PADRÕES FENOLÓGICOS EM POPULAÇÕES DE ESPÉCIES

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PADRÕES FENOLÓGICOS EM POPULAÇÕES DE ESPÉCIES ARBÓREAS DE
CERRADO.
Aluna: Josimara Rondon
RA 990156 / UNICAMP
Professor: Flavio Antonio Maës dos Santos
Disciplina: Ecologia de populações de plantas
Código: NT 238
Na maioria das espécies arbóreas de cerrado o crescimento é periódico e sazonal.
Embora predomine o hábito sempre verde, o hábito decíduo ou semidecíduo é freqüente, com
a renovação das folhas ocorrendo na estação seca (Miranda 1995, Oliveira 1998, Batalha &
Mantovani 2000). A floração em algumas espécies pode ser vista ao longo do ano inteiro
sendo que na maioria ocorre na estação seca (Frankie et al. 1974, Miranda 1995), fato
importante porque a herbivoria nesta época seria menos intensa. Isto acabaria selecionando a
ocorrência de rebrotas sincronizadas durante a estação seca, enquanto que as condições mais
favoráveis para a transferência de pólen e a maior disponibilidade de polinizadores
selecionariam para floração sazonal e sincronizada nesta estação.
Espécies de cerrado, como aquelas de outras formações savânicas sob climas
estacionais, apresentam variações sazonais no que diz respeito à produção de folhas, flores e
frutos, que representam adaptações a fatores bióticos e abióticos (van Schaik et al. 1993).
Estas adaptações se dão por características funcionais ou estruturais, as quais são estudadas
pela fenologia. Contudo, alguns pesquisadores têm postulado que a limitação sazonal do
período de floração e os padrões fenológicos são determinados filogeneticamente ou seja por
restrições filogenéticas e fortemente influenciados pela forma de vida, sendo independentes de
fatores bióticos ou abióticos como a precipitação (Wright & Calderon 1995).
Trabalhos ligados a estudos de padrões fenológicos de espécies arbóreas de cerrado
como o de Bulhão & Figueiredo (2002) que teve como objetivo descrever os padrões
fenológicos em espécies filogeneticamente mais relacionadas entre si e tentar identificar as
causas da periodicidade dos eventos fenológicos em espécies arbóreas submetidas a
sazonalidade marcante (estação seca). Durante dois anos, em uma área particular de cerrado,
foram estudadas algumas espécies de leguminosas arbóreas. Eles verificaram através de
acompanhamento das fenofases de algumas espécies de leguminosas que tanto a floração
quanto os padrões fenológicos não apresentaram restrições filogenéticas, pois as plantas
observadas aparentemente estariam adaptadas às condições abióticas e bióticas do cerrado.
Bulhão e Figueiredo (2002) distinguiram três padrões fenológicos nas leguminosas
quanto a distribuição temporal dos eventos fenológicos como renovação das folhas, floração,
frutificação e dispersão dos frutos em: floração na estação chuvosa, floração tardia e precoce
na estação seca. O único padrão constante foi o da dispersão que ocorreu predominantemente
na estação seca provavelmente porque a germinação e estabelecimento de plântula estará
garantida com o início da estação chuvosa seguinte.
Em geral, a floração na seca ocorre após a abscisão das folhas e quebra de dormência
dos meristemas apicais da parte aérea das plantas, coincidindo com a retomada do
crescimento. Essas seqüências de eventos fenológicos durante a seca é um padrão típico de
espécies arbóreas decíduas de savanas e cerrados (Opler et al. 1980, Miranda 1995) ficando
evidente que a floração ou a antese seja induzida por reidratação devido a redução da
transpiração (Borchet 1994). A floração na primavera durante a seca parece ser o padrão
principal da vegetação arbórea do cerrado e das savanas de latitudes próximas ao Equador
(Sarmiento & Monastério 1983, Miranda 1995). Em latitudes mais ao Sul como nos cerrados
do Planalto Central (Oliveira 1998) e do sudeste (Batalha & Mantovani 2000) a floração na
primavera coincide com as chuvas. Esse fato sugere que a floração independe do regime de
chuva da região e que a indução floral ocorre por causa de outros fatores (fotoperíodo,
dormência, abscisão de folhas).A sincronização na floração após o brotamento foliar de
algumas espécies, também pode ser considerado um fator indicativo de padrão fenológico,
como ocorre em Copaifera langsdorffii, Dimorphandra mollis e Campomanesia pubescens.
