EXERCÍCIO FÍSICO NA PRÁTICA PNEUMOLÓGICA TEMAS EM DESTAQUE Resposta ao exercício na hipertensão pulmonar e nas doenças restritivas RESUMINDO E RECORDANDO Intolerância ao exercício no paciente com DPOC DIRETORIA - BIÊNIO 2010 | 2011 Presidente: Mônica Corso Pereira Vice-Presidente: Oliver Augusto Nascimento Secretária Geral: Maria Raquel Soares 1ª Secretário: Igor Bastos Polonio 2º Secretário: Carlos Vianna Poyares Jardim Diretor de Finanças: Lara Maris Napolis Diretor de Assuntos Científicos: Elcio dos Santos Oliveira Vianna Diretor de Divulgação: Hugo Bok Yoo Diretora Informática: Roberta Pulcheri Ramos SUMÁRIO 4 • Novidades para o biênio 2012 | 2013 5 PALAVRA DO EDITOR 6 TEMAS EM DESTAQUE • Resposta ao exercício na hipertensão COMISSÕES Assuntos do Interior: Mauricio Sousa de Toledo Leme Defesa Profissional: Altair da Silva Costa Júnior Ensino: Federico Leon Arrabal Fernandes Promoções: Valéria Cristina Vigar Martins Assuntos da Grande São Paulo: Mônica Silveira Lapa pulmonar e nas doenças restritivas • Broncoespasmo induzido por exercício • Dopping nos esportes – Importância das DEPARTAMENTOS Cirurgia Torácica: Ricardo Mingarini Terra Roberto Gonçalves Daniele Cristina Cataneo medicações para doenças pulmonares • Importância do pneumologista no laboratório de exercício – Investigação da dispneia • Utilização do teste de exercício Endoscopia Respiratória: Viviane Rossi Figueiredo Ascedio Rodrigues Péricles Barbato cardiopulmonar na avaliação pré-operatória • O teste de caminhada de 6 minutos Pediatria: Marina Buarque de Almeida Adyleia Aparecida Dalbo Contrera Toro Beatriz Neuhaus Barbisan Fisioterapia Respiratória: Adriana Claudia Lunardi Luciana Dias Chiavegato Felipe Augusto Rodrigues Mendes Conselho Fiscal Efetivos: Ana Luisa Godoy Fernandes Carlos Alberto de Castro Pereira Irma de Godoy Suplentes: Jaquelina Sonoe Ota Arakaki José Antônio Baddini Martinez Ricardo Milinavicius Conselho Deliberativo Francisco Vargas Suso Jorge Nakatani José Eduardo Delfini Cançado Manuel Lopes dos Santos Miguel Bogossian Nelson Morrone Rafael Stelmach Ricardo Beyruti Roberto Stirvulov Sônia Maria Faresin Virgílio Alexandre Nunes de Aguiar PNEUMOLOGIA PAULISTA Órgão Informativo da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia Editor Responsável: Oliver Augusto Nascimento Editoração Eletrônica: Miriam Miranda Impressão: Gráfica Riopedrense • Tiragem: 1200 exemplares PALAVRA DA PRESIDENTE e sua aplicabilidade 33 RESUMINDO E RECORDANDO • Papel do exercício físico no tratamento do paciente asmático • Intolerância ao exercício no paciente com DPOC 43 RELATO DE CASO • Limitação cardiocirculatória • Teste de exercício cardiopulmonar nas doenças neuromusculares 45 ESTATÍSTICAS O que é diferença clinicamente significante? A sua importância na avaliação de testes de exercício NOSSA CAPA Ilustração: Libero PALAVRA DA PRESIDENTE Novidades para o biênio 2012 | 2013 Prezados colegas e amigos pneumologistas, pneumopediatras, cirurgiões, residentes, fisioterapeutas respiratórios. É com imenso prazer e entusiasmo que eu, juntamente com toda a diretoria, assumimos a gestão da nossa querida sociedade para o biênio 2012-2013. Pretendemos manter e melhorar (quando possível) as ações que vem sendo desenvolvidas na SPPT, como as jornadas científicas, o site para profissionais médicos e para leigos, a revista Pneumologia Paulista, o projeto Jovem Pneumologista, o envolvimento nas ações de defesa profissional, junto à Associação Paulista de Medicina e às outras entidades e instituições representativas da nossa categoria profissional (AMB, CRM, CFM). Mas temos novidades para este ano. Em relação à defesa profissional, tentaremos colocar o associado em contato mais direto com o que acontece na área, sobretudo no estado de São Paulo. São inúmeras as reuniões na APM das quais temos participado, com o objetivo de ocupar o espaço e representar a Medicina do Tórax no âmbito da discussão conceitual das especialidades, bem como nas negociações junto aos planos de saúde. Esta luta, cabe lembrar, teve início há mais de ano, e acumularam-se alguns momentos marcantes, como a paralisação escalonada por especialidades. Os resultados se fizeram sentir, pois conseguimos (nós, médicos) alcançar o reajuste dos honorários pretendido no início do movimento em boa parte das “medicinas de grupo” e convênios. Logicamente ainda estamos longe do ideal, mas o ideal não existe, o que existe é um possível aperfeiçoamento das relações entre médicos e empresas que trabalham com saúde/doença, nas quais eventualmente os interesses econômicos prevalecem. Todas as novidades serão colocadas no nosso site (www.sppt.org.br), de modo que uma sugestão que faço é colocá-lo como um de seus “favoritos”. As pizzas serão repaginadas: pretendemos fazer, no médio prazo, que ela aconteça simultaneamente em mais de um lugar. A proposta é democratizar o acesso e a participação, permitindo que centros mais distantes da capital possam participar do evento. O piloto será no próximo dia 12 de abril, 4 na pizza cirúrgica. O residente receberá uma atenção especial desta gestão: além do projeto jovem pneumologista, que busca valorizar o residente e melhorar sua chance de participação nos congressos internacionais, teremos outras atividades voltadas para ele. Estamos em fase de concepção e execução de um curso voltado para os residentes, procurando suprir lacunas na sua formação, ao menos em alguns programas de residência. Será um curso de Metodologia Científica, que incluirá quatro módulos, que provavelmente ocorrerão em quatro finais de semana distintos. Atividades voltadas à graduação, com o intuito de motivar alunos ao estudo da nossa especialidade, também estão em fase de elaboração. As jornadas científicas têm por objetivo permitir ao associado uma constante atualização científica, e para tanto, temos o privilégio de contar com excelentes professores, profissionais clínicos e pesquisadores no nosso estado. A primeira jornada (de Doenças Intersticiais Pulmonares), ocorrida em 17 de março, foi um sucesso de público e crítica. Tivemos 140 participantes, a avaliação da maioria dos participantes foi bastante positiva. Queremos muito saber sua opinião, prezado associado, para que consigamos trazer ainda mais novidades. O site está passando por uma extensa reformulação, e além de espaço para sua opinião, haverá também um espaço para discutir suas dúvidas a respeito de seus próprios casos (de médico para médico). Ao longo do ano pretendemos fazer algumas pequenas e pontuais enquetes, para melhor direcionar as ações da SPPT. Você as receberá por email (sob forma de newsletter). Responda, participe, a SPPT é para nós todos. Obrigada pela confiança, Abraços, Mônica Corso Presidente da SPPT (biênio 2012-2013) [email protected] Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 PALAVRA DO EDITOR Fisiologia do exercício: importância para o pneumologista Neste ano ocorrerá, em Londres, a edição de número 27 dos Jogos Olímpicos. Há registros de que as Olimpíadas iniciam no ano 776 a.C, porém os Jogos Olímpicos da Era Moderna ressurgiram em 1896. O maior evento esportivo do mundo conta com a participação de atletas brasileiros desde os Jogos da Antuérpia, em 1920. Evolutivamente, o Brasil vem aumentando o número de atletas participantes e se destacando no quadro de medalhas. O esporte brasileiro começou os Jogos Olímpicos de Pequim, 2008, com dois recordes: o de número de participantes (277, sendo 144 homens e 133 mulheres) e o de modalidades (32). Em 2016, o Brasil estará em íntimo contato com as Olimpíadas. Porém, no meio do caminho, teremos a tão esperada e discutida Copa do Mundo de Futebol, em 2014. Devido à exposição que todos nós profissionais da saúde respiratória receberemos nos próximos anos, às limitações físicas que nossos pacientes com doenças respiratórias apresentam e devido à importância do exercício físico para o tratamento das doenças respiratórias, fomos inspirados a realizar uma edição da nossa Revista Pneumologia Paulista voltada para o Exercício Físico. Mas o que o exercício físico tem a ver com a Medicina Respiratória? Simplesmente tudo! O processo de respiração é composto desde a mobilização de ar pelas vias aéreas (ventilação pulmonar) até o momento de utilização do oxigênio pelas fibras musculares. Para o melhor entendimento do papel do oxigênio no metabolismo das células musculares temos que nos remeter ao sistema bioenergético muscular. Os exercícios físicos são realizados pelo sistema músculo esquelético. Porém, durante sua realização, três sistemas são integrados fisiologicamente: sistema musculoesquelético, sistema cardiovascular e sistema respiratório. O sistema musculoesquelético, especificamente os músculos, é responsável pela movimentação mecânica do corpo. Entretanto, ele precisa de energia para a sua realização, ou seja, necessita de adenosina trifosfato (ATP). Para o início do exercício os músculos possuem fontes energéticas de rápida geração do sistema adenosina trifosfato/fosfocreatina (ATP/PC). O sistema ATP/PC está presente dentro das mitocôndrias das células musculares e é muito importante para a fase inicial do exercício, entretanto ele não consegue manter a Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 atividade bioenergética muscular durante muito tempo. A partir de alguns minutos, sistemas energéticos mais eficientes são recrutados passando pela glicólise anaeróbia. Durante a glicólise anaeróbia a glicose sanguínea e/ou glicogênio muscular (que será quebrado em glicose por meio de enzimas específicas) entrará na sequência glicolítica para obtenção de ATP. Todavia, a utilização deste sistema durante tempo prolongado gera ácido pirúvico e ácido lático. Até este momento, a obtenção de ATP e geração de energia dentro do músculo não está ligada à utilização de oxigênio (fase anaeróbia do exercício). Contudo, a melhor eficiência do exercício ocorre quando o metabolismo oxidativo entra em ação. Neste momento, a geração aeróbia de ATP refere-se à ressíntese de ATP por meio de reações químicas na presença do oxigênio. Portanto, a presença do oxigênio nas fibras musculares é fundamental para o funcionamento adequado das fibras musculares. O metabolismo oxidativo é mais eficaz para a geração de energia e ocorre nas mitocôndrias musculares. Portanto, para a excelente atividade das células musculares, elas necessitam estar íntegras, apresentar boa reserva energética pelo sistema ATP/PC, ter quantidade adequada de glicogênio e conseguir receber adequadamente o sangue rico em oxigênio. Nesta última fase, a oferta inadequada de oxigênio para os músculos pode ser o limitante da atividade muscular adequada. As razões para a redução da oferta de oxigênio ao músculo podem ter origem em alteração nos sistemas ventilatório, cardiocirculatório, muscular ou até mesmo no transporte do oxigênio, como nas hemoglobinopatias. As alterações mais importantes no sistema respiratório, incluem as doenças que cursam com alterações ventilatórias (doenças neuromusculares com fraqueza muscular respiratória e DPOC), as com redução da difusão pulmonar (doenças pulmonares intersticiais) e as com alterações na circulação pulmonar (doenças vasculares pulmonares, hipertensão pulmonar e tromboembolismo crônico). São sempre imprescindíveis considerar as doenças cardiocirculatórias como uma causa de limitação ao exercício, por estarem associadas à redução do fluxo sanguíneo para os músculos, seja por doença cardíaca em si (insuficiência cardíaca, valvopatias) ou por limitação 5 periférica, como na insuficiência arterial periférica. Em acréscimo, sedentarismo, alterações neuromusculares periféricas (como miopatias e/ou neuropatias) e obesidade também levam à limitação do exercício devido a um fator periférico. Para melhor se definir qual o tipo de limitação que o paciente apresenta é imprescindível a realização de um teste de exercício. Os testes podem ser dos mais simples (teste da caminhada de seis minutos) até o mais complexo com o teste de esforço cardiopulmonar, realizado na esteira ou em um cicloergômetro, em que se avalia as variáveis ventilatórias, cardiocirculatórias, respiratórias, periféricas e sensoriais durante todo o teste. Dentre as variáveis ventilatórias é possível se avaliar de forma não invasiva a quantidade de oxigênio utilizado pelo organismo, chamado consumo de oxigênio (VO2); a produção de dióxido de carbono (VCO2); a ventilação pulmonar (VE) e a saturação de pulso de oxigênio (SpO2). Também é possível realizar o monitoramento cardiocirculatório (frequência cardíaca e pressão arterial), e o sensorial com a escala de dispneia. Claro que o estudo da Fisiologia do Exercício é muito mais longo que um fascículo de nossa Revista. Existem diversos livros nacionais e internacionais excelentes à respeito do assunto. Porém, o intuito deste fascículo foi o de demonstrar como o estudo da fisiologia do exercício não é tão complexo como parecer ser e o quão útil ele pode ser em nossa prática diária. Procuramos abordar os temas mais ligados a nossa especialidade e contamos com a participação de alguns especialistas dos grupos que estão mais envolvidos com o estudo da Fisiologia do Exercício. Devemos lembrar que no novo recente Programa de Residência em Pneumologia enviado à Comissão Nacional de Residência Médica, um capítulo versa sobre a Fisiologia do Exercício e passa a fazer parte obrigatória 6 do ensino dos nossos residentes de Pneumologia. Doenças respiratória que levam à limitações ventilatórias como DPOC e asma são prevalentes em nosso meio. Algumas enfermidades, como asma e broncoespasmo induzido (BIE) por exercício são frequentes em atletas profissionais e praticantes de atividade física. Muitos deles estão em nossos consultórios. Quando estes pacientes são bem cuidados, com a realização de um diagnóstico preciso e o tratamento adequado, eles podem ter uma vida normal, e os exemplos de asmáticos que se tornaram campeões olímpicos existem em todos os países, inclusive no Brasil (vide o exemplo do nadador Fernando Scherer - Xuxa). Portanto, os profissionais que atuam na Medicina Respiratória, como Pneumologistas e Fisioterapeutas, devem estar preparados para a avaliação não só dos nossos pacientes, mas também dos atletas que nos representarão nos Jogos Olímpicos. Nós também somos essenciais para a realização adequada e análise correta dos testes de exercício e temos nosso espaço nesta área da Fisiologia. Cabe a nós querermos ocupar este espaço. Boa leitura a todos! Oliver A. Nascimento Vice-presidente da SPPT e Editor do Pneumologia Paulista [email protected] Carlos Jardim Co-editor do Pneumologia Paulista [email protected] Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 TEMAS EM DESTAQUE Resposta ao exercício na hipertensão pulmonar e nas doenças restritivas AUTORES: Luciana Kato Morinaga, André Luís Pereira de Albuquerque SERVIÇO: Disciplina de Pneumologia – Instituto do Coração (InCor) I. Resposta ao exercício na hipertensão pulmonar A hipertensão arterial pulmonar é uma doença grave de caráter progressivo, na qual o remodelamento vascular gera aumento da resistência vascular e sobrecarga ventricular direita1. Esta, por sua vez, contribuirá para um aumento inadequado do débito cardíaco frente ao esforço, com dispneia precoce e acentuada, queixa esta frequente nestes pacientes. A intolerância ao exercício constitui, per si, marcador de gravidade e piora de qualidade de vida1. Diversos mecanismos atuam na limitação funcional desses pacientes: cardíaca congestiva (ICC) e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) há descrição de alteração na força e composição muscular periférica6. Tal alteração ocorre de maneira não relacionada à condição hemodinâmica, representando, dessa maneira, uma causa independente de intolerância a esforços e contribuindo com a baixa capacidade aeróbia6. Disfunção autonômica Estudos cintilográficos demonstraram a existência de áreas de desacoplamento de ventilação em relação à perfusão pulmonar, em decorrência das alterações capilares com perda de área de troca gasosa e distúrbios dos mecanismos de vasoconstrição4. Durante o esforço físico, esse desacoplamento limita a troca de oxigênio, e favorece a dessaturação ao esforço. A abertura de shunt direitaesquerda via forame oval patente é descrita durante o esforço, levando a alterações na troca gasosa5. Dados sobre um estado de hiperativação simpática e desregulação autonômica, à semelhança do que ocorre em pacientes com insuficiência cardíaca congestiva (ICC) começam a surgir nos pacientes com hipertensão arterial pulmonar. Não está claro, contudo, se tais alterações são apenas marcadores de progressão da doença ou se de fato tem participação em sua evolução. Dentre estas, descrevese um aumento da atividade nervosa simpática muscular medida pela neuromiografia7. Wensel e cols., estudando um grupo de 48 pacientes com HAP, demostraram ainda que tais alterações se correlacionaram com pior capacidade de exercício avaliada pelo teste cardiopulmonar, se já há dados que sugerem associação entre mortalidade e aumento de atividade simpática periférica 7-9. Outros sinais de disautonomia descritos incluem alterações no comportamento da frequência cardíaca ao repouso e ao esforço, com redução da reserva cronotrópica, e redução da variabilidade de frequência cardíaca7. Além do comprometimento à qualidade de vida dos pacientes com hipertensão pulmonar, o comportamento ao esforço desses indivíduos tem papel significativo no diagnóstico, seguimento e determinação de prognóstico. Diversas são as ferramentas de avaliação, sendo os mais frequentes o teste de caminhada de seis minutos e o teste de esforço cardiopulmonar. A seguir são apresentadas as principais características do comportamento dos pacientes com HAP nos testes citados. Disfunção muscular periférica Teste de caminhada de 6 minutos (TC6M) Disfunção ventricular direita Na gênese da hipertensão arterial pulmonar ocorre um aumento de proliferação celular e redução de apoptose, levando a remodelamento vascular pulmonar. A perda de área de secção transversal vascular, associada a desbalanços entre vasodilatação e vasoconstrição, reduz o fluxo pulmonar, levando à sobrecarga ventricular direita. Durante o esforço, a incapacidade de aumento de débito cardíaco frente à demanda levam à baixa capacidade funcional característica desses indivíduos. A insuficiência cardíaca direita é o principal mecanismo de intolerância a esforços na hipertensão pulmonar, sendo o índice cardíaco um dos mais importantes fatores prognósticos2, 3. Distúrbio de ventilação e perfusão pulmonar Assim como em outras doenças como na insuficiência Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 O TC6M tem sido utilizado como ferramenta na avaliação 7 evolutiva dos pacientes com HAP. Baixas distâncias percorridas estão associadas a pior classe funcional e pior prognóstico. Em estudo com 43 pacientes, Miyamoto e cols. demonstraram diferença significativa de sobrevida em 20 meses nos indivíduos que caminharam ao menos 332m em relação àqueles que não o fizeram(10). Da mesma maneira, distâncias maiores do que 380m após tratamento com epoprostonol identificaram pacientes com maior sobrevida em 12 semanas11. Apesar de ser de fácil aplicação e simular as atividades de vida diária, o TC6M é pouco informativo quanto à elucidação dos fatores limitantes ao esforços. • alterações do padrão ventilatório e troca gasosa: apesar de valores espirométricos em geral pouco alterados, os pacientes com HAP caracteristicamente apresentam resposta ventilatória anormalmente elevadas, com aumento da ventilação e dos equivalentes ventilatórios de oxigênio (V E/VO 2) e gás carbônico (V E/VCO 2 ) durante todo o esforço(13). Dentre os mecanismos responsáveis, encontrase o desacoplamento entre ventilação e perfusão decorrente das alterações vasculares pulmonares, gerando áreas de espaço morto e estimulando a ventilação na tentativa de Teste Cardiopulmonar (TCP) Embora não esteja tão facilmente disponível quanto o TC6M, mais atenção tem sido dada ao uso do teste cardiopulmonar na avaliação e seguimento dos pacientes com HAP. O TCP é um teste não invasivo que possibilita o estudo das respostas cardiovascular e ventilatória do indivíduo durante o esforço físico, por meio da análise das trocas gasosas combinada com medidas de pressão arterial, oximetria de pulso e traçado eletrocardiográfico. O aumento da demanda energética desencadeado pelo esforço exige readaptação desses sistemas com o objetivo de manter adequada a respiração celular. Consequentemente, podemos ter uma avaliação da competência e do acoplamento cardiovascular, respiratório e metabólico. No caso da HAP, existem alterações características encontradas no TCP, secundárias às alterações fisiológicas previamente descritas: • baixo consumo de oxigênio (VO2): iniciada a atividade física, aumenta o consumo de oxigênio celular (QO 2, respiração celular). Os sistemas cardiovascular e respiratório acoplam-se e respondem de maneira a extrair mais oxigênio dos alvéolos e transportá-lo aos tecidos (VO2, respiração pulmonar): há aumento da ventilação alveolar, aumento do débito cardíaco e pressão arterial, vasodilatação em territórios de musculatura periférica, entre outros. Em situações normais, o consumo celular de oxigênio é igual à oferta de oxigênio aos tecidos (VO2 = QO2). No caso da HAP, como em outras cardiopatias, a incapacidade do sistema cardiovascular em aumentar o débito cardíaco faz com que o VO2 não aumente no mesmo ritmo do QO2. Esse desacoplamento leva à necessidade de uso precoce de vias anaeróbias para a geração de energia celular, levando a um limiar anaeróbio precoce, ou seja ao início precoce de vias anaeróbias com geração de lactato. Ao final do esforço, a incapacidade de gerar aumento de débito cardíaco leva a um VO2 final baixo com interrupção precoce da atividade física12. Contribuem ainda para este achado: (i) a perda de área de troca capilar pulmonar secundária ao remodelamento vascular encontrado e o desacoplamento ventilação perfusão pulmonar que se segue e (ii) a disfunção muscular periférica, que dificulta a extração de oxigênio pelos tecidos, aumentando o uso de mecanismos anaeróbios12. 