XVI Congresso Catarinense de Medicina 1806-4280/05/34 - S 2/71 Arquivos Catarinenses de Medicina Arquivos Catarinenses de Medicina - V. 34 - Supl. nº. 2 de 2005 - S 71 RESUMO Abcesso subperiosteal secundário a Sinusupatia Etmoidal e Maxilar: relato de caso Knihs V1, Lin J1, Pacheco VF1, Peruchi MM2, Leal RDG1, GHISI P1 Introdução: As infecções rinossinusais são entidades clínicas de alta prevalência em pediatria. No entanto, complicações secundárias a estas afecções vêm apresentando nítido decréscimo desde o advento da antibioticoterapia.1,2 Apesar disso, a alta morbidade e eventual mortalidade associadas às complicações das sinusites justificam a avaliação cuidadosa dos casos de sinusopatias agudas ou crônicas, assim como a investigação imediata quando a evolução clínica não é favorável.3,4 Chandler e cols. em 1970, classificaram as complicações das sinusopatias em 5 grupos com gravidades diversas: celulite pré-septal, celulite orbitária, abscesso subperiostal, abscesso orbitário e tromboflebite do seio cavernoso. A celulite pré-septal consiste em edema inflamatório bipalpebral, localizado anteriormente ao septo orbitário associado ou não com extensão posterior para os conteúdos orbitários. Não há implicação na posição ou movimentação do globo ocular nem na acuidade visual. Celulite orbitária é o edema difuso do conteúdo orbitário com ou sem proptose, disfunção da musculatura ocular extrinseca, dor à movimentação ocular e comprometimento da visão. No abcesso subperiosteal ocorre coleção purulenta entre a parede óssea e a periórbita adjacente, deslocando o globo ocular lateral ou inferiormente, além de causar disfunção da musculatura ocular e comprometimento da visão. O abcesso orbitário é em geral progressão da celulite orbitária representando uma coleção de pús localizada nos tecidos moles da órbita. Ocorrem proptose, disfunção da musculatura ocular extrinseca e hiperemia conjuntival. Habitualmente há comprometimento visual. A complicação mais grave é a tromboflebite do seio cavernoso, que pode determinar o aparecimento de si1. Hospital Infantil Joana de Gusmão - HIJG - Florianópolis - SC. 2. Hospital Universitário Polidoro Ernani de São Tiago - HU/UFSC - Florianópolis - SC. nais e sintomas no olho contralateral, além de meningismo e edema doloroso da veia da mastóide. As complicações orbitárias apresentavam taxa de mortalidade de até 17%, na era pré-antibiótica, além de perda visual em outros 20%.5 As complicações intracranianas, mesmo atualmente, mantém uma alta taxa de mortalidade (aproximadamente 11%).6 Objetivo: Relatar um caso de sinusopatia etmoidal e maxilar complicada com abcesso sbperiosteal Material e Métodos: Relato de caso Relato do caso: K.M.F., 2anos e 11meses, sexo masculino, negro, natural e procedente de Florianópolis, nenhuma internação anterior. Informante: avó materna Avó refere que a criança vem apresentando quadros repetidos de IVAS há 2meses. Há 10 dias iniciou novamente com coriza, obstrução nasal e tosse produtiva, com piora no período noturno. Há dois dias iniciou com febre associada a cefaléia frontal e dor no olho direito. Foi trazido à emergência dois dias após porque houve piora da dor ocular e a avó notou hiperemia periocular à direita. Ao exame estava em BEG, febril, prostrado. Sinais vitais estáveis. Apresentava hiperemia periocular à direita com dor a palpação e calor local. Restante do exame físico normal. Realizou Rx de seios da face na emergência que mostrou velamento do seio etmoidal e maxilar à direita e hemograma que mostrou leucocitose discreta, sem desvio. Foi internado para tratamento de sinusite complicada com celulite periorbitária. Iniciado cefuroxima 150mg/Kg/dia. Evoluiu nos primeiros dois dias com melhora do estado geral e a partir do primeiro dia não apresentou mais febre. No terceiro dia de internação voltou a queixar-se de cefaléia e dor ocular. No quarto dia houve piora da dor e ao exame físico observou-se discreta protrusão ocular à direita, sem comprometimento dos movimentos ocula71 72 Arquivos Catarinenses de Medicina - V. 34 - Supl. nº. 2 de 2005 - S XVI Congresso Catarinense de Medicina res. No mesmo dia realizou tomografia computadorizada (TC) de crânio e órbita que mostrou presença de sinusopatia etmoidal e maxilar direita com coleção subperiosteal na órbita direita, sem comprometimento de nervo óptico e estruturas intracranianas. Realizou drenagem endoscópica do seio etmoidal e trocado antibiótico para