futuro e depositávamos confiança nas forças do
nosso povo”.
Uma conferência, realizada em Genebra, aprovou um acordo de paz
que estabeleceu a divisão do Vietnã e marcou eleições gerais, visando a
unificação do país. Embora o presidente Ho soubesse que a resolução não
era boa para o Vietnã ela, pelo menos, permitia uma trégua que seria
benéfica para as forças revolucionárias e a reconstrução do Vietnã do
Norte, destruído pelos longos anos de guerra.
O presidente Ho era um homem simples, sempre trajava seu velho
uniforme caqui, sem divisas, e sandálias de camponês. Seu corpo, talhado
nas grutas e florestas do seu Vietnã, não se adaptava facilmente ao palácio
presidencial e preferia passar seus dias numa cabana de jardineiro. Todos
queriam conhecer o presidente camponês e ele passava horas conversando
com delegações de trabalhadores e, pacientemente, lhes explicava os
objetivos da revolução.
A tão esperada eleição para a unificação do país não se realizou e
logo se reiniciaram as provocações nas fronteiras do Vietnã do Norte. Em
1960 nacionalistas e comunistas do sul fundaram a Frente de Libertação
Nacional, seus membros passariam a ser chamado pejorativamente de Viet
Kongs. Cresceu o movimento democrático e nacional pela unificação do
país, a situação do Vietnã do Sul se tornou insustentável e os EUA tiveram
que aumentar seu envolvimento militar. Assim teve início um dos conflitos
mais sangrentos da segunda metade do século XX e ao mesmo tempo uma
das páginas mais belas da história da resistência dos povos por sua
libertação.
Em 1968 o movimento contra a intervenção norte-americana do
Vietnã atingiu seu auge. Nas manifestações que a juventude rebelada
realizou nas ruas da França, Alemanha e Brasil podiam ser vistas fotos do
velho líder revolucionário vietnamita. A partir de então o governo norteamericano, isolado politicamente, começou a realizar uma lenta e gradual
retirada de tropas do Vietnã.
No dia 3 de setembro de 1969, em plena ofensiva revolucionária,
morreu o presidente Ho Chi Minh. A dor causada pela morte do velho líder
derrubou as fronteiras impostas pelo imperialismo e, naqueles dias de luto
e luta, o Vietnã passou a ser um só povo, um só país. Antes de morrer Ho
havia escrito: “Após a minha morte é preciso evitar a organização de
grandes funerais para não desperdiçar o dinheiro e nem o tempo do povo”.
Mas, desta vez, o povo não atendeu seu pedido e lhe prestou uma grande
homenagem. Em Hanói centenas de milhares de pessoas acompanharam
seu funeral. E o poema que um dia dedicara a Lênin poderia muito bem lhe
servir de epitáfio: “Agora ele converteu na brilhante estrela que nos ilumina
o caminho da revolução socialista”.
No dia 30 de abril de 1975 as tropas da Frente Nacional de
Libertação irromperam vitoriosas em Saigon. No dia seguinte, 1º de maio,
milhões de pessoas saíram às ruas do Vietnã para comemorar o dia
internacional do trabalho e a libertação definitiva do país. No alto dos
edifícios, sobre as selvas e grutas passou a tremular a bandeira vermelha
com uma estrela dourada de cinco pontas, a bandeira da revolução, a
bandeira de Ho Chi Minh.
Numa prisão chinesa havia escrito: “Uma noite sem dormir. Duas
noites. Três noites/ Impossível dormir! Agito-me, angustiado. / Quarta
noite, quinta noite. Será sonho? Vigília? / Cinco pontas de uma estrela
enrolam em meus pensamentos”. Naqueles dias da libertação os sonhos do
velho líder se transformaram em História.
* Esse artigo foi publicado originalmente no Sítio Vermelho quando
dos 115 anos do nascimento de Ho Chi-minh
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