8 Fig. 1. Respostas metabólicas e ventilatórias em um paciente com HP (o) em relação a um indivíduo controle (•) durante um teste máximo em esteira. Notar: (A) Redução do consumo de oxigênio (VO2), (B) Hiperventilação acentuada, (C) Baixo PETCO2 durante todo o teste. Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 reduzir a PACO2. Da mesma maneira, o aumento do estímulo ventilatório leva à redução nos níveis de CO2 exalado (P ET CO 2) durante o exercício 13. As desigualdades de ventilação e perfusão, associada à perda de área de troca pelo remodelamento vascular levam a um aumento do gradiente A-a de oxigênio com dessaturação ao esforço12. Acredita-se que a hipoxemia e o aumento da ativação simpática também contribuam no aumento da ventilação. (Figura 1) há dados que mostram que grande parte dos indivíduos saudáveis acima dos 50 anos de idade ultrapassam essa medida ao esforço, e cerca de 20% dos menores de 50 anos também o farão16. Dessa maneira, desde o último consenso em hipertensão pulmonar de 2009, a definição de hipertensão pulmonar durante o esforço deixou de ser utilizada, à espera de mais dados sobre o comportamento hemodinâmico durante o esforço em indivíduos normais e hipertensos pulmonares1. • alterações cardiovasculares: o aumento resistência vascular pulmonar gera maior pós-carga para o ventrículo direito, e passa a limitar o aumento esperado de volumes sistólico e débito cardíaco. No teste cardiopulmonar, o volume sistólico pode ser estimado pelo pulso de oxigênio (PuO2= VO2/FC), a partir da fórmula de Fick, onde DC = débito cardíaco e C(a-v)O2 = diferença entre o conteúdo arterial e venoso de oxigênio. II. Respostas ao exercício nas doenças restritivas Equação de Fick (1) DC = VO2 / C(a-v)O2 (2) VS x FC = VO2 / C(a-v)O2 (3) PuO2 ou VO2/FC= VS x C(a-v)O2 Apesar do PuO2 ter também uma relação direta com o consumo muscular periférico de oxigênio C(a-v)O2, o DC tem um efeito mais decisivo no maior VO2(14). Dessa maneira, o comportamento do PuO2 na hipertensão pulmonar (reflexo principalmente do VS) tende a ser baixo e com platô precoce em decorrência da insuficiência de ventrículo direito12. Além da possibilidade de avaliação funcional, o TCP tem ainda conhecido papel prognóstico na HAP, havendo evidências de que pacientes com consumo máximo de oxigênio menor do que 10,4ml.kg- 1.min-1 tenham pior prognóstico 15. Hemodinâmica no esforço Durante o esforço, em indivíduos saudáveis, ocorre aumento do DC com aumento discreto de pressões pulmonares. Embora por muito tempo tenha-se aplicado o valor de corte de 30mmHg para limitar a resposta normal, As doenças restritivas respiratórias são compostas por um grupo heterogêneo de doenças com acometimento do parênquima pulmonar (intersticiais) e aquelas com restrição somente da caixa torácica. O presente material enfocará as doenças com acometimento intersticial pulmonar, em função da sua maior prevalência e importância clínica. A limitação aos esforços é uma característica muito frequente nos pacientes com doenças intersticiais (DI), sendo que estes têm um desempenho reduzido quando comparado a indivíduos saudáveis. A intolerância ao esforço é diretamente proporcional à gravidade da doença e um fator extremamente limitante nas atividades diárias destes indivíduos. Apesar do baixo desempenho ao esforço na DI sofrer influência de vários sistemas (cardiovascular, muscular periférico), a sobrecarga e consequente limitação ventilatória é o componente predominante. As respostas ventilatórias ao esforço nas DI se caracterizam principalmente por hiperventilação, mesmo para intensidades submáximas. Apesar do paciente terminar o teste máximo com uma ventilação minuto (VE, L.min-1), bem abaixo do que uma pessoa saudável, sua percentagem em relação à ventilação voluntária máxima (%VVM) é alta, indicando, assim, uma baixa reserva ventilatória ao final do teste. Estas respostas de hiperventilação e baixa reserva caracterizam uma ineficiência do sistema respiratório ao esforço. O principal sintoma referido é dispnéia aos esforços, normalmente de caráter progressivo com o avanço da Tabela 1. Repostas dos principais sistemas ao esforço na hipertensão arterial pulmonar. Principais alterações encontradas no TCP na HAP Alterações metabólicas - baixo VO2 - limiar anaeróbico precoce Alterações ventilatórias e de troca gasosa - aumento da ventilação minuto (VE) e equivalentes ventilatórios (VE/VO2 e VE/VCO2) - redução do PETCO2 - hipoxemia Alterações cardiovasculares - redução do pulso de oxigênio (VO2/FC) Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 9 doença. Quando comparados a indivíduos saudáveis, os pacientes com DI têm uma maior grau de dispnéia, mesmo para condições de igual demanda metabólica e ventilatória17,18. Na gênese deste desconforto respiratório exacerbado, ganha destaque a sobrecarga na mecânica pulmonar. Nas DI há um aumento acentuado do recolhimento elástico pulmonar, fazendo com que haja um deslocamento para baixo e para a direita na curva pressão-volume do sistema respiratório (Figura 2). Este deslocamento tem impacto não somente ao repouso, mas também no exercício, uma vez que a diminuição da capacidade pulmonar total e, sobretudo, da capacidade inspiratória (CI) impedem um ganho maior de volume corrente em intensidades maiores de esforço. Deste modo, o incremento do volume corrente (VC) é prejudicado, com alta relação VC/CI. O incremento na ventilação ao esforço nas DI, logo, se faz essencialmente em função do aumento na frequência respiratória. Neste contexto, a sensação respiratória mais referida pelos pacientes ao final de um teste máximo é justamente a de uma inspiração ineficaz (secundária ao maior trabalho elástico), com alguns indivíduos queixando-se também de uma respiração muito rápida19. (Figura 2) A ineficácia no aumento do VC ao esforço é reflexo preponderante do elevado trabalho elástico destes pacientes. Quando se avaliou a musculatura inspiratória durante o esforço, esta foi capaz de gerar força (pressão esofágica) similar a de indivíduos normais19. Entretanto, é possível que pacientes com DI mais avançada, na associação de corticosteroides e uma inflamação sistêmica mais acentuada também possam ter um componente de fraqueza muscular ventilatória contribuindo para a não expansão do volume corrente. Além da retração elástica pulmonar aumentada, há também destruição de áreas alveolares e espessamento da barreira alvéolo-capilar. Como consequência, durante o exercício há aumento no espaço morto (VD/VT), em função do aumento na ventilação de áreas que não realizam troca gasosa, e prejuízo na troca gasosa com queda na oxigenação. Estes dois componentes têm efeito direto na maior reposta ventilatória ao esforço. A queda na SpO2 nas DI é mais intensa e precoce do que em outras doenças respiratórias, como na DPOC. Muitos pacientes com acometimento intersticial interrompem o teste justamente por hipoxemia acentuada (SpO 2 < 85%). Entretanto, aqueles com menor acometimento da doença podem ter uma queda menos acentuada da SpO2. A hipoxemia ao esforço nas DI tem como embasamento fisiopatológico (i) uma piora na relação ventilação-perfusão de várias áreas pulmonares, (ii) um aumento no gradiente alvéolo-arterial em decorrência de uma menor concentração venosa de oxigênio (PvO2), (iii) e uma difusão prejudicada frente a um menor tempo de trânsito capilar para troca gasosa. (Figura 3) Muitos pacientes com DI apresentam comprometimento também do sistema cardiovascular, sendo o mais frequente a hipertensão pulmonar. Um dos principais fatores responsáveis é o acometimento (fibrose e destruição) de capilares pulmonares, levando a um aumento na resistência vascular local21. Neste processo, também atuam a vasoconstrição hipóxica e um menor volume pulmonar. Quando no exercício físico, o incremento na perfusão pulmonar pode ser insuficiente e, por conseguinte, há um prejuízo no enchimento ventricular Fig. 2. Curva pressão-volume do sistema respiratório (Prs) e dos seus compartimentos: pulmonar (PL) e caixa torácica (Pw). À esquerda, o comportamento em um indivíduo normal. À direita, em um paciente com DI: notar o deslocamento PL para baixo e para a direita, refletindo a alta retração elástica e baixa complacência pulmonar20. 10 Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 Fig. 3. Respostas ao esforço máximo, em esteira, entre um paciente com DI e um indivíduo saudável. Na DI, há um aumento no consumo de oxigênio (A), com hiperventilação ao esforço levando ao esgotamento da VVM (B), com pouco incremento do volume corrente - VT (C), e queda acentuada da SpO2 (D). esquerdo. No teste máximo em pacientes com DI, há uma redução do desempenho (VO2máximo) com uma produção muscular de lactato (Limiar de lactato) mais precoce, os quais podem ser secundários, justamente, a uma disfunção cardiovascular ao esforço, associada a maior sobrecarga ventilatória. Alguns pacientes com DI podem apresentar limitação de fluxo expiratório 22 . Normalmente, esta pode ser secundária à associação com tabagismo ou da redução acentuada dos volumes pulmonares, o que predispõe ao colapso de vias aéreas. Um outro mecanismo possível é o envolvimento direto da via aérea, como na hipertrofia da musculatura lisa por células atípicas envolta da via aérea, presente na linfangioleiomiomatose. Os pacientes com limitação de fluxo expiratório tiveram aprisionamento aéreo ao esforço, com uma maior sobrecarga ventilatória e dispneia em relação aqueles que não tinham limitação de fluxo (Figura 4). Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 Em suma, as principais respostas, ao esforço, em pacientes com DI podem ser resumidas em: Tabela 2. Respostas das doenças intersticiais ao esforço. Baixo VO2máximo com limiar de lactato precoce Hiperventilação (alto VE/VCO2 no Limiar I) Baixa reserva ventilatória (VEmáx/VVM >80%) FR > 50rpm, baixo incremento do VC Alto VC/CI e VD/VT Queda SpO2 Dispneia acentuada 11 Fig.4. Limitação ao fluxo expiratório presente mesmo em um paciente com linfangioleiomiomatose (B), levando ao aprisionamento aéreo dinâmico ao esforço confirmado pela queda na capacidade inspiratória (CI). CPT= capacidade pulmonar total, VC= volume corrente. Referências Bibliográficas 1. 2. 12 McLaughlin VV, Archer SL, Badesch DB, Barst RJ, Farber HW, Lindner JR, et al. ACCF/AHA 2009 expert consensus document on pulmonary hypertension a report of the American College of Cardiology Foundation Task Force on Expert Consensus Documents and the American Heart Association developed in collaboration with the American College of Chest Physicians; American Thoracic Society, Inc.; and the Pulmonary Hypertension Association. 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André Luís Pereira de Albuquerque [email protected] 13 Broncoespasmo induzido por exercício AUTORES: Erica Ferraz, Andrea Antunes Cetlin, Elcio Oliveira Vianna SERVIÇO: Departamento de Clínica Médica - Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo 1. Introdução ocorrência do BIE é descrita em atletas profissionais, asmáticos ou não e em 16% de crianças consideradas normais7. Broncoespasmo induzido por exercício (BIE) é o estreitamento transitório das vias aéreas após exercício vigoroso1. O diagnóstico geralmente é baseado na resposta brônquica ao exercício. Alternativamente ao exercício físico, podemos empregar testes com hiperventilação ou com inalação de manitol, que simulam o efeito de desidratação do exercício nas vias aéreas 2. Intervenções que reduzem a perda de água respiratória durante o exercício, como usar máscaras ou inalação de ar úmido e quente, inibem o BIE. Agentes farmacêuticos que reduzem o número de células inflamatórias, ou previnem a liberação de seus mediadores, ou bloqueiam o efeito do mediador no músculo liso brônquico, também inibem o BIE. 2.2. Fisiopatologia O BIE é um fenômeno complexo que envolve broncodilatação no início do exercício, seguida de broncoconstrição pós-exercício (Figura 1) e refratariedade pela repetição, ou seja, a repetição dos exercícios causa diminuição do broncoespasmo 8. Os mecanismos foram apresentados em artigo prévio deste periódico em 2008 no volume 21, páginas 14 a 18 9. Em resumo, duas principais teorias tentam explicar como ocorre o BIE. A teoria da hiperosmolaridade e a teoria do resfriamento, ambas culminando na liberação de mediadores inflamatórios. 2. Descrição da Doença 3. Diagnóstico 2.1. Definição BIE é o termo usado para definir a condição que desencadeia reação ao esforço físico com obstrução transitória das vias aéreas em indivíduos que tenham hiperreatividade brônquica. O exercício é considerado um dos principais possíveis desencadeadores de sintomas asmáticos 3;4. Na população geral, estudos mostram prevalência de BIE entre 6 e 13% 5. Entre asmáticos, a prevalência varia de 40% a 90% 6. Além disto, a O diagnóstico não deve depender apenas dos sintomas respiratórios, pois não são sensíveis nem específicos para identificar BIE10. O diagnóstico de BIE em atletas é feito pelas alterações no VEF1 pós-exercício, ou por um teste alternativo para o exercício como hiperventilação voluntária eucápnica (HVE) ou teste com manitol11. O exercício pode ser realizado em um laboratório, mas o exercício (esporte) específico em campo, sob as condições ambientais habituais do atleta, é mais adequado 12. O teste com HVE requer Fig. 1. Paciente de 21 anos, masculino, asmático com VEF1 basal de 2,90 L, 78% do previsto. 14 Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 Fig. 2. Dose de manitol causadora de 15% de queda no VEF1 (PD15) em relação à queda porcentual após 6 minutos de hiperventilação voluntária eucápnica (HVE) de ar seco. Círculos abertos representam teste de manitol negativo (PD15 > 635 mg). Círculos fechados representam casos positivos para manitol. Observar que quatro indivíduos são negativos para o manitol e positivos para HVE e dois indivíduos são positivos para o manitol e negativos para HVE (queda abaixo de 10%). Os dados estão disponíveis no suplemento online da Referência 15. A figura foi adaptada da Referência 33. hiperventilação voluntária de ar seco. A hiperventilação é um estímulo muito potente, pode acarretar riscos de reações exageradas e, portanto, não é recomendada como um primeiro teste para aqueles com diagnóstico estabelecido de asma 13. Para aqueles com diagnóstico de asma, um teste inicial com manitol pode ser utilizado porque o protocolo de doseresposta progressiva evita grandes quedas no VEF1, que pode ocorrer após o exercício ou hiperventilação 14 . Provocação com manitol é menos sensível que HVE15 (Figura 2), mas é altamente específico para identificar hiperreatividade brônquica14. Se o resultado do teste com manitol for negativo e a pessoa tiver asma, provavelmente será asma leve e um teste de hiperventilação é indicado16. 4. Testes de broncoprovocação para o diagnóstico 4.1. Teste de broncoprovocação com exercício: O teste de broncoprovocação com exercício pode ser usado: 1) Para fazer o diagnóstico de BIE em pacientes asmáticos com história de chiado durante ou após o exercício; 2) Para avaliar a habilidade de executar alguns tipos de trabalhos (por exemplo, forças armadas, polícias, ou bombeiro) nas pessoas com história que sugerem asma; 3) Para determinar a eficácia e otimização da dose dos medicamentos prescritos para impedir o BIE; 4) Para avaliar os efeitos da terapia antiinflamatória17; 5) Para confirmar o diagnóstico em atletas e permitir o uso de medicamentos durante competições 18. Exercícios (esportes) específicos que produzem sintomas, realizados tanto no laboratório como em campo, Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 provavelmente são mais relevantes para testes com atletas de elite12. No entanto, as condições ambientais, como níveis de umidade, temperatura e nível de poluição, podem afetar significativamente a resposta em campo. Um exemplo de teste é a caminhada ou corrida em esteira elétrica por um período contínuo de 6 minutos. Durante o exercício, a temperatura e umidade relativa do ar devem corresponder a um ambiente frio e seco, por exemplo, 2022ºC e 50-55%, respectivamente, com o objetivo de aumentar a sensibilidade do teste. Após o primeiro minuto de exercício leve, aumenta-se a velocidade até que o paciente atinja 80% da frequência cardíaca (FC) máxima prevista para sua idade. Essa FC alvo é calculada da seguinte maneira: FC alvo = (220 – idade) x 0,8. Após estabilização da FC do paciente, este permanece em exercício por um período de 6 minutos, fazendo-se os ajustes necessários: aumentando ou diminuindo a velocidade da esteira. No caso de se empregar bicicleta, o procedimento é semelhante: ajusta-se a carga para manter a FC. São realizadas medidas espirométricas antes, imediatamente após o término do exercício, 5, 10, 15, 20, 30 e 45 minutos após o exercício. Aos 45 minutos, caso o valor do VEF1 não tenha retornado a pelo menos 90% do basal, deve ser administrado broncodilatador de ação curta. Durante o procedimento, o paciente é monitorizado com oxímetro de pulso e com frequencímetro para avaliação da FC. O teste é considerado positivo se houver queda de 10 ou 15% do VEF1 e essa queda ocorre geralmente entre 5 a 10 minutos após o término do exercício de curta duração (6 minutos). A resposta brônquica ao exercício é expressa pela 15 queda de VEF1 referente ao valor basal: BIE em porcentagem = 100 x (VEF1 pré – menor VEF1 pós) / pré 17. 4.2. Teste de broncoprovocação com hiperventilação voluntária eucápnica: HVE é um excelente substituto para o exercício, pois a ventilação conseguida voluntariamente é maior do que a alcançada durante o exercício máximo. Assim, a taxa de testes falso-negativos é muito baixa com hiperventilação19. O protocolo “HVE 6-min” foi desenvolvido e validado para uso em recrutas das forças armadas13. O protocolo requer que o indivíduo inspire um gás seco contendo 4,9-5% de dióxido de carbono e 21% de oxigênio e nitrogênio a uma ventilação equivalente a 30 vezes o VEF1 ou mais. Após o teste, as medidas são feitas no mesmo intervalo de tempo como no teste do exercício (ver acima) e uma queda do VEF1 > 10% pós-HVE é consistente com BIE. 4.3. Teste de broncoprovocação com manitol: A inalação de manitol aumenta a osmolaridade da superfície das vias aéreas e causa liberação dos mesmos mediadores inflamatórios como no exercício e hiperventilação (20;21). O kit comercialmente disponível para importação (Pharmaxis Ltd, Frenchs Forest, NSW Australia) tem cápsulas pré-embaladas contendo 5, 10, 20 ou 40 mg de manitol e um inalador de pó seco16. O VEF1 é medido 60 segundos após a inalação de cada dose. Um teste é considerado positivo se houver queda de 15% do VEF1 com dose < 635 mg. A recuperação do VEF1 é espontânea14;16. 4.4. Teste de broncoprovocação com solução salina hipertônica: A solução salina hipertônica (SSH 4,5%) também é utilizada para identificar hiperreatividade brônquica e potencial BIE em asmáticos22. Um nebulizador ultrassônico é necessário e o aerossol é inalado por meio de uma válvula de duas vias com durações crescentes (0,5; 1; 2; 4 e 8 min) 23. A quantidade de aerossol administrado é medida por uma alteração no peso do nebulizador. Uma queda de 15% do VEF1 para < 23 g é uma resposta positiva24. 4.5. Teste de broncoprovocação com metacolina e histamina: Embora o teste de broncoprovocação com metacolina e histamina seja usado para auxiliar no diagnóstico de asma, a interpretação dos resultados com relação à identificação do BIE é discutível. Numerosos atletas que se mostram positivos para um teste com metacolina não são hiperreativos quando expostos a estímulos indiretos, como o exercício, HVE ou manitol 10 . A razão para esta dissociação não é compreendida25. 4.6. Teste de broncoprovocação negativo: Quando nenhuma evidência objetiva de obstrução reversível das vias aéreas ou hiperreatividade brônquica é 16 obtida em um atleta sintomático, um diagnóstico alternativo como a respiração disfuncional (síndrome da hiperventilação) ou disfunção de cordas vocais, deve ser considerado26;27. Além disso, uma vez que a variabilidade sazonal afeta a ocorrência de hiperreatividade brônquica e BIE em vários grupos de atletas (por exemplo, nadadores e corredores), o horário para o teste de broncoprovocação deve ser cuidadosamente definido28;29. Finalmente, para os atletas que estão usando corticosteróides inalatórios (CI) diariamente, um resultado negativo pode indicar um controle satisfatório da inflamação brônquica 30;31. 5. Tratamento Medidas não farmacológicas e farmacológicas são utilizadas em conjunto para prevenir e tratar o BIE. Informações dadas aos pacientes e aos pais de crianças com BIE sobre a doença podem ajudar na aderência ao tratamento e a não desencorajar o exercício físico, tão importante para a saúde de maneira geral. 