Contudo, segundo Batalha et al. (1997) outras espécies arbóreas não foram encontradas no seu
estádio reprodutivo na época de coleta, o que sugeriu a reprodução vegetativa como meio de
perpetuação das espécies no local de estudo. Pensava-se que os padrões sazonais de
desenvolvimento de árvores tinham uma alta correlação com a quantidade de água presente na
árvore e com a variação sazonal, estando indiretamente relacionado com a disponibilidade de
água no ambiente. Contudo, com base nos dados de Reich & Borchert (1984), 40 espécies
arbóreas foram distribuídas em 3 classes de padrões fenológicos de desenvolvimento que
foram aplicadas inicialmente às florestas tropicais secas:
Classe A: árvores decíduas com sincronismo na quebra de dormência de botão e
brotamento foliar entre indivíduos dentro de uma população;
Classe B: árvores decíduas sem sincronia nos eventos fenológicos;
Classe C: árvores sempre-verdes ou com eventual troca de folhas.
Estas classes representam uma série de padrões de desenvolvimento refletindo uma
diminuição no estresse hídrico nas árvores durante a estação seca, havendo uma diminuição
no controle do tempo de desenvolvimento da árvore, sendo este controle causado pela seca,
resultando na transição de um hábito marcadamente decíduo para um hábito sempre-verde
(Reich 1995). Diante desta linha de pensamento sobre a disponibilidade de água e a
capacidade de armazenamento da mesma em condições de solo ou em estruturas vegetais
atuarem no padrão fenológico, Kikuzawa (1991) elaborou um modelo de custo-benefício para
explicar os padrões de longevidade foliar em árvores de clima temperado com relação a
periodicidade climática, baseada na idéia de otimização de ganho de carbono oriundo de
clareira em floresta temperada. O modelo consiste em vários parâmetros da folha: razões e
estrutura fotossintéticas, custos de construção foliar e de manutenção. O autor ampliou o
modelo para ambientes sazonais onde períodos favoráveis ou não para a fotossíntese se
alternam dentro de um ano (este modelo foi aplicado primeiramente tanto em florestas
temperadas quanto em florestas tropicais). O modelo presume que toda árvore será sempreverde em um ambiente constantemente favorável, mas com a diminuição do comprimento
relativo do período favorável o modelo prediz que haverá aumento no número de espécies
decíduas até um limite, no qual ocorrerá alterações quanto a presença ou não de folhas na
copa.
A associação do período de atividade aos níveis de intensidade de uma fenofase, além
de facilitar a análise e a interpretação do comportamento fenológico da espécie, pode
representar um importante papel nas pesquisas sobre interações animal-planta, pois combina
informações de sincronia e quantidade. Heideman (1989) constatou que a proporção de
indivíduos (índice de atividade) em floração ou frutificação nem sempre é um bom preditor do
volume de flores ou indivíduos produzidos (i.e. da intensidade da fenofase) o que ressalta a
importância de se conjugar os dois métodos, sobretudo para obter informações sobre
disponibilidade quantitativa e temporal deste tipo de recurso. O desajuste temporal observado
entre os picos de atividade e de intensidade salienta a importância de se fazer a distinção entre
eles, principalmente quando o nível de abordagem é populacional.
A queda das folhas é estimulada, além da sua própria idade, por fatores ambientais,
como a seca e a deficiência de nitrogênio (Salisbury & Ross 1992). a deciduidade foliar e a
morte dos ramos oriundos de brotamento e das espécies anuais, tornam-se evidentes nos
meses mais secos do ano ( final de junho a início de setembro), quando há a diminuição da
pluviosidade e da temperatura mensal além da queda na umidade relativa do ar e no
comprimento do dia em outras áreas de cerrado, como em Brasília (Barros & Caldas 1980) e
Alter-do-Chão (Miranda 1995).
Uma fração das espécies nos cerrados e savanas neotropicais, a maioria é do estrato
arbóreo, foi estudada quanto a aspectos da ecologia de populações (Hay 2002) apresentando
diversas estratégias de florescimento (Oliveira et al. 1991). Na população de Copaifera
langsdorffii a maturação e a dispersão dos frutos na estação seca aumentam as chances de
germinação e crescimento de plântulas na próxima estação chuvosa, quando as sementes são
beneficiadas pela umidade e pela abundância de nutrientes liberados a partir da decomposição
da serrapilheira (Felfili et al. 1999). No entanto, os poucos pesquisadores sobre fenodinâmica
devem inicialmente se restringir aos estudos incompletos de sua região, dando enfoque a
vegetação local com a finalidade de dinamizar e concluir estudos superficiais, para depois
inferir algumas idéias macro. Por isso estudos a nível de populações além de essencial, no
momento é o único a solucionar à escassez de informações quanto a estudos fenológicos de
âmbito regional.
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