ceftriaxone 100mg/kg/dia. Recebeu antibioticoterapia por 14 dias, com melhora progressiva do quadro. No último dia de tratamento repetiu a TC que mostrou apenas edema residual em seio etmoidal com melhora do abcesso subperiosteal. Recebeu alta com resolução do quadro, com orientação de retorno no ambulatório de otorrinolaringologia em 30 dias. Discussão: O edema orbitário secundário à sinusite em crianças com menos de 5 anos de idade é geralmente de tratamento clínico, correspondendo à celulite periorbitária, sendo excepcional a ocorrência de outras complicações.10 Segundo Spires e Smith7, das infecções orbitárias o tipo mais frequente é a celulite pré-septal. Em 241 pacientes, esses autores encontraram 94% de celulite préseptal, 4 % de celulite orbitária, 1 % de abscesso subperiostal, 0,3 % de tromboflebite do seio cavernoso e nenhum caso de abscesso orbitário. Em apenas 6 casos (2%) o comprometimento foi bilateral. Entre várias causas, segundo os mesmos autores a sinusite correspondeu acerca de 12 % dos casos, sendo ela a causa de 7,5% das celulites pré-septais, 81 % das celulites orbitárias, 66% dos abscessos subperiosteais e 100% das tromboflebites do seio cavernoso. Estas complicações estão relacionadas ao acometimento, na maioria das vezes, de mais de um seio, sendo a associação mais frequente a dos seios etmoidal e maxilar. Os microorganismos mais frequentemente encontrados como responsáveis pelas complicações orbitárias das sinusites, segundo Jackson e Baker são: Stafilococcus aureus, Haemophilus influenzae e Streptococcus sp. A associação com anaeróbios é bastante freqüente. De acordo com Chandler et al, o diagnóstico das sinusites com complicações orbitárias pode ser feito com radiografia simples de seios paranasais e cuidadosa avaliação clínica. Em estudos mais recentes cita-se a necessidade da tomografia computadorizada de seios paranasais como exame de escolha para o diagnóstico, classificação e acompanhamento desses pacientes.10 Segundo Jones9, os sinais de proptose, limitação da movimentação ocular extrinseca e déficit da acuidade visual não são obrigatórios para nenhum dos tipos de comprometimento, sendo a CT o único recurso que possibilita a caracterização da localização e extensão do processo, estando indicada em todos os casos de complicação orbi72 tária, para que seja instituído tratamento adequado. Além disso, o diagnóstico precoce permite, de acordo com Jackson e Baker, diminuir o tempo da internação hospitalar. O tratamento cirúrgico está indicado nos casos em que há formação de abscesso ou tromboflebite. A via de acesso preferencial para drenagem de abscesso orbitário e subperiosteal secundários à sinusite é a microcirurgia do etmóide. Conclusões: Apesar de ser rara hoje em dia, essa ainda é uma condição a ser considerada e evitada nos casos de sinusopatia. O diagnóstico precoce aliado à terapêutica clínica adequada e indicação cirúrgica precisa são condições essenciais para se prevenir evolução fatal ou seqüelas irreversíveis nos pacientes que apresentam complicações orbitárias de sinusites. Referências Bibliográficas 1. Chandler Jr. & Cols. The pathogenesis of orbital complications in acute sinusiris. Laringoscope, 1970; 80:1414-28. 2. Gianocchi CM, Stewart MG, Alford EL. Intracranial complications of sinusitis. Laryngoscope 1997; 107:863-7. 3. Banfield Gk, Daya H. Sinusitis, the orbital and visual complications. Br J Hosp Med 1996; 55:656-7. 4. Pirana S, Ognibene RZ, Sitchin G, Butugan O, Silveira JAM, Miniti A. Doenças do seio esfenoidal: relato de 4 casos. Rev Bras de Otorrinolaringologia 1996; 62(1):53-60. 5. Clary RA, Cunningham MJ, Eavey RD. Orbital complications of acute sinusitis: comparison of computed tomography scan and surgical findings. Ann Otol Rhinol Laryngol 1992; 101:598-600. 6. Jones RL, Violaris NS, Chauda SV, Pahor AL. Intracranial complications of sinusitis the need of aggressive manegement. J Laryngol Otol 1995; 109:1061-2. 7. Spires JR, Smiths RJ. Bacterial infections of the orbital and periorbital soft-tissues in children. Laringoscope 1986; 96:7637. 8. Jackson K, Baker SR. Clinicai implications of orbital cellulites. Laringoscope 1986; 96:568-74. 9. Jones DB. In: Weiss A. Bacterial periobital and orbital cellulitis in childhood. Ophthalmology 1983; 90(3):195-203. 10. Voegels RL, Lorenzetti FM, D‘Antonio WPA, Ikino CM, Butugan O. Complicações orbitárias em pacientes com sinusite aguda Rev Bras Otorrinolaringol 2002; 68(2).