5.1. Medidas não farmacológicas: Atividade física em ambientes com ar seco, frio e poluído deve ser evitada. O exercício deve ser sempre estimulado, adequado a cada indivíduo e se possível, optar pelos exercícios que apresentem menor risco de BIE 32. A pesquisa de rinite alérgica deve ser sempre realizada e quando presente tratada, pois a respiração adequada pelo nariz possibilita o aquecimento e umidificação do ar inspirado, podendo diminuir a gravidade do BIE 33;34. Os pacientes devem ser orientados a realizar aquecimento antes da atividade física principal, com alongamento e ginástica que seja suficiente para atingir 50 a 60% da FC máxima, com duração de 10 a 15 minutos, pois em aproximadamente 50% dos indivíduos com BIE, após este período de aquecimento, ocorre uma fase refratária, durante a qual BIE estará inibido. Em atletas de elite mesmo quando essa manobra é bem sucedida, se consegue prevenir parcialmente a ocorrência de BIE 34. A utilização de máscaras faciais se mostrou capaz de atenuar a gravidade de BIE em alguns estudos, pois estes dispositivos são capazes de capturar um pouco do calor e da água na expiração 35. Dieta rica em ômega-3 não se mostrou eficaz de maneira geral no tratamento de pacientes com asma. No entanto, no subgrupo de pacientes asmáticos com BIE, os resultados foram mais promissores, com redução significativa (p < 0,05) da liberação de mediadores inflamatórios em amostras de escarro induzido e na queda do VEF1 pós exercício quando comparado a dieta placebo e dieta normal. Este estudo sugere que asmáticos com o BIE podem ter algum benefício com uma dieta enriquecida por ômega-3 36. Em pacientes com diagnóstico de asma, o BIE pode ser uma manifestação de não controle da doença e vale lembrar que o BIE é um dos últimos sintomas a ser controlado em pacientes asmáticos depois de instituída a terapêutica34. Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 Quando o indivíduo não pode evitar a exposição, como nos atletas de elite, ou apresenta manutenção dos sintomas mesmo após adoção das medidas não farmacológicas, a terapêutica farmacológica deve ser associada. 5.2. Medidas Farmacológicas: Na prevenção do BIE, os β2-agonistas são a primeira escolha, administrado via inalatória. Eles promovem a broncodilatação e previnem a liberação de mediadores pelos mastócitos, modificando o efeito da contratilidade da camada muscular e a permeabilidade das células da mucosa. Entretanto o uso regular desta medicação leva a tolerância com diminuição da eficácia33. O tratamento com β2-agonistas é basicamente profilático, pois depois de desencadeado o broncoespasmo, este tende a reverter espontaneamente e a medicação tem menor importância do que quando administrada previamente ao esforço. Os β2-agonistas de ação curta devem ser utilizados 10 a 15 minutos antes do início da atividade física e age por 3 a 6 horas. Os β2-agonista de ação prolongada também podem ser utilizados para prevenir BIE, respeitando-se o tempo de início de ação de cada droga e possuem efeito broncodilatador por até 12 horas 18. Caso não haja melhora espontânea do BIE, os broncodilatadores de ação curta também são considerados a melhor opção terapêutica pós-exercício 35. A segunda opção na profilaxia do BIE é o cromoglicato de sódio, administrado via inalatória, 5 a 10 minutos antes do exercício com pico de ação em 2 horas e efeito protetor menor que 4 horas. Sua ação ocorre na estabilização da membrana basal dos mastócitos, prevenindo a liberação de mediadores inflamatórios e assim o BIE em aproximadamente 60% dos casos. Não possui efeito broncodilatador e por isso não deve ser utilizado como medicação sintomática. Não há descrição de efeito de tolerância com o uso repetido desta droga 33;35;37. Os antagonistas de leucotrienos são medicações administradas via oral antes da atividade física como dose única ou diariamente. Promovem uma proteção de até 60% por até 24 horas. Possuem ação broncodilatadora, se mostram efetivos na recuperação do VEF1 para os níveis pré-exercício e atenuam a resposta inflamatória. Até o momento, não há relato de tolerância ao seu uso diário, o que seria uma vantagem em relação ao uso de β2-agonistas. Um estudo avaliou por 8 semanas o uso de montelucaste e salmeterol em 191 asmáticos que apresentavam BIE. A prevenção de BIE foi efetiva com os dois medicamentos, entretanto o efeito protetor do montelucaste foi equilibrado durante todas as semanas do estudo, mas o salmeterol apresentou diminuição do efeito protetor entre as semanas 4 e 8, pela tolerância apresentada por este último fármaco. Apesar do resultado promissor a favor dos anti-leucotrienos, os estudos não mostram superioridade de qualquer fármaco em relação aos β2-agonistas no tratamento de BIE até o momento (Figura 3) 33;35;38. Os CI são o tratamento de escolha para asmáticos com ou sem BIE, pois melhoram os sintomas de asma, pela redução Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 Fig. 3. Valor médio para a mudança de porcentagem na função pulmonar, geralmente mensurado na porcentagem de queda do VEF1 ou Pico de Fluxo (PF) após exercício na presença de placebo ou de medicação. A figura foi adaptada da Referência 38. da inflamação e hiperreatividade brônquica, mas por não possuírem efeito broncodilatador imediato, não devem ser usados como medicação profilática para o BIE. Entretanto, o seu uso contínuo mostrou redução na gravidade do BIE e melhora da função pulmonar basal39. Xantinas e broncodilatadores por via oral podem ser eficazes, entretanto seu uso é dificultado pela necessidade de administração antecipada para que, no momento do esforço, os níveis séricos estejam adequados e por isso não são recomendados como medicação para profilaxia do BIE 35. Estudos mostram benefício limitado dos antagonistas da histamina no BIE, no entanto, um estudo demonstrou uma inibição razoável quando o antagonista de histamina foi utilizado em combinação com anti-leucotrieno40. Outras drogas foram testadas ao longo dos anos como possíveis agentes profiláticos contra BIE. Medicamentos via inalatória, incluindo a furosemida, a prostaglandina E2, a indometacina e a heparina de baixo peso molecular, podem apresentar algum efeito protetor contra o BIE. No entanto, o uso clínico destas drogas não foi comparado diretamente com o uso profilático de β2-agonistas. Por esta razão, o seu papel na prática clínica não está justificado 41;42. O sucesso do tratamento para BIE é avaliado pela quantidade de sintomas que se seguem à atividade física, lembrando que os sintomas durante a atividade física podem corresponder à falta de condicionamento físico do paciente e/ou à obstrução brônquica crônica, ou seja, o paciente já inicia o esforço com o VEF1 abaixo do esperado. Em alguns casos, a profilaxia do BIE pode ser complicada. Quanto mais frio e seco for o ar respirado e quanto mais intenso o esforço, maiores os riscos de BIE e menor o efeito do tratamento. A mesma dose capaz de controlar os sintomas pós-exercício 17 Tabela 1. Diagnóstico diferencial de BIE 3, 5, 34, 39, 43. Disfunção de Corda Vocal Anemia Prolapso de laringe Laringomalácia Doenças neuromusculares Doença do refluxo gastro-esofágico (DRGE) Obstruções de via aérea alta Doenças pulmonares intersticiais Falta de condicionamento Físico Mixoma atrial e cardiomiopatia Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) Bronquiectasias Prolapso de válvula mitral Isquemia cardíaca Exercício induzindo hiperventilação Exercício induzindo anafilaxia Arritmias Síndrome do pânico e/ou respiração disfuncional Edema pulmonar induzido pelo nado (SIPE) Exercício induzindo hipoxemia arterial no verão para um paciente praticando exercícios na praia pode ser insuficiente no inverno, para o mesmo paciente, subindo o alto de uma montanha. Nestes casos, a associação de medicamentos pode ser uma boa escolha terapêutica. Se, mesmo assim, não houver controle dos sintomas, a busca por fatores de descompensação ou outros diagnósticos está indicada (Tabela 1)3;5;34;39;43. 11. 12. 13. 6. Conclusão Em conclusão, para o melhor nível de cuidados médicos aos atletas, é essencial que testes de função pulmonar apropriados sejam realizados. Juntamente com o exame clínico habitual, o teste de broncoprovocação com exercício (ou um substituto) poderá ser realizado para se confirmar o diagnóstico e justificar o tratamento da doença. 14. 15. Referências Bibliográficas 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 18 Anderson SD, Daviskas E. The mechanism of exercise-induced asthma is .. J Allergy Clin Immunol 2000 Sep;106(3):453-9. Anderson SD. Indirect challenge tests: Airway hyperresponsiveness in asthma: its measurement and clinical significance. Chest 2010 Aug;138(2 Suppl):25S-30S. Millard MW. Dispelling the myths of exercise and asthma. Proc (Bayl Univ Med Cent ) 2003 Oct;16(4):388-91. 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Treatment of exercise-induced asthma, respiratory and allergic disorders in sports and the relationship Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 40. 41. 42. 43. to doping: Part II of the report from the Joint Task Force of European Respiratory Society (ERS) and European Academy of Allergy and Clinical Immunology (EAACI) in cooperation with GA(2)LEN. Allergy 2008 May;63(5):492-505. Hallstrand TS, Moody MW, Wurfel MM, Schwartz LB, Henderson WR, Jr., Aitken ML. Inflammatory basis of exercise-induced bronchoconstriction. Am J Respir Crit Care Med 2005 Sep 15;172(6):679-86. Ahmed T, Gonzalez BJ, Danta I. Prevention of exerciseinduced bronchoconstriction by inhaled low-molecularweight heparin. Am J Respir Crit Care Med 1999 Aug;160(2):576-81. Melillo E, Catapano G, Ferrari M, Pedrinelli R. Transcutaneous oxygen tension measurement in patients with chronic arterial obstructive disease: reliability and long-term variability of the method. Angiology 1994 Jun;45(6):469-75. Weinberger MM. 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Em 1920, portanto, já estava claro que regras impedindo o uso de substância no meio esportivo deveriam ser definidas. Apesar de em 1928 a Associação Internacional de Atletas de Atletismo (IAAF) banir o doping, esta iniciativa era pouco eficaz, uma vez que não havia testes comprovatórios até então. A morte do ciclista Knud Enemark Jensen durante os jogos olímpicos de Roma em 1960, com a autopsia indicando a presença de anfetamina, pressionou o Comitê Olímpico Internacional (COI) a introduzir os testes diagnósticos. Vale enfatizar que outro ciclista (Tom Simpson) faleceu no Tour de France em 1967. Com isso, neste mesmo ano, o COI instituiu um conselho médico e divulgou a primeira lista de substância proibidas. Os testes diagnósticos começaram a ser feitos nos jogos olímpicos do México em 1968. O uso de esteroides anabolizantes disseminou-se no início da década, principalmente por atletas de levantamento de peso, e os testes diagnósticos ainda não eram capazes de detectar tais substâncias. Em 1974, entretanto, se conseguiu ter um teste acurado para tal detecção e o COI, em 1976, adicionou os esteroides anabolizantes na lista de substâncias proibidas. A partir disto, aumentou significativamente o número de atletas que foram desqualificados, mais notadamente nas modalidades de arremesso e levantamento de peso. Contudo, o uso de anabolizantes também foi encontrado 20 no atletismo, com o notório caso do corredor de 100 metros, Ben Johnson, nos jogos olímpicos de Seul 1988. Nos anos 90, os testes diagnósticos ganharam maior acurácia e notou-se uma queda nos melhores resultados de determinadas modalidades. Em 1998 o COI tomou a iniciativa de fazer a primeira conferência internacional de doping no esporte e decidiu criar uma entidade independente como responsável pelas ações de trabalho, normas e discussões sobre o uso de substâncias no esporte. Com isto, surgiu a agência internacional anti-doping (WADA, Word Anti-Doping Agency) em 1999, a qual persiste como órgão regulatório até os dias atuais. WADA (Word Anti-Doping Agency, www.wada-ama.org) – Princípios e Objetivos O programa anti-doping busca manter o princípio do esporte, que é a essência do olimpismo, e se caracteriza pelos seguintes valores: 1. Ética e honestidade, 2. Saúde, 3. Excelência em performance, 4. Caráter e educação, 5. Diversão, 6. Equipe, 7. Dedicação e comprometimento, 8. Respeito às regras e participantes, 9. Solidariedade. O doping é contrário a estes valores e, com isso, contrário ao espírito do esporte ou ao espírito olímpico. Os objetivos da WADA são: • Garantir ao atleta o direito de praticar o esporte sem doping, promovendo, assim, saúde, honestidade e igualdade. • Garantir programas anti-doping que sejam harmonizados, coordenados e efetivos a nível nacional e internacional na detecção e prevenção do doping. Baseado justamente nos princípios do esporte, é importante que atletas com doenças não controladas sejam devidamente tratados para que estes compitam em condições de igualdade. No nosso meio, destacam-se os atletas com problemas respiratórios, sendo que grande maioria engloba a presença de asma não tratada e a ocorrência de broncoespasmo induzido pelo exercício (BIE), o qual pode ocorrer mesmo no atleta não asmático. Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 Nestes casos, a ausência do diagnóstico correto e do tratamento específico prejudicam a performance do atleta competitivo profissional, sendo muitas vezes decisivos na conquista ou não da medalha olímpica. Sintomas respiratórios no esporte Os problemas respiratórios vêm ganhando cada vez mais destaque no meio esportivo de elite. Relatos do COI informam uma prevalência de aplicações para o uso de ²2agonistas de até 18% nos jogos de inverno e 15% nos de verão1, com destaque especial para modalidades de longa duração. No entanto, a real prevalência destas alterações respiratórias, neste meio, certamente é superior, como demonstrado por trabalhos com testes específicos em diversas modalidades esportivas2-5. Esta subnotificação diagnóstica de asma e BIE em atletas tem grandes repercussões, pois há casos de morte de atletas por crise asmática durante a atividade esportiva 6. Mais impactante ainda, estes atletas no geral tinham asma leve ou até intermitente, o que poderia ter muito provavelmente evitado estas mortes com um tratamento específico. Antes de se iniciar qualquer tratamento para asma ou BIE em um atleta de elite, o médico deve obrigatoriamente fazer a confirmação diagnóstica. Muitos destes são asmáticos não diagnosticados previamente e, com isso, a anamnese clínica e alguns testes adicionais (principalmente a função pulmonar) serão suficientes. Já para a confirmação de BIE, no asmático ou não asmático, há critérios estipulados pelo COI a serem preenchidos. Em 2006, durante os jogos de inverno de Torino, definiuse que o diagnóstico de BIE seria firmado com a suspeita clínica e mais um teste positivo dentre os seguintes (Tabela 1): O tratamento farmacológico dependerá primeiramente do diagnóstico firmado. Para aqueles atletas com asma, as recomendações seguem as mesmas do que para um asmático não atleta. Contudo, no meio esportivo de elite, devemos buscar com o tratamento não somente o controle dos sintomas e evitar sua progressão, mas também ter um controle mais rigoroso da doença, uma vez que esta poderá se manifestar em uma condição mais extrema, como uma competição. Além disso, os possíveis efeitos colaterais devem ser avaliados mais cuidadosamente. A medicação de escolha para o atleta asmático consiste no uso regular de CI. Apesar de uma semana já ser suficiente para diminuir o BIE, o maior efeito terapêutico será alcançado somente com 3 a 4 semanas7. Os inibidores de leucotrienos reduzem o BIE e têm uma vantagem sobre os β2-agonistas em relação à baixa incidência de tolerância ao longo do tempo8. Já em comparação com os CI, os inibidores de leucotrienos têm uma taxa maior de ausência de resposta. Com isto, apesar da boa resposta no geral, alguns atletas podem não conseguir um bom controle com o uso isolado de inibidores de leucotrienos. As medicações de alívio de sintomas asmáticos mais usadas, antes das provas, são os β2-agonistas. Os de curta duração têm início de ação rápido (quase imediato) e atingem o efeito máximo em 20 minutos, mas com duração total de apenas 4 horas. Já os de longa duração persistem por até 6,5 horas, mas com início de ação mais tardio no caso do Salmeterol. O uso regular de β2-agonistas por 4 a 8 semanas foi relacionado a uma ausência de resposta após este período, caracterizando assim o fenômeno de tolerância8-10. Já o uso de até 3 vezes/semana não resultou em tolerância11. No entanto, o uso regular e isolado de β2 de longa duração, sem a associação com CI, não é recomendado. O brometo de ipratrópio pode ser útil em determinados atletas, mas a maioria é não responsiva. A associação com β2-agonista aumenta a sua eficácia. As recomendações gerais para o tratamento do BIE em atletas são as seguintes: • Naqueles com BIE sem suspeita de asma, usar β2agonista 10 a 15 minutos antes do esforço; • BIE com sintomas asmáticos, iniciar CI com ou sem o uso de alívio com β2-agonista de curta duração. Na ausência de controle, considerar a adição de (1) β2agonista de curta antes do esforço, (2) β2-agonista de longa duração, (3) inibidores de leucotrienos; (Tabela 2) A ausência de resposta ao tratamento pode ser um erro diagnóstico e este deve ser revisto. Outra causa possível é a não aderência ao tratamento ou o uso inadequado da medicação. Tabela 1. Testes diagnósticos recomendados pelo COI para a comprovação de broncoespasmo induzido no exercício (BIE). Teste diagnósticos Critério de resposta Resposta ao Bd inalatório aumento no VEF1 de pelo menos 12%, após o uso de β2-agonista, em relação ao valor basal; Teste de esforço ou de hiperventilação voluntária isocápnica Queda >10% do VEF1 do valor basal Teste com metacolina PC20 < 4mg/ml ou PD20 < 2µmol em atletas sem uso prévio de corticoide inalatório (CI); quando há uso de CI por pelo menos 1 mês, PC20 < 16mg/ml Teste com manitol ou solução ou PD20 < 8µmol queda no VEF1 > 15% do valor basal hiperosmolar Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 21 Tabela 2. Vantagens e desvantagens das principais medicações no tratamento da asma e do BIE em atletas. Vantagens Alta eficácia Desvantagens Corticoides inalatórios β2-agonista de curta duração Alta eficácia no alívio de crise e no pré Tolerância após 4 a 8 semanas β2-agonista de longa duração esforço como prevenção Alta eficácia Inib de leucotrienos Boa resposta em alguns atletas, ausência de tolerância Lista de Medicações Proibidas – Código AntiDoping (Agosto 2011) Todos os β2-agonistas são proibidos, exceto Salbutamol (máximo 1600µg em 24 horas), Formoterol (máximo 36µg em 24 horas) e Salmeterol. Até recentemente, o Formoterol ainda tinha uso proibido, mas nesta última atualização de 2011 ele foi liberado com dosagem máxima descrita acima. Entretanto, uma concentração na urina maior do que 1000ηg/ml de Salbutamol e 30ηg/ml para o Formoterol são considerados como achado adverso e não terapêutico e, com isso, o atleta deverá justificar o uso em excesso. No caso de um atleta precisar de doses de β2-agonista superiores ao limite referido, deverá ser enviado o termo médico específico TUE (Therapeutic Use Exception, www.wada-ama.org/en/ Science-Medicine/TUE). O COI deixa bem claro que o uso em excesso de β2-agonista e administrado sistemicamente serão considerados como inadequados e sujeitos à punição. Todos os glucocorticosteroides são proibidos quando administrados por via oral, endovenosa, intramuscular ou retal. O uso inalatório é liberado. Esforços do COI e da WADA em relação a novos testes laboratoriais para detecção de dosagem corporal já estão sendo feitos Conclusão Antes de sabermos quais medicações podemos usar em nossos atletas com asma e/ou BIE, devemos fazer a busca e confirmação diagnóstica seguindo os critérios adotados pela WADA e COI. Em adição, é de extrema importância uma maior conscientização dos atletas e profissionais envolvidos no esporte sobre a ocorrência de sintomas respiratórios nesta população, uma vez que certamente há uma subnotificação em nosso país. Por fim, o tratamento deverá seguir as diretrizes já aplicadas para pacientes asmáticos, tendo consciência das dosagens e substâncias autorizadas pelos órgãos responsáveis (WADA e COI). Referências Bibliográficas 1. 22 Efeitos colaterais sistêmicos quando em altas doses Carlsen KH, Anderson SD, Bjermer L, Bonini S, Brusasco V, Canonica W, et al. Exercise-induced asthma, respiratory and allergic disorders in elite athletes: epidemiology, mechanisms and diagnosis: part I of the report from the Joint Task Force of the European Respiratory Society (ERS) and the European Academy of Allergy and Clinical Immunology (EAACI) in Início tardio de ação (Salmaterol)Tolerância? Menor eficácia do que CI cooperation with GA2LEN. Allergy. 2008;63(4):387-403. 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O teste de exercício cardiopulmonar ou ergoespirometria envolve um arsenal tecnológico mais sofisticado e dispendioso e um algoritmo de interpretação complexo. A adição do estudo da ventilação e da troca gasosa durante o esforço às medidas do ECG e pressão arterial utilizadas pelos testes de exercício convencionais fornece uma avaliação mais precisa da capacidade aeróbia e possibilita uma análise ímpar não invasiva da performance dos sistemas cardiovascular, pulmonar e muscularesquelético. Os equipamentos atualmente disponíveis baseiam-se no processamento de quatro sinais básicos para a geração de todos os parâmetros fornecidos com o teste, que são: fluxo de ar, oxigênio, dióxido de carbono e frequência cardíaca. A troca gasosa expressa pelo consumo de oxigênio e produção do dióxido de carbono é avaliada através de analisadores de gás altamente precisos respiração por respiração (“breathby-breath”). O teste comumente é feito em bicicleta estacionária ou esteira ergométrica. O cicloergômetro é geralmente preferível à esteira por ser mais seguro, minimizar os artefatos do ECG, permitir a medida direta da carga e facilitar a coleta de amostra de sangue arterial durante o exercício, entrementes subestima em 5-11% o consumo máximo de oxigênio e causa mais fadiga muscular localizada do que a esteira. No Brasil, dispomos de valores previstos para os parâmetros do exercício obtidos no cicloergômetro, mas não para a esteira. Vários protocolos podem ser usados durante o exercício em esteira ou bicicleta, sendo os dois principais: o protocolo incremental constituído por aumento progressivo da carga a cada intervalo de tempo predeterminado e o protocolo de carga constante, onde a carga é mantida estável por um Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 intervalo de tempo ou é sustentada até o limite da tolerância. Os protocolos incrementais são os preferíveis para avaliar a tolerância ao esforço e os seus fatores limitantes. A associação entre as medidas do VO2, VCO2, ventilação minuto e frequência cardíaca resultará em outras variáveis que expressarão as respostas metabólica, cardiocirculatória e muscular periférica ao esforço. A medida da capacidade inspiratória (CI) durante o esforço é uma medida não invasiva da mecânica do sistema respiratório permitindo a detecção de limitação ao fluxo expiratório e da hiperinsuflação pulmonar dinâmica, portanto deve ser realizada de rotina em pneumopatas crônicos ou indivíduos sob investigação de dispneia (figuras 1 e 2). Os objetivos principais do TECP são: 1) determinar se há ou não evidência de intolerância ao exercício, 2) identificar quais os fatores podem estar contribuindo para a limitação ao esforço, e 3) investigar a segurança ou riscos da prescrição de exercício para o indivíduo avaliado. Outras indicações do teste incluem: quantificação da intolerância ao esforço num indivíduo com diagnóstico de uma enfermidade cardiorrespiratória; avaliação da indicação e da resposta a intervenções terapêuticas (exemplo, oxigenioterapia e reabilitação pulmonar num pneumopata crônico); estimativa prognóstica nas doenças cardiorrespiratórias crônicas; avaliação pré-operatória e pósoperatória, o que envolve principalmente as grandes ressecções pulmonares e a cirurgia redutora de volume pulmonar; indicação de transplante pulmonar e/ ou cardíaco; diagnóstico do broncoespasmo induzido pelo esforço; quantificação de incapacidade em indivíduo portador de doença pulmonar ocupacional; prescrição e avaliação da resposta ao treinamento físico1. Causas de dispneia As principais razões para interrupção precoce de um teste são dispneia e fadiga de pernas. A dispneia ocorre quando há um desequilíbrio entre o comando respiratório central eferente e a resposta da bomba muscular respiratória. Nas doenças pulmonares, o comando respiratório eferente aumenta em resposta a vários estímulos: hipoxia, hipercapnia e acidose, que ocorrem ou são exarcebados durante o 23 exercício. Os corpos carotídeos são os quimiorreceptores que controlam a ventilação em resposta à hipoxemia e acidose. A fadiga muscular respiratória ocorre em resposta à deterioração da mecânica do sistema respiratório. A fadiga muscular periférica ocorre por falência do metabolismo aeróbico em atender as demandas celulares de O2. Doenças pulmonares, cardíacas ou vasculares prejudicam a oferta de O 2 para os tecidos e reduzem a capacidade aeróbia 2. Disfunção muscular pode também contribuir para o desconforto das pernas e explicar a intolerância ao exercício observada em pneumopatas e cardiopatas crônicos. Fig.1 - Curvas fluxo-volume máximas em repouso (azul) e após 5 minutos do término do exercício em esteira (vermelha). As curvas menores internas representam o volume corrente em repouso (azul); durante o esforço (verde) e após o exercício (em vermelho). Caso clínico - paciente do sexo masculino, 31 anos, 173 cm, asma intermitente leve na infância, última crise aos 12 anos; no momento, referia intolerância aos esforços (ao jogar futebol, três vezes por semana). Solicitado TECP para avaliação da dispneia aos esforços. Valores espirométricos em repouso: CVF 5,91 L (115%); VEF1 4,23 L (99%) e razão VEF1/CVF 0,72 (distúrbio ventilatório obstrutivo de grau leve). O paciente exercitou-se por 12 minutos, sendo o teste interrompido por dispneia e fadiga de pernas (graus 9 e 5, respectivamente pela escala de BORG). Capacidade aeróbica, limiar de lactato e pulso de oxigênio dentro da faixa prevista. Reserva ventilatória de 25 L/min, razão VE/VCO2 24 e PETCO2 no limiar de lactato 40 (normais); sem distúrbios da troca gasosa. Durante o esforço, foram realizadas manobras de capacidade inspiratória, sendo observados aumento do volume pulmonar no final da inspiração (seta vermelha fechada) e diminuição da CI (seta vermelha aberta) em relação ao repouso (seta azul fechada e aberta, respectivamente), caracterizando hiperinsuflação pulmonar dinâmica. Após o exercício, houve diminuição significativa do VEF1 (23% do valor inicial) compatível com broncoespasmo induzido pelo exercício. 24 Os padrões de respostas cardiopulmonar e da troca gasosa podem separar limitações cardíaca e pulmonar e outras causas de intolerância ao esforço. Somente em condições específicas, como no caso do broncoespasmo induzido pelo exercício, a ergoespirometria terá um papel diagnóstico2 (figura 1). Na maioria dos casos, o teste de exercício demonstra alterações fisiopatológicas que guiarão a propedêutica posterior. Avaliação da dispneia de causa inaparente Dispneia inexplicada durante o exercício é um motivo frequente para a indicação do teste de esforço, e a ergoespirometria deve ser vista como um complemento fundamental dentro de uma escala hierarquizada orientada por um exame médico anterior. Idealmente o paciente será encaminhado para a realização do teste com uma história médica, exame físico e, às vezes, com uma hipótese diagnóstica. Alguns exames complementares já poderão ter sido realizados (por exemplo, hematócrito, ECG de repouso, radiografia do tórax, gasometria arterial, espirometria, teste de broncoprovocação farmacológica, medida dos volumes pulmonares estáticos, difusão pulmonar e/ou ecocardiograma). Noutros casos, os resultados do teste de esforço poderão orientar exames auxiliares (não invasivos ou invasivos) para a elucidação diagnóstica ou estabelecer o diagnóstico do caso avaliado (figura 1). As provas de função pulmonar são fundamentais para a avaliação da dispneia. A espirometria (incluindo-se a avaliação da resposta a broncodilatador) deve ser o primeiro teste solicitado, e o seu resultado orientará a investigação posterior. Em indivíduos jovens, onde a prevalência de asma é alta, o teste de broncoprovocação farmacológica é o próximo passo na lista propedêutica. Se a causa da dispneia não for esclarecida, o TECP será bem indicado. Em indivíduos mais velhos, a ergoespirometria de preferência deve vir após a medida dos volumes pulmonares estáticos, resistência das vias aéreas e análises da troca gasosa. A dispneia é um sintoma que costuma ser exacerbado com o exercício, e na sua fase inicial muitas vezes só é perceptível durante a realização de uma atividade física. A abilidade pulmonar e cardiocirculatória no transporte de oxigênio aos tecidos suporta todos os processos bioquímicos envolvidos na geração de energia e produção de dióxido de carbono pelas células musculares. Avaliação das respostas cardiovascular, respiratória e muscular periférica ao exercício são, portanto, essenciais na dispneia de causa inexplicada. O defeito pode estar nos pulmões, coração, circulação periférica ou vascular pulmonar, no teor ou qualidade da hemoglobina, ou pode ser devido a um distúrbio metabólico, musculo-esquelético e psicogênico3. A limitação ao fluxo expiratório é a principal causa de intolerância ao esforço na DPOC. A constante de tempo para esvaziamento pulmonar (isto é, o produto entre a complacência pulmonar e a resistência das vias aéreas) costuma ser insuficiente para que o volume pulmonar no final da expiração diminua abaixo do seu volume de relaxamento previsto, o que resulta frequentemente em Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 Fig. 2 - Alça fluxo-volume em repouso e durante exercício em a) controle saudável > 40 anos e b) pacientes com DPOC; _____ limites máximos de fluxo e volume e volume corrente (VC); ———— VC durante o exercício; ——— manobra da capacidade inspiratória (CI) até a capacidade pulmonar total (CPT) usada para ancorar as curvas fluxo-volume dentro dos respectivos envelopes máximos de repouso; ...... curva fluxo-volume expiratória prevista. VR: volume residual. Indivíduos saudáveis são capazes de aumentar tanto o VC quanto os fluxo inspiratório e expiratório. Na DPOC, o fluxo expiratório já é máximo em repouso, então para aumentar ainda mais o fluxo expiratório durante o esforço, esses pacientes devem hiperinsuflar, o que é caracterizado na curva fluxo-volume pelo aumento significativo do volume-pulmonar no final da expiração (VPFE) - setas. Adaptada da referência 3. aumento do volume pulmonar no final da expiração (VPFE) e aprisionamento de ar3. Durante o esforço, o VPFE aumenta além do seu valor de repouso, o que caracteriza a hiperinsuflação pulmonar dinâmica frequentemente observada em pacientes portadores de DPOC. A redução progressiva da CI e do volume inspiratório de reserva, resultante do aumento do VPFE, então, aproxima o volume corrente (VC) da capacidade pulmonar total (CPT) - porção não complacente da curva pressão-volume do sistema respiratório, onde o limiar de carga elástica à inspiração (trabalho da respiração) é muito elevado (figura 2)3. Deve-se suspeitar de doença pulmonar intersticial quando observamos os seguintes achados num TECP: diminuição da ventilação de pico (VE) e da reserva ventilatória (VE VVM), ineficiência ventilatória (aumento da razão VE/VCO2 no limiar de lactato) e associação de frequência respiratória alta com volume corrente baixo para uma dada ventilação. A FR pode chegar a valores extremamente altos (50 respirações/ minuto) no pico do exercício. Aumento na ventilação submáxima geralmente se deve à ineficiência ventilatória por conta da elevação do espaço morto fisiológico (aumento da razão entre o volume do espaço morto e o volume de ar corrente (VEM/VAC)), hipoxemia arterial e acidose metabólica precoce. Hiperinsuflação pulmonar dinâmica geralmente não é demonstrada nesses indivíduos, e a capacidade inspiratória permanece inalterada 2 . A disfunção circulatória (representada por limiar de lactato precoce, resposta taquicárdica, redução do pulso de O2 e da relação VO2/carga) e de troca gasosa (representada pela dessaturação no exercício e aumento da razão VEM/VAC) são também um importante mecanismo de limitação ao exercício nas DPI. Esses pacientes podem demonstrar sobreposição significativa da alça de volume corrente em relação ao envelope máximo de repouso, caracterizando limitação ao Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 fluxo expiratório (figura 2). A combinação de limitação ventilatória e cardiocirculatória, na verdade, é um padrão inespecífico, que pode ter outras causas, como doença da circulação pulmonar ou até mesmo a combinação de fibrose e hipertensão pulmonar 4, 5. Na vigência de tais resultados, exames subsequentes, como medidas dos volumes pulmonares estáticos e difusão pulmonar (se ainda não realizados), tomografia de alta resolução do tórax e ecocardiograma, poderão compor o diagnóstico definitivo ou orientar exames invasivos, como biopsia pulmonar ou cateterismo cardíaco direito. PET CO2 inferior a 30 mmHg e a relação VE/VCO2 superior a 40 no TECP são sugestivos de doença da circulação pulmonar, apresentando correlação com a pressão arterial pulmonar e prognóstico6. Indivíduos com a combinação de doença pulmonar intersticial e hipertensão pulmonar apresentam um maior comprometimento da capacidade aeróbia, da ineficiência ventilatória e dispneia5. Os padrões de respostas ao cicloergômetro podem se sobrepor e se assemelharem em indivíduos com doenças pulmonares obstrutivas, restritivas e hipertensão pulmonar. Todas podem exibir graus variados de limitação ventilatória, distúrbio de troca gasosa e limitação cardiocirculatória, ainda podendo ocorrer a associação de hipertensão pulmonar com fibrose pulmonar e DPOC. Os resultados dos testes de função pulmonar em repouso e a resposta mecânica da curva fluxovolume durante o esforço (esta última mais observada nas doenças restritivas e obstrutivas) podem ajudar no diagnóstico diferencial com as doenças vasculares pulmonares 3. Na avaliação de um indivíduo que possui múltiplas causas possíveis de dispneia, os testes de exercício podem revelar distúrbios ocultos e determinar os fatores mais impactantes da intolerância ao esforço, com possíveis repercussões na conduta terapêutica e no prognóstico. Em indivíduos portadores de 25 Para conclusão utilizamos a figura 4, onde demonstramos o papel do TECP numa escala hierarquizada para a avaliação da dispneia de causa inexplicada e a conduta seguinte de acordo com os resultados do teste de esforço. Referências Bibliográficas 1. 2. 3. 4. 5. 6. Fig. 3 - Curva fluxo-volume máxima em repouso (azul) de um indivíduo com diagnóstico de pneumonia de hipersensibilidade crônica. Durante o esforço observamos sobreposição significativa da alça de volume corrente (curva vermelha) em relação ao envelope máximo de repouso, caracterizando limitação ao fluxo expiratório (seta preta). DPOC, por exemplo, a presença de dispneia desproporcional ao grau de obstrução ao fluxo aéreo deve orientar o médico para investigar outros fatores que possam estar contribuindo para a intolerância ao esforço (como cardiopatia, doença da circulação pulmonar ou até mesmo anemia)7. 7. Neder JA, Nery LE. Fisiologia Clínica do Exercício. São Paulo: Artes Médicas, 2002: 267-87 Ferrazza AM, Martolini D, Valli G, Palange P. Cardiopulmonary exercise testing in the functional and prognostic evaluation of patients with pulmonary diseases. Respiration; international review of thoracic diseases. 2009;77(1):3-17. Palange P, Ward SA, Carlsen KH, Casaburi R, Gallagher CG, Gosselink R, et al. Recommendations on the use of exercise testing in clinical practice. Eur Respir J. 2007 Jan;29(1):185-209. Marciniuk DD, Sridhar G, Clemens RE, Zintel TA, Gallagher CG. Lung volumes and expiratory flow limitation during exercise in interstitial lung disease. J Appl Physiol. 1994 Aug;77(2):963-73. Glaser S, Noga O, Koch B, Opitz CF, Schmidt B, Temmesfeld B, et al. Impact of pulmonary hypertension on gas exchange and exercise capacity in patients with pulmonary fibrosis. Respiratory medicine. 2009 Feb;103(2):317-24. Yasunobu Y, Oudiz RJ, Sun XG, Hansen JE, Wasserman K. Endtidal PCO2 abnormality and exercise limitation in patients with primary pulmonary hypertension. Chest. 2005 May;127(5):1637-46. Boutou AK, Stanopoulos I, Pitsiou GG, Kontakiotis T, Kyriazis G, Sichletidis L, et al. Anemia of chronic disease in chronic obstructive pulmonary disease: a case-control study of cardiopulmonary exercise responses. Respiration; international review of thoracic diseases.82(3):237-45. Sílvia Carla Sousa Rodrigues [email protected] Fig. 4 - Algoritmo para avaliação da dispneia (cortesia Dr. José Alberto Neder). 26 Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 Utilização do teste de exercício cardiopulmonar na avaliação pré-operatória AUTORES: Fabiana Stanzani, Liana Pinheiro, Sonia Maria Faresin SERVIÇO: Disciplina de Pneumologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) A avaliação pré-operatória nos procedimentos operatórios eletivos, em particular na ressecção do parênquima pulmonar, sempre caminhou de braços dados com os testes de função pulmonar uma vez que o risco operatório equilibra-se sobre o seguinte tripé: estado de saúde global do doente no momento da intervenção, procedimento anestésico requerido e extensão do procedimento proposto. Os constantes avanços observados nas diversas áreas técnicas que envolvem o processo peri-operatório permitiram que doentes mais velhos e com maior número de comorbidades usufruíssem de um maior e mais complexo leque de tratamentos operatórios. Em contrapartida, exigiu que a avaliação da reserva funcional no pré-operatório também se tornasse mais complexa. Ter reserva significa ser capaz de lidar com sobrecargas como o estresse operatório e possíveis complicações pós-operatórias sem levar o organismo a um colapso. Desde a Segunda Grande Guerra, momento no qual a anestesia e a cirurgia deram saltos enormes, sem haver praticamente nenhuma preocupação com a avaliação préoperatória, passando pelo início da década de 1960, quando ocorreu publicação da primeira versão da escala da Sociedade Americana de Anestesiologia (ASA), foram nos últimos 10 anos deste século que se divisaram horizontes mais amplos e fascinantes na categorização do risco operatório. Para entender em que ponto nos encontramos na avaliação dos nossos doentes candidatos a procedimentos operatórios que requerem ressecção pulmonar e como exames tidos como complexos, como o teste de exercício cardiopulmonar (TECP) se aplicam aqui, faremos um breve histórico. Em 1955, Gaensler e colaboradores, assistindo doentes portadores de tuberculose, observaram que aqueles com VEF1 inferior a 70% do valor previsto e com VVM inferior a 50% do valor previsto, apresentavam, no pós-operatório de ressecção pulmonar, mortalidade em torno de 50% 1. Após o sucesso da terapia combinada para o tratamento da tuberculose, os cirurgiões voltaram sua atenção ao tratamento operatório do câncer de pulmão, o qual na época consistia em grandes ressecções pulmonares. Uma vez que estas operações envolviam a retirada de porções de pulmão Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 saudável, esta nova situação trouxe a necessidade de predizer a função pulmonar residual ao procedimento. Assim, na década de 1970, os primeiros estudos foram publicados mostrando os resultados obtidos com a utilização da cintilografia de perfusão pulmonar na previsão da função pulmonar após pneumonectomia2,3. Olsen e colaboradores relataram que quando o VEF1 previsto para o pós-operatório (VEF1ppo) fosse inferior a 800 mL, o risco de um desfecho desfavorável era grande. A aplicação deste limite possibilitou uma considerável queda nas taxas de morbi-mortalidade, que decresceram para 27%. Ferguson e colaboradores, em 1988, publicaram um estudo, embora retrospectivo, com resultado bastante interessante, e que só seria valorizado décadas depois. Na tentativa de encontrar novos preditores de risco para ressecção pulmonar, os autores observaram que a capacidade de difusão de monóxido de carbono (DCO) se comportava como um bom preditor de morbidade pulmonar e morte. Esta foi a primeira vez que um exame teve impacto superior ao da espirometria na avaliação funcional pré-operatória de candidatos a este tipo de procedimento. Este trabalho, também, contou com mérito adicional por ter utilizado a porcentagem dos valores previstos ao invés de valores absolutos, que sofrem interferência muitas vezes do sexo, idade e dados antropométricos dos doentes. A obtenção de valores de DCO inferiores a 60% do previsto no préoperatório indicou um maior risco de ocorrência de complicações pós-operatórias4. No ano seguinte, foi a vez de Markos e colaboradores contribuirem para o refinamento da estratificação de risco. Analisando 55 doentes que realizaram a cintilografia de perfusão pulmonar no período pré-operatório, demostraram que quando os valores de VEF1ppo e de DCOppo estivessem inferiores a 40% do valores previstos, o risco de complicações aumentava bastante5. Em 1994, Kearney confirmou este valor limítrofe de 40% previamente estabelecido e inovou ao utilizar uma simples regra de três, considerando apenas os segmentos funcionantes a serem ressecados, para calcular o VEF1ppo e o DCOppo após lobectomias. Esta medida deu praticidade 27 e mais precisão para o cálculo da função residual após este tipo de ressecção, que é a mais frequentemente realizada até hoje. Uma vez que a cintilografia pulmonar é um exame caro e incapaz de discriminar a segmentação brônquica seu papel ficou restrito às avaliações para pneumonectomias6. Em 1991, um artigo prospectivo que não envolvia qualquer ressecção pulmonar chamou a atenção do mundo científico, pois demonstrou que em doente portador de insuficiência cardíaca, com consumo de oxigênio no pico do exercício (VO2pico) menor do que 14 mL/kg/min a sobrevida era menor e que esta medida foi melhor preditora de sobrevida do que a fração de ejeção. Este resultado ajudou a mudar os critérios para a indicação de transplante cardíaco7. Embora este não tenha sido o primeiro estudo no qual o TECP tenha se mostrado útil, ele foi capaz de impressionar toda a comunidade científica e inspirar novos trabalhos. Então, na segunda metade da década de 1990, um grupo de estudiosos sul-africanos liderados por Bolliger passou a desenvolver um algoritmo de avaliação dos candidatos à ressecção pulmonar, a partir do momento que um estudo preliminar demonstrou que quando o VO2pico era inferior a 60% do previsto, as complicações pós-operatórias tinham sido mais frequentes8,9. A validação do algoritmo proposto por este núcleo de pesquisa levou a redução de 50% nas complicações sem aumentar a taxa de doentes cuja operação era limitada pela baixa função pulmonar, no serviço onde ele foi desenvolvido 10,11. Esses estudos trouxeram consistência a este tipo de avaliação, pois o VO2pico foi capaz de fazer a distinção entre os riscos aceitável e alto para ocorrência de insuficiência respiratória crônica no pós-operatório. O reconhecimento do trabalho de todos estes pesquisadores veio com a publicação de diversos consensos sequenciais, começando com o da Sociedade Britânica de Tórax em 2001, passando pelos americanos, até o último publicado pela Sociedade Européia de Tórax, em 200912-15. Deles, dois algoritmos foram propostos. Ambos ressaltam a importância do TECP mas, até o momento, não existem estudos que mostrem que um algoritmo seja superior ao outro, porém há trabalhos revelando que a maioria dos médicos não usa nenhum dos dois, levando a erros de julgamento, principalmente pelos médicos mais jovens16-17. Entretanto, a grande diferença entre os algoritmos referidos, está justamente no momento da indicação do TECP. O consenso americano recomenda que este exame deva ser feito quando o VEF1ppo ou o DCOppo sejam inferiores a 40% do previsto. O europeu discorda e recomenda a realização do TECP precocemente, antes mesmo de avaliar os cálculos da função residual ao procedimento proposto. Assim, se a porcentagem do previsto dos valores do VEF1 ou da DCO pré-operatórias forem inferiores a 80%, o exame está indicado. Atualmente está bem definido que valores baixos do VO2pico estão mais fortemente relacionados à ocorrência de complicações do que valores baixos do VEF1ppo e do 28 DCOppo. A consagração do teste na avaliação pré-operatória de ressecção pulmonar trouxe um novo questionamento: haveria outro teste dinâmico tão acurado quanto o TECP, mas mais barato e disponível na maioria dos hospitais? Infelizmente não. Nenhum outro teste de exercício, até o momento, mostrou-se igual ou superior ao TECP. Entretanto, alguns estudos evidenciaram que uma altura galgada no teste da escada superior a 22 metros, ou caminhar mais de 25 voltas ou 400 metros no teste de shuttle refletiam um risco aceitável de morbi-mortalidade. Vale ressaltar que apesar destes resultados animadores, não se deve valorizá-los isoladamente, principalmente em doentes com comprometimento funcional, situação na qual o TECP fará informações mais seguras 14-15. No nosso meio ainda há outro cenário no qual o TECP obteve papel de destaque: a avaliação do candidato à cirurgia redutora de volume pulmonar. O portador de enfisema predominantemente nos lobos superiores com baixa tolerância ao exercício, definida pelo NETT como a máxima carga atingida de 25W para mulheres e de 40W para homens, é o candidato com potencial ganho de sobrevida após a cirurgia redutora de volume pulmonar 18. A grande utilidade do VO 2 pico nos procedimentos torácicos despertou o interesse de outros médicos que tinham dificuldade em identificar o doente de alto risco para complicações cardiopulmonares e o TECP passou a ser realizado no pré-operatório de procedimentos abdominais e vasculares de grande porte como transplante hepático, reparo de aneurisma de aorta e esofagectomias19. Porém, como já desconfiavam os estudiosos da fisiologia respiratória, o TECP tinha muito mais a oferecer do que o valor do VO2pico. Assim, recentemente, novos parâmetros têm sido analisados e parecem adicionar elementos para melhor conhecimento dos riscos envolvidos, integrando os sistemas respiratório e hemodinâmico, o que provavelmente transformará a forma como avaliamos o risco atualmente. A relação VE/VCO2 elevada já tinha se mostrado um preditor de menor sobrevida nos doentes com insuficiência cardíaca e, estudos publicados nos últimos anos, desta vez realizados com portadores de DPOC e hipertensão pulmonar, mostraram os mesmos resultados. Ao perder leito vascular em decorrência de uma ressecção pulmonar, os doentes podem agravar uma hipertensão pulmonar incipiente o que contribuirá para o seu óbito20. Older e colaboradores, estudando 548 doentes com mais de 60 anos submetidos a diversos tipos de procedimentos, encontraram que o limiar de lactato menor que 11 mL/kg/min marcou aqueles que morreram de complicações cardiopulmonares22. Mais estudos são necessários para esclarecerem como e qual a melhor forma desses novos parâmetros participarem da avaliação pré-operatória. Além do mais, existem ainda outras lacunas a serem preenchidas em relação ao próprio TECP, como a padronização das técnicas de realização dos Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 exames nos diversos tipos de avaliações (bicicleta ou esteira), a apresentação dos resultados (VO2pico em mL/ Kg/min ou porcentagem do valor previsto), a categorização dos riscos, o momento em que o exame deve ser feito, além da clássica discussão sobre quais as complicações pósoperatórias efetivamente podem ser envolvidas no processo de avaliação. Por fim, os resultados obtidos até agora apontam para o fato de que o TECP será um divisor de águas dentro da avaliação pré-operatória dos procedimentos de grande porte, pois permite identificar o doente de alto risco. Muito provavelmente, contribuirá também para contra-indicá-los quando o risco de morte no pós-operatório for maior que o risco do tratamento clínico disponível no momento. Referências Bibliográficas 1. Gaensler EA, Cugell DW, Lindgren I, Verstraeten JM et al. The role of pulmonary insufficiency in mortality and invalidism following surgery for pulmonary tuberculosis. J Thorac Surg 1955; 29 (2): 163-85. 2. Kristersson S, Lindell SE, Svanberg L. Prediction of pulmonary function loss due to pneumonectomy using 133Xe-radiospirometry. Chest 1972; 62 (6): 694-8. 3. Olsen GN, Block AJ, Tobias JA. Prediction of postpneumonectomy pulmonary function using quantitative macroaggregate lung scanning. Chest 1974; 66 (1): 13-16. 4. Ferguson MK, Little L, Rizzo L, Popovitch KJ et al. Diffusing capacity predicts morbidity and mortality after pulmonary resection. J Thorac Cardiovasc Surg 1988; 96 (6): 894-900. 5. Markos J, Mullan BP, Hillman DR, Musk AW et al. Preoperative assessment as a predictor of mortality and morbidity after lung resection. Am Rev Respir Dis 1989; 139 (4): 902-10. 6. Kearney DJ, Lee TH, Reilly JJ, DeCamp MM et al. Assessment of operative risk in patients undergoing lung resection. Chest 1994; 105 (3): 753-9. 7. Mancini DM, Eisen H, Kussmaul W, Mull R et al. Value of peak exercise oxygen consumption for optimal timing for cardiac transplantation in ambulatory patients with heart failure. Circulation 1991; 83 (3): 778-86. 8. Bolliger CT, Wyser C, Roser H, Sòler M et al. Lung scanning and exercise testing for the prediction of postoperative performance in lung resection candidates at increased risk complications. Chest 1995; 108 (2): 341-8. 9. Bolliger CT, Jordan P, Solèr M, Stulz P et al. Exercise capacity as a predictor of postoperative complications in lung resection candidates. Am J Respir Crit Care Med 1995; 151 (5): 1472-80. 10. Bolliger CT, Perruchoud AP. Functional evaluation of the lung resection candidate. Eur Respir J 1998; 11 (1): 198-212. 11. Wyser C, Stulz P, Solèr M, Tamm M et al. Prospective evaluation of an algorithm for the functional assessment of lung resection candidates. 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Lung function evaluation before surgery in lung cancer patients: how are recent advances put into practice? A survey among members of the European Society of Thoracic Surgeons and of the Thoracic Oncology Section of the European Respiratory Society. Interact Cardiovasc Thorac Surg 2009; 9 (6):925-31. 17. Ferguson MK, Stromberg JD, Celauro AM. Estimating lung resection risk: a pilot study of trainee and practicing surgeons. Ann Thorac Surg 2010; 89 (4): 1037-43. 18. Edwards MA, Hazelrrig S, Naunheim KS. The national emphysema treatment trial: summary and update. Thorac Surg Clin 2009; 19: 169-85. 19. Smith TB, Stonell C, Purkayastha S, Paraskevas P. Cardiopulmonary exercise testing as a risk assessment method in non-cardio-pulmonary surgery: a systematic review. Anaesthesia 2009; 64 (8): 883-893. 20. Holverda MH, Bogaard HJ, Groepenhoff H, Postmus PE et al. Cardiopulmonary exercise test characteristics in patients with chronic obstructive pulmonary disease and associated pulmonary hypertension. Respiration 2008; 76:160-7. 21. Older P, Hall A, Hader R. Cardiopulmonary exercise testing as a screening test for preoperative management of major surgery in the elderly. Chest 1991; 116: 355-62. Fabiana Stanzani [email protected] 29 O teste de caminhada de 6 minutos e sua aplicabilidade AUTORES: Maria Raquel Soares1, Carlos Alberto de Castro Pereira1,2 SERVIÇO: 1 2 Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) O teste de caminhada de 6 minutos (TCAM6) é amplamente aceito e utilizado para avaliação clínica do estado funcional de pacientes com doenças cardiopulmonares. O teste baseia-se no parâmetro fundamental da distância percorrida durante um tempo especificado. É simples, bem tolerado, requer equipamentos de baixo custo e reflete um nível submáximo de esforço, que é mais compatível com o esforço requerido para as atividades físicas da vida diária. O TCAM6 fornece dados confiáveis e reprodutíveis que auxiliam em medidas de comparações pré e pós-tratamento1,2, na avaliação do estado funcional3,4 e de previsão de morbidade e mortalidade para várias doenças 1,5-8. Historicamente, testes de distância foram primeiramente defendidos por Balke9 em 1963, como um meio de avaliar a aptidão física. Kenneth H. Cooper10 usou mais tarde um teste de corrida de 12 minutos em oficiais aviadores saudáveis da força aérea americana, e demonstrou uma forte correlação da distância percorrida obtida por um teste em esteira com o consumo máximo de oxigênio. McGavin11 fez modificações adicionais para o teste em 1976, e usou um teste de caminhada de 12 minutos para avaliar incapacidade em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Os trabalhos posteriores determinaram a eficácia e a confiabilidade do teste de caminhada em intervalos menores de tempo e, eventualmente, o tempo de 6 minutos tornou-se o protocolo mais amplamente aceito12. Em 2002, a American Thoracic Society (ATS) publicou orientações específicas sobre a utilização do TCAM6 e da metodologia para sua realização13. Aspectos técnicos do teste foram bem definidos, incluindo principalmente um corredor em linha reta, plano, com uma superfície dura e medindo no mínimo 30 metros, além de descrição de equipamentos necessários, preparação do paciente, e instruções detalhadas para sua realização. A referência da ATS abordou também a necessidade de instruções padronizadas ao paciente, antes e durante o teste, para eliminar a possibilidade de efeitos de treinamento ou incentivo. Para se estabelecer as indicações adequadas para TCAM6, é importante ter sedimentado o que o teste se propõe a medir. O objetivo primário do teste é determinar a maior distância que o paciente é capaz de percorrer andando em um trajeto plano, na velocidade que ele escolher, num 30 período de 6 minutos. Não é um teste de performance, ou seja, não dá nenhuma informação acerca do desempenho atlético do examinado. Não permite o estabelecimento da causa subjacente à limitação ao exercício físico; para isso, é necessário o teste de exercício cardiopulmonar (TCPE)14. O TCAM6 é, por definição, um teste de endurance, ou seja, um teste submáximo. Como demonstrado na figura.1, para a maioria dos pacientes com doença leve à moderada, a demanda metabólica é inferior à máxima obtida num teste incremental (como os outros testes de exercício: step, shuttle e o TCPE); portanto, os limites máximos não são habitualmente atingidos nestes casos – o que é chamado de “efeito teto” do teste. Entretanto, para um grupo de pacientes mais graves, o TCAM6 pode ser considerado um teste “quase-máximo”, já que o dispêndio metabólicoenergético durante o teste aproxima-se do máximo limitado por sintomas nestes pacientes15. Apesar da limitação descrita acima, o TCAM6 quando realizado seguindo um protocolo padrão, pode fornecer informações dos indicadores da capacidade funcional por meio da distância caminhada em 6 minutos (DCAM6): da integridade da troca gasosa intrapulmonar (por meio da saturação da oxi-hemoglobina), do estresse cardiovascular (pela frequência cardíaca) e do estresse sensorial (pelos escores de dispneia e fadiga, associados a um esforço submáximo)16. Fig.1. Dispêndio metabólico (VO2 = consumo de oxigênio) em quatro modalidades distintas de testes de exercício em pacientes com DPOC moderada à grave [Modificado de: Turner et al. Chest 2004; 126(3):668-70] Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 Assim, o TCAM6 tem suas indicações bem estabelecidas para comparações antes e depois de intervenções, para medida da capacidade funcional e para predizer prognóstico, nas seguintes doenças: DPOC, doenças pulmonares intersticiais (DPI), hipertensão pulmonar (HP) e na insuficiência cardíaca (IC). O TCAM6 tem também importante papel na avaliação pré-operatória de cirurgia cardíaca, de ressecção e redutora de volume pulmonar e em casos de transplante pulmonar 1. Na DPOC, Celli e cols. conduziram um estudo multicêntrico8 e identificaram quatro principais preditores de mortalidade: índice de massa corpórea (IMC), grau de obstrução das vias aéreas, grau de dispneia e capacidade de exercício (DCAM6). Com, isso, os autores criaram o índice BODE (do inglês: Body mass index, degree of airflow Obstruction, degree of Dyspnea, and Exercise capacity), que provou ser melhor que o volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) em predizer o risco de morte por causas respiratórias em pacientes com DPOC. Posteriormente outros estudos também relataram que a DCAM6 é um preditor de sobrevida independente em pacientes graves, melhor do que outros marcadores tradicionais de gravidade da doença, como idade, IMC e o VEF117. Um valor na DCAM6 <350 metros nesses pacientes está associado ao aumento da mortalidade18. O TCAM6 também tem seu papel bem definido na avaliação pré e pós reabilitação pulmonar em pacientes com DPOC 19. Nas DPI, o valor da dessaturação durante o TCAM6 foi avaliado em 83 pacientes com fibrose pulmonar idiopática (FPI) e 22 com pneumonia intersticial inespecífica (PINE) (20). Pacientes que tiveram dessaturação durante o teste de caminhada, definida por saturação periférica de oxigênio (SpO2) <88%, tiveram sobrevida em 4 anos de 34,5% comparado a 69,1% daqueles que não apresentaram dessaturação. Nos pacientes com PINE que dessaturaram, a sobrevida foi pior (65,6%) em comparação àqueles que não dessaturaram (100%). Nas DPI, a DCAM6 se correlaciona com o VO 2 máximo, medido por teste incremental, qualidade de vida, dispnéia, volumes pulmonares e difusão de monóxido de carbono (DLCO)2123 . O valor preditivo da DCAM6 inicial sobre a mortalidade na FPI é controverso. Em um grande estudo recente24, a variação na DCAM6, após seis meses de seguimento, foi preditora de mortalidade – pacientes com declínio na DCAM6 >50 m tiveram risco de mortalidade 4,27 vezes maior. Em indivíduos submetidos a teste de exercício, uma velocidade de recuperação mais lenta da freqüência cardíaca (FC) após o término do teste se associa com maior mortalidade. Pacientes com FPI e com queda da FC <13 batimentos por minuto após TCAM6, tiveram risco de morte 5,2 vezes maior em comparação aos pacientes com recuperação mais rápida da FC25. Este achado reflete a presença de hipertensão pulmonar26. Na esclerose sistêmica progressiva (ESP) o TCAM6 desperta interesse, tanto por sua possível aplicação na presença de DPI, quanto na avaliação de portadores de hipertensão pulmonar, situação na qual o teste é amplamente utilizado. Embora o TCAM6 Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 seja sensível à presença de complicações cardiovasculares e pulmonares da ESP, os pacientes são também limitados por disfunção músculo-esquelética e dor27. Na ESP, tal como na FPI, a SpO2 em teste de exercício prediz a sobrevida 28. O risco de morte durante tempo mediano de seguimento de 7,1 anos foi 2,4 vezes maior nos pacientes com SpO2 no exercício abaixo de 89%. Na HP, pacientes com doença idiopática e idade média de 37 anos que seriam submetidos a tratamento apresentaram uma DCAM6 média de 297 metros, que comparada com 655 metros do grupo controle de idade correspondente, mostrou um grave declínio na capacidade funcional para caminhar. Neste trabalho, menor DCAM6 se correlacionou significantemente com a classe funcional mais baixa e menor consumo de oxigênio de pico (VO2 pico), demonstrando que a DCAM6 é um marcador de gravidade do estado funcional em um grupo de doentes relativamente jovens 29. Outros estudos também demonstraram que a DCAM6 é um fator independente de mortalidade em pacientes com HP idiopática em tratamento30-33. No entanto, esta relação entre a DCAM6 e mortalidade não é vista em pacientes com HP idiopática sem tratamento, onde a dessaturação durante o TCAM6 sugere ser um melhor preditor – em um trabalho, para cada ponto diminuído na percentagem da SpO2 no TCAM6, houve um aumento de 26% no risco de morte 34 . Recentemente, vem sendo questionado o verdadeiro papel da DCAM6 para avaliação dos pacientes com HP leve, uma área que ainda necessita mais pesquisa35. Na IC, a DCAM6 tem uma relação inversa com a classificação da classe funcional segundo a New York Heart Association (NYHA) 5 , e está fortemente correlacionada com o VO2 pico, que é um importante marcador de prognóstico e tempo de transplante cardíaco nesta população. Vários autores relataram que uma DCAM6 menor que 300 m é um forte indicador do aumento da mortalidade4. No entanto, outros não confirmaram essa relação e sugerem que VO2 pico é um melhor preditor de sobrevida, particularmente em longo prazo6. A DCAM6 sugere fornecer informações úteis quanto ao prognóstico para pacientes com doença leve a moderada, enquanto o TCPE é mais informativo em pacientes com IC grave, que serão encaminhados para transplante cardíaco. A DCAM6 não é um marcador sensível de mudança na sequência de terapia médica para a IC36. Efeitos mais claros de melhora sobre a capacidade de exercício funcional são vistos após a reabilitação cardíaca37. Uma vez realizado o teste, o aspecto mais crítico da interpretação da DCAM6 envolve uma perspectiva tanto intraindividual como interindividual. Na prática clínica, o desafio mais frequente é o de classificar adequadamente a capacidade funcional remanescente de um paciente que não tem um teste prévio e que não apresenta uma DCAM6 gravemente reduzida ou então, claramente normal. Como o paciente, nesse caso, não pode ser seu próprio controle ao longo do tempo, restam duas opções: comparar a DCAM6 com intervalos de gravidade doença-específicos, que 31 simplesmente inexistem atualmente para as pneumopatias crônicas mais prevalentes; ou compará-la com valores de referência. A questão se torna mais complexa em relação à interpretação intradividual das variações da DCAM6, haja vista a ampla variabilidade dos valores sugeridos para o que é chamado de diferença mínima clinicamente importante (DMCI); ou seja, a menor diferença em um desfecho de interesse que pacientes percebam como importante e que levem o paciente, ou seu médico, a considerar uma mudança de conduta. Na DPOC, por exemplo, a DMCI para a DCAM6 varia amplamente tanto em valores absolutos (desde 25 até 80 metros) como relativos (de 10% a 40%) 16,19. Na FPI, em avaliações longitudinais, a DMCI pode variar de 24 a 45 metros24,38. Considerações metodológicas à parte, muito dessa variabilidade resulta da relação entre a DCAM6 e a capacidade funcional. Na figura 2 é mostrada esta relação. Fig.2. Relação hiperbólica entre capacidade funcional (CF) e distância caminhada no teste de seis minutos (DCAM6). Notar a redução progressiva da sensibilidade da DCAM6 em refletir variações positivas da CF como resultado de intervenções (intervalo círculo-seta no eixo x). [Neder JA. J Bras Pneumol. 2011;37(1):1-3] Torna-se claro que a relação é hiperbólica, com redução progressiva da inclinação com o aumento de ambas as variáveis. Isso implica que um paciente na faixa A, com pequena DCAM6 e baixa capacidade funcional, tenha um maior espaço para ganho do que um paciente na faixa C, com elevada DCAM6 e capacidade funcional próxima ao seu teto. Por outro lado, um mesmo ganho absoluto (em metros) será uma fração muito maior do valor basal para o paciente da faixa A do que para o paciente da faixa C. Adicionalmente, ainda falta uma clara noção se essa relação permanece hiperbólica e com a mesma curvatura quando há perda funcional. Poderíamos assumir que uma dada redução absoluta e relativa da DCAM6 representa essencialmente o mesmo declínio da capacidade funcional que seria esperado caso ambos os valores tivessem aumentado? Futuros estudos devem abordar tais aspectos, e, no momento, a melhor alternativa talvez seja reconhecer que a DMCI para a DCAM6 provavelmente dependa da DCAM6 basal (ou de pré-intervenção): menor para os pacientes mais 32 graves, maior (ainda que mais difícil de ser atingida) para os menos graves16. Quanto à interpretação do ponto de vista interindividual, valores de referência são de extrema importância para caracterização da presença e classificação da gravidade de diversas doenças. No entanto, valores de referência para testes de função pulmonar variam muito em diferentes populações. Num estudo realizado em 10 centros de sete países, os valores da DCAM6 para indivíduos com idade acima de 40 anos foram determinados e foi observado heterogeneidade geográfica dos valores encontrados, mostrando a necessidade de equações específicas para diversos países39. Em 2011, publicamos valores de referência para a distância caminhada em adultos brasileiros saudáveis numa idade ampla, de 20 a 80 anos e investigamos a influência dos fatores antropométricos e da atividade física habitual na DCAM640. Foram incluídos na análise final 132 indivíduos, sendo 66 do sexo feminino e 66 do sexo masculino. As variáveis antropométricas que se correlacionaram de maneira significativa com a DCAM6 por análise univariada foram idade (r = 0,66; p < 0,01), estatura (r = 0,42; p < 0,01) e IMC r = 0,37; p < 0,01). O peso isoladamente não se correlacionou de maneira significativa. A atividade física habitual se correlacionou marginalmente com a DCAM6 na análise univariada (r = 0,23; p = 0,07), o que não persistiu na análise multivariada. DCAM6 foi maior nos homens que nas mulheres, mas a diferença não alcançou significância estatística (p = 0,08). Diversos modelos de regressão foram testados para verificar o melhor ajuste dos dados antropométricos com a DCAM6. O modelo quadrático foi o que melhor se ajustou, demonstrando o maior coeficiente de determinação e os menores valores para o 5º percentil dos resíduos. O modelo encontrado explicou conjuntamente 55% da variação total na DCAM6 (r2 = 0,55). A equação para a DCAM6 prevista, envolvendo ambos os sexos, ficou assim estabelecida: DCAM6 = 511+ altura2 × 0,0066 – idade2 × 0,030 “IMC2 × 0,068 (LI = previsto x 0,81), onde a altura é expressa em cm, a idade em anos e o IMC em kg/m2. Em resumo, o TCAM6 é um teste simples, bem tolerado e reprodutível, requerendo equipamentos de baixo custo. É o teste de exercício mais amplamente utilizado. Na literatura já foi muito bem descrita sua aplicabilidade. Valores previstos para a população brasileira adulta foram recentemente derivados. Referências Bibliográficas 1. 2. 3. 4. Kadikar A, Maurer J, Kesten S. The six-minute walk test: a guide to assessment for lung transplantation. J Heart Lung Transplant 1997; 16(3):313-319 Solway S, Brooks D, Lacasse Y, et al. A qualitative systematic overview of the measurement properties of functional walk tests used in the cardiorespiratory domain. Chest 2001; 119(1):256-270 Enright PL, McBurnie MA, Bittner V, et al. The 6-min walk test: a quick measure of functional status in elderly adults. Chest 2003; 123(2):387-398 Zugck C, Kruger C, Durr S, et al. Is the 6-minute walk test a reliable substitute for peak oxygen uptake in patients with dilated cardiomyopathy? 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Introdução A asma é uma doença inflamatória crônica das vias aéreas que causa um aumento da responsividade brônquica frente a diversos estímulos1. A doença possui elevada prevalência e morbidade 1 e, muitas vezes, esta associada com manifestações sistêmicas como obesidade2, desbalanço do sistema nervoso autônomo 3 , alterações posturais 4 , inflamação sistêmica5, baixo condicionamento físico6,7, ansiedade, depressão8 e comprometimento das atividades de vida diária e da qualidade de vida9. Para os asmáticos, a realização de atividade física é um desafio, seja pela dispnéia vivenciada durante o exercício ou pelo receio em senti-la, que faz com que o indivíduo evite a realização de esportes e a participação em diversas atividades em grupo o que traz conseqüências psicossociais9. Por essa razão os portadores de asma tendem a ser menos ativos e menos condicionados fisicamente que seus pares saudáveis 6,7, permanecendo afastados ou inativos das atividades em grupo, o que contribui para aumentar o sentimento de “distância da normalidade” vivenciado por esses indivíduos11,12. A inatividade física resulta em quadros de dispnéia na presença de esforços cada vez menores, ocasionando aumento progressivo das limitações para a realização das atividades de vida diária (AVD) e deterioração da capacidade funcional do paciente13. Com todo este comprometimento sistêmico parece lógico a necessidade de um enfoque que vai além do tratamento clínico-medicamentoso, e envolva uma abordagem multiprofissional. Esta idéia vem de acordo com o conceito mais amplo de um programa de reabilitação pulmonar que pode ser definido como um programa multiprofissional de cuidados a pacientes com alteração respiratória crônica que engloba o estabelecimento de: 1) diagnóstico preciso da doença primária e das suas co-morbidades; 2) tratamento farmacológico; 3) orientação nutricional; 4) programa educacional; 5) treinamento físico; e, 6) apoio psicossocial. 34 Nas últimas duas décadas, a introdução de intervenções não farmacológicas centradas principalmente na educação e no treinamento físico têm mostrado benefícios quando associados ao tratamento clínico-medicamentoso14. Condicionamento físico para pacientes asmáticos O conhecimento e o manejo da asma evoluíram de tal modo que o treinamento físico é hoje considerado um fator importante do programa de reabilitação pulmonar 15. O treinamento físico deve objetivar o aumento da capacidade física e na independência nas atividades da vida diária (AVD), melhorar a qualidade de vida e reduzir os sintomas do desconforto respiratório, as internações e o impacto psicossocial ocasionado pela doença 15 . O paradigma referente ao condicionamento físico no paciente asmático começa a ser modificado devido aos achados que mostram os seus benefícios nas duas últimas décadas. Neste sentido, já foi demonstrado que mesmo em pacientes em tratamento clínico-medicamentoso otimizado, o treinamento físico melhora a capacidade aeróbia máxima (VO2 máx)16, os fatores de saúde relacionados à qualidade de vida (FSRQV)17 e o controle clínico18 bem como reduz os sintomas de asma17,19, o broncoespasmo induzido pelo exercício (BIE)20 e a resposta inflamatória pulmonar21. Benefícios em crianças Os primeiros estudos avaliando os efeitos do treinamento físico em crianças asmáticas datam das décadas de 50 e 6022,23. Dentre esses estudos, Petersen e cols. 23 aplicaram um programa de treinamento constituídos de exercícios calistênicos, jogos e atividades de auto-cuidado em crianças portadoras de asma persistente moderada ou grave e mostraram melhora do condicionamento físico, da função pulmonar e do rendimento intelectual bem como diminuição Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 do absenteísmo escolar. Posteriormente, Varray e cols.,24 observaram melhora no condicionamento cardiorrespiratório e redução da ventilação para a mesma carga de trabalho (isocarga), ou seja, um aumento no limiar ventilatório. Além da melhora no condicionamento cardiorrespiratório, Neder e cols. 11 encontraram uma redução do uso de corticosteroides. Mais recentemente, Fanelli e cols.20 verificaram que o treinamento físico em crianças asmáticas promoveu melhora da capacidade física máxima e sub-máxima bem como dos FSRQV e redução da intensidade do BIE sendo que na maioria das crianças, o BIE deixou de ocorrer. Interessante notar que estes efeitos ocorreram apesar das crianças do grupo treinado ter recebido menores doses de esteróides inalatórios. Basaran e cols.19 também avaliaram o efeito do treinamento físico nos FSRQV e observaram sua melhora bem como redução dos sintomas de asma apenas no grupo que realizou exercício físico. Benefícios em adultos A asma não é uma doença exclusiva da infância e a sua prevalência e morbidade em adultos também é elevada25. Segundo DATASUS26 na faixa de adultos jovens (20 a 29 anos) a asma tornou-se, em alguns anos, a primeira causa de internação. Deste modo, o interesse em programas de treinamento fisco nesta população tem crescido. Emtner e cols.27 submeteram 26 adultos portadores de asma leve e moderada a um programa de reabilitação e os seus resultados mostram uma melhora da função pulmonar, da capacidade de trabalho e da tolerância ao exercício e uma diminuição na frequência de aparecimento de BIE. Estes benefícios alcançados após um programa de reabilitação se mantiveram, mesmo após 3 anos do término do programa, principalmente nos pacientes que continuaram a se exercitar por, pelo menos, uma ou duas vezes por semana12. Cochrane & Clark 28 verificaram que o treinamento físico aeróbio melhorou a capacidade de exercício que estava associado com uma queda dos níveis de lactato sanguíneo, da liberação de dióxido de carbono e da ventilação minuto em relação ao consumo de oxigênio. Essa adaptação metabólica ao treino de endurance deve ser particularmente relevante em pacientes asmáticos por diminuir a ventilação durante o exercício e reduzir a sensação de dispnéia. Somando-se a esses achados, Hallstrand e cols.29 verificaram que após 10 semanas de condicionamento físico aeróbio houve uma melhora significativa na ventilação voluntária máxima e do volume minuto, porém não houve alteração do volume expiratório forçado no 1º segundo (VEF1). Esses achados mostram que o treinamento aeróbio melhora o condicionamento cardiorrespiratório e reduz a hiperpnéia durante o exercício o que pode explicar a redução da falta de ar durante o esforço. Acredita-se ainda que a prática de atividades esportivas contribua para aumentar a auto-estima e a confiança do paciente asmático, que passa a desenvolver uma imagem Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 positiva de si mesmo e que se contrapõe a sua autopercepção de estar doente e dependente, fato que poderia explicar a redução dos níveis de depressão e ansiedade após programas de treinamento físico nesses indivíduos31. Neste sentido, Mendes et al 17 mostraram que o treinamento físico melhorou a capacidade aeróbia máxima e reduziu os níveis de depressão e ansiedade em pacientes com asma presidente moderada ou grave e melhorou os FRQV. Além disto, os pesquisadores observam que os pacientes submetidos ao exercício aumentaram o número de dias livres de sintomas de asma tais como tosse, chiado no peito, falta de ar, entre outros. Estes resultados foram posteriormente corroborados pelos estudos de Dogra e cols.18 que observaram uma melhora do controle clínico em adultos asmáticos e de Turner e col 30 que verificaram melhora os FSRQV e do controle clínico bem como redução da depressão em idosos asmáticos. Interessante notar que o estudo de Mendes e cols.17 mostrou que os pacientes que obtiveram os maiores benefícios foram aqueles que tinham maiores níveis de ansiedade e depressão sugerindo que estes seriam os que mais se beneficiariam com este tratamento. Atualmente, ainda são poucas as explicações sobre os possíveis mecanismos que estão envolvidos com os benefícios de um programa de reabilitação na asma. Porém, algumas hipóteses são discutidas: 1) aumento dos limiar anaeróbio com consequente redução da ventilação minuto para a mesma carga de trabalho32 ; 2) redução da inflamação pulmonar21 ; 3) aumento da auto-estima e da confiança do paciente que passa a desenvolver uma imagem positiva de si mesmo e que se contrapõe a sua auto-percepção de estar doente e dependente; 4) melhora da capacidade ventilatória devido ao aumento da mobilidade da caixa torácica, fortalecimento do diafragma e/ou distensão da musculatura lisa brônquica25. Prescrição de treinamento físico para asmáticos O tipo de treinamento físico bem como a intensidade, frequência e duração são bases fundamentais e através da sua organização dentro do protocolo de treinamento promoverão as adaptações fisiológicas necessárias para evolução do condicionamento físico desejado33. Tipos de treinamento físico: Todas as evidências até o presente momento, avaliaram os benefícios do efeito do treinamento físico aeróbia (isoladamente ou associado) para pacientes asmáticos, tais como: caminhada, corrida, ciclismo, ginástica, subida de degraus, a dança e a natação15,16,25. Importante notar que, apesar de há muito a natação estar sendo prescrita como a melhor atividade física para asmáticos, não existem evidências científicas para tal prescrição terapêutica. Uma das possíveis explicações para se sugerir a natação é devido ao fato desta atividade ser realizada em ambiente aquecido e úmido o que teoricamente reduziria a intensidade de BIE. Porém, alguns cuidados devem ser tomados principalmente no tocante aos níveis de 35 cloro da piscina que pode ser um dos desencadeadores de crises asmáticas. É importante ressaltar também que as piscinas atualmente consideradas mais seguras porque tem o tratamento com sal não estão fora dos cuidados porque elas possuem cloro em menor concentração. Baseado nas evidências da literatura, podemos sugerir que a única recomendação quanto à modalidade de exercício é que esta seja aeróbis e englobe grandes grupamentos musculares. Entretanto, outros fatores também devem ser levados em consideração para a recomendação da atividade física ou atividade esportiva tais como: a estrutura e a higiene do local, a habilidade dos pacientes, as condições socioeconômicas e culturais e a atividade preferida pelo paciente. Consideramos que a melhor modalidade de exercício é aquela em que o paciente melhor se adapte, tenha prazer em realizá-la, o local seja isento de fatores desencadeantes alérgicos e respeite as suas condições sócio-econômicas e culturais. Assim, os pacientes terão maior aderência e rendimento na prática do exercício. Duração da sessão: Os protocolos de treinamento físico variam muito quanto à sua duração. No entanto, os trabalhos inclusos na última revisão sistemática16 assim como os estudos clínicos controlados mais recentes.17,18,20,21,30 são realizados dentro entre 30 a 90 minutos, que é preconizado pelo consenso do Colégio Americano de Medicina do Esporte 33 . É importante ressaltar que, apesar disto, poucos estudos descrevem adequadamente a composição das sessões, ou seja, tempo de aquecimento, condicionamento e recuperação, fatos considerados importantes para evitar o desencadeamento de BIE 34. Pela nossa experiência, recomendamos que o tempo de aquecimento e desaquecimento seja entre 5 e 10 minutos e o tempo de condicionamento superior a 20 minutos. Intensidade: A intensidade do exercício é o principal fator para desencadear as adaptações crônicas e do condicionamento físico33. Para asmáticos, a intensidade aplicada nos protocolos de treinamento físico varia de moderada a alta16, 17,18,20,21,30. O teste cardiopulmonar de esforço que determina a capacidade aeróbia máxima (VO2max) é considerado padrão ouro para prescrição da intensidade do exercício33 e seu uso tem sido freqüente nos estudos com pacientes asmáticos16, 17,18,20,21. Entretanto, o seu custo e dificuldade de realização no dia-a-dia, tornam difícil prescrever a atividade baseado neste teste. Por causa disto, outras ferramentas têm sido utilizadas tais como: a escala de percepção de esforço (Borg), a frequência cardíaca máxima predita para a idade27 e a de reserva35 , o teste de caminhada de seis minutos 30 , o Shuttle Walk Test 36 e o limiar anaeróbio37. Baseado em nossa experiência, parece importante a associação de, pelo menos, dois parâmetros para a prescrição do exercício devido à grande influência que o tratamento medicamentoso tem na frequência cardíaca e também pela variabilidade clínica do paciente e da sua função pulmonar (mensurada pelo pico expiratório de fluxo) ao longo do 36 programa do treinamento. Desta forma, é possível minimizar o desconforto e os riscos por um treinamento acima da intensidade tolerada assim como evitar que o treinamento esteja aquém da capacidade dos pacientes. Frequência: Para uma melhor adaptação fisiológica, o ACSM 33 recomenda uma freqüência do programa de atividade física entre 3 a 5 vezes por semana, entretanto essa variável depende muito da intensidade e duração do treinamento. Porém, grande parte dos estudos avaliando o efeito da reabilitação de pacientes asmáticos apontam que a frequência de duas vezes é suficiente para trazer bom benefícios aos pacientes asmáticos. Apesar disto, é importante ressaltar que talvez uma maior frequência de treinamento pode promover uma melhora da capacidade física mais rápida e de maior amplitude. Se considerarmos a aderência do paciente, os custos e as limitações de estrutura física, a realização do treinamento de 2 a 3 sessões semanais, pode apresentar a melhor relação custo-benefício. Duração do Programa: A duração ideal deve ser aquela que produz os efeitos máximos em cada um, sem tornar-se onerosa 38 . Na literatura,os programas para pacientes asmáticos variam entre 4 e 24 semanas porém, a grande maioria dos estudos utilizam programas de reabilitação com duração de 8 a 12 semanas. Perspectivas futuras Apesar das evidências sobre os benefícios do exercício físico em pacientes asmáticos observado nas duas últimas décadas, várias questões ainda permanecem em aberto tais como: i) os mecanismos que levam a melhora dos sintomas, FSRQV e a inflamação pulmonar nos pacientes asmáticos; ii) o efeito do exercício físico na hiperrresponsividade brônquica e na mecânica respiratória; iii) os efeitos do exercício físico a longo prazo e como aumentar a adesão do paciente asmático; e, iv) os benefícios de outras modalidades de exercício tais como exercícios resistidos e o treinamento intervalado. Conclusão As repercussões clínicas da asma vão além das desordens pulmonares, o que reforça a necessidade de uma abordagem multidisciplinar do paciente. Evidências científicas recentes demonstram que a melhora do condicionamento físico exerce um importante papel na melhora clínica e funcional dos pacientes asmáticos que, associadas ao baixo custo e a ausência de efeito colateral do exercício, sugerem a sua indicação na prática clínica desde que os pacientes estejam em tratamento clínico-medicamentoso. Referencias Bibliográficas 1. GINA – Global Initiative for Asthma: Global Strategy for Asthma Management and Prevention. National Institutes of health / National Heart, Lung and Blood Institut of Health, Bethesda. 2011. Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. Castro-Rodríguez JA. Relationship between obesity and asthma. Arch Bronconeumol. 2007;43:171-5. Jartti T. Asthma, asthma medication and autonomic nervous system dysfunction. Clin Physiol. 2001;21(2):260-9. Lunardi AC, Marques da Silva CC, Rodrigues Mendes FA, Marques AP, Stelmach R, Fernandes Carvalho CR. 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Carvalho [email protected] 37 Intolerância ao exercício no paciente com DPOC AUTORES: Rodrigo Russo, Vinicius Carlos Iamonti, José Roberto Jardim SERVIÇO: Disciplina de Pneumologia e Centro de Reabilitação Pulmonar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)/Associação de Assistência à Criança com Deficiência (AACD). A limitação na realização da atividade física é uma característica na doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e contribui para a má qualidade de vida do individuo. Deve-se entender a DPOC como uma doença multifatorial e considerar os vários mecanismos fisiopatológicos que a determinam. Em acréscimo, há o concomitante efeito do envelhecimento e de múltiplas comorbidades associadas, com mecanismos complexos e multifatoriais, que determinam fatores adicionais à intolerância ao exercício no paciente com DPOC1. É improvável que todos os pacientes com DPOC tenham “uma mesma principal limitação” ao realizar exercícios ou atividades da vida diária. A performance e manutenção do exercício dependem, basicamente, da interação perfeita entre os sistemas que comandam e controlam a ventilação, a troca gasosa, o fluxo de sangue, a hemoglobina, o transporte de O2/CO2, a utilização de O2 e produção de CO22. A DPOC é uma doença inflamatória que afeta as vias aéreas, os alvéolos e a circulação pulmonar. A redução da tração radial das vias áreas e o aumento da complacência pulmonar do enfisema, pode levar ao aumento na compressão dinâmica das vias aéreas durante o exercício, ao passo que a bronquite crônica aumenta a resistência das vias aéreas pelo aumento do tônus broncomotor2. Durante um teste de exercício cardiopulmonar, a capacidade do paciente com DPOC em aumentar seu volume corrente e a ventilação pulmonar é limitada, o tempo expiratório torna-se mais curto e o aparecimento do sintoma de dispnea é evidente, ocasionando uma interrupção precoce do teste. Esta intolerância para continuar a realização do teste ocorre bem antes dos sistemas cardíaco e muscular periférico terem sido estressados até os seus limites funcionais. Por esta razão, convencionalmente é dito que o paciente com DPOC interrompe o exercício por uma limitação ventilatória3. A ideia de intolerância ao exercício na DPOC é de construção multifatorial e pode ser apreciada sob diferentes pontos de vista. A interrupção do exercício na DPOC causada pelo maior trabalho e consumo de O 2 pela musculatura respiratória, pela disfunção da musculatura esquelética de membros inferiores e o mecanismo de hiperinsuflação pulmonar dinâmica causado pela limitação do fluxo expiratório, atuando isoladamente ou em conjunto, 38 são as evidências mais aceitas na literatura para determinar a origem do mecanismo de intolerância. A seguir veremos o papel determinante de cada mecanismo na limitação ao exercício. O papel do fornecimento inadequado de energia para os músculos respiratórios e periféricos Durante o teste de exercício cardiopulmonar em pacientes com DPOC, uma hipótese sobre a incapacidade de manutenção do exercício por um longo período é a alta demanda energética imposta ao paciente com fornecimento insuficiente de energia (oxigênio) para os músculos esquelético e respiratórios. Segundo Aliverty and Macklem, parte da alta demanda energética durante o exercício nos pacientes com DPOC está relacionada com o alto consumo de O2 pelos músculos respiratórios, principalmente o compartimento abdominal, o qual foi denominado de “VO2 respiratório”. Em indivíduos saudáveis, o VO2 respiratório varia de 1 - 3 ml/L respirado e na DPOC, de 6,3 - 16,4 ml/L respirado. A ampla variação do VO2 respiratório encontrado entre os pacientes com DPOC pode refletir a maior variação no trabalho respiratório num determinado exercício entre os pacientes4,5. Relato na literatura demonstrou que em um teste de exercício em pacientes com DPOC com a mesma carga metabólica (10 Watts) e ventilação pulmonar, o grupo recrutador da musculatura abdominal apresentou um VO2 respiratório de 12 ml/L e o grupo não recrutador da musculatura abdominal de 6 ml/L (p < 0,05), ou seja, o trabalho respiratório foi duas vezes maior no grupo recrutador da musculatura abdominal, cursando com maior dispneia e menor tolerância ao exercício. A ativação dos músculos expiratórios (compartimento abdominal) é uma resposta normal ao exercício, no entanto os pacientes com DPOC não conseguem aumentar a ventilação pulmonar devido ao aumento progressivo da pressão pleural, limitando o fluxo expiratório6. Embora o recrutamento da musculatura abdominal seja benéfico durante o exercício para os indivíduos saudáveis, para o paciente com DPOC pode ser prejudicial6. Os autores comentam sobre os valores encontrados para o VO 2 pico de 830 ml/min para os recrutadores e 1327 ml/min para os não recrutadores. Subtraindo-se os valores do (VO2 respiratório – VO2 pico), Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 os autores sugerem que se os músculos do compartimento abdominal receberem a maior parte da oferta de oxigênio durante o exercício, os músculos periféricos e outros tecidos corporais irão receber um aporte insuficiente de O2 e isto explicaria o inicio precoce da acidose metabólica, devido á competição entre os músculos respiratórios e periféricos pelo aporte de energia disponível para manter o exercício6. Talvez este fenômeno de “roubo” de oxigênio pelos músculos respiratórios explique porque 81% dos pacientes interrompem o exercício por sintoma de cansaço na perna isoladamente ou em conjunto com sintoma de dispneia. Em resumo, o padrão respiratório dos pacientes com DPOC não-recrutadores é anormal, uma vez que os músculos abdominais não são recrutados uniformemente durante o exercício. Contudo, o desempenho durante o exercício dos não recrutadores é melhor do que os recrutadores da musculatura abdominal. Isto sugere que, com a progressão da DPOC, os pacientes passam a não recrutar os músculos abdominais durante o exercício. Infelizmente, sem a contração da musculatura abdominal os pacientes hiperinsuflam. Os autores sugerem que o aparecimento da hiperinsuflação pulmonar dinâmica é resultado de um fornecimento de energia insuficiente para atender a demanda de energia necessária na manutenção do exercício na DPOC7. O papel da disfunção da musculatura de membros inferiores O prejuízo funcional no paciente com DPOC é evidenciado pela baixa capacidade de caminhar e pedalar em um cicloergometro. A piora no estado funcional, caracterizado pela diminuição na realização das tarefas da vida diária, está associada com pior qualidade de vida, a necessidade de mais cuidados e aumento da mortalidade nesta população8. O prejuízo na função pulmonar causado pela DPOC, por si só, não é capaz de explicar a intolerância ao exercício nesta população. A baixa correlação entre o VEF1 ou a CI (capacidade inspiratória) e a tolerância ao exercício demonstra que outros fatores devem estar associados. Embora o sistema ventilatório esteja funcionando com sérios prejuízos no paciente com DPOC, a limitação periférica na DPOC é frequente9. A Hipotrofia muscular dos membros inferiores é descrita em 21% a 45% dos pacientes com DPOC. Ela pode não estar associada com perda de peso corporal e relaciona-se à alta prevalência de fraqueza muscular e suscetibilidade à fadiga muscular que ocorre nesta população10,11. Um estudo demonstrou que para uma determinada carga de trabalho, a percepção de fadiga na musculatura da perna é mais evidente nos pacientes com fraqueza muscular comparado com os pacientes com mais força muscular; a capacidade máxima de exercício é menor nos pacientes com maior fraqueza muscular. A força muscular do quadríceps tem um importante papel na capacidade de exercício, independente da doença pulmonar12. À luz da análise em nível celular, modificações de ordem Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 morfológica e estrutural tem sido observadas no músculo de pacientes com DPOC nos estádios mais avançados da doença. Estas modificações comprometem a performance metabólica e a capacidade de gerar força dos músculos. De maneira especifica, as mudanças morfológicas incluem redução na proporção de fibras do tipo I, assim como na redução da área seccional das fibras tipo I e II. Esta observação sugere que este déficit na proteína contrátil do músculo é a responsável, tanto pela hipotrofia quanto para a fraqueza muscular os quais contribuem para a menor capacidade de tolerar o exercício na DPOC13. As alterações energética e estrutural descritas no músculo do paciente com DPOC estão associadas à redução da proporção da cadeia de miosina pesada e diminuição da capacidade oxidativa das enzimas, dois importantes componentes para maior resistência ao exercício. A redução na capacidade oxidativa se associa à baixa capacidade de exercício na DPOC, independente da função pulmonar12. A ativação precoce do sistema glicolitico para a produção de energia no início do exercício em pacientes com DPOC, resultam em alta concentração de fosfatos inorgânicos e uma prematura acidose muscular por conta do acúmulo na produção de lactato, dois eventos bioquímicos que comprometem a capacidade de sustentar a contração muscular e a performance durante o exercício. Estas adaptações do sistema bioquímico para o fornecimento de energia para o tecido muscular indicam que tais adaptações são inapropriadas para sustentar as necessidades metabólicas e mecânicas e fornecem fortes evidências da associação da disfunção muscular com a intolerância ao exercício8. O importante papel da disfunção muscular dos membros inferiores na intolerância ao exercício foi comprovada por um estudo que avaliou o impacto da fadiga muscular analisando a ação broncodilatadora em resposta ao exercício. Neste estudo, a ocorrência da fadiga muscular do quadríceps, após o exercício realizado com um cicloergômetro com carga constante, não foi impedida pela ação broncodilatadora14. Os pacientes com DPOC com queixa de fadiga em membros inferiores como o principal fator limitante ao exercício são menos responsivos ao uso de broncodilatadores em comparação com aqueles que são limitados pela dispneia. Estes estudos ilustram como a limitação periférica exerce um papel fundamental no exercício, dificultando os benefícios de intervenções destinadas a melhorar a função pulmonar14. A reabilitação pulmonar é uma boa ferramenta destinada a melhorar a função muscular e tem um impacto positivo e direto na tolerância ao exercício. A melhora consistente na tolerância ao exercício ocasionada com a reabilitação ou atividade física é basicamente atribuída aos efeitos sobre a função dos músculos dos membros inferiores e superiores, caracterizada por ganho de força muscular, redução da fadiga e maior capacidade aeróbia15. Ao final, estes benefícios fisiológicos periféricos contribuem para a redução das necessidades ventilatórias, hiperinsuflação dinâmica e dispneia, benéficos que são frequentemente relatados após o treinamento físico8. 39 Em resumo, os músculos dos membros inferiores em pacientes com DPOC são fracos, ineficientes metabolicamente e fadigáveis. Estas características musculares favorecem a limitação do exercício, característico em pacientes com DPOC. Estudos apoiam a ideia de que a disfunção muscular de membros inferiores contribui muito para a limitação ao exercício9. É possível que estas afirmações sejam também válidas para os membros superiores. O papel da hiperinsuflação pulmonar dinâmica na intolerância ao exercício na DPOC A limitação do fluxo aéreo está relacionada à combinação da redução do recolhimento elástico pulmonar e ao aumento da resistência das vias aéreas, levando ao aprisionamento aéreo com consequente hiperinsuflação estática, que é agravada com a realização de atividades da vida diária e durante o exercício, ocasionando hiperinsuflação pulmonar dinâmica. A limitação ao fluxo expiratório e a hiperinsuflação pulmonar são características da DPOC, mas pode ser parcialmente reversíveis com o uso de broncodilatadores16. De modo geral, ocorre aumento dos volumes pulmonares na DPOC que, associado ao desenvolvimento insidioso da hiperinsuflação torácica, durante anos de doença, pode aumentar a capacidade diafragmática como um mecanismo compensatório. A presença de hiperinsuflação pulmonar em repouso expressa que a capacidade do paciente em aumentar a ventilação em situações como no exercício está bastante comprometida16. A redução acentuada ou ausência da reserva ventilatória diagnostica a presença de limitação ventilatória. A análise da curva fluxo-volume durante o exercício pode revelar limitações na geração de fluxo e expansão do volume, mesmo na presença de uma reserva ventilatória adequada, calculada pela relação VE do esforço pela VVM estimada (VVM- ventilação voluntária máxima)17 18. A baixa capacidade inspiratória (IC), refletindo aumento do volume pulmonar expiratório final (EELV) em pacientes com limitação ao fluxo expiratório, está associada à redução do pico de oxigênio, confirmando que fatores mecânicos contribuem de modo importante para a limitação ao exercício19 . Assim, mesmo com o recrutamento da musculatura envolvida na respiração a hiperinsuflação pulmonar dinâmica ocorre quando existe aumento temporário e variável do volume pulmonar expiratório final acima do valor de repouso em pacientes com DPOC18,20. Um acréscimo adicional do volume pulmonar expiratório final resulta do encurtamento do tempo expiratório. Como consequência, o individuo passa a ventilar em volumes pulmonares mais altos, com menor complacência toracopulmonar, obrigando ao desenvolvimento de maiores pressões pleurais para promover uma determinada expansão pulmonar. A consequência é o aumento do trabalho elástico respiratório, que leva à dispneia21. A afirmação que a hiperinsuflação pulmonar contribui significativamente para aumento da dispneia e intolerância ao exercício em paciente com DPOC está baseada em uma serie de estudos clínicos22-24. Estes mostram que o uso de broncodilatadores promove uma dilatação das vias aéreas, 40 diminuindo o tempo para esvaziamento alveolar durante a expiração. Um aumento da capacidade inspiratória (refletindo desinflação pulmonar) de aproximadamente 300 ml, equivalente a 10-15% do previsto, tem se mostrado clinicamente significativo. A obtenção de maior capacidade inspiratória é atingida com o uso da associação de broncodilatadores de longa duração. Em pacientes com DPOC moderada a grave o aumento da CI em repouso ou durante o exercício tem sido observada e correlacionase bem com um maior pico de consumo de O2, aumento do volume corrente e redução da intensidade da dispneia18,25. Com a hiperinsuflação progressiva, ocorre uma maior dificuldade em aumentar o volume corrente e o aumento da ventilação torna-se dependente do aumento da frequência respiratória. O aumento da frequência respiratória leva à redução do tempo expiratório, aumento dos volumes pulmonares e da dispneia. A maneira prática de estimar a hiperinsuflação dinâmica no exercício é a medida da capacidade inspiratória seriada, considerando-se que, com o aumento do volume pulmonar expiratório final, a capacidade inspiratória será tanto menor quanto maior a hiperinsuflação pulmonar26. Considera-se que a diminuição de 150 ml ou 10% da capacidade inspiratória expressa hiperinsuflação pulmonar. A redução farmacológica do volume pulmonar está associada a uma pequena melhora cardiovascular durante o exercício. Em pacientes cuidadamente selecionados para cirurgia redutora de volume pulmonar observou-se resultados semelhantes aos obtidos com tratamento medicamentoso (redução dos volumes pulmonares e melhora da dispneia e do desempenho ao exercício). Porém, a cirurgia redutora de volume pulmonar não foi associada a um resultado positivo a curto e longo prazo em relação aos efeitos hemodinâmicos17,27. Em pacientes com DPOC, durante o exercício a capacidade pulmonar total permanece constante. Assim, é possível quantificar a capacidade inspiratória após a realização de uma manobra inspiratória máxima até a capacidade pulmonar total18. Finalmente, o uso de oxigênio e treinamento físico regular reduzem a taxa de hiperinsuflação dinâmica durante o exercício, principalmente pela redução da frequência respiratória, o que contribui para a melhora da dispneia e da resistência ao exercício. Em resumo, a DPOC caracteriza-se por limitação do fluxo aéreo e a dispneia é um de seus sintomas mais comuns. Medir a hiperinsuflação pulmonar é importante para a identificação e acompanhamento dos pacientes com DPOC. Assim, a manobra de capacidade inspiratória (CI) deve ser usada para monitorar a hiperinsuflação dinâmica induzida pelo exercício, considerando que a capacidade pulmonar total não se altera no exercício. Assim, as mudanças na CI refletem mudanças na capacidade de exercício. Diversas intervenções que melhoram a capacidade ao exercício estão diretamente ligadas à redução da hiperinsuflação pulmonar, como a terapia com broncodilatadores, suplementação de oxigênio durante atividade física e programa de reabilitação pulmonar. Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 Considerações finais A limitação para a realização da atividade física é uma característica presente na doença pulmonar obstrutiva crônica, contribuindo para a percepção do estado de saúde do individuo e para o diagnóstico precoce. Assim, entender a DPOC como uma doença sistêmica e considerar os vários mecanismos fisiopatológicos que a determinam, além do concomitante efeito do envelhecimento e de múltiplas comorbidades associadas, é de fundamental importância para a compreensão dos mecanismos complexos e multifatoriais que determinam a intolerância ao exercício na DPOC. O fornecimento inadequado de energia para os músculos respiratórios periféricos, a disfunção da musculatura dos membros inferiores e a consequente hiperinsuflação pulmonar constituem importantes fatores que determinam a limitação ao exercício nos pacientes com DPOC. O uso de broncodilatador, suplementação de oxigênio durante atividade física, a reabilitação pulmonar e, principalmente, a educação em saúde (com o entendimento da doença, das limitações e o alto manejo) constituem medidas importantes para a melhora da limitação ao exercício e consequentemente para uma melhora na qualidade de vida. 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Há um ano, entretanto, paciente apresentou piora dos sintomas, associada a episódios recorrentes de angina aos esforços. Realizou-se teste de exercício cardiorrespiratório (TECR) que mostrou estabilidade das respostas metabólicas, ventilatórias e cardiovasculares durante o esforço, comparativamente a exame anterior. Curiosamente, entretanto, analisando-se o padrão de incremento do pulso de oxigênio, observou-se queda anormal no pico do esforço (Figura 1). Paciente apresentou, subsequentemente, desconforto torácico que aliviou após o repouso. Não houve alterações de segmento ST durante o exame. O pulso de oxigênio (VO2/FC) é a expressão do consumo de oxigênio realizado a cada batimento cardíaco. Relembrando a equação de Fick para o débito cardíaco, temos que: DC = V’O2 x D(a-v)O2 Substituindo o DC pelo seus componentes (volume sistólico e frequência cardíaca), chegamos aos determinantes do pulso de oxigênio: FC x VS = VO2 x D(a-v)O2 V’O2 / FC = VS x D(a-v)O2 O pulso de O2, desse modo, depende do volume de sangue ofertado e da habilidade periférica de extrair oxigênio (refletida aqui pela diferença arterio-venosa de O 2). O aumento da diferença arteriovenosa de oxigênio durante o esforço é decorrente essencialmente da redução do conteúdo venoso misto de oxigênio devido ao aumento da extração periférica. A D(a-v)O2 aumenta durante o exercício de maneira hiperbólica e varia pouco após atingir seus valores máximos (cerca de 15-16mL.dL -1 no exercício máximo)1. A inabilidade de incremento adequado do volume sistólico durante o exercício, portanto, pode ser responsável pelo baixo aumento do pulso de O 2 com formação precoce da assíntota (platô). É importante salientar que o padrão anormal de incremento durante o esforço, e não apenas o seu valor de pico reduzido, pode trazer informações relevantes sobre a gravidade do desempenho cardiovascular no exercício de pacientes com limitação cardiocirculatória (Figura 2). As alterações acima são presentes em pacientes com HAP mas também podem ser encontradas em pacientes com Fig. 1. Comportamento da frequência cardíaca e do pulso de oxigênio (V’O2/FC) durante o teste de exercício dinâmico incremental. Notase, no primeiro quadro, a queda do pulso de oxigênio no pico do exercício (linha tracejada preta). O segundo quadro demonstra a mudança da inclinação da frequência cardíaca em relação ao consumo de oxgênio (seta). No último quadro, percebe-se a diferença entre a inclinação inicial (linha tracejada azul) e a sua mudança posterior (linha tracejada preta), cujo intercepto passa a ser zero – ou seja, toda variação de consumo a partir desse ponto pode ser matematicamente explicada apenas por variações da FC. 44 Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 insuficiência cardíaca esquerda. Apesar de ambas entidades compartilharem mecanismos fisiopatológicos, a inabilidade de incremente adequado do volume sistólico durante o esforço parece ser mais proeminente na HAP. Tal fato culmina em alterações mais significativas no pulso de oxigênio2. Pacientes com HAP podem, portanto, apresentar alterações importantes como ascensão reduzida e presença de platô durante o teste ou até mesmo queda do pulso no pico do esforço, relacionada à gravidade da doença. No exemplo D da figura 2, por exemplo, nota-se queda importante do pulso de O2 em paciente de 25 anos com HAP idiopática grave, em CF NYHA III, com índice cardíaco de repouso de 1,8L/min/m2. A queda do pulso de O 2, entretanto, pode também representar um sinal de isquemia miocárdica em pacientes com suspeita clínica, mesmo com função ventricular de repouso preservada 3 . Indica a presença de lesões vasculares que se manifestam apenas com o aumento da demanda miocárdica. Isso é compensado, parcialmente, por uma resposta taquicárdica ao final do exercício. De maneira interessante, a queda do pulso de O2 pode preceder alterações eletrocardiográficas e até mesmo os sintomas do paciente, sendo uma ferramenta útil para detecção de alterações isquêmicas4. No presente caso, como o paciente apresentava doença estável e devido à faixa etária e aos sintomas relatados, considerou-se a alteração no pulso como secundária a possível lesão isquêmica. Foi realizado cateterismo cardíaco esquerdo que confirmou lesão obstrutiva em artéria coronária descendente anterior de 50% e presença de ponte miocárdica. Não havia sinais de piora da disfunção ventricular direita nas medidas hemodinâmicas do cateterismo direito (IC 2,8L/min/m2, PAD 10mmHg). Conclusão O TECR é uma ferramenta útil no acompanhamento de pacientes com HAP. A análise qualitativa do comportamento do pulso de oxigênio pode ajudar na avaliação da gravidade destes doentes e também pode contribuir no diagnóstico diferencial com doenças isquêmicas, antes mesmo da ocorrência de alterações no segmento ST. Referências Bibliográficas 1. 2. 3. 4. Nery LE, Neder JA. Fisiologia clínica do exercício: teoria e prática; 2003. Deboeck G, Niset G, Lamotte M, et al. Exercise testing in pulmonary arterial hypertension and in chronic heart failure. Eur. Respir. J. 2004;23:747-51. Klainman E, Fink G, Lebzelter J, et al. 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Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 45 Teste de exercício cardiopulmonar nas doenças neuromusculares AUTORES: Ana Cristina Oliveira Gimenes, Luiz Eduardo Nery SERVIÇO: Setor de Função Pulmonar e Fisiologia Clínica do Exercício (Sefice) – Disciplina de Pneumologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Introdução Sob a denominação genérica de doenças neuromusculares (DNM), agrupam-se grupos heterogêneos de afecções decorrentes do acometimento primário da unidade motora, composta pelo motoneurônio medular, raiz nervosa, nervo periférico, junção mioneural e músculo. Nas crianças, a maior parte destas afecções é geneticamente determinada, sendo as doenças neuromusculares adquiridas bem mais raras do que em adultos1. A progressão das doenças varia consideravelmente. Os déficits podem incluir diferentes graus de fraqueza muscular, perda de sensibilidade, dor, fadiga e disfunção autonômica, podendo haver a combinação entre esses sintomas clínicos. Independente dos sintomas ou da velocidade de progressão da doença, os pacientes com doença neuromuscular, em geral, apresentam comprometimento da função musculoesquelética, evoluindo com limitação ventilatória e da capacidade de exercício, o que determina a piora na qualidade de vida1,2. Existem mais de 600 fenótipos descritos para as doenças neuromusculares, sendo o diagnóstico, determinado pelos sinais semiológicos, tais como fasciculações, hipotonia, fenômenos miotônicos (ausência de relaxamento após a contração voluntária muscular), sinais clínicos associados a alterações sistêmicas (hepáticas ou cardíacas) ou metabólicas (acidose láctica), e ainda manifestações neurorradiológicas. Classicamente o diagnóstico é determinado ainda pela determinação das enzimas musculares, principalmente creatinofosfoquinase (CPK), da eletromiografia (EMG) e da biópsia muscular, ou ainda através de marcadores moleculares1,2,3. Fato é que a grande maioria dos pacientes não experencia a avaliação da capacidade funcional pelo teste de exercício cardiopulmonar. Quando se considera que o paciente com comprometimento neuromuscular tem indicação para o teste de exercício, (i.e. avaliação da dispneia, avaliação física em pacientes com doença lentamente progressiva, avaliação préoperatória), diversos estudos determinam que não há padronização dos testes, com grande variabilidade nos protocolos, sejam eles incrementais ou de carga constante, nível de carga a ser incrementada no teste máximo e da correta utilização de grupo controle ou valores previstos para a comparação. Apesar dessas diferenças de protocolos na população de pacientes com doença neuromuscular 46 estudada (distúrbios rapidamente ou lentamente progressivos), constata-se redução consistente no consumo máximo de oxigênio ( O2max) ou no pico do exercício (O2pico), na ventilação pulmonar, na carga de trabalho atingida no teste. Alguns estudos também relatam maior frequência cardíaca em repouso, muitas vezes atribuída também ao descondicionamento físico. Na Distrofia Muscular de Duchenne, por exemplo, estudos apontam redução de 32% no volume sistólico e de 53% no débito cardíaco durante o exercício máximo. Um estudo recente de pacientes com polimiosite e dermatomiosite crônica demonstrou uma redução de quase 50% no O2 de pico em comparação a indivíduos controles sem deficiência2. As etiologias para a redução da capacidade de exercício em pessoas com doenças neuromusculares são provavelmente dependentes do transtorno específico. Em algumas doenças tais como a Distrofia Muscular de Duchenne, a presença de cardiomiopatia ou de padrão ventilatório restritivo pela fraqueza dos músculos respiratórios pode ser fator primário para a redução da capacidade funcional, portanto, colaborando para a queda do O2 nesses pacientes. Em doenças sem o envolvimento cardiopulmonar aparente, a degeneração da fibra muscular, associado à falta de condicionamento físico (pela manutenção de estilo de vida sedentário adotado por esses pacientes) corrobora para a intolerância ao exercício e maior sintomatologia nas atividades de vida diária, piorando a qualidade de vida2,3,4,5. Intolerância ao exercício físico na DNM Como descrito acima, a intolerância ao exercício aparece, principalmente, como resultado da diminuição da capacidade oxidativa muscular: atividades facilmente toleradas por indivíduos sadios provocam fadiga precoce em pacientes com DNM6. Na literatura, uma das doenças mais avaliadas pelo teste de exercício cardiopulmonar é a Miopatia Mitocondrial (MM), na forma Oftalmoplegia Externa Progressiva (OEP), caracterizando a forma mais leve da doença, normalmente sem limitação para as atividades de vida diária. Este fato não minimiza uma queixa frequente de pacientes com DNM: incapacidade em realizar as atividades de vida diária sem fadiga ou dispnéia. Especificamente nos pacientes com MM, diversos protocolos de avaliação física foram aplicados na Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 tentativa de avaliar o consumo máximo de oxigênio (O2máx), débito cardíaco (QT), diferença do conteúdo artério-venoso de oxigênio (C(a-v)O2), lactato sanguíneo, medidas de fosfocreatina (PCr) e fosfato inorgânico (Pi), relação lactato/ piruvato, assim como o metabolismo muscular por ressonância magnética espectroscópica6,7. As deficiências de enzimas mitocondriais causam uma limitação proporcional da fosforilação oxidativa e, como consequência, início precoce da glicólise anaeróbia no exercício. Respostas cardiopulmonares e metabólicas no TECP incremental de pacientes com MM. A análise das modificações cardiovasculares, respiratórias e metabólicas que ocorrem durante o esforço é método de eleição no estudo da intolerância ao exercício, particularmente em portadores de miopatias. A utilização de exercícios físicos para a avaliação de doenças musculares permite determinar evolutiva e quantitativamente o grau de incapacidade funcional do paciente, além de possibilitar a reprodução controlada dos sintomas e alterações laboratoriais relacionados ao esforço físico7. Diversos estudos demonstraram respostas cardíacas e respiratórias anormais ao exercício em pacientes com MM na forma OEP. Entre os principais achados encontra-se a redução do consumo máximo de oxigênio (O2), maior valor do coeficiente de troca respiratória (R) no exercício máximo, assim como aumento dos níveis de lactato sanguíneo durante o exercício e no período de recuperação, em relação a indivíduos controles 8. Estes achados são associados ao menor desempenho ao exercício devido a falência energética celular. Os testes de função pulmonar, em pacientes com MM, são, na maior parte das vezes normais, embora tenha sido relatado valor da capacidade residual funcional discretamente mais elevado 6,7. Entretanto, esses pacientes apresentam redução da ventilação voluntária máxima (VVM), interrupção precoce do exercício ora primariamente por dispnéia, fato esse associado a valores estatisticamente menores de PImáx e PEmáx, ora por fadiga nos membros inferiores, quando comparados aos controles6,9. Dados recentemente publicados por nosso grupo de estudo, mostraram que pacientes com Miopatia Mitocondrial apresentam redução da capacidade máxima de exercício, destacando-se, a redução significante da carga e do O2 pico, tanto em valores absolutos quanto em porcentagem do previsto, além de maior desconforto dos membros inferiores relacionado à carga de trabalho (Borg MMII/Carga) 8. Demonstramos ainda a análise da inclinação “O2/”Carga, um índice de eficiência metabólica que foi reduzido nos pacientes com MM; sendo o valor desta inclinação positivamente correlacionado com o limiar anaeróbio (Figura 1) e negativamente relacionado à relação lactato/carga no pico do exercício8 (r=0,69 e -0,71 respectivamente) (Figura 2). Com relação à resposta cardiovascular, tem sido descrito nos pacientes com MM um quadro “hipercirculatório” ou ainda de “resposta cardiovascular hipercinética” 10,11,112. Uma Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 Fig. 1. Regressão univariada simples entre a inclinação “ O2” Carga e do O2 no Limiar anaeróbio nos pacientes com Miopatia Mitocondrial. Fig. 2. Regressão univariada simples entre a inclinação “ O2/ ”Carga e da relação Lactato/ Carga no pico do exercício nos pacientes com Miopatia Mitocondrial. possível explicação para esta apresentação fisiopatológica é o comprometimento da fosforilação oxidativa, um componente crítico da regulação circulatória durante o exercício. Neste caso, a deficiência mitocondrial, gerando prejuízo na fosforilação oxidativa, diminui a possibilidade de consumo mitocondrial do oxigênio, o que determinaria um exagerado aumento no transporte e na oferta de oxigênio aos tecidos, relativo à taxa de metabolismo muscular periférico observada no exercício8,11,13. Vários estudos, ao avaliarem de forma não invasiva o débito cardíaco (DC) e a extração periférica de oxigênio de pacientes com MM, submetidos a TECR incremental, obtiveram valores de O2 máximo reduzidos associados a menor extração de oxigênio tecidual14. Esses pacientes apresentam menor FC no pico do exercício assim como uma redução na relação O2/FC, o que sugere uma reserva cronotrópica no exercício máximo, mas por outro lado, os mesmos apresentam 47 elevação da inclinação “FC/”O2 quando comparados com controles o que também sugere uma resposta cardiovascular “hipercinética”, ou seja, elevações mais acentuadas da frequência cardíaca para uma dada carga de trabalho8,12,13,14. Considerando as respostas ventilatórias ao exercício incremental, pacientes com MM apresentam menor stress ventilatório em relação aos controles, observados pelos menores valores do Volume corrente, frequência respiratória e da VE, nesta situação, sugerindo reserva ventilatória preservada, apesar da presença de redução da força muscular respiratória. Por outro lado, esses pacientes possuem significante aumento da dispnéia relacionada à ventilação (Borg dispnéia/VE) no pico do exercício; e maior inclinação “VE/”VCO2, o que indica resposta ventilatória anormalmente elevada em relação à produção de CO 2 em esforços submáximos. Estes achados são descritos na literatura como estado “hiperventilatório”, sendo o aumento exagerado da ventilação, relacionado também ao prejuízo da fosforilação oxidativa. Um dos prováveis mecanismos explicativos devese ao excesso da produção de CO2 decorrente da remoção do lactato, produzido precocemente durante o exercício. Hipótese alternativa sugere que a hiperventilação pode estar associada a um aumento do comando neural ventilatório, que responde a um “feedback” metabólico dos músculos esqueléticos periféricos ativados pela limitada fosforilação oxidativa relativa à demanda de oxigênio do músculo em atividade81,1,13,15,16. A seguir, demonstramos o TECP de um paciente com MM para ilustrar os fatos acima mencionados: Paciente EPM, sexo feminino, 30 anos, 165cm, 58Kg, queixando-se de limitação moderada aos esforços. Foi realizado o teste de exercício cardiopulmonar em cicloergômetro até o limite máximo da tolerância com incrementos de 10Watts. Nesse caso é possível observar que o O2 de pico foi de 991ml/min (61% do previsto brasileiro), bastante reduzido considerando-se o valor de 16,7 ml/Kg/min. Calculando a relação DO2/DCarga, o valor está acentuadamente reduzido (8,4 ml/min/W) e a detecção do Limiar de anaerobiose precoce, em 38% do O2 máximo. Nas respostas cardiovasculares, a paciente apresentou padrão taquicárdico de incremento da FC (FC Max de 182 bpm = 96%da prevista), com relação DFC/DVO2 = 166 bat/ ml. Presença de pulso de oxigênio reduzido (5ml/bpm = 63%), com tendência a platô da curva (Figura 3A e B). A paciente apresentou comportamento fisiológico de incremento da pressão arterial sistêmica durante o teste incremental. Nas variáveis ventilatórias, paciente apresentou a relação VE/VVM estimada de 0,61 no pico do exercício, com padrão fisiológico de incremento da frequência respiratória. A resposta ventilatória encontrou-se no limite superior para a demanda metabólica ao exercício (no limiar = 34) e desvio da inclinação para a esquerda da relação DVE/DVCO2 = 33, sem dessaturação durante o exercício. As Figuras 4 e 5 demonstram graficamente as variáveis obtidas no TECR da paciente com MM: Tabela 1. Variáveis ventilatórias, metabólicas e cardiovasculares em paciente com MM. Abreviações: work: carga em watts; VE: ventilação; VO2: consumo de oxigênio, HR: frequência cardíaca. 48 Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 Fig. 3. Em A: a tendência de achatamento do pulso de oxigênio e em A e B o comportamento hipercirculatório pela maior inclinação da FC. Conclusão O teste de exercício cardiopulmonar na doença neuromuscular pode ser uma ferramenta importante na avaliação da capacidade funcional, tolerância ao exercício e determinação da gravidade da alteração oxidativa musculoesquelética no exercício dinâmico. A avaliação das variáveis cardíacas e respiratórias é crítica para revelar a resposta hipercirculatória e hiperventilatória em pacientes com alterações musculares que cursam com piora da extração periférica de oxigênio. Essas medidas permitem a diferenciação Fig. 4. Variáveis ventilatórias, metabólicas e cardiovasculares do TECP em paciente com MM. Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 49 Fig. 5. Variáveis ventilatórias, metabólicas e cardiovasculares do TECP em paciente com MM. da redução do consumo de oxigênio devido ao destreinamento ou devido à piora do metabolismo oxidativo, categorizando a limitação ao exercício nesses pacientes. 9. 10. Referências Bibliográficas 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 50 Reed UC. 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Luiz Eduardo Nery [email protected] Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 ESTATÍSTICA O que é diferença clinicamente significante? A sua importância na avaliação de testes de exercício AUTORES: Liana Sousa Coelho, Carolina Bonfanti Mesquita, Suzana Erico Tanni SERVIÇO: Disciplina de Pneumologia - Faculdade de Medicina de Botucatu – UNESP Na literatura há ainda controvérsias sobre qual é o melhor método para interpretar mudanças de desfechos após intervenções, tais como medicamentos, reabilitação pulmonar ou cirurgias, tanto no dia-a-dia como em ensaios clínicos. A abordagem mais comum é usar a diferença mínima clinicamente significante (DMCS), definida como a menor diferença percebida como importante, tanto para melhor como para pior, que pode levar o clínico a considerar mudanças na terapêutica do paciente1. A diversidade de métodos para determinar o valor de DMCS é extremamente grande, assim Crosby et al. propuseram que a análise seja realizada por meio de dois métodos básicos, o Anchor based e a avaliação baseada na distribuição2. O método Anchor based é caracterizado por utilizar um critério externo (anchor) como referência para mensuração e comparação da variação das respostas (desfechos) obtida no instrumento em estudo2,3. Este critério externo deve apresentar correlação significativa com o instrumento em estudo. Como exemplo, podemos citar a avaliação das respostas obtidas em questionários de qualidade de vida auto-aplicados pelos pacientes em análise e comparar as respostas à outra medida subjetiva ou não (critério anchor) que já está estabelecida. Neste caso, poderíamos utilizar a escala de avaliação global, que é aceita mundialmente, por ser sensível para detectar variações tanto para melhor como para pior e inclui as possíveis respostas referidas: melhor, inalterado e pior. A pontuação na escala de avaliação global corresponde um ponto para cada categoria e a variação de um ponto é dada como significativa. Assim, quando comparamos as respostas do novo instrumento em estudo (no caso, questionário de qualidade de vida) com a escala de avaliação global, podemos avaliar a variação da pontuação da qualidade de vida que corresponde à variação significativa da escala de referência e, assim, determinar a DMCS no questionário Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 de qualidade de vida. Este método pode ser utilizado em estudos transversais com a comparação de grupos de pacientes ou em longitudinais que comparam os mesmos pacientes ao longo do tempo4,5. A análise através das curvas Receiver Operating Characteristic (ROC) também pode ser utilizada para determinação da DMCS. O método avalia a discriminação do melhor valor encontrado na sensibilidade e/ou na especificidade para determinação da DMCS. No entanto, não há referência para o melhor valor de sensibilidade e especificidade para se determinar os valores de DMCS. Alguns estudos utilizam este método para determinar valores semelhantes de sensibilidade e especificidade para discriminação de escores de respostas de “melhora” e “inalterado”. Neste caso a área sobre a curva ROC representa a probabilidade que os escores discriminam corretamente os pacientes com melhora e inalterado4,6,7. O metodo de avaliação baseada na distribuição é caracterizado pela avaliação da variação dos desfechos em relação a alguma mensuração de variabilidade como o erro padrão de medição, desvio padrão ou efeito de tamanho1,4. Ao utilizar o erro padrão de medição como valor de comparação para determinação da DMCS, a identificação de valores inferiores que o próprio valor do erro padrão pode ser considerada erro de mensuração e não uma verdadeira mudança observada. Assim, pode-se aceitar que o valor da DMCS é correspondente a 1 erro padrão de medição (para mais ou para menos), desde que o valor da DMCS seja avaliado também por outro método, preferencialmente, o Anchor based 8. A interpretação dos valores de DMCS apresenta limitações, pois a obtenção de valores pode ser diferente conforme o método estatístico utilizado; os desfechos analisados são dependentes do estado clínico inicial dos pacientes e os custos das intervenções realizadas não 51 são avaliados, não predizendo, então, o custo vs benefício de tal intervenção. A determinação da DMCS é utilizada em pneumologia, principalmente na avaliação de respostas aos testes de exercícios, uma vez que a interpretação de testes de tolerância ao exercício em pacientes portadores de doença pulmonar é difícil, pois diferenças encontradas após intervenções muitas vezes podem ser estatisticamente significantes, mas serem desprovidas de significado clínico9. A distância percorrida no teste de caminhada de seis minutos (DP6) é o desfecho mais utilizado nesses estudos, pois é de simples execução e representa uma atividade do dia-a-dia do paciente10. Além disso, a DP6 tem mostrado associação com outros desfechos, como hospitalização e mortalidade11. Du Bois et al. avaliaram 822 pacientes com diagnóstico de fibrose pulmonar idiopática (FPI) e encontraram que pacientes que tiveram declínio maior que 50m na DP6 após seis meses da avaliação inicial apresentaram risco 4 vezes maior de óbito [HR 4,27; IC95% (2,57 – 7,10); p<0,001] e risco maior que 3 vezes [HR3,59; IC95% (1,95 – 6,63); p<0,001] para aqueles que tiveram declínio entre 26 – 50m, quando comparados a pacientes cujo declínio no período foi menor que 25m. Assim, determinou- se a DMCS através do erro padrão de medição, que identificou valor de 45m (IC95% 42-47). Entretanto, quando os pacientes foram divididos em grupos de acordo com a presença ou não de hospitalização ou morte, a DMCS apresentou valor menor de 24m. Portanto, os autores concluem que a DMCS para pacientes com FPI está entre 24-45m 1. Para doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), por muitos anos utilizou-se o valor de 54m como DMCS, valor este obtido em estudo transversal, no qual os pacientes foram comparados a pares 9 . Recentemente, estudo prospectivo que avaliou 75 pacientes antes e após participação em programa de reabilitação pulmonar, atualizou a DMCS para 25m em pacientes com DPOC 11. A diferença entre estes valores deve-se principalmente aos métodos estatísticos utilizados em cada estudo. Apenas um estudo avaliou a DMCS para pacientes portadores de hipertensão pulmonar. Neste estudo, os pacientes foram avaliados pré e pós-tratamento com sildenafil e o valor encontrado foi de 41m 12. Em conclusão, compreender o significado de DMCS e conhecer seus valores para as mais diversas doenças pulmonares permite ao clínico interpretar as alterações que seus pacientes apresentam após intervenções e, também, interpretar de forma adequada resultados de ensaios clínicos. 2. Crosby RD, Kolotkin RL, Williams GR. Defining clinically meaningful change in health-related quality of life. J Clin Epidemiol 2003; 56: 395–407. 3. de Vet HC, Ostelo RW, Terwee CB, van der Roer N, Knol DL, Beckerman H et al. Minimally important change determined by a visual method integrating an anchor-based and a distribution-based approach. Qual Life Res 2007; 16: 131–42. 4. Copay AG, Subach BR, Glassman SD, Polly DW, Schuler TC. Understanding the minimum clinically important difference: a review of concepts and methods. Spine J 2007; 7: 541–6. 5. Man-Son-Hing M, Laupacis A, O’Rourke K, Molnar FJ, Mahon J, Chan KBY et al. Determination of the clinical importance of study results - a review. 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Dr. Enéas de Carvalho Aguiar 44 Horário Atendimento: 4º e 6º feira a partir das 8h Tel: 11 3069-5034 e-mail: [email protected] Hospital Servidor Público Estadual de São Paulo Dr. Responsável: Dr. Carlos Alberto de Castro Pereira Endereço: Rua Pedro de Toledo, 1800 Horário Atendimento: 2ª feira a partir das 8h Tel: 11 5088-8648 Instituto Dante Pazzanese (*) Endereço: Avenida Dr. Dante Pazzanese, 500 - Vila Mariana Tel: 11 5085-6413 ou 5085-6412 UNIFESP - Hospital São Paulo - Pneumologia (*) Responsável: Dra. Jaquelina Sonoe Ota Endereço: Rua José de Magalhães, Vila Clementino Horário Atendimento: 5° feira a partir das 13h Tel: 11 5549-1830 e-mail: [email protected] UNIFESP – Hospital São Paulo - Cardiologia (*) Responsável: Dra. Célia Maria Camelo Silva Endereço: Rua dos Otonis, 897 Horário Atendimento: 2ª feira a partir das 8h Tel: 11 5549-9064 Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo Cardiologia (*) Endereço: Rua Cesário Motta Júnior, 112 - Vila Buarque Tel: 11 2176-7000 CAMPINAS UNICAMP - Hospital das Clínica - Pneumologia (*) Responsável: Dra. Monica Corso Pereira e Prof.Dra. Ilma Aparecida Paschoal Endereço: Rua Zeferino Vaz S/N Prédio HC-UNICAMP Horário Atendimento: 4º feira a partir das 13h30 Tel: 19 3521-7776 e 3521-7907 Hospital Municipal Dr. Mário Gatti Endereço: Av. Prefeito Faria Lima, 340 - Pq. Itália Tel: 19 3772-5700 BOTUCATU UNESP - Hospital das Clínicas de Botucatu (*) Responsável: Prof. Dr. Hugo Hyung Bok Yoo Endereço: Distrito Rubião Jr. Horário Atendimento: 4º feira a partir das 8h Tel: 14 3882-2969 RIBEIRÃO PRETO FMUSP Ribeirão Preto - Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (*) Responsável: Dr. Adriana Ignácio de Pádua Endereço: Av. 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Dr. Eneas de Carvalho Aguiar, 647 –1ºandar Fone :(0xx11) 2661-8538 Hospital São Paulo – EPM Dra.Sônia Mayumi Chiba R: José de Magalhães 340 ( Ambulatório Fibrose Cística) Fone:(0xx11) 5576-4145 Santa Casa de Misericórdia de São Paulo Dra. Neiva Damaceno Ambulatório de Fibrose Cística Prédio Conde de Lara Fone: (0xx11) 3224-0122 r:5534 INTERIOR Campinas Hospital de Clínicas – UNICAMP Dr. José Dirceu Ribeiro Dr. Antônio Fernando Ribeiro Departamento de Pediatria Fone: (0xx19) 3521-7646 Ribeirão Preto Hospital das Clínicas Dra. Maria Inês Machado Fernandes Dra. Lídia Alice G.M. Torres Av. 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